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INCLUSÃO DOS SABERES NEGROS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: POSSIBILIDADES DE DESCONSTRUIR ESTEREÓTIPOS Kelly Cristina Caetano Silva i [email protected] Universidade Federal de Uberlândia-UFU “Alguns homens veem as coisas como são e dizem: Por quê”? Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo: - Por que não.Bernard Shaw Resumo O presente artigo, em meio às discussões que se constroem para o estudo na educação das relações étnico-raciais e o ensino de ciências sugere uma abordagem que discuta o conhecimento científico sobre a vida social, a partir de proposição em torno de conhecer e reconhecer cientistas negros em nossa sociedade, levando em consideração o contexto histórico. O objetivo do texto é articular a superação de visões estereotipadas e preconceitos com base em conhecimentos produzidos pelas Ciências Naturais, cujo mesmo pode promover essa superação de relações de inferioridade e valorizar a diversidade étnico-racial. Partindo de referenciais teóricos e metodológicos coletados através de pesquisas bibliográficas foram identificados quatro grupos temáticos que podem ser abordados no ensino de ciências com o intuito de promover relações étnico- raciais éticas. E contribuindo com a inserção da lei 10.639 ao ensino de Ciência nas práticas escolares de construção de aprendizagens e conhecimento relacionado às relações étnico-raciais, o artigo apresenta como proposta pedagógica o tema: Cientistas Negros e a Superação dos Estereótipos Presentes nas Profissões. Em que pressupõe que uma das opções para se ensinar Ciências, é através de sua História. Por meio deste artigo e das análises discutidas, esperamos contribuir para o fomento do debate e pesquisa sobre o papel do ensino de ciências na formação de cidadãos. Essa formação deve contemplar a construção de relações sociais positivas do negro e o engajamento em lutas por eliminação de quaisquer formas de desigualdade social e de discriminação. Palavras-chave: Ensino de Ciência, Estereótipo, Relações Étnico-raciais. Abstract This article among discussions constructed for the study in education of ethnic-racial relations and teaching science, suggests an approach to discuss the scientific knowledge about social life, from the proposition around knowing and recognizing black scientists in our society, taking into account the historical context. The intention is to articulate the text to overcome stereotypes and prejudices based on knowledge produced by the Natural Sciences. This may even promote the overcoming of relationships of inferiority and valuing ethnic-racial diversity. Starting from theoretical and methodological

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INCLUSÃO DOS SABERES NEGROS NO ENSINO DE CIÊNCIAS:

POSSIBILIDADES DE DESCONSTRUIR ESTEREÓTIPOS

Kelly Cristina Caetano Silvai

[email protected]

Universidade Federal de Uberlândia-UFU

“Alguns homens veem as coisas como são e dizem: – Por quê”?

Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo:

- Por que não.”

Bernard Shaw

Resumo

O presente artigo, em meio às discussões que se constroem para o estudo na educação

das relações étnico-raciais e o ensino de ciências sugere uma abordagem que discuta o

conhecimento científico sobre a vida social, a partir de proposição em torno de conhecer

e reconhecer cientistas negros em nossa sociedade, levando em consideração o contexto

histórico. O objetivo do texto é articular a superação de visões estereotipadas e

preconceitos com base em conhecimentos produzidos pelas Ciências Naturais, cujo

mesmo pode promover essa superação de relações de inferioridade e valorizar a

diversidade étnico-racial. Partindo de referenciais teóricos e metodológicos coletados

através de pesquisas bibliográficas foram identificados quatro grupos temáticos que

podem ser abordados no ensino de ciências com o intuito de promover relações étnico-

raciais éticas. E contribuindo com a inserção da lei 10.639 ao ensino de Ciência nas

práticas escolares de construção de aprendizagens e conhecimento relacionado às

relações étnico-raciais, o artigo apresenta como proposta pedagógica o tema: Cientistas

Negros e a Superação dos Estereótipos Presentes nas Profissões. Em que pressupõe que

uma das opções para se ensinar Ciências, é através de sua História. Por meio deste

artigo e das análises discutidas, esperamos contribuir para o fomento do debate e

pesquisa sobre o papel do ensino de ciências na formação de cidadãos. Essa formação

deve contemplar a construção de relações sociais positivas do negro e o engajamento

em lutas por eliminação de quaisquer formas de desigualdade social e de discriminação.

Palavras-chave: Ensino de Ciência, Estereótipo, Relações Étnico-raciais.

Abstract

This article among discussions constructed for the study in education of ethnic-racial

relations and teaching science, suggests an approach to discuss the scientific knowledge

about social life, from the proposition around knowing and recognizing black scientists

in our society, taking into account the historical context. The intention is to articulate

the text to overcome stereotypes and prejudices based on knowledge produced by the

Natural Sciences. This may even promote the overcoming of relationships of inferiority

and valuing ethnic-racial diversity. Starting from theoretical and methodological

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references collected through bibliographic searches we have identified four thematic

groups that can be addressed in science education with the aim of promoting ethnic-

racial ethics. Through this article and the analysis discussed, we hope to contribute to

the promotion of debate and research on the role of science education in the formation

of citizens. Such formation should include the construction of positive social

relationships and engagement in the black struggle for elimination of all forms of social

inequality and discrimination.

Keywords: Teaching of Science, Stereotype, Racial -Ethnic Relations.

O presente artigo busca contribuir na educação das relações étnico-raciais e no

Ensino de Ciências enfocando o conceito de estereótipos e a sua construção sobre povos

africanos e afro-brasileiros, e questões articuladas à superação desse estereótipo ao

analisar e refletir valorização da diversidade étnico-racial na área da Ciência presente na

atuação profissional de cientistas negros.

Tendo por objetivo realizar sucinta reflexão a partir da apresentação de algumas

considerações relevantes referente ao processo das relações étnico-racial e Ciência,

estereótipos e cientistas negros, a partir da reflexão de concepções e questões

importantes já discutidas por alguns estudiosos como MUNANGA (2005),

FERNANDES (1978), GOMES (2005), BENTO (1998), GODINHO (2005) e entre

outros.

