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Processo de Indução de Professores Primários em Início de Carreira:
um olhar às Zonas de Influência Pedagógica (Zips) 9, 10 e 11 do Município
Da Matola
Nelson Bape
Departamento de Organização e Gestão da Educação
[email protected]/[email protected]
RESUMO
O presente estudo é resultado de uma investigação sobre o processo de indução de professores
primários em início de carreira, nos 1° e 2 ° ciclos do ensino primário. O estudo desenvolveu-se
com o objectivo de procurar saber como decorre o processo de indução de professores primários
em início de carreira. O estudo foi desenvolvido nas ZIPs 9, 10 e 11 do Município da Matola
nomeadamente nas Escolas Primárias de Ndlavela, 25 de Junho, 1° de Maio e Khongolote ‟A”.O
processo de indução é compreendido como sendo integração de novos professores que abraçam a
carreira da docência. A investigação foi de âmbito qualitativo e desenvolveu-se através de
recolha de dados nas escolas supracitadas por meio de questionários e entrevistas ao corpo
directivo das respectivas escolas e aos docentes. Os resultados do estudo mostram que o processo
de indução de professores primários em início de carreira realiza-se sem orientação formal e
carece de um instrumento de regulação. Por outro lado, o estudo concluiu que o processo de
indução ao nível das escolas revela-se mais presente no enquadramento administrativo dos novos
professores, enquanto o acompanhamento técnico pedagógico parece apresentar lacunas.
Palavras-chave: escola, indução, processo de ensino e aprendizagem, carreira profissional
Introdução
O presente estudo tem como tema o processo de indução de professores primários em início de
carreira, realizado nas ZIPs 9, 10 e 11 do Município da Matola, nomeadamente nas escolas
Primárias de Ndlavela, 25 de Junho, 1° de Maio e Khongolote ‟A”.
A indução é um processo contínuo que envolve práticas, com intuito de orientar o professor em
início de carreira tornando-o competente e eficaz no decorrer do processo de ensino e
aprendizagem (PEA). De acordo com Castetter & Young (2000), a indução e integração são
termos sinónimos. Portanto, pode-se entender indução como um processo de integração de
professores em início de carreira. A indução tem um sentido pedagógico e educativo
imprescindível no contexto do processo de ensino e aprendizagem (PEA).
No âmbito pedagógico, isto é, ao nível das escolas a indução é orientada para o ensino levado a
cabo pelos professores e demais agentes de educação. Contrariamente às organizações
económicas, nas escolas a natureza de intervenção faz-se através da mediatização dos
professores que são agentes movidos por interesses pessoais e colectivos dentro da organização
escolar. É nessa dimensão humana do professor e do seu papel que se desenvolve o processo de
formação das novas gerações, revelando-se nesse contexto, à necessidade de se instituírem
orientações formais de indução conduzidas para enquadrar os novos professores em início das
suas carreiras.
Carrega (2010) argumenta que no contexto pedagógico “o professor ao entrar na docência é
encarado com desafio de formar para sociedade, e é pressionado para o alcance de resultados
escolares”. Portanto uma enorme responsabilidade para quem está no início de uma carreira. Esta
pressão impõe-se aos novos professores de igual modo como se faz para com os mais
experientes, facto que pode colocar em causa a avaliação dos resultados dos grupos de docentes.
Deste modo, a indução ou integração dos novos professores figura-se pertinente, na medida em
que, como cita Dube (2008), a indução ou integração de professores vai ‟orientar, integrar,
prestar apoio psicológico, bem-estar pessoal e profissional desenvolvendo-lhes habilidades de
ensino, conhecimentos necessários e atitudes para a gestão do dia-a-dia na sala aula”.
A motivação para o desenvolvimento deste estudo parte do pressuposto de que a indução é um
tema pouco referenciado em estudos de educação no contexto moçambicano. Portanto, a
informação disponível indica-nos que as orientações formais de indução ou estratégias de
enquadramento dos professores em início de carreira não estão claramente definidas.
O estudo procura discutir o processo de indução de professores primários em início de carreira
tentando compreender como decorre esse processo no contexto moçambicano concretamente nas
zips 9, 10 e 11 do município da Matola.
O estudo está estruturado e organizado da seguinte maneira: numa primeira fase aborda-se a
introdução do trabalho em estudo, onde posteriormente correlaciona-se o problema, pergunta de
pesquisa, hipótese e objectivos da pesquisa; a segunda fase cerne aos matérias e métodos que
consiste numa discussão metodológica da presente pesquisa; na terceira fase foca basicamente
nos resultados e discussão gerados na pesquisa e por último as conclusões e recomendações.
