INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO: RISCOS E INTERVENÇÕES … · A NBR 12284 define canteiro de obras...

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INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO: RISCOS E INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS VISANDO AUMENTO NA PRODUTIVIDADE Andre Alves de Resende (UFG ) [email protected] PHILIPPE BARBOSA SILVA (UFG ) [email protected] A indústria da construção cresce a cada dia e é uma das mais importantes indústrias do país. Junto com esse crescimento sem o devido planejamento e cuidado surgem os problemas; cada vez mais ocorrem acidentes de trabalho e aumento da incidência de lesões decorrentes de trabalho. Nesse contexto, a ergonomia se põe como instrumento de aliança entre conforto do trabalhador e produtividade. Assim, a identificação de riscos ergonômicos são de fundamental importância, seguido de sua análise, proposição e implementação de intervenções ergonômicas. Este trabalho faz a revisão dos riscos ergonômicos impostos aos trabalhadores da construção civil, além de tratar de como proceder com as intervenções ergonômicas que buscam sanar os problemas identificados e restabelecer o conforto e bem-estar do trabalhador, propiciando o favorecimento da produtividade. Palavras-chaves: Riscos ergonômicos, Produtividade, Construção civil. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO: RISCOS

E INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS

VISANDO AUMENTO NA

PRODUTIVIDADE

Andre Alves de Resende (UFG )

[email protected]

PHILIPPE BARBOSA SILVA (UFG )

[email protected]

A indústria da construção cresce a cada dia e é uma das mais

importantes indústrias do país. Junto com esse crescimento sem o

devido planejamento e cuidado surgem os problemas; cada vez mais

ocorrem acidentes de trabalho e aumento da incidência de lesões

decorrentes de trabalho. Nesse contexto, a ergonomia se põe como

instrumento de aliança entre conforto do trabalhador e produtividade.

Assim, a identificação de riscos ergonômicos são de fundamental

importância, seguido de sua análise, proposição e implementação de

intervenções ergonômicas. Este trabalho faz a revisão dos riscos

ergonômicos impostos aos trabalhadores da construção civil, além de

tratar de como proceder com as intervenções ergonômicas que buscam

sanar os problemas identificados e restabelecer o conforto e bem-estar

do trabalhador, propiciando o favorecimento da produtividade.

Palavras-chaves: Riscos ergonômicos, Produtividade, Construção

civil.

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1. Introdução

As atividades inerentes à construção civil são, majoritariamente, de cunho penoso,

caracterizadas por tarefas braçais e de grande esforço físico. Tais agravantes acrescidos de

fatores tais como, qualificação ineficiente para os postos de trabalho, baixos incentivos à

utilização de equipamentos de segurança, nível de conhecimento reduzido dos trabalhadores e

pouco ou nenhum interesse a qualificar tais profissionais, conduzem a inúmeros casos em que

os operários nem mesmo sabem o que devem executar e dispõem de ferramentas,

equipamentos e demais materiais de trabalho inadequados, ou ainda, de locais de trabalho

com más condições para a execução dos serviços. Esses fatores levam a preocupação com

segurança do trabalho e ergonomia a estar cada vez mais presente e intensificada nos

canteiros de obra.

No mundo, em especial no Brasil, a indústria da construção tem lugar de destaque,

absorvendo considerável porcentagem da mão-de-obra nacional. No entanto,

concomitantemente, tem sido uma indústria que conquista espaço entre os setores mais

problemáticos do ponto de vista de acidentes do trabalho, apresentando 11% dos óbitos totais

decorrentes de acidentes de trabalho em 2006, conforme dados de Zarpelon et al (2008).

Salienta-se também que, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas e Grau

de Risco de Acidente de Trabalho Associado, a indústria da construção apresenta o mais alto

grau de risco, 3%. Ainda nesse sentido, é também a indústria da construção alvo de severas

críticas com relação ao atraso, reduzidos índices de produtividade e elevados desperdícios de

recursos. Tais problemáticas estão intimamente ligadas.

