Indústria e Ambiente 67

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www.industriaeambiente.pt Energia Portugal, as renováveis e a gestão eficiente ENTREVISTA Eduardo de Oliveira Fernandes TECNOLOGIA Eco-materiais e criação de valor INVESTIGAÇÃO Eficiência energética versus poluição luminosa OPINIÃO por Nuno de Souza e Silva número 67 Março/Abril 2011 Publicação Bimestral 6.50

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Revista Indústria e Ambiente 68; © Engenho e Média Lda.

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www.industriaeambiente.pt

EnergiaPortugal, as renováveis

e a gestão eficiente

ENTREVISTA Eduardo de Oliveira FernandesTECNOLOGIA Eco-materiais e criação de valor

INVESTIGAÇÃO Eficiência energética versus poluição luminosaOPINIÃO por Nuno de Souza e Silva

número 67Março/Abril 2011Publicação Bimestral6.50 €

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EditorialRenovar (sin)energias

Entrevista | Eduardo de Oliveira Fernandes

Dossier“Energia: Portugal, as Renováveis e a Gestão Eficiente” A energia e a competitividade da Indústria Portuguesa – j. batista pereira

A gestão da oferta e da procura no Mercado Ibérico – nuno ribeiro da silva

A importância do desenvolvimento da eficiência energética e das energias renováveis no contexto do aumento da procura mundial de energia – joão nuno mendes

O Projeto Green Islands e o futuro dos sistemas sustentáveis de energia – paulo ferrão

Energias Renováveis Offshore – ana brito e melo

A energia em 2030

InvestigaçãoEficiência Energética versus Poluição Luminosa

TecnologiaEco-materiais e criação de valorSea for Life: à descoberta da tecnologia offshore no mar português

Produtos e Tecnologias

NotíciasEnergiaÁguaAlterações Climáticas e Conservação da NaturezaLegislação – Gestão e EconomiaMatérias-primasResíduosSolos

Pessoas e Empresas

Eventos

Estante | EcoCyberNews

Opinião, por Nuno de Souza e Silva

FICHA TÉCNICA

Número 67 | março/abril 2011

Diretor António Guerreiro de Brito

[email protected]

Diretora executiva Carla Santos Silva

[email protected]

Conselho editorialAlexandre Cancela d’Abreu, Ana Malheiro,

António Gonçalves Henriques, António Joyce, Carlos Alberto Alves, Carlos Borrego,

Carlos Pedro Ferreira, Isabel Rosmaninho, Luís Fonseca, Luís Rochartre, Pedro Santos e Rui Rodrigues

redaçãoJoana Correia

[email protected]

O Espaço Energia conta com a colaboração da ADENE

Publicidade Vera Oliveira

[email protected]

Comunicação Celine Borges Passos

Tel. 225 899 [email protected]

DesignJorge Brandão Pereira

assinaturas Tel. 225 899 625 | Fax 225 899 629

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redação e ediçãoEngenho e Média, Lda.

Grupo PublindústriaTel. 225 899 625 | Fax 225 899 629

Propriedade e administraçãoPUBLINDÚSTRIA, Produção de Comunicação, Lda.

Praça da Corujeira, 38 – Apartado 38254300-144 PORTO – PORTUGAL

www.publindustria.pt | [email protected]

Publicação Periódica Registo no ICS n.o 117 075

iSSN 1645-1783

Depósito legal 165 277/01

Tiragem 3000 exemplares

os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

A indústria e ambiente adotou na sua redação o novo acordo ortográfico.

A indústria e ambiente é impressa em papel proveniente de florestas com Certificação da

Gestão Florestal Responsável.

A Indústria e Ambiente é o membro português da

European Environmental Press Revista Oficial SU

RIO

DOSSIER › Investigação e m Ambiente e as Empresas: convergência ou divergência?

PRÓXIMA EDIÇÃO

ERRaTa Por lapso, não foi referido na edição nº65 da revista que a fotografia que acompanha a notícia “Microprodução de Energia vai ficar mais cara” (pág.31) é da autoria de Nuno Moreira e foi gentilmente cedida pelo próprio. Vimos prestar agora esse agradecimento.

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EDIToRIAl

Poderemos ficar sem petróleo mas, certamente, não ficaremos sem energia e nunca sem ideias. A mudança faz-se por obrigação, ou por antecipação. A obrigação apresenta-se à nossa porta na sua farda tradicional ou, em alternativa, vestida como sendo a necessidade para a sobrevivência, hoje ou no médio prazo. A antecipação é a gestão de risco, a inovação e a integração. Em qualquer caso, a mudança obriga a sair da zona de conforto. Assim, se há domínio que sabemos estar a mudar e cuja evolução irá acelerar, quer o desejemos ou não, é o da energia. A mudança que teremos de enfrentar virá da oferta de energia, diferenciando-se no tipo de recurso que é utilizado ou, ainda, na forma de a armazenar e distribuir; é o lado A. Há, ainda, a gestão da procura, ou o lado B.

o domínio da energia é exemplar em novas possibilidades. Nela coexistem diferentes escalas, interfaces, módulos e descentralidades. os custos de extração e distribuição do petróleo/gás não têm aumentado significativamente, pelo que o preço para o consumidor reflete, sobretudo, o jogo da oferta no encontro dos mercados ou a necessidade da receita fiscal. No balanço, o custo da importação de petróleo/gás vale bem como matéria-prima, mas uma substituição de importação de vetores energéticos seria mesmo muito bem-vinda. Portugal, como não beneficia de reservas de combustíveis fósseis exploráveis no seu território ou de participações externas significativas, só pode beneficiar de estratégias alternativas baseadas num catálogo tecnológico de valorização de recursos endógenos.

Precisamos de um futuro baseado em renováveis, mas não daremos os passos todos de uma só vez, seja no setor dos transportes ou na produção de eletricidade. Há muito que ambicionamos uma energia segura, limpa, facilmente disponível e economicamente acessível. Esse caminho ainda não está feito. o mundo não mudará para o hidrogénio amanhã, pois existem diversas barreiras a ultrapassar. Contudo, tudo indica que a disponibilidade de energias fósseis se irá reduzindo, gradualmente, até ao final deste século, permitindo a emersão do mundo pós-carbono baseado numa oferta energética diversificada e num modelo inteligente de procura. É verdade que a transição poderá ter momentos complexos, basta considerar a atual turbulência nos países produtores de petróleo para assumirmos uma perspetiva geopolítica da segurança do abastecimento e não apenas a leitura ambiental. Poderemos também pensar que o objetivo a longo prazo poderá ser o de mudarmos de estilo de vida, melhorar o perfil de sustentabilidade das renováveis, visar uma forte desconcentração energética e procurar uma nova ecotopia. Contudo, talvez, o melhor mesmo seja admitirmos que o mundo é complexo e que a incerteza faz parte do jogo energético: quem sabe, por exemplo, para onde nos levarão as aplicações transversais da nanotecnologia?

Investir no conhecimento e na informação, na eficiência energética e em sistemas distribuídos, assim como na diversificação das fontes de energia, significa dar resiliência a Portugal. Esse investimento encorajará a inovação e o desenvolvimento, mas também assegurará antecipação e capacidade intrínseca para responder a perturbações e pressões extremas. Fukushima não deveria ter sido necessário.

Renovar (sin)energias

António Guerreiro de Brito, Diretor

“PoRTugAl (...) Só PoDE BENEfICIAR

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TECNológICo DE vAloRIzAção DE RECuRSoS

ENDógENoS

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Participe no Prémio Nacional de Inovação Ambiental e represente Portugal no European Environmental Press Award

Conheça as inovações nomeadas no Dia da Inovação Ambiental › 3 de Junho

ORGANIZAÇÃO APOIO MECENAS

PRÉMIO NACIONAL DE INOVAÇÃO AMBIENTALPara empresas que vêem no futuro um Planeta Sustentável!

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ENTREVISTA

Entrevista conduzida por António GuErrEiro dE Brito | Jornalismo por CArlA SAntoS SilvA | Fotografia por riCArdo JorGE SilvA

EduARdo dE olIVEIRA FERNANdES

Começa por dizer, no seu jeito característico e conhecido, que os portugueses precisam de ”calor no coração”, mas também nas casas, nas empresas, na indústria. a energia sob a forma de calor é a que mais consumimos e para essa não é necessária energia elétrica e muito menos a produzida por centrais nucleares. Defende ainda que, ”instalar ar-condicionado nas habitações em Portugal, só por receita médica”.

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ENTREVISTA

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Indústria e ambiente (Ia) – Comecemos pelo seu mote ”a melhor energia é aquela que não se consome”. onde deveria ser dado o maior golpe no consumo? Por onde começar?Eduardo de oliveira Fernandes (EoF) – Embo-ra parecendo contraditório, nem sempre uma política ou estratégia para a redução do con-sumo de energia é necessariamente a melhor estratégia, isto porque energia é vida e nós queremos viver felizes. Nós precisamos de energia. Temos é que identificar melhor qual é a energia de que precisamos.Atualmente, em Portugal, energia é energia elétrica. Li recentemente uma declaração de um senhor general, que já foi Presidente da República, afirmando que nós temos proble-mas de energia e que precisamos de energia nuclear. A energia nuclear satisfaz as neces-sidades da energia elétrica, mas a energia elétrica é cerca de 20% da energia de que os portugueses precisam. Quem se ocupa dos outros 80%? Na realidade, esta maior fatia é de energia para a mobilidade e energia para produzir calor. Mais de 1/3 da energia que os portugueses consomem, nas empresas ou nas suas casas, é energia calor, na cozinha, nos banhos, no aquecimento ambiente e na indústria! A energia consumida sob a forma de calor em Portugal corresponderia à ener-gia produzida por 3 ou 4 centrais nucleares. Ninguém vai construir centrais nucleares para produzir calor a 30, 40 ou 60ºC. E se fos-se, faria um erro de palmatória só desculpável na França do General De Gaule.É preciso adotar uma abordagem de racio-nalidade à energia e usar a energia de acordo com as exigências da procura. Eu não posso ligar um televisor a um tubo de gás, mas há usos para os quais a energia do gás é tão boa ou melhor que a eletricidade. A energia do gás é boa para fazer chá e a da eletricidade, se for usada para fazer chá emite o dobro das emis-sões de CO2. Estou a falar de equivalências entre formas finais de energia e da sua rela-ção com o ambiente. Se falarmos em custos o raciocínio é menos claro porque todo o siste-ma de preços da energia em Portugal está dVeja-se o exemplo do programa de renova-ção das escolas [ver caixa]! Quem conhece o tema da energia nos edifícios só pode consi-derar isso uma aberração e envergonhar-se com esse símbolo de novo riquismo saloio.É necessário pôr ordem nisto e para tal é pre-ciso uma política energética que vá para além das “renováveis para a eletricidade” política que foi sinalizada com o Programa E4 que eu tive o privilégio de redigir e foi aprovado pelo Governo do Engenheiro António Guterres.

Ia – o objetivo do ErCE (European renewable Energy Council) é 100% de energias renová-veis, em 2050, na Europa. É alcancável ou é uma utopia?EoF – Grande parte dos problemas energéti-cos podem ser resolvidos aproveitando os re-cursos energéticos localmente e organizando os usos da energia com raionalidade energé-tico-ambiental. Pense-se nos edifícios, o se-gundo setor que mais energia primária con-some em Portugal! Para o conforto térmico de um edifício no Porto, não é preciso ir bus-car energia das ondas a Peniche, se o edifício for bem projetado. O conforto deve ser obtido com meios próprios, o que é particularmente favorecido pelo nosso clima e seus recursos naturais (radiação solar, luz natural, baixa hu-midade relativa quando as temperaturas são elevadas, etc.). Não tenho grandes dúvidas, que no fim deste século, estaremos numa inversão da proporção que hoje temos entre energias renováveis e fosséis. Há cenários que apontam para que, enquanto hoje temos 10% de renováveis e 90% de fósseis, teremos, no fim do século, 10% de fósseis e 90% de re-nováveis. Se em alguns países esta propor-ção pode ser antecipada para 2050 ou 2070, não sei, nem quero fazer esse “futurismo”. Mas a tendência será nesse sentido. Como lá chegar? Desde logo, usando os edifícios como abrigos racionais. Os alemães estão a reduzir o consumo energético nos edifícios em 80% reduzindo as necessidades de aquecimen-to para o conforto isolando a envolvente ou substituindo o consumo de energia conven-cional por um melhor aproveitamento dos recursos naturais de proximidade como seja o Sol para o aquecimento da água sanitária.Ia – o ErCE defende também uma Super rede Europeia à qual deveriam estar ligados todos os micro e macro produtores. ainda é uma das menores das nossas preocupações?EoF – Isso é diferente. As Super Redes e as Redes Inteligentes são importantes pela flexibilidade que dão à utilização da energia elétrica, porque nós devemos usar as redes numa lógica de garantia de abastecimento e, até mesmo, de solidariedade. O conceito da autossuficiência energética é algo que não deve existir no nosso tempo. A ideia de fun-cionarmos em rede, não é pela sua dimensão, mas é pelo garante de determinadas condi-ções, como a qualidade da energia e porque podem acolher uma variedade de produções. Quando foi lançado o programa eólico em 2001 - estamos a celebrar a década do eóli-co em Portugal - os responsáveis pela REN, invocaram problemas de incapacidade para

acolher a energia eólica prevista (3000 MW em 2010), nomeadamente por razões de ins-tabilidade das redes. Atualmente, temos che-gado a ter dias com produções de 70 a 80% de eletricidade de origem eólica a ser injetada na rede elétrica sem problemas aparentes. Há risco nisso, sem dúvida, mas a prova aí está da competência técnica da REN e do potencial da tecnologia para vencer os velhos do Res-telo e os agentes de resistência à mudança.Ia – Há quem fale dos potenciais custos am-bientais causados pelo arranque de centrais termoelétricas, que chegaram a parar a sua produção, pelo facto das renováveis satisfa-zerem em alguns dias o total da procura de eletricidade. o que pensa sobre isso?EoF – As centrais termoelétricas terão que se adaptar à nova realidade de produção de energia elétrica. As centrais do futuro terão provavelmente potências metade ou 25% das potências maiores que temos agora (de 1000MW passam para 500 ou 250MW). Anunciam-se nestes dias nos Estados Uni-dos as primeiras centrais nucleares (!) desta pequena dimensão para 2020. Isto para te-rem muito mais facilidade na sua operação e integração no novo paradigma energético que é feito de diversificação e descentraliza-ção de fontes deixando para trás os conceitos verticalizados dos anos 60 e 70 do tipo EDF e EDP. Não se pode de forma alguma condi-cionar a produção das eólicas de agora, pelo comportamento de termoelétricas que já têm 20 anos. Aliás, a potência das centrais a gás

“O CONFORTO DEVE SER OBTIDO COM MEIOS PRóPRIOS, O QUE É PARTICULARMENTE

FAVORECIDO PELO NOSSO CLIMA E SEUS RECURSOS NATURAIS

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ENTREVISTA

de ciclo combinado, que foram recentemente autorizadas em Portugal, é “fatiada” na or-dem dos 400 MW.Esta é mais uma razão pela qual eu acredi-to que uma central nuclear convencional não aterrará tão cedo em Portugal, porque não haverá no mercado num horizonte próximo centrais com dimensões inferiores a 1400 MW. E uma produção destas abafaria a con-corrência das renováveis por não poder fun-cionar em para-arranca.Ia – a gestão energética deverá seguir a filo-sofia do micro para o macro? Fazem sentido a microgeração e a minigeração no sentido de vender à rede para depois comprar? EoF – Nós devemos funcionar sempre em relação à rede elétrica quando microgeração significa microgeração de eletricidade. Esta tecnologia irá desenvolver-se naturalmente mas, em Portugal, enquanto temos estado a apostar na eólica, não deveríamos estar a apostar no fotovoltaíco na dimensão em que o temos estado a fazer, porque isto traz cus-tos excessivos e quem paga estas aventuras são os consumidores. Neste sentido, eu es-tou em desacordo com o programa de difusão do fotovoltaíco que está neste momento em curso em Portugal. Mas convém não esque-cer que também há microgeração de calor. E que essa pode ter uma dimensão que, em ter-mos energéticos, pode equivaler a toda a pro-dução eólica atual. Só que microgeração de calor é para consumo próprio de um edifício ou bairro ou de uma indústria, com as tecno-logias solares passivas nos edifícios (aqueci-mento ambiente pelo sol, sombreamentos no verão, luz natural, ventilação noturna, etc.), os coletores solares térmicos ou as bombas de calor ou, ainda, a biomassa florestal de pro-ximidade queimada em sistemas ambiental-mente adequados.Ia – Falando da energia nas cidades e nos transportes, considera que as cidades se vão replanear e reorganizar numa perspetiva de eficiência energética? Temos centros da cida-de com excelentes transportes, mas inabita-dos, e periferias populosas com parca opção de transportes para os centros. Como resol-ver isto? EoF – É evidente que se assistiu a uma cons-trução desordenada e os limites urbanos foram estendidos. Hoje em dia, nós temos consciência de que isso pesa muito na ener-gia, concretamente ao nível dos transportes rodoviários. É hoje consensual que temos que apostar mais no transporte coletivo e, nome-damente, no transporte ferroviário.Àquelas pessoas que defendem o nuclear,

eu chamo a atenção para o facto de o nosso maior problema energético estar ligado à im-portação dos combustíveis. Uma parte é ain-da para produzir eletricidade, mas uma gran-de parte para os transportes. E quanto aos veículos elétricos, não nos resolvem o proble-ma amanhã. Eles só terão alguma expressão quantitativa no balanço energético para além de dez, quinze anos, pelo que quando vejo toda a publicidade a ligações para os veículos elétricos, considero-as manobras de marke-ting barato e alienante, porque a tecnologia ainda não está banalizada. É bom saber que no horizonte existirão os veículos elétricos. Mas isso não nos dispensa de procurar para o imediato alternativas ao transporte indi-vidual. Já imaginámos a A5 daqui a 50 anos engarrafada com veículos elétricos?Quando falamos das cidades e transportes do futuro, temos que pensar que o futuro co-meça já hoje e tem que se construir, novo ou reabilitado, pensando no hoje e no amanhã e, quanto aos transportes é fundamental que haja decisões tomadas hoje pelas autarquias, em articulação com as políticas nacionais, no sentido de estimular o transporte coletivo, criando condições para a sua utilização e, si-multaneamente, dificultar ou onerar o trans-porte individual. Por exemplo, na área do Por-to, sabemos que o Metro tem tido um impacto extraordinário, na ordem dos dois dígitos por cento, na redução do transporte individual. Um resultado destes deveria levar uma polí-tica nacional atenta a estimular o progresso

do Metro na região do Porto, porque os resul-tados da zona de Lisboa até hoje não parece terem sido tão evidentes. Nós temos que ver porque é que a redução do transporte indivi-dual face à utilização do Metro do Porto foi, nos últimos 5 anos, maior do que na zona de Lisboa, fazer estudos comparados e tirarmos lições de um lado e do outro para promover o transporte coletivo. As medidas de incenti-vo ao uso do transporte coletivo não podem ser isoladas das medidas de desincentivo ao transporte individual. É preciso dar alterna-tivas dignas às pessoas; criar barreiras ao uso transporte individual (como por exemplo, tornar o estacionamento pago nas cidades) sempre que o transporte coletivo seja consi-derado de qualidade. Podem-se criar outros mecanismos, com o favorecimento da reani-mação dos centros das cidades. Temos cida-des vazias do ponto de vista de moradores, pelo que temos de criar condições para cha-mar as pessoas aos centros e criar mecanis-mos para que na reabilitação dos edifícios de habitação nos centros, estes não se tornem inacessíveis à população.Ia – Gostaríamos que completasse a frase: ”Se fosse eu que mandasse...” (a propósito da política energética nacional e europeia.)EoF – Acima de tudo temos que ter abor-dagens com pragmatismo, i.e. ponderar as alternativas de modo a ver quais as que po-dem responder melhor às necessidades da economia e do bem-estar das pessoas. Um programa solar térmico em Portugal sério e

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realista teria criado mais empregos do que os que foram criados com as obras das escolas. Empregos que se projetariam no futu-ro. Criámos regulamentos de certificação energética dos edifícios e agora temos de andar atrás dos certificadores e dos construto-res, uma miríade de atores sem a competência necessária e sem qualquer enquadramento profissional e deontológico. Para além dos programas de auditoria e de certificação da qualidade do ar deveríamos ter criado uma nova cultura, uma envolvência técnica de especialistas criando novos empregos e uma nova perspetiva para a energia nos edifícios. Este é um domínio que está muito burocratizado e em que não se usa a competência que levou aos regulamentos que o país tem para assegurar a boa implementa-ção dos mesmos regulamentos. A gestão dos regulamentos não é um exercício de polícia que vigia a aplicação das regras mas re-quer uma frente avançada que recrie e readapte essas mesmas regras. Veja-se a EPBD (Diretiva Europeia em que se baseia o SCE – Sistema de Certificação Energética e de Qualidade do Ar Interior dos Edifícios) que já foi revista entretanto. Os regulamentos por-tugueses também estão em revisão mas, quanto julgo saber, não com a perspetiva de futuro que se imporia.Em contrapartida, o programa eólico teve imenso sucesso – em-bora haja quem seja contra o programa eólico, porque enquanto este tiver sucesso o programa nuclear perde oportunidade. Teve-o, porque definimos um preço a pagar ao kWh que hoje em dia já está em linha com o preço do termoelétrico. Depois o mérito foi também dos interlocutores – uma meia dúzia promotores - que usaram um instrumento que todo o sistema financeiro sabe usar, o “project finance”. No fundo o projeto eólico teve sucesso por-que temos boas condições de recursos naturais e porque usamos uma elite, do ponto de vista empresarial. Agora quando chegamos às escolas ou quando chegamos ao solar térmico, os interlocu-tores são centenas de arquitetos que nunca tiveram iniciação à energia e ainda pensam que a arquitetura é só um exercício de arte e transformam o edifício num boeiro de energia. Temos mau

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ENTREVISTA

desenho de arquitetura e gostamos de dar sinais exteriores de riqueza. Tem que se re-gressar ao conceito do programa E4, um novo programa que aposte na eficiência energética e nas energias endógenas não só para a pro-dução de eletricidade.Ia – Por último, se a Europa detivesse muitos poços de petróleo andaria tão preocupada com o Co2?EoF – Podia ser que não. A Europa tem uma obrigação para com o resto do mundo, resul-tante de ter um património de sabedoria, de conhecimento e de um certo avanço tempo-ral (que, aliás, vai felizmente desaparecen-do). E embora os economistas digam que o mercado é racional, em muitas áreas e es-pecialmente na da energia, não existe tanta racionalidade quando sabemos o que são os lobbys, os cartéis, as distorções introduzidas pelos sistemas fiscais. Mediante isto, eu acho que a Europa está a fazer o seu papel e está a fazer o seu papel bem.E devemos esperar que os países que tenham petróleo o guardem para as situações em que tenha outra utilidade, como é o caso da produção de novos materiais e para o supri-mento de energia em situações de transição e, neste campo o gás natural tem um papel importantíssimo, em Portugal e na Europa: é o último dos combustíveis fósseis que tem um papel determinante nesta transição; mais limpo, mais versátil, e, porventura, abundante por muito mais tempo.

PERFIlProfessor na Faculdade de Engenharia, universidade do Porto, doutor EPFl,

Suíça (1973), 40 anos no ensino, investigação, consultoria e atividades públicas, em temas da energia e ambiente. vice-reitor da universidade do Porto (1986-

91), Secretário de Estado do Ambiente (1984-85), vice-Presidente (1991-95) e Presidente (1995-97) da international Solar Energy Society, responsável pelo

conceito Energia/Ambiente da EXPo’98 em lisboa (1993-98), Secretário de Estado da Energia (2001-02). desde 2006, Presidente da Agência de Energia

do Porto, e desde 2008 perito da CCdrn – QrEn Energia. Presidente da SPES (Sociedade Portuguesa de Energia Solar), desde 2010.

