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MAURICIO MARTORELLI GALERA INDUSTRIALIZAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA (RML): A AÇÃO SINDICAL E OS REFLEXOS NAS CONDIÇOES DE EMPREGO E RENDA DOS TRABALHADORES LONDRINA - PARANÁ 2008

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MAURICIO MARTORELLI GALERA

INDUSTRIALIZAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA (RML): A AÇÃO SINDICAL E OS REFLEXOS NAS CONDIÇOES DE

EMPREGO E RENDA DOS TRABALHADORES

LONDRINA - PARANÁ 2008

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MAURICIO MARTORELLI GALERA

INDUSTRIALIZAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA (RML): A AÇÃO SINDICAL E OS REFLEXOS NAS CONDIÇOES DE

EMPREGO E RENDA DOS TRABALHADORES

Monografia apresentada ao curso de Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito a obtenção do titulo de Bacharel em Geografia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tânia Maria Fresca

LONDRINA – PARANÁ

2008

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MAURICIO MARTORELLI GALERA

INDUSTRIALIZAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA (RML): A AÇÃO SINDICAL E OS REFLEXOS NAS CONDIÇOES DE

EMPREGO E RENDA DOS TRABALHADORES

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof.ª Dr.ª Tânia Maria Fresca (orientadora)

Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto

Prof.ª Msc. Margarida de Cássia Campos

Londrina, 08 de dezembro de 2008.

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Dedico este trabalho a Silvia, pela dedicação, amor e companheirismo

ao longo desses anos, aos meus pais, Ângela e Junior pelo apoio

durante minha jornada acadêmica e aos meus grandes amigos de

graduação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Prof.ª Dr.ª Tânia Maria Fresca pela orientação e enriquecimento intelectual durante os anos de nossa convivência;

A minha sogra Zezé, pelos dias dedicados à revisão gramatical e aprimoramento deste trabalho;

A minha família, meu pai por aquele ano em que vivemos em São Paulo, e minha mãe em especial, pelo carinho, apoio e confiança na minha vocação pela Geografia;

A Silvia que nas alegrias e dificuldades esteve comigo, sendo sempre essa pessoa maravilhosa de quem eu me orgulho tanto, e que se fez parte integrante de todos os momentos de minha graduação;

Aos amigos Alan, Fabio (Sherman), Eliseu (Capão) e Ferdinando (Mineiro) pela amizade, pelas conversas no calçadão após o almoço, os jogos de tênis e WE;

Aos docentes da Universidade Estadual de Londrina que buscaram contribuir da melhor maneira possível para minha evolução acadêmica.

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“Aceitar como natural, inevitável e definitiva uma ordem que é histórica supõe quebra da capacidade de resistir e adesão a

visões de mundo que na verdade, interessam a determinadas classes”.

EDILSON JOSÉ GRACIOLLI

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GALERA, M. M. Industrialização da Região Metropolitana de Londrina (RML): a ação sindical e os reflexos nas condições de emprego e renda dos trabalhadores. 2008. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

RESUMO

A política neoliberal implantada no Brasil durante a década de 1990 causou intensas mudanças no cenário industrial brasileiro, a partir da abertura comercial iniciaram-se os processos de desconcentração industrial, principalmente da Região Metropolitana de São Paulo. Desta maneira, a região Sul se destacou no recebimento de empresas que transferiram sua planta industrial, especialmente para o estado do Paraná. Várias indústrias transferiram-se para cidades do norte paranaense, principalmente para a Região Metropolitana de Londrina. Por meio de levantamentos realizados juntos aos principais sindicatos de trabalhadores da Região Metropolitana de Londrina, obteve-se um panorama da atuação destes sindicatos no período entre 1985 - 2004, bem como os reflexos nas condições de trabalho e renda que foram alterados drasticamente a partir da abertura o mercado ao capital externo. Nesse contexto busco-se analisar as conseqüências que a desconcentração industrial trouxe aos sindicatos coletivos organizados, visto que estes perderam seu potencial de mobilização e luta sindical, justamente no período concomitante ao avanço industrial da Região Metropolitana de Londrina.

Palavras-chave: industrialização; Região Metropolitana de Londrina; sindicalismo; condições de trabalho e renda.

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GALERA, M. M. Industrialization of the Metropolitan Region of Londrina (MRL): The union action and reflections on the conditions of employment and income of workers. 2008. Monograph (Bachelor in Geography) - State University of Londrina, Londrina.

ABSTRACT

The neoliberal policies implemented in Brazil during the 1990s caused intense changes in the Brazilian industrial scenario, from trade liberalization the process of devolution industry have started, especially in the metropolitan region of Sao Paulo. Thus, the southern region stood out in the receipt of companies that have transferred their plant, especially for the state of Parana. Several industries moved to cities in northern Parana, mainly for the Metropolitan Region of Londrina. Through researches done about the main workers’ unions in the Metropolitan Region of Londrina, we obtained a picture of the role of unions in the period 1985 - 2004, as well as reflections on working conditions and income that have been changed dramatically from the opening of the market to foreign capital. In this context we tried to analyze the consequences that devolution brought to the organized industrial unions, because they lost their ability of mobilization and union fight, precisely during the concurrent period of industrial advancement of the Metropolitan Region of Londrina.

Keywords: Industrialization; Metropolitan Region of Londrina; unionism; working conditions and income.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 - REGIÃO NORTE DO PARANÁ.....................................................................17

FIGURA 02 - REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA...............................................34

FIGURA 03 – SINDICATOS DE TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA ÁREA DE ABRANGÊNCIA POR MUNICÍPIO 2008.....................................................................................................................................56

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 – Variação da População Urbana e Rural em Londrina: 1940 – 2006......29

GRÁFICO 02 – Variação da População Urbana e Rural dos Municípios que Compuseram a Região Metropolitana de Londrina: 1940 – 2006...................................30

GRÁFICO 03 – Variação entre os níveis salariais nas Regiões Metropolitanas de São Paulo, Curitiba e Londrina. (ANO BASE 2007)..................................................................59

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - Evolução do número de estabelecimentos dos principais gêneros da indústria de transformação no Brasil, e no Paraná 1985-2004......................................21

TABELA 2 - Evolução da População Rural e Urbana de Londrina: 1940-2006.............29

TABELA 03 – Evolução da População rural e urbana dos municípios que compuseram a região metropolitana de londrina: 1940 – 2006................................................................30

TABELA 04 - Evolução no numero de estabelecimentos e trabalhadores na indústria de transformação da Região Metropolitana de Londrina 1985-2004..............................34

TABELA 04 - Evolução no número de estabelecimentos e trabalhadores na indústria de transformação da Região Metropolitana de Londrina 1985-2004..............................35

TABELA 05 - Comparação entre os níveis salariais nas Regiões Metropolitanas de

São Paulo, Curitiba e Londrina. (Ano Base 2007)............................................................59

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO................................................................................................................10

2-TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA...............12 2.1- O Processo de Industrialização do Norte do Paraná após 1990...................16 2.2- Industrialização na Região Metropolitana de Londrina (RML)......................27

3- O TRABALHO E O SINDICALISMO NO BRASIL.........................................................39 3.1- O Trabalho..........................................................................................................40 3.2- o Sindicalismo Atual no Brasil.........................................................................45

4 - SINDICALISMO NA RML E AS CONDIÇÕES DE EMPREGO E RENDA DOS TRABALHADORES............................................................................................................54

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................64

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1- INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo identificar, sistematizar e discutir

a importância da ação sindical para os trabalhadores do setor industrial na Região

Metropolitana de Londrina (RML), visando compreender de que maneira ocorrem os

conflitos e lutas em direção a uma melhor condição de trabalho e renda na região

em estudo.

Para tanto buscou-se compreender como a política neoliberal

implantada no Brasil a partir da década de 1990, causou intensas mudanças no

cenário industrial brasileiro, fazendo até certo ponto com que a indústria brasileira

perdesse seu caráter nacionalista e passasse a uma estratégia exportadora ligada e

controlada pelo capital externo.

Diversos autores mostram que, a partir da abertura comercial pós

1990, intensificaram-se os processos de desconcentração industrial; da região

metropolitana de São Paulo para diferentes localidades; por força e ação do próprio

estado criaram-se condições infra-estruturais diversas que permitiram ás indústrias

terem suas plantas transferidas para o interior paulista, enquanto as sedes das

mesmas permaneceram na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

Contudo, os processos de desconcentração industrial que ocorreram

no Brasil, evidenciaram uma nova dinâmica para os segmentos da indústria e

serviços contíguos a produção industrial. Neste período, a região Sul se destacou,

especialmente, o estado do Paraná. Várias indústrias transferiram-se para cidades

da RML estimuladas pela elaboração de políticas de industrialização e pela criação

de medidas institucionais que foram utilizadas como indutores de investimentos e

financiamentos.

A partir dos levantamentos realizados junto aos sindicatos dos

trabalhadores nas indústrias da RML, obteve-se um panorama das condições de

trabalho e renda dos trabalhadores empregados nas indústrias da RML.

O próprio momento da transferência industrial para a RML é

concomitante com o período em que os sindicatos estão em uma fase de ampla

mudança atuacional, não conseguindo fazer valer a ação da classe trabalhadora em

prol de alterações significativas. Isto se dá não apenas na região em estudo, mas

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sim em todo o sindicalismo nacional, que após a década de 1990, não obteve

condições para a defesa do trabalhador, de modo a não conseguir enfrentar as

mudanças ocorridas no advento da política neoliberal, que impôs fortes

transformações nas relações capital – trabalho.

Ciente de que a condição de vida do trabalhador é afetada

diretamente pelos acordos firmados por seus representantes sindicais e que estes

não estão conseguindo lutar de maneira ampla em sua defesa; abre-se assim uma

brecha, onde os industriais lucram cada vez mais, explorando o trabalhador e

pagando salários defasados no poder de compra, depreciando as condições de

renda e vida dos trabalhadores.

Assim, o primeiro capítulo discute aspectos das transformações

recentes na industrialização brasileira, principalmente após a década de 1990, com

a abertura da economia brasileira e o processo de desconcentração e

descentralização industrial da RMSP.

Aborda-se o processo de industrialização do Norte do Paraná,

apontando aspectos de sua origem até o recebimento das plantas industriais

transferidas da RMSP, bem como a industrialização da RML, que balizou um novo

ciclo de produção industrial, através de capitais de diferentes origens e dimensões

que se congregaram nesta área.

O sindicalismo e o trabalho são os objetos de estudo do segundo

capitulo, onde são analisadas mudanças no cenário do trabalho com o advento do

sistema produtivo industrial denominado Toyotismo; discute-se ainda como os

sindicatos passaram a apresentar significativas dificuldades para atuar na defesa

dos direitos dos trabalhadores.

No terceiro capitulo são feitas as considerações e conclusões sobre

a deficiente atuação sindical na RML, que aliada à baixa proporção de

trabalhadores sindicalizados representa um enfraquecimento do sindicalismo como

instituição e do poder sindical como um todo, refletindo nos baixos níveis salariais

dos trabalhadores nas indústrias desta região.

A título de considerações finais, explicitamos alguns dos problemas

enfrentados pelos sindicatos da Região Metropolitana de Londrina no período

atual.

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2- TRANSFORMAÇÕES RECENTES NA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

A abertura do mercado interno iniciada na década de 1990 implicou

em grandes transformações no conjunto da economia brasileira. O distanciamento

da idéia do desenvolvimento econômico nacional foi apenas um dos efeitos dessas

mudanças, que foram expressas também no processo de reestruturação e

racionalização produtiva.

A partir de 1990, com a ascensão do governo Collor e FHC, uma

contra-revolução que substituiu o nacional-desenvolvimento pelo neoliberalismo

“[...] que, sob o comando dos EUA, passou a paralisar a economia brasileira e o

Estado nacional, bem como a provocar o apodrecimento da vida política e cultural

do Brasil” (MAMIGONIAN, 2004, p. 129).

Ás restrições de crédito, que sempre tiveram papel decisivo na

trajetória de crescimento da economia brasileira, associadas a uma economia

inflacionária marcante na década de 1980 e, posteriormente, a uma economia

aberta, com relativa estabilidade de preços, mas com enormes desequilíbrios

fiscais da década seguinte, somou-se ao conjunto de fatores inibidores a retomada

do desenvolvimento econômico. (BERTOLUCI, 2004, p. 88).

A crise do modelo nacional desenvolvimentista e a transição para o

modelo neoliberalista constituíram alguns dos fatores marcantes do período. Estas

mudanças atingiram também os diferentes ramos da atividade industrial, com

impactos significativos no desempenho da indústria no conjunto da economia,

submetendo-a aos altos juros internos, dificuldades financeiras decorrentes do

arrocho cambial e das dívidas dolarizadas.

Mediante a nova etapa de abertura comercial de 1995, os

oligopólios industriais que operavam no mercado interno se viram defrontados com

os gigantescos oligopólios internacionais. [...] a inflação foi controlada

momentaneamente à custa de importações maciças (o real foi supervalorizado

frente ao dólar), que provocaram queda da produção nacional, desemprego, etc.

(MAMIGONIAN, 2004, p. 130).

Bertoluci (2004) destaca ainda que a inserção dos capitais

estrangeiros de forma abrupta na economia brasileira na década de 1990 levou a

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emergência de um novo padrão de acumulação, que contemplou impositivamente

o encolhimento do papel do Estado retirando-o da estrutura produtiva via

privatizações.