Dessa forma, constantemente as empresas do setor da construção civil necessitam ampliar a

segurança dos seus trabalhadores e reduzir custos adicionais provenientes de mão-de-obra

ausente e/ou ressarcimento de danos ocasionados a funcionários que não dispõem de

condições adequadas de segurança e ergonomia. Neste sentido, a ergonomia se põe como

ferramenta adequada para definir o espaço e condições adequadas para a execução das

funções do operário com segurança e qualidade.

A primeira definição de ergonomia deu-se em 1857 por Jastrzevowski, que declarou: “a

ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade humana em

termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação”, tempos depois Leplat (1972)

enunciou que ergonomia trata-se de uma tecnologia e não de uma ciência, e visa a

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organização dos sistemas homem-máquina. Diversos autores definiram distintamente o

conceito de ergonomia, mas o teor de todos é basicamente igual: a ergonomia destina-se a

promover e melhorar a saúde, segurança, conforto e eficiência do trabalho.

O uso da ergonomia como instrumento de estudos que objetivam a melhoria da qualidade de

serviços na construção civil é tido como um grande desafio, pois diversos são os obstáculos

que se interpõem. A melhoria das condições de trabalho é um caminho eficiente para obter

altos níveis de qualidade e produtividade.

Como possíveis intervenções para fomentar a melhoria do ambiente de trabalho, pode-se

destacar a conscientização acerca de segurança do trabalho e ergonomia (treinamentos,

palestras, ferramentas educativas/formativas, etc.), a organização do canteiro de obras, análise

ergonômica e proposição de medidas corretoras e qualificação de funcionários.

Nesse sentido, procurou-se fazer uma revisão dos riscos ergonômicos a que estão submetidos

os trabalhadores da construção civil e tornar nítida a importância da incorporação dos

conceitos e intervenções ergonômicas, além de evidenciar a intrínseca relação entre a

melhoria das condições de trabalho e aumento da produtividade.

2. Fundamentação Teórica

Em 1943 foi aprovada por meio do Decreto 5.452 a CLT (Consolidação das Leis do

Trabalho), a qual define-se como o estatuto regulador das relações de capital e trabalho no

Brasil, estabelecendo assim, os direitos e deveres do empregador e do empregado.

Mais tarde, nos anos 70 fez-se necessária a tomada de medidas para inibir e reduzir o elevado

número de acidentes de trabalho, o que se deu por meio da publicação da Lei nº 6.514 de

1977, passando a estabelecer princípios mínimos à Segurança e Medicina do Trabalho.

Para efetivar o atendimento da Lei nº 6.514, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

publica a Portaria nº 3.214 de 8 de junho de 1978, dando aprovação à Normas

Regulamentadoras – NR’s relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Nos dias atuais a

referida portaria contempla 34 NR’s .

Em se tratando da indústria da construção civil, tem-se uma NR específica, a NR 18 –

Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção.

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A NR 18 prenuncia como imprescindível a elaboração e implementação do PCMAT

(Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção), o qual

objetiva assegurar a integridade e saúde dos trabalhadores, observando-se que os riscos devem

ser previstos e controlados no processo de execução de cada fase da obra, conforme Sampaio

(1998).

Nesse contexto, segundo afirmação de Ansell e Wharton (1992, apud ALBERTON, 1996, p.

67), “o risco é uma característica inevitável da existência humana. Nem o homem, nem as

organizações e sociedade às quais pertencem podem sobreviver por um longo período sem a

existência de tarefas perigosas”.

Em relação aos riscos ergonômicos, a NR 18 estabelece que, além de identificados, deve-se

elaborar uma análise ergonômica do trabalho, objetivando a avaliação das condições

ambientais e de organização dos postos de trabalho com as características psicofisiológicas

dos trabalhadores.

Dessa maneira, o ambiente de trabalho deve dispor de segurança e condições adequadas, de

tal forma que evite os Acidentes de Trabalho, conforme sua designação:

Acidente de trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da

empresa ou ainda, pelo serviço do trabalho de segurados especiais, provocando lesão

corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da

capacidade para o trabalho, permanente ou temporária. (Lei nº 8.213/1991)

Uma das mais recorrentes consequências advindas dos riscos ergonômicos e condições

inadequadas de trabalho é a ocorrência de DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados

ao Trabalho. Segundo a ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), tais distúrbios se

constituem num dos mais sérios problemas de saúde pública da economia mundial.

