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1 Andrea de Macedo Davis Inclusão de crianças com deficiência física no ambiente de escola infantil Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Educação 2008

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Andrea de Macedo Davis

Inclusão de crianças com deficiência física no

ambiente de escola infantil

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Educação

2008

2

Andrea de Macedo Davis

Inclusão de crianças com deficiência física no

ambiente de escola infantil

Trabalho apresentado como requisito para

conclusão da Habilitação Educação Infantil à

Comissão de professores responsáveis pelo Curso:

Profas. Dras. Maria Angela Barbato Carneiro, Maria

Anita V. Martins, Marisa Del Cioppo Elias, Mônica F.

V. Mendes, Neide de Aquino Noffs e Neide Barbosa

Saisi, sob a orientação da Profa. Dra Neide SaisI

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Educação

2008

3

Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, minha avó Myrian, minha mãe

Cynthia, por terem me ajudado durante a difícil vida acadêmica e por

terem sempre acreditado em minha capacidade de desenvolver e

aprender como todas as outras crianças. Agradeço meu pai Ricardo por

ter me suportado tanto economica quanto emocionalmente durante meus

quatro anos de estudo noturnos. Gostaria ainda de agradecer meu

namorado Rafael, por ter sido paciente com minhas ansiedades e

nervosismos, sempre compreendendo minhas ausências.

4

Dedicatória

Dedico esse trabalho a todas as crianças com deficiência física, e que com este, educadores passem a olhá-las com respeito e admiração.

5

Resumo:

O projeto, Inclusão de Crianças com Deficiência Física no Ambiente de Escola

Infantil, desenvolve uma pesquisa qualitativa de observação participante em uma

escola particular de São Paulo. Este tema foi escolhido por ser a pesquisadora uma

aluna com necessidades especiais e por não ter se sentido incluída, durante toda sua

vida acadêmica. O trabalho tem como finalidade compreender o significado teórico da

inclusão e como este repercute na escola em sua estrutura física e atitude

educacional de seus profissionais. O projeto se constitui em cinco capítulos. Cada um

define pontos fundamentais do processo de inclusão em escolas do ensino infantil.

No primeiro capítulo é reproduzida a historia da inclusão no mundo e no Brasil, seu

significado e sua importância na vida de crianças com necessidades especiais. No

capítulo seguinte é fundamentado o significado das palavras semelhança e diferença

para o desenvolvimento da aprendizagem e a construção de um sujeito que

reconhece as suas próprias peculiaridades, assim como às dos outros. Ainda neste

capítulo é descrito alguns tipos de deficiências, como: mental, auditiva, visual e física.

No terceiro capítulo é caracterizada a importância da educação infantil para o

desenvolvimento e aprendizagem da criança com ou sem deficiência. Portanto, o

ensino infantil promove não apenas o desenvolvimento da aprendizagem, mas

também a interação com as diferenças, os estímulos sociais e educacionais e a

atenção individualizada, que são fundamentais para as crianças com deficiências

físicas. A descrição e caracterização da escola inclusiva ideal é a proposta do quarto

capítulo. Em seguida a pesquisadora descreve o ambiente da escola infantil onde

realizou sua observação participante, relatando dois casos de inclusão que

acompanhou durante um ano.

Palavras-chave: Inclusão, Inclusão escolar, Educação Infantil, Qualidade do

ensino.

6

Abstract:

The Inclusion of Children with Physical Disability in Primary School Environment is a a

qualitative research that was carried out in a private school in Sao Paulo, Brazil. This

theme was chosen by the researcher as she is a pupil with special needs herself who

had never felt included in all her academic life. This project’s aims engage an

understanding of the theory of inclusion and how it reflects at the school’s physical

structure and in its staff’s attitude. The project is divided into five chapters in which,

fundamental points of the inclusion process in primary schools are defined. In the first

chapter the history of the inclusion in the world and in Brazil is reproduced showing its

meaning and importance in the life of children with special needs. In the next chapter

the researcher works with the meaning of the words similarity and difference and its

importance for a child’s life. Both words are valued pieces for one’s learning

development and growth, in order to understand their own peculiarities and respec

others. In this chapter some kinds of disabilities such as: mental, hearing, visual and

physical are also described. The third chapter is shoes the importance of primary

education in the learning development of a child with or without disability. It also

describes how this phase promotes not only the learning process itself but also the

interaction with the differences, the social and educational stimulus and the individual

attention that are fundamental for the children with physical disability. The description

and the characteristics of an ideal inclusive school are given in the fourth chapter.

Finally, the researcher describes the primary school environment, in which the acting

observation took place, by reporting two inclusion cases that were examined during

one year.

Key words: Inclusion, Infant Education, Quality of Education.

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Sumário:

Introdução_____________________________________________ 01

1. Inclusão: Seu significado, sua história.___________________ 08

2. De semelhanças e diferenças, e de alguns tipos de deficiência_14

2.1 Deficiência Mental________________________________ 16

2.2 Deficiência Auditiva______________________________ 19

2.3 Deficiência Visual_________________________________ 20

2.4 Deficiência Física_________________________________ 21

3. Uma teoria de aprendizagem e desenvolvimento___________ 24

4. A escola inclusiva____________________________________ 30

5. Uma prática em andamento___________________________ 40

5.1 Caso 1_________________________________________ 43

5.2 Caso 2_________________________________________ 44

6. Considerações finais__________________________________ 47

Referencias bibliográficas________________________________ 48

Anexo_________________________________________________ 50

Apêndice______________________________________________ 52

8

Introdução

Com esse trabalho pretendo discutir como uma escola de

educação infantil deve se organizar para que todos os alunos sejam

inclusos acadêmica e socialmente. Desenvolvo esse projeto, porque no

decorrer de meus anos de escola vivenciei a exclusão não somente da

comunidade escolar, mas também dos alunos, por ser uma criança com

uma deficiência física. Tenho uma deficiência visual, chamada

Achromatópsia, cujas características são: ter apenas 35% de visão;

incapacidade de distinguir cores, de ler letras menores que tamanho 12

do Word e de enxergar de longe; um constante movimento da Pupila e

excessiva sensibilidade à luz.

Minha trajetória escolar tem como ponto de partida a visita que fiz,

junto com minha mãe, ao Oftalmologista, que me diagnosticou como

legalmente cega sugerindo que fosse encaminhada para estudar em

uma escola especializada para cegos. Tinha 4 anos de idade, quando

comecei a freqüentar a dita escola onde todos eram cegos: a diretoria,

os professores e os alunos. Freqüentei essa escola por três meses.

Minha mãe então decidiu que não era o ideal que permanecesse na

escola, visto que não estava desenvolvendo da mesma maneira que os

demais alunos, por não ser completamente cega e por intuir que eu

poderia aprender a ler e escrever como as outras crianças. Foi assim

que dei inicio às tantas vivências e experiências que me levaram a ser o

que sou hoje. O meu 1o Grau1, cursei em cinco escolas diferentes com

diferentes propostas educacionais, mas todas sendo para crianças sem

nenhum tipo de deficiência. A primeira série eu estudei em uma escola

particular na cidade de Embu das Artes, estado de SP. Essa escola,

1 Atualmente Ensino Fundamental 1

9

pelo que me lembro, tinha uma proposta sócio-interacionista de

educação, pois a alfabetização era construída a partir da vivência dos

alunos e da relação social que desenvolviam entre si. Por esse motivo

as carteiras eram dispostas em um grande circulo do qual a professora

também fazia parte. As salas de aula não tinham paredes, possibilitando

que as diversas séries interagissem. Mesmo com uma proposta tão

inovadora e interessante, a escola ainda era muito nova e não tinha

estrutura para receber uma aluna com uma deficiência visual tão

acentuada. Ou seja, não estavam prontos para a inclusão, pois ainda

naquela época, não havia a preocupação em envolver alunos com

deficiências físicas em escolas não especializadas na área. Portanto

não consegui acompanhar o processo educativo, não me alfabetizando.

A segunda e a terceira série eu cursei em mais uma escola

particular. Lembro-me que essa escola era bem diferente da primeira,

pois as carteiras eram uma atrás da outra com lugar marcado, um tanto

tradicional. A alfabetização era por meio de cartilhas e do método

fonético. Essa escola também não estava muito preocupada em

oferecer assistência para minhas dificuldades, pois me lembro que tinha

que seguir a professora com a carteira de um lado para outro, para que

pudesse copiar o que ela escrevia na lousa. Para que eu pudesse ler os

livros dados pela escola minha mãe e minha avó, aumentavam todos os

materiais, à mão, inclusive o dicionário.

A quarta série eu estudei mais uma vez em uma escola particular,

em qual também não tive nenhum suporte de inclusão, por isso acabei

saindo no ano seguinte.

O quinto e sexto ano do primeiro grau eu cursei em uma escola

municipal em Extrema, Minas Gerais. Tenho poucas lembranças desses

anos, mas sei que também não tive nenhum apoio acadêmico.

10

A sétima e a oitava série eu voltei para São Paulo e ingressei em

uma escola particular de freiras. Uma escola mista que seguia os

modelos tradicionais. Os professores eram autoritários e lecionavam em

cima de tablados. O método de avaliação se dava por meio de

observação do comportamento do aluno em sala de aula e de nota das

provas. Foi nessa escola que, pela primeira vez na minha história

acadêmica, me ofereceram copias ampliadas das provas e exercícios

dados em sala de aula além de me dispensarem das aulas de Educação

Física. Eu sempre me sentia muito mal e envergonhada de ter que

participar dos jogos sem poder enxergar a bola. No entanto, hoje sei que

me excluir das aulas não foi a melhor atitude, pois eu poderia jogar

tranquilamente em uma quadra coberta. Mas na época, me senti aliviada

por não precisar expor minhas dificuldades. Compreendo que queriam

me ajudar, porém não sabiam ainda como lidar com uma aluna com

necessidades especiais. Lembro-me também que sofri muito

preconceito por parte dos colegas e como os professores não souberam

lidar com a situação, acabaram promovendo uma exclusão.

