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    ALGUNS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA OS PEQUENOS EMDIOS PRODUTORES RURAISDO MUNICPIO DE JAQUIRANA

    Maristela de Quadros Alb1

    Mestre em Engenharia com nfase em energiaPrograma de Ps-Graduao em Engenharia: energia, ambiente e materiais - PPGEAMOrientador: Prof. Dr. Anildo Bristot

    Defesa em 15 de julho de 2002.Universidade Luterana do Brasil - ULBRA

    Abstract

    This dissertation aims to present sustainability proposals for medium and small ruralproperties in Jaquirana country (RS). Indicators were determined for the productive oreconomical capacity, environmental integrity, social health or life quality and cultural identityfrom all the sampled rural propriators. Aiming such an elaboration, it was considered the

    property size, family income and the local ecosystem.

    Key words: Medium and small rural properties, Indicators and Sustainability.

    Introduo

    Este trabalho teve como objetivo pesquisar os pequenos e mdios produtores rurais domunicpio de Jaquirana e verificar como estes produtores fazem o manejo em suas propriedades,a fim de levantar alguns indicadores de sustentabilidade que permitam a essa parcela dapopulao permanecer no campo, melhorar sua qualidade de vida com a preocupao depreservar o meio ambiente e manter sua identidade cultural. Dessa forma, buscou-se respostapara as seguintes questes:

    Quais as condies de sustentabilidade das atividades agropecurias dos pequenos e mdiosprodutores rurais do municpio de Jaquirana?

    Quais os indicadores que favoreceriam uma melhoria na qualidade de vida para essapopulao permanecer no campo, na regio onde est inserida?

    Ao longo da pesquisa, buscou-se entender o modelo agropecurio utilizado pelosprodutores entrevistados, bem como sua organizao social e cultural que favorece a base desustentao das prticas agrcolas que podem ou no ser sustentveis. Tal modelo forneceu osatributos para elaborar indicadores de sustentabilidade que lhes permitam atingir um melhorndice de qualidade de vida sem descuidar das questes ambientais.

    Como resultado direto desse trabalho, foram determinados alguns indicadores desustentabilidade a partir dos dados levantados por meio do questionrio aplicado e dos critrios

    enunciados por Altieri (1998), bem como do Enfoque Sistmico e do Princpio daComplexidade2.Paralelamente, foram elaboradas propostas de sustentabilidade para essa populao

    tanto em nvel econmico como social, cultural e ambiental.

    Mtodos e procedimentos

    Vale dizer que na grande maioria das cincias - naturais, exatas ou humanas - j existemprocedimentos metodolgicos de pesquisa cientfica muito bem definidos e, de modo geral,plenamente aceitos por seus pares. J a cincia ambiental, por ser relativamente recente e complexa,

    1Professora de Matemtica na Fundao Escola Tcnica Liberato Salzano Vieira da Cunha. [email protected] Segundo Morin (1997, 1999, 2001), o Princpio da Complexidade torna-se princpio fundamental do paradigmaecolgico. Este princpio busca renovao, reestruturao, diversidade e multiplicidade do ecossistema. D ao termocomplexo o sentido de entrelaamento entre a unidade e o global, entre o todo e a parte.

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    ainda no possui um paradigma estabelecido e, muito menos, um consenso a respeito das prticasmetodolgicas, posto que sua anlise perpassa vrias reas do conhecimento. A anlise ambientaltem apontado para freqentes impasses, uma vez que os fenmenos e os problemas estudados fogems classificaes convencionais, e suas variveis so mltiplas e multifacetadas, sendo necessrioinovar tanto no que se refere linguagem como nos procedimentos, de modo a refletir e integrarpensamentos e prticas metodolgicas interdisciplinares.

    Segundo Morin (2001), a complexidade no tem metodologia, porm pode ter seu mtodo.Para Morin (1999), metodologias so guias que, em princpio, projetam a pesquisa, enquanto omtodo uma estratgia que pode conduzir a descobertas e inovaes. O mtodo utilizado deveajudar a compreender e elucidar a complexidade existente no problema que se deseja resolver.

    Considerando que a interdisciplinaridade necessita de novos arranjos e entendimentodos problemas, nesta pesquisa procurou-se agregar e adaptar um mtodo que atendesse scondies enunciadas por Morin, op. cit. Para tanto, como procedimento inicial, foi realizadoum levantamento bibliogrfico com enfoque em questes relevantes aos temas desenvolvimentosustentvel e indicadores.

    Paralelamente, buscou-se obter informaes acerca do municpio de Jaquirana, quecontriburam para definir o referencial terico, o qual deu sustentao pesquisa de campo, bem

    como contextualizao histrica.Adicionalmente, como instrumento de pesquisa aplicado na forma de entrevistas,utilizou-se o questionrio PLAMUDES - Planejamento municipal integrado visando aodesenvolvimento sustentvel - (FOREMA, 2000), que foi adaptado realidade do municpio deJaquirana, considerando suas caractersticas e peculiaridades locais.

    Na busca de oferecer uma descrio quantitativa e organizada do todo, utilizou-se omtodo estatstico apresentado por Lakatos e Marconi (1991), que afirmam, por esse mtodo,ser possvel obter representaes mais simples, considerando a complexidade do todo.

    De acordo com a relao de certificados de cadastro e notificaes de imveis ruraisemitidos pelo INCRA para o municpio de Jaquirana, no exerccio de 1999, existem 376pequenos e mdios estabelecimentos rurais que so de propriedade de 262 produtores. Nmeroque determinou a populao investigada. Partindo-se deste dimensionamento foi determinada a

    amostra de 162 produtores, representando 61,83% do total de pequenos e mdios produtores.Este clculo foi elaborado segundo Stevenson (1981).

    A anlise dos dados forneceu o perfil dos pequenos e mdios produtores rurais doMunicpio, o perfil das propriedades rurais, as tcnicas e prticas agropecurias utilizadas naspropriedades, alm de permitir uma visualizao aproximada das formas de comercializao dosprodutos produzidos internamente. Outros fatores considerados foram: infra-estrutura, sade,acesso gua e s formas de abastecimento, cuidados ambientais e qualidade de vida dapopulao.