Consequentemente dar se o início da definição do que seja estereótipoii derivado

do termo de pintores de pratos de um molde (originalmente do grego stereos para

sólidos), a expressão refere-se a uma impressão mental fixa. Segundo Gordon Allport:

A define “uma crença exagerada associada a uma categoria”. Essa definição

implica uma discrepância entre a realidade objetivamente discernível e a

percepção subjetiva dessa realidade. (CASHMORE apud ALLPORT, 1996).

No campo das relações raciais e étnicas, um estereótipo e frequentemente

definido como uma generalização excessiva a respeito do comportamento ou de outras

características de membros de determinados grupos. Os estereótipos étnicos e raciais

podem ser positivos ou negativos, embora sejam, com maior frequência, negativos.

Mesmo os ostensivamente positivos podem comumente implicar uma avaliação

negativa. Assim, dizer que os negros são musicais e tem um bom ritmo aproxima-se do

estereótipo mais abertamente negativo de que eles são infantis e eternamente felizes.

Em outras palavras, estereótipo é uma visão simplificada e carregada de valores

sobre as atitudes de uma pessoa ou um grupo social. Estas visões podem estar baseadas

em culturas sexistas, racistas ou preconceituosas e são altamente resistentes às

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mudanças. O estereótipo segundo alguns estudos é mais marcante nos produtos da mídia

de massa, na educação, no trabalho e nos esportes (quando se pretende dirigir os

indivíduos para as atividades considerados apropriados ao grupo estereotipado).

O Estereótipo cristaliza lugares sociais para as pessoas que dele são vítimas

porque não compreende a ideia de que estas pessoas possam fazer coisas para além do

lugar imaginado. Na escola, indivíduos de determinados grupos são considerados

inteligentes e outros, de outros grupos não recebem a mesmo conceito. Quando um

aluno do grupo estereótipo apresenta desempenho fora do esperado é considerado

exceção da regra. Algumas frases colhidas em pesquisas nas escolas exemplificam

formas de estereótipos: “Ele é negro, mas é esforçado”; “Ela é pobre mas é esperta”,

“Ele é pretinho mas é educado”, “Ele é da família Silva? Ah! Então não tem jeito”. O

estereótipo como bem lembra Bento, “É algo que funciona como um carimbo, a partir

do que a pessoa é vista sempre através de uma marca, pouco importando como

realmente ela seja”.

Segundo Bento (1998), o conceito de estereótipo se refere a uma crença

exagerada associada a uma categoria de pessoas, e é isto, de certa forma a sociedade

brasileira, vem reproduzindo ao longo de sua existência. Os estereótipos a respeito do

negro de seu legado cultural “atrasado” percorreram todo o século XIX e também

grande parte do século XX, pois a crença na superioridade dos “valores civilizatórios

europeus” impediu na prática que pudéssemos enxergar que os negros realizaram

também produção de conhecimento, e, portanto, uma produção científica de caráter

étnico, isto é afro - brasileira e africana, ainda que não atenda aos cânones impostos pela

academia.

A força ideológica dos estereótipos produzido a respeito do negro no Brasil é tão

grande, que mesmo um dos maiores cientistas sociais brasileiros Florestan Fernandes

em certo momento da sua produção acadêmica, assim se referiu a sabedoria africana que

os negros brasileiros herdaram:

Ao se reeducar para o sistema de trabalho livre, o “negro” repudia sua

herança cultural rústica e o ônus que ela envolvia. Vence hábitos, avaliações

e comportamentos pré-capitalistas ou anticapitalistas. E descobre uma

posição que o nivela, material e socialmente, ao “branco” - a que é oferecida

por sua ocupação. (...) Ao mesmo tempo, a conquista de uma situação de

classe real insere o “negro nas reivindicações de classe e nas pugnas

ideológicas que dividem a sociedade. (FERNANDES, 1978 p.154 -155).

Um fato interessante ao verificar na tese de Florestan é a crença na superioridade

técnica e moral do trabalhador europeu e que processo de marginalização que o negro

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sofre dentro da sociedade de classes acontece porque este não conseguiu se ajustar as

exigências e as técnicas do trabalho capitalista por causa da permanência de valores

culturais da ordem tradicionalista em suas consciências.

Além disso, estereótipo é um conceito muito próximo do de preconceito, ou seja,

os estereótipos raciais ou étnicos são geralmente expressões de preconceito contra os

grupos em questão. O preconceito é uma opinião preestabelecida, que é imposta pelo

meio, época e educação. Com base em estereótipos, as pessoas julgam as outras. Por

isso o preconceito é um fenômeno psicológico.

O estereótipo é a prática do preconceito. É a sua manifestação

comportamental. O estereótipo objetiva (1) justificar uma suposta

inferioridade; (2) justificar a manutenção do status quo; e (3) legitimar,

aceitar e justificar: a dependência, a subordinação e a desigualdade.

(MUNANGA, 2005 p.65).

Nesse sentido, se faz necessário abordamos a construção do estereótipo na

sociedade a partir de um breve histórico que contribuiu para o imaginário social

estereotipado do negro no Brasil. Nós brasileiros temos o conhecimento que durante três

séculos (XVI-XIX) oficialmente o Brasil foi uma nação escravocrata e que o tráfico

negreiro africano era o principal sustentáculo da economia colonial. É assim que o

negro se insere na sociedade brasileira: através da diáspora africana.

Nesse contexto, ainda na época da colonização com escravidão dos povos

africanos, que no Brasil se constrói as bases do racismo que consequentemente concebe

o preconceito, estereótipo e discriminação. Primeiramente com discurso tão influente

quanto o escolar, dos meios de comunicação e do científico, atuou de uma forma

violentamente eficiente na formação do imaginário negativo sobre o negro: o

pronunciado nos púlpitos eclesiásticos pelos Padres da Companhia de Jesus, os Jesuítas.

