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177 Risco Dendrocaustológico em Mapas * ENB, Revista Técnica e Formativa da Escola Nacional de Bombeiros, Sintra, nº. 6, 1998, p. 14-27 (em colaboração com A. BENTO GONÇALVES). Índice de risco histórico-geográfico de fogo florestal – Uma proposta para Portugal Continental * Introdução Desde há muito que, em Portugal Continental, se atribuem as principais causas de incêndios florestais a factores de natureza cultural e de índole sócio- -económica (F. CRAVIDÃO, 1990). No entanto, as grandes condicionantes dos fogos florestais são de natureza meteorológica (F. REBELO, 1980), porque, em maior ou menor grau, estas condicionam todas as outras variáveis físicas, em especial o estado dos combustíveis. Com base nestes pressupostos, só um correcto ordenamento e uma gestão florestal adequada poderão contrabalançar os efeitos negativos do elevado risco de fogo que a generalidade das nossas matas e florestas apresenta na época estival. Com o objecto de auxiliar a planificação de acções a curto e médio prazo relacionadas com a elaboração de projectos de arborização e de recuperação de áreas ardidas, bem como no ordenamento e gestão florestal do território, o sistema de informação de risco de incêndio florestal (L. LOURENÇO et al., 1997, p. 16-25) terá ajudado a responder à preocupação do regulamento CEE 2158/92, de 23 de Julho, relativo à protecção das florestas da Comunidade contra os incêndios. No entanto, a classificação do território português em função do grau de risco de incêndio florestal não está contemplada nesse índice, pelo que nos propomos desenvolver agora o risco histórico-geográfico de fogo florestal para diferentes unidades, o qual procura reflectir o risco mais frequente nessa dada região. É geográfico, porque considera a distribuição espacial dos incêndios, e é histórico, porque se baseia na história dendrocaustológica (número de fogos e extensão das áreas ardidas da unidade considerada), bem como na sua evolução

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* ENB, Revista Técnica e Formativa da Escola Nacional de Bombeiros, Sintra, nº. 6, 1998, p. 14-27 (emcolaboração com A. BENTO GONÇALVES).

Índice de risco histórico-geográfico de fogoflorestal

– Uma proposta para Portugal Continental*

Introdução

Desde há muito que, em Portugal Continental, se atribuem as principaiscausas de incêndios florestais a factores de natureza cultural e de índole sócio--económica (F. CRAVIDÃO, 1990). No entanto, as grandes condicionantes dosfogos florestais são de natureza meteorológica (F. REBELO, 1980), porque, emmaior ou menor grau, estas condicionam todas as outras variáveis físicas, emespecial o estado dos combustíveis.

Com base nestes pressupostos, só um correcto ordenamento e uma gestãoflorestal adequada poderão contrabalançar os efeitos negativos do elevado risco defogo que a generalidade das nossas matas e florestas apresenta na época estival.

Com o objecto de auxiliar a planificação de acções a curto e médio prazorelacionadas com a elaboração de projectos de arborização e de recuperação deáreas ardidas, bem como no ordenamento e gestão florestal do território, osistema de informação de risco de incêndio florestal (L. LOURENÇO et al., 1997,p. 16-25) terá ajudado a responder à preocupação do regulamento CEE nº2158/92, de 23 de Julho, relativo à protecção das florestas da Comunidadecontra os incêndios.

No entanto, a classificação do território português em função do grau de riscode incêndio florestal não está contemplada nesse índice, pelo que nos propomosdesenvolver agora o risco histórico-geográfico de fogo florestal para diferentesunidades, o qual procura reflectir o risco mais frequente nessa dada região.

É geográfico, porque considera a distribuição espacial dos incêndios, e éhistórico, porque se baseia na história dendrocaustológica (número de fogos eextensão das áreas ardidas da unidade considerada), bem como na sua evolução

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no tempo, ou seja, ao longo dos anos. Este é um dos aspectos que se nos revelafundamental, para poder vir a ser tomado em consideração tanto noordenamento florestal, sobretudo na elaboração dos projectos florestais comvista à prevenção dos fogos florestais, como na gestão dos povoamentos florestais.

Investigámos, pois, uma componente histórico-geográfica, baseadadirectamente no número de fogos e nas áreas ardidas em cada uma dasdiferentes unidades administrativas. Porque o número de fogos e as áreasardidas reflectem indirectamente todas as variáveis envolvidas no processo,desde as condições de natureza física (meteorológicas, combustíveis,relevo, ...), até às causas directas e indirectas do fogo, essencialmente de origemhumana, passando ainda pela eficiência ou não do próprio combate (fots 1 a3), pensamos que a sua representação cartográfica, através do índice de riscohistórico-geográfico, constitui um bom método de análise da incidência ecomportamento dos fogos nas diferentes regiões.

