ÍNDICE - perse.com.br · 3.1 – Aves sin nido ... mira por la lente de una llaga, y que atado...

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1 ÍNDICE 1 Introdução 02 2 Clorinda Matto de Turner: a jornalista e a romancista 08 2.1 A guerra do Pacífico 13 2.2 Influências 17 3 Indigenista ou Indianista 22 3.1 Aves sin nido eterna polêmica 29 4 O olhar do outro 41 4.1 O índio no romance Aves sin nido 56 4.2 Juan Yupanqui 64

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ÍNDICE

1 – Introdução

02

2 – Clorinda Matto de Turner: a jornalista e a

romancista 08

2.1 – A guerra do Pacífico

13

2.2 – Influências

17

3 – Indigenista ou Indianista

22

3.1 – Aves sin nido – eterna polêmica

29

4 – O olhar do outro

41

4.1 – O índio no romance Aves sin nido

56

4.2 – Juan Yupanqui

64

2

4.3 – Isidro Champi

71

5 – O papel da mulher no romance Aves sin nido

75

5.1 – Lucía

83

5.2 – Marcela

95

5.3 – Martina

100

5.4 – Margarita

105

6 – Conclusão

112

7 – Bibliografia

116

3

1 – INTRODUÇÃO

Yo soy

el coraquenque ciego

que

mira por la lente de una llaga,

y que

atado está al Globo,

como a

un

huaco

estupen

do que

girara.

Yo soy

el

llama,

a quien

tan sólo

alcanza

la

necedad hostil a trasquilar

volutas

de clarín,

volutas

de clarín brillantes de asco

y

bronceadas de un viejo yaraví.

Soy el

pichón

de

4

cóndor

desplu

mado

por

latino arcabuz:

y a flor

de

humani

dad

floto en

los

Andes,

como

un perenne Lázaro de luz.

Yo soy

la gracia incaica que se roe

en

áureos coricanchas bautizados

de

fosfatos de error y de cicuta.

A

veces

en mis

piedras

se

encabri

tan

los

nervios

rotos

de un

extinto

puma.

Un

fermento de

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Sol;

¡levadura de sombra y corazón!

César Vallejo

Em relação ao romance Aves sin nido,

mobilizou-nos problematizar duas de suas

questões principais: a maneira pelo qual é

apresentado o indígena e a mulher em pleno

século XIX, no Peru, e como será formada essa

aliança entre duas camadas que, à primeira vista,

podem ser diferentes, mas que guardam o mesmo

papel de inferior dentro dessa escala patriarcal e

colonizada.

Na primeira metade do século XIX, há

grandes projetos sociais para a população

indígena, mas só ficam no papel, pois na prática

não serão realizados, ao passo que para a mulher

letrada peruana, há boas oportunidades, se

contarmos com o fato de poderem estudar e

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participar da vida pública. Mas é bom esclarecer

que apenas a camada letrada tem acesso a essas

oportunidades. Assim como os indígenas, o povo

(principalmente o habitante das serras) não tem

acesso à mesma educação encontrada na capital,

Lima.

Apesar da suposta diversidade entre

indígenas e mulheres de camadas sociais

diferentes, pretendemos mostrar essa convivência

entre seres heterogêneos, mas que se permitiram

uma convivência em prol de uma mesma causa: a

tentativa de libertar o indígena de uma tríade

inimiga, apresentada no romance em questão,

formada pelo governador, pela igreja e pelo juiz.

A presente dissertação divide-se em quatro

capítulos. No primeiro, apresentamos a autora

Clorinda Matto de Turner e o seu trabalho como

jornalista e romancista, mostrando o seu perfil em

uma sociedade na qual a grande voz ainda era a

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masculina, cabendo à mulher apenas um papel

doméstico: sair desse círculo significava um

desafio e um confronto com o outro, ou seja,

aqueles que ainda tratavam a mulher como mero

adorno, desprovido de voz. Sair dessa

marginalidade social era uma grande tarefa para

as escritoras de então, principalmente para

Clorinda, alvo de discussões e controvérsias, não

só durante a sua vida como depois de sua morte.