Durante o segundo grau (o colegial), eu troquei mais uma vez de

escola. Fui estudar em outra particular que não tinha idéia de como lidar

com alunos que estivessem fora do padrão do “aluno perfeito”. As

classes eram muito grandes, os alunos eram meros números e o

conteúdo era simplesmente despejado, de maneira que não tinha

espaço para discussão ou expressões de opinião diversa ao que estava

sendo imposto. Portanto, não tive como me adaptar àquele sistema

educacional. Lembro-me ainda que minha mãe “comprou” a maior briga

por terem simplesmente ignorado minhas dificuldades e por me taxarem

como “incapaz e anormal”.

No segundo ano do segundo grau minha mãe mudou-se com as

três filhas para Ithaca, Nova York, nos Estados Unidos. Foi lá que eu

11

compreendi e descobri todos os meus direitos como deficiente visual.

Mesmo sendo brasileira e não sendo residente americana, fui aceita na

escola pública, onde tive todo o suporte e assistência de que precisava

e às vezes até, do que não precisava. Tinha uma pessoa que me

acompanhava em todas as aulas e anotava tudo que estava na lousa.

Recebia todos os exercícios e provas ampliados e ainda tinha uma

terapeuta ocupacional que acompanhava meu desenvolvimento

acadêmico e emocional. Não senti nenhum tipo de discriminação nesta

escola (diferente do que sempre enfrentei em todas outras pelas quais

passei). Além de mim havia outros alunos com outras dificuldades:

deficientes auditivos, físicos, etc. Foi a primeira vez que me senti bem

ao freqüentar uma escola, mesmo sem falar qualquer palavra de inglês

e de estar em uma cultura completamente diferente da minha.

Decidi sobre o que iria estudar a partir daquele ano: Terapia

Ocupacional para poder desenvolver a inclusão em escolas infantis no

Brasil. Quando voltei para São Paulo compreendi que como terapeuta

ocupacional não poderia trabalhar em escolas, pois estas ainda não

viam tal assistência como necessária. Por isso iniciei na pedagogia pois,

como professora poderia trazer para as crianças com deficiência física o

conforto e aceitação que não tive. Foi por meio de minhas experiências

em tantas escolas que percebi o quanto poderia contribuir para essa

sociedade, ainda, tão preconceituosa e despreparada.

Acredito assim, que como deficiente visual, possa auxiliar as

escolas no significado da inclusão e o respeito aos deficientes, e lutar

pelos direitos que têm de estudar e fazer parte de uma sociedade de

maneira digna, do mesmo modo que qualquer outra pessoa.

Este projeto tem em vista desenvolver uma pesquisa qualitativa de

abordagem participante, que responda à seguinte pergunta:

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Como a escola de educação infantil tem atuado para incluir a

criança com necessidade especial de modo que ela possa aprender os

conteúdos escolares e seus colegas possam desenvolver atitudes livres

do preconceito?

Acredito que minhas vivências levam a uma hipótese relacionada à

atitude das escolas/professores para com alunos com deficiência física.

Creio que, quando a professora lida com o aluno portador de

necessidade especial com respeito, naturalidade e espontaneidade:

· Cria um ambiente sem preconceitos por parte dos colegas da

criança, sujeito do processo de inclusão;

· Favorece aprendizagem dessa criança;

· Propicia o conhecimento dela por parte dos colegas;

Destas hipóteses desdobram-se duas necessidades relativas à:

infra-estrutura material da escola (instrumentos, adequação física do

ambiente, etc.); e recursos humanos teórico/metodologicamente bem

preparados (especialistas de determinadas deficiências para assessorar

o professor de classe e quando necessárias a própria criança).

Tais hipóteses – atitude inclusiva do professor e necessidade da

escola de possuir recursos material e humano – devem visar o

favorecimento da autonomia e bem estar do aluno com necessidade

especial.

Tenho, nesta pesquisa, como objetivo geral, compreender o

significado teórico da inclusão e como este repercute em uma escola

particular, em sua estrutura física e atitude educacional de seus

profissionais.

Como objetivos específicos elegi:

1- Aprofundar teóricamente o significado da temática inclusão.

2-Analisar como o processo de inclusão ocorre em uma escola de

educação infantil.

13

3-Descrever a estrutura ambiental da escola de educação infantil

tendo como parâmetro a inclusão de alunos com deficiência física,

4-Verificar se as ações pedagógicas desenvolvidas pelos

educadores favorecem o aluno com deficiência física promovendo sua

inclusão,

5-Descrever as ações pedagógicas que efetivamente conclamam

às demais crianças a desenvolverem atitudes e comportamentos

favorecedores da inclusão do colega,

6-Verificar se o processo de inclusão se dá em parceria entre a

escola e a família de modo que ambas as instituições possam oferecer

recursos para suprir todas as necessidades da criança a ser incluída.

Acredito que por meio desse estudo poderei oferecer às escolas

de educação infantil instrumentos e idéias de como um aluno deve ser

incluído, de modo que ele possa se desenvolver e aprender juntamente

com os demais de maneira saudável e produtiva para seus

semelhantes.

Esse projeto é organizado em cinco capítulos: O primeiro descreve

o que é inclusão, suas leis, de onde surgiu, e qual seu papel na

sociedade de hoje;

O segundo descreve os conceitos de semelhanças e diferenças e

os valores que podem ser desenvolvidos por meio de seus significados.

Ainda neste capítulo sintetizam-se algumas categorias de deficiências.

Ao relatar a importância da Educação Infantil para o

desenvolvimento humano, no terceiro capítulo é apresentada a

necessidade da inclusão nos primeiros anos de vida da criança,

portadora de deficiência física, ou não.

Descreve-se, no quarto capítulo, como uma escola inclusiva deve

se estruturar para que o processo acadêmico, inclusivo e social ocorra

de maneira produtiva e positiva para todas as crianças. Como peça

14

fundamental para a escola inclusiva a formação do professor e suas

qualificações são indispensáveis para que saiba com lidar com as

diferenças.

No quinto capitulo são apresentadas as observações feitas em

uma escola particular de alto nível econômico/social pelas quais se

verifica sua adequação ao processo de inclusão. Neste capítulo é

descrito também dois relatos de crianças com deficiência auditiva e

física, desta mesma escola.

15

1 Inclusão: seu significado, sua história

Segundo Tessaro (2005), a história da humanidade mostra que a

atitude em relação às pessoas com deficiência físicas ou mentais se

modifica com o passar do tempo.

Antes de Cristo as pessoas que nascessem com qualquer

diferença/deficiência, eram consideradas “coisas”, não possuíam alma e

deveriam ser eliminadas, mortas. Com o advento do Cristianismo essas

pessoas passaram a obter cuidados por caridade, pois na época eram

consideradas filhos de Deus. Por volta do século XVI apareceram

médicos pedagogos, que desafiando os conceitos vigentes até então,

passaram a acreditar na possibilidade de educar indivíduos com

necessidades especiais, ate então considerados ineducáveis.

Essa atitude deu inicio ao ensino especial, que era oferecido

individualmente e não tinha qualquer padrão ou metodologia específica.

No decorrer dos séculos XVIII e XIX começou a surgir a preocupação de

criar instituições educacionais para pessoas com necessidades

especiais. Por mais que a visão em relação aos deficientes estivesse

mudando, eles ainda eram excluídos da sociedade, não saiam de suas

casas ou instituições, pois eram vistos como diferentes, e isso

provocava vergonha nos familiares. “Aranha (2001) caracteriza essa

fase como o paradigma da institucionalização, o qual se fundamentava

na crença de que a pessoa diferente seria melhor cuidada e protegida

se fosse confinada em ambiente segregado e construído à parte da

sociedade” (Em Mendes, 2002. P. 62).

A partir da segunda metade do século XX a sociedade começa a

apresentar uma melhor aceitação pelo deficiente, como parte de um

todo. No entanto não podiam pertencer a escolas regulares em conjunto

16

com as outras crianças. Foi então que pais e crianças de países mais

desenvolvidos começaram a buscar o direito de educação especial

inserido no ensino comum. Decorrente disso surgiu na década de 50,

classes especiais nas escolas públicas de ensino regular para as

crianças que apresentavam algum tipo de dificuldade de aprendizagem.

Esse movimento foi chamado de Agregação.

A Educação Inclusiva teve início nos Estados Unidos por meio da

Lei Pública 94.142, de 1975 que já se encontra em andamento há duas

décadas desde sua implementação.

Por todo o país há estabelecimento de programas e projetos

direcionados à Educação Inclusiva:

· O departamento de Educação do Estado da Califórnia deu inicio a

uma política de suporte às escolas inclusivas já implantadas;

· O Vice- Presidente Al Gore fundou uma Supervia de Informática

direcionada a uma política de telecomunicações com base na

ampliação da rede de informações para todas as escolas,

bibliotecas, hospitais e clínicas.

· Existe um inter-relacionamento entre o movimento da Educação

Inclusiva e a busca de escolas de qualidade para todos;

· Há também propostas de modificações curriculares que visam a

implantação de programas mais adaptados às necessidades

específicas de crianças com deficiência, tendo um foco especial no

estabelecimento dos componentes de auto-determinação das

mesmas. As equipes técnicas das escolas também têm sido

trabalhadas para oferecer um atendimento mais adequado ao

professor de classe comum.

· Há o acompanhamento, via estudos e pesquisas, em relação aos

indivíduos que vivenciaram o processo de educação inclusiva.

Estes, são observados e analisados por sua rede de relações

17

sociais, de atividades de lazer, de formas de participação na

comunidade, de satisfação pessoal, etc. A Universidade de

Minnesota apresenta um dos maiores programas de follow-up, a

Estudo Nacional de Transição Longitudinal.

· Também existe um acompanhamento nos Serviços dos

Programas de Educação que trabalham com a Educação

Inclusiva.