Uma das afirmações mais danosas para o imaginário contra o negro, foi sem

dúvida a condenação divina dos negros a escravidão. É a Maldição de Cam, episódio

citado no Antigo Testamento (Gênesis 9: 18-27), de acordo com FILHO (2004),

Maldito seja Canaã! Que ele seja, para seus irmãos, o último dos escravos.

Bendito seja Iahweh, o Deus de Sem e que Canaã seja seu escravo! Que Deus

dilate a Jaffé, que ele habite nas tendas de Sem e que Canaã seja seu

escravo!. (FILHO apud BOSI, 1992 p.57).

Alguns membros da Igreja inferiram e proliferaram a teoria de que os negros

africanos eram descendentes de Cam/Canaã, podendo assim serem escravizados:

“...camitas seriam ao povos escuros da Etiópia, Arábia do Sul, da Núbia, de Trípoli, da

Somáliaiii ...

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Tais teorias racistas estabelecem uma hierarquia de raças, colocando o negro

africano como inferior e a escravidão como algo natural.

“Desta forma, foi construída uma visão estereotipada do negro, além de uma

série de mecanismos e políticas de exclusão de descendentes de africanos na

sociedade brasileira, o que percebemos ainda hoje, já que a construção desta

idéia de superioridade da raça branca atinge diretamente autoestima da

população negra, que além de carregar estes estereótipos, sofre com os

reflexos de uma abolição incompleta, que liberta o povo negro da escravidão,

mas, contraditoriamente, o aprisiona, já que o obriga a viver às margens da

sociedade. Isto é melhor compreendido quando consideramos que na

condição de escravo, o negro desempenhava, na maioria das vezes, os

serviços braçais, e, após a libertação, o pensamento escravista não é capaz de

realizar a transferência do negro do campo de escravo para o de trabalhador

assalariado, e assim ele acaba por ser considerado “incapaz” de

desempenhar a função que antes desempenhava, sendo substituídos por

mão-de-obra imigrante, dificultando, assim, a inserção da população negra

neste novo sistema de captação de mão-de-obra”iv.

Segundo FILHO (2004), a relação negro=escravo< >escravo=negro é

naturalizada pela população e admitida até hoje em conjunto com a culpabilização do

negro pela sua condição de escravo. Da mesma forma a alegada incapacidade biológica

de ação e reação do negro se reflete atualmente na inserção deste no mercado de

trabalho e na aceitação de sua ausência no quadro das profissões de maior

reconhecimento social que possibilita o poder de mandar.

Nessa perspectiva, faz-se necessário resgatar os saberes científicos do povo

negro bem como sua identidade na luta contra a opressão e a marginalização sofrida ao

longo da história.

Breve processo histórico da educação do negro no Brasil

Em uma sociedade econômica e cultural tão díspar como a da sociedade

brasileira faz se necessário um breve relato da história para se compreender a situação

do negro no contexto atual. Afinal, a diferença na forma de tratamento dada às

populações pobres e carentes, em especial às negras, salta aos olhos, e cabe a nós pensar

o negro na História da Educação no Brasil.

Desde o início da colonização a educação tinha por finalidade a catequização

dos nativos, os jesuítas foram assim os primeiros mestres. A opção foi por uma

educação livresca, importada, pautada exclusivamente na religião com o passar dos

tempos surgiram às escolas de “primeira letra” diferenciadas por gêneros e disciplinas,

neste momento surge à educação dualista, uma para os meninos e outras para as

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meninas, com ensino diferenciado, mesmo assim não se permitia a presença dos

escravizados como mostra a lei (art.6 da constituição de 1824)v. Com isso, coibia o

ingresso dos escravizados que eram, em larga escala, africanos de nascimento. Como

consta:

“A Reforma Couto Ferraz (Decreto n°1.331, de 17 de fevereiro de 1854)

instituía a obrigatoriedade da escola primária para crianças maiores de 7 anos

e a gratuidade das escolas primárias e secundárias da Corte. Ressaltam-se

dois pontos que denotam a ideologia da interdição: não seriam aceitas

crianças com moléstia contagiosas e nem escravas, e não haveria previsão de

instrução para adultos (ARAÚJO, LUZIO, 2005).”

Técnicas rudimentares de leitura e escrita e a aprendizagem de ofícios que

beneficiariam financeiramente os senhores por meio dos “escravos de aluguéis” e

“escravos de ganho” foram as “possibilidades” educacionais oferecidas aos escravos.

Em contrapartida, formavam sociedades secretas “uma espécie de franco-

maçonaria cuja palavra de ordem era proteção mútua” (GARCIA apud, COSTA, apud

Araújo, 2005). Essa é uma das explicações para o fato de haver preto e pardo

alfabetizados e multilíngue. Apesar das restrições os letrados ensinariam aos outros.

O combate ao analfabetismo e à introdução da formação patriótica por meio do

ensino cívico permite inferir sobre o caráter disciplinador e de controle social, que

empregava as reformas educacionais no início da primeira República. Araújo e Luzio

(2005) destacam a cobrança de taxas e o estabelecimento de exames de admissão a

Reforma Rivadávia Corrêa (1911), visto que suprimia o caráter oficial do ensino e se

articulava a interdição dessas populações negras e de outros segmentos menos

privilegiados.

As oportunidades educacionais para essas populações só serão mais perceptíveis

no início as reivindicações dos movimentos negros na década de 30, surge efeito nos

anos 70com ingresso maior da população de baixa renda a qual é constituído em sua

maioria por negros. No entanto, perceber-se que o aluno negro não se reconhece dentro

do ambiente escolar já que o currículo não valorizava a diversidade cultural.

O currículo escolar geralmente não leva em conta as vivências do aluno,

impondo-se como única forma de saber no interior do processo formar de

educação, acaba por esconder sob sua aparência de universalidade outro

currículo. (MUNANGA, apud MOURA. 2005, p. 72).