O presente trabalho dá-nos assim conta de um método prático paraobtenção desse risco e, ao mesmo tempo, a cartografia dos resultados obtidospermite visualizar, de maneira mais clara, a distribuição espacial das diferentesclasses de risco.

Fot. 1 - Combate a incêndio florestal com meios aéreos.

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Porque nos parecia existir um certo agravamento do risco de fogo florestal,além da análise conjunta dos dados para todos os anos do período em estudo,considerámos também a sua evolução separadamente, em cada um dos trêsúltimos quinquénios.

Depois de uma breve descrição da metodologia, passaremos então aapresentar alguns elementos estatísticos e a considerar os resultados obtidos.

1. Metodologia de análise

O índice de risco histórico-geográfico permite conjugar a importância dosincêndios ocorridos nos anos anteriores, com a sua localização, através da combinaçãodo número de fogos com o valor das áreas ardidas na unidade considerada.

A sua averiguação é feita através da análise estatística do número de fogos e dasáreas ardidas, à qual se associa a respectiva representação cartográfica, obtendo-seassim a distribuição espacial do risco de incêndio nas diferentes regiões.

No seguimento de trabalhos anteriores sobre a mesma temática (L. LOURENÇO,A. J. BENTO GONÇALVES, H. SOARES, 1988; L. LOURENÇO, 1989; 1992; 1994ae 1994b), surgiu agora a necessidade de se aperfeiçoar a metodologia, visando odesenvolvimento de uma fórmula capaz de permitir o cálculo do índice derisco histórico-geográfico, uma vez que a tabela de dupla entrada antes proposta(L. LOURENÇO, 1994b) não se revelou suficientemente expedita.

Deste modo, o índice de risco histórico-geográfico de fogo florestaldetermina-se pela seguinte fórmula:

IRHG – Índice de risco histórico-geográfico da unidade territorial em análise(mancha florestal, freguesia, concelho, distrito, sub-região, região, ...);

AAi – Área ardida (ha) na unidade territorial em análise, ao longo dointervalo de tempo (ano) considerado;

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NIFi – Número de ocorrências de fogos florestais na unidade territorial, aolongo do período de tempo (ano) considerado;

A – Área da unidade (ha) territorial em análise.A – Área média (ha) do conjunto das unidades territoriais do tipo em análise.32290 – Área média (ha) dos concelhos do Continente, unidade base de

determinação do índice.n – Número de anos correspondentes ao intervalo de tempo considerado.i – Ano inicial, dos anos correspondentes ao intervalo de tempo considerado.Esta nova fórmula continua a contemplar as premissas da metodologia

anterior, ou seja, a relação da média anual da área ardida, que reflecte aimportância das causas indirectas dos fogos florestais, com o número médioanual de fogos, que reflecte a importância das causas directas, devidamenteenquadradas na superfície de cada unidade de análise. Por outro lado, permiteuma determinação mais cómoda e precisa do índice de risco histórico--geográfico, que também se hierarquiza em cinco classes(1): reduzido,moderado, elevado, muito elevado e máximo, o que facilita, quer a visualização,quer a leitura dos mapas.

Os primeiros estudos foram aplicados aos concelhos. Atendendo àdispersão dos valores obtidos, para definirmos as diferentes classes de risco,utilizámos uma escala de progressão geométrica (QUADRO I).

Contudo, quando aplicámos esta metodologia às outras unidadesterritoriais (freguesias, distritos e NUT’s(2) de ordem III), verificámos que os1 Em trabalhos anteriores designámos as cinco classes por: baixo, moderado, alto, muito alto e extremo.

No entanto, não nos parece dever manter essa designação na medida em que há dois extremos(o inferior e o superior) pelo que não será a terminologia mais adequada.

Por outro lado, falar de risco alto ou de uma situação de alto risco não é bem a mesma coisa, pelo quepreferimos passar a adjectivar de baixo e alto risco as situações que lhes correspondem, e não as classes de risco.

Assim, propomos uma nova terminologia, indicando a sua equivalência às antigasdenominações:

2 Nomenclatura de unidades territoriais, cujas matrizes de delimitação geográfica foram estabelecidaspelo Decreto-Lei nº 46/89, de 15 de Fevereiro.

