Indios Xokleng

50
S ÍLVIO COELHO DOS SANTOS OS ÍNDIOS M EMÓRIA V I SUAL XOKLENG

description

Livro: Indios Xokleng

Transcript of Indios Xokleng

Page 1: Indios Xokleng

SÍLVIO COELHO DOS SANTOS

OS ÍNDIOS

M E M Ó R I A V I S U A L

XOKLENG

Page 2: Indios Xokleng

S237i Santos, Sílvio Coelho dosOs índios Xokleng: memória visual. -

Florianópolis : Ed. da UFSC; [Itajaí] : Ed.da UNIVALI, 1997.

152p. : il.

1. Índios Xokleng. 2. Etnologia - Brasil.3. Antropologia social. I. Título.

CDU: 397 (=82:81)

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Edison Villela - ReitorPaulo Márcio da Cruz - Vice-Reitor

EDITORA DA UNIVALI

Conselho Editorial:Osvaldo Ferreira de Mello (Presidente)Edson D’ÁvilaDoris Van de MennenHercílio Pedro da LuzMarcos PolleteOsmar de SouzaSydney Schead dos SantosValdir Cechinel FilhoWagner Teixeira Ferreira

RUA URUGUAI, 458 - 88302-202ITAJAÍ - SCFAX (047) 341 7577

(CATALOGAÇÃO N A FONTE PELA B IBLIOTECA D A U NIVERSIDADE F EDERAL DE SA N TA C ATARINA)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA C ATARINA

Rodolfo Joaquim Pinto da Luz - ReitorLúcio José Botelho - Vice-Reitor

EDITORA DA UFSC

Alcides Buss - Diretor Executivo

Conselho Editorial:Maria de Nazaré de Matos Sanchez (Presidente)Antônio Fábio Carvalho da SilvaMarli AurasMaria Bernadete Ramos FloresTânia Regina de Oliveira RamosIlse Maria BeurenLygia Pain Müller Dias

CAMPUS UNIVERSITÁRIO, TRINDADE

C.P. 476 - 88040-900 - FLORIANÓPOLIS SCFAX (048) 331 9680

SÍLVIO COELHO DOS SANTOS

Depto de Antropologia, UFSCCP. 476 - 88.040-900 - FlorianópolisE-mail: silvio @ cfh.ufsc.br

© 1997 Sílvio Coelho dos Santos

Os direitos autorais desta edição, representados por 300 livros,serão entregues aos indígenas da AI Ibirama, como estímulo à

compreensão de sua história e à valorização de seu ethos.Sílvio Coelho dos Santos - editor

CA PA , DESIGN E PRODUÇÃO G RÁFICA

Renato Rizzaro

R E V I S Ã O

João Sepetiba

Page 3: Indios Xokleng

1997Ano em que se comemora o Centenário de Ibirama

A P O I O

Prefeitura Municipal de IbiramaPrefeitura Municipal de Blumenau(Fundação Cultural de Blumenau)

Prefeitura Municipal de Victor MeirellesSecretaria de Educação e do Desporto de Santa Catarina

P A T R O C Í N I O

de acordo com os incentivos previstos na Lei 8.313/91 de Incentivoà Cultura, Ministério de Educação e Cultura.

Page 4: Indios Xokleng
Page 5: Indios Xokleng

Aos índios da AI. Ibirama, com a expectativa de estarcontribuindo para a compreensão de seu passado eencorajando suas lutas presentes;

Aos colegas e estudantes instituidores do Núcleo deEstudos de Povos Indígenas (NEPI), UFSC, na certezade uma profícua produção etnológica e política;

Aos estudantes da FURB, fundadores da Comissão VivaYanomami, e à Diretoria da APUFSC-SIND, peloesforço em apoiar os Xokleng;

À Procuradora Analúcia Hartmann, por sua dedicaçãoaos pleitos dos índios em Santa Catarina;

Para Júlia, alegria dos avós, com carinho.

Page 6: Indios Xokleng
Page 7: Indios Xokleng

Apresentação 9Introdução 15

P r i m e i r a p a r t e :Disputa De Terras Provoca O Extermínio IndígenaOs índios reagem à presença do branco 21Os bugreiros 27Maria Korikrã: o drama de uma das vítimas que sobreviveram 28A Liga Patriótica e o debate humanista 29Fotos 32

S e g u n d a p a r t e :“Pacificação”: Uma Experiência ComplexaO Serviço de Proteção aos Índios em Santa Catarina 55Convívio, depopulação e mudanças 57Eduardo Hoerhan: lutas e ambigüidades 58O SPI é substituido pela FUNAI 59Fotos 61

Te r c e i r a p a r t e :Apesar De Tudo, Um Povo Luta Para Construir Seu FuturoA implantação da barragem Norte e os índios 113O direito dos índios 115Notícia sobre a população indígena do Brasil 116O povo Xokleng no presente 117Fotos 120Mito: a geração do homem 150

S U M Á R I O

Page 8: Indios Xokleng

8

Page 9: Indios Xokleng

9

Asaga dos índios Xokleng é muito particular. No passadodistante, sofreram a competição de outros gruposindígenas pelo domínio dos campos do planalto e dosbosques de pinheiros. Depois, vivendo nas encostas doplanalto e nos vales litorâneos, viram suas terras serem

gradativamente ocupadas pelos brancos. Nesse processo,sofreram as conseqüências de decisões políticas e econômicas,em regra executadas a fio de facão e a tiros de escopeta porexperimentados caçadores de índios, os bugreiros. Estabelecidasas relações amistosas com os brancos, iniciaram um difícilaprendizado de convivência que chega aos nossos dias.

Incrivelmente, uma boa parte dessa tragédia foi documentada.Relatórios oficiais, correspondências, notícias de jornais, debatesacadêmicos e fotografias registraram as práticas genocidascontra este povo indígena. Um caso raro, pois os indígenas dopaís foram, em maioria, dizimados sem deixar informaçõessobre a sua existência.

Os Xokleng despertaram o interesse dos imigrantes, desde oprimeiro momento. Vistos como motivo de insegurança peloscolonos e obstáculo ao “progresso”, pelas empresas decolonização, centraram um debate que levou o governo a criaro Serviço de Proteção aos Índios, em 1910. Alvos das atençõesdo novo Serviço, vivenciaram nos primeiros anos de convíviona reserva de Ibirama a perda de dois terços da populaçãooriginalmente contatada.

Este livro, portanto, trata de resgatar a dramática experiênciavivida por esses índios, tendo como principal referência adocumentação fotográfica.

No início do século, fotógrafos entusiasmados com suaspesadas câmeras registraram a presença de bugreiros e de suas

A P R E S E N T A Ç Ã O

Page 10: Indios Xokleng

10

vítimas em Blumenau e em outras colônias. Depois, ocorreu oregistro fotográfico na reserva, em parte por conta de EduardoHoerhan, “o pacificador”. Outros profissionais estiveram comos índios, nos primeiros anos do convívio, como, por exemplo,José Ruhland. Excetuando-se algumas fotos de Ruhland,entretanto, há grande dificuldade para se identificar a autoriadesta ou daquela foto, pois a maioria não tem assinatura.