Irracionalidade energética“um exemplo chocante:o Programa de renovação das escolas é a ”mancha no Programa das renováveis” em Portugal que mostra que de facto não existe responsabilidade a nível do poder político. Foram colocados nas novas (!) escolas sistemas de ar condicionado que representaram quase 20% do valor global do programa - 3 mil milhões de euros – que, hoje, os diretores nas escolas renovadas desligam porque não têm dinheiro para a energia consumida. As escolas que foram planeadas à novo-rico, em contraciclo com todas as preocupações de natureza energética e ambiental nos países da Europa, vão ficar piores em conforto e em qualidade do ar interior, quando for desligado o ar-condicionado, do que se este não existisse, porque foram projetadas para o ar-condicionado. isto é um exemplo escandaloso, indigno, inqualificável e que mostra que de facto o discurso político em Portugal é incoerente, ignorante e inconsistente. Entretanto, às pessoas que acham que as escolas ficaram ”muito bonitas” lembraria a satisfação dos suecos quando nos anos 70 viram que a água dos seus lagos, até aí baços, começou a ficar transparente e límpida. Alegria errónea porque afinal aquele aparente benefício significava tão só uma nova poluição por chuvas ácidas com origem nas centrais térmicas do reino unido e do norte da Europa.”

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

No contexto da viva contestação que se ve-rificou como reação a estes aumentos, tem sido frequente ouvir afirmações, vindas de entidades e empresas com responsabilidade no setor energético, de que os preços da ele-tricidade, em Portugal, quer para o setor do-méstico quer para o industrial, são mais ba-ratos do que em Espanha. Estas afirmações são baseadas em estatísticas do Eurostat, mas importa corrigi-las no tocante ao setor industrial, porquanto não correspondem à realidade.Antes de tudo, é preciso verificar como são es-tabelecidas essas estatísticas:

1.º Para o setor industrial, em que já não exis-tem tarifas reguladas de venda ao cliente final na generalidade dos países europeus, a comparação dos preços finais realmente pagos é extremamente difícil, visto base-ar-se em tarifas de referência fornecidas pelos comercializadores aos reguladores desses países.

os preços que constam dos contratos, ob-viamente confidenciais, não são conhecidos.

o que aquelas estatísticas comparam não

é, por conseguinte, o preço final realmente pago pelos consumidores.

2.º Quando se apresenta um comparativo de preços, convém também definir o período a que respeitam e, portanto, se já incor-poram o forte agravamento das tarifas de acesso, em vigor desde o passado dia 1 de janeiro.

De registar que, em Espanha, o aumento das tarifas de acesso, a partir de 1 de ja-neiro deste ano, foi nulo, só se tendo verifi-cado um pequeno acréscimo no “pagos por capacidad”, que corresponde, em Portugal, à garantia de Potência, mas que, ao con-trário do nosso País, não está incluído nas tarifas de acesso.

observem-se, pois, as estatísticas Euros-tat depois de terem incorporado os au-mentos das tarifas de acesso, a partir de janeiro deste ano...

3.º As estatísticas Eurostat comparam preços por gama de consumo.

A gama mais elevada, designada por Ban-da If, compara consumos inferiores a 150

gWh/ano. ora, os grandes consumidores de energia elétrica, associados na APIgcEE, para quem a energia elétrica é o principal fator de custo, têm consumos superiores àquele valor. os grandes consumidores de energia elétrica não estão, portanto, abrangidos pelas estatísticas Eurostat.

4.º Interessa, finalmente, comparar os preços finais da eletricidade realmente pagos pe-los consumidores industriais.

De uma forma simplista, o preço final apre-senta as seguintes componentes:

PREÇO FInAL = Preço Energia + Tarifas Acesso - Remuneração Serviços Sistema

os preços da energia são cobrados pelo comercializador e são os constantes do contrato assinado. como o preço de base é o do mercado e o MIBEl (Mercado Ibérico de Eletricidade) é comum a Portugal e Es-panha, desde que se garanta uma concor-rência adequada, aqueles preços não serão muito diferentes nos dois países.

As tarifas de acesso são fixadas, em Por-

J. Batista PereiraMembro do Conselho Diretor da Solvay PortugalCoordenador do G.T. da APIGCEE – Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elétrica

A EnErgiA E A CompEtitividAdE DA INDÚSTRIA PoRTuguESA

Depois de, em julho de 2010, com o anunciado fim das tarifas reguladas do gás natural para consumos superiores a 10 000 m3/ano, a indústria portuguesa ter suportado aumentos muito significativos nas respetivas tarifas de acesso, fomos confrontados em janeiro deste ano, após a cessação das tarifas reguladas para a MAT, AT, MT (muito alta, alta e média tensão) e BTE (baixa tensão especial), com fortes aumentos dos preços da eletricidade.

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

tugal, pela ERSE e, em Espanha, pelo go-verno. As tarifas de acesso eram, efeti-vamente, mais baixas em Portugal até 31/12/2010. Mas essa situação inverteu-se com os aumentos verificados a partir de 1/01/2011. Recordemos quais foram: de 150 a 210%, na MAT; de 130% na AT; e de 80% na MT.

como referido anteriormente, em Espanha foram ZERo.

A Remuneração dos Serviços de Sistema, de forma simplista designados por inter-ruptibilidade, é francamente mais elevada em Espanha (20 €/MWh, para os atuais preços de mercado) do que em Portugal (12 €/MWh). Só esta componente do preço final é responsável por 10 a 15% do agrava-mento do preço final pago em Portugal.

E isto no pressuposto de que a empresa pode aderir ao serviço de interruptibilidade, o que nem sempre acontece, mas que em caso afirmativo também tem custos.

5.º Outro fator importante de agravamento do preço final em Portugal respeita à du-ração das horas de vazio, em que o preço da energia é mais barato.

Em Portugal, as horas de vazio são cerca de 4100 por ano, enquanto em Espanha são de 5100. Para as mesmas tarifas, o preço final resulta, por isso, mais caro em Portugal.

Em consequência dos motivos apresenta-dos, os grandes consumidores de energia elétrica, alimentados em MAT e AT, pagam em Portugal mais cerca de 20% do que em Espanha.

“É urgente garantir condições de preço da energia”como alguns dos setores industriais repre-sentados na APIgcEE estão a trabalhar, dos dois lados da fronteira, entre 20 a 30% abaixo da sua capacidade, e a energia elétrica chega a atingir 50% dos custos de produção, facilmente se compreende que, no caso português, estes setores industriais lutam pela sua sobrevi-vência.

como se trata de empresas que produzem bens essenciais, com forte impacto na ba-lança de transações correntes, tanto do lado das exportações como das importações evi-tadas, é urgente garantir condições de preço da energia, no âmbito do MIBEl, que permita idênticas condições de competitividade em Portugal e Espanha.

esperança no futurouma janela de oportunidades foi aberta pela Resolução do conselho de Ministros de 15/12/2010, que aprovou a “Iniciativa para a competitividade e Emprego”: no seu ponto 1h), prevê “rever os mecanismos de formação de preços de bens e serviços essenciais à indús-tria, nomeadamente eletricidade, tendo em vista a sua competitividade, até ao final do 1.º trimestre 2011”.

No âmbito desta revisão, deverão ser questio-nados os designados “custos de interesse ge-ral” e o respetivo critério de alocação pelos di-ferentes níveis de tensão, tendo presente que:

— As tarifas de acesso incidem, na atualida-de, sobretudo sobre as tarifas de energia, penalizando assim, principalmente, a in-dústria, que é a melhor utilizadora do ter-mo de potência.

compreende-se por isso a alteração do critério de alocação dos sobrecustos de-vidos às energias renováveis, estabele-cida pelo Dl nº. 90/2006, de 24/05, que permitiu introduzir um fator minimizador daquela situação.

contudo, mesmo assim, temos constata-do que os aumentos para a indústria têm sido todos os anos, sistematicamente, su-periores aos do setor doméstico.

— Não é compreensível nem aceitável que as receitas geradas pelo setor elétrico - con-trapartidas financeiras pagas ao Estado pelos concursos das energias renováveis (grandes barragens e fotovoltaicas e, mais recentemente, mini-hídricas) - sejam uti-lizadas para fins fora do sistema elétrico, ao passo que todos os custos estão a ser suportados pelo sistema elétrico.

Em conclusão: face à perda de competitivida-de de que alguns setores industriais já sofrem, devido ao diferencial de preço da eletricida-de entre Portugal e Espanha, é necessário o máximo cuidado nas alterações previstas à atual legislação, porquanto a sua aplicação pela ERSE não terá depois quaisquer preocu-pações de política económica - reconheçamos que não fazem parte das suas competências -, não respeitando mesmo o Dl nº. 165/2008, de 21/08, que pretende promover a estabili-dade tarifária e que teria talvez de ser melhor adaptado à situação atual.

Tenhamos esperança que o bom senso pre-valeça...

sobre a ApigCEEA Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elé-trica (APIGCEE), abrange setores-chave da indústria portuguesa – automóvel, cimenteira, siderúrgica, petroquímica, mineira e química de base.O volume de faturação das empresas associadas está acima dos 4 500 mi-lhões de Euros anuais, que corresponde a cerca de 10% do PIB industrial. A fatu-ra anual de energia elétrica é superior a 150 milhões de Euros.A APIGCEE é especialmente caracteri-zada pelo facto de a energia elétrica ser um elemento fundamental dos custos de produção para os seus associados, constituindo fator essencial para a sua competitividade.As empresas associadas, alimentadas em MAT e AT, são caracterizadas por consumos elétricos muito relevantes e que no seu conjunto representam um consumo anual superior a 3 000 GWh, que corresponde a mais de 20% de toda a indústria portuguesa e a quase 7% do consumo nacional.O peso percentual do custo de eletri-cidade no total dos respetivos custos de produção é normalmente superior a 10%, chegando nalguns casos a ultra-passar os 50%.Estando os seus produtos sujeitos a uma concorrência no mercado global, as empresas membros da APIGCEE são muito sensíveis às alterações legisla-tivas e regulamentares nos mercados elétricos.A APIGCEE inclui entre os seus associa-dos, para além de alguns dos maiores Grupos Industriais nacionais, empresas que representam uma parcela impor-tante do Investimento Direto Estran-geiro. Estas empresas e setores são decisivos na estabilização e captação futura de mais IDE para Portugal.A APIGCEE é um parceiro vocacionado para colaborar com todas as Entidades na definição da necessária otimização energética portuguesa.

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 201112

dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

enquadramento europeuÉ sabido que a união Europeia vem desenvol-vendo – sobretudo na última década – pres-são, no sentido da convergência das políticas e perfis energéticos dos Estados Membros.Essa ênfase vem sendo acentuada com a perceção da dependência e exposição à vola-tilidade dos preços no espaço da u.E. – brutal flutuação dos preços de combustíveis fósseis na primeira década do novo século, pressões e chantagens russas, instabilidade no Norte de áfrica e Médio oriente, entre outras razões.face à variedade de realidades e perfis ener-géticos – quer do lado da oferta, recursos en-dógenos, mas também do lado da procura – a que acrescem normativos, políticas fiscais e uma perceção estratégica do setor energéti-co, a homogeneização energética da Europa, a tentativa de pôr a U.E. – enquanto maior im-portador mundial de matérias-primas ener-géticas – a falar a “uma voz” face ao exterior, torna-se uma tarefa ciclópica.Por idênticas razões, às quais acrescem rea-lidades das empresas energéticas distintas, é muito moroso e difícil criar as condições para um sensível avanço na criação de um verda-

deiro mercado interno.Tenhamos ainda em conta que nos confron-tamos com problemas específicos e obstácu-los diferentes, quando abordamos - para só falar nestes – o setor dos combustíveis líqui-dos (derivados do petróleo para transportes, aquecimento e usos industriais), ou o setor do gás natural e, ainda, o setor elétrico.Tal realidade tem levado à tendência para a criação de mercados regionais, com desen-volvimentos mais ou menos profundos e vo-luntaristas, acolhendo realidades e geografias mais homogéneas, nos países nórdicos, paí-ses do Benelux e Península Ibérica.Já do lado da oferta, leia-se da promoção da eficiência energética, o objetivo traçado de melhorar o uso da energia em 20% até 2020, é uma meta transversal requerida a todos os Estados Membros por igual, se bem que o “cardápio” das medidas a privilegiar em casa País, dependa das suas especificidades.

a península ibéricaos desafios colocados a Portugal e Espanha (Mercado Ibérico) surgem de forma “natural”,

devido às relativas semelhanças de perfis energéticos, reforçado pelo facto de a Penín-sula estar praticamente a funcionar em “ilha”, dadas as limitadíssimas ligações à frança – logo, ao resto da Europa – em oleodutos, ga-sodutos e rede elétrica de transporte.Nas figuras 1 e 2 apresenta-se o perfil e estru-tura das realidades energéticas de Portugal e Espanha, com os últimos dados consolidados e tratados com a mesma metodologia pela Di-reção geral de Energia da comissão Europeia.

combustíveis líquidosNo que diz respeito aos combustíveis deriva-dos do petróleo, verifica-se uma considerável semelhança de realidades, apenas marcada por um contraste relevante na carga fiscal im-posta aos diferentes derivados do petróleo, o que se tem vindo a acentuar nos últimos dois anos, fruto das realidades das contas públicas e da situação económica dos dois países.No que respeita à fiscalidade, Portugal e Es-panha contrastam, tendo o nosso País uma das mais elevadas cargas fiscais da u.E. nesta matéria, ao contrário da Espanha que tem das

Nuno Ribeiro da SilvaEndesa Portugal

A gESTão DA ofERTA E DA PRocuRA No MERCADO IBÉRICO

Se existe um setor, um tema, em que são evidentes as vantagens, para Portugal e Espanha, em articularem esforços, esse campo é o da energia.Quer do ponto de vista da segurança do abastecimento, quer da otimização de recursos económicos e, também nos impactes ambientais – partilhar infraestruturas, aproximar regras técnicas, regulatórias, económicas, é uma questão de bom senso, no sentido da obtenção de vantagens mútuas.

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13

dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

Prepared by: European Commission, DG Energy 29/06/2010Data Sources: EC (ESTAT, ECFIN), EEA Page 1 of 4

Portugal

Portugal EU-27

Demand

Solid fuels

Oil

Gas Nuclear

Renewables

0

5

10

15

20

25

30

1995

1996

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1999

2000

2001

2002

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2008

Portugal

Gross Inland Consumption(Energy mix in Mtoe)

Solid fuels

Oil

Gas

Nuclear

Renewables

0

400

800

1200

1600

2000

1995

1996

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1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

EU-27

Gross Inland Consumption(Energy mix in Mtoe)

2008

Gas, 440.75, 25%

Renewables, 151.05, 8%

Nuclear, 241.76, 13%

Solid fuels, 306.32, 17%

Oil, 655.93, 37%

Gross Inland Consumption(Energy mix in % of total Mtoe)

EU-272008

Gas, 4.14, 17%

Renewables, 4.42, 18%

Nuclear, 0.00, 0%

Solid fuels, 2.52, 10%

Oil, 13.02, 55%

Gross Inland Consumption(Energy mix in % of total Mtoe)

Portugal

Industry

Transport

Households

Agriculture

Services, etc.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total final consumption(in Mtoe)

EU-27

Industry

Transport

Households

Agriculture

Services, etc.

0

2

4

6

8

10

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14

16

18

20

1995

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1998

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2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total final consumption(in Mtoe)

Portugal

2008

Industry, 5.56, 30%

Transport, 7.28, 40%

Services, etc., 1.96, 11%

Agriculture, 0.36, 2%

Households, 3.12, 17%

Total final consumption(in % of total Mtoe)

Portugal 2008

Services, etc., 153.50,

13%

Agriculture, 26.29, 2%

Households, 296.69, 25%

Industry, 317.89, 27%

Transport, 374.27, 33%

Total final consumption(in % of total Mtoe)

EU-27

Prepared by: European Commission, DG Energy 29/06/2010Data Sources: EC (ESTAT, ECFIN), EEA Page 1 of 4

Spain

Spain EU-27

Demand

Solid fuels

Oil

Gas Nuclear

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0

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Spain

Gross Inland Consumption(Energy mix in Mtoe)

Solid fuels

Oil

Gas

Nuclear

Renewables

0

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2001

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2004

2005

2006

2007

2008

EU-27

Gross Inland Consumption(Energy mix in Mtoe)

2008

Gas, 440.75, 25%

Renewables, 151.05, 8%

Nuclear, 241.76, 13%

Solid fuels, 306.32, 17%

Oil, 655.93, 37%

Gross Inland Consumption(Energy mix in % of total Mtoe)

EU-272008

Gas, 34.91, 24%

Renewables, 10.95, 8%

Nuclear, 15.21, 11%

Solid fuels, 13.89, 10%

Oil, 67.86, 47%

Gross Inland Consumption(Energy mix in % of total Mtoe)

Spain

Industry

Transport

Households

Agriculture

Services, etc.

0

200

400

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1000

1200

1400

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1999

2000

2001

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2006

2007

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Total final consumption(in Mtoe)

EU-27

Industry

Transport

Households

Agriculture

Services, etc.

0

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1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total final consumption(in Mtoe)

Spain

2008

Industry, 26.77, 28%

Transport, 40.19, 42%

Services, etc., 10.03, 11% Agriculture,

2.72, 3% Households,

15.70, 16%

Total final consumption(in % of total Mtoe)

Spain 2008

Services, etc., 153.50,

13%

Agriculture, 26.29, 2%

Households, 296.69, 25%

Industry, 317.89, 27%

Transport, 374.27, 33%

Total final consumption(in % of total Mtoe)

EU-27

FiGura 1 Perfil e estrutura da realidade energética de Portugal (Market Observatory for Energy).

FiGura 2 Perfil e estrutura da realidade energética de Espanha (Market Observatory for Energy).

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 201114

dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

converGÊncia tecnolÓGica

— Desde 2007, os agentes Ibéricos oferecem a um único mercado grossista.— A interligação é gerida pelo próprio mercado e a diferença dos preços tende a ser zero.— Em 2010 produziu-se 1836 horas em mercado splitting (21% do total). o spread médio foi

de 0,32 € / MWh.

mais baixas.A operadora “nacional” tem ganho presença em Espanha e as empresas espanholas em Portugal, aproveitando a ocasião da maior parte das empresas petrolíferas europeias e norte-americanas terem abandonado o mer-cado ibérico – Exxon Mobil, Shell, BP em Es-panha.Digamos que é um segmento que tem feito o seu trabalho…

eletricidade: o mibelo subsetor elétrico tem sido o que mais tem ocupado os governos dos dois estados ibéri-cos na tomada de decisões políticas, com vista à criação de um mercado elétrico comum.Muito foi feito, bastante está por fazer…face às “limitações de espaço”, tento resumir os aspetos práticos do esforço realizado e de importantes tópicos que estão por resolver.o mercado elétrico ibérico é quase uma reali-dade, enquanto mercado grossista:

maior interliGaÇÃo— A capacidade atual é de 1800 MW no

verão e 1900 MW no inverno.— A capacidade de interligação atingirá

os 3.000 MW em 2015 (~30% da procu-ra portuguesa ~21% atualmente)

+converGÊncia tecnolÓGica— o mix de produção está cada vez mais

perto do espanhol:- crescimento ER em ambos os países- Desaparecimento de gás combustível- Entrada de novos ccgTs

A diferença relevante entre o ”cabaz” nacional e o espanhol, está no maior peso do hídrico no nosso país, compensado pelo nuclear em Espanha.

Apesar da evolução positiva espelhada no mapa anterior, é preocupante o facto de, em situações críticas de oferta-procura, o mercado “fechar” (“market-splitting”), deixando de haver lugar à “for-mação de preço ibérico”, o que ocorreu em 21% do ano.

Apesar do progresso evidente desde o seu arranque em julho de 2007, permanece muito por fazer para que o MIBEl seja uma realidade consequente:

— Subsiste uma enorme assimetria regulatória entre Portugal e Espanha, com múltiplos requisitos técnicos díspares, nomeadamente ao nível da gestão da oferta (e.g. incentivos à instalação e manutenção de potência convencional) e da gestão da procura (e.g. oferta de incentivos à interruptibilidade)

— Temas fulcrais para a instalação da concorrência nos dois mercados mantêm-se por re-gular (e.g. Adoção do conceito de operador Dominante proposto pelo conselho de Regu-ladores em 2007; Abolição das Tarifa reguladas ao cliente final)

— A assimetria regulatória introduz graves distorções na sinalização de investimento às empresas

— Nomeadamente, a não eliminação das Tarifas ao Cliente Final em Portugal mantém uma incerteza nos agentes de mercado que os inibe de tomar posições comerciais de longo prazo, algo com reflexo óbvio na estratégia de cada empresa relativamente ao mercado grossista

— As medidas de apoio à concorrência que continuam por regular são uma ameaça latente ao mercado liberalizado de comercialização de eletricidade, nomeadamente em Portugal, uma vez recuperada a conjuntura económica europeia e mundial (retoma da procura e subida da energia primária)

Prod

uçõe

s 20

10 (G

Wh)

Portugal Espanha

48,661 273,310

CCGT

Carvão

Nuclear

Hidráulica

RE

evolução spread espanha-portugal

<

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15

dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

Dois comentários finais relativamente a as-petos estruturais a ter em atenção, com vista a um adequado desenvolvimento e funciona-mento do MIBEl:

— o primeiro decorre da chamada produção em regime especial (centrais renováveis e de pequenas cogerações), que atinge já cer-ca de um terço do total da geração elétrica na Península. Pelo “peso” que já adquiriu, com tendência para aumentar, decorrem várias “ondas de choque” no equilíbrio do MIBEl, que não podem deixar de ser tidas em conta.

— o segundo tem a ver com a evolução do oMIP e do oMEl, no sentido da institucio-nalização de um operador único, processo que tem vindo a conhecer vicissitudes, fru-to de dificuldades de coordenação entre as autoridades dos dois países e do contexto agitado vivido pelas principais empresas do setor.

Gás natural: o mibGasTrata-se de um desígnio muito menos “traba-lhado” pelos responsáveis de Portugal e Espa-nha e que está muito mais atrasado do que o processo relativo aos mercados dos combus-tíveis e eletricidade.Portugal e Espanha deverão tratar, em próxi-ma cimeira ibérica, de estabelecer um mapa de trabalho com vista à convergência de nor-mas e atuações.O facto de o setor em Espanha ser muito mais desenvolvido e maduro do que em Portugal, que apenas iniciou o seu processo de intro-dução do gás natural em finais da década de

oitenta, não facilita o processo de caminhar para o mercado.Também a realidade de as empresas portuguesas e espanholas estarem “atadas” à compra, em regime de “take or pay” aos seus fornecedores, para a esmagadora maioria do gás de que neces-sitam, introduz enorme rigidez na harmonização de normativos.contudo, trata-se de um domínio onde muitos benefícios podem ser colhidos por ambos os paí-ses com uma colaboração mais ativa e estreita.Para além da otimização de infraestruturas, com evidentes vantagens para o consumidor final, a crítica segurança no abastecimento tem muito a ganhar com a articulação entre os terminais de gNl espanhóis e o importante terminal de Sines, assim como no uso crescente da capacidade de armazenamento subterrâneo nas formações de sal que Portugal dispõe em abundância.

Assim, subsistem importantes barreiras ao mercado do gás natural, situação particularmente grave por Sines ser ainda uma porta com algumas limitações para novos operadores e o gaso-duto internacional que nos liga a Espanha, ser penalizado por dupla tarifa, a pagar ao sistema espanhol e português.Tais limitações administrativas e económicas limitam o uso das infraestruturas existentes.De referir ainda que, sendo o gás natural responsável pela produção de cerca de 1/4 da eletricida-de na Península, o não funcionamento do mercado para o gás, afeta e limita o próprio MIBEl, ou seja, o bom desempenho do mercado elétrico.

PuB.

Dados comparativos sistemas espanhol e português Ano 2009

Espanha Portugal Mibgás % Por./Esp.

Procura (GWh) 401,855 52,968 454,823 13,2%

Produção Elétrica (gWh) 160,793 23,499 184,292 14,6%

convencional (gWh) 241,062 29,469 270,531 12,2%

Oferta (GWh) 412,239 53,657 465,896 13,0%

gNl (gWh) 305,664 30,242 335,906 9,9%

gN (gWh) 106,575 23,415 129,990 22,0%

Armazenamento Subt. (GWh) 24,000 21,500 45,500 89,6%

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

A ProcurA MundiAl de energiAo grande crescimento económico registado nos designados países emergentes e o cres-cimento populacional no planeta, represen-tam uma pressão muito significativa sobre os recursos energéticos, em particular sobre o petróleo e o gás natural, o que se reflete no crescimento dos preços da energia. vejamos a este propósito algumas tendências globais:

— o aumento da dimensão do sistema de transportes mundial, demonstrado pelas vendas de veículos automóveis ligeiros de passageiros no continente Asiático, que deverão atingir as 52 milhões de unidades no ano de 2025, multiplicando por três o valor registado em 2005, e ultrapassando nesse ano a Europa e a América do Norte no seu conjunto;

— No domínio da eletrificação, a existência de cerca de 1,5 mil milhões de pessoas no planeta sem acesso a eletricidade, per-mite sustentar a previsão de um inves-timento substancial nesta área ao longo das próximas décadas..