Os gráficos a seguir demonstram como a escolar precisam modificar sua prática

educacional:

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FONTE: GODINHO, et al ( 2005, p. 97).

FONTE: MEC/INEP/DEAS – ENC/2003.

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A obrigatoriedade do ensino de História e da Cultura Africana e Afro-brasileira

em todas as escolas do país representa uma vitória do povo negro e a esperança de se

construir uma educação pautada no respeito e na valorização da diversidade cultural do

Brasil. Bem como aumentar o ingresso e a permanência dos negros em todos os níveis

de ensino rompendo assim, o circulo vicioso de uma educação preconceituosa e elitista.

A lei 10.639/03 no ensino de Ciências Naturais e suas contribuições na sala de aula

Segundo reza as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, o ensino

de Ciências Naturais poderá contribuir para o tratamento adequado dessa matriz

cultural, tão presente no cotidiano dos brasileiros, principalmente os de ascendência

africana.

O ensino de Ciências Naturais tem um papel considerável na promoção das

relações étnico-raciais e por meio da lei 10639/03 e o parecer CNE/CP 003/004 esse

ensino traz à prática educativa um desafio à altura das necessidades de nossa sociedade,

que é o processo de reeducação das relações étnico-raciais vividas no Brasil. Ao fazer

uma análise da legislação vigente pode-se perceber que essa reeducação vai ao encontro

do ensino de Ciências, e todos os componentes curriculares no contexto para a formação

da cidadania.

Quando se enfatiza a interação entre ensino de Ciências e cidadania vale

ressaltar que está sustentada pela legislação educacional e pelos textos normativos que

orientam o ensino de Ciências. Essa centralidade se manifesta nas disposições gerais

para a Educação básica, art.22 da referida lei:

“... A educação básica tem por finalidade desenvolver o

educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável

para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para

progredir no trabalho e em estudos posteriores. (BRASIL,

1996, grifo nosso).

Tendo em vista o intuito de educar para o exercício pleno da cidadania é preciso

que na prática pedagógica do ensino de Ciências os educadores proponham

questionamentos de forma concreta em que esse ensino possa contribuir para a

valorização da história e cultura africana e afro-brasileira. Neste trabalho será abordado

a respeito da superação de estereótipos presente nas profissões bem como da existência

e valorização de cientistas negros.

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Dessa forma podemos sugerir abordagens que no ensino de Ciências discutam o

conhecimento científico sobre a vida social quando nos propomos a conhecer e

reconhecer cientistas negros em nossa sociedade, levando em consideração o contexto

histórico. Vale ressaltar ainda que quando nos propomos a conhecer cientistas negros e

superar estereótipos dos mesmos no meio científico, com base em conhecimentos

produzidos pelas Ciências Naturais podemos promover essa superação de inferioridade

e valorizar a diversidade étnico racial. Para tanto podem ser desenvolvidas atividades

que contemplem o conceito biológico de raças humanas além da conceituação do que

seja estereótipo.

A pesquisa deve contar com uma análise crítica pautada em conhecimentos

sólidos das Ciências Naturais em relação a aspectos genéticos, evolução

concomitantemente relacionado às Ciências humanas com aspectos referentes à

sociologia, a antropologia. Nesse sentido questões específicas podem ser apontadas

referentes à evolução humana, como a origem africana da humanidade, a formação dos

grupos étnico raciais, e a evolução de caracteres, a fim de superar visões estereotipadas

sobre as relações étnico-raciais por meio de estímulo à crítica, embasada em

conhecimento científico, às falsas ideias sobre superioridade/inferioridade biológica

intelectual de certos grupos étnico-raciais em relação aos outros. No que tange as

profissões questões estereotipadas serão demonstradas a posteriori que também neste

caso abarcam a ideia de inferioridade.

As Ciências Naturais, explica a vida e ter conhecimento científico é como uma

“uma janela para entender a vida”. Este ensino é importante porque está relacionado

com o mundo, com a vida e com o corpo, e inclusive, pode transformar os alunos em

melhores cidadãos. Além de superar o possível “medo da ciência” e estimular os

estudantes entender que podem ser cientistas.

O professor ensina de forma a fazer com que os alunos compreendam que as

Ciências Naturais devem servir as comunidades. Na sociedade atual muitos dos negros

tem opções de vida limitada e que muitas das vezes só veem a chance de ser traficante

ou jogador de futebol. Com o ensino de Ciências o professor poderá demonstrar aos

alunos outras opções de formação desmistificando questões que delimitam os jovens

negros no mercado de trabalho.

A lei federal 10639/03 vem para desmistificar e romper com os ranços do

passado, contribuindo com os novos paradigmas na construção de uma sociedade mais

igualitária pautada no respeito às diferenças étnico raciais do povo brasileiro.

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Uma vez que esta lei traz à sala aula a possibilidade de se conhecer, valorizar e

respeitar a história e a cultura da África e dos Afro-Brasileiros, a qual e rico em

conhecimentos científicos, bem como tecnológicos e agrônomos e pecuaristas, além de

dominarem técnicas do ferro, astronomia, cálculo matemático e da escrita que lhe foram

roubadas ao longo da história.

Por isso, a importância da lei 10639/03 para a implementação da reeducação das

relações entre negros e não-negros.

A desmistificação dos estereótipos no mercado de trabalho

A desigualdade social no Brasil tem raízes profundas do tempo da escravidão,

historicamente a população negra foi excluída, dos diferentes espaços de prestígio tanto

social, econômico e cultural os negros são discriminados no mercado de trabalho,

ficando quase sempre nos setores mais desfavorecido da sociedade

O preconceito ainda que não verbalizado, ocorre constantemente de forma

velada, ainda hoje em nossa sociedade, após 122 anos do fim da escravidão, o mito da

democracia racial permite certa normalidade entre as classes sociais, a qual só é

quebrada quando há uma ascensão profissional do negro ocupando espaços que em um

passado não muito longe só eram ocupados por branco.