    Optou-se por pesquisar os pequenos e mdios produtores do Municpio, porque para osgrandes produtores, que possuem rea de terra maior ou igual a 375 ha, entende-se que assustentabilidades econmica, social e cultural esto asseguradas, enquanto a sustentabilidadeambiental, que est sob suspeita, possa ser estudada junto ao grupo pesquisado, e as concluses

    obtidas possam ser estendidas para esta fatia da populao rural do Municpio.Por outro lado, entende-se que as concluses obtidas para os pequenos produtores

    possam ser estendidas para os micros produtores, que possuem rea menor que 25 ha, tanto emnvel econmico, social e cultural como em ambiental.

    importante ressaltar que os indicadores foram definidos utilizando o Princpio daComplexidade, descrito por Morin (1999) como o norte do paradigma ecolgico e o enfoquesistmico que, segundo Capra (1996), conduz a solues sustentveis. Este enfoque determina oaproveitamento integrado da produo animal e vegetal que por sua vez norteia asustentabilidade do pequeno e mdio produtor rural do municpio de Jaquirana. Dentro daperspectiva do Princpio da Complexidade, procurou-se visualizar a propriedade rural, comotodo e como parte, inserido no contexto local e regional a fim de compreender suas inter-relaes.

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    Contextualizao

    Desenvolvimento sustentvel

    A preocupao com a sustentabilidade vem de muito tempo, mas a partir doRelatrio de Brundtland, elaborado pela Comisso Mundial do Meio Ambiente e

    Desenvolvimento, em 1987, tambm conhecido como Nosso Futuro Comum, que o termodesenvolvimento sustentvel foi popularizado e, por conseqncia, a idia de sustentabilidade(Marzall, 1999). Esta comisso definiu desenvolvimento sustentvel como desenvolvimentoque atende s necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras geraes

    atenderem s suas prprias necessidades (UICN, PNUMA e WWF. 1991, p.4).O interesse em rever conceitos, especialmente nas ltimas dcadas do sculo XX, mostrou

    que a noo de progresso associada idia de crescimento deveria ser revista em funo dassucessivas crises ambientais, econmicas e sociais. Segundo Almeida (1997), esta noo ou outraque possa substitu-la, como desenvolvimento sustentvel, ter que relacionar o saber cientficoem, no mnimo, duas dimenses: a natureza e a sociedade. A primeira tem como objetivo ocrescimento econmico e considera os recursos naturais como sendo capital natural 3. A soluo

    apresentada pelos adeptos dessa corrente diz que no preo de um produto deve estar embutido opreo do bem natural utilizado como fonte primria, criando, assim, um novo padro econmico.A segunda corrente critica o padro de sustentabilidade vigente e sugere que este padro

    gera os impactos ambientais4. Caporal e Costabeber (2000) e Marzall (1999) consideramnecessria a implementao de um novo padro de desenvolvimento que apresente mudanasprofundas. No entanto, segundo tais autores, essas transformaes somente ocorrero com amudana nos valores ticos, pois so estes que proporcionam novos padres de comportamento.

    Existe, no entanto, uma percepo quase generalizada de que os impactos ambientais,resultantes da relao homem-natureza e a busca de solues para os problemas que surgiramdessa relao, desencadearam a base terica da sustentabilidade.

    Para atender ao desejo de um desenvolvimento de cunho sustentvel, as novas diretrizesdevem, antes de tudo, buscar solues para o sistema como um todo, sem esquecer os aspectos

    sociais, polticos, culturais e ambientais. A viso sistmica que pode se configurar como uminstrumento de mudana, retrata as interaes de todas essas dimenses, mostrando a realidadenos diferentes nveis (global, nacional, regional, local).

    Nesta pesquisa, parte-se do princpio de que o termo desenvolvimento sustentvel deve serempregado com o significado de melhorar a qualidade de vida, respeitando a capacidade suporte dosecossistemas que mantm a vida em suas mltiplas dimenses, em concordncia com o que foisugerido no documento das seguintes organizaes: UICN, PNUMA e WWF. (1991), em que

    as comunidades e grupos locais constituem os melhores canais para as

    pessoas expressarem suas preocupaes e tomarem atitudes relativas

    criao de bases slidas para sociedades sustentveis. No entanto, essas

    comunidades precisam de autoridade, poder e conhecimento para agir. As

    pessoas que se organizam para trabalhar pela sustentabilidade em suas

    prprias comunidades podem constituir uma fora efetiva, seja a suacomunidade rica, pobre, urbana, suburbana ou rural (p.9).

    Para que isso acontea, a comunidade precisa conhecer efetivamente os seus prpriosassuntos, ter acesso a recursos, participar do controle desses recursos, participar de decises eter acesso a treinamentos, a educao, a posse da terra e a outros direitos de propriedade. necessrio, tambm, que a comunidade seja capaz de suprir suas necessidades de maneirasustentvel, conservando o meio ambiente. Cabe aos governos locais a funo de promover,

    3Para Carvalho (1993), capital natural o solo, a atmosfera, a biomassa vegetal e animal, etc. que, juntos formam abase dos ecossistemas.4Na resoluo 01/86 do CONAMA artigo primeiro, impacto ambiental definido como ... qualquer alterao daspropriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia

    resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a sade, a segurana e o bem estar dapopulao; as atividades sociais e econmicas; a biota; as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; aqualidade dos recursos ambientais.

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    fomentar e apoiar iniciativas de preservao ou conservao do meio ambiente.

    Indicadores

    O ps-guerra desencadeou a industrializao e a busca do desenvolvimento econmico.Mas trouxe como conseqncia a utilizao desenfreada dos recursos naturais, muitos dos quais

    no renovveis. O entendimento dessa apropriao desmedida levou alguns pases a considerarrecurso natural como capital natural (Marzall, 1999). No entanto, em conformidade com osparmetros enunciados para se alcanar o desenvolvimento sustentvel, o estoque de capitalnatural e manufaturado que passa de uma gerao para outra deve se manter o maior possvel.Para isso necessrio estabelecer indicadores especficos para cada regio e localidade devido sgrandes diferenas nos ecossistemas e nos seus nveis de degradao.

