Inatel todo o Ano
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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0
12• Jul-Ago 2018
Inatel todo o Ano > Viagens Nacionais e internacionais > Programa inatel 55+.PT
TL Jul-Ago 2018 3
Jornal Tempo Livre | email: [email protected] | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Lucinda Lopes Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ [email protected] tel.pt Impressão Lidergraf Sustainable Printing – Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde Tel. 252 103 300 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 117.551 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt
4 Entrevista: Maravillas
10 Memórias de Júlio
Turismo para Todos, um ideal Progressista
A Fundação Inatel nasceu, nos anos trinta do século pas- sado, num contexto: os trabalhadores, no mundo oci- dental, reivindicavam o direito ao descanso, face ao trabalho do nascer ao pôr-do-sol, e, neste, o direito ao lazer, e sob ele ao turismo, ao desporto e à cultura.
De forma a efetivar esta ideia de turismo para todos, os sindicatos foram construindo centros de férias para os
seus trabalhadores e reivindicando apoios do Estado. Os Comités de Entreprise e o Chèque-vacances, em França, foram e são emble- máticos.
Em Portugal, o Corporativismo do Estado Novo chamou os Sindicatos e essas funções a si, que iam proliferando pela Euro- pa. Nascia a FNAT, numa estratégia global de controlar os movi- mentos operários e numa visão ideológica do papel da cultura popular dentro do Regime que se consolidava.
Por um lado, pelo papel, plenamente justificado, dado à Fun- dação – de dar oportunidades de lazer e turismo a públicos com menos acesso a ele, sejam pensionistas ou ativos, seja na cultu- ra ou no desporto, passando pelo turismo e pela solidariedade social –, institucionalizou-se esta organização, no seio dos meios operários e rurais. Por outro lado, pela forma como os sindicatos corporativos foram sendo “tomados” pelas dinâmicas dos movi- mentos dos trabalhadores, a FNAT consolidou-se, em Portugal, como uma instituição com um profundo cariz popular. É, assim, das poucas organizações públicas que passa para o Regime De- mocrático, com o nome de INATEL, mantendo a essência da sua função.
Em pleno mês de agosto, que centenas de pessoas usam as infraestruturas da Fundação, em lazer, nas suas férias, e que se revigora uma nova geração de programas de apoio ao Turismo Sénior e Social, de nome 55+, envolvendo milhares de pessoas, muitos deles, com maior carência social, a título gratuito, é tempo de realçar que o lazer e o turismo são um direito de todos, caben- do à Fundação promovê-los, numa lógica social, intergeracional e de tolerância intercultural.
Aos quase 200 mil sócios que compõe o nosso suporte social, nos quais se incluem quase 3 mil centros culturais e desporti- vos e outras associações, cabe-nos agradecer a forma como nos ajudam a promover este objetivo progressista e, sobretudo, a efetivá-lo.
FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel
Editorial
capa
R ui Sousa nasceu em Lisboa, em 1966. Vive em Paço de Arcos.
Licenciado em pintura, pela Faculdade de belas Artes de Lisboa, em 1992.
Durante os últimos 30 anos dividiu a maior parte do seu trabalho entre a ilustração e a pintura, colaborando com editoras, jornais, revistas e realizando exposições.
Com a Animanostra, realizou o filme de animação “Um caso bicudo”.
É autor de quatro livros infantis. Como complemento das viagens
que realizou desenvolve também o trabalho de “Urban Sketcher “, com cadernos publicados.
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M aravillas de Mali é a orquestra perdida do músico, maestro, arranjador, produtor e apresentador de televisão maliano Boncana Maïga que, na década de 60, foi enviado para Cuba
com mais 9 jovens músicos de seis regiões do Mali, para estudar música clássica no Conservatório Municipal de Música Alejandro García Caturla de Havana. Aí desenvolveu os exímios dotes de flautista e aprendeu, fora do Conservatório, todos os códigos da charanga. Um termo que pode parecer pejorativo no universo lusófono ou mesmo em Espanha, mas que em Cuba designa uma orquestra de excelência edificada com instrumentos europeus como piano, violino, flauta, que começou por explorar o danzón de Matanzas do final do séc. XIX e que durante o séc. XX foi absorvendo outros géneros locais (son, cha-cha-cha) e em que a música clássica europeia se mistura com ritmos africanos.
Personagem principal de uma história tão bonita e interessante quanto as de Buena Vista Social Club e de Casa de La Trova, Boncana Maïga foi o fundador, na década de 60, da primeira formação de músicos africanos a interpretarem repertório da ilha de Fidel Castro. Maravillas de Mali, constituída por outros jovens estudantes de música em Havana oriundos de seis regiões do Mali, inspiraram-se nas formações da idade de ouro (anos 40/50) da música cubana, como Orquestra Aragón, Arcaño y sus Maravillas e Maravillas de Florida. Inovaram o formato ao cantar cha- cha-chá, guaracha e son montuno em castelhano, francês e bambara.
Em 1968, com a ascensão ao poder do então tenente Moussa Traoré, o Mali pôs o socialismo (e o seu sistema educativo) na gaveta. Boncana Maïga emigrou para a Costa do Marfim e Maravillas de Mali não sobreviveria sem o seu compositor e arranjador.
Em 1999, em plena ressaca da maravilhosa história da orquestra
Entrevista
O Ciclo Mundos recebeu no dia de Santo António o espectáculo mais marcante desta temporada gorda de 2018 constituída por uma dezena de grandes, aventureiras e diversificadas propostas musicais
Maravillas de Mali: O código de Matanzas de uma charanga afro-cubana
Buena Vista Social Club imortalizada nesse mesmo ano no filme homónimo com direção do cineasta alemão Wim Wenders, o produtor musical, criativo publicitário, director de documentários e séries de televisão francês, Richard Minier, começou a reconstruir a incrível história de Maravillas de Mali. Andou entre Havana, Bamako, Abidjan e Paris a entrevistar vários músicos. Levou Boncana Maïga a Cuba para regravar novas versões das canções editadas há mais de 50 anos, como o clássico “Rendez-vous Chez Fatimata”. E deu o necessário empurrão para a reconstrução de uma nova orquestra Maravillas de Mali arquitectada pelo pianista e director musical cubano Manolito Simonet. Mentor da formação Manolito y Su Trabuco que, ao fim de duas décadas e meia de existência, integra a seleção de showcases da Womex 2018. A maior feira de músicas do mundo que este ano tem lugar em Las Palmas (Ilhas Canárias), de 24 a 28 de Outubro.
Na primeira semana de Junho, a nova versão da orquestra Maravillas de Mali efectuou uma residência artística em Sines, para consolidar os novos arranjos deste repertório criado há mais de meio século. Fez a sua grande estreia no Ciclo Mundos do Teatro da Trindade Inatel e regressa ao litoral alentejano para participar na penúltima noite (27 de Julho) da XX edição do FMM Sines. Um espectáculo que contou (e contará) com um convidado africano muito especial: o griot Mory Kante. Boncana Maïga, sempre foi um músico muito activo, desenvolveu vários projectos de fusão de músicas latinas, de soul-funk com raízes africanas, com os Africando, com os Fania All Star, ou nos seus projectos a solo. Porque é que só há cerca de um ano resgatou o projecto Maravillas de Mali? Estudei música em Cuba para dar cursos aos africanos, sobretudo aos alunos do meu país. Quando regressámos ao Mali, em 1968, houve um golpe de Estado. Fomos para Cuba pela mão do primeiro
Presidente Modiba Keïta que era muito visionário. Subiu ao poder em 1960 e de imediato firmou um acordo com Fidel Castro para que estudantes africanos fossem estudar música, medicina, agronomia, etc. Após quase 10 anos, regressámos ao Mali e mudou o governo [tendo subido ao poder Moussa Traoré]. Era muito militarizado que não dava valor ao ensino musical. A música para eles tinha apenas a função de animar bailes. O primeiro Presidente queria que nos formássemos para que pudéssemos ensinar os mais jovens, à semelhança do que se fazia em Cuba, na Colômbia, ou noutros países da América do Sul.
Acabei por sair do Mali. Estudei muito bem música em Cuba cerca de 10 anos e queria ensinar, não queria estar nos cafés a beber chá e a não fazer nada. Que formação musical teve em Cuba? Música clássica. Bach, Chopin, Mozart. Era flautista e toquei todas as peças para flauta e piano e flauta e orquestra. Não era música cubana. Essa aprendi-a fora do Conservatório. Todos os Sábados saia para ouvir os cubanos tocar. E os cubanos também vinham ver os nossos ensaios pela curiosidade de sermos os primeiros africanos a estudar no Conservatório. Eu considerava-os como irmãos. Ao Domingo reuníamo-nos e tocávamos todos juntos. Toquei na Orquestra Aragón, Orquestra Estrellas Cubanas, Orquestra Maravillas de Florida. Foi precisamente daí que saiu o nome Maravillas de Mali. 50 anos depois, esse projecto voltou e pude falar com o Manolito Simonet que conheci em Cuba há cerca de um ano. Desde o nosso encontro temos estado sempre em contacto.
Para o Manolito, a Orquestra Las Maravillas de Mali é como se fosse a sua própria orquestra. Somos irmãos, amigos, ele dá tudo o que tem no seu coração para que esta orquestra possa tocar desta forma. 50 anos depois regressámos e todo o repertório que vai ouvir esta noite é de Maravillas de Mali da formação inicial. Voltou a Cuba mais de 40 anos depois de lá ter estudado. Como se sente
ao reactivar um projecto com outros músicos e praticamente sem africanos? Neste grupo não há nenhum músico do Mali, mas tem um do Benim. Chegámos a ser 10, depois ficamos 7 porque 3 regressaram ao Mali. Dos 7, 6 já morreram. Para mim, é um prazer voltar a este projecto e tocar com muito bons músicos cubanos, mas com o repertório das Maravillas de Mali. Temos um grito: ‘Cubafrica’! Em 1968, com a mudança do governo, a política cultural também mudou como já teve oportunidade de referir. Alguns dos membros que formaram consigo Las Maravillas de Mali iniciaram posteriormente o projecto Badema National que explorava a diversidade do repertório tradicional do Mali. Chegou mesmo a ser proibido cantar em língua castelhana nessa altura? Não. Como não me sentia bem com este governo militarizado, mudei-me para a Costa do Marfim. Aí estive durante 20 anos. Fundei um Conservatório, formei várias orquestras. Fiz muitas coisas. Os meus companheiros que ficaram no Mali, não puderam manter Maravillas de Mali. Eu era o compositor e o arranjador de todas as canções. O grupo não estava completo. Não se pode tocar música de Cuba no Mali quando não se conhecem as regras da música cubana. Tentaram
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mas não conseguiram. Então formaram uma orquestra de música do Mali: Badema National. Manolito Simonet, como conheceu Boncana Maïga? Quando me falaram da possibilidade de trabalhar com o projecto, fiquei muito entusiasmado porque tinha ouvido falar deles em muitas ocasiões. Fui músico e director de Las Maravillas de Florida durante 9 anos e os músicos mais velhos desta orquestra sempre me falaram de Maravillas de Mali. Chegaram a mostrar- me gravações e ficava admirado com a complexidade, com os muitos códigos, com o estilo charanga. Uma coisa é ser músico, outra é ser charangueiro. É um ditado cubano. Foi aí que me contaram a história que eles haviam estudado em Cuba numa altura em que havia muitas belíssimas orquestras e formações em Havana, como Conjunto Roberto Faz… Podiam ter ido para outro estilo, mas inclinaram-se para a charanga e fizeram- no muito bem. É um privilégio para mim poder voltar a montar esta orquestra e então conheci Boncana. Uma pessoa maravilhosa, um grande músico e um grande conhecedor do estilo. Como foi pegar neste repertório de Maravillas de Mali criado há 50 anos? É mais difícil dar novos arranjos a estes temas ou construir novo repertório?
Tive a experiência de 9 anos de director de Las Maravillas de Florida que toca repertório actual e antigo. Chegámos a ter mais de 50 temas dos anos 40/50. Foi fácil trabalhar com Maravillas de Mali. Boncana deu-me a liberdade para improvisar um pouco nos arranjos para que também tenha um efeito na juventude que não conheceu este projecto. É bom que um projecto tão importante tenha uma sonoridade mais actual. Se o teatro a que vamos tocar é de último modelo, a música também tem de ser de último modelo. Todos os códigos se repetem. Isto é ser charangueiro, mas também é ser mais actual.
Há muita flauta. É o instrumento básico da charanga. Com todo o conhecimento que ele tem da charanga e da flauta pude interpretar facilmente o que o criador queria. Pode ser muito bom músico mas se não é charangueiro não se logra o objectivo. A charanga tem muito código. Graças a isso, reuni um grupo de músicos quase todos cubanos mas que nem todos vivem em Cuba. Vivemos em várias partes do mundo e juntámo-nos num palco para formar a nova orquestra Maravillas do Mali e para levar ao mundo esta música, porque estamos a falar de uma digressão mundial. Passará por muitas partes do mundo mas irá fundamentalmente ao Mali. É um
nosso objectivo que o Mali receba a sua orquestra e que este país possa ter a sua charanga que interprete música latina.
É importante incentivar a nova geração de músicos malianos aprender este estilo, este tipo de formação e erguer uma orquestra que seja uma referência. Já foi ao Mali? Não. Tenho a minha banda. Tenho muitos compromissos. Vim aqui a Portugal porque é a primeira apresentação de Maravillas de Mali. Vim ajudar a montar os temas com os músicos. Como avalia o trabalho que desenvolveram em Sines, durante os 4 dias de residência artística? Sou o orquestrador, director musical, escrevo as partituras. Todos os músicos tiveram formação no Instituto Superior de Artes de Havana. São conhecedores deste estilo e são jovens. Como entrou em contacto com Mory Kante que é um convidado de luxo em alguns dos espectáculos desta digressão de Maravillas de Mali? É um cantor muito importante. Não o conhecia. Foi mais um desafio que me propuseram: integrá-lo na orquestra sem que se notasse as diferenças, porque o seu estilo é muito africano. Fizemos uma boa mistura. É também muito profissional. Luís Rei [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
Boncana Maïga – “Acabei por sair do Mali. Estudei muito bem música em Cuba cerca de 10 anos... Toquei na Orquestra Aragón, Orquestra Estrellas Cubanas, Orquestra Maravillas de Florida. Foi precisamente daí que saiu o nome Maravillas de Mali”
Manolito Simonet – “Quando me falaram da possibilidade de trabalhar com o projecto, fiquei muito entusiasmado... Fui músico e director de Las Maravillas de Florida durante 9 anos e os músicos mais velhos desta orquestra sempre me falaram de Maravillas de Mali”
beatriz lorena
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou a atriz Carmen Dolores, de 94 anos, com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito
O Teatro da Trindade Inatel homenageou Carmen Dolores com a peça “Car- men”, nome que é hoje a designação da sala principal do Teatro.
A atriz Carmen Dolores, de 94 anos, viu a sua vida e obra em palco, uma peça inspirada no livro “Vozes dentro de mim”, editado em 2017, e com elementos de duas outras obras de memórias da atriz, “Carmen” foi uma ideia do diretor artístico do Tea- tro da Trindade Inatel para homenagear Carmen Dolores, que se estreou em cinema e teatro no Trindade, primeiro com o filme “Amor de Perdição”, de Leitão de Barros, aí exibido pela primeira vez em 1943, e, dois anos mais tarde, em “Electra, a mensageira dos deuses”, de Jean Giraudoux, com encenação de Francisco Ribeiro (Ribeirinho). Maria João Costa (texto) Beatriz Lorena (fotos)
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NO TRINDADE
Carmen Dolores agradece o carinho e a atenção recebida após condecoração com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
Presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, Carmen Dolores e Diogo Infante, Diretor Artístico do Teatro da Trindade Inatel.
Peça de teatro “Carmen”, um monólogo que tem como protagonista a atriz Natália Luiza, afastada dos palcos há 8 anos e de regresso depois de um pedido irrecusável de Carmen Dolores e Diogo Infante.
Exposição dedicada a Carmen Dolores com objetos pessoais. Decoração de Marta Carreiras, responsável pelo espaço cénico e figurinos da peça de teatro “Carmen”.
Carmen Dolores aplaudida pelo público.
Eunice Muñoz, amiga de Carmen, em tempos “pouco amigas de profissão” pelos jornais, mas hoje desmistificam o mito. A presença da atriz, na estreia e condecoração de Carmen, acarinhada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Quadro de homenagem de Carmen Dolores que dá o nome à sala principal do Teatro da Trindade Inatel.
Equipa de produção e criação da peça “Carmen” após estreia.
Sala Carmen Dolores.
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Porto Covo Hotel Inatel Praia Beach, a nova unidade hoteleira da Fundação Inatel na Costa Vicentina.
Durante o Festival Músicas do Mundo, em Sines, no ano em que celebra 20 anos de música, a Fundação Inatel deu mais um passo ao lado da Câmara de Municipal de Sines e da Caixa Crédito Agrícola Costa Azul.
Depois de uma parceria no âmbito cul- tural que se iniciou em 2016, é chegada a hora na aposta da Hotelaria, que se afir- mou com a assinatura de protocolos entre as três instituições.
“Há a vontade da Inatel continuar asso- ciada ao Festival Músicas do Mundo, e vai agora adquirir as instalações da Caixa de Crédito Agrícola Costa Azul e transformá- -las num hotel porque sabe que este é o local ideal para o fazer, e temos défice de
A Fundação Inatel esteve mais uma vez associada ao Festival Músicas do Mundo de Sines, e no terceiro ano
de parceria Porto Covo recebeu o palco Inatel.
De 19 a 22 de julho, 16 artistas – da Gló- ria do Ribatejo, passando pelo Chipre, Venezuela, Polónia, Turquia, e muitos ou- tros – pisaram o palco Inatel. O mundo, a partir do Folk e da música tradicional.
No primeiro dia, foi o Rancho da Glória do Ribatejo quem abriu os 20 anos do Fes- tival Músicas do Mundo. Com mais de 60 anos de história, trouxeram a música e a dança que os caracteriza; Aldina Duarte, do fado, apresentou o seu mais recente trabalho “Quando se Ama Loucamente”.
Maryam Saleh, Maurice Louca & Ta- mer Abu Ghazaleh’s Lekhfa e Barbez também estiveram presentes. Barbez, de Brooklyn, eles que encantaram o público com a “Bella Ciao”, da Revolução Italiana e que serve de banda sonora da popular série NetFlix, La Casa de Papel.
Monsieur Doumani, do Chipre, The Como Mamas, dos EUA, Karina Buhr, do Brasil e Fogo Fogo, Portugal, encheram o palco no segundo dia. Fogo Fogo, residen- tes em Lisboa, na Casa Independente, re- vivem os domingos dançantes com a mú- sica cabo-verdiana, do funaná às mornas.
Depois do palco do Teatro da Trindade Inatel, onde ainda serão apresentados três concertos – Gaye Su Akyol, Park
Jiha, Mamadou Diabaté – ao longo deste ano, estivemos noutras cidades do país com o Ciclo Mundos.
No passado dia 17 de julho foi Évora quem recebeu The πlinha e os colombia- nos Alibombo inserido no programa cul- tural Artes à Rua.