· A maior parte dos estados norte-americanos estão aplicando a

Educação Inclusiva: Nova York, Massachussets, Minnesota,

Daytona, Siracusa, West Virgínia, etc.

Além dos Estados Unidos, outros países também têm dado uma

atenção mais direcionada neste sentido. O mais conhecido centro de

estudos sobre a Educação Inclusiva é o CSIE (Centre for Studies on

Inclusive Education) da Comunidade Britânica, sediado em Bristol. É

deste centro que têm partido a maioria dos principais documentos, a

respeito da Educação Especial: o CSIE - International Perspectives on

Inclusion; o UN Convention on the Rights of the Child (1989); o UN

Standard Rules on the Equalisation of Opportunities for Persons with

Disabilities (1993).

Um importante documento atual é o Provision for Children with

Special Educational Needs in the Asia Region que inclui os seguintes

países: Bangladesh, Brunei, China, Hong Kong, India, Indonesia, Japão,

Corea, Malaysia, Nepal, Paquistão, Filipinas, Singapura, Sri Lanka e

Tailandia. Mas, há programas em todos os principais países do mundo:

França, Inglaterra, Alemanha, México, Canadá, Itália, etc.

Com a Declaração Mundial Sobre Necessidades Educativas

Especiais de Salamanca, na Espanha em 1994, é que o termo Inclusão

foi oficializado no campo da educação. Neste encontro foi reafirmada a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, que afirma o

18

direito de todos à educação. Portanto, foi decidido no encontro de

Salamanca, que todas as crianças com deficiência física e mental

deveriam ser incluídas em escolas comuns. Visava-se com este objetivo

atingi-las a nível mundial. A partir deste encontro é que muitos países

começaram a implantar práticas de inclusão de alunos com deficiência,

em escolas regulares.

No Brasil as discussões sobre Inclusão Escolar iniciaram-se

relativamente cedo nas décadas de 60 e 70, mas só começam a

proliferar na década de 80, com a criação da Coordenadoria Nacional

para Integração de Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), órgão

responsável pelas instituições de pessoas com deficiências. A

homologação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBN) – Lei 9.394/96 – que prevê a inserção de alunos com

necessidades especiais no ensino regular representa um grande passo

para a inclusão escolar no Brasil. Segundo a Lei o Estado é responsável

por oferecer educação especial a partir de zero ano de vida da criança,

proporcionando todo tipo de apoio necessário para sua melhor inclusão

em sala de aula.

Não se pode, no entanto, acreditar que a inclusão escolar possa

ser algo tão simples que se concretize de uma hora para outra, pois

mesmo com tantas mudanças o preconceito, a ignorância e a

discriminação ainda são atitudes muito freqüentes em relação aos

deficientes físicos e mentais. É evidente a dificuldade de convivência

entre pessoas sem deficiências e aquelas com deficiências. Logo, a

inclusão escolar é muito complexa. Esta significa a aplicação prática no

campo da educação de um movimento mundial, caracterizado pela

inclusão social, que oferece uma proposta de um novo paradigma, o

qual se utiliza de um processo bilateral: as pessoas excluídas e a

sociedade se unem para lutar pela equiparação de oportunidades para

19

todos. Este movimento tem como objetivo uma sociedade democrática,

na qual todos têm direito à cidadania e ao respeito pelas diferenças.

Por meio deste movimento de inclusão social, representado pela

resistência contra a exclusão de grupos minoritários, é que se justifica o

debate sobre a educação inclusiva, pois este processo é o caminho

mais adequado para incluir essa minoria que tem sido historicamente

banida da sociedade e da escola.

No entanto, inclusão não significa o mesmo que integração, por

mais que seus significados no dicionário sejam de extrema semelhança

e se destaquem como sinônimos. Quando se trata de inclusão, as duas

palavras diferem muito: integração tem o sentido prático de preparar os

alunos com deficiências e que fazem parte de escolas especiais, para

serem colocados nas escolas regulares, ou seja, o aluno deve estar

pronto para adaptar-se à escola, de modo que esta não se modifique

para sua adaptação. Inclusão, significa modificar toda a comunidade

escolar para que o aluno com deficiência se adapte com mais facilidade.

Como diz Mittler (2003 p.34) ela “implica uma reforma radical nas

escolas em termos de currículo, avaliação, pedagogia e formas de

agrupamento dos alunos nas atividades em sala de aula”.

A inclusão escolar traz a proposta de que todas as crianças devem

aprender juntas, independentemente de qualquer tipo de diferença ou

dificuldade que possam ter. A escola deve proporcionar todo tipo de

apoio desde espaço físico até profissionais preparados para atender as

necessidades de suas crianças.

A educação inclusiva é disponibilizada em sala de aula regular,

não impedindo de oferecer apoio de aprendizagem extra, que pode ser

oferecida por outro professor em sala de aula. Esse apoio pode ser feito

de modo coletivo ou individual, dependendo da necessidade do aluno.

20

A inclusão escolar traz um valor importantíssimo para a sociedade

atual, pois trata as diferenças com respeito, promovendo o direito de

acesso do aluno com deficiência a todos os conteúdos acadêmicos,

ressaltando a importância do conhecimento sistemático e cientifico.

Incluir caracteriza-se por uma atitude de aceitação e de um convívio

comunitário respeitando pessoas de diversas culturas, religiões, valores,

gênero e raça, além de pessoas com deficiência físicas e mentais.

Implica em ajudar a estabelecer relacionamentos baseados no respeito,

solidariedade e sem qualquer tipo de discriminação. Assim sendo,

inclusão escolar envolve ações de toda a comunidade acadêmica,

incluindo pais, alunos, professores, funcionários e outros, na batalha

para a conscientização do direito de todos à cidadania. Cabe dizer que

inclusão não implica em desconsiderar a diferença/diversidade, mas sim

reconhecer, aceitar e respeitar a diversidade na sociedade, ou seja,

perceber que cada sujeito é único, com suas necessidades, vontades e

peculiaridades próprias.

A inclusão não diz respeito em colocar as crianças nas escolas regulares, mas a mudar as escolas para torná-las mais responsivas ás necessidades de todas as crianças; diz respeito a ajudar todos os professores à aceitarem a responsabilidade quanto à aprendizagem de todas as crianças nas suas escolas e prepará-los para ensinarem aquelas crianças que estão atual e correntemente excluídas das escolas por qualquer razão. (MITTLER, 2003. p. 16)

O objetivo fundamental da inclusão é garantir a participação de

todas as crianças em todas as possibilidades e oportunidades

oferecidas pelas instituições de ensino beneficiando todos aqueles que

pertencem às minorias lingüísticas e étnicas, com deficiência ou

dificuldade de aprendizagem, os que se ausentam completamente das

aulas e os que estão sob o risco de exclusão, evitando assim a

segregação e o isolamento,

21

2. De semelhanças e diferenças, e de alguns tipos de

deficiência.

Semelhanças e diferenças são palavras com significados que se

opõem, são antônimos. Durante centenas de anos a educação procurou

a semelhança de conhecimentos como modelo educacional, ou seja, um

padrão de ensino e de aluno. Segundo Beyer (2005), “A escola, como

instituição formal, pautou-se sempre pelo estabelecimento (ou, no

mínimo, pela busca) de uniformidade (p.27). Já hoje, educadores

perceberam que a diferença é fundamental para o desenvolvimento da

aprendizagem e que a semelhança e a diferença dependem uma da

outra para que esse processo se dê. Mas afinal, o que realmente

significa semelhança e por que o ser humano tem tanta dificuldade em

aceitar a diferença?

A palavra semelhança significa organizar, encaixar, classificar

qualquer coisa que seja conhecida. Por exemplo, as classes sociais

definindo o particular dentro do geral. Os grupos são definidos por suas

semelhanças, algo em comum, eliminando assim as diferenças.

Segundo Macedo as semelhanças são organizadores lógicos, dos quais,

o ser humano depende para poder sobreviver em um mundo de coisas

desconhecidas. Graças a elas é que se é capaz de reduzir esse mundo

desconhecido a uma dimensão já conhecida. No entanto, o ser humano

sempre se depara com as diferenças que surpreendem – o que ressalta

e quebra o processo de classificação – trazendo algo de novo, “não-

encaixável”. “[O] conhecimento como semelhança só se completa ou

complementa pela diferença, ainda que naquela perspectiva esta fique

reunida indistintamente como os não-iguais (MACEDO, 2005. p.12)

Sendo assim, a diferença é a maneira pela qual o ser humano

organiza as coisas quanto à sua dimensão desconhecida. A diferença

22

traz a idéia de que certas coisas só podem ser conhecidas por

fragmentos, por partes, não podendo conhecê-las por completo. Assim

surge o medo, o pânico do que não podemos conhecer, classificar ou

encaixar dentro do que já conhecemos. Mesmo sendo opostos, esse

jogo entre a semelhança e a diferença é fundamental para a construção

da identidade. Piaget (1992) já dizia que uma das funções da diferença

é convidar o individuo a tomar consciência,

É possível afirmar que o ser humano tem duas maneiras de se

relacionar com as diferenças; negando-as, ignorando-as ou aceitando-

as. A primeira forma se dá quando o diferente é extremamente fora do

padrão, do conhecido, de tal forma que o mais fácil é ignorar ou negar

sua existência. Quando o ser humano aceita a diferença, o faz, porque

precisa conviver com ela e assim aprende a respeitá-la pouco a pouco.

O respeito é um dos caminhos para aprender a conviver com as

diferenças e é o que prepara o ser humano para a verdadeira inclusão.

“Na inclusão, semelhanças e diferenças relacionam-se de modo

interdependentes, indissociáveis.” (ID. p.15)

Construir uma escola inclusiva significa desenvolver um ambiente

onde, as semelhanças e diferenças convivem horizontalmente com o

auxilio do respeito e da aceitação.