Ainda nesse capítulo, apresentamos o significado

da Guerra do Pacífico na vida dos peruanos nesse

século tão conflituoso como foi o XIX, e de como

essa mesma guerra influenciou os escritores da

época em busca de uma literatura que retratasse as

verdadeiras mazelas do País.

Mais adiante, mostraremos algumas

influências decisivas na vida de Clorinda Matto,

como, por exemplo, a de Ricardo Palma, criador

das Tradiciones peruanas, escritas ao longo de

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mais de quarenta anos. Tendo vivido em plena

época do Romantismo, não ficou, entretanto,

ligado a essa estética, conforme atesta Bella

Jozef:

Logo superou este movimento

literário, encontrando um caminho

próprio e original. O que tem de

romântico é a escolha do passado

como tema - no caso a Colônia e sua

alma barroca - e a aparição do

elemento popular nos tipos humanos

e na linguagem. Mas a realização é a

de um "costumbrista" já próximo do

realismo do século XIX, que critica

e satiriza. Não é uma evocação

romântica. (JOZEF, 1971, p. 80-81)

Ricardo Palma, por meio de suas

Tradiciones, aborda temas retirados de todas as

épocas da história do Peru e assim influencia os

primeiros escritos de Clorinda. Manuel González

Prada, posteriormente, será outra dessas

influências na vida de escritora de Clorinda, pois

foi um homem muito polêmico por suas idéias

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antiditatoriais, anticlericais e antioligárquicas,

acentuadas com a derrota na Guerra do Pacífico.

Para Prada essa derrota só aconteceu devido à

falta de unidade de sentimento nacional, uma vez

que, segundo sua descrição, o exército peruano

era formado por uma multidão de índios

indisciplinados, e sem liberdade, não se podendo,

portanto, esperar dele melhores resultados: “Si del

indio hicimos un siervo ¿qué patria defenderá?

Como el siervo de la Edad Media, sólo combatirá

por el señor feudal” (MAZZOTTI, 1991, p.369).

Aliado a essa problemática, o seu interesse por

um Peru marginal faz com que comece a realizar

breves excursões ao campo e às pequenas cidades

próximas a Lima. Nesse tempo teve oportunidade

de conhecer um povo humilde, constatando as

suas privações e necessidades, assim como

visualizou a péssima condição de vida do índio.

Visitou vários lugares, colocando-se, pois, em

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contato com uma outra realidade: viu como os

trabalhadores de minas eram explorados, ouviu

suas queixas, assistiu às suas mortes. O contraste

que então vivencia entre esses dois Perus influi

ainda mais em seu espírito questionador e

insatisfeito. E é justamente esse espírito que

visualizamos na obra de Clorinda, e, embora não

discutamos o fato de haver entre eles algumas

diferenças, na essência, o trabalho, como o de

querer uma outra realidade social para o seu país,

é o mesmo. A grande diferença entre os dois está

relacionada ao discurso, sendo o de Manuel Prada

sempre mais inflamado que o de Clorinda nas

suas propostas para um novo país.

Após destacarmos o importante papel de

Clorinda Matto como jornalista e romancista,

referindo-nos às influências de Ricardo Palma e

Manuel González em sua escritura, no segundo

capítulo propomos um estudo de dois conceitos

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que permeiam a obra em estudo, base de análise

do tema dessa dissertação - os conceitos sobre

indianismo e indigenismo - valendo-nos das

palavras de críticos e teóricos preocupados com

tal questão, entre os quais destaca-se o peruano

José Carlos Mariátegui (já entrado o século XX).

A ele, inclusive, deve-se a criação do Partido

Socialista, em 1928, como um partido múltiplo e

plural, além da criação da revista Amauta, que

também dirigiu.

