Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um...

28
1 Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007. Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará. Lucas Reis Bueno* Edithe Pereira** BUENO, L.R.; PEREIRA, E. Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará. Revista do Museu de Arqueolo- gia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007. Resumo: O presente artigo apresenta os resultados do estudo do material lítico coletado durante as escavações arqueológicas realizadas no âmbito do “Programa de Arqueologia Preventiva na Área da Mineração Serra do Sossego”. A análise do material lítico centrou-se na coleção oriunda das escavações realizadas no sítio Domingos. Essas escavações ocorreram em diferentes momentos, ao longo dos anos de 2003 a 2005. Os objetivos desta análise envolveram a identificação das matérias-primas utilizadas, a caracterização do processo de apropriação de cada uma delas, a definição de indicadores de áreas de atividade através da caracterização dos tipos de modificação produzida nos artefatos da coleção e a distribuição espacial dos vestígios em estratigrafia, de forma a investigar a existência de mais de uma ocupação do sítio Domingos. A partir dos resultados da análise tecnológica e da distribuição dos vestígios líticos intra-sítio, levantamos uma hipótese a respeito do processo de formação deste sítio arqueológico e ressaltamos o potencial de estudos sobre tecnologia lítica em contextos ceramistas. Palavras-chave: Tecnologia lítica – Tecnologia – Sítio cerâmico – Área de atividade – Processo de formação de sítio. e financiado pela CVRD, com apoio institucional do MPEG (Pereira 2005). A análise do material lítico centrou-se na coleção oriunda das escavações realizadas no sítio Domingos, localizado no município de Canaã dos Carajás, PA. Essas escavações ocorreram em diferentes momentos, ao longo dos anos de 2003 a 2005. A partir dos resultados da análise tecnológica e da distribuição dos vestígios líticos intra-sítio, levantamos uma hipótese a respeito do processo de formação deste sítio arqueológico e ressaltamos o potencial de estudos sobre tecnologia lítica em contextos ceramistas. (*) Museu de História Natural.Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. [email protected] (**) Museu Paraense Emílio Goeldi. [email protected] Introdução presente artigo apresenta os resultados do estudo do material lítico coletado durante as escavações arqueológicas realizadas no âmbito do Programa de Arqueologia Preventiva na Área da Mineração Serra do Sossego, coordenado pela Dra. Edithe Pereira O

Transcript of Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um...

1

Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia:um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.

Lucas Reis Bueno*Edithe Pereira**

BUENO, L.R.; PEREIRA, E. Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: umestudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará. Revista do Museu de Arqueolo-gia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

Resumo: O presente artigo apresenta os resultados do estudo do materiallítico coletado durante as escavações arqueológicas realizadas no âmbito do“Programa de Arqueologia Preventiva na Área da Mineração Serra do Sossego”. Aanálise do material lítico centrou-se na coleção oriunda das escavações realizadasno sítio Domingos. Essas escavações ocorreram em diferentes momentos, aolongo dos anos de 2003 a 2005. Os objetivos desta análise envolveram aidentificação das matérias-primas utilizadas, a caracterização do processo deapropriação de cada uma delas, a definição de indicadores de áreas de atividadeatravés da caracterização dos tipos de modificação produzida nos artefatos dacoleção e a distribuição espacial dos vestígios em estratigrafia, de forma a investigara existência de mais de uma ocupação do sítio Domingos. A partir dos resultadosda análise tecnológica e da distribuição dos vestígios líticos intra-sítio, levantamosuma hipótese a respeito do processo de formação deste sítio arqueológico eressaltamos o potencial de estudos sobre tecnologia lítica em contextos ceramistas.

Palavras-chave: Tecnologia lítica – Tecnologia – Sítio cerâmico – Área deatividade – Processo de formação de sítio.

e financiado pela CVRD, com apoio institucionaldo MPEG (Pereira 2005).

A análise do material lítico centrou-se nacoleção oriunda das escavações realizadas no sítioDomingos, localizado no município de Canaãdos Carajás, PA. Essas escavações ocorreram emdiferentes momentos, ao longo dos anos de2003 a 2005. A partir dos resultados da análisetecnológica e da distribuição dos vestígios líticosintra-sítio, levantamos uma hipótese a respeito doprocesso de formação deste sítio arqueológico eressaltamos o potencial de estudos sobretecnologia lítica em contextos ceramistas.

(*) Museu de História Natural.Universidade Federal deMinas Gerais - UFMG. [email protected](**) Museu Paraense Emílio Goeldi. [email protected]

Introdução

presente artigo apresenta os resultadosdo estudo do material lítico coletado

durante as escavações arqueológicas realizadasno âmbito do Programa de ArqueologiaPreventiva na Área da Mineração Serra doSossego, coordenado pela Dra. Edithe Pereira

O

2

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

Contexto e objetivos

O sítio mais denso, melhor preservado eescavado com maior intensidade no âmbito doPrograma acima mencionado foi o sítioDomingos. Foram realizadas quatro etapas deescavação com duração média de 30 dias entreos anos de 2003 e 2005 (Pereira 2005, 2006a,2006b, 2006c).

Para delimitação da área de dispersão devestígios e orientação da localização dasunidades a serem escavadas foram utilizadosos dados obtidos principalmente através dedois procedimentos: 1) investigação doterreno com material arqueológico pormétodo geofísico através de medidas docampo magnético terrestre, de resistividadeaparente e de propagação de onda eletromag-nética de freqüência 400 MHz, comométodo de Radar de Penetração no Solo(GPR) (Luiz e Pereira 2005) e; 2) abertura detradagens em linhas paralelas a cada 10 m,cuja orientação foi definida pelo quadriculamentodo sítio com utilização de nível óptico. Osdados obtidos com esses dois procedimentospossibilitaram a definição da área de disper-são de vestígios e uma aproximação dadistribuição e densidade de vestígios arqueo-lógicos e terra preta no interior desta área.Essa distribuição orientou então a aberturade unidades de escavação cujo tamanhoinicial foi preponderantemente de 1m², masque em muitos casos sofreu ampliaçõeschegando a mais de 20m². Em todas as áreasa escavação foi orientada por níveis naturais,definidos de acordo com uma combinaçãode fatores, como coloração, textura egranulometria do sedimento e tipo, quanti-dade e distribuição espacial dos vestígios(Pereira 2005).

Com o intuito de verificar a distribui-ção diferencial dos vestígios materiais nosítio, incluídos aí vestígios líticos, cerâmicos,terra preta e outras estruturas, foramabertas áreas de escavação praticamente emtodas as porções do sítio, com o que seobteve uma ótima amostra da diversidadede contextos e do conjunto artefatualpresente no sítio.

Em função das características dessaamostragem, os objetivos da análise do materi-al lítico envolveram a identificação das matéri-as-primas utilizadas, a caracterização doprocesso de apropriação de cada uma delas, adefinição de indicadores de áreas de atividadeatravés da caracterização dos tipos de modifica-ção produzida nos artefatos da coleção e adistribuição espacial dos vestígios em estratigrafiade forma a investigar a existência de mais deuma ocupação do sítio Domingos. Devido àgrande quantidade de material coletado,realizamos uma amostragem da coleção,analisando um total de 1225 peças quecorrespondem a 33% do total coletado.

Procedimentos Metodológicos

Metodologia de análise

Em função do tempo disponível, dotamanho da coleção de material lítico vincula-da ao Programa de Arqueologia Preventiva naárea da Mineração Serra do Sossego e dosobjetivos do trabalho, levantamos duasalternativas metodológicas para realização daanálise do material lítico: análise individualdos vestígios (Collins 1975; Andrefsky 1998,2001; Prentiss 1998; Shott 1994) e análise demassa (Ahler 1989). Apesar de a metodologiarelacionada à análise de massa ser maisindicada em função da relação entre o tempodisponível para efetuar a análise e o tamanhoda coleção, optamos por realizar uma análiseindividual dos vestígios com observação deatributos principalmente por dois motivos:1) não haver um conhecimento prévio sobreo material lítico deste sítio ou de outros sítiosassociados a ocupações ceramistas nessaregião, criando assim a necessidade de seefetuar uma boa caracterização tecnológicadessa indústria; 2) a partir de uma observaçãopreliminar do material lítico do sítio Domin-gos, identificamos uma grande diversidade devestígios fazendo com que fosse necessáriorealizar a observação de atributos paracaracterizar melhor os tipos de vestígiopresentes.

3

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

A ficha de análise

Para seleção dos atributos levamos emconsideração dois aspectos: informações aserem obtidas e replicabilidade da análise. Esteúltimo aspecto teve um papel bastante impor-tante, pois um dos objetivos deste trabalhoenvolveu a definição de uma metodologia deanálise que pudesse ser aplicada nesta e emoutras coleções de material lítico por profissio-nais que contam com pouca experiência narealização de análises de material lítico (Bueno2006). Nesse sentido, os atributos seleciona-dos e as variáveis a eles relacionadas deveriamser de fácil identificação.

Foi então elaborada uma ficha de análise apartir da qual todos os vestígios foram classifi-cados. Com isso simplificamos o procedimen-to de análise, utilizando uma única ficha paratodos os tipos de vestígio que, eventualmente,foi complementada com uma descrição maisdetalhada, principalmente dos artefatos enúcleos.