As escolas, durante anos, têm construído um padrão de aluno e

de homem que querem formar, ou seja, escolas de semelhanças, nas

quais não levam em consideração as diferenças culturais, religiosas,

raciais, de realidade e de valores. As diferenças sejam elas quais forem,

formam a identidade única de cada individuo e não, um ser “anormal”,

ou fora do padrão esperado pela sociedade. Por isso a importância da

escola inclusiva, pois cada um é único e deve ser respeitado em sua

peculiaridade.

23

Dentre as diferenças de realidade sócio/econômica, racial,

religiosa, cultural, etc, existe outros tipos de diferenças mais conhecidas

como deficiências ou “escolar atípico”. De acordo com Tessaro (2005),

este rotulo é dado àqueles alunos com características diferentes da

maioria dos outros alunos na sociedade, tornando-os assim “desiguais”

dentro de um grupo comum. A Organização das Nações Unidas (ONU)

destaca que 10% da população brasileira faz parte deste grupo com

deficiência. Esta porcentagem representa 15 milhões de pessoas no

Brasil, sendo oito milhões deficientes mentais e os demais, deficientes

físicos. Isso significa que essa minoria não pode ser tratada como um

grupo fora da realidade e da sociedade, pois eles estão entre todos.

Para que se possa compreender um pouco sobre as deficiências

que mais se tem noticia, é exposta aqui uma breve explicação de cada

um de per si.

2.1 Deficiência Mental

A deficiência mental é caracterizada por um significativo baixo

nível de funcionamento intelectual, tendo ainda que conviver com outras

limitações nas áreas de comunicação, segurança e saúde, autonomia,

funcionalidade acadêmica, lazer e trabalho, os quais são todos

desenvolvidos antes dos dezoito anos de idade. Definição esta,

considerada pela Associação de Deficiência Mental, 1992, a mais aceita

para caracterizar esta deficiência. No entanto, não se deve rotular de

deficientes mentais, pessoas que apresentem um comportamento

adaptável prejudicado, pois existem muitos outros fatores que podem

levar a um desenvolvimento da aprendizagem mais lento, como por

exemplo; o processo escolar sem qualidade e o ajustamento social e

24

ocupacional inadequado. De acordo com Ballone (2003) o retardo

mental é classificado por quatro deficiências:

Deficiência Profunda - idade mental dentro da faixa de zero a dois

anos, com um QI de 20;

Deficiência Grave Severa - idade mental de zero a dois anos e QI

de 20 a 35;

Deficiência Moderada - idade mental de dois a sete anos com um

QI de 36 a 51;

Deficiência leve - idade mental de sete a doze anos com um QI de

52 a 67.

Segundo Ballone é mais freqüente o uso da referência dos

prejuízos no funcionamento adaptativo do que a medida do QI.

Compreende-se isso pelo fato de o funcionamento adaptativo ser a maneira como a pessoa enfrenta, efetivamente, as exigências comuns da vida e o grau em que experimenta uma independência pessoal compatível com a sua faixa etária, bem como o grau de bagagem sociocultural do contexto comunitário no qual se insere.” (TESSARO, 2005. p. 30)

Cabe aqui dizer que existem muitos fatores que influenciam no

funcionamento adaptativo do sujeito como treinamento, educação,

motivação, características de personalidade, necessidades,

oportunidades sociais, entre outros. Sobre estes fatores a autora inclui

“vocação”, que deixa entrever uma concepção de homem inatista. Por

isso muitos não abarcam este termo, pois suas posições diferem desta.

Acreditam, como Vygotsky (La Taille, 1992), que o homem é construído

com uma base orgânica que se desenvolve mediante as interações

estabelecidas entre ele (o sujeito) e o meio. Portanto, é necessário que

todos esses fatores sejam analisados com cautela para que o

diagnóstico seja preciso. Não existe uma única causa que leve à

25

deficiência mental, pois sua existência pode ser genética

(anormalidades de um único gene, poligênicas ou mesmo

cromossômicas), orgânica de origem ambiental (provocada por algum

acontecimento na vida do individuo, como infecções, traumas físicos,

doenças ou distúrbios durante a gestação, etc.); pode ainda ser

desenvolvida por meio das condições sociais e psicológicas da vida do

sujeito.

A Associação Americana de Deficientes Mentais indica nove principais causas da deficiência mental: infecção e intoxicação; trauma ou agente físico; metabolismo ou nutrição; doença cerebral grave; influência pré-natal desconhecida; anormalidades cromossômicas; distúrbios de gestação; distúrbios psiquiátricos e influencias ambiental - Kirk e Gullagher, 1987/1996 (TESSARO, 2005. p.33)

As pessoas com deficiência mental apresentam problemas sociais,

muitas vezes, causados pela maneira com que são vistas e tratadas

pela sociedade que as cerca, e não necessariamente pelo resultado

insuficiente causado por sua deficiência. Ou seja, os sujeitos com

deficiência mental sentem-na como fracasso por que o ambiente social

mantém em relação a ela, a mesma expectativa de aprendizagem que

têm em relação às demais crianças. Nesse sentido, o educador que lida

com o deficiente sente-se frustrado e decepcionado porque ele não

atingiu o mesmo desempenho que as outras crianças, o que pode gerar

igual sentimento no deficiente. Este processo pode resultar em negação

da criança pelo adulto podendo até mesmo vir a negligenciá-la.

Nesta mesma linha de reflexão, a criança, já acossada pelo

mesmo nível de exigência generalizado por todas crianças, desenvolve

um senso de incompetência que é transferido para situações novas,

provocando desempenhos abaixo daqueles que ela poderia realizar.

Assim, muitas das limitações dos deficientes mentais não são resultados

26

das deficiências em si, mas sim, da falta de oportunidades e apoio que

lhes são oferecidas.

Um dos argumentos a favor da inclusão é o fato de que

permanecendo segregadas, as vivências dos deficientes mentais

girariam em torno de suas limitações e incapacidades, deixando de lado

suas potencialidades e habilidades. O deficiente mental desenvolve

muito mais a partir do momento que se relaciona com o grupo e faz

parte de uma sociedade na qual é tratado com respeito e igualdade de

direitos (TESSARO, 2005).

2.2 Deficiência Auditiva

A deficiência auditiva pode ser avaliada por meio de um enfoque

quantitativo e um enfoque funcional. O enfoque quantitativo é baseado

de acordo com o grau da perda de audição do individuo. De acordo com

essa vertente um individuo é considerado surdo quando não consegue

compreender a fala através de seu ouvido.

Os graus de perda de audição são definidos da seguinte maneira;

Deficiente auditivo leve - déficit de audição em decibéis (dB) entre 20 e

40;

Deficiente auditivo moderado - déficit de audição entre 40 e 70

(dB); deficiente auditivo severo - entre 70 e 90 (dB);

Deficiente auditivo profundo - déficit acima de 90 (dB), o qual

impede o sujeito de ouvir qualquer som ou voz humana mesmo com o

auxilio de aparelho auditivo.

O outro enfoque é o funcional da Conference of Executives of

American Schools for the Deaf, que compreende o surdo como a pessoa

com a perda auditiva que dificulta o processo de informações

27

lingüísticas através da audição, mesmo com o auxilio de aparelhos.

Assim os surdos convivem em conjunto sem separação por nível

auditivo.

Existem diversas causas para a deficiência auditiva; a

hereditariedade, rubéola materna, nascimento prematuro,

incompatibilidade de sangue entre os pais, meningite e otite media.

A deficiência auditiva constitui um dos problemas mais desafiante para a educação em geral e para educação especial, pois a perda auditiva interfere tanto na recepção da linguagem como na sua produção. Portanto a área de maior prejuízo para o deficiente auditivo é a relacionada à comunicação, o que acaba dificultando muito a convivência com pessoas ouvintes e, conseqüentemente, o seu ajustamento social e acadêmico. (TESSARO, 2005. p.36)

A importância da inclusão necessariamente envolve dois aspectos:

primeiro, o desenvolvimento emocional, intelectual e social da criança

surda, é relacionado com a atitude de aceitação e respeito da

sociedade; segundo, ter sempre presente a insuficiência da criança para

criar situações que propiciem a ela aprendizagem e crescimento sem

negar suas peculiaridades causadas pela dita deficiência.

2.3 Deficiência Visual

A deficiência visual impede o individuo de ter um funcionamento

visual satisfatório. Existem diversos níveis de gravidade visual desde a

cegueira total até a visão subnormal.

Assim como a deficiência auditiva, há duas formas de classificar a

deficiência visual. A avaliação quantitativa é relacionada ao grau de

campo de visão que o individuo obtém. O individuo que é considerado

28

legalmente cego tem a acuidade visual no campo de visão igual ou

menor que 20/200 no seu melhor olho, com ou sem ajuda de correção e

ou óculos. Uma pessoa com visão perfeita tem 20/20 de campo de visão

e uma com visão subnormal ou parcial pertence à acuidade visual de

20/70.

Já a dimensão funcional do modo com que se avalia a deficiência

visual analisa vários fatores como: a visão de percurso, a visão de

sombra, a visão proximal e distal e a cegueira educacional e

ocupacional. A cegueira educacional significa que o aluno não pode ser

educado por meio da visão e assim sua aprendizagem deve ser

desenvolvida usando seus sentidos, de tato, audição e sinestésico. Só

podem ler e escrever por meio do Braille. As crianças com visão parcial

e subnormal podem aprender através da visão, no entanto, precisam de

dispositivos de ampliação para facilitar o processo.

2.4 Deficiência Física

Por mais que a criança com deficiência visual e auditiva seja

considerada, muitas vezes, como deficiente físico, este termo refere-se

a um impedimento distinto das deficiências já explicadas anteriormente.

A deficiência física é aplicada a todos que apresentam qualquer

tipo de dificuldade corporal e motora. As causas da deficiência física são

inúmeras, como por exemplo: anomalias congênitas, infecções,

distúrbios metabólicos, traumatismos e outros.