Neste contexto, o desenvolvimento tecnológi-co na área da eficiência energética e no apro-veitamento das energias renováveis revelar- -se-á decisivo.

A iMPortânciA dA eficiênciA energéticA A Agência Internacional de Energia conside-ra que o pleno desenvolvimento da eficiência energética nos diferentes setores de ativida-de, num contexto de políticas ativas nesta matéria, permitiria reduzir em mais de me-tade o volume de emissões de co2 que seria necessário anular para garantir um combate eficaz às alterações climáticas. A concreti-zação da eficiência energética depende do desenvolvimento tecnológico, do apoio regu-lamentar, da mudança de comportamentos, e da melhoria da gestão energética, devendo abranger o setor dos transportes, o setor elé-trico e naturalmente as vertentes de aqueci-mento e arrefecimento.

o desenvolviMento do AProveitAMento dAs energiAs renováveis no setor elétrico e no setor dos trAnsPortesA crescente importância da componente re-novável de geração elétrica, sustentou o apa-recimento de novas indústrias globais nos segmentos “Eólico” e “Solar” com padrões de produtividade cada vez mais competitivos.

João Nuno MendesEconomista

A IMPoRTâNcIA Do desenvolvimento da eficiência energética e das energias renováveis No coNTExTo Do AuMENTo DA PRocuRA MuNDIAl DE ENERgIA

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

Tratam-se de áreas muito dinâmicas em ter-mos de desenvolvimento, veja-se a título de exemplo, a iniciativa SunShot recentemente apresentada pelo governo Americano que visa a redução do custo de investimento de uma central solar de 4uSD/Wp para 1uSD/Wp no período até 2020, o que a concretizar-se representará uma mudança verdadeiramente extraordinária. Na união Europeia, o objetivo de médio e longo prazo é o de assegurar a pro-gressiva “descarbonização” do setor elétrico, que prevê também a realização de projetos de “ccS – carbon capture and Storage”.

Por seu turno, no setor dos transportes, a produção de biocombustíveis representará no ano de 2020 uma percentagem de incorpora-ção de 10%, existindo importantes projetos de investigação e desenvolvimento em curso na área dos biocombustíveis de segunda geração e nos processos tecnológicos conhecidos por “Biomass-to-liquid”. Este desenvolvimento científico e tecnológico poderá sustentar per-centagens de incorporação significativamente superiores nas décadas seguintes.

o desenvolviMento tecnológico no setor dos trAnsPortes

A união Europeia assumiu objetivos muito ambicioso de emissões de co2 de 95 g/km para o ano de 2020 no que respeita aos veí-culos ligeiros de passageiros vendidos, que compara com um valor de 140g/km no ano de 2009.

Neste contexto, assistir-se-á no setor auto-móvel a um grande dinamismo comercial de apresentação de novas soluções tecnológicas ao longo dos próximos anos, nomeadamente de: veículos híbridos (que combinam o motor convencional de combustão interna e o mo-tor elétrico), veículos elétricos com bateria, veículos híbridos com “plug-in” (ou seja, que

PuB.

acrescentam à fórmula híbrida, a possibili-dade de carregamento da bateria através da ligação à rede elétrica), veículos elétricos a pilha de combustível (que utilizam o hidrogé-nio); antecipando-se um aumento substancial da eficiência energética nos próprios motores convencionais. Constata-se inclusivamente uma aproxima-ção entre as empresas do setor petrolífero, do setor automóvel, do setor dos gases in-dustriais e ainda do setor elétrico para refletir sobre o futuro da mobilidade e as suas impli-cações energéticas e em termos de sustenta-bilidade.

A exigênciA nuM Período de MudAnçA AcelerAdA vivemos assim um período de profundas transformações económicas no mundo com implicações em termos estruturais sobre o modelo energético e sobre o patamar do custo energia, impondo grandes desafios para estas décadas, aos Estados, às Empresas e aos ci-dadãos.

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

Sendo o consumo de energia um dos fatores de desenvolvimento com impactes ambien-tais mais elevados, é necessário conceber um novo paradigma de sistemas de energia, no qual, a energia seja crescentemente obtida por fontes renováveis e o seu consumo seja efetuado da forma mais eficiente possível. Esta mudança de paradigma não é trivial. ve-ja-se o caso da penetração, em grande escala, das energias renováveis na geração de eletri-cidade, em que a todo instante é necessário equilibrar a produção com o consumo. A difi-culdade reside no facto de muitas das fontes de energias renováveis, como o vento, serem variáveis e intermitentes, pelo que a geração de eletricidade que lhes está associada não só não é constante como não coincide com os períodos em que é realmente necessá-ria. Esse desfasamento entre a produção e a procura torna o processo de gestão da qua-lidade e fiabilidade da rede de energia muito mais complexo, pelo que a implementação de sistemas de energia sustentáveis apresenta muitos desafios de ordem técnica, económica e social ainda hoje por resolver.Do ponto de vista tecnológico, este desafio

tem implicações, em primeiro lugar, na utili-zação de equipamento que usem energias renováveis, como as turbinas eólicas, os pai-néis solares térmicos e fotovoltaicos ou ainda equipamentos mais complexos para o apro-veitamento da energia geotérmica ou das ondas. Ao nível da distribuição de eletricidade, para permitir que cada um de nós possa ser “produtor” de energia, o sistema tem de ga-nhar inteligência, permitindo a bidireccionali-dade, o controlo mais fino da rede e a gestão em tempo real de novas tarifas que possibi-litem modificar comportamentos, adequando os consumos à disponibilidade de energia. fi-nalmente, ao nível do utilizador, serão neces-sários equipamentos dotados de inteligência que percebam os nossos hábitos e, mais uma vez, nos ajudem a consumir a energia de for-ma mais eficiente e mais ajustada às disponi-bilidades de energias renováveis.Estes desafios não são, assim, meramente tecnológicos, pois exigem uma apropriação do desenvolvimento tecnológico pelas pessoas. Para tal, devem ser testados e apresenta-dos sem termos do seu benefício para a so-ciedade. Neste contexto, é importante que as

novas tecnologias sejam demonstradas num ambiente propício.Para um sistema energético sustentável, não há melhor demonstração do que numa ilha, que é por definição um sistema com frontei-ras bem definidas que simula a uma escala mais pequena mas fidedigna o que se pas-sa na Terra. As solicitações que têm de ser respondidas pelo sistema energético, num ambiente tão exigente e onde não há pos-sibilidade de trocas com sistemas vizinhos, permitirão desenvolver soluções que poderão facilmente ser aplicáveis noutros contextos menos rigorosos.Esta é uma das razões pela qual a região au-tónoma dos Açores apresenta condições ex-cecionais para ser um verdadeiro laboratório vivo de sistemas sustentáveis de energia, mas não é a única. Por um lado, a diversidade de recursos endógenos no arquipélago permi-te que em cada ilha sejam testadas diferentes soluções. Por outro lado, a larga experiência e competência demonstrada pela EDA na ges-tão de recursos renováveis é um capital de conhecimento imprescindível para a geração de soluções inovadoras. Todos estes ingre-

Paulo Ferrão IST/UTL Programa MIT-Portugal

o Projeto Green islands E o fuTuRo DoS SISTEMAS SuSTENTávEIS DE ENERgIA

O mundo enfrenta hoje o desafio de conceber e implementar um novo modelo de desenvolvimento económico que compatibilize o crescimento económico com a preservação do meio ambiente.

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

dientes, aliados à visão e vontade política de-monstrada pelo governo regional em tornar a região num exemplo internacional de sus-tentabilidade energética, permitem fazer dos Açores um modelo de como serão os sistemas sustentáveis de energia do futuro. É este o objetivo do Projeto “green Islands”, que está a ser desenvolvido no âmbito do Programa MIT Portugal, uma parceria internacional de ciên-cia e tecnologia que envolve universidades e empresas portuguesas e o MIT – Massachu-setts Institute of Technology –, nos EuA.A demonstração e integração de novas tec-nologias e a sua aplicação num ambiente real, em permanente interação com as pes-soas, está a atrair empresas a testarem as suas soluções na região, o que permitirá o investimento direto nos Açores. A geração de conhecimento na região poderá servir de motor de desenvolvimento económico – em particular, a universidade dos Açores já está hoje no terreno, em colaboração com as uni-versidades do continente e o MIT, a trabalhar em áreas tão distintas como a caracteriza-ção dos recursos renováveis da região (solar, eólico, marés, biomassa, hídrica, geotérmica

e resíduos), dos padrões de mobilidade, dos edifícios e da indústria, a monitorização dos consumos energéticos, a análise económica da introdução da mobilidade elétrica ou efici-ência energética na indústria e ainda a análise do impacto social que todas estas mudanças podem trazer ao povo dos Açores.

o sistema enerGético atualo atual sistema de energia do arquipélago dos Açores é composto por nove sistemas de energia autónomos e isolados (um por ilha), com poucas perspetivas de intercone-xão devido à grande profundidade do mar e à dispersão geográfica das ilhas. o sistema energético depende em grande medida dos combustíveis importados, expondo a região às flutuações do mercado do petróleo. Nes-te momento, 40% da energia primária é usa-da para produção de eletricidade, 47% para o transporte e 6% na indústria.No entanto, existe um potencial significativo para a expansão das energias renováveis nos Açores, o qual tem vindo a ser demonstrado nos últimos anos. Atualmente, para todo o

arquipélago, o sistema energético conta com as energias renováveis para o fornecimento de 28% da eletricidade, principalmente a par-tir de energia geotérmica (22%) e, com menor peso, de energia hidroelétrica (4%) e eólica (2%). A situação é diferente de ilha para ilha: a ilha das flores tem 54% da sua eletricidade produ-zida por energias renováveis (hidroelétrica e vento), e teve já por várias vezes, durante os anos de 2008 e 2009, períodos de muitas ho-ras seguidas com produção elétrica de origem 100% renovável. A maior ilha, São Miguel, tem 47% da produção de eletricidade por energias renováveis, devido à geotérmica [29].o governo dos Açores definiu uma ambiciosa estratégia energética – que pretende que 50% da produção de eletricidade seja de origem renovável em 2013 e 75% em 2018 –, a qual serviu de motivação para a implementação do projeto green Islands. Esta estratégia in-clui vários investimentos em centrais geotér-micas e instalações de energia de biomassa nas maiores ilhas, São Miguel e Terceira, e vá-rios parques eólicos e estações hidroelétricas nas ilhas mais pequenas. Este objetivo pode ainda ser expresso na vontade de aumentar

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

a penetração de energias renováveis em ter-mos de energia primária em até 40%.

a estratéGia adotada no Projeto Gre-en islandso projeto green Islands está organizado em três fases. A fase inicial, designada de “ce-nários de futuro”, consistiu na compilação e atualização da informação relativamente à geração e ao consumo de energia nas dife-rentes ilhas da região. Esta etapa incluiu a ca-racterização avançada, realizada por alunos de doutoramento, dos recursos endógenos, e a conceção de cenários que contemplam op-ções tecnológicas e políticas futuras. foram utilizados modelos de planeamento energé-tico como o “TIMES”, que permitiram obter estimativas de custos e tendências de evo-lução de impactes ambientais. Estes cenários permitiram iniciar o diálogo com os parceiros locais e preparar as análises mais detalhadas que se seguiram.A reação a estes “cenários de futuro” possi-bilitou iniciar uma fase de planeamento ener-gético pormenorizado, denominada “cenários Detalhados”. Nesta segunda fase, apenas os cenários mais realistas foram considera-dos para as análises técnicas, económicas e sociais detalhadas que se seguiram e que permitiram delinear a terceira fase, de imple-mentação de “Projetos Piloto de Demonstra-ção”, que se inicia em 2011.Esta última fase consiste em implementar um conjunto de projetos que permitirão tes-tar o desempenho tecnológico e económico de uma série de opções que, no caso de ava-liações positivas, serão implementadas em toda a escala. Também nesta etapa, serão implementadas uma série de recomendações relativamente a políticas, incentivos e regu-lamentos que encorajarão o setor privado a investir na implementação destes projetos. De facto, as atividades do projeto têm coberto todas as ilhas ao nível da investigação, cons-

tituindo um conjunto de informações valiosa para as empresas e para os investidores. A ilha do Corvo, dada a sua dimensão, pode tornar-se na primeira demonstração de esca-la global de um sistema energético susten-tável. o primeiro passo será o de substituir a utilização de gás, através da instalação de painéis solares térmicos com apoio elétrico e da eletrificação dos fogões. Isto irá requerer a introdução de energia eólica com sistemas de armazenamento, mas também a imple-mentação de sistemas de gestão da procura, por exemplo associados à gestão automática dos sistemas de apoio elétrico dos coletores

foNTE: www.gREEN-ISlANDS-AzoRES.uAc.PT

solares em função da previsão do tempo, da simultaneidade da utilização e das necessida-des demonstradas por cada família.Para que isto seja realidade, as equipas uni-versitárias já fizeram um levantamento da caracterização do consumo energético do-méstico, desenvolveram modelos do sistema energético global e estão a estudar parcerias empresariais a nível internacional, a EDA já se encontra a conceber sistemas de armazena-mento e de gestão da rede elétrica e a Direção Regional de Energia está a analisar sistemas de apoio para realizar estas transformações, tudo isto acompanhado de perto pelo muni-cípio. É esta integração de esforços que dá força ao projeto green Islands.o projeto green Islands, com o apoio do Pro-grama MIT Portugal, tem assim a ambição de se tornar num laboratório vivo que de-monstre ao mundo que é possível a popula-ção de uma ilha caber na dimensão dos seus recursos e viver melhor. Ao fazê-lo, os Aço-rianos estão a dar a si, a Portugal e às suas empresas uma janela de oportunidade para a exportação dos seus produtos e soluções, os quais contribuem para que a Terra – a nossa ilha global – seja mais sustentável.

foNTE: www.gREEN-ISlANDS-AzoRES.uAc.PT

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dossier EnErgia: Portugal, as rEnovávEis E a gEstão EficiEntE

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Estes recursos (incluindo o eólico em grandes profundidades) não são ainda explorados co-mercialmente. apenas o aproveitamento da energia das marés com recurso a barragens é uma tecnologia matura (o exemplo mais co-nhecido é a barragem de la rance em frança de 240 MW). É necessário um esforço a longo prazo para suportar os custos iniciais do desenvolvimen-to da tecnologia e possibilitar uma trajetória semelhante à que se tem observado noutras renováveis, nas últimas décadas.os parques eólicos offshore têm sido desen-volvidos no Mar do norte (em profundidades até aos 30 m), transpondo uma tecnologia comprovada em terra para o mar. Esta abor-dagem é no entanto limitada a baixas profun-didades. o aumento da profundidade inviabi-liza a instalação de turbinas com torres fixas no fundo devido ao agravamento de custos. no entanto, a perspetiva de utilizar platafor-mas flutuantes abre caminho à inovação no aproveitamento da energia eólica em gran-des profundidades em países, como Portugal, que têm plataformas continentais com maior declive. isto traduz-se numa oportunidade de

intervir no avanço tecnológico nesta área e na entrada de novos atores de mercado, tal como na energia das ondas.

A er offshore no mundoHá já vários países europeus que se estão posicionando na corrida tecnológica para as energias renováveis offshore, como o reino unido, Dinamarca, noruega, irlanda, frança, Espanha, e também a nível internacional (Es-tados unidos, canadá, Japão, china, coreia).Entre os países com uma melhor estraté-gia na área das renováveis offshore e metas ambiciosas está o reino unido com apoios financeiros criados especialmente para in-vestigação e desenvolvimento das renováveis offshore (só no ano de 2010 os níveis de in-vestimento público em energia das ondas e correntes ascenderam a 50 milhões de euros, repartidos por vários fundos); uma rede uni-versitária montada para a investigação fun-damental em energias marinhas (supergen Marine); os programas de apoio à inovação pela instituição carbon trust financiada pelo governo britânico, Marine Energy accelerator

e Wind offshore acellerator, em termos de novos conceitos, novos componentes e novas estratégias de instalação, operação e manu-tenção; a criação de uma zona infraestrutu-rada de demonstração de protótipos no mar, o European Marine Energy centre (EMEc), na Escócia, e recentemente a concretização do projeto WaveHub, na cornualha, para apoio aos primeiros parques pré-comerciais. Estas duas infraestruturas complementadas com a de testes à escala reduzida, o new and re-newable Energy centre (narEc), têm merecido contínuos apoios governamentais; a criação em 2007 de um novo instituto, Energy tech-nologies institute (Eti), uma parceria público-privada entre o governo e seis das maiores organisações industriais (BP, caterpillar, EDf Energy, E.on, rolls-royce e shell), que na área das energias renováveis offshore tem lançado programas para acelerar o desenvolvimen-to no reino unido; um roadmap tecnológico para as energias marinhas lançado em 2008 pelo uK Energy research centre (uKErc) identificando e prioritizando as atividades de desenvolvimento da tecnologia, críticas para acelerar o crescimento do setor de energias

Ana Brito e Melo Wave Energy Centre - Centro de Energia das Ondas

EnErgias rEnovávEis offshore

O oceano é um ambiente rico em recursos energéticos renováveis que podem ser explorados de várias formas, tais como a energia das ondas, das correntes, das marés, a energia associada às diferenças de temperatura entre a superfície e o fundo, ao gradiente salino, energia das fontes hidrotermais submarinas, da biomassa marinha e ainda a energia eólica offshore acima da superfície do oceano.

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dossier EnErgia: Portugal, as rEnovávEis E a gEstão EficiEntE

marinhas, atualizado em 2010 em colabora-ção com o Eti; um Plano nacional de ação das Energias Marinhas apresentado pelo governo Britânico em março de 2010, que irá alimen-tar as políticas futuras, tendo-se já iniciado a preparação de um Programa de Energias Ma-rinhas para atender às prioridades do setor e impulsionar a indústria. segundo previsões do carbon trust, as energias marinhas podem atingir em 2020, no reino unido, entre 1-2 gW de capacidade instalada e 2100 postos de tra-balho. no eólico offshore, a recente aprovação de concessões de nove zonas costeiras para desenvolvimento de projetos de parques eóli-cos offshore, até 2020, poderá gerar cerca de 32 gW.

em PortugAl, temos os meios PArA desenvolver um setor nAcionAl em energiA dAs ondAs? Portugal, uma nação marítima, de pequena dimensão terrestre mas com um mar imenso sob a sua jurisdição, tem recursos energéticos no oceano por explorar. na verdade, Portugal está entre os países com maior vastidão de águas jurisdicionais. além disso tem compe-tências nacionais (universidades, instituições do estado, empresas) para ajudar a desen-volver o setor de energia marinha. tem uma rede elétrica na proximidade da costa, boas infraestrutras portuárias e navais e um clima favorável a operações offshore.Em 2008, o governo implementou uma zona piloto para energia das ondas com potencial para receber 250 MW de capacidade instalada,

com vista a contribuir para o desenvolvimento desta tecnologia, uma potência que aliás em 2010 fixou como meta para 2020, no Plano nacional de ação para Energias renováveis (PnaEr) submetido à comissão Europeia. Em 2010, o contrato de concessão para a zona pi-loto foi aprovado, e entregue a uma empresa (EnonDas) constituída pela rede Elétrica na-cional. Está em preparação a regulamentação e caracterização da zona piloto.um dos principais fatores condicionantes na fase inicial de desenvolvimento da tecnologia é o custo do cabo elétrico submarino para li-gação à rede na fase de demonstração. as-sim, uma zona infraestruturada, com ligação à rede elétrica é um atrativo para os tecnólogos. trata-se de uma iniciativa que tem vindo a ser adotada em diversos países Europeus. outro atrativo é a existência de uma tarifa subsidia-da que existe em Portugal para a energia das ondas e ainda não para o eólico offshore.Em Portugal já se produz energia a partir das ondas do mar com uma central costeira cons-truída na ilha do Pico, nos açores, um projeto comunitário de i&D liderado pelo instituto su-perior técnico, na década de 90, marcado por grandes dificuldades e que só nestes ultimos anos deu os seus frutos. na verdade, a central do Pico é um exemplo de um projeto que se concretizou pela perseverança de quem nunca desistiu dele. no ano de 2010, a central repor-tou 45 MWh de produção.Há, neste momento, uma grande experiência de projeto, manutenção e operação em con-dições reais que se intensificou nos últimos 5 anos desde que a central do Pico foi recupera-

da com apoio do programa DEMtEc e iniciou o seu funcionamento de uma forma regular. Esta experiência pode ser transposta para qualquer outro tipo de projetos no offshore. até aqui tem faltado o enquadramento apro-priado para valorizar esta central, já que ela é mantida e operada pelo Wave Energy centre (WavEc), uma associação sem fins lucrativos, que dispõe de um orçamento muito limitado. Durante o ano de 2010 foi possível integrar a central numa rede Europeia de infraestrutu-ras de testes de tecnologias de energia das ondas, o projeto MarinEt já aprovado pela cE em que o WavEc participa, e que tem como objetivo global proporcionar plataformas para teste de componentes e procedimentos aos investigadores da rede.

o que é necessário para arrancar com as energias renováveis offshore em Portugal? É necessária uma forte vontade política, um empenho sério da indústria (grandes empresas do setor energético) em assumir riscos e custos elevados na aposta em tecnologias emergentes, um grande envolvimento dos principais intervenientes na investigação, desenvolvimento e demonstração tecnológica, e a aceitação pelos outros utilizadores do espaço marinho.

BArreirAs e desAfios

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23

dossier EnErgia: Portugal, as rEnovávEis E a gEstão EficiEntE

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PuB.

o desenvolvimento de tecnologias de energia marinha segue um percurso por etapas. nas fases iniciais valida-se o conceito utilizando as ferramentas adequadas de simulação nu-mérica e experimental em tanque de ondas. as fases seguintes centram-se na demons-tração da viabilidade técnica e ecnonómica, com modelos à escala testados em zonas mais calmas até à instalação do protótipo em condições reais de operação. uma abordagem cautelosa não deve ser considerada como um avanço lento, a evidência tem mostrado que os seguidores de um programa de desenvol-vimento bem estruturado podem mais facil-mente responder a problemas inesperados. “queimar” etapas do desenvolvimento de uma tecnologia pode, inevitavelmente, cau-sar maiores atrasos e prejuízos nas etapas finais. isto porque o oceano não é o local para investigar opções que devem ser testadas e verificadas previamente em ambientes mais controlados.Há obstáculos tecnológicos a vencer relacio-nados com a conceção estrutural, mecânica e elétrica para enfrentar as ondas extremas

e o ambiente salino, o dimensionamento de sistemas de ancoragens sujeitos a problemas de fadiga, a necessidade de simplificação dos procedimentos de instalação e manutenção no mar, o desenvolvimento de procedimen-tos de controlo para otimização da produção. tudo isto requer uma investigação aprofun-dada, avançando com confiança em etapas, numa prespectiva de redução de custos a lon-go prazo.além dos obstáculos tecnológicos, há ou-tro tipo de barreiras a ultrapassar de ordem social, ambiental, regulamentar e financei-ra. a implementação de energias renováveis offshore devem ser aceites pelas populações e os seus benefícios económicos, tanto a nível local, como regional e nacional devem chegar ao conhecimento público; a regulamentação deve ser clara e transparente, assentando no príncipio da equidade; o investimento ne-cessário é elevado e arriscado, e é essencial-mente em inovação energética, que se traduz na capacidade de gerar riqueza nacional. se-gundo a renewableuK (ex-British Wind Ener-gy association), a Dinamarca, um país que

na década de 90 contou com níveis de apoio governamental da ordem de 1 bilião de euros para arrancar com o setor eólico, é hoje líder mundial com mais de 50% do mercado de tur-binas e cerca de 20.000 postos de trabalho nesta área.no quadro da exploração racional dos oce-anos e desenvolvimento sustentável deve ser implementada uma gestão integrada, tendo em conta as preocupações de todos os utilizadores do mar. vários países Euro-peus têm progredido na evolução do orde-namento e gestão eficiente do uso múltiplo do espaço maritimo, principalmente no Mar do norte onde mais cedo surgiram reinvindi-cações do espaço marítimo. Portugal iniciou em 2009 a preparação do PoEM – Plano de ordenamento do Espaço Marítimo que for-nece uma estrutura de gestão e compatibili-dades entre usos tradicionais, zonas de sen-sibilidade ambiental e novos usos como as renováveis offshore. o desafio está lançado, e Portugal pode posicionar-se na vanguar-da da inovação tecnológica das renováveis offshore.