    Alguns impactos ambientais so fenmenos naturais, e outros so resultantes da aoantrpica. Para o entendimento de um determinado impacto ambiental necessrio, antes detudo, conhecer as causas para que sejam encontradas as possveis solues. No caso de umsistema de produo, necessita-se conhecer os fatores que regulam os componentes biticos eabiticos que compem o sistema, para ento, estabelecer critrios globais e prticos dasustentabilidade, que deve considerar aspectos sociais, econmicos e agroecolgicos juntamentecom os aspectos fsicos e biolgicos (Tauk-Tornisielo, 1997).

    A Agenda 21, em seu captulo 40, ressaltou a necessidade de cada pas estabelecerindicadores de desenvolvimento compatveis com sua realidade interna. Posteriormente, vriosencontros e conferncias, que reuniram representantes de vrios pases, divulgaram novosparmetros para se alcanar a sustentabilidade, utilizando determinados indicadores.

    No que se refere sustentabilidade de um agroecossistema5, Nolasco (1999), apoiado emJesus (1993), diz que os indicadores bsicos podem ser produtividade, estabilidade, conservao degua, capacidade do sistema resistir a pragas e doenas, ciclagem de carbono, diversidade cultural,recursos externos e capacidade de produzir receita.

    A metodologia usada para definir quais indicadores tm importncia deve considerar oambiente, alm de avaliar a realidade em questo. Por outro lado, quando um conjunto de

    indicadores estabelecido, essencial que esses privilegiem as interaes entre os componentes esuas dimenses, refletindo o sistema na sua forma mais global, sem desconsiderar as partes,portanto devem privilegiar uma abordagem sistmica.

    Para Altieri (1998), a sustentabilidade dos pequenos produtores deve mostrar umindicador, que estabelea no mnimo quatro critrios, independente do mtodo utilizado paraavaliar essa sustentabilidade, so eles: manuteno da capacidade produtiva do agroecossistema;conservao dos recursos naturais e da biodiversidade; fortalecimento da organizao social e,como conseqncia, diminuio da pobreza; fortalecimento das comunidades locais, preservandosuas tradies, seu conhecimento e garantindo sua participao no processo de desenvolvimento.

    As dificuldades de se estabelecer indicadores de sustentabilidade advm da falta de umconsenso no conceito de desenvolvimento sustentvel e nos objetivos a serem atingidos para sechegar a sustentabilidade, pois para realidades diferentes, existem respostas diferentes.

    Histrico e descrio do Municpio

    Em 1807, o Estado elevado condio de capitania recebendo o nome de CapitaniaGeral de So Pedro, sendo criados quatro municpios, um deles, Santo Antnio da Patrulha, decujo territrio faziam parte as terras do municpio de Jaquirana e de seu municpio me, SoFrancisco de Paula.

    Por volta de 1900, um grupo de pessoas, oriundas do litoral gacho, comprou uma reade terra que pertencia, parte a sesmaria dos Machado e parte a sesmaria dos Fernandes onde foifundado o povoado que deu origem ao municpio de Jaquirana. O povoado elevado condiode distrito de So Francisco de Paula, em 1916, com o nome de Vista Alegre. Em 1938, passa aser chamado de Capela do Chapu, por existir outra localidade no Estado com o mesmo nome,

    5Agroecossistema um local de produo agrcola uma propriedade agrcola, por exemplo compreendido comoum ecossistema (Gliessman, 2000, p.61).

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    e, em 1944 recebe o nome de Jaquirana.O municpio de Jaquirana desmembrou-se de So Francisco de Paula em 8 de dezembro

    de 1987 e foi instalado oficialmente em 01 de janeiro de 1989, perfazendo uma rea de 895km 2,tendo hoje cerca de 4320 habitantes (IBGE, 1997b).

    Municpio de Jaquirana

    Localizao do municpio de Jaquirana na regioNordeste do Estado do Rio Grande do Sul

    O Municpio est localizado na regio Nordeste do Estado e possui apenas o distrito deChapada, que dista 19 km da sede. Limita-se com os municpios de So Francisco de Paula e

    Cambar do Sul, ao sul, Bom Jesus e So Jos dos Ausentes, ao norte, Cambar do Sul, a leste ecom So Francisco de Paula a oeste.Segundo Nunes (1989), a altitude mdia do Municpio 912 m, sendo seu territrio

    formado por coxilhas e rochas cujas altitudes variam, sendo o ponto mais alto do Municpio oMorro do Chapu com 1086 m, ocupando o topo do Planalto das Araucrias . No Municpio asquatro estaes do ano so bem definidas, a temperatura mdia anual est no intervalo de 14 a 16 C.

    O relevo constitudo por ondulaes, coxilhas e afloramento de rochas, apresentando solocido, raso e pedregoso, o que torna difcil o manejo das pastagens. A vegetao formada pelaMata Atlntica e pelos ecossistemas que a compe que so: - Floresta Ombrfila Mista, compostapor trs estratos, sendo um deles formado pelo gnero Araucria (Angustifolia), outro por vriasespcies de rvores e o terceiro e ltimo por arbustos; - Regio de Savana gramnea - lenhosa, cujavegetao fica no meio da floresta ombrfila, predominando as gramneas do gnero Andropongon e

    outros; - Matas Galeria e Capes que so formados por capes no meio do campo e por florestas nasmargens dos rios, ambos so compostos por araucrias (Quissini; Saquet; Vanin, 1999).

    Segundo o Diagnstico scio-econmico do Municpio, elaborado por Quissini; Saquet;Vanin (1999), para Fundao Universidade de Caxias do Sul -UCS-, 28% do territrio municipalest revestido por uma vegetao nativa secundria, como capoeira, capoeiro e matas, podendo seobservar os ecossistemas de origem apenas nas encostas mais ngremes ainda no exploradas pelosmadeireiros. Segundo o mesmo diagnstico, 14% do territrio est revestido por mata extica.