O ajustamento e adaptação emocional e social de uma criança

com deficiência física são sempre complicados e lentos, pois além das

pessoas demonstrarem repulsa em relação a ela, a criança por já ter

experienciado muitas vezes, dores, fadiga por esforço, medo dos

29

ferimentos, acidentes, etc. acaba desenvolvendo um auto-conceito

negativo de inferioridade e incapacidade.

O individuo com deficiência física ainda encontra dificuldade no

que diz respeito ao espaço físico. Por mais que existam leis que afirmam

a importância de que toda instituição deva ter rampas, para cadeiras de

roda, barras e corrimões de apoio, para os toaletes, piso não

escorregadio, ou seja, todas as modificações ambientais, não é o que

acontece na maioria dos lugares, o que acaba excluindo o deficiente

físico da sociedade. “Ser deficiente físico não significa ser incapaz,

significa apenas algumas limitações que se intensificam devido às

dificuldades impostas ao deficiente, as quais quase sempre limitam suas

possibilidades, prejudicando sua interação e desenvolvimento como um

todo.” (TESSARO, 2005 p.42).

Após ter definido as deficiências mais comuns, acredita-se ser

possível compreender que a inclusão escolar é fundamental para o

desenvolvimento das crianças com deficiência e ao mesmo tempo

imprescindível para uma mudança radical de uma sociedade

preconceituosa para uma sociedade respeitadora e humana.

As crianças educadas em ambientes flexíveis apresentam desempenho intelectual melhor do que as que crescem em ambientes de estrutura fraca e rígida. Essa diferença parece se justificar por uma diferença de atitude diante dos distúrbios cognitivos; as pessoas criadas em ambiente flexível teriam menos resistência em levar em consideração os distúrbios cognitivos e, em conseqüência, seriam conduzidas mais freqüentemente a construção de novas estruturas” (CHABANNE, 2006. p 17)

Com a compreensão da inclusão no Brasil e no mundo e um

melhor entendimento dos diversos tipos de deficiência, é indispensável

notar a importância da inclusão para o sujeito “diferente”, para que este

30

possa se desenvolver com a ajuda daqueles que não possuem uma

deficiência. A educação infantil é o primeiro contato que as crianças têm

com o mundo após a família e por meio desta é que o ser humano cria

suas bases para a vida adulta. Por isso a importância de iniciar a

inclusão neste primeiro contato, para que assim, todos os valores que a

inclusão luta em transformar na sociedade comecem como parte do

desenvolvimento das crianças que serão os futuros adultos da

humanidade.

31

3 Uma teoria de aprendizagem e desenvolvimento

A escola infantil é fundamental para o desenvolvimento da

aprendizagem e da personalidade da criança. Esta relevância se deve

ao fato de que, é nos primeiros anos de vida que o maior número de

estruturas cerebrais são desenvolvidas. De acordo com Fontes Para A

Educação Infantil (2003),

Os extraordinários avanços da neurociência têm permitido

entender um pouco melhor como o cérebro se

desenvolve. Particularmente do nascimento até os 3 anos

de idade, vive-se um período crucial, no qual se formarão

mais de 90% das conexões cerebrais, graças à interação

do bebê com os estímulos do ambiente. (p. 17)

Portanto, para que o processo de inclusão escolar ocorra de forma

produtiva e positiva, este deve iniciar-se nos primeiros anos de vida da

criança durante o período da educação infantil.

De acordo com Saisi*, os processos de desenvolvimento e

aprendizagem se dão na confluência de fatores biológicos e sociais:

Os aspectos biológicos – vistos como possibilidade – e experiências vividas, impregnadas de sentido social, cultural e histórico – como fator de atualização dessas possibilidades. Nessa perspectiva a educação é fator necessário e vital para o desenvolvimento do ser humano que faz a mediação da criança com o meio social.” (Saisi-PUC 2008)*

Para que possamos compreender a importância do ensino infantil

é preciso entender como ocorre esse processo. Segundo Fernandes

* Anotações feitas durante a aula do dia 22 de abril de 2008

32

este processo se dá por meio da integração de três dimensões: o

biológico o psíquico e o social. Para que essa integração ocorra é

necessário que a criança aprenda e se desenvolva.

Para essa autora o processo de aprender mobiliza quatro

dimensões do ser humano: organismo, corpo, inteligência e desejo para

a construção do psíquico do mesmo, desde seus primeiros dias de vida.

· Organismo:

O orgânico é tudo que é inato, biológico, herdado. São

funcionamentos já codificados e auto-reguladores. O orgânico é a

base da aprendizagem. Quando Tessaro (2005) descreve, no

capítulo anterior, as causas da deficiência mental, refere-se ao

orgânico uma vez que menciona o genético. Porém para que esta

criança se modifique é preciso que se relacione e se interaja com o

meio. O organismo humano necessita da estimulação exterior para se

atualizar e se desenvolver, ou seja, precisa aprender para se

modificar.

· Corpo:

A partir do momento em que essa relação se dá, esse organismo se

transforma em corpo. De acordo com o que é descrito por Tessaro

(2005) no capítulo anterior como uma das causas da deficiência mental,

é o orgânico do individuo em contato com a origem ambiental. Para

Fernandes (1991), o organismo alterado por influências externas

configura o corpo. Portanto é por meio do contato com o ambiente e a

sociedade que a deficiência mental pode engatilhar-se.

O corpo é organismo perpassado pelo meio social, é tudo aquilo

que é aprendido, construído e condicionado. È por meio do corpo que a

criança desenvolve sua personalidade e auto-estima.

33

O corpo tem o papel de ordenar e essa ação leva ao prazer: o

prazer do domínio do objeto (novo conhecimento). A memória do

organismo é inata e a memória do corpo é construída pelos desejos.

Para a criança com deficiência de qualquer natureza, a família, a

sociedade, ou seja, o vinculo é fator decisivo para a construção de uma

personalidade e auto-estima forte ou reprimida.

· Vínculo:

O vínculo é responsável pela construção da identidade que resulta

da confluência entre o orgânico e o social, fundamentais para que ocorra

a aprendizagem.

O primeiro vínculo da criança é com a família (pai, mãe, irmãos)

que por sua vez é a responsável em determinar, inconscientemente, a

posição do aprender dentro dela, assim como, a sua relação com o

conhecimento, e no caso das crianças com deficiência, sua relação

consigo mesma. Em outras palavras, se o individuo é estimulado pela

família e esta confia e acredita em seu crescimento intelectual, este terá

facilidade para desenvolver autoconfiança o e motivação para aprender

e lutar contra suas dificuldades. No entanto, esta criança desenvolverá

problemas de aprendizagem se esta estimulação for permeada por

atitudes que neguem a possibilidade da criança aprender. “O problema

de aprendizagem que apresenta, sofre, estrutura um sujeito, se situa,

entrelaça, sintomatiza e surge na trama vincular de seu grupo familiar,

sendo às vezes mantido pela instituição educativa.” (FERNANDEZ.

1991. p. 48).

A educação infantil é a segunda relação vincular no processo de

aprendizagem do sujeito, a que envolve o primeiro grupo fora da família.

A aprendizagem ocorre em cada sujeito de maneira única na sua

relação com o vinculo, de modo que esse processo se configure nas

primeiras relações entre aprendente (sujeito) e ensinante (escola/pais).

34

Desenvolver um vínculo positivo na educação infantil é fundamental

para as crianças com deficiência física, pois sua auto-estima e

personalidade se estruturarão adequadamente mediante a qualidade de

experiências vivenciadas, ou seja, uma vivência respeitosa e amorosa

tende a facilitar o enfrentamento de desafios com as quais a criança

com deficiência se defrontará.

O vínculo promove ainda a inteligência, que se passa

resumidamente a explicar com Fernandez,

· Inteligência:

A inteligência tem como ponto de partida a ação do sujeito de

organizar, reorganizar, classificar e categorizar contínuamente o

conhecimento adquirido.

Não é possível falar de inteligência sem mencionar a importância

da alteridade, pois é por meio dela que o sujeito conhece o outro para

assim construir sua unidade. O indivíduo construirá sua própria imagem

por meio da imagem do outro e da imagem especular. Daí a importância

do outro no desenvolvimento da criança com deficiência.

· Desejo:

O desejo é o simbólico que organiza a vida afetiva de cada ser

humano dando assim, significado a ela. Cada sujeito é único por suas

experiências. O desejo é subjetivo, tende à individualização, à

diferenciação e à organização, fazendo com que o sujeito aja

inconscientemente de acordo com essa força. A aprendizagem é um

processo que envolve e resulta da inteligência e do desejo, portanto a

aprendizagem é um processo objetivante e subjetivante ao mesmo

tempo. Se usarmos um gráfico para representar a aprendizagem, a

inteligência seria representada pelo eixo horizontal e o desejo pelo eixo

vertical. O pensamento por sua vez, seria o que resulta dessas duas

vertentes como uma reta crescente, conforme nos ensina Fernandez

35

(1991). “O aprendizado é considerado a partir da relação da criança com

o conhecimento.” (p. 59). Este conhecimento é determinado, segundo

Piaget (1992), por três formas: As formas hereditárias combinadas com

as experiências vivenciadas através do meio; as formas lógico-

matemáticas que se constroem crescentemente segundo estágios de

equilibração; e as formas adquiridas em função da experiência que

oferece ao sujeito informações sobre o objeto e suas propriedades.

Outra definição para o conhecimento, de acordo com Varela e Borderie

(2006), é uma forma de organizar o real. Ambos afirmam que o

conhecimento é uma prolongação, além de ser uma atualização e

execução de qualquer influencia cultural.

Portanto, o processo de aprendizagem e desenvolvimento da

criança se dá por meio da confluência do biológico do sujeito com o

social que a redoma. Desta confluência é desenvolvido o psíquico,

responsável pela formação da personalidade e identidade da criança.

O educador infantil deve compreender todos os aspectos que

englobam a aprendizagem para que não se cometa pré-julgamentos

quanto às crianças com dificuldade de aprendizagem. Pode-se dizer que

a educação infantil é a compreensão do ser humano como um todo,

além de ser a peça fundamental para que o processo de

desenvolvimento e aprendizagem ocorra promovendo ainda uma base

saudável e produtiva para a vida de cada criança.