Assim se torna mais claro quando percebe- se os incidentes que acontece

envolvendo profissionais negros que exerce cargos ou profissões consideradas

pertencente às classes dominantes, que por sua vez são na maioria branca, os médicos

negros, por exemplo, que muitas vezes são confundidos com auxiliares de enfermagem

ou com outro profissional.

Ao contrário devido a esses estereótipos enraizados na sociedade Brasileira

temos uma vez: “apenas 2% dos negros brasileiros, segundo as estáticas, conseguem

chegar ao curso superior. Desta, uma parcela muito pequena faz medicina, curso em

período integral que exige dedicação exclusiva.

Mesmo assim, ano, após ano, vem aumentando o número de médicos e

médicas negras, e o mais incrível é que depois de superar todas as

dificuldades para conseguir o diploma, eles ainda tem que aprender a

conquistar a clientela que, muitas vezes, olha torto para o “doutor negro”.

(OSWALDO FAUSTIN, Revista Raça, nº. 32, 1999, p.42).

Como relata o doutor Antônio Ananias Filho pediatra – em entrevista a revista

Raça “ouvi mais de uma vez:”, mas ele é médico? Como pode? Pensei que fosse um

enfermeiro “” ou ainda o doutor Luis Augusto Pereira cirurgião plástico em entrevista a

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mesma revista “temos que trabalhar muito mais para obter o mesmo resultado que um

médico branco teria”,

Os negros desde o início da história do Brasil foram destinados a trabalhos

braçais, os quais segundo os portugueses não tinha outra serventia, se não a este fim, é

deste pensamento que advêm à ideia que até hoje é muito presente em nosso meio. É

isto que explica e justifica os estereótipos em cargos que não se via a presença da

população negra, ainda causarem certo espanto.

O negro que conquista alguma mobilidade social e econômica tem a crença de

que são frutos dos esportes e da música, mas especificamente do futebol ou do samba,

do pagode ou coisa do gênero. Este tipo de pensamento reforça a crença que o negro é

inferior e que só tem habilidade com o físico, não sendo possuidor de capacidade

intelectual mais elaborada.

O trabalhador negro vem sofrendo há séculos com a discriminação uma vez que

deste o fim da escravidão não se implantou políticas públicas voltadas para o combate

às desigualdades que envolvem especificamente este grupo étnico racial.

Pesquisa realizada pela DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e

Estudo Socioeconômicos mostra o tratamento desigual que o trabalhador negro recebe

do mercado. Veja o quadro:

(em 1.000 pessoas)

CIDADE POP. TOTAL POP. NEGRA %

SALVADOR 2.790 2.265 81,1%

RECIFE 3.210 2.054 64,0%

BRASÍLIA 1.691 1.078 63,7%

BELO HORIZONTE 3.954 2.048 51,8%

SÃO PAULO 17.039 5.626 33,0%

PORTO ALEGRE 3.491 412 11,8%

“A pesquisa mostra dados duros de uma realidade perversa, doente de

discriminação. Agora temos de trabalhar muito para mudar esse quadro nos

locais de trabalho. Felizmente, algumas empresas já começam a se

sensibilizar com a questão e estão adotando políticas internas contra a

discriminação” (Vicentinho, Revista Raça, nº. 40, 1999, p. 80)

Assim como as empresas, as escolas também têm um papel importante na

construção desta nova sociedade com a implementação da lei 10.639/03, as instituições

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de ensino devem implementar em seus currículos e ensinar a História e a Cultura da

África e Afro- brasileira, com isto abre-se um leque de oportunidades para o povo

brasileiro conhecer a verdadeira história sobre os negros que ainda hoje é pouca

conhecida por uma grande parte da sociedade. Os alunos ao estudarem sobre a história

deste povo guerreiro irão se surpreender com os avanços tecnológicos e científicos que

os povos africanos trazem de seus ancestrais, bem como conhecer cientistas negros que

inventaram coisas maravilhosas, e de grande importância para a sociedade do mundo

inteiro. O que sem sombra de dúvidas ajudar a desmistificar os estereótipos a respeito

do povo negro, e a desconstruir o preconceito que ainda perpassa em todos os lugares

que o negro se faz presente.

Construção de Aprendizagens e Conhecimento Relacionado às Relações Étnico-

raciais e Ciência

A reforma da educação e as reformas consequentes foram alheias à questão

étnico racial. Mesmo após criação da lei n° 9.394/96: Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, não se abrange um currículo e questões a uma nova formação para

a educação das relações étnico-racial, foi preciso à criação da Lei n° 10.639/03 que

altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e inclui no currículo oficial da

rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e

Africana, é preciso ter clareza que o Ar t. 26A acrescido à Lei 9.394/1996 provoca bem

mais do que inclusão de novos conteúdos, exige que se repensem relações étnico-

raciais, sociais, pedagógicas, procedimentos de ensino, condições oferecidas para

aprendizagem, objetivos tácitos e explícitos da educação oferecida pelas escolas. Ou

seja, os estabelecimentos de ensino e os professores, com base neste parecer, deve

estabelecer conteúdos de ensino, unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo

os diferentes componentes curriculares.

É importante ressaltar que trabalhar com essa dimensão das relações étnico-

raciais não necessariamente significa transformá-las em conteúdos escolares, mas

compreendê-las como constitutivas da formação humana e presentes no cotidiano

escolar.

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Nessa perspectiva, contribuindo com a inserção da lei 10.639 ao ensino de

Ciência nas práticas escolares de construção de aprendizagens e conhecimento

relacionado às relações étnico-raciais, o artigo apresenta como proposta pedagógica o

tema: Cientistas Negros e a Superação dos Estereótipos Presentes nas Profissões.

Em que pressupõe que uma das opções para se ensinar Ciências, é através de sua

História. Além disso, inúmeras são as possibilidades de abordagem que segue como

sugestão de atividades dirigidas.