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limiares de separação das classes eram diferentes dos obtidos para os concelhos.Tornou-se então necessário definir um factor de correcção, que viesse

anular as alterações introduzidas pela diferença de superfície existente entre asdiferentes unidades consideradas.

Depois de diversos ensaios verificámos que dividindo a área média de cadaunidade territorial (distrito, NUT III, concelho e freguesia) pela área médiados concelhos(3), unidade territorial tomada como base, os limiares deseparação das classes passaram a ser idênticos.

Atendendo a que as três últimas classes de risco podem ser englobadas numaúnica situação, mais abrangente, de alto risco, as primeiras classes representam-se,respectivamente, em verde e amarelo e as restantes aparecem em três tonalidadesde vermelho, fazendo corresponder as três situações de risco às cores semafóricas(QUADRO I).

Aplicando esta metodologia às diferentes unidades, administrativas egeográficas, passa a ser fácil analisar comparativamente unidades territoriaiscom dimensões diferentes.

Deste modo, a análise que se segue pretende avaliar o risco de fogo florestalnesta perspectiva histórico-geográfica, mostrando a evolução verificada nostrês últimos quinquénios, em cada uma das unidades administrativas maisutilizadas: distrito, sub-região (NUT III) e concelho.

3 Distritos - 493 320 ha; NUT III - 317 130 ha; Concelhos - 32 290 ha; Freguesias - 2 210 ha; logoADist./AConc.=15,3; ANUT/AConc.=9,8; AConc./AConc.=1 e AFreg./AConc.=0,07, pelo que os factores de correcçãopassam a ser respectivamente 15,3; 9,8; 1 e 0,07.

QUADRO I - Classes de índice de risco histórico-geográfico e seus valores limitesSituação

Baixo Risco

Médio Risco

Classe de Risco Intervalos de Classe Cor

1 –Reduzido

2 –Moderado

3 –Elevado

4 –Muito Elevado

5 –Máximo

0 – 29,9

30 – 299,9

300 – 2999,9

3 000 – 29 999,9

≥ 30 000

Verde

Amarelo

Verm. claro

Vermelho

Verm. escuro

Alto Risco

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Fot. 2 - Aspectos do combate a incêndios florestais com recurso a ferramentas manuais.

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Muito embora a análise ao nível dos distritos nem sempre se revelegeograficamente correcta, é no entanto muito válida, atendendo ao facto deser um espaço de decisão política por excelência.

A análise por sub-regiões, revela-se geograficamente mais homogénea, vistodefinir áreas com relativa semelhança interna, no que diz respeito a condiçõesde natureza física e humana. Além disso, em vez de 18 distritos, as sub-regiões(NUT’s III) são 28, o que transmite maior diversidade à análise, pelo que énatural que os contrastes sejam mais nítidos, o que pode ajudar no momentode tomar decisões. No entanto, à medida que descemos de escala, os contrastesacentuam-se, pelo que será ao nível dos concelhos que a análise apresentamaior rigor, dentro das três unidades agora consideradas. Contudo, será aonível das freguesias que a decomposição se apresenta mais minuciosa, mas asua apresentação, atendendo ao número de efectivos, transcende os objectivosdeste ensaio.

Porque o volume dos dados disponíveis permite uma análise porquinquénios (1980-84, 1985-89 e 1990-94), é possível estabelecer uma análisesequencial e comparativa da evolução do risco em cada uma das unidadesconsideradas, ao longo destes três intervalos de tempo, bem como dos valoresmédios verificados no período dos quinze anos estudados.

O índice de risco histórico-geográfico pode servir de factor de correcção àtendência do risco de incêndio para o dia seguinte (L. LOURENÇO et al., 1997),transformando a progressão geométrica em aritmética, o que se consegueatravés da seguinte fórmula:

Os valores obtidos para R, de acordo com o respectivo grau de risco,constam do QUADRO II.

Se à fórmula do índice de risco de progressão de fogo florestal, antesreferida, adicionarmos a tendência meteorológica do estado do tempo para odia seguinte, resultante da variação ou não da temperatura, da humidaderelativa do ar e da velocidade do vento, e se multiplicarmos o resultado pelo

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factor de correcção, obteremos a tendência de risco de fogo florestal para o diaseguinte, ou seja, a fórmula passará a ter a seguinte expressão:

TIRIFFLL – Tendência do índice de risco de fogo florestal para o diaseguinte, relativa às 12 horas solares;

Tdc – Temperatura do ar do dia em causa, em °C;Udc – Humidade relativa do ar do dia em causa, em %;Vdc– Velocidade do vento do dia em causa, em Km/h, quando o seu rumo