Compreendendo todos os fatores que envolvem o

desenvolvimento da criança em seus primeiros anos de vida, pode-se

destacar a importância da educação infantil para as crianças com

deficiência física. Quanto mais cedo se começa o processo de inclusão

escolar, mais facilitar-se-á a adaptação e o desenvolvimento, não só

dessas crianças, como também das outras, as quais tornar-se-ão

36

pessoas com valores internalizados: de respeito, de compreensão e

sem preconceitos.

Mas como construir uma escola inclusiva na qual o processo de

inclusão realmente aconteça?

37

4 A escola inclusiva

Por EDUCAÇÃO INCLUSIVA se entende o processo de inclusão

dos indivíduos com necessidades especiais ou com distúrbios de

aprendizagem, na rede comum de ensino em todos os seus graus. Da

pré-escola ao quarto grau.

O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças deveriam aprender juntas, independentemente de qualquer dificuldade ou diferença que possam ter. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas necessidades de seus alunos, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos por meio de currículo apropriado, modificações educacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com a comunidade (...) dentro das escolas inclusivas, as crianças com necessidades educacionais especiais deveriam ter qualquer apoio extra que possam precisar, para que lhes assegure uma educação efetiva (...)” (UNESCO, 1994. P.6)

Teoricamente, falar sobre a escola inclusiva parece muito fácil e

bonito, no entanto, não é o que acontece na prática. Vivemos em uma

sociedade excludente, na qual as pessoas têm muita dificuldade de

aceitar a diferença. A educação inclusiva traz um conceito, em minha

opinião, muito importante, o qual compreende o individuo como único e

assim respeitado por sua peculiaridade.

A inclusão escolar assim como sua questão legal, propõe a

valorização das diferenças levando em conta a identidade de cada um,

sem deixar de oferecer a mesma educação acadêmica que todos os

alunos em geral, além de oferecer todo suporte profissional e infra-

estrutura que possam precisar.

A questão dessas mudanças nas escolas representa a importância

na reciclagem de idéias e atualização educacional. O mundo está em

constante mudança, portanto a educação deve acompanhá-lo. Praticar a

38

inclusão escolar não se trata apenas em admitir o acesso de todos os

alunos às escolas, como também garantir o prosseguimento da

escolarização até o nível de que cada aluno for capaz de atingir. Incluir

não diz respeito em acolher um aluno na sala de aula e simplesmente

deixá-lo excluso, sem receber a atenção que necessita. Incluir diz

respeito a:

- Recriar o modelo educativo escolar, tendo como eixo o ensino para todos, - Reorganizar pedagogicamente as escolas, abrindo espaço para a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito critico entre professores, administradores, funcionários e alunos, por que são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania, - Garantir aos alunos tempo e liberdade para aprender, bem como um ensino que não segregue e que respeite a repetência. (MANTOAN.2006. P. 42 e 43).

A inclusão escolar, segundo Macedo (2005), deve promover uma

pedagogia para as diversidades, na qual oriente profissionais na criação

de diversos caminhos possíveis de ensino, com o propósito de que os

alunos alcancem um processo amplo de formação humana.

Para Mantoan, “se o que pretendemos é que a escola seja

inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para uma educação

voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos, que

reconheça e valorize as diferenças.” (ID. p.16)

Para que a inclusão realmente tome forma nas escolas brasileiras

é necessário que as mesmas se modifiquem de maneira radical,

quebrando paradigmas de que “o diferente” não pode fazer parte do

sistema.

A primeira condição para a educação inclusiva não custa dinheiro, ela exige uma nova forma de pensar. Precisamos entender que as crianças são diferentes entre si. Elas são únicas em sua forma de pensar e aprender. (...) Por isso, é errado exigir de diferentes crianças o

39

mesmo desempenho e lidar com elas de maneira uniforme. O ensino deve ser organizado de forma que contemple as crianças em suas distintas capacidades. (Beyer 2005, p.29)

A escola inclusiva promove um processo educativo renovador

com características especificas:

Um direcionamento para a comunidade, ou seja, o processo

educativo seria entendido como um processo social, no qual todas as

crianças com necessidades especiais e com distúrbios de

aprendizagem, teriam o direito à escolarização. Esta atitude tem o

objetivo de integrar a criança com deficiência na comunidade.

Outro ponto importante é o fato de que uma escola inclusiva seria

uma escola líder em relação às demais. Esta se destacaria como a

vanguarda do processo educacional. Seu maior objetivo é fazer com que

a escola possibilitasse a integração das crianças que dela fizessem

parte.

Haveria também uma alta expectativa em relação às escolas

inclusivas, de bom desempenho por parte de todas as crianças

envolvidas, tendo como objetivo fazer com que elas atingissem o seu

melhor potencial. O processo educativo deverá evoluir de acordo com a

necessidade de cada criança. De acordo com Beyer (2005), “Uma aula

dada em um ambiente escolar inclusivo exige dos alunos o que eles tem

capacidade de demonstrar.” ( p. 29)

Outra característica importante seria a colaboração e cooperação,

as quais representariam um ponto fundamental nas relações sociais

entre todos os participantes da escola, tendo como foco principal a

criação de uma rede de auto-ajuda.

A escola inclusiva, também modificaria os papéis tradicionais dos

professores e da equipe técnica. Os professores tornar-se-iam mais

próximos dos alunos, facilitando a compreensão das suas dificuldades.

40

Mesmo assim o apoio especializado de técnicos aos professores da

classe comum, seria essencial para o bom andamento do processo de

ensino-aprendizagem.

A organização de uma infra-estrutura de serviços é outra

característica fundamental, pois gradativamente a escola inclusiva iria

construindo uma rede de suporte para atender suas maiores

dificuldades.

Outro fator indispensável na escola inclusiva é a parceria com os

pais. São eles que conhecem seus filhos profundamente e poderiam

auxiliar a escola de como agir em determinados momentos. Além de

serem peças fundamentais para o processo de inclusão.

Ter ambientes educacionais flexíveis (salas de aula, cadeiras,

mesas lousa, computadores, adaptáveis) é mais uma característica que

promoveria o processo de ensino-aprendizagem do aluno com ou sem

deficiência.

As modificações na escola deverão ser introduzidas após

discussões com a equipe técnica, alunos, pais e professores, para que

todos cheguem a um acordo sobre as decisões a serem tomadas.

Outra característica importante da escola inclusiva é o fato de que os

critérios de avaliação antigos deveriam ser modificados para atender às

necessidades dos alunos com deficiência.

O acesso físico à escola deveria ser facilitado aos indivíduos com

deficiência.

E como característica final, a importância de manter atualizados os

estudos dos participantes da escola inclusiva aprofundando-os e

especializando-os para melhor compreensão de seus alunos.

A inclusão escolar significa atender aos estudantes com

necessidades especiais nas vizinhanças da sua residência; propiciar a

ampliação do acesso destes alunos às classes comuns; proporcionar

41

aos professores da classe comum um suporte técnico; compreender que

as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos

diferentes; encaminhar professores a estabelecer formas criativas de

atuação com as crianças com deficiência; e a propiciar um atendimento

integrado ao professor de classe comum.

O processo de inclusão representa um processo educacional que

tem como objetivo levar ao máximo a capacidade da cada criança com

deficiência na escola e na classe regular. Envolve oferecer o suporte de

serviços da área de Educação Especial através de seus profissionais.

As escolas devem oferecer assistência aos alunos com

deficiências dentro e fora da classe, com profissionais especializados na

necessidade de cada aluno. De acordo com Mendes, “...se de fato há

uma política de educação inclusiva em implantação, deveria ser possível

vislumbrar ações em ao menos três componentes básicos de apoio:

aspecto político (administrativo e organizacional), o educacional e o

pedagógico.” (MENDES. 2002, p. 76)

No campo educacional deveriam ser criados planejamentos e

programas específicos para alunos com diferentes níveis de

aprendizagem.

No campo pedagógico a escola inclusiva deve programar classes

inclusivas, que propõe o agrupamento heterogênico, a centralização dos

apoios (aparelhos e equipamentos, recursos materiais e humanos), as

estratégias de ensino que defendem a inclusão e o ensino que envolve

todos os níveis de aprendizagem. A escola inclusiva deve ter um

currículo flexível, que possa ser modificado e adaptado de acordo com o

ritmo de seus alunos, alem de uma pedagogia que favoreça o bom

aproveitamento acadêmico e social de cada individuo tenha ele

necessidades especiais ou não.

42

No entanto não é possível dizer que a inclusão escolar aconteça

realmente dessa maneira no Brasil, pelo contrario, as escolas ainda não

estão preparadas para incluir da maneira mais adequada, promovendo

assim a exclusão dentro da sala de aula.

A investigação de programas e estratégias de ensino relacionadas à inclusão de crianças com necessidades especiais no ensino regular ainda é bastante escassa em nosso pais, apesar de o tema tão polemico. Portanto, parece emergencial desenvolver pesquisas praticas –centralizadas em inovadoras estratégias pedagógicas- (Brasil, 1997, p.36), tematizando a elaboração e a avaliação de propostas pontuais de inclusão. (MENDES , 2000, p. 81)

Portanto, a prática pedagógica é a peça chave na transformação

da escola comum em escola inclusiva. “Em função do tema da

diversidade, a perspectiva da prática tem caminhado no sentido de

pensar uma pedagogia das diferenças em sala de aula. Para André

(1998), diferenciar é ter a disposição de buscar estratégias para

trabalhar com os alunos que apresentam maiores dificuldades.”

(MENDES, 2000, p.83). Nessa perspectiva o educador é fundamental

para que o processo de inclusão aconteça.