[...] a junção de câmbio sobrevalorizado com altas taxas de juros [...] concedeu um incentivo sem igual às importações e um desestímulo às exportações. As altas taxas de juros cobrados pelo setor financeiro diminuíram a competitividade das empresas brasileiras, devido ao encarecimento da produção interna de bens destinados aos mercados externo e interno. As melhores condições de financiamento na compra de produtos importados, relativamente aos da produção doméstica, dadas as vantagens em termos de prazo e taxas de juros do financiamento externo, foi um importante fator a incrementação das importações. (ARAÚJO JUNIOR, 2003, p. 56)

A partir desta conjuntura, o país passou por um processo de

descentralização regional de suas atividades, diminuindo a importância do eixo Rio -

São Paulo, expandindo sua presença para outros estados da federação.

(BERTOLUCI, 2004, p. 92).

No caso do estado de São Paulo, a desconcentração deu-se mais

em relação à capital paulista e à região metropolitana de São Paulo - RMSP -,

favorecendo regiões do interior do estado e os demais estados brasileiros. Esse

movimento teve como determinantes, as políticas do governo federal dos anos 1990

e do direcionamento dos investimentos industriais para regiões nas quais não havia

um parque industrial consolidado, de acordo com as diretrizes dos Planos Nacionais

de Desenvolvimento I e II, dentre outros fatores.

Entre as várias análises existentes sobre o processo de

desconcentração e descentralização industrial está a de Lencioni (1994), na qual a

autora entende o processo de desconcentração através da dispersão da indústria

no território, enquanto o processo de descentralização está ligado aos fatores de

comando e decisão das empresas.

Apesar de haver uma dispersão das plantas industriais em direção

ao interior do país, as decisões de comando das grandes empresas continuam

sendo centralizadas nas regiões metropolitanas, especialmente São Paulo. Deste

modo, a região metropolitana paulistana aprofunda seu papel como gestora e

concentradora de serviços essenciais à administração empresarial.

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A implantação industrial fora da capital, em grande parte nos municípios próximos aos principais eixos rodoviários, não assume o significado de uma descentralização. Partilhamos da idéia de que a “decisão, o poder de mando, o efeito catalisador, o ambiente inovador, os serviços essenciais de ordem superior, esses continuam concentrados na grande metrópole” (LENCIONI, 1994, p. 57).

Firkowski (1999) descreve o processo de transferência industrial

como um processo de desconcentração, pois transferem apenas as unidades

produtivas do local de origem para o lugar de destino. O comando e a gestão das

empresas continuam concentrados num mesmo local. Já o processo de

descentralização significa não só a transferência das unidades produtivas como

também do processo de decisão e comando das empresas.

O que ocorre, no atual processo de transferência de indústrias é um processo de desconcentração, pois o que se transfere são apenas as unidades produtivas da metrópole para outras áreas, o comando e a gestão das empresas continuam concentrados em um mesmo local; já a descentralização pressupõe não apenas a transferência de unidades produtivas, como também o processo decisório e o comando das empresas, o que não ocorre no atual processo (FIRKOWSKI, 1999, p. 72)

Segundo Negri; Pacheco (1994), a região metropolitana de São

Paulo teve como um dos fatores responsáveis pela perda da competitividade, o que

é chamado de “deseconomias de aglomeração”, causadas pela excessiva

concentração da indústria e de outras atividades produtivas na grande São Paulo,

que causam um aumento do custo geral de produção.

O principal argumento de suas explicações é que certas áreas do

interior paulista estão crescendo num ritmo superior, mediante adoção de uma série

de incentivos fiscais e elaboração de diretrizes para a atração de estabelecimentos

industriais, ocasionando uma relativa desconcentração das unidades fabris,

colocando a metrópole como centro de serviços em nível nacional.

De um outro ponto de vista, Azzoni (1986), afirma haver uma

crescente implantação da indústria em torno da capital paulista significando uma

possível mobilidade através de novas tecnologias. Trata-se de uma

desconcentração concentrada, pois ocorre um espraiamento da indústria num raio

de 150 km em torno da capital, uma vez que existe uma dependência das

empresas, situadas neste perímetro, em relação aos serviços provindos do centro,

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reforçando a figura da metrópole como centro de informação e gestão,

descaracterizando um processo de descentralização.

As decisões locacionais das empresas industriais são, efetivamente, determinadas tanto pelos fatores aglomerativos quanto pelos custos associados a essa aglomeração. [...] as economias de urbanização da capital paulista foram tão fortes que, principalmente por não encontrarem forças concorrenciais próximas, acabaram por exercer sua influência em um raio de atuação bem maior (TINOCO, 2001, p. 48).

Já Diniz (1995) estabelece o processo de desconcentração através

da delimitação de um polígono inserido entre a região central de Minas Gerais até o

nordeste do Rio Grande do Sul, onde se concentram os investimentos nacionais

externos à Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. Embora as mudanças

espaciais de investimentos industriais não conduzam a uma reconcentração

industrial na cidade de São Paulo, isto não quer dizer que haja uma

desconcentração generalizada das indústrias em todo território nacional.

O resultado da contínua desconcentração é uma sensível

alteração na dimensão espacial do desenvolvimento industrial brasileiro. Essa

trajetória é acompanhada de um maior desenvolvimento de outras regiões

brasileiras. Nesse sentido, a região Sul tem se destacado, em especial o estado do

Paraná, com grandes investimentos industriais, aumentando sua participação na

produção industrial.

Milton Santos (2000, p. 93) explica que o processo de produção

espacial deve ser o objeto das análises geográficas, reconhecido em cada

manifestação concreta, na perspectiva de uma geografia mais atuante, a que

considera o espaço como um lugar de lutas, [...] onde o desenvolvimento

tecnológico propiciou uma alteração do espaço e do tempo, reduzindo distâncias e

tornado viável um contato imediato entre os pólos opostos do globo, gerando assim

condições propícias para transações comerciais entre países que até então

encontravam dificuldades naturais para o estabelecimento de relações recíprocas.

Nesse momento, o estado do Paraná adotou políticas públicas que

criaram condições para que as indústrias que tinham interesse de mudar sua planta

produtiva se estabelecessem em seu território. Desta maneira desenvolver-se-á a

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seguir uma análise mais detalhada deste processo de transferência industrial para o

Norte do Paraná, bem como para a RML.

2.1- O Processo de Industrialização do Norte do Paraná após 1990.

As mudanças políticas do Estado brasileiro, no sentido de sua

inserção no mundo globalizado acarretaram uma serie de medidas que resultaram

em retração da regulamentação das relações econômicas, privilegiando a

concorrência e a competitividade, reduzindo à capacidade de conduzir às políticas

macroeconômicas voltadas a retomada do desenvolvimento nacional e da geração

de emprego. (BERTOLUCI, 2004, p. 62).

A concorrência empresarial e a competitividade se tornaram o

grande diferencial entre as empresas de origem nacional, ou mesmo entre as

multinacionais, principalmente após a abertura comercial principiada nos anos

1990. Considerando a conjuntura desfavorável das décadas de 1980 e 1990 ao

setor industrial brasileiro e por meio da elaboração de políticas de industrialização

e de criação de medidas institucionais oferecidas pelo Estado, a Região Norte do

Paraná (Figura 01) tornou-se uma das novas áreas que receberam as indústrias

transferidas da RMSP.

A partir da década de 1960, na gestão do governador Ney Braga

formula-se no estado do Paraná uma política de desenvolvimento que visava à

“Industrialização via substituição das importações”, também conhecido como

“modelo paranaense”, que reforçava o papel do Estado como promotor do

desenvolvimento. Em outras palavras, aquilo que o governo fez para conduzir a

economia nacional depois da década de 1930, no Paraná, efetivou- se a partir de

1960, quando o Estado assumiu a tarefa de gerar condições de infra-estrutura para

novas formas de produção e reprodução do capital industrial. (FRESCA 2004) Com

isso, deu-se início ao processo de modernização da agropecuária paranaense,

concretizada nos anos de 1970. (MONTANARI, 2006, p. 46):

A Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar) deveria cumprir três papéis: dotar o estado de infra-estrutura, viabilizar a implantação de indústrias e gerar projetos de desenvolvimento específico a partir do conhecimento da realidade local. Para alcançar o objetivo maior, algumas pré condições eram necessárias como a dotação de infra-estrutura em

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termos de rodovias pavimentadas, energia elétrica, telefonia, dentre outros e a partir de então foram criadas em 1963, a Sanepar, Telepar, Celepar; Copel, Cohapar, dentre outras. (FRESCA, 2004, p. 197)

Foi somente a partir da década de 1970 que o setor industrial norte

paranaense começou a ter maior representatividade econômica através do

BODESP- Banco de Desenvolvimento do Estado de Paraná, que foi essencial para

a formulação de políticas de desenvolvimento das atividades industriais de cada

município.

Figura 01 – Municípios integrantes da Região Norte do Paraná

Nos anos de 1980 a industrialização norte-paranaense estava

fortalecida com a grande participação de iniciativas de investimentos locais e

regionais, com a transferência de capital de atividades urbanas e rurais à

implantação de unidades industriais. (FRESCA, 2004, p. 46). Esses investimentos

foram capazes de “amortecer” os impactos da recessão na chamada “década

perdida”. Tanto que, ao findar dessa década, já havia no norte do Paraná três

grandes setores industriais consolidados e com várias unidades distribuídas em

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suas micro-regiões: o setor agroindustrial alimentício e sucro alcooleiro; o setor

moveleiro e o setor confeccionista. (FRESCA, 2004, p. 55).

Na década de 1980

Consolidou-se no Estado, em virtude do ciclo de industrialização iniciado nos anos setenta, um núcleo de indústrias de bens de capital e insumos intermediários voltado à geração de energia elétrica, telecomunicações, máquinas e equipamentos agrícolas, petroquímica e papel e papelão, ao mesmo tempo em que se intensificou o desempenho das cadeias agroalimentares e madeireiras. (...) A estrutura da indústria estadual em 1985 era dada pelos grupos Tradicional (42%) e Fornecedor (42%), respectivamente centrados em beneficiamento de grãos, óleos e gorduras vegetais, e petroquímica. No grupo Tecnológico, a capacidade instalada (15% do total) correspondia ao núcleo de indústrias (eletroeletrônica, telecomunicações, transportes etc.), implantado entre o final da década de setenta e início dos oitenta, cuja característica é a concentração da produção em poucas unidades produtivas. Em linhas gerais, apesar de segmentada, a estrutura industrial do Estado nesse período era fortemente concentrada em poucos ramos. (IPARDES, 2002e, p.10 Apud MONTANARI, 2006)

A região norte-paranaense seguiu na direção da

agroindustrialização que desde os anos 1970, através das cooperativas, vinha

ganhando maior dinamismo ligado aos produtos como soja, trigo, cana-de-açúcar,

fiação, etc. De um modo geral, Fresca (2004, p.211) explica o fato de o Paraná ter

obtido um avanço na industrialização na segunda metade dos anos de 1980,

devido: a) à agropecuária e agroindústrias, que ainda foram às responsáveis pela

geração de quase 50% da renda gerada no Estado no final dos anos 1980; e, b) à

implantação e/ou maturação de empresas ligadas aos ramos mais dinâmicos de

maior incorporação tecnológica como ônibus e caminhões, fertilizantes,

refrigeradores e freezers, bem como inversões em cimento, papel, madeira e café

solúvel entre 1986-1988.

Nas micro-regiões do norte do Estado, havia até os anos de 1980 o

predomínio das indústrias de alimentos/bebidas, têxtil/confecções e

madeira/mobiliário, tanto para o número de trabalhadores quanto de

estabelecimentos. Enquanto na região central do Estado, as micro-regiões

apresentavam baixo número de estabelecimentos e trabalhadores. Apenas

Telêmaco Borba sobressaía com o número de trabalhadores no gênero indústria

de papel/gráfica.

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É notório no interior do Estado uma forte presença industrial, mas

vinculada, sobretudo, aos gêneros do chamado setor tradicional, incluindo-se a

agroindustrialização, tendo as cooperativas como líderes deste processo, tanto

vinculadas aos grãos (soja, trigo, milho, etc.), como à cana-de-açúcar. Mas a

iniciativa privada também assumiu posição de destaque com as carnes, café

solúvel, leite e derivados, dentre outros. Portanto, essa distribuição espacial da

indústria pode ser interpretada como a maturação dos investimentos locais e

regionais, acrescida a ação estatal de implantar um caminho para a

industrialização norte – paranaense. (MONTANARI, 2006, p. 70)

Como relata o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico

e Social do Paraná – IPARDES (2002 p.17):

Os ganhos de eficiência (advindos da modernização nas novas plantas e nas preexistentes) implícitos no novo estoque de capital em formação, pelas transformações qualitativas das estruturas produtivas e empresariais, com maior inserção de empresas importantes do Estado na dinâmica de grandes grupos internacionais, sobretudo nos segmentos de alimentos (laticínios e carnes) e mecânica (freezers), via reestruturações patrimoniais em âmbito nacional.

E ainda apresentou:

Uma configuração bastante diferenciada daquela de quinze, ou mesmo dez anos antes, dada pelo aumento de participação do Grupo Tecnológico (35,2%), seguido do Fornecedor (38,2%) e pelo declínio do Tradicional (26,6%). Ao nível dos grupos industriais é possível entender essa reestruturação sob dois padrões de evolução. Um deles caracteriza-se pelo crescimento expressivo e isolado em algumas indústrias, causando impacto estrutural e, conseqüentemente, especialização, mais evidente no primeiro grupo. Outro, pelo crescimento menos expressivo, embora menos isolado e mais próximo à média global em várias indústrias, contribuindo para a diversificação ocorrida no segundo e terceiro grupos. (IPARDES, 2002, p.18).