    A economia tambm se baseia na pecuria (criao de gado) e na agricultura. Segundo oIBGE (1997a), a agricultura desenvolvida tradicionalmente de pequenas reas, para o consumo,predominando culturas temporrias como milho, enquanto as permanentes so pouco cultivadas.

    A populao do municpio de Jaquirana sobrevive utilizando basicamente duas frentes detrabalho para gerar a renda, a indstria madeireira, onde trabalha a populao urbana; e a pequena emdia propriedade rural, onde trabalha uma parte da populao que compe a populao rural.

    Indicadores determinados na pesquisa

    Para determinar os indicadores de sustentabilidade dos pequenos e mdios produtores ruraisdo municpio de Jaquirana, foram utilizados atributos6de sustentabilidade obtidos a partir dos dados dapesquisa, (que neste artigo no sero apresentados). Foram utilizados tambm os critrios que Altieri(1998) considera que devam ser investigados, o Enfoque Sistmico e o Princpio da Complexidadedescrito por Morin (1997, 1999, 2001). Para tal, foi analisado o todo e as partes representados pelalavoura, pela propriedade, pela localidade e pelo ecossistema, pois existem caractersticas que podemser observadas quando as partes so analisadas separadamente que no so percebidas no todo. Poroutro lado, quando apenas as partes so analisadas podemos deixar de ver caractersticas que apenas

    6So itens analisados para determinar os indicadores.

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    analisando o todo podem ser percebidas. Assim optou-se por classificar trs tipos de ecossistemas:Encosta Basltica, Planalto das Araucrias e Ambos Ecossistemas.

    O ecossistema Encosta Basltica constitudo por morros, encostas de rios, mata nativa, ecampo com capoeira e capoeiro. Enquanto o Planalto das Araucrias constitudo por camposdobrados, com ondulaes, pequenos capes de mato geralmente prximos s aguadas. Neste caso, oandar superior constitudo pelas araucrias, vegetao tpica da regio.

    As anlises de sustentabilidade descritas a seguir foram elaboradas a partir dos dados doquestionrio PLAMUDES adaptado, utilizando os critrios de capacidade produtiva oueconmica, integridade ecolgica, sade social ou qualidade de vida e identidade cultural. Paraa anlise das partes, preferiu-se separar os dados obtidos na pesquisa pela localizao daspropriedades e pelos ecossistemas que constituem os mesmos, porque tais aspectos sodeterminantes nas caractersticas das propriedades.

    Como os indicadores so especficos para cada localidade, regio ou ecossistema,optou-se por criar uma classificao a fim de identificar os indicadores determinados pelosmesmos. Preferiu-se identific-los como forte, mdio e fraco, distribudos conforme tabela 01:

    Tabela 01 - Classificao e identificao dos indicadores

    ATRIBUTO IDENTIFICAO DISTRIBUIO DA FREQNCIAForte 3 Acima de 60%Mdio 2 De 60% a 40%Fraco 1 Abaixo de 40%

    Para os indicadores onde a freqncia no determinante, ou seja, quando muitosprodutores utilizam uma prtica, e esta no sustentvel, ou ainda, quando poucos utilizam e sustentvel, no indicado utilizar a freqncia para identific-los, por isso optou-se por utilizara tabela 02, com a mesma identificao, porm referendada pela bibliografia que deu oembasamento a pesquisa.

    Tabela 02- Classificao e identificao dos indicadoresATRIBUTO IDENTIFICAO BIBLIOGRAFIA7

    Forte 3 *Mdio 2 *Fraco 1 *

    Ento, 3 sinaliza um bom indicador, devendo continuar sendo utilizado e aconselhada sua divulgao; 2 considerado regular, indica que pode ser utilizado; 1 indica que a utilizao da prtica deve ser interrompida e substituda.

    Indicadores de capacidade produtiva ou econmica

    O solo do Municpio recomendado para culturas anuais com restries ou, ainda, norecomendado para culturas anuais e, muitas vezes, no recomendado nem para culturaspermanentes. Podemos dizer que o tamanho da propriedade rural oferece restries sustentabilidade econmica dos produtores rurais do Municpio, pois esses trabalham comagricultura e pecuria extensiva.- usa toda terra que possui: a quase totalidade dos produtores usa toda terra e complementaarrendando, de terceiros, aproximadamente 1/3 da rea total envolvida na pesquisa. grandemaioria dos pequenos produtores coube terra que apresenta maior declividade (morros, encostasdos rios). Esses representam 60% do grupo pesquisado e possuem 27% das terras, cultivando

    7 *Segundo levantamento bibliogrfico: Almeida (1997); Altieri (1989, 1998); ASSECAN (1998); Aguiar (1998);

    Branco (1999); Bristot (2001); Camino e Muller (1993); Carvalho (1993); FAO/INCRA (1996, 1994); Caporal eCostabeber (2000); Capra (1996); DAgostini (1998); Gliessman (2000); Marzall (1999); Nolasco (1999); Paschoal(1994); Primavesi (1999); Silva (1999); Theodoro (2000) e Zayek (1999).

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    53% da rea total cultivada. Enquanto os mdios possuem 73% das terras e cultivam 47% darea total cultivada, aproximadamente.- forma como trabalha na propriedade: cruzando as variveis, tamanho da propriedade elocalidade, identificando o ecossistema que predomina na propriedade, podemos concluir que: nas localidades Barra, Chapada, Costa das Antas e Espigo Alto predomina o ecossistema

