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LÍGIA MARIA FRANÇA CARDOSO INDICADORES DE PRODUÇÃO LIMPA: UMA PROPOSTA PARA ANÁLISE DE RELATÓRIOS AMBIENTAIS DE EMPRESAS Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Gerenciamento e Tecnologia Ambiental no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profª. PhD. Márcia Mara de Oliveira Marinho Salvador 2004

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LÍGIA MARIA FRANÇA CARDOSO

INDICADORES DE PRODUÇÃO LIMPA: UMA PROPOSTA PARA ANÁLISE DE RELATÓRIOS

AMBIENTAIS DE EMPRESAS

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Gerenciamento e Tecnologia Ambiental no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profª. PhD. Márcia Mara de Oliveira

Marinho

Salvador 2004

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C2683i Cardoso, Lígia Maria França, Indicadores de Produção Limpa: uma proposta para análise de

relatórios ambientais de empresas/Lígia Maria França Cardoso.--- Salvador-Ba, 2004.

155p.; il. Orientadora: Prof. PhD. Márcia Marinho Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias

Ambientais no Processo Produtivo) – Escola Politécnica. Universidade Federal da Bahia, 2004.

Referências e Apêndices.

1. Indicador de desempenho ambiental 2. Responsabilidade ambiental 3. Desenvolvimento sustentável 4. Produção Limpa I.Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica. II Marinho, Márcia Marinho. III. Titulo.

CDD 363.7

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Aos meus pais e, em especial a minha mãe, que não estão

aqui para participar desta conquista, por terem me ensinado

a ser perseverante e não desistir das realizações.

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AGRADECIMENTOS

A orientação da Profª. Márcia Marinho, que em todos os momentos

teve uma palavra de incentivo, sem a qual teria sido muito mais difícil concluir

esta dissertação. A sua cuidadosa e detalhada leitura, disponibilidade para

ouvir, discutir e contribuir para o trabalho.

A Rede TECLIM e todos os colegas, em especial a Asher Kiperstok,

pelo exemplo de pesquisador, que sem dúvida foi um grande estímulo para que

me decidisse a fazer este Mestrado.

Aos colegas do Mestrado, em especial a Armando Tanimoto pelos

inúmeros artigos e apoio em discussões ao longo deste trabalho.

A minha amiga Aninha pela cuidadosa revisão do texto.

A todas as pessoas que contribuíram para a minha formação

profissional, e que me permitiram chegar a este momento.

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RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo elaborar uma proposta de indicadores ambientais, com base no conceito de Produção Limpa (PL), para análise de relatórios ambientais de empresas. A pesquisa tem como ponto de partida um estudo dos conceitos relacionados com o desempenho ambiental dos processos produtivos, com foco na Produção Limpa como caminho para a sustentabilidade. Com base numa ampla revisão de literatura e análise documental, faz-se uma análise crítica dos conceitos e, em particular, dos princípios fundamentais da Produção Limpa: Prevenção, Precaução, Controle Democrático e Integração. Analisa-se o papel dos indicadores e das principais iniciativas no âmbito internacional que utilizam indicadores de desempenho ambiental, identificando-se, com base no conceito de Produção Limpa, os pontos fortes e as limitações dos indicadores propostos pelas mesmas. Esta análise permitiu construir uma proposta de Indicadores de Produção Limpa (IPL) para análise de Relatórios Ambientais Corporativos RACs. O estudo considera que a divulgação do desempenho ambiental das organizações por meio de RACs, utilizando Indicadores de Produção Limpa, permite que tanto a empresa, quanto o público externo possam acompanhar os processos de melhoria, e desta forma contribuir para a PL e para a sustentabilidade. Foram selecionados três relatórios de empresas brasileiras e realizado um teste piloto para verificar a aderência dos mesmos à proposta de IPL. A partir desse teste, concluiu-se que embora as empresas se declarem comprometidas com o desenvolvimento sustentável, esse compromisso ainda é pouco refletido nos indicadores apresentados nos seus relatórios. Entretanto, considera-se que o uso dos IPLs propostos são adequados para uso em RACs devendo, para tanto, serem adaptados aos diversos tipos de empreendimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Indicador de desempenho ambiental, desenvolvimento sustentável, responsabilidade ambiental, Produção Limpa.

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ABSTRACT

This dissertation aims to propose environmental performance indicators based on the concept of Clean Production, that could be applied to the analyses of Corporate Environmental Reports (CER). This study is based on the idea that Clean Production is the way for sustainability of production processes. Based on literature and documentary review, the study undertakes a critical analysis of the concept of the Clean Production and its fundamental principles: Prevention, Precaution, Integration and Democratic Control. Within the background of Clean Production, it is analysed the role of indicators and the main international initiatives related to the use of environmental performance indicators, identifying their strengths and limitations. This analysis generated a proposal of Clean Production Indicators, for analysis of Corporate Environmental Reports. The study considers that reporting environmental performance of companies using Clean Production Indicators makes possible for external and internal stakeholders to be aware of environmental improvements, what can contribute for sustainability. It was chosen three reports of Brazilian companies to undertake a pilot test to assess the coherence of then to the proposed indicators. The study concludes that although those companies declare their commitment to sustainable development, this is not perceived on the indicators that are used on their Corporate Environmental Reports. However, the study concludes that the proposed Clean Production Indicators are adequate to be applied to CER and they should be used and adapted to the different production sectors.

KEYWORDS: Clean Production, environmental performance indicator, sustainable development, corporate environmental reporting.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS 9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 10

1. INTRODUÇÃO 13

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA 13 1.2 OBJETIVO E METODOLOGIA DA PESQUISA 19 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 22

2. FERRAMENTAS AMBIENTAIS QUE ABORDAM A PRODUTIVIDADE DOS RECURSOS 24

2.1 ECOEFICIÊNCIA 25 2.2 PRODUÇÃO MAIS LIMPA 28 2.3 ECOLOGIA INDUSTRIAL 31 2.4 PRODUÇÃO LIMPA: CONCEITO E PRINCÍPIOS 33 2.5 A ESCOLHA DO CONCEITO DE PRODUÇÃO LIMPA PARA A PROPOSTA

DE INDICADORES 50

3. RELATÓRIO PÚBLICO DE EMPRESAS: INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO COM A SOCIEDADE 53

3.1 A EVOLUÇÃO DA PUBLICAÇÃO DE INFORMAÇÕES AMBIENTAIS PELAS

EMPRESAS ENQUANTO ELEMENTO DA RESPONSABILIDADE

CORPORATIVA 53 3.2 PRODUÇÃO LIMPA: ADOÇÃO DO CONCEITO PARA DEMONSTRAR A

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL CORPORATIVA 63

4. O USO DE INDICADORES DE DESEMPENHO AMBIENTAL: ANÁLISE DE INICIATIVAS INTERNACIONAIS À LUZ DA PRODUÇÃO LIMPA 65

4.1 O INDICADOR E SUA IMPORTÂNCIA COMO FERRAMENTA DE MEDIDA,

AVALIAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES 65 4.2 INICIATIVAS QUE PROPÕEM INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DE

DESEMPENHO AMBIENTAL 69 4.3 ANÁLISE COMPARATIVA DAS INICIATIVAS 96 4.4 ANÁLISE DAS INICIATIVAS À LUZ DO CONCEITO DE PRODUÇÃO LIMPA 108

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5. PROPOSTA DE INDICADORES DE PRODUÇÃO LIMPA (IPL) 112

5.1 O PAPEL DO INDICADOR DE PRODUÇÃO LIMPA NO RELATÓRIO

AMBIENTAL DE EMPRESAS 112 5.2 METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO DA PROPOSTA DE IPL 114 5.3 PROPOSTA DE INDICADORES DE PRODUÇÃO LIMPA (IPL) 116 5.4 VERIFICAÇÃO DE ADERÊNCIA DE RELATÓRIOS DE EMPRESAS À

PROPOSTA DE INDICADORES DE PRODUÇÃO LIMPA (IPL) 121

6. CONCLUSÕES 135

REFERÊNCIAS 139

APÊNDICE A - Resultado da verificação de aderência à proposta de

IPL realizada nos relatórios da COPESUL, ARACRUZ E CST 147

APÊNDICE B – Participantes do seminário para discussão da proposta

de IPL 153

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LISTA DE FIGURAS Figura 1: O que fazer com os resíduos ............................................................ 29

Figura 2: Publicação de informações ambientais ............................................. 57

Figura 3: Construção do indicador ................................................................... 66

Figura 4: Tipos de abordagens para seleção dos indicadores de desempenho

ambiental baseados na ISO 14031 ........................................................... 74

Figura 5: Matriz para seleção de indicadores da norma ISO 14031................. 75

Figura 6: Matriz para desenvolvimento de indicadores de produção sustentável 78

Figura 7: Níveis para classificação dos IPS ..................................................... 79

Figura 8: Matriz de indicadores proposta pela GRI .......................................... 83

Figura 9: Classificação dos indicadores ambientais da GRI ............................ 84

Figura 10: Matriz de indicadores proposta pelo WBCSD ................................. 87

Figura 11: Etapas para elaboração do Relatório Ambiental Público ................ 90

Figura 12: Matriz de indicadores de desempenho ambiental para Relatório

Ambiental Público ..................................................................................... 91

Figura 13: Indicadores Ambientais da OCDE................................................... 95

Figura 14: Objetivo da avaliação de desempenho das iniciativas: ISO 14031,

LCSP, GRI, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE......................................... 97

Figura 15: Critérios para definição de indicadores das iniciativas ISO 14031, LCSP,

WBCSD, UNCTAD e OCDE, e para elaboração de relatório da GRI e PER. . 98

Figura 16: Abordagem dos indicadores de desempenho ambiental das

iniciativas: ISO 14031, LCSP, GRI, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE . 100

Figura 17: Comparação das iniciativas: ISO 14031, LCSP, GRI, WBCSD,

UNCTAD, PER e OCDE......................................................................... 102

Figura 18: Estrutura para definição dos indicadores das iniciativas: ISO 14031,

LCSP, GRI, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE...................................... 104

Figura 19: Princípios da PL atendidos pela iniciativas analisadas. ................ 108

Figura 20: O papel do indicador ..................................................................... 113

Figura 21: Relação entre indicador de Produção Limpa e Relatório de

Sustentabilidade...................................................................................... 113

Figura 22: Estrutura da matriz de IPL............................................................. 115

Figura 23: Proposta de Indicadores de Produção Limpa ............................... 120

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACV Análise do Ciclo de Vida

ADA Avaliação de Desempenho Ambiental

ANPED Northern Alliance for Sustainability

ARACRUZ Aracruz Celulose S.A.

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CCE Comissão da Comunidade Européia

CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

CEPRAM Conselho Estadual de Meio Ambiente

CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies

CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CNTL Centro Nacional de Tecnologias Limpas

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

COPESUL Companhia Petroquímica do Sul

COPOLCO Comitê de Política de Consumidor

CRA Centro de Recursos Ambientais

CST Companhia Siderúrgica de Tubarão

CWRT Center for Waste Reduction Technologies

EEA European Environment Agency

EI Ecologia Industrial

EMAS Eco-Management and Auditing Scheme

EPCRA Emergency Planning and Community Right-to-Know Act

ETHOS Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

GRI Global Reporting Initiative

GTRSC Grupo Tarefa sobre Responsabilidade Social Corporativa

IBASE Instituto Brasileiro de Análise Social e Econômica

ICA Indicador de Condição Ambiental

IDA Indicador de Desempenho Ambiental

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IDG Indicador de Desempenho Gerencial

IDO Indicador de Desempenho Operacional IPL Indicador de Produção Limpa

IPS Indicador de Produção Sustentável

ISO International Organization for Standardiizartion

LCSP Lowell Center for Sustainable Production LO Licença de Operação

NRTEE Canadian National Round Table on the Environment and the Economy

OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONGs Organizações Não-Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PER Polluting Emissions Register

PER Public Environmental Reporting

PIB Produto Interno Bruto

PL Produção Limpa

P+L Produção Mais Limpa

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PS Produção Sustentável

RCRA Resources Conservation and Recovery Act

Rio 92 Segunda Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente

RS Relatório de Sustentabilidade

RSA Responsabilidade Socioambiental

RSAC Relatório Socioambiental Corporativo

RSE Relatório de Sustentabilidade Empresarial

RSE Responsabilidade Social Empresarial

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SETAC Society for Environmental Toxicology and Chemistry

SGA Sistema de Gestão Ambiental

SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

TECLIM Rede de Tecnologias Limpas e Minimização de Resíduos

TRI Toxics Release Inventory

UE União Européia

UFBA Universidade Federal da Bahia

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UNCSD United Nations Common Supply Database

UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development

UNEP United Nations Environment Program

USEPA United State Environmental Protection Agency

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do tema e justificativa da pesquisa

A partir da realização, no Rio de Janeiro, em 1992, da Segunda

Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente – Rio 92, e da

elaboração da Agenda 21, é largamente difundido o conceito de

desenvolvimento sustentável, formando “a base para o estabelecimento de

estratégias [...] quando estabelece compromissos, limites e orientações

essenciais para a gestão ambiental de territórios e traduz de forma inequívoca

a universalização da discussão ambiental” (ANDRADE, 1997, p.74).

A abordagem ambiental já vinha sendo discutida em vários foros

internacionais, a exemplo da declaração de Estocolmo em 1972 e relatório

Brundtland em 1987, culminando com a Rio 92, demonstrando uma maior

conscientização sobre este tema (VERA e FUSCO, 2002). A Declaração do Rio

sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, elaborada na Conferência, tem seus

princípios focados no desenvolvimento sustentável, colocando os seres

humanos no centro das preocupações, afirmando no Princípio 3 que “o direito

de desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas

eqüitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das

gerações presentes e futuras” (MINISTÉRIO..., 2003).

A Declaração aborda também a necessidade de serem eliminados

padrões de produção e consumo insustentáveis, assumindo que a proteção ao

meio ambiente é parte integrante do desenvolvimento sustentável, não

podendo ser tratada isoladamente (MINISTÉRIO..., 2003). Ou seja, pensando-

se globalmente, além de um limite mínimo, percebe-se que há também um

limite máximo de recursos a serem consumidos para proporcionar a qualidade

de vida a todos os indivíduos.

O relatório de Brundtland diz que “Desenvolvimento Sustentável é o

desenvolvimento que satisfaz às necessidades do presente sem comprometer

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a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”

(COMISSÃO..., 1991). O relatório foi bem aceito na comunidade internacional,

pois, reconhece a necessidade do crescimento tanto dos países desenvolvidos

(industrializados) como em subdesenvolvidos. Após a Rio 92 o conceito passou

a ser largamente difundido e discutido, sem que tenham sido avaliados o seu

significado e a sua viabilidade. Na realidade este conceito tem-se demonstrado

de difícil entendimento e aplicação.

Neste trabalho considera-se Desenvolvimento Sustentável como

sinônimo de Sustentabilidade, entendendo o seu significado como: Processo intra, inter e transgeracional de desenvolvimento integrado econômico, social e ambiental, quantitativo e qualitativo, que deve ser praticado por todos os integrantes da sociedade humana, e que (i) respeita, adota e aprimora os princípios biogeofisicoquímicos naturais para a produção de bens e serviços naturais providos pelo Planeta e (ii) distribui justiça social para todos (FURTADO, 2004, p.10).

Verifica-se então a globalização da questão ambiental com a

consolidação de princípios ambientais fundamentais no que se refere à gestão

ambiental dos negócios, a evolução da legislação com o desenvolvimento de

políticas ambientais públicas e uma nova relação com a sociedade (ANDRADE,

1997).

O fenômeno da globalização aumenta a competitividade entre as

empresas, e o comércio internacional impõe restrições ambientais que

funcionam como barreiras não-tarifárias, influenciando diretamente a mudança

do enfoque da variável ambiental que passa a integrar a estratégia dos agentes

econômicos e a gestão ambiental das organizações. Algumas empresas

brasileiras buscam a adoção de atitudes pró-ativas em relação ao meio

ambiente e a internalização da variável ambiental na elaboração do seu

planejamento estratégico (ANDRADE, 1997); e visando as vantagens

competitivas de uma postura ambiental responsável, muitas vezes extrapolam

as exigências da legislação, adotando instrumentos voluntários de conduta

como um imperativo para um bom posicionamento no mercado.

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As pressões exercidas pelas partes interessadas sobre o setor

produtivo e a receptividade do mercado em relação a produtos e processos

ambientalmente mais seguros levaram as empresas a buscarem alternativas

para responder a estas pressões. Para caminhar em direção à

sustentabilidade, ou seja, melhorar o seu desempenho frente às questões

econômicas, ambientais e sociais, as empresas devem internalizar a questão

ambiental e tratá-la como uma oportunidade para atingir novos mercados pela

diferenciação do seu produto e processo.

A busca da sustentabilidade pelas organizações depende do tipo de

negócio e da sua relação com o meio ambiente (recursos naturais, ambiente

social). Alguns fatores vêm contribuindo para a adoção desta estratégia: a

Conferência da ONU (Rio 92), o aumento das práticas de benchmarking, no

que se refere ao desempenho ambiental; discriminação por parte dos

consumidores a produtos com base em questões éticas, ambientais e sociais;

coalizões de grupos de pressão para envolver a sociedade contra corporações

que adotem práticas ambientalmente e socialmente incorretas; avaliação do

desempenho socioambiental e da ética das empresas; pressões de acionistas

quanto a visibilidade das ações socioambientais; aumento do interesse de

empregados nas questões de ambiente, saúde, higiene, segurança e valores

corporativos (MARINHO, Márcia, 2001).

Maimon (1994) afirma que empresas com inserção no mercado

internacional enfrentam maior pressão dos acionistas, consumidores e agentes

financeiros para a melhoraria do desempenho ambiental das suas atividades,

refletindo em uma nova postura empresarial.

Aliado a isto, a legislação ambiental tem se tornando cada vez mais

restritiva em relação ao manuseio de produtos e a disposição de resíduos na

natureza, assim como o aumento da responsabilidade civil e criminal com a

cobrança de eventuais prejuízos causados pelas empresas ao ambiente, a

saúde e segurança dos trabalhadores ou à comunidade em geral. Como

conseqüência, a utilização de tecnologias “fim de tubo” (end of pipe), para

atendimento a essas regulamentações, acarreta custos adicionais e repasse

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para o preço do produto (MARINHO, Maerbal, 2001). Entende-se por “fim de

tubo” as tecnologias de controle da poluição (tratamento de resíduos sólidos,

efluentes líquidos e emissões atmosféricas) utilizadas ao final dos processos

produtivos para atender exigências legais.

As mudanças ocorridas na forma de lidar com as questões

ambientais se refletem diretamente na estratégia de negócio adotada pela

empresa, que se constitui em “encontrar nichos de mercado apropriados,

satisfazer as necessidades dos consumidores, pesquisar novas aplicações

tecnológicas, obter vantagens competitivas, etc. [...]” (MEREDITH apud

ANDRADE, 1997, p. 80). Desta maneira, a estratégia de negócio deve conter

os objetivos e metas ambientais a serem alcançados pela empresa. Entretanto,

é preciso ter consciência que a incorporação da dimensão ambiental ocorre de

forma gradual. Para tanto é preciso sair de uma atitude reativa e passar para

uma postura pró-ativa em relação a questão ambiental. Em determinados

segmentos industriais é necessário ir mais além, adotando estratégias

inovativas, nas quais a integração entre as estratégias ambientais e de negócio

são fundamentais, sob pena de ficarem ultrapassadas em relação aos seus

concorrentes.

As empresas buscam uma nova forma de se posicionar diante das

questões relacionadas ao meio ambiente, mudando o paradigma em que a

variável ambiental era vista como uma ameaça aos negócios (custos) e

passam a vislumbrar as oportunidades de implantar atividades mais

sustentáveis (uso racional dos recursos naturais, redução do impacto

ambiental, atendimento às demandas das partes interessadas).

Os impactos ambientais causados pelo setor produtivo não são

iguais, dependem do tipo de atividade industrial, do porte da empresa, da sua

localização, da matéria-prima e energia utilizadas, do tipo de tecnologia

incorporada ao processo de produção e do modelo de gestão ambiental

adotado pela empresa.

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A adoção de práticas de gestão ambiental e responsabilidade social

tem se tornado um desafio para as empresas na última década. Estes

conceitos surgiram para responder a uma necessidade das organizações em

atender às exigências, cada vez maiores, da expansão dos impactos das suas

operações no meio ambiente e na sociedade (VERA e FUSCO, 2002). Assim, a

responsabilidade das organizações perante a sociedade ou responsabilidade

corporativa, passa a considerar, além da questão econômica, tradicionalmente

considerada, as dimensões ambientais e sociais.

Desta forma, as empresas vêm passando por um período de

transição, com a consolidação de uma nova postura socioambiental, fazendo

com que, gradativamente, abandonem velhas práticas reativas às questões de

meio ambiente e adotem a responsabilidade socioambiental como uma

necessidade de sobrevivência. A Responsabilidade Socioambiental (RSA) é

uma visão mais abrangente que a da Responsabilidade Social, pois amplia o

foco para o compromisso com o desenvolvimento sustentável das

organizações (FURTADO, 2003).

Furtado (2003, p.3) define RSA como: “o dever ou obrigação da

organização para responder – perante todas as partes interessadas – pelas

conseqüências ou impactos sociais e ambientais causados por seus produtos,

serviços e atividades introduzidos no ambiente público”.

A adoção da RSA só trará resultados positivos, para as partes

interessadas e para as organizações, se for incorporada à estratégia de

negócio da empresa. Assim, os resultados positivos poderão ser sentidos ao

longo do tempo, refletindo na valorização da imagem institucional e da marca,

na maior fidelidade do consumidor, na melhoria do desempenho do quadro

funcional e conseqüentemente na sustentabilidade empresarial.

Considera-se que o setor produtivo já dispõe de mecanismos de

resposta para atender aos desafios, apresentados pela sociedade, para atingir

o desenvolvimento sustentável com o necessário nível de responsabilidade

ambiental. Encontram-se disponíveis instrumentos e tecnologias

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ambientalmente adequadas e inovadoras, para reorientar a produção na busca

de produtos e serviços mais eficientes.

A União Européia define tecnologias ambientais como sendo

aquelas que eliminam a formação de poluentes durante o processo produtivo e

as emissões ao final do mesmo, otimizam o uso de energia e recursos durante

o processo de produção, e desenvolvem novos materiais e procedimentos de

trabalho (PORTAL..., 2004b).

As tecnologias ambientais desempenham um importante papel na

busca do desenvolvimento sustentável, uma vez que permitem o crescimento

econômico com conservação de recursos e proteção ao meio ambiente

(associam benefícios ambientais a vantagens econômicas), o que dissocia

desenvolvimento de ameaças ambientais. Entretanto, o Conselho reconhece a

existência de barreiras para a implementação dessas tecnologias, tais como:

informações insuficientes sobre a sua eficiência, recursos financeiros escassos,

os riscos e a incerteza, o custo da inovação, a segmentação de mercado e a

falta de concorrência, que são agravadas pela ausência de informações sobre

valoração econômica dos bens ambientais (PORTAL..., 2004b).

Em março de 2003, a União Européia definiu medidas concretas

para implementação da estratégia global para o desenvolvimento sustentável, e

dentre estas estão: o plano de ação para domínio das tecnologias ambientais,

a melhoria dos indicadores ambientais, a concretização do acordo para a

adoção da diretiva relativa a responsabilidade ambiental e a aplicação da

Convenção de Aarhus1 (acesso à informação, participação do público no

processo de tomada de decisão e acesso à justiça em matéria de ambiente)

(PORTAL..., 2004b).

Os indicadores ambientais são importante ferramenta de medida, e

permitem expressar os resultados relativos ao desempenho ambiental e

acompanhar a evolução da empresa na implementação de ações que levem

1 Informações complementares na seção 2.4.3

Page 19: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

19

efetivamente a melhorias no caminho da sustentabilidade. Além disso são

fundamentais para a divulgação de informações em relatórios de

sustentabilidade, que também devem conter indicadores que demonstrem o

desempenho relativo às questões econômicas e sociais, permitindo a

comunicação dos diversos aspectos das atividades das organizações.

Os indicadores ambientais também são usados para a

demonstração pública da responsabilidade ambiental corporativa nos relatórios

ambientais, permitindo às partes interessadas avaliar o desempenho ambiental

da empresa. A publicação de informações permitirá atender a crescente

demanda da sociedade por maior transparência das organizações, como será

visto no Capítulo 3.

1.2 Objetivo e metodologia da pesquisa

Esta dissertação busca responder a seguinte questão: Como os indicadores ambientais, baseados no conceito de Produção Limpa, podem auxiliar as empresas a demonstrarem a sua responsabilidade ambiental corporativa e a busca da sustentabilidade?

O trabalho tem como objetivo elaborar uma proposta de indicadores

ambientais, com base no conceito de Produção Limpa, para análise de

relatórios ambientais de empresas.

Como objetivos específicos propõe-se:

a) Analisar conceitos e ferramentas que abordam a produtividade dos

recursos ambientais, em particular o conceito de Produção Limpa e

os seus princípios fundamentais, para nortear a proposta de

indicadores ambientais;

b) Analisar iniciativas internacionais que propõem indicadores para

avaliação de desempenho ambiental, para subsidiar a elaboração

da proposta de indicadores ambientais;

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c) Elaborar uma proposta de Indicadores de Produção Limpa (IPL)

para análise de relatórios ambientais de empresas;

d) Realizar um teste piloto em três relatórios ambientais de empresas

nacionais, comprometidas com o desenvolvimento sustentável,

para verificar o nível de aderência ao modelo proposto.

Espera-se com este trabalho de pesquisa contribuir para a

disseminação do conceito de Produção Limpa junto às empresas e às partes

interessadas, estimulando o uso de indicadores que reflitam a aplicação do

conceito, disponibilizando uma proposta de Indicadores de Produção Limpa

que possa fomentar o uso e a divulgação destes em relatórios ambientais de

empresas.

Esta dissertação foca especificamente a dimensão ambiental da

sustentabilidade, desta forma serão abordados apenas indicadores para

reportar o desempenho ambiental das organizações. Não serão discutidos,

nem propostos, indicadores para avaliar as variáveis econômicas e sociais,

fundamentais para o atendimento ao conceito de Desenvolvimento Sustentável.

Entretanto, ao longo do texto serão feitas referências às questões sociais e

econômicas com o objetivo de ressaltar a sua importância para a

sustentabilidade.

Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizada a seqüência

metodológica descrita a seguir:

a) Levantamento e análise de documentos e literatura que tratam dos

temas abordados neste trabalho: indicadores ambientais, Produção

Mais Limpa, Produção Limpa, Ecoeficiência, Ecologia Industrial,

responsabilidade ambiental corporativa, publicação de informações

ambientais pelas empresas.

Pesquisa em outras fontes de informações disponíveis na Internet

(sites de empresas, de instituições de ensino e pesquisa, de

associações empresariais, etc.) além de textos de jornais e

revistas, dentre outros.

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21

Além da pesquisa bibliográfica realizada, vale ressaltar que a

experiência da autora que durante 18 anos trabalhou em indústria

química e petroquímica, nas áreas de controle de qualidade,

assistência técnica a clientes e gestão ambiental, e a partir de 1998

atua como pesquisadora da Rede Tecnologias Limpas e

Minimização de Resíduos da UFBA - TECLIM2, contribuiu para a

realização deste trabalho.

b) Construção de um referencial teórico, a partir do qual foram

estabelecidos os princípios e critérios para a elaboração da

proposta de indicadores ambientais baseados no conceito de

Produção Limpa.

c) Seleção e análise de sete iniciativas, de instituições de

abrangência internacional, que apresentaram propostas de

indicadores para avaliação de desempenho ambiental.

d) Elaboração de uma proposta de Indicadores de Produção Limpa

(IPL) para análise de relatórios ambientais.

e) Realização de seminário para discussão da proposta de IPL com

partes interessadas.

f) Revisão da proposta de IPL considerando as contribuições do

seminário.

g) Seleção e análise de uma amostra de três relatórios ambientais, de

empresas nacionais, para realização de teste piloto de aderência à

proposta de Indicadores de Produção Limpa.

h) Aprimoração da proposta de IPL a partir da análise dos relatórios

ambientais.

2 O TECLIM é uma rede cooperativa de pesquisa que tem como objetivo inserir o conceito de tecnologias limpas na prática da produção industrial e, simultaneamente, desenvolver ações que a tornem uma realidade. O Programa vem desde 1998 desenvolvendo várias linhas de atuação voltadas para a formação de recursos humanos por meio da realização de cursos de Especialização e Extensão, e a partir de 2002, de curso de Mestrado Profissional em Produção Limpa. Em paralelo são desenvolvidos vários projetos cooperativos em parceria com diversas empresas do seguimento produtivo baiano (www.teclim.ufba.br).

Page 22: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

22

1.3 Estrutura da dissertação

Esta dissertação está estruturada em seis capítulos, incluindo esta

introdução, que contextualizou o tema da pesquisa, definiu os objetivos,

apresentou a metodologia utilizada e descreve a abordagem dos capítulos

subseqüentes.

O Capítulo 2 discute diversos conceitos que têm em comum a

otimização dos recursos, reduzindo a demanda de materiais e energia,

integrando a prevenção da poluição com o processo de produção,

considerando o desempenho ambiental. Aborda-se os conceitos de

Ecoeficiência, Produção Mais Limpa, Ecologia Industrial e em particular o

conceito de Produção Limpa. Este último escolhido para subsidiar a construção

da proposta de Indicadores de Produção Limpa, objetivo deste trabalho.

O Capítulo 3 trata da importância da publicação, pelas empresas, de

relatórios como um instrumento capaz de fornecer elementos que permitam as

partes interessadas compreender o papel da empresa na sociedade. Discute-

se, também, o papel dos Indicadores de Produção Limpa para demonstrar a

responsabilidade ambiental corporativa.

O Capítulo 4 apresenta o conceito de indicador e sua importância

como ferramenta de medida para avaliação da aplicação dos conceitos

discutidos no Capítulo 2. São também identificadas e analisadas iniciativas de

instituições de abrangência internacional, que apresentam propostas de

indicadores para avaliação de desempenho ambiental. Em seguida analisa-se

estas propostas à luz do conceito de Produção Limpa, tomando-as como base

para a seleção dos critérios e tipos de indicadores, a serem considerados para

a construção da matriz de Indicadores de Produção Limpa.

No Capítulo 5 é apresentada a matriz de IPL, que resultou da

pesquisa, e a metodologia utilizada para a sua construção. Com o intuito de

aprimorar esta matriz verifica-se a aderência de casos reais à proposta de IPL,

com o objetivo de averiguar se os indicadores já vêm sendo usados pelas

Page 23: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

23

empresas selecionadas, e reavaliar os mesmos. Analisa-se o resultado do teste

piloto em relação ao atendimento aos indicadores propostos.

