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Infecções por micobactérias de Infecções por micobactérias de crescimento rápido crescimento rápido Micobactérias – gênero Mycobacterium amplamente disseminadas no ambiente e nos animais além das principais espécies patogênicas para humanos (M. tuberculosis e M. leprae) outras espécies tem sido reconhecidas como de relevância médica, especialmente associadas a infecções em pacientes imunodeprimidos ou com AIDS

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Infecções por micobactérias de crescimento Infecções por micobactérias de crescimento rápidorápido

Micobactérias – gênero Mycobacterium

amplamente disseminadas no ambiente e nos animais

além das principais espécies patogênicas para humanos

(M. tuberculosis e M. leprae) outras espécies tem sido reconhecidas

como de relevância médica, especialmente associadas a infecções em

pacientes imunodeprimidos ou com AIDS

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bastonetes aeróbios, não esporulados; sua parede celular é semelhante as bactérias Gram-positivas, porém não são coráveis pelo Gram

parede celular rica em ácidos graxos de cadeia longa - ácidos micólicoscerca de 60% do peso seco da parede celular é composta por lipídeos (glicolipideos, peptideoglicolipídeos );

alta concentração lipidica torna as células microbianas fortemente hidrofóbicas – portanto, são dificilmente coráveis ou afetadas por desinfetantes, antissépticos, detergentes e a muitos antibióticos

coloração empregada: método de Ziehl-Neelsen ou coloração alcool-ácido resistente (daí, BAAR – bacilos álcool-ácido resistentes)

uma vez coradas pela fucsina, as bactérias não se deixam descorar por uma mistura de álcool e ácido clorídrico

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Mycobacterium observado por microscopia eletrônica de varredura e esquema da parede celular do microrganismo, com predomínio de

lipídeos, que chegam a constituir 60% do peso seco da parede bacteriana

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Método de coloração de Ziehl-Neelsen: fucsina fenicada à quente, descoloração por solução de álcool-ácido clorídrico e contra-coloração

com azul de metileno – bacilos álcool-ácido resistentes, ou BAAR

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com exceção da espécie M. leprae, crescem em meios de cultura artificiais, de formulação especial – meio sólido como Lowenstein-Jensen (ovo, albumina, corantes) ou líquido, como o caldo Middlebrook 7H9.

in vivo, podem multiplicar-se no interior de macrófagos – intracelulares facultativos

atualmente, são reconhecidas cerca de 140 espécies e subspécies, mas apenas algumas delas tem relevância médica

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Micobactérias de crescimento rápido:

as várias espécies de micobactérias são identificadas com base em características como tempo e temperatura ótima de crescimento e produção de pigmento:

tempo de crescimento (formação de colônias visíveis) define dois grandes grupos de micobacterias :

crescimento lento – 14 a 60 dias de incubação

crescimento rápido – 3 a 7 dias de incubação

quanto a outras características, as espécies ditas escotocromogênicas produzem pigmento na ausência de luz, enquanto as fotocromogênicas requerem a luz

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(a) tubos com meio de Lowestein-Jensen apresentando crescimento de micobactéria

(b) tubos do mesmo meio semeados com espécies distintas de micobactérias produtoras (centro) ou não produtoras (extremidades) de pigmentos

bbaa

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uma variedade de testes bioquímicos e testes moleculares (sequenciamento de genes essenciais ao metabolismo da bactéria) permitem definir as várias espécies com razoável precisão:

principais espécies:

M. fortuitumM. cheloneaeM. abscessus M. bolletii (até 2006, era incluída em M. abscessus)M. massiliense (até 2004, era incluída em M. abscessus)

encontradas no ambiente (solo, água potável, biofilmes em tubulações de sistemas de distribuição de água potável, piscinas, esgoto) e eventualmente contaminando soluções injetáveis e dispositivos médicos.

podem ser resistentes a detergentes e antissépticos:

cloreto de benzalcônio, compostos organo-mercuriais, cloro, glutaraldeído e clorexidina