No período entre 1985-2004, ocorreu uma maciça ampliação da

participação do Paraná na indústria brasileira, tanto no número de estabelecimentos

quanto no número de empregos, bem como do norte do Estado. (tabela 01)

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20

Segundo Fresca (2004, p.204-206), o norte do Paraná se tornou

uma área com maior presença industrial nos anos de 1990 comparativamente aos

períodos precedentes:

1: Pelo caminho da consolidação de iniciativas nos anos de 1960 e 1970, e que nas décadas subseqüentes, sob condições recessivas, foram capazes de implantar estratégias de manutenção e expansão de suas produções e mercados consumidores – Arapongas, Apucarana e Cianorte e todas aquelas cidades onde produções agroindustriais cooperativas ou não, se fazem presentes como Maringá, Paranavaí, Campo Mourão, dentre outras;

2: Pelo caminho dos processos de transferência industrial de unidades produtivas da região metropolitana de São Paulo para cidades norte-paranaenses, quer indústrias de capital nacional ou estrangeiro. Nova localização tornou-se uma das possibilidades para rebaixamento de custos produtivos para fazer frente a recessão que impôs redução do mercado e aumento da concorrência nos anos 1990 – Atlas Schindler, Dixie, Bunge Fertilizantes, Hexal, entre outros;

3: Pela implantação de indústrias na área mediante processos de compra ou fusão de unidades preexistentes, por grupos estrangeiros – Itap Bemis, Hussmann do Brasil, Milênia. Redução de custos e localização privilegiada em relação ao mercado nacional e para a América do Sul, foram os pontos ressaltados para sua presença na área;

4: Estratégias adotadas são distintas: alteração e expansão de linha de produção; busca de nichos de mercados; implantação de filiais fora do norte-paranaense; implantação de unidades/filiais em direção à verticalização, contrariando explicações e definições de tendências à horizontalização da produção – confecções de Apucarana, móveis em Arapongas, plásticos em Londrina (Dixie tem uma unidade de tintas em Londrina);

5: Estratégias adotadas não foram suficientes para utilizar toda a capacidade produtiva instalada, quer seja nos segmentos de confecções, móveis, elevadores/escadas rolantes;

6: Essa nova distribuição industrial não alterou positivamente a participação norte-paranaense no valor adicionado estadual;

7: No entanto é importante observar a inserção do estado do Paraná no atual quadro da industrialização brasileira. (FRESCA, 2004, p.206).

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21

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22

A tabela 01 permite verificar que o Paraná representava 7,5% do

total dos setores industriais brasileiros, passando a representar 9,8% em 2004, a

partir desta analise percebe-se que os índices percentuais de crescimento da

indústria de transformação do Paraná naquele período se mostraram maiores que

os do Brasil. Isso evidencia que o Paraná tem ampliado sua participação na

indústria de transformação brasileira. Até mesmo em períodos em que no Brasil o

número de trabalhadores e estabelecimentos foram reduzidos, o Paraná manteve

seus índices de crescimento para essas duas variáveis.

Pode-se dizer que a indústria de transformação paranaense se

mostrou dinâmica no período analisado, devido ao fortalecimento do seu setor

industrial, principalmente a partir da década de 1990. Isso ocorreu tanto pelo

surgimento e ampliação de indústrias do próprio Estado, quanto pelas

transferências industriais em direção ao Paraná.

A indústria de transformação norte-paranaense se destaca pela sua

variedade de gêneros industriais, pela existência de capital industrial de diferentes

origens, desde local até internacional, e por ser composta tanto de empresas

privadas quanto cooperativas.

Consoante a Montanari 2006, para se entender a distribuição dos

gêneros da indústria de transformação no território paranaense, é necessário que

se compreenda o conceito de APL – Arranjo Produtivo Local. A concentração de

indústrias de um mesmo setor em uma dada região é o primeiro passo para a

formação de um APL.

Para essa concentração se tornar um APL, é necessário que ela se

enquadre na proposta de Arranjos Produtivos Locais do governo, apresentando

vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem.

Os APLs, conforme os setores de atividade econômica podem ter

variadas caracterizações e configurações, conforme sua história, evolução,

organização institucional, contextos sociais e culturais, estrutura produtiva, formas

de inserção nos mercados, organização industrial, estruturas de governo, logística,

associativismo, cooperação, formas de aprendizado e de disseminação do

conhecimento especializado local.

A implantação e consolidação dos APLs é fundamental ao desenvolvimento pretendido para o Estado, sendo necessário estruturar planos, estudos e

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ações de apoio e a promoção ao desenvolvimento de empresas/instituições que estejam localizadas em regiões com clara especialização produtiva, o que permitirá maior efetividade e melhores resultados econômicos dos APLs. No Paraná existem mais de 20 APLs, sendo que estes ocorrem no setor de laticínios, madeira / mobiliário, confecções / vestuário, mesas de bilhar, equipamentos médicos, metais sanitários, entre outras. (Rede APL Paraná, 2008)

O governo de Jaime Lerner (1995-2002) teve papel nesse processo

de aceleração do crescimento industrial no Paraná, por meio da guerra fiscal,

concedeu empréstimos e abriu mão de impostos para o estado instalar as

indústrias automobilísticas na Região Metropolitana de Curitiba e outras unidades

em diferentes áreas.

Bragueto (2007) explica que o ponto central dessa política estadual,

implementada principalmente a partir da gestão do ex-governador Jaime Lerner,

visava à protelação do pagamento do ICMS de bens de capital, matérias primas,

autopeças e veículos montados.

O interior do estado também foi afetado e passou a receber

transferências de plantas industriais para várias cidades do norte-paranaense.

Algumas das unidades transferidas não foram atraídas pelos estímulos fiscais.

Estavam na realidade buscando melhores localizações industriais para fazer frente,

via redução dos custos produtivos, aos processos de abertura de mercado interno.

Com base nos dados do MTE/RAIS (BRASIL, 1990 - 2004) na

região de Londrina, a indústria de madeira/mobiliário perdeu a posição no número

de trabalhadores, para a indústria química, e, no número de estabelecimentos, o

gênero de alimentos/bebidas perdeu posição para a metalúrgica. Em Jacarezinho e

Porecatu, a indústria de alimentos/bebidas, mesmo voltando a ser a primeira em

número de estabelecimentos, apresentou considerável queda no número de

trabalhadores.

Londrina também se destaca na produção de embalagens (papel e

plásticos), baterias automotivas, café solúvel, dentre outros. As cidades de Cornélio

Procópio e Londrina destacam-se pela produção de café solúvel, possuindo as

maiores indústrias exportadoras: a Cacique e a Café Iguaçu (IPARDES, 2002, p.

25).

Na cidade de Jaguapitã, a indústria de produção de mesa de bilhar

tem grande representatividade, com a maior parte da produção nacional. Segundo

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24

Veiga (2006), na maioria das fabricas abertas houve transferência de capital

agrícola para esse ramo de atividade industrial. No decorrer da década de 1970,

existiam apenas três fábricas instaladas no município, tendo a atividade ganho

maior intensidade, a partir dos anos de 1980, devido ao sucesso obtido pelas

pioneiras. Assim, as demais empresas surgiram ou por término de sociedade, ou

quando um ex-funcionário passa a dominar a técnica e abre a própria empresa. A

maioria dos investidores manteve suas propriedades rurais como complemento da

renda.

Segundo a tabela 01 a distribuição das atividades industriais no

norte do estado manifestou o predomínio das indústrias têxtil/confecção,

alimentos/bebidas e madeira/mobiliário; no oeste, alimentos/bebidas e têxtil; ao sul,

madeira/mobiliário; ao leste, madeira/mobiliário, alimentos/bebidas, papel/gráfica e

materiais de transporte. Mas houve algumas mudanças discretas, como a inserção

e certa expansão dos ramos de plástico, materiais de transporte, farmacêutico,

defensivos agrícolas, nas microrregiões de Londrina, Maringá, Curitiba e Ponta

Grossa.

De modo geral no período de 1985 a 2002, é evidente uma

intensificação da industrialização no interior do Paraná, tanto em número de

estabelecimentos como de trabalhadores. Contudo conforme destacado por

Bragueto (2007) este período é marcado por uma intensa crise e pela retração dos

postos de trabalho entre os anos de 1985 / 1992; e por um período de crescimento

absoluto do numero de estabelecimentos industriais e de geração de postos de

trabalho em ter os anos de 1992 / 2004. Mas é bom frisar que foi um período onde

ocorreu uma intensa transformação no setor, implicando em redução absoluta de

pequena grandeza para o Brasil tanto do número de estabelecimentos como

trabalhadores. Por isso, quando verificamos que houve um crescimento no Paraná,

deve-se relativizar tal processo na medida em que ele foi significativo muito mais

em termos de percentuais do que em termos de dados absolutos.

Essas informações impõem o entendimento de complexos

processos econômico-sociais para expansão do setor industrial no interior do

Paraná, que estão associados e/ou são decorrentes do quadro geral de medidas e

políticas nacionais que impulsionaram e/ou criaram condições para que houvesse

esta expansão industrial.

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25

Neste encaminhamento há que ser referida a percepção e ação de

agentes locais em valorizar e dar maior importância a estes lugares, tornando-se

capazes de dar rumos diferentes às cidades. Isto é importante, porque a

industrialização instaurada no Norte do Paraná não foi somente resultado da

transferência de setores paulistas, mas um desenvolvimento próprio, que para

alguns setores, que acabou se tornando competitivo com aquele similar

metropolitano paulista (FRESCA, 2004).

É neste conjunto que temos cidades com um setor industrial

numericamente expressivo no contexto paranaense como Londrina, Cambé,

Ibiporã, Rolândia, Arapongas, Apucarana, Campo Mourão, Marialva, Maringá,

Paranavaí, Cianorte e Umuarama, Toledo, Cascavel, Francisco Beltrão, União da

Vitória, Terra Roxa e a RMC. (FRESCA, 2004, p. 42)

As estruturas de circulação desta região passaram por avanços

significativos, que permitiram maior fluidez e flexibilidade de pessoas, mercadorias,

capital, idéias, valores etc. A diversidade de processos de expansão da produção

industrial no Paraná nos últimos anos traz impactos os mais diversos nas cidades

onde se implantam, alterando os papéis e permitindo outras re-inserções das

cidades na rede urbana estadual. (FRESCA, 2004, p. 44).

Por meio de SANTOS e SILVEIRA (2001, p. 274) entende-se o

pressuposto das densidades técnicas e informacionais, significando no território a

presença de próteses em maior ou menor intensidade, a maior ou menor presença

de informação, o maior ou menor uso da informação, a maior ou menor densidade

de leis, normas, regras reguladoras da vida coletiva. É importante ainda lembrar

aqui que a informação, sobretudo a serviço das forças hegemônicas e do Estado, é

o grande regente das ações que definem as novas realidades espaciais, que

aprofundam as desigualdades e as diversidades espaciais.

Assim, o território é mais ou menos denso de técnica e informação. Os mais densos são os espaços luminosos, submetidos à volúpia do tempo presente. Os rarefeitos são os espaços opacos, dos homens pobres e lentos do planeta (SANTOS, 1994 p.75).

Os espaços luminosos segundo Milton Santos (2001) são os que

mais acumulam densidades técnicas e informacionais, atraindo, portanto,

atividades de maior conteúdo de capital, tecnologia e organizacional. São os

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espaços obedientes aos interesses das empresas. São eles que, diante de tais

características são monitorados de fora e implicam na ingovernabilidade dos

lugares.

A densidade viária (fluidez efetiva) e infoviária (fluidezvirtual) , portanto se instalam, servindo um aspecto da economia internacional. A densidade viária, sobretudo se relaciona mais com nexos da economia e do mercado e não com a maioria da população. Neste sentido podemos dizer que o Estado governa mais para o interesse hegemônico do que para a sociedade Brasileira, pois é fantástico o processo de tecnificação do território brasileiro, nos últimos anos. Não se trata de contrapor a modernidade dada pela técnica ao atraso. A questão se coloca de outra maneira e trataremos dela, mais adiante. É bom que se diga que um espaço pode ser denso quanto as vias, mas não fluído. Este é o caso típico do nordeste, cujas vias servem mais aos migrantes do que a economia, por razões históricas relativamente ao uso do território nordestino. (SANTOS, 2001,p.281).

Santos e Silveira (2001) explicam que o território da rapidez reflete

o mandar e o da lentidão o fazer. O primeiro comanda o território como um todo. O

segundo obedece. A rapidez envolve mais veículos, transportes públicos e do

ponto de vista social intensifica a vida de relações econômica e sócio cultural.

Estas características se distinguem em função da divisão territorial do trabalho.

Rapidez e fluidez são características da sangria do território em direção ao seus

pontos de convergência, geralmente as grandes metrópoles. Por isso elas

empobrecem, pois a sangria se dá com componentes que se destinam ao mercado

internacional, portanto viabilizando os interesses externos, por vezes conflitantes

com aqueles da sociedade brasileira.

Estas rápidas postulações nos permitem refletir sobre uma

regionalização do Brasil, baseada simultaneamente na atualidade marcada pela

difusão diferencial do meio técnico, científico e informacional e nas heranças do

passado. Portanto, as velhas regionalizações formadas pelo tempo lento não tem

mais sustentação no mundo do presente.