Seguiu-se Grândola, no dia 25 de julho, com Carmelo Torres Y Su Cumbia Sabane-
A banda da Glória do Ribatejo conquis- tou o público, até os mais exigentes, no concerto Lounge Inatel durante o
Festival Músicas do Mundo. Depois do concerto Ciclo Mundos em
Évora, os The πlinha encheram um novo palco da Fundação, em Sines.
A banda que, diariamente, corrige a for- ma como escrevem e apresentam o seu nome, não esconde que, sem querer, esco- lheram o nome ideal para que ninguém se esqueça deles.
Juntos há 12 anos, com um objetivo co- mum, divertirem-se, fazem das letras e dos ritmos atrevidos a sua forma de estar e de atuar.
No Lounge da Fundação Inatel não foi diferente.
Com uma plateia exigente, a presença
Fundação Inatel com hotel em Porto Covo
PALCO INATEL no Festival Músicas do Mundo
Ciclo Mundos chega a outros palcos
The πlinha no espaço INATEL SINES
unidades hoteleiras entre Lisboa e Albu- feira”, palavras do presidente da Funda- ção Inatel após a assinatura de protocolos. Realçou ainda o facto de a Fundação Ina- tel explorar o país no sentido de uma eco- nomia social “e não apenas numa lógica de lucro”.
O projeto de arquitetura está avançado e a abertura será em 2019.
ra, grupo de música tradicional de Bogotá que tem no acordeão e na cumbia (música tradicional) a nota principal para concer- tos onde dançar é obrigatório.
Em 2019 o Ciclo Mundos vai continuar perto do público Inatel e do público curioso pelo que se vai fazendo no mundo da música.
Lisboa continuará no mapa, bem como Évora e Coimbra. É da génese e missão da Fundação levar cada mais e mais longe a tradição aliada à modernidade, a defini- ção do Ciclo Mundos.
de gurus da World Music, foram ainda mais emotivos; e o espaço mais acolhedor fez com que chegassem mais perto do pú- blico, contagiando e despertando a curio- sidade em quem não os conhecia. Eles saíram do palco com aplausos e cada vez mais perto de alcançarem outros palcos. Maria João Costa
No dia 21 de julho, C4 Trio, da Vene- zuela, deram a conhecer o cuatro, um instrumento de cordas “primo” do nosso cavaquinho; Meszecsinka, da Hungria, e Vieux Farka Touré, do Mali, um dos mais esperados, o verdadeiro “Hendrix do Sahara”, que apesar de não ter o apoio do pai para viver da música, teve Doumani Diabaté que provou que Vieux era capaz.
Baba Zula, música tradicional com uma abordagem mais eletrónica, choca mui- tos locais Turcos, mas em Porto Covo dei- xaram a sua marca ao descerem o palco para atuarem no meio do público.
No último dia, o palco Inatel recebeu de Espanha a Brigada Bravo & Díaz, os Kroke, da Polónia, a celebrar 25 anos de carreira, eles que foram descobertos pelo Steven Spielberg.
Robert Finley, dos EUA, uma voz do R&B, músico incógnito até aos 50 anos, é prova de que nunca é tarde para come- çar.
A encerrar a noite e os concertos em Porto Covo, Meridian Brothers, Colôm- bia. O que fazem em palco pode ser comparado à loucura: folclore latino-a- mericano, vallenatos, muitos samples, intervenções teatrais e personagens. Mas o que seria do mundo sem um pouco de loucura e sem a música?
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D e Manuel Teixeira Gomes revive a memória do intelectual e do político que se afirmou como grande escritor, se impôs como notável diplomata e se distin- guiu como Chefe de Estado, um dos que mais prestigiaram a Re-
pública. Descendia de uma família que parti-
cipou nas campanhas de liberais contra miguelistas, que pagou o idealismo com morte e prisões e que virá depois a cons- tituir o núcleo fundador dos republicanos do Algarve. Manuel Teixeira Gomes nas- ceu em Portimão a 27 de maio de 1860. Nunca esqueceu o esplendor do mar, en- tre a Ponta do Altar e a Ponta da Piedade, o recorte nítido dos rochedos, e o espraia- mento da água; os prodígios da natureza, o aparecimento, de um dia para o outro, das amendoeiras a florir, a renascer, a desbrochar, em enormes «cachos que pa- recem de cristal», quando «tudo à volta é desolação e abandono, no regelado cora- ção do inverno».
O paraíso remoto Contudo, nesse «paraíso para quem o sa- bia fruir, terra morta para turistas e artis- tas», não existiam monumentos e havia que «arrostar com a imundície das hospe- darias e a infâmia das estradas». Ir a Sa- gres representava uma aventura: «é um ciclópico penedo cuja superfície parece ferver em borbotões se não percorre sem lá deixar as solas dos sapatos. E quem é que ali chega?!».
Durante décadas, esse Algarve remoto, sem estradas transitáveis e sem transportes para ultrapassar o isolamento, continuou a ser um território quase mitológico, pleno de recursos naturais, mas sem possibilida- des para despertar do marasmo e da rotina.
Coexistiu sempre em Manuel Teixeira Gomes o espírito rebelde do estudante que não se preocupou em realizar e concluir o curso de Medicina em Coimbra e depois no Porto; do jovem que se dispersou nas tertúlias de escritores, de poetas, de artistas plásticos e de músicos. A boémia a que se entregou, com intensidade, se lhe impediu a formação universitária, proporcionou- -lhe uma singular experiência humana e uma diversificada riqueza intelectual.
Os tesouros das viagens Viajou muito. Conheceu, palmo a palmo, o melhor e o pior das grandes cidades europeias. A viagem constituiu uma das componentes da sua cultura. Instalava-se num hotel confortável. Escolhia os restau- rantes. Tinha avultados meios de fortuna. Aproveitava o tempo sem pressa.
Sabia que «olhos que vêem muito não vêem nada». Assim mergulhava nos te- souros dos museus, dos palácios, das igre- jas e no «espetáculo das ruas», no movi-
AGOSTO AZUL A obra literária de Manuel Teixeira Gomes, que é inseparável da paisagem do Algarve, reinventa o mar e a sedução do corpo humano para exaltar a beleza das formas e para sentir a irradiação da luz e o deslumbramento da cor Por António Valdemar
Viajando com livros
terra natal, até aos clubes de futebol de projeção nacional.
Profecia trágica Enfrentou sucessivas crises que provocaram quedas e substituições de governos. Procu- rou a reconciliação da classe política e das Forças Armadas. Reuniu, a 5 de dezembro de 1925, os comandantes das unidades mili- tares para um almoço no Palácio de Belém.
Ao pressentir que não havia, nem solu- ção, nem alternativa, fez a seguinte decla- ração que se tornaria uma profecia trágica:
«Enquanto certos políticos da nossa terra teimarem em pensar com o estômago e dige- rirem com os miolos, isto não tem concerto possível. E o pior é que já é muito tarde para tê-lo, porque quer os senhores queiram, quer não (exclamou, voltando-se à direita para o General Carmona e tocando-lhe nos galões) isto vai-lhes diretamente parar às mãos».
Perante o impasse, decidiu, no dia 10 de dezembro, apresentar a demissão. Meses depois, o Exército implantava a ditadura. Durou quase meio século. Até ao 25 de Abril de 1974.
Primavera da liberdade Teixeira Gomes deixou Portu- gal. Definitivamente. Resolveu peregrinar de país em país. Foi o que chamou «a grande Prima- vera da Liberdade». Andava só, transformado num vulgar cida- dão anónimo, através do Me- diterrâneo e, por fim, do Norte de África. O Magreb passou a constituir a terra do seu acolhi- mento. A imaginação refugiava- -se nas montanhas do Atlas, onde as serras alternam com os vales, nas praias lumino- sas e na solidão do deserto. No silêncio que descobre a respiração da natureza.
Enquanto se conservou, mesmo em plena velhice, «saudável, próspero e feliz como um deus que regressou do Olimpo», Teixeira Go- mes fazia «cerca de dez quilómetros de mar- cha diária, caminhadas sem fim até ao salu- tar cansaço que prepara os sonos profundos de onde se ressurge mais rijo e satisfeito».
Embrenhava-se nas cidades imperiais carregadas de história, com mesquitas opulentas, palácios luxuosos e jardins des- lumbrantes. Percorria o labirinto dos souks, apreciava o trabalho dos oleiros, dos tece- lões e dos caldeireiros que «jogam com o esplendor do cobre e do arame polido». Era possuído pelo sortilégio da música árabe, «a ação fulminante, irresistível, multíplice», que abala os sentidos «pela voluptuosidade que emana, pela sensualidade que destila».
Regresso à escrita Retomou a vida intelectual, a correspondên- cia com escritores e artistas, a colaboração em revistas e jornais, a edição de livros, toda uma atividade cultural e cívica interrompi-
da pelo desempenho da intervenção políti- ca e da carreira diplomática. Ao publicar os primeiros livros, aos 40 anos, Inventário de Junho e Cartas Sem Moral Nenhuma, Teixeira Gomes destacou-se, tal como Raúl Brandão e, logo após a morte de Eça de Queiroz, entre os maiores escritores portugueses. Apurou o domínio da palavra, a desenvol- tura na articulação verbal, o poder envol- vente da escrita. Tudo o que já se depara nos primeiros livros, Inventário de Junho e Cartas Sem Moral Nenhuma, acentuou-se no Agosto Azul, em Gente Singular e na peça de teatro Sabina Freire («sangue e veneno em cena»). Ganhou, todavia, maior força e amplitude, nesta derradeira fase, nas Car- tas a Columbano, nas ficções autobiográficas das Novelas Eróticas e Maria Adelaide; nas páginas de memórias de Londres Maravi- lhosa, Regressos e, finalmente, no testamen- to literário incluído no Carnaval Literário.
De 1931 a 1941 radicou-se em Bougie. (Atualmente denomina-se Bejaia, tem um monumento à sua memória e uma escola
com o seu nome). Manteve ri- gorosa privacidade. Os contac- tos com Portugal, com a família, inclusive as duas filhas e a mãe delas, limitaram-se a mera tro- ca de correspondência. E sem mencionar onde residia. Apenas indicava o número de uma pos- ta-restante do correio. Escolheu o pequeno Hotel l’Etoi- le para se consagrar, em tempo inteiro, à criação literária. O quarto tinha (e tem) o número 13 e uma janela para o mar. A vista abrange a cordilheira de
Kabila, sempre coberta de neve. Longe de tudo e de todos ali faleceu e se despediu da vida no momento que desejava: «quan- do desponta a aurora, em manhã lumino- sa e tépida, sacudir sobre o mar as cinzas dos sonhos». Foi a 18 de outubro de 1941.
Sempre o Algarve Contudo, Teixeira Gomes guardara, den- tro de si, a paisagem geográfica e humana do Algarve esse «cintilante mar rasgado, evocativo, imenso» onde o seu espírito inquieto permaneceu sempre «de olhos abertos e com todos os sentidos despertos para glorificar o esplendor da luz que ilu- mina e para divinizar quantas maravilhas ela nos revela, desde o cristal límpido das fontes que, cantando, fecundam a ter- ra sequiosa, até ao corpo humano, carne ambulante e sensual, onde se encerra e se propaga a essência da razão e do amor».
Onde quer que estivesse Teixeira Gomes reinventava o Algarve no encontro do Atlântico com o Mediterrâneo, no cruza- mento da África com a Europa. O Sol a en- cher de luz as variações cromáticas, desde o nascer até ao pôr do sol. Cada momento é único e é sempre diferente.
Retrato por Marques de Oliveira
mento das pessoas, umas fechadas nelas próprias, repletas de angústias e preocu- pações imediatas, receosas de ciladas; ou- tras, recetivas ao convívio, ao prazer do encontro, aos imprevistos voluptuosos, às surpresas que a vida oferece.
Teixeira Gomes conseguiu dedicar-se, simultaneamente, à escrita, à coleção de obras de arte, à frequência assídua nos concertos musicais e, também, nos traba- lhos práticos da produção, comercialização e exportação de frutos secos, na gerência de fábricas e empresas familiares, em Por- timão e do escritório que a firma tinha em Antuérpia. Tais aptidões também foram exercidas, em Londres, quando chefiava a representação diplomática portuguesa, pe- rante a ausência de funcionários capazes, para despachar o expediente burocrático.
República e diplomacia Manuel Teixeira Gomes identificou-se com o ideário republicano que promoveu a transição do século XIX para o século XX, as lutas no fim da Monarquia, as mu- danças políticas e sociais que marcaram os anos agitados da República. Teve, no entanto, uma posição crítica em face dos conflitos partidários, das controvérsias parlamentares, dos cenários da I Guerra Mundial, dos debates nos fóruns interna- cionais, das tribunas e dos bastidores da Sociedade das Nações.
Enquanto Presidente da República, de 5 de outubro de 1923 a 10 de dezembro de 1925 apoiou manifestações culturais e artísticas, os centenários de Camões e de Vasco da Gama; visitava as exposições de pintores e escultores da sua geração e de alguns representantes das vanguardas ar- tísticas. Também incentivou as atividades desportivas, desde o Portimonense da sua
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D urante a Segunda Guerra Mun- dial, na madrugada de 9 de Se- tembro de 1940, o Museu de His- tória Natural de Londres sofre um ataque aéreo. Três bombas incendiárias atingem o Departa- mento de Botânica onde se pre-
servam obras raras e um herbário históri- co. Os bombeiros acorrem ao local e o que as chamas não destroem, a água acaba por estragar. Mas nem tudo, algumas semen- tes trazidas da China em 1793, pertencen- tes a uma espécie de árvore chamada Acá- cia-de-Constantinopla (Albizia julibrissin Durazz.), pouco tempo depois do inciden- te, começam a germinar.
Ao longo de 147 anos, as sementes desta espécie de leguminosa (pertence à famí- lia das Fabáceas), também conhecida por Árvore-da-seda da Pérsia, viveram num estado de dormência, respirando muito lentamente sob a sua membrana imper- meável. A água que as ensopou, durante o combate às chamas, não seria por isso suficiente para interromper esse sono se- cular, não fosse o caso de ter sido “fervida” pelo calor do incêndio.
De facto, conforme se pode ler no arti- go “Germination of Woody Legume Seeds with Impermeable Seed Coats” publicado em 1965, na revista Arnoldia, edição do Arnold Arboretum, da Universidade de Harvard, nos EUA, uma das formas de in- terromper o sono de uma “semente macro- biótica”, designação científica atribuída às sementes que conseguem ser viáveis por 15 anos, ou mais, passa por a sujeitar a um banho de água à temperatura de 190° ou 200° graus centígrados. A receita é simples. As sementes são colocadas num recipiente onde se deita a água a ferver, 5 ou 6 vezes superior ao seu volume; ficam neste banho durante uma noite e, no dia seguinte, de- vem ser imediatamente semeadas.
A leguminosa onírica folhas mas, por milhares de leques fecha- dos que se inclinam para o chão, fazendo justiça à forma como é nomeada entre os japoneses, Nemunoki, a árvore que dor- me, e no Irão, como Shabkhosb, a que dor- me de noite.
A subtil mobilidade das folhas da Acá- cia-de-Constantinopla ao anoitecer foi observada pelos sábios e herbalistas chi- neses. Incluída no Shennong Ben Cao Jing, manual de agricultura e plantas medici- nais, datado do século III a.C. ao II d.C., é desde então considerada uma das mais importantes espécies medicinais da flora da China por ter a faculdade de acalmar o espírito.
Aproveitando a casca (He Huan Pi) e as flores (He Huan Hua), hermafroditas, perfumadas, reconhecíveis pela forma de pompons cor-de-rosa (não têm pétalas), a farmacopeia chinesa ainda hoje prescreve chá, comprimidos e tinturas para tratar
A Casa na árvore
Quando a Acácia-de-Constantinopla dorme nem uma bomba a consegue despertar Por Susana Neves Desconhecendo-se qual o processo de
germinação utilizado pelos introdutores da espécie arbórea oriental na Europa – como o naturalista florentino Filippo de- gli Albizzi, que trouxe sementes de Cons- tantinopla (actual Istambul, na Turquia) em 1749 –, no estado silvestre, as semen- tes acabam por germinar sem interven- ção humana. Mas independentemente da forma como é germinada, a Acácia-de- -Constantinopla ou Albizia (nome atri- buído em 1772, em homenagem ao natu- ralista italiano) mantém ao longo de toda a vida a capacidade de dormir, o que é so- bretudo visível de noite, e enquanto não perdeu a folhagem, uma vez que é uma espécie caducifólia. Assim que anoitece, cada uma das suas folhas, composta por dezenas, centenas ou mais de mil de pe- quenos folíolos, fecha-se e comprime-se. A copa da árvore, invulgarmente achata- da, parece então ser constituída, não por
mais commumente, a depressão, insónia e feridas externas. Considerada uma espé- cie de “Prozac chinês”, a Albizia é a “plan- ta da felicidade” porque, sobretudo, pela utilização da casca, mobiliza o Qi ou Chi (energia vital presente em todo o univer- so e também no ser humano), através do funcionamento equilibrado dos “cinco es- píritos” sediados nos cinco orgãos vitais: Shen ou mente (coração); Hun ou alma etérea (fígado); Po ou alma corpórea (pul- mões); Yi ou intelecto (baço) e Zhi (rins, vontade). Ou seja, a Albizia desbloqueia as emoções extremas que afectam o bom funcionamento dos orgãos, contribuindo assim para o fluir continuo de energia, a expansão da consciência e o sono repou- sado.
Na realidade, basta dizer Acácia-de- -Constantinopla para se ficar simultanea- mente mais acordado e sonhador, porque há neste nome uma espécie de elixir d’As Mil e Uma Noites, o convite para viajar em caravana, ao longo da milenar Rota da Seda, ou transmigrar até Paris, no final do século XIX, apanhar o comboio do Ex- presso do Oriente, só para ouvir, na pon- te de Constantinopla, todas as línguas do mundo, fascinados pelos amestradores de ursos, e pelos que têm o rosto transforma- do em pústulas. Também podemos dizer em persa gul-i abrisham, que significa “flor de seda” (origem de julibrissin, o epíteto específico da Árvore-da-seda da Pérsia), e nessa altura acompanhamos o ondular dos estames cor-de-rosa da flor, que aos persas lembravam finos fios de seda, e porventura, terão reforçado a ilusão, que persistiu em Roma durante a Antiguidade Clássica, que a seda provinha de uma ár- vore, e não do intenso labor do pequeno bicho-da-seda.
[A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]Duas acácias-de-Constantinopla no Largo Vitorino Damásio, em Lisboa, com as flores já secas
Pormenor das flores e folhas da Acácia-de-Constantinopla e, à esquerda, ilustração botânica da Acácia-de- Constantinopla incluindo vagens e sementes. Pertencente à Universidade de Pádua, Itália
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F azer anos não é obrigatório para pessoas com a dimensão de Euni- ce Muñoz.
Essa coisa do calendário, da bio- logia e das leis da natureza, ren- dem-se perante a vida vivida e a que continuará a viver esta enor-
me actriz, mulher, mãe e cidadã de um país que nem sabe como lhe agradecer o facto de ter nascido aqui.
Ai se eu fosse escritor daqueles dos bons, que frases bonitas e profundas es- creveria sobre Eunice.
