Inclusão de pesoas com deficiência nos projectos comigo · deficiente e introduz o tópico na...

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Conte comigo Inclusão de pesoas com deficiência nos projectos de desenvolvimento Um guia prático para organizações do Norte e do Sul Por Paulien Bruijn, Barbara Regeer, Huib Cornielje, Roelie Wolting, Saskia van Veen e Niala Maharaj

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  • Contecomigo

    Inclusão de pessoas comdeficiência nos projectosde desenvolvimento

    Um guia prático para organizações do Norte e do SulPor Paulien Bruijn, Barbara Regeer, Huib Cornielje, Roelie Wolting, Saskia van Veen e Niala Maharaj

  • Inclusão de pessoas com deficiência nos projectos

    de desenvolvimentoUm guia prático para organizações

    do Norte e do Sul

    Por Paulien Bruijn, Barbara Regeer, Huib Cornielje, Roelie Wolting, Saskia van Veen e Niala Maharaj

    Contecomigo

  • [›]

  • Quem é deficiente?

    Se você não é capaz de ver a pessoa, mas somente a deficiência, então quem é cego?

    Se você não é capaz de escutar o clamor pela justiça de seu irmão, quem é surdo?

    Se você não se comunica com suas irmãs, mas as separade si mesmo, quem é deficiente?

    Se o seu coração e sua mente não se aproximam ao seu vizinho, quem está em desvantagem?

    Se você não se levanta para defender os direitos de todasas pessoas, quem é o deficiente?

    Suas atitudes em relação às pessoas com deficiênciapodem ser nossos maiores obstáculos, e os seus também.

    Tony Wong

  • Indice

    Nota do autor 7Nossa própria história 8Introdução do conteúdo 9Apresentação dos Autores 10Agradecimentos

    12PARTE UM: Deficiência, exclusão e inclusão 13O mistério do desaparecido e marginalizado 14O que é deficiência? 15Diferentes abordagens para deficiência 16Por que pessoas com deficiência são excluídas nos programas de desenvolvimento? 18O que é desenvolvimento inclusivo? 21O papel de organizações inclusivas no desenvolvimento inclusivo 24

    PARTE DOIS: Criação de programas de desenvolvimento inclusivo 25Passos necessários para tornar um programa inclusivo 25Treinamento do Pessoal do Projeo 26Inclusão de pessoas com deficiência como formadores 28Boas práticas 33A remoção das barreiras 42Criando acesso para todos 43Estabelecimento de redes 46

    TERCEIRA PARTE: Tornando-se uma organização de deficiência inclusiva 49Qual é a caraerística típica de uma organização inclusiva? 49Como se tornar uma organização inclusiva 55Inserçao de inclusão da deficiência nas estratégias e sistemas organizacionais 67Gestão dos recursos humanos para deficiência inclusiva 69Inclusão da deficiência no sistema de planificação, monitoria e avaliação 70Criação de acesso às instalações e informações em sua própria organização 72

    QUARTA PARTE: Observações finais: lições aprendidas 74

  • 7

    O que aprendemos com nossa experiência – eque gostaríamos de partilhar consigo – é queincluir pessoas com deficiência num grupo-alvoda sua organização não necessariamente exigelançar um programa totalmente novo. Isto podeser alcançado com actividades já existentes,esquemas de treinamento e políticas. Este guiavai o mostrar como, pois, contém passos simplese práticos que alguém pode adoptar para incluirpessoas com deficiência nas suas actividades.

    Esse guia está repleto de sugestões, exemplosreais e experiências para inspirar os praticantesde políticas de desenvolvimento a tomarem ainiciativa. Ele foi desenhado tendo emconsideração os funcionários das sedes deorganizações de desenvolvimento no Norte,assim como aqueles que trabalham no Sul emorganizações responsáveis pela implementação.Portanto, esperamos que agregue valor paradoadores, ONGs, organizações do governo,fazedores de políticas e, nas próprias pessoascom deficiência.

    Diferentes factores podem impulsionar umaorganização a começar a trabalhar com ainclusão de pessoas com deficiência. Primeiro,existe a Convenção sobre os Direitos dasPessoas com Deficiência da ONU, que motivaorganizações a iniciar a inclusão de pessoas comdeficiência nos seus programas. Esta é aconsequência lógica quando os países ratificam aConvenção. Às vezes o processo de inclusão se

    inicia com um gestor que tem um filho(a)deficiente e introduz o tópico na agenda. Emoutros casos, as organizações avaliam seuspróprios programas e descobrem que pessoascom deficiência não se beneficiam de seustrabalhos humanitários. Algumas organizaçõesquerem trabalhar com inclusão de pessoas comdeficiência porque isso faz parte de suas visões emissões: por exemplo, educação para todos. Nãohá organizações onde o processo inicia-se comum pedido iniciado pelo doador.

    Qualquer que seja a razão, este guia oferece osprimeiros passos, material de inspiração que osentusiasmados podem usar para introduzir otópico de inclusão de deficiência na agenda desuas respectivas organizações, incluindoinformações essenciais sobre como a inclusãopode ser incorporada nas políticas e estruturasorganizacionais.

    Nossa própria história

    Há quatro anos, três organizações dedesenvolvimento da Holanda uniram-se edecidiram que deveriam parar de falar sobreinclusão de pessoas com deficiência e começar afazer algo para que tal acontecesse. Isso resultounum programa de Desenvolvimento deCapacidades para organizações parceiras naÍndia e na Etiópia sobre como incluir pessoascom deficiência em programas de

    A ‘inclusão de pessoas com deficiência’ tornou-se ainda outro tópico na ocupada

    agenda dos sobrecarregados gestores e oficiais de programas de organizações de

    desenvolvimento. Mas não tenha medo: esta brochura não vai aumentar o seu

    fardo. Na verdade, vai torná-lo mais leve.

    Nota do autor

    ←←Qual é a intençãodeste guião?

    ←Como este guiãosurgiu?

    ←←Porquê o precisamos?

  • desenvolvimento tradicionais. Outrasorganizações holandesas ingressaram,juntamente com suas organizações parceirasnesses dois países.

    No começo, o nosso foco era primariamente ainclusão de pessoas com deficiência nosprojectos de desenvolvimento. Porém, ao longodo percurso, percebemos que a inclusão quepretendíamos exigia não somente mudança deatitude, mas também mudanças organizacionais.Não era somente sobre a inclusão em projectose programas; era também sobre nossos própriosvalores organizacionais, sistemas e políticas. Nãohaviam somente barreiras nos nossos projectos,mas também barreiras nos nossos própriosescritórios e websites que impediam que pessoascom deficiência tivessem a mesma participação.

    Portanto, lançamos um ‘Programa deAprendizagem Temática’ (TLP, em inglês) sobreinclusão de pessoas com deficiência em Janeirode 2011. O programa foi patrocinado pela PSO,uma organização holandesa de capacitação.Treze organizações doadoras (seis ONGsholandesas tradicionais; três ONGs holandesasespecíficas de deficiência e quatro ONGsincluindo de outros países europeus – ReinoUnido, Alemanha, Bélgica e Dinamarca) e vinte euma organizações implementadoras na Etiópia ena Índia participaram.

    As organizações participantes formularam suaspróprias questões e planos de acção parapromover uma inclusão sustentável de pessoascom deficiência nos seus próprios programas eorganizações. O guia que tem em suas mãosneste momento é um dos resultados desteprograma de aprendizagem. É baseado emexperiências reais destas organizações. Portanto,esperamos que a nossa experiência inspireoutros a começar suas próprias jornadas comvista à participação equitativa de pessoas comdeficiência.

    Introdução do conteúdo

    A Parte Um desta publicação fornece umaintrodução vital do tópico de deficiência edesenvolvimento. Pode ser muito útil se este

    assunto for novo para si, pois, apresentaperspectivas convencionais sobre pessoas comdeficiência e questionamentos sobre asdefinições populares nesta área. Aqui, nósdispomos a perspectiva de direitos humanossobre o conceito de deficiência e clarificamos anecessidade de programas de desenvolvimentoinclusivos para pessoas com deficiência.

    A Parte Dois explica passo-a-passo medidas quepodem ser adoptadas para incluir pessoas comdeficiência em programas de desenvolvimentoregulares. Este capítulo é extremamenterelevante para os praticantes de políticas dedesenvolvimento envolvidos no desenho,implementação, monitoria e avaliação deprojectos e programas, e aqueles envolvidos notreinamento de pessoal.

    A Parte Três apresenta como organizaçõespodem enquadrar o tópico de inclusão dedeficiência em suas próprias políticas, sistemas eestruturas. Isto é interessante para fazedores depolíticas, oficiais de monitoria e avaliação egestores seniores. Este capítulo também incluium teste prático para descobrir o quão inclusivasua organização é.

    Apresentação dosAutores

    • Paulien Bruijn, coordenadora de projectos dedesenvolvimento inclusivo, LIGHT FOR THEWORLD Holanda

    • Huib Cornielje, consultor de assuntosrelacionados com deficiência e capacitação

    • Niala Maharaj, coordenadora de edição• Barbara Regeer, professora assistente, AthenaInstitute, VU University, Amsterdam

    • Saskia van Veen, pesquisadora, Athena Institute,VU University, Amsterdam

    • Roelie Wolting, consultora de assuntosrelacionados com deficiência, ColigaçãoHolandesa sobre Deficiência eDesenvolvimento

    8

    →Baseado na

    experiência de vidareal

    →Definições sãoimportantes

    →→Mudanças de políticas

    são necessárias

  • 11

    Gostaríamos de manifestar a nossa gratidão àsorganizações que participaram no Programa deAprendizagem Temática e generosamentecontribuíram com sua experiência,conhecimento e fotografias para odesenvolvimento deste guia.

    O Centro Etíope para Deficiência eDesenvolvimento (ECDD) e organizaçõesparticipantes na Etiópia: Ethiopian Kale HeywotChurch (EKHC); Meseret Kristos Church (MKC);New Vision in Education Association (NVEA);Kelem Education and Training Association (KETA);Ethiopian Mulu Wongel Amagnoch ChurchDevelopment Organisation (EMWACDO);Resurrection and Life Development Organisation(RLDO); Hope Enterprises; Wabe Children’s Aidand Training (WCAT); Evangelical ChurchesFellowship Ethiopia (ECFE). Leonard CheshireDisability SARO (LCD), Center for Disability inDevelopment in Bangladesh (CDD) e organizaçõesimplementadoras na Índia: Evangelical FellowshipOf India Commission on Relief (EFICOR); NorthEast India Commission On Relief & Development(NEICORD); Discipleship Centre; EmmanuelHospital Association; CCCD; ReformedPresbyterian Church (RPC); Vocational Trainingand Rehabilitation Center (VTRC); Word Trust;AMG India; Oikonomos Ministries; LeonardCheshire Home Lucknow; Leonard Cheshire HomeDehradun.