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

No ano de 2009, na união Europeia, consu-miu-se 1,074 Mtep, sendo que 11% proveio de fontes de energia renovável. o aquecimento, a eletricidade e os transportes são os gran-des consumidores de energia da uE. o aque-cimento é o responsável por quase metade da energia consumida (48%), seguido pelo setor dos transportes (32%) e, por último, eletricida-de (20%). No que toca à produção, a Europa-27 produziu 3042 TWh de energia em 2009. Do

total produzido, as renováveis constituem uma fatia de 20%, número que tem vindo a crescer rapidamente desde 2005. Analisando as estatísticas fornecidas pela European Renewable Energy council (EREc), pode-se concluir que a energia total consumi-da, tal como a energia produzida, tem vindo a diminuir entre 2005 e 2009 mas, em ambas as situações, as energias renováveis estão a ga-nhar terreno às energias fósseis.

“o setor das energias renováveis não está apenas a contribuir significativamente para um sistema de fornecimento de energia mais sustentável e a melhorar a segurança desse mesmo sistema, mas está também a fabri-car equipamento, exportar tecnologia e a criar valor”, afirma a EREc na sua publicação RE-thinking 2050.

PrinciPais energias renováveis na euroPa Atualmente as principais fontes de energia renovável na união Europeia são a bionergia, representando mais de metade do total de produção de renováveis (53,6%), seguida da energia hidroelétrica (26,4%), da termo-solar (6,9%) e eólica (6,3%).A estratégia europeia para 2020 de reduzir as emissões de co2 em 20% , melhorar a eficiên-cia energética em 20% e ter 20% do seu con-sumo energético de fontes renováveis “obriga” a Europa a apostar fortemente em questões de energia. Em Portugal todos acreditam que estas metas podem ser atingidas e até ultra-passadas, especialmente no que toca às re-

A ENERgIA em 2030

A aposta nas energias renováveis na Europa e, em particular, em Portugal tem sido uma constante nos últimos anos. Este setor desenvolveu-se exponencialmente em menos de dez anos, sendo a energia renovável utilizada de forma significativa para e eletricidade, aquecimento e arrefecimento, transportes, entre outros. Tendo presente que as próximas apostas europeias serão as energias renováveis e a eficiência energética, neste número a IA faz uma análise das atuais fontes de energia renovável e traça um possível cenário para 2030, em Portugal e na Europa.

Total de energia Final Consumida na Ue-27 (mtep) (foNTE: EREc)

1400

1200

1000

800

600

400

200

0

Mtep

2005 2006 2007 2008 2009*

8.6% 8.8% 9.7% 10.3% 11%

Energia final consumidaTaxa de Energias Renováveis

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

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nováveis. “Sim, são atingíveis e mesmo ultrapassáveis, o que porá a economia portuguesa em me-lhores condições para fazer face à escalada previsível dos preços dos combustíveis, me-lhorando o balanço da nossa balança de paga-mentos”, defende António Sá da costa da As-sociação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN). Posição igualmente veiculada pelo Ministério da Economia, da Inovação e do De-senvolvimento, que em declarações à IA, refe-re que “a questão que pode colocar-se é como serão atingidas (as metas 20/20/20), mais pela tecnologia A ou pela tecnologia B, mais biocombustíveis ou mais mobilidade elétrica mas existem condições para a sua execução.”Mas qual será o cenário no futuro, por exem-plo, em 2030? Será que as energias renováveis com mais sucesso atualmente continuarão em expansão no futuro?Segundo as previsões do EREc no estudo “RE-thinking 2050”, o cenário em 2020 e em 2030 será um pouco diferente do atual. A Bionener-gia continuará a liderar as energias renováveis no total de energia consumida, estando pre-visto atingir uma produção de 176 Mtep em 2020 e 226Mtep em 2030, obtendo um cresci-mento de 22% de uma década para a outra.“No futuro, mais de dois terços da contribuição da bioenergia para o consumo de energia final na Europa poderia ser no setor do aquecimento”.contudo, assistir-se-á a um salto na produção de energia eólica, que ficará em segundo lugar no top das energias renováveis, ultrapassan-do a energia hidroelétrica, esperando-se um aumento de produção de mais de 40% de 2020 para 2030, sendo que as projeções chegam a valores de produção de energia de 41 e 72

Mtep respetivamente. A eólica pode contribuir ainda mais para a pro-dução de energia na Europa, mas será neces-sária a criação de um sistema de energia elé-trica ampliado e atualizado, com interligações entre países da uE e ligado a parques eólicos offshore, o que poderá instituir uma maior concorrência no mercado da eletricidade, le-vando a que atinja o seu máximo potencial.A energia solar térmica será outra energia verde que vai ter sucesso nos próximos anos, sendo expectável que atinja um crescimento de 83% de 2020 para 2030, contribuindo com 70 Mtep na energia final consumida da Euro-pa. Hoje ainda tem um papel tímido na ener-gia produzida sobretudo devido às diferentes políticas nacionais aplicadas neste setor e às dificuldades pelas quais a indústria está a passar. No entanto, isto é suscetível de ser compensado pelo efeito da aplicação da Dire-tiva fER (2009/28/cE) sobre as políticas na-cionais e, também, porque os incentivos para as energias renováveis para o aquecimento já

estão na agenda de vários países europeus.De destacar, também, o crescimento pre-visto de 68% para a energia fotovoltaica de 2020 para 2030, representando 10% da con-tribuição das renováveis para a energia final consumida em 2030. Este tipo de energia é considerado como umas das próximas fon-tes de alimentação elétrica mais importan-tes, especialmente nas projeções para 2050. o estudo “SET 2020” (www.setfor2020.eu) realizado pela EPIA (Europeanismo fotovol-taico Industre Associativo) e pela AT Sarney, afirma que, desde que algumas condições limites sejam estabelecidas, a energia foto-voltaica poderia suprir até 12% das neces-sidades de eletricidade na Europa em 2020, representando 390 gW de capacidade ins-talada e 460 TWh de geração de eletricidade.

investimentos, emPrego e benefícios ambientais Previstos É provável que em 2030, se atinja um total de

RE-thinking 33

Figure 14 Contribution of Renewable Energy to Final Energy Consumption by Sector (Mtoe)

RES-E 10 %

RES-H&C 12 %

Biofuels 3 %

2020

RES-E 18 %

RES-H&C 21 %

Biofuels 4 %

2030

Non-RES 75 %

Non-RES 57 %

RES-E 41 %

Biofuels 10 %

2050

Non-RES 4 %

RES-H&C 45 %

Source: EREc

Figure 13 Contribution of Renewable Energy Technologies to Final Energy Consumption (Mtoe)

0

200

400

600

800

1,000

1,200

1,400

20302020

■  Non RES

■  Ocean

■  CSP

■  Solar Thermal

■  Geothermal

■  Bioenergy

■  PV

■  Hydro

■  Wind

Source: EREc

The  largest  increase  towards  2050  both  in  terms 

projected  for  renewable  electricity,  in  particular  for pure  power  options  such  as wind  and  pV  (Table  10). 

demand  increases  from 10%  in 2020  to 18%  in 2030 Figure 14).

As  a  sector,  heating  and  cooling  remains  the  largest 

heating  and  cooling  market  comprising  residential and  industrial  biomass  as  well  as  solar  thermal  and geothermal  applications,  is  predicted  to  take  off  fast. 

Together,  they  hold  a  share  of  about  21%  and  45% 

respectively (Figure 14).

in terms of growth rate, renewable energy in the transport 

in  the  post-2020  years  when  advanced  conversion technologies such as lignocellulosic bioethanol are ready 

seen in Figure 14 the share of renewable transport fuels 

by 2020 to 4% by 2030.  in 2050 their share  is  likely to account for 10%.

Previsão contribuição das Renováveis para a energia final consumida (mtep) (foNTE: EREc)

RE-thinking 33

Figure 14 Contribution of Renewable Energy to Final Energy Consumption by Sector (Mtoe)

c

Figure 13 Contribution of Renewable Energy Technologies to Final Energy Consumption (Mtoe)

0

200

400

600

800

1,000

1,200

1,400

20302020 2050

■  Non RES

■  Ocean

■  CSP

■  Solar Thermal

■  Geothermal

■  Bioenergy

■  PV

■  Hydro

■  Wind

Source: EREc

The  largest  increase  towards  2050  both  in  terms 

projected  for  renewable  electricity,  in  particular  for pure  power  options  such  as wind  and  pV  (Table  10). 

demand  increases  from 10%  in 2020  to 18%  in 2030 Figure 14).

As  a  sector,  heating  and  cooling  remains  the  largest 

heating  and  cooling  market  comprising  residential and  industrial  biomass  as  well  as  solar  thermal  and geothermal  applications,  is  predicted  to  take  off  fast. 

Together,  they  hold  a  share  of  about  21%  and  45% 

respectively (Figure 14).

in terms of growth rate, renewable energy in the transport 

in  the  post-2020  years  when  advanced  conversion technologies such as lignocellulosic bioethanol are ready 

seen in Figure 14 the share of renewable transport fuels 

by 2020 to 4% by 2030.  in 2050 their share  is  likely to account for 10%.

Previsão da contribuição das Renováveis para a energia final consumida por sector (mtep) (foNTE: EREc)

Energia não renovável

Mar

Energia Solar concentrada

Termo-solar

geotermal

Bioenergia

fotovoltaica

Hídrica

Eólica

75%57%

10% 18%

3%

12%

2020 2030

Energia Não Renovável

Energias Renováveis – Electricidade

Energias Renováveis – Aquecimento e Arrefecimento

Biocombustíveis

Page 28: Indústria e Ambiente 67

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 201126

dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

1,620 biliões de euros em investimentos em energias renováveis. claro que os investimen-tos não terão todos o mesmo foco nem ao mesmo tempo, decorrerão ao longo dos anos. Neste panorama de investimento futuro, as energias renováveis para a produção de ele-tricidade arrecadarão 55% do total de investi-mentos, o aquecimento e arrefecimento 42% e, em último lugar, está o setor dos transportes onde os investimento previstos serão apenas 3% do total. cenário que é contraditório com os dados atuais, onde os consumos crescem no sentido contrário, primeiro no aquecimento e arrefecimento, depois nos transportes e por último na eletricidade.com o incremento das energias renováveis, há custos que serão evitados e os benefícios ambientais poderão ter impacto, tais como, a redução de emissões de co2. os responsáveis do EREc acreditam que em 2030, as emissões de co2 vão ficar abaixo dos 2000 Mt, o que re-presenta uma diminuição de 50% face aos ní-veis de emissões registados em 1990. Se há mais investimento, certamente, haverá mais produção industrial de tecnologias para as energias renováveis o que gerará, também, emprego. No ano de 2030, espera-se que a in-dústria das energias verdes empregue cerca de 4.4 milhões de pessoas na uE, o que face a 2009 constitui uma subida de 30%.

“a base da Produção renovável nacio-nal está fundamentalmente assente na combinação da energia hídrica e da energia eólica”As energias renováveis, sobretudo na produ-ção de eletricidade, são uma das prioridades do atual governo português. Além de se ter

comprometido com os objetivos em matéria de energia 20/20/20 até 2020 da uE, Portu-gal aprovou, em 2010, a Estratégia Nacional para a Energia (ENE2020) que compreende metas mais ambiciosas do que as europeias. o governo português assumiu para 2020 uma meta de consumo de energia final de 31% a partir de fontes renováveis e uma meta de 60% da produção de eletricidade também a partir de fontes de energia renovável. No final de março de 2010, Portugal tinha 9 229 MW de capacidade instalada para produção de energia elétrica a partir de fontes de energia renováveis.A energia hídrica (grande hídrica e pequena) é a mais importante fonte de energia limpa al-ternativa à fóssil, representando em março de 2010, 4.821MW, 52% do total energia renová-vel produzida. A energia eólica tem sido uma grande aposta nacional e os resultados estão à vista, sendo que, em 2010 obteve um volume de 3.725 MW, distribuída por 204 parques, com um total de 1956 aerogeradores ao longo de todo o território. “A base da produção renová-vel nacional está fundamentalmente assente na combinação da energia hídrica e da energia eólica”, refere o Ministério da Economia e da Inovação no site oficial.António Sá da costa, Presidente da Direção da APREN, faz um balanço positivo da atuação de Portugal no que toca às renováveis, sobretu-do, por “ se ter conseguido que cerca de 1/4 da eletricidade consumida em Portugal provenha dos produtores independentes de eletricidade renovável, valor que sobe para 53% se incluir-mos as grandes centrais hidroelétricas (que também são renováveis) ou o valor norma-lizado para eliminar a distorção introduzida pelo facto de 2010 ter sido um ano muito hú-

mido, e nesse caso passa-se para 45.6%, que é muito superior ao imposto pela uE que era de 39%.” o representante da APREN relembra, também, as poupanças conseguidas em im-portações que “em 2010 excedeu largamente os 520 M€ e mais de 110 M€ em poupanças em licenças de emissão.”

futuro das renováveis em PortugalNão tendo previsões específicas para o setor das energias renováveis em Portugal para o ano de 2030, os próximos passos estão inti-mamente ligados às metas que se pretendem atingir dez anos antes. Na energia hídrica, pretende-se reforçar a capacidade das atu-ais barragens e executar o Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH), sendo que a potência instalada hí-drica deverá passar dos atuais 4800 MW para 8600 MW em 2020. “Também nas mini-hídri-cas o governo lançou em 2010 uma tranche dos total de 250 MW que iria colocar a concur-so até ao final do ano”, diz o MEID.Relativamente à energia eólica, o governo pre-vê que até 2020, se possa atingir uma potên-cia instalada de 8500 MW. Na próxima década a aposta forte será a energia solar, estando traçado um objetivo de 1.500 MW de potên-cia instalada em 2020. faz também parte dos planos nacionais a micro-geração e mini-ge-ração, biomassa e energia das ondas. Segun-do o MEID, “o lançamento de novos concursos terá de ter em conta a evolução da procura de eletricidade e só deverá ser lançado após a conclusão dos projetos já licenciados.” o Mi-nistério assegura que dentro de pouco tem-po avançará, também, o Windfloat, que é um projeto de demonstração de produção eólica

RE-thinking 43

nothing is simple, not least changing our energy system. As the social impact is a core element of moving towards a fully sustainable energy system, strong collaboration between the  renewable energy  industry and governments as well as local authorities and civil society is needed. Acceptance by society at  large and public support are of the utmost importance. in the 2007 Special Eurobarometer on energy technologies EU citizens were asked about their attitudes towards different energy sources. The survey clearly states that EU citizens are most  in  favour of  renewable energy sources, while  the use of  fossil  and  in particular nuclear energy is opposed by many.20 

c ertainly, it would be a mistake to assume that as a natural result of the heightened interest in climate change issues public  support  for  renewable  energy  can  be  taken  for granted. public acceptance always has to be thoroughly addressed  if  energy  policies  are  to  be  implemented successfully.

odeployment of renewable energy technologies is the effect on employment. Renewable energy has a crucial role to 

play for a sustainable 21st century economy through job creation. The renewed l isbon Strategy, the c ommission c ommunication  “Europe  2020”,  clearly  states  that  the objectives  of  innovation,  sustainable  competitiveness and high-employment are strongly  interrelated and  that meeting the EU´s binding 20% renewable energy target plays  a  crucial  role  in  this  regard.21  From  a  societal perspective,  the  renewable  energy  industry  offers  a variety of high-quality jobs in very different technologies, 

motivated workforce.

by  the  end  of  2009,  the  renewable  energy  industry employed over 550,000 people  in  the European Union. c onsidering that the pathway set out in RE-thinking 2050 is  followed,  the  renewable  energy  sector will  employ  a total of more than 2.7 million people in 2020 and about 4.4 million in 2030 in the EU. This constitutes an average annual  increase of gross employment of 36% and 30% respectively compared to 2009. by 2050, employment in the renewable energy sector  is expected to exceed the mark of six million, bringing 6.1 million people into work (Figure 25). 

Figure 25 Gross Employment in the Renewable Energy Sector (2020-2030-2050)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

20302020 2050

■  Ocean

■  CSP

■  Solar Thermal

■  Geothermal

■  Bioenergy

■  PV

■  Hydro

■  Wind

Empl

oyee

s (m

illion

)

Source: EREc

20  80% support  the use of solar energy, 71% wind energy, 65% hydropower, 60% ocean energy and 55% biomass energy, while  for  instance 37% express  their opposition to nuclear energy. See: European c ommission (Special Eurobarometer): Energy Technologies – Knowledge, Perception, Measures. 2007. page 27.

21  European c ommission (co M(2010)2020): Communication from the Commission. Europe 2020. 2010.

Mar

Energia Solar concentrada

Termo-solar

geotermal

Bioenergia

fotovoltaica

Hídrica

Eólica

Previsão de emprego no setor das energias Renováveis (2020 – 2030 – 2050) (foNTE: EREc)

Empr

egos

(milh

ões)

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dossier ENERgIA: PoRTugAl, AS RENovávEIS E A gESTão EfIcIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

em plataforma flutuante. “Nas ondas a REN constituiu a empresa Enondas para a explo-ração da zona-piloto de S. Pedro de Moel que permitirá a instalação e o desenvolvimento de tecnologias nesta área”, dizem os responsá-veis governamentais.Num sentido mais lato da energia, António gomes Martins da iniciativa Energia para a Sustentabilidade da universidade de coimbra, acredita que as próximas apostas neste setor devem ser na “reconversão de processos de fabrico, reabilitação de edifícios com aumen-to do potencial bioclimático, construção de edifícios novos com proibição do não uso do máximo potencial bioclimático de cada local, reconversão tecnológica dos transportes para reduzir drasticamente a dependência da eco-nomia relativamente aos combustíveis fós-seis, forte penalização de desperdício energé-tico.” Isto é, apostar fortemente na eficiência energética.o professor da universidade de coimbra, con-sidera provável a utilização de hidrogénio, energia nuclear, nanoenergia no futuro, em Portugal. “A energia nuclear, aliás, já a usamos em Portugal todos os dias, devido à interliga-ção das redes elétricas da península ibérica. Quanto à nanoenergia, julgo que depende so-bretudo da velocidade com que a investigação

evoluir. com uma aplicação aparentemente dirigida sobretudo às TIc, não há motivo para não proliferar. Quanto ao hidrogénio, como ainda não há conclusões seguras sobre o custo global do ciclo que envolve a produção, armazenamento, transporte e utilização, que depende por sua vez dos eventuais avanços tecnológicos que embarateçam estas diver-sas fases, e difícil ter uma perspetiva que não seja baseada numa profissão de fé, o que seria muito pouco científico...”, explica.

adaPtação a novos estilos de vidaApesar das medidas políticas, os incentivos monetários e os avisos europeus, a verdade é que é também necessária a contribuição de todos os cidadãos para se atingirem as metas desejadas, tanto na incorporação de fontes de energia renovável como para a eficiência energética. Tudo passa por uma alteração de comportamentos face à energia, face ao am-biente em geral. Segundo António Sá da costa, o facto de “não serem implementadas medidas apropriadas para eficiência energética e uso racional da energia” e “não ser cobrado o verdadeiro custo da eletricidade” são dois problemas que exis-tem atualmente no setor e que têm muito a

ver com o consumidor.António gomes Martins afirma que é preciso estar atento à forma como se usa a energia. “com a progressiva escassez do conteúdo dos armazéns de energia fóssil, nessa época as pessoas viverão muito mais preocupadas do que hoje com o uso que farão da energia. No dia a dia das empresas haverá um controlo muito apertado, automático sempre que pu-der sê-lo, do uso da energia; no dia a dia dos cidadãos haverá para a energia uma atitude semelhante à que já hoje se regista em boa medida relativamente à reciclagem de mate-riais e resíduos. A escola terá um papel muito importante nesta transformação (demasia-do lenta) de mentalidades. Nas deslocações de pessoas o uso de veículos individuais terá diminuído de expressão e no transporte de mercadorias haverá alguma diminuição das trocas comerciais de longa distância”o Ministério da Economia, da Inovação e De-senvolvimento, apesar de não considerar o “aumento do consumo algo intrinsecamente mau” porque está intimimamente ligado ao o aumento do crescimento económico, avisa que é “ importante conseguir evitar os desper-dícios e as ineficiências na utilização da ener-gia para podermos produzir a mesma riqueza gastando menos energia.”

Que previsão faz para o setor da energia em Portugal no ano de 2030?antónio sá da costa, presidente da direção da aPren”No setor elétrico é possível que a eletricidade renovável exceda uma penetração de 80%.”

antónio gomes martins, da energia para a sustentabilidade da universidade de coimbra ”Parece-me inevitável desenvolver o leque de opções de oferta que hoje se conhecem, com menos recurso a energia primária fóssil, que perderá muito terreno, com cisão nuclear, com renováveis em cambiantes - solar térmico e solar fotovoltaico, eólico on- e off-shore, hidroeletricidade, biocombustíveis -, eventualmente com hidrogénio.”

ministério da economia, da inovação e do desenvolvimento ”Apesar da dificuldade de fazer previsões a esta distância, Portugal chegará a 2030 com um setor energético menos dependente do exterior. A partir de 2020 terão sido superados os custos de transição do modelo energético e a maturidade das tecnologias renováveis permitirá a sua penetração de uma forma mais intensa. As expectativas sobre a evolução do veículo elétrico na próxima década são elevadas pelo que, a concretizarem-se, a sua penetração em 2030 será seguramente muito importante. Também é expectável que surjam desenvolvimentos fortes dos biocombustíveis de 2ª geração que permitam uma produção mais sustentável.

1%

69%

4%

19%

7%

União Europeia

1%

71%

4%

13%

11%

Portugal

Solar

Biomassa e resíduos

Geotérmica

Hídrica

Eólica

Distribuição por setor de energias renováveis (produção primária em tep) (foNTE: EuRoSTAT 2008)

união Europeia

Portugal

1%

71%

4%

13%

11%

Portugal

Solar

Biomassa e resíduos

Geotérmica

Hídrica

Eólica

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 201128

Eficiência EnErgética vERSuS PoluIção luMINoSA

A Iluminação, enquanto parte importante do ambiente urbano, desempenha um papel preponderante na visão holística de uma cidade. No entanto, quando os sistemas de iluminação pública são mal concebidos, inadequados ou ineficientes, provocam uma luz excessiva ou intrusiva que se denomina de poluição luminosa. Esta tem consequências, não apenas na biodiversidade, astronomia e saúde pública, mas também ao nível do desperdício energético e desempenho ambiental. Esta investigação teve como principal objetivo analisar os níveis de iluminância associados à iluminação pública, verificando se a mesma é eficiente e relacionar esta eficiência com a existência de poluição luminosa. Para a realização deste, procedeu-se à recolha de valores de iluminância nos sistemas de iluminação pública das freguesias de Santa Clara (Coimbra) e Gafanha da Nazaré (Ílhavo). A amostra foi constituída por 320 postes de iluminação. Os dados recolhidos foram posteriormente tratados com recurso ao software Roadpollution versão Beta 1.6.1 e ao software estatístico SPSS versão 17.0. A interpretação dos testes estatísticos foi realizada com base no nível de significância de α=0,05, com intervalo de confiança de 95%. Os resultados obtidos apontam para a existência de sistemas de iluminação pública ineficientes do ponto de vista energético, económico e ambiental. Esta ineficiência reflete-se, ao nível das freguesias em estudo, num desperdício de cerca de 40% da iluminação pública, a que corresponde, anualmente, um desperdício energético de 70175 kWh e uma emissão de 259 ton de CO2, que poderia ser evitada.

Palavras-chave: Iluminação pública, eficiência energética, poluição luminosa.