Nas conclusões, Capítulo 6, ressalta-se a importância da divulgação

de informações relativas às questões ambientais, por meio do uso de

indicadores, para que tanto a empresa internamente, quanto o público externo

possam acompanhar os processos de melhoria do desempenho ambiental das

organizações. Apresenta-se, também, as limitações da pesquisa e dificuldades

encontradas para a elaboração deste trabalho, as barreiras enfrentadas pelas

empresas para o maior uso de indicadores nos relatórios ambientais, assim

como sugestões para novas pesquisas que podem ser realizadas a partir das

questões que foram discutidas e analisadas.

No APÊNDICE A encontra-se o resultado do teste piloto de

aderência aplicado a três relatórios ambientais de empresas e no APÊNDICE B

a listagem dos participantes do seminário realizado para avaliação da proposta

de IPL.

Page 24: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

24

2. FERRAMENTAS AMBIENTAIS QUE ABORDAM A PRODUTIVIDADE DOS RECURSOS

Neste capítulo são discutidos os conceitos de Ecoeficiência,

Produção Mais Limpa, Ecologia Industrial e Produção Limpa, que têm em

comum a busca da produtividade dos recursos, reduzindo o uso de materiais e

energia e integrando a prevenção da poluição com o processo de produção,

considerando o seu desempenho ambiental.

Na abordagem tradicional para a questão ambiental, baseada no

controle da poluição, são estabelecidos padrões de carga de poluição para os

meios físicos e meios bióticos. Isto tem se mostrado ineficiente, levando as

empresas a adotarem medidas de “fim de tubo”. A degradação do meio

ambiente vem demonstrando que este tipo de abordagem não atende as

necessidades atuais de preservação ambiental para garantir o desenvolvimento

sustentável.

Os conceitos de Ecoeficiência, Produção Mais Limpa, Ecologia

Industrial e Produção Limpa modificam a forma de pensar o processo

produtivo, dirigindo esforços para a fonte geradora dos resíduos, em

substituição ao controle da poluição, com o objetivo de eliminá-los ou minimizá-

los e promovendo a conservação dos recursos. Desta forma, a aplicação de

qualquer um desses conceitos, pelo setor produtivo, requer uma profunda

mudança no desenvolvimento de todas as atividades das empresas, desde a

aquisição de materiais, processo produtivo, concepção e distribuição dos

produtos e avaliação dos impactos do uso e pós-consumo. Daí, o porquê de

apesar dos conceitos apontarem para maior produtividade dos recursos, com

conseqüentes benefícios ambientais e econômicos, ainda existirem barreiras

para a sua implantação.

Observa-se também que as ações para prevenção, minimização ou

reutilização de resíduos necessitam de recursos financeiros, concorrendo,

Page 25: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

25

quando do estabelecimento de prioridades para realização de investimentos,

com outros projetos na empresa que apresentam uma relação custo benefício

menor. Então, é preciso demonstrar os ganhos ambientais, ainda que o retorno

econômico não traga ganhos significativos.

Segundo Porter e van der Linde (1995, p.73), “as empresas

precisam aprender a enxergar o benefício ambiental em termos de

produtividade dos recursos”. Poluição é sinônimo de ineficiência, e quase

sempre uma forma de desperdício. Segundo os autores, estudos de caso,

realizados em várias indústrias, têm demonstrado que evitar a geração de

resíduos induz a inovação tecnológica e aumenta a produtividade, com

conseqüente melhoria no desempenho ambiental. Na maioria dos casos os

resultados foram conseguidos com baixo investimento e retorno de curto prazo.

Políticas governamentais que estimulem o desenvolvimento de

processos e produtos focados na maior produtividade dos recursos, em lugar

de políticas e regulamentos voltados para a gestão de resíduos, são a chave

para que as empresas passem a adotar mais amplamente estratégias

ambientais, que levem ao desenvolvimento sustentável.

A discussão destes novos conceitos e ferramentas tem por objetivo

subsidiar a construção de uma matriz de indicadores, como um instrumento

que permita avaliar a sua implementação pelo setor produtivo. Será também

discutida a importância de se estabelecer instrumentos para que a

implementação dos mesmos possa ser verificada pelas partes interessadas.

2.1 Ecoeficiência O conceito de Ecoeficiência é definido pelo Conselho Empresarial

Mundial para o Desenvolvimento Sustentável / World Business Council for

Sustainable Development (WBCSD)3, como:

3 O WBCSD é uma associação que congrega 130 empresas, de 30 países e mais de 20 setores industriais, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável (WORLD..., 2003).

Page 26: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

26

Ecoeficiência é dirigida para a distribuição de produtos e serviços a preço competitivo que satisfaçam as necessidades humanas e garantam a qualidade de vida, ao mesmo tempo em que, progressivamente, reduzam os impactos ambientais e a demanda por recursos naturais ao longo do seu ciclo de vida, a um nível no mínimo igual a capacidade de suporte da terra (WORLD..., 2003, p.7).

O conceito de Ecoeficiência associa progresso econômico e

ambiental, necessários para a melhoria do desenvolvimento econômico com

mais eficiência no consumo de recursos e menor impacto para o meio

ambiente, e conseqüentemente auxilia empresas, governos ou outras

organizações a se tornarem mais sustentáveis (WORLD..., 2003).

A primeira palavra do conceito, ECO, refere-se aos recursos

ambientais e econômicos, e a segunda, EFICIÊNCIA, está relacionada a fazer

um ótimo uso de ambos os recursos, ou seja, na prática significa a busca da

produtividade dos recursos. Verifica-se um potencial de crescimento desta

prática, na medida em que o uso dos recursos naturais e o custo de poluir se

tornam mais caros (DE SIMONE e POPOFF, 1997).

A Ecoeficiência enfatiza a valorização do produto e o

estabelecimento de metas de longo prazo, sendo uma filosofia de

gerenciamento que associa excelência ambiental e excelência do negócio e

considerações sobre produção e consumo sustentável (DE SIMONE e

POPOFF, 1997).

O WBCSD destaca sete elementos que devem ser considerados

para a melhoria de Ecoeficiência: • reduzir a demanda de materiais; • reduzir a demanda de energia; • reduzir a dispersão de substâncias tóxicas; • aumentar a reciclabilidade; • maximizar o uso de recursos sustentáveis; • estender a vida dos produtos; • aumentar a intensidade dos serviços (WORLD..., 2003, p.7).

Analisando o conceito e os elementos da Ecoeficiência, pode-se

notar que a sua adoção, como estratégia empresarial, é muito positiva do ponto

Page 27: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

27

de vista ambiental e econômico, aumentando o valor do negócio, sendo um

grande incentivo para qualquer tipo de organização.

Entretanto, para a adoção do conceito de Ecoeficiência se faz

necessário uma profunda mudança na teoria e nas práticas utilizadas nas

atividades principais das empresas, assim como compra de materiais e

serviços, produção, desenvolvimento de produtos e marketing. Isto traz novos

desafios tecnológicos para as empresas, na busca de novas alternativas,

mudanças de equipamentos e produtos, proporcionando benefícios ambientais

e para a saúde e ganhos econômicos (DE SIMONE e POPOFF, 1997).

A Conferência das Nações Unidas para Comércio e

Desenvolvimento observa que vem aumentando o interesse de investidores em

companhias que perseguem a estratégia da Ecoeficiência, reduzindo a

demanda sobre o meio ambiente e diminuindo o impacto ambiental,

constituindo-se em uma meta da gestão ambiental (UNITED..., 2003,a).

Bancos, seguradoras e outras instituições financeiras estão começando a

perceber que o desempenho ambiental das corporações não pode ser ignorado

para a realização de investimentos. Estes estão cada vez mais atentos para a

avaliação da Ecoeficiência em suas decisões para financiamento, considerando

que companhias com baixo desempenho ambiental têm um alto risco financeiro

e baixo valor para o acionista (WORLD... e UNITED... , 1997).

A WBCSD recomenda que as organizações integrem as informações

sobre Ecoeficiência aos processos de tomada de decisão e comunicação,

incorporando-as ao relatório de sustentabilidade corporativo (WORLD..., 2003).

Para medir a Ecoeficiência é necessário o estabelecimento de

indicadores, que é a relação entre a variável ambiental e econômica,

fornecendo informação sobre o desempenho ambiental de uma empresa em

relação ao desempenho econômico (UNITED..., 2003a).

O desenvolvimento de indicadores, baseados no conceito de

Ecoeficiência, permite o estabelecimento de padrões tecnológicos em

Page 28: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

28

substituição a padrões de controle de emissões e induz a empresa a repensar

a tecnologia do processo para atingir os novos padrões. Por exemplo: para a

empresa reduzir o consumo de água em um determinado período, o que é um

padrão de Ecoeficiência, provavelmente precisará rever as suas práticas e

tecnologias.

2.2 Produção Mais Limpa

O Centro das Indústrias para o Meio Ambiente do Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) / United Nations Environment

Program (UNEP) vem promovendo, desde 1975, ações para a produção e o

consumo mais limpo e seguro para alcançar o desenvolvimento sustentável.

Para atingir este objetivo, o PNUMA vem formando parcerias com indústrias,

setores governamentais e organizações não-governamentais internacionais

(WORLD... e UNITED..., 1997).

Em 1989, o conceito de Produção Mais Limpa (Cleaner Production)

passou a ser difundido pelo PNUMA, sendo definido como: Produção Mais Limpa é a aplicação contínua de uma estratégia ambiental integrada e preventiva, aplicada a processos, produtos e serviços, para aumentar a Ecoeficiência e reduzir riscos para o homem e para o meio ambiente. Se aplica a: - Processos de produção: conservação de matérias-primas e energia, eliminação de matérias-primas tóxicas e redução da quantidade e toxicidade de todas as emissões e resíduos; - Produtos: redução do impacto negativo ao longo do ciclo de vida do produto, da extração da matéria-prima até a disposição final; - Serviços: incorporação dos conceitos ambientais no projeto e na distribuição dos serviços (WORLD... e UNITED...,1997, p. 3).

A Produção Mais Limpa (P+L) enfatiza a mudança na forma de

pensar as questões ambientais e induz a empresa a encontrar soluções que

substituam os tratamentos convencionais de “fim de tubo” por otimização nos

processos produtivos. Estas otimizações podem ocorrer por diferentes formas

de intervenção no processo produtivo, que incluem aspectos gerencias e

tecnológicos e podem ir desde melhoria de procedimentos de operação e

manutenção (boas práticas operacionais) até modificações nos processos e

produtos e inovações tecnológicas (MARINHO, Maerbal, 2001).

Page 29: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

29

As ações de P+L, representadas no fluxograma mostrado na Figura

1, priorizam as ações mais à esquerda, nível 1, e os resíduos que não puderem

ser eliminados devem ser preferencialmente reutilizados no mesmo processo,

nível 2, e por último devem ser buscadas alternativas de reciclagem externa,

nível 3.

Figura 1: O que fazer com os resíduos Fonte: NASCIMENTO e outros, 2002.

No Nível 1 são priorizadas as ações que buscam a redução da

geração do resíduo na fonte geradora, o que pode ser obtido por modificação

no produto ou no processo produtivo (boas práticas operacionais -

housekeeping, substituição de matéria-prima e modificação da tecnologia).

Estas medidas são as mais desejadas do ponto de vista da P+L, pois otimizam

a utilização dos recursos naturais e induzem a empresa a buscar inovação

tecnológica. No Nível 2 procura-se otimizar o ciclo interno da empresa, quando

as medidas sugeridas no Nível 1 não forem possíveis de serem adotadas, com

a reutilização dos resíduos gerados dentro do próprio processo em outro

processo da empresa. No Nível 3 são propostas medidas de reciclagem

externa ou reaproveitamento em ciclos biogênicos (exemplo da compostagem).

Minimização de resíduos e emissões

Reutilização de resíduos e emissões

PRODUÇÃO MAIS LIMPA

Nível 2Nível 1

Redução na fonte

Reciclagem interna

Reciclagem externa

Ciclos biogênicos

Nível 3

Modificação no processo

Modificação no produto

Materiais Estruturas

Housekeeping Substituição de matérias-primas

Modificação Tecnológica

Page 30: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

30

O Programa de P+L do PNUMA foca suas ações em duas frentes de

trabalho principais: a transferência de informações, difundindo a visão de P+L

no mundo, com a criação de Centros Nacionais de Produção Mais Limpa4 em

diversos países; e a capacitação, voltada para fomentar o treinamento e

educação, dando suporte a projetos de P+L e prestando assistência técnica a

uma rede de organizações que promovem a P+L e a Ecoeficiência (WORLD...

e UNITED..., 1997).

Ao implantar um Programa de P+L, ao longo do tempo, espera-se

redução nos custos, oriunda dos ganhos com a diminuição do consumo de

matérias-primas e energia e com a minimização da geração dos resíduos na

fonte, ou seja, ocorre um aumento da produtividade dos recursos, gerando

benefícios ambientais e conseqüentemente vantagens econômicas

(NASCIMENTO e outros, 2002).

Para quantificar e medir os benefícios ambientais e econômicos,

alcançados com a implantação de Programas de P+L, a metodologia do

PNUMA prevê o estabelecimento de indicadores ambientais que deverão

apresentar informações significativas, proporcionando melhor compreensão e

permitindo avaliar os resultados das ações de P+L no desempenho ambiental

da empresa (CENTRO, 1999).

Comparando os conceitos de Ecoeficiência e Produção Mais Limpa

verifica-se que a “Ecoeficiência parte de questões de eficiência econômica que

têm benefícios ambientais positivos, enquanto que a P+L parte de questões de

eficiência ambiental que têm benefícios econômicos positivos” (WORLD... e

UNITED..., 1997, p. 3).

O objetivo dos dois conceitos é a busca da Ecoeficiência, porém

com diferentes estratégias. A P+L procura implementar ações que tragam

ganhos ambientais enfatizando os benefícios econômicos com resultados

4 No Brasil (na cidade de Porto Alegre), em 1995, foi instalado o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL), sediado no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI/RS.

Page 31: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

31

obtidos, enquanto, a Ecoeficiência está focada na busca de mercado com

preço competitivo e redução gradativa de impactos ambientais e demanda de

recursos naturais (eficiência ambiental).

Esta comparação reforça a importância da compreensão e adoção,

por parte do setor produtivo, dos princípios que norteiam estes conceitos como

elementos fundamentais na busca da sustentabilidade, levando em

consideração os fatores econômicos e ambientais.

2.3 Ecologia Industrial

A Ecologia Industrial (EI) aborda a interação da indústria com o meio

ambiente para ajudar na avaliação e minimização de impactos ambientais.

Pode ser aplicada ao projeto do processo industrial e ao produto, considerando

a competitividade e a interação destes com o meio ambiente, partindo da

premissa que os seus desempenhos não são isolados, mas sofrem influência

de outros sistemas (GRAEDEL e ALLENBY, 1995).

Graedel e Allenby (1995, p.9) definem o conceito de EI como: Ecologia Industrial é o meio pelo qual a humanidade pode, deliberadamente e racionalmente, alcançar e manter a capacidade de suporte desejável, promovendo uma continuidade da evolução econômica, cultural e tecnológica. O conceito requer que o sistema industrial seja visto não isoladamente dos sistemas existentes nos seus entornos, mas em conjunto com eles. É uma visão de sistema, no qual procura-se otimizar o ciclo total de materiais, desde o material virgem ao material acabado, componentes, produtos, produtos obsoletos, e disposição final. Os fatores a serem otimizados incluem recursos, energia e capital.

Na definição acima, os autores enfatizam as palavras

deliberadamente e racionalmente, para mostrar a importância da realização

de ações planejadas, buscando alternativas integradas e de baixo custo. E a

palavra desejável, para indicar que o objetivo da prática da Ecologia Industrial,

é dar suporte a um desenvolvimento sustentável mundial com qualidade de

vida para todos (GRAEDEL e ALLENBY, 1995).

Page 32: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

32

Assim como os demais conceitos discutidos neste capítulo, a

Ecologia Industrial também busca a conservação dos recursos naturais e a

prevenção da poluição, porém com uma visão integrada de processos

produtivos, sejam eles de uma mesma empresa ou entre diferentes empresas.

A EI descarta o conceito de resíduo, e isto significa que materiais não utilizados

e os subprodutos de uma empresa devem se inserir como insumos ou

matérias-primas em outra empresa.

Também no conceito fica evidente a necessidade da participação da

sociedade, enquanto consumidores de produtos e serviços, o que só poderá

ocorrer se esta for devidamente informada. Mais adiante, na seção 2.4.3, será

discutido mais amplamente o acesso à informação como um instrumento de

tomada de decisão para o público em geral.

Segundo Marinho e Kiperstok (2001), para a implantação de

ecossistemas industriais (zonas industriais organizadas para funcionarem como

sistemas integrados), são necessárias informações técnicas, instrumentos

econômicos e legais. A disponibilização de informações permitirá identificar as

integrações possíveis entre os processos, a viabilidade econômica e as

vantagens ambientais; os instrumentos econômicos funcionarão como um

incentivo a mudanças, viabilizando ações que propiciem ganhos ambientais; e

os instrumentos legais, que necessitam ser revistos, pois a legislação atual, em

alguns países, proíbe ou dificulta a circulação de materiais, especialmente os

perigosos, o que pode se constituir em uma barreira para a implantação de

práticas de Ecologia Industrial.

Algumas ferramentas como Análise do Ciclo de Vida (ACV) e Projeto

para o Meio Ambiente (Design for Environment) são essenciais para a Ecologia

Industrial. A primeira para identificação de alternativas de interação de

processos, e a segunda em função da necessidade de prever a integração de

unidades ou sistemas ao longo do tempo (MARINHO e KIPERSTOK, 2001).

Page 33: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

33

Segundo Graedel e Allenby (1995, p.108) a ACV: tem como objetivo avaliar a carga ambiental associada com o produto, processo ou atividade, para identificar e quantificar a energia e materiais usados e liberados para o meio ambiente, para avaliar o impacto destes, e para avaliar e implementar oportunidades para melhorar os efeitos sobre o meio ambiente.

A expressão Projeto para o Meio Ambiente é usada para

“representar a concepção de projetos de produção de bens e serviços com

maior eficiência, eficácia e efetividade ambiental” (FURTADO, 2000a, p.11).

As informações técnicas necessárias para implantação de

ecossistemas industriais podem ser obtidas, mais facilmente, quando as

empresas têm como prática a divulgação pública. Conforme será visto mais

adiante neste trabalho, existe uma clara tendência de padronização e

publicação de indicadores que demonstrem o desempenho ambiental das

organizações, em função da crescente necessidade de investidores,

comunidades e consumidores. Esta padronização pode auxiliar na identificação

de materiais não utilizados em uma determinada empresa, facilitando a

integração dos sistemas.

A proposta da matriz de indicadores, objeto desta pesquisa, poderá

contribuir para o desenvolvimento e a prática do uso e divulgação de

indicadores ambientais, e dessa forma poderá auxiliar na implantação de

ecossistemas industriais.

2.4 Produção Limpa: conceito e princípios

A Produção Limpa (PL) busca compreender o fluxo dos materiais na

sociedade, investigando, em particular, a cadeia de produtos: de onde vêm as

matérias-primas, como e onde elas são processadas, que desperdício é gerado

ao longo da cadeia produtiva, que produtos são feitos dos materiais, e o que

acontece a estes produtos durante o seu uso e o término da sua vida útil. A PL

também questiona a necessidade do próprio produto ou serviço, quanto à

existência de outro processo produtivo mais seguro e que consuma menor

quantidade de materiais e energia (THORPE, 1999).

Page 34: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

34

Os princípios de Produção Limpa (Clean Production) foram

propostos nos anos 80 pela Greenpeace, organização não-governamental

internacional. “Os processos de Produção Limpa são desenhados para utilizar

somente matérias-prima renováveis, além de conservarem energia, água e

solo. Não utilizam nem elaboram compostos químicos perigosos, evitando

assim a geração de resíduos tóxicos” (GREENPEACE, 2002a).

A adoção do conceito de Produção Limpa, nos processos de

produção, reduz custos e traz benefícios ambientais. De acordo com

Kruszewska e Thorpe (1995, p.12) a sua aplicação envolve oito etapas: 1. Identificação das substâncias perigosas a serem gradualmente

eliminadas com base no Princípio da Precaução; 2. Realização de análises químicas e de fluxo de materiais; 3. Estabelecimento e implantação de um cronograma para a

eliminação gradual da substância perigosas do processo de produção, assim como o acompanhamento das tecnologia de gerenciamento de resíduo;

4. Implementação de Produção Limpa em processos e produtos existentes e em pesquisa de novos;

5. Prover treinamento e dar suporte técnico e financeiro; 6. Ativa divulgação de informações para o público e garantia de sua

participação na tomada de decisões; 7. Viabilização da eliminação gradativa de substância por meio de

incentivos normativos e econômicos; 8. Viabilização da transição para a Produção Limpa com

planejamento social, envolvendo trabalhadores e comunidades afetadas.

Enquanto muda o processo de produção, a transição para a

Produção Limpa também demanda por uma avaliação do produto em relação

aos custos ambientais, sociais e econômicos provenientes do uso dos recursos

e da geração de resíduos ao longo do seu ciclo de vida. Cabe à sociedade

avaliar a real necessidade de consumir um determinado produto ou se o

mesmo pode ser substituído ou ter o seu consumo otimizado (KRUSZEWSKA

e THORPE, 1995).

Para que a sociedade possa efetivamente participar da tomada de

decisão é fundamental que esteja bem informada, e isto só será alcançado se

as informações, sobre os materiais utilizados nos processos de produção e

produtos produzidos, forem disponibilizadas ao público.

Page 35: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

35

Segundo Furtado (2000a, p.25), quatro elementos fundamentais

compõem o conceito de Produção Limpa: • Princípio da Precaução: obriga o poluidor potencial a arcar com o ônus da prova de que uma substância ou atividade não causará dano ao ambiente. • Princípio da Prevenção: consiste em substituir o controle de poluição pela prevenção da geração de resíduos na fonte, evitando a geração e emissões perigosas para o ambiente e o homem ao invés de “curar” os efeitos de tais emissões. • Princípio do Controle Democrático: acesso à informação sobre questões que dizem respeito a segurança e uso de processos e produtos, por todos os interessados, inclusive as emissões e registros de poluentes, planos de redução de uso de produtos tóxicos e dados sobre componentes perigosos de produtos. • Princípio da Integração: visão holística do sistema de produção de bens e serviços, com o uso de ferramentas como a ACV – Avaliação do Ciclo de Vida.

Faz-se também necessário estabelecer uma ferramenta de medição,

que permita verificar a adoção dos Princípios e acompanhar o desempenho

ambiental das empresas e a divulgação de informações às partes interessadas.

2.4.1 Princípio da Precaução

A abordagem precaucionária desenvolveu-se em resposta aos

impactos sobre o meio ambiente e a saúde humana, causados pelo rápido

crescimento mundial após a II Guerra Mundial. O precursor do Princípio da

Precaução (vorsorgeprinzip, em alemão), começou a ser definido na Alemanha

no início da década de 70, e considerava que a sociedade deve ser prevenida

de danos ambientais, por um planejamento, cuidadoso e preventivo,

bloqueando o fluxo de atividades potencialmente prejudiciais. Este princípio

norteia a legislação ambiental na Alemanha e tem sido utilizado para justificar a

implementação de vigorosas políticas para taxação de chuva ácida,

aquecimento global e poluição no Mar do Norte. A implementação deste

princípio tem aumentado a competitividade global das indústrias na Alemanha

em tecnologias ambientais e prevenção da poluição (TICKNER e

RAFFENSPERGER, 1998).

O Princípio da Precaução (Precautionary Principle) foi introduzido

internacionalmente em 1984 na Primeira Conferência Internacional de Proteção

Page 36: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

36

do Mar do Norte, e a sua aplicação ocorreu a partir de 1987 na Segunda

Conferência, quando representantes da Bélgica, Dinamarca, França,

Alemanha, Países Baixos, Noruega, Suécia, Reino Unido e Irlanda do Norte e

da Comissão da Comunidade Européia assinaram uma declaração

reconhecendo a aplicação do Princípio para proteger o Mar do Norte. O efeito

da poluição no ecossistema era claramente evidente, mas os dados não

permitiam uma análise da relação quantitativa da causa-efeito. Além de ser

uma área produtora de petróleo e gás, havia a constatação de prejuízos

causados por décadas de despejo de nitrogênio, fósforo e de resíduos de rios

poluídos. O objetivo da declaração foi prevenir o aumento da poluição e da

degradação ambiental, estimulando estudos científicos que provassem que as

substâncias descartadas não eram danosas (DE FUR e KASZUBA, 2001).

Segundo De Fur e Kaszuba (2001), desde a sua aplicação no Mar

do Norte, o Princípio da Precaução tem sido adotado por diversos tratados

internacionais, de proteção à saúde humana e ao meio ambiente, inclusive na

Declaração do Rio, em 1992. Organizações governamentais Européias têm

implementado amplamente o Princípio da Precaução na área de segurança

alimentar – um dos casos mais controvertidos, e muito divulgado da aplicação

do Princípio, foi o da proibição da utilização de hormônio de crescimento no

rebanho bovino da Europa.

No princípio 15, da Declaração do Rio sobre Desenvolvimento e

Meio Ambiente, elaborada na Rio 92, é afirmado que o Princípio da Precaução

deverá ser observado pelos Estados, e que a ausência da certeza científica

não deverá ser utilizada como motivo para prevenir a degradação ambiental.

Na Agenda 21, a aplicação do Principio da Precaução é adotado em vários

capítulos, como critério para a proteção do meio ambiente, contribuindo para

mudança do padrão de desenvolvimento com maior compromisso ambiental

(MINISTÉRIO..., 2003).

O Princípio da Precaução é a base da política e da legislação

ambiental em muitos países da Europa, incluindo a Suécia, Dinamarca e Reino

Unido. Este conceito é relativamente novo nos Estados Unidos, embora noções

Page 37: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

37

gerais de precaução estejam presentes em muitas legislações ambientais e em

decisões judiciais, fazendo com que agências governamentais tomem medidas

de prevenção de danos, mesmo antes de consideráveis evidências de causa-

efeito (TICKNER e RAFFENSPERGER, 1998).

Também no Brasil, o Princípio da Precaução tem sido considerado

para a elaboração da legislação ambiental, a exemplo da Resolução número

305 do CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente, de 12 de junho de

2002, que “dispõe sobre o Licenciamento Ambiental, Estudo de Impacto

Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente de atividades e

empreendimentos com Organismos Geneticamente Modificados e seus

derivados”. Esta levou em consideração, dentre outras premissas: [...] os princípios da participação pública, da publicidade e da garantia de acesso à informação; [...] e o princípio da precaução, cristalizado no Princípio 15 da Declaração do Rio, reafirmado pela Convenção sobre Diversidade Biológica, pelo Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, e no art. 225 da Constituição Federal; [...] o desconhecimento dos eventuais impactos de Organismos Geneticamente Modificados à saúde e ao meio ambiente (BRASIL, 2002, p.1)

A discussão sobre produção e utilização de produtos transgênicos

(Organismos Geneticamente Modificados) vem sendo realizada com base no

princípio da precaução, ainda que nem sempre este seja explicitamente citado.

Os argumentos utilizados, por todos os que são contra a sua utilização,

baseiam-se na falta de conhecimento sobre segurança e risco do produto e o

efeito causado ao meio ambiente e à saúde humana, pela produção e consumo

de produtos transgênicos, e não quanto a tecnologia de modificação do

produto. Desta forma, verifica-se que o debate está se dando com base em

premissas legais, como mostra a resolução acima mencionada.

Na Bahia a Lei 7.799 de 7 de fevereiro de 2001, que institui a

Política Estadual de Administração dos Recursos Ambientais, no Artigo 1º.

determina que dentre os princípios a serem observados está a adoção de

medidas de precaução, conforme item abaixo:

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38

I - o Poder Público e a coletividade têm o dever de defender o meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida, a ser necessariamente assegurado e protegido, mediante o planejamento, administração, medidas de precaução, prevenção, controle e uso racional dos recursos ambientais (BAHIA, 2001, p.1).

O Princípio da Precaução é requerido para ações preventivas,

quando uma atividade é tida como uma ameaça à saúde humana ou ao meio

ambiente, mesmo que não existam evidências científicas estabelecidas

(TICKNER e RAFFENSPERGER, 1998).

Para De Fur e Kaszuba (2001), a incerteza nas decisões ambientais

é o primeiro fator de motivação para a aplicação do Princípio da Precaução,

que é motivado por quatro elementos:

1) existência de ameaça do dano, ainda que conhecido ou não;

2) falta de certeza ou evidência cientifica;

3) não-comprovação da relação causa-efeito;

4) existência da necessidade ou o dever de agir.

No primeiro elemento existe a presença real da ameaça do dano, ao

meio ambiente ou à saúde humana, que precisa ser baseada em informações,

ainda que sejam simples especulações, mesmo que não haja a evidência do

dano. O segundo critério, incerteza ou falta de evidência, aponta para a

situação em que o conhecimento é insuficiente e, desta forma, a avaliação da

informação científica é muito precária. Este ponto também se reflete no terceiro

elemento, que foca a relação causa-efeito. Neste caso o princípio da precaução

exige que existam indícios causais como a base para proteger a saúde e o

meio ambiente. O último elemento do princípio da precaução, o dever de agir,

ressalta que a falta de certeza ou de uma especifica relação causa-efeito, não

exime a responsabilidade de proteger o meio ambiente, a saúde humana e o

bem estar social. A sociedade tem evoluído tecnologicamente, porém a

incerteza sempre continuará existindo (DE FUR e KASZUBA, 2001).

Existem dois casos em que o Princípio da Precaução deve ser

utilizado: quando existe a incerteza e quando novas informações alteram

radicalmente o conhecimento da situação atual. Desta forma, o Princípio da

Page 39: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

39

Precaução é utilizado como base para tomada de decisão quando o

conhecimento cientifico é insuficiente (DE FUR e KASZUBA, 2001).

O`Riordan (2000) aborda três níveis de incerteza que contribuem

para a insuficiência de conhecimento científico na ciência ambiental:

• Escassez de dados: freqüentemente não existem dados históricos nem

monitoramentos confiáveis para obter um quadro real do que está

acontecendo;

• Modelos deficientes: os modelos podem ser testados com parâmetros

sensíveis, porém estão limitados pelo desconhecimento e dificuldade de

entender a correlação entre todas as variáveis. Por exemplo, os modelos

de mudança global do clima, associados com a elevação do nível do

mar, dependem de uma compreensão da correlação entre atmosfera,

oceanos, biota e gelo, e por mais sensíveis que sejam os dados existe a

limitação de compreender a correlação entre os mesmos.

• Limitação do conhecimento: ambos, limitação de dados e modelos

imperfeitos podem ser superados com o tempo; porém, existe uma linha

de pensamento que preconiza que os processos naturais são indefinidos

e indeterminados, porque eles operam em um caminho que nunca será

totalmente compreendido.

Precaução distingue-se de prevenção pois, esta última, é aplicada

para eliminar riscos conhecidos, como substâncias tóxicas, redução do uso de

materiais no local de produção ou consumo. Prevenção é simplesmente uma

medida regulatória que aponta para uma tendência de estabilização.