Apesar de Mariátegui defender uma

proposta de socialismo que atendesse à realidade

concreta peruana, feita de uma grande maioria

indígena, não se ateve apenas ao problema desse

povo, pois, além disso, interessavam-lhe também

a organização dos operários, dos mineiros e do

resto de movimentos sociais emergentes na época.

Mariátegui pensou um socialismo diferente,

porque não analisou a realidade peruana seguindo

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caminhos já traçados na Europa. Pensava em uma

integralidade sem oposições, incentivando o

desenvolvimento de cada cultura, possibilitando-

se, dessa maneira, a adoção do melhor de cada

uma delas pelas demais. Deve-se a ele, inclusive,

a associação entre o problema indígena e a

questão econômica, se bem que, anteriormente a

esse crítico, Manuel González Prada, já no século

XIX, afirmava que tal discussão exigiria uma

abordagem econômico-social:

Nada cambia más pronto ni más

radicalmente la psicología del

hombra que la propiedad: al sacudir

la esclavitud del vientre, crece en

cien palmos. Con sólo adquirir algo,

el individuo asciende algunos

peldaños en la escala social, porque

las clases se reducen a grupos

clasificados por el monte de la

riqueza. A la inversa del globo

aerostático, sube más el que más

pesa. Al que diga: la escuela

respóndasele: la escuela y el pan.

La cuestión del indio, más que

pedagógica es económica, es social.

(GONZÁLEZ PRADA, 1956, p.65)

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Ainda dentro desse contexto de definições,

não podemos deixar de falar sobre o processo

heterogêneo que envolve a literatura latino-

americana, como bem disse Antonio Cornejo

Polar:

(...) a definição do indigenismo

como literatura heterogênea aponta,

principalmente, para a evidência de

que se trata de uma produção

discursivo-imaginária sobreposta

entre dois universos socioculturais

diversos - e mesmo opostos e

beligerantes, quando se incorpora a

dado histórico da conquista e à

subseqüente dominação de um deles

sobre o outro. (CORNEJO POLAR,

2000, p. 195)

Discutida essa parte, situamos o romance à

luz dessas teorias e o porquê do livro Aves sin

nido ser tão polêmico desde a sua publicação.

No terceiro capítulo, trabalhamos o olhar

do outro desde a Conquista espanhola na América

(com a chegada de Cristóvão Colombo) e a forma

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pela qual esses conquistadores interpuseram seu

estilo de vida no Novo Continente, até entrado o

século XIX, época do romance citado. Mostramos

a ocorrência desde os tempos coloniais, de uma

política excludente, exemplificada pela divisão da

população e pelo implante da República de

Indios, comprovadora da profunda desigualdade

existente naquela sociedade e da indiferença

dispensada aos povos conquistados. Aliado a tal

situação temos o papel dos padres dentro dessa

política desigual e o surgimento de algumas leis

cujo objetivo era aliviar o sofrimento da raça

indígena, apesar de não ignorarmos que a Igreja

almejava, também, com isso, a conversão do

indígena ao catolicismo. No mesmo capítulo,

tratamos do perfil desse indígena no romance

Aves sin nido, evidenciando a sua ingenuidade

diante das palavras e intenções daqueles que

mantinham o poder, além de abordarmos o quanto

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eram eles explorados pelas instituições que

deveriam pregar a justiça - a Igreja, o sistema

jurídico, o cobrador de impostos.

Ainda no mesmo capítulo, representando a

sua classe, tratamos de dois personagens

indígenas - Juan Yupanqui e Isidro Champi - e

dos abusos cometidos contra eles e suas

respectivas famílias.

No quarto capítulo, o tema é um

personagem também considerado outro, assim

como os indígenas: a mulher. Trabalhamos o

discurso dos personagens femininos que

constituem a obra, introduzidos pela autora no

desenrolar da narrativa, pois elas se sobressaem e

criam voz por serem as responsáveis pelo

desenvolvimento de todas as ações.

Vemos a voz dessas mulheres suplantar o

sofrimento que as cerca, ponto de partida para um