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    35 Encontro Anual da Anpocs

    GT30 - Relaes raciais: desigualdades, identidades e polticas

    pblicas

    Incluso social e rendimento escolar: o caso da UFBA

    Antonio Srgio Alfredo Guimares (USP)

    Lilia Carolina Costa (UFBA)

    Naomar de Almeida Filho (UFBA)

    Caxambu, MG, outubro de 2011

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    Incluso social e rendimento escolar na Universidade: o caso da UFBA

    Antonio Srgio Alfredo Guimares (USP)

    Lilia Carolina Costa (UFBA)

    Naomar de Almeida Filho (UFBA)

    Resumo:

    Desde 2004, a Universidade Federal da Bahia tem implantado diferentes polticas

    com a finalidade de democratizar o acesso universitrio na Bahia, incorporando

    novas camadas sociais. Cotas para estudantes negros oriundos de escolas pblicas,

    criao de cursos noturnos, implantao de campi universitrios no interior do

    estado, criao de bacharelados interdisciplinares de menor durao, so todas

    medidas que visam esse mesmo fim. No texto, apresentaremos por meio de anlises

    descritivas e modelos de regresso logstica uma avaliao comparada dessaspolticas, explorando caractersticas demogrficas e socioeconmicas dos candidatos,

    dos matriculados, e seu rendimento escolar no perodo 2003 a 2008. O desempenho

    relativo, ainda que no o rendimento absoluto, dos cotistas foi em mdia semelhante

    queles que no necessitaram de um regime diferenciado de ingresso. Alunos

    beneficiados por cotas demoram mais para se graduar, porm apresentam menor taxa

    de evaso que os no-cotistas.

    Introduo

    A educao superior brasileira, desde seus primrdios histricos em 1808, com a

    abertura de escolas mdicas em Salvador e no Rio de Janeiro, autorizadas pelo Prncipe

    Regente D. Joo, tem se caracterizado por altssimo grau de elitismo, discriminao social e

    segmentao profissional. Mesmo depois da abolio da escravatura e da proclamao da

    Repblica, no final do sculo XIX, faculdades promoviam formao vocacional nas chamadas

    profisses imperiais (Medicina, Direito e Engenharia) e correlatas, restrita a um pequeno

    nmero de estudantes recrutados entre as famlias da classe dominante (Teixeira 2005). A

    organizao de universidades a partir da dcada de 1930, principalmente a partir da agregao

    no-orgnica de escolas isoladas, no modificou esta situao.

    Aps o golpe militar de 1964, num contexto de urbanizao acelerada e

    desenvolvimento econmico induzido, ocorreu expressivo aumento da demanda por educao.

    O carter concentrador de renda, o perfil produtivo e as demandas de fora de trabalho desse

    modelo de desenvolvimento pressionaram o sistema de ensino superior a ampliar oferta de

    vagas e a diversificar as modalidades de formao profissional (Cunha 2007). A reforma

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    universitria de 1968, efeito do acordo MEC-USAID, redefiniu um modelo de educao

    superior para o Brasil, com base num sistema de ps-graduao articulado a polticas de

    fomento pesquisa cientfica e tecnolgica. No que diz respeito incluso social, o formato

    bonapartista de organizao da graduao foi preservado, reforado por processos seletivos

    extremamente competitivos para as carreiras profissionais de maior prestgio social.

    Nas dcadas de 1980 e 1990, face continuada presso social por mais educao

    superior, polticas governamentais de desregulamentao e fomento financeiro permitiu rpida

    e massiva ampliao de vagas no setor privado de ensino. Essa poltica de educao superior

    aprofundou mais ainda o grau de elitizao e excluso social da educao superior,

    particularmente em cursos e instituies com maior procura, dada a virtual estagnao e

    desinvestimento das universidades pblicas brasileiras.