Precaução introduz o dever do cuidado em todas as ações, procura reduzir

simples incertezas, necessita de uma boa gestão e de mecanismos para

disponibilizar informações ao público e incluir sua participação além do uso da

melhor tecnologia disponível no planeta (O`RIORDAN, 2000).

Para Tickner e Raffensperger (1998), o Princípio da Precaução deve

ser utilizado para o processo de tomada de decisão em organizações que

buscam a sustentabilidade dos negócios. A estratégia de sustentabilidade

requer que as organizações desenvolvam uma visão de futuro, na qual possam

Page 40: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

40

direcionar investimentos, tecnologias e desenvolvimento de processos e

produtos, compreendendo a importância da conservação ambiental como parte

da estratégia dos negócios, e conseqüentemente aumento da competitividade.

As organizações devem se antecipar e considerar a grande potencialidade do

custo de responsabilidade, da imagem corporativa, da perda de produto e da

remediação que venham a ser necessárias em conseqüência de uma decisão

errada. A adoção do Princípio da Precaução também traz uma série de

vantagens como melhoria da imagem da empresa, oportunidade de inovação e

parcerias com governo e partes interessadas. O Conselho Empresarial Mundial

para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), também, endossa o Princípio

da Precaução como uma ferramenta de gestão necessária para alcançar o

desenvolvimento sustentável.

A aplicação da precaução muda o balanço/equilíbrio de poder entre

a ciência e a comunidade, entre empresários e ambientalistas, entre aqueles

que exploram os serviços ambientais e todos os que dependem do serviço para

a sua sobrevivência (O`RIORDAN, 2000).

No Capítulo 4, é discutido o papel dos indicadores de desempenho

ambiental como uma importante ferramenta para auxiliar no processo de

tomada de decisão, por parte dos gestores, assim como das partes

interessadas nos negócios das empresas, dentre outras funções. Desta forma,

a elaboração de indicadores, considerando o Princípio da Precaução,

contribuirá para medir o desempenho ambiental, conduzindo a empresa no

caminho da sustentabilidade, além de demonstrar a preocupação com a

responsabilidade socioambiental. À medida que os indicadores são

disponibilizados ao público, nos relatórios da empresa, ou outros meios de

comunicação disponíveis, o compromisso da precaução estará sendo

reafirmado, contribuindo também para a imagem da empresa.

2.4.2 Princípio da Prevenção

A abordagem de prevenção da poluição substitui o conceito de

controle da poluição, exigindo mudanças na forma de pensar o processo

Page 41: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

41

produtivo e os produtos, evitando a geração de resíduos, especialmente os

tóxicos. É mais barato e mais efetivo prevenir o dano ambiental do que tentar

remedia-lo. Este princípio requer o uso mais eficiente de recursos naturais,

assim como o uso de alternativas menos poluentes (GREENPEACE, 2002b).

A prevenção também requer que o ciclo de vida do produto seja

analisado, desde a extração da matéria-prima até a sua disposição final, e

estimula o desenvolvimento de alternativas para obtenção de produtos e

tecnologias mais limpas para prevenir a geração de resíduos na fonte

(THORPE, 1999).

De acordo com a Agência Ambiental Americana (United State

Environmental Prrotection Agency, USEPA), cada vez mais o valor da

prevenção é entendida como uma estratégia ambiental e uma prática a ser

adotada para a sustentabilidade dos negócios e como um princípio

fundamental para toda a sociedade (USEPA, 2003).

Nos Estados Unidos, o conceito de Prevenção da Poluição surgiu

em 1975 com o programa da empresa multinacional 3M, “A Prevenção da

Poluição se Paga”, que representou uma economia para a empresa de 20

milhões de dólares no seu primeiro ano. Em 1976 o Programa é apresentado

na Conferência Sobre Tecnologia e Produção Sem Resíduo da Comissão

Econômica das Nações Unidas para a Europa. Neste mesmo ano, surge nos

Estados Unidos a Lei de Recuperação dos Recursos Naturais (Resources

Conservation and Recovery Act – RCRA) e em 1989 a USEPA estabelece o

escritório de Prevenção da Poluição (MARINHO, Maerbal, 2001).

O Princípio da Prevenção (Preventive Principle) foi incorporada à

legislação americana em 1990, com a formalização da Lei de Prevenção à

Poluição (Pollution Prevention Act), que estabeleceu uma política de prevenção

ou redução da poluição na fonte, sempre que factível. A partir da publicação da

lei, a USEPA institucionalizou a abordagem da prevenção nas principais

atividades da agência (regulamentos, licenças, assistência técnica, etc.),

Page 42: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

42

estimulando a criação de programas com estratégias inovadoras para proteger

a saúde e o meio ambiente (USEPA, 2003).

A USEPA define Prevenção da Poluição (Pollution Prevention-P2)

como: [...] qualquer prática, processo, técnica ou tecnologia que vise a redução ou eliminação em volume, concentração e/ou toxicidade dos resíduos na fonte geradora. É uma estratégia de uso de material, processos e gerenciamento que reduz ou elimina a criação de poluentes e resíduos na fonte. É uma abordagem de gestão ambiental que enfatiza a eliminação e/ou redução de resíduos na fonte de geração, envolvendo o uso ótimo dos recursos naturais (NASCIMENTO e outros, 2002).

O conceito de Prevenção da Poluição é um elemento fundamental

que está inserido em diversas atividades desenvolvidas pela USEPA. Prevenir

a poluição, além de proteger o meio ambiente, traz benefícios econômicos,

proporcionando o uso mais eficiente de matérias-primas, e, uma vez que a

poluição não é gerada, evita os investimentos para gerenciar os resíduos ou

remediar a poluição (USEPA, 2003).

A parceria entre indústrias e a agência governamental, para

desenvolvimento de programas de prevenção da poluição, em muitos casos,

pode alcançar resultados mais rápidos e eficientes do que os obtidos apenas

com o estabelecimento de legislação, que freqüentemente não podem chegar a

níveis de detalhes referentes a avaliação do design, práticas de produção,

embalagem, práticas de distribuição e marketing, para reduzir a poluição e

consumo de energia. Desta forma, deve-se estimular as parcerias entre o setor

privado e as agências governamentais de proteção ambiental (USEPA, 2003).

No Brasil, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

(CETESB) do Estado de São Paulo, considerando que os modelos tradicionais

de controle não são suficientes para corrigir a causa raiz dos problemas

ambientais, adotou como política e estratégia a busca de parcerias e

ferramentas para implementação de ações de prevenção da poluição. Para

tanto, criou uma divisão para tratar de assuntos relativos à Prevenção à

Poluição, Produção mais Limpa, e Sistemas de Gestão Ambiental. No site da

Page 43: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

43

CETESB está disponível um “Manual de Implementação de um Programa de

Prevenção à Poluição”, para orientar empresas que desejem implementar

ações para prevenir a poluição na fonte geradora, assim como experiências de

sucesso em diversos setores produtivos (COMPANHIA..., 2003).

Na Bahia, a Lei 7.799 de 07 de fevereiro de 2001, que institui a

Política Estadual de Administração dos Recursos Ambientais, no Capítulo I

(Objetivos e Princípios) define que para assegurar o desenvolvimento

sustentável devem ser observados vários princípios, dentre eles, a prevenção e

a adoção de práticas que aumentem a eficiência do uso dos recursos naturais

(BAHIA, 2001).

A verificação da adoção do princípio da prevenção, que resulta na

eliminação ou redução dos resíduos na fonte geradora, e no uso mais eficiente

dos recursos naturais, conforme a definição discutida acima, necessita ser

medida para que possam ser avaliados os ganhos ambientais obtidos a partir

da sua aplicação.

2.4.3 Princípio do Controle Democrático

A Produção Limpa envolve todos aqueles que são afetados pela

atividade industrial, incluindo trabalhadores, a comunidade localizada no

entorno da empresa e os consumidores. Todos devem ter acesso a

informações sobre matérias-primas utilizadas, produtos, emissões industriais, e

tudo o que diz respeito à segurança e manuseio de processos e produtos,

fundamental para o processo de tomada de decisão. Desta forma, o Princípio

do Controle Democrático, sobre o processo produtivo, estará assegurado,

garantindo a qualidade de vida da população diretamente afetada e das

gerações futuras (GREENPEACE, 2002b; THORPE, 1999)

Os Estados Unidos foram o primeiro país a criar uma legislação

sobre o direito de saber das comunidades. Em 1986, o Congresso Americano

aprovou a Lei do Planejamento de Emergência e do Direito de Saber da

Comunidade (Emergency Planning and Community Right-to-Know Act –

Page 44: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

44

EPCRA), exigindo que estabelecimentos produtores deveriam publicar

relatórios sobre a quantidade e tipo de substâncias tóxicas liberadas para o

ambiente. Esta lei tornou obrigatória a publicação das informações sobre os

produtos que algumas fábricas, em alguns segmentos industriais, estavam

emitindo para o meio ambiente, os tipos de tratamentos utilizados, os locais

onde existiam incineradores e os planos de reciclagem externa das empresas

(KONAR e COHEM, 1997). O primeiro relatório foi emitido para a Agência

Ambiental Americana (USEPA) em 1 de julho de 1988, referente às emissões

do ano anterior (1987), sendo denominado de Inventário de Substâncias

Tóxicas (Toxics Release Inventory - TRI). Estas informações foram tornadas

públicas, através de relatório, em 19 de junho de 1989 (KONAR e COHEM,

1997).

Uma das premissas, consideradas para a elaboração da EPCRA, foi

que quanto mais expandir a informação para a comunidade, esta terá um

melhor entendimento dos fatores que influenciam a tomada de decisão na área

ambiental, tornando mais eficaz a participação pública na legislação. Outro

aspecto importante da expansão do acesso público a informação, é que a

agência ambiental americana vem usando a informação pública como uma

ferramenta de incentivo às empresas na melhoria voluntária do desempenho

ambiental, pela própria pressão da comunidade e não por força de lei. Por

exemplo, o TRI, que requer que as empresas publiquem dados de emissões,

tem sido utilizado como uma forma do público acompanhar o desempenho

ambiental das empresas. Desta forma, isto tem incentivado as empresas a

reduzirem suas emissões, como forma de demonstrar um resultado imediato da

melhoria do seu sistema de gestão ambiental (GUTTMANN,1998). Esta

afirmação é confirmada por Cohem (2002), que cita uma significativa redução

de 45,5% no uso de substâncias tóxicas e o seu lançamento para os sistemas

de coleta e para o meio ambiente (on site e off site), no período de 1988 a

1999, de acordo com o Resumo Executivo do Inventário de Substâncias

Tóxicas da USEPA publicado em 2001.

Segundo Guttmann (1998), a USEPA também vem utilizando o

banco de dados do TRI para traçar um perfil das maiores empresas de cinco

Page 45: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

45

setores industriais, que inclui a comparação do seu relativo desempenho

ambiental.

Cohem (2002) afirma que relatórios com informações ambientais,

mandatórios e voluntários, cresceram ao longo da década passada. A visão

que prevalece é que o público tem o direito de saber o risco a que está exposto

e que mais informações devem se antecipar para melhor tomada de decisão

pela sociedade. Disponibilizar informações tem trazido resultados mais

significativos para a melhoria ambiental que novas legislações coercitivas.

Nos Estados Unidos, a lei que estabeleceu o direito de saber da

comunidade, impôs às empresas o dever de informar o lançamento de

substâncias tóxicas e ao governo publicar a informação. No Canadá, o

Inventário Nacional de Lançamento de Contaminantes / National Pollutant

Release Inventory, compilado a partir de 1994, caracterizou-se como um

incentivo para as companhias mudarem o seu comportamento poluidor,

reduzindo a descarga de substâncias tóxicas. Baseado na experiência dos

Estados Unidos e do Canadá, a coordenadora da Aliança do Norte para a

Sustentabilidade (Northern Alliance for Sustainability - ANPED) e Ações para

Produção Limpa afirma que o acesso público à informação é essencial para

prevenir a poluição e reduzir o uso de substâncias tóxicas nos processos

produtivos, estimulando a Produção Limpa (KRUSZEWSKA, 2001).

Na Europa, em 1992, não havia um programa para informar sobre o

uso de substâncias tóxicas, como o existente nos Estados Unidos. Uma

pesquisa realizada em 40 corporações transnacionais demonstrou a

importância do acesso público à informação e revelou que:

• somente seis companhias responderam a pesquisa para fornecer dados

de emissões de substâncias químicas;

• uma das empresas pesquisadas, a Bayer Alemanha, que apresentou

dados incompletos para emissões, afirmava que já havia alcançado o

limite da prevenção. Entretanto, quando comparados dados de

descarga de água da planta na Europa, com dados das plantas nos

Estados Unidos, isto colocou em dúvida a sua afirmação. Plantas da

Page 46: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

46

Bayer nos Estados Unidos precisariam operar mil anos para produzir a

quantidade de chumbo que era desperdiçado pela operação das

unidades da Bayer na Europa;

• duas plantas na Inglaterra (British Petroleum e Imperial Chemicals

Industries) e uma na Holanda (Dow Chemical Company) tinham, cada

uma delas, uma quantidade de substância tóxica maior que a presente

na descarga de água de toda a comunidade industrial nos Estados

Unidos (KRUSZEWSKA, 2001).

Estes fatos, ainda que precários, levaram a Comissão Européia a

elaboração de um plano para registrar a emissão de poluentes das indústrias

européias (Polluting Emissions Register – PER), baseado no modelo do TRI. A

Comissão reconhece que mesmo que existam benefícios econômicos, sem

uma auditoria obrigatória e um planejamento de Produção Mais Limpa, e com a

ausência da responsabilidade pública com a divulgação das informações,

faltam incentivos para mudar as práticas de produção (KRUSZEWSKA, 2001).

A Comunidade Européia e os seus quinze Estados-Membros

assinaram, em 1998, a Convenção da Comissão Econômica das Nações

Unidas para a Europa / United Nations Economic Commission for Europe

(UNECE) sobre Acesso à Informação, Participação do Público no Processo de

Tomada de Decisão e Acesso à Justiça em Matéria de Ambiente, designada

“Convenção de Aarhus”. A Convenção, que entrou em vigor em outubro de

2001, tem como principal objetivo permitir o maior envolvimento do público nas

questões ambientais e contribuir efetivamente para uma melhor preservação e

proteção do meio ambiente. A Comunidade Européia deverá adequar a sua

legislação para atender aos requisitos da Convenção (PORTAL..., 2004a).

No Brasil, em 16 de abril de 2003, foi aprovada a Lei Federal número

10.650 que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes

nos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente

(SISNAMA). Ao garantir a disponibilização de informações a Lei assegura

transparência aos órgãos públicos ambientais, e disponibiliza meios para a

maior participação da sociedade civil na gestão ambiental pública.

Page 47: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

47

A Lei no artigo 2o determina que: Art. 2o Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e fundacional, integrantes do SISNAMA, ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico, especialmente as relativas a: I - qualidade do meio ambiente; II - políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambiental; III - resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de poluição e de atividades potencialmente poluidoras, bem como de planos e ações de recuperação de áreas degradadas; IV - acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais; V - emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos; VI - substâncias tóxicas e perigosas; VII - diversidade biológica; VIII - organismos geneticamente modificados (BRASIL, 2003, p.1).

Nos itens V e VI, respectivamente, é ressaltada a importância do

acesso público às informações relativas a emissões de efluentes líquidos e

gasosos, produção de resíduos sólidos e substâncias tóxicas e perigosas. A Lei

não obriga os órgãos e entidades integrantes do SISNAMA a publicarem as

informações constantes desses itens, e sim disponibilizá-las para consulta

pública. Porém, a partir do momento que estas informações venham a público,

é provável que as empresas, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos

e Canadá, sintam-se mais estimuladas a buscarem a melhoria voluntária do

desempenho ambiental pela pressão da comunidade.

Para tanto será necessária decisão política dos gestores das

empresas para a adoção de práticas ambientalmente corretas, a exemplo da

Produção Limpa, que precisarão ser medidas para que possam ser avaliadas e

divulgadas para as partes interessadas. A definição de indicadores ambientais,

que reflitam a aplicação do conceito, é fundamental, sendo um instrumento

facilitador de comunicação com a sociedade para que esta, uma vez

esclarecida, possa exercer pressão sobre o setor produtivo.

Entretanto, mesmo antes da possibilidade de promulgação de uma

lei, tratando especificamente sobre o direito de acesso a informações

Page 48: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

48

ambientais, a legislação brasileira já considerava este princípio na Resolução

CONAMA 305 de junho de 2002. Mesmo assim, vem se travando uma grande

discussão sobre a confidencialidade das informações. De um lado, os

ambientalistas e estudiosos da questão ambiental que defendem a divulgação

das informações ambientais, considerando o principio de acesso à informação;

do outro lado, os grupos industriais que alegam que as informações são

confidenciais. Quanto a divulgação de informação, a Lei 10.650 de abril de

2003, no Artigo 2o, Parágrafo 3o, estabelece que para ser resguardado o sigilo,

as pessoas físicas ou jurídicas que fornecerem informações, consideradas de

caráter sigiloso, deverão indicar essa circunstância de forma expressa e

fundamentada.

O acesso público à informação estimula ações de Produção Limpa.

Pesquisa realizada, em 1992, na Universidade de Erasmus, nos Países Baixos,

revelou que 70% dos desperdícios e emissões dos processos produtivos

poderiam ser reduzidas na fonte geradora, com a adoção de procedimentos

economicamente lucrativos e tecnologias disponíveis (KRUSZEWSKA, 2001).

Se as empresas adotarem como estratégia a divulgação de informações às

partes interessadas, esta prática poderá estimular a adoção de Produção

Limpa, o que sem dúvida trará melhoria ao seu desempenho ambiental.

A divulgação de informações ambientais beneficia vários segmentos:

a) A comunidade, que se mantém informada sobre questões que dizem

respeito à segurança e uso de processos e produtos, facilitando o

diálogo com o setor produtivo;

b) O governo, por meio das agências ambientais que utilizam os dados

para elaboração de políticas publicas e elaboração e melhoria da

legislação ambiental;

c) A indústria, que passa a ter acesso a informações de outras empresas,

permitindo a comparação dentro do mesmo setor, estimulando a

melhoria do desempenho ambiental.

Para tornar públicas as informações ambientais é necessário que a

empresa divulgue relatórios, conforme será discutido mais adiante, no Capítulo 3.

Page 49: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

49

No Capítulo 4 será discutido o papel dos indicadores ambientais

como uma importante ferramenta para expressar informações de maneira clara

e objetiva para as partes interessadas, que é fundamental para a

demonstração da adoção do Princípio do Controle Democrático.

2.4.4 Princípio da Integração

Para que seja possível alcançar a produção e o consumo

sustentável, a sociedade deve adotar uma abordagem integrada para o uso e

consumo dos recursos naturais (THORPE, 1999).

Freqüentemente, a gestão ambiental é fragmentada permitindo que

os poluentes sejam transferidos de um meio para outro (ar, água,solo), assim

como substâncias perigosas sejam transferidas para os produtos durante o

processo de produção. Estes riscos podem ser minimizados se forem

conhecidos os fluxos de materiais, água, energia e os impactos econômicos e

ambientais ao longo do ciclo de vida do produto. Para isto, a Produção Limpa

propõe a utilização da ferramenta denominada Análise do Ciclo de Vida (ACV),

na busca de uma visão holística do sistema de produção de bens e serviços

(KRUSZEWSKA e THORPE,1995).

Para a Sociedade para Química e Toxicologia Ambiental (Society

for Environmental Toxicology and Chemistry, SETAC) a Análise do Ciclo de

Vida tem como objetivo: [...] avaliar a carga ambiental associada com o produto, processo ou atividade, para identificar e quantificar a energia e materiais usados e liberados para o meio ambiente, para avaliar o impacto destes, e para avaliar e implementar oportunidades para melhorar os efeitos sobre o meio ambiente. A avaliação inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou atividade, abrangendo a extração e o processamento da matéria-prima; fabricação, transporte e distribuição; uso/reuso/ manutenção; reciclagem; e disposição final (GRAEDEL e ALLENBY, 1995, p.108)

Segundo Lima (2001), a ACV é uma técnica que auxilia no

gerenciamento ambiental e na busca do desenvolvimento sustentável, pois

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50

fornece uma ampla visão dos diversos impactos provocados ao meio ambiente,

possibilitando a identificação de ações que permitem sua minimização do ponto

de vista ambiental e econômico.

A mesma autora afirma que nos últimos anos tem crescido o

interesse das indústrias, especialistas, organizações ambientais e o público em

geral sobre a ACV, para aprimorar o conhecimento sobre a qualidade

ambiental dos processos de produção e produtos (LIMA, 2001).

Ao adotar o conceito de ACV, a Produção Limpa, ultrapassa os

limites internos da empresa e passa a avaliar o impacto ambiental do seu

processo, produto ou atividade no meio ambiente, ao longo da cadeia

produtiva, sendo portanto uma ferramenta que pode auxiliar na busca do

desenvolvimento sustentável.

A abordagem integrada e holística, com o rastreamento completo do

ciclo de vida de um produto, pode minimizar os perigos e riscos ambientais de

um processo produtivo. Cabe a sociedade a adoção desta prática para garantir

a extinção de materiais perigosos e a sua substituição por novos materiais que

não ofereça ameaça ao meio ambiente (GREENPEACE, 2002b).

Da análise acima destaca-se a importância da participação pública

para que efetivamente possa-se garantir a abordagem integrada e holística na

avaliação dos processos e produtos. Neste sentido, o estabelecimento de

indicadores é fundamental para que se possa demonstrar a aplicação do

Princípio da Integração.

2.5 A escolha do conceito de Produção Limpa para a proposta de Indicadores

Analisando os conceitos de Ecoeficiência, Produção Mais Limpa e

Produção Limpa considera-se que este último, Produção Limpa, é mais

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51

abrangente por considerar os quatro princípios da Prevenção, Precaução,

Controle Democrático e Integração como elementos indispensáveis.

Os conceitos de Produção Mais Limpa e Ecoeficiência não adotam o

Princípio da Precaução, importante para a avaliação do potencial de risco de

qualquer processo ou produto, mesmo considerando as limitações do

conhecimento científico.

O Princípio do Controle Democrático, que considera que todos

devem ter acesso às informações sobre materiais utilizados – produtos,

emissões, dados sobre segurança e riscos dos processos e produtos –, é

fundamental para a aplicação do conceito de Produção Limpa, e para que seja

efetiva a participação das partes interessadas nos processos de tomada de

decisão. Para a Produção Mais Limpa e a Ecoeficiência, este princípio não é

abordado como parte integrante do conceito.

O conceito de PL prevê padrões de produção e produtos mais

rígidos que o conceito de P+L, ao afirmar que “os processos de Produção

Limpa são desenhados para utilizar somente matérias-prima renováveis,

conservar energia, água e solo. Não utilizar nem elaborar compostos químicos

perigosos, evitando assim a geração de resíduos tóxicos” (GREENPEACE,

2002a). Esta fundamentação contrasta com o conceito de P+L, que considera

um processo de melhoria gradativa para atingir este objetivo ao definir que

deve-se buscar a “[...] conservação de matérias-primas e energia, eliminação

de matérias-primas tóxicas e redução da quantidade e toxicidade de todas as

emissões e resíduos [...]” (WORLD... e UNITED...,1997, p. 3).

A Produção Limpa também é mais rigorosa ao questionar a real

necessidade de um determinado produto ou serviço, comparando-os com

outros mais seguros e obtidos a partir de processos com menor demanda de

materiais e energia. A P+L e a Ecoeficiência buscam a melhoria da

produtividade, considerando os aspectos ambientais e econômicos, sem o

mesmo questionamento.

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52

A PL extrapola a preocupação com os processos internos da

empresa e amplia a visão para a cadeia de produtos, desde a extração da

matéria-prima até o fim da sua vida útil. Neste sentido a PL tem a mesma

abrangência da Ecologia Industrial ao considerar a Análise do Ciclo de Vida do

produto.

O conceito de Ecologia Industrial considera que muitos processos

não conseguem atingir a produtividade desejada para os recursos, sem que

seja avaliada a possibilidade de integração entre diferentes processos,

inclusive entre diferentes empresas (formação dos ecossistemas industriais). A

aplicação do conceito de Ecologia Industrial demanda por informações

técnicas, permitindo que empresas ou outras instituições de pesquisa possam

identificar oportunidades de integração de processos, transformando resíduos

em matérias-primas, reduzindo ou eliminando a perda de materiais e energia, e

desta forma contribuir para a produtividade dos recursos e conseqüentemente

com a sustentabilidade das empresas e da sociedade.

Para todos os conceitos discutidos foi observada a necessidade de

mensurar os resultados obtidos com a implantação dos programas,

estabelecendo-se indicadores, seja para avaliação interna dos benefícios

alcançados, seja para tornar pública as informações.

Com base na análise realizada, considera-se o conceito de

Produção Limpa mais completo para subsidiar a matriz de indicadores

ambientais, que permita avaliar as informações ambientais disponibilizadas

pelas empresas em relatórios ou outros meios de comunicação.

Page 53: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

53

3. RELATÓRIO PÚBLICO DE EMPRESAS: INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO COM A SOCIEDADE

Neste capítulo é discutida a importância das empresas publicarem

relatórios, como instrumento capaz de fornecer elementos que permitam às

partes interessadas compreenderem o seu papel na sociedade. Para tanto,

discute-se o surgimento de uma tendência, cada vez maior, de publicação de

relatórios que forneçam informações que sejam capazes de demonstrar as

estratégias e ações empresariais para responderem ao desafio da

sustentabilidade. Estes relatórios devem abordar o desempenho das

organizações em relação às questões econômicas, ambientais e sociais, e a

integração destes três elementos.

A demonstração do desempenho econômico já é uma prática

adotada pelas empresas em relatórios financeiros e contábeis. Entretanto, a

publicação de relatórios que demonstrem o desempenho ambiental e social é

uma prática mais recente, ainda que venha sendo cada vez mais adotada pelas

grandes empresas para atenderem a uma demanda crescente das partes

interessadas nos seus processos decisórios. Discute-se como o conceito de

Produção Limpa pode auxiliar na demonstração da responsabilidade ambiental

corporativa, utilizando indicadores que demonstrem o atendimento aos

princípios fundamentais da PL.

3.1 A evolução da publicação de informações ambientais pelas empresas enquanto elemento da responsabilidade corporativa

Para comunicar o desempenho das organizações à sociedade,

prover informações confiáveis e promover o engajamento das partes

interessadas, o instrumento que vem sendo mais utilizado pelas empresas nos

últimos anos é a disponibilização de informações por meio de relatórios

públicos. Apesar da predominância dessas práticas nas grandes empresas,

Page 54: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

54

com maior visibilidade e com atuação internacional, empresas de menor porte,

ou que atuam em níveis regional e nacional, também têm adotado esta prática

para demonstrar a sua responsabilidade corporativa.

Marinho e outros (2002) constatam que estes relatórios estão sendo

publicados periodicamente pelas empresas, apresentando formatos variáveis e

informações com diferentes níveis de profundidade, assumindo diversas

terminologias como: “Balanço Socioambiental”, “Relatório Sócioambiental

Corporativo - RSAC” ou “Relatório de Sustentabilidade - RS”.

Além dessas, outras denominações são encontradas como o

“Relatório Público Ambiental” (Public Environmental Reporting – PER), proposto

pelo governo da Austrália, para comunicar as informações sobre o desempenho

ambiental das organizações às partes interessadas (ENVIRONMENT

AUSTRALIA, 2000). O Esquema de Ecogestão e Auditoria / Eco-Management

and Auditing Scheme (EMAS), recomendado pela União Européia (UE), utiliza a

denominação de “Declaração Ambiental” para o documento público que deve

conter as informações relativas ao comportamento da organização para as

questões ambientais (PARLAMENTO, 2001).

O EMAS foi adotado pelo Conselho da UE em junho de 1993, e é

aberto à participação voluntária das empresas desde abril de 1995, tendo sido

publicada uma nova versão deste regulamento (CE – Nº 761/2001 do Parlamento

Europeu e do Conselho) em março de 2001 (PARLAMENTO..., 2001). Nesta

versão o Artigo 1º define que este esquema “tem como objetivos a avaliação e

melhoria do comportamento ambiental das organizações e a prestação de

informações relevantes ao público e a outras partes interessadas”

(PARLAMENTO...,2001, p. 3). Para atendimento a este objetivo tem como

requisito para certificação o registro e a publicação da declaração ambiental.

Do ponto de vista da Produção Limpa, o EMAS atende ao Princípio

do Controle Democrático, que trata do amplo acesso a informações pela

comunidade, e desta forma permite a participação mais efetiva das partes

Page 55: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

55

interessadas, contribuindo para a melhoria do desempenho ambiental da

organização que voluntariamente adota este esquema.

Os relatórios se constituem em uma ferramenta gerencial

importante, contendo informações qualitativas e quantitativas, apresentadas de

forma consolidada, constituindo-se em um instrumento de controle auxiliando

na tomada de decisão, na adoção de estratégias empresariais e no

engajamento das partes interessadas.

De acordo com o Environment Austrália (2000), internacionalmente,

muitas razões têm sido encontradas pelas empresas para a publicação

voluntária de relatórios:

a) transparência, pois cresce o número de partes interessadas que

desejam obter informações sobre o desempenho ambiental e social das

organizações para participarem do processo de tomada de decisão;

b) prestação de contas (accountability), em função do crescimento do

número de empresas que prestam contas das suas ações;

c) diálogo com as partes interessadas, surgimento de partes

interessadas não tradicionais (acionistas) como Organizações Não-

Governamentais (ONGs), mídia, empregados, cliente, que têm

demandado informações sobre o desempenho ambiental e social.

Além disso, tem crescido a sinergia entre desempenho econômico e

ambiental (Ecoeficiência) – como exemplo, pode-se citar o índice de mercado

da Dow Jones (Dow Jones Sustainabillity Global Group Index) que fornece uma

listagem indexada das 200 empresas mais sustentáveis. Isto é, aponta para um

novo paradigma, em que gerenciamento ambiental, avaliação de desempenho

e relatórios passam a ser visto como uma oportunidade de mercado

(ENVIRONMENT AUSTRALIA, 2000).

Percebe-se, então, um grande interesse de ONGs, nacionais e

internacionais, instituições governamentais e instituições de ensino e pesquisa

em proporem guias e modelos para relatórios. Kreitlon e Quintella (2001)

confirmam este crescente interesse afirmando que, cada vez mais, as

Page 56: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

56

organizações de vários tipos vêm adotando modelos, normas e diretrizes,

nacionais e internacionais, que têm como objetivo orientar a implementação,

avaliação, medição, auditoria e relatório que demonstrem as suas ações nas

áreas ética e social.

A Responsabilidade Socioambiental (RSA) das empresas, definida

no Capítulo 1, vem despertando interesse em nível nacional e internacional.

Empresas, que antes priorizavam apenas aspectos econômicos e financeiros

para avaliar o seu desempenho, são impulsionadas a repensar o seu processo

de gestão empresarial inserindo as questões ambientais e sociais (FURTADO,

2003).