As indústrias existentes no norte do Paraná até então eram voltadas

basicamente para o mercado local e regional, uma vez que o norte paranaense

possuía uma infra-estrutura deficiente para o escoamento da produção para outras

regiões, o que tornaria economicamente inviável a produção que ultrapassasse os

limites regionais e caracterizavam-se por possuírem um baixo nível tecnológico,

utilizando em grande parte a matéria prima local. Deste modo, a indústria regional

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pós 1990 cresceu ligada aos setores alimentício, vestuário, madeira e mobiliário,

metalurgia, alem da agroindústria, sendo profundamente marcada por investimentos

de capitais locais e regionais.

Se primeiramente o processo de industrialização no Norte do

Paraná teve a ação do capital local, num segundo momento foi abeto caminho para

as transferências industriais. As implantações das indústrias transferidas

concentraram-se nos últimos anos da década de 1990, mas a decisão da

implantação/transferência ocorreu anos antes, devido a questões burocráticas

como: negociações políticas, escolha da área, construção do prédio, início de

operação, etc. Boa parte das indústrias tem sua origem no estado de São Paulo e

em sua região metropolitana, exceto as unidades de capital internacional que se

implantaram diretamente no norte do estado (FRESCA, 2004, p. 199).

As mudanças ocasionadas com o fomento industrial do norte

paranaense favoreceram a modernização e o aumento do poder competitivo do

parque industrial de diversas cidades. Desta maneira a geração de empregos para

as cidades foi bastante expressiva, devido às indústrias terem grande volume de

produção, comercialização e geração de impostos.

2.2- Industrialização na Região Metropolitana de Londrina (RML)

A RML foi criada pela lei complementar estadual nº 81, sancionada

em 17 de julho de 1998, composta pelos municípios de Bela Vista do Paraíso,

Cambé, Ibiporã, Jataizinho, Londrina, Rolândia, Sertanópolis e Tamarana. (Figura

02)

A infra-estrutura urbana da RML está em grande parte concentrada

no município de Londrina, que desempenha também o papel de central da

economia regional, estendendo sua influência para além dos limites formais,

atingindo toda a região norte paranaense e inclusive áreas limítrofes nos estados

de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

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Figura 02 – Municípios que compõe a RML

Segundo Bragueto (1996) o ponto de partida da industrialização de

Londrina e sua região situam-se em torno data de 1940, quando, em paralelo à

produção cafeeira, surge uma incipiente indústria caracterizada por atividades

extrativas, madeireiras, moveleiras, vestuário e alimentar. Cesário (1981) destaca

que estas atividades tinham em comum sua produção voltada ao mercado local ou

regional, e eram realizadas por um grande número de pequenas empresas, tendo a

indústria crescido extremamente ligada ao setor agrícola, desenvolvendo atividades

tradicionais.

Desta maneira, grande parte dos lucros e rendas gerados na região

foi direcionada para aquisição de bens industriais produzidos em São Paulo e, de

acordo com Bragueto (1996), implicando em evasão desses lucros e rendas. Além

dessa evasão, existia também um desestímulo à industrialização devido às

facilidades dos transportes, pois, era mais caro fabricar um produto aqui do que

adquirir da principal da área produtora, São Paul

Contudo, ao final da década de 1960, a região que teve por base a

economia cafeeira, passa por profundas transformações, o êxodo rural, a inserção e

novos cultivos e à mecanização das lavouras, resultaram no aumento muito rápido

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da população urbana da região, e principalmente no município de Londrina. (tabela

02 e Gráfico 01)

Tabela 2: Evolução da População Rural e Urbana de Londrina: 1940-2006.

Fonte: IBGE – Censos Demográficos. Org.: Galera, M.

Gráfico 01 – Variação da População Urbana e Rural em Londrina: 1940 – 2006

Fonte: IBGE – Censos Demográficos. Org.: Galera, M.

0102030405060708090

100

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2006

Rural %

Urbana %

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30

Tabela 03 – Evolução da População rural e urbana dos municípios que compuseram a região metropolitana de londrina: 1940 – 2006.

Fonte: IBGE – Censos Demográficos. Org.: Galera, M.

Gráfico 02 – Variação da População Urbana e Rural dos Municípios que Compuseram a Região Metropolitana de Londrina: 1940 – 2006

Fonte: IBGE – Censos Demográficos. Org.: Galera, M.

0

1020

304050

6070

8090

100

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2006

Rural %

Urbana %

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31

As tabelas 02 e 03, e os gráficos 01 e 02 mostram que a partir da

década de 1970 houve um forte aumento de urbanização na RML, sendo esta

urbanização mais intensificada no município de Londrina, em decorrência da maior

dinâmica econômica-social que este município exercia naquela época em relação

aos demais que viriam a formar a RML. Como implicação deste crescimento

populacional da área urbana aumentou-se demanda de bens industrializados que

permitiu dentre outros fatores, a transferência de capital do setor agrícola para o

setor urbano, sendo que parte deste capital transferido foi aplicado no

desenvolvimento da indústria regional.

Por meio dos apontamentos de Cesário (1981), entre os anos de

1951 a 1955, foram implantadas 16 indústrias, somente no município de Londrina,

e, entre 1956 a 1960, houve a implantação de mais 24 indústrias, em sua maioria

de base alimentícia e de construção.

Entre 1961/65, a autora destaca que 53 novos empreendimentos se

instalaram, havendo uma diversificação para os gêneros têxteis e vestuário, devido

à introdução do cultivo do algodão, que começou a ser praticado na região.

Bragueto (1996) explica que na década de 1970, a maioria das

empresas presentes em Londrina e região caracterizavam-se por serem indústrias

de porte pequeno a médio, com pouca utilização de maquinários e tecnologia

avançada, contudo, apenas o capital gerado pela agricultura não daria mais conta

de firmar uma sólida base industrial para a região, passando a haver a necessidade

de incentivos governamentais para organizar, coordenar e adaptar o setor industrial

da região em estudo.

[...] a dinâmica industrial da região de Londrina vai muito alem da agroindústria, com outros ramos da indústria de menor intensidade tecnológica, em especial aqueles mais intensivos em mão-de-obra, apresentado uma dinâmica tão ou mais importante que a agroindustrial [...] (BRAGUETO, 2007, p. 163)

Conforme Bragueto (1996), na década de 1980, Londrina e seu

entorno começaram a ganhar destaque no cenário industrial paranaense, pois, além

de apresentar uma localização estratégica para produção, se interliga aos centros

comerciais mais importantes do país como São Paulo e Rio de Janeiro, bem como

acesso privilegiado aos portos de Santos e Paranaguá.

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Santos (2001, p. 341) explica que com as técnicas contemporâneas,

multiplicar a produtividade, somente o faz porque os lugares conhecidos em sua

realidade material e política, distinguem-se exatamente pela diferente capacidade

de oferecer às empresas uma produtividade maior ou menor. É como se o chão,

por meio das técnicas e das decisões políticas que incorpora, constituísse um

verdadeiro depósito de fluxos de mais-valia, transferindo valor às firmas nele

sediadas. A produtividade e a competitividade deixam de ser definidas devido

apenas à estrutura interna de cada corporação e passam, também, a ser um

atributo dos lugares. E cada lugar entra na contabilidade das empresas com

diferente valor. A guerra fiscal é, na verdade, uma guerra global entre os lugares

Por isso, as maiores empresas elegem, em cada estado ou país, os pontos de seu interesse, exigindo, para que funcionem ainda melhor, o equipamento local e regional adequado e o aperfeiçoamento de suas ligações mediante elos materiais e informacionais modernos. Isso quanto às condições técnicas. Mas é também necessária uma adaptação política, mediante a adoção de normas e aportes financeiros, fiscais, trabalhistas etc. É a partir dessas alavancas que os lugares lutam entre si para atrair novos empreendimentos, os quais, entretanto, obedecem a lógicas globais que impõem aos lugares e países uma nova medida do valor, planetária e implacável. Tal uso preferencial do território o por empresas globais acaba desvalorizando não apenas as áreas que ficam de fora do processo, mas também as demais empresas, excluídas das mesmas preferências. (SANTOS, 2001, p. 347)

Bragueto (2007) explica que no período entre 1985-1992 as

indústrias de menor intensidade tecnológica (têxtil/vestuário, produtos alimentícios e

madeira/ mobiliário) eram as mais importantes na região de Londrina em termos de

pessoal ocupado, e que entre 1998-2004 a metalurgia e as indústrias de matérias

plásticas, juntamente com os setores alimentício e mobiliário passaram a ter maior

relevância quanto à criação de postos de trabalho. (tabela 01, p. 21)

Sobre o crescimento do número de estabelecimentos industriais para

a região de Londrina (1985-1992) Bragueto (2007) explica que se manteve a

tendência da geração de postos de trabalho, onde o destaque é dado pelos ramos

vestuário e alimentício. Para o período entre 1994-2004 destaca-se que houve um

forte crescimento de estabelecimentos industriais na RML, onde praticamente

triplico-se o total de indústrias desta região. (tabela 04)

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[...] chama a atenção que essa concentração se acentuou nos ramos mais tradicionais (têxtil/vestuário, produtos alimentícios, metalurgia e madeira mobiliário). Embora a indústria de materiais plásticos tenha apresentado um crescimento expressivo no aumento do pessoal ocupado, teve um crescimento pequeno quanto ao numero de estabelecimentos industriais, indicado a implantação de estabelecimentos de maior porte. (BRAGUETO, 2007, p. 185.)

Podemos estender as considerações realizadas por Bragueto (2007)

frente ao aglomerado urbano industrial de Londrina para á RML, onde nota-se um

crescimento importante tanto do numero de estabelecimentos industriais, quanto

dos postos de trabalho criados, aumentando a participação industrial da RML junto

ao restante do estado do Paraná.

As informações obtidas a partir da Relação Anual de Informações

Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho (BRASIL, 1980 - 2004) mostram que na

região de Londrina, no ano de 1985, havia 808 estabelecimentos industriais e

18.774 trabalhadores empregados na indústria de transformação, com destaque ao

setor de produtos alimentícios, seguido pelo da indústria do mobiliário e da madeira.

Para o ano de 1987 nota-se um sensível aumento do número de

indústrias e trabalhadores, sendo 1.086 estabelecimentos e 22.518 trabalhadores.

Nesse período é visível a supremacia produtiva da Indústria têxtil do vestuário e

artefatos de tecidos.

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Segundo Bertoluci (2006), o final da década de 1980 e

principalmente a década de 1990 constituíram um importante ponto de inflexão na

trajetória das empresas no Brasil. A intensificação da concorrência entre empresas

redesenhou as estratégias de crescimento e organização das mesmas, visto que

ocorre um aumento de postos de trabalho no ano de 1989, 25.136 trabalhadores

distribuídos em 1.071 unidades industriais.

Entre os anos de 1990 e 1992 a instabilidade econômica e a forte

concorrência entre as empresas culminaram na retração de empregos para a RML

(21.894 para o ano de 1990 e 19.011 trabalhadores em 1992), mesmo com o

aumento de estabelecimentos em grande parte dos ramos produtivos locais.

Contudo, em 1994 com o advento do plano Real, a RML retoma o ritmo industrial e

novamente nota-se um aumento do número de estabelecimentos e postos de

trabalho, enfatizando a participação do setor da indústria metalúrgica nesse

momento.

Nos anos 1995 e 1996 a RML teve sua participação industrial

ampliada e passou a conglomerar uma grande quantidade de indústrias, tanto as

que transferiram sua base industrial para a região Norte do Paraná, como o

crescimento das atividades instaladas. Nesse momento destaca-se o avanço da

indústria química, de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria, tais

informações foram importantes para a evolução numérica do setor industrial das

cidades da RML.

Nos levantamentos de Fresca (2004), pode-se constatar o grande

número de empresas que vieram transferidas para RML: Atlas Schindler com

elevadores e escadas rolantes; Dixie Toga com embalagens plásticas; Palumar com

peças de bomba injetora; Hussmann/Thermo King com equipamentos de

refrigeração; Itap Bemis com embalagens flexíveis; Eletroman com peças elétricas;

JK Metalúrgica com base de plataforma para a Atlas; Prolind com itens de cabine

para a Atlas; Basemetal com cabine para caixa eletrônico, abrigo para ônibus;

Trialtec com anel de vedação, válvula pump; Multi Fix com parafusos e afins;

Ingersoll-Rand com compressores de ar industrial; Eliane com revestimentos

cerâmicos; Plásticos Novel com embalagens plásticas – garrafas; Eixo Forte com

caçambas; Madereira Ibiporã com móveis de madeira; Wyny com o curtume; Bunge

com fertilizantes agrícolas; Pado com cadeados e fechaduras; Inquima com

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defensivos agrícolas; Wittur como fornecedora da Atlas de peças mecânicas;

Hexal/Sandoz com medicamentos farmacêuticos; Tecnorevest com produtos

químicos; Amcor Flexibles com embalagens, dentre outras tantas.

Isto para termos em conta a diversidade de processos de expansão da produção industrial no Paraná nos últimos anos e que traz impactos os mais diversos nas cidades onde se implantam, alterando os papéis e permitindo outras re-inserções das cidades na rede urbana estadual. (FRESCA, 2004 p. 55)

Conforme demonstrado pela tabela 04, (p. 34 e 35), a indústria de

transformação paranaense mostrou-se dinâmica no período analisado, devido ao

fortalecimento deste setor industrial, principalmente a partir da década de 1990.

Isso ocorreu tanto pelo surgimento e ampliação de indústrias no próprio Estado via

investimento local, quanto pelas transferências industriais em direção ao Paraná. A

diversidade de produção das unidades transferidas para o norte - paranaense,

respondeu em parte pelo aumento no número de estabelecimentos industriais e

empregos na RML, a quantidade de trabalhadores contratados se intensificou no

final da década de 1990 e início da década e 2000, onde os estabelecimentos

industriais somaram mais de 30.363 trabalhadores empregados, sendo que os

segmentos vestuário, alimentícios, químico e farmacêutico e metalúrgico foram os

mais representativos.