    A situao comea a mudar a partir de 2003, mediante dois movimentos

    complementares: por um lado, no plano interno, algumas instituies implantaram programas

    de aes afirmativas, incluindo bnus ou regime de cotas para estudantes pobres e/ou negros;

    por outro lado, por iniciativa do governo federal, implantou-se um programa de expanso de

    vagas com interiorizao, culminando com o programa denominado REUNI, proposto com o

    objetivo de fomentar crescimento e interiorizao da rede federal de ensino superior. Nesse

    contexto, mais de 70 instituies pblicas de ensino superior implantaram diferentes

    modalidades de programas de aes afirmativas (Machado e Silva 2010) e o volume total de

    matrculas nas universidades federais aumentou mais de 90% (Andifes 2010).

    A presente comunicao analisa o aspecto talvez mais polmico desse expressivo

    processo de ampliao, a questo do desempenho acadmico de estudantes que ingressaram na

    instituio universitria beneficiando-se de dispositivos de incluso social induzida.

    Focalizando um dos casos mais emblemticos desse processo, apresentaremos dados relativos

    massiva expanso de vagas, com rpida e profunda mudana do perfil tnico-social do alunado,

    experimentada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), entre 2002 e 2008.

    Estudo de Caso: UFBA

    A Universidade Federal da Bahia (UFBA) remonta a 1808, quando foi criado o colgio

    mdico-cirrgico, raiz da Faculdade de Medicina, a primeira do Brasil. Em 1946, reunindo

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    escolas isoladas pr-existentes, como Direito (1891), Escola Politcnica (1896) e Filosofia,

    Cincias e Letras (1941), foi instituda como Universidade da Bahia. Nos seus primeiros vinte

    anos de funcionamente, a UFBA admitiu cerca de 2.500 novos alunos a cada ano; nas ltimas

    dcadas do sculo XX, passa a admitir pouco mais de 3.000 por ano. Foi, portanto, durante

    todo este tempo, uma universidade de elite. Elite nacional, quando a Bahia era uma das

    principais provncias do Imprio; elite regional, quando declinou a importncia do Estado na

    federao brasileira. A partir de 2002, entretanto, a UFBA conheceu rpida expanso, com a

    criao de novos cursos; nova forma de recrutamento, com a introduo de cotas para

    estudantes negros egressos da escola pblica (2004); interiorizao, com novos campi no

    interior do Estado (2007); e a introduo de cursos de Bacharelado Interdisciplinar (2008) num

    programa conhecido como Universidade Nova (Almeida Filho, N et al. 2010). Com os

    nmeros apresentados (ver Grfico 1), fica evidente o esforo de incluso social feito pela

    UFBA neste sculo, atravs de trs mecanismos: 1) reserva de vagas para alunos da escola

    pblica, auto-definidos como pretos e pardos; 2) criao de cursos noturnos; 3) interiorizao

    de campi; 3) criao de cursos multidisciplinares de trs anos de durao, com alunos

    selecionados a partir do ENEM (exame nacional do ensino mdio).

    Posto que as duas ltimas experincias so ainda muito recentes para o tipo de

    avaliao estatstica que iremos fazer, focada principalmente no rendimento e na permanncia

    escolar, nesta comunicao, nosso intuito completar avaliao anterior (Guimares et al.

    2011) da experincia de incluso social a partir da implantao de reserva de vagas, ou cotas,

    cujos beneficirios, selecionados em 2005, comeam a se graduar somente a partir de 2008.

    Continuando essa linha de pesquisa, trabalharemos apenas com informaes relativas a

    estudantes matriculados nos cursos existentes em 2005, no campus de Salvador. Interessa-nos

    primordialmente saber se a nova poltica de recrutamento, que reserva 45% das vagas para

    negros oriundos da escola pblica (ver quadro 1, adiante, que resume os critrios de seleo da

    reserva de vagas), por um lado, cumpre suas metas explcitas de fomentar acesso

    universidade de estudantes negros de classes sociais menos favorecidas. Por outro lado,

    avaliaremos se esses estudantes tm conseguido se aproveitar desta oportunidade,

    desempenhando escolarmente no mesmo nvel de seus colegas. Aprimorando o rigor de nossa

    avaliao, aperfeioamos indicadores anteriores (Guimares et al. 2011). Ademais, levaremosem conta o modo como tem sido feita a seleo real, com o preenchimento de 45% das vagas