Ai se eu fosse poeta em quantos versos seria ela a minha musa inspiradora.
Na arte de representar, Eunice é a ver- dadeira generosidade, dando tudo de si como se não tivesse custado nada.
No palco da vida, caminha com a força de uma mãe coragem e sorri.
Nas memórias da minha vida, guardo os momentos em que contracenámos no meu programa Arroz Doce.
Que atrevimento o meu, dizer que con- tracenámos, quando aquilo que aconteceu ao longo de várias semanas foi apenas um apresentador encantado pelos olhos da porteira que vivia superiormente o papel tão simples que eu lhe tinha pedido. Bisbi- lhoteira, arguta, controladora e “não digo mal de ninguém porque a minha boca é um poço sem fundo” a senhora dona Eu- nice Muñoz enchia de luz dez minutos do programa.
Anos antes tinha sido uma fascinante
de mistério. E segue-se o cinema com o fil- me “Camões” de Leitão de Barros. Recebe o primeiro de tantos prémios, este como a melhor actriz de cinema do ano.
Eunice é um ser especial. Os casamen- tos e a maternidade foram papéis princi- pais na sua vida e por eles, os seus seis re- bentos, abdicou daquilo que tanto amava, a arte de representar.
Mas voltou, voltou sempre porque nós precisávamos de a ver e ouvir. Vi-a pela primeira vez em 1962, na penumbra da minha sala de jantar, num pequeno ecrã
EUNICE, 90 ANOS A ARTE DE SER MULHER
do nosso ‘Nordmende’ a viver a Dama das Camélias. Lembro-me de nos interva- los da peça, o silêncio quebrado pelo meu pai que dizia: Que grande actriz.
No ano seguinte chorei tanto quando a vi no Teatro Avenida no “Milagre de Anne Sullivan” com a jovem de treze anos, a maravilhosa Guida Maria.
Passavam os anos e eu seguia Eunice que tanto foi Sarah Bernhardt como a Ma- luquinha de Arroios, Mãe Coragem, ou Miss Daisy. A divina Eunice que decora os papéis enquanto faz a lida da casa e que revela surpreendentemente que precisa de trabalhar para manter os mínimos de uma vida confortável, é a estrela que bri- lha sem artifícios. É a luz natural do talen- to com muito trabalho.
Noventa anos? Queremos nós lá saber das leis da biologia e da natureza.
Eunice que já entrevistei em tantos pro- gramas, com quem conversei em tantos momentos, só não é minha mãe porque também tive uma única e insubstituível.
Gosto muito de lhe dar a mão querida Eunice, de a ouvir falar de projectos para o futuro, com a alegria que só alguns con- seguem fazer desta arte de viver.
Simone de Beauvoir disse um dia que, não se nasce mulher – torna-se.
No seu caso, nasceu actriz e tornou-se uma admirável mulher.
Um beijinho e um afago nas suas mãos.
[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO
rainha do meu Festa é Festa, no dia em que me ofereceu uma foto com uma de- dicatória em que me diz coisas que ainda hoje me enchem o coração. Por modéstia guardo-as em segredo.
A menina Eunice do Carmo Muñoz nas- ceu no Alentejo tórrido há 90 anos. Entrou no teatro com o “Vendaval” na companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro no Nacional Dona Maria II. E foi mesmo um vento novo e forte que soprou na arte de representar com esta jovem actriz de voz poderosa, gestos de enlevo e olhos cheios
dr
FOLK N’ROLL FANFARRA LUBOYNA JOANA AMENDOEIRA
CHEMERIKA FOLKLORE CHOIR CUNCORDU LUSSURZESU
ESPETÁCULOS DE MÚSICAS DO MUNDO . FOLCLORE NACIONAL E INTERNACIONAL
OFICINAS . CINEMA . EXPOSIÇÕES . GASTRONOMIA
Festival_CIOFF_Anuncio_A3.pdf 1 03/08/18 14:06
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E m declarações exclusivas ao Tempo Livre, Fernando Gomes assume que “a base do futebol deve ser o mais alargada possível em cada País, e nesse âmbito, deve integrar: escalões informais, escalões juniores, futebol não
profissional e amador, escolas de futebol e futebol de recreação e lazer”. Ninguém nasce profissional de coisa alguma, todos nascemos amadores e o futebol não é um mundo de exceção a esse nível. Foi difícil convencer os seus parceiros federativos da importância deste acordo? Na realidade, não foi difícil convencer os parceiros federativos, porque, estamos obrigados a dar cumprimento ao Decreto-Lei 45/2015, de 9 de abril, que estabelece no Artigo 6.º - Proteção das Atividades que as federações desportivas detêm o direito exclusivo de promover, regulamentar e dirigir a nível nacional a prática de uma modalidade desportiva ou um conjunto de modalidades afins ou associadas. Ancorada no referido Decreto-Lei, a Federação Portuguesa de Futebol definiu, desde 2015, uma política de integração de todas as realidades existentes no âmbito do futebol de base, públicas e privadas, em detrimento duma visão mais restritiva e exclusiva do referido Decreto-Lei. Em boa verdade, o Protocolo assinado com a Inatel, no passado dia 7 de junho, corresponde ao trigésimo terceiro Protocolo estabelecido desde 2015, com várias Entidades que desenvolvem a prática do Futebol, Futsal e Futebol de Praia, em Portugal de forma regular e que estão obrigadas ao reconhecimento e homologação das provas e atividades desenvolvidas. Existe uma posição internacional sobre este tema? Atualmente, já estabelecemos 41 Protocolos, a grande maioria com Associações de Futebol e Futsal Popular, salvaguardando sempre a saúde e
Entrevista com o presidente da FPF
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol falou ao nosso jornal sobre a motivação e a importância do protocolo recentemente assinado com a Fundação Inatel
“O protocolo com a Fundação Inatel só pode ser considerado como um momento histórico”
segurança dos praticantes e alargando a base do futebol português no Segmento de Recreação e Lazer, em conformidade com o estabelecido na carta “Grassroots” da UEFA e à qual a Federação Portuguesa de Futebol aderiu em 2010. O que definem as instâncias internacionais, nomeadamente a UEFA, nesta matéria? Na maioria das Federações Europeias, no âmbito do estabelecido na carta “Grassroots” da UEFA, que já referi, há muito que estas realidades de prática informal do futebol estão devidamente enquadradas e integradas nas respetivas Federações. Como define a UEFA, a base do futebol deve ser o mais alargada possível em cada País, e nesse âmbito, deve integrar: escalões informais, escalões juniores, futebol não profissional e amador, escolas de futebol e futebol de recreação e lazer. É um “protocolo histórico” afirmou Francisco Madelino, o presidente da Fundação Inatel no momento da assinatura do protocolo com a Federação Portuguesa de Futebol. Tem a mesma opinião? Tendo em consideração o papel relevante desenvolvido pela Fundação Inatel no desenvolvimento desportivo, em particular, no futebol de recreação e lazer nos últimos 83 anos, e a história centenária da Federação Portuguesa de Futebol neste domínio, o reconhecimento e integração das provas e campeonatos organizados pela Inatel na família do futebol, não deixa de ser um momento que podemos considerar como “histórico”. De quem partiu a iniciativa para que este entendimento viesse a ser uma realidade? Compete às Federações Desportivas, com o estatuto de Utilidade Pública Desportiva, identificar e contactar as Entidades Privadas e Públicas que desenvolvem provas, campeonatos e atividades, com carácter regular em cada uma das respetivas modalidades, para
efeito de reconhecimento e homologação das provas organizadas. É isso que temos vindo a fazer. E que receção houve da outra parte? No caso da Fundação Inatel, decorreu de forma cordial desde a primeira reunião, no respeito pela história relevante que estas provas e campeonatos têm em Portugal. Quais as vantagens que admite para o futebol português, no médio e longo prazo, com esta integração de um contingente tão largo de futebolistas amadores numa estrutura altamente profissionalizada como é a da Federação Portuguesa de Futebol? Antes de mais, trata-se de cumprir a lei em vigor, mas existem várias vantagens como a integração e regulação da atividade desenvolvida por todas as Entidades Privadas e Públicas que desenvolvem atividade regular nas modalidades de Futebol, Futsal e Futebol de Praia e o assegurar da saúde e da segurança dos praticantes através da obrigatoriedade dos exames médicos e
seguro desportivo. O aumento do número de praticantes tem, obviamente, importância… Sim. É importante alargar a base do futebol português, através do desenvolvimento do Segmento de Recreação e Lazer, seja, através de Parceiros de Referência, como será a Fundação Inatel, seja, através do desenvolvimento de novas provas e atividades implementadas pelas Associações Distritais e Regionais de Futebol neste segmento. Há números já disponíveis? Só na época desportiva 2017/2018, foi possível chegar perto dos 200.000 praticantes em Portugal, contando com o Quadro Competitivo e com o Segmento de Recreação e Lazer. Cerca de 2% da população portuguesa, mas já deveríamos ter pelo menos 3% da população a praticar Futebol, Futsal e Futebol de Praia, se considerarmos a média europeia. Para atingirmos este objetivo nos próximos anos, será absolutamente decisivo o trabalho a desenvolver pelas Associações Distritais e Regionais de Futebol, mas também, por todos os parceiros que integrem a família do futebol O futebol amador vai passar a ser um palco de aprendizagem e de evolução para os jovens árbitros portugueses? O Futebol Não Profissional e Amador, organizado pelas Associações Distritais e Regionais é um espaço de recrutamento e aprendizagem dos jovens árbitros. São as ADR que recrutam e formam os jovens árbitros, e assim vai continuar a ser. As entidades que organizam provas no Segmento de Recreação e Lazer, por norma, recorrem a ex-árbitros, que encontram neste segmento uma forma de continuarem ligados ao futebol. Isto não significa que não possa acontecer a iniciação da prática na arbitragem e como praticantes no Segmento de Recreação e Lazer, e mais tarde integrarem os quadros das Associações Distritais, como tem acontecido no passado. Há muitos anos
“É inquestionável o papel desenvolvido pela Fundação Inatel em muitos domínios da sociedade portuguesa, e no futebol em particular, são 83 anos de prática regular”
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que existem vasos comunicantes entre os Quadros Competitivos e o Segmento de Recreação e Lazer. Como pretende a FPF enquadrar e, sobretudo, a arbitragem neste setor não- profissional? A questão não se coloca. Quem recruta e forma os jovens árbitros são as Associações Distritais e Regionais e assim vai continuar a acontecer, desenvolvendo um trabalho muito meritório e absolutamente decisivo para o crescimento e desenvolvimento do futebol em Portugal. Convém recordar que só as ADR organizam cerca de 120 mil jogos por época desportiva em Portugal. Elogiou na ocasião da celebração do protocolo “a aproximação com as entidades que organizam o desporto de recreação e lazer”. Foi preciso ultrapassar velhos e novos preconceitos para que a FPF olhasse para a Fundação Inatel como uma parceira válida? O que importa nesta ligação com a Fundação Inatel é podermos afirmar perentoriamente que o balanço é muito positivo. Que género de “ações comuns”, utilizando as suas próprias palavras, podem imediatamente fazer a diferença no incremento da prática desportiva entre nós? Quantos mais clubes e entidades tivermos a promover e incrementar provas, competições e atividades nas três modalidades, maior será a probabilidade de termos mais clubes e entidades, mais praticantes e agentes desportivos. Por outro lado, estes Protocolos vão ajudar no futuro a desenvolver o Segmento de Recreação e Lazer, e desta forma, aumentar a base do futebol português. O que o levou a acreditar em que dois universos tão distintos como são, por definição e tradicionalmente, a FPF e a Fundação Inatel podem conjugar-se com sucesso para a nossa sociedade? É inquestionável o papel desenvolvido pela Fundação Inatel em muitos domínios da sociedade portuguesa, e no futebol em particular, são 83 anos de prática regular. Além do respeito pelo Decreto-Lei 45/2015, de 9 de abril, o universo da Fundação Inatel no domínio do futebol popular e informal acrescenta valor através do número de clubes e praticantes envolvidos, que desta forma mantém uma atividade desportiva regular, cada vez mais importante numa sociedade demasiado sedentária, com todas as consequências dai inerentes. Sem a existência deste Decreto-Lei não haveria protocolo com a Fundação Inatel? Se não quisermos invocar o referido Decreto-Lei, podemos atender aos Estatutos da Federação Portuguesa de Futebol que, no seu Artigo 2.º, estabelecem que “a FPF tem por principal objeto promover, regulamentar e dirigir, a nível nacional, o ensino e a prática do futebol, em todas as suas variantes no segmento competitivo e de recreação e lazer, sem prejuízo das competências das associações distritais e regionais nesta matéria”. Ou seja, o universo da Fundação Inatel, neste particular Segmento de Recreação e Lazer, não é distinto das obrigações estatutárias da FPF. Acredita no sucesso desta conjugação de esforços? Acreditamos que em conjunto podemos fazer mais e melhor em benefício da sociedade, principalmente, na promoção e incremento da prática desportiva em Portugal. Leonor Pinhão
beatriz lorena
desporto
A Fundação Inatel, no terceiro ano de Festival Músicas do Mundo, inova com as atividades desporti- vas presentes em Porto Covo e em Sines.
Da caminhada, à bicicleta, insufláveis para os mais novos, e Yoga, o desafio foi aceite por muitos.
A curiosidade e medo para quem arris- cou na avaliação corporal, deixou alertas e conselhos para um festival mais saudável. A caminhada em Porto Covo, fez a delícia de portugueses e espanhóis, de quem gos- ta de fotografia e de quem gosta apenas de caminhar enquanto está de férias.
Ainda em Porto Covo, o workshop de danças tradicionais deixou turistas e lo- cais rendidos ao que de bom se faz com o corpo pela Europa, e claro, pelo nosso país.
Já em Sines, foram os insufláveis, para os mais novos, que fizeram as delícias de quem esperava apenas mais um dia de praia, assim como o Yoga, que no final do dia, no areal do Vasco da Gama, relaxou quem participou.
Desporto e música mostram que fazem sentido juntos, e a Inatel juntou-os sur- preendendo festivaleiros, famílias e asso- ciados. Maria João Costa
Fotos: Beatriz Lorena
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CHARME DE UM ANTIGO IMPÉRIO EUROPEU Datas: 23 a 31 de MARÇO 2019
Partida: Lisboa Informações: Tel. 211 155 779 | turis-
[email protected] | www.inatel.pt
UM ANTIGO IMPÉRIO EUROPEU O lendário coração da Europa – com grandiosas cidades e ilustres figuras – revisitado através de um percurso que cruza quatro países: Itália, Croácia, Eslovénia e Áustria
Viagem
C hegada a Veneza. Ao início da tarde partimos para Trieste, a principal cidade da região de Friuli-Veneza Júlia, historica- mente associada ao período áureo dos Habsburgos, como porto meridional do império
austro-húngaro, cuja queda ocorreu após a Primeira Guerra Mundial.
A partir da praça sobre o mar, Piazza d’Unità d’Italia, passeamos pelas margens do Canal Grande. Na pequena ponte do canal da Via Roma, uma estátua de bronze de James Joyce recorda-nos os anos que ali viveu, ensinando inglês na escola Berlitz, época em que o escritor irlandês começou Ulisses, obra-prima da literatura ocidental (publicada em Paris, 1922).
Conhecida como a “capital do expresso italiano”, Trieste tem muitos locais à esco- lha para os apreciadores de café. Entre os antigos cafés, a pastelaria Pirona, no Lar- go Barriera Vecchia, tem a fama de ter sido frequentada por James Joyce.
Paisagens croatas, austríacas e eslovenas Partimos para Portoroz, na Eslovénia, dan- do início a uma incursão na Ístria, a maior península do mar Adriático, que abrange Croácia, Eslovénia e Itália. Um verdadeiro paraíso natural cheio de história. A noite chega ao hotel situado junto ao mar.
No dia seguinte vamos a Rovinj, construí- da na costa do Adriático, onde apreciamos a cidade velha. Continuamos para Pula, para visitar um anfiteatro mandado construir pelo imperador Augusto, uma das mais imponentes arenas do império romano.
Seguimos para Opatija, uma estância tu- rística com elegantes edifícios Art Nouveau e jardins sobre o mar. Pela manhã segui- mos viagem para o interior da Croácia, ao longo de paisagens singulares dos relevos cársicos. Chegamos aos lagos de Plitvice. O Parque Nacional Plitvice é umas das joias naturais croatas, classificado como Património Mundial da Unesco.
Depois vamos para Zagreb, capital da Croácia de origem eslava, que ainda man-
tém algum do seu antigo esplendor vienen- se. Quando percorremos as ruas imagina- mos o som das valsas do tempo do império austro-húngaro. Entre os principais monu- mentos, encontra-se a Catedral de Assun- ção, o edifício religioso mais importante da cidade com vista para a Praça Kaptol, o Portão de Pedra e a Igreja de São Marko.
Mais um dia. Saímos para Graz, com paragem na cidade eslovena de Mari- bor, onde passeamos pelo centro históri- co. Chegada a Graz. Fazemos uma visita guiada à cidade universitária, em que se destacam a antiga fortaleza com a Torre do Relógio e o centro histórico com a bela
Praça Principal. Seguimos para Leibnitz. Pela manhã vamos ao Castelo Eggen-
berg, o palácio barroco mais famoso da região austríaca de Estíria, também con- siderado Património Mundial da Unesco. Continuamos para Klagenfurt, a cidade principal de Caríntia. Passeamos pelo cen- tro histórico, que envolve a Praça Nova com a Fonte do Dragão, símbolo da cidade.
Depois vamos a Liubliana. A pequena capital da Eslovénia é uma cidade de as- pecto austríaco, com pequenas pontes que ligam o centro e monumentos barrocos e
Art Nouveau. Partimos pela costa eslovena, com uma paragem para ver as enormes grutas de Postojna, que incluem uma sala de concertos com capacidade para cerca de dez mil pessoas.
Veneza – “A Sereníssima” O último dia é dedicado a uma das mais belas cidades do mundo. Passeamos, na companhia de um guia, pelas ruas da “Se- reníssima” de Goldoni, Tintoretto e Vival- di, entre outros ilustres venezianos.
No percurso, mais ou menos circular, ob- servamos a estética dos detalhes: cúpulas douradas, mosaicos bizantinos, ornamen- tos góticos, candeeiros, campainhas de por- tas... Há obras de arte por toda a parte. O leão alado da Praça de São Marcos, a Basí- lica, o Palácio dos Doges, a ponte de Rialto.
Mais, muito mais. Um imenso estímulo para o olhar. Depois de atravessar as pon- tes de Veneza compreendemos que “a be- leza ainda é mais difícil de contar do que a felicidade” (Simone de Beauvoir).
Plitvice (Croácia)
16 TL JUL-AGO 2018
A equipa do Inatel Vila Ruiva Hotel, que ficou classificada em segundo lugar, defendeu os sabores serranos. O menu foi iniciado com um Folhado de Alheira de Urtiga (receita publicada no TL n.º 10 – MAR-ABR 2018)
Fotos: Beatriz Lorena
CAMPEONATO GASTRONÓMICO INATEL
Bacalhau recheado com Queijo da Serra
Ingredientes 2 kg Bacalhau inteiro crescido; 4 kg Cebola; 200 ml Azeite; 400 g Queijo curado seco mistura; 200 g Presunto fatiado; 150 g Salsa; 400 g Puré de batata; 2 l Leite meio gordo; Noz- moscada; 1 Ovo; 500 g Farinha de trigo; 1 l Óleo; 200 g Margarina; 200 g Alho; Pimenta branca; Sal.