Outra constatação foi realizada por Odebrecht (1995) no que tange a relação entre ergonomia

e produtividade. Ele afirmou que produtividade e qualidade não se obtêm apenas com

treinamento puro e simples de mão-de-obra, mas andam de mãos dadas com critérios

ergonômicos, os quais têm como principal campo de ação a concepção de meios de trabalho

adaptados às características psicológicas e fisiológicas do homem e das atividades

desenvolvidas por ele.

3. Processo produtivo de edificações

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A execução de edifícios demanda um processo produtivo vasto e complexo, compondo-se de

diversas etapas, podendo a execução entre elas ser concomitante ou não, a depender das

etapas específicas.

As principais, de forma genérica, são: limpeza e movimentação de terra, fundação, estrutura,

elevação, cobertura e acabamento.

A primeira etapa é a limpeza do terreno, onde retira-se toda vegetação e entulho existente. A

posteriori faz-se a movimentação de terra, se necessário, buscando conformar o terreno de

acordo com o tipo da obra, podendo ocorrer corte ou aterro, ou ainda os dois processos.

Depois segue-se com a locação da obra e constituição do canteiro de obras.

A seguir inicia-se a fundação, sendo esta estruturalmente responsável pela transmissão dos

esforços atuantes na superestrutura ao solo. Concluída a fundação, pode-se dar início a

execução da estrutura. Para edificações utiliza-se normalmente, estruturas de concreto

armado, compreendendo os elementos estruturais básicos: pilares, vigas e lajes.

Anterior a concretagem, deve-se providenciar a execução das formas e armaduras, conforme

especificações estabelecidas no projeto estrutural. Na sequência, inserem-se os condutos e as

caixas de passagem constantes no projeto elétrico. Nessa altura, o armador e o eletricista

devem trabalhar simultaneamente.

Concluída as etapas anteriores pode-se prosseguir com a concretagem, atentando-se sempre

para os cuidados com a vibração e adensamento do concreto.

Após a cura e desforma do concreto, inicia-se a elevação. Tal processo corresponde ao

levantamento de paredes, que podem ter ou não comportamento estrutural. Pode-se também

utilizar diversos materiais, não só a alvenaria convencional.

A cobertura é a execução do telhado; a utilização do tipo de telha é definido em projeto e deve

melhor se adequar às características da obra.

A última etapa é o acabamento, sendo habitualmente a etapa mais delongada. Esta pode se

dividir nas fases: instalações elétricas, hidrossanitárias, de gás e telefônica, recobrimento das

paredes, revestimentos, pisos, esquadrias, aparelhos sanitários e instalações, e pintura.

As tubulações (elétrica, hidrossanitária, de gás e telefônica) são embutidas e fixadas na parede

para o recobrimento. No recobrimento das paredes, aplica-se o chapisco, em seguida o

emboço e o reboco.

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Após o assentamento do piso inicia-se a montagem das esquadrias. Simultaneamente ou não,

são instalados os aparelhos sanitários (bacias, lavatórios, banheiras, pias de cozinha) e suas

instalações (torneiras, registros, etc.). Por fim, dá-se início a pintura, devendo dar o

acabamento final das portas, forros, janelas, paredes, madeiramento exposto e outros. Feito

isso basta proceder com a limpeza geral e está concluída a obra.

4. Análise ergonômica na construção civil

Como estabelecido pela NR 18, visando avaliar a adaptação do trabalho às características

psicofisiológicas dos trabalhadores, faz-se preciso a realização de uma análise ergonômica do

posto de trabalho. Essa avaliação pode se realizar por diversos meios, tais como: medidas do

ambiente físico (umidade, iluminação, ruído, vibração, temperatura, etc.), coleta de dados

sobre posto de trabalho, observação direta e registro de variáveis psicofisiológicas do

trabalhador. Nesse processo, é imprescindível a participação ativa dos trabalhadores.