(D) está situado entre os quadrantes 350° a 360° e 0° a 180°, ou seja,350° - D - 360° v 0° - D - 180°;

Tds – Temperatura do ar prevista para o dia (ou dias) seguinte(s), em °C;Uds– Humidade relativa do ar prevista para o dia (ou dias) seguinte(s), em %;Vds – Velocidade do vento do dia (ou dias) seguinte(s), em Km/h, quando o

rumo previsto se situar entre os quadrantes 350° a 360° e 0° a 180°, ouseja, 350° - D - 360° v 0° - D - 180°;

AAi – Área ardida (ha) na unidade territorial em análise, ao longo dointervalo de tempo (ano) considerado;

NIFi – Número de ocorrências de fogos florestais na unidade territorial, aolongo do período de tempo (ano) considerado;

A – Área da unidade (ha) territorial em análise.A – Área média (ha) do conjunto das unidades territoriais em análise.32290 – Área média (ha) dos concelhos do Continente, unidade base de

determinação do índice.n – Número de anos correspondentes ao intervalo de tempo considerado.i – Ano inicial, dos anos correspondentes ao intervalo de tempo

considerado.

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2. Resultados obtidos

2.1 Evolução do Risco por Distritos

Quando se analisa a distribuição do índice de risco histórico-geográfico pordistritos, relativa aos quinquénios de 1980-84, 1985-89 e 1990-94, verifica-seque apenas cinco distritos não sofreram qualquer mudança de classe de risco(Viana do Castelo e Coimbra – Risco muito elevado; Leiria – Risco elevado; Setúbale Évora – reduzido), havendo alterações nos restantes catorze distritos (fig. 1).

No entanto, quando se faz uma análise dos valores absolutos, verifica-seexistir agravamento em oito distritos (Castelo Branco, Coimbra, Faro, Guarda,Leiria, Santarém, Vila Real e Viseu) e desagravamento em apenas um distrito(Lisboa), que, contudo, muitas vezes, não é suficiente para implicar umamudança para a classe seguinte (QUADRO III).

Nos outros nove distritos, observa-se a existência de oscilações. Assim, em trêsdeles (Bragança, Évora e Setúbal), após ter existido um desagravamento do risco,entre o primeiro e o segundo período, notou-se depois um agravamento entreos segundo e terceiro quinquénios. Nos restantes seis distritos (Aveiro, Beja,Braga, Portalegre, Porto, e Viana do Castelo), ocorreu uma evolução inversa,ou seja, agravamento seguido de desagravamento do risco, contribuindo parasuavizar a tendência geral para o aumento do risco de incêndio.

QUADRO II - Classes do factor de correcção à tendência do risco de incêndiopara o dia seguinte e seus valores limite

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QUADRO III - Valores do índice de risco histórico-geográfico, por Distrito

Fig. 1 - Evolução do risco histórico-geográfico, no Continente, por Distritos.

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QUADRO IV - Classes de risco e efectivos por distrito, nos quinquénios e noquindénio

Este constante agravamento do risco, comprova-se facilmente, analisandoo conjunto das situações de alto risco. Com efeito, a percentagem de distritossituados nestas classes vai aumentando, tendo passado de 61,1% no primeiroquinquénio, para 66,7% no segundo e 72,2% no terceiro (QUADRO IV e fig. 2).

Em termos de número de distritos, essa evolução é de 11 no primeiro,passando a 12 no segundo e a 13 distritos no terceiro quinquénio,respectivamente.

O aumento do risco de fogo florestal é particularmente evidente entre oprimeiro e o segundo quinquénios, quer pela redução, para metade, donúmero de distritos com risco reduzido e ligeiro aumento do número dedistritos com risco moderado, quer, sobretudo, pelo agravamento das situaçõesde alto risco. Com efeito, a drástica diminuição de efectivos das classes de riscoelevado, menos de metade, no segundo quinquénio, relativamente aoprimeiro, foi acompanhada pelo aumento impressionante dos efectivos daclasse de risco muito elevado, que quase duplicaram os do primeiroquinquénio e, mais ainda, pelo facto de dois distritos se terem situado na classede risco máximo que, no quinquénio antecedente, não tinha registadoqualquer efectivo (fig. 2).

O último quinquénio apresentou, a nível distrital, um ligeirodesagravamento do risco que, como vimos, é mais aparente do que real, não sóem função dos limiares definidos para separação das diferentes classes, mastambém da evolução das condições que, directa e indirectamente,condicionam o risco de incêndio florestal em cada concelho.