Preparação Abre-se a posta do bacalhau ao meio e recheia-se com 1 fatia de queijo e 1 fatia de presunto. Passa-se a posta de bacalhau pelo ovo e pela farinha. Coloca-se a fritar. Corta-se a cebola em meias luas, pica-se o alho e leva-se ao lume com o azeite, a pimenta, a salsa e o sal. Deixa-se alourar. Coloca-se o bacalhau num tabuleiro e dispõe-se a cebolada em cima das postas. Levar ao forno cerca de 10 minutos, a 1800. Para o puré: Coloca-se o leite, a margarina, a noz-moscada e a pimenta num tacho e leva-se ao lume. Quando ferver, deitam-se os flocos de puré e mexe-se até ficar consistente.
Cabrito serrano e arroz de miúdos
Ingredientes 3 kg Cabrito inteiro; Sal; Azeite; 350 g Cebola; Alho; 100 ml Vinho branco;
Inatel VIla RuIVa Hotel
Pimentão-doce; Piri-piri; 1 kg Batata miúda; 200 g Arroz; 100 g Chouriço regional; Açafrão.
Preparação Temperar o cabrito com pimentão- doce, sal, alho, piri-piri, azeite e vinho. Deixar marinar durante 24 horas. Num tabuleiro de ir ao forno, colocar a cebola picada e o azeite, adicionar o cabrito e levar ao forno a assar. Num tacho fazer refogado com a cebola e o chouriço, deixar alourar. Acrescentar os miúdos do cabrito e deixar cozinhar. Juntar o arroz e o açafrão, envolver e regar com água quente. Temperar e cozinhar durante 15 minutos em lume brando. Batatas assadas: Descascar as batatas e lavar, colocar num tabuleiro com parte do molho da marinada do cabrito e levar a assar.
Tarte de requeijão e doce de abóbora
Ingredientes 1 un. Massa folhada; 250 g Açúcar; 120 g Farinha de trigo; 6 Ovos; Sal; Margarina; 400 g Requeijão; Doce de abóbora.
Preparação Batem-se os ovos com o açúcar, a manteiga e o sal. Junta-se a farinha aos poucos até acabar. Esmaga-se o requeijão com um garfo. Junta-se o requeijão ao preparado anterior e bate-se até ficar uma massa fofa. Coloca-se a massa folhada na tarteira e junta-se a mistura de requeijão. Leva-se ao forno a 1800 por cerca de 45 minutos. Sirva com doce de abóbora.
18 TL JUL-AGO 2018
A PIOR COMÉDIA DO MUNDO A 12 de setembro estreia no Trindade uma comédia da autoria do inglês Michael Frayn, multinomeado e vencedor de um prémio Tony. Uma versão portuguesa com tradução de Ana Sampaio e encenação de Fernando Gomes, coproduzida pelo Teatro da Trindade Inatel e Força de Produção. O elenco conta com Ana Cloe, Cristóvão Campos, Elsa Galvão, Fernando Gomes, Inês Aires Pereira, Jorge Mourato, José Pe- dro Gomes, Paula Só e Samuel Alves.
Com o título original “Noises off”, A Pior Comédia do Mundo foi levada pela primeira vez à cena em 1982, em Londres, tendo sido considerada por muitos críticos como o me- lhor texto de comédia escrito no século XX.
Desde a sua estreia até à atualidade, contou com inúmeras reposições nas mais prestigiadas salas do mundo – do West End de Londres à Broadway de Nova Iorque. Foi nomeada para o prémio Tony de Me- lhor Espetáculo de Comédia e recebeu os prémios Evening Standard e Olivier, na mes- ma categoria, entre outras distinções.
Através de três momentos-chave da peça – o ensaio geral, a noite de estreia e um es- petáculo no fim de atribulada digressão –, o público acompanha a crescente tensão entre os membros de um elenco à beira de um colapso nervoso. Um olhar alucinante sobre o teatro e as loucuras e devaneios dos que o fazem, cujas tendências para crises descontroladas de ego, falhas de memória e alguma promiscuidade, transformam cada atuação numa verdadeira aventura de alto risco.
A Pior Comédia do Mundo não é só uma peça, mas, simultaneamente, um espetácu- lo de comédia e o drama de bastidores que se vive durante a sua preparação. Uma de- liciosa farsa de bastidores, com exultantes momentos de comédia.
CREDORES Do dramaturgo sueco August Srindberg, estreia a 13 de setembro na Sala Estúdio do Trindade Credores. A tradução é de João Paulo Esteves da Silva e a encenação de Paulo Pinto, estando as interpretações a cargo de Sofia Marques, Ivo Canelas e Paulo Pinto, numa coprodução Teatro da Trindade Inatel e C.R.I.M. Produções.
A peça centra-se na frágil relação de um casal, inesperadamente ameaçada pela chegada de um estranho. Adolfo, um jo- vem pintor muito dedicado à sua mulher, Tekla, depois de se tornar amigo do pro- fessor Gustavo – o tal estranho –, vê-se en- redado numa teia que o leva a duvidar do caráter da sua própria mulher.
Texto de 1888, Credores expõe conflitos e questões que, mesmo após 130 anos, conti- nuam atuais. Despe-nos daquilo que é o mais importante da nossa existência – o nosso po- sicionamento numa relação a dois, o modo como habitamos esse amor e estabelece-
TRINDADE Arranca a nova Temporada
Norman atinge o reconhecimento, tendo a peça um enorme sucesso desde a sua es- treia em Nova Iorque, na Broadway, até à versão cinematográfica com Sissy Spacek e Anne Bancroft. Nesse mesmo ano, este texto recebeu diversas distinções: Pulitzer Prize for Drama, Susan Smith Blackburn Pri- ze, Hull-Warriner e Drama Desk Award.
O enredo passa-se numa casa de classe média no interior do país, onde mãe e fi- lha enfrentam uma noite que parece igual a qualquer outra. Porém, ao longo do diá- logo, as duas mulheres vão revelando a sua verdadeira natureza, pondo-nos a par do que foi a sua vida até aí. A filha, epilé- tica, com um casamento falhado e um fi- lho delinquente, está farta de viver. A sua relação com a mãe, viúva, mulher fria e pragmática, nunca foi a melhor. Diante do público vão desfilar ainda todos os outros membros da família, agora ausentes.
A conversa entre as duas que traz à tona o ressentimento, a solidão e a incom- preensão de toda uma sociedade, para desaguar, enfim, num libelo à vida, para o entendimento e o amor.
CANÇÃO DO BANDIDO – Ópera cómica Estreia-se a 8 de novembro, na Sala Car- men Dolores, a ópera cómica Canção do Bandido, com sete récitas programadas até 18 de novembro. A partitura é de Nuno Côrte-Real e o libreto de Pedro Mexia, a partir do conto tradicional português “O Macaco de Rabo Cortado”, numa copro- dução Teatro da Trindade Inatel, Teatro Nacional de São Carlos e Temporada Dar- cos.
O libreto desta ópera cómica imagina uma personagem que não é um Macaco, mas um advogado, um Casanova dos tempos modernos, que acumula conquis- tas e as vai trocando por novas conquistas, sem pensar muito nas consequências dos seus atos. O Casanovismo e o Donjuanismo são revi- sitados numa época em que as guerras dos sexos (ou dos géneros) já não são o que eram, ou têm pelo menos discursos e legitimidades diferentes. Coros gregos e essencialismos em tempos digitais e de #MeToo? Em quem devemos acreditar: no libreto, nos protagonistas, nos antagonis- tas, ou nas personagens que, falando em vez de cantar, contestam estes diálogos, estes tipos, esta dialética? De Don Giovanni à música pop, dos bor- dões linguísticos aos jogos nonsense, as personagens de Canção do Bandido trazem para o palco tudo o que lhes ocorre, tudo o que sirva as suas estratégias ou ilustre as suas dúvidas. E os espectadores, certa- mente, tomam partido.
A encenação é da responsabilidade de Ricardo Neves-Neves e o elenco conta com os cantores André Henriques, Bár- bara Barradas, Cátia Moreso, Inês Simões, Marco Santos e com o Coro e Orquestra do Teatro Nacional de São Carlos.
Ana Cloe, José Pedro Gomes, Samuel Alves, Fernando Gomes e Jorge Mourato, atores do elenco de “A Pior Comédia do Mundo”
Sofia Marques, Ivo Canelas e
Paulo Pinto, atores do elenco de
“Credores”
Sylvie Dias e Ângela Pinto, atrizes de “Boa Noite Mãe”
Fotos: ©Pedro Macedo_Framed Photos
Uma premiada comédia, dois textos de dois consagrados autores e, em estreia absoluta, uma ópera cómica, que promete surpreender toda a gente. Tudo nos palcos do Trindade, a partir de setembro
mos esse equilíbrio em constante dinâmica. Apesar do tempo passado, a narrativa
dialoga bem com a época contemporânea, característica que comprova o lado visioná- rio de Strindberg.
BOA NOITE MÃE De Marsha Norman, uma das mais acla- madas escritoras e dramaturgas norte-
-americanas, ainda pouco divulgada em Portugal, estreia-se a 17 outubro, na Sala Estúdio do Trindade, Boa Noite Mãe. Esta peça tem tradução de Ângela Pinto, ence- nação e dramaturgia de Hélder Gamboa, conta com a interpretação de Ângela Pinto e Sylvie Dias e resulta de uma coprodução do Teatro da Trindade Inatel com a Tenda Produções. É com Boa Noite Mãe, no original “Night, Mother”, de 1983, que a autora Marsha
TL Jul-Ago 2018 19
Texto
APOIA
Com
Ana Cloe, Cristóvão Campos, Elsa Galvão, Fernando Gomes, Inês Aires Pereira, Jorge Mourato, josé Pedro Gomes, Paula Só e Samuel Alves
Coprodução
M12 2018 PARCEIROS TEATRO DA TRINDADE INATEL
MEDIA PARTNERS
20 TL JUL-AGO 2018
F oi bonito ver a chegada da equipa da nossa Seleção Nacional de Futebol ao aeroporto Humberto Delgado.
O que aconteceu ali foi um exemplo de
desportivismo e reconhecimento dado por algumas centenas de pessoas que se deslocaram com o propósito simples de dizer “obrigado” àqueles que deram o seu melhor esforço para representar o País numa modalidade desportiva que hoje ignora fronteiras, constrói ídolos e arrasta multidões.
Se esquecermos os discursos demagógicos, embora fundamentados, daqueles que condenam o facto de os seus intervenientes ganharem “milhões”, penso que a maioria de nós estava com as centenas daqueles que, no aeroporto, esperavam a chegada da Seleção para aclamar os jogadores.
Depois de momentos tristes e condenáveis vividos por claques, dirigentes desportivos e jogadores ligados ao futebol nacional, que melhor prova podíamos ter de que somos genuinamente bons e bem- intencionados?
A nossa Seleção perdeu, mas nós “todos”, representados por algumas centenas, estávamos lá a aplaudir para dizer com orgulho que perder também faz parte do desporto.
Os incidentes lamentáveis a que me referia foram apenas equívocos e acontecimentos indesejáveis que urge identificar, corrigir, banir e esquecer.
Se dois dos pilares mais importantes para os alicerces duma educação sã e esclarecida são a cultura e o desporto, penso que estamos no bom caminho, porque no dia 1 de julho eram Jovens quem maioritariamente esperava a Seleção.
Temos “Gente” e viva Portugal!
Coluna DO provedor
Manuel Camacho [email protected]
Teatro para Todos, um programa de formação da Academia Inatel que pre- tende fazer do teatro um instrumento
de vida. Sob o olhar atento de Claudio Ho-
chman, encenador e formador, nasceu um projeto na Academia Inatel que tem como principal objetivo levar o teatro, em qual- quer uma das suas formas de se expressar, a todo o tipo de público.
Começou com a formação de Teatro para Adultos, em março, inicialmente pensado para um máximo de 20 alunos, mas que rapidamente superou as expectativas e chegou às quase 60 inscrições, com Clau- dio Hochman e Manuel Jerónimo como formadores.
A aposta continuou, com o Laboratório de Narradores com Rodolfo Castro, as Au- las de Voz com Fernanda Paulo, o Tango
“O mundo não pára, os homens não deixam de evoluir, a sociedade não estagna…
Nada poderá manter por longo tempo o seu fulgor” (Tomaz Ribas)
No âmbito do Centenário do nasci- mento de Tomaz Ribas (1918-1999), a Fundação Inatel associou-se à Câma-
ra Municipal de Viana do Alentejo e ao Programa PAGUS, com o apoio da Dire- ção Regional da Cultura, com o objetivo de promover uma justa homenagem a esse vulto maior da cultura portuguesa do século XX – erudita e popular –, escritor, ensaísta, etnólogo, professor e crítico de dança e de teatro, e autor de vastíssima obra de ficção de tez neo-realista.
A homenagem, que teve lugar no pas- sado dia 30 de junho, no Paço dos Hen- riques, em Alcáçovas, freguesia que o viu nascer, consistiu numa mesa redonda com a participação de Alexandra Ribas, Ana Rita Baeta Neves, José Alberto Sardinha, Maria Teresa Almeida Lima e José Baptista de Sousa, e das atuações de vários agru- pamentos de raiz tradicional e popular, nomeadamente o Grupo Coral Feminino Paz e Unidade de Alcáçovas, a Banda “So- ciedade União Alcaçovense” e o Grupo de
TODOS PODEM APRENDER COM A INATEL
Tomaz Ribas (1918-1999): legado e memória
com Miriam Nieli e Pablo Azocar, os cur- sos de improviso (para crianças e para adultos), sempre com a sala cheia.
Para Claudio Hochman, cada aluno novo que chega à Academia “é como um golo da Seleção. E cada aluno que fica e cresce é a confirmação que estamos no caminho certo, que estamos a ser verda- deiramente úteis”. Há 20 anos com a Fun- dação Inatel nos mais diversos projetos, Hochman olha para este desafio da Inatel com entusiasmo e com a certeza de que “podemos gerar um espaço de verdadei- ro teatro para todos, para todas as idades, para aqueles que têm vontade de se junta- rem ao teatro e para aqueles que fizeram do teatro sua profissão”.
E acrescenta que quem participa nos cur- sos não tem um perfil exato, “todos têm o denominador comum de vontade de cres-
cer como pessoas, de poder expressar-se, de estar mais à vontade no seu dia a dia, e sobretudo de desenvolver a criatividade”.
A procura pelos cursos do projeto Teatro para Todos tem aumentado, a resposta só pode ser uma, novas datas, novos desafios.
A chegada do maestro brasileiro de Clow, Marcelo Colavitto, para uma forma- ção que leva o ser humano a viver em “pa- lhaçada”, o Teatro Físico, o uso do corpo, com a espanhola e reconhecida, Concha Esteve; o Teatro de Sombras com Chan- tal Franco e Patricia Lorenzo, e o regres- so dos tão esperados Teatro para Adultos, Teatro para Jovens e Teatro para Crianças com Claudio Hochman e Manuel Jeróni- mo. Além das novas edições dos cursos de Tango, Narração, Voz e Improviso. Mais informações sobre todos os cursos em ina- tel.pt. Maria João Costa
Folclore da Casa do Povo do Paúl (Covilhã). A sessão de abertura contou com a pre-
sença do presidente da Câmara de Viana do Alentejo, Bernardino Bengalinha Pinto, da Diretora Regional da Cultura do Alente- jo, Ana Paula Amendoeira – que recordou a estatura cultural e intelectual de Tomaz Ribas e a importância do papel que desen-
volveu no âmbito da cultura tradicional portuguesa –, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Inatel, Fran- cisco Caneira Madelino, que enfatizou o facto de Tomaz Ribas ter sabido estabelecer a ponte entre o Estado Novo e o regime democrático, no âmbito das atividades de- senvolvidas na FNAT/INATEL, recordando que, paralelamente ao seu afastamento em 1975 – quando o Gabinete de Etnografia que dirigiu deu lugar ao de Documenta- ção Operário-Camponesa de Giacometti –, foi convidado pelo Presidente do Senegal, Léopold Senghor, por indicação de Miguel Trovoada, a realizar um trabalho de inves- tigação sobre danças tradicionais nos paí- ses africanos de expressão francófona.
Para assinalar a efeméride, a Fundação Inatel editou a obra póstuma O Teatro e a sua história, de Tomaz Ribas, prefaciada por Duarte Ivo Cruz e precedida por tes- temunhos de diversas personalidades que com ele privaram: João David Pinto Cor- reia, Fernando Dacosta, António Victori- no d’Almeida, Madalena Farrajota Ataíde Garcia, Danilo José Fernandes, Maria Te- resa Almeida Lima, José Viale Moutinho, Benjamim Enes Pereira e Susana Sardo. José Baptista de Sousa
Paulo Fernandes Pedroso
Crónicas Familiares EM OUTUBRO HÁ MÚSICA PARA TODOS OS GOSTOS
A Gaivota, The Seagull, de Michael Mayer | EUA, 2018 Com: Saoirse Ronan, Elisabeth Moss, Annette Bening. •Para começar, os incessantes (e por vezes rápidos) movimentos de câmara não são de molde a ofuscar esta nova e interessante adaptação de Tchekhov. Para continuar, o realizador mantém-se fiel ao espírito do texto, com uma narrativa bem estruturada, capaz de captar o que há de mais profundo na obra do dramaturgo russo: uma reflexão subtil, sobre a sociedade, as relações amorosas, os conflitos geracionais e a arte.
Happy End, de Michael Haneke | França/ Aústria/Alemanha, 2017 Com: Isabelle Huppert, Jean-Louis Trintignant, Mathieu Kassovitz. •O cineasta de “Brincadeiras Perigosas”, “A Pianista” e “Amor” regressa à crítica mordaz e ao habitual estilo gélido para mostrar o colapso de uma família da
classe alta francesa a viver em Calais, junto aos campos de refugiados. Apesar do tom irónico do título, o filme repete as obsessões temáticas (humanidade neurótica,
consumo de violência, sociedade em declínio) da obra de Haneke. E o olhar que lança ao espectador é o mesmo de sempre: contundente e sombrio.
Missão: Impossível – Fallout, de Christopher McQuarrie | EUA, 2018
Com: Tom Cruise, Henry Cavill, Angela Bassett. •Em matéria de proezas tecnológicas, o sexto episódio da série é, evidentemente, um colosso impressionante,
quase sem rival. Fora isto, – e os trepidantes números acrobáticos de Tom Cruise, na pele do agente secreto do IMF (Impossible Mission Force), Ethan Hunt – que traz de novo o último “Missão: Impossível” para estar a gerar tamanha expectativa?