Em termos de legislação, tem-se ainda a NR 17 – Ergonomia, norma que trata especialmente

da regulamentação das condições ergonômicas de trabalho, prescrevendo condições

adequadas do ponto de vista ergonômico para diversos tipos de atividade.

A NBR 12284 define canteiro de obras como “conjunto de áreas destinadas à execução e

apoio dos trabalhos da indústria da construção, dividindo-se em áreas operacionais e áreas de

vivência”. Já a NR 18 enuncia o canteiro de obras como “área de trabalho fixa e temporária

onde se desenvolvem operações de apoio e execução de uma obra”.

A correta montagem e organização do canteiro de obras são pontos importantes para o

sucesso do trabalho desenvolvido pelos operários. Pode-se iniciar a análise ergonômica de

uma obra partindo-se da organização do canteiro. Assim, cada vez mais exige-se

planejamento na disposição e localização de cada elemento constituinte do canteiro,

atentando-se para o fluxo de materiais e pessoas e para as condições de higiene e segurança,

sempre obedecendo as prescrições das normas vigentes.

O canteiro de obras sempre deve se encontrar organizado, limpo e sem impedimento ao fluxo

de materiais e pessoas. Deve-se proceder com a remoção de restos de materiais ou entulho de

forma periódica, devendo-se ainda, tomar as devidas medidas para evitar a formação de riscos

durante os processos.

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Visando a qualidade e produtividade, deve-se preparar com antecedência os postos de

trabalho adequados, atendendo aos requisitos de limpeza, fornecimento de ferramentas,

eliminação de interferências, materiais e equipamentos disponíveis em quantidade e tempo

adequados, condições ergonomicamente favoráveis e outros.

As condições ambientais da indústria da construção civil são desfavoráveis, o trabalho

desempenhado é penoso e tem alta exigência de esforço físico, além de os trabalhadores

estarem expostos a agentes físicos e químicos, como por exemplo ruídos, vibrações, poeira e

calor. Tais agentes provocam consequências relevantes na velhice e adoecimento dos

profissionais. Medidas mitigadoras que visam reduzir os riscos e desconforto dos operários

são difíceis de serem executadas por se tratar de um ambiente provisório e dinâmico – muda

de acordo com cada fase de execução – mas devem ser realizadas.

A indústria da construção civil é recordista em termos de acidentes de trabalho, um dado

preocupante, uma vez que, segundo dados do INSS e FETICOM-SP (2008), do total de

503980 acidentes de trabalho registrado no ano de 2006, 31529 acidentes ocorreram na

indústria da construção, configurando-se assim como um dos setores com maior índice de

ocorrência de acidentes de trabalho. Entre os principais fatores que levam a isso, destaca-se:

treinamento ineficiente, falha no manuseio de equipamentos e materiais, planejamento

inadequado, erro na execução, inabilidade em utilizar equipamentos de segurança, alta

rotatividade de operários, más condições de trabalho, entre outros.

Para garantir a segurança do trabalho deve-se dispensar atenção especial para a prevenção de

acidentes e higiene do trabalho, evitando o afastamento temporário do trabalhador e o efeito

psicológico dele sobre os outros trabalhadores. A segurança do canteiro é parte estruturante

do planejamento de uma obra e devem seguir as diretrizes estabelecidas na NR 18, em

especial com a implementação do PCMAT, salienta-se ainda que, as prescrições da NBR

12284 também são válidas.

5. Riscos ergonômicos nos principais postos de trabalho

Recorre-se primeiramente a conceituação de risco ergonômico, o qual é definido por ser

qualquer fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador,

causando desconforto ou afetando sua saúde.

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Os postos de trabalhos a serem abordados são: pedreiro, servente, armador e carpinteiro. As

tabelas (1), (2), (3) e (4) descrevem cada função e os riscos inerentes a cada uma,

respectivamente.

