INCA (2009). Diagnóstico Precoce Do Câncer Na Criança e No Adolescente.
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DIAGNSTICO PRECOCEDO CNCER NA CRIANA
E NO ADOLESCENTE
Diagnstico P
recoce do Cncer na C
riana e no Adolescente
Instituto Nacional de CncerInstituto Ronald McDonald
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER NA
CRIANA E NO ADOLESCENTE
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2009 Ministrio da Sade.Todos os direitos reservados ao Instituto Nacional de Cncer e ao Instituto Ronald McDonald. permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que no seja para venda ou qualquer fim comercial. Esta obra pode ser acessada, na ntegra, na rea Temtica Controle de Cncer da Biblioteca Virtual em Sade - BVS/MS (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/controle_cancer) e nos portais do INCA (http://www.inca.gov.br), do Instituto Ronald McDonald (http://www.instituto-ronald.org.br) e da Sociedade Brasileira de Oncologia Peditrica (http://www.sobope.org.br).
Tiragem: 10.000 exemplares Elaborao, distribuio e informaesMINISTRIO DA SADEInstituto Nacional de Cncer (INCA)Praa Cruz Vermelha, 23 - Centro - 20231-130 - Rio de Janeiro - RJ - www.inca.gov.br
INSTITUTO RONALD MCDONALDRua Pedro Guedes 29, 3 andar - Maracan20271-040 - Rio de Janeiro - RJ - www.instituto-ronald.org.br
Sociedade Brasileira de Oncologia Peditrica (SOBOPE)Av. Moema 94, conjunto 301 - Moema - 04077-020 - So Paulo - SP - www.sobope.org.br
EdioCoordenao de Educao (CEDC) do INCA / Servio de Edio e Informao Tcnico-CientficaRua do Rezende, 128 - Centro - 20230-092 - Rio de Janeiro - RJ - Tel.: (21) 3970-7818
Impresso no Brasil / Printed in BrazilESDEVA
Ttulos para indexao:Em ingls: Early Diagnosis of Cancer in Children and AdolescentsEm espanhol: Diagnstico Precoz del Cncer en el Nio y en el Adolescente
FICHA CATALOGRFICA
B823d Brasil. Ministrio da Sade. Instituto Nacional de Cncer. Diagnstico precoce do cncer na criana e no adolescente. / Instituto Nacional de Cncer, Instituto Ronald Mcdonald. Rio de Janeiro: INCA, 2009.
114 p.
ISBN 978-85-7318-156-2
1. Neoplasias diagnostico. 2. Diagnstico Precoce. 3. Criana. 4. Adolescente. 5. I. Instituto Nacional de Cncer. II. Instituto Ronald Mcdonald. III. Ttulo.
CDD 616.994083
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MINISTRIO DA SADE
Instituto Nacional de Cncer (INCA)
INSTITUTO RONALD MCDONALD
DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER NA
CRIANA E NO ADOLESCENTE
Rio de Janeiro, RJ
2009
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Coordenao de ElaboraoClaudia Lossio (Instituto Ronald McDonald)Viviane Junqueira (Instituto Ronald McDonald)
Reviso TcnicaJoaquim Caetano de Aguirre Neto (SOBOPE)Luiz Claudio Santos Thuler (INCA)Maria Tereza Fonseca da Costa (INCA)
Superviso EditorialLetcia Casado (INCA)
Produo EditorialTas Facina (INCA)
Edio de texto e revisoCtia Guimares
Capa, projeto grfico e diagramaoCeclia Pach (INCA)Sullen Gomes (colaborao/estagiria do Instituto Ronald McDonald)
Ficha CatalogrficaEliana Rosa Fonseca (INCA)Esther Rocha (INCA)
Autores
Adriana Maria DuarteGraduada e mestre em Cincias, enfermeira do Centro de Transplante de Medula ssea do Instituto de Oncologia Peditrica (IOP/GRAACC/UNIFESP) e professora da Universidade Paulista na rea de sade da criana e do curso de especializao em Oncologia Peditrica da Universidade Castelo Branco e ELLU Sade.
Alejandro Mauricio ArancibiaGraduado em medicina com especializao em onco-hematologia peditrica e pediatria, oncologista pediatra do Hospital Santa Marcelina, em So Paulo.
Ana Lygia MelaragnoGraduada em enfermagem com especializao em Sade Pblica, gestora de capacitao e ensino do Grupo de Apoio ao Adolescente e Criana com Cncer (Instituto de Oncologia Peditrica) e coordenadora do curso de Especializao em Oncologia Peditrica da Universidade Castelo Branco e ELLU Sade.
Claudia EpelmanGraduada em psicologia com especializao na mesma rea, psicloga coordenadora da Equipe Multidisciplinar do Departamento de Oncologia Peditrica da Casa de Sade Santa Marcelina, em So Paulo.
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Claudia LossioGraduada em Administrao de Empresas com MBA Executivo e Certificao PMP (Project Management Professional), Gerente de Projetos do Instituto Ronald McDonald.
Cristina Rodrigues de CarvalhoGraduada em medicina, com ttulo de especialista em pediatria, pediatra na rotina da enfermaria do Servio de Oncologia Peditrica do Instituto Nacional de Cncer (INCA) e responsvel pelo Ambulatrio de Dor Peditrica.
Dbora de Wylson Fernandes Gomes de MattosGraduada em medicina, com ttulos de especialista em pediatria e oncologia peditrica, mdica oncologista pediatra do Servio de Oncologia Peditrica do INCA.
Ethel Fernandes GorenderGraduada em medicina com mestrado em oncologia, oncologista pediatra do Hospital Santa Marcelina, em So Paulo.
Maria Beatriz Ribeiro EckhardtGraduada em medicina com mestrado em clnica mdica na rea de Sade da Criana e Adolescente e ttulos de especialista em pediatria e oncologia peditrica, oncologista pediatra do INCA.
Maria Tereza Costa (autora do Captulo 1 e revisora tcnica dos demais captulos)Graduada em medicina e mestre em Sade Pblica, sanitarista da Secretaria Municipal de Sade do Rio de Janeiro e do Ministrio da Sade e atua na Diviso de Apoio Rede de Ateno Oncolgica do INCA.
Renato MelaragnoGraduado em medicina com residncia mdica em pediatria e em oncologia peditrica, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Peditrica e oncologista pediatra do Hospital Santa Marcelina, em So Paulo.
Sima Esther FermanGraduada em medicina com doutorado em Cincias e ttulos de especialista em Pediatria e Oncologia Peditrica, chefe do Servio de Oncologia Peditrica do INCA.
Tnia Mara Lopes Bitti BortoliniGraduada em servio social com ps-graduao em Administrao de Recursos Humanos e em Planejamento, Execuo e Avaliao de Projetos Sociais, assistente social da Unidade de Onco-hematologia do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glria, em Vitria (ES).
Colaboradores
Anna Beatriz Amaral Graduada em Medicina, com ttulos de especialista em pediatria e cancerologia peditrica, responsvel pelo Setor de Oncologia Peditrica do Hospital do Cncer da Universidade Federal de Uberlndia, Minas Gerais.
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Atalla MnayarjiGraduado em Medicina, com ttulos de especialista em pediatria e em cancerologia peditrica, mdico assistente de pediatria e de terapia intensiva peditrica do Hospital Universitrio da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e mdico assistente de Cancerologia Infantil no Hospital Regional Rosa Pedrossian, Mato Grosso do Sul.
Cassandra Teixeira Valle Graduada em Medicina, com ttulos de especialista em cancerologia peditrica e em rea de atuao em hematologia peditrica, hematologista peditrica do Hospital de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e chefe do servio de cancerologia peditrica da Liga Norteriograndense Contra o Cncer - Natal/RN.
Carmem Fiori Graduada em Medicina, com doutorado em pediatria com rea de concentrao em oncologia peditrica e ttulo de especialista em Oncologia Peditrica, responsvel pelo setor de Oncologia Peditrica do Hospital do Cncer de Cascavel, Paran.
Cintia Assuno Graduada em Medicina, com ttulo de especialista em pediatria, oncologista peditrica do Instituto Maranhense de Oncologia Aldenora Bello, pediatra do Hospital Municipal Djalma Marques e professora da Faculdade Santa Terezinha CEST.
Joaquim Caetano de Aguirre Neto (colaborador nos fluxogramas e revisor tcnico dos captulos)Graduado em Medicina, com especializao em pediatria e em cancerologia peditrica, mdico oncologista peditrico na Santa Casa de Belo Horizonte e no Hospital de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Marcelo dos Santos SouzaGraduado em Medicina, com ttulos de especialista em pediatria, oncologia peditrica, hematologia e hemoterapia e transplante de medula ssea, mdico oncologista e hematologista peditrico da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e mdico chefe do Centro de Tratamento Onco-hematolgico Infantil do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
Suzana Marinho LimaGraduada em Medicina, com residncia mdica em Oncopediatria, oncopediatra titular e coordenadora do Servio de Oncologia Peditrica da Santa Casa de Misericrdia de Macei, Alagoas, e preceptora da residncia em pediatria da Universidade Estadual de Cincias da Sade.
Vera MoraisGraduada em Medicina, com ttulo de especialista em oncologia peditrica, oncologista Pediatra do Centro de Onco-hematologia Peditrico do Hospital Universitrio Oswaldo Cruz, da Universidade de Pernambuco (UPE), e professora colaboradora no curso de Medicina da UPE.
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AGRADECIMENTOS
Aos parceiros na concepo do Programa Diagnstico Precoce do Instituto Ronald McDonald
Conselho Cientfico do Instituto Ronald McDonald:Alois BianchiAna Cristina XavierAntnio Srgio PetrilliFrancisco Pedrosa Jacinto GuidolinJos Carlos CrdobaMarcos Moraes Mrio Csar Pereira de AraujoNbia MendonaPeter Rodenbeck Roberto Albuquerque S MenezesSlvia BrandaliseSima FermanTania Bitti
Colaboradores:Arli PedrosaEliana Claudia de Otero Ribeiro Jos Carlos PortellaLuiz Santini Rodrigues da Silva Marco Antonio Porto Snia Maria Rossi Vianna Teresa Cristina Cardoso Fonseca Wilson Melo
Aos Pareceristas da Etapa Piloto do Programa Diagnstico Precoce Alois Bianchi Maria Alice Sigaud Maria Tereza Costa
s Instituies participantes da Etapa Piloto do Programa Diagnstico Precoce do Instituto Ronald McDonald
Alagoas/Macei: Associao dos Pais e Amigos dos Leucmicos de Alagoas (APALA), em parceria com a Universidade Estadual de Cincias da Sade de Alagoas.