A Ciambra, de Jonas Carpignano | Itália, 2017 Com: Pio Amato, Koudous Seihon, Damiano Amato. •Do processo iniciático de um
adolescente rebelde oriundo de uma comunidade cigana da Calábria trata esta primeira obra bem reveladora de um novo talento, produzi
Inatel todo o Ano > Viagens Nacionais e internacionais > Programa inatel 55+.PT
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Jornal Tempo Livre | email: [email protected] | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Lucinda Lopes Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ [email protected] tel.pt Impressão Lidergraf Sustainable Printing – Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde Tel. 252 103 300 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 117.551 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt
4 Entrevista: Maravillas
10 Memórias de Júlio
Turismo para Todos, um ideal Progressista
A Fundação Inatel nasceu, nos anos trinta do século pas- sado, num contexto: os trabalhadores, no mundo oci- dental, reivindicavam o direito ao descanso, face ao trabalho do nascer ao pôr-do-sol, e, neste, o direito ao lazer, e sob ele ao turismo, ao desporto e à cultura.
De forma a efetivar esta ideia de turismo para todos, os sindicatos foram construindo centros de férias para os
seus trabalhadores e reivindicando apoios do Estado. Os Comités de Entreprise e o Chèque-vacances, em França, foram e são emble- máticos.
Em Portugal, o Corporativismo do Estado Novo chamou os Sindicatos e essas funções a si, que iam proliferando pela Euro- pa. Nascia a FNAT, numa estratégia global de controlar os movi- mentos operários e numa visão ideológica do papel da cultura popular dentro do Regime que se consolidava.
Por um lado, pelo papel, plenamente justificado, dado à Fun- dação – de dar oportunidades de lazer e turismo a públicos com menos acesso a ele, sejam pensionistas ou ativos, seja na cultu- ra ou no desporto, passando pelo turismo e pela solidariedade social –, institucionalizou-se esta organização, no seio dos meios operários e rurais. Por outro lado, pela forma como os sindicatos corporativos foram sendo “tomados” pelas dinâmicas dos movi- mentos dos trabalhadores, a FNAT consolidou-se, em Portugal, como uma instituição com um profundo cariz popular. É, assim, das poucas organizações públicas que passa para o Regime De- mocrático, com o nome de INATEL, mantendo a essência da sua função.
Em pleno mês de agosto, que centenas de pessoas usam as infraestruturas da Fundação, em lazer, nas suas férias, e que se revigora uma nova geração de programas de apoio ao Turismo Sénior e Social, de nome 55+, envolvendo milhares de pessoas, muitos deles, com maior carência social, a título gratuito, é tempo de realçar que o lazer e o turismo são um direito de todos, caben- do à Fundação promovê-los, numa lógica social, intergeracional e de tolerância intercultural.
Aos quase 200 mil sócios que compõe o nosso suporte social, nos quais se incluem quase 3 mil centros culturais e desporti- vos e outras associações, cabe-nos agradecer a forma como nos ajudam a promover este objetivo progressista e, sobretudo, a efetivá-lo.
FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel
Editorial
capa
R ui Sousa nasceu em Lisboa, em 1966. Vive em Paço de Arcos.
Licenciado em pintura, pela Faculdade de belas Artes de Lisboa, em 1992.
Durante os últimos 30 anos dividiu a maior parte do seu trabalho entre a ilustração e a pintura, colaborando com editoras, jornais, revistas e realizando exposições.
Com a Animanostra, realizou o filme de animação “Um caso bicudo”.
É autor de quatro livros infantis. Como complemento das viagens
que realizou desenvolve também o trabalho de “Urban Sketcher “, com cadernos publicados.
4 TL JUL-AGO 2018
M aravillas de Mali é a orquestra perdida do músico, maestro, arranjador, produtor e apresentador de televisão maliano Boncana Maïga que, na década de 60, foi enviado para Cuba
com mais 9 jovens músicos de seis regiões do Mali, para estudar música clássica no Conservatório Municipal de Música Alejandro García Caturla de Havana. Aí desenvolveu os exímios dotes de flautista e aprendeu, fora do Conservatório, todos os códigos da charanga. Um termo que pode parecer pejorativo no universo lusófono ou mesmo em Espanha, mas que em Cuba designa uma orquestra de excelência edificada com instrumentos europeus como piano, violino, flauta, que começou por explorar o danzón de Matanzas do final do séc. XIX e que durante o séc. XX foi absorvendo outros géneros locais (son, cha-cha-cha) e em que a música clássica europeia se mistura com ritmos africanos.
Personagem principal de uma história tão bonita e interessante quanto as de Buena Vista Social Club e de Casa de La Trova, Boncana Maïga foi o fundador, na década de 60, da primeira formação de músicos africanos a interpretarem repertório da ilha de Fidel Castro. Maravillas de Mali, constituída por outros jovens estudantes de música em Havana oriundos de seis regiões do Mali, inspiraram-se nas formações da idade de ouro (anos 40/50) da música cubana, como Orquestra Aragón, Arcaño y sus Maravillas e Maravillas de Florida. Inovaram o formato ao cantar cha- cha-chá, guaracha e son montuno em castelhano, francês e bambara.
Em 1968, com a ascensão ao poder do então tenente Moussa Traoré, o Mali pôs o socialismo (e o seu sistema educativo) na gaveta. Boncana Maïga emigrou para a Costa do Marfim e Maravillas de Mali não sobreviveria sem o seu compositor e arranjador.
Em 1999, em plena ressaca da maravilhosa história da orquestra
Entrevista
O Ciclo Mundos recebeu no dia de Santo António o espectáculo mais marcante desta temporada gorda de 2018 constituída por uma dezena de grandes, aventureiras e diversificadas propostas musicais
Maravillas de Mali: O código de Matanzas de uma charanga afro-cubana
Buena Vista Social Club imortalizada nesse mesmo ano no filme homónimo com direção do cineasta alemão Wim Wenders, o produtor musical, criativo publicitário, director de documentários e séries de televisão francês, Richard Minier, começou a reconstruir a incrível história de Maravillas de Mali. Andou entre Havana, Bamako, Abidjan e Paris a entrevistar vários músicos. Levou Boncana Maïga a Cuba para regravar novas versões das canções editadas há mais de 50 anos, como o clássico “Rendez-vous Chez Fatimata”. E deu o necessário empurrão para a reconstrução de uma nova orquestra Maravillas de Mali arquitectada pelo pianista e director musical cubano Manolito Simonet. Mentor da formação Manolito y Su Trabuco que, ao fim de duas décadas e meia de existência, integra a seleção de showcases da Womex 2018. A maior feira de músicas do mundo que este ano tem lugar em Las Palmas (Ilhas Canárias), de 24 a 28 de Outubro.
Na primeira semana de Junho, a nova versão da orquestra Maravillas de Mali efectuou uma residência artística em Sines, para consolidar os novos arranjos deste repertório criado há mais de meio século. Fez a sua grande estreia no Ciclo Mundos do Teatro da Trindade Inatel e regressa ao litoral alentejano para participar na penúltima noite (27 de Julho) da XX edição do FMM Sines. Um espectáculo que contou (e contará) com um convidado africano muito especial: o griot Mory Kante. Boncana Maïga, sempre foi um músico muito activo, desenvolveu vários projectos de fusão de músicas latinas, de soul-funk com raízes africanas, com os Africando, com os Fania All Star, ou nos seus projectos a solo. Porque é que só há cerca de um ano resgatou o projecto Maravillas de Mali? Estudei música em Cuba para dar cursos aos africanos, sobretudo aos alunos do meu país. Quando regressámos ao Mali, em 1968, houve um golpe de Estado. Fomos para Cuba pela mão do primeiro
Presidente Modiba Keïta que era muito visionário. Subiu ao poder em 1960 e de imediato firmou um acordo com Fidel Castro para que estudantes africanos fossem estudar música, medicina, agronomia, etc. Após quase 10 anos, regressámos ao Mali e mudou o governo [tendo subido ao poder Moussa Traoré]. Era muito militarizado que não dava valor ao ensino musical. A música para eles tinha apenas a função de animar bailes. O primeiro Presidente queria que nos formássemos para que pudéssemos ensinar os mais jovens, à semelhança do que se fazia em Cuba, na Colômbia, ou noutros países da América do Sul.
Acabei por sair do Mali. Estudei muito bem música em Cuba cerca de 10 anos e queria ensinar, não queria estar nos cafés a beber chá e a não fazer nada. Que formação musical teve em Cuba? Música clássica. Bach, Chopin, Mozart. Era flautista e toquei todas as peças para flauta e piano e flauta e orquestra. Não era música cubana. Essa aprendi-a fora do Conservatório. Todos os Sábados saia para ouvir os cubanos tocar. E os cubanos também vinham ver os nossos ensaios pela curiosidade de sermos os primeiros africanos a estudar no Conservatório. Eu considerava-os como irmãos. Ao Domingo reuníamo-nos e tocávamos todos juntos. Toquei na Orquestra Aragón, Orquestra Estrellas Cubanas, Orquestra Maravillas de Florida. Foi precisamente daí que saiu o nome Maravillas de Mali. 50 anos depois, esse projecto voltou e pude falar com o Manolito Simonet que conheci em Cuba há cerca de um ano. Desde o nosso encontro temos estado sempre em contacto.
Para o Manolito, a Orquestra Las Maravillas de Mali é como se fosse a sua própria orquestra. Somos irmãos, amigos, ele dá tudo o que tem no seu coração para que esta orquestra possa tocar desta forma. 50 anos depois regressámos e todo o repertório que vai ouvir esta noite é de Maravillas de Mali da formação inicial. Voltou a Cuba mais de 40 anos depois de lá ter estudado. Como se sente
ao reactivar um projecto com outros músicos e praticamente sem africanos? Neste grupo não há nenhum músico do Mali, mas tem um do Benim. Chegámos a ser 10, depois ficamos 7 porque 3 regressaram ao Mali. Dos 7, 6 já morreram. Para mim, é um prazer voltar a este projecto e tocar com muito bons músicos cubanos, mas com o repertório das Maravillas de Mali. Temos um grito: ‘Cubafrica’! Em 1968, com a mudança do governo, a política cultural também mudou como já teve oportunidade de referir. Alguns dos membros que formaram consigo Las Maravillas de Mali iniciaram posteriormente o projecto Badema National que explorava a diversidade do repertório tradicional do Mali. Chegou mesmo a ser proibido cantar em língua castelhana nessa altura? Não. Como não me sentia bem com este governo militarizado, mudei-me para a Costa do Marfim. Aí estive durante 20 anos. Fundei um Conservatório, formei várias orquestras. Fiz muitas coisas. Os meus companheiros que ficaram no Mali, não puderam manter Maravillas de Mali. Eu era o compositor e o arranjador de todas as canções. O grupo não estava completo. Não se pode tocar música de Cuba no Mali quando não se conhecem as regras da música cubana. Tentaram
TL Jul-Ago 2018 5
mas não conseguiram. Então formaram uma orquestra de música do Mali: Badema National. Manolito Simonet, como conheceu Boncana Maïga? Quando me falaram da possibilidade de trabalhar com o projecto, fiquei muito entusiasmado porque tinha ouvido falar deles em muitas ocasiões. Fui músico e director de Las Maravillas de Florida durante 9 anos e os músicos mais velhos desta orquestra sempre me falaram de Maravillas de Mali. Chegaram a mostrar- me gravações e ficava admirado com a complexidade, com os muitos códigos, com o estilo charanga. Uma coisa é ser músico, outra é ser charangueiro. É um ditado cubano. Foi aí que me contaram a história que eles haviam estudado em Cuba numa altura em que havia muitas belíssimas orquestras e formações em Havana, como Conjunto Roberto Faz… Podiam ter ido para outro estilo, mas inclinaram-se para a charanga e fizeram- no muito bem. É um privilégio para mim poder voltar a montar esta orquestra e então conheci Boncana. Uma pessoa maravilhosa, um grande músico e um grande conhecedor do estilo. Como foi pegar neste repertório de Maravillas de Mali criado há 50 anos? É mais difícil dar novos arranjos a estes temas ou construir novo repertório?
Tive a experiência de 9 anos de director de Las Maravillas de Florida que toca repertório actual e antigo. Chegámos a ter mais de 50 temas dos anos 40/50. Foi fácil trabalhar com Maravillas de Mali. Boncana deu-me a liberdade para improvisar um pouco nos arranjos para que também tenha um efeito na juventude que não conheceu este projecto. É bom que um projecto tão importante tenha uma sonoridade mais actual. Se o teatro a que vamos tocar é de último modelo, a música também tem de ser de último modelo. Todos os códigos se repetem. Isto é ser charangueiro, mas também é ser mais actual.
Há muita flauta. É o instrumento básico da charanga. Com todo o conhecimento que ele tem da charanga e da flauta pude interpretar facilmente o que o criador queria. Pode ser muito bom músico mas se não é charangueiro não se logra o objectivo. A charanga tem muito código. Graças a isso, reuni um grupo de músicos quase todos cubanos mas que nem todos vivem em Cuba. Vivemos em várias partes do mundo e juntámo-nos num palco para formar a nova orquestra Maravillas do Mali e para levar ao mundo esta música, porque estamos a falar de uma digressão mundial. Passará por muitas partes do mundo mas irá fundamentalmente ao Mali. É um
nosso objectivo que o Mali receba a sua orquestra e que este país possa ter a sua charanga que interprete música latina.
É importante incentivar a nova geração de músicos malianos aprender este estilo, este tipo de formação e erguer uma orquestra que seja uma referência. Já foi ao Mali? Não. Tenho a minha banda. Tenho muitos compromissos. Vim aqui a Portugal porque é a primeira apresentação de Maravillas de Mali. Vim ajudar a montar os temas com os músicos. Como avalia o trabalho que desenvolveram em Sines, durante os 4 dias de residência artística? Sou o orquestrador, director musical, escrevo as partituras. Todos os músicos tiveram formação no Instituto Superior de Artes de Havana. São conhecedores deste estilo e são jovens. Como entrou em contacto com Mory Kante que é um convidado de luxo em alguns dos espectáculos desta digressão de Maravillas de Mali? É um cantor muito importante. Não o conhecia. Foi mais um desafio que me propuseram: integrá-lo na orquestra sem que se notasse as diferenças, porque o seu estilo é muito africano. Fizemos uma boa mistura. É também muito profissional. Luís Rei [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
Boncana Maïga – “Acabei por sair do Mali. Estudei muito bem música em Cuba cerca de 10 anos... Toquei na Orquestra Aragón, Orquestra Estrellas Cubanas, Orquestra Maravillas de Florida. Foi precisamente daí que saiu o nome Maravillas de Mali”
Manolito Simonet – “Quando me falaram da possibilidade de trabalhar com o projecto, fiquei muito entusiasmado... Fui músico e director de Las Maravillas de Florida durante 9 anos e os músicos mais velhos desta orquestra sempre me falaram de Maravillas de Mali”
beatriz lorena
6 TL JUL-AGO 2018
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou a atriz Carmen Dolores, de 94 anos, com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito
O Teatro da Trindade Inatel homenageou Carmen Dolores com a peça “Car- men”, nome que é hoje a designação da sala principal do Teatro.
A atriz Carmen Dolores, de 94 anos, viu a sua vida e obra em palco, uma peça inspirada no livro “Vozes dentro de mim”, editado em 2017, e com elementos de duas outras obras de memórias da atriz, “Carmen” foi uma ideia do diretor artístico do Tea- tro da Trindade Inatel para homenagear Carmen Dolores, que se estreou em cinema e teatro no Trindade, primeiro com o filme “Amor de Perdição”, de Leitão de Barros, aí exibido pela primeira vez em 1943, e, dois anos mais tarde, em “Electra, a mensageira dos deuses”, de Jean Giraudoux, com encenação de Francisco Ribeiro (Ribeirinho). Maria João Costa (texto) Beatriz Lorena (fotos)
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Carmen Dolores agradece o carinho e a atenção recebida após condecoração com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
Presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, Carmen Dolores e Diogo Infante, Diretor Artístico do Teatro da Trindade Inatel.
Peça de teatro “Carmen”, um monólogo que tem como protagonista a atriz Natália Luiza, afastada dos palcos há 8 anos e de regresso depois de um pedido irrecusável de Carmen Dolores e Diogo Infante.
Exposição dedicada a Carmen Dolores com objetos pessoais. Decoração de Marta Carreiras, responsável pelo espaço cénico e figurinos da peça de teatro “Carmen”.
Carmen Dolores aplaudida pelo público.
Eunice Muñoz, amiga de Carmen, em tempos “pouco amigas de profissão” pelos jornais, mas hoje desmistificam o mito. A presença da atriz, na estreia e condecoração de Carmen, acarinhada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Quadro de homenagem de Carmen Dolores que dá o nome à sala principal do Teatro da Trindade Inatel.
Equipa de produção e criação da peça “Carmen” após estreia.
Sala Carmen Dolores.
TL Jul-Ago 2018 7
Porto Covo Hotel Inatel Praia Beach, a nova unidade hoteleira da Fundação Inatel na Costa Vicentina.
Durante o Festival Músicas do Mundo, em Sines, no ano em que celebra 20 anos de música, a Fundação Inatel deu mais um passo ao lado da Câmara de Municipal de Sines e da Caixa Crédito Agrícola Costa Azul.
Depois de uma parceria no âmbito cul- tural que se iniciou em 2016, é chegada a hora na aposta da Hotelaria, que se afir- mou com a assinatura de protocolos entre as três instituições.
“Há a vontade da Inatel continuar asso- ciada ao Festival Músicas do Mundo, e vai agora adquirir as instalações da Caixa de Crédito Agrícola Costa Azul e transformá- -las num hotel porque sabe que este é o local ideal para o fazer, e temos défice de
A Fundação Inatel esteve mais uma vez associada ao Festival Músicas do Mundo de Sines, e no terceiro ano
de parceria Porto Covo recebeu o palco Inatel.
De 19 a 22 de julho, 16 artistas – da Gló- ria do Ribatejo, passando pelo Chipre, Venezuela, Polónia, Turquia, e muitos ou- tros – pisaram o palco Inatel. O mundo, a partir do Folk e da música tradicional.
No primeiro dia, foi o Rancho da Glória do Ribatejo quem abriu os 20 anos do Fes- tival Músicas do Mundo. Com mais de 60 anos de história, trouxeram a música e a dança que os caracteriza; Aldina Duarte, do fado, apresentou o seu mais recente trabalho “Quando se Ama Loucamente”.
Maryam Saleh, Maurice Louca & Ta- mer Abu Ghazaleh’s Lekhfa e Barbez também estiveram presentes. Barbez, de Brooklyn, eles que encantaram o público com a “Bella Ciao”, da Revolução Italiana e que serve de banda sonora da popular série NetFlix, La Casa de Papel.
Monsieur Doumani, do Chipre, The Como Mamas, dos EUA, Karina Buhr, do Brasil e Fogo Fogo, Portugal, encheram o palco no segundo dia. Fogo Fogo, residen- tes em Lisboa, na Casa Independente, re- vivem os domingos dançantes com a mú- sica cabo-verdiana, do funaná às mornas.
Depois do palco do Teatro da Trindade Inatel, onde ainda serão apresentados três concertos – Gaye Su Akyol, Park
Jiha, Mamadou Diabaté – ao longo deste ano, estivemos noutras cidades do país com o Ciclo Mundos.
No passado dia 17 de julho foi Évora quem recebeu The πlinha e os colombia- nos Alibombo inserido no programa cul- tural Artes à Rua.