Sabe-se que, em 1927, o viajante alemão Werner Blüschow,que se encontrava em viagem para a Terra do Fogo, visitou areserva indígena. Em 1929, foi lançado na Alemanha o filmeSilberkondor über Feuerland (Condor de prata sobre as Terrasdo Fogo) e um livro com o mesmo título, narrando suasimpressões sobre o extremo Sul da América. O filme contémaproximadamente dois minutos com cenas sobre os índios deIbirama. Em 1968, Marcondes Marchetti, que desde jovempreocupava-se com a preservação da memória da região,publicou no “Jornal do Vale” uma tradução feita por José Ferreirada Silva, então Diretor da Biblioteca Municipal de Blumenau,do texto em que Werner relatava sua visita.

Em 1930, foi publicada no Rio de Janeiro uma pequenamonografia do médico Simões da Silva, intitulada “A TribuCaingang (índios Bugres-Botocudos), Estado de SantaCatharina”. Há neste texto uma série de fotos sobre os índios,porém, o fotógrafo que acompanhou Simões da Silva não estáidentificado. No arquivo Histórico de Ibirama, em organização,está depositado um enorme acervo de negativos em vidrooriginário do ateliê do fotógrafo alemão Martim Schmoelz. Esteacervo não está classificado e é impossível se saber, nomomento, se há negativos referentes aos índios e, também, asua autoria.

A partir dos anos trinta, iniciaram-se os estudosantropológicos entre os Xokleng, com o antropólogo norte-americano Jules Henry. Os Xokleng entram na literaturaantropológica, e a sua trajetória começa a ser melhor conhecida,pelo menos, no circuíto acadêmico.

Page 11: Indios Xokleng

11

Deve-se compreender, também, que a saga dos Xokleng emmuitos momentos se confunde com a história da imigração noSul do Brasil e, em particular, em Santa Catarina. No Alto Valedo Itajaí, a colonização só se afirmou na medida em que osíndios foram confinados na reserva de Ibirama. Nada maisoportuno, pois, que na ocorrência do Centenário de Ibiramaseja colocado à disposição de um público mais amplo, emparticular, dos estudantes e dos próprios índios, umdocumentário eloqüente sobre o passado/presente de sua terrae de suas vidas.

A realização dessa tarefa foi possível na medida em que conteicom a colaboração e o interesse de diversas pessoas einstituições. Gilberto Gerlach foi o responsável pelos detalhesde diversas fotos que envolvem os “bugreiros e suas vítimas”,originalmente preparados para ilustrar meu livro Índios eBrancos no Sul do Brasil - a dramática experiência dosXokleng. (Florianópolis, Edeme, 1973, 2a edição, Movimento,1988). Marcondes Marchetti forneceu-me informações sobreWerner Blüschow e seu filme, além de colocar a minhadisposição seu acervo documental e fotográfico. O ArquivoHistórico José Ferreira da Silva (AHJFS), da Fundação Culturalde Blumenau, através de sua Diretora, Profa. Sueli Petry,permitiu o uso de um número significativo de fotos. O mesmoaconteceu com o Arquivo Histórico de Ibirama (AHI), no qualos funcionários, Marcelo Blank e Nancy Bini, foram incansáveisem atender minhas solicitações. Edmar Hoerhan, cedeu-mediversas fotos de sua coleção particular. A professora DoloresSimões de Almeida, permitiu que copiasse fotos colecionadaspor sua família. O Museu Universitário (MU), da UFSC,facilitou a consulta às suas coleções etnográficas e àdocumentação fotográfica, que em grande parte foramorganizadas a partir de minhas próprias pesquisas de campo.

De outra parte, o Diário Catarinense permitiu o uso de fotosobtidas pelo repórter-fotográfico Daniel Conzi, durante aelaboração da série do Caderno Especial Índios do Sul,

Page 12: Indios Xokleng

12

publicada em abril último. A Prefeitura Municipal de Blumenaucedeu fotos de Eraldo Schenaider, que registram momentos daluta indígena em busca das indenizações devidas pelaimplantação da Barragem Norte. O colega doutorando FlávioWiik, que no momento realiza pesquisa na área indígena,colocou a minha disposição parte da documentação fotográficaque está obtendo. O professor Sálvio Müller, da FURB, tambémpermitiu o uso do material fotográfico apresentado em suadissertação de mestrado, Opressão e Depredação (Blumenau,Editora da FURB, 1987), que inclui fotos aéreas de autoria doecologista Lauro Bacca.

De meu arquivo pessoal, entretanto, saiu uma boa parte dasfotos selecionadas para integrar o livro. Algumas obtidasinclusive por colegas e alunos que têm me acompanhado nasinúmeras viagens de campo, e que aparecem com os devidoscréditos.

Objetivando mostrar que, além de fotógrafos e antropólogos,outros profissionais têm sido impactados pelo drama dosXokleng, incorporei no texto a contribuição do pintor alemãoF. Becker, que produziu diferentes versões do retrato do cacique“Câmrém”, conhecido na reserva como “trovoada” e ainda hojeevocado por sua competência como xamã. A foto de uma dessasversões foi-me cedida pelo professor Valberto Dirksen.Aparecem ainda duas xilogravuras de Elvo Damo, que integrama série de sua autoria intitulada “Bugreiro”, editada em Curitiba,em 1979, e motivo de uma exposição e da edição do álbumXilos. Os textos poéticos de Reynaldo Jardim, que foramoriginalmente escritos para integrar essa exposição e o álbumXilos, são em parte incluídos no livro. O mesmo acontece como “Poema para o Índio Xokleng” de Lindolfo Bell, publicadono livro Código das Águas (S. Paulo, Global, 1994). Essascontribuições enriqueceram demais meu trabalho, e eu agradeçoseus autores pelo entusiasmo com que atenderam meus pedidos.

Por fim, incorporei uma versão resumida do “mito dacriação”, colhido e traduzido pelo professor bilíngue Nãmblá

Page 13: Indios Xokleng

13

Gaklã, que realiza um excepcional trabalho de preservação dalíngua e da cultura Xokleng.

A edição do livro foi possível na medida em que contei como apoio decidido dos Prefeitos Dieter Staudinger, de Ibirama,Aldo Schneider, de Victor Meirelles, e Décio Lima, deBlumenau; do Prof. Bráulio Maria Schloegel, Presidente daFundação Cultural de Blumenau; dos Reitores Rodolfo Pintoda Luz, da UFSC, e Edison Villela, da UNIVALI; do Prof.Fernando Ferreira de Mello, ex-Presidente, e do Sr. Júlio CesarPungan, atual Presidente do BESC. As editoras da Universidadedo Vale do Itajaí e da Universidade Federal de Santa Catarina,formaram um “pool” e se dispuseram a participar dessa parceriaeditorial. O projeto foi inicialmente aprovado pelo ProgramaNacional de Apoio à Cultura, do Ministério da Cultura, Lei8.313/91. Assim foi possivel obter o patrocínio do Banco doEstado de Santa Catarina (BESC).