Maranho/So Lus: Fundao Antnio Jorge Dino, em parceria com a Agncia Intermunicipal de Consrcio das Micro-Regies do Munim, Lenis Maranhenses e
Baixo Parnaba Litoral.
Minas Gerais/Montes Claros: Fundao Sara Albuquerque, em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES.
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Mato Grosso do Sul/Campo Grande: Associao dos Amigos das Crianas com Cncer (AACC), em parceria com a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da
Regio do Pantanal.
Paran/Cascavel: Unio Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Cncer (UOPECCAN).
Pernambuco/Recife: Grupo de Ajuda Criana com Cncer (GAC), em parceria com a Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade de Pernambuco.
Rio Grande do Norte/Natal: Casa de Apoio Criana com Cncer Durval Paiva. So Paulo/Santo Andr: Casa Ronald McDonaldABC, em parceria com a Faculdade de
Medicina do ABC.
sociedade Pela contribuio para a causa do cncer na criana e na adolescncia, em especial aos que colaboram atravs da doao nos Cofrinhos dispostos nos restaurantes McDonalds, de onde vem a receita para a realizao do Programa Diagnstico Precoce.
Aos apoiadoresMcDonalds, Associao Brasileira de Franqueados do McDonalds (ABFM) e demais mantenedores do Instituto Ronald McDonald.
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PREFCIO
Comprometimento e parceria. Essas duas pequenas palavras so a chave para enfrentar grandes desafios, como os da sade pblica e, em especial, o do controle do cncer no pas. Hoje, o cncer a segunda causa de morte por doena no Brasil e no mundo, precedida apenas por doenas cardiovasculares. A Organizao Mundial da Sade (OMS) estima que at 2030 o cncer seja responsvel por 12 milhes de mortes.
Neste universo, merece ateno o cncer na criana e no adolescente. No Brasil, se o nmero de casos novos na faixa etria abaixo de 19 anos representa um percentual pequeno em relao ao total de 2% a 3% -, ainda assim a segunda causa de morte nesta populao. Em pases desenvolvidos, o cncer peditrico, na faixa de 0 a 14 anos, se mantm como a segunda taxa de mortalidade, atrs apenas de causas externas. Hoje, a mais importante causa de bitos em pases em desenvolvimento.
Esse quadro mostra que temos muito a fazer pelos pacientes. A impreciso dos sinais e sintomas do cncer na infncia e na adolescncia, confundidos com outras doenas comuns entre os jovens, um fator que leva demora no diagnstico e tem consequncia direta na sobrevida dos pacientes. Por isso, atuar na identificao precoce do cncer nessa populao , para ns, prioridade.
O trabalho organizado no campo do diagnstico precoce oferece possibilidades de resultados concretos na vida de cada jovem, tanto no aumento da possibilidade de cura quanto na qualidade de vida. Para alcanar esse objetivo, fundamental identificar as formas de interao entre o governo, em suas vrias instncias, e a sociedade civil organizada, as empresas e a participao efetiva do cidado.
O Programa Diagnstico Precoce, para o qual foi produzida esta publicao, um exemplo de ao integrada e necessria para o enfrentamento do problema do cncer na criana e no adolescente. Cumpre o papel de levar informao qualificada aos pediatras da rede de ateno bsica e das equipes de sade da famlia, elos fundamentais do jovem e da famlia com o Sistema nico de Sade (SUS). O material didtico inclui, alm do livro, cartilha e pster.
Esta publicao resultado do comprometimento e da parceria do Instituto Nacional de Cncer (INCA)/ Ministrio da Sade, da Sociedade Brasileira de Oncopediatra (SOBOPE) e do Instituto Ronald McDonald (IRM) com aes efetivas na rea do controle do cncer na criana e no adolescente. Resultados estes que, estamos certos, contribuem para a mudana do quadro atual e melhoria da vida de milhares de pacientes.
A qualidade do contedo da publicao deve-se escolha de autores que so experientes profissionais e tambm coordenao tcnica das trs instituies envolvidas. As possibilidades de uso desse material devero ultrapassar os limites dos projetos apoiados pelo Instituto Ronald McDonald, constituindo-se em ferramenta privilegiada para o conhecimento mais abrangente sobre cncer na infncia e adolescncia, as especificidades da ateno voltada para este grupo de morbidades e sobre aspectos indispensveis melhor compreenso do tema. O sucesso dessa e de outras etapas subsequentes depender de nossa capacidade de avaliao contnua e do fortalecimento de parcerias construtivas como esta.
Luiz Antonio SantiniDiretor geral do Instituto Nacional de Cncer - INCA
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APRESENTAO
INSTITUTO RONALD MCDONALD
Contribuir para mudar o panorama do cncer na criana e no adolescente no pas. Esta a motivao do Instituto Ronald McDonald, sua equipe, parceiros e apoiadores.
E na busca pelo aumento do ndice de cura do cncer na criana e no adolescente, o Instituto Ronald McDonald, que atua desde 1999, identifica as demandas prioritrias e desenvolve programas que propiciem o diagnstico precoce, o encaminhamento adequado e o atendimento de qualidade para as crianas e adolescentes com cncer no Brasil.
Atravs do Programa Assistncia Oncopeditrica, o Instituto Ronald est comprometido em contribuir para que as capitais brasileiras possuam atendimento com profissionais especializados em oncologia peditrica, ala de internao, ambulatrio, quimioterapia e casa de apoio dedicada a crianas e adolescentes. Pretendemos ampliar essas realizaes para outras cidades que, mesmo no sendo capitais, tambm so plos convergentes de tratamento do cncer e tm demanda que justifica essa estrutura de atendimento.
O Programa Casas Ronald McDonald mais um aliado no combate ao cncer na criana e no adolescente e garante os mais altos padres de qualidade e excelncia, que so as marcas do programa global da Ronald McDonald House Charities, sistema beneficente internacional representado no Brasil pelo Instituto Ronald McDonald.
A realizao dos projetos contemplados pelos programas Assistncia Oncopeditrica e Casa Ronald McDonald garante a ampliao da abrangncia e melhoria da qualidade do atendimento oferecido s crianas e adolescentes, reduzindo as migraes das famlias em busca de tratamento e permitindo que os jovens pacientes sejam atendidos em sua prpria localidade ou prximo dela.
Alm disso, para potencializar as chances de cura, fundamental que a criana e o adolescente obtenham um diagnstico precoce e preciso, reduzindo o tempo entre o aparecimento de sinais e sintomas, o diagnstico e o atendimento em um centro especializado. Por isso, a importncia da realizao do Programa Diagnstico Precoce, lanado pelo Instituto Ronald McDonald em 2008, e que agora, com grande satisfao, apresenta esta publicao.
O Instituto Ronald McDonald tem trilhado um longo caminho em prol da causa, com resultados muito positivos na vida de milhares de crianas e adolescentes com cncer e seus familiares. E com a certeza de que os caminhos futuros traro mais frutos, contamos com voc, participante do Programa Diagnstico Precoce, usurio deste material didtico, para proporcionar esperana e qualidade de vida para ainda mais crianas e adolescentes.
Boa leitura e um excelente trabalho!
Francisco NevesSuperintendente
Instituto Ronald McDonald
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA PEDITRICA
Nos pases desenvolvidos, a taxa de cura do cncer na criana e no adolescente supera os 70%. No entanto, em nosso meio, dados oficiais dos Registros Hospitalares de Cncer mostram que estamos aqum dessas cifras. Podemos atribuir essa defasagem demora na suspeita do diagnstico que, se fosse realizado precocemente, agilizaria o encaminhamento dos pacientes, e qualidade do tratamento oferecido, tornando as condies bastante diferentes em nosso imenso territrio. No possvel admitir que algumas crianas ainda morram neste pas no por ter cncer, mas por serem brasileiras.
Uma ao conjunta entre o governo, as instituies que tratam as crianas e adolescentes com cncer, as sociedades mdicas e instituies de sade do terceiro setor poderia atenuar e/ou resolver essa importante questo.
H dez anos o Instituto Ronald McDonald (IRM) vem trabalhando para mudar o panorama do cncer na criana e no adolescente no Brasil, atravs de campanhas como o McDia Feliz. Alm disso, nos ltimos anos essa instituio firmou uma parceria com o Instituto Nacional de Cncer (INCA) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Peditrica (SOBOPE). Desde ento, novas frentes de trabalho surgiram, destacando-se o Programa Diagnstico Precoce, do IRM, que tem como escopo a Ateno Bsica de Sade, em especial a Estratgia de Sade da Famlia, que hoje atende quase 50% da populao brasileira e o primeiro local de atendimento de uma criana doente e onde a suspeita do cncer deve ser feita, encurtando o tempo, s vezes de semanas ou meses, at que o paciente seja encaminhado para um servio especializado.
Desde 2007 o IRM, com apoio do INCA e da SOBOPE, vem desenvolvendo um estudo-piloto com oito instituies e capacitando os profissionais da Sade de Famlia. Nesse processo, vrias suspeitas de cncer j ocorreram e tiveram encaminhamento adequado, mas o maior mrito talvez no possa ser quantificado: a difuso do conhecimento.
Atualmente, estamos em fase de ampliao. E eu digo estamos porque a Sobope se sente totalmente envolvida nessa iniciativa.
O IRM no parou por a: alm do Programa Diagnstico Precoce, est desenvolvendo o Programa de Assistncia Oncopeditrica, que dirigir recursos para as instituies que sejam plos convergentes e que apresentem demanda e condies de oferecer as melhores chances de cura com qualidade de vida aos nossos pacientes. Dessa maneira, o IRM fecha o circuito: capacitao dos profissionais para o diagnstico precoce e tratamento adequado do cncer da criana e do adolescente.
Parabns!