Seguiu-se Grândola, no dia 25 de julho, com Carmelo Torres Y Su Cumbia Sabane-
A banda da Glória do Ribatejo conquis- tou o público, até os mais exigentes, no concerto Lounge Inatel durante o
Festival Músicas do Mundo. Depois do concerto Ciclo Mundos em
Évora, os The πlinha encheram um novo palco da Fundação, em Sines.
A banda que, diariamente, corrige a for- ma como escrevem e apresentam o seu nome, não esconde que, sem querer, esco- lheram o nome ideal para que ninguém se esqueça deles.
Juntos há 12 anos, com um objetivo co- mum, divertirem-se, fazem das letras e dos ritmos atrevidos a sua forma de estar e de atuar.
No Lounge da Fundação Inatel não foi diferente.
Com uma plateia exigente, a presença
Fundação Inatel com hotel em Porto Covo
PALCO INATEL no Festival Músicas do Mundo
Ciclo Mundos chega a outros palcos
The πlinha no espaço INATEL SINES
unidades hoteleiras entre Lisboa e Albu- feira”, palavras do presidente da Funda- ção Inatel após a assinatura de protocolos. Realçou ainda o facto de a Fundação Ina- tel explorar o país no sentido de uma eco- nomia social “e não apenas numa lógica de lucro”.
O projeto de arquitetura está avançado e a abertura será em 2019.
ra, grupo de música tradicional de Bogotá que tem no acordeão e na cumbia (música tradicional) a nota principal para concer- tos onde dançar é obrigatório.
Em 2019 o Ciclo Mundos vai continuar perto do público Inatel e do público curioso pelo que se vai fazendo no mundo da música.
Lisboa continuará no mapa, bem como Évora e Coimbra. É da génese e missão da Fundação levar cada mais e mais longe a tradição aliada à modernidade, a defini- ção do Ciclo Mundos.
de gurus da World Music, foram ainda mais emotivos; e o espaço mais acolhedor fez com que chegassem mais perto do pú- blico, contagiando e despertando a curio- sidade em quem não os conhecia. Eles saíram do palco com aplausos e cada vez mais perto de alcançarem outros palcos. Maria João Costa
No dia 21 de julho, C4 Trio, da Vene- zuela, deram a conhecer o cuatro, um instrumento de cordas “primo” do nosso cavaquinho; Meszecsinka, da Hungria, e Vieux Farka Touré, do Mali, um dos mais esperados, o verdadeiro “Hendrix do Sahara”, que apesar de não ter o apoio do pai para viver da música, teve Doumani Diabaté que provou que Vieux era capaz.
Baba Zula, música tradicional com uma abordagem mais eletrónica, choca mui- tos locais Turcos, mas em Porto Covo dei- xaram a sua marca ao descerem o palco para atuarem no meio do público.
No último dia, o palco Inatel recebeu de Espanha a Brigada Bravo & Díaz, os Kroke, da Polónia, a celebrar 25 anos de carreira, eles que foram descobertos pelo Steven Spielberg.
Robert Finley, dos EUA, uma voz do R&B, músico incógnito até aos 50 anos, é prova de que nunca é tarde para come- çar.
A encerrar a noite e os concertos em Porto Covo, Meridian Brothers, Colôm- bia. O que fazem em palco pode ser comparado à loucura: folclore latino-a- mericano, vallenatos, muitos samples, intervenções teatrais e personagens. Mas o que seria do mundo sem um pouco de loucura e sem a música?
8 TL JUL-AGO 2018
D e Manuel Teixeira Gomes revive a memória do intelectual e do político que se afirmou como grande escritor, se impôs como notável diplomata e se distin- guiu como Chefe de Estado, um dos que mais prestigiaram a Re-
pública. Descendia de uma família que parti-
cipou nas campanhas de liberais contra miguelistas, que pagou o idealismo com morte e prisões e que virá depois a cons- tituir o núcleo fundador dos republicanos do Algarve. Manuel Teixeira Gomes nas- ceu em Portimão a 27 de maio de 1860. Nunca esqueceu o esplendor do mar, en- tre a Ponta do Altar e a Ponta da Piedade, o recorte nítido dos rochedos, e o espraia- mento da água; os prodígios da natureza, o aparecimento, de um dia para o outro, das amendoeiras a florir, a renascer, a desbrochar, em enormes «cachos que pa- recem de cristal», quando «tudo à volta é desolação e abandono, no regelado cora- ção do inverno».
O paraíso remoto Contudo, nesse «paraíso para quem o sa- bia fruir, terra morta para turistas e artis- tas», não existiam monumentos e havia que «arrostar com a imundície das hospe- darias e a infâmia das estradas». Ir a Sa- gres representava uma aventura: «é um ciclópico penedo cuja superfície parece ferver em borbotões se não percorre sem lá deixar as solas dos sapatos. E quem é que ali chega?!».
Durante décadas, esse Algarve remoto, sem estradas transitáveis e sem transportes para ultrapassar o isolamento, continuou a ser um território quase mitológico, pleno de recursos naturais, mas sem possibilida- des para despertar do marasmo e da rotina.
Coexistiu sempre em Manuel Teixeira Gomes o espírito rebelde do estudante que não se preocupou em realizar e concluir o curso de Medicina em Coimbra e depois no Porto; do jovem que se dispersou nas tertúlias de escritores, de poetas, de artistas plásticos e de músicos. A boémia a que se entregou, com intensidade, se lhe impediu a formação universitária, proporcionou- -lhe uma singular experiência humana e uma diversificada riqueza intelectual.
Os tesouros das viagens Viajou muito. Conheceu, palmo a palmo, o melhor e o pior das grandes cidades europeias. A viagem constituiu uma das componentes da sua cultura. Instalava-se num hotel confortável. Escolhia os restau- rantes. Tinha avultados meios de fortuna. Aproveitava o tempo sem pressa.
Sabia que «olhos que vêem muito não vêem nada». Assim mergulhava nos te- souros dos museus, dos palácios, das igre- jas e no «espetáculo das ruas», no movi-
AGOSTO AZUL A obra literária de Manuel Teixeira Gomes, que é inseparável da paisagem do Algarve, reinventa o mar e a sedução do corpo humano para exaltar a beleza das formas e para sentir a irradiação da luz e o deslumbramento da cor Por António Valdemar
Viajando com livros
terra natal, até aos clubes de futebol de projeção nacional.
Profecia trágica Enfrentou sucessivas crises que provocaram quedas e substituições de governos. Procu- rou a reconciliação da classe política e das Forças Armadas. Reuniu, a 5 de dezembro de 1925, os comandantes das unidades mili- tares para um almoço no Palácio de Belém.
Ao pressentir que não havia, nem solu- ção, nem alternativa, fez a seguinte decla- ração que se tornaria uma profecia trágica:
«Enquanto certos políticos da nossa terra teimarem em pensar com o estômago e dige- rirem com os miolos, isto não tem concerto possível. E o pior é que já é muito tarde para tê-lo, porque quer os senhores queiram, quer não (exclamou, voltando-se à direita para o General Carmona e tocando-lhe nos galões) isto vai-lhes diretamente parar às mãos».
Perante o impasse, decidiu, no dia 10 de dezembro, apresentar a demissão. Meses depois, o Exército implantava a ditadura. Durou quase meio século. Até ao 25 de Abril de 1974.
Primavera da liberdade Teixeira Gomes deixou Portu- gal. Definitivamente. Resolveu peregrinar de país em país. Foi o que chamou «a grande Prima- vera da Liberdade». Andava só, transformado num vulgar cida- dão anónimo, através do Me- diterrâneo e, por fim, do Norte de África. O Magreb passou a constituir a terra do seu acolhi- mento. A imaginação refugiava- -se nas montanhas do Atlas, onde as serras alternam com os vales, nas praias lumino- sas e na solidão do deserto. No silêncio que descobre a respiração da natureza.
Enquanto se conservou, mesmo em plena velhice, «saudável, próspero e feliz como um deus que regressou do Olimpo», Teixeira Go- mes fazia «cerca de dez quilómetros de mar- cha diária, caminhadas sem fim até ao salu- tar cansaço que prepara os sonos profundos de onde se ressurge mais rijo e satisfeito».
Embrenhava-se nas cidades imperiais carregadas de história, com mesquitas opulentas, palácios luxuosos e jardins des- lumbrantes. Percorria o labirinto dos souks, apreciava o trabalho dos oleiros, dos tece- lões e dos caldeireiros que «jogam com o esplendor do cobre e do arame polido». Era possuído pelo sortilégio da música árabe, «a ação fulminante, irresistível, multíplice», que abala os sentidos «pela voluptuosidade que emana, pela sensualidade que destila».
Regresso à escrita Retomou a vida intelectual, a correspondên- cia com escritores e artistas, a colaboração em revistas e jornais, a edição de livros, toda uma atividade cultural e cívica interrompi-
da pelo desempenho da intervenção políti- ca e da carreira diplomática. Ao publicar os primeiros livros, aos 40 anos, Inventário de Junho e Cartas Sem Moral Nenhuma, Teixeira Gomes destacou-se, tal como Raúl Brandão e, logo após a morte de Eça de Queiroz, entre os maiores escritores portugueses. Apurou o domínio da palavra, a desenvol- tura na articulação verbal, o poder envol- vente da escrita. Tudo o que já se depara nos primeiros livros, Inventário de Junho e Cartas Sem Moral Nenhuma, acentuou-se no Agosto Azul, em Gente Singular e na peça de teatro Sabina Freire («sangue e veneno em cena»). Ganhou, todavia, maior força e amplitude, nesta derradeira fase, nas Car- tas a Columbano, nas ficções autobiográficas das Novelas Eróticas e Maria Adelaide; nas páginas de memórias de Londres Maravi- lhosa, Regressos e, finalmente, no testamen- to literário incluído no Carnaval Literário.
De 1931 a 1941 radicou-se em Bougie. (Atualmente denomina-se Bejaia, tem um monumento à sua memória e uma escola
com o seu nome). Manteve ri- gorosa privacidade. Os contac- tos com Portugal, com a família, inclusive as duas filhas e a mãe delas, limitaram-se a mera tro- ca de correspondência. E sem mencionar onde residia. Apenas indicava o número de uma pos- ta-restante do correio. Escolheu o pequeno Hotel l’Etoi- le para se consagrar, em tempo inteiro, à criação literária. O quarto tinha (e tem) o número 13 e uma janela para o mar. A vista abrange a cordilheira de
Kabila, sempre coberta de neve. Longe de tudo e de todos ali faleceu e se despediu da vida no momento que desejava: «quan- do desponta a aurora, em manhã lumino- sa e tépida, sacudir sobre o mar as cinzas dos sonhos». Foi a 18 de outubro de 1941.
Sempre o Algarve Contudo, Teixeira Gomes guardara, den- tro de si, a paisagem geográfica e humana do Algarve esse «cintilante mar rasgado, evocativo, imenso» onde o seu espírito inquieto permaneceu sempre «de olhos abertos e com todos os sentidos despertos para glorificar o esplendor da luz que ilu- mina e para divinizar quantas maravilhas ela nos revela, desde o cristal límpido das fontes que, cantando, fecundam a ter- ra sequiosa, até ao corpo humano, carne ambulante e sensual, onde se encerra e se propaga a essência da razão e do amor».
Onde quer que estivesse Teixeira Gomes reinventava o Algarve no encontro do Atlântico com o Mediterrâneo, no cruza- mento da África com a Europa. O Sol a en- cher de luz as variações cromáticas, desde o nascer até ao pôr do sol. Cada momento é único e é sempre diferente.
Retrato por Marques de Oliveira
mento das pessoas, umas fechadas nelas próprias, repletas de angústias e preocu- pações imediatas, receosas de ciladas; ou- tras, recetivas ao convívio, ao prazer do encontro, aos imprevistos voluptuosos, às surpresas que a vida oferece.
Teixeira Gomes conseguiu dedicar-se, simultaneamente, à escrita, à coleção de obras de arte, à frequência assídua nos concertos musicais e, também, nos traba- lhos práticos da produção, comercialização e exportação de frutos secos, na gerência de fábricas e empresas familiares, em Por- timão e do escritório que a firma tinha em Antuérpia. Tais aptidões também foram exercidas, em Londres, quando chefiava a representação diplomática portuguesa, pe- rante a ausência de funcionários capazes, para despachar o expediente burocrático.
República e diplomacia Manuel Teixeira Gomes identificou-se com o ideário republicano que promoveu a transição do século XIX para o século XX, as lutas no fim da Monarquia, as mu- danças políticas e sociais que marcaram os anos agitados da República. Teve, no entanto, uma posição crítica em face dos conflitos partidários, das controvérsias parlamentares, dos cenários da I Guerra Mundial, dos debates nos fóruns interna- cionais, das tribunas e dos bastidores da Sociedade das Nações.
Enquanto Presidente da República, de 5 de outubro de 1923 a 10 de dezembro de 1925 apoiou manifestações culturais e artísticas, os centenários de Camões e de Vasco da Gama; visitava as exposições de pintores e escultores da sua geração e de alguns representantes das vanguardas ar- tísticas. Também incentivou as atividades desportivas, desde o Portimonense da sua
TL Jul-Ago 2018 9
D urante a Segunda Guerra Mun- dial, na madrugada de 9 de Se- tembro de 1940, o Museu de His- tória Natural de Londres sofre um ataque aéreo. Três bombas incendiárias atingem o Departa- mento de Botânica onde se pre-
servam obras raras e um herbário históri- co. Os bombeiros acorrem ao local e o que as chamas não destroem, a água acaba por estragar. Mas nem tudo, algumas semen- tes trazidas da China em 1793, pertencen- tes a uma espécie de árvore chamada Acá- cia-de-Constantinopla (Albizia julibrissin Durazz.), pouco tempo depois do inciden- te, começam a germinar.
Ao longo de 147 anos, as sementes desta espécie de leguminosa (pertence à famí- lia das Fabáceas), também conhecida por Árvore-da-seda da Pérsia, viveram num estado de dormência, respirando muito lentamente sob a sua membrana imper- meável. A água que as ensopou, durante o combate às chamas, não seria por isso suficiente para interromper esse sono se- cular, não fosse o caso de ter sido “fervida” pelo calor do incêndio.
De facto, conforme se pode ler no arti- go “Germination of Woody Legume Seeds with Impermeable Seed Coats” publicado em 1965, na revista Arnoldia, edição do Arnold Arboretum, da Universidade de Harvard, nos EUA, uma das formas de in- terromper o sono de uma “semente macro- biótica”, designação científica atribuída às sementes que conseguem ser viáveis por 15 anos, ou mais, passa por a sujeitar a um banho de água à temperatura de 190° ou 200° graus centígrados. A receita é simples. As sementes são colocadas num recipiente onde se deita a água a ferver, 5 ou 6 vezes superior ao seu volume; ficam neste banho durante uma noite e, no dia seguinte, de- vem ser imediatamente semeadas.
A leguminosa onírica folhas mas, por milhares de leques fecha- dos que se inclinam para o chão, fazendo justiça à forma como é nomeada entre os japoneses, Nemunoki, a árvore que dor- me, e no Irão, como Shabkhosb, a que dor- me de noite.
A subtil mobilidade das folhas da Acá- cia-de-Constantinopla ao anoitecer foi observada pelos sábios e herbalistas chi- neses. Incluída no Shennong Ben Cao Jing, manual de agricultura e plantas medici- nais, datado do século III a.C. ao II d.C., é desde então considerada uma das mais importantes espécies medicinais da flora da China por ter a faculdade de acalmar o espírito.
Aproveitando a casca (He Huan Pi) e as flores (He Huan Hua), hermafroditas, perfumadas, reconhecíveis pela forma de pompons cor-de-rosa (não têm pétalas), a farmacopeia chinesa ainda hoje prescreve chá, comprimidos e tinturas para tratar
A Casa na árvore
Quando a Acácia-de-Constantinopla dorme nem uma bomba a consegue despertar Por Susana Neves Desconhecendo-se qual o processo de
germinação utilizado pelos introdutores da espécie arbórea oriental na Europa – como o naturalista florentino Filippo de- gli Albizzi, que trouxe sementes de Cons- tantinopla (actual Istambul, na Turquia) em 1749 –, no estado silvestre, as semen- tes acabam por germinar sem interven- ção humana. Mas independentemente da forma como é germinada, a Acácia-de- -Constantinopla ou Albizia (nome atri- buído em 1772, em homenagem ao natu- ralista italiano) mantém ao longo de toda a vida a capacidade de dormir, o que é so- bretudo visível de noite, e enquanto não perdeu a folhagem, uma vez que é uma espécie caducifólia. Assim que anoitece, cada uma das suas folhas, composta por dezenas, centenas ou mais de mil de pe- quenos folíolos, fecha-se e comprime-se. A copa da árvore, invulgarmente achata- da, parece então ser constituída, não por
mais commumente, a depressão, insónia e feridas externas. Considerada uma espé- cie de “Prozac chinês”, a Albizia é a “plan- ta da felicidade” porque, sobretudo, pela utilização da casca, mobiliza o Qi ou Chi (energia vital presente em todo o univer- so e também no ser humano), através do funcionamento equilibrado dos “cinco es- píritos” sediados nos cinco orgãos vitais: Shen ou mente (coração); Hun ou alma etérea (fígado); Po ou alma corpórea (pul- mões); Yi ou intelecto (baço) e Zhi (rins, vontade). Ou seja, a Albizia desbloqueia as emoções extremas que afectam o bom funcionamento dos orgãos, contribuindo assim para o fluir continuo de energia, a expansão da consciência e o sono repou- sado.
Na realidade, basta dizer Acácia-de- -Constantinopla para se ficar simultanea- mente mais acordado e sonhador, porque há neste nome uma espécie de elixir d’As Mil e Uma Noites, o convite para viajar em caravana, ao longo da milenar Rota da Seda, ou transmigrar até Paris, no final do século XIX, apanhar o comboio do Ex- presso do Oriente, só para ouvir, na pon- te de Constantinopla, todas as línguas do mundo, fascinados pelos amestradores de ursos, e pelos que têm o rosto transforma- do em pústulas. Também podemos dizer em persa gul-i abrisham, que significa “flor de seda” (origem de julibrissin, o epíteto específico da Árvore-da-seda da Pérsia), e nessa altura acompanhamos o ondular dos estames cor-de-rosa da flor, que aos persas lembravam finos fios de seda, e porventura, terão reforçado a ilusão, que persistiu em Roma durante a Antiguidade Clássica, que a seda provinha de uma ár- vore, e não do intenso labor do pequeno bicho-da-seda.
[A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]Duas acácias-de-Constantinopla no Largo Vitorino Damásio, em Lisboa, com as flores já secas
Pormenor das flores e folhas da Acácia-de-Constantinopla e, à esquerda, ilustração botânica da Acácia-de- Constantinopla incluindo vagens e sementes. Pertencente à Universidade de Pádua, Itália
10 TL JUL-AGO 2018
F azer anos não é obrigatório para pessoas com a dimensão de Euni- ce Muñoz.
Essa coisa do calendário, da bio- logia e das leis da natureza, ren- dem-se perante a vida vivida e a que continuará a viver esta enor-
me actriz, mulher, mãe e cidadã de um país que nem sabe como lhe agradecer o facto de ter nascido aqui.
Ai se eu fosse escritor daqueles dos bons, que frases bonitas e profundas es- creveria sobre Eunice.