A proposta não teria sido materializada se eu não contassecom a colaboração dedicada e entusiástica das bolsistas doCNPq, que integram o Projeto “Hidrelétricas, Privatizações eos Povos Indígenas no Sul do Brasil”, respectivamente,Maristéla H. Faria, Karyn N. R. Henriques, Myrnaia deAlencastro Grandi Kasandra Schmidt, Gisela A. Batistela e CatiaWeber, sendo que as duas últimas participaram ativamente daseleção das fotos e do pré-projeto de editoração. Recebí aindavaliosas sugestões do doutorando Flávio Wiik, da professoraAneliese Nacke e de João Sepetiba, este último incansável nastarefas de revisão.

O projeto gráfico foi desenvolvido por Renato Rizzaro.

A todos esses colaboradores, e a outros tantos contribuintesnão referidos que se esmeraram em auxiliar em diferentesmomentos, meus agradecimentos.

Sílvio Coelho dos Santos, Pesquisador do CNPq.

Page 14: Indios Xokleng

14

Page 15: Indios Xokleng

15

I N T R O D U Ç Ã O

Durante séculos, os índios Xokleng dominaram as florestasque cobriam as encostas das montanhas, os valeslitorâneos e as bordas do planalto no Sul do Brasil. Eramnômades. Viviam da caça e da coleta. A mata atlântica eos bosques de pinheiros (araucária) forneciam tudo o que

necessitavam para sobreviver. Caçavam diferentes tipos deanimais e aves, coletavam mel, frutos e raízes silvestres. Etinham o pinhão como um dos principais recursos alimentares.

O território que ocupavam não tinha contornos bem definidos.As rotas de perambulação eram freqüentadas de acordo com oseu potencial em suprir, através da caça e da coleta, asnecessidades alimentares do grupo. Mantinham uma disputasecular com os Guarani e os Kaingang para o controle desseterritório. Os Guarani dominavam extensa parte do planalto, asmargens dos rios que integram as bacias do Paraná/Paraguai eo litoral. Os Kaingang eram senhores das terras interiores doplanalto. Todos pretendiam o domínio dos fabulosos recursosprotéicos representados pelos bosques de pinheiros e a faunaassociada ao pinhão. Dessa forma, os Xokleng tinham nasflorestas que se localizavam entre o litoral e o planalto o seuterritório de domínio e de refúgio. Ao Norte, chegavam até aaltura de Paranaguá; ao Sul, até as proximidades de Porto Alegre;ao Noroeste, dominavam as florestas que chegavam até o rioIguaçu e aos campos de Palmas.

Entre excursões de caça e coleta, a vida fluía. Os homensfabricavam arcos, flechas, lanças e diversos outros artefatosnecessários ao cotidiano. As mulheres teciam com fibra de urtigamantas que serviam de agasalho nas noites de inverno; cuidavamdas crianças; faziam pequenas panelas de barro e cestos detaquara para a guarda de alimentos; limpavam animais e aves;

Page 16: Indios Xokleng

16

cuidavam do preparo da comida; colhiam, estocavam emaceravam o pinhão e com ele faziam um tipo de farinha;cozinhavam ou moqueavam peças de carne dos animais e avesabatidos; preparavam bebidas fermentadas com mel e xaxim.Quando o grupo se deslocava, as mulheres carregavam toda atralha doméstica. As crianças iam sendo socializadas na vidacotidiana do grupo, num processo crescente de aprendizado quelhes deveria garantir a sobrevivência futura. O mundo dosXokleng não era um paraíso como muitos podem imaginar. Eraum mundo de forte interdependência com a natureza. Ossucessos alcançados eram conseqüência do esforço individuale coletivo, e baseados nos saberes que diversas gerações haviamdesenvolvido para aproveitar aquele espaço ecológico queelegeram como o seu habitat. As doenças eram raras. O frio doinverno e as chuvas eram enfrentados como fatos da natureza.Os acampamentos não passavam da construção de simples para-ventos, aproveitando ramos de árvores que eram devidamentearqueados e cobertos com folhas de palmeira. Outras vezes, seo tempo era favorável, dormiam ao relento. O fogo aceso todaa noite, a todos aquecia.

Os Xokleng formavam um povo. Tinham língua, cultura eterritório que os diferenciavam dos outros povos indígenas, taiscomo, os Guarani e os Kaingang. Viviam separados em grupos,que quase sempre mantinham disputas entre si. A família, osexo, o nascimento de crianças, a vida em grupo, a parceria nasatividades de caça e coleta, a divisão dos alimentos entre todos,as festas, as disputas e a morte faziam parte do cotidiano. Nãotinham uma autodenominação específica. Se identificavam a sipróprios como “nós” e, todos os demais estranhos, como os“outros”. O nome Xokleng é apenas uma palavra de seuvocabulário pela qual eles foram identificados na literaturaantropológica. Regionalmente, continuam a ser os Botocudos,em conseqüência do uso pelos homens de um enfeite labial,denominado tembetá, ou os Bugres, termo pejorativo tambémdado pelos brancos.1

Encontros de estranhos

Com a chegada do europeu ao Sul do Brasil, iniciou-se umprocesso de mudanças que até hoje não terminou. Os Guaranique tão amistosamente receberam os primeiros navegadores,logo foram impactados pela presença de doenças até entãodesconhecidas, tais como, a gripe, a varíola, a pneumonia, osarampo e a tuberculose. Em seguida, foram arrebanhados para

Page 17: Indios Xokleng

17

servirem como mão-de-obra escrava nos empreendimentos queos portugueses começaram a instalar em São Vicente e SãoPaulo. A continuação dessas agressões motivou a fuga para ointerior de diversos grupos indígenas. O Litoral logo acaboudespovoado de índios e foi ocupado pelo homem branco. Maisadiante, no século XVII, mamelucos paulistas promoveramincursões de caça ao índio na região dos rios Paraná/Paraguai,denominada Sete Povos das Missões.

No século seguinte, os campos do planalto foram ocupadospor fazendas de criação de gado. Caminhos de tropa foramabertos, ligando o Rio Grande do Sul a São Paulo. O planalto eo litoral foram definitivamente conquistados. Tudo isto acentuoua disputa de territórios entre os grupos indígenas que escaparamnesses primeiros momentos da dominação exercida peloseuropeus, ou, pelos paulistas, seus descendentes. Alguns gruposKaingang, manipulados pelos brancos, participaram do processode submissão dos Guarani e, assim, puderam estender seusdomínios para o Sul. Neste avanço, também pressionaram osXokleng que acabaram expulsos das bordas do planalto, nasquais tinham acesso fácil aos bosques de pinheiros.