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    pelos estudantes de melhor pontuao, que se enquadram nos critrios de beneficiamento. Ora,

    assim selecionados, muitos dos beneficiados, obtiveram, de fato, pontuao que os classificaria

    mesmo se no preenchessem estes critrios. Dividiremos, portanto, para fins da presente

    avaliao, os discentes em trs grupos, quanto ao benefcio efetivo auferido por tal poltica:

    No-beneficirios, ou seja, estudantes que no tiveram direito s vagas destinadas

    para o sistema de cotas;

    Beneficirios no-efetivos, ou seja, estudantes que, embora tendo direito s cotas,

    seriam aprovados mesmo na ausncia dessa poltica, por seu desempenho no

    processo seletivo;

    Beneficirios efetivos, ou seja, estudantes que foram aprovados apenas por que

    existe o sistema de cotas.

    Quadro 1: UFBA, critrios de seleo com reserva de vagas

    Anlise do perfil dos candidatos

    Comecemos por traar o perfil dos candidatos inscritos e aprovados no vestibular,

    segundo as variveis socioeconmicas disponveis. Utilizaremos para tanto anlise fatorial de

    correspondncia mltipla. As variveis ativas, aquelas usadas no clculo das associaes, esto

    descritas no anexo 2, enquanto que as variveis ilustrativas, aquelas anlise depois de j

    traado o perfil dos estudantes, se encontram no anexo 2.

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    Categoria A(36,55%): candidatos de escola pblica que se declararam pretos ou pardos.

    Categoria B(6,45%): candidatos de escola pblica de qualquer etnia ou cor.

    Categoria D(2%): candidatos de escola pblica que se declararam ndio-descendentes.

    Categoria E(55%): todos os candidatos, qualquer que seja a procedncia escolar e a etnia ou cor.

    6) No sendo preenchidas todas as vagas das Categorias A e B, elas so prioritariamente

    preenchidas por candidatos de escola particular que se declararam pretos ou pardos (inscrio de

    Categoria C ). Permanecendo vagas abertas, elas so preenchidas por candidatos com inscrio da

    Categoria E.

    7) No sendo preenchidas todas as vagas da Categoria D, elas so preenchidas por candidatos

    com inscrio da Categoria E.

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    O mapa de correspondncia mltipla (figura 2) apresenta dois fatores. O fator 1 (eixo

    horizontal ordena o perfil socioeconmico dos candidatos inscritos no vestibular, da pior para a

    melhor situao. Este fator condensa o conjunto das variveis disponveis. J o fator 2 (eixo

    vertical) ordena os candidatos apenas segundo as rendas familiares, sem um ordenamento claro

    das demais variveis socioeconmicas. No entanto, mediante esses dois eixos, observa-se

    claramente a associao, refletida em clusters, entre todas as variveis, como renda familiar,

    nvel de instruo dos pais, cor e escolaridade. Ou seja, os candidatos que estudaram em escola

    pblica (seta amarela) tendem a ter uma renda familiar menor que 3 salrios mnimos, pais

    com nvel de escolaridade primria e cor preta. Enquanto que os candidatos que estudaram em

    escola particular (seta verde) tendem a ser mais jovens, ter pais com nvel superior incompleto,

    renda familiar entre 5 e 10 salrios mnimos e cor branca.

    Como apresentado na figura 3, no 3 quadrante (valores negativos do fator1 e fator2), os

    piores resultados no vestibular, i.e. ser eliminado por tirar zero em alguma prova ou por obter

    escore abaixo da linha de corte, esto associados a candidatos beneficirios, inscritos em cursos

    da rea de Cincias Humanas de baixa demanda. Ao contrrio, no 1 quadrante encontram-se

    candidatos no-beneficirios, quais tendencialmente apresentam uma boa situao

    socioeconmica.