    Organizações participantes na Europa: TearNetherlands; Edukans, Oikonomos; Help a Child;Light for the World Netherlands; WarChild;Zuidoost-Azië (ZOA); Fundação Liliane;Netherlands Leprosy Relief; Tearfund UK; KinderNot Hilfe Germany; Mission East Belgium; IASDenmark.

    Portanto, gostaríamos de agradecer também aJoyce den Besten, que alegremente nos ajudouna produção desta brochura, assim como osseguintes estagiários de pesquisa da VUUniversity Amsterdam, que nos forneceram

    relatos de casos da Holanda, Etiópia e Índia:Heleen Troost, Ineke Caubo, Claudine van derSande, Shanti Thakoerdin, Emmy de Wit,Sebastiaan Blok, Joyce den Besten, DurwinLynch, Denise van Kampen, Tessa Frankena andYang Qin.

    Agradecimentos também a Dave Lupton, quegenerosamente nos permitiu o uso de seuscartoons Crippen na internet e recomendamosque os estimados leitores acessem o seu site:http://www.crippencartoons.co.uk

    Estamos muito gratos à organização holandesaPSO por nos fornecer fundos para organizar oPrograma de Aprendizagem Temática e para aprodução deste guia. Também agradecemos àICCO Kerk in Actie por cofinanciar a produçãodeste guia

    Finalmente, gostaríamos de agradecer às nossaspróprias organizações por nos permitirdespender tempo e recursos para este projecto.

    Agradecimentos

  • [1]

  • 13

    ‘Ser deficiente deixar de ser um obstáculo ao sucesso (...) Nós temos o dever moral

    de remover barreiras que impeçam a participação, e de investir o financiamento e

    peritagem suficiente para abrir o vasto potencial de pessoas com deficiência.

    Governos em todo o mundo não podem mais negligenciar centenas de milhões de

    pessoas com deficiência que são negadas acesso à saúde, reabilitação, suporte,

    educação e emprego, e nunca têm a oportunidade de brilhar. É a minha esperança

    que (...) este século irá marcar um ponto de viragem para inclusão de pessoas com

    deficiências nas vidas da sociedade ao seu redor.’

    Professor Stephen Hawking

    Deficiência, exclusão e

    inclusão

  • 14

    É estimado que pessoas com deficiência compõem cerca de 15% da população

    mundial. Eles estão frequentemente entre os mais marginalizados dentre os

    pobres.20% das pessoas mais pobres do mundo possuem deficiência, de acordo

    com o Banco Mundial (UN Enable, 2009)

    O mistério dodesaparecido emarginalizado

    Em teoria, pessoas com deficiência possuem osmesmos direitos que você e eu de participarintegralmente de todas as esferas da vida: navida em família, na escola, no local de trabalho,na política ou em serviços religiosos (Convençãosobre os Direitos das Pessoas com Deficiência daONU, 2008). Entretanto, a realidade em muitospaíses em desenvolvimento é o oposto. Criançascom deficiência dificilmente frequentam aescola. Adultos raramente participam emactividades comunitárias como encontros,festivais e serviços religiosos. Elesfrequentemente não possuem acesso aomercado de trabalho e encontram discriminaçãoao procurar emprego ou envolvimento emgrupos de auto-ajuda ou actividades geradorasde rendimento. As raparigas e mulheres comdeficiência são extremamente vulneráveis aoabuso físico e sexual, particularmente quandopossuem uma deficiência intelectual.

    Pessoas pobres possuem maiores possibilidadesde adquirir algum tipo de deficiência: elesrealizam trabalhos mais perigosos, comotrabalho em minas, indústria, construção civil econstrução de rodovias. Eles são mais expostos a

    doenças ligadas a deficiência e condições.Pessoas pobres frequentemente vivem emcondições que podem levar a condiçõesdeficientes, por exemplo com mais exposição àviolência, incêndios e etc. Eles geralmentecomem comida de baixa qualidade e comvariedade limitada, o que pode resultar emcondições deficientes, como raquitismo, epossuem menos dinheiro para usar emassistência médica.

    Ao mesmo tempo, ter uma deficiência aumentaa possibilidade de permanecer na pobreza.Pessoas com deficiência muitas vezes perdemseus empregos ou são impedidas de participarem ambiente escolar e de trabalho. Este ciclo dedeficiência e pobreza pode e precisa serquebrado. Agências de desenvolvimento devemdesempenhar um papel vital para quebrar esteciclo e criar oportunidades iguais para pessoascom deficiência.

    Contudo, a amarga realidade é que pessoas comdeficiência, que frequentemente pertencem aosmais pobres dentre os mais pobres, dificilmentese beneficiam de programas de

    →As pessoas comdeficiência não

    aparecem no cenáriode desenvolvimento

    →Grandes agências de

    desenvolvimentogastam apenas 1% de suas actividades de microcrédito nas

    pessoas comdeficiência

    (Sarpy, 2001)

  • desenvolvimento. Como é que as pessoas quemais precisam não conseguem aceder aosprojectos de alívio a pobreza? Por que poucasorganizações de -desenvolvimento prestamatenção aos grupos marginalizados em seusprogramas? Continue connosco. Nós vamostentar desvendar este mistério.

    O que é deficiência?

    Pergunte às pessoas, o que é deficiência e comcerteza irá ouvir muitas respostas e pontos devista diferentes. Algumas pessoas dirão que sãotragédias pessoais; outras vêem como umproblema médico; e ainda assim outras dirão quedeficiência é parte da vida e devem ser aceitescomo um aspecto de diversidade.

    É importante tentar entender o que serdeficiente significa para as pessoas. Somente

    15

    A Convenção das NaçõesUnidas sobre os Direitosdas Pessoas comDeficiência (UNCRPD)

    A Convenção entrou em vigor em 2008. Apelaespecificamente programas dedesenvolvimento para incluir as pessoas comdeficiência.

    Artigo 32 - Cooperação internacionalOs Estados membros reconhecem a importância de a cooperação internacional e a sua promoção, em apoiar os esforçosnacionais para a realização do propósito e objectivos da presente convenção, e empreenderá medidas adequadas e eficazes,entre os Estados membros em parceria comorganizações internacionais relevantes eregionais e sociedade civil, nomeadamente asorganizações de pessoas com deficiência. Tais medidas incluem, entre outros:(a) Assegurar que a cooperação internacional,

    incluindo o desenvolvimento internacionalprogramas, seja inclusiva e acessível àspessoas com deficiência;

    (b) Facilitar e apoiar desenvolvimento decapacidades, através do intercâmbio e partilha de informação, experiências,programas de treinamento e boas práticas;

    (c) Facilitar a cooperação em pesquisa e acessoao conhecimento científico e técnico;

    (d)Providência de forma apropriada,assistência técnica e económica, incluindoa facilitação do acesso e a partilha detecnologias acessíveis e assistências, e através da transferência de tecnologias.

    Artigo 11 - Situações de risco e emergênciashumanitáriasOs Estados membros devem proceder deacordo com suas obrigações sob o direitointernacional, todas medidas necessárias paraassegurar a protecção e a segurança daspessoas com deficiência em situações de risco,incluindo situações de conflito armado,emergências humanitárias e a ocorrência dedesastres naturais.

    ←Definições sãoimportantes

    Os seguintes factos estão bem estabelecidos:• Há uma forte relação entre pobreza e deficiência (Banco Mundial, 2010):

    75-90% das pessoas com deficiência no Sul vivendo abaixo da linha depobreza (WHO, 2011);

    • Há uma forte ligação entre renda baixa e irregular e deficiência (OMS, 2011);• 40 milhões das 115 milhões de crianças que não frequentam a escola

    possuem algum tipo de deficiência (Relatório de Monitoria Global 2010 doEFA). Deste modo, um terço de todas as crianças fora da escola são criançascom deficiência;

    • É estimado que 500.000 pessoas, incluindo 10.000 pessoas com deficiência,morrem todos os dias como resultado de pobreza extrema. (KAR, 2005);

    • Mais de 1 bilhão de pessoas vivem com alguma forma de deficiência. Istocorresponde a cerca de 15% da população mundial ((OMS, 2011).

  • quando o fazemos é que nós tornamos capazesde endereçar efectivamente o problema damarginalização de pessoas com deficiência. Aspessoas frequentemente pensam que essamarginalização é causada pelo impedimento doindivíduo em questão e suas consequências paraa funcionalidade. Porém, na realidade, asatitudes e crenças que a sociedade mantémsobre deficiência contribuem grandemente paraa marginalização.

    Dois conceitos chaves que precisam serdistinguidos são impedimento e deficiência. Estesdois termos são muitas vezes indistintos, mas adistinção entre os dois é vital para oentendimento da questão. ‘Impedimento’ refere-se a problemas na função e estrutura do corpocomo um resultado de uma condição saudável –por exemplo, cegueira ou paralisia. ‘Deficiência’possui um significado mais amplo. Refere-se aimpedimentos, limitações nas actividades (comoa inabilidade de ir ao banheiro) e restrições naparticipação (como as dificuldades em serempregado, ir à escola ou fazer uso dotransporte público).

    Ter uma deficiência é algo muito influenciadopela interacção entre o individuo e seu ambientesocial, cultural e físico. Há muitas situações noambiente que são incapacitantes e pode ser feitauma distinção entre aquelas que não podem sermudadas (por exemplo, altas montanhas) eaquelas que podem ser alteradas (escadaspodem ser substituídas por rampas ouelevadores). Há também situações ou condiçõesque podem ajudar os indivíduos a serem menosdeficientes. Por exemplo, enquanto montanhasnão podem ser removidas, pode ser possíveltornar o transporte público local acessível a

    pessoas que usam cadeiras de roda, enquantouma rampa ou elevador permite que pessoascom cadeiras de roda acessem os prédios.

    A Convenção sobre os Direitos das Pessoas comDeficiência da ONU (UNCRPD), adoptada em2006, entrou em vigor em 2008 e, tendo sidoratificada por mais de 110 países, usa a seguintedefinição: ‘Pessoas com deficiência são aquelasque têm impedimentos de longo prazo denatureza física, mental, intelectual ou sensorial,os quais, em interacção com diversas barreiras,podem obstruir sua participação plena e efectivana sociedade em igualdades de condições comas demais pessoas.’

    Deficiência é, portanto, não somente umatributo ao indivíduo: é uma interacção entre apessoa e o ambiente ao redor. Intervenções eacções visando a capacitação de pessoas comdeficiência para que participem em todas asesferas da vida deve, dessa forma, ir além doconceito tradicional de tratamento médico ereabilitação. Habilitar pessoas a participarem navida social pode ser largamente alcançado peloendereçamento de barreiras que dificultam odia-a-dia de pessoas com deficiência. Taisbarreiras são muito comumente encontradas nasociedade.