Problema
O artigo 50 do Regulamento Geral do Ensino Básico (RGEB) refere a necessidade de indução
(integração), mas não clarifica como tal prática se deve desenvolver nas escolas. Portanto, é um
problema uma vez que, para além das práticas pedagógicas e dos estágios que decorrem no
processo de formação do professor, este não tem outro meio para a sua integração.
Pergunta de Pesquisa
De que forma decorre o processo indução de professores primários em início de carreira nas Zips
9, 10 e 11 do Município da Matola?
Hipótese
Não existem orientações formais de indução em Moçambique que não seja o encaminhamento e
enquadramento administrativo de professores iniciantes nas escolas.
Objectivos
Objectivo Geral
Compreender como decorre o processo de indução de professores em início de carreira
dos 1° e 2° ciclos do ensino primário nas ZIPs 9, 10 e 11 do Município da Matola;
Objectivos Específicos
Identificar as formas usadas para indução de professores em início de carreira dos 1° e 2°
ciclos do ensino primário nas ZIPs 9, 10 e 11 do Município da Matola;
Buscar o entendimento dos professores em início de carreira dos 1° e 2° ciclos do ensino
primário sobre o processo de indução nas Zips onde elas estão afectas.
Matérias e Métodos
Tipo de pesquisa e método: exploratório e qualitativo;
População e amostra: 21 professores iniciantes, dos anos 2013 e 2014 nos 1° e 2° ciclos
das escolas primárias Ndlavela, 25 de Junho, 1° de Maio e Khongolote ‟A” localizadas
no município da Matola selecionadas por conveniência num universo de 257; Quatro
directores pedagógicos e quatro chefes da secretaria das escolas Primárias de Ndlavela,
25 de Junho, 1° de Maio e Khongolote ‟A” localizadas no município da Matola;
Técnica de recolha de dados: questionário e entrevistas;
Técnica de análise de dados: tabulação e esquematização absoluta e percentual das
respostas dos inquiridos com recurso do pacote SPSS.
Resultados e discussão
A análise foi orientada na tentativa de confirmar a hipótese colocada no início do trabalho que
foi a seguinte “Não existem orientações formais de indução em Moçambique, senão um
encaminhamento e enquadramento administrativo de professores iniciantes nas escolas”.
Para confirmar esta hipótese foi administrado um questionário (perguntas fechadas) aos
professores cujos resultados passamos a analisar:
Questão 1: “No seu 1º ano de trabalho foi-lhe apresentado toda estrutura organizacional da
escola?” (Esta pergunta enquadra-se na análise das questões de ordem administrativa e
organizacional).
Dos 21 professores, 14 (66.7%) optaram pela alternativa ‟sim”, 5 (23.8%) responderam ‟mais ou
menos”, e 2 (9.5%) disseram não lhes ter sido apresentada. Com esses dados pode-se aferir que
os professores, tiveram, de alguma maneira, contacto com o organograma da escola no início da
docência nas escolas em análise.
Questão 2: “Na sua primeira semana de trabalho foi-lhe facultado o regulamento interno da
escola?” (esta pergunta enquadra-se na análise das questões de ordem administrativa e
organizacional).
Dos 21 professores constatou-se que 11 (52.4%) responderam afirmativamente e 7 (33.3%)
disseram ‟mais ou menos”. Tal facto leva-nos a aferir que, na maior parte dos casos, ao
iniciarem as suas actividades, são facultados aos professores os documentos orientadores da
conduta interna da escola. Apenas 3 (14,3%), respondentes referiram não lhes terem sido
facultados os documentos orientadores. Esse resultado leva-nos a reflectir que os mecanismos de
integração dos novos professores apresentam lacunas, pois com a ausência desses documentos
dificilmente irão ajustar-se às exigências.
Questão 3: ‟No seu 1º ano de trabalho foram assistidas as suas aulas?” (Esta pergunta enquadra-
se nas questões da área técnica pedagógica).
Nesta análise constatou-se que 11 (52.4%) dos professores afirmaram terem sido assistidos.
Contudo, tal como nas perguntas anteriores existe uma percentagem significativa de reticência 8
(38.1%) e 2 (9.5%) de opinião negativa. Isso sugere que o trabalho de assistência às aulas precisa
ser melhorado para que todos os professores possam ser assistidos principalmente no início da
sua carreira.