Para que as empresas demonstrem publicamente a sua

Responsabilidade Socioambiental, faz-se necessário que assumam a

responsabilidade pelos impactos ambientais e sociais, causados ao meio

ambiente, proveniente dos seus produtos, serviços e atividades. Para isto, a

publicação de relatórios torna-se um instrumento eficaz para comunicação com

as diferentes partes interessadas. Em consultas realizadas na rede

internacional de computadores verifica-se que esta tem sido uma prática cada

vez mais adotada pelas grandes empresas.

A elaboração de relatório ambiental para prestar contas públicas

do desempenho ambiental das organizações, incluindo seus impactos sobre o

meio ambiente, seu desempenho em gerenciar estes impactos e sua

contribuição para o desenvolvimento sustentável, teve início a partir da

realização da Rio 92. A Agenda 21, plano de ação elaborada na Conferência,

reconhece o Princípio do Direito de Saber das Comunidades (right-to-know) e

recomenda que as organizações sejam transparentes nas suas operações e

reportem anualmente o seu desempenho ambiental (ENVIRONMENT

AUSTRALIA, 2000). A implementação desta proposta ocorrerá de diferentes

formas a depender das circunstâncias, ou seja, diferentes empresas em

diferentes setores produtivos e regiões do mundo, com diferentes níveis de

desenvolvimento não só ambiental mas também econômico e social.

Page 57: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

57

Outra questão que vem sendo discutida é quanto ao caráter

voluntário da publicação de relatórios ambientais, ou se o mesmo deve se

tornar mandatório (ver esquema ilustrativo na Figura 2). No primeiro caso

(voluntário) a empresa decide pelo conteúdo, formato e a amplitude da

divulgação das informações. A obrigatoriedade pode se dar por exigência legal

ou quando a organização é signatária de algum tipo de código de conduta que

tenha como requisito a publicação de relatório.

Figura 2: Publicação de informações ambientais

Para o Environment Austrália (2000) as informações de caráter

voluntário podem ser confidenciais, quando requeridas por instituições

bancárias, empresas do mesmo grupo, seguradoras e clientes ou não

confidenciais como relatórios públicos, matérias publicadas na mídia, visitação

de partes interessadas e boletins internos para os empregados.

Alguns países possuem legislações que exigem a publicação de

relatórios ambientais ou de informações específicas sobre emissão de

substâncias tóxicas ou sobre o desempenho ambiental das empresas. Nos

Estados Unidos e no México, por exemplo, há legislações requerendo que as

empresas informem sobre substâncias tóxicas emitidas (Toxics Release

Inventory); já na Dinamarca existe uma legislação que torna obrigatória a

publicação de relatórios ambientais por algumas empresas e atividades

industriais específicas (UNITED..., SUSTAINABILITY..., 1996).

PUBLICAÇÃO DE INFORMAÇÕES

VOLUNTÁRIO MANDATÓRIO

DIVULGAÇÃO RESTRITA

DIVULGAÇÃO AMPLA

LEGISLAÇÃO SIGNATÁRIO DE CÓDIGO DE CONDUTA

Page 58: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

58

No Brasil, o Estado da Bahia é precursor na introdução do Balanço

Ambiental na legislação. A Resolução do Conselho Estadual de Meio Ambiente

- CEPRAM Nº 2.933, de 22 de fevereiro de 2002, que dispõe sobre a

implementação da Gestão Integrada e Responsabilidade Ambiental, estabelece

a apresentação de um Balanço Ambiental como um pré-requisito para a

renovação da Licença de Operação de empreendimentos (BAHIA, 2002).

Entretanto, além das duas formas já citadas (voluntária ou

mandatória), de comunicação de informações sobre desempenho ambiental,

estas podem vir a se tornar públicas de forma involuntária por divulgação de

terceiros, por exemplo, exposição na mídia (notícias nos veículos de

comunicação), notícias da agência de proteção ambiental, grupos ativistas

ambientais, investigações judiciais entre outras (ENVIRONMENT AUSTRALIA,

2000).

Para grandes corporações, com unidades de produção e/ou serviço

operando em localidades diferentes, considera-se fundamental a realização de

relatórios por unidade ou por grupos de unidades localizados em uma mesma

área. Esta observação se deve ao fato de que a questão da sustentabilidade

depende da localização geográfica da empresa (país, estado, município) e das

condições de suporte dos meios físico (ar, água, solo), biótico (fauna, flora) e

antrópico (homem), uma vez que matéria-prima, energia, produtos e resíduos

estão intimamente interligados com o meio ambiente, via processo produtivo.

A responsabilidade social das empresas também vem se tornando

uma exigência da sociedade, e desta forma surge a necessidade da publicação

de relatórios que demonstrem o desempenho na área social.

O Instituto Ethos5 de Empresas e Responsabilidade Social define

Responsabilidade Social como:

5 O Instituto Ethos “é uma associação de empresas de qualquer tamanho e/ou setor interessadas em desenvolver suas atividades de forma socialmente responsável num permanente processo de avaliação e aperfeiçoamento” (INSTITUTO..., 2003a).

Page 59: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

59

[...] uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários (INSTITUTO..., 2003b).

Pela definição acima verifica-se que, uma vez a responsabilidade

social incorporada ao planejamento estratégico da empresa, estarão sendo

considerados os interesses sociais das partes interessadas.

Pesquisa realizada pelo Environics International6 – no período de

dezembro de 2000 a fevereiro de 2001, em 20 paises de 5 continentes, com

cerca de 1000 pessoas entrevistadas em cada país –, sobre responsabilidade

social corporativa, demonstra, dentre outras avaliações, que o desempenho

social traz grande contribuição para reputação, a marca e a imagem das

organizações, principalmente nos países ricos, e que mais de 50% dos

entrevistados estão dispostos a punir empresas socialmente incorretas

(ENVIRONICS ..., 2003).

A Organização Internacional para Padronização / International

Organization for Standardiizartion, (ISO) também reconhece esta nova

demanda mundial sobre o tema responsabilidade social e, em maio de 2001, o

Conselho da ISO aprovou uma resolução ressaltando a sua importância,

passando a considerar a viabilidade em desenvolver normas internacionais

nesta área. Em junho de 2002, após avaliação do seu Comitê de Política de

Consumidor (COPOLCO), o Conselho recomenda iniciar o trabalho no

desenvolvimento de norma de Sistema de Responsabilidade Social

Corporativa. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),

considerando o cenário mundial sobre o tema, e a resolução da ISO, cria em

dezembro de 2002 o Grupo Tarefa sobre Responsabilidade Social Corporativa

(GTRSC), com o objetivo de disseminar os conceitos relativos à gestão social

corporativa, à luz dos estudos desenvolvidos pela ISO (CAJAZEIRA, 2003). 6 Environics International é uma instituição de pesquisa que atua particularmente nas áreas de responsabilidade social corporativa, globalização, meio ambiente, desenvolvimento sustentável e alimentos.

Page 60: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

60

A publicação de relatórios empresariais, com prestação de contas de

suas ações e objetivos sociais, teve início na década de 60, do século passado,

nos Estados Unidos da América e na Europa, em resposta a um movimento por

responsabilidade social nas empresas. Nos anos 70, a idéia começa a ser

discutida no Brasil, porém só a partir da década de 80 começam a ser

publicados os primeiros balanços sociais. Na década de 90 é que as grandes

organizações de diferentes setores começam a publicar anualmente seus

relatórios (IBASE,2003a).

No Brasil, duas iniciativas de caráter voluntário se destacam com

propostas para publicação de relatório público para demonstração da

responsabilidade social: o Guia de Elaboração do Balanço Social, propostos

pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, com sua primeira

versão lançada em 2001, e o Balanço Social, sugerido pelo Instituto Brasileiro

de Análise Social e Econômica (IBASE)7, que lançou o primeiro modelo

brasileiro em 1997.

A importância atribuída pelas empresas brasileiras ao Balanço

Social se reflete na participação de 170 empresas na primeira edição do

Prêmio Balanço Social – 2002, promovido pelo Instituto Ethos (INSTITUTO...,

2003c), e na quantidade cada vez maior de empresas que publicam o modelo

de balanço social do IBASE. Estas possuem perfil diversificado e em 2000 as

suas receitas líquidas somam R$160 bilhões (cerca de 10% do Produto Interno

Bruto - PIB brasileiro) (SUCUPIRA, 2003).

O modelo de balanço social elaborado pelo IBASE “é reconhecido

no Brasil e em outros países como referência, uma vez que tem como marca a

simplicidade e a clareza, garantindo maior transparência nas informações”

(IBASE, 2003b). O IBASE também desenvolve indicadores qualitativos e

quantitativos sobre responsabilidade social corporativa, e analisa os balanços, 7 O IBASE é uma ONG ligada à defesa dos direitos humanos e bem estar social, tendo como um dos seus objetivos a cobrança da responsabilidade social e cidadã dos setores empresariais (IBASE, 2003b).

Page 61: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

61

elaborados segundo o modelo proposto pelo Instituto, conferindo anualmente o

Selo Balanço Social IBASE/Betinho a organizações que cumprem os critérios

estabelecidos (IBASE, 2003b).

O Ethos, além do guia para publicação de relatório, tem uma

proposta de indicadores, de auto-avaliação e aprendizagem, cujo objetivo é

fornecer uma ferramenta para avaliação da gestão da empresa no que se

refere à incorporação de práticas de Responsabilidade Social Empresarial

(RSE). Este instrumento se constitui em um questionário de avaliação dividido

em sete grandes temas: valores e transparência, público interno, meio

ambiente, fornecedores, consumidores e clientes, comunidades, governo e

sociedade (INSTITUTO..., 2003d).

Para que as empresas comuniquem de forma ampla as suas

atividades e assumam a sua responsabilidade, frente aos elementos da

sustentabilidade, econômicos, ambientais e sociais, têm surgido iniciativas que

propõem a publicação de relatórios que reportem informações conjuntas dos

três elementos, utilizando indicadores.

Como exemplo, pode-se citar o guia da Iniciativa Global para

Relatório / Global Reporting Initiative (GRI), versão 2002, para elaboração de

relatórios de sustentabilidade que utiliza indicadores de desempenho para as

questões econômicas, ambientais e sociais. É uma iniciativa de abrangência

internacional, para uso voluntário pelas organizações, cuja missão é

desenvolver e disseminar globalmente diretrizes para o desenvolvimento de

relatório de sustentabilidade (GLOBAL..., 2002). Esta proposta será discutida

amplamente no próximo capítulo.

A proposta da GRI para Relatório de Sustentabilidade tem como

objetivo capacitar a organização para comunicar suas ações, resultados e

estratégias futuras, apresentar um balanço e uma razoável contabilidade do

desempenho econômico, ambiental e social da organização, facilitar a

comparação ao longo do tempo internamente e entre organizações e contribuir

para o diálogo com as partes interessadas (GLOBAL..., 2002).

Page 62: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

62

A existência de um guia como o da GRI, que propõe um modelo de

Relatório de Sustentabilidade, traz uma série de vantagens:

• Facilita a adesão voluntária de empresas à publicação de relatório;

• Disponibiliza um guia de como e o que relatar;

• Facilita identificar informações relevantes para atender as

necessidades das partes interessadas;

• Facilita a transparência, credibilidade e confere mais consistência

ao relatório;

• Compatível com outras iniciativas e relatórios;

• Utiliza um modelo que está periodicamente sendo revisado e

atualizado.

O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento

Sustentável (CEBDS)8 publicou em 2002 a terceira edição do Relatório de

Sustentabilidade Empresarial, em dois volumes. No primeiro apresenta a visão

estratégica empresarial do CEBDS, avaliando o que já foi feito e o que há por

fazer rumo ao desenvolvimento sustentável, e no segundo volume publica

informações econômicas, ambientais e sociais, referentes a 35 empresas

associadas, de diversos setores produtivos. Segundo o CEBDS, isto indica o

comprometimento do setor produtivo com o desenvolvimento sustentável e a

transparência das informações (CONSELHO..., 2003b).

Os modelos de relatórios existentes são de grande importância para

orientar as empresas, entretanto nenhum deles deve ser tomado como

parâmetro único para ser adotado, pois devem ser considerados os diferentes

setores produtivos (aspectos específicos de cada tipo de negócio), o porte da

empresa e o seu posicionamento estratégico em relação às suas partes

interessadas.

8 O CEBDS é uma instituição que possui associados de mais de 50 grupos empresariais dos mais variados setores da economia, faz parte de uma rede de conselhos vinculada ao WBCSD (CONSELHO..., 2003a).

Page 63: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

63

O relatório de sustentabilidade é uma demonstração pública da

responsabilidade corporativa com as questões ambientais sociais e

econômicas, tornando-se um eficaz veículo de comunicação e engajamento

entre a comunidade e os setores produtivos.

A publicação de informações, independentemente da sua amplitude

é um indicador do Princípio do Controle Democrático (direito de acesso à

informação), um dos requisitos do conceito de Produção Limpa.

Sendo este trabalho focado na identificação de Indicadores de

Produção Limpa, é discutida a seguir como a adoção da PL pode ser uma

importante ferramenta para a demonstração pública da responsabilidade

ambiental corporativa.

3.2 Produção Limpa: adoção do conceito para demonstrar a responsabilidade ambiental corporativa

No Capítulo 2 discutiu-se diversos conceitos que têm em comum a

busca da produtividade dos recursos e escolheu-se o conceito de PL, para ser

utilizado no desenvolvimento da proposta de indicadores para análise de

relatórios ambientais de empresas, por ter sido considerado o mais abrangente

para garantir o desempenho ambiental das organizações.

Na seção anterior foi discutida a importância da prestação de contas

públicas do desempenho ambiental das organizações. A publicação do relatório

ambiental tem sido o instrumento utilizado pelas empresas para atingirem este

objetivo. Neste sentido, o Princípio do Controle Democrático, ou seja a garantia

do acesso à informação, um dos princípios da Produção Limpa deve ser

adotado pelas empresas. A comunicação com as partes interessadas é

também um dos pontos chaves para que a empresa demonstre o seu esforço

na direção da sustentabilidade.

Page 64: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

64

A implementação do conceito de Produção Limpa pelas empresas,

sem dúvida, contribuirá para a melhoria do desempenho ambiental e

conseqüentemente para a sustentabilidade, não desconhecendo que a

empresa deve também considerar o seu desempenho econômico e social.

Para que as práticas de PL, utilizadas pelas empresas nos seus

processos e produtos, sejam apresentadas de forma clara e objetiva, e

facilmente compreendida pelas partes interessadas, é necessário que sejam

estabelecidos critérios e definidos indicadores. No capítulo seguinte será

discutido o conceito de indicador, e a sua importância como veículo de

comunicação entre a empresa e as partes interessadas.

Por outro lado, considera-se que, em princípio, a publicação de

relatórios é uma demonstração de transparência da empresa, o que pode ser

um fator que acelere cada vez mais a adoção de práticas de PL. Uma vez

disponibilizadas informações, por exemplo, relativas à conservação dos

recursos (água, energia, matéria-prima) e geração de resíduos, as partes

interessadas podem interagir com a empresa e estimular a melhoria do seu

desempenho.

Sendo o relatório ambiental um instrumento voluntário, a definição

do tipo de informação a ser publicada é da empresa. Entretanto, o valor do

instrumento está na qualidade da informação apresentada ao público. Do ponto

de vista ambiental, considera-se que a avaliação do relatório a partir da

proposta de Indicadores de Produção Limpa é uma forma de garantir a

qualidade das informações.

Page 65: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

65

4. O USO DE INDICADORES DE DESEMPENHO AMBIENTAL: ANÁLISE DE INICIATIVAS INTERNACIONAIS À LUZ DA PRODUÇÃO LIMPA

Neste capítulo são analisadas sete iniciativas de instituições de

abrangência internacional que apresentam propostas de indicadores para

avaliação de desempenho. É realizada uma análise comparativa entre as

propostas, observando-se as dimensões da sustentabilidade abordada por

cada uma delas, os objetivos para os quais foram propostas, a classificação

dos indicadores, as suas principais características, os critérios de seleção e a

estrutura utilizada para definição dos mesmos.

Inicialmente, será apresentado o conceito de indicador e sua

importância como ferramenta de medida e avaliação da aplicação dos

conceitos discutidos no Capítulo 2.

Finalizando este capítulo, será realizada uma análise das iniciativas

à luz do conceito de Produção Limpa e identificados quais os princípios da PL

que podem ser associados aos indicadores para avaliação de desempenho

ambiental, propostos por cada uma delas.

O objetivo desta discussão é auxiliar na identificação de critérios e

na seleção de indicadores, para subsidiar a construção da proposta de

Indicadores de Produção Limpa.

4.1 O indicador e sua importância como ferramenta de medida, avaliação e divulgação de informações

A necessidade de informar o desempenho das organizações tem

ocorrido por várias razões: o atendimento a legislação e a redução de custos

de exigências futuras; a adoção de códigos voluntários ambientais; a

Page 66: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

66

diminuição de custos operacionais; a melhoria das relações com as partes

interessadas; além da percepção da visibilidade ambiental da empresa como

uma vantagem competitiva (MORHARDT, BAIRD, FREEMAN, 2002). Os

indicadores podem ser utilizados como importante ferramenta de medida para

expressar as informações, de forma clara e objetiva, para auxiliar no

atendimento desta demanda.

O indicador ajuda a compreender a situação atual (onde se está),

qual o caminho a ser seguido (como chegar) e qual a distância a ser percorrida

para atingir a meta estabelecida (onde se deseja chegar). Um bom indicador

ajuda a identificar os problemas antes que eles ocorram e auxiliam na sua

solução. Para que um indicador seja efetivo é necessário que seja relevante,

reflita o sistema que precisa ser conhecido, fácil de ser entendido e baseado

em dados acessíveis (SUSTAINABLE..., 2004).

O indicador pode ser considerado como uma variável que é: [...] uma representação operacional de um atributo (qualidade, característica, propriedade) do sistema. Cada variável assume diferentes valores, dependendo da medida ou observação específica. Assim indicadores são variáveis e dados são a real medição ou observação (GALLOPIN, apud VELEVA, ELLENBECKER, 2001, p. 521).

Para a construção dos indicadores, conforme representado na

Figura 3, são utilizados dados primários (medição ou observação) analisados

com base em critérios previamente definidos. Os indicadores, ou conjunto de

indicadores, podem ser de vários tipos, correspondendo aos objetivos

específicos que cada um deles deseja demonstrar.

Figura 3: Construção do indicador

DADOS PRIMÁRIOS

ANÁLISE DOS DADOS

INDICADOR

Page 67: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

67

De acordo com Veleva e Ellenbecker (2001), os indicadores

fornecem informações sobre sistemas físicos, sociais e econômicos, permitindo

analisar tendências e relações causa-efeito. Estes indicadores podem ser

utilizados para avaliar o desempenho e o gerenciamento dos negócios, para

verificar se a empresa está realizando os objetivos e metas estabelecidos e/ou

para estabelecer comparações dentro do mesmo setor.

Os indicadores podem fornecer informações qualitativas ou

quantitativas. Ambas são necessárias e complementares para apresentar o

desempenho ambiental, econômico e social das organizações. Sempre é

recomendável o uso de indicadores quantitativos, entretanto isto nem sempre é

possível, principalmente para medir desempenho no campo social. Muitas das

questões sociais são subjetivas e a medida do desempenho não é facilmente

quantificável (GLOBAL ..., 2002). O indicador quantitativo, se bem definidos os

parâmetros, é mais fácil de ser reproduzido ao longo do tempo, permitindo uma

maior confiabilidade na informação, ao passo que o indicador qualitativo é mais

suscetível a variações.

Em situações em que haja necessidade da utilização de indicadores

qualitativos, estes devem ser selecionados obedecendo a critérios que reflitam

o objetivo final do que se deseja informar, devendo ser representativos e

confiáveis. Veleva e Ellenbecker (2001) citam como exemplo, a dificuldade de

medir o índice de satisfação dos empregados no trabalho, que é uma avaliação

subjetiva, não sendo medido diretamente. Os autores sugerem a utilização de

questionários para medir o percentual de satisfação dos empregados.

Para que os indicadores quantitativos possam ser bem entendidos é

necessário que sejam identificados quatro parâmetros-chave:

a) Unidade de medida: unidades do sistema métrico (kg, t, %, h);

b) Tipo de medida - absoluta ou relativa: o indicador pode medir

quantidade total (ex.: total de energia consumida por ano em kWh) ou

quantidade em relação a um segundo parâmetro (ex.: energia

consumida por ano por unidade de produto/serviço);

Page 68: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

68

c) Período da medida: período utilizado para coletar dados e calcular o

indicador (ex.: ano fiscal, número de meses);

d) Abrangência da medida: determina o limite para coleta dos dados (ex.:

uma linha de produto, uma unidade de produção, ciclo de vida do

produto) (VELEVA e ELLENBECKER, 2001)

Considera-se também importante avaliar o método utilizado para a

obtenção da medida, em relação a sua precisão, para que o indicador forneça

informação confiável e possível de ser reproduzida.

Para verificar a aplicação dos conceitos discutidos no Capítulo 2 é

necessário o estabelecimento de indicadores, selecionados a partir de critérios

que demonstrem o atendimento ao conceito. Para medir a Ecoeficiência das

empresas é importante o estabelecimento de indicadores que permitam avaliar

a eficiência econômica que trazem benefícios ambientais. Para a implantação

de ecossistemas industriais os indicadores são uma ferramenta importante

para a geração de informações técnicas. Para a Produção Mais Limpa os

indicadores são fundamentais para fornecerem informações relativas aos

aspectos gerenciais e tecnológicos, permitindo medir os benefícios econômicos

obtidos a partir de melhorias ambientais.

A seleção de indicadores é também muito importante para avaliar a

aplicação do conceito de Produção Limpa. Os indicadores devem ser

desenvolvidos com base nos princípios da prevenção, precaução, integração e

controle democrático. Para cada princípio devem ser elaborados indicadores,

considerando os seus respectivos critérios de seleção, permitindo medir de

forma quantitativa e/ou qualitativa o atendimento aos requisitos estabelecidos

em cada um deles.

Os indicadores, utilizados adequadamente, independentemente do

conceito escolhido para a sua seleção, permitirão um maior conhecimento do

perfil atual e de tendências futuras, em relação aos parâmetros analisados. As

informações geradas permitem um aprendizado interno, fornecem uma maior

segurança para a tomada de decisão pelos gestores, e podem ser utilizadas

Page 69: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

69

para tornar pública as informações para as partes interessadas, fomentando a

participação destas na gestão da empresa.

A padronização de indicadores é uma tendência crescente em

função da necessidade de investidores, consumidores e comunidades

compararem as organizações e seus respectivos produtos e/ou serviços,

quanto ao seu desempenho nas componentes ambientais, econômicas e

sociais, dentro de um mesmo setor industrial. Desta forma, é possível

estabelecer metas para aumentar a competitividade do setor, com base nos

valores já alcançados por outras empresas (benchmark).

Também para o setor público, o indicador pode ser uma ferramenta

para auxiliar a fiscalização, o monitoramento e a proposição de políticas

públicas. Os indicadores ambientais propostos pela Organização de

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que serão discutidos a

seguir, são uma demonstração da importância desta padronização na relação

política entre países.

4.2 Iniciativas que propõem indicadores para avaliação de desempenho ambiental

Embora existam diversas iniciativas que utilizam indicadores como

forma de medir o progresso de organizações em direção ao desenvolvimento

sustentável, selecionou-se para análise sete propostas de abrangência

internacional que utilizam indicadores de desempenho ambiental:

1. ISO 14031 - Gestão Ambiental - Avaliação de Desempenho Ambiental –

Diretrizes (Environmental management – Environmental performance

evaluation – Guidelines)

2. Centro para Produção Sustentável de Lowell / Lowell Center for

Sustainable Production (LCSP) 3. Iniciativa Global para Relatório / Global Reporting Initiative (GRI) 4. Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável /

World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)

Page 70: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

70

5. Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento /

United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD) 6. Relatório Público Ambiental /Public Environmental Reporting (PER) do

Governo da Austrália

7. Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

Estas iniciativas foram selecionadas a partir de revisão de literatura

e análise de documentos de várias instituições que utilizam indicadores de

desempenho ambiental.

Veleva e outros (2001) citam como exemplos de iniciativas que

propõem indicadores a da OCDE, Grupo de Trabalho Interinstitucional dos

Estados Unidos, (US Interagency Working Group on Sustainable

Development), Seattle Sustentável (Sustainable Seattle) e ISO 14031, GRI.

Ranganathan (1999 apud VELEVA e ELLENBECKER, 2001) se

refere às iniciativas da ISO 14031, GRI, WBCSD e o Centro para Tecnologias

de Redução de Resíduos (Center for Waste Reduction Technologies - CWRT)

como as quatro mais conhecidas propostas que desenvolveram indicadores

ambientais, sociais ou de sustentabilidade adequadas para aplicação em

empresas.

O WBCSD destaca como as mais relevantes iniciativas e programas

que tratam de indicadores a norma ISO 14031, o guia da GRI, a Mesa

Redonda Canadense em Ambiente e Economia (Canadian National Round

Table on the Environment and the Economy - NRTEE), a proposta da OCDE, o

Banco de Dados de Suprimentos Comuns das Nações Unidas (United Nations

Common Supply Database - UNCSD) e a Agência Ambiental Européia

(European Environment Agency - EEA) (WORLD..., 2003).

Nas seções 4.2.1 a 4.2.7 discutiu-se as sete iniciativas analisando-

se a abordagem de cada uma e particularmente os tipos de indicadores

propostos para demonstrar o desempenho ambiental. Faz-se uma análise

comparativa das iniciativas, identificando-se pontos de convergência e

Page 71: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

71

diferenças de abordagens entre elas. Avalia-se se a origem da iniciativa e a

sua constituição influenciam nos indicadores de desempenho ambiental

propostos. Finalizando este capítulo, será feita uma análise para verificar se os

indicadores propostos atendem aos princípios de Produção Limpa.

4.2.1 ISO 14031 – Gestão Ambiental: Avaliação de Desempenho Ambiental – Diretrizes

A Organização Internacional para Padronização/International

Organization for Standardization (ISO) lançou em 1999, a ISO 14031: Gestão

Ambiental - Avaliação de Desempenho Ambiental – Diretrizes (Environmental

management – Environmental performance evaluation – Guidelines), mais uma

norma da série ISO 14000, para dar suporte aos requisitos da norma ISO

14001, que pode também ser usada independentemente.

A ISO série 14000, normas para Sistema de Gestão Ambiental

(SGA) para serviços, processos e produtos, foi lançada na segunda metade

dos anos 90. É um instrumentos de caráter voluntário, que fornece ferramentas

e estabelece um padrão de gestão ambiental, sendo a ISO 14001 a norma que

estabelece os requisitos que podem ser auditados para fins de certificação

(GAZETA ...,1996).

A ISO é uma organização internacional, não-governamental, com

sede em Genebra, Suíça, composta por organismos nacionais de

normalização, da qual participam mais de 100 países, representando cerca de

95% da produção industrial mundial (GAZETA ...,1996).

No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

instituiu a norma “NBR ISO 14001: Sistemas de gestão ambiental -

especificação e diretrizes para uso”, para ser adotada por empresas que

desejam obter a certificação ambiental seguindo o modelo da norma

internacional ISO 14001.

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72

A norma ISO 14001 estabelece uma série de requisitos obrigatórios

com o objetivo de demonstrar a melhoria no desempenho ambiental de

empresas, em conformidade com a sua política ambiental. Cabe ao Sistema de

Gestão Ambiental implantado o controle dos fatores geradores dos impactos

ambientais significativos, de forma a atender aos requisitos legais e garantir a

melhoria contínua do SGA. Para o acompanhamento das melhorias, faz-se

necessário o estabelecimento de objetivos e metas, que devem sempre que

possível ser quantificados (ASSOCIAÇÃO..., 1996).

Os instrumentos voluntários de gestão ambiental incluem definições

como missão, visão e política ambiental da empresa, que não se constituem

em exigência legal, entretanto trazem resultados de interesse ao negócio da

empresa, tornando-se uma forte ferramenta de mercado. Dentre os programas

voluntários de gestão ambiental pode-se também citar o Esquema de

Ecogestão e Auditoria / Eco-Management and Auditing Scheme (EMAS),

esquema de gestão ambiental da União Européia.

A implantação de Sistemas de Gestão Ambiental baseado na norma

NBR ISO 14001, ou outros códigos de conduta voluntários, tem trazido

resultados positivos para as empresas, com a melhoria da sua imagem perante

o mercado, sendo um fator que influencia a rentabilidade dos negócios.

Furtado (2000b) ressalta que a adesão a programas voluntários de

gestão não é garantia suficiente de excelência quanto ao desempenho

ambiental da organização, pois, as diretrizes adotadas pelas empresas

poderão não ser necessariamente orientadas para a sustentabilidade. O

mesmo autor observa que, no caso da ISO 14001, o sistema de gerenciamento

requer o compromisso da empresa certificada para a busca da melhoria

contínua, porém privilegia o modelo “fim de tubo” e a conformidade nos limites

da lei ambiental vigente no país onde a organização está produzindo, sem

necessariamente ter compromissos efetivos com o desenvolvimento

sustentável.

Page 73: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

73

No contexto dos Sistemas de Gestão Ambiental, os resultados,

podem ser medidos em comparação com o que foi estabelecido na política,

objetivos e metas para o sistema implantado e, se estes forem conservadores

não irão atender a necessidade de redução do impacto ambiental condizente

com o desenvolvimento sustentável.

Para a ISO 14001, a criação de indicadores não é um requisito

normativo, entretanto, as organizações que aderirem a esta norma, precisam

medir o seu desempenho para que possam ser verificados o atendimento aos

objetivos e metas estabelecidos, passando a ser uma necessidade operacional

(CENTRO..., 2001).

Para tanto, é lançada a ISO 14031 que aliada à realização de

auditorias ambientais, tem como objetivo auxiliar a empresa na avaliação do

seu estágio em relação ao desempenho ambiental e identificar necessidades

de melhorias. A avaliação de desempenho é feita em um processo contínuo de

coleta de dados e informações, para seleção dos indicadores que demonstrem

a situação atual da empresa e tendências futuras (INTERNATIONAL ...,1999).

A norma ISO 14031 descreve duas categorias gerais de indicadores

para avaliação de desempenho ambiental (ADA):

• indicador de desempenho ambiental (IDA), subdividido em indicador de

desempenho gerencial (IDG) e indicador de desempenho operacional (IDO);

• indicador de condição ambiental (ICA) (INTERNATIONAL ...,1999).

Os IDGs representam o esforço da organização para a melhoria do

desempenho ambiental e podem incluir desempenho financeiro, relações com

a comunidade, implementação de políticas e programas, conformidade com

requisitos. Os IDOs podem ser elaborados com base nas entradas e saídas

das instalações físicas e equipamentos de uma organização, que são os

materiais, energia, produtos, resíduos, emissões, serviços de recebimento e

distribuição e quantidade produzida, reutilizada, recicladas e emitida para o

meio ambiente (INTERNATIONAL ...,1999).