Têm-se como pressuposto o público-alvo do ensino fundamental do 6º ao 9º

Ano e Ensino médio que irá conhecer diferentes cientistas negros, e ainda, desmistificar

o imaginário social racista perpetuado no meio acadêmico, na qual a população negra é

vista estereotipada, inferiorizada e incapaz de produzir ciência e tecnologia.

O trabalho pedagógico poderá analisar e conhecer quais estereótipos persistentes

no imaginário dos alunos (as), assim a proposta será evidenciada por atividades

dirigidas abaixo citadasvi:

1. Texto: “Curiosidade sobre uma raça – algo a se pensarvii”, planejar com

os alunos (as) aula-pesquisaviii, que abordará a partir da apresentação aos

alunos (as), invenções de cientistas negros afro- americanos. Invenções

estes objetos de uso cotidiano: tábua de passar, escova de cabelo,

elevador, apontador de lápis, ar condicionado, geladeira entre outros.

Então porque não inserir a esse tema cientistas negros e suas invenções.

Por exemplo, o pai da medicina não foi Hipócrates, mas Imhotepix,

médico negro que viveu dois mil anos antes do médico grego.

2. Música: Negro Drama de Racionais Mc's. Levantar discussões na sala de

aula, relacionada às questões do estereótipo do negro bandido. Já que os

integrantes do movimento hip-hop têm uma visão estereotipada de

serem pessoas “bagunceiras”; negro presidiário e traficantes de drogas.

Daí a necessidade de perceber que não basta apenas ouvir as músicas,

mas fazer uma (re) leitura e interpretação profunda na estrutura das

letras de Rap e Hip Hop. Visto que, o rap é uma forma de crítica de um

sistema social e político, desigual e excludente, onde o tom de revolta é

o que marca o ritmo.

3. Vídeo. A utilização do vídeo como sensibilização e conteúdo de ensino

para introduzir e despertar curiosidade, motivação para novos temas. De

forma direta e/ou indireta, ou seja, forma direta quando informa sobre

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um tema especifico orientando sua interpretação e forma indireta,

quando um tema permitir abordagens múltiplas e interdisciplinares.

Vídeos: 3.1- “Heróis de Todo Mundo – A Cor da Cultura”, excelente

recurso didático para desmistificar a cor da pele relacionada com a

capacidade intelectual dos indivíduos. Ressaltar a presença de um

cientista negro afro-brasileiro. 3.2- “Mãos talentosas”, cujo enfoca a

história de um médico negro, que vence todos os preconceitos e

estereótipos para exercer sua profissão. 3.3- “Documentário- Olhos

Azuis” aborda e insere o debate sobre o preconceito, o racismo e o

estereótipo a começar pela cor dos olhos.

Com o objetivo de possibilitar reflexões, discussões e debate crítico sobre a

construção dos estereótipos negativos acerca dos negros (as) na sociedade brasileira;

permitindo desnaturalizar os preconceitos e estereótipos que permeiam as questões raça

e etnia na história da profissão e os estereótipos que afetam os profissionais negros.

Sendo relevante destacar o papel do professor ao tratar as questões étnico-raciais

cabe ao mesmo, pesquisar, (re) planejar, selecionar conteúdos e materiais de acordo

com seus objetivos. Uma vez que desconstruir o aspecto negativo de ser negro é tentar

mostrar que existem outras comparações muito mais positivas e desprovidas de

pejoratividade. Na expectativa da inserção da Lei 10.639/03 juntamente com o ensino

de ciência devemos considerar o contexto social dos (as) alunos (as), e da mesma forma,

os espaços que estes alunos (as) ocupam (família, escola, lazer e religião) como fator

primordial para o êxito do trabalho com a diversidade cultural no âmbito escolar, e, mas

especificamente com a questão racial.

Enfim, contribuir para a construção de uma identidade positiva nos alunos

afrodescendentes e se distanciar dos estereótipos, aos quais, culturalmente, a população

brasileira está acostumada.

Conclusão

Como se procurou mostrar no Ensino de Ciências, assim como todos

componentes curriculares tem papel fundamental na desmistificação de estereótipos

presentes no mercado de trabalho tendo como proposta o reconhecimento de cientistas

negros no meio acadêmico valorizando os saberes na ciência. Pautando-se nas temáticas

e questões apresentadas : Breve processo histórico da educação do negro no Brasil; A

lei 10.639/03 no ensino de Ciências Naturais e suas contribuições na sala de aula; A

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desmistificação dos estereótipos no mercado de trabalho; Construção de Aprendizagens

e Conhecimento Relacionado às Relações Étnico-raciais e Ciência, temos embasamento

para a construção de uma prática pedagógica no ensino de ciências mais consciente da

verdadeira história do povo negro, bem como de papel social e reconhecimento na

sociedade.

Por meio deste artigo e das análises discutidas, esperamos contribuir para o

fomento do debate e pesquisa sobre o papel de ensino de ciências na formação de

cidadãos. Essa formação deve contemplar a construção de relações sociais positivas do

negro e o engajamento em lutas por eliminação de quaisquer formas de desigualdade

social e de discriminação.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações étnicorraciais e para o

ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana Orientações e Ações para a

Educação das Relações Étnico-racias, Brasília SECAD, 2006.

BRASIL. Lei Federal nº. 10.639, de 09 de Janeiro de 2003.

Altera a Lei n.º. 394, de 20 de dezembro de 1996 (estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade

da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências).

BENTO, Maria Aparecida S. Cidadania em Preto e Branco: Discutindo as relações

raciais. São Paulo: Editora Ática, 1998.

BOSI, Alfredo – Dialética da Colonização – São Paulo: Companhia das Letras, p.411,

1992.

CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. Ed. Selo Negro, 1996.

FERNANDES, Florestan. A Integração do Negro na Sociedade de Classes. 3ª ed. São

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GARCIA, Renísia Cristina. Identidade fragmentada: um estudo sobre a história do

negro na educação brasileira: 1993-2005. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, 2007.