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Virulência: discreta, raramente produzem infecções disseminadas

usualmente, produzem doença após introdução em tecido subcutâneo – traumas ou infecções iatrogênicas (cateteres, próteses, cirurgias)

não há relato de transmissão interpessoal

surtos tem sido descritos envolvendo procedimentos cirúrgicos, como videocirurgias, implante de próteses mamárias e lipoaspiração e injeções subcutâneas de substancias usadas em tratamentos alternativos:

no Brasil, entre 2003 e 2009 : 2128 casos em hospitais públicos e privados, clínicas de cirurgia plástica, oftalmológicas, de acupuntura, de

estética e, recentemente, em unidade de vacinação

o agente etiológico mais prevalente: Mycobacterium massiliense

foi investigada a clonalidade das cepas de M. massiliense, por eletroforese em campos alternados - identificado o clone BRA 100

clone BRA 100 de M. massiliense - tolerância ao glutaraldeído a 2%, mesmo após 10 horas de exposição.

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Perfis de PFGE do DNA genômico de cepas de M. massiliense isoladas de surto de infecção pós-cirúrgica na cidade do Rio de

Janeiro: pistas 1 e 15, marcadores de peso molecular; nas demais pistas: 2, CRM-0006; 3, CRM-0013; 4, CRM-0018; 5, CRM-0019; 6,

CRM-0020; 7, CRM-0029; 8, CRM-0169, 9, CRM-0172; 10, CRM-0181; 11, CRM-0185; 12, CRM-0189; 13, CRM-0191; e 14, CRM-0195

(Duarte et al, Journal of Clinical Microbiology, 47:2149-55, 2009)

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Comprovação da resistência do clone BRA 100 de M. massiliense ao glutaraldeído, por até 10 horas de exposição

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Aspectos clínico-epidemiológicos das infecções: suspeitar da doença em pacientes com sinais de flogose persistente, por mais de uma semana, após:

laparoscopia, artroscopia, broncoscopia, endoscopia do sistema genitourinário, ou do sistema digestório para inserção de prótese biliar;

procedimentos no quais seja utilizada cânula de aspiração (lipoaspiração), instrumento de fibra ótica, implante de prótese, órtese

oftalmológica, ceratotomia, cirurgia plástica, ortopédica, cardíaca, mesoterapia, preenchimento cutâneo com ácido hialurônico ou

metacrilato, ou injeção por via intra-muscular

observar: lesões eritematosas de difícil cicatrização, nodulares, com ou sem drenagem de secreção, fístulas, ulcerações, abscesso quente ou frio, não responsivo aos tratamentos antimicrobianos convencionais

especialmente em topografia correspondente ao acesso cirúrgico

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Infecções por micobactérias de crescimento rápido: laparoscopia e videocirurgias em geral; após injeção subcutânea, em paciente em uso de corticóide (a) e individuo sem imunosupressão (b); após mamoplastia (c );

associado a pedicure (d) cirurgia estética da face (e) e acunpuntura (f)

aa bb

cc

ddee

ff

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colecistectomia (56%), laparoscopia diagnostica (7,8%), apendicectomia (7,1%), artroscopia (5,5%), ooforectomia/ooforoplastia (3,1%), hernioplastia (2,3%), ligadura da trompa (2,3%), miomectomia (2,3%), gastroplastia (1,5%), rectosigmoidectomia (1,5%), e outros procedimentos video-assistidos (10,6%).

100% dos pacientes tinham lesões cutaneas únicas ou multiplas e 61% tinham secreções serosas, sanguinolentas ou purulentas drenando das feridas

o tempo médio entre a cirurgia e o aparecimento das manifestações clínicas foi de 31 dias (variando de 2 a 187 dias)

Sensibilidade aos antimicrobianos: amicacina (MIC para 90% das cepas testadas foi 8 µg/ml) e claritromicina (MIC90, de 0,25 µg/ml)

Resistencia: ciprofloxacina (MIC90, 32 µg/ml), cefoxitina (MIC90, 128 µg/ml), and doxiciclina (MIC90, 64 µg/ml).