Darcy Ribeiro conta em seu livro Os Índios e a Civilização2

que ouviu de Eduardo de Lima e Silva Hoerhan, responsávelpela contatação dos Xokleng no Alto Vale do Itajai, uma narraçãomítica de como os índios haviam travado o primeiro contatocom o homem branco. Durante uma expedição de caça, algunsíndios observaram uma trilha diferente, na qual o mato estavacortado de forma nova e estranha, frente à prática indígena desimplesmente afastar ou torcer os ramos que dificultam acaminhada na floresta. Curiosos, adiante se depararam com otronco de uma árvore cortada pelo mesmo processo. Seguirampela picada acautelados, em direção a uma praia. Ali, observaramrastros estranhos. Algumas pegadas se dirigiam para o maradentro, enquanto outras acompanhavam a linha da praia.Continuando a investigação, cada vez mais curiosos e sempreprotegidos pela vegetação da orla costeira, descobriram aoanoitecer um acampamento. Discutiram sobre quem seriam osestranhos que de longe observavam. Depois de muitasinterrogações decidiram atacá-los para se apropriarem dosinstrumentos cortantes, que permitiam enorme facilidade nocorte de arbustos e árvores. Durante a madrugada assaltaram abarraca improvisada e mataram seus ocupantes. A seguir,puseram-se a examinar o que ali havia. Logo descobriram ummachado, alguns facões e umas tantas facas. Ao amanhecer,ansiosos, examinaram detalhadamente os cadáveres daqueles

Page 18: Indios Xokleng

18

seres cabeludos e barbados. Tiraram suas roupas com cuidado,para observar seus corpos peludos. As botinas, responsáveispelos estranhos rastros, foram minuciosamente analisadas, bemcomo suas roupas. Colocaram alguns dos mortos de pé, apoiadosem alguns paus, e de longe cogitaram sobre a possibilidade deserem esses “outros”, seres humanos verdadeiros. A certa alturadão-se conta de questões que não podiam responder. Separaramos intrumentos cortantes e queimaram todo o resto. A seguirvoltaram ao encontro do grupo principal, carregados com osinstrumentos de ferro e cheios de novidades. As demonstraçõesentusiásticas do poder do machado e das facas, a todos envolveu.Muitas disputas logo ocorreram por sua posse. E não poucoscomeçaram a incursionar pelo litoral, pretendendo encontrarnovos acampamentos daqueles seres estranhos, senhores depreciosos instrumentos cortantes.

Os artefatos de ferro chegaram assim aos Xokleng, sem quede fato houvesse contato direto entre eles e os novos homensque estavam chegando ao seu território. Diligentes, os indígenaslogo adaptaram os instrumentos de ferro dos brancos às suasarmas tradicionais. As pontas de flecha feitas com madeiraendurecida ao fogo, ou com lascas de pedra, foram em partesubstituídas por pontas de ferro. A forma, entretanto, dessaspontas foi mantida. Com as lanças ocorreu o mesmo. As enormespontas de madeira, foram substituidas por similares de ferro.Foices e outros instrumentos dos brancos foram cuidadosamentereelaborados, para alcançarem a forma desejada. Um trabalhopaciente para quem não dominava as técnicas de forja e do ferrobatido. O resultado, entretanto, era compensador. O ferro deuaos Xokleng, muito tempo antes da “pacificação”, uma novasuperioridade tanto para as atividades de caça, como para aguerra.

O ferro foi assim um atrativo para os índios se aproximaremdos brancos. Observá-los à distância, objetivando o encontrode oportunidade para se apropriarem de suas ferramentas, passoua ser uma maneira de os Xokleng “pesquisarem” o cotidianodaqueles seres que para eles continuaram sendo muito estranhose, provavelmente, não humanos.

Page 19: Indios Xokleng

19

O governo estimula a imigração para a região Sul

Proclamada a independência, o Brasil passou a favorecer aimigração de europeus. No Sul foram criadas diversas colôniasoficiais. Também foram feitas concessões para empresasprivadas que assumiram o compromisso de promover alocalização de imigrantes. No Rio Grande do Sul, os primeirosimigrantes alemães chegaram em São Leopoldo (1824). EmSanta Catarina, a colonização começou em 1829, em São Pedrode Alcântara, próximo a Florianópolis. No Paraná, imigrantescomeçaram a ser localizados no rio Negro, a partir de 1829.

Os governos provinciais e monárquico, estavam interessadosna ocupação das terras localizadas entre o litoral e o planalto.Os vales litorâneos, cobertos com exuberantes florestas, e asencostas do planalto até então não haviam sido explorados. Todaessa área era considerada como desabitada, embora há muito sesoubesse da presença ali de indígenas. A idéia de um “vaziodemográfico” prevaleceu nas decisões oficiais.

Toda essa área, em que os imigrantes começaram a serlocalizados, era território tradicional dos Xokleng. Esses índiosforam envolvidos simultaneamente pelas frentes de colonizaçãoque se instalaram no Rio Grande, Santa Catarina e Paraná. Suascondições de sobrevivência ficaram, assim, ameaçadas. Osimigrantes, por sua vez, enfrentaram diferentes problemas emseu processo de adaptação. Em muitos casos, as terras eraminadequadas. Muitas colônias não dispunham de infra-estruturamínima que garantisse o escoamento da produção. Ocorreramproblemas de inadaptação ao clima, devido ao calor e à umidade,e ao domínio de novas formas de cultivo. Não poucosfracassaram. Outros abandonaram as colônias, indo para oscentros urbanos em busca de melhores condições de trabalho.

Intensificando-se a colonização em Santa Catarina, com ainstalação das colônias Blumenau (1850) e Joinville (1851), acada dia mais terras eram tomadas aos Xokleng. A partir de1870, começaram a chegar italianos. Diversas colônias foramabertas também no Sul do Estado, como Urussanga e NovaVeneza. A floresta dava lugar às cidades, às estradas, àspropriedades de colonos, com seus pastos e roças. Não poucosforam os empreendimentos madeireiros. Os estoques de caça eoutros recursos alimentícios que a floresta proporcionava, comoo palmito e o pinhão, foram logo disputados pelos recémchegados. À falta de como prover suas necessidades alimentares,os indígenas passaram a assaltar as propriedades dos colonos.Ou a atacá-los em seus locais de trabalho e de trânsito. Neste

Page 20: Indios Xokleng

20

contexto, a violência se exacerba. A terra estava sendo usurpadaao índio pela força. Os governos tinham seus interesses. Ascompanhias de colonização também. É fácil compreender,portanto, que em muitos casos tanto o índio, como o colono,foram vítimas.

Pode-se entender melhor a sucessão de colônias que surgiramem Santa Catarina, em particular no Vale do Itajaí, se atentarmospara as atividades econômicas básicas desses empreendimentos,que estavam centradas na agricultura. Assim, um jovem casalse localizava num lote (em regra com 25ha), e iniciava o seudesbravamento. Chegavam os filhos, e o casal aumentava a suaprodução conforme as crianças iam crescendo e cooperando notrabalho. Quando o primeiro filho chegava à idade de casar,ocorria a necessidade de adquirir um novo lote colonial. Eraneste instante que a frente agrícola avançava. O ciclo reiniciava-se. No Vale temos, como exemplo, entre outras cidades,Blumenau fundada em 1850; Timbó, Indaial e Pomerode,fundadas por volta dos anos de 1870; e Ibirama, nos anos 90.Fica claro que a cada 20 anos, ou seja, uma geração, eranecessário criar novas colônias, tanto para abrigar os jovensque queriam estabelecer novas famílias, como para atender ademanda decorrente da chegada de novos imigrantes. Tratava-se, pois, de um modelo de colonização que estava centrado napequena propriedade rural. A implantação desse modelo, deoutra parte, pressupõe a existência de novas terras para a suacontínua expansão.

