Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO JUAN SEBASTIÁN RUIZ ACERO INFLUÊNCIA DA FORÇA NORMAL E DA DUREZA NO DESGASTE POR DESLIZAMENTO DE AÇOS A SECO. SÃO PAULO 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

JUAN SEBASTIÁN RUIZ ACERO

INFLUÊNCIA DA FORÇA NORMAL E DA DUREZA NO DESGASTE POR

DESLIZAMENTO DE AÇOS A SECO.

SÃO PAULO

2013

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JUAN SEBASTIÁN RUIZ ACERO

INFLUÊNCIA DA FORÇA E DA DUREZA RELATIVA ENTRE CORPO E

CONTRACORPO NO DESGASTE POR DESLIZAMENTO

Exame de qualificação apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São

Paulo.

Área de concentração: Engenharia Mecânica

Orientador: Prof. Titular Dr. Amilton Sinatora

2013

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SUMARIO

1. Introdução.

2. Atrito em condições de deslizamento de metais

2.1. História e definições

2.2. Mecanismos de atrito

2.3. Regimes e transições

2.4. Relação entre atrito e desgaste

3. Desgaste por deslizamento

3.1. Mecanismo de desgaste por deslizamento

3.2. Regimes de desgaste e transições de regime

4. Materiais e métodos.

4.1. Mecanismo de desgaste por deslizamento.

4.2. Regimes de desgaste e transições de regime.

5. Resultados e discussões preliminares

5.1. Resultados de desgaste

5.2. Resultados de coeficiente de atrito

6. Conclusões preliminares

7. Próximas etapas

8. Referencias.

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Capitulo 1

1. Introdução

O movimento de uma superfície solida sobre outra é de importância

fundamental em diversos componentes, sejam artificiais u naturais. Desde

tempos pré-históricos o homem há percebido os efeitos do contato entre

superfícies, como se tem encontrado em diferentes pinturas rupestres nos

quais se mostra o homem se aproveitando da dissipação de calor por o contato

entre superfícies para criar fogo (BLAU, 2009).

Estudos mais elaborados estudando a resistência ao movimento por atrito

começaram a ser realizados desde o século XV com os estudos de Da Vinci,

no entanto, foi só até o século XX que um comitê do Departamento Britânico de

Educação e Ciência com o fim de identificar esta ciência encarregada de

estudar a “interação de superfícies em movimento relativo” usou a expressão

tribológia para referir-se a esta ciência (JOST, 1990). Em geral pode-se dizer

que a tribológia é a ciência que se dedica ao estudo do atrito, o desgaste e a

lubrificação.

No desgaste especificamente, se hão identificado diferentes mecanismos de

desgaste a partir dos quais se define o nível de desgaste final de um

componente mecânico. Dado que o desgaste produz altos custos relacionados

à perda de materiais, energia e tempo; garantir um mecanismo de desgaste

predominante no contato entre superfícies é uma boa opção para reduzir estes

custos e ter uma predição da vida útil dos componentes mecânicos.

Os principais mecanismos encontrados no desgaste por deslizamento de aços

são o mecanismo de adesão e mecanismo de oxidação (ARCHARD; HIRST,

1956). A operação de cada mecanismo depende principalmente das condições

do sistema tribológico tais como carga normal, velocidade de deslizamento,

durezas dos materiais, meio ambiente, entre outros. As diferenças nas taxas de

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desgaste entre mecanismos são tão significativas que dependendo do

mecanismo predominante foram definidos dois regimes desgaste: um regime

moderado de desgaste quando o mecanismo predominante é oxidativo e um

regime de desgaste severo quando o mecanismo predominante é o adesivo.

Uma pequena variação na magnitude dos diferentes fatores do sistema

tribológico pode resultar na transição de regime de desgaste de moderado a

severo que leva a diferenças na taxa de desgaste de até três ordens de

grandeza. (HIRST; LANCASTER, 1956; LANCASTER, 1962; WELSH, 1965a).

Uma das principais variáveis que favorece a transição de regime de desgaste

moderado-severo é a carga normal (WELSH, 1965a). Em diferentes aplicações

se vem aumentado o nível de carregamento sendo o exemplo mais claro os

motores de combustão interna. O continuo aumento de potencia especifica nos

motores de combustão interna acarreta maiores carregamentos

termomecânicos, razão pela qual é necessário modificar as condições dos

diferentes sistemas tribológicos encontrados nestes motores com o fim de

promover um regime de desgaste moderado. Uma das formas encontradas

para evitar a transição de regime de desgaste com o aumento da carga normal

é modificar as dureza dos corpos em contato.

Por esta razão este projeto procurou estudar, usando uma configuração de

ensaio tipo pino disco, o efeito da carga normal e da dureza do material do pino

na transição de regime de desgaste moderado a severo em condições a seco;

com base na abordagem simplificada do sistema tribológico. Os objetivos

específicos foram:

Verificar a ocorrência das transições de regime de desgaste moderado-

severo em um material tradicional de ferramenta contra um material

tradicional de engenharia mecânica.

Estudar o efeito da dureza relativa entre pino e disco na transição de

regime de desgaste moderado-severo.