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2.2 Evolução por NUT’s III

Quando se faz uma análise evolutiva do risco de incêndio, a nível de sub--regiões, verifica-se um sério agravamento do primeiro para o segundoquinquénio. Assim, entre 1980-84 e 1985-89 verificou-se um aumento dorisco em 21 das 28 NUT’s III e apenas em 7 delas se registou uma diminuiçãodo risco (Douro-Vouga, Alto Trás-os-Montes, Médio Tejo, Grande Lisboa,Península de Setúbal, Alentejo Central e Alentejo Litoral), no entanto, quasesempre insuficiente para determinar mudanças para as classes inferiores, àexcepção do Alentejo Litoral (QUADRO V e fig. 3).

Verifica-se pois, um aumento do número de efectivos nas três classes maisaltas, e uma diminuição nas duas classes mais baixas, ou seja, a classe de riscomáximo passa de 0 para 3 NUT’s III, enquanto que a classe de risco reduzidoperde 3 NUT’s III. Do mesmo modo, a classe de risco moderado reduz os seusefectivos para menos de metade, passando de 10 para 4 NUT’s, redução que écompensada pelo aumento do número de efectivos da classe de risco muitoelevado (QUADRO VI e fig. 4).

Entre 1985-89 e 1990-94 a evolução não foi tão regular. Observa-se então,que em 11 das 21 NUT’s III, cujo risco tinha aumentado do primeiro para o

Fig. 2 - Evolução do risco histórico-geográfico, por distritos.

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segundo quinquénio, tem agora lugar um desagravamento do risco, passando7 delas para a classe inferior (Cávado, Grande Porto, Tâmega, Baixo Vouga,Pinhal Litoral, Oeste e Alto Alentejo). Nas restantes 10 mantém-se oagravamento do risco.

Em 5 das 7 NUT’s III onde tinha ocorrido uma diminuição do risco nosquinquénios anteriores, observa-se agora um agravamento.

De realçar o caso do Cávado, que de um risco inicialmente reduzido (80 -84),passou para um risco muito elevado (85-89) e, em seguida, para um risco moderado(90-94), o que resulta, entre outros factores, da diversidade sub-regional.

Apenas no Alentejo Litoral e na Grande Lisboa se verificou um desagravarconstante do risco.

Em termos estatísticos, é nítida a manutenção de 3 NUT’s III com riscomáximo, uma diminuição de 10 para 8 NUT’s III com risco muito elevado eum aumento de 7 para 8 NUT’s III com risco elevado. Houve diminuição de1 NUT III na classe de risco moderado, pelo que se registou em apenas3 NUT’s III. No entanto, existiu aumento de 2 NUT’s III na classe de riscoreduzido, que passou a afectar 6 destas unidades.

Em jeito de resumo, pode dizer-se que se verificou um agravar constante dorisco em 10 NUT’s III (Dão-Lafões, Beira Interior Norte, Baixo Mondego,Serra da Estrela, Pinhal Interior Norte, Beira Interior Sul, Pinhal Interior Sul,Lezíria do Tejo, Baixo Alentejo e Algarve), e um desagravar constante emapenas 2 delas (Alentejo Litoral e Grande Lisboa).

Contudo, na maior parte, ou seja, em 16 das 28, observa-se uma evoluçãoirregular.

Em11 delas existe um agravamento inicial, seguindo-se um desagravamentoposterior, entre o segundo e o terceiro quinquénio (Minho-Lima, Cávado, GrandePorto, Ave, Tâmega, Douro, Baixo Vouga, Cova da Beira, Pinhal Litoral, Oeste eAlto Alentejo). Nas restantes 5, verifica-se o oposto, após um desagravar inicial dorisco, segue-se um agravamento na segunda fase (Alto Trás os Montes, Douro--Vouga, Médio Tejo, Península de Setúbal e Alentejo Central).

Assim, as 3 classes mais altas sofrem um aumento de efectivos entre1980-84 e 1990-94, enquanto que as 2 classes mais baixas registam umadiminuição no mesmo período.

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QUADRO VI - Classes de risco e efectivos por NUT’s, por quinquénios e noquindénio

QUADRO V - Evolução do risco histórico-geográfico de incêndio florestal emPortugal Continental, por quinquénio (80-94) e por NUT’s

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Fig. 4 - Evolução do risco histórico-geográfico de fogo florestal em Portugal Continental, por quinquénio (80-94) e por NUT’s III.