Questão 4: “No 1° ano de trabalho os professores teriam participado em alguma capacitação
pedagógica?” (Esta pergunta enquadra-se nas questões da área técnica pedagógica).
A esta pergunta, a maior parte dos professores 13 (61.9%) respondeu ‟não”. Este resultado
sugere que a integração pedagógica tem lacunas, pois sendo o primeiro ano de trabalho, era
desejável que houvesse capacitações. Nesta ordem de ideias, há necessidade de intensificar as
capacitações pedagógicas no primeiro ano de trabalho.
Questão 5: “No seu 1º ano de trabalho participou em algumas capacitações pedagógicas?” (Esta
pergunta enquadra-se nas questões da área sócio-cultural).
15 (71.4%) dos inquiridos responderam que ‟sim”, tinham tido contacto com os pais e
encarregados de educação, 4 (19.0%) inquiridos responderam que tiveram ‟mais ou menos” .
Estes resultados indicam que no primeiro ano de carreira os professores interagem com os pais e
encarregados de educação. Os dados revelam ainda, que o contacto entre professores e pais e
encarregados de educação existe, contundo não é abrangente a todos os professores iniciantes.
Uma outra fonte de evidência para este estudo foram as entrevistas (semi-estruturadas) ao sector
pedagógico (directores pedagógicos) e ao pessoal da secretaria (chefes da secretaria). Quando
questionados sobre os passos para integração dos professores recém-chegados na escola, os
directores pedagógicos foram lineares em afirmar que o processo inicia com atribuição das
turmas e o horário por parte do professor principiante, procede o processo de atribuição do
material didáctico do professor, e referiram que o processo de assistência às aulas não distingue
os principiantes dos antigos professores. Contudo, salienta-se que de acordo com os
entrevistados, não existe uma orientação formal que regula todos esses passos, o que acontece é
que as escolas vão desenvolvendo o processo de forma arbitrária e descoordenada.
Quando questionado o pessoal da secretaria em relação ao seu papel quanto à integração dos
professores recém-contratados, as quatro chefes de secretaria entrevistados, mostraram-se
unânimes ao considerarem que a escola não contrata professores, o processo da contratação
inicia ao nível da direcção distrital da educação. O papel da secretaria da escola inicia quando o
professor apresenta a guia que é o documento que certifica a contratação do professor seguindo-
se a organização do processo individual e por fim os trâmites de remuneração.
Conclusões e recomendações
Os resultados desta investigação provaram a hipótese de que não existem orientações formais de
indução de professores em início da sua carreira. Com efeito, as respostas recolhidas através do
questionário aplicado aos professores revelaram que existem certas orientações conducentes à
sua integração, mas que tais orientações não são claramente definidas, homogéneas e
institucionalmente coordenadas.
A pesquisa também respondeu à pergunta de investigação que questionava sobre a maneira como
era feito o processo de indução de professores iniciantes, tendo mostrado que, a vertente
administrativa organizacional da indução todos os professores são enquadrados formalmente na
nova profissão através da organização dos processos individuais, na vertente sócio-cultural
assume-se satisfatória, se tomarmos em conta que o contacto entre professores e o meio extra-
escolar, especificamente, com os pais e encarregados de educação foi visto como positivo pelos
respondentes e a integração técnica pedagógica apresenta-se satisfatória, mas ressalvam algumas
lacunas, como por exemplo, a assistência às aulas e capacitação de professores.
Concluindo a indução nas escolas da ZIPs 9, 10 e 11 constitui uma prática do dia-a-dia das
escolas embora tal não resulte de procedimentos formalizados e instituídos.
Em face dos resultados apurados recomenda-se o seguinte:
Ao nível das instituições centrais da educação, instituir orientações formais de indução no
sentido de melhorar o desempenho do professor em início de carreira na gestão diária da
sala de aula;
O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano deve providenciar melhores
instruções, metodologias e normas que possam auxiliar os professores iniciantes na
carreira na sua integração técnica pedagógica.
Maior intercâmbio entre professores principiantes e experientes de modo a apoiarem-se
mutuamente no desempenho das suas funções.
As escolas devem procurar envolver os professores principiantes através, da participação
destes em projectos da escola, como por exemplo a responsabilização destes, em grupo
de desporto da escola.
As Zips, sendo instituições intermediárias, criem estratégias de capacitação dos
professores no início da carreira, no sentido de potenciar melhor os professores a gerir o
dia-a-dia da sala de aula.
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