Renato Melaragno
Presidente de Sociedade Brasileira de Oncologia Peditrica
Oncologista Pediatra do Hospital Santa Marcelina
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SUMRIO
PREFCIO .................................................................................................... 9
APRESENTAO ........................................................................................ 11INSTITUTO RONALD MCDONALD .................................................. 11SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA PEDITRICA ................. 12
INTRODUO ........................................................................................... 17O PROGRAMA DIAGNSTICO PRECOCE ............................................ 17
CAPTULO 1 - ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS E DE ORGANIZAO DA REDE DE ATENO ONCOLGICA ........................................................ 23 LEGISLAO E POLTICAS PBLICAS .................................................... 25
CAPTULO 2 - DIREITOS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE PORTADORES DE CNCER ....................................................................... 29
PROBLEMAS E BENEFCIOS RELATIVOS AO EMPREGO E RENDA ........ 30DIREITO EDUCAO ESPECIAL ......................................................... 33REDE DE PROTEO SOCIAL ............................................................... 33
CAPTULO 3 - DETECO PRECOCE: POSSIBILIDADES E LIMITES ......... 35FATORES QUE INFLUENCIAM NO TEMPO PARA O DIAGNSTICO .......... 39CADEIA DE CUIDADOS PARA O DIAGNSTICO E TRATAMENTO DO CNCER .................................................................................................. 41AES QUE PODEM CONTRIBUIR PARA O DIAGNSTICO PRECOCE ................................................................................................ 43
CAPTULO 4 - SINAIS E SINTOMAS DO CNCER NA INFNCIA E ADOLESCNCIA ......................................................................................... 45
SINAIS E SINTOMAS INESPECFICOS, CONSTITUICIONAIS E GENERALIZADOS ................................................................................... 47
Febre .................................................................................................... 47Emagrecimento ..................................................................................... 48Palidez cutneo-mucosa ........................................................................ 48Sangramentos anormais sem causa definida ........................................... 49Dor generalizada ................................................................................... 49Adenomegalia ....................................................................................... 49
Adenomegalia localizada .................................................................... 50
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Adenomegalia generalizada ................................................................ 51PRINCIPAIS GRUPOS DE NEOPLASIAS E SUAS RECOMENDAES ............ 51
Leucemias agudas.................................................................................. 51Linfomas ............................................................................................... 52Massas abdominais ................................................................................ 54Tumores do Sistema Nervoso Central ................................................... 57Tumores oculares .................................................................................. 61Tumores sseos .................................................................................... 62Tumores de partes moles ...................................................................... 64
POPULAO DE RISCO ......................................................................... 65O DESAFIO DE PENSAR NO CNCER .................................................. 67
CAPTULO 5 - CUIDADOS NECESSRIOS COM A CRIANA E O ADOLESCENTE COM CNCER ................................................................. 69
PRINCIPAIS EFEITOS COLATERAIS ......................................................... 69Toxicidade hematolgica ........................................................................ 70Toxicidades gastrointestinais ................................................................... 71Toxicidade dermatolgica ...................................................................... 72
PRINCIPAIS COMPLICAES DO TRATAMENTO QUIMIOTERPICO E MEDIDAS PARA SUA PREVENO ......................................................... 73
Complicaes infecciosas ...................................................................... 73Preveno das Infeces .................................................................... 74
Cuidados com higiene e alimentao ............................................. 74Vacinao ...................................................................................... 76
Flebite e extravasamento ....................................................................... 78Cateteres venosos centrais ................................................................ 78
CUIDAR COM QUALIDADE ................................................................... 79
CAPTULO 6 - CUIDADOS PALIATIVOS EM ONCOLOGIA PEDITRICA .......... 81PRINCPIOS E PARMETROS TICOS .................................................... 81QUANDO INICIAR O CUIDADO PALIATIVO? ....................................... 82COMUNICAO .................................................................................... 82CONTROLE DE SINTOMAS ................................................................... 85
Fadiga ................................................................................................... 85Anorexia e caquexia .............................................................................. 85Nuseas e vmitos ................................................................................ 86Constipao intestinal ............................................................................ 87Diarreia ................................................................................................ 87
DOR ........................................................................................................ 88
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Avaliao da dor .................................................................................... 88Controle da dor .................................................................................... 89Mitos e verdades relacionados ao tratamento da dor ............................. 95
TERMINALIDADE .................................................................................... 96LUTO ...................................................................................................... 97ASPECTOS TICOS E LEGAIS ................................................................. 98
CAPTULO 7 - ASPECTOS PSICOLGICOS NO CUIDADO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE COM CNCER ....................................................... 99
HISTRIA DA DOENA E DO TRATAMENTO .................................... 100COMUNICAO COM O PACIENTE E A FAMLIA .............................. 101TRATAMENTO ...................................................................................... 101FIM DO TRATAMENTO......................................................................... 102SEQUELAS DO TRATAMENTO ............................................................. 102RECADA DA DOENA ........................................................................ 103POSSIBILIDADE DA MORTE ................................................................. 103FIM DA VIDA .......................................................................................... 103O PACIENTE, SUA DOENA, SEUS FAMILIARES, SEUS CUIDADORES ....................................................................................... 104IMPORTNCIA DO ACOMPANHAMENTO PSICOLGICO ............... 106
REFERNCIAS ............................................................................................ 107
-
17
INTRODUO
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Cncer (INCA), podem ser esperados,
no binio 2008/2009, 9.890 casos novos de cncer em crianas e adolescentes por ano. Isso
representa cerca de 3% de todos os casos novos de cncer no pas (INCA, 2007). Apesar de ser
pouco significativo se comparado ao cncer em adulto, o cncer a segunda causa de morte na
faixa etria de 5 a 19 anos, ultrapassada apenas pelos bitos por causas externas (DATASUS, 2005).
Dados do Ministrio da Sade mostram que, no Brasil, tem havido uma diminuio significativa do
nmero de bitos em crianas e adolescentes por doenas infecciosas e parasitrias, doenas dos
aparelhos circulatrio e respiratrio e afeces originadas no perodo perinatal. Por outro lado,
ganham importncia as mortes por neoplasias e por causas externas.
nesse contexto que surge este livro, como produto do Programa Diagnstico Precoce
do Instituto Ronald McDonald (IRM), que tem como objetivo contribuir para a identificao
precoce do cncer em crianas e adolescentes, de forma a reduzir o tempo entre o aparecimento
de sinais e sintomas e o diagnstico em um servio especializado, aumentando a probabilidade
de cura. Dessa forma, se prope a colaborar na organizao da Rede de Ateno Oncolgica
e qualificar a assistncia sade nas reas adscritas s equipes da Estratgia de Sade da Famlia
(ESF).
Para dar conta de seus objetivos, o Programa considera um conjunto amplo e complexo
de fatores que influenciam na deteco precoce do cncer. Fatores que levam em considerao
desde a capacidade do profissional mdico para suspeitar de uma neoplasia e a conduta adequada
para avaliar sua suspeita, at a oferta de servios diagnsticos na rede de sade pblica e a condio
socioeconmica da famlia para deslocamento e dedicao.
O Programa Diagnstico Precoce se concentra na Ateno Bsica, mais especificamente
na ESF, porque nesse nvel de assistncia que acontece o primeiro contato da populao com
o sistema de sade. A Sade da Famlia a estratgia definida pelo Ministrio da Sade para a
organizao do sistema a partir da Ateno Bsica. Em dezembro de 2008, 94,1% dos municpios
brasileiros haviam implantado a estratgia em seu territrio, perfazendo 49,5% da populao
coberta pelas suas aes.
A proximidade e o acompanhamento contnuo das famlias de um determinado territrio
colocam os profissionais da ESF em uma situao privilegiada para a identificao dos sinais e
sintomas da doena, o que pode propiciar maior agilidade na suspeita e no diagnstico de cncer
em crianas e adolescentes. Por essa razo, a Portaria n 2.439, de 8 de dezembro de 2005, que
instituiu a Poltica Nacional de Ateno Oncolgica, no que diz respeito deteco precoce, d
destaque ao trabalho dos profissionais da Ateno Bsica, em especial s equipes da Estratgia de
Sade da Famlia.
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18
O PROGRAMA DIAGNSTICO PRECOCE
O Programa Diagnstico Precoce do Instituto Ronald McDonald, que comeou a ser
concebido em 2005, teve como inspirao as experincias exitosas de Recife (PE) e Itabuna (BA)
em aes de deteco precoce de cncer na criana e no adolescente.
No Recife, o Ncleo de Apoio Criana e ao Adolescente com Cncer (NACC)
desenvolvia, desde 2002, um trabalho de educao continuada de Agentes Comunitrios de
Sade (ACS), articulado com a Secretaria de Sade do Estado de Pernambuco, para capacit-los
em relao suspeita do cncer.
O Grupo de Apoio Criana e ao Adolescente com Cncer (GACC) de Itabuna, de
forma anloga, tambm atuava com as equipes da Sade da Famlia. Um ncleo de estudantes
de medicina da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhus (BA), teve papel importante na
execuo desse projeto, ampliando seus benefcios qualificao de novos profissionais.
Foi ento formado um grupo de trabalho com representantes do Conselho Cientfico do
Instituto Ronald McDonald, do Instituto Nacional de Cncer (INCA), da Sociedade Brasileira de
Oncologia Peditrica (SOBOPE), da Unio Norte e Nordeste das Entidades de Apoio Criana
com Cncer (UNEACC) e da Unio Sul e Sudeste das Instituies de Assistncia Criana e ao
Adolescente com Cncer (UNIVERSO), alm das coordenadoras dos programas de Recife e
Itabuna, que discutiu e trabalhou na elaborao de um Programa que deveria ter essas experincias
como base, mas precisava tambm garantir flexibilidade suficiente para ser implementado em
todo o territrio nacional, respeitando-se as especificidades regionais.
O grupo de trabalho foi responsvel pela definio das diretrizes do Programa e, em
2007, com a contratao de consultoras em Sade Pblica, foi elaborado e lanado um edital
para o desenvolvimento de uma etapa-piloto do Programa. Foram convidadas a participar dessa
primeira seleo as instituies parceiras do Instituto Ronald McDonald previamente cadastradas.
Aps um processo seletivo que contou com a avaliao de um comit de pareceristas de diferentes
especialidades (educao, sade pblica, oncologia peditrica) e do Conselho Cientfico do IRM,
oito projetos foram desenvolvidos. Alm do carter tcnico, a seleo priorizou tambm uma
distribuio regional: com exceo da regio Norte, todas as outras foram contempladas pelo
edital, assegurando uma representatividade importante na avaliao do Programa (Quadro 1).