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74

Os ICAs estão relacionados a questões regionais, nacionais ou

globais e são freqüentemente desenvolvidos por agências governamentais,

organizações não-governamentais e instituições de pesquisa (ex.: espessura

da camada de ozônio). Estes não medem o impacto da organização sobre o

meio ambiente, porém podem fornecer informações sobre o relacionamento

entre as condições do meio ambiente e as atividades, produtos e serviços de

uma organização. Desta forma, as organizações podem elaborar indicadores

relacionados com ar, solo, água, flora, fauna e seres humanos

(INTERNATIONAL ...,1999).

O guia, sugerido no APÊNDICE A da ISO 14031, apresenta critérios

para seleção e exemplos de indicadores para as duas categorias visando

auxiliar no processo de identificação dos indicadores de avaliação de

desempenho ambiental, adequados para cada tipo de organização. No guia

são apresentados exemplos de indicadores, ressaltando que os mesmos são

apenas de caráter ilustrativo, não sendo completos ou abrangentes, e nem

apropriados para todos os tipos de organizações. Para tanto, sugere alguns

tipos de abordagens que devem ser consideradas para a seleção dos

indicadores, conforme mostrado na Figura 4 (INTERNATIONAL ...,1999).

TIPO DE ABORDAGEM CRITÉRIO PARA SELEÇÃO DE INDICADORES

Causa e efeito Indicador que conduz à causa fundamental ou básica dos aspectos ambientais significativos.

Baseada nos riscos: • probabilísticos • para a saúde humana • financeiros • para a sustentabilidade

Indicadores que podem ser selecionados com base na consideração de que o risco que a administração da organização determina está associado a atividades, produtos e serviços em particular.

Ciclo de vida Indicadores que podem ser selecionados considerando as entradas e saídas associadas a um determinado produto, e os aspectos e impactos ambientais significativos em algum estágio do ciclo de vida do produto.

De iniciativas voluntárias ou reguladoras

A seleção de indicadores pode ser focada em áreas onde são identificados requisitos de desempenho voluntário ou legais.

Figura 4: Tipos de abordagens para seleção dos indicadores de desempenho

ambiental baseados na ISO 14031 Fonte: Adaptado de International Organization for Standardization (1999)

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O APÊNDICE A, da ISO 14031, inclui uma lista de 197 tópicos para

auxiliar as empresa a selecionar indicadores para meio ambiente. Esta lista é

longa e inclui exemplos de Indicadores de Condição Ambiental (ICA), que

reportam as múltiplas influências sobre o meio ambiente, que não estão sob

controle integral da empresa (MORHARDT, BAIRD, FREEMAN, 2002).

A seleção dos indicadores de desempenho ambiental (IDA), para as

duas categorias (IDG e IDO), deve estar associada aos aspectos ambientais

das atividades, produtos e serviços da organização, conforme mostrado na

Figura 5.

Em ambos os casos (IDA e ICA), as informações devem ser

apresentadas, na forma de dados qualitativos ou quantitativos, de maneira

clara e objetiva.

CATEGORIA ASPECTO INDICADORIDA:

- IDG - políticas, pessoas, planejamento de atividades, práticas e procedimentos, em todos os níveis da organização, assim como decisões e ações associadas com os aspectos ambientais;

- IDO - entradas de materiais, energia e serviços; - fornecimento de insumos; - projeto, instalação, operação, manutenção das instalações físicas e dos equipamentos; - saídas de produtos, serviços, resíduos sólidos, efluentes e emissões.

ICA - fornecem informações sobre a condição do meio ambiente local, regional, nacional ou global.

Apresenta uma lista de indicadores

para os diversos

aspectos de cada

categoria.

Figura 5: Matriz para seleção de indicadores da norma ISO 14031 Fonte: Adaptado de International Organization for Standardization (1999)

Além da ISO 14001, a importância da seleção indicadores para

certificação de Sistemas de Gestão Ambiental, baseada em normas

voluntárias, também é verificada no EMAS, que no seu Anexo III (seção 3.2),

relaciona os elementos mínimos que devem constar da declaração ambiental: Um resumo dos dados disponíveis sobre o comportamento da organização relativamente aos seus objetivos e metas ambientais, no que se relaciona com os seus impactos ambientais significativos. Esse resumo poderá incluir os valores das emissões poluentes, da produção de resíduos, do consumo de matérias-primas, energia e

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água, do ruído e ainda outros aspectos indicados no anexo VI. Os dados deveram permitir uma comparação anual que permita determinar a evolução do comportamento ambiental da organização (PARLAMENTO..., 2001, p. 19).

O EMAS propõe também critérios para elaboração do relatório de

comportamento ambiental. É recomendado a utilização de indicadores

ambientais para avaliação do comportamento ambiental de uma organização,

assegurando-se que os mesmos: demonstrem uma avaliação do

comportamento da organização, sejam claros, permitam comparação anual do

desempenho ambiental, comparação com benchmarking setoriais, nacionais e

regionais e aferição dos requisitos legais (PARLAMENTO..., 2001).

O EMAS não fornece um guia com exemplos de indicadores como a

ISO 14031, porém estabelece critérios para a sua seleção. Isto demonstra a

importância do estabelecimento de indicadores para a avaliação do

desempenho ambiental das organizações que fazem a opção pela certificação

do seu Sistema de Gestão Ambiental pelas duas iniciativas.

4.2.2 LCSP - Centro para Produção Sustentável de Lowell

A iniciativa do Centro para Produção Sustentável de Lowell / Lowell

Center for Sustainable Production (LCSP) da Universidade de Massachusetts

Lowell propõe uma metodologia para promover e medir o desempenho de

empresas, baseado em um conjunto de indicadores de produção sustentável

(IPS) (VELEVA e ELLENBECKER, 2001).

O LCSP é composto por um núcleo de professores e pesquisadores

de diversos departamentos acadêmicos e centros de pesquisa, organizações

sem fins lucrativos e agências governamentais, que trabalham diretamente com

o setor industrial, visando promover a produção sustentável. O Centro iniciou,

em 1996, o desenvolvimento de novas formas de produção industrial que

fossem seguras, saudáveis, ambientalmente corretas, socialmente

responsáveis e viáveis economicamente (VELEVA e outros, 2001).

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77

O conceito de Produção Sustentável (PS) surgiu na segunda

Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, em 1992, e foi

diretamente relacionado com Desenvolvimento Sustentável. O LCSP define

Produção Sustentável (PS) como: Produção e serviços usando processos e sistemas que não poluam, conservem energia e recursos naturais, sejam economicamente viáveis, seguros e saudáveis para os empregados, comunidades e consumidores, recompense socialmente os trabalhadores e estimule a sua criatividade (VELEVA e ELLENBECKER, 2001, p.520).

O atendimento aos aspectos e princípios da PS é a contribuição do

setor empresarial para o desenvolvimento sustentável, que só será alcançado

com padrões de consumo também mais sustentáveis.

Na definição de PS estão contempladas as dimensões ambientais,

econômicas e sociais vinculadas às atividades das organizações. De acordo

com Veleva e Ellenbecker (2001, p.520) para atendê-las devem ser observados

seis principais aspectos da PS: • uso de energia e materiais; • sumidouros naturais; • justiça social e desenvolvimento comunitário; • desempenho econômico; • trabalhadores, e • produtos.

Para a verificação do atendimento ao conceito da produção

sustentável é importante para as organizações a utilização de ferramentas de

medida que permitirão a quantificação dos dados. Estes devem considerar as

dimensões do desenvolvimento sustentável, para que possam mostrar

informações sobre as condições ambientais, econômicas e sociais, permitam o

estabelecimento de objetivos e metas na busca da sustentabilidade, assim

como comparação com outras organizações e setores (benchmarking).

O LCSP, no artigo “Indicadores de produção sustentável: matriz e

metodologia” (Indicators of sustainable production: framework and

methodology) formulou um guia com nove princípios básicos, listados na Figura

6, relacionados aos aspectos da Produção Sustentável, para construir uma

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matriz de indicadores, que pode ser aplicada a organizações ou produto. Para

cada princípio foram selecionados os indicadores necessários.

Os IPS têm como principais objetivos demonstrar o atendimento aos

princípios da produção sustentável; prover informações concisas sobre o

desempenho atual e tendências da empresa, auxiliando na tomada de decisão.

Esses indicadores constituem-se em uma ferramenta importante para medir

realizações (objetivo, metas), permitem a comparação com outras

organizações do mesmo setor (benchmarking), além de permitirem reportar

resultados para as partes interessadas (VELEVA e ELLENBECKER, 2001).

ASPECTO DA PS

PRINCÍPIO INDICADOR

1.Uso de energia e materiais

1. Conservação de energia e materiais.

2.Ambiente natural

2. Resíduos e produtos ecologicamente incorretos são continuamente eliminados, reduzidos ou reciclados. 3. Substâncias químicas, agentes físicos, tecnologias e procedimentos de trabalho que apresentem perigo para o ambiente natural e humano são continuamente reduzidos ou eliminados.

3.Justiça social e desenvolvimento comunitário

4. Respeito às comunidades próximas que devem ser desenvolvidas economicamente, socialmente e culturalmente; promover eqüidade e justiça social.

4.Desempenho econômico

5. Gerência participativa com avaliação contínua e implantação de melhorias, focada no desempenho econômico de longo prazo da empresa.

5.Trabalhadores 6. Locais de trabalho são organizados de forma a minimizar ou eliminar perigos físicos, químicos e biológicos. 7. Organização do trabalho para conservar e aumentar a criatividade dos empregados. 8. A segurança e o bem-estar de todos os funcionários é prioridade, assim como o contínuo desenvolvimento de seus talentos e capacidades.

6.Produtos

9. Produtos/serviços e embalagens são projetados de forma segura e ecologicamente corretos ao longo do seu ciclo de vida.

Apresenta uma

lista de

22 indicadores

principais e

exemplos de

indicadores

complementares.

Figura 6: Matriz para desenvolvimento de indicadores de produção sustentável Fonte: Veleva e Ellenbecker (2001).

Page 79: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

79

A matriz proposta pelo Centro correlaciona os indicadores com os

respectivos aspectos e princípios da produção sustentável e são classificados

como: indicadores principais, mais gerais, podem ser utilizados por várias

empresas; indicadores complementares, específicos para cada empresa

(VELEVA e ELLENBECKER, 2001).

O uso de IPS pressupõe um processo de evolução contínua para

estabelecimento de objetivos e metas de desempenho e, para tanto, Veleva e

Ellenbecker (2001) propõem a organização, tanto dos indicadores existentes

como dos novos a serem desenvolvidos, em cinco níveis, conforme

demonstrado na Figura 7. Os autores explicam que os níveis representam os

passos a serem percorridos no caminho de indicadores mais abrangentes de

produção sustentável: no Nível 1 estão os indicadores que medem

conformidades com especificações e atendimentos a legislação; os indicadores

de Nível 2 medem o desempenho em relação à entrada e saída de materiais;

o Nível 3 mede os impactos causados ao meio ambiente e à saúde humana,

desenvolvimento da comunidade e desempenho econômico; os indicadores de

Nível 4 medem o impacto da produção causado pelos fornecedores e pela

distribuição do produto; e por último no Nível 5 os indicadores que demonstram

como a atividade de uma empresa influencia a sustentabilidade da sociedade.

Figura 7: Níveis para classificação dos IPS Fonte: VELEVA e ELLENBECKER, 2001, p. 523

NIVEL 2: Uso de mater ia is e Indicadores de desempenho

NIVEL 3: Ind icadores de impactos ambienta is

NIVEL 4: Fornecedores e d is tr ibu ição dos produtos Ind icadores de c ic lo de vida

NIVEL 5: Ind icadores de sustentab i l idade

NIVEL 1: Ind icadores de conformidade (espc i f icação/ lega l )

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A proposta do LCSP apresenta 22 indicadores principais para os

nove princípios, associados aos seis aspectos da PS. Estes são classificados

de acordo com os níveis apresentados na Figura 7 e atendem aos níveis de 1 a

4. São também sugeridos exemplos de indicadores complementares para os

cinco níveis, associados a cinco aspectos da PS (exceto para produtos).

O processo de implantação de indicadores de produção sustentável

requer uma avaliação contínua dos resultados alcançados, a partir do

monitoramento dos objetivos e metas que foram definidos, para que seja

possível revisar os indicadores e inserir outros, definindo novos objetivos e

metas para que os indicadores sejam aprimorados e alcancem o Nível 5.

Os indicadores do Nível 5 devem ser capazes de fornecer

informações ambientais, econômicas e sociais que permitam às partes

interessadas compreenderem o papel da empresa na sociedade,

demonstrando as estratégias e ações empresariais para responderem ao

desafio da sustentabilidade.

N a proposta do LCSP é feita uma análise dos indicadores principais

quanto ao seu objetivo, significância, formas de apresentação dos dados

(cálculo), apresentação gráfica e, por fim, faz uma interpretação do parâmetro

que está sendo analisado quanto ao seu desempenho para conduzir a empresa

em direção a sustentabilidade, avaliando as condições do local onde a

empresa está localizada (VELEVA e ELLENBECKER, 2001).

Citando um exemplo usado pelo LCSP, para ilustrar o tipo de

interpretação realizada, para verificar se a empresa está atendendo aos

princípios da Produção Sustentável, tem-se:

Indicador: consumo de água total e por unidade de produto.

Interpretação: analisando uma série de dados de consumo de água,

ao longo de sete anos, foi observada uma redução de consumo por

unidade de produto nos últimos seis anos (a empresa está no

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81

caminho da sustentabilidade). Entretanto, o total de água consumida

pela empresa aumentou. Desta forma é necessário analisar os dados

considerando a retirada da água da natureza comparando-os com a

taxa média de reposição no local onde a empresa está instalada

(VELEVA e ELLENBECKER, 2001).

Esta iniciativa não é direcionada para publicação de relatórios,

entretanto reconhece a importância dos indicadores para comunicar o

desempenho da empresa e permitir a tomada de decisão pelas partes

interessadas. Desta forma, os IPS poderão ser utilizados para reportar

resultados em outros instrumentos que a empresa disponha.

Alguns dos aspectos e princípios da produção sustentável, utilizados

pelo LCSP para a definição dos IPS, podem ser associados com o conceito de

Produção Limpa, e desta forma servirão de subsídios para a elaboração da

matriz de indicadores de PL, que será proposta neste trabalho.

4.2.3 GRI – Iniciativa Global para Relatório

O guia da Iniciativa Global para Relatório / Global Reporting Initiative

(GRI), publicado em 2002, para elaboração de relatórios de sustentabilidade

(Sustainability Reporting Guidelines), utiliza indicadores de desempenho,

qualitativos e quantitativos, focados nas questões econômicas, ambientais e

sociais (GLOBAL..., 2002).

A GRI iniciou suas atividades em 1997 sendo uma iniciativa com

amplo processo participativo de múltiplas partes interessadas. Esta é uma

instituição independente, que conta com a participação de representantes de

segmentos ligados a diversas áreas de atuação: empresarial, contabilidade,

investimentos, ambiental, direitos humanos, pesquisa e organizações do

trabalho em todo o mundo. Em 2002 tornou-se colaborador oficial do PNUMA e

Page 82: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

82

trabalha em cooperação com a iniciativa da Organização das Nações Unidas

denominada de Pacto Mundial (Global Compact Initiative)9 (GLOBAL..., 2003).

A primeira proposta da GRI para relatório de sustentabilidade foi

apresentada em 1999 na forma de rascunho (draft). Após vários testes e

comentários do público foi lançado o Guia para Relatório de Sustentabilidade

em junho de 2000. Este passou por um processo de revisão contínua, ao longo

de dois anos, tendo recebido comentários das diversas partes interessadas em

todo o mundo, sendo lançada uma nova versão em 2002 (GLOBAL..., 2002).

Morhardt, Baird, Freeman (2002) se referem ao Guia da GRI como

sendo atualmente o mais importante para publicação de relatório de

sustentabilidade, tendo sido elaborado pela GRI em parceria com a Coalisão

para Economias Ambientalmente Responsáveis / Coalition for Environmentally

Responsible Economies (CERES) e o Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente (PNUMA). Trata-se, portanto de um guia amplo, contemplando

aspectos sociais e ambientais dos produtos e serviços; cumprimento de

legislação; aspectos econômicos; desempenho social, ambiental e integrado.

O Guia da Iniciativa Global para Relatório (2002), visando atender às

três dimensões da sustentabilidade propõe duas classificações para os

indicadores de desempenho:

a) centrais, relevantes para a maioria das organizações e de

interesse da maioria das partes interessadas;

b) adicionais, que devem possuir uma ou mais das seguintes

características: representar uma prática atual em relatórios de

algumas empresas, prover informações para partes interessadas que

são particularmente importantes para a empresa e um teste que

possibilitará no futuro se transformar em indicador central.

9 O Pacto Mundial é uma iniciativa voluntária que reúne empresas, organismos das Nações Unidas, organizações sindicais de trabalhadores e representantes da sociedade civil, para apoiar princípios universais sobre direitos humanos, trabalho e meio ambiente (GLOBAL..., 2004).

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83

O Guia propõe também a utilização de indicadores integrados para

demonstrar a relação entre o sistema econômico, ambiental e social. Estes

podem ser sistêmicos, demonstrando como o desempenho da organização

pode influenciar em cada uma das dimensões, ou transversal que relaciona

diretamente duas ou mais dimensões.

A estrutura proposta pelo guia da GRI, para os indicadores de

desempenho, segue uma hierarquia de categoria, aspecto e indicador, alinhado

com padrões internacionais. Os indicadores são agrupados com base nas três

dimensões da definição convencional de sustentabilidade – econômica,

ambiental e social (Figura 8) (GLOBAL..., 2002).

DIMENSÕES DA

SUSTENTABILIDADE CATEGORIA ASPECTO INDICADOR

ECONÔMICA

Impacto econômico direto

Cliente, fornecedor, empregados, acionistas, setor público.

AMBIENTAL

Ambiental

Material, energia, água, biodiversidade, emissões, efluentes e resíduos sólidos, fornecedor, produtos e serviços, atendimento a requisitos legais, transporte, global.

Práticas trabalhistas e trabalho digno

Emprego, relações trabalhistas, saúde e segurança, treinamento e educação, diversidade e oportunidade.

Direitos humanos

Estratégia e gestão, não-discriminação, liberdade de associação e negociação coletiva, trabalho infantil, trabalho forçado e compulsório, práticas disciplinares, práticas de segurança, direitos indígenas.

Sociedade

Comunidade, suborno e corrupção, contribuição política, concorrência e preço.

SOCIAL

Responsabilidade sobre o produto

Saúde e segurança para o consumidor, produtos e serviços, propaganda, respeito à privacidade.

Apresenta uma lista de indicadores, centrais e adicionais, para cada categoria/ aspecto.

Figura 8: Matriz de indicadores proposta pela GRI Fonte: Adaptado da Global Reporting Initiative - GRI (2002)

Page 84: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

84

Os indicadores de desempenho para cada categoria estão

associados a diversos aspectos e para cada um deles a GRI propõe alguns

indicadores que podem ser classificados como indicadores centrais ou

adicionais, conforme definido anteriormente.

Para a categoria de desempenho ambiental são propostos

indicadores centrais e adicionais conforme mostrado na Figura 9. Para o

aspecto material, produtos e serviços e atendimento a legislação todos os

indicadores propostos são classificados como centrais por serem, conforme

definição da GRI, relevantes para a maioria das organizações e de interesse da

maioria das partes interessadas. Para os aspectos relacionados com os

fornecedores, transporte e de âmbito global os indicadores propostos são

classificados como adicionais. Para os demais aspectos, energia, água,

biodiversidade e emissões, efluentes e resíduos sólidos, são propostos

indicadores para as duas classes.

CATEGORIA ASPECTO INDICADOR CENTRAIS ADICIONAIS AMBIENTAL

- material - energia - água - biodiversidade - emissões, efluentes e resíduos sólidos- fornecedor - produtos e serviços - atendimento a requisitos legais - transporte - global

X X X X X

X X

X X X X X

X X

Figura 9: Classificação dos indicadores ambientais da GRI Fonte: Adaptado da Global Reporting Initiative - GRI (2002)

Os indicadores das categorias de desempenho econômico e social

não serão tratados, uma vez que este trabalho foca especificamente a

dimensão ambiental da sustentabilidade.

Os indicadores ambientais fornecem informações em relação ao

desempenho em termos absolutos e relativos, e medem importantes aspectos

da sustentabilidade. Os primeiros (absolutos) demonstram informações desde

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85

escalas ou magnitude do uso dos recursos e do impacto sobre o meio

ambiente, permitindo considerar o desempenho no contexto de grandes

sistemas. Os indicadores relativos demonstram a eficiência da organização e

permite comparação entre diferentes empresas (GLOBAL..., 2002).

4.2.4 WBCSD - Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável

O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento

Sustentável /World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)

na publicação Medindo Ecoeficiência, um Guia para Reportar o Desempenho

de Empresas (Measuring Eco-efficiency: a Guide to Report Company

Performance) propõe indicadores para medir a Ecoeficiência das empresas, e

para serem utilizados em relatórios para comunicar às partes interessadas o

progresso de suas realizações econômicas e ambientais (WORLD..., 2003).

Os indicadores de Ecoeficiência, propostos pelo WBCSD, são

baseados em princípios que visam assegurar a comprovação científica, a

relevância ambiental, a precisão e aplicabilidade para monitorar e avaliar a

melhoria do desempenho dos negócios, com medidas que sejam transparentes

e verificáveis e, portanto, importantes para o gerenciamento do negócio assim

como para as partes interessadas externas (WORLD..., 2003).

A afirmação do parágrafo anterior, que insere como princípio para

seleção dos indicadores de Ecoeficiência a necessidade deste ser

comprovado cientificamente, elimina a possibilidade da aplicação do

Princípio da Precaução. Desta forma, não poderão ser utilizados indicadores

tomando como base a abordagem precaucionária, adotada pela legislação

ambiental de vários países, já comprovada como bastante eficaz para

solucionar alguns problemas causados ao meio ambiente, além de estimular

pesquisas para a melhoria dos processos e produtos, que sem dúvida são

fatores que conduzem a sustentabilidade das empresas. Esta exigência limita

os indicadores de Ecoeficiência, principalmente se comparados com os

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indicadores de desempenho ambiental elaborados com base no conceito da

Produção Limpa, que adota o Princípio da Precaução.

As empresas podem escolher medir o seu desempenho em relação

a Ecoeficiência por diversas razões: rastrear e monitorar o progresso do seu

desempenho, identificar e priorizar oportunidades para melhorias, identificar

redução de custos e outros benefícios relacionados com a Ecoeficiência,

identificar e demonstrar limitações em certas áreas da empresa e atender a

expectativa de certas partes interessadas (WORLD..., 2003).

A matriz de indicadores proposta pelo WBCSD foi testada em 22

empresas de mais de 10 setores industriais em 15 países. É flexível e permite

identificar, medir e reportar indicadores de Ecoeficiência. Para tanto propõe

duas categorias de indicadores:

a) gerais, que podem, a princípio, ser utilizados em todo tipo de

empresas, refletem questões de interesse global ou para as

empresas, e os métodos de medida são estabelecidos e aceitos

globalmente;

b) específicos, selecionadas para cada tipo de organização e

não atendem ao critério anterior (WORLD..., 2003).

Os indicadores dos dois grupos são baseados na fórmula da

Ecoeficiência, que trazem em conjunto, as duas ecodimensões, a econômica e

a ecológica, para relatar o valor de produtos e serviços que causam impactos

ambientais (WORLD..., 2003).

O WBCSD propõe uma matriz contendo três níveis de organização

para as informações relativas a Ecoeficiência: categoria, aspecto e indicador.

Esta matriz utiliza a mesma terminologia utilizada na norma ISO 14031 e na

matriz da GRI. A Figura 10 lista as três categorias identificadas pelo WBCSD e

os principais aspectos associados a cada uma delas, que descrevem o que

deve ser medido pelo indicador. Para cada aspecto podem ser atribuídos vários

indicadores (WORLD..., 2003).

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CATEGORIA ASPECTO INDICADOR Valor do produto/serviço

Massa e/ou volume, monetário, função.

Influência ambiental na produção do produto/serviço

Consumo de energia, materiais e de recursos naturais; efluentes, emissões e resíduos sólidos; eventos não planejados.

Influência ambiental do produto/serviço

Característica do produto/serviço; resíduo de embalagem; consumo de energia; emissões durante o uso e disposição.

Apresenta uma

lista geral e exemplos de indicadores

setoriais para cada categoria.

Figura 10: Matriz de indicadores proposta pelo WBCSD Fonte: World Business Council for Sustainable Development – WBCSD (2003)

4.2.5 UNCTAD - Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento

A Conferência das Nações Unidas para Comércio e

Desenvolvimento / United Nations Conference on Trade and Development

(UNCTAD) é o braço (focal point) das Nações Unidas, criado em 1964, com o

objetivo de tratar da integração do comércio e desenvolvimento e das inter-

relações de áreas de interesse mundial financeiras, tecnológicas, investimentos

e desenvolvimento sustentável. É um fórum para discussões e deliberações

intergovernamentais com especialistas e troca de experiência, buscando a

construção do consenso (UNITED..., 2003b).

A UNCTAD, no Manual para Elaboração e Uso de Indicadores de

Ecoeficiência (A Manual for Preparers and Users for Eco-efficiency Indicators),

publicado em abril de 2003, propõe um guia para definição e aplicação de

indicadores de Ecoeficiência. Este manual tem como principal objetivo propor

um método para ser utilizado por empresas para proverem informações sobre o

seu desempenho ambiental com relação a questões financeiras, de maneira

sistemática e consistente ao longo do tempo. O Manual foi elaborado por um

grupo de trabalho intergovernamental da UNCTAD, formado por especialistas

em padrões internacionais de contabilidade e relatórios (UNITED..., 2003a).

Os indicadores de Ecoeficiência, propostos no referido manual, têm

como objetivo:

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88

a) emissão do relatório de Ecoeficiência para prover informações do

desempenho financeiro da empresa com respeito às questões ambientais;

b) auxiliar a tomada de decisão nas áreas ambiental e financeira, com a

melhoria da qualidade das informações;

c) complementar relatórios financeiros, fornecendo informações sobre

Ecoeficiência, que podem ser usadas para previsão de impactos, e

antecipação de questões ambientais para futuros desempenhos

financeiros (UNITED ..., 2003a).

Vale ressaltar que o Manual é também uma importante ferramenta

para o gerenciamento fornecendo informações para benchmarking, avaliação

de compras e redução de investimentos e na avaliação de impacto na mudança

da linha de produtos da empresa (UNITED ..., 2003a).

Para a seleção dos indicadores baseados nos princípios da

Ecoeficiência a UNCTAD propõe a seguinte hierarquia de informações:

a) Elemento: áreas ou grupos de questões, econômicas e/ou ambientais,

que afetam as partes interessadas;

b) Item: um item ou um grupo de itens são informações relacionadas a um

elemento específico. Para cada elemento podem existir vários itens ou

grupos de itens;

c) Indicador: medida específica de um elemento individual, que é usado

para rastrear e demonstrar desempenho, relacionado ao elemento por

meio do reconhecimento e medida do item. Para cada elemento podem

existir vários indicadores relacionados aos diferentes itens. Por definição,

indicadores de Ecoeficiência é a relação entre o item ambiental e o item

econômico (UNITED..., 2003a).

Os termos elemento e item correspondem respectivamente aos

termos “categoria” e “aspecto” utilizados pela GRI. Para cada elemento podem

estar relacionados um item ou um grupo de itens que dão origem ao indicador.

O Manual pretende capacitar as empresas para que reportem seu

desempenho quanto a Ecoeficiência para cinco questões ambientais

Page 89: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

89

consideradas prioritárias: uso de energia, uso de água, contribuição para o

aquecimento global, contribuição para depleção da camada de ozônio; e

resíduos. Não estabelece uma lista de elementos e itens, porém recomenda

que no mínimo sejam considerados os elementos relacionados às cinco

questões ambientais prioritárias. Outros indicadores de Ecoeficiência devem

ser incluídos no relatório se forem relevantes para a avaliação do desempenho

da empresa no setor industrial do qual faz parte (UNITED..., 2003a).

Para a construção dos indicadores de Ecoeficiência o guia da

UNCTAD apresenta uma discussão sobre os seguintes aspectos:

a) avalia o impacto das cinco variáveis ambientais consideradas como mais

relevantes (uso de energia e água, contribuição para o aquecimento

global e para depleção da camada de ozônio e resíduos);

b) descreve os seguintes itens financeiros, relevantes para os indicadores

de Ecoeficiência: valor agregado, valor líquido adicionado, receita, bens

de serviços adquiridos;

c) apresenta uma metodologia para calcular, identificar, medir e demonstrar

os seguintes indicadores: consumo de água por unidade de valor líquido

adicionado; contribuição para o aquecimento global por unidade de valor

líquido adicionado; consumo de energia por unidade de valor líquido

adicionado; dependência da depleção da camada de ozônio por unidade

de valor líquido adicionado; geração de resíduo por unidade de valor

líquido adicionado.

A listagem acima deve ser adaptada para atender a outras questões

ambientais provenientes de novos conhecimentos científicos e para atender a

particularidades de setores industriais (UNITED..., 2003a).

4.2.6 PER - Relatório Ambiental Público – Governo da Austrália

O Relatório Ambiental Público (Public Environmental Reporting-PER)

proposto pelo Governo da Austrália, é um instrumento voluntário que tem como

principais objetivos comunicar informações sobre o desempenho ambiental de

uma organização e promover a mudança de paradigma para transparência

Page 90: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

90

corporativa e contabilidade pública. Propõe um modelo para a elaboração de

relatório que se constitui num roteiro contendo oito etapas, conforme descrito

na Figura 11 (ENVIRONMENT AUSTRALIA, 2000).

ETAPA 1 Identificar as razões para fazer o PER, definir o escopo e abrangência PLANEJAR

ETAPA 2 Identificar as partes interessadas

ETAPA 3 Identificar os aspectos e impactos ambientais significativos

ETAPA 4 Desenvolver os indicadores de desempenho ambiental

ETAPA 5 Definir objetivos e metas MEDIR

ETAPA 6 Medir e avaliar

ETAPA 7 Eficácia para comunicação da informação RELATAR E REVISAR ETAPA 8 Publicar, distribuir, usar apropriadamente e revisar

Figura 11: Etapas para elaboração do Relatório Ambiental Público Fonte: Adaptado do Environment Austrália (2000)

A seleção dos indicadores de desempenho ambiental, Etapa 4, é

realizada com base nos levantamentos realizados nas Etapas 1, 2 e 3, em que

são identificadas, respectivamente, as principais motivações para publicação

do PER, as partes interessadas nas informações e os aspectos e impactos

ambientais significativos para a atividade da empresa. Para tanto, o guia

propõe o desenvolvimento e seleção de indicadores subdivididos em grupos,

com estrutura similar à proposta de indicadores de desempenho ambiental da

norma ISO 14031:

a) Indicador de Desempenho Operacional (IDO) para prover informações

sobre o desempenho ambiental da operação da organização;

b) Indicador de Desempenho Gerencial (IDG) para prover informações

da capacidade e do esforço da organização para gerir as questões que

influenciam no desempenho ambiental;

c) Indicador de Condição Ambiental (ICA) para descrever a qualidade do

meio ambiente incluindo ar, solo, água, flora/fauna/hábitat, o homem,

estética, herança e cultura. Contudo, estes indicadores só devem ser

Page 91: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

91

considerados se a organização julgar que existe uma interação

significativa com o meio ambiente (ENVIRONMENT AUSTRALIA, 2000).