    Às vezes pessoas com deficiência possuemtambém barreiras internas que podem afectarseriamente sua participação em sociedade. Porexemplo, pode ser que pessoas estejamdesmotivadas a contribuir para seu própriodesenvolvimento ou elas podem não ter auto-estima e acreditar não serem capazes deaprender coisas novas.

    16

    →Não confunda

    ‘impairment’ com‘deficiência’

    →→‘Deficiência’ envolve a interacção com o

    meio ambiente

    →E o meio ambientepode ser alterado

    →→Barreiras podem ser

    removidas...

    →→... Ou eles tendem a

    perder a auto-estima...

    Deficiência

    PobrezaVulnerabilidadeA VULNERABILIDADE À POBREZA

    E PROBLEMAS DE SAÚDE

    estigma e exclusão social e cultural

    participação reduzida noprocesso de tomada

    de decisão e negação de direitos

    deficiência nos direitos económicos, socias

    e culturais

    negação de oportunidades de desenvolvimento económico,

    sociais e humano

    Fonte: DFID, (2002)

  • 17

    ‘Apesar das inúmeras políticas e declarações relativas a deficiência e redução da

    pobreza, ainda estima-se que 50.000 pessoas, incluindo 10.000 pessoas com

    deficiência pessoas, morrem todos os dias, como resultado da pobreza extrema.

    Esta não é uma teoria abstracta, mas uma crise desastrosa. Seria enganoso

    afirmar que esta injustiça é intenção consciente de alguém. No entanto, pode-se

    argumentar que é o inevitável e resultado lógico das relações globais existentes ‘.

    Rebecca Yeo, KAR de 2005

  • Diferentes abordagenspara deficiênciaA nova abordagem baseada em direitos sobredeficiência enfatiza que pessoas com deficiênciasão muitas vezes impedidas de alcançar seupleno potencial, não devido ao seuimpedimento, mas como um resultado debarreiras legais, atitudinais, arquitectónicas, decomunicação e discriminatórias. As pessoas comdeficiência devem ser reconhecidas e aceitescomo membros plenos e iguais da sociedade,que têm importantes contribuições a fazer àssuas famílias e comunidades, e possuem o deverde aceder as todas necessidades básicas –incluindo escolas, serviços de saúde ereabilitação. Essa nova abordagem visa dar àspessoas com deficiência acesso a programas dedesenvolvimento regulares, em vez de organizarprogramas especiais exclusivos para pessoas comdeficiência.

    O novo entendimento sobre deficiência desafia oponto de vista mais tradicional de quedeficiência é um problema estritamente médicoque precisa ser resolvido. Nesta abordagemmédica o único foco é em ‘curar’ pessoas comdeficiência para enquadra-los na sociedade. Aquestão da deficiência é limitada ao indivíduoem questão: a pessoa com deficiência deve sermudada, não a sociedade ou o ambiente aoredor.

    De acordo com a abordagem médica, pessoascom deficiência necessitam de serviços especiais,como sistemas de transporte especiais e serviçossociais de bem-estar. Para este propósito,instituições especiais existem: por exemplo,escolas especiais ou locais de trabalhoprotegidos onde profissionais como assistentessociais, médicos, terapeutas e professores deeducação especial determinam e oferecemtratamento especial, educação e ocupação.A nova abordagem baseada em direitos tambémdesafia o ponto de visto de que pessoas comdeficiência devem ser objectos de caridade,incapazes de guiar suas próprias vidas.

    Esta denominada por abordagem de caridade vêpessoas com deficiência como vítimas de seus

    18

    1 Abordagem baseado nos direitos(De Harris y Enfield,2003,p.172)

    2 Abordagem médica(De Harris y Enfield, 2003, p.172)

    serviços deassistência

    social

    não podefalar,ver oudecidir

    terapeutas eespecialistas

    trabalhadoressociais

    instituições especializadas

    hospitaismédicos especializados

    cuidado

    cura

    o pacienteé um caso

    trabalho protegido

    escolas especiais

    transporte especial

    problema=

    individuodeficiente

    negação dos direitoshumanos básicos

    falta de oportunidadespara a autodeterminação

    acesso limitadoaos serviços desaúde adequados

    leis discriminatórias

    participacao limitada na toma

    de decisão

    acesso limitadodas oportunidadesde trabalho

    acesso limitado aeducação

    exclusão das actividades

    sociais

    problema=

    sociedadedeficiente

  • impedimentos. Pessoas com deficiência sãodignas de pena e merecem nossa ajuda,compaixão e caridade para que sejam cuidadas.Esta velha abordagem resolveu o problema dedeficiência ao criar escolas especiais e programasde bem-estar especiais para pessoas comdeficiência. Às vezes, as próprias pessoas comdeficiência adoptam esse conceito, normalmentepassando a sentirem-se ‘incapazes’ e a terem umbaixo senso de auto-estima.

    Este guia irá mostrar o que significa paraorganizações trabalhar com uma perspectivasobre deficiência baseada em direitos. Nósvamos explicar como as abordagens médica e decaridade, que estão profundamente enraizadasnos nossos pensamentos, podem ser superadas.

    19

    Enquanto o mundo se esforça para alcançar os [Metas de Desenvolvimento do

    Milênio] ODM, é importante que a deficiência não seja tratado como uma sobra.

    Peter Obeng Asamo, Director, Ghana Association of the Blind

    3 Abordagem de caridade (De Harris y Enfield, 2003, p.172)

    necessitaser

    cuidado

    não podecaminharfalarou ver

    amargodistorcido agressivo

    tristetrágicopassivo

    necessita ajuda de caridadesimpatiaserviços especializadosescolas especiais, etc.assistência social

    ser lastimado

    valente decidido

    inspirador

    problema=

    individuodeficiente

    Dave Lupton em www.crippencartoons.co.uk

    Direitossim,

    caridadenão!

    ¿Qual é o seuproblema?

    Capitán PratColectandodinheiro para os

    deficientes

  • Há muitas razões que explicam o porquê depessoas com deficiência serem negligenciadasem programas de desenvolvimento inclusivo.Geralmente não é um problema de má vontadepor parte das organizações: fazedores depolíticas de desenvolvimento simplesmente nãoestão conscientes das necessidades ecapacidades de pessoas com deficiência, que não são muito visíveis na sociedade.

    ‘Eu tenho quase trinta anos de experiência emcooperação de desenvolvimento e já realizeimuitas avaliações, mas nunca percebi que nósdeixamos de fora pessoas com deficiência atéesse momento,’ disse aos pesquisadores um

    gestor de programas de uma ONG etíope. ‘Nósnunca pensamos em convidar pessoas comdeficiência antes.’

    Pessoas com deficiência frequentemente têmmobilidade limitada e, portanto, costumam ficarperto de suas casas e não comparecem areuniões comunitárias. Eles são, dessa forma,facilmente negligenciados quando novosprojectos estão começando e não sãoconvidados a levantarem suas vozes durante aformulação de novos projectos. Isto pode levar,por exemplo, a planos de evacuação que nãolevam em consideração pessoas com mobilidadelimitada. Ou poderia significar que pontos de

    20

    Eu tenho quase trinta anos de experiência na cooperação para o desenvolvimento

    e tenho feito muitas avaliações de necessidades, mas nunca nos apercebemos das

    pessoas com deficiência. Nunca pensamos em convidá-los.

    Coordenador de programas de uma ONG da Etiópia

    Por que pessoascom deficiênciasão excluídas nosprogramas dedesen volvimento?

  • acesso a água não estejam acessíveis parapessoas que usam cadeiras de rodas. E se asactividades e informações dos programas nãoestiverem acessíveis, será difícil para pessoascom deficiência participarem.

    Há três principais categorias de obstáculos queimpedem pessoas com deficiência departiciparem: de atitudes, ambientais einstitucionais.

    Obstáculos Atitudinais

    Preconceito, vergonha e discriminação causamos maiores problemas para pessoas comdeficiência, que são muitas vezes consideradasincapazes, dependentes, com baixa inteligência e em necessidade de uma cura ou serviços esuporte especiais. Contraditoriamente, elas sãopor vezes vistas como inspiradoras, excepcionais

    21

    ‘Não podemos incluir as

    crianças com deficiência no

    nosso programa de patrocínio

    a criança por causa dos

    critérios de nosso doador:

    a criança deve ser capaz de

    aprender e deve ser capaz

    de caminhar para escola por

    conta própria.’ Pessoal de

    campo no programa

    de educação em Etiopia

  • e heróicas se conseguem viver suas vidasindependentemente. Esta última visão não é emsi um problema; porém, pode facilmente tomar aforma de uma caricatura.Pessoas sem deficiência podem reagir commedo, pena ou aversão, ou com um senso desuperioridade. Os órgãos de comunicaçãofrequentemente reforçam essas suposições e emoções. Além disso, palavras negativas – vítima, leproso, deficiente – reflectem ereforçam preconceitos.

    Não é somente a comunidade que pode pensarque pessoas com deficiência são incapazes detomar conta de si mesmas. Equipas de projectosde desenvolvimento também podem ter esta

    atitude. É muito comum. Aqui está o que opessoal de trabalho de campo de um programapara geração de renda em Bangladesh disse:

    ‘Durante nossas visitas de reconhecimentoencontramos algumas idosas e mulheres comdeficiência, mas não pudemos inscrevê-las noprograma porque elas não seriam capazes deaprender e não seriam capazes de trabalhar.’

    Obstáculos Ambientais

    Há muitas barreiras físicas que impedem pessoascom deficiência de participarem. Transporte

    22

    →Preconceito, vergonha,

    discriminação

    →→Barreiras decomunicação

    Desculpas comuns paranão incluir pessoas comdeficiência

    • Incluir pessoas com deficiência é muitodispendioso.

    • Nós não temos o conhecimentonecessário.

    • Pessoas com deficiência precisam deprogramas especiais

    • Por que deveríamos investir em pessoasque não podem efectuar todas as tarefas?Primeiro nos deixe resolver os problemasde pessoas ‘normais’.

    • Não há muitas pessoas com deficiênciapor aqui, por isso isto não é um problema.

    • Não trabalhamos com deficiência.

    • Nós estamos sobrecarregados; não temostempo para mais um problema.

    • Nossos doadores não estão interessados.