Esta ficha é composta por oito atributos,sendo que cada um deles é caracterizado pordiferentes variáveis mutuamente excludentes.A ficha pode ser dividida em duas partes: daprimeira constam os dados referentes àlocalização de cada vestígio no sítio – área deescavação, setor e nível; a segunda parteinclui os atributos tecnológicos a seremobservados em cada vestígio (ver Tabela 1)(Bueno 2006).

Tabela 1

I) Matéria-Prima 0 – Não identificada 1 – Quartzo 2 – Quartzito 3 – Granito 4 – Basalto 5 – Corante 6 – Óxido de ferro 7 – Laterita 8 – outros 9 – Arenito10 – Sílex

II) Técnica de transformação0 – Não identificada1 – Lascamento Unipolar2 – Polimento3 – Bruto/ausente4 – Lascamento bipolar5 – Picoteamento6 – Lascamento/polimento7 – Lascamento não identificado8 – Lascamento uni e bipolar9 – Polimento/Picoteamento

III) Modificação Produzida 0 – Não identificada 1 – Gume 2 – Superfície plana 3 – Depressão 4 – Orifício 5 – Ponta 6 – Queima 7 – Coloração (corante) 8 – Ausente 9 – Superfície plana/depressão10 – Superfície plana/orifício11 – Gume/queima12 – Superfície plana/queima13 – Orifício/queima14 - depressão/queima15 – coloração/queima16 – outra17 – estrias18 – Superfície plana/queima/orifício19 – polimento geral (no caso de machados, mãos de pilão, etc..)20 – Picoteamento (percutores)21 – superfície alisada/gume/queima22 – superfície alisada/picoteamento

IV) Vestígio produzido0 – Não identificado1 – Artefato2 – Fragmento3 – Lasca4 – Núcleo5 – Bruto

V) Suporte0 – Não identificado1 – Seixo

4

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

2 – Bloco3 – Fragmento6 – Nódulo7 – Cristal

VI) Grau de preservação0 – Não identificado1 – Inteiro2 – Fragmentado

VII) Grau de transformação0 – Não identificado1 – Total2 – Parcial3 – Circunstancial/superficial (restrito)4 – Ausente

VIII) Dimensões0 – Não mensurável1 – entre 0 e 5cm2 – entre 5 e 10cm3 – entre 10 e 20cm4 – entre 20 e 30cm5 – entre 30 e 50cm6 – maior que 50cm

O primeiro atributo diz respeito ao tipo dematéria-prima do vestígio que, de acordo com aamostra analisada até o momento, inclui asseguintes variáveis: quartzo, quartzito, granito,basalto, corante, óxido de ferro, laterita,arenito silicificado, sílex e outros. A variável“outros” inclui uma diversidade de matérias-primas dificilmente distinguíveis sem a utilizaçãode lupas e engloba rochas ígneas e metamórficaslocalizadas nas proximidades do sítio emdiferentes pontos da serra dos Carajás e seuentorno (Brandt/Meio Ambiente 2000).Algumas dessas rochas foram selecionadas pararealização de lâminas petrográficas a fim dedefinirmos melhor sua composição e relaçãocom atividades específicas realizadas no sítioDomingo.

O segundo atributo observado envolve aidentificação da técnica de transformação atravésda qual o vestígio foi apropriado ao ingressarno sítio arqueológico, indicando se houve umamodificação da matéria-prima antes de suautilização, ou seja, se para ser utilizada ela

sofreu modificações formais ou não. Asvariáveis associadas a esse atributo são:lascamento unipolar, lascamento bipolar,lascamento não identificado (pode ser uni oubipolar), lascamento uni e bipolar, polimento,picoteamento, picoteamento/polimento,lascamento/polimento e bruto. A variável“lascamento não identificado” está relacionadaaos vestígios de lascamento que não apresen-tam estigmas claros da utilização de uma ououtra técnica e normalmente são apenasfragmentos. A variável “bruto” é aplicada aosvestígios que não sofreram modificação algumapreviamente a sua utilização.

O atributo modificação produzida estárelacionado à forma de apropriação produzidapelo tipo de utilização de cada vestígio. Asvariáveis associadas a esse atributo indicamdiferentes tipos de modificação produzidas emcada vestígio em decorrência de ou para suautilização. A combinação dessas variáveis comaquelas associadas ao atributo técnica detransformação é que vai definir se a modificaçãoidentificada foi produzida pela ou para utiliza-ção do vestígio, ou seja, previamente ouposteriormente a ela. A partir da amostraestudada foram observadas as seguintesvariáveis: gume, superfície alisada, depressão,orifício(s), ponta, queima, alteração de colora-ção (decorrente do uso de alguma substância,como corante, por ex.), superfície alisada/depressão, superfície alisada/orifício, gume/queima, superfície alisada/queima, orifício/queima, depressão/queima, coloração/queima, estrias/orifícios, superfície alisada/orifício/queima, polimento completo,picoteamento, superfície alisada/gume/queima, superfície alisada/picoteamento,modificação ausente, outras. A variável “estri-as/orifício” foi utilizada especificamente paracaracterizar as modificações decorrentes dautilização de seixos ou blocos como bigornasno lascamento bipolar enquanto a variável“picoteamento” está associada às modificaçõesdecorrentes da utilização do vestígio comopercutor, seja para o lascamento unipolar oubipolar. Já os percutores associados aoprocessamento de vegetais, ao invés depicoteamento apresentam “orifícios”, no caso

5

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

da percussão, ou “superfícies alisadas”, no casoda pressão e/ou trituração. A variável “modifi-cação ausente” indica que o vestígio emquestão não sofreu modificação algumareferente à sua utilização indicando que eledeve ter sido utilizado em seu estado bruto ouque mesmo tendo sido transformado dealguma maneira (lascado, por exemplo) nãosofreu nenhuma modificação associada ao uso(por exemplo, uma lasca que não foi utilizadaseria classificada pela variável modificaçãoausente).

Em seguida passamos à identificação dotipo de vestígio produzido, o qual é decorrentede uma combinação entre a técnica de transfor-mação utilizada e a modificação produzida. Asvariáveis associadas a esse atributo são asseguintes: artefato, fragmento, lasca, núcleo evestígio bruto. Classificamos como “artefato”todos os vestígios que sofreram algum tipo demodificação decorrente da realização de umaação que envolve uma interação entre homem -matéria-prima. Assim, com essa classificação sónão serão artefatos aqueles vestígios que noatributo modificação produzida forem classifi-cados pela variável “ausente” ou “queima”. Noprimeiro caso fica claro porque o vestígio nãopode ser classificado como artefato e nosegundo, isso ocorre, pois a modificaçãoproduzida não é decorrente de uma interaçãodireta entre homem e matéria-prima, mas sim,de uma reação física decorrente da interaçãofogo - matéria-prima. Nas variáveis lasca,artefato e núcleo estão englobados, respectiva-mente, todos os vestígios dessa natureza,independentemente do seu estado deconservação.

Para caracterizar melhor cada vestígio,selecionamos o atributo “suporte” que indicasuas características originais, definidasprincipalmente pelo tipo e pela presença/ausência de superfície cortical. As variáveissão as seguintes: seixo, bloco, fragmento,nódulo, cristal e não identificada. A última éutilizada, via de regra, quando não há superfí-cie cortical. Já a variável “nódulo” se refereaos seixos rolados em superfície, os quaisapresentam superfícies às vezes rugosas earestas pouco ou mal arredondadas.

O atributo seguinte indica o grau depreservação de cada vestígio, podendo ele estarinteiro ou fragmentado.

O atributo grau de transformação indica aintensidade da modificação causada ao vestígioatravés da sua utilização e fornece uma medidaimportante da transformação formal pela qualcada suporte passou ao ser apropriado noconjunto das atividades desenvolvidas no sítio.Nesse sentido, o grau de transformação podeestar ausente, ser apenas circunstancial/superficial, ser parcial ou total.

Por fim, o último atributo a ser analisadoenvolve a dimensão de cada vestígio, calculadapor intervalos.

Amostragem

Já para a amostragem, optamos por realizaruma análise inicial de todo o material líticocoletado durante a etapa de campo realizadaem agosto de 2005 uma vez que essa coleçãocobria o maior número de áreas localizadas emdiferentes setores do sítio e já havíamos tidoum primeiro contato com esse material, emfunção da participação na referida etapa decampo.

Posteriormente, a partir dos resultadosobtidos realizamos uma amostragem baseadaem três critérios: 1) localização da área deescavação no sítio, de modo a privilegiar áreasainda pouco representadas na amostra jáanalisada; 2) densidade de vestígios por área deescavação; 3) quantidade de vestígios nacamada 2 . Com a combinação destes critériose do tempo disponível, selecionamos, emordem de prioridade, as seguintes áreas deescavação para serem analisadas: 37, 31, 24 e 25.

Através da utilização dessa metodologiaprocuramos responder basicamente seisquestões, todas derivadas de duas questõesprincipais: 1) Por que e para que há materiallítico neste sítio? 2) Como esse material líticofoi apropriado?

Para responder a essas questões, outrasforam então formuladas:

- Quais foram as matérias-primas utilizadas?- Onde elas foram obtidas?