O território tradicional dos Xokleng foi, portanto, objeto deum plano de ocupação sistemático e irreversível. Os governose as companhias de colonização estavam em acordo, inclusive,quanto à conveniência de se minimizar a presença indígena.Diziam que os índios viviam no distante sertão e queesporadicamente faziam incursões às florestas e vales litorâneos.Para os colonos, a existência de índios nas terras que estavamadquirindo era mais do que uma surpresa. Era um fator de risco,de insegurança. O cenário para a ocorrência de acontecimentostrágicos, em particular para os índios, estava montado.

1. Além de Xokleng, Botocudo e Bugre, há na literatura as denominações Xokrén, Aweikoma e Kaingangpara designar este grupo indígena. Nenhuma dessas designações tem fundamento numa autodenominação dogrupo. Foram termos consagrados pelos brancos. Xokleng é o termo pelo qual o grupo aparece sistematicamentena literatura antropológica. Botocudo é um termo de designação pós-contato que é aceito pelos índios. Entretanto,hoje, alguns índios procuram outra autodesignação, preferindo o termo “lacranon”, que quer dizer “povo ligeiro”ou “povo que conhece todos os caminhos”, conforme informações fornecidas pelo professor Nãmbla Gakrã aoantropólogo Flávio Wiick. Lingüisticamente, os Xokleng filiam-se ao grupo Kaingang e ao macro-grupo Jê.Destaco ainda que por uma convenção estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia, os termosindígenas são grafados somente no singular, como por exemplo, os Xokleng;

2. RIBEIRO, Darcy. Os Índios e a Civilização. Petrópolis, Editora Vozes, 2a edição, 1977, pp. 318-320.

Page 21: Indios Xokleng

21

EXTERMÍNIOA DISPUTA DE TERRAS PROVOCA O

I N D Í G E N A

Page 22: Indios Xokleng

22

Page 23: Indios Xokleng

23

Os índios reagem à presença do branco

As notícias sobre a presença dos Xokleng nas áreas queestavam sendo cogitadas para o estabelecimento deimigrantes eram do conhecimento tanto dos governosmonárquico e provincial, como dos interessados nosnegócios da colonização. Em 1808, logo após a chegada

de D. João VI ao Brasil, foi emitida uma Carta Régiadeterminando que se fizesse guerra aos índios que faziamincursões nas cercanias de Lages. Em seguida, 1814, em Caldasda Imperatriz, nas cercanias de Florianópolis, aconteceu um

ataque dos índios aos milicianos doRei que guardavam aquelas termas.O fato foi devidamente registradonuma placa de bronze colocada nolocal. Depois, em 1836, registrou-se um ataque nas proximidades deCamboriú. Outras notícias sobreconflitos com índios aparecem,nessa época, esparsas em toda aregião Sul.

Visando dar segurança aoscolonos que chegavam, o governoprovincial criou uma “companhiade pedestres” (Lei n. 28, de 25/4/1836). A iniciativa governamental,entretanto, pouco adiantou. Osindígenas dominavam um extensoterritório. Os encontros com osbrancos eram ocasionais e não haviacomo uma pequena tropa assegurartranqüilidade no sertão. Em

verdade, o território indígena estava sendo invadido e os índiosreagiam à presença dos imigrantes. O estabelecimento decritérios que assegurassem aos índios os espaços territoriais que

Page 24: Indios Xokleng

24

necessitavam para sobreviver não interessava, evidentemente,aos governos e aos mandatários dos negócios da colonização.

Logo após a instalação da Colônia Blumenau, aconteceu umepisódio singular e que bem exemplifica como eram difíceis aspossibilidades de entendimento entre os índios e os recém-chegados. Operários que terminavam a casa do Dr. Blumenau,onde hoje é o bairro da Velha, no dia 28 de dezembro de 1852,foram surpreendidos com a presença de alguns índios nasimediações da residência. Certamente, logo pegaram suas armase gritaram, em alemão, para que os índios se afastassem. Comotal não aconteceu, pois os índios nada entendiam da língua dos

brancos e estavam muito curiosose entretidos com as plantações,equipamentos e instalações noentorno da casa, os trabalhadoresem seguida deram alguns tiros paraassustá-los. Como resultado do“susto”, no dia seguinte um índiofoi encontrado desfalecido emconseqüência de ferimento à bala.Logo depois, este índio morreu.

Este episódio foi objeto decartas enviadas ao Dr. Blumenau,que neste momento se encontravana Alemanha, com o registro deque algumas flechas foramencontradas nas cercanias e de quea perseguição aos “bugres” foiinterrompida por já ser noite.Informava-se também que o índio

morto era robusto, tinha aproximadamente 20 anos e usava, nolábio inferior “um pedaço de madeira, característico da tribodos botocudos”1. Denota-se deste episódio que os imigrantessabiam da existência dos índios e que a sua segurança era dadapelo uso continuado de armas de fogo, em particularespingardas.

Na medida em que o número de colônias foi aumentando, areação indígena vai sendo noticiada com maior intensidade.Alguns colonos foram atacados e uns poucos mortos. Emcontrapartida, aumenta a violência contra os índios. Os colonosreclamam continuamente da falta de segurança nas colônias e,em certas situações, ameaçam abandonar seus lotes. Em 1856,o Presidente da Província, Dr. João José Coutinho, em sua “falla”à Assembléia dizia “que a única maneira realmente eficaz seria

Page 25: Indios Xokleng

25

obrigar estes assassinos e filhos de bárbaros deixarem a floresta,localizando-os em lugares dos quais não pudessem fugir”2.Ainda neste ano, o Dr. Blumenau reclamava que a Companhiade Pedestres, à época com 70 homens, estava mal equipada. A“tropa” acabou sendo dissolvida em 1879 por falta de verbas

para mantê-la.Os governos do Império e da

Província também tentaramestimular os trabalhos de catequesedos índios. Em 1868, os padrescapuchinhos, Virgílio Amplar eEstevam de Vicenza, foramcomissionados para iniciartrabalhos de catequese em Lages eItajaí. Em 1885, o Ministério daAgricultura encarregou o Frei Luizde Cimitile, antigo missionário dealdeamentos indígenas no Paraná,para se estabelecer em SantaCatarina. O Frei recebeu algunsrecursos financeiros concedidospelo Ministério, mas não teve êxitoem sua missão. As tentativas decatequese, entretanto,continuaram.

Simultaneamente, outrosesforços foram feitos para aldearos índios. Grupos de “batedores domato” foram organizados emdiversas colônias. Em Blumenau,Frederico Deeke, que chefiavauma dessas turmas, foi credenciadopelo Dr. Blumenau para procurare contratar um intérprete quefacilitasse o contato com os índios.Este experimentado desbravador

conseguiu contratar tal auxiliar, porém contatos amistosos nãoconseguiu. Uma outra tentativa de aldeamento foi feita emPapanduva pelo sertanista Joaquim Francisco Lopes, em 1877.Pelo que se sabe, nenhum índio foi atraído.

As expedições de vingança ao interior do sertão para revidarataques cometidos pelos indígenas, eram conhecidas no Brasildesde os tempos coloniais. As colônias e o governo provinciallogo começaram a organizar e remunerar grupos armados que

Page 26: Indios Xokleng

26

adentravam na floresta com o intuito de dizimar os índios emseus acampamentos. A justificativa oficial era afugentar osindígenas “para longe dos lugares habitados”3. As palavras“bugreiro”, “caçadores de índios”, “tropas” e “montarias” logocomeçam a aparecer nos documentos oficiais e no noticiáriodos jornais.