Para medir e avaliar o desempenho ambiental, a partir da aplicação

dos indicadores (Etapa 6), é preciso estabelecer primeiramente os objetivos e

metas a serem alcançados (Etapa 5). Então, finalmente, os indicadores serão

uma ferramenta fundamental para avaliar a eficácia do relatório e revisá-lo

(Etapas 7 e 8), permitindo a comunicação da informação de forma clara e

objetiva, para que seja mais facilmente entendida por todas as partes

interessadas.

O modelo para a seleção dos indicadores de desempenho

ambiental, utilizado pelo PER, está mostrado na Figura 12, e segue a seguinte

hierarquia de informações: grupo (IDG, IDO e ICA), aspecto e indicador

(ENVIRONMENT AUSTRALIA, 2000).

GRUPO ASPECTOS INDICADOR

IDG

- Sistema: política de gestão ambiental e procedimentos, requisitos legais, reclamações, custos e benefícios ambientais, política da empresa e padrões. - Área administrativa (recursos humanos, comunicação, financeira): treinamento interno e conscientização, desempenho dos fornecedores, comunicação com partes interessadas, desempenho financeiro.

IDO

- Entradas: consumo de materiais, energia, água, recursos renováveis e não-renováveis; logística e serviços. - Saídas: emissão de resíduos para o ar, o solo e a água; desempenho dos produtos; logística e serviços.

ICA

- Condição do meio ambiente incluindo ar, solo, água, flora/fauna, hábitat, o homem, estética, herança e cultura.

Apresenta uma lista de indicadores

para os diversos

aspectos.

Figura 12: Matriz de indicadores de desempenho ambiental para Relatório Ambiental Público Fonte: Adaptado de Environment Australia (2000).

A proposta do PER recomenda, como um elemento que pode ser

abordado no relatório, a medida do desempenho do produto ou serviço

baseada na análise do ciclo de vida, no desenvolvimento do projeto do produto

ou serviço, visando atender o interesse das partes interessadas e a avaliação

Page 92: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

92

do impacto causado pelo resíduo de embalagem (ENVIRONMENT

AUSTRALIA, 2000). Na proposta são apresentadas justificativas para a seleção

dos indicadores, analisados os impactos ambientais que podem ser causados

ao meio ambiente pela atividade da empresa e é mostrada a importância de

serem definidos indicadores para os três grupos (Figura 12) e sugeridos

exemplos.

Para que o relatório alcance a eficácia da comunicação é

recomendada a adoção dos seguintes critérios para a divulgação das

informações: relevância para auxiliar na tomada de decisão das partes

interessadas, confiabilidade, compreensibilidade, imparcialidade, abrangência,

comparatividade interna e setorial, além de refletir o desempenho recente

definindo o período e a freqüência do relatório, envolvendo as partes

interessadas e permitindo verificação externa (ENVIRONMENT AUSTRALIA,

2000). Como as informações para o relatório são obtidas a partir das medidas

realizadas nas Etapas 3 a 6, pode-se considerar que estes também são

critérios que devem ser adotados para a seleção dos indicadores.

Esta iniciativa destaca o papel dos indicadores ambientais, quando

reportados de maneira adequada, facilitando a compreensão da empresa em

relação a questões como:

• tendência do desempenho ambiental, analisando uma série temporal de

indicadores;

• potencial para desenvolvimento, assim como oportunidades de mercado e

minimização de custo;

• potencial para atingir metas ambientais;

• prover dados para conscientização interna e motivação; e

• implementação de sistema de gestão ambiental (ENVIRONMENT

AUSTRALIA, 2000).

Na iniciativa do Governo da Austrália, observa-se uma grande

ênfase na importância da publicação de informações, como instrumento que

incentiva a participação efetiva das partes interessadas, estimulando o

Page 93: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

93

desempenho ambiental das organizações, e na utilização dos indicadores

ambientais como o meio de tornar públicas estas informações.

4.2.7 OCDE - Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

A última iniciativa a ser abordada é o programa da Organização de

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que propõe um conjunto

de indicadores ambientais para servir de ferramenta na tomada de decisões e

na avaliação do desempenho ambiental dos diferentes países, contribuindo

para reportar informações sobre o desenvolvimento sustentável

(ORGANIZAÇÃO..., 2002).

A Organização tem por objetivo promover políticas visando ao

desenvolvimento econômico e a progressão do nível de vida nos países

membros e nos países não membros em via de desenvolvimento, assim como

contribuir para o crescimento do comércio mundial (ORGANIZAÇÃO..., 2002).

A OCDE foi criada a partir da assinatura de uma convenção, em dezembro de

1960, em Paris, sendo atualmente composta por 30 países, participando

também dos trabalhos a Comissão da Comunidade Européia (CCE)

(ORGANIZATION..., 2003).

Esta iniciativa difere das demais, discutidas anteriormente, por

propor um conjunto de indicadores ambientais aplicados para avaliação de

desempenho ambiental de países, enquanto que as outras se aplicam a

organizações. Entretanto, considera-se importante conhecer a estrutura dos

indicadores ambientais da OCDE e os critérios utilizados para a identificação e

definição.

Os indicadores ambientais da OCDE evidenciam os elos entre

indicadores ambientais, desempenho ambiental e desenvolvimento sustentável

e foram elaborados a partir de uma série de trabalhos da Organização que

incluem indicadores socioeconômicos e setoriais, relevantes do ponto de vista

ambiental (ORGANIZAÇÃO..., 2002).

Page 94: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

94

A avaliação do desempenho ambiental dos países está também

associada ao desempenho ambiental das organizações que nele estão

instaladas e em operação, e desta forma esta é mais uma razão para conhecer

os indicadores ambientais da OCDE.

Para a GRI, o guia da OCDE fortalece a relação entre governos e

empresas multinacionais, estimulando a prática de responsabilidade

empresarial e desta forma aumenta a contribuição das empresas para o

desenvolvimento sustentável (GLOBAL..., 2003).

O Programa da Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (2002, p. 11) possui os seguintes objetivos: • acompanhar os progressos realizados em matéria de meio ambiente; • zelar para que seja considerada a variável ambiental quando da elaboração e da execução de políticas setoriais; • promover a integração da variável ambiental nas políticas econômicas, notadamente por meio do estabelecimento de uma variável ambiental.

Porém os indicadores ambientais da OCDE ultrapassam a avaliação

do desempenho ambiental e contribuem para um objetivo mais abrangente de

“relatar fatos sobre o desenvolvimento sustentável” (ORGANIZAÇÃO..., 2002,

p.12).

O conjunto dos indicadores ambientais da OCDE, representados na

Figura 13, é composto por:

a) corpo central, com cerca de 50 indicadores que têm como objetivo as

grandes preocupações ambientais dos países membros, e visa

acompanhar os progressos alcançados em escala internacional;

b) indicadores setoriais, com o objetivo de integrar a variável ambiental

nas políticas setoriais;

c) indicadores derivados da contabilidade ambiental, com o objetivo

integrar a variável ambiental nas políticas econômicas

(ORGANIZAÇÃO..., 2002).

Page 95: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

95

Figura 13: Indicadores Ambientais da OCDE Fonte: Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 2002, p.12.

O corpo central de indicadores foi elaborado em comum acordo com

os países membros da OCDE, sendo publicado regularmente para ser aplicado

em escala internacional. Os indicadores ambientais que fazem parte do corpo

central abordam os seguintes temas: mudanças climáticas, destruição da

camada de ozônio, resíduos, qualidade do ar, qualidade da água, recursos

hídricos, recursos florestais, recursos haliêuticos (estoque de peixes) e

biodiversidade. A seleção dos temas levou em conta a relevância do mesmo

para o desenvolvimento sustentável. Para cada tema foram selecionados

indicadores que permitam avaliar os desempenhos em relação aos objetivos

nacionais e aos engajamentos internacionais (ORGANIZAÇÃO..., 2002).

Os indicadores derivados da contabilidade ambiental, que têm como

objetivo integrar a variável ambiental nas políticas econômicas, são orientados

para a gestão sustentável dos recursos naturais e a proteção ambiental,

visando à avaliação dos recursos aplicados na intensidade de utilização dos

recursos naturais e na prevenção da poluição (ORGANIZAÇÃO..., 2002).

I N D I C A D O R E S A M B I E N T A I S D A O C D E

Indicadores para acompanhar os

progressos alcançados em matéria de meio

ambiente CORPO

CENTRAL DE INDICADORES AMBIENTAIS

Indicadores para integrar a variável

ambiental nas políticas setoriais

CONJUNTO DE INDICADORES

SETORIAIS

Indicadores para integrar a variável

ambiental nas políticas

econômicas

INDICADORES DERIVADOS DA

CONTABILIDADE AMBIENTAL

contribuir para o acompanhamento do progresso alcançado em matéria de desenvolvimento sustentável

examinar o desempenho ambiental

Page 96: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

96

A prevenção da poluição pode ser conseguida pela adoção de

práticas de Produção Limpa pelas empresas, contribuindo para a melhoria do

seu desempenho ambiental e, conseqüentemente, para o desenvolvimento

sustentável da região onde está localizada. É esperada também melhoria no

desempenho ambiental de setores industriais, trazendo efeitos positivos sobre

o desempenho regional e nacional, contribuindo para a avaliação do país pelos

critérios utilizados pela OCDE.

4.3 Análise comparativa das iniciativas

As iniciativas analisadas propõem modelos diferentes entre si.

Algumas são direcionadas para a publicação de relatórios; algumas são

focadas nos três elementos da sustentabilidade (ambiental, econômico e

social), e outras se restringem a avaliar apenas um ou dois desses elementos;

algumas se limitam a orientar as empresas no processo de seleção de

indicadores, outras propõem um instrumento ou padrão pré-determinado a ser

adotado.

Entretanto, todas apresentam proposta de indicadores para

avaliação de desempenho ambiental, ainda que para atingir diferentes

objetivos: gestão ambiental das empresas; Produção Sustentável; publicação

de relatório de sustentabilidade empresarial e relatório público ambiental;

medida da Ecoeficiência, busca do desenvolvimento sustentável (Figura 14).

Page 97: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

97

INICIATIVAS OBJETIVO DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ISO 14031 Auxiliar na gestão ambiental das empresas, avaliando o

seu estágio em relação ao desempenho ambiental.

LCSP Medir desempenho de organizações a partir de Indicadores de Produção Sustentável.

GRI Indicadores de desempenho ambiental, econômico e social para uso em relatório de sustentabilidade empresarial

WBCSD Medir Ecoeficiência para monitorar o desempenho ambiental das organizações.

UNCTAD Medir Ecoeficiência para prover informações sobre o desempenho ambiental de organizações.

PER Indicadores de desempenho ambiental para uso em relatório público ambiental.

OCDE Indicadores de desempenho ambiental para acompanhar o progresso alcançado pelos paises em relação ao desenvolvimento sustentável.

Figura 14: Objetivo da avaliação de desempenho das iniciativas: ISO 14031, LCSP, GRI, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE. Fonte: Elaborado a partir de International ... (1999), Veleva e Ellenbecker (2001), Global...(2002), World...(2003), UNITED... (2003a), Environment Australia (2000), Organização…(2002).

Em função do seu objetivo as iniciativas apresentam diferentes

critérios para definição dos indicadores ou relatórios, conforme relacionados na

figura Figura 15. A partir deste levantamento serão selecionados os critérios a

serem adotados para a elaboração da proposta de Indicadores de Produção

Limpa que será apresentada no próximo capítulo.

Page 98: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

98

Figura 15: Critérios para definição de indicadores das iniciativas ISO 14031, LCSP, WBCSD, UNCTAD e OCDE, e para elaboração de relatório da GRI e PER. Fonte: Elaborado a partir de International ... (1999), Veleva e Ellenbecker (2001), Global...(2002), World...(2003), UNITED... (2003a), Environment Australia (2000), Organização…(2002).

CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE INDICADORES E RELATÓRIOS ISO 14031 – PARA INDICADORES LCSP – PARA INDICADORES

•Consistente com a política da empresa; •Apropriado para o gerenciamento; •Úteis para medição do desempenho; •Relevante; •Compreensível pela partes interessadas; •Verificável e comparável; •Representativos do desempenho ambiental; •Mensuráveis e sensíveis a mudanças; •Capazes de fornecer informações sobre

tendências atuais e futuras; •Escolhidos a partir de dados disponíveis na

organização ou outros dados; •Associados com aspectos ambientais;

significativos que podem ser controlados; • Considerada a visão das partes interessadas.

• Permitir avaliar a Produção Sustentável (PS); • Baseado em dados disponíveis e confiáveis; • Verificável; • Capaz de identificar aspectos da PS associados às

atividades; • Fáceis de aplicar e avaliar; • Significativos e sensíveis a mudanças; • Permitir comparação entre organizações; • Indicar questões globais; • Consistente com indicadores de sustentabilidade

nacional; • Desenvolvido através de processo que estimule a

participação de partes interessadas; • Iniciado com indicadores simples e aumentar o nível

progressivamente. WBCSD – PARA INDICADORES UNCTAD – PARA INDICADORES

• Relevante e significativo em relação à proteção do meio ambiente e a saúde humana;

• Reconhecer os diferentes tipos de negócios; • Apropriados para benchmarking e monitoramento; • Claramente definido, mensurável, transparente e

verificável; • Compreensível e significativo para as partes

interessadas; • Baseado na avaliação da operação da companhia

produtos e serviços; •Reconhecer as questões relevantes e significativas

dos aspectos relacionados às atividades da empresa.

•Compreensível; •Relevante e significativo; •Confiável; •Comparável, para identificar tendência no

desempenho, interno e externo; •Permitir a aplicação progressiva do guia; •Selecionado mediante consulta às partes

interessadas.

OCDE - PARA INDICADORES •Pertinência política e de utilidade:

- representativo; - fácil de interpretar e prever tendências; - refletir alterações; - servir de referência às comparações

internacionais; - ter amplitude nacional ou ser representativo

de problemas ambientais regionais revestidos de interesse nacional;

- reportar-se a um valor limite ou de referência.

•Exatidão de análise: - fundamentado em bases teóricas; - baseado em normas internacionais e em um

consenso quanto à sua validade; - relacionado a modelos.

•Mensurabilidade: - acessíveis em uma relação custo benefício; - baseado em documentação adequada e de qualidade reconhecida;

- atualizados a intervalos regulares. GRI - PARA RELATÓRIO PER - PARA RELATÓRIO

•Objetivo e transparente; •Incluir as partes interessadas; •Auditável; •Abrangente; •Relevante; •Abordar o contexto da sustentabilidade; •Preciso e imparcial; •Comparável; •Regular.

• Consistente com a política ambiental e os requisitos corporativos;

• Requerido pelas partes interessadas; • Incluir os aspectos ambientais significativos; • Atender aos requisitos legais; • Atender códigos, padrões e melhores práticas de

gestão; • Atender aos resultados de revisões e auditorias; • Atender a requisitos e acordos setoriais; •Refletir a interação entre a atividade da empresa e o

meio ambiente.

Page 99: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

99

Para comparação das sete iniciativas, selecionadas e discutidas na

seção 4.2, foram consolidadas algumas informações (Figura 16) consideradas

relevantes para este trabalho, para os itens relacionados a seguir:

1. Abordagem: relação dos elementos da sustentabilidade (ambiental,

econômica e social) abordados pela iniciativa para definição dos

indicadores;

2. Classificação dos indicadores: levantamento dos tipos de indicadores

utilizados por cada iniciativa;

3. Características dos indicadores: identificação das características

quanto ao tipo de medida do indicador.

Page 100: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

100

INICIATIVAS ISO 14031 LCSP GRI WBCSD UNCTAD PER OCDE

ABORDAGEM • Ambiental • Ambiental • Econômico • Social

• Ambiental • Econômico • Social

• Ambiental • Econômico

• Ambiental • Econômico

• Ambiental

• Ambiental

CLASSIFICA-

ÇÃO DOS INDICADORES

• IDA-indicador de desempenho ambiental:

- IDG-indicador de desempenho gerencial; - IDO-indicador de desempenho operacional.

ICA-indicador de condição ambiental.

• Indicadores de produção sustentável (IPS):

- principais: mais gerais,podem ser utilizados por várias empresas - complementares: específicos para cada empresa.

• Indicadores de desempenho:

- centrais e adicionais: ambientais, econômicos e sociais -integrados: sistêmicos e

transversais

• Indicador de eco-eficiência:

- geral - específico para cada organização.

• Indicador de eco-eficiência: - geral - específico para cada setor

• Indicador de desempenho ambiental:

-Indicador de desempenho operacional-IDO - Indicador de desempenho gerencial-IDG; - Indicador de condição ambiental-ICA.

• Indicadores ambientais:

- Corpo central - Indicadores setoriais - indicadores derivados da contabilidade ambiental

CARACTE-RÍSTICAS

DO INDICADOR

• Qualitativos e quantitativos • Medição direta ou cálculo • Medição relativa ou cálculo • Indexada • Agregada • Ponderada

• Qualitativos e quantitativos • Possuir unidade de medida• Medida absoluta ou relativa Abrangência, limite a ser obtido com a medida.

• Qualitativos e quantitativos • Medida absoluta • Medida relativa

• Quantitativo: valor medido em unidade física ou monetária • Medida relativa

• Quantitativo: valor medido em unidade física ou monetária. • Medida relativa: medido, calculado, estimado, empírico, valor de referência, fator de conversão

• Quantitativos • Medida absoluta • Medida relativa

• Quantitativo Coleta de dados bienal, obtidos

por meio de questionário

preenchido pelos países membros, fontes internas da

OCDE e outras internacionais.

Figura 16: Abordagem dos indicadores de desempenho ambiental nas iniciativas ISO 14031, LCSP, GRI, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE Fonte: Elaborado a partir de International... (1999), Veleva e Ellenbecker (2001), Global... (2002), World... (2003), UNITED... (2003a), Environment Australia (2000),

Organização…(2002).

Page 101: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

101

Comparando as iniciativas a partir dos itens relacionados na Figura

16 observa-se que: a) Todas as iniciativas abordam a componente ambiental, quatro

(WBCSD, UNCTAD, LCSP e GRI) abordam as questões econômicas e

apenas duas (LCSP e GRI) tratam da variável social.

b) Seis iniciativas, GRI, LCSP, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE, têm

como requisito comum a publicação de relatório para comunicar às

partes interessadas o desempenho das organizações, cujo objetivo

encontra-se relacionado na Figura 14.

c) Todas as iniciativas são de caráter voluntário, ou seja, a decisão em

adotar qualquer das iniciativas vai depender da estratégia da

organização.

d) Seis iniciativas, ISO 14031, LCSD, GRI, WBCSD, UNCTAD e PER, são

aplicáveis para avaliação do desempenho ambiental de organizações e

a da OCDE se aplica a avaliação do desempenho ambiental dos países

membros da Organização.

e) Três iniciativas propõem indicadores qualitativos e quantitativos,

ISO14031, LCSP e GRI, as demais, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE,

só quantitativos.

f) Todas as iniciativas propõem a utilização de indicadores gerais, que

podem ser aplicados a vários tipos de empresas de diversos setores e

portes, e indicadores específicos, que devem ser identificados para

cada empresa ou setor industrial, em função do seu tipo de atividade.

Os indicadores gerais permitem estabelecer comparações

(benchmarking) para aspectos ambientais associados a diversos tipos

de atividades, como por exemplo, consumo de água e energia, e desta

forma permitem avaliar impactos locais, regionais e nacionais. Os

indicadores setoriais permitem avaliar especificidades dos diferentes

seguimentos industriais (petroquímico, siderúrgico, automobilístico,

etc.), fornecendo informações sobre o desempenho ambiental de

empresas do mesmo setor, estimulando a competitividade e o

estabelecimento de benchmarking. Em ambos os casos, o

estabelecimento de benchmarking é fundamental para que seja

alcançado o desenvolvimento sustentável.

Page 102: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

102

A Figura 17 apresenta as comparações realizadas nos itens a a f, ressaltando os pontos comuns e as diferentes abordagens das sete iniciativas

aqui analisadas. Cada lado do heptágono representa uma iniciativa e as cores

identificam os pontos comuns e as diferenças identificadas.

Figura 17: Comparação das iniciativas: ISO 14031, LCSP, GRI, WBCSD,

UNCTAD, PER e OCDE.

PONTOS EM COMUM

DIFERENÇAS DE ABORDAGENS

Page 103: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

103

Na Figura 18 foram relacionas as estruturas utilizadas para definição

dos indicadores para cada iniciativa. Os níveis de organização apresentam

alguns pontos em comum na sua estrutura, algumas vezes, com a mesma

nomenclatura. A proposta do LCSP apresenta um nível a mais que as demais

iniciativas. Em relação a definição de indicador, observa-se que não existem

diferenças significativas. Apenas três iniciativas, LCSP, WBCSD e OCDE

sugerem unidade de medida a serem adotadas pelos indicadores.

O levantamento do modelo utilizado tem como objetivo orientar a

estrutura a ser adotada na proposta dos Indicadores de Produção Limpa.

Page 104: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

104

ESTRUTURA PARA DEFINIÇÃO DOS INDICADORES

ISO 14031 LCSP GRI WBCSD UNCTAD PER OCDE

CATEGORIA: Áreas de influência ambiental: gerencial, operacional e de condições do meio ambiente.

ASPECTO: Principais aspectos associadas ao conceito de PS.

CATEGORIA: Áreas, ou agrupamentos de aspectos ambientais, sociais e econômicos que afetam as partes interessadas.

CATEGORIA: Grandes áreas de influência ambiental ou valor dos negócios.

ELEMENTO: Áreas ou grupos de questões econômicas e/ou ambientais que afetam as partes interessadas.

GRUPO: Áreas de influência ambiental: gerencial, operacional e de condições do meio ambiente.

PRINCÍPIOS: Princípios do desenvolvimento sustentável.

PRINCÍPIO: Princípios a serem atendidos pelos indicadores, associados aos aspectos da PS.

ASPECTO: Elementos da atividade, produto ou serviço, associados a cada categoria, que pode interagir com o meio ambiente.

OBJETIVO: Definição do que deve ser medido.

ASPECTO: Elementos relacionados a uma categoria específica.

ASPECTO: Informação relacionada a uma categoria específica, que define o que deve ser medido.

ITEM: Informação relacionada a um elemento específico.

ASPECTO: Elementos da atividade, produto ou serviço, associados a cada categoria, que pode interagir com o meio ambiente.

TEMAS: Relevantes para o desenvolvimento sustentável.

INDICADOR: Expressão que fornece informação relacionada ao aspecto, conforme a sua categoria.

INDICADOR: Variável que representa um atributo do sistema operacional.

INDICADOR: Cálculos específicos de um aspecto individual utilizados para demonstrar desempenho.

INDICADOR: Medidas específicas de um aspecto individual para rastrear e demonstrar desempenho.

INDICADOR: Medida específica do item, para rastrear e demonstrar desempenho, relacionado ao elemento.

INDICADOR: Medida que reduz a expressão dos dados, demonstrando um significado de tendências.

INDICADOR: Medida do tema em relação aos objetivos nacionais e aos engajamentos internacionais.

----- UNIDADE DE MEDIDA

-----

UNIDADE DE MEDIDA

----- ----- UNIDADE DE MEDIDA

Figura 18: Estrutura para definição dos indicadores das iniciativas ISO 14031, LCSP, GRI, WBCSD, UNCTAD, PER, OCDE. Fonte: Elaborado a partir de International ... (1999), Veleva e Ellenbecker (2001), Global... (2002), World...(2003), UNITED... (2003a), Environment

Australia (2000), Organização…(2002).

Page 105: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

105

A seguir faz-se uma análise observando-se os objetivos das

iniciativas e a sua relação com a origem da instituição proponentes.

Os indicadores de desempenho ambiental propostos pela norma ISO

14031 visam medir o desempenho ambiental dentro do próprio negócio, pois

esta medida está diretamente associada ao que foi estabelecido pela empresa

nos objetivos e metas do SGA implantado. Desta maneira, os IDGs propostos

pela ISO 14031 que objetivam medir o esforço da organização para a melhoria

do seu desempenho ambiental, quando utilizados como suporte à implantação

da ISO 14001, podem atender às necessidades de auditorias de certificação, o

que não significa que as informações apresentadas demonstrem o

compromisso da empresa com o desenvolvimento sustentável. Da mesma

forma, os exemplos de IDO, ainda que demonstrem uma preocupação com a

medida do consumo dos recursos e da geração de emissões, estarão também

buscando atender aos requisitos estabelecidos pela empresa, o que pode não

ser suficiente para atender as necessidades de suporte do ecossistema da

região onde a empresa está instalada. O mesmo pode ser dito para os ICAs,

em que são sugeridos exemplos para medir a condição do meio ambiente,

porém as ações da empresa são tomadas em relação a requisitos por ela

estabelecidos.

Sendo a ISO uma associação para normalização que representa

prioritariamente os interesses do setor produtivo, é de se esperar propostas

mais conservadoras, em que a busca pela melhoria do desempenho ambiental

se dá de forma gradativa. Isto se explica pelo receio das empresas em relação

a necessidade de realização de investimentos na área ambiental, algumas

vezes com alto custo benefício do ponto de vista econômico. Entretanto, em

função da ampla inserção internacional da ISO, a importância da gestão

ambiental foi bastante difundida, fazendo com que empresas de menor porte

passassem a se preocupar com a sua gestão ambiental, mesmo sem

submeter-se ao processo de certificação.

Krut e Gleckman (1998) observam que a ISO, enquanto uma

organização que congrega associações de padronização de diversos países,

Page 106: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

106

foi criada para facilitar o comércio internacional pela padronização de

especificações técnicas. Desta forma, até recentemente, o público em geral

não tinha nenhum interesse na ISO. Entretanto, a partir da criação da ISO

14001 isto muda, pois esta envolve a padronização de normas de interesse

público e conseqüências ambientais. No entanto, a ISO 14001 foi desenvolvida

utilizando os mesmo procedimentos, trabalhando com organismos nacionais de

normalização e seus representantes industriais, limitando o envolvimento de

outras partes interessadas.

Os indicadores ambientais propostos pelo LCSP, baseados no

conceito de Produção Sustentável, ao ser adotado por empresas para

avaliação do seu desempenho ambiental, garantirão um maior compromisso

com as condições locais e regionais dos ecossistemas, que podem ser

afetados direta ou indiretamente pelas atividades da empresa e pela

distribuição dos seus produtos ou serviços. Isto ocorre em função do tipo de

análise, sugerida pelo LCSP, para avaliar o resultado da empresa com base

nas informações obtidas por meio dos indicadores (ver exemplo da página 80),

que reforça a importância da preocupação com a capacidade de suporte do

ecossistema onde a empresa está localizada.

Sendo o LCSP vinculado a uma instituição de ensino e pesquisa,

que agrega organizações não-governamentais e agências governamentais, é

de se esperar que esta iniciativa proponha desafios ao setor produtivo, para

incentivar a quebra de paradigmas, como a visão de que a geração de resíduos

é inerente aos processos produtivos.

Quanto aos indicadores ambientais propostos pela GRI é claramente

demonstrado o compromisso com o desenvolvimento sustentável, pois esta é a

missão da instituição. A GRI trabalha em uma ampla parceria com diversas

partes interessadas em todo o mundo para o aprimoramento da proposta de

Relatório de Sustentabilidade. Desde 1999, quando da apresentação da

primeira proposta, ainda no formato de rascunho, vêm sendo realizadas

revisões, com intensa participação das diversas partes interessadas em todo o

Page 107: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

107

mundo, o que demonstra o reconhecimento da GRI pelo Princípio do Controle

Democrático na elaboração do modelo proposto.

Os indicadores de Ecoeficiência, propostos pela WBCSD e pela

UNCTAD, por definição, são focados no desempenho ambiental em relação ao

desempenho econômico. O WBCSD é uma associação empresarial, que tem

como missão estimular o desenvolvimento sustentável, entretanto, representa

os interesses do setor produtivo e desta forma é de se esperar que haja uma

forte preocupação com a questão econômica. Da mesma maneira, a UNCTAD,

por ser voltada para questões de inter-relações de comércio internacional,

também, apresenta uma forte preocupação com a vertente econômica, o que

justifica a proposta de indicadores de Ecoeficiência.

A proposta de Relatório Ambiental Público do Governo da Austrália,

apesar de ser uma iniciativa voluntária, constitui-se em um importante

instrumento para estimular as empresas à abertura de informações ambientais

para a comunidade. Entretanto, o PER possui as mesmas limitações da ISO

14031, pois no planejamento do relatório (Figura 11 - Etapa 1), a empresa é

que define o escopo e abrangência, o que não significa garantia para

atendimento ao desenvolvimento sustentável.

No Brasil acredita-se que os indicadores ambientais, uma vez

propostos pelo próprio governo, sejam uma excelente ferramenta de trabalho

para técnicos de agências ambientais, nas diversas atividades desenvolvidas

pelo órgão (licenciamento, fiscalização, avaliação de impactos). Estes também

poderão ser de grande valia para o Ministério Público, quando existir a

necessidade de monitorar áreas afetadas por problemas ambientais, e que

estejam sendo motivo de processos judiciais.

Os critérios para seleção de indicadores da OCDE foram

considerados para a proposição dos critérios para a matriz de PL. Entretanto,

os tipos de indicadores utilizados pela OCDE, voltados para a avaliação de

desempenho ambiental de países, não se aplicam diretamente a empresas,

pois são relacionados a número de habitantes, unidade de Produto Interno

Page 108: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

108

Bruto (PIB), cursos de água, etc. Por exemplo: quantidades totais de resíduos

produzidos por setor de origem e as intensidades de produção expressa por

habitante e por unidade de PIB; qualidade de um determinado número de

cursos d’água; quantidade de emissões de SOX e NOX por unidade de PIB

(ORGANIZAÇÃO..., 2002).

Percebe-se, a partir da análise realizada, que a origem da instituição

influencia no tipo, e conseqüentemente, na abrangência da proposta de

indicadores para avaliação de desempenho ambiental de organizações. As

propostas apresentadas pelas instituições acadêmicas e de pesquisa (LCSP) e

por instituição independente com participação de múltiplas partes interessadas

(GRI) apresentam propostas de indicadores de desempenho ambiental

capazes de conduzir as empresas mais rapidamente no caminho do

desenvolvimento sustentável.

4.4 Análise das iniciativas à luz do conceito de Produção Limpa

Analisando as iniciativas à luz do conceito de Produção Limpa,

observa-se que nem todos os princípios do conceito de PL são atendidos por

todas as iniciativas. Na Figura 19 apresenta-se a indicação dos princípios

atendidos por cada uma delas, de acordo com a análise realizada.