6

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

- Para qual finalidade cada uma delas foi utilizada?- Como cada uma delas foi transformada e utilizada e qual a relação entre matérias-primas, técnica de transformação e forma de utilização?- Em quais locais do sítio elas foram utilizadas?- Como se dá a distribuição das variáveis de cada atributo observado na estratigrafia?

A indústria lítica do sítio Domingos

Matérias-primas e especificidades deaproveitamento

As matérias-primas podem ser divididas emdois grandes grupos em termos de composição,estrutura, fonte e formas de apropriação: quartzoe quartzito X granito e outros tipos de rochaígnea ou metamórfica. Além destas, são freqüen-tes também fragmentos de laterita, placas deóxido de ferro, corantes e, em escala bastantereduzida, basalto, arenito silicificado e sílex.

Quartzo e quartzito aparecem preferencial-mente na forma de seixos, mas podem tambémocorrer como nódulos ou, no caso do quartzona forma de cristal que, nesse caso, apresentaum quartzo hialino. Na maioria das vezes oquartzo é leitoso ou fosco, mas em geral de máqualidade com muitas fraturas internas quedificultam o controle dos vestígios produzidosatravés do lascamento. Assim como o quartzo,o quartzito é em geral de má qualidade eapresenta bastante variação quanto à textura, ograu de coesão entre os grãos e a intensidade detransformação em função do metamorfismo.Principalmente os nódulos são de péssimaqualidade, muito friáveis e particularmenteruins para o lascamento. No entanto, apesardessas restrições quanto à aptidão ao lascamento,na amostra analisada o quartzo é a matéria-prima melhor representada e o quartzito aterceira. Isso, por sua vez, não implica que olascamento seja a técnica de transformaçãopredominante no sítio, pois, muitos vestígiosdessas e das demais matérias-primas presentesno sítio Domingos foram apropriados emestado bruto.

No caso do quartzo, a maioria dos vestígi-os identificados no sítio foi efetivamente

apropriada através do lascamento, principal-mente unipolar. Não houve, nessa matéria-prima, nenhum tipo de transformação associa-da a polimento ou picoteamento e a maioriados artefatos caracterizados pela formação degumes foi confeccionada em quartzo.

Já o quartzito, foi majoritariamenteapropriado na forma bruta, seguida pelatécnica de lascamento, em particular a bipolar.Esse tipo de apropriação dessa matéria-primaestá melhor representado na camada 2 do sítio,como discutiremos adiante, e aparece concen-trado numa pequena área composta porinúmeros seixos superficialmente lascados,muitos sem gerar uma única lasca, associados aoutros seixos que apresentam marcas depicoteamento ou de estrias, o que interpreta-mos como o refugo do processo de lascamentobipolar, com núcleos, percutores e bigornasdescartados (Figs. 1 e 2).

Ainda com relação à matéria-prima, dentreos vestígios classificados com o atributo outros,se insere uma grande variedade de matérias-primas que, como já frisamos, são difíceis dedistinguir a olho nu. Esse conjunto aparece emsegundo lugar como a matéria-prima melhorrepresentada no sítio. Todas elas apresentamcaracterísticas comuns quanto a sua forma deapropriação. A maioria delas foi utilizadabruta, apresenta sinais intensos resultantes daexposição à ação térmica e se encontram naforma de fragmentos oriundos de blocos.

Dentre esse conjunto de matérias-primashá algumas que se destacam em função da suacomposição e estrutura, como é o caso, porexemplo, de um tipo composto por grandesminerais de quartzo angulosos, como se fosseum grande bloco de areia mal consolidado emmeio a uma rocha ígnea. Especificamente essetipo de matéria-prima aparece bastante modifi-cada por ação térmica, em fragmentos dediversos tamanhos e, em um local específicodo sítio, associada a um batedor produzidosobre seixo de quartzito. Uma pergunta que secoloca e que pode ser resolvida por análisesfísico-químicas diz respeito a uma possívelutilização dessa rocha fragmentada comoantiplástico para a cerâmica produzida no sítio.Neste caso, o processo de produção do

7

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

antiplástico envolveria uma primeira etapa naqual grandes blocos dessa matéria-prima seriamfragmentados pela ação do fogo até gerarempequenos fragmentos que seriam entãomacerados com a utilização de um percutor

duro. Análises preliminares realizadas com acerâmica indicam a predominância de antiplásticomineral, principalmente grãos de quartzo efragmentos de laterita, indicando que ahipótese apresentada é bastante plausível.lises

Fig. 1. Gráfico de distribuição das matérias-primas no sítio Domingos.

Fig. 2. Gráfico da relação entre matéria-prima e técnica de transformação no sítio Domingos.

8

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

quociada a um batedor produzido sobre seixode quartzito. Uma pergunta que se coloca eque pode ser resolvida por ana mal

O granito presente no sítio Domingosaparece em fragmentos derivados de blocos eestá associado, na maioria das vezes, a umautilização circunstancial que produz superfíciesalisadas planas. No entanto, dentre os poucosmachados polidos encontrados nesta coleção,a maioria foi confeccionada também emgranito. Tanto os fragmentos que apresentamessas marcas de utilização circunstancialquanto aqueles que permanecem em estadobruto apresentam, via de regra, sinais dequeima. Alguns fragmentos foram produzidospor lascamento unipolar e, na área de escava-ção 37, nível 1C, encontramos um grandefragmento intensamente lascado pela técnicabipolar que pode representar o vestígio de umaetapa de produção de artefatos polidos, comoos machados, por exemplo.

As outras matérias-primas presentes nacoleção, como corante, laterita e as placas deóxido de ferro aparecem em pequenaquantidade. Destas a laterita é a melhorrepresentada. Normalmente ela aparece emfragmentos brutos que não parecem tersofrido alteração alguma a não ser uma

fragmentação decorrente do uso do fogo. Jáos corantes e o óxido de ferro, são tambémapropriados brutos, mas apresentam sinaisde utilização, com a presença de estrias noscorantes e superfícies alisadas e mudança decoloração no óxido de ferro.

As técnicas de apropriação

A maior parte do material lítico até omomento analisado ingressou no sítio e foiutilizado no estado bruto, ou seja, sem passarpor qualquer tipo de modificação prévia.Dentre estes, a maioria esteve associada àutilização do fogo, seja em fogueiras associa-das ao processamento de alimentos, à produ-ção cerâmica ou em outras atividades nasquais o fogo seria o principal agente. Comomencionamos anteriormente, uma outrautilização do fogo associada a determinadostipos de matéria-prima poderia envolver afragmentação intencional de grandes blocoscom o intuito de obter pequenos fragmentosque seriam posteriormente macerados com ouso de percutor duro a fim de gerar pequenosgrãos de diferentes minerais, mas principal-mente quartzo, utilizados como antiplásticona produção cerâmica (Fig. 3).

Fig. 3. Gráfico da distribuição das técnicas de transformação no sítio Domingos.

9

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

Além do material utilizado ou apropriadode forma bruta, identificamos a presença devestígios transformados através da utilização dastécnicas de lascamento unipolar, lascamentobipolar, polimento, picoteamento ou, emalguns casos, uma combinação destes.

Esses últimos, apesar de quantitativamenteinsignificantes, apontam aspectos bastanteinteressantes, como por exemplo, a presença denúcleos lascados através de uma combinação entretécnica unipolar e bipolar, a produção de artefatosconjugando etapas de lascamento e polimento.Neste caso, em específico, há um vestígio bastanteinteressante, de granito lascado pela técnica bipolare superficialmente polido que pode representaruma etapa inicial da produção de um machadopolido, indicando aí a presença de uma cadeiaoperatória bastante particular e, portanto impor-tante no estabelecimento de comparações comdemais sítios da região.

As modificações produzidas e os vestígiosgerados

Conforme mencionado anteriormente, agrande maioria dos vestígios que sofreu algumtipo de modificação decorrente do seu proces-so de apropriação esteve relacionada ao uso dofogo. São vestígios que ingressaram no sítio emseu estado bruto e não sofreram nenhum tipode modificação prévia a sua utilização. Nessesvestígios, as únicas modificações identificadassão decorrentes da sua associação a atividadesque envolveram o uso do fogo e que, emdecorrência de uma ação térmica, produziramuma grande quantidade de fragmentos. Emalguns casos, no entanto, a baixa intensidadeda ação térmica à qual esses blocos foramsubmetidos fez com eles permanecesseminteiros, em seu estado bruto, com apenasalguns sinais de queima.

A segunda variável melhor representadaneste atributo está relacionada aos vestígiosque não sofreram modificação alguma, sendoapropriados e utilizados no sítio em seu estadobruto. Dentre esses vestígios, muitos podemter sido efetivamente utilizados na realização deuma atividade que envolve a interação diretahomem-matéria-prima, mas que foi muito

efêmera para produzir qualquer tipo demodificação ou que realmente não envolvenenhum tipo de modificação.

Em seguida, aparecem melhor representa-das as variáveis que indicam a presença demodificações caracterizadas pela formação demarcas de picoteamento e estrias. Na coleçãoanalisada essas modificações estão associadas àutilização de seixos no processo de lascamentobipolar e representam, respectivamente,percutores e bigornas. A grande quantidadedesse tipo de vestígio, no entanto, não reflete adistribuição das técnicas de transformação dasmatérias-primas de uma maneira geral no sítio,pois estão, em sua grande maioria, associadas auma única estrutura identificada na área deescavação 37, nível 2, composta essencialmentepor seixos de quartzito (Fig. 4).