Andreia Cravo1, Nelson Leite e Sá2, João Almeida3, João Paulo Figueiredo4, Ana Ferreira5

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra1 Licenciada em Saúde Ambiental, [email protected] Orientador de Investigação, Departamento de Saúde Ambiental, [email protected] Co-Orientador de Investigação, Departamento de Saúde Ambiental, [email protected] Orientador de Investigação, Departamento das Ciências Complementares, [email protected] Coordenadora de investigação em Saúde Ambiental, [email protected]

INvESTIgAção

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29

INvESTIgAção

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

1. intrODUÇÃOA iluminação sempre foi uma ferramenta efi-caz para promover uma cidade. É, sem dúvida, a iluminação pública que define o ambiente noturno onde as pessoas vivem, trabalham ou passeiam, assumindo-se como elemento es-sencial à qualidade de vida nos centros urba-nos, atuando como instrumento de cidadania e permitindo aos habitantes desfrutar, plena-mente, do espaço público no período noturno.[1] Pode então dizer-se, que a iluminação públi-ca não é apenas uma obrigação funcional que proporciona proteção e segurança aos peões, condutores e moradores, mas é também um contributo para a criação de uma identidade e imagem.[2]

Quando estes dispositivos de iluminação são mal concebidos, mal localizados ou mal sele-cionados transformam o céu noturno num intenso clarão luminoso.[3] Este facto pode traduzir-se numa anarquia no ambiente vi-sual, tanto de dia como de noite, e levar a um desperdício energético e a um transtorno grave para os ciclos naturais e biológicos.[2;4]

Neste contexto, surge um novo conceito de poluição, ou seja, poluição luminosa, entendi-da como o excesso de luz ou luz artificial in-trusiva causada por inadequados projetos de iluminação. Esta é responsável pelo aumento das emissões de dióxido de carbono e, conse-quentemente, do aquecimento global, aliado ao desperdício de energia. Nos últimos anos, a poluição luminosa tem sido encarada como um dos novos problemas ambientais globais.[3;5]

A par das consequências já referidas produz, ainda, impacte negativo sobre a biodiversida-de e saúde humana. Ao nível da biodiversida-de, mamíferos, aves, anfíbios, insetos, peixes, entre outros, são afetados pela poluição lumi-nosa, sendo esta responsável pela interrupção da alimentação, reprodução, migração e sono dos mesmos.[5;6] Já no que se refere ao impacte da poluição luminosa na saúde humana, vá-rias pesquisas demonstraram, por exemplo, a relação da supressão de melatonina pela ex-posição à luz durante a noite com o aumento das taxas de cancro da mama e do cólon e os efeitos negativos sobre o ritmo circadiano.[7]

É preciso encontrar um ponto de equilíbrio que permita obter, por um lado, os níveis de iluminação necessários e, por outro, o máximo de economia, nunca esquecendo o ambiente e saúde humana como fator preponderante.[1]

2. MatEriaL E MétODOSo estudo desenvolveu-se entre 2009 e 2010, sendo o período de recolha de dados nos me-

ses de maio a junho de 2010. o estudo aplicado foi de nível II, do tipo descritivo-correlacional e de natureza transversal. A amostra do presente estudo foi 320 postes dos sistemas de iluminação das freguesias de Santa Clara (Coimbra) e gafanha da Nazaré (Ílhavo). A conceção do desenho amostral ficou estabelecida, quanto ao tipo, como não probabilística e, quanto à técnica, por se-leção racional ou por tipicidade. A recolha de dados foi efetuada através de medições de iluminância de vinte em vinte metros, no eixo das vias e a um metro de altura em relação ao chão das freguesias em estudo. Nos períodos de medição foram tidos em conta a ausência de sombras nos locais de medição, o distanciamen-to de 50cm em relação a qualquer obstáculo presente nas vias, o período de estabilização das lâmpadas após serem colocadas em funcionamento, as fases da lua e a semelhança da forma dos difusores dos postes de iluminação. os valores apresentados tiveram por base um período de funcionamento dos postes de iluminação correspondente a 10 horas, uma potência média das lâmpadas de 150W e ainda dados do Despacho n.º 27650/2009 e da Comissão para a Sustenta-bilidade Energética local.Para proceder à recolha de dados utilizou-se o luxímetro. Para analisar o impacte ambiental em termos de poluição luminosa produzida recorreu-se ao software Roadpollution, e para tratamen-to estatístico dos dados, recorreu-se software SPSS.Para a avaliação dos pressupostos quanto ao tipo de estatísticas a aplicar (paramétrica ou não paramétrica) às variáveis em estudo, recorreu-se ao teste estatístico Skewness, bem como ao erro-padrão associado. o valor do achatamento da variável foi observado com recurso ao teste estatístico Kurtosis associado ao erro-padrão. A leitura dos dois coeficientes foi interpretada entre os valores padrão -2 e +2. No que diz respeito à distribuição normal, utilizou-se o teste estatístico Kolmogorov-Smirnov (com o fator de correção de lilliefor), onde a mesma é conside-rada normal para um α=0,05. utilizaram-se ainda estatísticas descritivas simples: medidas de localização (média e mediana) e de dispersão (variância e desvio-padrão).os locais analisados foram divididos por tipos de vias, para melhor tratamento dos dados: ave-nidas/ponte, ruas e rotundas. Em cada tipo de via foram efetuados vários grupos de medições.

3. rESULtaDOSApós a aplicação dos instrumentos de recolha de dados pré-definidos, comparou-se os valores médios obtidos com o valor de referência da norma BS EN 13201 e obtiveram-se os resultados descritos no quadro 1.

QUaDrO 1 Cumprimento dos valores de iluminância medida com os valores de referência

Pode constatar-se, a presença de diferenças médias de iluminância (lux) face aos valores de re-ferência por tipo de via avaliado. os locais ruas e avenidas/ponte revelaram valores analíticos superiores ao recomendado pela norma BS EN 13201. Porém, os locais definidos por rotundas revelaram valores médios de iluminância inferiores aos 30 lux considerados adequados para es-tes mesmos espaços. Quando se compararam os níveis de iluminância medida, iluminância des-perdiçada, desperdício energético, desperdício económico e emissões de Co2 evitáveis, por dia e poste de iluminação, entre as duas freguesias em estudo, obteve-se o quadro 2.Não se verificaram diferenças médias de iluminância medida, iluminância desperdiçada, bem como desperdício energético e económico e emissões de Co2 evitáveis, por poste de iluminação, entre as freguesias em estudo (p-value>0,05).Perante a análise do quadro 2, foi possível verificar que a freguesia com valores de iluminância medida mais elevados, fora a freguesia da gafanha da Nazaré face à freguesia de Santa Clara. No entanto, é esta que apresenta maior nível de iluminância desperdiçada, sendo este desperdício cerca de 41,97% da iluminância medida face aos 38,13% de desperdício na freguesia da gafanha da Nazaré.

Iluminância medida (lux) Tipo de via N x S

Valor de referência (lux) p-value

Ruas 5 29,78 5,24 15 0,003 Avenidas/Ponte 10 31,65 5,71 20 0,000

Rotundas 3 13,57 6,07 30 0,043 Total 18 28,12 8,58

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 201130

INvESTIgAção

QUaDrO 2 Descrição da iluminância medida e desperdiçada, desperdício energético e económico e emissões de CO2 evitáveis.

Quanto ao desperdício energético e económico por poste de iluminação, verificou-se, mais uma vez, que foi a freguesia de Santa Clara que apresentou um maior desperdício (0,0629 kWh e 0,062€, respetivamente) face à freguesia da gafanha da Nazaré. É ainda possível constatar, no que toca às emissões de Co2 que podem ser evitadas (por poste de iluminação), que são emitidos mais 0,212 kg de Co2 na freguesia de Santa Clara do que na fre-guesia da gafanha da Nazaré.o quadro 3 pretende descrever os fatores energético, económico e ambiental, associados à ilumi-nação pública das freguesias estudadas.

QUaDrO 3 Análise dos fatores energético, económico e ambiental por janela temporal e por poste de iluminação.

Pode-se observar que, anualmente, são desperdiçados 219,30 kWh (por poste de iluminação). Este valor corresponde a um desperdício de 40,05% da energia necessária para manter os níveis de iluminância encontrados, a que corresponde um custo económico de 21,49€. Quando analisa-das as emissões de Co2, verificou-se que, do total emitido, poderia ser evitada a emissão anual (por poste de iluminação) de mais de 800 kg.

objetivando o estabelecimento de correlações entre diversas variáveis como a iluminância medida, a iluminância desperdiçada, a largura da via, a distância entre luminárias, o concelho e a categoria das vias, obtiveram-se os gráfi-cos 1 e 2.Constataram-se, com base no gráfico 1, dife-rentes correlações estatisticamente significa-tivas entre a iluminância desperdiçada e a lar-gura da via (p-value<0,01), quer no global, quer por freguesia. Esta correlação, para além de ser muito elevada (r≥0,9), é negativa, ou seja, a uma menor largura da via correspondeu um maior desperdício de iluminância.No gráfico 2, verificaram-se diferentes corre-lações estatisticamente significativas entre a iluminância desperdiçada e a largura da via (p-value<0,01), quer no global, quer por tipo de via. Esta correlação é muito elevada (r≥0,9) e negativa.

4. cOncLUSÃOverificou-se neste estudo que, cerca de 83% das vias analisadas se encontra de acordo com os valores de referência presentes na norma BS EN 13201, encontrando-se em mé-dia 10 a 15 lux acima dos mesmos. De salien-tar que apenas os locais rotundas possuem valores de iluminância inferiores aos valores de referência, encontrando-se, em média, va-lores de 16,43 lux abaixo dos 30 lux recomen-dados.Para além do tipo de via rotundas não cum-prir com os 30 lux de referência, é também o que mais iluminância desperdiça (44,92%). Por outro lado, os locais avenidas/ponte, além de serem os que maior iluminância apresentam, revelam uma maior eficiência ao nível do con-sumo. Este facto deve-se a, nesta categoria, a largura da via ser maior o que, como se provou, se encontra relacionado com o desperdício de iluminância.Embora tenha sido a freguesia da gafanha da Nazaré que apresentou valores de iluminância mais elevados, foi a freguesia de Santa Clara que revelou maior desperdício ao nível ener-gético e consequentemente económico. Este aspeto poderá dever-se ao facto das vias de circulação na freguesia de Santa Clara serem maioritariamente mais estreitas quando comparado com as vias da freguesia da gafa-nha da Nazaré, o que se traduz numa área de via mais reduzida.Relativamente aos fatores energético, econó-mico e ambiental, é de realçar que os valores apresentados, foram por poste de iluminação e por dia. Se se analisar estes fatores por ano

x s Santa Clara 25,433 9,312

Iluminância medida (lux) Gafanha da Nazaré 30,800 7,312

Santa Clara 41,974 7,040 Iluminância desperdiçada (%)

Gafanha da Nazaré 38,134 5,489 Santa Clara 0,629 0,105

Desperdício energético por poste de iluminação (kWh) Gafanha da Nazaré 0,572 0,082

Santa Clara 0,062 0,010 Desperdício económico por poste de iluminação (€)

Gafanha da Nazaré 0,056 0,008 Santa Clara 2,323 0,390

Emissões de CO2 evitáveis por poste de iluminação (kg) Gafanha da Nazaré 2,111 0,304

Fator energético (kWh) Fator económico (€) Fator ambiental (kg CO2)

Consumo Desperdício Consumo Desperdício Emissão CO2 Evitável

Diário 1,50 0,60 0,15 0,06 5,35 2,22

Mensal 45,00 18,03 4,41 1,77 160,50 66,51

Anual 547,50 219,30 53,66 21,49 1952,75 809,21

grÁficO 1 Correlação da iluminância desperdiçada com a largura da via (por freguesia).

grÁficO 2 Correlação da iluminância desperdiçada com a largura da via (por tipo de via).

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INvESTIgAção

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e pela totalidade da nossa amostra, verificam-se valores de desperdício na ordem dos 70175 kWh a que corresponde um custo de 6877€ e 259 ton de Co2 emitidas que poderiam ser evitadas.verificou-se então que, os sistemas de iluminação pública analisados, não são eficientes, uma vez que desperdiçam cerca de 40% da sua iluminância. Este é um facto a acrescentar ao estudo de SIlvA quando afirma que os sistemas de iluminação devem ser substituídos, uma vez que entre 50% a 65% dos sistemas europeus são obsoletos e pouco eficientes. Segundo BogAERT[8] e MJØS[9], passam pela opção por luminárias adequadas e introdução de dispositivos de controlo eletrónico, permitindo assim combater a luz incómoda, reduzir o número de postes de iluminação bem como a potência das lâmpadas.outra condição a salientar é o facto de, nas passagens para peões, não obstante o valor médio ser superior aos valores de referência das ruas e avenidas, alguns valores se encontrarem abaixo dos 5 lux. Esta situação é preocupante, não do ponto de vista da eficiência energética, nem tão pouco da poluição luminosa, mas sim numa perspetiva de segurança rodoviária.o facto de não existir legislação, a nível nacional, que regulamente os sistemas de iluminação pública, nomeadamente com a definição de valores mínimos de iluminância e valores máximos admissíveis para o desperdício de iluminância (nos diversos tipos de vias) pode ser encarada como uma limitação, mas também como oportunidade de melhoria. Ainda no que concerne às limitações do estudo, o facto de a investigação científica nesta área ser muito limitada dificultou a comparação dos resultados obtidos, comparação essa que se fosse possível seria uma fonte de enriquecimento desta investigação.No futuro, seria interessante efetuar um estudo dos impactes da poluição luminosa na biodiver-sidade e saúde pública, estabelecer uma comparação dos sistemas de iluminação pública atuais com sistemas que recorram a novas fontes de energia renovável ou a novas tecnologias (lâmpa-das lED), de forma a determinar qual o respetivo custo energético e ambiental, ou ainda, estudar a influência das fases da lua na iluminância existente na via pública.

rEfErênciaS(1) Silva, C.. Estudo da Eficiência luminosa e Energé-

tica do Sistema de Iluminação Pública da Cidade do Porto. [Dissertação]. Porto. Faculdade de Engenha-ria da universidade do Porto; 2007.

(2) Delhi government. Standards for Integrated Street lighting Project for Delhi. Revision 1. 2006.

(3) Ming, l. et al. Surveying on light pollution from China urban lighting. International Conference on Energy and Environment Technology. Chandigarh: Índia; 2009.

(4) Maia, l.. Poluição luminosa nas cidades. Revista de direito ambiental 2009 Jul-Set; 55: 76-86.

(5) gallaway, T., olsen, R., Mitchel, D.. The economics of global light pollution. Science Direct. [serial online] 2009 November 26 [cited 2009 March 11]; 3(69)

(6) The Royal Comission of Environmental Pollution. Artificial light in the environment. 1st edition. lon-don: The Stationery office limited; 2009.

(7) Rabaza, o., galadí-Enríquez, D., Espín Estrella, A., Aznar Dols, F.. All-Sky brightness monitoring of li-ght pollution with astronomical methods. Science Direct. [serial online] 2010 March 02 [cited 2009 June 25];

(8) Bogaert. A luz, nova fonte de poluição. Iluminar cor-retamente 2005; 31: 3-10.

(9) Mjøs,T.. Intelligent street lighting in oslo, Norway. ECEEE 2007 Summer Study – Saving energy – Just do it. Norway; 2007.

PuB.

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tecnologia Eco-MATERIAIS E cRIAção DE vAloR

A ideia para este produto surgiu porque as cinzas proveniente da queima dos 3 fornos de incineração da valorsul não eram aproveita-da. A central incineradora de resíduos domésticos em S. João da Ta-lha, produz anualmente cerca de 100.000 toneladas de escórias. Após serem submetidas a um processo de afinação e valorização, este pro-duto tinha, até agora, como principal uso, a cobertura dos resíduos depositados no Aterro Sanitário explorado pela mesma empresa. No entanto, a partir de janeiro, este passou a ser um produto certificado também como agregado artificial para a construção de sub-bases de estradas. “Este é um objetivo alcançado pela empresa que nos deixa muito sa-tisfeitos sobretudo porque representa mais uma mais-valia ambiental e económica que podemos retirar dos resíduos,” refere Dinis de Sousa, responsável pela Instalação de Tratamento e valorização de Escórias.A utilização do agregado da valorsul, em alternativa aos agregados minerais tradicionais, permite poupa os recursos naturais e não-re-nováveis do país, contribuindo para o objetivo europeu e nacional de reduzir a quantidade de resíduos depositados em aterro. Por outro lado, a empresa refere que “a segurança ambiental do uso deste mate-rial é garantida pelos ensaios químicos regulares, levados a cabo pela empresa e pelos estudos das entidades oficiais, tendo já sido aplicada em vários trechos experimentais.”o produto é consiste num material granular, bem graduado e insensí-vel à água com uma quantidade pequena de elementos finos. Quando compactadas as escórias exibem uma influência do teor em água me-nos pronunciada que os materiais naturais. Em termos mecânicos, os responsáveis, afirmam que o material tem uma boa capacidade resis-tente e valores elevados de resistência ao corte.o produto cumpre a Norma Europeia EN 13242+A1 para agregados, tendo por isso recebido a marcação cE. De acordo com a marcação europeia do produto, este pode ser usado em camadas não ligadas de base e sub-base de pavimentos rodoviários.

www.valorsul.pt

Agregado “verde” para construção rodoviária

A Valorsul está a comercializar um novo agregado para a construção rodoviária. O material é destinado a camadas de base e sub-base de pavimentos e impõe-se como alternativa ambiental e económica ao tradicional “tout venant”.

Declaração de Conformidade do produto

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tecnologia Eco-MATERIAIS E cRIAção DE vAloR

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Waynergy é um projeto que promete revolucionar o mercado dos pa-vimentos e da energia em Portugal. Desenvolvido por dois ex-alunos de Engenharia Eletromecânica, o Waynergy consiste num pavimento sustentável que permite produzir energia elétrica em espaços inte-riores e exteriores. Os convencionais mosaicos de pavimentos são substituídos por mosaicos com um sistema que permite a oscilação da superfície que, por sua vez, ativa um sistema eletromecânico que gera eletricidade.

Francisco Duarte e Filipe casimiro apresentaram soluções que têm como finalidade aproveitar o movimento de pessoas e veículos, que produzem energia cinética, para o transformar em energia elétrica. Isto é possível através de uma tecnologia inovadora de captação e con-versão, que recorre a sistemas piezo-elétricos. Segundo os responsáveis este pavimento pode ser aplicado em espa-ços interiores ou exteriores onde passam muitas pessoas ou veículos, tais como centros comerciais, estações de transportes públicos, espa-ços desportivos, etc. o sistema pode ser instalado de forma embutida ou sobrelevada e a energia captada pode ser armazenada ou consu-mida diretamente. A energia produzida pode ser direcionada para ali-mentar dispositivos elétricos, publicidades que necessitem de energia, entre outros.A Waynergy apresenta duas soluções: Waynergy People e Waynergy vehicles. A primeira solução, como próprio nome indica, é um pavimento direcio-nado para locais de passagem de pessoas, gera 10W (pico por passo) e custará 400€. o Waynergy vehicles é destinado para zonas de passa-gem de veículos, gera 240W (pico por veículo) e vai custar 800€.Neste momento as soluções Waynergy estão em fase de validação técnica através de instalações piloto (testes em ambiente real). Está prevista a sua entrada no mercado em julho, no caso do Waynergy Pe-ople e início de 2012, no caso do Waynergy vehicles.o pavimento Waynergy ganhou em 2009 o Prémio Inovação EDP Ri-chard Branson e o Portugal venture competition. com o dinheiro ga-nho, os dois portugueses criaram a empresa Waydip, para continuarem a desenvolver o projeto que está a marcar as suas vidas.

www.waydip.com

Energia que vem do chão que pisa

A Corticeira Amorim lançou no mercado um novo produto de constru-ção com menores impactes ambientais. O Wallinblock é direcionado para a construção sustentável e resulta de uma parceria efetuada en-tre a Amorim Cork Composites, da Unidade de Negócios de Aglomera-dos Compósitos da Corticeira Amorim, a Ecochoice, a Dreamdomus e o IteCons.

Este novo produto foi concebida a partir de aglomerados de cortiça e de outros materiais naturais. “o Wallinblock permite, pelo recurso a uma tecnologia estrutural inovadora - opencell da Ply Engenharia - cons-truir uma parede sem pilares de betão, o que se repercute num ganho significativo em termos de tempo de construção, comparativamente com o processo tradicional”, diz a corticeira Amorim em comunicado.Segundo a empresa, a Wallinblock assenta numa compartimentação vertical modular para paredes exteriores e interiores, de fácil e flexível instalação. Além disto, a sua utilização poderá simplificar também os trabalhos de desmontagem de paredes para posteriores intervenções de expansão. “São os vários módulos de parede, ligados entre si, que desempenham a função de elementos estruturais contínuos do edifí-cio (pilares e contraventamentos), permitindo desenvolver uma parede interior ou exterior sem a necessidade de pilares de betão”, explica a empresa.Devido à sua constituição, os responsáveis garantem que, o Wallinblock apresentará bom desempenho ao nível térmico, acústico e de resistên-cia ao fogo, sendo em simultâneo energeticamente eficiente. É também uma solução sustentável porque usa “materiais naturais, como a corti-ça, reciclados e/ou recicláveis, e um método de construção que origina poucos resíduos, reduzindo a pegada ecológica do projeto, objetivamen-te avaliada com recurso a metodologias de Análise de ciclo de vida.”o projeto de desenvolvimento do Wallinblock teve incío em setembro de 2010, prevendo-se uma duração de 24 meses, o que implica um in-vestimento de cerca de 850 mil euros, financiado em 50 por cento pelo QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional.

www.corkcomposites.amorim.com

Solução de construção inovadora e sustentável

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tecnologia

Com o desejo de agarrar as oportunidades proporcionadas pelo nosso oceano, a Sea For Life é uma empresa Portuguesa que nasceu com o propósito de desenvolver e construir uma tecnologia inovadora capaz de converter a energia contida nas ondas em energia elétrica – o dis-positivo WEGA (Wave Energy Gravitational Absorber).

O WEGA consiste em um dispositivo composto por um corpo suspenso articulado, semissubmerso, anexo a uma estrutura de fixação, que oscila em uma órbita aproximadamente elíptica com a passagem das ondas.

FigURa 1 Apresentação conceptual da tecnologia WEGA.

O corpo articulado interliga-se com a estrutura de fixação através de uma cabeça rotativa que lhe permite adaptar-se ao sentido de propa-gação das ondas.Após terminar a definição do sistema de absorção das ondas e respe-tivo sistema de produção de energia elétrica, o Power Take-off System (PTO), a atenção da equipa de investigação centrou-se na estrutura de fixação necessária para a primeira abordagem (teste) ao mar. A so-lução estudada contém já o caminho da viabilidade necessária para maiores profundidades.

O estudo da estrutura de fixação apresentou enormes desafios já que tiveram de ser considerados, simultaneamente, aspetos de caráter tão distintos como sendo a sobrevivência (resistência estrutural, de fun-cionamento e controlo), impacto ambiental, a influência de variáveis complexas (ondas, ventos, correntes, geologia) e finalmente, a viabili-dade económica de todo o conjunto.Este estudo levou, inevitavelmente, a que a Sea For Life tivesse de op-tar por uma estrutura de fixação flutuante. Como, atualmente, a indústria petrolífera de exploração offshore é aquela que se encontra mais avançada no desenvolvimento deste tipo de estruturas, a Sea For Life serviu-se dos conhecimentos e registos de experiências desta área, como fonte de referência para os seus próprios estudos. Deste modo, após uma análise cuidada de todos os diferentes princípios de funcionamento das plataformas flutuantes offshore, chegou à conclusão que o conceito que melhor se adequa à utilização da sua tecnologia de energia das ondas é o das Tension Leg Platform (TLP).Em seguida, é feita uma breve explanação das Tension Leg Platform (TLP). A analogia feita a este tipo de plataforma, é fundamental para o melhor entendimento sobre plataforma em desenvolvimento pela Sea for Life. Embora existam diferenças, estas vão no sentido de se tirar o melhor partido na adaptação deste princípio como suporte estrutural à captação de energia das ondas em condições de sobrevivência.