PRINCÍPIOS DA PRODUÇÃO LIMPA INICIATIVAS PREVENÇÃO PRECAUÇÃO CONTROLE

DEMOCRÁTICO INTEGRAÇÃO

ISO 14031 X - - X LCSP X - X X GRI X - X X WBCSD X - X - UNCTAD X - X - PER X - X X OCDE X - X - Legenda: X : princípio abordado pela iniciativa

- : princípio não-abordado pela iniciativa

Figura 19: Princípios da PL atendidos pelas iniciativas analisadas.

Page 109: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

109

O Princípio da Prevenção, que aborda questões relacionadas ao

uso eficiente de materiais, energia, uso da terra e da biodiversidade, prevenção

da geração de resíduos na fonte e substituição de produtos tóxicos é atendido

por todas as iniciativas, como descrito a seguir:

a) Na ISO 14031 e na proposta do PER, este princípio está contemplado

na abordagem dos aspectos ambientais considerados para as duas

categorias de Indicador de Desempenho Ambiental (IDA) e Indicador de

Condição Ambiental (ICA);

b) Na proposta do LCSP o Princípio da Prevenção é atendido, para os

indicadores desenvolvidos com base nos princípios 1, 2 e 3, listados na

Figura 6 (página 78). Estes, são associados aos seis principais

aspectos da Produção Sustentável, e tratam respectivamente da

conservação de energia e materiais; eliminação e redução do uso de

resíduos e produtos ecologicamente incorretos e dos agentes químicos

ou físicos que representam qualquer tipo de risco ao meio ambiente;

c) Nos aspectos ambientais considerados para a elaboração dos

indicadores de desempenho ambiental do guia da GRI (indicadores

centrais e adicionais);

d) Nos aspectos ambientais abordados pelo WBCSD, para a elaboração

dos indicadores de Ecoeficiência, nas categorias que tratam da

influência ambiental durante a atividade de produção do produto ou

prestação do serviço e do produto ou serviço durante o seu uso;

e) Nas cinco questões ambientais consideradas como prioritárias para a

elaboração dos indicadores de Ecoeficiência da UNCTAD; e

f) No conjunto de indicadores ambientais da OCDE a abordagem da

prevenção é atendida pelos indicadores derivados da contabilidade

ambiental, que são orientados para a gestão sustentável dos recursos

naturais e a proteção ambiental.

O Princípio da Precaução, apesar de considerado na legislação de

vários países, inclusive no Brasil, e considerado como um indutor da melhoria

do desempenho ambiental das instituições, não é contemplado em nenhuma

das iniciativas analisadas. Entretanto, serão propostos indicadores para

Page 110: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

110

verificar o atendimento à abordagem precaucionária por ser um dos princípios

que fundamentam o conceito de PL.

As iniciativas do LCSP, GRI, WBCSD, UNCTAD, PER e OCDE, por

terem como um dos objetivos a divulgação de informações para comunicação

com as partes interessadas, estão garantido o direito de acesso público à

informação, ou seja o atendimento ao Princípio do Controle Democrático.

A ISO 14031, cujo objetivo é dar suporte a certificação de SGA pela

norma ISO 14001, não tem como requisito a divulgação pública de

informações, entretanto, refere-se a importância dos indicadores como ponto

forte de comunicação com as partes interessadas e importante para auxiliar na

tomada de decisão. Associado a isto, a ISO 14001 tem como um dos seus

requisitos a comunicação com as partes interessadas (internas e externas), o

que, de acordo com a norma, pode ser demonstrado, apenas com a realização

de auditorias internas e de certificação. Porém, a depender da estratégia da

empresa, o atendimento a este requisito pode ser demonstrado, de forma mais

efetiva, se os seus indicadores de desempenho ambiental forem

disponibilizados para o público, permitindo uma maior participação das partes

interessadas e desta forma contemplar o Princípio do Controle Democrático.

O Princípio da Integração, que prevê a abordagem do ciclo de

vida, é considerado para a seleção dos indicadores nas seguintes iniciativas:

a) Na ISO 14031, quando recomenda que seja adotada a abordagem de

ciclo de vida do produto/serviço como critério para seleção dos

indicadores;

b) No nono princípio da Produção Sustentável, adotado pelo LCSP, que se

refere a necessidade de projetar produtos/serviços e embalagens de

forma segura e ambientalmente correta ao longo do seu ciclo de vida;

c) Na iniciativa da GRI para atender aos aspectos ambientais associados

aos produtos e serviços; e

d) Na proposta do PER, quando recomenda a medida do desempenho

ambiental do produto/serviço, considerando o impacto ambiental

causado ao longo do ciclo de vida, no desenvolvimento do projeto

Page 111: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

111

voltado para o interesse das partes interessadas e na avaliação do

impacto ambiental do resíduo de embalagem.

Com base na análise realizada, observa-se que, apesar dos

diferentes objetivos de cada iniciativa, é possível compará-las com os

princípios da Produção Limpa. Verifica-se que, com exceção do Princípio da

Precaução, os demais princípios estão contemplados nos pré-requisitos para a

elaboração dos indicadores.

A proposta de indicadores do LCSP, elaborada com base no

atendimento aos princípios da Produção Sustentável, atende a três princípios

da Produção Limpa, e os indicadores propostos estão diretamente relacionados

com a busca do desenvolvimento sustentável, demonstrando um forte

compromisso com as condições dos ecossistemas que podem ser afetados

direta ou indiretamente pelas atividades da empresa e pela distribuição dos

seus produtos ou serviços.

Desta forma a proposta do LCSP será tomada como ponto de

partida para a elaboração dos Indicadores de Produção Limpa (IPL) para

análise de relatórios ambientais, objetivo principal deste trabalho, por

considerar-se que estes têm um importante papel para comunicar publicamente

as informações que demonstrem o desempenho ambiental das organizações,

com base no conceito de PL, conforme será discutido no capítulo seguinte.

Page 112: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

112

5. PROPOSTA DE INDICADORES DE PRODUÇÃO LIMPA (IPL)

Neste capítulo é apresentada a proposta de Indicadores de

Produção Limpa (IPL) elaborada para avaliação de relatórios ambientais de

empresas.

Inicialmente discute-se o papel dos IPLs como instrumento para

auxiliar as empresas a reportar as informações ambientais nos relatórios. Em

seguida é descrita a metodologia utilizada para construção da matriz de IPL.

Apresenta-se também o resultado do teste piloto de aderência de

casos reais à proposta de Indicadores de Produção Limpa, e analisa-se as

limitações e barreiras encontradas pelas empresas para o atendimento aos

indicadores propostos.

5.1 O papel do Indicador de Produção Limpa no relatório ambiental de empresas

Discutiu-se nos capítulos anteriores a importância da avaliação do

desempenho ambiental das organizações, que pode ser realizado com base

em diferentes conceitos, e incorporado à sua estratégia empresarial, refletindo

diretamente na elaboração da sua política, seus objetivos e metas ambientais.

No Capítulo 3, constatou-se a crescente demanda das partes

interessadas por empresas que adotam transparência como estratégia

empresarial. Cada vez mais são exigidas informações sobre o desempenho

das organizações, e para esta comunicação a publicação de relatórios públicos

tem sido um instrumento eficaz. Os indicadores têm sido utilizados para

reportar as informações nos relatórios e checar o cumprimento dos conceitos e

princípios adotados pelas empresas para avaliação do seu desempenho,

Figura 20.

Page 113: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

113

Figura 20: O papel do indicador

A escolha do indicador deve ser realizada considerando os critérios

de seleção estabelecidos para o conceito adotado pela empresa para avaliar o

seu desempenho, de forma que o mesmo reflita fielmente os princípios que o

fundamentam e forneça resultados confiáveis que possam atender as

demandas de todas as partes interessadas.

A Figura 21 demonstra que os indicadores de Produção Limpa

podem ser utilizados para reportar as informações ambientais, que são parte

integrante do relatório de sustentabilidade das empresas. Este, por sua vez,

deve ser mais abrangente e abordar as outras dimensões relativas ao

desempenho econômico e social das organizações.

Figura 21: Relação entre indicador de Produção Limpa e Relatório de

Sustentabilidade

Os indicadores de produção limpa estão associados a questões

ambientais da empresa, que atendam aos princípios que fundamentam o

conceito de Produção Limpa, descrito no Capítulo 2: Princípio da Precaução,

Princípio da Prevenção, Principio do Controle Democrático e Princípio da

Integração. Para tanto devem ser estabelecidos critérios para a sua seleção.

O PAPEL DO

INDICADOR

AVALIAR APLICAÇÃO

DOS CONCEITOS

REPORTAR

INFORMAÇÕES EM RELATORIOS

RELATÓRIO DE

SUSTENTABILIDADE

Page 114: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

114

5.2 Metodologia para construção da proposta de IPL

Para a construção da proposta de indicadores, para avaliação de

relatórios ambientais, inicialmente foi definido o referencial teórico a partir do

qual foram estabelecidos os critérios para seleção dos indicadores.

Foram analisados os conceitos de Ecoeficiência, Produção Mais

Limpa, Ecologia Industrial e Produção Limpa. O conceito de PL foi escolhido

para a elaboração da proposta de indicadores, por ser considerado mais

adequado para avaliação de informações ambientais que são disponibilizadas

às partes interessadas pelas empresas.

Como o objetivo da proposta de IPL é avaliar relatórios ambientais,

discutiu-se a importância deste instrumento de comunicação com a sociedade

e definiu-se o conceito de indicador e o papel do mesmo como ferramenta de

medida, avaliação e divulgação de informações.

Para subsidiar a definição dos indicadores, para atender aos quatro

princípios da PL, foram selecionadas e analisadas sete iniciativas que propõem

o uso de indicadores para avaliação de desempenho ambiental. Esta análise foi

fundamental para conhecer os critérios utilizados, por cada iniciativa, para a

seleção dos indicadores, ou para elaboração do relatório (Figura 15), e como

estas são estruturadas. Desta avaliação foram extraídos os critérios para a

seleção dos IPLs e o modelo para estruturação da matriz.

Os critérios considerados relevantes na escolha dos indicadores,

comuns às diversas iniciativas e adequados à definição dos IPLs encontram-

se apresentados a seguir. Os indicadores devem ser

a) Consistentes com o objetivo da proposta;

b) Relevantes e significativos;

c) Objetivos e fáceis de serem aplicados e entendidos;

d) Permitirem comparação interna e entre outras empresas ou setores

produtivos (benchmarking);

Page 115: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

115

e) Mensuráveis, transparentes e verificáveis;

f) Capazes de fornecer informações sobre tendências atuais e futuras; e

g) Significativos para as partes interessadas, estimulando a participação

destas na definição e avaliação dos indicadores.

Para a construção da matriz foi mantida a mesma estrutura geral

utilizada pelas iniciativas avaliadas neste trabalho. A estrutura para os IPLs,

segue uma hierarquia de categoria, aspecto e indicador, agrupados para cada

princípio da Produção Limpa: Prevenção, Precaução, Controle Democrático e

Integração. Para os indicadores quantitativos foram definidas unidades de

medida . Na Figura 22 encontra-se apresentada a estrutura e a definição para

cada nível hierárquico.

PRINCÍPIOS PL

CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE DE

MEDIDA Prevenção

Precaução

Controle Democrático

Integração

O que deve ser demonstrado pelo indicador, na área ambiental, para atender ao objetivo de cada princípio da PL.

Elemento do processo, produto ou serviço, que pode interagir com o meio ambiente, relacionado com a categoria específica.

Medida específica de um aspecto para rastrear e demonstrar o atendimento ao princípio.

Unidades do sistema métrico (ex.: kg, t, m, KWh e outras)

Figura 22: Estrutura da matriz de IPL

Analisou-se também, os indicadores propostos por cada iniciativa à

luz do conceito de PL, e selecionou-se os 22 indicadores principais da iniciativa

da LCSP para serem utilizados como ponto de partida para a definição dos

IPLs. A partir desta lista foram inseridos novos indicadores, selecionados das

demais propostas, e considerados importantes para complementar as

informações necessárias ao atendimento aos quatro princípios da PL; e outros

não foram considerados por estarem associados a aspectos econômicos e

sociais, que fogem ao objetivo deste trabalho. Alguns indicadores foram

desmembrados para facilitar a análise dos relatórios ambientais.

Page 116: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

116

Indicadores que na matriz do LCSP estão associados ao aspecto

econômico da Produção Sustentável foram considerados como indicadores que

demonstram o atendimento ao Princípio do Controle Democrático. Na relação

dos indicadores da LCSP não foram identificados indicadores associados ao

Princípio da Precaução, sendo levado em consideração para a sua seleção a

definição do princípio, vinculada ao conceito de PL, e as referências

pesquisadas e discutidas na seção 2.4.1.

A matriz proposta contém indicadores gerais distribuídos nos quatro

princípios da PL, que podem ser aplicados a diversos tipos de empresas de

diferentes setores.

Após elaborada a primeira versão da proposta de IPL foi realizado

um seminário para colher opiniões de especialistas da área ambiental, de

universidades e empresas do setor industrial, sobre a proposta de indicadores.

Durante o seminário, realizado na Escola Politécnica da UFBA, com duração

de 3 horas, foi apresentada a base conceitual que norteou o desenvolvimento

do trabalho e a proposta de IPL; sendo esta revisada, considerando as

contribuições obtidas a partir da discussão com os participantes, cuja relação dos

nomes e instituições as quais estão vinculados encontra-se no APÊNDICE B.

5.3 Proposta de Indicadores de Produção Limpa (IPL)

A proposta de IPL está apresentada na Figura 23. Estão listados os

indicadores para atenderem a cada princípio da Produção Limpa, conforme

definido na metodologia. Foram definidos 51 indicadores assim distribuídos:

a) Princípio da Prevenção, 19 indicadores para atender a três categorias;

b) Princípio da Precaução, seis indicadores para atender a uma categoria;

c) Princípio do Controle Democrático, 20 indicadores para atender a duas

categorias;

d) Princípio da Integração, seis indicadores para atender a uma categoria.

Page 117: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

117

Os indicadores qualitativos estão identificados na coluna unidade da

Figura 23 com a palavra “qualitativo” Neste caso, as informações são

apresentadas de forma descritiva, e também devem obedecer a critérios que

sejam representativos e confiáveis. Deve-se procurar manter comparativos com

anos anteriores, no sentido de demonstrar tendências que permitam avaliar o

desempenho ambiental.

Para os indicadores quantitativos é recomendável incluir, para cada

parâmetro, explicações sobre a sua importância para o acompanhamento do

desempenho ambiental, o detalhamento dos meios e ações utilizadas para

melhoria do desempenho e cumprimento de metas estabelecidas, e outras

informações que julgar pertinente para maior transparência e compreensão

pelas partes interessadas.

Quando a empresa possuir mais de uma unidade operacional, as

informações para cada indicador devem ser apresentadas separadamente,

mesmo que o processo e o produto sejam iguais, pois a localização geográfica

deve ser considerada em função da diversidade das condições de

sustentabilidade ambiental da região onde a empresa está operando.

As unidades de medida propostas para os indicadores quantitativos

foram selecionadas a partir do estudo das iniciativas analisadas. Estas

unidades poderão ser modificadas para melhor se adequarem a diferentes

processos e produtos, porém sem descaracterizar o objetivo do indicador

proposto.

Page 118: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

118

I N D I C A D O R E S D E P R O D U Ç Ã O L I M P A - I P L P R I N C Í P I O D A P R E V E N Ç Ã O

CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADEConsumo total de água. m3

Consumo de água por unidade de produto.

m3 /t Redução do consumo de água.

Percentual de água reusada e reciclada em relação ao consumo total de água.

%

Consumo total de energia (todas as fontes).

kWh Redução do consumo de energia (elétrica, gás, solar, eólica, combustível). Consumo de energia por unidade de

produto (todas as fontes). kWh/t

Aumento no uso de energia de fontes renováveis.

Percentual de uso de energia de fontes renováveis em relação ao consumo total de energia.

%

Consumo total de materiais por tipo. T

Eficiência no uso de materiais e energia

Redução do consumo de materiais (matérias-primas, insumos, auxiliares).

Consumo de matéria-prima por unidade de produto produzido.

t/t

Quantidade de resíduos sólidos gerados por unidade de produto.

t/t

Quantidade de efluentes líquidos gerados por unidade de produto.

m3 /t

Redução da geração de resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas antes da reciclagem. Quantidade de emissões atmosféricas

geradas por unidade de produto. t/t

Quantidade de material reciclado e reusado por unidade de produto.

t/t

Quantidade de material reciclado incorporado ao produto.

t/t Redução da geração de resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas. Quantidade de material ainda

considerado resíduo. t/t

Redução da geração de emissões que causam o efeito estufa.

Potencial de aquecimento global em quantidade de CO2 equivalente.

t CO2 equiv.

Prevenção da geração de resíduos na fonte

Redução da geração de emissões que contribuem para a depleção da camada de ozônio.

Quantidade de CFC 11 total e por unidade de produto.

t CFC11 equiv.

Quantidade total de substância tóxica consumida por unidade de produto.

t/t

Percentual de redução de produto tóxico. %

Substituição de produto tóxico

Redução do consumo de produto tóxico.

Percentual de redução de substâncias em banimento.

%

continua

Page 119: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

119

P R I N C Í P I O D A P R E C A U Ç Ã O CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE

Estudos realizados para diminuição de incerteza quanto ao potencial de dano das substâncias utilizadas na empresa.

qualitativo

Estudos realizados para substituição de substâncias tóxicas.

qualitativo

Avaliação do potencial de dano de substâncias.

Investimento em parcerias com instituições de ensino e centros de pesquisa para realização de estudos sobre potencial de dano das substâncias utilizadas e/ou substituição de substâncias tóxicas .

R$

Estudos realizados para diminuição de incerteza quanto ao potencial de dano das atividades da empresa.

qualitativo Avaliação do potencial de dano de atividades. Investimento em parcerias com

instituições de ensino e centros de pesquisa para realização de estudos sobre potencial de dano das atividades.

R$

Avaliação do potencial de dano de substâncias e atividades

Avaliação do potencial de dano de substâncias e atividades dos fornecedores.

Percentual de fornecedores que receberam visita de inspeção de práticas de responsabilidade ambiental.

%

P R I N C Í P I O D A I N T E G R A Ç Ã O CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE

Avaliação do Ciclo de Vida - ACV dos produtos/processos/ atividades.

Quantidade de produtos/processos/ atividades submetidos a ACV.

Redução de custo de produção obtido por modificação do desenho do produto.

%

Redução de massa por unidade de produto.

t/t Avaliação de produtos utilizando o conceito de Desenho para o Meio Ambiente (Eco-Design).

Redução de toxicidade por unidade de produto.

Kg/t

Desenvolvimento de projetos de produtos para serem desmontados reusados ou reciclados e seguros ao longo do seu ciclo de vida.

Produtos projetados para desmontagem, reuso ou reciclagem por unidade de produto.

t/t

Utilização de ferramentas para integrar o sistema de produção

Aumento do percentual de produto com política de recolhimento pós-consumo.

Percentual de produto que foi recolhido após o uso.

%

continua

Page 120: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

120

P R I N C Í P I O D O C O N T R O L E D E M O C R Á T I C O

CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE

Divulgação de informações ambientais na Internet.

Informações sobre desempenho ambiental, qualitativas e/ou quantitativas.

qualitativo

Público alvo para os quais o relatório foi direcionado.

qualitativoAmplitude da publicação de relatórios ambientais.

Quantidade de relatórios produzidos. nº

Divulgação de dados brutos. Quantidade e tipos de dados brutos disponibilizados.

qualitativo

Metas ambientais estabelecidas. qualitativoDivulgação das metas ambientais . Percentual de metas atingidas em

relação ao proposto. %

Divulgação do plano de redução do uso de produtos tóxicos.

Inclusão no relatório de informações sobre o plano de redução com as metas estabelecidas.

qualitativo

Publicação das quantidades de produtos perigosos manuseados.

t

Informação sobre o potencial de risco dos materiais perigosos manuseados.

qualitativoDivulgação de informação sobre componentes perigosos.

Informação sobre o efeito no meio ambiente dos materiais perigosos manuseados.

qualitativo

Divulgação de informação sobre acidentes ambientais.

Informação sobre o dano causado e medidas adotadas para evitar reincidência.

qualitativo

Divulgação de informação sobre passivos ambientais.

Informação sobre ações adotadas para eliminação do passivo.

qualitativo

Divulgação de informação sobre ações civil pública.

Informação sobre medidas adotadas para solução do problema.

qualitativo

Divulgação de informações ambientais às partes interessadas

Comprovação de auditorias internas e externas.

Evidência das auditorias realizadas qualitativo

Evidência de abertura da organização para participação das partes interessadas.

qualitativoAumento do envolvimento de partes interessadas nas decisões da empresa. Evidência de atendimento a questões

colocadas pelas partes interessadas. qualitativo

Estabelecimento de parcerias para apoiar ações voltadas para conservação do meio ambiente.

Evidência de parcerias realizadas para apoiar ações voltadas para conservação do meio ambiente.

qualitativo

Média do número de horas de treinamento realizado por empregado.

h Realização de treinamento para os funcionários, focado na temática ambiental. Percentual de funcionários treinados. %

Envolvimento das partes interessadas

Aumento do nº de funcionários que apresentaram sugestão para melhoria do desempenho ambiental.

Média do número de sugestões para melhoria do desempenho ambiental apresentada pelos funcionários.

nº sugestões/ funcionário

Figura 23: Proposta de Indicadores de Produção Limpa

Page 121: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

121

5.4 Verificação de aderência de relatórios de empresas à proposta de Indicadores de Produção Limpa (IPL)

Foram selecionados três relatórios de empresas para verificar a

aderência à proposta de Indicadores de Produção Limpa, com o objetivo de

averiguar se os indicadores propostos já vêm sendo usados pelas empresas

selecionadas, e avaliar a necessidade de eliminar ou incluir novos indicadores.

É importante ressaltar que não houve a intenção de fazer um teste

de validação, pois, para tanto, seria necessário o estabelecimento de critérios

para seleção de uma amostra mais significativa dos relatórios, ou outros

métodos de validação (seminários com partes interessadas, consulta a grupo

focal e outros). Da mesma forma também não houve a intenção de avaliar o

desempenho das empresas selecionas.

Neste capítulo é apresentado o resultado do teste piloto de

aderência da proposta dos IPLs aos três relatórios selecionados.

5.4.1 Relatórios selecionados para a verificação

Os três relatórios escolhidos para a verificação pertencem a

empresas associadas ao Conselho Empresarial Brasileiro para o

Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que tem como compromisso

disseminar o conceito de desenvolvimento sustentável junto ao setor

empresarial brasileiro. Todas as empresas participaram da terceira edição do

“Relatório de Sustentabilidade Empresarial”, publicado pelo CEBDS em 2002.

Foram selecionados os relatórios da Companhia Petroquímica do

Sul (COPESUL), Aracruz Celulose S.A. (ARACRUZ) e Companhia Siderúrgica

de Tubarão (CST). Para a seleção desses relatórios inicialmente procurou-se

identificar, dentre as empresas associadas ao CEBDS, aquelas que

disponibilizam relatórios contendo informações ambientais e utilizam

Page 122: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

122

indicadores, acessando os mesmos através de links dos sites das empresas,

disponíveis no site do CEBDS.

Foram escolhidos relatórios de diferentes segmentos industriais e

com informações referentes a 2003, entretanto, o Relatório da CST

disponibilizado no site da empresa, até 02 de maio de 2004, apesar de

denominado de Relatório Ambiental – 2003, apresenta informações referentes

ao ano base 2002.

Considerando o peso do setor petroquímico para a matriz industrial

do Estado da Bahia, buscou-se na Internet (site da empresa) o relatório

contendo informações ambientais para a Unidade de Insumos Básicos do

grupo Braskem (Braskem/UNIB), porém este não se encontrava disponível até

a data desta pesquisa (02 de maio de 2004). Desta maneira, considera-se

importante a escolha do relatório da COPESUL, para testar a proposta de IPL,

por se tratar de empresa similar a Braskem/UNIB, pois ambas produzem

petroquímicos básicos e se constituem em centrais de matérias-primas para os

Pólos Petroquímicos de Triunfo-RS e Camaçari-BA respectivamente.

O relatório da CST é direcionado para reportar unicamente as

questões ambientais, enquanto os demais são mais amplos. A ARACRUZ

reporta questões ambientais e sociais e a COPESUL questões ligadas a gestão

de segurança, saúde e meio ambiente.

Das empresas selecionadas, duas são focadas no atendimento ao

mercado externo com 97%, ou mais, da sua produção exportada, e a terceira é

voltada basicamente para o atendimento ao mercado interno (85,8%), com

cerca de 80% da sua produção consumida no próprio estado onde está

localizada.

A seguir serão descritas algumas informações sobre o perfil das

empresas e o relatório selecionado:

Page 123: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

123

a) Companhia Petroquímica do Sul – COPESUL

Empresa do seguimento industrial petroquímico, a COPESUL é a

central de matérias-primas do Pólo Petroquímico de Triunfo, localizada no

município de Triunfo no Rio Grande do Sul. Produz produtos petroquímicos

básicos que atendem às demandas de produção de oito empresas de Segunda

Geração (termoplásticos, elastômeros, solventes e combustíveis) instaladas no

Pólo, sendo o principal mercado da empresa (85,8 % em 2002), e exporta

(14,2% em 2002) para o Mercosul, Estados Unidos, Europa, Ásia e África.

Fornece também utilidades como água, vapor e hidrogênio para as empresas

localizadas no Pólo (COMPANHIA PETROQUÍMICA..., 2003a).

A COPESUL foi privatizada em 2002 e os principais acionistas são o

Grupo Ipiranga com 29,46% das ações, o Grupo Braskem/Odebrecht com

29,46%, a Petrobras Química S.A. com 15,63% e outros acionistas 25,45%

(COMPANHIA PETROQUÍMICA..., 2003a).

O relatório da COPESUL, utilizado para análise, é denominado de

“Segurança Saúde e Meio Ambiente – Relatório de Desempenho – 2003”, e

realizado com informações relativas ao ano base 2003, estando disponível na

Internet no site da empresa (www.copesul.com.br). Este possui duas seções

direcionadas especificamente para o trato das questões ambientais – Controle

Ambiental e Qualidade Ambiental na Área de Influência. A empresa é

certificada pela norma ISO 14001 desde 1998 (COMPANHIA

PETROQUÍMICA..., 2003b).

b) Aracruz Celulose S.A. – ARACRUZ

Empresa do setor industrial de papel e celulose, é líder mundial na

produção de celulose branqueada de eucalipto exportando cerca de 97% de

sua produção para América do Norte (36%), Europa (38%) e Ásia (23%). A

composição acionária é exercida pelos grupos Lorentzen (28%), Votorantim

(28%) e Safra (28%) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social - BNDES (12,5%) (ARACRUZ..., 2003a).

Page 124: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

124

A ARACRUZ possui operações florestais em quatro estados

brasileiros, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A

produção de celulose é feita em duas unidades fabris, a Unidade Guaíba,

localizada no município de Guaíba no Rio Grande do Sul e a Unidade Barra do

Riacho no Espírito Santo, ambas certificadas pela norma ISO 14001, a primeira

desde novembro de 1996 e a segunda em outubro de 1999 (ARACRUZ...,

2003a).

O relatório da empresa utilizado para análise, denominado de

“Relatório Social e Ambiental – 2003”, reporta informações relativas ao ano

base 2003, referentes as operações florestais e as duas unidades de produção,

e encontra-se disponível na Internet no site da empresa (www.aracruz.com.br).

Possui uma seção denominada Desempenho Ambiental na qual são tratadas

as questões vinculadas a gestão ambiental da empresa. O relatório foi

submetido a uma verificação independente, em janeiro de 2004, pela empresa

ICF Consulting, através da sua subsidiária no Brasil ICF Consultoria do Brasil

(ARACRUZ..., 2003b).

c) Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST

Empresa do setor industrial siderúrgico, localizada na região da

Grande Vitória, Estado do Espírito Santo, sendo a maior produtora de placas

de aço do mundo, com clientes em 18 países, abrangendo todos os

continentes. Em 2002 a distribuição de vendas foi de 56% para a América do

Norte, 30% para a Ásia, 13% para a Europa e 1% para América do Sul, o que

significa mais de 99% da produção destinada ao mercado externo

(COMPANHIA SIDERÚRGICA..., 2003a).

O controle acionário da empresa está distribuído da seguinte forma:

Companhia Vale do Rio Doce (22,85%), APSL Arcelor Participações S.A.

(16,69%), Aços Planos do Sul (11,43%), APSL ONPN Participações S.A.

(10,22%),acionistas japoneses (7,91%), Ciest/Funsset (2,78%), Califórnia Steel

(1,54%) e outros (26,58%) (COMPANHIA SIDERÚRGICA..., 2003a).

Page 125: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

125

O relatório da empresa, utilizado para análise, é denominado de

Relatório Ambiental – 2003, realizado com informações relativas ao ano base

2002 e disponível na Internet no site da empresa (www.cst.com.br). Possui

uma seção denominada de Indicadores de Desempenho e Ecoeficiência na

qual são reportados índices de desempenho ambiental para demonstrar a

eficiência do Sistema de Gestão Ambiental. O relatório foi submetido a uma

verificação independente, em junho de 2003, pela empresa

PrincewaterhouseCoopers International S/C Ltda. A empresa é certificada pela

norma ISO 14001 desde outubro de 2001 (COMPANHIA SIDERÚRGICA...,

2003b).

5.4.2 Resultado do teste piloto de aderência à proposta de IPL

Na apresentação dos três relatórios, assinada pelo dirigente da

organização, encontra-se a declaração do compromisso com o

desenvolvimento sustentável. No texto dos referidos relatórios verifica-se que

as empresas se referem à importância da adoção de tecnologias limpas aos

seus processos produtivos; reconhecem a necessidade do desenvolvimento de

programas de minimização de resíduos, Ecoeficiência, reciclagem de materiais,

reuso e recuperação de energia, com o objetivo de conservar os recursos

naturais e usá-los de forma mais eficiente como meios para conduzir a

empresa no caminho da sustentabilidade empresarial.

Foi realizada uma leitura completa dos relatórios da COPESUL, da

ARACRUZ e da CST e a verificação da aderência à proposta de Indicadores de

Produção Limpa. No APÊNDICE A encontra-se o resultado da verificação de

aderência da proposta de indicadores, realizada nos três relatórios, para cada

princípio do conceito de Produção Limpa. Para o atendimento a cada princípio

observa-se que:

Page 126: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

126

a) Indicadores propostos para o Princípio da Prevenção

Os indicadores propostos para verificação ao atendimento ao

Princípio da Prevenção são os mais utilizados nos relatórios.

Todos os relatórios reportam indicadores para a categoria de

eficiência no uso de materiais e energia para os quatro aspectos relacionados,

ainda que nem todos os indicadores propostos sejam atendidos.

Para a categoria de prevenção da geração de resíduos na fonte, os

relatórios apresentam indicadores para os aspectos de redução da geração de

resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas. Sendo que um

dos relatórios reporta quantidade total e os demais a quantidade por unidade

de produto produzida.