Ai se eu fosse poeta em quantos versos seria ela a minha musa inspiradora.
Na arte de representar, Eunice é a ver- dadeira generosidade, dando tudo de si como se não tivesse custado nada.
No palco da vida, caminha com a força de uma mãe coragem e sorri.
Nas memórias da minha vida, guardo os momentos em que contracenámos no meu programa Arroz Doce.
Que atrevimento o meu, dizer que con- tracenámos, quando aquilo que aconteceu ao longo de várias semanas foi apenas um apresentador encantado pelos olhos da porteira que vivia superiormente o papel tão simples que eu lhe tinha pedido. Bisbi- lhoteira, arguta, controladora e “não digo mal de ninguém porque a minha boca é um poço sem fundo” a senhora dona Eu- nice Muñoz enchia de luz dez minutos do programa.
Anos antes tinha sido uma fascinante
de mistério. E segue-se o cinema com o fil- me “Camões” de Leitão de Barros. Recebe o primeiro de tantos prémios, este como a melhor actriz de cinema do ano.
Eunice é um ser especial. Os casamen- tos e a maternidade foram papéis princi- pais na sua vida e por eles, os seus seis re- bentos, abdicou daquilo que tanto amava, a arte de representar.
Mas voltou, voltou sempre porque nós precisávamos de a ver e ouvir. Vi-a pela primeira vez em 1962, na penumbra da minha sala de jantar, num pequeno ecrã
EUNICE, 90 ANOS A ARTE DE SER MULHER
do nosso ‘Nordmende’ a viver a Dama das Camélias. Lembro-me de nos interva- los da peça, o silêncio quebrado pelo meu pai que dizia: Que grande actriz.
No ano seguinte chorei tanto quando a vi no Teatro Avenida no “Milagre de Anne Sullivan” com a jovem de treze anos, a maravilhosa Guida Maria.
Passavam os anos e eu seguia Eunice que tanto foi Sarah Bernhardt como a Ma- luquinha de Arroios, Mãe Coragem, ou Miss Daisy. A divina Eunice que decora os papéis enquanto faz a lida da casa e que revela surpreendentemente que precisa de trabalhar para manter os mínimos de uma vida confortável, é a estrela que bri- lha sem artifícios. É a luz natural do talen- to com muito trabalho.
Noventa anos? Queremos nós lá saber das leis da biologia e da natureza.
Eunice que já entrevistei em tantos pro- gramas, com quem conversei em tantos momentos, só não é minha mãe porque também tive uma única e insubstituível.
Gosto muito de lhe dar a mão querida Eunice, de a ouvir falar de projectos para o futuro, com a alegria que só alguns con- seguem fazer desta arte de viver.
Simone de Beauvoir disse um dia que, não se nasce mulher – torna-se.
No seu caso, nasceu actriz e tornou-se uma admirável mulher.
Um beijinho e um afago nas suas mãos.
[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO
rainha do meu Festa é Festa, no dia em que me ofereceu uma foto com uma de- dicatória em que me diz coisas que ainda hoje me enchem o coração. Por modéstia guardo-as em segredo.
A menina Eunice do Carmo Muñoz nas- ceu no Alentejo tórrido há 90 anos. Entrou no teatro com o “Vendaval” na companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro no Nacional Dona Maria II. E foi mesmo um vento novo e forte que soprou na arte de representar com esta jovem actriz de voz poderosa, gestos de enlevo e olhos cheios
dr
FOLK N’ROLL FANFARRA LUBOYNA JOANA AMENDOEIRA
CHEMERIKA FOLKLORE CHOIR CUNCORDU LUSSURZESU
ESPETÁCULOS DE MÚSICAS DO MUNDO . FOLCLORE NACIONAL E INTERNACIONAL
OFICINAS . CINEMA . EXPOSIÇÕES . GASTRONOMIA
Festival_CIOFF_Anuncio_A3.pdf 1 03/08/18 14:06
12 TL JUL-AGO 2018
E m declarações exclusivas ao Tempo Livre, Fernando Gomes assume que “a base do futebol deve ser o mais alargada possível em cada País, e nesse âmbito, deve integrar: escalões informais, escalões juniores, futebol não
profissional e amador, escolas de futebol e futebol de recreação e lazer”. Ninguém nasce profissional de coisa alguma, todos nascemos amadores e o futebol não é um mundo de exceção a esse nível. Foi difícil convencer os seus parceiros federativos da importância deste acordo? Na realidade, não foi difícil convencer os parceiros federativos, porque, estamos obrigados a dar cumprimento ao Decreto-Lei 45/2015, de 9 de abril, que estabelece no Artigo 6.º - Proteção das Atividades que as federações desportivas detêm o direito exclusivo de promover, regulamentar e dirigir a nível nacional a prática de uma modalidade desportiva ou um conjunto de modalidades afins ou associadas. Ancorada no referido Decreto-Lei, a Federação Portuguesa de Futebol definiu, desde 2015, uma política de integração de todas as realidades existentes no âmbito do futebol de base, públicas e privadas, em detrimento duma visão mais restritiva e exclusiva do referido Decreto-Lei. Em boa verdade, o Protocolo assinado com a Inatel, no passado dia 7 de junho, corresponde ao trigésimo terceiro Protocolo estabelecido desde 2015, com várias Entidades que desenvolvem a prática do Futebol, Futsal e Futebol de Praia, em Portugal de forma regular e que estão obrigadas ao reconhecimento e homologação das provas e atividades desenvolvidas. Existe uma posição internacional sobre este tema? Atualmente, já estabelecemos 41 Protocolos, a grande maioria com Associações de Futebol e Futsal Popular, salvaguardando sempre a saúde e
Entrevista com o presidente da FPF
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol falou ao nosso jornal sobre a motivação e a importância do protocolo recentemente assinado com a Fundação Inatel
“O protocolo com a Fundação Inatel só pode ser considerado como um momento histórico”
segurança dos praticantes e alargando a base do futebol português no Segmento de Recreação e Lazer, em conformidade com o estabelecido na carta “Grassroots” da UEFA e à qual a Federação Portuguesa de Futebol aderiu em 2010. O que definem as instâncias internacionais, nomeadamente a UEFA, nesta matéria? Na maioria das Federações Europeias, no âmbito do estabelecido na carta “Grassroots” da UEFA, que já referi, há muito que estas realidades de prática informal do futebol estão devidamente enquadradas e integradas nas respetivas Federações. Como define a UEFA, a base do futebol deve ser o mais alargada possível em cada País, e nesse âmbito, deve integrar: escalões informais, escalões juniores, futebol não profissional e amador, escolas de futebol e futebol de recreação e lazer. É um “protocolo histórico” afirmou Francisco Madelino, o presidente da Fundação Inatel no momento da assinatura do protocolo com a Federação Portuguesa de Futebol. Tem a mesma opinião? Tendo em consideração o papel relevante desenvolvido pela Fundação Inatel no desenvolvimento desportivo, em particular, no futebol de recreação e lazer nos últimos 83 anos, e a história centenária da Federação Portuguesa de Futebol neste domínio, o reconhecimento e integração das provas e campeonatos organizados pela Inatel na família do futebol, não deixa de ser um momento que podemos considerar como “histórico”. De quem partiu a iniciativa para que este entendimento viesse a ser uma realidade? Compete às Federações Desportivas, com o estatuto de Utilidade Pública Desportiva, identificar e contactar as Entidades Privadas e Públicas que desenvolvem provas, campeonatos e atividades, com carácter regular em cada uma das respetivas modalidades, para
efeito de reconhecimento e homologação das provas organizadas. É isso que temos vindo a fazer. E que receção houve da outra parte? No caso da Fundação Inatel, decorreu de forma cordial desde a primeira reunião, no respeito pela história relevante que estas provas e campeonatos têm em Portugal. Quais as vantagens que admite para o futebol português, no médio e longo prazo, com esta integração de um contingente tão largo de futebolistas amadores numa estrutura altamente profissionalizada como é a da Federação Portuguesa de Futebol? Antes de mais, trata-se de cumprir a lei em vigor, mas existem várias vantagens como a integração e regulação da atividade desenvolvida por todas as Entidades Privadas e Públicas que desenvolvem atividade regular nas modalidades de Futebol, Futsal e Futebol de Praia e o assegurar da saúde e da segurança dos praticantes através da obrigatoriedade dos exames médicos e
seguro desportivo. O aumento do número de praticantes tem, obviamente, importância… Sim. É importante alargar a base do futebol português, através do desenvolvimento do Segmento de Recreação e Lazer, seja, através de Parceiros de Referência, como será a Fundação Inatel, seja, através do desenvolvimento de novas provas e atividades implementadas pelas Associações Distritais e Regionais de Futebol neste segmento. Há números já disponíveis? Só na época desportiva 2017/2018, foi possível chegar perto dos 200.000 praticantes em Portugal, contando com o Quadro Competitivo e com o Segmento de Recreação e Lazer. Cerca de 2% da população portuguesa, mas já deveríamos ter pelo menos 3% da população a praticar Futebol, Futsal e Futebol de Praia, se considerarmos a média europeia. Para atingirmos este objetivo nos próximos anos, será absolutamente decisivo o trabalho a desenvolver pelas Associações Distritais e Regionais de Futebol, mas também, por todos os parceiros que integrem a família do futebol O futebol amador vai passar a ser um palco de aprendizagem e de evolução para os jovens árbitros portugueses? O Futebol Não Profissional e Amador, organizado pelas Associações Distritais e Regionais é um espaço de recrutamento e aprendizagem dos jovens árbitros. São as ADR que recrutam e formam os jovens árbitros, e assim vai continuar a ser. As entidades que organizam provas no Segmento de Recreação e Lazer, por norma, recorrem a ex-árbitros, que encontram neste segmento uma forma de continuarem ligados ao futebol. Isto não significa que não possa acontecer a iniciação da prática na arbitragem e como praticantes no Segmento de Recreação e Lazer, e mais tarde integrarem os quadros das Associações Distritais, como tem acontecido no passado. Há muitos anos
“É inquestionável o papel desenvolvido pela Fundação Inatel em muitos domínios da sociedade portuguesa, e no futebol em particular, são 83 anos de prática regular”
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que existem vasos comunicantes entre os Quadros Competitivos e o Segmento de Recreação e Lazer. Como pretende a FPF enquadrar e, sobretudo, a arbitragem neste setor não- profissional? A questão não se coloca. Quem recruta e forma os jovens árbitros são as Associações Distritais e Regionais e assim vai continuar a acontecer, desenvolvendo um trabalho muito meritório e absolutamente decisivo para o crescimento e desenvolvimento do futebol em Portugal. Convém recordar que só as ADR organizam cerca de 120 mil jogos por época desportiva em Portugal. Elogiou na ocasião da celebração do protocolo “a aproximação com as entidades que organizam o desporto de recreação e lazer”. Foi preciso ultrapassar velhos e novos preconceitos para que a FPF olhasse para a Fundação Inatel como uma parceira válida? O que importa nesta ligação com a Fundação Inatel é podermos afirmar perentoriamente que o balanço é muito positivo. Que género de “ações comuns”, utilizando as suas próprias palavras, podem imediatamente fazer a diferença no incremento da prática desportiva entre nós? Quantos mais clubes e entidades tivermos a promover e incrementar provas, competições e atividades nas três modalidades, maior será a probabilidade de termos mais clubes e entidades, mais praticantes e agentes desportivos. Por outro lado, estes Protocolos vão ajudar no futuro a desenvolver o Segmento de Recreação e Lazer, e desta forma, aumentar a base do futebol português. O que o levou a acreditar em que dois universos tão distintos como são, por definição e tradicionalmente, a FPF e a Fundação Inatel podem conjugar-se com sucesso para a nossa sociedade? É inquestionável o papel desenvolvido pela Fundação Inatel em muitos domínios da sociedade portuguesa, e no futebol em particular, são 83 anos de prática regular. Além do respeito pelo Decreto-Lei 45/2015, de 9 de abril, o universo da Fundação Inatel no domínio do futebol popular e informal acrescenta valor através do número de clubes e praticantes envolvidos, que desta forma mantém uma atividade desportiva regular, cada vez mais importante numa sociedade demasiado sedentária, com todas as consequências dai inerentes. Sem a existência deste Decreto-Lei não haveria protocolo com a Fundação Inatel? Se não quisermos invocar o referido Decreto-Lei, podemos atender aos Estatutos da Federação Portuguesa de Futebol que, no seu Artigo 2.º, estabelecem que “a FPF tem por principal objeto promover, regulamentar e dirigir, a nível nacional, o ensino e a prática do futebol, em todas as suas variantes no segmento competitivo e de recreação e lazer, sem prejuízo das competências das associações distritais e regionais nesta matéria”. Ou seja, o universo da Fundação Inatel, neste particular Segmento de Recreação e Lazer, não é distinto das obrigações estatutárias da FPF. Acredita no sucesso desta conjugação de esforços? Acreditamos que em conjunto podemos fazer mais e melhor em benefício da sociedade, principalmente, na promoção e incremento da prática desportiva em Portugal. Leonor Pinhão
beatriz lorena
desporto
A Fundação Inatel, no terceiro ano de Festival Músicas do Mundo, inova com as atividades desporti- vas presentes em Porto Covo e em Sines.
Da caminhada, à bicicleta, insufláveis para os mais novos, e Yoga, o desafio foi aceite por muitos.
A curiosidade e medo para quem arris- cou na avaliação corporal, deixou alertas e conselhos para um festival mais saudável. A caminhada em Porto Covo, fez a delícia de portugueses e espanhóis, de quem gos- ta de fotografia e de quem gosta apenas de caminhar enquanto está de férias.
Ainda em Porto Covo, o workshop de danças tradicionais deixou turistas e lo- cais rendidos ao que de bom se faz com o corpo pela Europa, e claro, pelo nosso país.
Já em Sines, foram os insufláveis, para os mais novos, que fizeram as delícias de quem esperava apenas mais um dia de praia, assim como o Yoga, que no final do dia, no areal do Vasco da Gama, relaxou quem participou.
Desporto e música mostram que fazem sentido juntos, e a Inatel juntou-os sur- preendendo festivaleiros, famílias e asso- ciados. Maria João Costa
Fotos: Beatriz Lorena
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CHARME DE UM ANTIGO IMPÉRIO EUROPEU Datas: 23 a 31 de MARÇO 2019
Partida: Lisboa Informações: Tel. 211 155 779 | turis-
[email protected] | www.inatel.pt
UM ANTIGO IMPÉRIO EUROPEU O lendário coração da Europa – com grandiosas cidades e ilustres figuras – revisitado através de um percurso que cruza quatro países: Itália, Croácia, Eslovénia e Áustria
Viagem
C hegada a Veneza. Ao início da tarde partimos para Trieste, a principal cidade da região de Friuli-Veneza Júlia, historica- mente associada ao período áureo dos Habsburgos, como porto meridional do império
austro-húngaro, cuja queda ocorreu após a Primeira Guerra Mundial.
A partir da praça sobre o mar, Piazza d’Unità d’Italia, passeamos pelas margens do Canal Grande. Na pequena ponte do canal da Via Roma, uma estátua de bronze de James Joyce recorda-nos os anos que ali viveu, ensinando inglês na escola Berlitz, época em que o escritor irlandês começou Ulisses, obra-prima da literatura ocidental (publicada em Paris, 1922).
Conhecida como a “capital do expresso italiano”, Trieste tem muitos locais à esco- lha para os apreciadores de café. Entre os antigos cafés, a pastelaria Pirona, no Lar- go Barriera Vecchia, tem a fama de ter sido frequentada por James Joyce.
Paisagens croatas, austríacas e eslovenas Partimos para Portoroz, na Eslovénia, dan- do início a uma incursão na Ístria, a maior península do mar Adriático, que abrange Croácia, Eslovénia e Itália. Um verdadeiro paraíso natural cheio de história. A noite chega ao hotel situado junto ao mar.
No dia seguinte vamos a Rovinj, construí- da na costa do Adriático, onde apreciamos a cidade velha. Continuamos para Pula, para visitar um anfiteatro mandado construir pelo imperador Augusto, uma das mais imponentes arenas do império romano.
Seguimos para Opatija, uma estância tu- rística com elegantes edifícios Art Nouveau e jardins sobre o mar. Pela manhã segui- mos viagem para o interior da Croácia, ao longo de paisagens singulares dos relevos cársicos. Chegamos aos lagos de Plitvice. O Parque Nacional Plitvice é umas das joias naturais croatas, classificado como Património Mundial da Unesco.
Depois vamos para Zagreb, capital da Croácia de origem eslava, que ainda man-
tém algum do seu antigo esplendor vienen- se. Quando percorremos as ruas imagina- mos o som das valsas do tempo do império austro-húngaro. Entre os principais monu- mentos, encontra-se a Catedral de Assun- ção, o edifício religioso mais importante da cidade com vista para a Praça Kaptol, o Portão de Pedra e a Igreja de São Marko.
Mais um dia. Saímos para Graz, com paragem na cidade eslovena de Mari- bor, onde passeamos pelo centro históri- co. Chegada a Graz. Fazemos uma visita guiada à cidade universitária, em que se destacam a antiga fortaleza com a Torre do Relógio e o centro histórico com a bela
Praça Principal. Seguimos para Leibnitz. Pela manhã vamos ao Castelo Eggen-
berg, o palácio barroco mais famoso da região austríaca de Estíria, também con- siderado Património Mundial da Unesco. Continuamos para Klagenfurt, a cidade principal de Caríntia. Passeamos pelo cen- tro histórico, que envolve a Praça Nova com a Fonte do Dragão, símbolo da cidade.
Depois vamos a Liubliana. A pequena capital da Eslovénia é uma cidade de as- pecto austríaco, com pequenas pontes que ligam o centro e monumentos barrocos e
Art Nouveau. Partimos pela costa eslovena, com uma paragem para ver as enormes grutas de Postojna, que incluem uma sala de concertos com capacidade para cerca de dez mil pessoas.
Veneza – “A Sereníssima” O último dia é dedicado a uma das mais belas cidades do mundo. Passeamos, na companhia de um guia, pelas ruas da “Se- reníssima” de Goldoni, Tintoretto e Vival- di, entre outros ilustres venezianos.
No percurso, mais ou menos circular, ob- servamos a estética dos detalhes: cúpulas douradas, mosaicos bizantinos, ornamen- tos góticos, candeeiros, campainhas de por- tas... Há obras de arte por toda a parte. O leão alado da Praça de São Marcos, a Basí- lica, o Palácio dos Doges, a ponte de Rialto.
Mais, muito mais. Um imenso estímulo para o olhar. Depois de atravessar as pon- tes de Veneza compreendemos que “a be- leza ainda é mais difícil de contar do que a felicidade” (Simone de Beauvoir).
Plitvice (Croácia)
16 TL JUL-AGO 2018
A equipa do Inatel Vila Ruiva Hotel, que ficou classificada em segundo lugar, defendeu os sabores serranos. O menu foi iniciado com um Folhado de Alheira de Urtiga (receita publicada no TL n.º 10 – MAR-ABR 2018)
Fotos: Beatriz Lorena
CAMPEONATO GASTRONÓMICO INATEL
Bacalhau recheado com Queijo da Serra
Ingredientes 2 kg Bacalhau inteiro crescido; 4 kg Cebola; 200 ml Azeite; 400 g Queijo curado seco mistura; 200 g Presunto fatiado; 150 g Salsa; 400 g Puré de batata; 2 l Leite meio gordo; Noz- moscada; 1 Ovo; 500 g Farinha de trigo; 1 l Óleo; 200 g Margarina; 200 g Alho; Pimenta branca; Sal.