Ser professor no ensino infantil não significa apenas a transmissão

de conhecimento e a preocupação com os cuidados (higiênicos,

alimentícios, etc.). O professor é responsável em estimular a curiosidade

do aprender, construir valores de respeito ao próximo, e acima de tudo

respeitar todas as diferenças. Para que isso seja possível o professor

deve conhecer seus alunos o melhor possível, e assim identificar suas

necessidades e potencialidades.

Com o aparecimento da inclusão escolar o papel do professor

precisa ser atualizado, pois alem de conhecer seus alunos de modo

global, é indispensável que ele saiba como lidar com suas necessidades

43

além de respeitá-los sem excluí-los do grupo. Como Macedo (2005)

descreve, a escola e os professores costumavam buscar alunos

padrões, excluindo assim todos aqueles que não se encaixavam dentro

das expectativas impostas pelos mesmos.

Os alunos eram selecionados segundo certas características e continuavam na escola se atendessem a certas exigências dos professores, tanto em termos de aprendizagem escolar quanto de conduta. Os que não satisfaziam a essas exigências eram pouco a pouco eliminados, ou seja pela reprovação, pela exclusão ou pelo abandono do próprio aluno face às suas insuficiências. (MACEDO, p. 33)

Já na escola atual a educação é para todos e todos têm o direito de

receber o mesmo ensino e respeito, sem ameaça de repetência e

exclusão. Assim o perfil do professor mudou, pois de acordo com

Macedo (2005), anteriormente o problema do ensinar era

responsabilidade do professor e o problema do aprender

responsabilidade do aluno de modo independente não havendo

nenhuma relação entre o ensino/aprendizagem e aluno/professor. Com

a inclusão essa relação transformou-se em um ciclo, onde o aluno

precisa do auxilio do professor para desenvolver suas habilidades de

aprendizagem e o professor precisa procurar métodos diferenciados

para proporcionar o aprendizado e atender às necessidades do aluno.

Beyer (2005), acredita que cada criança deve corresponder às suas

próprias capacidades e se desenvolver de acordo com suas

possibilidades individuais, já que todos os alunos são diferentes entre si,

independente de terem uma deficiência ou não. A didática, também, na

educação inclusiva deve considerar o ritmo e os níveis de aprendizagem

dos alunos, assim como o processo de avaliação deve ser

individualizado, ou seja, o aluno comparado a si mesmo, contemplando

objetivos específicos.

44

Para tal proposta de ensino, uma alternativa é a presença de dois

educadores e um número menor de alunos em cada sala de aula, pelo

foto de existir no grupo diferentes necessidades a serem atendidas. O

educador com atuação pedagógica especializada deve trabalhar no

contexto do grupo, e não somente com os alunos com deficiência, para

evitar o processo de estigma.

No entanto, no Brasil, já há uma carência de professores para as

áreas básicas de ensino, que dirá colocar dois professores em sala de

aula! Mesmo assim para a viabilidade desse atendimento diferenciado

fica clara sua importância. Como diz Beyer (2005), o aluno com

deficiência não vive numa sociedade especial e sim, na mesma

sociedade de todos nós, com particularidades e diferenças. Ele também

deve estudar numa escola regular.

Dessa forma, ele necessita do devido atendimento pedagógico a

partir da distinção de suas características cognitivas e de aprendizagem,

devendo então o currículo ser flexível para permitir algumas adaptações

nesse sentido. Do contrario o aprendizado será prejudicado se houver

falha na estimulação e descrédito dos professores quanto à capacidade

de aprendizagem desses alunos.

A escola tem se transformado há mais ou menos duas décadas, com

a aprovação de documentos como o Estatuto da Criança e do

Adolescente em 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em

1996. Assim sendo, o professor precisou mudar sua metodologia bem

como sua visão de aluno padrão.

É importante lembrar que o aluno de hoje em dia está muito mais em

contato com a tecnologia do que o aluno de uma década atrás. Portanto

este aluno tem muito mais acesso à informações, desenvolvendo

habilidades tanto motoras quanto cognitivas, do que os alunos de

gerações passadas e assim devem ser percebidos, atendidos e

45

estimulados. O professor atual não pode manter o mesmo padrão de

ensino que utilizava anteriormente, pois seus alunos não irão interessar-

se com o mesmo entusiasmo de antes. Conhecendo seus alunos e

compreendendo suas habilidades, necessidades e interesses o

professor é capaz de desenvolver um trabalho produtivo e de valor

indispensável para o processo de ensino/aprendizagem. As crianças

estão se desenvolvendo cada vez mais rápido. O professor precisa se

atualizar constantemente, pois sempre terá algo novo à aprender. Os

desafios novos promovem mudanças, por isso a importância da Inclusão

escolar para a educação e profissionais do ensino. Além disso, o

educador deve saber que a criança antes de entrar na educação infantil

passou por várias vivencias, e traz consigo diversas experiências e

aprendizagens, devendo por isso ser respeitada. Assim o professor deve

desenvolver um trabalho em torno de sua realidade para o alcance de

um projeto produtivo envolvendo as diferenças e peculiaridades de

todos os alunos.

Segundo Zabalza (1998), existem dez aspectos base para uma

educação infantil de qualidade. Dentre eles a atenção privilegiada aos

aspectos emocionais é de fundamental importância, pois são nos

primeiros anos de vida do ser humano que são construídas as questões:

da segurança, do prazer, da autonomia, dos princípios da realidade e

das relações sociais. O emocional se desenvolve em um processo

gradativo das emoções através da flexibilidade oferecida pelo professor,

promovendo a aprendizagem. Zabalza (1998), ainda ressalta a

importância do professor proporcionar uma atenção individualizada a

cada criança. Por mais difícil que seja atender individualmente cada

criança, o professor deve estar em constante rodear do grupo de

maneira que todos recebam a atenção necessária para a aprendizagem.

46

O Ministério de Educação (MEC) desenvolveu os Parâmetros

Nacionais de qualidade de Ensino Infantil com o intuito de estabelecer

uma referência Nacional a ser seguida e aplicada nas instituições de

ensino infantil. Dentre diversas características é de fundamental

importância destacar, de acordo com o MEC, “5: as propostas

pedagógicas das instituições de Educação Infantil consideram a inclusão

como direito das crianças com necessidades educacionais especiais,

contemplado”. Procurar descrever a importância de proporcionar ao

aluno com deficiência, materiais, a linguagem de sinais, espaços de

equipamentos especializados, estratégias e orientações para o bem

estar dos mesmos, além de oferecer formação continuada aos

profissionais da educação infantil para atender as necessidades dos

alunos com deficiência.

É conhecendo a criança como um todo e compreendendo sua

vivência e realidade que os educadores do ensino infantil, podem

encaminhá-las ao conhecimento e desenvolvimento, incluindo-as na

sociedade como parte de um grupo.

Portanto, o processo de Inclusão Escolar é de responsabilidade de

toda sociedade e só se torna possível e bem-sucedida na medida em

que exista a participação de pais, alunos, professores, equipes diretivas

e pedagógicas, funcionários e gestores do projeto político-pedagógico.

Enfim que envolva a participação de todos que de alguma forma tenham

vinculo com o projeto. Como acredita Beyer (2006) sem a convicção

desses grupos de que a educação inclusiva é o melhor caminho para a

verdadeira inclusão social, nenhuma transformação ocorrerá.

47

5 Uma prática em andamento

Realizamos nossa pesquisa qualitativa de observação participante

em uma escola particular na zona sul da cidade de São Paulo. A

clientela da escola é constituída por alunos de classe social alta (ex:

filhos de diplomatas, empresários, presidentes de multinacionais, etc.).

Foram observados os seguintes aspectos:

Estrutura física

A escola ocupa uma área de 18.000 metros desde 1927. Em seu

terreno podemos encontrar dois prédios grandes e uma vasta área

externa.

O espaço educacional tem sido constantemente atualizado de

acordo com os mais altos padrões de qualidade de ensino. O prédio

principal é de quatro andares, dividindo assim os três departamentos

(ensino infantil, fundamental e médio) e mais um subsolo. O subsolo

dispõe de uma biblioteca (com mais de 32.000 volumes em seu acervo,

incluindo livros, CD-ROMs, fitas de vídeo e áudio, folhetos de orientação

profissional e uma ampla variedade de jornais e revistas), de quatro

laboratórios de computadores, um local de culto ecumênico e salas de

conferência.

No andar térreo, onde o ensino infantil é localizado, é

disponibilizado independentemente do resto da escola da seguinte

maneira: seis salas de pré 1(crianças de 3 a 4 anos), seis salas de pré 2

(crianças de 4 a 5 anos) e quatro salas de pré 3 (crianças de 5 a 6

anos). No segundo andar estão dispostas todas as salas do ensino

fundamental, onde também está o laboratório de ciência. No terceiro

andar está o ensino médio.

48

No segundo prédio do outro lado do pátio é onde estão distribuidas

as salas de musica, com diversos instrumentos, estúdios e as de artes,

Um ginásio para Educação Física e um auditório para teatros e festivais

musicais com capacidades de acomodar, mais ou menos 300 pessoas.

Na área externa a escola possui uma piscina semi-olímpica e uma

pequena, dois refeitórios, dois parquinhos (um para as crianças maiores

e um para crianças menores), uma quadra poli-esportiva e um campo de

futebol.

A escola tem acesso aos andares por escadas, rampas ou por

elevadores. Possuem banheiros para deficientes em todos os andares e

uma pequena enfermaria para a educação infantil e uma maior para os

alunos mais velhos e os funcionários da escola, com três enfermeiras.

A escola não tem um departamento voltado para alunos com

necessidades especiais. Existe sim, uma psicóloga, que raramente

aparece pelo parquinho observando algumas crianças.

As salas de aula na educação infantil são bem espaçosas,

possuem uma cozinha acoplada e um banheiro para cada duas salas de

aula. O Maximo de crianças por sala de pré 1 e 2 é de 13 com uma

professora e uma auxiliar. A sala distribuída de acordo com a rotina de

cada professora, sendo que todas as salas de aula tenham seus cantos

de múltiplas inteligências (o canto da leitura, criativo, da escrita, de

habilidades motoras, etc.), uma lousa verde, três computadores e uma

lousa interativa.