Já as modificações produzidas pela forma-ção de gumes nos vestígios analisados aparecemem quarto lugar e estão representadas pelasvariáveis 1 – gume – e 11 – gume e queima.Essas modificações envolvem a produção degumes com diferentes extensões, formas eângulos e estão associadas na maioria das vezesaos vestígios transformados pela utilização datécnica de lascamento, seja ele uni ou bipolar.Esse tipo de modificação está, via de regra,associado à realização de atividades que envol-vem ações como raspar e cortar. Os artefatosque apresentam esse tipo de modificação foramconfeccionados majoritariamente em quartzo,mas há alguns também em quartzito e poucosnas demais matérias-primas. Outra característicadesses artefatos é que as modificações decorren-tes de sua utilização são sempre circunstanciaisindicando uma utilização expediente associada àrealização de uma necessidade imediata seguidapelo descarte do artefato.

Outro tipo de modificação produzidabastante recorrente nesta coleção envolveu aprodução de superfícies alisadas. Essas superfíci-es foram identificadas em diversos blocos degranito ou em outras matérias-primas ígneas emetamórficas, normalmente oriundas de blocos.Elas atingem diferentes extensões do bloco eproduzem sempre superfícies planas que podemser horizontais ou inclinadas. Em alguns casosessas superfícies são produzidas em duas faces

10

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

do bloco gerando superfícies planas paralelas. Amaioria dos artefatos que apresenta essasmodificações se encontra fragmentada emdecorrência de ação térmica que corta justamen-te a parte polida do bloco. Em função dasuperficialidade da modificação produzida, desua localização no bloco e com base em referên-cias bibliográficas a interpretamos comodecorrência do uso associado ao processamentode material vegetal. Ou seja, essa modificaçãonão teria sido produzida previamente a utiliza-ção do bloco, mas sim em decorrência destautilização. No gráfico 4 há uma série de variáveisque indicam a presença desse tipo de modifica-ção que aparecem separadas em função da suaassociação com outros tipos de modificação.Esse é o caso, por exemplo, da variável identificadapelo número 10 – superfície alisada e orifício,12 – superfície alisada com marcas de queima,18 – superfície alisada, orifício e queima e 22 –superfície alisada e picoteamento.

Identificamos ainda outros tipos demodificação em alguns vestígios de diferentesmatérias-primas produzidos pela utilização devestígios brutos que envolvem sinais depicoteamento, estrias, orifícios, depressão e àsvezes uma combinação delas. Todas essasmodificações apontam para a realização de

atividades que envolvem ações como amassar,triturar, pilar, percutir e esmagar.

Diferentemente dos vestígios cuja modifi-cação envolve a produção de um gume,aqueles associados a modificações relacionadascom atividades que envolvem as ações acimacitadas apresentam marcas de queima bastanteintensas, apontando assim para uma possívelassociação entre esse tipo de atividade e áreasnas quais a utilização do fogo é intensa erecorrente (Fig. 5).

A partir da caracterização dos procedimen-tos envolvidos na apropriação de cada uma dasdiferentes matérias-primas utilizadas no sítioDomingos e das técnicas de transformaçãoassociadas à utilização dos vestígios líticos(Bueno 2006), pudemos identificar tantoindicadores de áreas de atividades diferenciadasem uma das camadas de ocupação do sítio(camada 1c), como indicadores de indústriaslíticas distintas associadas a diferentes camadasde ocupação do sítio (camadas 1C e 2).

Distribuição do material lítico em estratigrafiae os indicadores de diferentes ocupações

Feita essa caracterização geral das matérias-primas identificadas no sítio, das técnicas de

Fig. 4. Gráfico das modificações produzidas no sítio Domingos.

11

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

apropriação, modificação produzida e dosvestígios gerados, podemos analisar a distribui-ção estratigráfica dos vestígios no sítio a fim deprocurar averiguar a existência de diferentescamadas de ocupação.

Um primeiro aspecto que pode ser observa-do diz respeito à distribuição total de vestígioslíticos por níveis de escavação. Conformeobservamos na Tabela 2, esse tipo de vestígio seconcentra na camada 1C, seguida pela 2 e pela1D, sendo 1A e 1B muito pouco representadas.A partir dessa distribuição podemos levantarduas possibilidades: o nível 1C representa acamada de ocupação associada à ocupação maisintensa do sítio e o fato de haver uma diminuiçãodrástica da quantidade de vestígios da camada 1Cpara a camada 1D, seguida de um aumento nacamada 2 pode indicar que esta última represen-taria um segundo momento de ocupação maisintensa. Ou seja, a camada 2 poderia representaro primeiro evento de ocupação do sítio, seguidode uma diminuição na intensidade da ocupaçãono que se refere à camada 1D e, posteriormente,uma ocupação mais intensa representada pelacamada 1C e depois pelo abandono do sítio. Paraaveriguar essa hipótese é preciso investigar adistribuição dos tipos de vestígio, o que faremosexclusivamente para os níveis 1C e 2.

No que tange à distribuição das matéri-as-primas podemos ver uma diferençasignificativa entre os níveis 2 e 1C (Figs. 6a e6b). No nível 2 predomina o quartzito,seguido pelo quartzo, representando os doisjuntos 82% do total de vestígios líticos dessenível, enquanto o granito e outros represen-tam apenas 14%. Já no nível 1C, a matéria-prima mais representada inclui o conjuntode matérias-primas designadas pela variáveloutros, seguida pelo quartzo, pelo granito esó então pelo quartzito. Nesse nível avariável outros, junto com granito represen-tam 54% do total dos vestígios enquantoquartzo e quartzito apenas 39%. Outradiferença entre esses dois níveis diz respeito

Fig. 5. Gráfico de vestígios produzidos no sítio Domingos.

Níveis

Quantidade de vestígio por níveis estratigráficosno sítio Domingos

Tabela 2

Quantidade de vestígios

1A1B1C1D2

18132

1811351664

12

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

à presença de corante e placas de óxido deferro exclusivamente no nível 1C e à maiorrepresentatividade de fragmentos de lateritatambém neste nível.

Ao contrário do que ocorre com asmatérias-primas, a distribuição das técnicas deapropriação não apresenta diferenças tãosignificativas entre os níveis 1C e 2 (Figuras 7ae 7b). Em ambos predominam os vestígiosapropriados de forma bruta (76 e 64 %respectivamente). Em seguida a técnica deapropriação mais representada é o lascamento

que, no nível 1C, envolve o lascamentounipolar e no nível 2 o lascamento bipolar.Vestígios nos quais identificamos a utilizaçãocombinada entre lascamento e polimento elascamento uni e bipolar aparecem nos doisníveis e em ambos com baixa representatividade.

Quanto às modificações produzidas, háuma inversão entre os níveis 1C e 2 e há nonível 1C uma variedade de tipos de modifica-ção produzida bastante superior àquelaidentificada na camada 2, indicando assim arealização de um número maior de diferentes

Fig. 6b. Gráfico da distribuição das matérias-primas no nível 2 do sítio Domingos.

Fig. 6a. Gráfico da distribuição das matérias-primas no nível 1C do sítio Domingos.

13

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

formas de utilização das matérias-primas líticas(Figs. 8a e 8b).

No nível 1C predominam as modifica-ções causadas pela ação do fogo, identificadasem 61% dos vestígios. Em seguida aparecem osvestígios com modificação ausente, com 31% ea partir daí uma série de outras modificações

com baixa representatividade que incluem, porexemplo, a produção de superfícies alisadas, degumes, de superfície planas com orifícios, depicoteamento, polimento, depressão e altera-ções de coloração. Se agruparmos os tipos demodificação em função do tipo de açãorelacionada a sua produção, teríamos uma

Fig. 7a. Gráfico da distribuição das técnicas de transformação no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 7b. Gráfico da distribuição das técnicas de transformação no nível 2 do sítio Domingos.

14

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

polarização evidente, com maior representaçãodas modificações associadas às ações depercutir, esmagar, triturar (56%) do que àsações de cortar e raspar (44%).

No nível 2, além de haver um númerobem menor de tipos de modificações representa-dos, diminuem significativamente os vestígiosmodificados pela ação térmica. A maioria dosvestígios desse nível não indicou nenhum tipo demodificação, tendo sido apropriados de formabruta. Há dois tipos de modificação com uma

representação significativa nesse nível e que estãoassociados exclusivamente aos vestígios utilizadosno processo de lascamento bipolar, especifica-mente percutores (com marcas de picoteamento)e bigornas (com marcas de estrias e orifícios).Excluindo esses tipos de modificação, apesar dabaixa representatividade, predominam absoluta-mente os vestígios com modificações associadasàs atividades de cortar e raspar, estando pratica-mente ausentes aqueles associados às atividadesde triturar, esmagar ou pilar.

Fig. 8b. Gráfico da distribuição das modificações produzidas no nível 2 do sítio Domingos.

Fig. 8a. Gráfico da distribuição das modificações produzidas no nível 1C do sítio Domingos.