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19
Quadro 1 Projetos da etapa-piloto
Relao dos projetos executados na etapa-piloto
1. Alagoas (Macei)
Instituio: Associao dos Pais e Amigos dos Leucmicos de Alagoas (APALA), em parceria com a Universidade Estadual de Cincias da Sade de Alagoas
Ttulo do Projeto: Quanto mais cedo melhor
2. Maranho (So Lus)
Instituio: Fundao Antnio Jorge Dino, em parceria com a Agncia Intermunicipal de Consrcio das Micro-Regies do Munim, Lenis Maranhenses e Baixo Parnaba Litoral
Ttulo do Projeto: Diagnstico precoce do cncer peditrico: papel do Programa de Sade da Famlia na Regio do Munim, no Estado do Maranho
3. Minas Gerais (Montes Claros)
Instituio: Fundao Sara Albuquerque, em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES
Ttulo do Projeto: Articulando o Diagnstico Precoce
4. Mato Grosso do Sul (Campo Grande)
Instituio: Associao dos Amigos das Crianas com Cncer (AACC), em parceria com a Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Regio do Pantanal
Ttulo do Projeto: Capacitao de Equipes Sade da Famlia para a Promoo do Diagnstico Precoce de Cncer em Crianas e Adolescentes, no Estado de Mato Grosso do Sul
5. Paran (Cascavel)
Instituio: Unio Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Cncer (UOPECCAN)
Ttulo do Projeto: Diagnstico Precoce do Cncer na Criana e no Adolescente
6. Pernambuco (Recife)
Instituio: Grupo de Ajuda Criana com Cncer (GAC), em parceria com a Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade de Pernambuco
Ttulo do Projeto: Diagnstico Precoce do Cncer Infanto-Juvenil na Ateno Primria Sade: o desafio de capacitar a Ateno Bsica construindo um protocolo de organizao do servio
7. Rio Grande do Norte (Natal)
Instituio: Casa de Apoio Criana com Cncer Durval Paiva
Ttulo do Projeto: Campanha do Diagnstico Precoce do Cncer Infantil
8. So Paulo (Santo Andr)
Instituio: Casa Ronald McDonald ABC em parceria com a Faculdade de Medicina do ABC
Ttulo do Projeto: Estratgias para o Diagnstico Precoce do Cncer em Crianas e Adolescentes do Municpio de So Bernardo do Campo: Parceria com o Programa de Sade da Famlia
A etapa-piloto, que teve como objetivo principal avaliar o modelo desenhado para o Programa, foi realizada em 2008 e representou um perodo de intensa troca de experincias e conhecimento entre todos os participantes. Mesmo sendo realizadas na condio de teste, essas iniciativas promoveram resultados surpreendentes na identificao de casos suspeitos em curto
prazo, indicando uma provvel melhoria na qualificao das suspeitas e na organizao da rede.
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Durante essa etapa foram realizados trs workshops, alm de visitas aos locais de
desenvolvimento dos projetos. Ao longo desse processo, foram consolidadas informaes
e geradas estatsticas sobre o perfil dos profissionais capacitados e o resultado do processo de
aprendizagem. Analisando esses dados, a equipe do Programa pde ajustar o plano de curso
e rever os instrumentos de avaliao. Tambm a partir da experincia da etapa-piloto decidiu-
se elaborar um material didtico nico para o Programa. Este livro a principal pea desse
material, desenvolvido para subsidiar a formao e servir de fonte permanente de consulta para
os profissionais capacitados pelo Programa.
Quadro 2 Nmeros da etapa-piloto
A etapa-piloto em nmeros
Investimento do Instituto Ronald McDonald nos projetos R$ 416.837,00
Quantidade de profissionais capacitados 2.606
Quantidade de municpios onde ocorreram as capacitaes 24
Quantidade de equipes da ESF envolvidas 229
Populao total atendida pelas equipes de ESF capacitadas 640.910
Na expanso do Programa, alm do material didtico, est sendo elaborado um Portal de Servios. Em ambos os casos, o Instituto Ronald McDonald conta com o apoio institucional do INCA/MS e da SOBOPE.
Atravs do Portal, ser feito o monitoramento dos projetos de capacitao e sero prestadas informaes de interesse sobre o cncer. Tambm sero oferecidas solues para apoio aos profissionais capacitados. Uma dessas solues o Auxlio de Especialista: atravs de um aplicativo disponvel na Internet, o profissional que tiver alguma dvida pode recorrer a um mdico oncologista peditrico que estar disposio para orient-lo na conduta mais adequada. A ideia que esse servio promova a expanso do apoio iniciado em sala de aula, a qualquer tempo, em qualquer distncia.
Todo esse conjunto de ferramentas de apoio ao trabalho dos profissionais da ESF representa um esforo para que eles no se afastem do Programa aps a capacitao.
O Instituto Ronald McDonald entende que, atravs desse Programa, ser possvel empreender aes estruturadas e comuns, em todo o territrio nacional, construindo uma grande rede que permitir acompanhar os resultados a mdio e longo prazos. A consolidao da estratgia do Programa tambm colabora para ampliar e fortalecer iniciativas similares num grande movimento que contagia, esclarece e desmistifica o tema. Trata-se de um modelo de gesto absolutamente colaborativa, na qual Estado, iniciativa privada e sociedade civil organizada so aliados em prol de um mesmo objetivo: assegurar maior possibilidade de cura a crianas e adolescentes com cncer.
Sendo um dos principais produtos desse trabalho, este livro foi construdo no s a
partir dos oito projetos da etapa-piloto, mas tambm por especialistas voluntrios do INCA
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e da SOBOPE. Esperamos que seu contedo, que aborda desde a suspeita da doena at os
cuidados necessrios durante o tratamento, fortalea o trabalho desenvolvido na ESF, e colabore
com a deteco precoce e com a construo de uma rede de assistncia integral criana e ao
adolescente com cncer.
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CAPTULO 1 - ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS E DE
ORGANIZAO DA REDE DE ATENO ONCOLGICA
Os principais dados epidemiolgicos que possibilitam a descrio da situao do cncer
em determinada populao so a INCIDNCIA, ou seja, o total de casos novos da doena
no perodo avaliado; a SOBREVIDA, que representa o tempo de vida aps o diagnstico da
doena e incluso do indivduo com cncer em um sistema de informaes que permita o seu
acompanhamento; e a MORTALIDADE, que relaciona os bitos que tiveram como causa as
neoplasias malignas.
Para a estimativa de incidncia por cncer na infncia e juventude, necessria a
implantao de sistemas de informao com Registros de Cncer de Base Populacional (RCBP).
No Brasil, existem, atualmente, 28 RCBP, sendo que desses, 20 apresentavam informaes
consolidadas para um ano, o que permitiu a publicao recente, pelo Instituto Nacional de Cncer,
de informaes sobre taxas de incidncia por cncer na populao de 0 a 19 anos de alguns
municpios brasileiros. Essas taxas variaram, considerando-se perodos de acompanhamento
diferentes, de 76,85 por 1.000.000 (taxas ajustadas por idade) nos RCBP da cidade de Belm (PA),
at 220,32 por 1.000.000 em So Paulo (SP) e 230,98 em Goinia (GO), sugerindo que existam
problemas de acesso ao diagnstico em regies com menor oferta de servios especializados.
Para se ter uma ideia do que essas taxas significam, importante compar-las com as de outros
pases, no mesmo grupo etrio: nos Estados Unidos da Amrica (EUA), na dcada de 1990, a taxa
mdia era de 149 por 1.000.000, chegando a 165,92 em estudo americano mais recente e a 157
casos novos por 1.000.000 de habitantes de 0 a 19 anos, em estudo europeu, de 2004, sendo
maior a incidncia no sexo masculino (INCA, 2008).
O percentual mediano dos tumores peditricos encontrados nos RCBP brasileiros situa-
se prximo de 3%, o que permite o clculo estimado de 9.890 casos por ano de tumores
peditricos no pas, se retirados os tumores de pele no melanoma do total estimado para a
populao em geral (INCA, 2007). Esse nmero de casos novos estimados, quando calculado
para diferentes estados e regies do pas, deve servir como parmetro para o planejamento de
aes e organizao dos centros ou unidades com oncopediatria, na medida em que os melhores
resultados so esperados quando respeitadas escalas que possam garantir um nmero razovel
de casos acompanhados por ano e por servio. Desse modo, evita-se a excessiva fragmentao
da oferta, frequentemente associada a resultados insatisfatrios e pior desempenho dos servios
de acompanhamento.
As formas mais frequentes de cncer na infncia e na adolescncia so as leucemias,
principalmente a leucemia linfoide aguda, sendo tambm muito recorrentes os tumores de Sistema
Nervoso Central (SNC). Na cidade de So Paulo, existe um registro de base hospitalar de cncer
da Fundao Oncocentro de So Paulo (FOSP), em que podem ser verificadas informaes sobre
tipos mais frequentes de cncer na populao brasileira de 0 a 18 anos, no perodo de 2000 at
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
junho de 2008: 25,7% dos casos foram de leucemias, 16,3 % de linfomas e 12,8% de tumores
do SNC (FOSP, 2008). O fato de, no Brasil, os tumores de SNC ocuparem o terceiro lugar
na incidncia, depois das leucemias e dos linfomas, alm de demonstrar a necessidade de mais
estudos que possam explicar esse quadro, pode sugerir que existam problemas de subdiagnstico
no caso dos tumores de SNC, j que, nos pases desenvolvidos, esse grupo de neoplasias o
segundo mais frequente.
A sobrevida no cncer peditrico est relacionada a diversos fatores, entre eles, os
relacionados ao paciente, como sexo, idade, assim como a localizao, extenso e tipo de tumor.
Porm, as questes inerentes organizao do sistema de sade que podem implicar maior
ou menor facilidade e oportunidade de diagnstico, referncia para tratamento, qualidade do
tratamento e suporte social tambm contribuem para determinar chances diferenciadas de
sobrevida (BLACK, 1998).
A sobrevida de crianas com cncer melhorou muito nos ltimos 30 anos. Antes
disso, essa era uma doena quase sempre associada morte, enquanto hoje, na maioria dos
centros desenvolvidos, sua cura ultrapassa a faixa de 70% dos casos (INCA, 2008). Nos EUA,
a sobrevida em cinco anos do cncer em crianas e adolescentes aumentou de 28% em 1960
para 75% em 1990, um crescimento de 42% (SIMONE, 1998). Na Europa, a sobrevida em
cinco anos de crianas tambm melhorou, passando de 44% naquelas diagnosticadas em 1970
para 64% em crianas diagnosticadas em 1980 e 74% para crianas diagnosticadas em 1990
(STELIAROVA-FOUCHER, 2004). Vrios fatores colaboraram para a melhora dos resultados,
como cuidado especializado das crianas em unidades de oncologia peditrica dedicadas, com
equipes especializadas e participao em estudos clnicos prospectivos, bem delineados (CRAFT,
2000; SIMONE, 2006).
No Brasil, embora os resultados de muitos servios especializados sejam comparveis
aos de pases mais ricos, persistem diferenas regionais na oferta de servios, fazendo com que
as mdias de sobrevida no pas ainda estejam abaixo daquela esperada para o desenvolvimento e
conhecimento tcnico do momento.