Preparação Abre-se a posta do bacalhau ao meio e recheia-se com 1 fatia de queijo e 1 fatia de presunto. Passa-se a posta de bacalhau pelo ovo e pela farinha. Coloca-se a fritar. Corta-se a cebola em meias luas, pica-se o alho e leva-se ao lume com o azeite, a pimenta, a salsa e o sal. Deixa-se alourar. Coloca-se o bacalhau num tabuleiro e dispõe-se a cebolada em cima das postas. Levar ao forno cerca de 10 minutos, a 1800. Para o puré: Coloca-se o leite, a margarina, a noz-moscada e a pimenta num tacho e leva-se ao lume. Quando ferver, deitam-se os flocos de puré e mexe-se até ficar consistente.
Cabrito serrano e arroz de miúdos
Ingredientes 3 kg Cabrito inteiro; Sal; Azeite; 350 g Cebola; Alho; 100 ml Vinho branco;
Inatel VIla RuIVa Hotel
Pimentão-doce; Piri-piri; 1 kg Batata miúda; 200 g Arroz; 100 g Chouriço regional; Açafrão.
Preparação Temperar o cabrito com pimentão- doce, sal, alho, piri-piri, azeite e vinho. Deixar marinar durante 24 horas. Num tabuleiro de ir ao forno, colocar a cebola picada e o azeite, adicionar o cabrito e levar ao forno a assar. Num tacho fazer refogado com a cebola e o chouriço, deixar alourar. Acrescentar os miúdos do cabrito e deixar cozinhar. Juntar o arroz e o açafrão, envolver e regar com água quente. Temperar e cozinhar durante 15 minutos em lume brando. Batatas assadas: Descascar as batatas e lavar, colocar num tabuleiro com parte do molho da marinada do cabrito e levar a assar.
Tarte de requeijão e doce de abóbora
Ingredientes 1 un. Massa folhada; 250 g Açúcar; 120 g Farinha de trigo; 6 Ovos; Sal; Margarina; 400 g Requeijão; Doce de abóbora.
Preparação Batem-se os ovos com o açúcar, a manteiga e o sal. Junta-se a farinha aos poucos até acabar. Esmaga-se o requeijão com um garfo. Junta-se o requeijão ao preparado anterior e bate-se até ficar uma massa fofa. Coloca-se a massa folhada na tarteira e junta-se a mistura de requeijão. Leva-se ao forno a 1800 por cerca de 45 minutos. Sirva com doce de abóbora.
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A PIOR COMÉDIA DO MUNDO A 12 de setembro estreia no Trindade uma comédia da autoria do inglês Michael Frayn, multinomeado e vencedor de um prémio Tony. Uma versão portuguesa com tradução de Ana Sampaio e encenação de Fernando Gomes, coproduzida pelo Teatro da Trindade Inatel e Força de Produção. O elenco conta com Ana Cloe, Cristóvão Campos, Elsa Galvão, Fernando Gomes, Inês Aires Pereira, Jorge Mourato, José Pe- dro Gomes, Paula Só e Samuel Alves.
Com o título original “Noises off”, A Pior Comédia do Mundo foi levada pela primeira vez à cena em 1982, em Londres, tendo sido considerada por muitos críticos como o me- lhor texto de comédia escrito no século XX.
Desde a sua estreia até à atualidade, contou com inúmeras reposições nas mais prestigiadas salas do mundo – do West End de Londres à Broadway de Nova Iorque. Foi nomeada para o prémio Tony de Me- lhor Espetáculo de Comédia e recebeu os prémios Evening Standard e Olivier, na mes- ma categoria, entre outras distinções.
Através de três momentos-chave da peça – o ensaio geral, a noite de estreia e um es- petáculo no fim de atribulada digressão –, o público acompanha a crescente tensão entre os membros de um elenco à beira de um colapso nervoso. Um olhar alucinante sobre o teatro e as loucuras e devaneios dos que o fazem, cujas tendências para crises descontroladas de ego, falhas de memória e alguma promiscuidade, transformam cada atuação numa verdadeira aventura de alto risco.
A Pior Comédia do Mundo não é só uma peça, mas, simultaneamente, um espetácu- lo de comédia e o drama de bastidores que se vive durante a sua preparação. Uma de- liciosa farsa de bastidores, com exultantes momentos de comédia.
CREDORES Do dramaturgo sueco August Srindberg, estreia a 13 de setembro na Sala Estúdio do Trindade Credores. A tradução é de João Paulo Esteves da Silva e a encenação de Paulo Pinto, estando as interpretações a cargo de Sofia Marques, Ivo Canelas e Paulo Pinto, numa coprodução Teatro da Trindade Inatel e C.R.I.M. Produções.
A peça centra-se na frágil relação de um casal, inesperadamente ameaçada pela chegada de um estranho. Adolfo, um jo- vem pintor muito dedicado à sua mulher, Tekla, depois de se tornar amigo do pro- fessor Gustavo – o tal estranho –, vê-se en- redado numa teia que o leva a duvidar do caráter da sua própria mulher.
Texto de 1888, Credores expõe conflitos e questões que, mesmo após 130 anos, conti- nuam atuais. Despe-nos daquilo que é o mais importante da nossa existência – o nosso po- sicionamento numa relação a dois, o modo como habitamos esse amor e estabelece-
TRINDADE Arranca a nova Temporada
Norman atinge o reconhecimento, tendo a peça um enorme sucesso desde a sua es- treia em Nova Iorque, na Broadway, até à versão cinematográfica com Sissy Spacek e Anne Bancroft. Nesse mesmo ano, este texto recebeu diversas distinções: Pulitzer Prize for Drama, Susan Smith Blackburn Pri- ze, Hull-Warriner e Drama Desk Award.
O enredo passa-se numa casa de classe média no interior do país, onde mãe e fi- lha enfrentam uma noite que parece igual a qualquer outra. Porém, ao longo do diá- logo, as duas mulheres vão revelando a sua verdadeira natureza, pondo-nos a par do que foi a sua vida até aí. A filha, epilé- tica, com um casamento falhado e um fi- lho delinquente, está farta de viver. A sua relação com a mãe, viúva, mulher fria e pragmática, nunca foi a melhor. Diante do público vão desfilar ainda todos os outros membros da família, agora ausentes.
A conversa entre as duas que traz à tona o ressentimento, a solidão e a incom- preensão de toda uma sociedade, para desaguar, enfim, num libelo à vida, para o entendimento e o amor.
CANÇÃO DO BANDIDO – Ópera cómica Estreia-se a 8 de novembro, na Sala Car- men Dolores, a ópera cómica Canção do Bandido, com sete récitas programadas até 18 de novembro. A partitura é de Nuno Côrte-Real e o libreto de Pedro Mexia, a partir do conto tradicional português “O Macaco de Rabo Cortado”, numa copro- dução Teatro da Trindade Inatel, Teatro Nacional de São Carlos e Temporada Dar- cos.
O libreto desta ópera cómica imagina uma personagem que não é um Macaco, mas um advogado, um Casanova dos tempos modernos, que acumula conquis- tas e as vai trocando por novas conquistas, sem pensar muito nas consequências dos seus atos. O Casanovismo e o Donjuanismo são revi- sitados numa época em que as guerras dos sexos (ou dos géneros) já não são o que eram, ou têm pelo menos discursos e legitimidades diferentes. Coros gregos e essencialismos em tempos digitais e de #MeToo? Em quem devemos acreditar: no libreto, nos protagonistas, nos antagonis- tas, ou nas personagens que, falando em vez de cantar, contestam estes diálogos, estes tipos, esta dialética? De Don Giovanni à música pop, dos bor- dões linguísticos aos jogos nonsense, as personagens de Canção do Bandido trazem para o palco tudo o que lhes ocorre, tudo o que sirva as suas estratégias ou ilustre as suas dúvidas. E os espectadores, certa- mente, tomam partido.
A encenação é da responsabilidade de Ricardo Neves-Neves e o elenco conta com os cantores André Henriques, Bár- bara Barradas, Cátia Moreso, Inês Simões, Marco Santos e com o Coro e Orquestra do Teatro Nacional de São Carlos.
Ana Cloe, José Pedro Gomes, Samuel Alves, Fernando Gomes e Jorge Mourato, atores do elenco de “A Pior Comédia do Mundo”
Sofia Marques, Ivo Canelas e
Paulo Pinto, atores do elenco de
“Credores”
Sylvie Dias e Ângela Pinto, atrizes de “Boa Noite Mãe”
Fotos: ©Pedro Macedo_Framed Photos
Uma premiada comédia, dois textos de dois consagrados autores e, em estreia absoluta, uma ópera cómica, que promete surpreender toda a gente. Tudo nos palcos do Trindade, a partir de setembro
mos esse equilíbrio em constante dinâmica. Apesar do tempo passado, a narrativa
dialoga bem com a época contemporânea, característica que comprova o lado visioná- rio de Strindberg.
BOA NOITE MÃE De Marsha Norman, uma das mais acla- madas escritoras e dramaturgas norte-
-americanas, ainda pouco divulgada em Portugal, estreia-se a 17 outubro, na Sala Estúdio do Trindade, Boa Noite Mãe. Esta peça tem tradução de Ângela Pinto, ence- nação e dramaturgia de Hélder Gamboa, conta com a interpretação de Ângela Pinto e Sylvie Dias e resulta de uma coprodução do Teatro da Trindade Inatel com a Tenda Produções. É com Boa Noite Mãe, no original “Night, Mother”, de 1983, que a autora Marsha
TL Jul-Ago 2018 19
Texto
APOIA
Com
Ana Cloe, Cristóvão Campos, Elsa Galvão, Fernando Gomes, Inês Aires Pereira, Jorge Mourato, josé Pedro Gomes, Paula Só e Samuel Alves
Coprodução
M12 2018 PARCEIROS TEATRO DA TRINDADE INATEL
MEDIA PARTNERS
20 TL JUL-AGO 2018
F oi bonito ver a chegada da equipa da nossa Seleção Nacional de Futebol ao aeroporto Humberto Delgado.
O que aconteceu ali foi um exemplo de
desportivismo e reconhecimento dado por algumas centenas de pessoas que se deslocaram com o propósito simples de dizer “obrigado” àqueles que deram o seu melhor esforço para representar o País numa modalidade desportiva que hoje ignora fronteiras, constrói ídolos e arrasta multidões.
Se esquecermos os discursos demagógicos, embora fundamentados, daqueles que condenam o facto de os seus intervenientes ganharem “milhões”, penso que a maioria de nós estava com as centenas daqueles que, no aeroporto, esperavam a chegada da Seleção para aclamar os jogadores.
Depois de momentos tristes e condenáveis vividos por claques, dirigentes desportivos e jogadores ligados ao futebol nacional, que melhor prova podíamos ter de que somos genuinamente bons e bem- intencionados?
A nossa Seleção perdeu, mas nós “todos”, representados por algumas centenas, estávamos lá a aplaudir para dizer com orgulho que perder também faz parte do desporto.
Os incidentes lamentáveis a que me referia foram apenas equívocos e acontecimentos indesejáveis que urge identificar, corrigir, banir e esquecer.
Se dois dos pilares mais importantes para os alicerces duma educação sã e esclarecida são a cultura e o desporto, penso que estamos no bom caminho, porque no dia 1 de julho eram Jovens quem maioritariamente esperava a Seleção.
Temos “Gente” e viva Portugal!
Coluna DO provedor
Manuel Camacho [email protected]
Teatro para Todos, um programa de formação da Academia Inatel que pre- tende fazer do teatro um instrumento
de vida. Sob o olhar atento de Claudio Ho-
chman, encenador e formador, nasceu um projeto na Academia Inatel que tem como principal objetivo levar o teatro, em qual- quer uma das suas formas de se expressar, a todo o tipo de público.
Começou com a formação de Teatro para Adultos, em março, inicialmente pensado para um máximo de 20 alunos, mas que rapidamente superou as expectativas e chegou às quase 60 inscrições, com Clau- dio Hochman e Manuel Jerónimo como formadores.
A aposta continuou, com o Laboratório de Narradores com Rodolfo Castro, as Au- las de Voz com Fernanda Paulo, o Tango
“O mundo não pára, os homens não deixam de evoluir, a sociedade não estagna…
Nada poderá manter por longo tempo o seu fulgor” (Tomaz Ribas)
No âmbito do Centenário do nasci- mento de Tomaz Ribas (1918-1999), a Fundação Inatel associou-se à Câma-
ra Municipal de Viana do Alentejo e ao Programa PAGUS, com o apoio da Dire- ção Regional da Cultura, com o objetivo de promover uma justa homenagem a esse vulto maior da cultura portuguesa do século XX – erudita e popular –, escritor, ensaísta, etnólogo, professor e crítico de dança e de teatro, e autor de vastíssima obra de ficção de tez neo-realista.
A homenagem, que teve lugar no pas- sado dia 30 de junho, no Paço dos Hen- riques, em Alcáçovas, freguesia que o viu nascer, consistiu numa mesa redonda com a participação de Alexandra Ribas, Ana Rita Baeta Neves, José Alberto Sardinha, Maria Teresa Almeida Lima e José Baptista de Sousa, e das atuações de vários agru- pamentos de raiz tradicional e popular, nomeadamente o Grupo Coral Feminino Paz e Unidade de Alcáçovas, a Banda “So- ciedade União Alcaçovense” e o Grupo de
TODOS PODEM APRENDER COM A INATEL
Tomaz Ribas (1918-1999): legado e memória
com Miriam Nieli e Pablo Azocar, os cur- sos de improviso (para crianças e para adultos), sempre com a sala cheia.
Para Claudio Hochman, cada aluno novo que chega à Academia “é como um golo da Seleção. E cada aluno que fica e cresce é a confirmação que estamos no caminho certo, que estamos a ser verda- deiramente úteis”. Há 20 anos com a Fun- dação Inatel nos mais diversos projetos, Hochman olha para este desafio da Inatel com entusiasmo e com a certeza de que “podemos gerar um espaço de verdadei- ro teatro para todos, para todas as idades, para aqueles que têm vontade de se junta- rem ao teatro e para aqueles que fizeram do teatro sua profissão”.
E acrescenta que quem participa nos cur- sos não tem um perfil exato, “todos têm o denominador comum de vontade de cres-
cer como pessoas, de poder expressar-se, de estar mais à vontade no seu dia a dia, e sobretudo de desenvolver a criatividade”.
A procura pelos cursos do projeto Teatro para Todos tem aumentado, a resposta só pode ser uma, novas datas, novos desafios.
A chegada do maestro brasileiro de Clow, Marcelo Colavitto, para uma forma- ção que leva o ser humano a viver em “pa- lhaçada”, o Teatro Físico, o uso do corpo, com a espanhola e reconhecida, Concha Esteve; o Teatro de Sombras com Chan- tal Franco e Patricia Lorenzo, e o regres- so dos tão esperados Teatro para Adultos, Teatro para Jovens e Teatro para Crianças com Claudio Hochman e Manuel Jeróni- mo. Além das novas edições dos cursos de Tango, Narração, Voz e Improviso. Mais informações sobre todos os cursos em ina- tel.pt. Maria João Costa
Folclore da Casa do Povo do Paúl (Covilhã). A sessão de abertura contou com a pre-
sença do presidente da Câmara de Viana do Alentejo, Bernardino Bengalinha Pinto, da Diretora Regional da Cultura do Alente- jo, Ana Paula Amendoeira – que recordou a estatura cultural e intelectual de Tomaz Ribas e a importância do papel que desen-
volveu no âmbito da cultura tradicional portuguesa –, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Inatel, Fran- cisco Caneira Madelino, que enfatizou o facto de Tomaz Ribas ter sabido estabelecer a ponte entre o Estado Novo e o regime democrático, no âmbito das atividades de- senvolvidas na FNAT/INATEL, recordando que, paralelamente ao seu afastamento em 1975 – quando o Gabinete de Etnografia que dirigiu deu lugar ao de Documenta- ção Operário-Camponesa de Giacometti –, foi convidado pelo Presidente do Senegal, Léopold Senghor, por indicação de Miguel Trovoada, a realizar um trabalho de inves- tigação sobre danças tradicionais nos paí- ses africanos de expressão francófona.
Para assinalar a efeméride, a Fundação Inatel editou a obra póstuma O Teatro e a sua história, de Tomaz Ribas, prefaciada por Duarte Ivo Cruz e precedida por tes- temunhos de diversas personalidades que com ele privaram: João David Pinto Cor- reia, Fernando Dacosta, António Victori- no d’Almeida, Madalena Farrajota Ataíde Garcia, Danilo José Fernandes, Maria Te- resa Almeida Lima, José Viale Moutinho, Benjamim Enes Pereira e Susana Sardo. José Baptista de Sousa
Paulo Fernandes Pedroso
Crónicas Familiares EM OUTUBRO HÁ MÚSICA PARA TODOS OS GOSTOS
A Gaivota, The Seagull, de Michael Mayer | EUA, 2018 Com: Saoirse Ronan, Elisabeth Moss, Annette Bening. •Para começar, os incessantes (e por vezes rápidos) movimentos de câmara não são de molde a ofuscar esta nova e interessante adaptação de Tchekhov. Para continuar, o realizador mantém-se fiel ao espírito do texto, com uma narrativa bem estruturada, capaz de captar o que há de mais profundo na obra do dramaturgo russo: uma reflexão subtil, sobre a sociedade, as relações amorosas, os conflitos geracionais e a arte.
Happy End, de Michael Haneke | França/ Aústria/Alemanha, 2017 Com: Isabelle Huppert, Jean-Louis Trintignant, Mathieu Kassovitz. •O cineasta de “Brincadeiras Perigosas”, “A Pianista” e “Amor” regressa à crítica mordaz e ao habitual estilo gélido para mostrar o colapso de uma família da
classe alta francesa a viver em Calais, junto aos campos de refugiados. Apesar do tom irónico do título, o filme repete as obsessões temáticas (humanidade neurótica,
consumo de violência, sociedade em declínio) da obra de Haneke. E o olhar que lança ao espectador é o mesmo de sempre: contundente e sombrio.
Missão: Impossível – Fallout, de Christopher McQuarrie | EUA, 2018
Com: Tom Cruise, Henry Cavill, Angela Bassett. •Em matéria de proezas tecnológicas, o sexto episódio da série é, evidentemente, um colosso impressionante,
quase sem rival. Fora isto, – e os trepidantes números acrobáticos de Tom Cruise, na pele do agente secreto do IMF (Impossible Mission Force), Ethan Hunt – que traz de novo o último “Missão: Impossível” para estar a gerar tamanha expectativa?
A Ciambra, de Jonas Carpignano | Itália, 2017 Com: Pio Amato, Koudous Seihon, Damiano Amato. •Do processo iniciático de um
adolescente rebelde oriundo de uma comunidade cigana da Calábria trata esta primeira obra bem reveladora de um novo talento, produzi