  • público, clínicas de saúde, escolas, lojas,mercados e locais de adoração sãofrequentemente inacessíveis para pessoas comdeficiência físicas. Comunicação, órgão decomunicação e informação podem conterbarreiras para pessoas com deficiência de falar,auditiva e visual se as informações não sãoapresentadas em um formato acessível, comoem Braille ou em tipografia de letras largas parapessoas com deficiência visuais ou o uso delíngua de sinais para pessoas com deficiênciaauditiva. Foi como Dilkamo, o pai de uma criançaetíope com deficiência visual, explicou aospesquisadores:

    ‘Eu não envio minha filha para a escola porque aescola não é acessível. Eu tentei enviá-la, mas elavoltou chorando. Ela me perguntou o porquê de euestar fazendo isso já que ela não poderia ver ouaprender nada na aula. E também, outras criançastroçavam dela. Por isso eu a mantenho em casaagora.’

    Obstáculos Institucionais

    Há também barreiras institucionais queimpedem pessoas com deficiência departiciparem em esferas como política, serviçosreligiosos e emprego. Exemplos de tais barreirassão uma legislação discriminadora, leistrabalhistas e sistemas eleitorais.Frequentemente, eles não se adaptam àsnecessidades de deficientes intelectuais ou comdeficiência visual

    A exclusão também pode basear-se em crençasque consideram deficiência como resultado depecados cometidos nesta vida ou em vidaspassadas. Há também políticas discriminatóriasem agências de ajuda humanitária e dedesenvolvimento. Durante o Programa deAprendizado Temático, uma organização naÍndia percebeu que os seus critérios de admissãoescolar – que incluíam as ressalvas de quecrianças deveriam ser capazes de andar à escolasozinhas e que deveriam ser capazes de aprender– estavam excluindo crianças com deficiência.

    Adicionalmente, muitos programas de micro-crédito vêem pessoas com deficiência como um

    grupo de alto risco, pois acreditam que elas sãomenos produtivas e menos capazes de gerirnegócios viáveis. Alguns programas detreinamento vocacional usam o critério de queestagiários devem ser robustos e aptos atrabalhar e assim excluem pessoas comdeficiência por não as considerarem aptas osuficiente. A equipa de um trabalho de campo deum programa educacional na Etiópia explica:

    ‘Nós não podemos incluir crianças comdeficiência em nosso Programa de Patrocíniopara Crianças devido aos critérios do nossodoador: uma criança deve ser capaz de aprendere deve ser capaz de andar à escola sozinha.’

    Desculpas

    Organizações de desenvolvimentofrequentemente têm muitas desculpas queexplicam o porquê de não estarem a incluiractivamente pessoas com deficiência. Atémesmo as organizações integradas no Programade Aprendizado Temático têm dificuldade comestas questões. Ao longo desta publicação,tentaremos desmitificar as desculpas e darconselhos sobre como superar a resistênciadentro das organizações. Uma grande partedesta resistência pode ser eliminada se nósformos capazes de compreender o quedesenvolvimento inclusivo significa e que papéisorganizações de desenvolvimento convencionaispossuem.

    23

    ←←Legislaçãodiscriminatória

    ←←Os sistemas de crenças

    Dave Lupton em www.crippencartoons.co.uk

    Vamos! Um rótulo más e vocêestará pronto para enfrentar o mundo.

    Departa-mento da

    dependência e cuidado

    Maluco

    Valen

    te

    Patetico

    Incapaz

    Falid

    o Pes

    o

    Trag

    ico

  • 24

    O que édesenvolvimentoinclusivo?

    Ao incluir pessoas com deficiência em programasde desenvolvimento convencionais alguém fazuma declaração pública muito importante:alguém aceita pessoas com deficiência e as vê como membros iguais da sociedade. Este é aúnica maneira de assegurar um acesso aosserviços básicos e uma saída da pobreza parapessoas com deficiência. Os custos de inclusão de pessoas com deficiência são frequentementeusados como um argumento contra a adaptaçãode programas de desenvolvimento para que sejamincluídos. Mas na realidade, é mais eficiente eeficaz incluir pessoas com deficiência nodesenvolvimento convencional do que excluí-las.

    Tome como exemplo o caso de escolas especiaissegregadas para crianças com deficiência. Semminimizar sua importância – já que algumascrianças certamente se beneficiam deste tipo deeducação – há ampla evidência de queprogramas especiais de educação para criançascom deficiência são muito caros e somentedisponíveis para os mais afortunados. Alémdisso, a educação especial reforça a segregação e a exclusão.

    É importante que agências de desenvolvimentopercebam que pessoas com deficiênciacompartilham as mesmas necessidades básicasque outras pessoas da sociedade. Todos têm anecessidade de água potável e instalaçõessanitárias, por exemplo. Todas precisam demobilidade, embora uma pessoa sem deficiênciatenha mais opções para satisfazer essa

    →Incluisão de pessoascom deficiência émuitas vezes maiseficiente e eficaz

    →→Pessoas com

    deficiência têm asmesmas necessidades

    que todos os outros

    O desenvolvimentoinclusivo representa

    • Igualdade de direitos: Toda a comunidade,inclusive pessoas com deficiência, beneficiam-seigualmente de processos de desenvolvimentoconvencionais. O desenvolvimento inclusivotem como objectivo alcançar direitos iguais parapessoas com deficiência assim comoparticipação plena/activa e acesso a todos osaspectos da sociedade.

    • Participação: Pessoas com deficiênciaparticipam de todos os benefícios de programasconvencionais e por isso também participam datomada de decisões.

    • Acessibilidade: as barreiras ambientais,institucionais e atitudinais são identificados e abordados para assegurar uma inclusão plenadas pessoas com deficiência em todas as esferasda vida para que todos possam participar emsociedade e conquistem suas ambições demodo ideal.

    • Sustentabilidade: O desenvolvimento inclusivonão é uma actividade isolada e única. A inclusãode pessoas com deficiência deve serincorporada em todas as veias da cultura deuma organização. Isto se tornará visível naspolíticas, sistemas e práticas da organização.

  • necessidade do que uma pessoa com mobilidadelimitada. Todos precisam de interacção social.Todos nós precisamos pertencer a uma família,um lar e uma sociedade. Todos nós precisamosencontrar um sentido para nossas vidas e realizarnossos sonhos. Embora crianças e adultos comdeficiência possam ter necessidades especiais, amaior parte delas é compartilhada com todos osoutros. Para citar a Organização Mundial daSaúde:

    ‘Pessoas com deficiência têm necessidades normais– de saúde e bem-estar, económicas, de previdênciasocial, de aprender e desenvolver conhecimentos e de viver em comunidade. Tais necessidadespodem e devem ser atendidas nos programas deintegração e serviços.’

    Consequentemente, a satisfação dasnecessidades de todos, inclusive as necessidadesde pessoas com deficiência, através deprogramas de desenvolvimento convencionais, é frequentemente a solução mais eficiente e eficaz. Adaptações muito simples a infra-estrutura existente como pátios ou edifícios deescolas – através de, por exemplo, rampas

    e portas mais largas ou simplesmente reservandosalas de aulas no térreo para crianças usandocadeiras de rodas – pode ser suficiente paragarantir o acesso à educação de todas as criançasda região em questão. Da mesma forma, é frequentemente possível que adaptaçõessimples e baratas possam ser feitas emcomputadores, bombas de água, transportepúblico e etc.

    Obviamente, crianças e adultos com deficiênciapodem necessitar de serviços especiais. Elaspodem precisar de equipamentos e instrumentosespeciais como cadeira de rodas ou próteses. O acesso a tais materiais deve ser garantidoatravés de serviços especializados, que existemna maioria dos países hoje em dia. Estes serviçosespecializados podem ser encontrados nossectores públicos e privado e não sãonecessariamente caros. Em grande parte doscasos, soluções de relativamente baixatecnologia estão disponíveis através do que sechamamos de programas de reabilitaçãocomunitários. Em tais programas, assentos e equipamentos especiais são fabricados commateriais de baixo custo.

    25

    ←Simples ajustesbaratos, são muitasvezes, tudo o que é necessário

  • A participação de toda a população de pessoascom deficiência na sociedade não pode seralcançada somente por organizaçõestradicionais. A responsabilidade é de todos:governo, comunidade, pessoas com deficiência esuas organizações, agências de desenvolvimentoe ajuda humanitária, assim como organizações eprestadores de serviços especiais para pessoascom deficiência. É o papel de agênciasconvencionais abrir seus programas para aparticipação de pessoas com deficiência,remover as barreiras e tornar os serviçosacessíveis. Nada mais, nada menos.

    80% das pessoas com deficiência podemparticipar do convívio social sem nenhumaintervenção específica adicional ou comintervenções comunitárias simples, de baixocusto e que não requerem expertise especificade reabilitação.

    Os outros 20% das pessoas com deficiência –aqueles que não podem participar activamentenos programas de desenvolvimentoconvencionais e se beneficiar de tais programas

    26

    →→Basta remover

    as barreiras

    →→80% de pessoas

    com deficiência nãoprecisam deintervençõesespecíficas

    O papel deorganizaçõesinclusivas nodesenvolvimentoinclusivo

    Werner, D.(1999).

    A ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS REQUER UMAABORDAGEM INTEGRAL

    BARREIRASparaPRINCIPAIS

    Falta de reabilitaçãoe equipamento

    SOLUÇÕES PARCIAIS(não estar sozinho é suficiente)

    SOLUÇÃOINTEGRAL

    Reabilitação e meios de compensação

    Reabilitação e meios de compensação + acessibilidade + mudança de atitude

    acessibilidade mudança de atitude

    Barreiras físicas

    nãoest

    ou

    BEM VINDO

    BEM VINDO

    ESCOLATRABALHOOPORTU-NIDADES

    ESCOLATRABALHOOPORTUNI-

    DADES

    PARTICIPAÇÃOTOTAL

    SOCIEDADETODOS

    PARTICIPAÇÃOTOTAL

    SOCIEDADETODOS

    Barreiras de atitudes

  • sem que medidas especificas sejam tomadas (por exemplo, fornecer prótese ou cadeira derodas, fisioterapia ou cirurgia) – podem e devemser referidos a organizações especializadas empessoas com deficiência como por exemplooficinas ortopédicas, serviços de fisioterapia e instituições de educação especial. Estesprestadores de serviços específicos podemgarantir as intervenções e equipamentosnecessários e realizar as adaptações necessárias.

    Pode haver pessoas que não podem ser incluídasem programas convencionais e nós tambémdevemos estar atentos a isto. Seria, por exemplo,difícil ou impossível incluir crianças e adultoscom deficiência intelectual grave em escolaslocais ou locais de trabalho. Seria, talvez, possívelincluir os membros da família nos programas, nocaso de deficiência severa – por exemplo se apessoa é restrita ao leito devido a uma paralisiacompleta. Além disso, nós devemos referir estescasos para serviços e organizações especializadosem pessoas com deficiência.