    Encosta Basltica e a pequena propriedade rural, onde o produtor desenvolve agricultura dotipo familiar, embora as localidades Cleon e Picada sejam uma composio dosecossistemas Encosta Basltica e Planalto das Araucrias, tambm predomina a pequenapropriedade rural, porm o cultivo das lavouras realizado em reas menores que naslocalidades citadas anteriormente;

    nas localidades Trs Irmos e Faxinal dos Pelcios, predomina o ecossistema Planalto dasAraucrias e a mdia propriedade, onde o produtor desenvolve pecuria e agricultura comosuporte para pecuria. Embora nas localidades de Cip e Barroco o ecossistemapredominante tambm seja Planalto das Araucrias, o nmero de pequenas e mdiaspropriedades rurais mais proporcional, e a atividade da propriedade agricultura comosuporte para pecuria e ambas na mesma proporo;

    nas localidades restantes existem os dois ecossistemas mencionados, porm os produtores

    trabalham com agricultura como suporte para pecuria e com ambas na mesma proporo.O grupo pesquisado expressou que faz o manejo da propriedade moda antiga. Istopode ser observado tanto nas prticas utilizadas na produo vegetal, como nas prticasutilizadas na produo animal, parece que os anos no passaram para essa parcela da populao,pois continuam trabalhando como seus antepassados e, em muitas propriedades, as prticasagropecurias utilizadas so do sculo XIX.-produtividade: observando o tipo de relevo e solo do Municpio e realizando o cruzamento dasvariveis rea que pode ser lavrada com trator, rea ocupada com culturas anuais e destino dosprodutos, podemos concluir que os produtores do Municpio tem baixa produtividade naslavouras, cultivam pequenas reas somente para o seu sustento e para o trato dos animais,devido s restries tanto de relevo como de solo. Porm, quando cruzamos esses dados com avarivel localidade, possvel concluir que os pequenos produtores da Encosta Basltica

    plantam tambm para a comercializao. Na localidade Costa das Antas, os produtores utilizamtodos os tipos de cultivos mencionados na pesquisa, enquanto, nas demais, aparecem milho,feijo e com menos freqncia batatinha e moranga.- sanidade da lavoura: para manter a sanidade e o uso mais eficiente da terra, o produtordeveria ter vrias lavouras e, sob orientao da EMATER, determinar um esquema de rotaode vrios anos e vrios tipos de cultivos que melhor se adaptem a essa rotao. Trabalhandodessa maneira, o produtor estar fazendo a cobertura permanente do solo, o controle natural depragas, o controle da eroso, alm de promover a fertilidade e umidade do solo.- insumos externos e custos de produo: embora os produtores continuem utilizando insumosexternos na propriedade para que a fertilidade do solo seja mantida, como o uso de calcrio paraa correo do pH e a adubao inorgnica utilizada por 52% desses produtores, recomendadoque esses continuem em uso at que possam ser substitudos por insumos da prpriapropriedade. Para manter o fluxo de energia, da propriedade, o mais fechado possvel, osprodutores podem substituir o uso de sementes industrializadas, por sementes crioulas, poisalm de diminurem os custos de produo, estaro contribuindo para manter a biodiversidadedas espcies. Outro fator que poderia contribuir para diminuir os custos de produo seria o usode insumos internos para o trato dos animais.-diversidade na produo vegetal/animal; - capacidade de produzir receita; - comercializao

    dos produtos:os cultivos utilizados pelos produtores so: apenas milho 10%, pelo menos milhoe feijo 83%, enquanto 7% dos produtores no cultivam lavouras em suas propriedades.Cruzando estes dados com o destino dos produtos, possvel concluir que os produtores daslocalidades do ecossistema Encosta Basltica cultivam suas lavouras para a comercializao,enquanto os outros cultivam para o consumo, sendo comercializado apenas o excedente. O

    recomendado, nessa situao, a diversificao dos produtos, porm, para que isso sejapossvel, necessrio orientao dos rgos competentes, com cursos de capacitao, para que

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    os produtores tenham acesso a tcnicas diferenciadas.Bristot (2001), apoiado em Messias, diz que apenas 10% dos campos de So Francisco

    de Paula podem ser lavrados e entende que essa porcentagem pode ser usada para os outrosmunicpios da regio, justificando o uso e o manejo da pastagem nativa, a macega, para opastejo dos animais. Nesta pesquisa, verificou-se que aproximadamente 14% da rea de terrados produtores pode ser lavrada com trator, referendando os nmeros utilizados por Bristot.

    Os produtores pesquisados possuem gado mestio, sendo a raa zebuna, com diferentescruzas, que melhor tem se adaptado regio ao longo dos anos. Com os dados da pesquisa,obteve-se que 42% dos bovinos so vacas, 23% so novilhas e apenas 16% so bois, o que vaide encontro caracterstica da regio que a criao de bovinos de corte. Com os dados obtidosna pesquisa, concluiu-se que os produtores pesquisados criam gado leiteiro, embora a venda doleite no seja o objetivo desses produtores.

    O nmero de animais nas propriedades pesquisadas pequeno e pode-se afirmar, pelomenos em relao aos bovinos, que o nmero de animais vendidos aproximadamente igual aonmero de nascimentos. Enquanto os ovinos, sunos, frangos e peixes so criados para oconsumo, sendo vendido apenas o excedente.

    Integridade ecolgicaVale dizer que quanto mais um agroecossistema imitar um ecossistema, mais

    sustentvel ele poder ser. Para tal, necessrio que no se busque apenas a sustentabilidadeeconmica, como acontece atualmente, mas tambm a estabilidade e a sustentabilidadeecolgica, portanto a otimizao do sistema como um todo (Altieri, 1998).- separa o lixo: faz parte do dia-a-dia dos produtores e de suas famlias separar o lixo dapropriedade, embora muitos enterrem vidros, latas, plsticos e queimem papel e alguns tipos deplsticos. Vale dizer que, ao enterrar estes materiais, os produtores esto colaborando com apermanncia dos mesmos no ambiente, pois alguns podem demorar 400 anos para se decompor.Recomenda-se que este tipo de lixo seja levado para os lixes das cidades mais prximas, paraque, em grande parte, possa ser reciclado. Dessa forma, alm de contribuir para a

    sustentabilidade ambiental poder estar assegurando novos empregos nas cidades.-cuidado com aguadas: muitos produtores esto observando que as guas dos banhados e dosarroios est diminuindo, e entendem que os pinus cultivados prximos absorvem muita gua.-preservao da lavoura: os produtores no utilizam tcnicas da agricultura convencional, comouso de agrotxicos, controle qumico de pragas, monocultura, etc. Mas tambm no utilizamassessoramento tcnico e anlise de solo que poderiam nortear as prticas agroecolgicasutilizadas nas lavouras. Se os produtores agregassem, a estas prticas, novas tecnologias, poderiamaumentar a produtividade e atingir a sustentabilidade tanto econmica quanto ambiental.-preservao do mato nativo: a densidade de araucria das matas nativas do Municpio baixadevido ao corte indiscriminado que ainda pode estar ocorrendo apesar da proibio. indicado erecomendado o (re)florestamento de araucrias e outras rvores nativas, porque ajuda arecompor o ecossistema e mantm a biodiversidade vegetal e animal.