Na “falla” à Assembléia de 1876, o Presidente da ProvínciaJoão Capistrano Bandeira de Mello Filho, informava: “Emalguns pontos da Província, como na Barra Velha, vila deJoinville, Costa da Serra, Curitibanos e Colônia Militar SantaTereza, houve diversas correrias dos selvagens, algumas dellasseguidas de funestas conseqüências, sendo elles enérgicamenterepellidos, já pelos habitantes, a defenderem o lar das violênciasque o assaltavão, e já pelo acêrto das medidas empregadas pelasautoridades...”. Nessa mesma “falla”, em anexo, o chefe dePolícia da Província apresentava seu relatório, esclarecendosobre os indígenas que “na Barra Velha e Villa de Joinville oaparecimento deles, em os mezes de Janeiro e Fevereiro, pozem alarma os moradores desses districtos; saindo, porém, d’entreestes alguns homens mateiros, embrenharão-se nas matas eafugentaram os selvagens ...” 4

Pouco antes, em 3/1/1874, o jornal Kolonie Zeitung, deJoinville, noticiava que havia partido no dia 28 de dezembro deSão Bento a maior expedição aprovada pelo presidente daprovíncia, para combater os “bugres” que circulavam nasimediações de Joinville e Blumenau. A expedição era formadapor 31 homens e era dirigida pelo vaqueano João dos SantosReis.

E em 1880, o governo provincial relatava à Assembléia, coma maior simplicidade que “para afugentar (os índios-SCS) tomeias medidas de costume: recorri aos battedores de matto”5.

O noticiário telegráfico do Jornal do Comércio(Florianópolis), do ano de 1883, dá-nos vários exemplosreferentes à autorização de despesas pelo governo para oextermínio indígena. Em 22 de fevereiro, “Ao Exmo. Sr. CoronelVice- Presidente da Província, n. 39, solicitando, em vista doofício do delegado de Tubarão, que S. Excia dignou-se enviar aesta chefia (...) autorização para que seja despendida a quantiade 200$000 réis com o serviço de afugentar os indígenas daquelaparagem...” Dia 23 do mesmo mês, ainda dirigido ao vice-presidente, com o n. 41, “propõe esta chefia a S. Excia se digneautorizar o dispêndio de 300$000 réis (...) no pagamento devaqueiros que batam as matas e afugentem os selvícolas”. Nodia 24, outro telegrama dirigido ao delegado de S. Francisco

Page 27: Indios Xokleng

27

autoriza despesas com batedores de mato para “garantir apopulação dos assaltos dos selvagens no Jaraguá” E a listaprossegue, dando-nos idéia da chacina que ocorria no sertão.

Em 5 de junho de 1904, o Jornal Novidades (Itajai) comentamatéria publicada no Blumenau Zeitung sob o título “Como seciviliza no século vinte”. Neste texto, o jornal de Blumenaudenuncia as atrocidades cometidas pela turma incumbida pelogoverno para “afugentar” os índios6.

Os bugreiros

As tropas de bugreiros compunham-se, em regra, com 8 a 15homens. A maioria deles era aparentada entre si. Atuavam sobo comando de um lider. A quase totalidade dos integrantes dessesgrupos eram “caboclos”, que tinham grande conhecimento sobrea vida no sertão. Atacavam os índios em seus acampamentos,de surpresa. Às vítimas poucas possibilidades havia de fuga.

O mais conhecido bugreiro em Santa Catarina foi MartinhoMarcelino de Jesus, ou Martinho bugreiro. Nascido por voltade 1876, em Bom Retiro, trabalhou em Taquaras na fazenda domajor Generoso de Oliveira. Depois do casamento, morou comos sogros na serra da Boa Vista. A seguir, mudou-se para o lugarCaeté, no município de Alfredo Wagner, voltando depois a morarem Bom Retiro, no Distrito de Catuíra. Dedicava-se à criação eao comércio de gado. Foi nessa condição de criador, isto é,pequeno fazendeiro, que começou a atender pedidos departiculares e do governo para “afugentar” os índios. Volta emeia estava em Florianópolis, prestando contas ao governo. Noinício do século, comandou diversas expedições no vale do Itajaí.Em algumas de suas estadas em Blumenau foi fotografado comsua turma e suas vítimas.

Para dar segurança aos colonos que se fixavam em Ituporangae Barracão, foi nomeado gerente da Cia Colonizadora SantaCatarina, por seu diretor, coronel Carlos Poeta. Entre 1923 e1928, Martinho esteve a serviço do agrimensor de terras CarlosMiguel Koerich, que fazia seu trabalho nas regiões de Barracão,Anitápolis, Esteves Junior, Angelina e Brusque. Participoucontra a revolução constitucionalista de 1932, oportunidade emque estando aquartelado em Itararé, deu um depoimento dizendoque em Santa Catarina “tinha liquidado muitos bugres” 7.

Segundo um depoimento que obtive do bugreiro IrenoPinheiro, em 1972, na localidade de Santa Rosa de Lima,afugentavam-se os índios “...pela boca da arma. O assalto se

Page 28: Indios Xokleng

28

dava ao amanhecer. Primeiro, disparava-se uns tiros. Depoispassava-se o resto no fio do facão. O corpo é que nem bananeira,corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preço.Às vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres ecrianças. Tinha que matar todos. Se não, algum sobreviventefazia vingança. Quando foram acabando, o governo deixou depagar a gente. A tropa já não tinha como manter as despesas.As companhias de colonização e os colonos pagavam menos.As tropas foram terminando. Ficaram só uns poucos homens,que iam em dois ou três pro mato, caçando e matando essesíndios extraviados. Getúlio Vargas já era governo, quando eufiz uma batida. Usei Winchester. Os índios tavam acampadosnum grotão. Gastei 24 tiros. Meu companheiro, não sei. Euatirava bem” 8.

No Sul do Estado, Natal Coral, Maneco Ângelo, e um talVeríssimo, entre outros, tornaram-se famosos como líderes das“batidas” e pela violência com que assaltavam os acampamentosdos índios.

Bugreiro, ou, mais explicitamente, o caçador de índios, foiassim uma profissão criada e necessária ao capitalismo emexpansão nesta parte da América.

Maria Korikrã: o drama de uma das vítimas que sobreviveram

Entre as crianças e mulheres que Martim bugreiro trouxe,em 1905, para mostrar à população de Blumenau que haviaefetivamente “afugentado” os índios, estava a menina Korikrã.Ela foi adotada pelo Dr. Hugo Gensh, que atuava como médicoem Blumenau. Recebeu o nome de Maria Gensh e teve educaçãoesmerada, aprendendo alemão e francês.

O Dr. Gensh publicou uma pequena monografia sobre suaexperiência em adotar e educar uma indígena, incluindo aíalguns vocábulos Xokleng que foram depois usados por EduardoHoernhan durante seus trabalhos de atração dos índios. Mariafaleceu aproximadamente com 42 anos, vitimada portuberculose.