Surto de infecções por M. massiliense após videocirurgias (1.051 casos) em 63 hospitais do Estado do Rio de Janeiro, entre

agosto de 2006 e julho de 2007

Duarte et al, J. Clin. Microbiol., 47:2149-55, 2009

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Diagnóstico laboratorial :

análise microbiológica dos tecidos e secreções infectadas

não usar swabs – coletar aspirados e acondicionar em pequeno volume de soro fisiológico estéril

microscopia após coloração pelo Ziehl-Neelsen:

pesquisa de BAAR em material clínico: secreção ou biópsia de tecido

cultura para micobactérias, germes comuns e fungos

identificação das espécies de micobactéria – métodos convencionais e por métodos moleculares

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M. massiliense observado em aspirado de lesão (esquerda) e em biópsia de fragmento de tecido - ambos os materiais clínicos foram corados pelo

Ziehl-Neelsen

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Tratamento:

as micobactérias de crescimento rápido são geralmente susceptíveis a antimicrobianos como claritomicina, imipenem, amicacina, cefoxitina, sulfonamidas, doxiciclina, fluorquinolonas

recomenda-se o teste de susceptibilidade a drogas pela grande variação no perfil de resistência, mesmo dentro de uma mesma espécie

o teste deve ser realizado por determinação da concentração inibitória mínima (MIC) em caldo (microdiluição em placa)

Desbridamento cirúrgico, remoção da prótese

Tratamento prolongado (cerca de 6 meses)

na maioria absoluta dos casos: uso concomitante de dois antimicrobianos

monoterapia, em particular com fluorquinolonas, pode selecionar mutantes resistentes e restringir ainda mais as opções terapêuticas

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MIC – concentração inibitória mínima (acima)

Teste de microdiluição em placa para obter a MIC para diferentes antibióticos (abaixo)

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Prevenção da infecção:

Substituição de instrumentais cirúrgicos por material permanente, autoclavável

Normas rigorosas para a desinfecção química de instrumentos, com acido peracético ou glutaraldeido (2%, por 20 minutos).

o glutaraldeido abaixo de 1,5% é ineficaz; as soluções devem ser controladas quanto a concentração efetiva e prazo de validade; também quanto aos efeitos irritantes sobre o trato respiratório,

requerendo ventilação no ambiente;

o acido peracético é uma mistura de acido acético e peróxido de hidrogênio; usa-se a 0,2% ou 0,35%; o principal inconveniente é a ação

corrosiva sobre instrumentos de endoscopia

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Monitorar casos suspeitos em procedimentos como:

videolaparoscopia, artroscopía, cistoscopia, mamoplastia, mesoterapia, diálise peritoneal, cirurgias cardíacas e oftalmológicas

Divulgar amplamente as fontes conhecidas destas infecções:

medicamentos injetáveis, colírios, solução de glutaraldeido contaminada, água não estéril, implante de contraceptivo, prótese

mamária, fio de marcapasso, broncoscópios, endoscópios, videolaparoscópios

Adotar critérios rigorosos para artigos reprocessados fora da instituição e para a limpeza e lavagem de equipamentos cirúrgicos e dispositivos médicos

Proceder a notificação imediata de quaisquer casos suspeitos

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Duarte, RS et al., 2009. Epidemic of postsurgical infections caused by Mycobacterium massiliense. J. Clin. Microbiol., 47:2149-2155

De Groote, MA & Huitt, G., 2006. Infections due to rapidly growing Mycobacteria. Clin. Infect. Dis., 42:1756-1763

SVS/MS e ANVISA. Nota Técnica Conjunta nº 01/2009 Infecções por micobactérias de crescimento rápido: fluxo de

notificações, diagnósticos clínico, microbiológico e tratamento. 47 páginas