Nesta mesma categoria, para os aspectos de redução da geração de

emissões que causam o efeito estufa (expresso em toneladas de dióxido de

carbono - CO2 equivalentes) e redução da geração de emissões que

contribuem para a depleção da camada de ozônio (expresso em toneladas de

CFC 11 equivalentes) nenhuma das empresas apresentou o indicador. Em dois

relatórios, as empresas mencionam ações implementadas com o objetivo de

reduzir a geração de emissões de CO2 com a conseqüente redução da

emissão de gases que contribuem para o aumento do efeito estufa.

Para a categoria de substituição de produto tóxico nenhum dos três

relatórios apresentou indicador para demonstrar o atendimento ao aspecto

relacionado a redução do consumo de produtos tóxicos.

b) Indicadores propostos para o Princípio da Precaução

Para a categoria de avaliação do potencial de dano de substâncias e

atividades, verificou-se o indicador relacionado ao potencial de dano de

atividades em um dos relatórios. A empresa informa sobre a realização de

parcerias, com instituições de ensino e centros de pesquisa, para o

Page 127: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

127

desenvolvimento de estudos com o objetivo de diminuir o nível de incerteza em

relação a suspeita de dano ao meio ambiente causado pela atividade da

empresa. Com a realização de estudos a empresa está buscando atender ao

Princípio da Precaução, em que cabe ao potencial poluidor arcar com o ônus

da prova de que a sua atividade não é prejudicial ao meio ambiente. Este é um

indicador qualitativo sendo verificado com a descrição do tipo de estudo

realizado.

Em nenhum dos relatórios foi identificados indicador para avaliação

do potencial de dano de atividades e de substâncias manuseadas pelos

fornecedores.

c) Indicadores propostos para o Princípio do Controle Democrático

Apenas um dos indicadores propostos para verificação ao

atendimento ao Princípio do Controle Democrático foi identificado nos

relatórios.

Para a categoria de divulgação de informações ambientais às partes

interessadas, encontra-se evidência para o indicador referente a divulgação de

informações sobre o desempenho ambiental na Internet (relatórios disponíveis

nos sites das empresas), e para o indicador que reporta informação sobre a

realização de auditorias internas e externas. Para os demais aspectos

associados a esta categoria não foram identificados indicadores. Em um dos

relatórios encontra-se referência à disponibilização de informação sobre

potencial de risco de um determinado material perigoso manuseado e sobre o

seu efeitos no meio ambiente, em documento que acompanha a carga do

produto durante o transporte e para o seu manuseio dentro da empresa.

Porém, estas informações não são descritas no relatório nem se encontram

disponíveis no site da empresa para acesso das demais partes interessadas.

Para a categoria envolvimento das partes interessadas, em um dos

relatórios a empresa descreve ações que evidenciam a abertura da

organização para participação das partes interessadas nos processos de

Page 128: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

128

tomada de decisão da empresa, a exemplo de número de encontros com

representantes de ONGs ambientalistas. Nos relatórios são informados vários

programas de visitas à empresa, porém nenhum que demonstre a participação

efetiva das partes interessadas nos processos de tomada de decisões. Ainda

nesta categoria, em um dos relatórios, encontram-se evidências de

atendimento a questões colocadas pelas partes interessadas e referências a

parcerias realizadas para apoiar ações voltadas para conservação do meio

ambiente (descrição de programas apoiados pela empresa).

Para o indicador que expressa a média do número de horas de

treinamento para os funcionários focadas na temática ambiental, um dos

relatórios informa a quantidade de horas de treinamento geral e um segundo a

quantidade para treinamentos nas áreas de saúde, segurança e meio

ambiente. No segundo caso, a informação reflete uma tendência nas empresas

de integrar estas três áreas, compreendendo que existe uma forte interseção

entre elas.

Também não foi verificado o indicador que mostre o número de

sugestões de funcionários para melhoria do desempenho ambiental da

empresa, o que poderia demonstrar o envolvimento dos funcionários e ações

da empresa que estimulem a preocupação com a questão ambiental.

d) Indicadores propostos para o Princípio da Integração

Para a categoria de utilização de ferramentas para integrar o sistema

de produção, um dos relatórios faz referência a escolha de um tipo de matéria-

prima que demanda a utilização de menor quantidade de um insumo tóxico, o

que reflete a avaliação utilizando o conceito de Desenho para o Meio Ambiente,

sem entretanto atender ao indicador para informar a redução de custo obtida

com esta medida. Nesta mesma categoria, em nenhum dos relatórios

observou-se referência ao aspecto relacionado a Análise do Ciclo de Vida

(ACV) dos produtos e aos demais indicadores propostos para o atendimento a

este princípio.

Page 129: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

129

5.4.3 Análise geral dos resultados do teste piloto de aderência

Na análise dos resultados do teste piloto de aderência foi observado

o nível de adequação dos relatórios ambientais de empresas, em relação ao

atendimento do conceito de PL, por meio da verificação do atendimento aos

indicadores propostos para cada princípio.

Embora as empresas se declarem comprometidas com o

desenvolvimento sustentável e demonstrem nos relatórios preocupações com

práticas voltadas para a conservação dos recursos naturais, isto ainda é pouco

refletido nos indicadores apresentados.

Os indicadores utilizados nos relatórios são em número insuficiente

para atender às três principais razões (apresentadas no Capítulo 3) que as

empresas devem considerar para a publicação de relatórios, ou seja,

transparência, prestação de contas e diálogo com as partes interessadas.

Muitas das informações não são apresentadas de forma clara e objetiva, na

forma de indicador, o que permite uma melhor compreensão pelas partes

interessadas.

Os relatórios apresentam muitas informações qualitativas, ou seja,

apresentadas de forma descritiva, e poucas informações quantitativas. As

duas formas de disponibilizar a informação são necessárias, entretanto,

considera-se que os indicadores quantitativos devem ser apresentados em

maior número para facilitar a compreensão pelas partes interessadas. Por

exemplo, encontram-se nos relatórios informações quanto a ações

implementadas pelas empresas para a redução de uma determinada

substância emitida para a atmosfera, alcançando resultados positivos, sem

contudo apresentar as informações de quantidades emitidas.

A empresa que atendeu ao maior número dos indicadores

propostos, foi também a única que apresentou dois dos indicadores para

demonstrar o atendimento ao Princípio da Precaução e um dos indicadores do

Princípio da Integração. A referida empresa pertence ao setor de papel e

Page 130: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

130

celulose e tem 97% da sua produção destinada ao mercado externo, o que

pode indicar uma possível relação entre setor industrial e mercado consumidor

com a definição dos indicadores utilizados no relatório.

A relação entre o perfil da empresa quanto ao tipo de atividade,

mercado consumidor, composição acionária, potencial de impacto ao meio

ambiente, imagem do setor industrial junto a sociedade e outros fatores,

necessitam ser melhor estudada e aprofundada para analisar se estes

influenciam no tipo de informação disponibilizada pelas empresas nos

relatórios.

Os indicadores para atenderem ao Princípio da Prevenção são os

mais utilizados nos relatórios analisados. A abordagem da prevenção tem

demonstrado, ao longo do tempo, os benefícios ambientais obtidos com a sua

aplicação, associados a ganhos financeiros, como por exemplo a redução do

consumo de matéria-prima, redução da geração de resíduos e

conseqüentemente redução do custo para tratá-los e ou fazer a correta

disposição do mesmo, o que, sem duvida, é um fator de grande estímulo para a

sua adoção pelas empresas. Isto reflete o estágio atual das empresas focadas

na prevenção do dano ambiental.

Ainda no Princípio da Prevenção, para o aspecto relacionado à

redução do consumo de produtos tóxicos, não foram identificados indicadores.

Acredita-se que esta situação deva evoluir nos próximos anos, pois, conforme

discutido anteriormente, a partir da aprovação da Lei Federal número 10.650

(que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos

órgãos e entidades integrantes do SISNAMA), as empresas passem a publicar

estas informações pela pressão da comunidade.

Para os demais Indicadores de Produção Limpa, o atendimento é

muito precário, sendo necessário que as empresas adotem novos indicadores

que demonstrem os demais princípios, Precaução, Controle Democrático e

Integração.

Page 131: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

131

Apenas em um dos relatórios foram identificados indicadores para

demonstrar o atendimento ao Princípio da Precaução, apesar do mesmo estar

presente na legislação brasileira e ter sido introduzido internacionalmente no

início da década de 80. Porém, o fato da abordagem precaucionária lidar com

as limitações do conhecimento científico torna mais difícil o estabelecimento de

indicadores e a sua adoção pelo setor produtivo. O atendimento a este

princípio só será considerado pelas empresas cujos riscos das atividades ainda

não sejam totalmente conhecidos, a exemplo dos organismos geneticamente

modificados. Neste caso, a abordagem precaucionária passará a integrar a

estratégia ambiental da empresa.

Os indicadores para demonstrar o atendimento ao Princípio do

Controle Democrático estão diretamente relacionados a estratégia da empresa

em relação à divulgação de informações às partes interessadas. Esta

discussão é mais recente do que os conceitos dos dois princípios já analisados,

tornando-se instrumento mandatório em 1986 nos Estados Unidos, com a Lei

do Direito de Saber das Comunidades.

No Brasil, só recentemente, em abril de 2003 foi criada a Lei para

tratar do acesso público a informações, assegurando transparência aos órgãos

públicos ambientais. A Lei não obriga a publicação das informações, porém já é

um grande avanço, pois, permite que as partes interessadas como

universidades, centros de pesquisa e ONGs possam ter acesso às informações

e assim torná-las públicas, mesmo que esta não seja a estratégia das

empresas. Isto poderá contribuir para uma maior pressão da sociedade,

fazendo com que as empresas evoluam no sentido de criarem as condições

que permitam a participação das partes interessadas na gestão ambiental da

empresa, levando também à necessidade de definirem os indicadores que

evidenciem esta iniciativa.

O indicador para atender ao Princípio do Controle Democrático está

relacionado também à prática de publicação de relatórios ambientais, que teve

início a partir da Segunda Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Meio

Ambiente e vem crescendo na última década.

Page 132: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

132

A Produção Limpa recomenda a Análise do Ciclo de Vida para

avaliar o impacto ambiental associado com o produto, processo ou atividade da

empresa, conforme discutido no Princípio da Integração. Porém, a adoção

deste princípio requer um esforço além dos limites internos da empresa, pois

requer a avaliação do impacto ambiental abrangendo etapas que vão desde a

retirada das matérias-primas utilizadas no sistema produtivo até a disposição

do produto, após o seu uso. Isto dificulta o uso da ACV pelas empresas e,

conseqüentemente, não são identificados indicadores para o atendimento a

este princípio. Sendo a ACV uma técnica que auxilia no gerenciamento

ambiental e contribui para o desenvolvimento sustentável, considera-se

importante a sua utilização pelas empresas. Foram identificadas algumas barreiras para que as empresas

definam Indicadores de Produção Limpa e os utilizem nos seus relatórios

ambientais. Para que algumas dessas barreiras sejam vencidas é necessário

que haja estímulo externo ao setor produtivo, com instrumentos que permitam

a maior participação das partes interessadas, o que só será conseguido com a

abertura das informações ao público pelas empresas. Daí a grande importância

da qualidade das informações apresentadas nos relatórios ambientais.

Os órgãos públicos ambientais também têm um papel fundamental

para incentivar as empresas na divulgação de um maior número de

indicadores. A legislação existente respalda o órgão ambiental para que este

disponibilize as informações ambientais sob a sua guarda. Desta forma cabe

aos gestores destes órgãos a iniciativa para torná-las acessível a sociedade.

As associações empresariais também podem exercer um papel

importante, motivando as empresas associadas à publicação de relatórios

contendo indicadores que demonstrem as ações da empresa no caminho do

desenvolvimento sustentável. Estes relatórios, usando indicadores

padronizados, podem se constituir em um banco de dados para o

estabelecimento de comparação entre o desempenho ambiental de empresas

do mesmo setor, estimulando a competitividade. Neste sentido, o Conselho

Page 133: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

133

Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) vem

exercendo este papel, publicando o Relatório de Sustentabilidade Empresarial

(RSE), sendo a última edição publicada em 2002.

O CEBDS enviou para as empresas associadas um documento para

orientar a elaboração do RSE 2004 que é dividido em duas partes: a primeira

apresenta a visão estratégica empresarial do CEBDS; e a segunda publica o

conjunto dos relatórios individuais das empresas associadas, elaborados com

base em um roteiro pré-definido.

No entanto, a proposta do CEBDS é um documento de circulação

restrita, distribuído aos associados da instituição, e desta forma não é uma

iniciativa como as que foram analisadas no Capítulo 4. Tomou-se

conhecimento do referido documento, em abril de 2004, por intermédio do

responsável pela elaboração do RSE/2004 de uma empresa localizada no Pólo

Petroquímico de Camaçari-BA, que intermediou junto ao CEBDS a sua

disponibilização para uso neste trabalho. Considera-se importante conhecer a

orientação do CEBDS para as suas associadas, pois os três relatórios

utilizados para a verificação da aderência à proposta de IPL foram escolhidos

tendo como um dos critérios para seleção serem associadas a este Conselho.

No roteiro elaborado pelo CEBDS são sugeridos o uso de

indicadores de sustentabilidade empresarial (quantitativos e qualitativos),

compostos por indicadores de desempenho econômico, social e ambiental para

avaliar o desempenho das empresas em 2003, e outras informações

complementares que auxiliam na interpretação dos mesmos. Os indicadores

sugeridos para serem selecionados pelas empresas são divididos em dois

tipos: “os essenciais – em geral, aplicáveis e relevantes para a maioria das

organizações – e os adicionais – usados a critério da empresa para melhor

caracterizar seu desempenho” (PINO, 2004, p. 3).

Para os indicadores ambientais, foco deste trabalho, o CEBDS

apresenta uma lista de indicadores essenciais e adicionais para os seguintes

aspectos: materiais, energia, água, biodiversidade, emissões, efluentes e

Page 134: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

134

resíduos, fornecedores, produtos e serviços, conformidade ambiental e gastos

ambientais (PINO, 2004).

Analisando-se os indicadores ambientais, propostos pelo CEBDS

para o RSE, com base na proposta de IPL, observa-se a mesma tendência dos

relatórios das empresas escolhidas para o teste piloto de aderência. Os

indicadores sugeridos atendem a vários dos indicadores propostos para

demonstrar o Princípio da Prevenção e pouco atendem aos demais princípios.

Não foram verificados indicadores para os Princípios da Precaução e da

Integração. Para o Princípio do Controle Democrático foram encontradas

informações de disponibilização do relatório na Internet e da quantidade de

relatórios produzidos.

Nos indicadores adicionais, sugeridos pelo CEBDS, nota-se uma

preocupação com a questão do desenvolvimento sustentável da região onde a

empresa está localizada. Em relação ao consumo de água, o indicador

demonstra preocupação com as fontes de água e ecossistemas impactados

pelo consumo e volume captado em relação a quantidade de água disponível;

apresenta também indicadores para avaliar o impacto da atividade da empresa

sobre a biodiversidade.

A avaliação do desempenho ambiental, apresentada nos relatórios

das empresas analisadas, é realizada considerando a melhoria dos índices

com base nas questões internas às empresas, sem considerar as condições

ambientais do local onde está localizada, a exemplo do modelo para

interpretação dos indicadores sugeridos pela iniciativa do LCSP, que, para a

avaliação do desempenho, considera as condições de sustentabilidade da

região.

Page 135: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

135

6. CONCLUSÕES

Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo discutir o papel dos

indicadores ambientais, elaborados com base no conceito de Produção Limpa,

como um instrumento que pode auxiliar as empresas a demonstrarem a sua

responsabilidade ambiental corporativa e a busca da sustentabilidade.

Esta dissertação disponibiliza os Indicadores de Produção Limpa,

para avaliação de relatórios ambientais e, desta forma, acredita-se que a

discussão da proposta contribua para a disseminação da aplicação do conceito

e dos princípios da PL nos processos produtivos, importantes para a

conservação do meio ambiente, e como uma ferramentas para a efetiva

demonstração da responsabilidade ambiental corporativa.

Analisou-se diversos conceitos que associam produção com

conservação dos recursos ambientais, optando-se pelo conceito de Produção

Limpa. Foram discutidos os quatro princípios fundamentais da PL - Prevenção,

Precaução, Controle Democrático e Integração – que subsidiaram a construção

da proposta de IPL.

Para as empresas que compreendem que a otimização dos recursos

naturais traz, além de benefícios ambientais, vantagens econômicas, proteção

ao meio ambiente passa a ser vista como uma estratégia empresarial. Assim,

passam a incorporar a questão ambiental ao planejamento estratégico das

corporações como forma de demonstrar a sua responsabilidade ambiental

corporativa.

Analisou-se também as diferentes abordagens das sete iniciativas

pesquisadas quanto aos seus objetivos, origem da instituição proponente e sua

abrangência em relação ao conceito de PL. Com base nessa análise, concluiu-

se que, embora todas as iniciativas sejam voltadas para a melhoria do

desempenho ambiental, o que sem dúvida é uma etapa importante para atingir

Page 136: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

136

a sustentabilidade, estas não atendem aos quatro princípios fundamentais da

Produção Limpa.

As iniciativas analisadas, e o resultado do teste piloto de aderência

da proposta de IPL, nos três relatórios ambientais das empresas, sugerem que

os indicadores para verificação do atendimento ao Princípio da Prevenção

foram os mais consolidados tanto nas iniciativas como nos relatórios.

Entretanto, isto não ocorreu com os demais princípios. Assim sendo, também

na proposta de IPL, que foi construída tomando-se como ponto de partida os

indicadores propostos nas diversas iniciativas, e testada nos relatórios das

empresas, o Princípio da Prevenção foi o mais consistente em relação aos

aspectos e categorias definidos na matriz. Para os demais princípios da PL –

Precaução, Controle Democrático e Interação – considera-se que na hierarquia

utilizada para construção da matriz de IPL, as categorias e os aspectos

atenderam ao que foi definido em cada princípio e que os indicadores precisam

ser mais bem definidos.

Considerou-se que o uso de IPL é possível em qualquer tipo de

empreendimento, independente do seu tipo e porte, no entanto, as condições

para a definição dos indicadores e a sua aplicação vai depender da sua

capacidade técnica, disponibilidade de recursos econômicos e estímulos

externos ao setor produtivo. Para este último os órgãos públicos, responsáveis

pelas questões ambientais, e as associações empresariais têm um importante

papel, estimulando cada vez mais a abertura de informações para as partes

interessadas e o uso de Indicadores de Produção Limpa.

Algumas empresas já vêm utilizando indicadores ambientais e

publicam relatórios ambientais corporativos. Para empresas em que não existe

esta capacitação e disponibilidade de recursos (em geral pequenas e médias) é

necessário o apoio de governos, ONGs ambientalistas, associações

empresariais e/ou instituições de ensino e pesquisa. As grandes empresas

podem também contribuir para o uso de IPL e para a melhoria do desempenho

ambiental de empresas de menor porte por meio da capacitação dos seus

fornecedores, distribuidores de produto e prestadores de serviço.

Page 137: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

137

A proposta de IPL, apresentada neste trabalho, ainda precisa ser

avaliada por outros profissionais e testada em um número maior de relatórios

de empresas nacionais e internacionais, de diferentes portes (pequena, média

e grande) e setores produtivos, mercado consumidor e constituição acionária.

A definição de indicadores é uma tarefa complexa e exige definições

muito claras quanto ao objetivo que se deseja atingir. Existem diversas

iniciativas que propõem indicadores ambientais, e que vêm aprimorando estas

propostas, ao longo de alguns anos, a partir da sua aplicação em empresas

dos mais variados setores, parcerias com instituições com experiência

acumulada neste tipo de trabalho e avaliação por especialistas de meios

acadêmicos e empresariais.

Outras barreiras também dificultam a definição dos IPL, para uso

pelas empresas nos relatórios ambientais, a exemplo do entendimento dos

fatores externos à empresa que estão envolvidos e da amplitude da questão da

sustentabilidade.

A proposta apresentada nesta dissertação é um ponto de partida

que precisa ser discutida e avaliada por outras partes interessadas

(especialistas da área ambiental, gestores de empresas responsáveis pela

definição das informações publicadas nos relatórios ambientais) na melhoria do

desempenho ambiental das organizações. A proposta precisa ainda ser

também validada com a realização de teste de aderência em um maior número

de relatórios ambientais de empresas nacionais e internacionais, de diferentes

setores produtivos e portes.

O estudo de indicadores ambientais comprometidos com a Produção

Limpa e com a finalidade de uso em relatórios ambientais corporativos é uma

linha de trabalho ainda a ser aprofundada por parte dos meio acadêmico e

empresarial. Desta forma, em função das limitações deste trabalho e para

avaliação e consolidação da proposta de IPL, sugere-se a realização de

estudos complementares:

Page 138: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

138

a) Avaliação da proposta de IPL por outros profissionais envolvidos com o

tema, utilizando técnicas de aplicação de questionários, entrevistas,

reuniões com grupos de especialistas, e outras;

b) Realização de teste piloto de aderência, para avaliar o atendimento aos

IPLs propostos neste trabalho, em relatórios de empresas localizadas

em outros países;

c) Ampliação do teste de aderência e/ou validação da proposta em

amostra definida a partir de critérios estatísticos. Realização de teste de

aderência ao Balanço Ambiental apresentado pelas empresas ao

Centro de Recursos Ambientais (CRA), quando da renovação da

Licença de Operação (LO);

d) Avaliação da influência, nos indicadores ambientais utilizados nos

relatórios, de fatores como setor industrial, porte da empresa, mercado

consumidor (interno ou externo), composição acionária (capital nacional

ou estrangeiro) e outros considerados relevantes.

Considera-se que os Indicadores de Produção Limpa propostos

podem ser utilizados para avaliar relatórios ambientais de empresas quanto ao

seu atendimento aos quatro princípios da PL. Concluiu-se que a divulgação do

desempenho ambiental pode ser realizada por meio do uso dos IPLs, para que

tanto a empresa, internamente, quanto o público externo possam acompanhar

os processos de melhoria.

Espera-se que esta dissertação possa ampliar a discussão sobre a

importância da definição de Indicadores de Produção Limpa para a avaliação

do desempenho ambiental de empresas, e desta forma contribuir para o

aprimoramento desta proposta.

Page 139: indicadores de produção limpa: uma proposta para análise de ...

139

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A - Resultado da verificação de aderência à proposta de IPL realizada nos relatórios da Copesul, Aracruz e CST

APÊNDICE A

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P R I N C Í P I O D A P R E V E N Ç Ã O CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE COPESUL ARACRUZ CST

Consumo total de água. m3 -- -- S Consumo de água por unidade de produto m3 /t S S S Redução do consumo de

água. Percentual de água reusada e reciclada em relação ao consumo total de água.

% -- -- S

Consumo total de energia (todas as fontes). kWh -- S S Redução do consumo de energia (elétrica, gás, solar, eólica, combustível).

Consumo de energia por unidade de produto (todas as fontes).

kWh/t S -- S

Aumento no uso de energia de fontes renováveis.

Percentual de uso de energia de fontes renováveis em relação ao consumo total de energia.

% P S S

Consumo total de materiais por tipo. t -- S --

Eficiência no uso de materiais e energia

Redução do consumo materiais (matérias-primas, insumos, auxiliares).

Consumo de matéria-prima por unidade de produto. t/t S S --

Quantidade de resíduos sólidos gerados por unidade de produto.

t/t P S S

Quantidade de efluentes líquidos gerados por unidade de produto.

m3 /t P S S

Redução da geração de resíduo sólido, efluentes líquidos e emissões atmosféricas antes da reciclagem. Quantidade de emissões atmosféricas geradas por

unidade de produto. t/t P S S

Quantidade de material reciclado e reusado por unidade de produto.

t/t P P --

Quantidade de material reciclado incorporado ao produto.

t/t -- -- -- Redução da geração de resíduo sólido, efluentes líquidos e emissões atmosféricas. Quantidade de material ainda considerado resíduo. t/t -- -- -- Redução da geração de emissões que causam o efeito estufa.

Potencial de aquecimento global em quantidade de CO2 equivalente.

t CO2 equiv.

-- P P

Prevenção da geração de resíduos na fonte

Redução da geração de emissões que contribuem para a depleção da camada de ozônio.

Quantidade de CFC 11 total e por unidade de produto. t CFC11 equiv.

-- -- --

Quantidade total de substância tóxica consumida. t -- -- -- Percentual de redução de produto tóxico por unidade de produto.

% -- -- -- Substituição de produto tóxico

Redução do consumo de produto tóxico.

Percentual de redução de substâncias em banimmento. % -- -- --

APÊNDICE A - Resultado da verificação de aderência à proposta de IPL realizada nos relatórios da COPESUL, ARACRUZ e CST.149

continua

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P R I N C Í P I O D A I N T E G R A Ç Ã O CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE COPESUL ARACRUZ CST

Avaliação do Ciclo de Vida - ACV dos produtos/ processos/atividades.

Quantidade de produtos/processos/atividades submetidos a ACV.

-- -- --

Redução de custo de produção obtido por modificação do desenho do produto.

%

-- S --

Redução de massa por unidade de produto. t/t -- -- --

Avaliação de produtos utilizando o conceito de Desenho para o Meio Ambiente (Eco-Design). Redução de toxicidade por unidade de produto. Kg/t -- -- -- Desenvolvimento de projetos de produtos para serem desmontados reusados ou reciclados e seguros ao longo do seu ciclo de vida.

Produtos projetados para desmontagem, reuso ou reciclagem por unidade de produto.

t/t

-- -- --

Utilização de ferramentas para integrar o sistema de produção

Aumento do percentual de produto com política de recolhimento pós-consumo.

Percentual de produto que foi recolhido. %

-- -- --

P R I N C Í P I O D A P R E C A U Ç Ã O CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE COPESUL ARACRUZ CST

Estudos realizados para diminuição de incerteza quanto ao potencial de dano das substâncias utilizadas na empresa.

qualitativo -- -- --

Estudos realizados para substituição de substâncias tóxicas.

qualitativo -- -- -- Avaliação do potencial de dano de substâncias.

Investimento em parcerias com instituições de ensino e centros de pesquisa para realização de estudos sobre potencial de dano das substâncias utilizadas e/ou substituição de substâncias tóxicas.

R$

-- -- --

Estudos realizados para diminuição de incerteza quanto ao potencial de dano das atividades da empresa.

qualitativo -- S -- Avaliação do potencial de dano de atividades. Investimento em parcerias com instituições de ensino

e centros de pesquisa para realização de estudos sobre potencial de dano das atividades.

R$

-- P --

Avaliação do potencial de dano de substâncias e atividades.

Avaliação do potencial de dano de substâncias e atividades dos fornecedores.

Percentual de fornecedores que receberam visita de inspeção de práticas de responsabilidade ambiental.

%

-- -- --

150 continua

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P R I N C Í P I O D O C O N T R O L E D E M O C R Á T I C O CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE COPESUL ARACRUZ CST

Divulgação de informações ambientais na Internet.

Informações sobre desempenho ambiental, qualitativas e/ou quantitativas.

qualitativo S S S

Público alvo para os quais o relatório foi direcionado. qualitativo -- -- -- Amplitude da publicação de relatórios ambientais. Quantidade de relatórios produzidos. nº -- -- -- Divulgação de dados brutos

Quantidade e tipos de dados brutos disponibilizados qualitativo -- -- --

Metas ambientais estabelecidas. qualitativo -- P -- Divulgação das metas ambientais Percentual das metas atingidas em relação ao

proposto. %

Divulgação do plano de redução do uso de produtos tóxicos.

Inclusão no relatório de informações sobre o plano de redução com as metas estabelecidas.

qualitativo -- -- --

Publicação das quantidades de produtos perigosos manuseados.

t -- -- --

Informação sobre o potencial de risco dos materiais perigosos manuseados.

qualitativo -- -- -- Divulgação de informação sobre componentes perigosos. Informação sobre o efeito no meio ambiente dos

materiais perigosos manuseados. qualitativo -- -- --

Divulgação de informação sobre acidentes ambientais.

Informação sobre o dano causado e medidas adotadas para evitar reincidência.

qualitativo -- -- --

Divulgação de informação sobre passivos ambientais.

Informação sobre ações adotadas para eliminação do passivo.

qualitativo -- -- --

Divulgação de informação sobre ações civil pública.

Informação sobre medidas adotadas para solução do problema.

qualitativo -- -- --

Divulgação de informações ambientais às partes interessadas

Comprovação de auditorias internas e externas.

Evidência das auditorias realizadas qualitativo S S S

151

continua

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P R I N C Í P I O D O C O N T R O L E D E M O C R Á T I C O CATEGORIA ASPECTO INDICADOR UNIDADE COPESUL ARACRUZ CST

Evidência de abertura da organização para participação partes interessadas.

qualitativo -- S -- Aumento do envolvimento de partes interessadas nas decisões da empresa. Evidência de atendimento a questões colocadas pelas

partes interessadas. qualitativo -- P --

Estabelecimento de parcerias para apoiar ações voltadas para conservação do meio ambiente.

Evidência de parcerias realizadas para apoiar ações voltadas para conservação do meio ambiente.

qualitativo -- -- S

Média do número de horas de treinamento realizado por empregado.

h P P -- Realização de treinamento para os funcionários, focado na temática ambiental.

Percentual de funcionários treinados. % -- -- --

Envolvimento das partes interessadas

Aumento do nº de funcionários que apresentaram sugestão para melhoria do desempenho ambiental.

Média do número de sugestões para melhoria do desempenho ambiental apresentada pelos funcionários.

nº sugest./ funcion.

-- -- --

Legenda: S = Indicador apresentado no relatório conforme proposta P = Informação referente ao indicador parcialmente apresentada ou citada de forma qualitativa, quando a medida é quantitativa --- = Indicador não apresentado no relatório

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APÊNDICE B – Participantes do seminário para discussão da proposta de IPL

APÊNDICE B

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PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO PARA DISCUSSÃO DA

PROPOSTA DE IPL

Além da autora e da orientadora desta dissertação participaram do seminário

os profissionais listados a seguir:

NOME INSTITUIÇÃO/FORMAÇÃO Armando Caldeira, Dr. Professor da Universidade de Brasília (UNb).

Pesquisador do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS).

Armando Tanimoto Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFET/BA).

Asher Kiperstok, Dr. Professor do Departamento de Engenharia Ambiental (DEA) da Escola Politécnica da UFBA e coordenador do TECLIM.

Eduardo Copelo, MsC Caraíba Metais - Área de Meio Ambiente.

João Severiano Caldas da Silveira Junior

Braskem S.A. – Área de Meio Ambiente.

José Célio S. Andrade, Dr. Professor da Escola de Administração da UFBA.

Luis Antonio Cardoso Estireno do Nordeste - Área de Meio Ambiente

Luis Felipe Nascimento, Dr. Professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Mário Leopoldo Pino Braskem S.A. - Área de Meio Ambiente.

Severino Soares Agra Filho, Dr

Professor do DEA da Escola Politécnica da UFBA.