    Coeficiente de Rendimento

    O Coeficiente de rendimento (CR) foi utilizado com a finalidade de comparar o

    desempenho dos estudantes, segundo suas classificaes: no-beneficirio, beneficirio no-

    efetivo e beneficirio. Padronizamos o CR subtraindo o seu valor da mdia e dividindo-o pelo

    desvio-padro dos CR de todos os alunos que passaram no vestibular no mesmo ano, para o

    mesmo curso.

    Como o CR utilizado nesse estudo se refere ao segundo semestre 2008, para os

    ingressantes no primeiro semestre de 2005, o CR foi calculado considerando as disciplinas que

    o estudante cursou durante 4 anos. Por outro lado, quanto ao aluno que ingressou no primeiro

    semestre de 2008, o CR se refere ao resultado das disciplinas que o mesmo cursou no primeiro

    ano. A figura 4 mostra que o CR dos estudantes no se altera muito ao longo do perodo de 4

    anos de estudos. Alm disso, verifica-se que no existe diferena significativa entre o CR

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    mdio dos estudantes no-beneficirios e dos estudantes beneficirios no-efetivos. Porm, o

    CR mdio dos beneficirios efetivos em mdia menor que dos outros estudantes (tabela 3).

    Esse resultado encontrado na anlise geral tambm foi observado em cada rea, com as

    seguintes excees:

    Nos cursos de Humanas de alta demanda, nas Exatas de baixo demanda, nas Artes e nos

    cursos do Interior no encontramos diferena estatisticamente significante entre as mdias dos

    CR dos diferentes tipos de alunos;

    Nos cursos da rea de Sade de baixa demanda, nas Humanas de mdia e baixa

    demanda encontramos diferena significante apenas entre as mdias do CR dos no-

    beneficirios e dos beneficirios no-efetivos.

    Melhoria de Desempenho

    O resultado encontrado no item anterior j era esperado pela forma mesma como

    definimos os grupos de candidatos. Ou seja, sabendo que os beneficirios vm de famlias em

    pior situao socioeconmica e educacional, e que so eles que, por definio, no alcanavam

    desempenho suficiente para obter classificao no exame vestibular, dificilmente poder-se-ia

    encontrar resultado diferente. A pergunta que devemos fazer, portanto, deve ser outra: qual o

    desempenho desses estudantes na universidade? Conseguem eles melhorar sua posio relativa

    em termos de desempenho? Neste caso, estaremos medindo no em termos absolutos, mas

    relativos. Um modo de faz-lo dividir em quintis o escore de pontos obtidos no vestibular e

    no CR de 2008 (o primeiro quintil representa o pior desempenho e o quinto, o melhor), e

    verificar como os beneficirios das cotas se movimentam entre os quintis, relativamente a

    beneficirios no-efetivos e no-beneficirios.

    A tabela 2 foi construda selecionando cursos com mais de 25 vagas e utilizando dados

    de 2003 e 2008. Agrupamos os estudantes em trs coortes, segundo os anos de entrada. As

    coortes 2003 e 2004, quando no havia o sistema de cotas, ser utilizada como controle, posto

    que aqueles que entram nos ltimos lugares encontram maior espao frente para progredir; as

    coortes 2005 e 2006 aquela que poder apresentar melhor progresso, posto que os estudantes

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    tiveram mais tempo para melhorar o CR; finalmente, as coortes 2007 e 2008, recm-admitidas

    e, portanto, com menos tempo para tirar a desvantagem inicial.

    O desempenho do estudante na UFBA foi classificado em Melhor, quando o seu CR se

    localizava no quintil acima do seu quintil no vestibular. Por exemplo, um aluno que teve um

    dos piores escores no vestibular, ficou no quintil 1; entretanto, se seu CR em 2008 se localiza

    no quintil 3, houve melhora no seu desempenho. A mesma lgica foi utilizada para as

    categorias Igual e Pior.