A mortalidade por cncer no grupo de 0 a 19 anos apresenta-se hoje como uma das
principais causas de bitos, proporcionalmente, na medida em que houve reduo das causas
relacionadas preveno por imunizao e outras aes bsicas de sade, assim como a melhores
condies de vida. At o momento, no so conhecidos fatores de risco que determinem
isoladamente maior probabilidade de aparecimento do cncer na criana e no adolescente nem
maior risco para a letalidade por essa causa. As propostas de enfoque diferenciado das polticas
pblicas para a questo do cncer na infncia e adolescncia justificam-se pela expresso da
mortalidade proporcional hoje demonstrada nesse grupo. O cncer j aparece entre as cinco
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CAPTULO 1 - ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS E DE
ORGANIZAO DA REDE DE ATENO ONCOLGICA
principais causas de bitos no Brasil desde os primeiros anos de vida (INCA, 2008), porm,
na faixa etria dos 5 aos 18 anos que frequentemente recebe menor prioridade das aes de
vigilncia em sade, incluindo-se a ateno bsica que o cncer representa a primeira causa
de bitos por doena, se no forem considerados os bitos por causas externas (acidentes e
violncia). Esses dados so suficientes, portanto, para destacar a importncia atual do cncer na
formulao de polticas e aes de sade da criana e do adolescente.
Desse modo, as estratgias de ampliao da sensibilidade do sistema de sade e servios
em geral, visando suspeita diagnstica nos casos sugestivos, mesmo sendo a maior parte de seus
sinais e sintomas inespecficos, podero resultar na deteco precoce de casos, impulsionando
a necessidade da organizao da rede de servios, nos seus diferentes nveis de assistncia, de
modo a garantir o acesso tambm precoce ao tratamento adequado e de qualidade.
LEGISLAO E POLTICAS PBLICAS
Desde a dcada de 1930, com a criao do Centro de Cancerologia no Servio de
Assistncia Hospitalar do Distrito Federal, iniciou-se o processo de organizao de aes voltadas
para o tratamento do cncer. Em 1941 foi elaborada uma Poltica Nacional de Controle do
Cncer, que foi modificada e desenvolvida por diferentes contextos polticos e institucionais. Com
a promulgao da Lei Orgnica da Sade, que criou o Sistema nico de Sade (SUS), em 1990,
observou-se o fortalecimento do Instituto Nacional de Cncer, do Ministrio da Sade, em sua
funo de rgo formulador da poltica nacional de preveno e controle do cncer.
Com a publicao da Portaria GM/MS n 3.535, de 2 de setembro de 1998, o Brasil atingiu
uma expressiva rede de unidades credenciadas e habilitadas para a assistncia oncolgica que, apesar
de j apresentar um razovel nvel de organizao, ainda no se mostrava capaz de determinar
impacto suficiente para alterar positivamente as curvas de sobrevida e mortalidade por cncer.
A partir de 2003, o INCA iniciou um processo de inovao conceitual com a definio do
cncer como um problema de sade pblica, exigindo, assim, a necessidade da contribuio dos
servios de sade de todos os nveis de complexidade, a participao das instituies da sociedade
civil e a busca pela ampliao da visibilidade, da compreenso e da incluso do controle do cncer
na pauta cotidiana dos meios de comunicao e das autoridades das mais diversas reas.
Em 2005, o Ministrio da Sade lanou a Poltica Nacional de Ateno Oncolgica, que
apresenta como premissa a necessria integrao da ateno bsica s mdia e alta complexidades,
buscando facilidades para o acesso a todas as instncias de ateno e controle do cncer, alm
da oferta e utilizao racional dos servios hospitalares e tecnologias mdicas (Portaria GM/MS n
2.439, de 8 de dezembro de 2005).
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
Segundo a referida portaria, a Poltica Nacional de Ateno Oncolgica deve ser
organizada de forma articulada com o Ministrio da Sade e com as secretarias de sade dos
estados e municpios, permitindo, entre outros aspectos, a organizao de uma linha de cuidados
que perpasse todos os nveis de ateno (bsica, especializada de mdia e alta complexidades) e de
atendimento (promoo, preveno, diagnstico, tratamento, reabilitao e cuidados paliativos).
No caso especfico da ateno bsica, recomenda a realizao de aes de carter individual e
coletivo, voltadas para a promoo da sade, preveno do cncer, bem como para o diagnstico
precoce e apoio teraputica de tumores, aos cuidados paliativos e s aes clnicas para o
seguimento de doentes tratados. A mdia complexidade tem a responsabilidade pela assistncia
diagnstica e teraputica especializada, inclusive cuidados paliativos,, garantida a partir do processo
de referncia e contrarreferncia dos pacientes, aes essas que devem ser organizadas segundo
planejamento de cada unidade federada e os princpios e diretrizes da universalidade, equidade,
regionalizao, hierarquizao e integralidade da ateno sade. Por sua vez, alta complexidade
deve ser garantido o acesso de doentes com diagnstico clnico ou com diagnstico definitivo de
cncer. nesse nvel de ateno que se deve determinar a extenso da neoplasia (estadiamento),
tratar, cuidar e assegurar qualidade de acordo com rotinas e condutas estabelecidas, o que se
dar por meio de Unidades de Assistncia de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) e
Centros de Assistncia de Alta Complexidade em Oncologia (CACON).
Os prazos e critrios para o credenciamento e habilitao em Oncologia foram
atualizados pela Portaria SAS/MS n 741, de 19 de dezembro de 2005, complementada pela
Portaria SAS/MS n 361, de 25 de junho de 2007, que redefiniu as habilitaes em Oncologia na
Tabela de Habilitaes de Servios Especializados, do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
Sade, e pela Portaria SAS/MS n 62, de 11 de maro de 2009.
Na Portaria SAS/MS n 741, de 2005, que contou com a participao do INCA na
sua elaborao, esto conceituadas as UNACOM, os CACON e os Centros de Referncia de
Alta Complexidade em Oncologia, determinando seus papis na rede de sade e as qualidades
tcnicas necessrias ao bom desempenho no contexto da rede assistencial. O credenciamento
dos servios nos diferentes nveis de ateno depende de suas condies e perfil de desempenho,
porm determinado a partir de parmetros que consideram uma base territorial de atuao, a
partir das estimativas de casos novos de cncer por ano, em determinada regio, relacionando
esses nmeros s necessidades de oferta de ateno oncolgica.
As Unidades de Assistncia de Alta Complexidade em Oncologia podem prestar servios
em diferentes especialidades, incluindo-se o Servio de Oncologia Peditrica. Do mesmo modo,
por deciso do respectivo gestor do SUS, com base na anlise de necessidades, um hospital
exclusivo de Pediatria pode ser credenciado como Unidade de Assistncia de Alta Complexidade
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CAPTULO 1 - ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS E DE
ORGANIZAO DA REDE DE ATENO ONCOLGICA
em Oncologia Peditrica, exclusivamente para o diagnstico e tratamento de neoplasias malignas
de crianas e adolescentes.
No processo de crescimento da Oncologia Peditrica no pas, grande relevncia deve
ser atribuda ao trabalho e interesse dos mdicos oncologistas e hematologistas especializados
em pediatria, de diferentes centros de tratamento, assim como ao papel das organizaes
no governamentais e das instituies que proporcionam apoio e suporte social s famlias e
pacientes com cncer. Com o impacto de novas abordagens teraputicas nas ltimas dcadas
acarretando aumento das expectativas de sobrevida nos casos de cncer na infncia e juventude,
nos centros mais desenvolvidos , alm do interesse crescente e permanente de diferentes
setores da sociedade em promover melhores condies de tratamento e maiores chances de
sobrevida para crianas com cncer, o Ministrio da Sade, atravs do INCA, tem recebido
demandas de implementao de aes especficas voltadas ao controle desse agravo como
resposta das instituies governamentais ao quadro atual de morbimortalidade por cncer nesse
grupo populacional.
Nos ltimos anos, algumas propostas e programas, coordenados principalmente por
organizaes no governamentais, servios especializados e poucos representantes de rgos
governamentais, buscaram desenvolver aes visando capacitao de equipes de sade em
geral com o objetivo de ampliar-se a sensibilidade do sistema de sade para o diagnstico precoce
do cncer na criana e no adolescente, identificando-se o diagnstico tardio como um dos
fatores que contribuem para resultados insatisfatrios no tratamento do cncer nesse grupo. O
desenvolvimento de tais propostas acabou por dar maior visibilidade aos problemas de oferta de
servios e necessidade de articulao da rede de assistncia em oncologia peditrica, a partir da
constatao de que as aes para um diagnstico precoce no sero suficientes se no se garantir
tambm o acesso oportuno e adequado aos centros de tratamento.
Como resposta s demandas para que cumprisse o seu papel na formulao
de polticas pblicas na rea de ateno ao cncer, o INCA formou, em julho de 2008, um
Frum Permanente de Ateno Integral Criana e Adolescente com Cncer, visando
integrao entre diferentes instncias governamentais, entidades cientficas e mdicas como
a Sociedade Brasileira de Oncologia Peditrica (SOBOPE) e a Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP) , alm de organizaes no governamentais de apoio social, para alcance de melhores
resultados no diagnstico e tratamento da doena. Por ocasio da implantao do Frum, foram
definidas linhas de trabalho, tais como a de orientao diagnstica, divulgao e comunicao,
qualidade da assistncia especializada e avaliao dos servios de oncopediatria, que devem ser
implementadas e aperfeioadas, caracterizando-se como uma rea tcnica diferenciada na gesto
da Rede de Ateno Oncolgica. A ampla representao da composio desse Frum permite a
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
implementao de projetos-piloto em que a qualificao dos profissionais da ateno bsica seja a
principal estratgia para melhorar os ndices de diagnstico precoce. Porm, somente a adequada
qualificao dos profissionais da ateno bsica no suficiente para impactar a sobrevida das
crianas e adolescentes com cncer. Tal estratgia deve ser acompanhada pela responsabilizao
das autoridades sanitrias na organizao de fluxos de atendimento e no estabelecimento de
referncias para a estruturao de redes de ateno (INCA, 2008).
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CAPTULO 2 - DIREITOS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE
PORTADORES DE CNCER
Como vimos, a organizao da rede de ateno fundamental para o diagnstico
precoce, o tratamento e a cura de crianas e adolescentes com cncer. Mas importante que o
profissional de sade saiba que essa rede mais ampla, incluindo um conjunto de outros direitos
ligados direta ou indiretamente rea da sade que so garantidos aos pacientes com cncer. A Constituio Federal de 1988, uma das grandes conquistas da populao brasileira em
relao aos direitos sociais, assegurou, por meio de seus pressupostos, entre outros, o direito sade, assistncia social e educao. Mais tarde, esses itens foram implementados por meio de polticas pblicas integradas e articuladas entre si, possibilitando o acesso daqueles que delas necessitam. No seu art. 196, a Constituio preconiza que a sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao. Assim, respeitando o princpio da dignidade humana, toda pessoa acometida por doenas tem direito a tratamento adequado independentemente de sua condio
social e financeira, por meio dos diversos servios ofertados e financiados pelo SUS.