GODINHO, Tatau et al. ( Orgs). Trajetória da mulher na educação brasileira: 1996-

2003. Brasília: Inep, 2005.

GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações

raciais no Brasil: uma breve discussão. In: Educação antirracista: caminhos abertos

pela lei 10.639/03. Brasília. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e

Diversidade. MEC, 2005, p 39-62.

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MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas

tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.

MUNANGA, K. Superando o Racismo na Escola. Brasília, Ministério da Educação,

p. 62-65, 2005.

Artigo: “Quem Somos? – A Quebra Dos Estereótipos em Busca Da Identidade Afro-

Descendente: Proposta de Educação Anti-Racista”. 2005.

Artigo: A Questão do Negro no Curso de Formação em Serviço Social da Universidade

Federal Fluminense. José Barbosa da Silva Filho Niterói – RJ, p. 32-42, 2004.

REVISTA RAÇA-ANO 4 N°32, Editora Símbolo, Abril, 1999.

REVISTA RAÇA-ANO 4 N°40, Editora Símbolo, Dezembro1999.

Sites

• www.africaeafricanidades.com

• www.inep.gov.br

• www.acordacultura.org.br

ANEXOS ATIVIDADES DIRIGIDAS

• TEXTO: Curiosidade sobre uma raça

Curiosidade sobre uma raça Algo a se pensar... Essa é a história de um garoto chamado Theo que acordou um dia e perguntou a sua mãe:

"Mãe, o que aconteceria se não existissem pessoas negras no mundo?” Sua mãe pensou por um

momento e então falou: "Filho, siga-me hoje e vamos ver como seria se não houvesse pessoas

negras no mundo". E, então, disse: "Agora vá se vestir e nós começaremos". Theo correu para

seu quarto e colocou suas roupas e sapatos. Sua mãe deu uma olhada nele e disse: "Theo, onde

estão seus sapatos? E suas roupas estão amassadas, filho, preciso passá-las".

Mas quando ela procurou pela tábua de passar, ela não estava mais lá. Veja, Sarah Boone, uma

mulher negra, inventou a TÁBUA DE PASSAR ROUPA. E Jan E. Matzelinger, um homem

negro, inventou a MÁQUINA DE COLOCAR SOLAS NOS SAPATOS.

"Então... - ela falou - Por favor vá e faça algo em seu cabelo." Theo decidiu apenas escovar seu

cabelo, mas a escova havia desaparecido. Veja Lydia O. Newman, uma mulher negra inventou

a ESCOVA.

Ora, essa foi uma visão... nada de sapatos, roupas amassadas, cabelos desarrumados. Mesmo o

cabelo da mãe, sem as INVENÇÕES PARA CUIDAR DO CABELO feitas por Madame C.J.

Walker. Bem vocês podem vislumbrar.

A mãe disse a Theo: "Vamos fazer nossos trabalhos domésticos e, então, iremos ao mercado". A

tarefa de Theo era varrer o chão. Ele varreu, varreu e varreu. Quando ele procurou pela pá de lixo, ela não estava lá. Lloyde P.

Ray, um homem negro, inventou a PÁ DE LIXO. Ele decidiu, então, esfregar o chão, mas o

esfregão tinha desaparecido.

Thomas W. Stewart, um homem negro, inventou o ESFREGÃO. Theo gritou para sua mãe:

“Não estou tendo nenhuma sorte!

"Bem, filho, deixe-me terminar de lavar estas roupas e prepararemos a lista do mercado".

Quando a lavagem estava finalizada, ela foi colocar as roupas na secadora, mas ela não estava

lá. Acontece que George T. Samon, um homem negro, inventou a SECADORA DE ROUPAS.

A mãe pediu a Theo que pegasse papel e lápis para fazerem a lista do mercado. Theo correu

para buscá-los, mas percebeu que a ponta do lápis estava quebrada.

Bem... ele estava sem sorte, porque John Love, um homem negro, inventou o APONTADOR

DE LÁPIS. A mãe procurou por uma caneta, mas ela não estava lá, porque William Purvis, um

homem negro, inventou a caneta-tinteiro.

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Além disso, Lee Burridge inventou a MÁQUINA DE DATILOGRAFIA e W. A. Lovette, a

prensa de impressão avançada. Theo e sua mãe decidiram, então, ir direto para o mercado. Ao

abrir a porta, Theo percebeu que a grama estava muito alta. De fato, a MÁQUINA DE

CORTAR GRAMA foi inventada por um homem negro, John Burr.

Eles se dirigiram para o carro, mas notaram que ele simplesmente não sairia do lugar. Isso

porque Richard Spikes, um homem negro, inventou a MUDANÇA AUTOMÁTICA DE

MARCHAS e Joseph Gammel inventou o SISTEMA DE SUPERCARGA PARA OS

MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA.

Eles perceberam que os poucos carros que estavam circulando, batiam uns contra os outros, pois

não havia sinais de trânsito. Garret A. Morgan, um homem negro, foi o inventor do

SEMÁFORO. Estava ficando tarde e eles, então, caminharam para o mercado, pegaram suas

compras e voltaram para casa. Quando eles iriam guardar o leite, os ovos e a manteiga, eles

notaram que a geladeira havia desaparecido. É que John Standard, um homem negro, inventou

a GELADEIRA.

Colocaram, assim, as compras sobre o balcão. A essa hora Theo começou a sentir bastante frio.

Sua mãe foi ligar o aquecimento. Acontece que Alice Parker, uma mulher negra, inventou a

FORNALHA DE AQUECIMENTO. Mesmo no verão eles não teriam sorte, pois Frederick

Jones, um homem negro, inventou o AR CONDICIONADO. Já era quase a hora em que o pai de Theo costumava chegar em casa.Ele normalmente voltava

de ônibus. Não havia, porém, nenhum ônibus, pois seu precursor, o BONDE ELÉTRICO, foi

inventado por outro homem negro, Elbert R. Robinson.