A sala de pré 3 tem 20 alunos por sala de aula com uma

professora e uma auxiliar. Essas salas são maiores por terem mais

alunos.

49

Funcionamento Escolar

A escola funciona período integral, das 7:30h da manhã até às

3:30h da tarde, oferecendo assim diversas disciplinas e atividades

durante o dia. A escola fornece três refeições às crianças e aos

funcionários: o café da manhã, o almoço e o lanche da tarde.

Funcionamento acadêmico

As crianças entram na escola entre 3 e 4 anos de idade, na sala

de pré 1. O primeiro ano desenvolve um trabalho de adaptação à rotina

escolar, introduzindo lentamente atividades especificas para a

construção da inteligência das crianças. No pré 2 as crianças dão inicio

ao processo de alfabetização. A alfabetização é dada na língua inglesa.

A escrita em português só é introduzida a partir do segundo ano do

ensino fundamental. O método de alfabetização é o fonético, porém

diferente do que temos no Brasil. As crianças aprendem cada letra pelo

som e um movimento, que são introduzidos através de uma história

contada pela professora. Quatro sons são ensinados por semana e as

crianças aprendem naturalmente relacionando o movimento com o som

da letra. No final do ano as crianças são capazes de ler e escrever com

facilidade. No pré 3 o objetivo é de aperfeiçoar a escrita e a leitura

A educação infantil desenvolve seu trabalho acadêmico por meio

de temas. Cada tema tem uma duração de um mês, em torno do qual o

conteúdo de todas as disciplinas é desenvolvido.

50

Relatos de experiências observadas de duas crianças com

deficiência física

Durante um ano acadêmico tivemos a oportunidade de

acompanhar duas crianças com deficiência física, em diferentes classes

de aula. Pretendemos relatar essas duas experiências, da maneira com

que as observamos no dia a dia e a entrevista que fizemos com as

respectivas professoras. Nosso intuito aqui é de transmitir como a

escola encara a inclusão e como trabalha para auxiliar essas crianças.

5.1 Primeiro caso

Na sala de pré 2 observamos uma menina de cinco anos com

deficiência auditiva moderada. Conversando com a professora,

soubemos que tão logo a menina entrou na escola, tanto os pais quanto

a professora anterior, demoraram a perceber que sua falta de atenção

era causada por uma leve deficiência. Com o baixo aproveitamento e a

constante distração em sala de aula durante alguns meses, a professora

sugeriu aos pais que a levassem a um Otorrinolaringologista para

verificar se existia algum déficit auditivo. A menina foi diagnosticada com

um déficit entre 20 e 40 (dB), ou seja, deficiente auditivo moderado. A

menina passou a usar um aparelho auditivo e tem se adaptado muito

bem com este.

A posição da escola ao saber da deficiência da menina, segundo a

professora atual, não foi animadora. Sua posição foi de esclarecer que

se a menina não conseguisse acompanhar as atividades do dia-a-dia

escolar, não poderia continuar estudando nesta escola.

51

Atualmente a menina, por ser muito desinibida, alegre e

inteligente, consegue acompanhar o ritmo acadêmico da escola e nunca

precisou de qualquer apoio extra. Perguntamos à professora se ela

percebe que a menina escuta direito tudo que é explicado. Ela nos disse

que com poucos alunos em sala de aula, é possível proporcionar a

atenção necessária para que a menina desempenhe as atividades com

sucesso. Observamos que a professora sempre procura colocar a

menina o mais próximo dela possível, na hora do circulo e em frente do

quadro interativo quando está explicando as atividades.

A professora disse que no inicio as crianças perguntavam o que a

menina tinha na orelha. E ela procurava tratar do assunto com

naturalidade explicando para a classe o que era um aparelhinho auditivo

e qual sua finalidade, além de discutir as diferenças e semelhanças,

trabalhando com valores como respeito, solidariedade, compreensão,

etc.. As crianças nunca mais perguntaram nada a respeito e pudemos

perceber que o fato da menina ter uma deficiência não à impede de ter

muitos amigos, que a querem muito bem, e de acompanhar as

atividades tão bem quanto seus colegas de classe.

Perguntamos também sobre os pais da menina. Qual o

envolvimento deles em relação à dificuldade da filha. A professora nos

disse que no começo do ano eles a procuraram para conversar sobre

sua deficiência, mas nunca se envolveram muito. De acordo com ela a

menina está muito bem e não demonstra necessidade dos pais

participarem mais do que os demais.

5.2 Segundo caso

Na sala de pré 3 observamos um menino de seis anos que nasceu

com o sistema digestivo incompleto. Ou seja, não possui os músculos

52

do reto desenvolvidos e sem o ânus. Foi submetido a diversas cirurgias

quando recém-nascido, as quais moldaram suas nádegas e o orifício

anal. Mesmo com todas as cirurgias sua musculatura jamais funcionará

perfeitamente. Portanto, essa deficiência provocou algumas

complicações no desenvolvimento de habilidade motora fina e grossa.

Tem dificuldade de correr e pular, suas pernas são levemente viradas

pra dentro, tem dificuldade para segurar o lápis, o pincel e recortar. Este

menino tem que usar fralda, por não controlar suas fezes.

Não temos como dizer qual a posição da escola em relação à

dificuldade do menino, pois nunca foi comentada conosco No entanto,

sabemos que a enfermeira da enfermaria da educação infantil o auxilia

na troca de fralda de duas em duas horas.

Ao conversar com a professora atual, soubemos que a mãe do

menino é muito presente: sempre procura saber o que está acontecendo

em sala de aula, é interessada em saber as dificuldades do filho,

procura aprender qual a melhor forma de ajudá-lo, e participa a

professora de tudo que acontece com ele fora da escola. No entanto, a

professora diz que a mãe tem certa dificuldade em tratar de expor o

problema do filho para os outros pais.

Pudemos perceber que os colegas do menino demonstravam

muito carinho por ele, oferecendo atenção especial, ajudando-o e

cuidando para que não se machucasse. Conversando com a professora

nos contou que a mãe tem medo de que as outras crianças o tratem

com preconceito e pediu que não falasse nada sobre a fralda com os

colegas. Acreditamos que as crianças o vêem como um ser frágil e

assim o acarinham muito.

A professora oferece muita atenção ao menino o tempo todo

visando aprimorar suas habilidades motoras finas por meio de atividades

divertidas e especificas para suas necessidades. Ele parece bem

53

independente em sala de aula, muito interessado e dedicado em

aprender. Depois de um ano podemos dizer que ele desenvolveu suas

habilidades motoras, tanto finas quanto grossas. Ultimamente sua mãe

tem estimulado a necessidade dele tirar a fralda. O menino demonstra

muita dedicação neste processo, pois sabe que no próximo ano irá para

a primeira série do ensino fundamental, onde não terá os mesmos

cuidados individuais que a educação infantil oferece.

54

Considerações finais

Tendo em vista a compreensão do significado da Inclusão; a

importância das diferenças para o desenvolvimento da aprendizagem; o

valor da educação infantil para a construção de valores e da inteligência;

a escola inclusiva e seus fundamentos e características; e como essa

teoria repercute em uma escola particular de alto nível econômico foi

possível analisar que a Inclusão ainda é um sonho para as crianças com

deficiências físicas.

Conclui-se assim que, por meio da observação, foi retratada uma

integração e não de fato uma inclusão, já que nos dois casos descritos

os próprios alunos com deficiência física tiveram que se modificar para

se adaptarem aos padrões da escola e não, o oposto.

Pode-se dizer assim que existe uma complexidade de barreiras de

dimensão infinita. De acordo com Beyer, (2005) se fossemos

perguntado sobre a inclusão escolar aos professores, gestores e

especialistas, ainda seria dito que essa questão é Utópica. No entanto,

se a comunidade escolar por inteiro passar a rever suas práticas

pedagógicas, administrativas, sociais e morais no acolhimento de

crianças com deficiências físicas da mesma maneira que as outras

crianças e lhes oferecendo os serviços e atendimento de que

necessitam, este sonho pode aos poucos tornar-se realidade.

55

Referências bibliográficas:

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educacionais especiais. Porto Alegre: Mediação, 2005. 128 p.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação

Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil /

Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação

Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. 221 p.

CARVALHO, Rosita Edler. Removendo as barreiras para a aprendizagem. Porto

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CHABANNE, Jean-Lac. Dificuldades de aprendizagem; um enfoque

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MANTOAN, Maria Teresa Eglêr. Inclusão escolar? o que é? por quê? Como

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64 p

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Teresa Eglêr Mantoan, Rosângela Gavioli Prieto : Valéria Amorim Arantes,

organizadora. – São Paulo : Summus, 2006. 103 p.

56

MITTLER, Peter. Educação inclusiva; contextos sociais; trad. Windyz Brazão

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PAROLIN, Isabel Cristina Hierro (org.). Aprendendo a incluir e incluindo para

aprender. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2006.

SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DIRETÓRIA DE

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SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão. Construindo um mundo para todos; Rio de

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ZABALZA, Miguel A. Qualidade em educação infanti;: trad. Beatriz Afloriso Neves.

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Textos:

Escola inclusivo-organizada por Marina Silveira Palhares, Simone Cristina Marina. –

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usp%5D.pdf?nmid=93388117> Acesso em: 06 de outubro de 2008.

57

Anexo

58

Roteiro de entrevista

1. Qual a deficiência que seu aluno tem?

2. Como a criança lida com suas deficiências em sala de aula?

Que forma de apoio ou recurso é necessária para o melhor

aproveitamento da criança em aula?

3. Qual a reação dos colegas em relação ao aluno incluso?

4. Qual a posição da escola em relação ao aluno com

deficiência física?

5. Existe uma comunicação entre pais, professora e diretora

sobre a criança com deficiência física?

59

Apêndice