A justificação para o agravamento parece-nos ser de ordem estrutural,associada a factores físicos e humanos conhecidos, mas de difícil resolução,pelo que o risco de incêndio continua a acentuar-se.

Fig. 3 - Evolução do risco histórico-geográfico, no Continente, por NUT’s III.

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O desagravamento verificado em determinadas sub-regiões, mais do que deum esforço concertado nesse sentido, parece-nos resultar de circunstânciasconjunturais, fortuítas, que, nada impede, no próximo quinquénio poderãocontribuir para novo agravamento do risco de incêndio.

2.3 Evolução por Concelho

Quando se desce ao nível dos concelhos, os contrastes acentuam-se, o quepermite uma análise mais rigorosa, ressaltando muito claramente, não só osconcelhos das Regiões Norte e Centro, como sendo aqueles que maior riscoapresentam, mas também resulta igualmente bastante claro, o contínuoagravamento do risco de incêndio florestal (fig. 5). No entanto, verifica-se umfortíssimo agravamento entre o primeiro e o segundo quinquénio, passando oconjunto das classes de “elevado risco”, de 15,6% para 33,8%, enquanto que,entre o segundo e o terceiro quinquénio, existe um ligeiro desagravamento,apenas de 0,7% (Quadro VII e fig. 6).

Observa-se igualmente um agravamento generalizado do primeiro para osegundo quinquénio, nos concelhos das Região Centro e Norte. Entre osegundo e o terceiro quinquénio, existe um aumento nos concelhos da RegiãoCentro, mas verifica-se um desagravamento nos concelhos da região Norte.

Em termos de risco máximo, verifica-se um brusco aumento do número deconcelhos. No quinquénio de 1980-84, nenhum concelho apresenta riscomáximo, passando esse número para quatro no quinquénio de 1985-89 (Guarda,Sabugal, Covilhã e Ponte de Lima), e para seis no último quinquénio estudado,1990-94 (Trancoso, Guarda, Celorico da Beira, Sabugal, Gouveia e Seia).

Contudo, dos quatro concelhos que apresentavam risco máximo nosegundo quinquénio, apenas dois (Guarda, Sabugal) mantiveram essa situaçãono terceiro quinquénio.

Outra conclusão que a análise comparativa destes mapas permite obter é adeslocação geográfica cada vez mais para sul, dos concelhos com risco maiselevado. Com efeito, no primeiro quinquénio, todos os concelhos com riscomuito elevado se situaram a norte do Rio Zêzere.

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QUADRO VII - Classes de risco e efectivos por concelhos, por quinquénio eno quindénio

Fig. 5 - Evolução do risco histórico-geográfico, no Continente, por concelhos.

No quinquénio seguinte, os concelhos com risco muito elevado ou máximocontinuam quase todos a localizar-se a norte do Rio Zêzere, à excepção daSertã, Fundão e Castelo Branco, pelo que este rio ainda continua a marcarbem o contraste entre o Norte e o Sul do país, em termos de risco de incêndio,mas, neste quinquénio, passou a verificar-se um aumento do número deconcelhos com risco elevado, situados entre os rios Zêzere e Tejo, o que acentuaa tal migração para sul.

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No último quinquénio, mais três destes últimos concelhos passaram aregistar risco muito elevado (Mação, Tomar e Oleiros), aproximando do rioTejo a linha divisória dos contrastes e marcando bem o agravamento do riscode incêndio da generalidade dos concelhos da Região Centro, com excepçãode um reduzido número de concelhos situados na franja litoral.

À volta da Serra de Monchique, no Algarve, assistiu-se também ao agravamentodo risco, tendo o concelho de Portimão registado um risco muito elevado.

Deste modo, pesamos que este tipo de representação cartográfica, além depermitir visualizar o risco de incêndio de uma maneira muito clara e cómoda,facilita também a comparação do risco nas diferentes unidades administrativas,podendo ajudar a planificar a sua gestão, em particular, indicando as áreasonde a intervenção é prioritária.

3. Análise do risco histórico-geográfico no período compreendidoentre 1980 e 1994

Analisada a evolução do risco histórico-geográfico de fogo florestal, nos trêsúltimos quinquénios, em cada uma das unidades territoriais consideradas,procedemos agora à cartografia dos dados relativos ao total dos 15 anos, ou

Fig. 6 - Evolução do risco histórico geográfico de fogo florestal, em Portugal Continental,por quinquénio (80 -94) e por concelhos.