    Aproximadamente 52% dos produtores no plantam e no pretendem plantar pinus emsuas propriedades, porm, apesar de ser uma rvore extica, o cultivo aconselhado empequena rea da propriedade (rea inaproveitvel), pois, em aproximadamente 20 anos, poderser abatido para fazer melhorias nas benfeitorias, da propriedade, ou para compor a rendafamiliar com sua venda para as madeireiras existentes no Municpio ou na regio.- preservao do campo: as queimadas controladas so utilizadas pela populao rural daregio. Em Jaquirana, as queimadas s no ocorrem no ecossistema Encosta Basltica, porquenesta regio no existe campo nativo. Porm os produtores dessas localidades expressaram queno podem fazer mais roas, porque proibido queimar e desmatar.

    Para reduzir as reas queimadas dos campos nativos, sugere-se que seja introduzido opastejo rotativo com o uso de cercas eltricas. Para tal, necessrio polticas pblicas, voltadaspara os produtores da regio, porque, sem incentivo governamental, a adoo dessas tcnicas

    invivel economicamente (Bristot, 2001).Para Bristot (2001), a regio enfrenta dois grandes problemas ambientais: as queimadas

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    controladas e a proliferao das florestas de pinus. Se as queimadas forem proibidas, as reascobertas com pinus iro aumentar, e uma vez floresta sempre floresta, portanto, uma situaosem volta. Para o autor, so necessrias muitas negociaes sem radicalismos, e ainda muitosestudos devero ser feitos at ser possvel atingir tambm a sustentabilidade ambiental para a

    regio(p.31). importante que a secretaria de educao municipal, por meio da escola assuma a

    responsabilidade de contribuir com a busca da sustentabilidade do Municpio. Recomenda-se aelaborao de projetos para trabalhar educao ambiental e os princpios do desenvolvimentosustentvel em um currculo que privilegie a cultura local, pois os filhos dos produtores podemser parcela fundamental para que essa mudana de paradigma se concretize.

    Indicadores de sade social ou qualidade de vida

    Prioridades de qualidade de vida:- educao: 75% da populao pesquisada possui o Ensino Fundamental incompleto. Estaparcela da populao teve acesso e permaneceu na escola pelo menos nas sries iniciais, pois asescolas do interior do Municpio, prximas s propriedades, oferecem Ensino Fundamentalincompleto. A secretaria municipal de educao deve garantir a permanncia das crianas naescola e oferecer Ensino Supletivo, no interior do Municpio, para aqueles maiores de 14 anosque no concluram o Ensino Fundamental. Com o acesso informao, a populao termelhores condies de lutar e garantir seus direitos como cidados.- sade: 60% dos pesquisados consideram a assistncia sade do Municpio boa, embora osprodutores das localidades Barra, Espigo Alto, Picada, Trs Irmos, Barroco, Cip, Faxinaldos Pelcios e Cleon tenham expressado que o atendimento regular e reivindiquemaparelhagem para o hospital, ambulncia e mais mdicos. Cabe mencionar que apenas ummdico atende todo o Municpio. Sugere-se que a secretaria da sade implante um programa desade de atendimento familiar com tcnicos, mdicos e dentistas que tambm orientem eeduquem a populao quanto aos hbitos de higiene e preveno de doenas.- estradas: 60% dos produtores pesquisados expressaram que as estradas que do acesso

    propriedade so trafegveis, porm necessrio cuidado nos dias de chuva. Cabe mencionar quea quase totalidade das estradas do Municpio no so pavimentadas.- transporte coletivo: 57% das propriedades pesquisadas no so atendidas por transportecoletivo, e para aquelas que o so, os horrios dos nibus so muito espaados. Com isso, possvel concluir que o carro prprio um indicador de sade social ou qualidade de vida.- energia eltrica: 65% das propriedades pesquisadas tm energia eltrica. Esta trouxe melhoriana qualidade de vida, possibilitando aos produtores o acesso a novas tecnologias, emboratenham adquirido outros hbitos e outras necessidades de consumo. imprescindvel que todostenham acesso energia eltrica, pois, no futuro, provavelmente os jovens, cujas residncias notm energia eltrica, deixaro o campo, independente da sustentabilidade econmica.-assistncia tcnica: os produtores rurais solicitaram assistncia tcnica na pesquisa, embora nousem a assistncia oferecida pelo governo estadual, que disponibilizou trs tcnicos da EMATER

    para atender populao rural de Jaquirana. importante que estes profissionais verifiquem seno h necessidade de oferecer um trabalho diferenciado para os produtores do Municpio, pois foideterminado, na pesquisa, que a grande maioria utiliza tcnicas do sculo XIX e tem dificuldadesde interpretao, compreenso e aceitao do novo, o que pode representar dificuldades emutilizar as tecnologias de ponta que, eventualmente, venham a ter acesso.-sistema de crdito: as polticas pblicas no esto direcionadas para o grupo pesquisado. Cabemencionar que os produtores pediram mudanas no sistema de crdito para que pudessem teracesso, por exemplo, ao PRONAF, mas que este programa no est atingindo seu objetivo geralque a melhoria da qualidade de vida dos produtores familiares, pelo menos em Jaquirana.- organizao comunitria: poderia indicar caminhos para serem atingidos pelo grupo, comopor exemplo, a criao de uma cooperativa e um arremate, pois, s dessa maneira, os produtoresconseguiriam atingir outros mercados para comercializar seus produtos tanto de origem vegetal,

    quanto animal e, assim, conseguir melhores preos.-origem da propriedade: a forma de aquisio dos imveis um indicador de permanncia no