15

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

A distribuição dos vestígios indicatambém uma diferença entre os níveis 1C e 2(Figs. 9a e 9b). Apesar de em ambos os níveispredominarem os fragmentos, no nível 1Celes representam 71% dos vestígios coletadosenquanto no nível 2 apenas 36%. Essadiferença faz com que no nível 2 haja umarepresentação mais equânime entre os tiposde vestígio do que no nível 1C. Assim,também apesar de nos dois níveis o segundotipo de vestígio melhor representado ser odos artefatos, no nível 2 eles somam 24%,enquanto no nível 1C apenas 10%. Cabe

lembrar aqui que a porcentagem dessa classede vestígio no nível 2 está super-representadapelos percutores e bigornas utilizados nolascamento bipolar e posteriormente descarta-dos. O mesmo acontece com os núcleos, queaparecem com um porcentual mais elevadono nível 2 do que no nível 1C. Já no que dizrespeito às lascas, apesar de serem o tipo devestígio com menor representação no nível 2,seu percentual no conjunto dos vestígios ésuperior ao do nível 1C, onde aparecemcomo o terceiro tipo de vestígio melhorrepresentado.

Fig. 9a. Gráfico da distribuição dos vestígios produzidos no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 9b. Gráfico da distribuição dos vestígios produzidos no nível 2 do sítio Domingos.

16

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

A partir desses dados vemos que hádiferenças significativas entre os níveis princi-palmente com relação às matérias-primasutilizadas e as modificações produzidas, maisdo que no que diz respeito às técnicas utiliza-das e os vestígios gerados. Dessa maneira, essacomposição nos permite levantar a hipótese deque cada um desses níveis representa distintascamadas de ocupação, embora seja aindaprecipitado afirmar se as diferenças identificadasestão associadas a ocupações por gruposdistintos ou são decorrentes da realização dediferentes funções em cada período de ocupa-ção. Para encaminhar essa questão é necessárioque se faça o cruzamento dos atributos a fimde verificar se há ou não continuidades naforma de apropriação de cada matéria-primaem específico e, se possível, caracterizar acadeia operatória associada à produção dospoucos artefatos formalmente modificados.Além disso, é preciso lembrar que a hipóteseapresentada acima está formulada apenas combase na análise do material lítico e, portanto,pode e deve ser confrontada com as informa-ções obtidas com os demais vestígios presentesno sítio para que possa ser confirmada oucontestada.

Distribuição do material lítico no espaço e osindicadores de áreas de atividade

Tendo em vista a quantidade, a diversidadee as características associadas aos tipos demodificação identificados no conjunto devestígios líticos coletados no nível 1C, procura-mos fazer uma análise de sua distribuiçãoespacial no sítio a fim de verificar a possibilida-de de identificação de áreas de atividade. Hádois aspectos especialmente importantes noque diz respeito aos tipos de modificação:predominância das alterações causadas pelofogo e presença de uma grande variedade demodificações possivelmente associadas aotratamento de matéria-prima vegetal. Esses doistipos de modificação, principalmente quandoassociados, podem indicar a localização deáreas domésticas, nas quais as atividades deprocessamento de alimentos seriam realizadas.Ainda outro conjunto de vestígios que poderia

indicar também a realização de atividadesassociadas a áreas domésticas estaria represen-tado por aqueles vestígios que associamos aoprocesso de produção da cerâmica queincluem, além da fabricação de antiplásticomineral o processamento e a utilização decorantes.

O primeiro aspecto a ser observadoenvolve a distribuição geral dos vestígios pelasáreas de escavação (Fig. 10). Para calcular essadistribuição somamos o total de vestígioslíticos coletados em cada área de escavação edividimos pela área escavada em m² a fim deobter uma medida que compare não a quanti-dade absoluta de vestígios, mas a densidadepor m². Utilizamos nesse caso informaçõessobre as escavações realizadas em junho de2004, setembro de 2004 e agosto de 2005,para as quais todos os dados referentes àquantidade e localização dos vestígios líticos jáforam organizados.

De acordo com essa distribuição as áreasde escavação com maior densidade de materiallítico foram respectivamente as seguintes: 35,26, 47, 25, 29, 28, 36, 43, 58 e 45. Se obser-varmos a distribuição dessas áreas no sítioveremos que estão localizadas na parte maisperiférica da área trabalhada, distribuídas pelosquatro quadrantes do sítio. Já as áreas ondeencontramos a menor densidade de vestígiosforam, em ordem crescente, as seguintes: 61,60, 59, 57, 41, 37A, 33, 48, 49, 31 e 10.Apesar de estarem distribuídas por diversasáreas do sítio, dentre as áreas de menordensidade há dois dos locais com maior áreaescavada no que seria a parte central do sítio.Cruzando esses dados poderíamos definir umadistribuição diferencial no que se refere àdensidade de vestígios líticos entre centro(densidade baixa) e periferia (densidade alta).

Como até o momento realizamos a análisede uma amostra do material lítico do sítio, nãohá como comparar a composição artefatual decada uma dessas áreas. No entanto, a amostraanalisada engloba tanto porções periféricasquanto porções centrais do sítio e, dessamaneira, podemos explorar a comparaçãoentre elas a fim de avançar na identificação deáreas de atividade.

17

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

Quanto à matéria-prima, predomina nessenível, em praticamente todas as áreas deescavação, a matéria-prima outros, comexceção, principalmente, da área 37 ondepredomina o quartzo. As demais áreas ondeisso também ocorre apresentam poucosvestígios e, portanto, são pouco representativaspara a atual discussão (Fig. 11).

Entre as técnicas de transformaçãopredomina em todas as áreas de escavação aapropriação bruta. A utilização de técnicas de

lascamento uni e bipolar aparecem melhorrepresentadas na área de escavação 37, masestão presentes também em áreas como a 50 ea 58. O polimento aparece em apenas cincoáreas de escavação e sempre com baixarepresentatividade (Figura 12).

Para a distribuição dos vestígios gerados hátambém a predominância de uma determinadavariável em todas as áreas de escavação quecorresponde aos fragmentos. Excetuando-seessa variável encontramos uma maior diversida-

Fig. 10. Gráfico da densidade de vestígios por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 11. Gráfico de matérias-primas por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

18

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

de entre as áreas com maior quantidade devestígios. A área 37 apresenta, por exemplo,maior quantidade de lascas, seguidas pelosvestígios brutos e pelos artefatos, enquanto asáreas 50 e 53 apresentam mais artefatos,seguidos por vestígios brutos e depois pelas

lascas. Já na área 58 predominam os brutos,seguidos pelas lascas e depois pelos artefatos(Fig. 13).

Se observarmos a distribuição das modifi-cações produzidas ainda é uma única variávelque predomina em todas as áreas, a da modifi-

Fig. 12. Gráfico das técnicas de transformação por áreas de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

Fig. 13. Gráfico de vestígios produzidos por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

19

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

cação causada pela ação térmica (Fig. 14). Aúnica exceção nesse caso está representada pelaárea de escavação 37. Se analisarmos a distri-buição das modificações produzidas semconsiderar a queima, predominam em todas asáreas os vestígios sem modificação alguma, queno caso específico da escavação 37 chegam amais de 90% . Para a distribuição das modifica-ções associadas aos artefatos encontradosnesse nível encontramos uma certa variedadena composição dos conjuntos de cada área.Nas áreas 50 e 58, por exemplo, predominamos artefatos onde houve a produção desuperfícies planas e alterações térmicas,enquanto na área 37 predominam os artefatosnos quais houve a produção de um gume. Já asáreas de escavação 52 e 53 apresentam umaboa diversidade de tipos de modificação, todasassociadas a atividades que envolvem ações detriturar, esmagar e pilar.

Apesar de ainda preliminares, as informa-ções acerca da distribuição dos vestígios nosítio parecem reforçar a hipótese apresentadano início deste tópico a respeito da existênciade uma oposição entre centro (representadona amostra analisada principalmente pelaescavação 37) e periferia (representado pela

maioria das demais áreas de escavação até omomento analisadas e com coleções significati-vas no nível 1C). Apesar de haver a princípiouma certa homogeneidade entre as áreas deescavação, sempre que há uma discordância, aárea que destoa do padrão é a área 37. Entre asdemais áreas há também pequenas diferençasque parecem estar mais relacionadas a aspectosquantitativos do que qualitativos, o que decerta maneira reforça a hipótese de que essasáreas periféricas possam representar áreas deatividade doméstica, ou seja, de realização deatividades semelhantes que envolvem dessamaneira conjuntos artefatuais semelhantes,mas distribuídos em proporções distintasdevido à composição do grupo doméstico.

Como já ressaltamos para que as hipótesesapresentadas acerca tanto da existência dediferentes camadas de ocupação quanto dediferentes áreas de atividade neste sítio sejamtestadas, é fundamental que se faça o cruza-mento das informações geradas a partir daanálise dos vestígios líticos com aquelasoriundas das análises dos demais vestígioscoletados. O que propusemos aqui é, porenquanto, uma interpretação sobre algunsaspectos associados à ocupação do sítio

Fig. 14. Gráfico de modificações produzidas por área de escavação no nível 1C do sítio Domingos.

20

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

Domingos baseada exclusivamente na análisedo material lítico e que tem como um dos seusprincipais objetivos ressaltar a importância e opotencial da análise de tais vestígios emcontextos ceramistas.