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seja, ao valor médio do conjunto dos três quinquénios.O facto de dois dos três concelhos com risco máximo pertencerem ao

distrito da Guarda (Guarda e Sabugal), origina que apenas este distritoapresente um risco máximo no conjunto do período estudado (1980 a 1994),enquanto que, no extremo oposto, aparecem os distritos de Évora, Setúbal eBeja, com risco eduzido (fig. 7).

Em termos estatísticos, verifica-se pois, existir apenas um distrito com riscomáximo e três distritos com risco reduzido.

No entanto, o número de distritos com alto risco (elevado, muito elevado emáximo) é de catorze, o que representa 77,8% dos distritos de PortugalContinental.

Relativamente às NUT’s III, existem três delas com risco reduzido(10,7%), quatro com risco moderado (14,3%), onze com risco elevado (39,3%),oito com risco muito elevado (28,6%) e duas com risco máximo (7,1%), o querepresenta um total de 21 NUT’s III (75%) com alto risco de incêndio (fig. 8).

Com efeito, são as da Beira Interior Norte e Pinhal Interior Norte, aquelasque apresentam a situação de mais elevado risco (máximo).

No extremo oposto, são as sub-regiões do Alentejo Central, Península deSetúbal e Baixo Alentejo, aquelas que menor risco apresentam (reduzido).

Grande Lisboa, Lezíria do Tejo, Alto Alentejo e Alentejo Litoral aparecemcom risco moderado, enquanto que o risco muito elevado aparecerepresentado no Minho-Lima, Ave, Tâmega, Douro, Dão-Lafões, Serra daEstrela, Cova da Beira e Pinhal Interior Sul.

As situações de risco elevado aparecem nas sub-regiões do Litoral, a norteda Grande Lisboa (excepto no Minho-Lima), ao longo do Rio Tejo (exceptona Lezíria do Tejo), no Alto Trás-os-Montes e no Algarve.

Em termos absolutos, pode dizer-se que, por ordem decrescente, encontramosa Beira Interior Norte e o Pinhal Interior Norte como as situações mais graves,enquanto que o Alentejo Central nos aparece com a situação de menor risco.

Deste modo, quando se desce ao nível dos concelhos, verifica-se que70 deles (25,4%) apresentam risco elevado, 31 (11,3%) risco muito elevado eapenas 3 deles (1,1%) apresentam risco máximo, o que corresponde a104 concelhos (37,8%) em situação de alto risco. Os restantes 62,2%, ou seja,

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respectivamente 61 concelhos (22,2%) apresentam risco moderado e110 (40%) risco reduzido (fig. 9).

Fig. 7 - Evolução do riscohistórico-geográfico, no

Continente, por Distritos

Fig. 8 - Evolução do riscohistórico-geográfico, no

Continente, por NUT’s III.

Fig. 9 - Evolução do riscohistórico-geográfico, no

Continente, por Concelhos.

Nestas circunstâncias, observa-se que os limiares estabelecidos para separaras diferentes classes de risco mantêm um certo equilíbrio entre as situações dealto risco e as restantes. Além disso permitem, ainda, ilustrar o agravamentodaquelas, de modo a que o risco máximo possa corresponder a um número deconcelhos restrito, onde é mais urgente aplicar medidas concretas no sentidode o inverter. A implementação de medidas genéricas de prevenção, deveviabilizar a aplicação das medidas adequadas, adaptadas a cada um deles,porventura diferentes de uns para outros, em função da especificidade local,que só uma análise pontual permitirá apurar.

Como é sabido, a maioria dos concelhos com risco reduzido concentra-sena Região do Alentejo, enquanto que os de risco máximo se localizam na áreada Cordilheira Central.

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Esta análise conjunta, permite, pois, individualizar diferentes unidades atendendoao risco histórico-geográfico de incêndio. Assim, o Alentejo e o Este Algarvioaparecem-nos com um risco reduzido, havendo uma unidade de transição, comlimites fluidos, pouco precisos, que aproximadamente acompanha o Rio Tejo, a qualaparece com um risco moderado. Litoral Centro, Trás-os-Montes e o Oeste Algarvioapresentam risco elevado. O Interior Centro-Norte e o Litoral Norte revela um riscomuito elevado, estando o risco máximo localizado na Região da Guarda.

4. Medidas gerais de prevenção

Embora o conhecimento detalhado de cada uma das unidades territoriais, aque correspondem condições específicas de risco, possa apontar para outrassoluções, entendemos propor algumas medidas gerais de prevenção, que, na faltade elementos mais precisos, poderão orientar aqueles que as tenham de aplicar.

Risco Reduzido:Embora necessárias, as acções de prevenção não são prioritárias nestasunidades territoriais, aconselhando-se todavia acções de sensibilização,no sentido de não se vir a verificar um agravamento do risco de incêndio.