À DESCOBERTA DA tecnologia oFFshoRe no maR poRtUgUêsJorge Pina RodriguesDiretor Geral da Sea For Life

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tecnologia

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estrutura tlP (tension leg Platform)As estruturas offshore do tipo TLP são complacentes, ancoradas ver-ticalmente às fundações por meio de tendões mantidos permanente-mente traccionados pela força residual de flutuação do casco obtendo-se grande rigidez na direção vertical (heave) e nas rotações (pitch e roll).A complacência de uma plataforma deste tipo utilizada no petróleo consiste no facto dos seus primeiros períodos serem superiores aos períodos dominantes no espectro das ondas, evitando-se assim a am-plificação dinâmica das amplitudes de resposta.A pré-tração dos tendões aplicada através da retirada do lastro im-posto no casco flutuante, que é mantida pelo excesso de flutuação da estrutura garante a estabilidade do sistema flutuante hidroelástico, fornecendo uma rigidez na direção heave igual à rigidez elástica axial dos tendões.Os tendões são elementos tubulares de aço de alta resistência me-cânica e à corrosão, que ancoram o casco flutuante ao fundo do mar, impedindo grandes excursões laterais do mesmo. São elementos vitais para as TLP, a ruína de um deles pode, numa situação de pouca redun-dância, causar a instabilidade do sistema flutuante hidroelástico. Sob ação de cargas ambientais, do vento e correntes, a TLP desloca-se da sua posição original vertical para uma posição vizinha inclinada em torno da qual oscila sob a ação das ondas. A deriva ou off-set estático, que consiste na amplitude de movimentos horizontal quase estático da plataforma, é medida em relação ao eixo vertical. Esta amplitude é, em geral pequena, mesmo para uma TLP em águas profundas. A distância vertical entre um ponto extremo numa projeção horizontal na posição original vertical e um ponto central na posição vizinha mais deslocada é chamada declínio ou set-down. O ângulo de inclinação dos

tendões (φ), é um fator de projeto que limita este deslocamento late-ral e não deve exceder um valor limite que inviabilize o projeto da TLP. O comportamento típico de uma TLP sob ação de cargas ambientais, pode ser, assim, descrito por um deslocamento lateral inicial devido às parcelas quase estáticas das forças de corrente e vento sobre o casco, e posteriormente por uma oscilação em torno da posição média devi-do à ação das ondas. Verticalmente, a TLP tem o seu comportamento governado pela rigidez dos tendões e o seu comprimento deve ser bem proporcionado para se evitar que a frequência de heave se aproxime da frequência das ondas.

a estrutura da sea for lifeApesar de assentar em princípios semelhantes às plataformas TLP, existem algumas diferenças importantes. Estas divergências resul-tam da aplicabilidade pretendida em cada uma das situações. A plataforma Sea For Life aplica-se na extração de energia a partir das ondas do mar. Querendo isto dizer que os carregamentos vão ser em parte de natureza diferente dos das TLP. A estrutura irá sofrer os car-regamentos diretos por ação das forças do meio ambiente, mas tam-bém ela própria como suporte ou ponto de fulcro da ação do recetor terá de produzir a reação necessária aproximadamente corresponden-te à energia que se produzirá.As dimensões necessárias em cada uma das situações também são muito distintas, podendo uma estrutura TLP ser até 500 vezes maior do que a estrutura necessária para extrair energia das ondas utilizan-do a tecnologia WEGA. Trata-se por isso de uma versão bastante mais pequena, leve e esbelta do que as estruturas usualmente utilizadas no petróleo.Foram tidos em consideração, no projeto da estrutura, aspetos relacio-nados com a possibilidade de pré-fabricação, transporte rodoviário e ainda os meios necessários no cais de montagem, principalmente com a capacidade de elevação necessária outros meios de apoio e estaleiro envolvente. O projeto já está em um estado muito avançado, mas ainda se encon-tra em uma fase de finalização. Por outro lado, ainda se está à procura do financiamento que permitirá materializá-lo. No entanto, dentro em breve acredito que poderão vê-lo a flutuar e produzir energia. Trata-se do desenvolvimento de uma tecnologia de extração de energia das ondas 100% nacional e o seu desenvolvimento poderá constituir uma fonte de exportação e competitividade.

figura 5 Antevisão da tecnologia WEGA.

figura 2 Exemplo de plataforma TLP (Tension Leg Platform).

figura 3 Movimentos de um corpo flutuante.

figura 4 Offset e Set-down.

Offset

Setdown

HeaveYaw

Sway

Pitch

Surge

Roll

x

z

y

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

Reutilização de lamas

O Plateau-ASP é processo que possibilita a esterilização, pasteurização e conversão em fertilizante orgânico das lamas provenientes de águas residuais, urbanas ou indus-triais. O sistema desenvolvido pela empresa Plateau, é base-ado num tratamento químico.

“Este sistema cria valor ao possibilitar a utilização integral da matéria orgânica disponível nas lamas e a sua inclusão num produto final com conteúdo significativo de macronutrientes e micronutrientes”, explica a empresa.O processo Plateau-ASP decorre em módulos, contando com “vários segmentos pré-assemblados em laboratório.” A empresa responsável por esta tecnologia, refere que são utilizados no local sistemas cons-trutivos ligeiros que permitem a reutilização quase total da matéria orgânica. “Devido à elevada flexibilidade, permite facilmente a duplica-ção de capacidade sem aumento significativo da área ocupada e com grande redução de custos em comparação com uma unidade conven-cional para tratar volume equivalente”, refere a Plateau no site oficial.Os responsáveis pelo Plateau-ASP garantem que este processo apre-senta vantagens quando integrado numa ETAR, tais como: melhoria da qualidade do efluente; redução da atividade do tratamento secundário; redução do consumo de energia; redução dos custos de exploração; re-dução da produção de CO2 e CH4; rentabilização da exploração da uni-dade de tratamento.www.plateau-asp.com

Mobiliário urbano para recolha de resíduos

A Sounete lançou recentemente o Solarpack, um equipamento de mo-biliário urbano destinado à recolha de resíduos urbanos em locais de gran-de produção, como ruas comerciais, grandes prédios, praias, mercados, complexos desportivos.O Solarpack funciona a baixa tensão, é alimentado por painéis solares foto-voltaicos, permitindo uma total mo-

bilidade. Segundo a empresa, “o equipamento é de fácil integração no ambiente envolvente e sem necessidade de infraestruturas especiais.” O Solarpack pode ser recolhido por um equipamento do tipo gancho de carga da norma DIN 14505 ou outra semelhante.O equipamento tem um comprimento total de 5500 mm, largura de 2500 mm e uma altura de 2200 mm. O Solarpack tem uma capacidade para 130 litros. A Sounete garante que este mobiliário para a recolha de resíduos tem autonomia total, é simples de operar e tem um sis-tema antivandalismo. Este sistema é totalmente controlado por au-tónomo programável e conta ainda com um tratamento anticorrosivo de última geração.www.sounete.pt

Motores ecológicos

A SEW-EURODRIVE está a lançar no mercado novos motores de alto rendimento com classe de eficiência energética IE2 em novas aplicações.Respeitando as regras obrigatórias da Diretiva Europeia 2005/32/CE, a empresa afirma que já se está adap-tar e, em janeiro, introduziu no mer-cado português os novos motores IE2 (modelo DRE).

“A SEW-EURODRIVE leva muito a sério a sua responsabilidade nas questões ambientais, como prova o desenvolvimento de acionamen-tos de alto rendimento: MOVIGEAR® com classe de eficiência IE4 - Su-per Premium; Motor DRP com classe de eficiência IE3 – Premium”, é referido em comunicado.Neste sentido da eficiência energética e redução de emissões de CO2, a empresa está a disponibilizar um pacote de serviços denominado effiDRIVE que explora várias potencialidades da economia energéti-ca através da oferta de produtos com elevada eficiência energética, consultoria Energética e implementação de soluções energeticamente eficientes.www.sew-eurodrive.pt

Soluções de GPS de grande precisão

A empresa Pedro Santos apre-sentou algumas soluções para o levantamento de GPS SIG (Siste-mas de Informação Geográfica) de alta precisão. Estas tecno-logias destinam-se a situações onde é necessário obter preci-sões de 5/10 cm. “É indispensável recorrer ao ajuste do sistema de

coordenadas, de forma a enquadrar o levantamento na rede geodésica local. Para cada local de trabalho devemos levantar um vértice geodési-co, de forma a criar um Datum local, que ajuda a eliminar erros de trans-formação de sistema de coordenadas”, explica Tiago Mogas – Técnico especializado GPS TRIMBLE SIG.No que se refere à configuração física destes aparelhos, a empresa aconselha o uso de bastão (antena GPS no topo) com bipé e bolha. Tia-go Mogas chama a atenção para a seleção da Estação Base GPS, onde se vai buscar os dados para a Correção Diferencial. “Se para 1-2 metros podemos usar estações a 100/200km, para trabalhos mais precisos isto é impensável. Com as atuais redes de estações de referência GPS do Instituto Geográfico do Exército (SERVIR) ou do Instituto Geográfi-co Português (RENEP) torna-se mais fácil encontrar uma estação GPS perto do nosso local de trabalho”, diz.O Técnico da empresa Pedro Santos, sublinha a relação Produtivida-de Vs Precisão, afirmando que “existe uma relação proporcionalmente inversa entre produtividade e precisão que devemos compreender e aplicar nos levantamentos GPS para carga de SIG.”www.pedrosantoslda.pt

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

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Reator de Bio Flotação

A REDOX lançou um reator de Bio Flo-tação (FBR) inovador. Segundo a em-presa que o comercializa em Portugal, a PMG Ambiente, este reator “permite conjugar a compacidade, a fiabilidade operacional e a consistente alta qua-lidade do efluente de um MBR, com o baixo investimento e custo operacio-

nal reduzido de um SBR.” O sistema MBR é cada vez mais conhecido e requerido, mas o facto de ter um elevado custo impede que seja mais utilizado. Este sistema recorre à filtração membranar para separar bactérias do efluente tratado. Já o SBR (‘Sequencing Batch Reator’) usa a sedimentação para separar as bactérias da água tratada, mas ao contrário dos sistemas clarifica-dores, realiza esta etapa processual num mesmo volume. “Isto reduz a quantidade necessária de tubagem e equipamento auxiliar ao mínimo, resultando num equipamento de baixo custo”, explica a PMG Ambiente. A Flotação é uma técnica, relativamente, recente para separação de la-mas ativadas. A lama ativada tem maior densidade do que a lama do pré-tratamento e requer muito mais flutuabilidade para se conseguir uma separação fiável. Segundo a PMG, neste caso, “a REDOX aperfei-çoou o processo de geração de microbolhas, tornando realidade uma separação consistente de lamas ativadas”.Destacam-se algumas características deste reator, tais como: con-segue tratar lamas em excesso, mais concentradas e é resistente, permitindo maior aglomeração da lama. De acordo com a empresa por-tuguesa, o processo FBR REDOX tem menor investimento global inicial do que qualquer processo de tratamento biológico aeróbio, já contando com equipamento e construção civil. www.pmg-ambiente.pt

PUB.

A ambiente::global opera no mercado desde 2003 e é espe-cializada em serviços de Acre-ditação Certificação Integrada e Autorização ACT. A empresa está autorizada a proceder à Acreditação de ensaios de empresas e labo-ratórios, numa vasta área, tais como: emissões gasosas,

poluentes em atmosferas ocupacionais e acústica (ruído ambiental, acústica de edifícios, ruído laboral e modelação de mapas de ruído). Desde 2010, a ambiente::global viu reconhecido o seu sistema integra-do de qualidade, ambiente e segurança e a prestação de serviços ex-ternos de SHT, pela TUVRheinland e pela ACT. O foco da empresa é essencialmente na certificação integrada, para a qual está certificada no âmbito da Monitorização Ambiental e Presta-ção de serviços externos SHT, cumprindo assim os requisitos das nor-mas NP EN ISO 9001, NP EN ISO 14001 e OHAS 18001. A empresa acredita na conjugação destes três reconhecimentos, con-

Acreditação Certificação Integrada e Autorização ACT

siderando-os uma mais-valia para qualquer organização. A norma da qualidade NP EN ISO 9001:2008, centra-se na qualidade dos serviços, e processos, que depois pode ser complementada com a norma ambien-tal (NP EN ISO 14001) que permite, a nível interno, focalizar e otimizar recursos, diminuir custos energéticos, tornando assim a empresa mais sustentável. “A integração de um sistema de gestão de higiene e se-gurança no trabalho, com as anteriores normas, permite do ponto de vista do cliente ter a garantia que a empresa prestadora de serviços, ela própria cumpre todos os aspetos legais e formais de segurança”, explica a ambiente::global.Reconhecendo, contudo, os elevados custos para as empresas des-tes processos de certificação, a empresa afirma: “Consideramos, assim, que as sinergias obtidas com estes três reconhecimentos, superarão a médio-longo prazo, o esforço dispendido quer em ter-mos financeiros, técnicos e também na qualificação contínua de re-cursos humanos. Encaramos este custo, como um investimento de solidificação de fatores de sucesso e vantagens competitivas, com inúmeras vantagens, quer a nível organizacional, quer ao nível do mercado onde atuamos.”www.ambienteglobal.pt

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 201138

ENERgIA

Um CE fornece informações e recomenda-ções sobre o que pode ser efetuado numa casa. Para que esta informação passe do CE à realidade, o proprietário necessita que as recomendações possuam qualidade e que os profissionais existentes no mercado tenham a formação e experiência necessárias para as efetuar. Neste momento em Portugal o acesso ao CE está generalizado e os consumidores não sen-tem qualquer dificuldade na hora de obter o documento. No entanto, se decidirem efetuar as recomendações presentes no CE, sentem dificuldade no momento de solicitar orçamen-tos e selecionar empresas qualificadas para as levar do papel à realidade. É aqui que o RE-QUEST se foca: como aproximar os diferentes agentes do mercado? Pretende-se assim que diferentes mercados e profissionais traba-lhem em conjunto para alcançar a redução de emissões de dióxido de carbono e motivando promotores e proprietários para investir na reabilitação das suas habitações num contex-to de confiança e rigor na qualidade das inter-venções realizadas.

DURAÇÃOO projeto teve início em abril de 2010 e terá a sua conclusão em novembro de 2012.

PARCEIROS E CONSTITUIÇÃOO projeto conta como parceiros 11 entida-des da rede EnR (European Energy Network –Rede Europeia de Agências Nacionais de Energia) pertencentes a países como o Reino Unido (Energy Saving Trust), Itália (Italian Na-tional Agency for New Technologies, Energy and Environment), Alemanha (german Ener-gy Agency), Áustria (Austrian Energy Agency), Polónia (Polish National Energy Conservation Agency), Dinamarca (Aalborg University), Eslo-váquia (Slovak Innovation and Energy Agency), Bélgica (Flemish Institute of Technological Re-search), grécia (Centre for Renewable Energy Sources and Saving) e Bulgária (Energy Effi-ciency Agency).O projeto está em execução com base nas seguintes grandes tarefas: Coordenação e gestão, Pesquisa de ferramentas e melhores práticas existentes no âmbito da reabilitação energética, Ferramentas para aproximar a informação contida no CE e a cadeia de valor, Elaboração de esquemas de qualidade na rea-bilitação, Projetos-piloto e avaliação de ferra-mentas e Comunicação do projeto que envol-ve ações de divulgação e execução de website como plataforma de agregação de conteúdos e partilha de conhecimentosA ADENE é a responsável pela dinamização do grupo de trabalho que se encontra a analisar

ferramentas para aproximar a informação contida no CE e a cadeia de valor, encontran-do-se neste momento a ultimar as questões relacionadas com o projecto-piloto que será desenvolvido em Portugal, e a preparar as acções relacionadas com o seu grupo de tra-balho.

O PROjETO-PIlOTOO projeto-piloto português vai ser executado com a colaboração da Lisboa E-Nova, a agên-cia de energia do município de Lisboa, e terá como foco de trabalho uma zona específica da cidade que será escolhida tendo em conta a classe energética dos seus edifícios, sendo o ponto de partida a classe C ou inferior, e o ob-jetivo final classe B ou superior. Analisando a base de dados do sistema de certificação por-tuguês, chegamos à conclusão que o edificado com maior ineficiência situa-se nas décadas de 70 e 80, data em que não existia qualquer regulamentação sobre o comportamento tér-mico dos edifícios. Este projeto-piloto prevê a atuação no terreno dos técnicos da agência de energia, divulgando os documentos produ-zidos no âmbito do projeto REQUEST, dando apoio técnico aos proprietários que preten-dam implementar as medidas de melhoria e efetuando um questionário final junto dos

Projeto REQUEST - reabilitação de edifícios através da cadeia de valor do sistema de certificação energética

O projeto REQUEST tem como finalidade fomentar a reabilitação urbana, utilizando o Certificado Energético (CE) como meio prioritário para traçar o caminho rumo à eficiência energética. A grande finalidade deste projeto é o aumento da execução efetiva de medidas de melhoria que permitam diminuir as emissões de carbono nos edifícios residenciais europeus. Os proprietários dos edifícios são o grupo alvo desta ação, uma

vez que são os responsáveis pela decisão da realização ou não de eventuais obras de reabilitação. Nesse sentido, o projeto pretende analisar dois pontos-chave: em primeiro lugar o fácil acesso e compreensão das medidas de melhoria recomendadas nos certificados energéticos e em segundo lugar o rápido acesso a técnicos e empresas que executem os trabalhos necessários com a devida qualidade.

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ENERgIA

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proprietários que determine o grau de satis-fação destes em relação ao projeto desenvol-vido bem como a apresentação de indicadores do nível de implementação das medidas e das ferramentas utilizadas.

RESUlTADOS DO PROjETO REQUESTComo resultados esperados do projeto te-mos a elaboração de informação específica para proprietários e profissionais do setor, 30

exemplos de qualidade em 15 estados mem-bros da EU e outros 5 países, resumos de me-lhores práticas em comunicação de medidas de melhoria indicadas no CE, realização de 20 workshops participadas por 400 profissionais e pelo menos 100 técnicos a utilizar os requi-sitos de qualidade aqui definidos.O projeto REQUEST além de pretender ser um veículo de disseminação das melhores práti-cas na promoção da reabilitação, é também, por via dos seus projetos-piloto, uma ação de

eficiência energética com resultados práticos e reais reduções de emissões de dióxido de carbono.Para mais informações consultar a página da ADENE em http://www.adene.pt/ADENE/Ca-nais/Projectos/Request.htm

Formação de peritos de certificação em medição e verificação em Portugal

A ADENE - Agência para a Energia vai apoiar a realização do segundo curso de Certificação de Profissionais de Medição e Verificação (CMVP) a ser ministrado em Portugal pela EVO – Efficiency Valuation Organization. O curso realiza-se entre os dias 3 e 5 de maio no Hotel Eurostars das Letras, em Lisboa, e pretende formar peritos nesta área. A formação é dirigida a engenheiros e arquitetos com experiência na área da eficiência energética.A EVO é uma organização sem fins lucrativos que oferece produtos e serviços de apoio a:• Medição e verificação de poupanças de energia e água resultantes de projetos de eficiência

do consumo de energia e água;• gestão de risco financeiro associado a contratos de desempenho energético;• Quantificação de redução de emissões de carbono resultantes de projetos de eficiência

energética;• Promoção da construção sustentável através da quantificação de poupanças de energia e

água.

O PROTOCOlO IPMVPEm 1990 iniciou-se o desenvolvimento de abordagens estandardizadas para a medição e verificação de eficiência energética (M&V), para apoiar agentes promotores, responsá-veis de instalações e agentes financeiros envolvidos em projetos de eficiência energética. Atualmente o protocolo IPMVP (International Performance Measurement and Verification Protocol), promovido pela EVO, é o protocolo internacional que lidera a estandardização dos procedimentos M&V.O IPMVP já foi traduzido em 10 línguas diferentes (incluindo Por-tuguês) e é usado em mais de 40 países, sendo em alguns deles seguido como o protocolo oficial para M&V.

FORMAÇÃO E CERTIFICAÇÃO CMVPA EVO promove cursos de CMVP (Certified Me-asurement & Verification Professional) para garantir as boas práticas e estandardização da M&V. Usando a sua experiência internacional, a EVO promove cursos em todo o mundo, garan-tindo uma certificação internacional de profis-sionais em M&V, através do certificado CMVP. A certificação CMVP dá garantia que o profissio-nal tem habilitações académicas, experiência prática e conhecimentos provados, num exame de 4 horas, sobre procedimentos de M&V.A EVO é responsável, em todo o mundo, pela formação e certificação CMVP (Certified Me-asurement & Verification Professional). O di-reito de usar esta designação está reservada àqueles que demonstraram competência em M&V, sendo para tal necessário obter aprova-ção em um exame de 4 horas e reunir os re-quisitos académicos e práticos exigidos.Para mais informações e inscrições consultar o Portal da Formação SCE em http://www.adene.pt/ADENE/Canais/SubPortais/SCE/Formacao/PeritosQualificados

Novas regras para miniprodução de eletricidade em abrilFoi publicado em Diário da República um novo decreto-lei que vem alterar o regime jurídico da produção de eletricidade por intermédio de instalações de pequena potência, designadas por unidades de miniprodução.Uma das novidades é a “definição de unidade de miniprodução de eletricidade, entendida como a instalação baseada numa só tecnolo-

gia de produção (por exemplo, painéis fotovol-taicos), e cuja potência máxima atribuível para ligação à rede é de 250 kW”, diz o decreto-lei.Além disso, o microprodutor é obrigado a con-sumir pelo menos metade do produzido, caso contrário pagará coimas que poderão ir até os 44 mil euros. Os interessados em tornar-se miniprodutores tem de se registar e a entrada

em exploração da unidade registada e a sua ligação à rede carecem de certificado de explo-ração. O regime remuneratório da eletricidade produzida em instalações de miniprodução, tem dois regimes à escolha: o regime geral, aplicável a todos os que tenham acedido à ati-vidade de miniprodução e não se enquadrem no regime bonificado.

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ENERgIA

Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia ElétricaPPEC 2007: apresentação de resultados e balanço

Decorreu, no passado dia 11 de fevereiro, o seminário “Avaliação de Resultados e Pers-petivas Futuras”, em Lisboa. Organizado pela Entidade Reguladores dos Serviços Energéti-cos (ERSE), o evento serviu para apresentar os resultados do primeiro Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de Energia Elétri-ca (PPEC). De acordo com a ERSE, este PPEC “permitiu obter benefícios de 74 milhões de euros, sete vezes superiores aos 10 milhões de euros investidos, e evitar a emissão para a atmosfera de 285 mil toneladas de CO2.” Ao todo foram implementadas 26 medidas – 10 tangíveis e 16 intangíveis- entre 2007 e 2009.“Face às metas traçadas para 2010 no Pro-grama Nacional para as Alterações Climáti-cas (PNAC 2006), mais concretamente para a medida «MAe3 – Melhoria da eficiência ener-gética ao nível da procura de eletricidade», de redução de 1 020 gWh do consumo de energia elétrica, é possível perceber o impacte positivo da poupança obtida pelo PPEC 2007 na meta definida para 2010, contribuindo em 8%”, refere a ERSE no seu relatório. A Entidade destaca que “a poupança de energia obtida com o PPEC 2007 no período 2008-2015 contribui em 2,8% para a concretização da meta preconizada pelo PNAEE para as medidas de cariz exclusi-vamente elétrico.”

O evento contou com a participação dos pro-motores, tais como, EDP, Endesa, EEM, entre outros. As empresas apresentaram os seus programas e as medidas implementadas, que passam, sobretudo, pela substituição para lâmpadas economizadoras de energia e ações de sensibilização em escolas. O objetivo é promover a eficiência energética e diminuir as emissões de CO2.Dado sucesso desta iniciativa, neste momen-to, o PPEC já vai na sua quarta edição.

Próximos PPEC’sIsabel Apolinário da Direção de Tarifas e Pre-ços da ERSE, destacou melhorias que devem ser instituídas nos próximos PPEC’s. Segundo a responsável, é necessário trazer mais em-presas e entidades a participar nesta inciati-va e que não sejam só do setor elétrico, tais como, agências de energia e associações de consumidores. Por outro lado, é preciso colo-car a eficiência energética na agenda de um conjunto alargado de agentes, tentando par-cerias. Evitar atrasos no arranque e imple-mentação das medidas e, também, melhorar a supervisão das mesmas. Isabel Apolinário defende uma melhor e maior divulgação do PPEC, “potenciando o efeito multiplicador das medidas do PPEC.” A harmonização dos

relatórios de execução finais, é, na opinião da responsável, outra das questões a melhorar, exigindo mais eficácia e transparência. Isabel Apolinário refere ainda a importância de fo-mentar a concorrência no setor, limitando a concentração.www.erse.pt

Captar energia eólica nos centros urbanosUma empresa holandesa, a NL Architects, desenvolveu turbinas eólicas, especial-mente, destinadas aos centros da cida-des. As Power Flowers geram eletricidade a partir do vento, em locais normalmente inacessíveis aos aerogeradores conven-cionais. Estas turbinas com um design apelati-vo, são, segundo os criadores, inspiradas numa turbina vertical denominada Eddy, desenvolvida pela Urban green Energy. Os responsáveis afirmam que a turbina pode ser montada em menos de uma hora, re-siste a ventos superiores a 193 km/h e tem um tempo médio de vida superior a 20 anos.A NL Architects apresentou um equipa-

mento em forma de árvore, batizado com o nome de Power Flowers. A turbina apresenta uma coluna de aço oco com ramos na parte superior. Estes ramos teriam 3 ou 12 turbinas semelhantes à turbina Eddy. Por serem mais leves e mais pequenas poderão ser facilmen-te montadas nos parques, ruas ou estradas dentro dos centros urbanos. Porém, apesar de serem mais bonitas e adap-táveis aos centros urbanos, estas turbinas são menos eficientes face aos grandes aero-geradores que vemos nas paisagens rurais. A equipa estima que uma Power Flowers com 3 turbinas pode gerar 13.000 kWh por ano, se considerarmos uma velocidade média do ven-to de 5m/s. Uma estrutura com 12 turbinas poderá gerar 55.000 kWh.