Tabela 1 – Riscos ergonômicos e consequências da função “pedreiro”

Fonte: Adaptado de Mesquita et al. (1997)

Tabela 2 – Riscos ergonômicos e consequências da função “servente”

Fonte: Adaptado de Mesquita et al. (1997)

Tabela 3 – Riscos ergonômicos e consequências da função “armador”

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Fonte: Adaptado de Mesquita et al. (1997)

Tabela 3 – Riscos ergonômicos e consequências da função “carpinteiro”

Fonte: Adaptado de Mesquita et al. (1997)

Constata-se então, a existência de diversos riscos ergonômicos em todos os postos de trabalho

abordados. Tornando nítida a necessidade de medidas e ações que preservem a saúde e o bem-

estar dos operários.

6. Distúrbios causados em decorrência dos riscos ergonômicos

Os riscos ergonômicos são capazes de causar diversas lesões e consequências ao trabalhador,

as mais conhecidas são as LER/DORT, que vem tomando grande espaço e incidem cada vez

mais.

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As lesões por esforços repetitivos – LER, hoje conhecidas como distúrbios osteomusculares

relacionado ao trabalho – DORT, são problemas inerentes à execução do trabalho. DORT é

conceituado pela Instrução Normativa nº 98 do INSS (Instituto Nacional de Seguridade

Social) de 2003, como sendo uma síndrome relacionada ao trabalho, caracterizada pela

ocorrência de diversos sintomas simultaneamente ou não, tais como: sensação de peso,

parestesia, dor, fadiga de aparecimento vagaroso. Pode-se ter ainda problemas neuro-

ortopédicos, como tenossinovites, sinovites, compressões de nervos periféricos e síndromes

miofaciais.

Os fatores preponderantes presentes nas atividades do trabalhador que culminam em lesões

ou sensações de desconforto, segundo descrição de Ergoweb (2005), são posturas

inadequadas, repetitividade, duração, tempo de recuperação, esforço dinâmico pesado e

vibração localizada, necessidade de aplicação de força, velocidade e aceleração do

movimento. Tais condições atreladas às características ambientais como umidade, frio, calor,

ruído e iluminação e associado ainda a fatores adicionais como estresse, organização e

pressão do trabalhador tornam as ocorrências das LER/DORT ainda maiores.

As estatísticas revelam que no Brasil desde 1986 a incidência das LER/DORT vem

aumentando, tendo o número de doenças ocupacionais passado de 5.025 em 1988 para 20.886

no ano de 2002, segundo o BEAT (2002). Há diversas explicações para tal fenômeno, um

deles é a imposição de movimentos monótonos e repetitivos decorrentes da modernização e

automação de processos produtivos em diversos setores econômicos; outro fator é o

reconhecimento do INSS de tais lesões como sendo doença profissional.

Nos canteiros de obras identificam-se também patologias tão graves e ameaçadoras quanto as

LER/DORT, trata-se das patologias da coluna. Nesse aspecto, o carregamento de materiais,

postura inadequada e trabalhos em altura são fatores relevantes nos traumas vertebrais. No

carregamento de materiais, por exemplo, tem-se, corriqueiramente, postura inadequada e

excesso de peso, uma combinação perigosa. Nos casos de trabalhos em altura o impacto em

caso de queda leva a traumatismos gravíssimos ou mesmo a morte.

Mesmo com a ocorrência e graves prejuízos, os problemas de coluna não tem lugar de

destaque nas discussões de ergonomia e segurança do trabalho nos canteiros de obra.

7. Intervenções ergonômicas

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Percebe-se então que, a relação entre ergonomia e produtividade é intrínseca e diretamente

relacionada. Se o ambiente de trabalho dispõe de condições adequadas e é ergonomicamente

favorável, certamente haverá satisfatória e produtividade.

Segundo Scheneider (1995), a intervenção ergonômica na construção civil é mais difícil e

complexa do que nas outras indústrias. Diversos fatores contribuem para tal fato: o local de

trabalho é mudado todo dia e há grande rotatividade dos trabalhadores.

A primeira medida a se tomar deve ser a prevenção através de cursos ou treinamentos,

partindo-se da avaliação de riscos de cada posto de trabalho, podendo-se assim adotar

medidas eficazes de prevenção, de acordo com a especificidade das condições de trabalho e

do trabalhador. Os treinamentos/cursos devem ser formativos e informativos, dando aos

trabalhadores a compreensão real dos riscos existentes e do papel-chave de cada um para

manter o ambiente de trabalho seguro e confortável para todos.