Artefatos

Os artefatos encontrados no sítio Domin-gos podem ser agrupados em duas grandescategorias: artefatos passivos (que recebem aforça aplicada na ação) e artefatos ativos(aqueles pelos quais se aplica a força). A partirdas variáveis utilizadas para caracterizar asmodificações produzidas em cada artefatopodemos separá-los, dentro dessas grandescategorias, em três conjuntos: artefatos brutos,artefatos polidos, artefatos lascados. Osartefatos lascados são sempre ativos, enquantoos polidos e os brutos podem ser tanto ativosquanto passivos.

Na amostra analisada há um total de 166artefatos que podem ser assim distribuídos: 56% são artefatos ativos e 44% passivos. Dosativos, 45% são brutos, 44% lascados, 8%polidos e 3% polidos e lascados. Dos passivos,96% são brutos e 4% polidos. Entre osartefatos brutos ativos estão os percutores(usados no lascamento uni e bipolar) e batedo-res (relacionados ao processamento de vege-tais), entre os lascados estão as lascas retocadase/ou simplesmente utilizadas e entre ospolidos e polidos e lascados se encontram aslâminas de machado. Já os artefatos passivosincluem as bigornas utilizadas no lascamentobipolar e os suportes para processamento devegetais (Fig. 15).

Observando a distribuição dessas categori-as e conjuntos em estratigrafia há algunsaspectos que podem ser destacados. O nível 2é o que apresenta o maior número de artefa-tos, com a mesma proporção de ativos epassivos. O nível 1C vem em segundo lugar,com uma predominância de artefatos ativos(35) sobre os passivos (25). Na seqüênciaaparece o nível 1D, com mais ativos (5) quepassivos (4) e as camadas 1A, 1B e superfíciecom pouquíssimos artefatos. Com relação aosconjuntos, no nível 2 predominam os artefatos

brutos, seguidos pelos lascados, com apenasum artefato polido e lascado. No nível 1C aproporção entre as categorias é mais equilibra-da, mas continuam a prevalecer os brutos,seguidos pelos lascados, havendo, no entanto,também artefatos polidos e lascados e polidos.Um dado bastante significativo é o fato de queos artefatos polidos aparecem em todos osníveis, inclusive a superfície, com exceçãoapenas do nível 2 e se concentram no nível 1C.Outro elemento importante de comparaçãoentre os níveis envolve os conjuntos quecompõem a categoria de artefatos ativos nosníveis 1C e 2. Enquanto no nível 1C predomi-nam os ativos lascados, seguidos pelos ativosbrutos, no nível 2 essa relação se inverte,havendo uma preponderância de artefatosativos brutos sobre os ativos lascados.

Mais uma vez, essa diferença na composi-ção do conjunto de artefatos entre os níveis1C e 2 reforça a hipótese já apresentada deque teríamos duas ocupações distintas associa-das a cada uma dessas camadas. Nesse caso,além de diferenças quantitativas há tambémdiferenças qualitativas, com a presença dautilização de uma técnica de produção deartefatos em apenas uma das camadas, como éo caso do polimento. Por outro lado, aobservação da distribuição das modificaçõesproduzidas que caracterizam o conjunto deartefatos passivos e ativos da camada 2 indicauma certa especialização, com predomínioabsoluto, entre os artefatos passivos, demodificações decorrentes do lascamentobipolar. Ou seja, a grande maioria dos vestígioscaracterizados como artefatos na camada 2 estáassociada ao lascamento bipolar, constituindo-se predominantemente de bigornas, mastambém de percutores. Assim, apesar de tantoa camada 1C quanto a camada 2 compartilha-rem, de modo geral, um mesmo padrão deapropriação das matérias-primas, há conjuntosde artefatos associados a diferentes atividadesque se distribuem de forma diferencial entre ascamadas, sendo responsáveis pela diferencia-ção destas.

Quanto ao processo de produção eutilização dos artefatos, há poucos elementosque possam ser explorados, a não ser o fato de

21

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

Fig. 15. Prancha com artefatos brutos passivos, com superfícies alisadas e orifício.

22

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

que só há produção de artefatos polidos,conjunto este composto essencialmente porlâminas de machado, dentre os artefatos dacamada 1C. Entre essas lâminas de machadopredominam as de formato retangular, produ-zidas por picoteamento e polimento, mas hátambém lâminas com ombro (ou orelha)finamente polidas.

Dentre os artefatos lascados, predominauma exploração totalmente expediente delascas total ou parcialmente corticais. Pratica-mente não há retoques, utilizando-se um oumais bordos da lasca como gume, ao qual,normalmente se opõe um bordo mais espessoou também cortical que serve para preensão.Todos os artefatos lascados parecem ter sidoutilizados por preensão direta, não havendoem nenhum caso indícios de encabamentopara tais artefatos.

Com relação à distribuição dessas categori-as (ativo e passivo) e conjuntos (bruto, lascadoe polido) na camada 1C, os únicos setores deescavação onde predominam os artefatospassivos sobre os ativos são 50 e 58; nossetores 37, 47, 52 e 53, ambas as categoriasestão presentes, mas prevalecem os ativossobre os passivos; enquanto nos setores 45,51, trincheira A e trincheira B estão presentesapenas os artefatos ativos.

Processo de formação do sítio Domingos:hipótese preliminar

A partir da caracterização tecnológica doconjunto de vestígios líticos encontrado nosítio Domingos e de sua distribuição espacial,podemos levantar uma hipótese preliminarsobre o processo de formação deste sítio.Essa hipótese, por sua vez, pode e deve sertestada com a continuidade dos trabalhos deanálise do material lítico e, principalmente,com o cruzamento dos dados oriundos dasanálises realizadas para os demais vestígiosencontrados no sítio. Outro elementofundamental para o teste dessa hipóteseenvolve a obtenção de um conjunto de datasassociadas a diferentes locais e diferentescamadas estratigráficas.

Segundo vimos, há dentre o material líticoestudado evidências contundentes paradistinção de, ao menos, dois momentos deocupação deste sítio, o primeiro deles associa-do aos vestígios inseridos na camada 2 e osegundo aos vestígios da camada 1C.

A ocupação da camada 2 apresenta comocaracterísticas principais (em termos decomposição absoluta e comparativamente àcamada 1C) uma alta freqüência de utilizaçãodas matérias-primas quartzo e quartzito, depreferência na forma de seixo ou nódulo,apropriados através do lascamento, seja ele uniou bipolar. Quanto aos artefatos, apesar de aproporção entre ativos e passivos ser a mesma,para ambas as categorias predomina o conjun-to de artefatos brutos, ou seja, mesmo entre osartefatos ativos a grande maioria foi utilizadasem modificação prévia. Dentre aqueles queforam modificados para serem utilizados,praticamente só há artefatos lascados nos quaisse aproveitou um gume bruto da lasca. Mas oconjunto de vestígios mais característico dessacamada engloba os artefatos utilizados nolascamento bipolar – percutor e bigorna. Essesvestígios são característicos não só pela suaquantidade (em termos proporcionais noconjunto de vestígios dessa camada), mastambém pela sua localização e disposiçãoespacial – encontrando-se na maioria associa-dos entre si, formando um grande conjunto deseixos numa área específica do sítio.

Uma característica bastante peculiar desseconjunto envolve o fato de muitos dos seixosutilizados como núcleos, percutores oubigornas, serem de um quartzito grosseiro que semostra com uma baixa aptidão ao lascamento,em decorrência do que muitos desses seixos seencontram fragmentados ou com pouquíssimosnegativos de lascamento. No entanto, em meioa esses seixos de matéria-prima de baixaqualidade, há alguns exemplares de quartzo emesmo de quartzito que se mostram maisaptos ao lascamento e que, nesses casos,produzem um número maior de lascasaproveitáveis. Já os seixos cuja matéria-prima éum pouco melhor (apesar de ainda ser quartzoou quartzito) a técnica utilizada para obtençãodas lascas é a unipolar.

23

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

Dessa maneira, vemos que os artesãos queestavam lascando esses seixos detinham oconhecimento dos gestos e procedimentostécnicos para efetuar tanto um lascamentounipolar quanto bipolar e que escolhiam qualdos dois procedimentos utilizar em função daqualidade da matéria-prima em termos deresposta ao lascamento. No entanto, dentre osvestígios produzidos através de qualquer umadas técnicas, não há evidências de uma explora-ção intensa dos núcleos ou de um preparodeste com vistas à obtenção de um produtoespecífico. Isso é corroborado pelas própriascaracterísticas dos artefatos, compostos porlascas ainda com superfície cortical, nas quaishouve o aproveitamento de um gume sem anecessidade de realização de retoques.

Nesse sentido, podemos pensar que osvestígios associados à camada 2 indicam umaocupação deste sítio voltada especialmente paraexploração dos seixos, cuja fonte seria o leito dorio Paraopebas, a poucas centenas de metros dedistância de onde o sítio se encontra atualmente.Há ainda evidências na porção mais a oeste dosítio (especificamente setor de escavação 31) deque o rio Paraopebas estivesse ainda maispróximo ao sítio do que se encontra atualmente,levantando assim a possibilidade de que nestemomento o sítio fosse utilizado como fonte dematéria-prima. Os seixos seriam obtidos no locale lascados para obtenção de lascas com gumecortante, dentre as quais algumas seriam utiliza-das no próprio sítio e outras possivelmentetransportadas para outros locais. Nesse caso, oconjunto de seixos identificados no setor deescavação 37 seria o refugo do lascamento,correspondendo a uma área de descarte de seixoslascados e testados para verificação da qualidadeda matéria-prima e obtenção de poucas lascas.