    Esta forma de trabalhar é denominada deabordagem de via-dupla. Pessoas comdeficiência devem, sempre que possível, serincluídas em programas regulares e devemtambém ter acesso a serviços especiais quandorealmente necessários. No caso da educação, porexemplo, isto significa que crianças comdeficiência devem ser incluídas ao máximo nossistemas de educação públicos e convencionaisjá existentes, e serviços especiais devem estardisponíveis somente onde inclusão em sistemasconvencionais não é possível – por exemplo, paracrianças com múltipla deficiência.

    No capitulo que trata sobre o estabelecimentode redes, irá encontrar mais informações sobre opapel dos diferentes actores no desenvolvimentoinclusivo.

    Specialist service providers can supply devices

    27

    ↑Incluir membros da família emprogramas

    ↑A abordagemdupla

  • [2]

  • ‘Eu trabalho num hotel onde faço reservas. No começo, meus chefes tinham dúvidas

    sobre se deveriam comprar JAWS (softwares para usuários de computadores com

    deficiências visuais) para mim, mas agora eles estão felizes com minha competência

    e dedicação. Eles estão planeando contratar mais pessoas com deficiência visual no

    departamento de reservas e eu ficarei a cargo do treinamento. O mais importante

    para mim é que eu fiz muitos amigos e agora finalmente sou capaz de ajudar meus

    pais e meu irmão mais novo. Estou até pensando na possibilidade de casar!’

    Shankar, antigo cliente do centro de recursos de subsistência LCD (Centro de Recursos

    de meio de vida ), Bengalore, Índia.

    A criação de programas

    de desenvol-vimento

    inclusivo

  • 30

    Passos para tornarum programainclusivo

    A inclusão de pessoas com deficiência em

    programas regulares não exige muitas

    actividades adicionais. A ideia fundamental

    é que quando novos programas são criados,

    alguém deliberadamente envolve pessoas com

    deficiência em todas as etapas do ciclo do

    projecto, da análise dos actores à avaliação

    de necessidades e definição das actividades

    do projecto. O esquema na página seguinte

    mostra os diferentes passos envolvidos no

    desenvolvimento de um projecto inclusivo.

    Rahila recebeu frangos e os homens passamactualmente a vida vendendo ovos

  • O primeiro passo é comprometer-se. As pessoascom deficiência fazem parte do seu grupo alvo edeve inclui-las em todas as actividades doprojecto. Esta declaração vai pôr as coisas emmovimento. Também deve alocar parte doorçamento para inclusão e incluir dados sobredeficiência em toda planificação, monitoria eavaliação.

    Uma etapa crucial é o treinamento de pessoal.Eles precisam estar conscientes dos direitos,necessidades e capacidades das pessoas comdeficiência. A equipa será então capaz deidentificar as pessoas a serem incluídas nosprojectos novos e já existentes. Uma vezidentificadas, às pessoas com deficiência devemser dados os meios de participar de todo o ciclodo projecto: planificação, implementação eavaliação. Para garantir que a participação sejabem-sucedida, eles devem também ter acesso acuidados médicos ou reabilitação. Nem todosprecisarão de tais cuidados ou instrumentoscomo cadeira de rodas, mas a existência de taloferta é essencial para a qualidade do processode inclusão. As organizações convencionaisdevem referir pessoas com deficiência para

    outros provedores de serviços para que asnecessidades mais específicas sejam atendidas.

    A etapa mais importante no processo de inclusãoé provavelmente eliminar as barreiras atitudinais,ambientais e institucionais que impedem aparticipação. Vem a seguir a estabelecimento deredes com servidores de serviços específicos parapessoas com deficiência, organizações depessoas com deficiência e governos. Eles podemajudar a sua organização de várias maneiras.

    Nas páginas seguintes, cada um destes passosserá descrito com mais detalhes e ilustrados comexemplos reais, dilemas e soluções.

    31

    ←←Envolver a pessoa comdeficiência em todasas fases

    ←←Treinar a equipa do projecto sobre os direitos, as necessidades e capacidades daspessoas comdeficiência

    ←Remover barreiras

    Estabeleça o objectivo:

    As pessoas comdeficiência sãoparte de nosso

    grupo alvo e serão incluídas

    em todas asactividades do

    projecto

    Capacite aos membrosda equipe

    Construir redes com as organizações de pessoas com deficiência, governos,ONGs especializadas em reabilitação e serviços de reabilitação

    Inclua a deficiência em todos os relatórios

    de planificação,seguimento e avaliação

    Identifique aspessoas comdeficiência

    Referir para a atenção denecessidades específicas

    Participação daspessoas com

    deficiência emtodo o ciclo do

    projecto

    Assine um orçamentopara a inclusão

    Elimine barreiras

  • As pessoas com deficiência frequentemente nãosão incluídas em projectos porque as equipasnão estão conscientes das necessidades edireitos das pessoas com deficiência. Isto não éum sinal de má vontade, é somente uma questãode negligência a um grupo de pessoas que nãosão muito visíveis na sociedade. Uma vez quenos tornemos conscientes das necessidades ecapacidades de pessoas com deficiência, torna-se fácil para nós abrir os projectos e eliminar asbarreiras. Uma equipa motivada é umaprioridade chave quando se trabalha cominclusão, pois esta discute os assuntos com ascomunidades e identifica os beneficiários denovos projectos. Portanto, um dos primeirospassos que devem ser dados é a sensibilização daequipa para os direitos e capacidades de pessoascom deficiência.

    Durante o Programa de Aprendizagem Temática,os gestores foram confrontados com o grandedesafio de organizar um bom programa detreinamento. Quais são os tipos deconhecimento, atitudes e competências que umaequipa precisa? Eles precisam de conhecimentosmédicos para identificar pessoas com deficiência?Ou uma formação aprofundada em reabilitação?Nós encontramos as seguintes respostas.

    Mudanças de atitudes

    O primeiro passo é desafiar os estereótipos queexistem sobre pessoas com deficiência. Todos

    nós temos em nossas mentes certas imagens eideias sobre essas pessoas: elas precisam deajuda, não conseguem aprender, precisam deserviços especiais, etc. Mas essas ideias, elas sãocorretas? Nós já as verificamos? Em nossotreinamento, nós sempre explicamos asdiferentes abordagens para lidar com deficiênciae dizemos que nossa intenção é de basear nossotrabalho em uma abordagem baseada emdireitos e não em uma perspectiva médica ouuma perspectiva de caridade (ver Parte Um).

    Ao final da sessão de treinamento, a equipa deveser capaz de considerar as pessoas comdeficiência como membros plenos da sociedadeque possuem necessidades e direitos comuns. O estigma relacionado à deficiência pode sermuito forte em algumas culturas e comunidades,isto deve, portanto, realmente ser discutido eanalisado durante a sessão de treinamento.

    32

    Treinamentodo Pessoal doProjecto

    Os elementos daformação de pessoal

    • Discutir as crenças locais, preconceitos ecultura relacionados com a deficiência.

    • Introduzir os termos adequados para referir-se a pessoas com deficiência.

    • Explicar os direitos que pessoas comdeficiência têm de participar em todas asesferas da vida.

    • Identificar as barreiras para pessoas comdeficiência no projecto.

    →Sensibilização daequipa é essencial

    →Desafie os estereótipos

    →Discutir estigma

    associado à pessoascom deficiência

  • 33

    ‘Ao curso da organização de um programa de treinamento,’ relembra uma liderançade uma igreja na Etiópia, ‘nós pedimos a um dos membros da igreja, um cantorfamoso com deficiência visual, para nos dar uma aula sobre deficiência e teologia.Ele nos fez um discurso muito impressionante explicando que algumaspersonagens bíblicas importantes tinham deficiência: Moisés gaguejava, Pauloficou cego por alguns dias. O impacto deste discurso foi enorme. Realmente tocouo coração das pessoas. Durante a oração final, os participantes pediram perdãopor terem discriminado pessoas com deficiência no passado. Nós acreditamosfortemente que, de agora em diante, estes líderes de igreja farão o máximo quepuderem para incluir pessoas com deficiência.’

    ←Envolver pessoas comdeficiência naformação de pessoal

    Viajando Juntos é um curso de formação de um diaque orienta os profissionais de desenvolvimentointernacional através de um simples processo demudança radical.O guião de treinamento oferece um conjunto deexercícios muito prático e testadas que podem serusados para o pessoal Treinamento.

    http://www.worldvision.org.uk/what-we-do/advocacy/disabiliy-travelling-together-plubication/

    Cego, Mecânico de bicicletas em Bangladesh

    Conhecimento ecompetências

    Não é necessário muito conhecimento paracomeçar a incluir pessoas com deficiência emprogramas convencionais. O papel da equipa deprojecto é encontrar pessoas com deficiência naárea do projecto e garantir que elas sejam

    incluídas. Para realizar isto, a equipa precisaentender o que é deficiência e conhecer quediferentes tipos de deficiência há. A equipa devetambém entender como eles podem remover asbarreiras para pessoas com deficiência e quetipos de ajustes são necessários para inclui-las.Por exemplo, o que é preciso para que umacriança com deficiência auditiva possa participarna escola? Ou como é possível tornar a clínica de

    http://www.worldvision.org.uk/what-we-do/advocacy/disabiliy-travelling-together-plubication/http://www.worldvision.org.uk/what-we-do/advocacy/disabiliy-travelling-together-plubication/

  • saúde local acessível para pessoas que fazem usode cadeiras de rodas?A equipa de projecto não é responsável pelodiagnóstico, reabilitação médica ou pela medidae distribuição de equipamentos médicos, por issonão precisam de conhecimento médicoaprofundado. Para estes tipos de serviço, elesdevem encaminhar a pessoa em questão paraprestadores de serviços especializados empessoas com deficiência. Por outro lado,conhecimento sobre a legislação local,calendários, programas e serviços relacionados apessoas com deficiência é muito útil. Isto ajudaráa equipa de projecto a encaminhar as pessoascom deficiência para os serviços apropriadasonde podem satisfazer suas necessidades.

    O que aprendemos sobretreinamento da equipa de campoVer é crer! Quando a equipa de projecto é, pelaprimeira vez, introduzida à questão de inclusãode pessoas com deficiência, os membrosfrequentemente têm muitas dúvidas sobre ascapacidades de tais pessoas. Eles são realmentecapazes de participar em programasconvencionais? Como um homem cego pode serbem-sucedido no trabalho da fazenda? Comouma mulher paralisada é capaz de administrarsua própria loja? Como uma criança surda écapaz de aprender a ler e escrever? Há umagrande oportunidade de que eles não conheçamninguém com uma deficiência e que é capaz degarantir seu próprio sustento.