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    campo, grande maioria dos produtores com propriedade no ecossistema Planalto das Araucriasou Ambos Ecossistemas herdaram toda ou parte da rea de terra que possuem. Tambm umindicador de permanncia no campo a compra de propriedade para a maioria dos pequenosprodutores do ecossistema Encosta Basltica.- condies de qualidade de vida: embora a grande maioria da populao amostrada resida napropriedade, verifica-se que a porcentagem dos jovens envolvidos na amostra pequena, o quepode indicar uma reduo na populao rural do Municpio. Foi observado, tambm, queaproximadamente 14% dos produtores saram para trabalhar em outros municpios e, aps aaposentadoria por tempo de servio, voltaram para o campo, isto indica que a renda, sendocomposta pela aposentadoria e pela venda de produtos da propriedade, garante a subsistncia dafamlia. Cabe mencionar, neste momento, que o nmero de pessoas que voltam para o campo menor, se comparado com o nmero que migrou em busca de trabalho, considerando que os filhosficaram na cidade onde tm melhores condies de garantir o sustento. Cabe mencionar, tambm,que os produtores manifestaram que pretendem continuar no campo.

    Observando o local de residncia, a faixa etria e a escolaridade do grupo pesquisado,verifica-se que h necessidade de investimentos e incentivos por parte dos governantes para quea populao rural permanea no campo. importante que o Municpio possa ampliar o acesso e

    a permanncia na escola, tambm que oferea cursos que envolvam tcnicas que possam seragregadas s atividades rurais, artesanato ou ainda outros assuntos de interesse dos produtores,produzindo, assim, aumento na renda dos mesmos, propiciando melhoria na qualidade de vida.

    necessrio que a secretaria da sade do Municpio faa a anlise da gua daspropriedades para verificar se potvel, se precisa ser tratada ou, ainda, se aconselhvel que oprodutor procure outra vertente ou poo para o fornecimento da gua para a propriedade. necessrio tambm que a totalidade dos produtores providencie proteo para a vertente oupoo, pois estando abertos h maiores possibilidades de contaminao.

    A dupla ocupao de trabalho foi a alternativa encontrada pelos produtores rurais parasustentar a famlia e permanecer no campo. Esta uma realidade no meio rural do Municpiopara produtores que possuem rea de terra no universo investigado. Cabe mencionar que a duplaocupao de trabalho e aposentadoria so fatores importantes na composio da renda do

    produtor, conforme Silva (1999), este um dos fatores que compe o novo mundo rural.-condies de sade:foram descritas nas prioridades dos produtores.-condies sanitrias: em 44% das propriedades as instalaes sanitrias so latrinas, ou o esgoto lanado direto no curso dgua ou perau. Tambm preocupante a posio da horta em relao casa, ou pocilga ou ainda ao galpo. necessrio que estas propriedades sejam vistoriadas e osprodutores sejam orientados, pela sade pblica municipal, se h riscos de contaminao.- sindicalizao: grande maioria dos produtores declarou ser scio de Sindicato, emboraafirmasse que no realiza a contribuio h muito tempo.

    Indicadores de identidade cultural

    -aceitabilidade cultural: os produtores mantm hbitos culturais de seus antepassados. Isto pode

    ser incentivado, embora hbitos como benzer lavouras, alm de prejuzos econmicos e danosambientais, mantm a populao rural margem das novas tecnologias.-aceitabilidade de novas tecnologias:os produtores apresentam grandes dificuldades para aceitarnovas tecnologias e preferem continuar utilizando as tcnicas de seus antepassados.

    Com base nos resultados obtidos os indicadores de sustentabilidade para o municpio deJaquirana, podem ser classificados conforme o quadro a seguir:

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    Resumo da classificao dos indicadoresCLASSIFICAO INDICADORES DO MUNICPIO DE JAQUIRANA

    3 - uso de toda terra que possui; - forma como trabalha na propriedade; - diversidadeproduo vegetal/animal; - separao do lixo; - condies de qualidade de vida; -aceitao da cultura local.

    2 - capacidade de produzir receita; - scio de sindicato; - conservao da lavoura; -

    conservao do campo; - origem da propriedade; - prioridades para melhoria daqualidade de vida (educao; sade; estradas; transporte coletivo); - condies de sade.

    1 - produtividade; - sanidade da lavoura; - insumos externos e custos de produo; -comercializao de produtos; - conservao do mato nativo; - cuidado com aguadas;- prioridades para melhoria da qualidade de vida (transporte coletivo; energiaeltrica e melhor fornecimento de energia eltrica; assistncia tcnica; mudana nosistema de crdito; organizao comunitria; telefonia); - condies sanitrias; -aceitao de novas tecnologias.

    Concluso

    Algumas concluses de sustentabilidade econmica, ambiental, social e cultural foramobtidas a partir dos dados da pesquisa, sem a pretenso de esgotar ou exaurir as mesmas, que

    poderiam ser elaboradas usando outros critrios para determinar os indicadores, o que, resultariaem outras concluses.

    Para descrever a sustentabilidade econmica dos produtores com propriedades naslocalidades de Barra, Chapada, Costa das Antas e Espigo Alto, onde predomina o pequenoprodutor rural e o ecossistema Encosta Basltica, importante, num primeiro momento,mencionar que as lavouras esto localizadas nas encostas de morros, portanto protegidas dasgeadas e do frio. Vale dizer, tambm, que o nmero de meses de frio intenso neste ecossistema menor que no Planalto das Araucrias.

    Portanto, para estes produtores, sugere-se a prtica agrossilvipastoreio, que combina aassociao da produo agrcola, pastagem, criao de animais e (re)florestamento de rvoresnativas em pequenas reas da propriedade ou, ainda, nas reas inaproveitveis, o plantio dervores exticas como pinus ou eucalipto. Para tal, necessrio tanto a diversificao decultivos como a criao de animais, intensificando os animais de pequeno porte. necessrio,tambm, que toda propriedade tenha um pequeno aude (para a criao de peixes), abelhas,pomar e uma pequena estufa para o cultivo de verduras, legumes e hortalias durante todo ano.