Os demais anos analisados mostram que, para o ano de 2002

mantiveram-se os índices de crescimento industrial e de empregabilidade na RML,

onde o número de estabelecimento saltou para 1.899 e o número de trabalhadores

para 34.356. Todavia, as informações dos anos de 2003 e de 2004 demonstram um

surto fortíssimo de atividade industrial da RML, bem como uma forte aceleração de

contratação de mão de obra.

Os indicadores em análise nesse período sofrem mudanças

impressionantes, pois do ano 2002 para o ano 2003, foram criados mais de 16.000

postos de trabalho na RML, totalizando mais de 50.820 empregados em todos os

setores industriais. O número de indústrias passa a ser de 3.775, ou seja, um

incremento de 1.476 novas empresas, onde há uma ampla predominância dos

setores alimentícios, têxteis e vestuário, indústria química de produtos

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farmacêuticos, veterinários, perfumaria, indústria da madeira e do mobiliário,

indústria metalúrgica e indústria do papel, papelão, editorial e gráfica (estes últimos

derivados da transferência industrial de grandes empresas para a RML.)

Em 2004, podemos verificar pela tabela que a RML representa

um dos pólos industriais mais importantes do Paraná e da Região Sul, pois

empregava neste ano mais de 56.000 trabalhadores e possuía 3.866

estabelecimentos consolidando-se no setor industrial brasileiro.

Segundo Bragueto (2007) o crescimento da dinâmica industrial

recente da RML esta ligada a dois processos fundamentais: o primeiro é

relacionado ao desenvolvimento de setores industriais tradicionais locais da região,

intensivos em mão de obra, e dos setores industriais ligados a base agropecuária,

cuja origem de capital é local/regional. O segundo processo vincula-se as

transferências industriais principalmente da RMSP, que se tornaram fundamentais

para a dinâmica industrial da RML, modificando as relações históricas com o estado

de São Paulo e sua região metropolitana.

Os processos fundamentais descritos acima podem ser somados a

outros fatores como:

a) Auxilio estatal e incentivos fiscais frente à guerra tributaria entre os estados;

b) Proximidade de grandes mercados consumidores (São Paulo, Curitiba, etc.);

c) A infra-estrutura que articula a RML com as demais regiões do país;

d) Nível salarial mais baixo em relação às demais Regiões Metropolitanas;

e) Fraca atuação dos sindicatos dos trabalhadores; dentre outras.

Fonte: Bragueto, 2007

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39

3- O TRABALHO E O SINDICALISMO NO BRASIL

Neste capitulo veremos como se concretizam as relações entre

trabalho e a ação sindical no Brasil, de maneira a entender como as alterações no

processo de produção incutiram novos arranjos sindicais após a disseminação do

Toyotismo.

Araújo Junior (2003) destaca que no Brasil, a partir da década de

1990, ocorreu um reordenamento político do Estado no sentido da modernização,

da busca de outra economia nacional e de outra inserção no mundo globalizado.

Neste sentido, o direcionamento político acarretou retração da regulamentação das

relações econômicas, privilegiando a concorrência e a competitividade, reduzindo a

capacidade de conduzir as políticas macroeconômicas voltadas ao emprego.

A abertura comercial e as alterações na base político-econômica do

país obrigaram as empresas nacionais a buscarem padrões internacionais de

eficiência sob pena de saírem do mercado, se tais padrões não fossem alcançados.

Entretanto, a velocidade com que inseriram esses novos padrões de

produção foi excessiva para o trabalhador. As mudanças de regras e dos

cronogramas produtivos deixaram à deriva os processos de adaptação das

empresas. Além disto, a abertura não se fez acompanhar de políticas que

permitissem criar condições de reestruturação e de aumento de competitividade

para as empresas brasileiras.

Em principio, o impacto da política neoliberal no Brasil causou

muitas perdas nos setores industriais menos preparados para enfrentar a

competição internacional, estes foram rapidamente eliminados e tiveram sua

produção substituída por produtos importados. A política de abertura, como foi

encaminhada, levou a uma política de comércio exterior que prejudicou as

empresas e os interesses nacionais, contudo, muitas indústrias conseguiram por

caminhos diversos introduzir inovações nos setores produtivos que lhes permitiu

serem competitivas no mercado globalizado. (ARAÚJO JÙNIOR, 2003, p. 55).

Uma análise dos indicadores do mercado de trabalho demonstrou

que o Brasil conseguiu ser um país de bons negócios para os investidores

internacionais nos anos de 1990, por outro lado, ocorreu uma perda cumulativa de

postos de trabalho na indústria, com crescimento persistente do desemprego

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aberto e da precarização de estatutos salariais, principalmente nos "núcleos

modernos" do mundo do trabalho (POCHMANN, 1999, p. 65).

3.1- O Trabalho

No mundo do trabalho, grandes mudanças também ocorreram no

Brasil, mas de forma mais tardia do que em outros países do mundo, tornando-se

mais significativas na última década do século XX. Ocorreram mudanças

quantitativas e qualitativas com melhoria significativa dos produtos nacionais,

gerado a partir da reorganização do trabalho. Estas novas formas de organização

visaram reduzir os custos e aumentar a competitividade dentro de uma economia

mais aberta.

A reestruturação produtiva produziu relações de trabalho marcadas

pelo uso da tecnologia e desenvolvimento de novas gestões, pois “[...] as mudanças

nas formas de gestão, também vêm afetando o setor de serviços, que cada vez

mais se submete à racionalidade do capital” (ANTUNES, 2000, p. 111).

A concorrência empresarial e a competitividade se tornaram o

grande diferencial entre as empresas de origem nacional, ou mesmo entre as

multinacionais, principalmente após a abertura comercial principiada nos anos 1990.

A reestruturação da organização da produção, com a introdução

freqüente do modelo japonês nas indústrias brasileiras, tem aumentado

consideravelmente a aceleração do ritmo de trabalho.

Benjamin Coriat (1994) explica que introdução do just-in- time, kan-

ban e da qualidade total (total quality control – TQC), vieram trazer ao mundo do

trabalho, novas formas de organização. Porém, a introdução cada vez mais

freqüente das técnicas de organização japonesa tem objetivos bem definidos,

buscando maior competitividade, melhorando a qualidade e rebaixando os custos

de produção.

[...] tanto quanto a estrita produtividade, é a qualidade e a diferenciação dos produtos que são almejadas e obtidas, e que elas o são através das práticas de elaboração da “flexibilidade interna” do trabalho (desespecialização, multifuncionalidade, etc..) [...] em que o regime

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taylorista da estrita precisão do trabalho (em tarefas repetitivas e parcelares) é abolido, para ceder lugar a um regime de reagregação e de relativa “indivisão” das tarefas, o bom desenrolar da produção exige e requer este “engajamento” dos assalariados (CORIAT, 1994, p. 108).

O just-in-time constitui um pilar fundamental do sistema toyotista,

tendo por base a idéia de que a produção deve ser abastecida por mercadorias na

quantidade certa e no momento exato para utilização imediata, ou seja, deve estar

associada á demanda com zero de estoques, que propícia uma melhor

racionalização do espaço físico da fábrica. (CORIAT, 1994 p. 45)

Ampliar os espaços livres no interior da fábrica é necessário à

flexibilização, para implementar novas linhas de montagem e diversificar ainda mais

a produção utilizando-se da infra estrutura ali presente, sem construir novos

espaços ou novas unidades produtivas. (LUEDELMANN, 1998 p. 61)

Este método caracteriza-se por produzir a quantidade certa, no

momento certo e com qualidade, possibilitando a flexibilização da produção,

exigindo maior eficiência tanto dos trabalhadores, quanto das subsidiárias.

O sistema kan-ban permite diminuir o estoque, o retrabalho e a

capacidade ociosa dentro da empresa, busca maior controle da produção, com o

fator qualidade em primeiro plano para dar garantias de eficiência ao consumidor.

Coriat (1988) explica o sistema de funcionamento do kan-ban de

maneira a se cumprir a meta dos “cinco zeros” – (defeito zero, pane zero, estoque

zero, demora zero e papéis zero), de forma que o não cumprimento destes

requisitos ocasionaria uma disfunção no sistema.

Contudo, conforme explicado por Luedelmann (1998), este sistema

apresenta-se frágil e passível de transtornos e está constantemente atrelado ao

sistema Just-in-time. Porém, ao utilizar-se deste método, a gerência exige mais do

trabalhador e dos fornecedores, visto que as peças entram direto na linha de

produção sem parar no estoque.

Esta responsabilidade incutida no trabalhador decorre do fato de a

gerência cobrar a qualidade na produção, visto que, se houver queda de qualidade

aliada a uma forte concorrência, existe o risco iminente de demissões.

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O sistema de qualidade total implantado nas empresas japonesas na

década de 1950 visando à qualidade em todo o processo produtivo, distribuindo

responsabilidades para eliminar defeitos e diminuir o custo de produção.

Neste sistema um grupo de trabalhadores de um mesmo setor se

reúne para solucionar problemas, com participação e polivalência autônomos, visto

que vários dos problemas do processo produtivo não passam pelo conhecimento

dos engenheiros ou gerentes. Portanto, como destaca Hirata (1993), o sistema de

qualidade total proporciona melhorias na produção da empresa e na produtividade

do trabalhador.

Deste modo, ficou comprovado que o controle de qualidade em todo

o processo produtivo, distribuindo a responsabilidade ao trabalhador de eliminar os

defeitos a cada operador, garantiria a diminuição de custos. Por outro lado, a busca

por “zero defeito” aumenta a sobrecarga de tarefas dos trabalhadores, uma vez que

estes devem produzir e verificar a sua própria produção. (LUEDELMANN, 1998 p.

64)

Outros dados podem ser observados em relação à reestruturação

organizacional. O processo de terceirização da fabricação de produtos básicos e

prestação de serviços de diversos setores ao processo produtivo acabam por

enxugar os custos e as responsabilidades quanto a prazos, impostos, benefícios e

outros. Isso se mostrou necessário devido a um mercado extremamente competitivo

e recessivo. Daí a necessidade de se cortar custos e se aproximar das formas de

organização do trabalho dos países do centro do sistema capitalista.

A reorganização produtiva impõe conseqüências econômicas e sociais, que irão se diferenciar nos diversos espaços nacionais. “[...], em outras palavras, as grandes e médias empresas repassam atividades e funções para outras, através da terceirização, da sub-contratação, da organização dos condomínios industriais e do consórcio modular. Assim, em termos gerais, ocorre uma concentração e centralização de capital com desconcentração da produção e aumento da flexibilidade organizacional”. (KREIN, 2001, p. 20)

As novas relações de trabalhado acarretaram inovações

organizacionais à qualificação dos trabalhadores e à organização da mão-de-obra e

do processo produtivo, tendo como característica a capacidade de poder ser

incorporada de maneira diferenciada por distintos setores econômicos.

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43

Neste momento surgiu uma demanda por força de trabalho

altamente qualificada, que fez com que as empresas passassem a investir em

programas de treinamento e desenvolvimento. Os trabalhadores sentiram-se

pressionados a se preparar buscando aperfeiçoamentos via cursos de capacitação

nas atividades de produção para assim permanecerem no trabalho.

Atualmente, os métodos de organização implantados dentro das

indústrias almejam que o trabalhador tome as decisões e faça as análises

pertinentes para resolver problemas ou para buscar novas alternativas, visando a

maior produtividade dentro do ambiente de trabalho. O trabalhador deve converter-

se em ‘sujeito ativo’ da coordenação de diferentes funções da produção, em vez de

ser simplesmente comandado. O aprendizado coletivo se converte no principal

aspecto da produtividade (ANTUNES, 2000, p. 128).

As inovações organizacionais são muito dependentes da

qualificação dos trabalhadores e da organização da mão-de-obra e do processo

produtivo, tendo como característica a capacidade de poder ser incorporada de

maneira diferenciada por distintos setores econômicos.

As relações industriais são também o instrumento de “organização

qualificadora” estabelecida, na medida em que a formação e os mercados internos

constantemente reproduzem a estrutura e a natureza das qualificações e do saber-

fazer que requerem os dispositivos organizacionais da empresa japonesa (CORIAT,

1994, p. 102).

Os níveis de qualificação do trabalhador oscilam de acordo com as

habilidades necessárias no processo produtivo e a busca por melhores

trabalhadores vai se concentrar na questão da polivalência, ou seja, um trabalhador

polivalente é aquele que, por exemplo, sabe preparar a programação de todas as

máquinas, bem como realizar a manutenção das mesmas. O envolvimento dos

trabalhadores nos interesses da empresa é resultado dos processos de uma nova

organização de trabalho, mais enxuta e com níveis hierárquicos reduzidos, exigindo

mais do trabalhador.

As implicações das relações trabalhistas do sistema toyotista sobre o

trabalhador ocasionaram uma extração muito ampliada de mais valia, utilizando-se

de estratégias como o trabalho em equipe, a horizontalização da produção e a

flexibilização da utilização da mão-de-obra.

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A execução das tarefas em equipe entre os trabalhadores dissemina

a competição entre os operários. A horizontalização da produção da empresa

dificulta a atuação sindical, bem como a flexibilização da utilização da mão-de-obra,

que acaba produzindo os mesmos efeitos para o sindicalismo.