    Por isso, é muito importante mostrá-los comopessoas com deficiência podem ser incluídas emum projecto convencional. Por exemplo, poderealizar uma visita a um projecto de inclusãobem-sucedido em sua área ou convidar umapessoa com deficiência que ganhe seu sustento eparticipa integralmente na vida da comunidade.Histórias de vida de pessoas são a melhormaneira de passar a mensagem. Se alguém nãofor capaz de promover um depoimento pessoal,pode também usar estudos de caso, filmes,vídeos e fotos. Há um grande número derecursos disponíveis na Internet.

    Inclusão de pessoas com deficiência comoformadores

    Os melhores advogados dos direitos de pessoascom deficiência são estas próprias pessoas.Convide uma organização de pessoas comdeficiência para fornecer treinamento sobredireitos de pessoas com deficiência e sobreinclusão, ou contrate um treinador comdeficiência. Em muitos países, há centrosespecializados em deficiência edesenvolvimento. Eles possuem treinadoresqualificados e são capazes de desenvolver cursosde treinamento feitos sob medida para a suaorganização.

    A inclusão de pessoas com deficiência vaitambém te sensibilizar para as mudançaseventualmente necessárias no centro de suaorganização!

    ‘Quando Shitaya, membro do Centro Etíope deDeficiência e Desenvolvimento, veio até nós pararealizar uma avaliação inicial, ficou muito claroque nosso escritório era inacessível,’ confessa ogerente de um programa água, higiene e meioambiente na Etiópia. ‘Com sua cadeira de rodas,ela não podia entrar no prédio, então tivemosnossa reunião no estacionamento. Isto realmenteme chocou. Me senti muito mal por isto. Estaexperiência foi uma grande motivação para que eu realmente mudasse algo.’

    Livre-se do mal-estar

    As pessoas às vezes ficam nervosas ao cruzarcom pessoas com deficiência. ‘Meu Deus, estehomem é cego! O que eu faço? Eu não sei nemcomo cumprimenta-lo. Ele vai ficar irritado se eudisser, ‘Prazer em vê-lo’?’

    34

    →O pessoal precisa

    aprender a eliminaros obstáculos

    →Eles devem ter

    conhecimento emprofundidade dosserviços que estão

    disponíveis

    →Organizar uma visita

    a um projecto de inclusão bem-

    sucedida

    →→Deixe as pessoas comdeficiência explicar as

    suas própriasnecessidades, desejos,

    e habilidades

    http://www.endthecycle.org.au/content/the-people-experience-their stories/videos/our stories

  • A melhor forma de superar estes medos éatravés da interacção directa com pessoas comdeficiência. Permite que as pessoascompartilhem seus medos e duvidas em umaatmosfera confortável e dêem boas gargalhadasjuntos. Durante a actividade de treinamento,pode pedir aos participantes que anotem suasdúvidas sobre deficiência em um pedaço depapel. Deve ser algo que eles sempre quiseramsaber, mas nunca ousaram perguntar a umapessoa com deficiência. Ponha as questões emuma caixa. Depois, retire algumas das perguntase deixe que um dos treinadores com umadeficiência responda.

    Durante uma de nossas sessões detreinamento, as seguintes questões surgiram:

    Como uma pessoa cega apaixona-se?Yetnebersh: ‘Muitas pessoas videntes acreditamque é preciso ser capaz de enxergar para amar,mas o amor não precisa de cor ou imagem visual.Amar é aprender a conhecer uma pessoa.Portanto, você escolhe ligar-se a uma qualidadeespecial do(a) parceiro (a). Uma pessoa cegapode perceber a beleza de uma maneira própria,que não vai depender da capacidade de visão.Nós sentimos cheiro das coisas e as testamos,tocamos e ouvimos, e nós tambémdesenvolvemos nossa maneira própria de lidarcom o que não vemos. Além disso, um amigopróximo pode ajudar uma pessoa cega aimaginar como a pessoa amada parece.’

    Quando é que percebeu pela primeiravez que tinha uma deficiência?Yetnebersh: ‘Eu percebi que tinha umadeficiência quando alguém mandava os outrosfazerem a colheita no campo e eu tinha que ficarem casa sentado. Por que sou cega.’

    Pande: ‘Aos quatro anos de idades, eu desenvolviuma deficiência visual (parcial). Porém, até os 14anos, eu não havia percebido que eu possuíauma deficiência pois fazia parte de um ambienteinclusivo na escola, em casa, fora de casa, comamigo, etc. Mais tarde, quando eu estavaestudando no nono ano, comecei a enfrentarmuitas barreiras/dificuldades como ler, escrever,viajar, fazer amigos e sair para passear à medidaem que minha deficiência se agravava.Foi aí que percebi que tinha um impedimento. Eupercebi mais tarde que ninguém é deficiente,pois todos no mundo possuem algum tipo dedeficiência. Com isto em mente, segui em frentecom um sentimento de que eu não era diferentedos outros e era capaz de fazer tudo como todosos outros... Isto me ajudou a lidar com meuimpedimento.’

    35

    • Fale directamente com a pessoa enão com seu(sua) intérprete ouassistente.

    • Converse da mesma forma como falacom quaisquer outras pessoas; faleclaramente e não grite ou resmungue.

    • Nunca trate um adulto ou um idosocomo uma criança.

    • Certifique-se de que, ao comunicar-secom pessoas com deficiência, estejam

    no mesmo nível de visão. Esta é amelhor forma de mostrar que suaatenção está voltada para ele(a) e queestá ouvindo o que ele(a) estádizendo.

    • Ofereça ajuda caso ache sernecessário, mas nunca ajude alguémsem antes perguntar se ele (a)precisa de assistência. Se ajudaralguém, pergunte-a como quer queseja ajudada.

    • Não encare caso alguém ou algumacoisa na pessoa tenha uma aparênciaincomum.

    • Se for falar de alguém, utilize o nomeda pessoa e não se refira a ele (a)mencionando sua deficiência.

    • Trate a pessoa como tratariaquaisquer outras e como gostaria deser tratado.

    ←‘Ninguém é perfeito,porque todas pessoastêm algum tipo dedeficiência’

    ←←Intervenção directacom as pessoas comdeficiência remove omedo eintranquilidade

    Dicas para interagir com pessoas com deficiência

  • É frequente ouvir pessoa a dizer que é difícilencontrar pessoas com deficiência. Algumasdelas, especialmente crianças que possuemdeficiência severa, são escondidas ou não saemde suas casas muito frequentemente. Alémdisso, inúmeras deficiências não são visíveis: porexemplo, pessoas com distúrbios decomunicação e pessoas que são parcialmentecegas. Como podemos então identificar aspessoas com deficiência?

    O primeiro passo consiste no reconhecimento deque pessoas com deficiência vivem em todas associedades. Elas estão lá; só precisa de encontrá-las. O seu próximo passo poderia ser recolherdados sobre deficiência dentro da área de seuprojecto. Pode haver estatísticas do governodisponíveis. Caso contrário, organizações locaisde pessoas com deficiência ou organizaçõesespecificas para deficiência podem ser capazesde te dizer mais sobre a prevalência d deficiênciana área em questão. O essencial é que tenhauma ideia da magnitude da situação dedeficiência.

    Se está a começar um novo programa, o tópicodeficiência deve ser incluído no estudo de base.Nós recomendamos fortemente que não sebaseie somente em números e percentagens.Pode muito facilmente achar que o ‘problema’

    é muito grande ou muito pequeno para sertratado. O assunto, entretanto, não podesimplesmente ser restringido a números epercentagens. É preciso perguntar-se a seguintequestão, ‘Qual é a melhor forma para nossaorganização de incluir pessoas com deficiênciaem nossos programas?’

    Outro passo importante é perguntar mesmo aalguém a questão, ‘Quantos adultos e/oucrianças com deficiência e quantos membros desuas famílias já se beneficiam de nossosprogramas?’ Se este dado ainda não foi recolhidono seu projecto, este é um bom momento paracomeçar.

    A equipa do trabalho de campo éfrequentemente capaz de fazer uma lista depessoas que já fazem parte do programa, mas é necessário um esforço a mais para descobrir seos beneficiários possuem membros da famíliacom deficiência. Esta pergunta poderia ser feitadurante uma das reuniões de projecto. É aconselhável que se anote a idade, género etipo de deficiência para cada caso. Se souberquantas pessoas com deficiência já estãoincluídas nos programas existentes, é precisoesforçar-se para também encontrar e incluiroutras pessoas com deficiência.

    36

    →Algumas deficiências

    não são visíveis

    →Incluir deficiência em

    seu estudo de base

    →→Deixe pessoas com

    deficiência ajudá-lo aidentificar os outros

    →→Colectar dados

    Identificaçãode pessoascomdeficiência

  • Portanto, irá surpreender-se ao ver o quão fácil é encontrar pessoas com deficiência quandocomeçar a convidá-las para juntarem-se a seusprogramas. Amiúde, elas são as mais capazes deidentificar outras pessoas com deficiência, já quegeralmente conhecem outras pessoas comdeficiência. Com o passar dos anos, mais e maispessoas com deficiência vão surgir ao verem queoutros estão participando. O poder de modelosé de importância vital para alcançar umdesenvolvimento mais inclusivo.

    37

    Como encontrar pessoas comdeficiência em sua área de projecto

    • Inclua dados sobre deficiência nos estudos de base de novosprojectos.

    • Identifique as pessoas com deficiência que já fazem parte de seusprogramas.

    • Articule-se com organizações locais especializadas em deficiência e organizações de pessoas com deficiência e peça a elas por nomese endereços.

    • Use dados já existentes disponibilizados pelo governo ou ONGsespecializadas em deficiência na sua área.

    • Converse com líderes comunitários e religiosos. Explique a eles quepretende incluir pessoas com deficiência em seus programas. Elesestarão muito provavelmente dispostos a mostrar-lhe os lares depessoas com deficiência.

    • Organize uma reunião com pessoas com deficiência e peça a elasconselhos sobre a melhor forma de encontrar outros deficientes.

    • Organize uma sessão de sensibilização sobre deficiência nacomunidade e peça aos participantes que o ajudem a encontrarpessoas com deficiência que possam participar do seu programa.

    • No caso de deficiência na infância, pode pedir a crianças deprogramas que apoia ou executa (por exemplo, escolas ou clubes)que identifiquem aquelas crianças que não participam.