Risco Moderado:Deverão dinamizar-se também acções de sensibilização, com os mesmosobjectivos, e, ainda, averiguar sobre eventuais carências materiais e/ouhumanas, a nível de estruturas e de equipamento, tanto de prevençãocomo de combate, a fim de poderem ser solucionadas.

Risco Elevado:É uma situação que carece de cuidados especiais, em particular a nívelde campanhas de sensibilização tendentes a reduzir o número de fogos,sendo necessário desenvolver as estruturas e equipamentos de prevenção,ordenamento e gestão, bem como de combate, para que as áreas ardidaspossam também decrescer.

Risco Muito Elevado:Estas unidades territoriais revelam, além das naturais dificuldadesprovocadas pelo relevo e pelo vento, eventuais carências materiais e/ou

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humanas que importa inventariar, para lhes pôr cobro.Para que esta situação possa vir a ser alterada no futuro, estas unidades

territoriais requerem particulares medidas de reforço dos meios decombate, de prevenção, ordenamento e gestão florestal, sobretudo aonível de estruturas e de acompanhamento dos povoamentos florestais,bem como de sensibilização de populações.

Risco Máximo:As acções de sensibilização tendentes a reduzir o número de fogos são,aqui, particularmente importantes, devendo ser acompanhadas com oreforço dos meios de combate, de prevenção, ordenamento e gestãoflorestal, a fim de que, no futuro, se possa evitar a incineração de grandesáreas e, concomitantemente, a sua transformação em fenómeno cíclico.

Fig. 3 - Pormenor do combate a incêndios florestais com água.

Conclusão

A cartografia detalhada e simultânea das áreas queimadas e do número deincêndios, efectuada a partir do índice de risco histórico-geográfico, permiteidentificar as regiões com maior sensibilidade ao fogo, logo, com maior riscode incêndio.

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A fórmula agora proposta para determinar o risco de incêndio histórico--geográfico permite comparar, com base em critérios científicos, a realidadedendrocaustológica de cada unidade administrativa, independentemente decritérios económicos, políticos ou outros.

É óbvio que, por se basear em factores passados, a tendência apresentadapoderá ser pontual e bruscamente alterada, se forem introduzidos factores compeso local muito forte e a sua influência for muito curta no tempo, como, porexemplo, a intervenção de pirómanos.

Contudo, quando se possui uma série relativamente extensa de observações,estes factores, ainda que com muito significado local, acabam por se atenuarno tempo e no espaço, pois quando consideramos séries relativamente longas,algumas dessas situações acabam por estar contempladas.

Pensamos que a nova fórmula permite reflectir, indirectamente, tanto ascaracterísticas físicas, que facilitam a progressão, como os factores humanos,que contribuem para o aumento do número de incêndios florestais. Por essemotivo, deverá passar a constituir um auxiliar indispensável, a ter em contanão só nas campanhas de prevenção directa e combate aos fogos florestais, mastambém, e sobretudo, nos projectos de reflorestação das áreas ardidas e noordenamento florestal do território.

Contudo estamos conscientes de que não se trata de um trabalho final,definitivo sobre o assunto, pois sabemos que ainda estamos a dar os primeirospassos. Mesmo no estrangeiro existem poucos estudos sobre este assunto. Noentanto, com os comentários, as críticas, enfim, com as contribuições queesperamos receber dos leitores, estamos certos de poder melhorar ainda maisesta fórmula. Ficamos, pois, à espera.

Agradecimento

Os autores desejam manifestar o seu público agradecimento ao Ministérioda Administração Interna, que, através da Comissão Nacional Especializadade Fogos Florestais, tem suportado financeiramente grande parte dainvestigação desenvolvida pelo NICIF, bem como à Direcção-Geral das

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Florestas e às Direcções de Serviços das Florestas das Direcções Regionais deAgricultura que, graciosamente, têm fornecido grande parte dos dados quesuportam a investigação.

Estamos gratos, ainda, ao Serviço Nacional de Bombeiros e às outras entidadesque, no terreno, respondem afirmativamente às nossas solicitações, no sentido de,em conjunto, minorarmos as graves consequências dos incêndios florestais.

Um último e merecido agradecimento, à Drª. Gabriela Salgueiro, sempredisponível para nos ajudar na resolução dos problemas sentidos no tratamentoda informação estatística, e aos alunos que colaboraram connosco na recolha/tratamento da informação. A todos o nosso reconhecido obrigado.

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