Outro ponto-chave é o planejamento das instalações, esse investimento em melhorias das

instalações e processos produtivos, aliado a preocupação ergonômica, gera maior

produtividade e eficiência no serviço executado, revertendo o capital investido. Além de

propiciar a melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores.

Kazarian (1989) e Kotschevar (1985) enunciam incisivamente acerca de produtividade e

ressaltam que o caminho mais favorável para alcançar a produtividade é por meio do

planejamento das áreas e postos de trabalhos, de maneira que os trabalhadores não utilizem

sua máxima capacidade de trabalho, pois caso as limitações e capacidades do trabalhador

sejam respeitadas em sua atividade, isso proporcionará um desempenho mais inteligente e

criativo.

Segundo Deliberato (2002) a abordagem ergonômica classifica-se em quatro grupos:

Ergonomia de conscientização (baseia-se na execução de treinamento, palestras, cursos

formativos e de aprimoramento); Ergonomia de correção (quando o diagnóstico baseia-se em

fadiga, falta de segurança, presença de distúrbios ou redução da produtividade); Ergonomia de

concepção (promove o estudo e a criação de um produto, máquina ou ambiente antes do

relacionamento do trabalhador com tais); Ergonomia participativa (envolve representantes da

empresa e dos funcionários presentes num órgão deliberativo, o Comitê Interno de

Ergonomia).

Dessa maneira, deve-se iniciar uma intervenção ergonômica, identificando-se os riscos

ergonômicos a qual cada posto de trabalho está exposto, podendo nessa etapa obter o auxílio e

exploração de métodos existentes, tais como Método OWAS – Ovako Working Posture

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Analysis System e o Métedo de Rula, dispondo-se ainda de softwares, inclusive livres, para

tal finalidade.

Mas, para além da identificação dos riscos ergonômicos, deve-se tecer uma análise

ergonômica do trabalho, visando avaliar as condições ambientais e de organização dos postos

de trabalho com compatibilidade com as características psicofisiológicas dos trabalhadores.

Destarte, devem ser propostas adequações e correções ergonômicas específicas para a

realidade de cada caso em análise e que atendam a todas as necessidades constatadas. E

ninguém melhor que o afetado, o trabalhador, para fazê-lo.

8. Considerações finais

A ergonomia surgiu da necessidade de se aliar o conforto e bem-estar do trabalhador com a

execução eficiente do serviço, tendo como resultado secundário o aumento da produtividade.

Não se pode então, abrir mão dessa importante ferramenta. A indústria da construção deve dar

destaque a procedimentos de melhoria contínua das condições ergonômicas de seus

trabalhadores, assim como da segurança do trabalho e demais condições de trabalho que estão

interligadas.

É de suma importância a detecção dos riscos ergonômicos a que cada posto de trabalho está

submetido. É importante que se analise individualmente cada posto, já que cada um apresenta

uma realidade distinta, o que exige intervenções e adequações ergonômicas específicas e

direcionadas. Não se pode idealizar adequações genéricas para diferentes postos de trabalho,

devem ser respeitadas as características e especificidades de cada um.

Detectados os riscos ergonômicos, deve-se partir para as intervenções, buscando sanar os

riscos encontrados e restabelecer a segurança e bem-estar do trabalhador, gerando por

conseguinte eficiência na produtividade. O trabalhador tem então parcela significativa na

responsabilidade de melhoria, devendo ser pró-ativo, detectar os riscos ergonômicos e propor

intervenções que realmente impactem positivamente na problemática identificada.

Para assegurar ao trabalhador condições adequadas de trabalho, tratar de maneira

individualizada, analisando suas condições, necessidades, capacidades e restrições,

promovendo ainda conforto e produtividade, surgiu a ergonomia. Percebe-se então que, a

relação entre ergonomia e produtividade é intrínseca e diretamente relacionada. Se o ambiente

de trabalho dispõe de condições adequadas e é ergonomicamente favorável, certamente

haverá satisfatória e produtividade.

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9. Agradecimentos

Ao CNPq, pela bolsa SWG concedida.

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