Em função da quantidade e dispersão domaterial lítico nessa camada o sítio não deve tersido ocupado intensamente, sendo fruto deincursões ocasionais. Após o seu abandonohouve acúmulo de sedimento provavelmentepor ocasiões de cheia intensa do rio, formandouma camada de areia com espessura variávelque, na estratigrafia do sítio corresponde àcamada 1D. Em função da ausência dedatações absolutas tanto para a camada 2

quanto para a 1C, talvez um estudo maisespecífico de micromorfologia pudesse identifi-car a origem do sedimento correspondente acamada 1D e sua possível relação com eventosde cheia do rio que, por sua vez, poderiamajudar a estimar um tempo mínimo de duraçãopara formação desse pacote sedimentar.

Transcorrido esse período teria tido inícioa ocupação associada aos vestígios encontradosna camada 1C. Não há ainda como avaliar oinício desse processo e se os vestígios dacamada 1D corresponderiam a um momentoinicial dessa ocupação ou ao soterramento dosvestígios pela simples ação de pisoteio ecirculação. Além disso, mesmo as diferentesáreas do sítio associadas à camada 1C podemter datações diferentes, indicando modifica-ções na estrutura de ocupação espacial do sítio,com o crescimento da população envolvida nesseprocesso ou a modificação e alternância entreáreas de habitação e de circulação pública.

De qualquer forma a caracterização edistribuição espacial dos vestígios líticosindicam a existência de uma ordenação noprocesso de utilização do espaço, com áreasdiferenciadas para realização de determinadasatividades. Assim, pudemos esboçar umaoposição entre centro e periferia, sendo oprimeiro caracterizado por uma baixa densida-de de vestígios em geral e de vestígios possivel-mente associados a atividades envolvendo ouso do fogo, processamento de vegetais eprodução cerâmica; atividades estas melhorrepresentadas nos setores de escavação localizadosno que consideramos como periferia do sítio.

Além disso, a presença de uma maiorvariedade de matérias-primas utilizadas e deformas de apropriação e modificação dessasmatérias-primas aponta para uma diversificaçãodas atividades realizadas, incluindo exploração defontes de matéria-prima diversificadas e produçãode artefatos polidos, como machados, in situ. Apresença de uma série de artefatos brutos ativos epassivos aponta ainda para o incremento dasatividades associadas ao processamento vegetal,fato este que pode ser corroborado também pelaformação de um espesso pacote de terra preta emalgumas áreas do sítio, certamente envolvendoum acúmulo intenso de matéria orgânica.

24

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

Ainda um aspecto associado ao processo deformação desse sítio que pode ser inferido pelaanálise do material lítico envolve a coberturavegetal durante sua ocupação. Em função daquantidade, tamanho e peso dos machados edas características de seus gumes, podemos dizerque sua utilização não deve ter sido intensa eesteve associada à retirada de árvores depequena espessura. Essas características associa-das às evidências de um uso intenso do fogo,levantam a possibilidade de que a área na qual osítio foi estabelecido tenha sido “aberta”principalmente através da queimada da vegeta-ção ali presente e que esta vegetação provavel-mente já seria de origem secundária, contandocom a presença de árvores não muito grandes eespessas, características da capoeira.

Outro aspecto que pode ser inferido pelascaracterísticas dos machados envolve a existênciade uma possível diferenciação social e utilizaçãodesse artefato como indicador de status. Há entreos machados com e sem sinal de uso umadiferença muito marcante no que diz respeito aograu de acabamento e à produção de um efeitoestético. Enquanto os machados utilizadosapresentam áreas picoteadas, polimento superfici-al e gumes não muito simétricos, os machadossem marcas de utilização estão totalmentepolidos, são perfeitamente simétricos e confeccio-nados em outras matérias-primas; um deles, aliás,foi encontrado junto a um dos sepultamentos eapresenta dimensões por demais reduzidas paraque pudesse ser utilizado (Figs. 16 e 17).

No que se refere ao que denominamoscomo “área periférica”, esta não pôde ser aindamuito bem compreendida no sentido dedefinir com mais clareza os limites e, possivel-mente o número de unidades habitacionais afim de identificar uma possível forma para aestruturação do espaço interno do sítio. Comisso não nos é possível ainda caracterizar oprocesso de formação do sítio relacionado àdinâmica de ocupação correspondente a essacamada 1C. Esse aspecto, no entanto, certa-mente poderá ser melhor discutido com ainserção dos dados oriundos da análisecerâmica e da distribuição dos enterramentos.

Assim como o início da ocupação, seutérmino também é de difícil caracterização.

Aparentemente, a parte principal da ocupação seencontra na camada 1C, sendo as camadas 1B e1A formadas após o abandono do sítio. Noentanto, como sugerimos para a camada 1D, ascamadas 1B e 1A podem também corresponder aum processo de abandono gradual, com adiminuição no tamanho da população envolvidae, conseqüentemente, diminuição na freqüênciadas atividades realizadas e na quantidade devestígios materiais gerados.

Fig. 16. Prancha com lâminas de machado polidas esem marcas de uso. A lâmina da foto do meio foiencontrada junto a uma urna.

25

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

Conclusão: potencialidades e perspectivas

Conforme apresentado, com a metodologiaproposta e a amostra selecionada foi possívelcaracterizar a indústria lítica do sítio Domingos edessa maneira fornecer elementos para estabele-cer uma comparação com outros contextos daregião e levantar hipóteses a respeito dos tipos e

locais das atividades que estavam sendo realizadasno sítio, além da possibilidade de ele compreen-der mais de uma camada de ocupação. A partirdessa contextualização, novos problemas surgi-ram e apontam para a necessidade da continuida-de dos trabalhos.

A(s) ocupação(s) do sítio Domingos

No caso específico do sítio Domingos, osdados levantados apontam não só para anecessidade, mas também para a relevância dacontinuidade dos trabalhos de análise dessacoleção para que se compreenda de formamais detalhada o processo de formação dessesítio. Essa continuidade envolve tanto traba-lhos de laboratório quanto de escavação. Esseúltimo ponto é fundamental principalmentepara o encaminhamento da questão associadaà existência de duas ocupações no sítio Domin-gos. Para averiguar a relevância dessa hipótese énecessário que se façam novas escavações emdiferentes áreas, talvez até para além do limitedefinido pela distribuição espacial dos vestígiosassociados à camada 1 (1A, 1B, 1C e 1D), quese amplie a profundidade de áreas já escavadas,que se obtenha uma amostra maior de materiallítico associado a essa camada e, principalmen-te, que se obtenham amostras de carvão oulítico queimado que possam ser datadas. Naausência de tais amostras, seria interessanterealizar um estudo de micromorfologia a fimde entendermos um pouco melhor o processode deposição associado à camada 1D, quecorresponderia ao intervalo das duas ocupa-ções identificadas no sítio.

Com relação aos trabalhos de laboratório,o teste da hipótese levantada acerca da existên-cia de uma oposição entre centro e periferia fazcom que seja necessário complementar aanálise do material coletado, trabalhando como total de vestígios identificados em cada áreade escavação. Esse procedimento, aliado aocruzamento de dados oriundos das análisesdos demais tipos de vestígio encontrados nosítio Domingos, pode fornecer elementos maisconsistentes para compreensão e caracterizaçãodas diferentes atividades realizadas no sítio esua distribuição espacial.

Fig. 17. Prancha com lâminas de machado picoteadas,com polimento restrito ao gume e com marcas deutilização.

26

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

Com relação a esse ponto, é precisoreforçar que um dos principais fatores quepossibilitaram investigar esse tipo de informa-ção foi a metodologia de campo adotada paraescavação do sítio. O cruzamento de dadosoriundos da aplicação de métodos geofísicos eda realização de tradagens, utilizados paraorientar a localização das áreas de escavação, asquais tiveram, na maioria das vezes, suaextensão definida pelas característicasdistribucionais e relacionais dos vestígiospossibilitou não só a investigação de diferentesáreas do sítio, como a caracterização detalhadado conjunto artefatual presente em cada umdesses locais, que, por sua vez, constituem-senum importante vetor de informação sobre anatureza das atividades aí realizadas.