Ele usualmente pegava o elevador para descer de seu escritório, no vigésimo andar do prédio,

mas não havia nenhum elevador, porque um homem negro, Alexander Miles, foi o inventor do

ELEVADOR. Ele costumava deixar a correspondência do escritório em uma caixa de correio

próxima ao seu trabalho, mas ela não estava mais lá, uma vez que foi Philip Downing, um

homem negro, o inventor da CAIXA DE CORREIO para a colocação de cartas e William

Berry inventou a máquina de CARIMBO E DE CANCELAMENTO POSTAL.

Theo e sua mãe sentaram-se na mesa da cozinha com as mãos na cabeça. Quando o pai chegou,

perguntou-lhes: "Por que vocês estão sentados no escuro?". A razão disso? Pois, Lewis Howard

Latimer, um homem negro, inventou o FILAMENTO DE DENTRO DA LÂMPADA

ELÉTRICA.

Theo havia aprendido rapidamente como seria o mundo se não existissem as pessoas negras.

Isso para não mencionar o caso de que pudesse ficar doente e necessitar de sangue. Charles

Drew, um cientista negro, encontrou uma Forma Para Preservar e Estocar O Sangue, o que o

levou a implantar o primeiro banco de sangue do mundo. E se um membro da família precisasse

de uma cirurgia cardíaca? Isso não seria possível sem o Dr. Daniel Hale Williams, um médico

negro, que executou a primeira CIRURGIA ABERTA DE CORAÇÃO. Então, se você um dia imaginar como Theo, onde estaríamos agora sem os Negros? Bem, é relativamente fácil de ver. Nós ainda estaríamos na ESCURIDÃO. Autor desconhecido ou ignorado

• MÚSICA : Negro Dama de Racionais MC´s. Negro Drama é uma canção

do grupo de rap brasileiro Racionais MC's, lançada no álbum Nada como

um Dia após o Outro Dia, em 2002. Com quase sete minutos de duração,

"Negro drama" é uma reflexão crítica de Edi Rock e Mano Brown, sobre

o sucesso que o grupo atingiu ao longo dos anos, em um país no qual os

negros brasileiros, mais especificamente os da periferia de São Paulo,

que são alvo de exclusão socioeconômica.

VÍDEOS: 1. filme: Mãos Talentosas SINOPSE: Ben Carson (Cuba

Gooding Jr.) era um menino pobre de Detroit, desmotivado, que tirava

más notas na escola. Entretanto aos 33 anos, ele se tornou o diretor do

Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário Johns

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Hopkins, em Baltimore, EUA. Em 1987, o Dr. Carson alcançou renome

mundial por seu desempenho na bem-sucedida separação de dois gêmeos

siameses, unidos pela parte posterior da cabeça - uma operação complexa

e delicada que exigiu cinco meses de preparativos e vinte e duas horas de

cirurgia. Sua história, profundamente humana, descreve o papel vital que

a mãe, uma senhora de pouca cultura, mas muito inteligente,

desempenhou na metamorfose do filho, de menino de rua a um dos mais

respeitados neurocirurgiões do mundo. 2. Documentário: “Olhos azuis”.

SINOPSE: Através da coragem e determinação de uma mulher, a

professora aposentada, Jane Elliott, o racismo e as diferenças sociais nos

Estados Unidos são expostos de forma impactante. A professora

americana, em seu workshop, questiona, discute e instiga os espectadores

a despertar para a dura realidade em uma sociedade vista como livre e

justa. Toda a experiência, denominada The Eyes of Storm (Os Olhos da

Tempestade), ela mostra sem qualquer constrangimento as injustiças e

hipocrisias cometidas ao longo de décadas e que se refere também a

qualquer nação do mundo. Toda a lógica de seu depoimento causa certa

apreensão para questões até então esquecidas ou ignoradas. Até para

aqueles com um mínimo de sensibilidade, não há como não se emocionar

com seus relatos de perseguição, intolerância, e superação e talvez até se

identificar com seus próprios conceitos. E se depois de assistir os noventa

minutos do documentário ficar alheio ao mesmo, significa que não sabe o

que é o respeito ao próximo. 3. Documentário: Heróis de todo mundo

é uma série de Inter programas que quer mostrar ao público comum que

aqui mesmo, no Brasil, existem Heróis. Heróis porque quebraram

barreiras, que venceram apesar dos enormes obstáculos enfrentados, que

lutaram por uma vida melhor para todos. Ah! E são negros.

iEspecialização em História e Cultura Afro-brasileira e Africana-UFU. ii Dicionário das Relações Étnicas e Raciais, p. 193-195. iii (FILHO apud BOSI, 1992, p.257) iv Artigo: “Quem Somos? – A Quebra Dos Estereótipos em Busca Da Identidade Afro-

Descendente: Proposta de Educação Anti-Racista”. v Lei complementar a Constituição de 1824: pela legislação do império, os negros foram

impedidos de frequentar as escolas, pois eram considerados doentes de moléstias. vi Anexos atividades dirigidas. vii Ver em Anexo. viii Recurso a ser utilizada a Internet a partir do texto “Curiosidade sobre uma raça – algo a se

pensar”, em que os (as) alunos (as) em grupo, pesquisarão sobre vida e invenções dos cientistas

negros. ix Imhotep foi um misto de médico e mago. Os antigos egípcios o colocaram no plano de um

Deus, identificando-o como Asclépios (ou Asclépio ou Esculápio), deus da medicina. O

estudioso britânico Sir. William Osler (séc. XIX) disse sobre Imhotep: a primeira figura de um

médico a surgir claramente das névoas da antiguidade. Vale ressaltar que Hipócrates

considerado o fundador da medicina pelos europeus, atuava por volta de 460 a.C. na Grécia,

responsável pela convenção do chamado juramento hipocrático como compromisso profissional

do médico. Fazendo pouca ou nenhuma alusão a Imhotep em seus registros científicos.