Dessa forma, aos portadores de cncer esto garantidos, dentre outros:
exames complementares necessrios desde os mais simples aos mais complexos; assistncia mdica e de outros profissionais como enfermeiro, assistente social, psiclogo,
nutricionista, em unidades especializadas no tratamento do cncer, mesmo fora de seu
municpio de origem, ou, se necessrio, fora do estado;
cirurgia, quimioterapia, radioterapia, transplantes, cuidados paliativos, entre outros tratamentos;
transporte ou recursos financeiros para custeio de passagens, hospedagem e alimentao quando o tratamento for realizado fora do seu municpio de origem;
acesso medicao mais indicada para os diferentes casos; acesso a rteses e prteses.
Baseados na Lei Federal n 8899/94, que concede passe livre aos portadores de deficincia
em transporte coletivo interestadual, alguns municpios, mediante lei ou resoluo, estenderam o
benefcio aos portadores de cncer em tratamento quimioterpico ou radioterpico.
Para os pacientes de cncer que so usurios de cadeira de rodas, em algumas localidades,
existem servios pblicos especiais. A famlia pode solicitar ao mdico que acompanha o paciente
um laudo que ateste a necessidade do uso da cadeira de rodas e lev-lo ao rgo estadual ou
municipal responsvel pelo transporte urbano para cadastrar a criana ou adolescente no servio.
Esse servio faz parte de um programa que visa incluso de pessoas portadoras de deficincia
desenvolvido por secretarias municipais ou estaduais de transporte urbano.
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
PROBLEMAS E BENEFCIOS RELATIVOS AO EMPREGO E RENDA
Crianas e adolescentes com at 18 anos de idade possuem tratamento diferenciado garantido pelo Estatuto da Criana e do Adolescente (ECRIAD). Eles tm, por exemplo, prioridade no atendimento e direito convivncia familiar, devendo ter a companhia de pelo menos um dos pais ou responsveis durante todo o tratamento. Sendo pessoas em desenvolvimento, carecem de afeto e cuidados, justificando-se a presena de um familiar que lhe proporcione proteo, segurana e socializao.
Mas a incompatibilizao das garantias asseguradas pelo ECRIAD com as legislaes trabalhista (CLT) e previdenciria vigentes contribui para o aumento da vulnerabilidade de muitas famlias, pois pais trabalhadores formais e contribuintes previdencirios do INSS no podem ausentar-se do trabalho para acompanhar o filho doente, sob o risco de perderem o emprego. Essa situao recai mais frequentemente sobre as mulheres inseridas no mercado formal e chefes de famlia, desencadeando triplo impacto: a dor de ver seu filho doente, a perda do emprego e, consequentemente, a perda da renda familiar. J os servidores pblicos tm direito licena remunerada para acompanhamento de seu filho doente.
Consciente da vulnerabilidade financeira enfrentada pelas pessoas envolvidas no processo de diagnstico e tratamento de doenas como cncer e aids, a legislao brasileira garante, para os trabalhadores formais, pais ou responsveis legais de criana ou adolescente com cncer, os seguintes benefcios:
Saque do Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS (Lei n 8.036, de 11 de maio de 1990): somente os titulares de contas do FGTS podem sacar sem limite e em
parcela nica os valores depositados. Para tanto, basta procurar a Caixa Econmica
Federal, munido da seguinte documentao:
- Atestado mdico com meno Lei n 8.036, de 11 de maio de 1990,
informando o diagnstico, estgio clnico atual da doena e do paciente, CID
(Cdigo Internacional de Doenas), nmero do CRM e assinatura do mdico
assistente.
- Original e cpia do resultado do exame histopatolgico ou complementar que
comprove a doena.
- Documento de identificao do titular da conta.
- Carteira de Trabalho do titular da conta.
- Comprovante de dependncia da criana ou do adolescente (Certido de
Nascimento, termo de guarda ou tutela).
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CAPTULO 2 - DIREITOS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE
PORTADORES DE CNCER
Saque de quotas do PIS/PASEP (Resoluo n 1, de 15 de outubro de 1996, do Conselho Diretor do Fundo de Participao PIS-PASEP/MF): necessrio que o responsvel legal
esteja cadastrado no PIS/PASEP junto Caixa Econmica Federal ou ao Banco do Brasil
e que leve a uma das agncias desses bancos a documentao abaixo:
- Atestado mdico com meno Resoluo n 1, de 15 de outubro de 1996,
do Conselho Diretor do Fundo de Participao PIS-PASEP/MF, informando
o diagnstico, estgio clnico atual da doena e do paciente, CID (Cdigo
Internacional de Doenas), nmero do CRM e assinatura do mdico
assistente.
- Cpia do resultado do exame histopatolgico ou complementar que comprove
a doena.
- Documento de Identidade do titular.
- Carteira de Trabalho do titular.
- Carto do PIS/PASEP do titular.
- Comprovante de dependncia da criana e do adolescente (Certido de
Nascimento, termo de guarda ou tutela).
Outras famlias, porm, enfrentam dificuldades de ordem social, econmica e afetiva preexistentes instalao da doena no seu meio. Essas dificuldades tendem a se agravar em decorrncia das novas necessidades da criana doente e do afastamento de casa de um dos pais para acompanhar o tratamento. Esse afastamento contribui para aumentar a exposio dos outros filhos menores e saudveis a risco social e pessoal por falta de algum tipo de proteo.
O advento do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) trouxe novas perspectivas para o enfrentamento dessa situao, pois as diversas aes sociais desenvolvidas por meio dos Centros de Referncia de Assistncia Social (CRAS) se voltam proteo social da famlia. Os Centros esto localizados em territrios com at 20 mil habitantes e acompanham cerca de 5 mil famlias em situao de vulnerabilidade social por meio de polticas de preveno e monitoramento de riscos. Dessa forma, possvel ter uma viso real sobre as necessidades dos usurios, dissipando distores acerca da assistncia social e contribuindo para um maior empoderamento das famlias na proteo de seus membros, tal como estabelece a Lei n 8.742, de 7 de dezembro de 1993 - Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS).
A LOAS prev, dentre outros:
Benefcio de Prestao Continuada (BPC): repasse de um salrio mnimo pelo Governo Federal para aqueles pacientes que comprovem estar incapacitados para o exerccio
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
da vida independente e para o trabalho, cuja famlia no tenha condio financeira para
prover sua subsistncia. No so todos os pacientes que possuem esse direito, uma
vez que o cncer na infncia e adolescncia nem sempre traz sequelas que justifiquem a
incapacidade fsica para o exerccio de suas atividades cotidianas. Naqueles casos em que
a criana e o adolescente possuem doena em estgio avanado ou com sequelas que
lhes impossibilite o exerccio da vida diria e, futuramente o seu trabalho, o responsvel
legal dever comparecer ao CRAS para orientao e encaminhamento ao INSS. Alm
disso, deve tambm comprovar que:
- o requerente, pais ou responsveis no esto vinculados a nenhum regime de
previdncia social;
- o requerente no recebe outro benefcio social (bolsa famlia, auxlio doena,
aposentadoria de um dos pais ou responsvel);
- a renda familiar por pessoa igual ou inferior a do salrio mnimo.
preciso ainda levar os seguintes documentos:
- laudo mdico que comprove o diagnstico e a condio de incapacidade do
paciente;
- requerimento de benefcio assistencial (Lei n 8.742/93), cujo modelo est
disponvel nos CRAS ou no site do Ministrio do Desenvolvimento Social e
Combate Fome (www.mds.gov.br);
- declarao de composio do grupo e da renda familiar (somente pais e
filhos menores), tambm disponvel nos CRAS ou no site do Ministrio do
Desenvolvimento Social e Combate Fome (www.mds.gov.br);
- Certido de Nascimento ou identidade da criana ou do adolescente e de todos
os irmos menores;
- CPF do requerente;
- documento de identificao do responsvel legal (carteira de identidade e/ou
carteira de trabalho e previdncia social).
Somente aps o exame mdico pericial ser constatado se o paciente ter ou no direito ao benefcio. Em caso positivo, ele passar por uma reavaliao a cada dois anos, podendo o benefcio ser cancelado quando a condio do doente melhorar.
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CAPTULO 2 - DIREITOS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE
PORTADORES DE CNCER
DIREITO EDUCAO ESPECIAL
Pensando ainda nas implicaes que trazem a doena, a hospitalizao e o tratamento na vida escolar de crianas e adolescentes, a Lei n 9394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educao brasileira, garante a eles o apoio pedaggico por meio de classes hospitalares instaladas dentro dos hospitais onde realizado o tratamento. Durante o perodo de hospitalizao e tratamento ambulatorial, eles so acompanhados por professores que lhes auxiliam no cumprimento das exigncias curriculares, de modo a no perder o contato com a escola de origem. Para que a criana se beneficie dessa ao, a famlia deve procurar o servio social da unidade de tratamento para receber as orientaes necessrias.
REDE DE PROTEO SOCIAL
Alm dos direitos descritos anteriormente, existem os benefcios oferecidos pelas casas de apoio a crianas com cncer, que, realizando trabalho em parceria com as diversas unidades de tratamento espalhadas pelo Brasil, prestam grande auxlio s famlias nas suas dificuldades sociais. Oferecem gratuitamente desde hospedagem, transporte, alimentao, lazer, assistncia psicossocial at atividades que contribuem para o desenvolvimento social das famlias assistidas. O encaminhamento para essas casas cujos contatos podem ser acessados, por exemplo, na pgina do Instituto Ronald McDonald na internet (http://www.instituto-ronald.org.br/) geralmente realizado pelos assistentes sociais das unidades de tratamento, aps entrevista social.
importante que a famlia saiba que viver momentos difceis, mas que existe uma rede de proteo social que ir ajud-la na superao dos problemas, tais como: unidade de tratamento onde seu filho realiza o tratamento, instituio de apoio criana com cncer, Secretaria de Sade de seu municpio de origem, CRAS mais prximo de sua residncia, Ministrio Pblico Estadual, Juizado da Infncia e Juventude, Conselho Tutelar, alm de outras instituies pblicas e privadas que compem essa rede. Sendo assim, fundamental que a famlia mantenha os profissionais da unidade de tratamento mdicos, assistentes sociais, psiclogos etc. que atende o seu filho informados acerca das dificuldades vivenciadas, para que eles possam auxili-la na garantia dos direitos assegurados.