    Como se pode verificar na tabela 2, o desempenho relativo dos efetivamente

    beneficirios sempre melhor ou igual que os no-beneficirios, principalmente na coorte de

    2005-2006, exatamente aquela com maior tempo na universidade.

    Fazendo uso novamente da anlise de correspondncia mltipla (ver o terceiro

    quadrante da figura 5), desta vez apenas os dados referentes aos aprovados, os resultados

    mostram que o beneficirio efetivo, apesar de estar nos ltimos quintis do vestibular,

    tendencialmente melhora seu desempenho durante o curso (variveis Q1_maior e Q2_maior).

    Anlise do 1 Quintil do Vestibular

    Analisando apenas os dados dos estudantes com desempenho no 1 quintil (vestibular)

    utilizamos um modelo logstico, em que a varivel resposta tinha como referncia a categoria

    Melhor, i.e., estudantes com CR no 2 ao 5 quintil. A tabela 3 apresenta o resultado em

    forma de Razo de Chances (odd ratios), com intervalo de confiana de 95%. Com este

    resultado, podem-se confirmar anlises descritivas apresentadas anteriormente, ou seja, a

    chance do beneficirio ter um desempenho em cursos na UFBA melhor que no exame

    vestibular significantemente maior ou igual chance do no-beneficirio.

    No modelo geral, verifica-se que essa chance para o beneficirio no-efetivo 2,5 vezes

    maior do que para o no-beneficirio. J para o beneficirio efetivo, essa razo de chances

    chega a ser de quase 6 vezes maior. Realizando uma regresso logstica mltipla para os cursos

    dos campida capital (tabela 4), algumas variveis no apresentaram associao

    estatisticamente significante com melhoria do desempenho, como por exemplo, renda familiar

    e escolaridade de me. Entretanto, observando a combinao de variveis raa/etnia e

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    ensino mdio, que caracterizam a origem social do beneficirio, tem-se que a chance de um

    estudante que estudou em escola pblica melhorar maior do que a chance do aluno que

    estudou em escola particular (resultado significante nos anos de 2006 e 2007). No foram

    observados resultados significantes para raa/etnia isoladamente.

    Anlise do 2 Quintil do Vestibular

    Um modelo de regresso multinomial logstico foi ajustado, por ano, sendo a varivel

    resposta como 1 (categoria de referncia) = pior (quando o quintil do CR for 1); 2=igual

    (quando o quintil do CR for 2); e 3=melhor (quando o quintil do CR for 3, 4 ou 5) e a varivel

    independente sendo situao do benefcio, com a categoria no-beneficirio como

    referncia. Os coeficientes no foram significativos (para um!

    =5%), com exceo para o anode 2006, em que:

    a chance de um beneficirio efetivo se manter no quintil 2 (em comparao a obter um

    resultado pior) cerca de 1,9 vezes maior do que um no-beneficirio;

    a chance de um beneficirio efetivo de melhorar o seu CR aproximadamente 2 vezes

    maior do que um no-beneficirio;

    a chance de um beneficirio no-efetivo tambm melhorar seu resultado cerca de 3 vezes

    maior que o no-beneficirio.

    Portanto, esse resultado confirma, mais uma vez, que os beneficirios no apresentaram

    resultado significantemente diferente dos no-beneficirios.

    Regio de pior pontuao

    Um dos problemas de medir o desempenho relativo na universidade dos alunos que

    entraram com pontuao mais baixa que eles tero, como j frisamos, um maior espao de

    progresso que aqueles que passaram com maior pontuao. Pensamos ento numa nova

    medida de desempenho baseada no conceito de Regio de Pior Pontuao (RPP).

    Quando o escore do vestibular ordenado do maior para o menor, no surpresa que os

    beneficirios efetivos se encontrem nas ltimas posies. Essas posies formam o que

    denominamos de RPP (por exemplo, as 10 ltimas pontuaes no vestibular de um dadocurso). Reordenando os CR e o percentual de beneficirios efetivos que saram da RPP

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    podemos, ento, medir o desempenho relativo destes beneficirios efetivos em relao aos dois

    outros grupos. No caso do exemplo citado, seria o percentual de beneficirios efetivos que

    estavam acima da 20 posio do CR. Esse indicador tambm pode ser considerada como uma

    medida indireta da melhora de desempenho dos beneficirios dentro na universidade.