©MÁRIO CERD

EIRA

www.nlarchitects.nl

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ENERgIA

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Nova norma ISO para gestão de energiaEstá neste momento a ser desenvolvida uma nova norma ISO para a gestão de energia, es-tando previsto o lançamento para o terceiro trimestre de 2011.A ISO 50001 tem como objetivo ajudar as organizações a melhorar o seu desempenho energético, aumentar a eficiência energética e reduzir os impactos das alterações climáticas.A norma internacional vai ser direcionada para gerir a energia de instalações industriais, ins-talações comerciais ou organizações comple-tas. Segundo o comité de projeto de gestão de Energia ISO/PC 242, esta norma poderá ter uma influência de até 60% no consumo mun-dial de energia. “Todos os dias, organizações de todo o mundo lidam com questões como a disponibilidade de fornecimento de energia, a confiabilidade, a mudança climática e esgotamento de recur-

Setor da Energia em Portugal não aproveita sistemas de incentivosA conclusão é avançada pela Alma Consulting Group no recente estudo “O Financiamento e a Inovação: Setor da Energia.” Nuno Nazaré da Alma referiu, na sua apresentação no se-minário “O Setor das Energias Renováveis em França e Portugal : Oportunidades e Parcerias” no Porto, que Portugal tem crescido em ter-mos de aposta em inovação mas ainda somos “considerados inovadores moderados”.Na área da energia conta-se em Portugal com cerca de 600 empresas, representando apenas 2,66% do total de volume de negócios gerado pelas empresas nacionais. Os responsáveis pelo estudo, identificam o QREN e o SIFIDE como os sistemas de incentivos mais interes-santes e adequados às empresas portuguesas de energia mas destacam que estes estão a ser subaproveitados no nosso país.Na verdade, a taxa média de aproveitamento da QREN (SI Inovação e SI I&D) até dezembro de 2010, situava-se apenas nos 40%, em ter-mos globais, e em 11% ,no que toca ao setor da energia. Já no SIFIDE, embora a taxa de execu-ção seja mais alta, ainda está longe de atingir os 100%, situando-se em 2007 nos 70%, em termos globais, e em 40%, no setor da energia.

QREN e SIFIDEO QREN disponibiliza diferentes programas de

Algar inaugura edifício “verde”

A Algar, empresa responsável pela recolha e tratamento dos resíduos urbanos do Al-garve, inaugurou um novo edifício de apoio administrativo às atividades da empresa, que conta com soluções amigas do am-biente.«A ALgAR tem promovido métodos, pro-cedimentos e ações concentrados nestes últimos 15 anos, apostando sempre um desempenho progressivo do serviço pres-tado, e orientação de melhorias significa-tivas nas espectativas ambientais dos cidadãos, proporcionando-lhes assim uma maior qualidade de vida», diz o administra-dor Hélio Barros.A finalidade era minimizar o consumo de energia, por isso, o edifício recorre às mais recentes tecnologias de iluminação e re-cuperação energética. Todas as salas têm iluminação natural, a fachada posterior está orientada a nascente e a principal a poente. Conta ainda com um sistema solar térmico para aquecimento de águas.O edifício está situado na Estação de Transferência de Faro/Loulé/Olhão, inte-grando diversos serviços administrativos, tendo como objetivo centralizar as ativida-des da ALgAR. www.algar.com.pt

sos . Um elemento crítico na resolução destas questões é como é que uma organização gere eficientemente o seu consumo de energia”, diz o responsável Edwin Piñero.O documento será baseado nos elementos comuns de todas as outras normas de ges-tão ISO, pretendendo ser compatível com a ISO 9001 (gestão de qualidade) e ISO 14001 (ges-tão do ambiente).Prevê-se que a ISO 50001 contemple: um quadro para integração da eficiência ener-gética em práticas de gestão; melhor utili-zação dos ativos existentes de consumo de energia; benchmarking, medir, documentar e relatar as melhorias da intensidade energé-tica e o seu impacto projetado sobre a redu-ção na emissão de gases de efeito de estufa; transparência e comunicação sobre a gestão dos recursos energéticos; gestão das melho-

res práticas e comportamentos de energia; avaliar e priorizar a implementação de novas tecnologias energeticamente eficientes; um quadro para a promoção de eficiência ener-gética em toda a cadeia de abastecimento; melhorias na gestão de energia no âmbito de projeto de redução de emissões de gases de efeito de estufa. “Esta nova norma internacional fornece a es-trutura para que as empresas comerciais e industriais melhorem continuamente a sua intensidade energética - poupar dinheiro, me-lhorar a competitividade e reduzir a poluição. Quando as empresas podem ligar eficiência e rentabilidade, é um «win-win»”, refere Roland Risser, Presidente do grupo Técnico Consul-tivo dos EUA para ISO / PC 242 e gestor do Programa de Tecnologias de Construção do Departamento de Energia dos EUA.

apoio para o setor empresarial: SI I&DT para Individuais e Consórcios; SI I&DT para Núcleos de Investigação; SI Inovação para Produção e Novos Bens. Segundo dados oficiais do QREN, até ao final do ano passado, tinham sido apre-sentadas 1686 candidaturas mas apenas 65 eram provenientes da área de energia. Anali-sando os dados por áreas, a região do Centro é a que mais concorre a Sistemas de Incenti-vo comunitários, tanto a nível geral como em energia.O SIFIDE é um programa que pode ser acu-mulado ao QREN e é considerado pela ALMA como um dos instrumentos “mais generosos da Europa” com várias vantagens, como por exemplo: dedução à coleta, em sede de IRC, pela realização de atividades de I&D, possibi-lidade de deduzir até 82,5% dos custos anuais após entrega e candidatura, credito reportável durante 6 exercícios fiscais. Contudo, Nuno Nazaré refere que “poucas empresas benefi-ciam deste tipo de financiamento apesar do número de reprovações ser muito baixo”. Se-gundo o responsável da ALMA, o setor mais beneficiado com o SIFIDE é o das TIC e o Far-macêutico. No ano de 2008, do total das 857 empresas de energia em Portugal, apenas 10 se candidataram ao SIFIDE. www.almacg.pt

QREN. Manual de Normas Gráficas. �

Marca QREN. Versões Horizontais

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ÁgUA

INAG e FLAD assinam protocolo no domínio do marA Fundação Luso-Americana (FLAD) e o Instituto da Água (INAg) assinaram, no início de fe-vereiro, um “Protocolo de Cooperação de Informação relativa ao Estado Ambiental do Meio Marinho”. O encontro Lisbon Oceans Conference, realizado em outubro de 2010, permitiu a colaboração entre estas duas entidades com o objetivo de concertar esforços e partilhar informação, com vista a uma maior eficácia na gestão do Mar e dos seus recursos.“Este protocolo pretende promover o diálogo entre parceiros internacionais, no sentido de garantir o envolvimento de instituições de mérito em estudos e troca de conhecimentos necessários para se definirem indicadores e metas ambientais que permitam enquadrar a avaliação do estado ambiental das águas marinhas e o impacto ambiental das atividades humanas”, refere a FLAD em comunicado.www.flad.pt · www.inag.pt

Novo projeto de gestão de água para o PortoO projeto é cofinanciado pelo programa SU-DOE e, segundo as Águas do Porto, tem como objetivos “garantir o uso sustentável da água, prosseguir a excelência no abastecimento, controlar as condições de fornecimento e qua-lidade da água, otimizando a gestão do abas-tecimento.” O Riegaa nasceu de uma parceria entre a Asociación de Desarollo Rural Saja Naja, a Consejería de Economia y Hacienda del gobierno de Cantabria, a Consejería de Medio Ambiente del gobierno de Cantabria e a Águas do Porto.Está a ser desenvolvida uma rede de ligações sem fios com tecnologias Wimax/Wifi e, atra-vés de uma conexão à Internet de banda larga, poder-se-á ligar, em tempo real, os equipa-mentos de telemedição e controlo instalados em depósitos de água e pontos estratégicos da rede de abastecimento, o que permitirá ob-

ter medições de caudais e de indicadores da qualidade da água. Todas as informações se-rão transmitidas para um centro de gestão/controlo, e serão analisadas através de aplica-ções informáticas. “Para tal, serão combinados equipamentos de tecnologia de última geração, conceção de um software específico e instalação de uma rede Wifi ou Wimax que permitirá a transmissão dos dados necessários, em tempo real, para os equipamentos informáticos de tratamento da informação”, explicam os responsáveis no site oficial.A implementação do projeto já está na sua fase final, sendo provável que em meados de abril já estejam colocados todos os contado-res inteligentes na cidade.

www.riegaa.com

Está a ser implementado na cidade de Porto o projeto Riegaa que consiste numa rede sem fios para a gestão e poupança de água. Vai também permitir a obtenção de dados de consumos de água em tempo real e um controlo mais eficaz de fugas e perdas.

MUNICÍPIOS

PORTO

Águas Públicas do Alentejo dá início a plano de investimentosA empresa Águas Públicas do Alentejo (AgDA) arrancou com o seu plano de investimentos. A assinatura, em fevereiro, do contrato de adju-dicação para a construção de uma nova Esta-ção de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) em Vila Nova de Mil Fontes marcou o início da execução do plano.A obra, com conclusão prevista para o verão de 2012, está a cargo das empresas OIKOS, S.A. e EFACEC, S.A e está avaliada em mais de dois milhões de euros.“A nova ETAR de Vila Nova de Mil Fontes é uma

obra crucial para a melhoria do processo de tratamento das águas residuais produzidas quer pela população residente, quer pelos visi-tantes em época balnear, permitindo garantir que o efluente tratado é devolvido ao meio re-cetor em condições ambientalmente seguras e beneficiando a qualidade de vida, o ambiente e o turismo”, refere a AgDA.O empreendimento será construído na mes-ma zona da atual ETAR e como está muito próxima do meio urbana, será dotada de sis-temas de desodorização, para a eliminação de

cheiros, bem como de controlo de ruído. Para além da ETAR de Vila Nova de Mil Fontes, o plano de investimentos, estimado em 227 milhões de euros até 2015, contempla a cons-trução de uma ETAR em Alcácer do Sal, outra em Melides (grândola) e outras infraestru-turas semelhantes no concelho de Odemira, bem como de um emissário em Santiago do Cacém. Estão também previstas várias inter-venções ao nível do sistema de abastecimen-to de água em “alta”, a partir da Barragem de Santa Clara.

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ALTERAçõES CLIMÁTICAS E CONSERVAçãO DA NATUREzA

INDÚSTRIA E AMBIENTE 67 MARÇO/ABRIL 2011

A importância dos SIG na proteção da Biodiversidade

AvES MArINhAS EM POrtugAlAna Meirinho, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, referiu os vários projetos que estão a ser levados a cabo pela SPEA, mostrando em que medida é que os SIg po-dem ser úteis. No Projeto Life IBAs Marinhas (identificação de Áreas Importantes para Aves marinhas em toda a área marinha de Portugal), foram utilizados Sistemas de In-formação geográfica para visualizar toda a área de trabalho (toda a zEE portuguesa) e planear o trabalho de campo necessário. No caso dos Censos Áereos foi possível, através do SIg, analisar os dados recolhidos nos 4143 km sobrevoados. O mesmo se passou com os Censos Marítimos, onde se observaram 186 000 aves de 100 espécies diferentes e se per-correu 63 000 km e o SIg foi uma ferramenta essencial, tanto para a análise de dados, como

para fazer grelhas de distribuição de aves ma-rinhas.Segundo Ana Meirinho, com estas ferramen-tas pode-se “mapear o comportamento da maioria das espécies marinhas que ocorrem em Portugal” e fazer “uma correta identifi-cação de IBAs marinhas para muitas áreas dentro da zEE Portuguesa.” Contudo, referiu algumas limitações como o facto do tamanho da ave marinha poder restringir a utilização de data-loggers e o tamanho da amostragem ter de ser considerável.

O lINCE-IbérICO E O AbutrE-PrEtOSendo o Lince-Ibérico e o abutre-negro duas espécies em vias de extinção em Portugal, foi posto em prática o projeto Life Habital Lince Abutre. Este projeto tem como objetivo con-

Penafiel aposta na florestaO objetivo é promover um maior envolvimen-to da população com a Floresta, incentivando as pessoas a conhecerem e a identificarem as diferentes árvores existentes no conce-lho. “O projeto «Roteiro das Árvores Notá-veis de Penafiel» pretende contribuir para a conservação do património arbóreo, dinami-zando um movimento cívico, de âmbito mu-nicipal, através do qual se irão identificar os exemplares arbóreos existentes no concelho que, atendendo ao seu porte, idade, rarida-de, entre outros aspetos, poderão integrar o «Roteiro das Árvores Notáveis de Penafiel», podendo mesmo algumas delas vir a ser pro-postas para classificação como Árvores de Interesse Público”, afirma a Câmara Munici-

pal de Penafiel.O concelho de Penafiel tem mais de 50% de área florestal, sendo considerado o segundo concelho com maior tecido florestal na região do Vale do Sousa. “Com esta iniciativa, a Câmara Municipal de Penafiel pretende dar visibilidade a estes Mo-numentos Vivos, conferindo-lhes um estatu-to de proteção com vista à sua valorização e preservação, garantindo assim a salvaguarda de exemplares únicos existentes no Concelho”, diz Antonino de Sousa, Vereador da Proteção da Floresta. A iniciativa vai decorrer durante todo o ano de 2011.

www.cm-penafiel.pt

O município de Penafiel apresentou, no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Floresta, um projeto inovador denominado “Roteiro das Árvores Notáveis de Penafiel”.

PENAFIEL

MUNICÍPIOS

tribuir para a melhoria das condições de so-brevivência destas duas espécies, estabelecer protocolos de colaboração com entidades lo-cais de modo a preservar os habitats e sensi-bilizar e envolver a sociedade na conservação da Natureza e da Biodiversidade. Segundo Nuno Curado, da Liga para a Proteção da Na-tureza, neste estudo recorreu-se a um SIg so-bretudo para caracterizar e avaliar as áreas da Rede Natura 2000, para a possível implemen-tação de medidas de conservação do habitat adequado a estas espécies. Através da análise de vários dados foi possível elaborar diferen-tes mapas onde se cruzaram variáveis consi-deradas fundamentais para a sobrevivência do Lince-Ibérico e do Abutre-Preto. No caso do Lince-Ibérico criaram-se, inclusivé, mapas onde é possível identificar zonas prioritárias para a atuação desta espécie.

Seguir uma espécie animal e tentar perceber qual o seu habitat e comportamentos, tornou-se mais eficaz desde a utilização do Sistemas de Informação geográfica, constituindo uma importante ferramenta na gestão e conservação da biodiversidade.No 9º Encontro de Utilizadores da Esri Portugal, que decorreu no início de março em Lisboa, foram dados a conhecer alguns casos onde, sem os SIg, não seria possível fazer estudos tão completos e precisos sobre determinadas espécies.

©ANA M

EIRINH

OS/SPEA

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LEgISLAçãO - gESTãO E ECONOMIA

No âmbito das obrigações emergentes do regime jurídico da responsabilidade ambien-tal e tendo em conta a experiência que se vai acumulando desde a sua entrada em vigor em agosto de 2008, particularmente desde 1 de janeiro de 2010, data em que é legalmen-te exigível a garantia financeira, suscitam-se questões de ordem prática que vale a pena ponderar.De acordo com este regime jurídico, um ope-rador cuja atividade se enquadre numa das categorias enunciadas no anexo III do DL nº 147/2008 de 29 de julho, alterada pelo DL nº 245/2009 de 22 de setembro, está legalmente obrigado a constituir uma garantia financeira. Conhecendo esta obrigação o operador cons-titui uma garantia financeira, com o propó-sito de cumprir com este requisito legal e evitar a aplicação de uma contraordenação ambiental muito grave, cujo valor da coima é de elevada quantia, além das sanções aces-sórias a que pode estar sujeito, por vezes mais penalizantes. Mas nos tempos que correm, este operador movimenta-se no mercado financeiro, moti-vado pela oferta mais barata, arriscando-se na omissão de informação sobre os aspetos relevantes respeitantes aos equipamentos, infraestruturas e processos da atividade ou ocultando o passado recente de danos am-bientais, efetivamente ocorridos.Das largas centenas de operadores abrangi-

dos pelo anexo III, muitos deles contrataram uma garantia financeira, mas poucos realiza-ram um Estudo justificativo que fundamente, o valor limite e as condições contratuais acor-dadas para o efeito.A questão tantas vezes colocada, sobre o valor mínimo de garantia financeira é se ele corresponde, ou não, ao cumprimento desta obrigação legal por parte dos operadores?A garantia financeira é legalmente exigida, mas será que quaisquer 100 Euros servem para cumprir a lei? Em termos formais pare-ce que sim, se aplicarmos a lei literalmente e atendermos à lógica do sistema binário, ou o operador tem ou não tem, a garantia finan-ceira.Mas em termos substanciais e atendendo à ratio legis do diploma, não faz sentido este condicionamento preso à letra da lei e limita-do a um sistema simplificado de averiguação do cumprimento.O que realmente Importa é que a garantia financeira cubra as despesas necessárias à reparação e prevenção no caso de ocorrer um dano ou ameaça de dano ambiental. Com efeito, o objetivo deste regime é garantir a solvência dos operadores no caso de suce-derem estas hipóteses, respondendo em pri-meira linha às garantias contratadas, seguido do património do operador, dos administra-dores, gerentes e cargos dirigentes e última alternativa o pagamento das despesas pela autoridade competente, via FIA, Fundo de In-tervenção Ambiental.

GARANTIAS PREVISTAS NA lEIA lei faculta quatro tipos de garantia, embora se recorra atualmente a três: a constituição de fundos próprios; a garantia bancária e o seguro. Os fundos ambientais embora previs-tos, não têm ainda existência e portanto não constituem para o operador, uma alternativa no imediato.Comecemos pela primeira garantia, esta exige o que hoje em dia é escasso nas or-

ganizações: dinheiro à parte reservado para custear as despesas necessárias em virtude destas novas exigências. Estes fundos pró-prios constituídos, devem ser analisados cri-teriosamente sobre se atendem às caracte-rísticas exigidas no nº 3 do artigo 22º, deste regime jurídico.A garantia bancária, por seu turno, exige por contrapartida uma garantia ao operador, sen-do difícil suportar mais uma, das muitas ne-gociadas, para os mais diversificados fins.A vantagem das duas primeiras, é não sus-citarem discussão na operacionalização que tem de ser imediata, caso ocorra o dano ou ameaça.A terceira é a mais habitual: o seguro. Para esta garantia é fundamental que o operador conheça quais os tipos de danos, qual a sua probabilidade de ocorrência e que abrangên-cia poderão assumir. Só após a definição des-te quadro, faz sentido contratar um seguro, negociando criteriosamente, não só o valor limite máximo de cobertura mas, também, as condições que permitem a utilização desse valor, a favor do segurado.Os aspetos que se relacionam com exclu-sões, coberturas contratadas, franquias, sub-limites e prémios negociados, assumem uma relevância absoluta numa organização que prima por uma gestão preventiva em matéria de responsabilidade para assumir no futuro.

Sofia Sá Jurista, Assistente de investigação CESUR – Centro de Sistemas Urbanos e RegionaisCentro de Estudos do Instituto Superior Té[email protected]

A operacionalização do Regime jurídico da Responsabilidade Ambiental

Rompimento de telas utilizadas na lagunagem.

Poluição da linha de água e no solo por descarga na linha de água e por infiltração.

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LEgISLAçãO - gESTãO E ECONOMIA

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ESTUDO DE AVAlIAÇÃO E CálCUlO DE RISCOPara a obtenção dos elementos mencionados, muitos, confundem o valor de um “Estudo de Avaliação e Cálculo do Risco”, com o preenchi-mento de um inquérito efetuado por uma segu-radora que serve de base, à apólice negociada.É fundamental pensar neste Estudo como o instrumento que vai limitar a responsabilidade do operador ao que efetivamente existia, em termos das componentes ambientais afeta-das: água, solo, espécies e habitats, e não mais do que isso. Em adicional, poderá ainda servir

como documento instrutório a um futuro pro-cesso ou litígio de exclusão da responsabilidade. Configura-se, pois, importante a realização deste Estudo e o acompanhamento de um apoio jurídico na contratação da garantia fi-nanceira mais adequada ao caso concreto. Para isso, deve ser ponderada a entidade que vai desenvolver este trabalho, nomeadamen-te a sua experiência, a equipa envolvida e so-bretudo saber que no momento necessário, mas que ninguém o deseja, o operador esteja salvaguardado.

Rebentamento de condutas.

Foi aprovado, no início de março em Con-selho de Ministros, um diploma que prevê a alteração crimes de dano contra a natu-reza, de poluição e tipifica um novo crime de atividade perigosa para o Ambiente, assegurando proteção penal contra com-portamentos que prejudiquem o Ambiente e poluam o mar. Segundo o comunicado do Conselho de Ministros este diploma, a ser aceite pela Assembleia de República, “transpõe duas diretivas comunitárias: uma relativa à pro-teção do ambiente através do direito penal

e outra relativa à poluição causada por navios.”O objetivo da alteração é simples: “assegurar que em Portugal exista uma proteção penal contra comportamentos que prejudiquem ou ponham em perigo o ambiente e contra a po-luição marítima causada por navios idêntica à vigente nos demais Estados-Membros da UE.”A proposta vem modificar as atuais previsões dos crimes contra a natureza, tornando-os mais abrangentes e eficazes. A novidade está na previsão de uno novo tipo de crime am-biental, “que abrange atividades como a trans-ferência ilegal de resíduos ou a produção, co-

mércio ou utilização ilegais de substâncias que empobreçam a camada de ozono.”Além disso, foi também feita uma alteração ao tipo incriminador do incêndio florestal, passan-do a adotar-se, na definição do tipo do crime, a terminologia adotada na legislação da área flo-restal. Desta forma, passam a ser abrangidos, os incêndios de matos que, desde 2007, são responsáveis por mais de 60% da área total ar-dida, por revelarem os mesmos merecimentos e necessidade de pena idêntica a outros com-portamentos já incluídos no conceito de crime de incêndio florestal.

Alteração dos crimes ambientais

CE disponibiliza mais de 260M€ para projetos ambientais

A Comissão Europeia apelou à apresentação de propostas de projetos ambientais, no âm-bito do programa LIFE +. Este ano estarão dis-poníveis 267 milhões de euros para projetos nas três componentes do programa: Natureza e Biodiversidade; Política e Governação Am-biental; Informação e Comunicação. O período oficial de candidaturas abre a 15 de julho.Relativamente a projetos da componente LIFE + Natureza e Biodiversidade podem ser apre-sentadas propostas que tenham em vista me-lhorar o estado de conservação das espécies e habitats. Neste domínio prevêem-se projetos que implementem diretivas europeias para as Aves e Habitats, Rede Natura 2000 e ajudem a contribuir para meta europeia de combate à perda da biodiversidade. A taxa de cofinancia-

mento máxima é de 75% para espécies e ha-bitats prioritários, mas normalmente fica-se pelos 50%.Relativamente à componente LIFE + Política e governação Ambiental, a CE dá prioridade

a projetos que contribuam para o desenvol-vimento de políticas, ideias, tecnologias, mé-todos e instrumentos em diferentes áreas do ambiente, tais como, ar, água, solo, clima e agricultura. Estão, também, incluídos pro-jetos que incluam a melhoria da implemen-tação de legislações europeias. Neste caso, as propostas podem ser financiadas até um total de 50%.No caso do LIFE + Informação e Comunicação, serão aceites projetos que tenham a ver com a comunicação, especialmente, campanhas de sensibilização para a proteção da natureza, proteção ambiental, conservação da biodiver-sidade, bem como, projetos relacionados com a prevenção de incêndios florestais (sensibili-zação, formação especial).