Da mesma forma, importante que a equipe da ESF, que tem no territrio sob a sua
responsabilidade uma criana ou adolescente com cncer, possua conhecimento e interlocuo
com as diversas instituies que compem a rede de proteo social s famlias que residem nessa
localidade.
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CAPTULO 3 - DETECO PRECOCE: POSSIBILIDADES E
LIMITES
O processo de desenvolvimento de um tumor, denominado carcinognese,
multifatorial, sofre interferncias de fatores de risco ambientais e das caractersticas genticas e de
suscetibilidade individual dos pacientes.
Existem vrios nveis de preveno do cncer (Figura 1). As medidas de preveno
primria so aquelas que visam a diminuir ou eliminar a exposio a fatores de risco sabidamente
carcinognicos, como o tabagismo, por exemplo (POLLOCK, 2006). No entanto, o papel dos
fatores ambientais ou exgenos no desenvolvimento do cncer na criana e no adolescente
mnimo. Esses fatores, geralmente, necessitam de um perodo de exposio longo e possuem
um intervalo grande de latncia entre a exposio e o aparecimento clnico da doena. Dessa
forma, no existem medidas efetivas de preveno primria para impedir o desenvolvimento do
cncer na faixa etria peditrica, exceto a vacinao contra hepatite B, que eficaz na preveno
do desenvolvimento do hepatocarcinoma (CHANG, 2000).
Figura 1 Modalidades de preveno do cncer e pontos de interveno
Na preveno secundria, o objetivo a deteco do cncer em seu estgio inicial de
desenvolvimento. Uma das modalidades desse nvel de preveno o rastreamento que visa
a detectar o cncer antes mesmo que ele produza sinais e sintomas clnicos. Para os adultos,
mostram-se eficazes as medidas de rastreamento do cncer do colo do tero pelo teste de
Papanicolaou, do cncer de mama pela mamografia e do cncer de intestino pelo exame de
sangue oculto nas fezes e colonoscopia. Para as crianas, as medidas de rastreamento no se
mostraram efetivas ou so restritas a um grupo pequeno de pacientes. Por exemplo:
Com o objetivo de diminuir a alta mortalidade observada em pacientes com neuroblastoma, pesquisadores do Japo, Amrica do Norte (principalmente Quebec,
Canad) e Europa (principalmente Frana e Alemanha) realizaram programas de
rastreamento em massa de lactentes para diagnstico de neuroblastoma, com o objetivo
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
de detectar a doena em uma fase inicial ou pr-sintomtica. O mtodo envolvia a coleta
da urina de crianas saudveis aos seis meses de idade para pesquisa do metablito das
clulas tumorais - cido vanil mandlico (VMA). Nos anos de estudo no houve diminuio
da mortalidade, sendo que houve aumento do nmero de casos de tumores localizados
com prognstico favorvel, sem diminuio da prevalncia e mortalidade pela doena
em pacientes com idade acima de um ano. Alm disso, algumas crianas detectadas pelo
rastreamento foram supertratadas, pois apresentavam tumores que poderiam involuir
ou maturar espontaneamente. Dessa forma, os esforos para o rastreamento em massa
em todo o mundo foram desacelerados (HIYAMA, 2008; MARIS E WOODS, 2008).
At o momento, essa no considerada uma boa estratgia para a deteco precoce
para os neuroblastomas.
Alguns pacientes com determinadas malformaes e sndromes genticas podem se beneficiar do rastreamento (ver tambm Captulo 4). Os pacientes portadores da
sndrome de Beckwith-Wiedmann possuem maior risco de desenvolver tanto tumor
de Wilms quanto hepatoblastoma. O rastreamento com ultrassom de abdmen a cada
trs meses, at os 8 anos de idade, e a dosagem srica de alfafetoprotena, a cada trs
meses, at os 4 anos de idade, podem identificar tumores em estgios iniciais da doena
(RAO, 2008).
O diagnstico precoce outra estratgia de preveno secundria, que inclui medidas
para a deteco de leses em fases iniciais da doena a partir de sinais e sintomas clnicos. Seguido
por um tratamento efetivo, atualmente, considerado uma das principais formas de interveno
que pode influenciar positivamente o prognstico do cncer na criana e no adolescente,
reduzindo a morbidade e a mortalidade pela doena. essencial como medida de controle de
um srio problema de sade.
O diagnstico feito em fases iniciais permite um tratamento menos agressivo, quando a
carga de doena menor, com maiores possibilidades de cura e menores sequelas da doena ou
do tratamento (RODRIGUES E CAMARGO, 2003). Para a obteno de altas taxas de cura so
necessrios, tambm, cuidado mdico, diagnstico correto, referncia a um centro de tratamento
e acesso a toda terapia prescrita (HOWARD, 2005).
O atraso do diagnstico, com o subsequente atraso na instituio do tratamento
adequado, pode acarretar inmeras consequncias desfavorveis para as crianas e adolescentes
com cncer. Algumas dessas consequncias podem ser exemplificadas no Quadro 3, a seguir.
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CAPTULO 3 - DETECO PRECOCE: POSSIBILIDADES E
LIMITES
Quadro 3 - Exemplos das consequncias relacionadas ao atraso do diagnstico do cncer na
criana e no adolescente
Efeitos do Atraso do Diagnstico Exemplos
Necessidade de tratamento mais agressivo e menor chance de cura
Pacientes com o diagnstico de rabdomiossarcoma em estgio inicial tm possibilidade de sobrevida, em 5 anos, de 90%. Entretanto, se forem diagnosticados com doena metstica, a possibilidade de sobrevida em 5 anos inferior a 30%
Maior possibilidade de sequelas tardias, com impacto negativo na qualidade de vida
Pacientes com volumosos tumores de partes moles possuem maior risco de mutilaes devido dificuldade de resseco cirrgica com margens oncolgicas
Pacientes com tumores sseos avanados sujeitos maior possibilidade de amputao do membro acometido
Pacientes com retinoblastoma diagnosticado tardiamente, com perda da viso, necessitando de enucleao do olho acometido e de tratamentos mais agressivos
Crianas com tumor de sistema nervoso central que sofrem sequelas neurolgicas permanentes, secundrias resseco de volumosas leses intracranianas e s cirurgias de urgncia
Compresso mecnica de estruturas vitais
Pacientes com neuroblastoma apresentando massa retroperitoneal e infiltrao do canal medular que evoluem para paraplegia antes do encaminhamento ao centro de tratamento
Pacientes com tumor extraorbitrio (sarcoma de plpebra) que acarreta perda de viso
Pacientes com massa de mediastino (linfomas) que evolui para insuficincia respiratria antes de ser realizado o diagnstico
Disfuno orgnica estabelecida devido ao tumor
Pacientes com insuficincia renal aguda por infiltrao renal (linfomas de Burkitt, leucemias), compresso tumoral das vias urinrias (rabdomiossarcoma de prstata) e/ou sndrome de lise tumoral (leucemias)
Pacientes com leucemia que apresentam infeces graves, dificultando o incio da terapia e colocando a criana em maior risco de vida
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
Efeitos do Atraso do Diagnstico Exemplos
Tratamentos errneos iniciais com impacto negativo no prognstico
Pacientes em uso de corticoide com manifestaes osteoarticulares de leucemia que so tratadas como artrite reumatoide , o que interfere no estabelecimento do diagnstico e negativamente no resultado do tratamento
Pacientes com tumores sseos inicialmente tratados, como osteomielite, atrasando o diagnstico e o tratamento definitivo
Abordagem cirrgica inicial inadequada, causando morbidade e/ou piora do prognstico
Pacientes submetidos a cirurgias mutilantes desnecessariamente, como grandes resseces intestinais em pacientes com linfoma de Burkitt abdominal
Pacientes com tumor testicular ou paratesticular submetidos a orquiectomia por via escrotal, com maior risco de disseminao do tumor
Bipsias de tumores sseos e de partes moles realizadas de maneira inadequada que impedem cirurgia preservadora do membro acometido
Devido s caractersticas biolgicas dos tumores peditricos de crescimento rpido,
alguns pacientes podem iniciar sua apresentao clnica de forma abrupta. Alm disso, a dificuldade
de acesso assistncia bsica de sade pode fazer como que alguns casos sejam diagnosticados em
emergncias, unidades de pronto-atendimento ou pronto-socorro. Ilustrativo disso que, em um
estudo de uma coorte de 427 pacientes com doena onco-hematolgica, 77 casos (18%) foram
admitidos pelo servio de emergncia; destes, apenas 4 (5%) no tiveram suspeita ou diagnstico
de cncer como hiptese inicial. A incidncia de cncer em crianas e adolescentes nesse servio
de emergncia foi de 22,8 casos para cada 100.000 consultas anuais. Os tipos de cncer mais
frequentes foram doenas hematolgicas (37,7%), tumor de SNC (31,2%), seguidos de cncer
localizado no abdmen (22,1%), correspondendo a 90% dos casos diagnosticados. No Quadro
4, so listados os tipos de atendimentos de emergncia feitos em crianas com o diagnstico inicial
de cncer, no departamento de emergncia de um hospital peditrico (KUNDRA, 2009).
Quadro 3 - (cont.)
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CAPTULO 3 - DETECO PRECOCE: POSSIBILIDADES E
LIMITES
Quadro 4 - Apresentao clnica de crianas com o diagnstico inicial de cncer atendidas em um
departamento de emergncia (KUNDRA, 2009)
Emergncia Exemplo
HematolgicaAnemia (hemoglobina 100.000/mm3)
Sistema nervoso central
Convulses de incio agudo, sinais e sintomas de hipertenso
intracraniana, paralisia de nervos cranianos, dficits neurolgicos
focais, ataxia, alterao ou perda da viso, paraparesia
Cardiovascular Pericardite, derrame pericrdico
Endcrino Diabetes insipidus, puberdade precoce
Metablico Hiponatremia, desidratao, ictercia
Geniturinrio Hematria macia
Musculoesqueltico Claudicao, dor grave nas costas ou nas articulaes
Distenso abdominal Massas abdominais
FATORES QUE INFLUENCIAM NO TEMPO PARA O
DIAGNSTICO
Em adultos, estudos tm verificado que atrasos mais longos no diagnstico podem
influenciar no prognstico. O estudo da importncia do atraso no diagnstico em crianas, no
entanto, no tem recebido tanta ateno. A pesquisa sobre esse assunto complicada por
dificuldades metodolgicas, assim como por problemas inerentes s caractersticas clnicas e ao
comportamento biolgico dos tumores da infncia (DAN-TANG, 2007). Poucos estudos tm sido
publicados sobre os fatores que influenciaram o tempo para o diagnstico no cncer da infncia,
sendo, na sua maioria, retrospectivos, o que pode ocasionar vieses (FAJARDO-GUTIERREZ,
2002). Alm disso, os resultados das diferentes pesquisas por vezes so discordantes, ou seja,
algumas variveis tm importncia para o tempo de diagnstico em alguns estudos e no em
outros.