    Para descrever a sustentabilidade econmica dos produtores do Planalto das Araucriase de Ambos Ecossistemas, procurou-se observar a origem e o tamanho da propriedade. Optou-sepor um olhar mais criterioso para estes indicadores porque a maioria das propriedades destesprodutores foram adquiridas totalmente ou em parte por herana. E, na prxima gerao, tudoindica que os mdios sero pequenos produtores ou tero vendido as terras, indo procura dosustento provavelmente na cidade.

    Para que possa ser sugerido algum tipo de manejo para estes produtores, necessrioum estudo capaz de associar o conhecimento emprico do produtor ao conhecimento cientfico

    do tcnico, alm de pesquisas e polticas pblicas direcionadas especialmente para a regio paranortear a sustentabilidade em nvel econmico e ambiental. Enquanto este estudo no forrealizado e seus resultados no forem colocados em prtica, sugere-se uma propostaemergencial com 4 atividades para obter a renda necessria para a sua sustentabilidade.

    A primeira atividade o plantio de pinus em pequenas reas inaproveitveis dapropriedade, pois o impacto ambiental seria quase inexistente. Embora ainda exista impacto,pois uma vez floresta, sempre floresta. A segunda o cultivo de araucrias para recompor oecossistema, e, em mdio prazo, o produtor poder compor a renda da famlia com a venda dopinho. A terceira a agricultura como suporte para a pecuria, pois obteve-se na pesquisa que42% dos bovinos dos produtores so vacas, ento pode existir uma tendncia para acomercializao de leite, que poderia indicar uma fonte de renda contnua para os produtores,enquanto a renda sazonal continuaria sendo obtida com a venda dos produtos de origem animal

    e eventualmente com produtos agrcolas. A ltima poderia ser o turismo rural.Tendo em vista a sustentabilidade ambiental, pode-se identificar atividades de maior

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    risco ao ambiente como a derrubada de araucrias e outras rvores nativas, resduos de serrariase uma intensificao do uso de agrotxicos naquelas terras arrendadas para o plantio de verdurase hortalias. Outras atividades como diminuio das guas causadas pelo cultivo de pinus,esgotamento do solo, mencionada por 10% dos produtores, e prticas agrcolasdescontextualizadas devem ser pesquisadas para, no futuro, no colocarem a sustentabilidadeambiental sob suspeita.

    Porm as queimadas controladas e o plantio de pinus so as prticas que estocolocando em xeque a sustentabilidade ambiental no Planalto das Araucrias e em AmbosEcossistemas. Para Bristot (2001) o plantio de reas contnuas de pinus (feita pelos madeireiros) a maior ameaa, pois elimina totalmente a biodiversidade e a beleza da paisagem quecontribuem para o desenvolvimento do ecoturismo na regio.

    Enquanto os rgos competentes no apresentarem solues viveis para as queimadas,sugere-se que os produtores utilizem cercas eltricas para fazer o manejo das pastagens. Emboraentenda-se que essas s minimizaro o problema, pois os produtores continuaro queimando,uma vez que necessitam renovar os pastos, alimento primrio para os animais no inverno. Hdois fatores que podem ser restritivos para o uso dessas cercas: a disponibilidade de gua dapropriedade rural que determinar o tamanho da rea que deve ser cercada e as condies

    financeiras dos produtores pesquisados.Os indicadores de sustentabilidade social ou qualidade de vida apontam a necessidadede melhorias na escolaridade, na sade, nas estradas, em energia eltrica, no transporte coletivo,bem como em mudanas na assistncia tcnica e nas polticas pblicas agropecurias. Cabemencionar que o poder pblico municipal, por meio da secretaria da sade, pode averiguar ascondies do esgoto sanitrio das propriedades, bem como da gua consumida nos mesmos,pois foi observado que, em algumas propriedades, a gua pode estar contaminada devido posio de sua captao em relao ao destino dos dejetos de origem humana e animal.

    Outro ponto a ser considerado a renda da famlia composta pela venda dos produtos deorigem animal e vegetal, pela dupla ocupao de trabalho ou trabalho apenas fora dapropriedade e pela aposentadoria ser um indicador social que mantm essas famlias no campo,pelo menos em curto prazo, embora a sustentabilidade ambiental esteja ameaada com o uso do

    plantio de pinus em reas contnuas.Para a sustentabilidade cultural, sugere-se que o poder pblico municipal faa um

    levantamento das prticas culturais do Municpio incentivando que estas sejam conhecidas portodos, inclusive prticas de manejo que estejam sendo utilizadas e que esto dando certo, paraque todos saibam como os produtores esto trabalhando em suas terras e ampliando suautilizao na regio.

    De acordo com os indicadores obtidos na pesquisa, recomenda-se para o Municpio: Incentivo e suporte tcnico para a organizao de uma cooperativa ou de uma associao de

    produtores rurais que envolva a comunidade de forma efetiva; Divulgao e orientao os produtores quanto ao uso de tcnicas sustentveis de manejo

    agropecurio; A criao de agroindstrias familiares;

    Intensificao do turismo rural no Municpio; Incentivos pblicos em educao, sade e conservao de estradas; A instalao de uma escola de ensino mdio com curso profissionalizante nas reas agrcola

    e ambiental; A instalao de telefones pblicos no interior da Municpio; Um estudo para verificar a fonte de energia que mais vivel economicamente, se a

    extenso da rede ou o uso de uma das fontes renovveis que melhor se adapte para cadapropriedade, que no tenha acesso a energia eltrica;

    Verificao a posio das hortas e da captao dgua em relao ao destino do esgoto das

    propriedades rurais; Reconhecimento e divulgadas as prticas culturais nativas;

    Um projeto de educao ambiental que possa ser elaborado pelas escolas do Municpio.

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