Em 1918, quatro anos após o estabelecimento de relaçõesamistosas com os Xokleng, surgiu uma oportunidade de umencontro entre Maria e seus verdadeiros pais. Darcy Ribeiro9,baseado em depoimento de Hoerhan assim narra o episódio:“depois de muita espera chegou a manhã do encontro. Eduardodispôs os índios, colocando à frente o pai de Korikrã... uma tia,irmã de sua mãe, e três irmãos, recomendando que tratassem

Page 29: Indios Xokleng

29

bem os visitantes... Depois, foi buscar o Dr. Gensh, sua ilustreespôsa e Maria, trazendo-os morro acima ao encontro dosíndios...

Eduardo explicou que o velho era o pai adotivo de Maria,que a criara com o carinho que já contara. E Maria,perguntaram, chamando-a naturalmente Korikrã, seu nometribal, pois não a reconheciam naquela figura esguia, vestidanuma blusa elegante, saia bem talhada e com a cabeleiraelegantemente arranjada num chapéu. Eduardo a indicou. Osíndios observaram-na um instante e avançaram para ela,apalpando-a, incrédulos. Logo alguém se lembrou de procurara marca tribal, cicatriz de duas incisões feitas na perna esquerdadas mulheres, logo abaixo da rótula. Levantaram a saia damoça para procurá-la. Enquanto isso outros lhe arrancavam ablusa, o pai tirava o chapéu e desmanchava o penteado,tentando refazer a imagem da filha tão cedo arrancada de seuconvívio...

Alguém encontrou a marca tribal e todos se agacharam paraver: kó, kó, - aqui, aqui está... Outra cicatriz produzida porferimento numa queda, quando criança, foi encontrada nobraço, e, então, já não havia dúvidas, era ela. O pai tomouentre as manoplas a cabeça de Maria... e perguntou: “vocênão me reconhece? Eu sou seu pai”. Maria não era só pavor,era mais asco que medo. Beiços pregados não dizia palavra, eo velho implorava e ordenava: “fala, você me entende? Fala,fala se me reconhece”. Dr. Gensh, transido de medo, tanto temiapela própria sorte como pela da pupila. A mãe adotivaesgueirava-se horrorizada. Aí o velho cacique larga a cabeçade Maria com um safanão, afasta-se, olha a filha com ódio ediz: Eu estou vendo, você tem nojo de mim, tem nojo de tôda asua gente...”

O número de crianças trazidas como troféus pelos bugreirosnão foi pequeno. Sabe-se que em alguns casos autoridadesestaduais e um ou outro humanista as adotaram. O mesmoaconteceu com casas de religiosos. Um bom número deve tersido incorporado às fazendas do planalto para servirem comomão-de-obra. Sobre algumas dessas crianças ficaram registrose, às vezes, fotos. Em raríssimos casos, chegaram à idade adulta.

A Liga Patriótica e o debate humanista

A violência que acontecia no interior do sertão repercutiu naimprensa, nas áreas urbanas e, também, no exterior. Um longo

Page 30: Indios Xokleng

30

debate ocorreu. Muitos tinham opinião que os índios eram umobstáculo ao “progresso” do país e que deveriam ser,simplesmente, eliminados. Esses, em verdade, assumiampublicamente uma prática do que vinha acontecendo de maneiraàs vezes camuflada, outras vezes aberta, desde os tempos daColônia. Isto é, o genocídio indígena. Outros, mais generosos,defendiam o fim da carnificina, da violência. Esses humanistasjustificavam sua posição dizendo que os indígenas eram sereshumanos e como tais tinham o direito à vida e ao convívio coma civilização.

Em Santa Catarina, este debate se acentuou no início desteséculo quando foi fundada em Florianópolis, no ano de 1906, a“Liga Patriótica para a Catechese dos Selvícolas”. A Liga eraconseqüência do esforço do então Major-Engenheiro, PedroMaria Trompowsky Taulois, positivista e maçom, para dar fimà violência contra os índios, tendo o apoio de um pequeno grupode políticos, humanistas e intelectuais. Gustavo Richard, entãogovernador, foi escolhido seu Presidente de Honra.

A Liga se envolveu forte no debate que acontecia na imprensa,opondo-se às investidas que o jornal Der Urwaldsbote, editadoem Blumenau, fazia contra os índios.

Ainda em 1906, Taulois convidou o naturalista e etnógrafotcheco, Albert Vojtech Fric*, para assumir a “pacificação”dosXokleng. Fric fazia a sua terceira viagem à América do Sul econhecia a violência que era cometida contra os índios, pelosgovernos e companhias de colonização. Era também umhumanista. Sua chegada em Florianópolis e, depois, em Itajaí,Blumenau, Curitibanos e Palmas foi devidamente noticiada. Ojornal Der Urwaldesbote publicou diversos artigos criticandoos objetivos de Fric e da Liga, bem demonstrando o cenário deinsegurança que dominava os colonos.

Fric resumia seu projeto numa aproximação pacífica com osXokleng, com o apoio de índios Kaingang; na reserva de umaárea suficiente para os indígenas terem condições desobrevivência; na punição das caçadas e negócios de escravosfeitos pelos bugreiros; na devolução das crianças capturadasaos seus pais; e na prática da compreensão e da crença noprogresso humano. Fric, entretanto, acabou regressando àEuropa sem ter colocado em prática seu plano, pois havia sidodescredenciado de sua condição de representante do Museu RealEtnográfico de Berlim, e perdeu seu vínculo com o MuseuEtnográfico de Hamburgo. Tudo indica, que isto aconteceu porpressões exercidas pelas companhias de colonização alemãs,que atuavam em Santa Catarina.

Page 31: Indios Xokleng

31

Foi no cenário do XVI Congresso Internacional deAmericanistas, realizado em Viena, em 1908, que Fricreapareceu. Apresentou um extenso trabalho sobre asiniqüidades que se praticavam contra os indígenas no Sul doBrasil, em nome da colonização e do “progresso”. Denunciouque a “colonização se processava sobre os cadáveres de centenasde índios, mortos sem compaixão pelos bugreiros, atendendoos interesses de companhias de colonização, de comerciantesde terras e do governo”. E finalizou, solicitando que o Congresso... “protestasse contra êstes atos de barbárie para que fôsse tiradaesta mancha da história da moderna conquista européia naAmérica do Sul e dado um fim, para sempre, a esta caçadahumana”10.

As denúncias de Fric repercutiram na imprensa européia. NoBrasil, a questão tornou-se motivo de amplo debate, quando oProf. Hermann von Ihering, Diretor do Museu Paulista, tentourefutar as declarações do etnógrafo tcheco. Ihering disse naocasião, referindo-se aos Kaingang de São Paulo, que “os índiosnão representam um elemento de trabalho e progresso” epropunha o seu extermínio11.

O nacionalismo embrionário da Velha República, inspiradono positivismo, recolocava a questão indígena comoresponsabilidade do Estado. A discussão se espalhou pelo paíse o governo da República acabou criando, em 1910, o Serviçode Proteção aos Índios, (SPI). Os ideais de Fric, de Taulois e da“Liga”, afinal, prevaleceram.