O material lítico no âmbito dos estudos detecnologia lítica

Um primeiro ponto que pode ser levanta-do diz respeito à composição da amostra e àimportância de a análise contemplar todo oconjunto de vestígios. Como vimos para o sítioDomingos, grande parte do material líticopresente no sítio foi apropriada de formabruta, sendo que uma grande parte destesvestígios brutos apresentam marcas de queimacom intensidades variadas, que vão desde apresença de algumas cúpulas térmicas emudança de coloração até a fragmentação porcompleto, o que já foi ressaltado por outrospesquisadores em sítios cerâmicos na Amazô-nia (Costa 2002). Isso aponta para um aspectoimportante e particular destes contextos quetraz informações a respeito da principalutilização do material lítico: organizar, definir edelimitar espaços. Apesar de não haver cons-truções de grande porte realizadas com autilização da pedra, nestes contextos a maioriados vestígios líticos são procurados e obtidosno entorno imediato do sítio, trazidos para osítio e utilizados para construção de estruturasde combustão que servem a diferentes propósi-tos e que, por conseguinte, têm diferentescomposições. Além disso, esses mesmosvestígios podem ser utilizados como umaespécie de mobília no desempenho de outras

tarefas, que não causam nenhum tipo dealteração química ou física identificável noregistro arqueológico. De qualquer maneira,esse tipo de atividade compõe aquilo quepodemos denominar de Economia de Matéria-Prima, o que envolve o conjunto das estratégi-as utilizadas para obter, gerir e utilizar um tipode recurso específico – matéria-prima lítica.Neste sentido, ao invés de simplesmentedescartar tanto no próprio sítio quanto emlaboratório os vestígios brutos, é importanteatentar para aspectos como matéria-prima,dimensões, grau de preservação, presença/intensidade de alterações de superfície, tipo desuporte e, principalmente, localização.

No que se refere aos estudos de tecnologialítica de maneira geral, um dos principaisaspectos que pode ser aprofundado com acontinuidade dos trabalhos com o materiallítico do sítio Domingos envolve a realizaçãode experimentações com matérias-primas dessaregião a serem utilizadas em atividades possivel-mente associadas às marcas de uso identificadas,quer dizer, atividades de processamento devegetais. Isso poderia ser realizado por alunos eestagiários do Museu Emílio Goeldi e certa-mente traria uma grande contribuição não sópara um melhor entendimento do sítioDomingos como também para os estudos detecnologia lítica em geral. Este é, aliás, umponto para o qual convergem as indústriaslíticas de sítios cerâmicos e as indústrias líticassambaquieiras, ambas ainda muito poucoestudadas e compreendidas no âmbito daArqueologia Brasileira.

Além disso, a questão da utilização decertas matérias-primas líticas para produção detempero mineral utilizado como antiplástico naprodução cerâmica precisa ser investigada deforma mais detalhada e aponta para umaampliação do leque de utilizações e atividadesàs quais o material lítico pode estar associadoem ocupações ceramistas.

Outro ponto importante e que pode serexplorado envolve a produção de lâminas demachado com diferentes formas e segundodiferentes cadeias operatórias. No sítio Domin-gos há tanto lâminas de contorno trapezoidal,quanto lâminas retangulares e com orelhas e,

27

Lucas Reis BuenoEdithe Pereira

ao mesmo tempo, há lâminas que foram feitaspara serem utilizadas (as quais apresentam umacabamento menos refinado) e lâminas quenão parecem ter sido confeccionadas parautilização (as quais estão fina e cuidadosamentepolidas, sem nenhuma evidencia de uso).

Por fim, a relação entre técnicas de lascamentouni e bipolar há muito vem sendo debatida noâmbito da Arqueologia Brasileira embora poucoainda se conheça efetivamente sobre o assunto(Prous 1986/90; Prous 2004; Prous e Lima1986/90). Nesse sentido, efetuar uma descriçãomais detalhada das cadeias operatórias presentesneste sítio no que se refere aos vestígios nos quaisidentificamos a associação de ambas as técnicascertamente viria a contribuir de modo significati-vo para as discussões relacionadas à tecnologia

lítica. Esse último ponto pode ainda ser realçadose pensarmos na especificidade da utilizaçãodessa técnica no contexto da serra dos Carajás,uma vez que a indústria lítica encontrada nosabrigos da serra dos Carajás e associada acontextos de ocupação de caçadores-coletoresque remontam a mais de 9.000 AP é caracteriza-da justamente pelo lascamento uni e bipolar decristais de quartzo (Hilbert 1989; Magalhães1994), os quais aparecem também no sítioDomingos, embora em baixa freqüência. Nessesentido, estudar essa técnica de apropriação emrelação com as matérias-primas nas quais ela éutilizada é uma questão bastante importante eque pode contribuir de maneira significativa noentendimento do processo de ocupação de longaduração dessa região.

BUENO, L.R.; PEREIRA, E. Lithic assemblages in Amazonian ceramic sites: a casestudy of Domingos site, Canaã dos Carajás, Pará. Revista do Museu de Arqueologia eEtnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

Abstract: This paper presents the results of the study of a lithic assemblagecollected during the archaeological excavations realized by the “Programa deArqueologia Preventiva na Área de Mineração Serra do Sossego”. The lithicanalysis focused the collection formed during the excavations of the Domingossite. These excavations happened in different periods from 2003 to 2005. Theobjectives of this analysis involved the identification of raw materials, thecharacterization of each process of appropriation, the definition of indexes ofactivity areas by the characterization of the type of modifications produced inthe artifacts and the spatial distribution of the remains in the stratigraphy toinvestigate the existence of more than one occupation of the Domingos site.From the results of the technological analysis and the distribution of the lithicremains intra-site, we present a hypothesis on the site formation processes andshow the great potential of the study of lithic technology in ceramist contexts.

Keywords: Lithic technology – Ceramic site – Activity area – Site forma-tion processes.

AHLER, S. A.1989 Mass analysis of flaking debris: studying

the forest rather than the tree. In: Henry,

Referências bibliográficas

D.; Odell, G. (Eds.) Alternative Approachesto lithic analysis. Boulder Colorado :Westview Press. Archaeological Papers of

28

Indústrias líticas em sítios cerâmicos na Amazônia: um estudo do sítio Domingos, Canaã dos Carajás, Pará.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 000-000, 2007.

the American Anthropological Association,1: 85-118.

ANDREFSKY, W.1998 Lithics: macroscopic approaches to analysis.

Cambridge Manuals in Archaeology,Cambridge University Press.

2001 Lithic Debitage. Context, Form and Meaning.Utah: The University of Utah Press.

BRANDT/ MEIO AMBIENTE2000 Estudo de Impacto Ambeintal da Mineração

Serra do Sossego S.A. Canaã dos Carajás eParauapebas, PA. CD-ROM Maio.

BUENO, L.R.2007 Variabilidade tecnológica nas Indústrias

Líticas da região do Lajeado, Médio RioTocantins. Revista do Museu de Arqueo-logia e Etnologia da USP, Suplemento 4,São Paulo.

2006 Indústrias Líticas do sul do Pará. Propostade Análise para sítios associados aocupações ceramistas e de caçadores-coletores. Relatório Final de Bolsa PCI,Museu Paraense Emílio Goeldi, julho.

COLLINS, M.B.1975 Lithic Technology as a means of Proces-

sual Inference. In: Swanson, E. (Ed.)Lithic Technology. Making and UsingStone Tools. The Hauge-Paris, MoutonPublishers: 15-34.

COSTA, F.W.S.2002 Análise das Indústrias líticas da área de

confluência dos rios Negro e Solimões.Dissertação de Mestrado FFLCH/MAE,USP.

DIAS, A. S.; HOELTZ, S.1997 Proposta metodológica para o estudo das

indústrias líticas do sul do Brasil. Revista doCEPA, Santa Cruz do Sul, 21 (25): 21-62,

HILBERT, K.1989 Organização e uso do espaço de grupos

caçadores-coletores pré-históricos na gruta dogavião, serra dos Carajás (PA). PontifíciaUniversidade Católica do Rio Grandedo Sul.

LUIZ, J.G.; PEREIRA, E.2005 Prospecção arqueológica por métodos

geofísicos no sudeste do Pará: o caso doSítio Domingos. Canaã dos Carajás. In:9th International Congress of the BrazilianGeophysical Society, Salvador. Explore newideas in a mystical place, 1: 1-6. Cd-rom.

PEREIRA, E.2005 Programa de Arqueologia preventiva na

área da Mineração Serra do Sossego.Relatório de campo e de laboratório(etapa de maio, julho e outubro de2003). Versão revista e ampliada. 162.p.inédito

2006a Programa de Arqueologia Preventiva naárea da Mineração Serra do Sossego/PA.Relatório de campo (etapa de junho/2004). 118p. inédito.

2006b Programa de Arqueologia Preventiva naárea da Mineração Serra do Sossego/PA.Relatório de campo e laboratório (etapade setembro/2004). 109p. inédito

2006c Programa de Arqueologia Preventiva naárea da mineração Serra do Sossego/PA.relatório de campo e laboratório (etapade julho/agosto 2005). 210p. inédito

PRENTISS, W.C.1998 The reliability and validity of a lithic

debitage tipology: implications forarchaeological interpretation. AmericanAntiquity, 63 (4): 635-650.

PROUS, A.1986/90 Os artefatos líticos, elementos

descritivos classificatórios. Arquivos doMuseu de História Natural, 11:1-55.

2004 Apuntes para el estudo de las industriaslíticas.Ortegalia 02, Ortigueira.

PROUS, A.; LIMA, M.A.1986/90 A tecnologia de debitagem do

quartzo no centro de Minas Gerais:lascamento bipolar. Arquivos do Museu deHistória Natural, Belo Horizonte:Universidade Federal, 11: 91-111.

SHOTT, M.1994 Size and Form in the analysis of flake

debris: review and recent approaches.Journal of Archaeological Method and Theory,1 (1): 69-110.

Recebido para publicação em 25 de outubro de 2007.