Nessas condições, a subjetividade da classe é transformada em um

objeto, em um “sujeito-objeto”, que funciona para a auto-afirmação e a reprodução

de uma força entranhada. O indivíduo chega à auto-alienar suas possibilidades

mais próprias, vendendo, por exemplo, sua força de trabalho sob condições que lhe

são impostas, ou, em outro plano, sacrifica-se ao consumo de prestígio, imposto

pela lei de mercado ( ANTUNES, 2000, p. 149 - 150).

As novas técnicas de organização buscam um trabalhador mais

envolvido com a produção, seus resultados e a forma de obtê-los são

condicionados para um direcionamento ao trabalho em grupo.

A produção torna-se variada e modulada, através de uma fábrica

integrada e flexível em condições de dar rápidas respostas ao mercado e a seus

clientes. As exigências sobre o trabalhador aumentam em termos de maior

qualificação e habilidades, tornando-o um trabalhador polifuncional, de modo a

intensificar ainda mais a exploração já desenfreada do trabalhador.

As novas formas de organização do processo de trabalho estão

determinando as relações entre patrões e empregados. Essas novas concepções

de relações de trabalho buscam um novo “padrão” de trabalhador, mais qualificado,

participativo e que tenha habilidades para atuar em vários setores da produção.

Contudo, o processo produtivo e as novas tecnologias mudaram a

qualificação do trabalhador e as habilidades requeridas, mas isto não significou a

democratização dessas relações. O trabalhador é cada vez mais exigido,

controlado, tendo que dobrar sua atenção neste tipo de atividade altamente

qualificada.

No entanto, este sistema Toyotista não pode ser entendido como um

sistema presente na totalidade das indústrias brasileiras, pois varias delas usam

ainda elementos do fordismo junto ao sistema toyotista, por exemplo não se paga

hora extra ao trabalhador, mas sim se institui um banco de horas, que caracteriza

uma exploração ainda maior da mais valia do trabalhador.

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3.2- o Sindicalismo Atual no Brasil

Segundo Alves (2002), durante a "década neoliberal" o Brasil

apresentou taxas medíocres de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Se

nos anos 1980, considerados a "década perdida", tivemos uma taxa média anual

de crescimento do PIB de 3%, nos anos 90 o crescimento anual médio do país

atingiu apenas 1,7% (até 1999).

A "década neoliberal" aparece, portanto, como uma "década mais que perdida". É a década da inserção subalterna do Brasil na mundialização do capital por meio de políticas neoliberais que acentuaram a lógica destrutiva do capital no país. (POCHMANN, 1999, p. 9).

O "choque do capitalismo" no Brasil da década de 1990 tendeu a

concentrar mais ainda a riqueza social e a tornar mais precário o mundo do

trabalho. Por exemplo, na década de 1990 cresceu a distância salarial entre os

10% mais ricos e os 40% mais pobres. Em 1992 a diferença entre o pico e a base

da pirâmide nacional de rendimentos era de cerca de treze salários mínimos.

(ALVES, 2002, p. 17)

O reflexo da reprodução ampliada da desigualdade de renda sobre a estrutura de consumo no Brasil de primórdios da década de 2000 pode ser constatado pelos resultados da pesquisa da Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (ANEP) e da Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisas de Mercado (ABIPEM), com base em dados do IBGE, apresentado em 2002: cerca de 81% da população, ou quatro entre cinco pessoas, vivem na berlinda do que se produz e se consome. Os 137 milhões de brasileiros pertencentes às classes C, D e E, diz a pesquisa, possuem rendas mensais brutas inferiores a R$ 1 125,00, restando-lhes, portanto, quase nenhum poder de escolha nas decisões de consumo(UMA NAÇÃO SEM CONSUMIDORES, 2002. Apud ALVES, 2002, p. 28).

Conforme destacado por Santana (2000a) e pela Central Geral dos

Trabalhadores CGT (1996), a gravidade dos impactos da reestruturação no Brasil

desencadeou muitos problemas internos que, recentes ou antigos, serviram como

aditivo para a crise. “Assim, aos problemas intensificados pelo "período do milagre

econômico" (concentração fundiária, inchaço das cidades, concentração de renda,

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informatização do emprego, precarização e marginalização das populações

urbanas), associaram-se os problemas trazidos pelas mudanças em curso, tais

como, aumento do desemprego, desestabilização de certas categorias de

trabalhadores ligadas aos setores mais atingidos pelas mudanças econômicas,

aumento da informatização e queda de rendimento médio dos trabalhadores”

(CGT, 1996, p. 20).

Apesar das descontinuidades e incertezas conjunturais no ciclo da

economia brasileira, tornou-se perceptível no decorrer da década de 1990 tanto em

períodos de recessão quanto em períodos de retomada do crescimento, o

continuum de degradação do mundo do trabalho no país. A sensação de perda

contínua no emprego, salário e condições de trabalho imprimiram a sua marca em

contingentes maciços da PEA (População Economicamente Ativa), mesmo nos

breves momentos de recuperação da economia brasileira. (GONÇALVES, 1999, p.

22)

Na visão CGT, a crise ganhou mais força a partir de 1990 quando a

política econômica se restringiu à prioridade concedida à estabilização-abertura-

privatização. Com isso, ocorreu uma deterioração da situação do emprego. O

desemprego aumentou e a qualidade do emprego piorou. O reflexo disso residiu:

na destruição de postos de trabalho visando á busca de eficiência pelas empresas

(afetando mais a indústria e menos os serviços), no aumento brutal da

precarização do emprego, no aumento da informalidade e na crescente rotatividade

da força de trabalho que atingiu níveis recordes em 1995.

Para Alves (2002) é perceptível a descontinuidade da conjuntura na

economia capitalista no Brasil nos anos 1990, principalmente no tocante a

oscilações no PIB. O que merece ser destacado, por outro lado, é a linha contínua

de degradação do mundo do trabalho. Apesar das novas vulnerabilidades

sistêmicas, as políticas neoliberais contribuíram para a constituição de um cenário

propício para os negócios capitalistas no país.

Na ótica do capital, os anos de 1990 constituíram um sistema

progressivo de novas sinergias para a valorização capitalista, principalmente em

sua forma fictícia (como atesta a alta rentabilidade dos bancos nos anos 1990).

Entretanto, as políticas neoliberais e o novo complexo de reestruturação produtiva

conseguiram alterar a dinâmica da sociabilidade do trabalho no Brasil, degradando-

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a, tanto no sentido objetivo, ou seja, no tocante à materialidade da organização do

processo de trabalho, quanto no sentido subjetivo, principalmente no plano da

consciência de classe.

A linha contínua de degradação do mundo do trabalho, que

delineou-se nos anos de 1990 significa um processo estrutural de transformações

da objetividade e da subjetividade da classe trabalhadora no Brasil, em especial do

setor industrial, com impactos decisivos no sindicalismo e nos movimentos sociais

urbanos e rurais. (ALVES, 2002, p. 13)

É provável que a noção de precariedade perca seu caráter atípico e torne-se um nexo institucional, e, portanto, típico, da própria implicação assalariada nas condições do novo regime de acumulação flexível. Na verdade, a idéia de precariedade conduz-se a um tempo passado que tende a tornar-se distante e perder sua presença crítica, diante da nova etapa capitalista. (ALVES, 2002 p. 29)

A partir dos apontamentos de Hirata (1993), na "década neoliberal"

surgiu uma nova configuração do mundo do trabalho no Brasil. Ela desenvolveu-se

articulando as dimensões do "novo" e as do "precário" mundo do trabalho. O

desenvolvimento do toyotismo sistêmico tendeu a acirrar o contraste entre formas

"arcaicas" e "modernas" de exploração da força de trabalho.

Os trabalhadores empregados estão trabalhando mais intensamente, sob maior pressão e ganhando menos. Nas empresas que passaram por processos de terceirização, reengenharia e outras formas de racionalização, os trabalhadores se queixam da intensificação do ritmo de trabalho e do stress advindo da exigência de aumentar a produtividade, sob pressão permanente do medo do desemprego (CGT, 1996, p. 20-21).

O texto de Santana (2000b) expressa que, na análise da CUT

sobre reestruturação produtiva, adotado pela 7a Plenária Nacional da entidade

(CUT, 1995b), o processo de reestruturação produtiva em nível internacional teria

tomado impulso a partir das crises pelas quais passaram os países desenvolvidos

em fins dos anos sessenta e início dos setenta. Ele teria como seus componentes

mais marcantes: a geração e a rápida difusão de inovações tecnológicas,

organizacionais e gerenciais (CUT, 1998b, p. 2-3). Este comporia um cenário no

qual:

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A utilização crescente de componentes de base microeletrônica e dos recursos da informática em produtos e processo industrial tem levado a mudança da base técnica de um conjunto de indústrias, à expansão de seus mercados associada à criação de novos produtos e setores e converteu-se na base de transmissão de inovações (CUT, 1998b, p. 2-3).

As inovações de ordem técnica, científica e informacional no campo

do trabalho constituem elementos que alteram o espaço, desta maneira Santos

explica o meio técnico como a emergência do espaço mecanizado. O componente

internacional da divisão do trabalho tende a aumentar exponencialmente. Assim,

as motivações de uso dos sistemas técnicos são crescentemente estranhas às

lógicas locais e, mesmo, nacionais; e a importância da troca na sobrevivência do

grupo também cresce. Como o êxito, nesse processo de comércio, depende, em

grande parte, da presença de sistemas técnicos eficazes, estes acabam por ser

cada vez mais presentes.

[...] Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. Já hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes dos novos progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-científico-informacional. Os espaços assim requalificados atendem, sobretudo aos interesses dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e são incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio técnico-científico-informacional é a cara geográfica da globalização. (SANTOS, 2001, p. 259)

Desta maneira, a globalização alterou profundamente o "perfil e a

composição do mercado de trabalho", acelerando:

A diferenciação entre os trabalhadores com a criação de um núcleo mais estável de trabalhadores multiqualificados, responsáveis pela condução da produção nas novas empresas e a desqualificação profissional de um contingente expressivo de trabalhadores (CUT, 1998, p. 8).

Alves (2002) explica que se por um lado, houve a constituição de

um núcleo de novos operários e empregados ligados às corporações industriais e

de serviços mais dinâmicas, por outro lado, desenvolveu-se uma precarização da

força de trabalho, que se caracteriza não apenas pelo desemprego de massas e

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pela inatividade, mas pela degradação de estatutos salariais e proliferação de

trabalhos temporários, seja em atividades industriais ou de serviços.

Neste período a remuneração salarial não acompanhou o ganho de produtividade alcançado. De modo geral, acentuou-se a queda da participação dos salários no PIB, de 45% em 1990, para 37% em 1999, em contraste com o crescimento da produtividade da indústria, em média, 2,53% no Brasil, de 1991 a 1998. Um detalhe interessante: esse ritmo foi parecido com o norte-americano sob a nova economia, cuja produtividade crescia 2,65% por ano desde 1995. (ALVES, 2002 p. 38)

A nova geração de operários e empregados, aqueles com estatuto

salarial formal e representando um contingente "nuclear" da força de trabalho,

diante da constituição de um precário mundo do trabalho, tende a ter como observa

Rodrigues no caso dos metalúrgicos do ABC, "[...] uma postura mais pragmática e

mais realista na relação capital-trabalho". O referido autor salienta que: "o medo do

desemprego passa a ser a principal preocupação para um amplo setor da mão-de-

obra" (RODRIGUES, 1999, p. 123).

A partir dos anos de 1990 ocorreu uma "implosão" dos núcleos mais

organizados da classe, com importantes categorias de operários e empregados

organizados tornando-se objeto de uma nova ofensiva do capital na produção. É o

caso das categorias de metalúrgicos e bancários, que se destacaram nos anos

1980 como vanguardas da resistência sindical. As bases sindicais de tais

contingentes de trabalhadores assalariados, categorias importantes para a

dinâmica da luta de classes no país, tiveram, no decorrer dos anos 1990, perdas

significativas de postos de trabalho, seja devido à nova ofensiva do capital na

produção, seja devido à política neoliberal (ALVES, 2002, p. 19).

O autor em tela diz que na verdade não é que a classe tenha se

fragmentado, no sentido empírico o que ocorreu foi à dispersão de seus coletivos

organizados, bases sindicais militantes e organizações por local de trabalho,

possuidores de uma experiência de luta de classes, constituídas no decorrer dos

anos 1980.

Mesmo no setor público, onde a ofensiva do capital (na forma da

política neoliberal) assumiu a forma de privatização, desmonte e precarização das

condições de trabalho e do estatuto salarial, o potencial de mobilização e luta

sindical, apesar de vigoroso em algumas categorias mais organizadas, não

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conseguiu ter a mesma eficácia do movimento sindical da década de 1980

(ALVES, 2002 p. 26).

Os limites estruturais do sindicalismo e a debilidade política (e ideológica) do partido de classe tornaram-se manifesta. Os sindicatos demonstraram sua dificuldade histórica de lidar com o precário mundo do trabalho, com o trabalho precarizado, parcelado e informal, instalado na maioria das vezes nas pequenas e médias empresas e nos domicílios. (ALVES, 2002 p. 36)

No tocante à práxis sindical dos anos 1990, constatou-se o predomínio de uma nova burocracia sindical, representada, no campo da esquerda social-democrata, pela CUT, e no campo da direita, pela Força Sindical, que passaram a incorporar práticas sindicais defensivistas de novo tipo, buscando resistir, de modo propositivo (ou de adesão sistemática, como é o caso da Força Sindical), à ofensiva neoliberal. Desde meados dos anos 1980 são perceptíveis tendências de um sindicalismo de novo tipo que se desenvolvia, por exemplo, no seio da CUT, com o predomínio de um sindicalismo propositivo e de participação social-democrata, ou ainda, o surgimento de uma alternativa liberal-conservadora, a Força Sindical, em 1991. (BOITO JR., 1999, p. 186).