1. Essa carta ao Dr. Blumenau foi escrita pelo Prof. Ostermann (cf. Blumenau em Cadernos, tomo IX, no

9, 1970). O Dr. Fritz Müller também enviou uma carta ao Dr. Blumenau, comentando o episódio. Veja-se SANTOS,Sílvio Coelho. Índios e Brancos no Sul do Brasil. A dramática experiência dos Xokleng . Florianópolis,Edeme, 1973, 1 a edição, pp.61-62;

2. “Falla” é o mesmo que relatório ou, atualmente, “mensagem” à Assembléia. Neste caso, trata-se da“falla” do Dr. João José Coutinho, de 1856, conforme SANTOS, 1973: 65;

3. “Falla” do Presidente da Província João Tomé da Silva, in SANTOS, ob. cit., p. 79;4. SANTOS, idem, p. 79;5. Idem, idem, pp. 80-81;6. Ver SANTOS, ob. cit., pp. 84-85;7. De acordo com SANTOS, idem, pp.89-91;8. De acordo com o texto de SANTOS, Sílvio Coelho dos, “Bugreiro”, elaborado para a exposição do artista

plástico Elvo Damo, intitulada, XILOS, Curitiba, 1979. Os dados apresentados referem-se a uma entrevista querealizei com um bugreiro em Santa Rosa de Lima (SC);

9. RIBEIRO, Darcy, ob. cit., 1970: 399-400; e SANTOS, ob. cit., pp.185-189;10. STAUFFER, David Hall. Origem e Fundação do Serviço de Proteção aos Índios. In Revista de História,

no 37 e seguintes. São Paulo, 1959/1960. Neste caso, 1960: 169-172;11. STAUFFER, ob. cit., p.177; SANTOS, 1973: 116-120;* FRIC é grafado corretamente com um pequeno “v” sobre a letra “C”. Deve-se pronunciar “Fritch”, de

acordo com STAUFFER, 1960:169.

Page 32: Indios Xokleng

32

1. Índio Xokleng com arco e flechas,nos primeiros momentos do contato.

Foto provável de E. Hoerhan.Acervo SCS.

Page 33: Indios Xokleng

33

Page 34: Indios Xokleng

34

2/3. Vítimas de bugreiros.Foto provavelmente obtida em Blumenau, em 1905.

Detalhe de G. Gerlach, 1972.Acervo SCS.

Page 35: Indios Xokleng

35

“O metal dessa tinta

que enferruja na lâmina

da faca, surda e cega,

antes loquaz e pânica,

não é o sangue das gentes

brancas, limpas, germânicas:

é o óleo que fluía na máquina

de um bípede emplumado: o Xokleng,

o bicho bugre, ríspido

animal nocivo e impertinente

que se pensa dono deste continente.

Indigente animal

que pegado de surpresa nas aldeias

das matas, assusta-se com o

estampido das balas e

é agradável matar

com um golpe de faca

se o gume é aceso e no golpe

se opõe o comedido peso. ”*

* Este texto poético e os que se seguem, de Reynaldo Jardim,foram escritos originalmente para integrar o álbum Xilos, denominado Bugreiro, de autoriado escultor catarinense Elvo Damo, apresentado em Curitiba, Pr, em 1979.

Page 36: Indios Xokleng

36

“Da ferocidade impenitente

Da artimanha amarga, gorda e azeda.

Da cerimônia fúnebre e martírio.

Da sanha que em sendas se envereda.

Da massacrada gente e seu delírio.

Da pele recortada a golpe frio.

Da solidão perdida dessas matas.

Da vida que o bugreiro desbarata.

Da mortandade calculada em planos.

Da moeda que paga os assassínios.

Da aldeia queimada, palha e panos.

Da genocídia guerra contra os índios.

Da criminosa história que não honra.

Da mentirosa gente que difama.

Da tribo trucidada enquanto é sombra.

Da noite que amanhece em sol de lama.

Da lama que mistura sangue e gritos.

Da inclemência que aflige o aflito.

Da gente que acorda em sobressalto.

Da fúria que cai sobre essa gente.

Da criança abatida em pleno salto.

Da aflição, mil vezes da aflição.

Da lâmina ladrando do facão.”*

* Reynaldo Jardim, ob. cit.

Page 37: Indios Xokleng

37

4. Vítimas de bugreiros II.Detalhe de Gerlach ,1972;

Acervo SCS.

Page 38: Indios Xokleng
Page 39: Indios Xokleng

5. Martinhobugreiro e suasvítimas.

6. Retrato deMartinho

Marcelino de Jesustirado em 1932.

Acervos: MuseuUniversitário (MU)

UFSC, e SCS.

Page 40: Indios Xokleng

40

7/8/9. Bugreiros e suas vítimas I.Detalhes de Gerlach, 1972.

Acervo SCS.

Page 41: Indios Xokleng

41

Page 42: Indios Xokleng

10. Bugreiros e suas vítimas II.Acervo SCS.

11. Bugreiros e suas vítimas III. Acervo SCS.

Page 43: Indios Xokleng

13. Grupo de “Batedores de Mato” II. Acervo AHJFH.

12. Grupo de “batedores de mato” I. O termo era um eufemismo oficial para referir-se a uma“tropa”de bugreiros. Acervo Arquivo Histórico José Ferreira da Silva (AHJFS).

Page 44: Indios Xokleng

44

“Disse o bugreiro

que eram vinte

os índios liquidados

a facão, na mata,

Que, de rastros,

no lusco-fusco

da manhã que nascia,

penetraram na aldeia

quando os índios dormiam.

Que, sobre eles,

o bugreiro e seus pares,

caíram de chofre

sem fazer alarde.”*

* Fragmento do texto de Reynaldo Jardim, ob. cit.

Page 45: Indios Xokleng

45

PÁGINAS SEGUINTES:

17/18 Xilogravuras de ElvoDamo, sobre o tema Bugreiro,

integrante do álbum Xilos,1979.

14/15/16. “Tropa”de bugreiros de Martinho.Reprodução de Gerlach, 1972.Em detalhe aparecem outra “tropa” de Martinhoe um grupo de bugreiros do Sul do Estado,apresentado na obra do Padre Luigi Marzano(Coloni e Missionari Italiani nelle foreste del

Brasile. Firenze, Tipografia Barbéra, 1904, p.119).Acervo SCS.

Page 46: Indios Xokleng
Page 47: Indios Xokleng
Page 48: Indios Xokleng
Page 49: Indios Xokleng

19/20/21/22.Maria Korikrãcom a famíliado Dr. Gensh,em Blumenau.Uma trágicahistória.Acervos SCS eAHJFS.

Page 50: Indios Xokleng

50

23.Vítimas de bugreiros III.Acervo AHJFS. Recolhidas pelas

freiras da cidade de Blumenau,duas mulheres e duas criançasconseguiram fugir, voltando à

floresta.

24. Francisco Topp foi mais umadas vítimas capturadas pelos

bugreiros. Foi adotado peloMonsenhor Topp, religioso

célebre por sua oratória.Freqüentou o Colégio

Catarinense, em Florianópolis,por alguns anos. Depois que

abandonou os estudos, seguiupara Buenos Aires, onde teria

falecido ainda jovem.Acervo AHJFS.