    Quanto maior esse percentual, maior o indicativo de que os estudantes que passaram no

    vestibular por conta do sistema de cotas conseguiram acompanhar o curso junto com os demais

    alunos. No geral, esse percentual foi observado em torno de 50% (figura 5), sendo que para os

    cursos da rea de Humanas de baixa demanda, esse indicador se apresentou em torno de 75% e,

    para os cursos de alta demanda, em torno de 40% (tabela 5).

    Com a finalidade de entender melhor porque alguns beneficirios efetivos conseguiramsair da RPP e outros no, foi ajustado um modelo logstico e os resultados so mostrados na

    tabela 6. Observou-se que, para alguns anos, algumas categorias da varivel renda familiar

    foram significativas, sendo que, quanto maior a renda familiar, menor a chance de sair da RPP.

    Alm disso, estudantes do sexo feminino tm mais chance de sarem da RPP, enquanto que

    alunos que frequentam curso de alta demanda tm mais dificuldade. As variveis cor e origem

    escolar no foram significativas.

    Indicadores de Sucesso e Fracasso

    Observando a situao dos estudantes no final do perodo analisado (ou seja, em 2008)

    e supondo que um indicador de sucesso seria o percentual de estudantes que concluram o

    curso com xito, verifica-se que os no-beneficirios e os beneficirios no-efetivos tiveram

    percentual de formandos em torno de 20%, enquanto que aproximadamente 15% dos efetivos

    tiveram sucesso. Alm disso, em termos relativos, existem mais beneficirios efetivos ainda

    estudando na universidade (cerca de 10% a mais que os demais alunos, para os ingressantes em

    2005 e 2006).

    Entretanto, um indicador de fracasso a ser considerado o percentual de jubilados (na

    regra vigente na UFBA, alunos que perderam a mesma disciplina mais de 4 vezes ou que

    perderam todas as disciplinas de um mesmo semestre mais que uma vez). Nesse indicador, em

    termos descritivos, os beneficirios apresentaram menor ndice de fracasso.

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    Concluses

    Como esperado, os beneficirios efetivos da poltica de reserva de vagas da UFBA so

    os estudantes em pior condio socioeconmica, oriundos de famlias tambm em pior

    condio social, que acumularam uma srie de desvantagens em sua formao escolar, mas

    que, apesar de tais barreiras, conseguiram ultrapassar tais adversidades, colocando-se como

    efetivos concorrentes no vestibular, ainda que ocupando suas ltimas posies.

    A principal concluso desta comunicao que, submetidos a critrios mais rigorosos e

    estreitos de avaliao de desempenho e de permanncia, estudantes que efetivamente se

    beneficiaram do novo sistema de recrutamento socialmente seletivo da UFBA, a partir de 2005

    (ou seja, aqueles que entraram com as menores pontuaes no vestibular, em seus respectivos

    cursos), demonstraram que tinham condies de acompanhar tais cursos com bom rendimento

    e se graduar em suas respectivas reas. Seu desempenho relativo, ainda que no o rendimento

    absoluto, foi, em mdia, semelhante queles que no necessitaram de um regime diferenciado

    de ingresso. Ou seja, os alunos cotistas demonstraram que tinham potencial efetivo para cursar

    o ensino superior na UFBA.

    Mostramos, tambm, que o rendimento melhor ou pior dos beneficirios efetivos

    dependeu, em muito, dos cursos em que foram aceitos. Utilizando a medida mais estrita da

    RPP (regio de pior pontuao), vimos que nos cursos de alta demanda, em que a pontuao de

    entrada maior, presumivelmente indicando formao escolar de base mais slida, os

    efetivamente beneficirios sentem maior dificuldade de romper esta classificao inicial,

    permanecendo nas posies inferiores de rendimento. Ainda assim, mais de 40% deles

    conseguem ultrapassar essa barreira, independentemente da rea de conhecimento. Nos cursos

    de baixa e mdia demanda, no entanto, metade ou mais do alunado que entrou nas ltimas

    posies conseguiu sair desta faixa, principalmente nos cursos da rea de Humanas.