Giovanni Alves (2002) descreve que nos anos 1990 ocorreu uma

crise do sindicalismo no Brasil, e não propriamente uma crise sindical, tendo em

vista que as burocracias sindicais têm conseguido, de certo modo, preservar a

estrutura sindical vigente. A crise do sindicalismo caracteriza-se não apenas pela

queda na taxa de sindicalização, mas principalmente pela diminuição da eficácia da

ação sindical.

Na verdade, a ação sindical, principalmente aquela vinculada ao novo sindicalismo dos anos 80, tende a perder sua dimensão política, de prática de classe de antagônica diante do capital, assumindo um caráter pragmático-neocorporativista, mais circunscrito à segmentação setorial ou por empresa (RODRIGUES, 1999 p. 96).

Para Viana (1999) o acesso das centrais sindicais (CUT, CGT e

Força Sindical) a fundos público-estatais, como o FAT (Fundo de Amparo do

Trabalhador), por meio de elaboração de projetos de qualificação profissional de

acordo com a lógica do toyotismo sistêmico, tendeu a contribuir para a

preservação da burocracia sindical num contexto de crise do sindicalismo. Em

2000, a Força Sindical, por exemplo, consumiu 40% das verbas do FAT.

É claro que o sindicalismo no Brasil, apesar da "década neoliberal", preservou algum poder de barganha, alguma capacidade de reagir e de

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negociar, entretanto sem conseguir ir além da lógica concertativo-propositiva e sua implicação econômico-corporativa. Mesmo o maior experimento de resistência sindical dos anos 1990, a criação das câmaras setoriais durante o governo Collor, padeceu do viés neocorporativo, com cada sindicato levando a buscar soluções para o seu "setor", contribuindo para uma luta velada entre sindicatos de diferentes categorias e até entre a mesma categoria por verbas públicas para sua empresa ou setor, alimentando um exclusivismo ou egoísmo de fração (BOITO JR., 1999 p. 192).

Segundo Boito Jr. (1999), entre as categorias de assalariados mais

organizados, a pauta de negociação coletiva tendeu a incorporar, por exemplo, a

defesa do emprego, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), a flexibilização

da jornada de trabalho (banco de horas) e a discussão na gestão e organização do

trabalho. Na verdade, alteraram-se as implicações do processo de negociação

coletiva, que passou a incorporar disposições do toyotismo sistêmico, ou seja, o

foco político-territorial de antagonismo entre capital e trabalho circunscreveu-se ao

âmbito da empresa e a implicação salarial vinculou-se mais a recompensas de

desempenho individual ou em equipe.

De certo modo, o maior desafio do sindicalismo no Brasil na virada para o século XXI é romper com o viés burocrático-corporativo, organizar e mobilizar um contingente maciço de jovens operários e operárias, empregados e empregadas e, inclusive, trabalhadores por conta própria precarizados, explorados pelo capital. Em decorrência da crise do sindicalismo, que possui um componente estrutural (os limites do sindicalismo diante da nova lógica de acumulação capitalista), a capacidade de agitação sindical no sentido de sua inserção nas lutas sociais tornou-se bastante exígua (o próprio viés neocorporativo contribuiu para seu isolamento relativo dos problemas prementes do mundo do trabalho). Os sindicatos parecem incapazes de representar, não apenas em virtude de problemas burocrático-organizativos (ainda bastante verticalizados), mas principalmente político-ideológicos, o novo (e precário) mundo do trabalho que surge com a mundialização do capital. (ALVES, 2002 p. 34)

Um dos principais problemas apontados por Santana (2000b p.9) é

que as inovações, quase sempre, se efetivariam sem serem acompanhadas de

discussão com os sindicatos. Foi a partir deste pressuposto que a CUT, baseando-

se nas Resoluções de sua 8a Plenária, de 1996 (CUT, 1998), estabeleceu sua

estratégia de ação sindical frente ao cenário das mudanças.

Neste sentido Alves (2002) explica que essa ação teve como eixo:

fortalecer os laços de solidariedade entre os trabalhadores (dentro das empresas,

no ramo, categorias, nacional e internacionalmente); buscar uma política de

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empregos que contemple o pleno emprego; implantar a organização do sindicato

no interior das empresas (local privilegiado da reestruturação); capacitar a

militância sindical sobre os "novos temas"; impulsionar a mobilização dos

trabalhadores em defesa do emprego e, ainda, utilizar os meios legal, institucional

e de negociação direta como pólos de ação.

Na visão CGT, o cenário geral da ação sindical brasileira se

constituiria a partir de alguns pontos característicos, tais como:

O avanço da crença exagerada na regulação pelo mercado, a busca da eficiência a qualquer preço e o abandono dos valores da solidariedade e da comunidade (...) [o que produziria] uma competição selvagem entre capitais e entre economias capitalistas, que desconsidera qualquer repercussão sobre a qualidade de vida dos trabalhadores (CGT, 1996, p. 19).

Este processo, portanto, não deixaria os trabalhadores incólumes. A

Central assinala que, como em outros momentos de reorganização profunda das

economias capitalistas, a classe trabalhadora está em risco de arcar com um custo

social insuportável (CGT, 1996, p. 19). De forma crescente, a reestruturação vai

mostrando seu não comprometimento face à ética do ser humano (CUT, 1998, p.

19).

Segundo a Força Sindical (FS), conforme seu documento “’Um

projeto para o Brasil’: a proposta da Força Sindical” (FS, 1993, p. 88), o novo

mundo do trabalho poderia ser caracterizado, em seu conjunto, por: alteração da

base técnica, aplicação de novas tecnologias à produção, aumento de

produtividade e de qualidade dos produtos, novas formas de organização do

trabalho, processo de terceirização, diminuição dos níveis hierárquicos, ampliação

dos campos de atuação tecnológica dos trabalhadores, participação dos

trabalhadores nas decisões e no planejamento.

Na visão da Força Sindical, portanto, essas alterações trariam

impactos sobre o papel dos trabalhadores no âmbito da produção o que abriria

novas perspectivas em termos do conflito trabalho/capital. Assim,

A tradicional divisão técnica do trabalho das unidades fabris das economias mais avançadas vem sendo substituída, gradativamente, por novas formas de organização da produção e de gestão dos recursos humanos, onde o papel do trabalhador, longe de ser substituído, vem transmudando-se de uma dimensão meramente mecanicista para uma atuação substancialmente cerebral, induzindo enfoques e dimensões até

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então inimagináveis ao eterno conflito trabalho/capital (FORÇA SINDICAL, 1993, p. 271).

Em sua análise do processo de reestruturação produtiva no Brasil, a

Força Sindical parte do que ela chama de herança acumulada, oriunda da década

de oitenta. Esta seria configurada a partir de dois fatores centrais: a transição

democrática e o colapso de um modelo de desenvolvimento que se teria

consolidado no pós-guerra. Tais fatores teriam colocado desafios que precisaram

esperar para que deles se tomassem consciência. Para a FS, o país se

encontraria, agora, diante do seguinte dilema: Ou vence o desafio da modernidade

ou corre o risco de involuir, tanto do ponto de vista das instituições políticas como

do sistema produtivo. (SANTANA, 2000b, p. 15)

É neste sentido que o autor supracitado assinala a importância da

qualificação para os trabalhadores, o que lhes garantiria possibilidades de inserção

satisfatória no quadro das mudanças. Na visão da Força Sindical, as novas formas

de organização do trabalho adotariam métodos que tinham como pressuposto um

trabalhador com sólida educação geral e profissionalizante. Isto levaria, em sua

implantação, ao correlato processo de elevação salarial para os trabalhadores

incluídos nestes marcos.

Observando-se o cenário atual Santana (2000b) destaca que,

apesar de serem alvos primordiais, não são apenas os sindicatos que estão sob

fogo cerrado. Em nome de um mundo novo tem-se tentado acabar com todas as

formas de regulação e controle na disputa entre capital e trabalho. A relação entre

economia e sociedade deveria se dar a partir do primado da primeira sobre a

segunda; mais ainda, muitas vezes, o que é pior, a necessidade do predomínio da

primeira para o bom funcionamento da segunda. Sob esta perspectiva, a economia

deve operar livre das possíveis limitações impostas pela sociedade.

Nesse sentido, os trabalhadores têm visto seus direitos serem grandemente restringidos ao redor do globo. O Brasil não está fora desse quadro. Afoitos seguidores das vogas internacionais, nossos governos e elites têm se esmerado em dar sua cota de contribuição ao desmantelamento das formas anteriores de proteção aos trabalhadores, que por aqui já eram inferiores às desfrutadas por seus pares europeus que viveram sob o welfare state. (SANTANA, 2000b p. 18).

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4 - SINDICALISMO NA RML E AS CONDIÇÕES DE EMPREGO E RENDA DOS

TRABALHADORES

Boito Jr. (1999) descreve que o movimento sindical brasileiro está,

de um modo bastante geral, dividido em dois grandes campos cuja origem data dos

anos 30 e que precede, portanto, a atual conjuntura neoliberal.

De um lado, há o campo do peleguismo, fruto da estrutura sindical

corporativa de Estado; esse campo é composto pelos dirigentes sindicais cuja

prática é essencialmente governista. São politicamente conservadores, combatem

as correntes reformistas mais avançadas e as correntes revolucionárias, e, no plano

da ação reivindicativa, distribuem-se num espectro que vai, da passividade

completa, à ação reivindicativa moderada e localizada. (BOITO JR., 1999, p. 104)

O autor supracitado revela que existe, de outro lado, um campo

sindicalista politicamente bastante heterogêneo: o das correntes sindicais

reformistas e revolucionárias, cuja unidade provém, fundamental e minimamente, da

orientação combativa implantada no plano da ação reivindicativa.

Dependendo do período considerado, as correntes integrantes e as

correntes dirigentes desse campo variam. Estão ou estiveram nele os comunistas,

os nacionalistas, os socialistas e, mais recentemente, os cristãos de esquerda e os

petistas. O sindicalismo combativo é, em termos numéricos, minoritário, mas é

hegemônico nos sindicatos mais importantes do país. (BOITO JR., 1999, p. 110)

Neste capitulo o objetivo é discutir como esta ocorrendo à ação

sindicatos dos trabalhadores nas indústrias da RML, visto a importância que a ação

sindical possui nas formações econômico-sociais que permitem o “conhecimento de

uma sociedade em sua totalidade e nas suas frações.

Em outras palavras, a formação econômico-social permite compreender as especificidades de realização de um modo de produção em um determinado lugar, região em escalas diversas, numa clara imbricação entre a categoria em tela com o espaço, por intermédio da geografia. (SANTOS, 1982, p.14)

Entrevistas realizadas junto ao Sindicato dos Trabalhadores na

Indústria do Vestuário de Londrina e Região; Sindicato dos Trabalhadores na

Indústria Metalúrgica Mecânica e de Material Elétrico de Londrina e Região;

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Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de

Londrina e Região; Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de

Londrina e Região; Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Material Plástico

do Norte do Paraná; Sindicato dos Trabalhadores nas indústrias Gráficas de

Londrina e Sindicato dos Trabalhadores nas indústrias Químicas e Farmacêutica

Londrina e Região foi possível entender a ação destes sindicatos em direção aos

enfrentamentos da relação capital – trabalho e as implicações nas condições de

trabalho e renda dos trabalhadores da RML.

A Figura 03 foi confeccionada de acordo com as informações

obtidas junto aos sindicatos dos trabalhadores nas indústrias da RML, vindo á

ilustrar a área de abrangência que cada sindicato possui na região. Nota-se que a

área de influência dos sindicatos vai além da própria RML, ou seja, os sindicatos

representam os trabalhadores de dezenas de municípios vizinhos á RML, na busca

de conseguir o maior numero de associados possível, contudo, como explicado

anteriormente os sindicatos não estão agindo para enfrentar a exploração

sobreposta ao trabalhador.

A realidade atual dos sindicatos da RML não remete ao tempo de

sua grande articulação de meados da década de 1980. Isto se explica, conforme

Rodrigues (1999), pelo fato da decadência dos regimes socialistas do Leste

Europeu e pelas derrotas eleitorais de partidos de esquerda na década de 1980;

pelo avanço das concepções liberais e individualistas conjuntamente com o

declínio das concepções holísticas; e pela hostilidade de parte importante da

opinião pública com relação aos sindicatos.

O destaque do setor industrial da RML é dado pela presença de

indústrias de gêneros alimentícios, metalurgia, madeira (mobiliário) e confecção.

Deste modo os sindicatos que representam estas classes de trabalhadores

recebem uma atenção especial nesta análise, pois estes setores industriais da

RML são os que apresentam maior número de trabalhadores empregados; e onde

ocorrem os menores índices de trabalhadores sindicalizados.

O setor da indústria de alimentação na RML é marcado pela

presença de um grande número de cooperativas, empresas ligadas ao

beneficiamento de café, frigoríficos e indústrias de bebidas.

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Apesar de estarem dispersas por toda a região em estudo, as

maiores empresas estão alocadas principalmente nos municípios de Londrina,

Cambé, Rolândia e Jataizinho. Contudo, o Sindicato dos Trabalhadores nas

Indústrias de Alimentação de Londrina, fundado em 1986, tem a representatividade

de toda esta classe, em detrimento dos outros sete municípios da RML.