  • Normalmente, reconhece-se que odesenvolvimento de um programa dedesenvolvimento comunitário sem a participaçãodo grupo alvo é uma receita para o fracasso.Desenvolver um programa de inclusão paradeficientes sem a participação de pessoas comdeficiência também irá falhar. Em geral, pessoascom deficiência pertencem ao grupo maismarginalizado na sociedade e não estãoacostumadas a serem ouvidas. Este é um desafioadicional, já que pessoas com deficiênciafrequentemente possuem pouca educação, nãoestiveram envolvidas em reuniões públicas eencontros, e consequentemente com frequênciapossuem baixa auto-estima. Por outro lado,algumas pessoas com deficiência falam bastantese são mais activas. É tentador perguntar suasopiniões, mas atenção: essas podem ser aspessoas que puderam ir para a escola. Ou podemser aqueles que adquiriram alguma deficiência em

    38

    As pessoas comdeficiênciadevemparticipar detodo o ciclo doprojecto

    →Não estão habituados

    a serem ouvidos

    →→Muitas vezes eles não

    têm educação

    Dave Lupton en www.crippencartoons.co.uk

    Quandoqueremos saber

    qual é a sua opinião lhe diremos qual é

    essa opinião Confederação de Caridade

    paraDeficiência

  • uma idade mais avançada. Perguntar por suasopiniões pode te dar uma visão limitada darealidade.

    Portanto, deve também garantir que as pessoascom deficiência participem de todo o processo deplanificação e desenvolvimento. Há amplaevidência de que discussões em grupos focaiscom (representantes de) pessoas com deficiênciasão uma forma eficaz de conhecer os pontos devista das pessoas em questão. Caso decida usaresta estratégia, deve assegurar-se de quediferentes grupos de pessoas com deficiênciaestão igualmente representados e pode organizardiscussões de grupos focais para vários grupos deinteresse, como mulheres, homens e crianças.

    Um encontro que inclua pessoas com deficiênciaou um grupo focal de pessoas com deficiência

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    ←←Discussão de grupofocal pode ser útil

    ←Facilitação cuidadosa é necessária

    Como envolver pessoascom deficiência naplanificação do processo?

    • Ao analisar a situação das comunidades,sempre dê atenção ao tópico de deficiência.

    • Sempre inclua os representantes de pessoascom deficiência no comité de planificação.

    • Organize discussões de grupos focaisespeciais com pessoas com deficiência.

    • Certifique-se de que vários grupos de pessoascom deficiência sejam consultados.

  • precisa de uma estruturação cuidadosa. Convide-os pessoalmente ou através de líderescomunitários, dirigentes religiosos, membros dafamília ou da comunidade ou organizações eprogramas locais de pessoas com deficiência. Esta poderia ser a primeira vez que pessoas comdeficiência são reconhecidas como potenciaisbeneficiários de programas convencionais, ou quealguém as solicite para exprimir suas opiniões,preocupações e necessidades. É possível que elesproduzam uma lista de desejos pessoais (porexemplo, comida, moradia, dinheiro, roupas) eque não entendam imediatamente a importânciade representar seus pares. Frequentemente, estaspessoas cresceram com a caridade dos outros. É o seu dever interpretar as listas pessoais deforma que seja capaz de sintetizá-las emnecessidades comumente sentidas que podem serresolvidas pelo (ou através de) seu programa.

    As pessoas com deficiência podem identificarperfeitamente as barreiras que enfrentam nasociedade, assim como as razões porque sãoexcluídas. As mulheres com deficiência podem teinformar sobre a dupla discriminação queenfrentam em casa e na sociedade. Maiscomumente, as pessoas que te informam sobre asbarreiras que enfrentam são também capazes depropor soluções necessárias para remover taisbarreiras.

    Há diferentes níveis de participação em projectos.O primeiro nível é o compartilhamento deinformações. Esta é uma forma limitada departicipação, em que pessoas com deficiência sãosomente informadas das decisões, mas pelomenos esta forma de participação reconhece aexistência delas na sociedade. Durante o processode planificação e desenvolvimento de nossosprogramas, quando perguntamos a opinião depessoas com deficiência e lhes damos o feedbacknecessário, nós as ouvimos. Este tipo de consultanão garante que suas opiniões sejam levadas emconsideração. Uma participação significativafornece às pessoas com deficiência o direito denegociar durante o processo de planificação,assim como durante a implementação eacompanhamento das actividades. Talparticipação ocorre na interface de umaplanificação e tomadas de decisões conjuntas.

    Onde possível, nós devemos desenvolverestratégias e actividades para incluirintencionalmente pessoas com deficiência emtodo o processo de planificação, monitoria eavaliação do programa e suas actividades.Finalmente, e idealmente, nós devemos tentaratingir uma situação em que pessoas comdeficiência são postas em frente ao volante. Seisso for possível, elas tornar-se-ão modelos paraoutros e actuarão como agentes de mudança.Uma capacitação real será o resultado.

    40

    →Muitas vezes

    conhecem as suaspróprias soluções!

    →→Participação

    significativa da lhesdireito de negociardurante o processo de planificação e

    depois disso.

    →→A intenção seria

    por lhes a sentar nolugar do condutor etornar-lhes modelos

    para outros

    Informação

    Planificação conjunta

    Toma de decisão

    Empoderamento

    Consulta

    Níveis daparticipação

    Tornar-se agente de mudança para outros

    Níveis de participação

  • Yasmin e Rahila

    Yasmin é uma jovem mulher que vive no distritode Gaibandha em Bangladesh. Ela ficou muitofeliz quando encontrou um marido, pois para umamulher com deficiência visual não é fácil casar-se.Mas o amor não durou muito. Após um mês, seumarido a deixou. Isto foi desastroso porquequando ele se foi, Yasmin descobriu que estavagrávida. Durante sua gravidez, ela ainda trabalhoucomo servente doméstica, mas quando seu filhoRubel nasceu, ela não pôde mais sair paratrabalhar. Para a sua sorte, ela foi convidada parajuntar-se a um programa de segurança alimentardirigido pelo ICCO da Holanda que foca em lareschefiados por mulheres e presta atenção especialpara a inclusão de mulheres com deficiência. Nogrupo de mulheres, Yasmin esta aprendendocomo iniciar sua própria Horticultura. Ela também

    recebeu sete galinhas e possivelmente irá ganharum cabrito.Rahila está participando em um dos grupos demulheres do ICCO da Holanda. Ela é deficienteauditiva. Com expressões faciais e gestos, elaexplica que também recebe galinhas. Ela temfeito um bom trabalho. Ela consegue seu sustentoatravés da venda de ovos de galinhas que recebe.Yasmin e Rahila são somente duas das 40.000mulheres que se beneficiam destes programas.

    Um homem cegoestabelece umamachamba na EtiópiaOs facilitadores dos grupos de auto-ajuda daMKC-RDA receberam treinamento sobreinclusão de deficiência e começaram a introduzir

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    Yasmin

    Boas práticas

  • a questão em seus grupos. Foram discutidas ascausas médicas dos diferentes tipos dedeficiência criando assim um contraponto paraas crenças religiosas e atitudes que deram formaao comportamento dirigido a pessoas comdeficiência. O objectivo destas discussões foireduzir a vergonha de pessoas com deficiência emovê-las de seus esconderijos para acomunidade.

    Além disso, as pessoas com deficiência forammotivadas a juntarem-se aos grupos de auto-ajuda e o número delas cresceu em tais grupos.Foram ensinadas outras causas de deficiênciaque não maldições e espíritos demoníacos.

    Alguns membros com deficiência tornaram-sebem-sucedidos nos negócios. Um homem cego,por exemplo, fez uma machamba e agora estávendendo com sucesso quantidadesconsideráveis de produtos que são ditos seremde alta qualidade. Os membros com deficiênciabem-sucedidos servem agora como modelospara inspirar e motivar outros a juntarem-se aosgrupos de auto-ajuda.

    Cartrjik consegue umemprego

    Cartrjik tem 18 anos de idade. Ele juntou-se hádois anos e meio ao centro de suporte WORDTrust, que ocorre após a escola. Apesar de suadeficiência intelectual, ele aprendeu a lidar comseus próprios problemas no centro. Ele agora éindependente com sua higiene pessoal e poderealizar tarefas sem ajuda. Cartrjik tornou-seindependente em todas as tarefas diárias:especialmente para nos encontrar, ele vestiubraceletes e um anel.

    Agora, ele está seguindo um programa detreinamento de aprender trabalhando paratornar-se um pintor. Com o dinheiro que recebe,Cartrjik quer comprar um carro e construir umacasa para sua família. Sua mãe: ‘Ele é importantepara nós, tudo o que nos pede, nós tentamosfornecer.’ Para completar o seu sonho, a mãe deCartrjik comprou terras para a família e estápreparando o seu outro filho para cuidar dele nofuturo. Devido às intervenções do centro desuporte WORD Trust, ela agora é capaz depoupar dinheiro todo mês e sua família estáinscrita em um plano de seguro.

    As crianças promovemdiscussões

    A igreja etíope Kale Heywet (EKHC) introduziuclubes sobre deficiência em suas escolas naEtiópia. As crianças, tanto com quanto semdeficiência, formam grupos e começam a levar adiscussão para suas famílias. Elas pedem aos paisque levem suas crianças com deficiência para a

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    Cartjik recebe formação no posto de trabalho

  • escola. Os professores também tentam abordara questão na comunidade e nos dias dospais/mães eles organizam encontros públicos,debates sobre deficiência e trocam pontos devista e ideias.

    Crianças aprendem arespeitar pessoas comdeficiênciaWabe Children Aid and Training (WCAT) treinoucrianças em escolas etíopes para usarem ostermos correctos ao dirigirem-se a seus colegasde classe com deficiência. As crianças ensinamumas às outras depois do treinamento ecorrigem-se entre si. Se alguém diz, ‘ o cego estávindo,’ os outros dirão, ‘Não, não pode dizer‘cego’, deve chamá-la pelo seu próprio nome.’

    Pessoas com deficiênciasentem-se bem-recebidasA Organização Hospital Emmanuel, na Índia,quis mostrar que pessoas com deficiência sãobem-vindas em seus hospitais e programas. Porisso, no Dia Mundial da Deficiência, 1˚ deDezembro, eles organizaram uma celebração epediram aos voluntários de saúde locais quetrouxessem flores para as pessoas comdeficiência. As pessoas que foram ao encontrodisseram que nunca haviam se sentido tão bem-vindas antes.

    Mulheres com deficiênciaganham o própriosustentoEm um programa de segurança alimentar de umaárea rural de Bangladesh, as mulheres comdeficiência são inscritas em grupos de mulheresdesde o começo do projecto. Todos os gruposrecebem treinamento sobre deficiência: o que édeficiência, como reconhecer, o que pode serfeito para prevenir deficiência em crianças, ondeprocurar tratamento, quais são as provisões dogoverno para pessoas com deficiência. E por

    último, mas não menos importante, elasaprendem a tratar os outros membros comdeficiência com respeito.

    Para mulheres com deficiência, é uma grandeexperiência fazerem parte dos grupos. Paraalgumas, é a primeira vez que são chamadas pelonome em vez de serem chamadas de ‘a mulhersurda’ ou ‘a aleijada’.

    As mulheres com deficiência participam nasactividades geradoras de rendimento e podemgerar seu próprio sustento assim como os outrosmembros do grupo.