    Se, entretanto, tomarmos como medida de melhora de desempenho, o quintil de

    rendimento mais baixo, vemos que os efetivamente beneficiados pelas cotas conseguiram

    superar ou igualar os no-beneficirios em termos de desempenho relativo. Ainda que com

    Coeficientes de Rendimento inferiores em termos absolutos, fica claro que seu desempenho

    relativo foi muito melhor.

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    Os indicadores de permanncia que pudemos construir mostram tambm um quadro

    bastante realista, mas otimista. Ainda que permaneam, em mdia, maior tempo na

    universidade para integralizar seus crditos, o que pode ser explicado por sua condio

    socioeconmica que os obriga a manter insero no mercado de trabalho, os beneficirios

    efetivos das cotas abandonam menos os cursos para os quais foram selecionados.

    Referncias:

    Almeida Filho, Naomar et al.Memorial da Universidade Nova. UFBA 2002-2010. Salvador, 2010.

    ANDIFES.Relatrio de Acompanhamento do Programa de Apoio a Planos de Reestruturao eExpanso das Universidades Federais (REUNI). Braslia: Andifes, 2010.

    Cunha, Luis Antonio.A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernizao do ensino superior.

    2. ed. So Paulo: Editora UNESP, 2007.

    Guimares, A.S., Costa, L. e Almeida Filho, N. Incluso social nas universidades brasileiras: o caso daUFBA In:As cores da desigualdade. 1 ed. Belo Horizonte : Fino Trao, 2011, v.1,p. 19-41.

    Machado, Elielma e Silva, Fernando. Aes afirmativas nas universidades pblicas: o que dizem oseditais e manuais in Angela R. Paiva (org.)Entre dados e fatos: Ao afirmativa nas universidades

    pblicas brasileiras, Ed. Puc e Ed. Pallas, 2010, pp. 19-58.

    Teixeira, Ansio. Ensino superior no Brasil: anlise e interpretao de sua evoluo at 1969. 3. ed. Riode Janeiro: Editora UFRJ, 2005.

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    Figura 1 Evoluo do nmero de vagas oferecidas pela UFBA, 1946-2010

    Figura 2 - Mapa de Correspondncia Mltipla para Candidatos ao Vestibular da

    UFBA 2005 a 2008

    2515 2515 2515

    2980 3075 3075

    3740

    7916

    1946 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

  • 7/25/2019 Inclusao Social e Rendimento Escolar

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    Figura 3 - Mapa de Correspondncia Mltipla para Candidatos ao Vestibular da

    UFBA com variveis ativas e ilustrativas 2005 a 2008

    Figura 4 Mdia e IC de 95% do Coeficiente de Rendimento por ano e situao doestudante.

    2008200720062005

    ano

    0,3

    0,2

    0,1

    0,0

    -0,1

    -0,2

    -0,3

    -0,4

    95%C

    ICRPadrao

    Cotista efetivo

    No efetivo

    No Cotista

    Situao Cotista

  • 7/25/2019 Inclusao Social e Rendimento Escolar

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    Figura 5 - Mapa de Correspondncia Mltipla para estudantes da UFBA com

    variveis ativas (em azul) e ilustrativas (em vermelho) 2005 a 2008

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  • 7/25/2019 Inclusao Social e Rendimento Escolar

    20/27

    Tabela 4 Razes de Chances estimadas por regresso logstica para a

    probabilidade de Melhoria.

    A2B2* 2* C".*2*

    /)D EFEF C2D EFEF

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  • 7/25/2019 Inclusao Social e Rendimento Escolar

    21/27

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