Este sindicato conta cerca de 3.500 associados, com salário médio

em torno de R$450,00 reais; oferece assistência médica, auxílio para material

escolar, entre outros benefícios. Numa ótica geral, através das informações

obtidas, constatou-se que o setor como um todo possui mais de 16.000

trabalhadores, o que mostra que o número de associados aos sindicatos é baixo, o

que se reflete na hora das convenções coletivas de trabalho com os sindicatos

patronais, que sempre se articulam e adquirem vantagens nas negociações. A

impressão obtida na entrevista é que os trabalhadores não acreditam na ação do

sindicato, e que os mesmos estão à margem de sua atuação.

Para o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mecânica e

Metalúrgica, fundado em 1959, as dificuldades se repetem. São mais de 5.700

trabalhadores da RML, sendo que deste total, 900 estão filiado ao sindicato de

maior representatividade local (Londrina). A partir da entrevista com o

representante deste sindicato viu-se que existe um déficit de mão de obra

qualificada para este setor, fato que resulta num salário em torno de R$540,00

reais, que poderia ser de R$750,00 a R$800,00 reais, se houvesse a qualificação

necessária.

Outro fator que se relaciona aos salários baixos é a difícil relação

entre os sindicatos dos trabalhadores e o patronal, que estão em um embate

constante quanto aos acordos coletivos de trabalho. Outro fato narrado pelo

dirigente do sindicato dos trabalhadores é a pouca procura para se sindicalizar, isto

devido às pressões e ameaças de demissão sofrida dentro das empresas, deste

modo, por medo de perderem o emprego os trabalhadores não se filiam ao

sindicato, e em certas ocasiões podem até serem demitidos sem receberem os

benefícios que tem direito.

A RML possui destaque bastante acentuando no setor da

construção civil e do mobiliário, pois os municípios de Londrina e Cambé produzem

móveis para todo o Brasil e também para exportação.

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Para este setor existem na região mais de 5.500 trabalhadores,

segmentados em distintas categorias (construção civil, madeira, mobiliário,

cerâmica, etc.). O piso salarial para classe é diferenciado, variando de R$ 600,00

para a construção civil até R$ 550,00 para madeira e mobiliário.

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do

Mobiliário de Londrina e Região (não representa o município de Arapongas, que

possui sindicato próprio) foi fundado em 1968, atua em concomitância com a

Federação dos Trabalhadores da Construção Civil do Paraná (FETRACONSPAR),

que gere as diretrizes e as bases das negociações dessa classe no Paraná. Isto

acaba por dificultar uma unificação maciça, pois existem grandes diferenciações

regionais dentro do Estado do Paraná; sendo o setor da construção civil é muito

dinâmico na contratação de mão de obra. Por este motivo pode-se concluir que a

atuação dos sindicatos em escala regional é muito pouco representativa, não

refletindo benefícios aos trabalhadores sindicalizados.

Outro setor que merece destaque nesta análise é o de vestuário,

confecção, fiação e tecelagem, ao todo na região em estudo existem mais de 780

empresas de vestuário em geral, empregando direta e indiretamente mais de

12.000 pessoas. Segundo os levantamentos realizados, este setor é um dos que

vem sofrendo maiores perdas devido à guerra fiscal entre os estados. Dados

colhidos junto ao sindicato mostram que mais de 400 fábricas deixaram o Estado

do Paraná em direção a São Paulo e Mato Grosso do Sul, devido a guerra fiscal e

benefícios oferecidos por outros estados, conforme descrito por Milton Santos e

explicado anteriormente( p.32)

O piso salarial fixado pela convenção coletiva do trabalho em 2008

é de R$460,00 reais. São em torno de 2.000 associados no sindicato de Londrina,

fundado em 1993. Contudo, existe pouca unificação dos trabalhadores, pois cada

segmento do vestuário (modinha, jeans, acessórios moda praia, etc.) atua

diferentemente em termos temporais, dificultando um acordo que beneficie a classe

como um todo.

Se comparado ao total de trabalhadores do ramo, ainda são poucos

os associados, isto devido a motivos semelhantes aos demais sindicatos; pressão

patronal, desinteresse do trabalhador, medo de perder o emprego, etc. De igual

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R$ 0,00

R$ 200,00

R$ 400,00

R$ 600,00

R$ 800,00

R$ 1.000,00

R$ 1.200,00

VESTU

ÁRIO

META

LURG

IA

PLÁST

ICO

GRÁF

ICO

ALIMENTÍ

CIO

MOBIL

IÁRIO

QUÍM

ICO

CONST.

CIV

IL

SÃO PAULO

CURITIBA

LONDRINA

maneira, as “vantagens” oferecidas pelos sindicalizados também são as mesmas:

auxílio médico, material escolar, uniforme etc.

Conforme demonstrado na tabela 05, os salários médios de todos

os setores analisados na RML são os mais baixos se comparados as RMSP e a

RMC, e que principalmente o salário mais baixo da RMSP (setor gráfico) é maior

que o salário mais alto de RML (const. Civil.), o que comprova a má remuneração

do trabalhador da RML. Outro dado que merece destaque na analise da tabela é

que para as RMs de Curitiba e Londrina o maior salário é o da construção civil, que

demonstra o quanto este setor é dinâmico no estado; enquanto que para a RMSP o

maior salário é o setor metalúrgico, que historicamente é uma classe que sempre

lutou por seus interesses.

Tabela 05: COMPARAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS SALARIAIS NAS REGIÕES METROPOLITANAS DE SÃO PAULO, CURITIBA E LONDRINA. (ANO BASE 2007)

Fonte: DIEESE, 2007; IBGE, 2007 Org. Galera, M.

Gráfico 03 – NÍVEIS SALARIAIS NAS REGIÕES METROPOLITANAS DE SÃO PAULO, CURITIBA E LONDRINA. (ANO BASE 2007)

Fonte: DIEESE, 2007; IBGE, 2007 Org. Galera, M.

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O sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Material Plástico do

Norte do Paraná; Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Londrina

e Sindicato dos Trabalhadores nas indústrias Químicas e Farmacêutica Londrina e

Região representam classes que têm em comum uma atuação mais expressiva a a

partir do final da década de 1990. A data de fundação destes três sindicatos é

posterior á 1997, ou seja, inserem- se no cenário do sindicalismo que enfrenta as

pressões do sistema mais modernizado de produção. Nestes sindicatos os

números gerais de associados não é preciso, pois os sindicatos não

disponibilizaram muitas informações pertinentes ao nosso estudo, apenas

descrevendo as “vantagens’ que possuem os sindicalizados. O salário destas

categorias não é superior á R$500,00, são mais de 10.000 trabalhadores nestes

setores, sendo que, destes, em torno de 1.800 trabalhadores estão sindicalizados.

O salário base em todas as categorias analisadas não chega a

R$600,00 para a região em tela. Desta maneira a condição de vida dos

trabalhadores esta depreciada, pois os mesmos não têm condições e nem

garantias que possam lhe valer o privilégio de, por exemplo, pleitear a aquisição de

uma casa própria ou outro bem.

Os próprios dirigentes sindicais reconhecem este problema, porém

não estão suficientemente preparados ou dedicados em melhorar esta situação,

como visto no início deste capitulo. Estes dirigentes estão representando a

estrutura sindical corporativa de Estado, cuja prática é essencialmente

conservadora e, no plano da ação reivindicativa, demonstram passividade

completa.

Visto que uma minoria de trabalhadores sindicalizados delega em

nome de toda uma classe, que a condição de vida do trabalhador é afetada

diretamente pelos acordos firmados por seus representantes sindicais, e, ainda,

que estes não estão propensos a lutar de maneira ampla em sua defesa; abre-se

uma brecha, na qual os industriais lucram cada vez mais, explorando o trabalhador

e pagando salários totalmente defasados ao seu real poder de compra,

depreciando as condições de renda e vida dos trabalhadores. Informações não

comprovadas indicam que os trabalhadores das industrias situadas na cidades

menores da RML tendem a receber menos que o piso fixado pela convenção

sindical.

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5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os levantamentos juntos aos sindicatos da RML, obteve-se um

panorama das condições de emprego e renda dos trabalhadores, que estão

diretamente ligadas aos acordos firmados entre os sindicatos trabalhistas e

patronais.

O próprio momento da transferência industrial para a RML é

concomitante ao período em que os sindicatos entraram em uma fase de amplo

marasmo atuacional, não conseguindo unir a classe trabalhadora em prol de

mudanças significativas. Isto se dá não apenas na região de estudo, mas sim no

sindicalismo de ordem nacional, já que após a década de 1990 a implantação de

políticas neoliberais ligadas ao trabalho não permitiram a continuidade da

necessária defesa do trabalhador, nem enfrentamento às mudanças ocorridas com

o advento desta macro-política.

Neste ponto pode-se salientar uma deficiente e fraca ação sindical

na RML, sendo notória a defasagem salarial dos trabalhadores desta região em

relação a outras regiões metropolitanas do país. Nesse sentido, por meio das

entrevistas realizadas e de levantamentos bibliográficos, pode-se constatar que, no

período entre 1985 / 2008, não houve na região nenhuma greve do setor industrial

que ocasionasse grande repercussão, diferentemente de outras categorias como a

dos bancários, funcionários públicos, motoristas e etc.

Alves (2002) explica que este fator além de demonstrar um sintoma

das dificuldades de mobilização sindical nas condições adversas de um precário

mundo do trabalho, significou o esgotamento relativo do instrumento político de

generalização das lutas da classe num contexto de política neoliberal, ofensiva do

capital na produção e da constituição de um novo mundo do trabalho.

Os argumentos dos dirigentes apontam para uma conjuntura que

teria exigido uma revisão na linha do Sindicato, passando de uma concepção de

sindicalismo de enfrentamento para um sindicalismo de parceria.

[...] mudando de uma política sindical caracterizada por refluxos e relutâncias, principalmente de 1988 em diante - pelo enfrentamento com o despotismo fabril e com aspectos do próprio ordenamento político-

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institucional vigente, para um ideário e uma prática cujo horizonte é o do participacionismo nos âmbitos sindical e político. (SANTANA, 2000a, p.03)

Desta forma, os sindicatos buscam compensações para este

fracasso, oferecendo convênios médicos, odontológicos e etc. a custo em média de

2% sobre a contribuição mensal do valor do salário. Entretanto, estes benefícios

deveriam fazer parte das reivindicações das classes sindicais frente aos industriais

no momento da formalização dos acordos trabalhistas. É salutar dizer que estes

“benefícios” oferecidos são a principal plataforma de convencimento oferecida aos

trabalhadores para que estes se filiem aos sindicatos, além dos clubes de campo

para a “diversão em família”.

Outro fator que merece destaque é a pouca orientação jurídica

oferecida pelos sindicatos, pois os próprios diretores sindicais relataram as formas

com as quais os dirigentes industriais enganam os trabalhadores na hora da

contratação ou dos acertos demissionais. Isto pode ser explicado pela baixa

relação de trabalhadores sindicalizados e pelo fato de que um único sindicato estar

à frente de uma área de abrangência que envolve diversos municípios de

características sócios – econômicas diferenciadas.

Para a RML têm-se sindicatos que atuam desde sua microrregião

(Sindicato de Artefatos do Mobiliário) até um entorno de mais de 50 municípios

(Sindicato da Alimentação). Esta correlação da área de abrangência dos sindicatos

com a baixa quantidade de associados resulta na fraca ação destes sindicatos que,

como ressalta Rodrigues (1999), vivem hoje uma situação de extrema dificuldade,

aferida pela queda do número e da proporção de trabalhadores sindicalizados, o

que representa um enfraquecimento do sindicalismo como instituição e do poder

sindical como um todo.

A precarização da vida dos trabalhadores, dentro e fora do mundo do trabalho, com seus diferenciados impactos sobre a vida social como um todo, em um quadro que nos remete não ao futuro, mas ao passado mais sombrio da sociedade moderna, está aí para não nos deixar esquecer isso. Nesta "nova era das desigualdades", se não for através do sindicalismo, outras formas de representação e ação surgirão. (SANTANA, 2000ª , p. 98)

Desta maneira:

Pode-se dizer que apesar dos impactos mais duros do processo de reestruturação produtiva, os sindicatos na atualidade servem como instrumento de agenciamento de demandas coletivas, fornecendo elementos

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que contribuam para a reflexão acerca das estruturas que regulam a organização dos trabalhadores. (SANTANA, 2000, p. 98)

Após a década de 1990, os trabalhadores e as suas instituições de

representação nunca haviam passado por um cenário mundial tão adverso, as

condições de trabalho e renda se agravaram negativamente por todo o território

nacional. Isto não foi diferente para a RML, em que o trabalho foi precarizado; os

organismos sindicais, dotados de forças para combater a exploração, foram

reprimidos e não fizeram valer as lutas sindicais de décadas anteriores, deixando

os trabalhadores do setor industrial à mercê dos imbróglios dos representantes

industriais.

A "década neoliberal" representou a ampliação do vácuo organizativo do mundo do trabalho no Brasil. É claro que o sindicalismo brasileiro sempre organizou um contingente limitado do mundo do trabalho, restringindo-se, no caso de centros urbanos, aos núcleos modernos da produção capitalista no país. Mas, com a ofensiva do capital na produção, que atinge os pólos mais desenvolvidos e organizados da força de trabalho, o sindicalismo foi atingido em sua base social moderna – o que significou uma regressão relativa do sindicalismo no Brasil, principalmente no tocante à sua capacidade de agitação social e de militância política. (ALVES, 2002, p. 40)

Desta maneira os sindicatos passaram a ser meros

conglomeradores de mão de obra, sem que sua atuação mude a realidade de

trabalho e renda dos sindicalizados.

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