    A sensibilização leva apedido de ajuda

    O programa de fornecimento de água esaneamento da EKHC na Etiópia começou aincluir pessoas com deficiência. Elessensibilizaram a comunidade sobre o tópico dedeficiência, e pessoas com deficiência forameventualmente eleitas para serem membros decomités locais de fornecimento de água. Umdeficiente foi indicado para ser supervisor de umdos pontos de acesso de água. Mas o efeito dasensibilização foi além – pessoas com deficiênciapassaram a pedir por cadeiras de rodas etratamento médico. Como um programa defornecimento de água e saneamento, eles nãoestavam em posição de satisfazer tais pedidos,por isso entraram em contacto com provedoresde serviços específicos para deficientes paraencaminhar os solicitantes para que tivessemtratamento médico e dispositivos de assistência.

    43

  • 44

    Um homem cego encontra a solução

    O programa de fornecimento de água e saneamento da EKHC apoiou a construção de um sanitáriopúblico em uma vila rural. A organização consultou as pessoas com deficiência. Um homem cegoprecisava que alguém o levasse até casa de banho e, ao colocar uma corda ao longo do caminho paraa casa de banho, o homem passou a poder ir a casa de banho. A ideia de instalar a corda partiu dopróprio homem cego. Quando um perito em deficiência ouviu esta solução, ele sugeriu que o homempudesse se beneficiar de um treinamento de orientação e mobilidade. A partir daí, ele poderáaprender a andar com um bastão e assim aceder a casa de banho sem ajuda da corda.

  • Se pretende incluir pessoas com deficiência noseu programa, deve começar por incluir dadossobre deficiência em todos os relatórios deplanificação, monitoria e avaliação. Nesta sessão,explicaremos como fazer isto.

    Tudo começa com a inclusão de dados sobredeficiência nos estudos de base propostos. Parauma pesquisa de base, um pequeno grupo de seisperguntas foi desenvolvido, testado e validadopelo Grupo Washington. Se fizer um estudo debase, por exemplo como parte de uma análisesituacional, deve incluir informação sobredeficiência e perguntar também sobre idade,género e tipo de deficiência.

    Definição dos objectivos,indicadores e alvosNós precisamos desenvolver indicadores que irãonos ajudar a determinar o quanto estamosalcançando nossos objectivos e nossa meta finalde inclusão para todos. Se não incluirmos algunsindicadores específicos sobre deficiência e alvosem nosso plano e sistemas de monitoria eavaliação (já existentes), portanto não seremoscapazes de medir se pessoas com deficiênciaacedem nossos serviços ou fazem parte denossos programas. Porém, que tipos deindicadores são necessários? Nós sugerimos quecomece com os mais simples. Primeiro,certifique-se de recolher dados desagregadossobre deficiência. Isto significa que se tem umprograma de segurança alimentar, meça quantoshomens e quantas mulheres com deficiênciaestão participando do seu programa, assim comoquantos lares com um membro deficiente

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    Inclusão de dadossobre deficiênciaem todos osrelatórios deplanificação,monitoria eavaliação

    ←Colectar dadosdesagregados

    ←Temos de ser capazesde medir se estamos a fazer uma diferençana vida de pessoascom deficiência

  • beneficiam-se do programa. Funciona do mesmomodo com o género: simplesmente adicione‘deficiência’ a cada indicador existente.

    Há também, é claro, uma necessidade paraindicadores mais específicos para medir oresultado e a qualidade do processo de inclusão,pode usar os indicadores desenvolvidos pelaCBM como exemplo.

    As seguintes questões também podem serimportantes dependendo do tipo deactividade/programa que executar:

    • Qual é a diferença entre a performance eparticipação de pessoas com deficiência e a performance e participação de nãodeficientes?

    • Por que há uma diferença?• O orçamento dedicado para inclusão está

    sendo utilizado para este fim? Monitorá-lo e para que propósito está sendo usado.

    • Como a parceria/colaboração comorganizações específicas para deficiência,governo e organizações de pessoas comdeficiência se desenvolve?

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    O CBM, uma organização internacionalespecializada em deficiência, desenvolveu cincoconjuntos de indicadores relativos a deficiênciapara os sectores de educação, saúde, HIV/SIDA,desenvolvimento urbano e fornecimento de águae saneamento: http://www.inclusive-development.org/cbmtools/part3/index.htm

    As questões do censo referentes a pessoas com deficiência aprovadaspelo Grupo Washington

    Frase de introdução:Estas questões tratam das dificuldades que pode enfrentar ao realizar certas actividades devido ao seu PROBLEMA DE SAÚDE

    1. Tem dificuldades para enxergar,mesmo quando usa óculos?

    a. Não, nenhuma dificuldadeb. Sim, alguma dificuldadec. Sim, muita dificuldaded. Sou incapaz de realizar

    2.Tem dificuldade para escutar,mesmo quando usa aparelhoauditivo?

    a. Não, nenhuma dificuldadeb. Sim, alguma dificuldadec. Sim, muita dificuldaded. Sou incapaz de realizar

    3. Tem dificuldade para andar ou subirescadas?

    a. Não, nenhuma dificuldadeb. Sim, alguma dificuldadec. Sim, muita dificuldaded. Sou incapaz de realizar

    4. 4. Tem dificuldade para memorizarou concentrar-se?

    a. Não, nenhuma dificuldadeb. Sim, alguma dificuldadec. Sim, muita dificuldaded. Sou incapaz de realizar

    5. Tem dificuldade com cuidadospessoais como lavar-se por inteiroou vestir-se?

    a. Não, nenhuma dificuldadeb. Sim, alguma dificuldadec. Sim, muita dificuldaded. Sou incapaz de realizar

    6. Ao usar a sua língua habitual(costumeira), tem dificuldade paracomunicar-se, por exemplo, paracompreender ou ser compreendido?

    a. Não, nenhuma dificuldadeb. Sim, alguma dificuldadec. Sim, muita dificuldaded. Sou incapaz de realizar

    →Os recursos estão

    disponíveis

  • Orçamento para inclusãoInclusão de pessoas com deficiência em seusprogramas principais custa dinheiro. Não está claroo quanto abordagens inclusivas custam porque osnúmeros confiáveis não estão disponíveis. Osintervenientes principais, como a MobilityInternational, aconselha uma alocação orçamentalde 2-7% para a inclusão de pessoas comdeficiência. Isto é para cobrir os custos doseguinte:• Aumentar a percepção sobre deficiência no

    meio dos próprios quadro de funcionários ecomunidades

    • Tornar os edifícios acessíveis• Fornecer interpretação em língua gestual• Fornecimento de informações em formatos de

    comunicação diferente (Braille, áudio)• Transporte para pessoas com deficiência• Os dispositivos auxiliares (geralmente este deve

    ser fornecido pelos serviços governamentais oude invalidez, se eles não estão disponíveis podeser pago pelo orçamento do seu projecto)

    Mais informações sobre o orçamento para ainclusão podem ser encontradas na parte 3.

    47

    Crianças com deficiênciadevem ser educadas emescolas regulares

    Os indicadores inclusivospara os diferentes sectores

    Educação inclusiva• Crianças deficientes inscritas em escolas

    regulares

    • Salas de aula e toaletes acessíveis

    • Professores treinados em práticas inclusivas(por exemplo, treinamento em Braille,linguagem de sinais, sensibilização paradeficiência, etc.)

    • Nível de alfabetização de crianças comdeficiência

    Intervenções inclusivas para HIV e SIDA• Pessoas com deficiência frequentando e

    participando de encontros parasensibilização de HIV/SIDA e capazes deaceder as mesmas informações que pessoassem deficiência

    • Pessoas com deficiência com acesso aosmesmos serviços e programas sobre HIV(aconselhamento, teste diagnóstico e anti-retrovirais) que pessoas sem deficiência

    Segurança alimentar• Pessoas com deficiência têm acesso

    suficiente a água segura em suas casas e acesso reforçado a alimentação nutritivaao longo do ano

    • Todas as novas estruturas (casas de banhos,poços, etc.) que forem construídas sãoacessíveis a pessoas com deficiência

    • Iniciativas de produtividade e meios de vidaincluem pessoas com deficiência.

    Protecção infantil• Combate à violência contra crianças e

    combater o abuso do poder aborda direitos,necessidades e problemas das crianças comdeficiência

    • Campanhas comunitárias contra a violênciae abuso de crianças incluem informaçõessobre os direitos, necessidades e questõesde crianças com deficiência

    Centros de formação profissional• O edifício é acessível a pessoas com

    problemas de mobilidade

    • No mínimo 5% dos participantes têmdeficiência

    • Formatos de comunicação acessíveis (comoBraille e de áudio) estão disponíveis parapessoas com deficiência visual ou auditiva

    ←É recomendado alocarum orçamento de 2-7% para a inclusãode pessoas comdeficiência

  • Avaliação A avaliação do seu programa oferece aoportunidade de medir o resultado e impacto dainclusão das pessoas com deficiência. Mastambém pode olhar para o processo de mudançadentro de seu projecto; especificamente, aremoção de barreiras e mudança de atitudeentre o pessoal funcionário e comunidade.Certifique-se de que as vozes das pessoas comdeficiência e/ou seus familiares são ouvidosdurante as avaliações.

    Monitoria e avaliação (M&A) é suposto afornecer informações críticas e permitir que osdecisores políticos e gestores tomem decisõesinformadas e, portanto, melhores. Bons sistemasde M&A também irão também ajudar napromoção de maior transparência eresponsabilização no seio das organizações e emrelação ao público em geral. Como tal, asorganizações - se eles fornecem resultadospositivos - será habilitada a angariar maior apoiopolítico e público. A importância deste tipo deapoio não deve ser subestimada. A prova de quenossos programas e actividades estão a formaruma estratégia eficaz para trabalhar no sentidode uma sociedade mais inclusiva é, não sónecessária por razões de responsabilização, mastambém de formar um catalisador na promoçãode mais justiça, mais igualdade de oportunidadese de um mundo que é melhor para todos.

    Aprendendo Braile em Nepal

    • Quais são as conquistas das pessoas com deficiência no projecto?Será que eles alcançam os mesmos resultados? Se não, o que faz comque haja diferenças?

    • Quais foram as dificuldades que as pessoas com deficiência tiveramno acesso de serviços ou do programa?

    • Como é que a compreensão da deficiência influencia a forma como o seu quadro de funcionários está trabalhando com pessoas comdeficiência? Como isso mudou na comunidade? Quais foram asactividades que mais contribuíram para esta mudança?

    • O projecto alterou as relações de poder e isso foi a favor de maisinfluência e participação de pessoas com deficiência em suasactividades?

    • A capacidade organizacional das pessoas com deficiência aumentou?

    • Quais são as recomendações para melhorar a inclusão?