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MATÉRIAS-PRIMAS | RESÍDUOS

uE vai proibir a utilização de 6 substâncias químicas

Um total de 6 substâncias consideradas perigosas vão ser banidas pela União Europeia nos pró-ximos 3 a 5 anos. A menos que tenham uma autorização especial, todas as empresas devem deixar de utilizar as substâncias identificadas como cancerígenas, tóxicas para a reprodução ou que persistem no ambiente e se acumulam nos organismos vivos. A decisão da Comissão surge na sequência do sucesso da primeira fase de registo e notificação de produtos químicos. Na lista de substâncias a eliminar constam: 5-ter-butil-2, 4,6-trinito-m-xileno (almíscar xileno), 4,4 ‘diaminodifenilmetano (MDA), Hexabromociclododecano (HBCDD), bis (2-ethylexyl) ftalato (DEHP), ftalato butil benzílico (BBP) e dibutil ftalato (DBP). “Os operadores que pretendem vender ou utilizam essas substâncias deverão demonstrar que as medidas de segurança necessárias foram tomadas para controlar adequadamente os riscos, ou que os benefícios para a economia e a sociedade superam os riscos”, diz a CE em comunica-do. No caso de existirem alternativas fiáveis às substâncias, estas devem ser apresentadas, tal como um prazo para a substituição das mesmas.

resíduos depositados em S. Pedro da Cova têm de ser removidosA decisão surge na sequência dos resultados de um estudo, encomendado pela CCDR-N (Comissão de Coordenação e Desenvolvimen-to Regional do Norte), ao LNEC, sobre os re-síduos provenientes da extinta Siderurgia Na-cional em Matosinhos.A Presidência da CCDR-N refere a necessida-de de “transferência para um centro de trata-mento e valorização de resíduos perigosos e a requalificação e proteção ambiental do lugar do aterro”. O documento, que foi tornado público no mês de março, determina, ainda, “a comunicação imediata dos resultados e conclusões deste

estudo às autoridades nacionais, regionais e locais competentes” e “a monitorização am-biental e piezométrica das águas subterrâne-as na área envolvente do depósito”. Contudo, ainda não foi determinada a con-taminação da água dos poços existentes no local, defendendo a CCDR-N que o espaço se encontra “coberto em 100 por cento pela rede pública de abastecimento”. A CCDR-N teme ainda que “não seja possível eliminar totalmente os riscos” do território onde se encontram os resíduos perigosos.

www.ccdr-n.pt

A CCDR-N determinou a retirada integral dos resíduos depositados em aterro nas antigas minas de S. Pedro da Cova, por serem considerados perigosos.

S. PEDRO DA COVA

MUNICÍPIOS

A decisão da Comissão surge na sequência do

sucesso da primeira fase de registo

e notificação de produtos químicos.

Projeto ”Resíduos Menos”A AEP lançou, já há mais de um ano, o proje-to “Resíduos Menos” que tem como objetivo potenciar a competitividade das empresas, especialmente PME, através de um conjunto integrado de ações que pretendem sensibili-zar os empresários para as vantagens de uma gestão adequada de resíduos. O projeto está a ser implementado no Norte, Centro e Alentejo e termina em dezembro de 2011.“A implementação da estratégia da produ-ção limpa na gestão dos resíduos produzidos nas empresas, torna-as mais ecoeficientes e tem como outputs gerar benefícios em ter-mos económicos, ambientais e sociais - as

três grandes vertentes do Desenvolvimento Sustentável”, refere a AEP no site oficial do projeto.Em termos práticos, a AEP pretende: inverter a relação direta entre o crescimento do Pro-duto Interno Bruto e a Produção de Resíduos; incrementar a prevenção e redução da produ-ção de resíduos; potenciar a valorização, a reu-tilização e a reciclagem dos bens de consumo e outros; aumentar as taxas de valorização dos resíduos; ativar o intercâmbio e contacto entre empresas produtoras e gestoras de re-síduos; fomentar e incentivar o mercado dos materiais reciclados e dos produtos ambien-

talmente corretos; evitar a deposição de resí-duos valorizáveis em aterros.Para isso, a AEP está a promover um Ciclo de Conferências e Seminários patrocinados por um Fórum para a Sustentabilidade em PME onde serão debatidas questões relacionadas com a problemática da Gestão de Resíduos, pondo a tónica no “Resíduo como um valor”. Foi também criado um website para gerenciar todo o projeto e partilhar informação. Ao mes-mo tempo, a AEP pretende editar publicações sobre gestão de Resíduos.

www.aeportugal.pt

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RESÍDUOS | SOLOS

Papel reciclado como material de construção

Cientistas americanos e euro-peus criaram um mapa-mun-do sobre a permeabilidade da superfície do solo, a partir de dados de rocha que compõem o solo.Esta nova cartografia poderá melhorar as práticas de ges-tão do consumo de água e a modelação climática. Os cien-tistas americanos da Univer-sidade de British Columbia em

parceria com os investigadores da US geological Survey, Universidade de Hamburgo e Universidade de Utrecht, basearam-se em dados dos tipos de rochas das várias regiões do globo. Desta forma, conseguiram cartografar, pela primeira vez, a permeabilidade do solo até 100 metros de profundidade.“Usando os nossos dados e o mapa de permeabilidade podemos ago-ra avaliar a sustentabilidade dos recursos de água subterrâneos, bem como o seu impacto no clima no passado, presente e futuro, à esca-la global”, diz Tom gleeson, primeiro autor do artigo publicado sobre o mapa. Até agora existiam apenas mapas de permeabilidade de super-fície do solo relativos a áreas restritas e que avaliavam somente 1-2 metros de solos mais superficiais.

PUB.Primeiro mapa mundial de

permeabilidade da superfície do solo

Foi criado um novo material de construção que tem como base papel reciclado e cartão. Desenvolvido na Universidade Politécnica da Catalunha, pólo de Terrassa, este material criado através da biotecnologia, tem como objetivo substituir os materiais tradicionais nos setores dos transportes, construção e embalagens.Denominado de Biprocel, este material pre-tende substituir, a médio prazo, o gesso uti-lizado na indústria da construção, poliestireno expandido utilizado para o transporte de gé-neros alimentícios e medicamentos e a resi-na usada para painéis interiores de veículos a motor.“No futuro próximo haverá uma obrigação legal para o setor da construção (tanto para novas construções como reabilitações), o se-tor dos transportes e logística de usar 20% de materiais reciclados”, diz Margarita Calafell, investigadora da UCP em Terrassa.

O Biprocel é obtido através de um processo biotecnológico para a reciclagem de resíduos de celulose como papel, cartão, madeira e tra-pos. Este material, que já se encontra paten-teado, é à prova de fogo, impermeável, resis-tente a choques, luz e proporciona isolamento

térmico e acústico.A produção deste material, já patenteado, co-meçou através de uma colaboração com uma empresa de artes gráficas que precisava de obter a certificação ISO e para isso tinha de melhorar a sua gestão de resíduos. “Começa-mos a trabalhar na manipulação de resíduos de papel até chegarmos aos níveis de me-lhoria exigidos pela empresa”, explica Calafell. Desta forma, a investigadora percebeu as potencialidades daqueles resíduos e que este método poderia ser melhorado, começando um processo de reciclagem, através da biotec-nologia. “A biotecnologia não é mais do que um tratamento de produtos similar à ação da na-tureza, mas com intervenção humana”, refere Margarita Calafell.O novo material pode vir substituir, por exemplo, painéis de gesso, divisórias de iso-lamento, placas de isolamento acústico ou intradorsos.

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PESSOAS E EMPRESAS

“(as energias renováveis) o setor que poderá

voltar a dar à Europa a liderança perdida e

que permitirá o suporte ao crescimento nas próximas décadas.

“Os dias da energia barata e abundante terminaram (...)”Apesar de não ser formado na área da Energia, quando conheceu o setor não lhe passou despercebido, agarrando todas as oportunidades que este tinha para lhe oferecer. Com uma forte experiência na gestão de negócios energéticos, Miguel Matias, criou a primeira empresa ESCO em Portugal, a Self Energy.

Miguel MatiasFundador e CEO do grupo Self Energy

Degrau a degrauNasci em Moçambique. Completei a licencia-tura em Informática pela Faculdade de Ciên-cias de Lisboa em 1992, ano em que entrei na Andersen Consulting (agora Accenture) e onde atingi a posição de Manager no setor de Uti-lities em 1996. Em 1998 fui desafiado para o início da atividade da Deloitte Consulting em Portugal, onde fiquei com a responsabilidade no setor de Energia. Em 2000 a Galp Energia convidou-me para dirigir a unidade de Inova-ção e eBusiness a nível global. Em alguns dos casos fui administrador e CEO de empresas do Grupo Galp Energia, e tive a oportunidade de concluir formação executiva no INSEAD e um executive MBA na AESE/IESE. Em junho de 2006 decidi sair da Galp e criar a Self Energy, a primeira empresa de Serviços de Energia de Portugal, com presença em Portugal, UK, Mo-çambique e Espanha.

Aústria e AlemanhaSão países-modelo. Em Eficiência a Áustria, devido ao esforço de combinar a utilização in-dustrial e agrícola com a produção de energia e aquecimento para vilas e cidades. Na área das Energias Renováveis penso que a Alemanha é um caso paradigmático pois conseguiu aliar a utilização em larga escala de energias reno-váveis, de forma descentralizada, criando em-prego e resiliência na rede elétrica, ao mesmo tempo que se impunha como líder tecnológico no setor, particularmente na área da energia solar aliando políticas públicas efetivas com suporte à inovação e internacionalização des-tas empresas.

O que o preocupa?O excessivo peso da Energia Nuclear na Eu-

ropa e a aposta continuada nesse setor que retira capacidade de financiamento e atuação no setor da eficiência energética e das renová-veis, ao mesmo tempo que mantém em alerta a possibilidade de acidentes nucleares com graves repercussões como o que estamos a assistir agora no Japão. Outra preocupação é que não existam com-promissos “binding” para o aumento de 20% de eficiência energética dos países, com pe-nalizações para quem não o consiga até 2020, quando felizmente para atingir 20% de reno-váveis e reduzir de 20% das emissões de CO2 já existem. O objetivo 20-20-20 está assim incompleto, prejudicando o esforço de eficiên-cia e poupança que deveria ser a primeira das tarefas a empreender na Europa.

O maior desejoQue o investimento previsto para reforçar os Programas Nucleares fosse redirecionado para as Energias Renováveis e para a Efici-ência Energética, não só do ponto de vista de produção descentralizada que aumenta a ca-pacidade de resposta em alturas de catástro-fe mas, também, na criação de uma liderança tecnológica efetiva no setor, exportável para os países em desenvolvimento. O setor que poderá voltar a dar à Europa a liderança per-dida e que permitirá o suporte ao crescimento nas próximas décadas.

A longo prazo O grande desafio que temos pela frente é o de eletrificar de forma sustentável os países em desenvolvimento, utilizando o novo paradig-ma da produção de base local com recurso a energias renováveis, como a solar, mini-hídri-ca, biomassa ou eólica. Outro grande desafio

é o de superar o desafio que as alterações climáticas colocarão, em especial no setor da Energia. Esse desafio é global e teremos de ser capazes de, já na África do Sul este ano, em nova Conferência do Clima, desenhar um compromisso global que permita desenhar um novo protocolo de “Kyoto”, onde países como EUA, China, Brasil e Índia terão de par-ticipar ativamente.

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PESSOAS E EMPRESAS

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O que é a AQUA2R?É uma empresa de Sistemas MBR e sistemas de membranas, nomeadamente projeto, en-genharia e a fabricação de sistemas de mem-branas. A evolução do negócio tem sido bas-tante favorável desde a formação da empresa e tem apresentado valores de crescimento na ordem dos 300%, sendo que é expectável um crescimento em 2011 para os 500.000€.

Próximos passosAtendendo que 2011 será um ano de “revo-lução” tecnológica ao nível dos produtos lan-çados no mercado pela empresa têm como objetivo a liderança de mercado em sistemas de membranas em Portugal. A internacionali-zação é um dos pontos que estão a considerar para 2011 tendo em conta os pedidos de Es-panha, Itália e PALOP que lhes têm chegado. Atendendo ao investimento necessário para este efeito devem recorrer a um financia-mento do QREN para facilitar este processo. Esperam, até 2015, estar representados na Dinamarca, Suécia, Noruega assim como em alguns países do médio oriente (Emirados Árabes Unidos, Omã, Qatar, Bahrein) visto serem países despertos para a tecnologia de membranas.

Quatro anos de existência pode parecer pouco mas a verdade é que esta empresa, especializada em sistemas de membranas, já começa a dar frutos no mercado português, atingindo valores de crescimento na ordem dos 300%. A AQUA2R é gerida por uma equipa jovem e multidisciplinar, onde se complementa a área da engenharia com a da microbiologia. Contando com a execução 4 projetos neste momento, a ambição dos responsáveis não fica por aqui, estando abertos a parcerias com empresas para o concurso de Viseu Sul e remodelação da ETA de Vale da Pedra.

Aposta forte em sistemas de membranas em Portugal

Este ano vão lançarLinha de sistemas de membrana; Linha de ultrapurificação; sistemas de osmose inver-sa para tratamento de efluentes, águas de consumo e dessalinização; ETAR’S compactas AQUA-Bio para efluentes domésticos. Têm, também, desenvolvidos sistemas móveis de tratamento de águas de consumo e águas re-siduais para situações de emergência e zonas desprovidas de tratamento de águas que irão ser lançados este ano.

Destacam...No que diz respeito à implantação de sistemas MBR destacam um sistema único em Portu-gal para tratamento de efluentes vinícolas. Ao nível de projeto encontram-se a trabalhar em 2 projetos, ainda em fase de dimensionamen-to para implantação, em lixiviados e indústria.

Projetos em mãosNeste momento e desde que o ano de 2011 se iniciou, já têm em carteira 4 novos projetos e estando a finalizar a implantação de outros 3 na área de efluentes vinícolas.

B.I. AQUA2RNascimento julho de 2007Localização Canelas, Vila Nova de GaiaFoco Sistemas MBR e sistemas de membranasEquipa Rui Oliveira, André Meireles e Miguel Magalhães

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EvENToS

EXPOSÓLIDOS 2011

vai decorrer de 14 a 16 de abril, no Porto, a feira de tecnologia e processamento de sóli-dos - EXPoSÓLIDoS. Pela primeira vez em Portugal, esta feira especializada conta com o apoio da AEP- Associação Empresarial de Portugal. Além da exposição, vão decorrer também umas jornadas técnicas.“Nesta primeira edição estima-se uma participação de 70 expositores de 9 países (200 marcas) e alcançar 3000 visitantes profissionais (90% portugueses)”, refere a organiza-ção. Na feira estarão expostos vários tipos de produtos e serviços, tais como: armaze-namento e transbordo; Equipas responsáveis pela captação; Manuseamento de grandes volumes de produtos sólidos; Materiais resistentes ao desgaste; Revestimentos, antia-derentes e anticorrosão; etc.A EXPoSÓLIDoS destina-se a profissionais dos setores agrícola, alimentação, borracha e plástico, cerâmica, construção, cosmética, detergentes, farmacêutico, gorduras, sabão, entre outros.www.exposolidos.com

CALENDÁRIO DE EVENTOS

As informações constantes deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, contactar a organização.

Evento Temática Local Data Informações

Exposólidos Feira de tecnologia e processamento Porto 14 a 16 PRoFEI SL de sólidos Portugal abril www.exposolidos.com 2011WassEr BErlin 2011 Feira de tratamento de água e Berlim 2 a 5 Messe Berlin águas residuais Alemanha maio www.wasser-berlin.de 2011radio 2011 Proteção Radiológica Recife 17 a 21 ABENDI, SBPR e SPPCR Brasil maio www.sbpr.org.br/IICongresso.asp 2011 amBiEnErgia Feira internacional de ambiente, energia Porto 27 a 30 EXPoNoR e sustentabilidade Portugal maio www.ambinergia.exponor.pt 2011 CarBonExpo Mercado e tecnologias de carbono Barcelona 1 a 3 IETA, World Bank e Fira de Barcelona Espanha junho www.carbonexpo.com 2011aCQUaliVE Expo Feira de energia, proteção ambiental, Lisboa 2 a 5 FIL água, resíduos e irrigação Portugal junho www.fil.pt 201119th EUropEan Biomass Biomassa Berlim 6 a 9 WIP-Renewable EnergiesConfErEnCE and ExhiBition Alemanha junho www.conference-biomass.com 2011WastEs Resíduos - soluções, tratamentos e Guimarães 12 a 14 CvR-Centro para a valorização de Resíduos oportunidades Portugal setembro www.wastes2011.org 2011

vai ter lugar no dia 4 de maio, em Lisboa, o seminário Gestão da água. organizado pela Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias Ambientais (APEMETA), este seminário vai centrar-se nos vários sistemas de gestão de água até ao ba-lanço do PEASAR II. Dentro dos temas em foco, destacam-se: Balanço do PEAASAR

II e perspetivas para o setor da água; Inves-timentos do setor da água. Balanço e novas perspetivas; Internacionalização do setor da água; o alargamento da intervenção da ER-SAR. Qualidade do serviço de águas; Gestão de lamas de ETA e ETARS; Sistemas de gestão integrada. Sistemas em Alta; Eficiência no tra-tamento de águas residuais.

o seminário destina-se a profissionais dos setores do Ambiente, Água, Construção, Indústria e Serviços, Associações empresa-riais, Gestores e Técnicos da Administração Pública Central, Regional e Local, Docentes, Investigadores e Estudantes.

www.apemeta.pt

Gestão da água

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estante | ecocybernews

InDÚstrIa e aMbIente 67 MARÇO/ABRIL 2011

Edifícios Existentes

o livro “edifícios existentes – Medidas de Melhoria de Desempenho energético e da Qualidade do ar Interior” foi lançado pela aDene e pretende ser um guia de soluções a nível da construção, tendo como objetivo a eficiência energética. ao mesmo tempo, são também definidos níveis de qualidade das medidas de melhoria aconselhadas, quantificando os benefícios técnicos e econó-micos. “este guia ganha especial relevância, uma vez que um terço do consumo energético é feito nos edifícios. Muitos dos existentes em Portugal necessitam de intervenções, a nível de habita-bilidade, qualidade térmica e energética. esta publicação pretende ser um importante aliado dos peritos na emissão do certificado energético dos edifícios”, refere a aDene.

Autores: Vasco P. Freitas, Ana Sofia Guimarães, Cláudia Ferreira e Sandro Alves · ISBN: 9789728646165 · Editora: ADENE/Verlag Dashöfer · Número de páginas: 130 · Data de Edição: 2011 · Preço: 33,34 € · à venda em www.engebook.com

PUb.

História dos recursos hídricos do norte

Intitulado “Das hidráulicas aos recursos hídricos: história, sociedade e saber”, o livro da autoria de Álvaro campelo reúne 125 anos de história da gestão dos recursos hídricos da região norte. a obra foi lançada pela administração da região Hidrográfica do norte (arH norte) e pela Univer-sidade Fernando Pessoa em fevereiro e resulta de um estudo, levado a cabo pelo autor, ao acervo dos organismos públicos que antecederam a arH do norte. rosário norton, vice-presidente da arH do norte, referiu: quando a comissão Instaladora deste instituto público entrou em funções, em 2007, demo-nos conta que tínhamos um acervo documental de valor incalculável, quer no Porto, quer nos vários pólos.” numa primeira fase, a análise do acervo deu lugar a uma exposição que decorreu entre novembro de 2008 e março de 2009 em Viana do castelo. Posteriormente surgiu a ideia de compilar a história em livro. “É uma espécie de revelação à comunidade científica da riqueza que as antigas hidráulicas têm de documentos e artefactos”, diz Álvaro campelo sobre o livro. Futuramente, o autor refere que seria importante criar um arquivo digital que permita um estudo aprofundado, numa perspetiva histórica e antropológica.

Autor: Álvaro Campelo · ISBN: 9789899709607 · Editora: ARH Norte · Mais informações em www.arhnorte.pt

www.smartwatt.pt

a empresa de serviços energéticos sMartwatt criou uma plataforma online onde disponibili-za, sem qualquer custo, previsões de produção de energia eólica, solar e mini-hídrica. neste site vai ser possível ver as previsões horárias dos últimos dias e a produção diária nacional para os seis dias seguintes, relativamente aos serviços de previsão referidos. segundo a sMartwatt, o próximo passo será a “preparação de novos serviços na vertente smartGrid e Dinamic reponse com o objetivo de combinar serviços de previsão de consumos, previsão de preços e previsão de produção renovável internas.”

Plataforma Web para energias renováveis

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opINIão

O setor da energia defronta-se com um período de profunda e imprevisível mudança nas próximas décadas, com avanços mais radicais do que os alguma vez vistos desde os tempos de Edison. Alterações de regulação, fontes de energia renováveis, regulação

de gases de efeito de estufa, geração distribuída, esforços acrescidos de conservação de energia e sistemas de energia inteligentes (Smart Energy Systems) estão a emergir como catalizadores e impulsionadores de alterações significativas. Se adicionarmos a isto a perspetiva de uma alteração de paradigma relativamente a fontes de energia à medida que outros setores reagem aos imperativos relacionados com gases de efeito de estufa, especialmente no setor dos transportes baseados no petróleo, o setor de energia de amanhã irá ser muito diferente daquilo que conhecemos hoje.

Um elemento transversal a estas mudanças é a preocupação com a eficiência na produção, transporte e utilização da energia. Neste contexto, a nossa experiência de mais de 80 anos e presença nos 5 continentes proporciona uma visão priveligiada das realidades e iniciativas a nível global. Se na Europa, por um lado, assistimos a preocupações com alterações climáticas, integração de fontes de energias renováveis na rede, geração distribuída, segurança de abastecimento e envelhecimento de ativos, na Ásia, por outro, encontramos desafios com eletrificação das regiões, modernização dos sistemas e gestão do crescimento exponencial da procura. Se na América do Sul, nos debatemos com problemas de redução de percas na rede e melhorias na robustez, na América do Norte e oceania os desafios são em grande medida de redução e gestão dos picos de carga e adequada gestão da procura (demand response).

Na Alemanha, por exemplo, diversos municípios estão a desenvolver planos para atingirem o objetivo de cidades sustentáveis e eficientes no período 2035-2050. Isto passa por análises da situação atual, determinação de potenciais poupanças, determinação de potenciais fontes de energia na região e desenvolvimento de cenários e de estratégias de implementação, tendo em conta os planos de desenvolvimento locais, as fontes de energia existentes e sua conversão e as indústrias, serviços e residências presentes na região.

De referir que neste contexto deve sempre ter-se em consideração a eficiência energética nas suas vertentes eletricidade, gás e calor. Em Hoogkerk, um subúrbio de Groningen, na Holanda, começou a operar oficialmente uma rede integrada de eletricidade, gás e calor que se autodenomina de powerMatching City. A rede inclui 25 casas interligadas, contendo produção combinada de calor e eletricidade altamente eficiente a gás natural, bombas de calor híbridas (bombas de calor ar-água e caldeiras de condensação), contadores inteligentes em todas as casas, painéis fotovoltaicos, 2MW de energia eólica, equipamento residencial (máquinas de lavar) dotado de “inteligência”, carros elétricos, armazenamento de energia em baterias e micro-turbinas a gás.

Também na indústria assistimos a diversas preocupações pela introdução de equipamentos mais eficientes, por exemplo com variadores de velocidade e/ou mais adequado controlo de emissões e programas de gestão de energia, ou com a otimização do desempenho de centrais de biogas, biomassa e valorização de resíduos.

o desafio da eficiência passa assim por fazer uma gestão inteligente da energia e não pelo uso indiscriminado da palavra “smart”. Quem está no setor há alguns anos sabe que as redes de transporte já têm “smart” há muito tempo, que a automação distribuída já vai dando os seus passos e que integrar na rede energias renováveis necessita de inteligência.

Mais do que criar sistemas de energia inteligentes, é preciso gerir a energia com inteligência

Nuno de Souza e SilvaDiretor Geral

KEMA

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