Os seguintes fatores podem interferir no tempo gasto desde o incio da apresentao
dos primeiros sinais e sintomas at o diagnstico do cncer em crianas e adolescentes:
Tipo do tumor: diferentes tipos de cncer na infncia tm diferentes tempos para diagnstico. Tumor de Wilms e leucemia tendem a ser diagnosticados mais precocemente
(2,5 - 5 semanas), enquanto os tumores do Sistema Nervoso Central e os tumores
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
sseos so diagnosticados mais tardiamente (21 - 29 semanas) (POLLOCK, 1991;
HAIMI, 2004; KLEIN-GELTINK, 2005; DANG-TAN, 2007).
Localizao do tumor: foi observado tempo mais curto de diagnstico em crianas com rabdomiossarcoma localizado no nariz, faringe e rbita, comparadas com crianas que
desenvolvem a doena na face e no pescoo (PRATT, 1978). Os tumores de Sistema
Nervoso Central so diagnosticados mais rapidamente quando se manifestam na regio
infratentorial (10,8 semanas em mdia) do que quando ocorrem na regio supratentorial
(43,4 semanas em mdia) (FLORES, 1986).
Idade do paciente: vrios estudos demonstraram que o tempo para o diagnstico foi mais curto em crianas menores de 5 anos de idade do que em adolescentes. Tem
sido sugerido que isso ocorre porque os pais prestam mais ateno a lactentes e pr-
escolares e os levam a maior nmero de consultas de rotina com o pediatra, ao contrrio
dos adolescentes, que tm vergonha de despir-se diante dos pais e so pouco levados
ao pediatra (RODRIGUES E CAMARGO, 2003; HAIMI, 2004; DANG-TAN, 2007).
Suspeita clnica: em estudos de crianas com tumor do Sistema Nervoso Central, os pais relataram que consultaram, em mdia, 4,5 mdicos (variao de 1-12) antes de obter
o diagnstico. Algumas vezes a comunicao insuficiente entre o pediatra geral, ou o
mdico de famlia, e outros profissionais, como oftalmologistas, psiclogos e professores,
contribuiu para o retardo no diagnstico (EDGEWORTH, 1996). O ndice de suspeita
dos mdicos considerado uma importante varivel para o diagnstico correto.
Extenso da doena: o estgio da doena no momento do diagnstico um fator importante a ser considerado, porque um indicador da cronologia da progresso da
doena e um determinante da constelao de sinais e sintomas. A anlise do tempo
para diagnstico e estgio da doena mais complexa, pois fatores biolgicos podem
tambm interferir no tempo para o diagnstico. Alguns estudos mostraram que o tempo
mais longo de diagnstico foi associado ao estgio mais avanado da doena (FERMAN,
2006; RODRIGUES, 2004). No Mxico, mais de 50% das crianas com tumores slidos
foram diagnosticadas com a doena avanada.
Cuidado e/ou percepo da doena pelos pais: em um estudo de crianas com tumor de Sistema Nervoso Central, 92% dos pais comentaram, depois do diagnstico, que
sentiram que a criana tinha um problema. Pais so considerados um fator importante
para o diagnstico do cncer na criana (EDGEWORTH,1996).
Nvel de educao dos pais: no Mxico, pesquisas mostraram que crianas cujos pais tinham nvel de educao mais baixo tinham tempos mais longos para o diagnstico do
que crianas com pais com nvel educacional mais alto (FAJARDO-GUTIERREZ, 2002).
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CAPTULO 3 - DETECO PRECOCE: POSSIBILIDADES E
LIMITES
Distncia do centro de tratamento: no estudo de Fajardo-Gutierrez (2002), pacientes que viviam prximos da cidade do Mxico tinham um tempo de diagnstico menor do
que os que viviam longe da cidade.
Sistema de cuidado de sade: a falta de organizao do sistema de cuidado de sade pode influenciar no tempo para o diagnstico do cncer na criana e no resultado do
tratamento. Em pases em desenvolvimento, o diagnstico feito, em geral, em estgios
mais avanados da doena, tendo como consequncia a piora do prognstico. A eficincia
do sistema de sade fundamental para melhores resultados, uma vez que interfere em
quase todas as etapas da cadeia de cuidado, de diagnstico e de tratamento.
Considerando-se os aspectos apontados acima, visualizam-se as possibilidades que a
organizao do trabalho da ESF e os pressupostos que fundamentam esse modelo oferecem para
uma melhor abordagem de alguns fatores que podem influenciar no tempo de diagnstico do
cncer na criana e no adolescente .
Uma das caractersticas fundamentais da ESF a responsabilidade pela ateno bsica
sade da populao adscrita, que se traduz na identificao dos problemas de sade dessa populao
para o planejamento e implementao de aes; no estabelecimento de vnculos mais efetivos com
as famlias do territrio; no acompanhamento domiciliar da situao de sade das famlias cadastradas;
e na coordenao do cuidado prestado a essa populao por todos os nveis do sistema.
Por exemplo, a ESF pode desenvolver aes voltadas para o acompanhamento
contnuo dos adolescentes do seu territrio, evitando a lacuna de atendimento nessa faixa
etria frequentemente presente nas unidades bsicas tradicionais. Alm disso, pelos vnculos
estabelecidos com as famlias, os profissionais da equipe se configuram como uma referncia para
os pais na identificao de situaes anormais percebidas em seus filhos.
Por outro lado, a responsabilidade pela coordenao do cuidado da populao adscrita,
alm de permitir maior agilidade na investigao diagnstica atravs do contato com os outros
nveis do sistema de sade, propicia tambm uma interlocuo com outros profissionais que lidam
com a criana e o adolescente como, por exemplo, professores, na perspectiva de identificao
de sinais e sintomas importantes para o diagnstico precoce.
CADEIA DE CUIDADOS PARA O DIAGNSTICO E
TRATAMENTO DO CNCER
O tempo para diagnstico do cncer o tempo entre o incio dos sinais e sintomas
do tumor e o diagnstico. Esse perodo tambm conhecido como lag time. O tempo entre
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
o primeiro contato mdico, o diagnstico e o tratamento especfico depende do atendimento
mdico e do sistema de sade. J o tempo total, que vai do incio dos sintomas at o incio do
tratamento efetivo, depende dos pacientes, pais, mdicos e do sistema de sade.
Uma cadeia de cuidados deflagrada quando um paciente com cncer visto por um
profissional at que sejam feitos o diagnstico e o tratamento efetivo da doena.
A Figura 2 identifica os pontos dessa cadeia de cuidados em que podem ocorrer atrasos
capazes de interferir negativamente no prognstico do paciente (DANG-TAN, 2008):
O tempo gasto desde o incio dos sintomas at a procura pelo primeiro contato mdico pode ser atribudo ao paciente (idade), aos seus cuidadores (nvel de instruo), sua
doena (tipo do tumor, localizao) e distncia do centro de sade.
O intervalo de tempo gasto entre o primeiro contato mdico, a suspeita diagnstica e a avaliao oncolgica determinado pelo ndice de suspeio e pelo tempo gasto para
o encaminhamento e a funcionalidade do sistema de referncia e contrarreferncia, em
suma, ao acesso aos servios de sade de qualidade.
Aps a avaliao oncolgica, o intervalo de tempo gasto para se confirmar o diagnstico depende da estrutura do servio para o qual o paciente foi encaminhado, principalmente se
esse possui unidade especializada em oncologia peditrica com profissional capacitado.
Aps confirmado o diagnstico da neoplasia maligna, necessrio iniciar o tratamento correto em uma unidade de oncologia peditrica com uma estrutura adequada para
dar suporte a esse tratamento (com equipe multidisciplinar, unidade de terapia intensiva
peditrica e suporte hemoterpico, por exemplo). O intervalo de tempo gasto entre o
diagnstico e o tratamento pode sofrer influncias da disponibilidade de medicaes e
de profissionais capacitados.
Profissionais necessrios na equipe multidisciplinar de um servio de oncologia peditrica
Especialidades mdicas: oncologia peditrica, cirurgia peditrica, ortopedia oncolgica, neurocirurgia, patologia, radioterapia, radiologia, cardiologia, nefrologia, neurologia.
Outras especialidades: fisioterapia, nutrio, fonoaudiologia, psicopedagogia, enfermagem, psicologia, servio social, odontologia.
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CAPTULO 3 - DETECO PRECOCE: POSSIBILIDADES E
LIMITES
Figura 2 - Cadeia de cuidado para diagnstico e tratamento do cncer
AES QUE PODEM CONTRIBUIR PARA O DIAGNSTICO
PRECOCE
Algumas aes tm sido apontadas como importantes para o diagnstico precoce:
Atuao efetiva da Ateno Bsica no acompanhamento, vigilncia e promoo da sade da criana e do adolescente, permitindo a deteco oportuna de sinais e sintomas das
situaes de risco, que incluem o cncer.
Estratgias de divulgao de informaes para profissionais e para a populao, ressaltando a importncia do diagnstico precoce. Em So Paulo (ANTONELI, 2004) e em
Honduras (LEANDER, 2007), campanhas de diagnstico precoce para o retinoblastoma
foram capazes de diminuir o nmero de pacientes com diagnstico avanado (doena
extraocular) e o tempo de encaminhamento, contribuindo para a melhora nas taxas de
cura dessa neoplasia.
Programa de educao continuada para profissionais da Estratgia Sade da Famlia e que lidam com cuidados primrios sobre os sinais e sintomas da doena. Em estudo
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DIAGNSTICO PRECOCE DO CNCER
NA CRIANA E NO ADOLESCENTE
realizado em Recife, foi observado conhecimento insuficiente dos sinais e sintomas mais
comuns do cncer peditrico por profissionais da Sade da Famlia, apontando para a
necessidade de se implementarem mais estratgias de educao (WORKMAN, 2007).
Aumento da comunicao entre os servios de cuidado primrio e os especializados para acelerar o encaminhamento da criana com suspeita de cncer para que o diagnstico
seja estabelecido o mais rpido possvel, o que requer melhor organizao da rede.
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CAPTULO 4 - SINAIS E SINTOMAS DO CNCER NA
INFNCIA E ADOLESCNCIA
Como j foi mencionado, o cncer na infncia e adole