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Capitulo 2

2. Atrito no desgaste por deslizamento de metais

Tanto o atrito quanto o desgaste são propriedades que não dependem do

material, mas sim do sistema no qual estes materiais estão envolvidos

(CZICHOS, 1978). Este tipo de sistema é chamado de sistema tribológico ou

tribossistema o qual é mostrado de forma genérica na figura 2.1. Nesta figura

identificam-se quatro elementos, o corpo (C), o contracorpo (CC), o meio

interfacial (MI) e o meio ambiente (MA). Devido que ao fato de que os

fenômenos de atrito e desgaste são resposta deste sistema tribológico e tendo

em conta que existem estudos que intentam correlacionar os dois fenômenos

se faz necessário realizar uma descrição do atrito no desgaste por

deslizamento.

Figura 2.1. Descrição esquemática de um sistema tribológico

Na revisão realizada se excluíram algumas condições de atrito. Apresenta-se

uma descrição do atrito gerado quando ocorre o contato entre corpos sólidos, e

desta forma foram excluídos os fenômenos de atrito de um corpo solido com

algum fluido, atrito de dois ou mais fluidos, atrito em presença de sistemas

eletromagnéticos e o atrito interno dos materiais.

2.1. História e definições

Ainda que a raça humana venha modificando as condições de atrito de

diferentes tribossistemas desde as primeiras civilizações foi a partir da Idade

Média que se fez um estudo cientifico do fenômeno. Nos escritos de Leonardo

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da Vinci (1452-1519) se encontraram diferentes equipamentos que foram

projetados para estudar o atrito por deslizamento embora a palavra força de

atrito nunca fosse mencionada (DOWSON, 1979). Com base nestes estudos,

da Vinci estabeleceu as duas primeiras leis clássicas do atrito, a força de atrito

é proporcional ao peso e a força de atrito é independente da área de contato

aparente; no entanto, os estudos sobre atrito realizados por da Vinci foram

conhecidos apenas a partir do século XX. Devido ao desconhecimento dos

trabalhos do italiano, as leis de atrito de Leonardo da Vinci foram redescobertas

pelo francês Guillaume Amontons (1663-1705) em um trabalho apresentado na

Real Academia Francesa de Ciência quase 200 anos depois, nesta

apresentação somente foi aceito o fato que a força de atrito fosse proporcional

ao peso, porém a lei na qual a força de atrito e independente da área aparente

de contato apenas foi aceita após que De La Hire (1640-1718) validou o

trabalho de Amontons (SEIREG, 1998).

Cem anos depois Charles Augustin Coulomb (1736-1806) confirmou as leis de

Amontons. Um acréscimo de Coulomb foi considerar que o contato acontece

unicamente nas asperezas, razão pela qual explicou o fenômeno de atrito

como um intertravamento de asperezas (ASM INTERNATIONAL,1978).

Coulomb também estudou os efeitos da natureza dos materiais em contato e a

porção de tempo que as superfícies permanecem em contato. Os trabalhos de

Coulomb dominaram o conhecimento sobre atrito de sua época e sua inflûencia

se percebe ainda hoje em textos que usam o termo atrito de Coulomb para o

atrito em condições a seco (BLAU, 2009).

John Desaguliers (1683-1744), em um texto de 1734, descreveu que o

polimento das superfícies em contato pode aumentar a força de atrito e atribuiu

este fenômeno à adesão das superfícies que ele chamou de coesão. Autores

principalmente ingleses, como John Leslie (1766-1832) e Sir Benjamin

Thompson (1753-1814) trataram de explicar o fenômeno de adesão identificado

por Desaguliers, mas foi só até o século XX com o trabalho de Bowden e Tabor

que a teoria de adesão teve suficiente evidência experimental. No trabalho de

Bowden e Tabor (1950) também foi incluída a deformação plástica das

asperezas como outro fator importante no atrito entre superfícies. Nos últimos

anos, as leis de atrito citadas deixaram de ter tanta relevância devido ao fato

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que são muitas as condições nas quais elas não se cumprem. No entanto, eles

consistiram na base para definir os mecanismos de atrito identificados

atualmente.

Comparada com outras ciências a tribológia e especificamente seu estudo

direcionado ao atrito é uma ciência ainda muito recente; a infância no estudo

do atrito pode-se perceber mesmo na forma como este é definido,

encontrando-se diferentes formas para referir-se ao mesmo fenômeno

(SINATORA, 2005). Uma das definições mais aceitas se refere ao atrito como

uma força tangencial à interface e de sentido contrário ao movimento (BLAU,

2009; HUTCHINGS, 1992) chamada força de atrito, que se define como a

resistência ao movimento que experimenta um corpo que desliza sobre outro.

Esta força de atrito é geralmente considerada a partir do coeficiente de atrito

que é definida como a constante de proporcionalidade entre a força de atrito

e a força normal como se apresenta na equação 2.1. Esta seria a primeira

lei de atrito descrita por da Vinci e Amontons

(2.1)

Porém, são vários os cuidados que se deve ter com o uso do coeficiente de

atrito como discutido por Blau (BLAU, 2008c), o principal problema destacado

pelo Blau é o tratamento do coeficiente de atrito como uma propriedade do

tribossistema e não como uma propriedade intrínseca dos materiais em contato

devido aos diferentes mecanismos de atrito que são encontrados e os multiplex

fatores que podem afetar o comportamento do coeficiente de atrito do sistema

como se apresenta na tabela 2.1 traduzida diretamente do trabalho do Blau.

Outros autores têm definido o atrito como uma energia (STACHOWIAK, 1993),

sendo que esta concepção de energia de atrito ajuda a diferenciar os

processos de armazenamento e os processos de dissipação de energia por

atrito. Blau (BLAU, 2008c) propõe uma abordagem. Neste sentido, ele

representou as regiões potenciais para a dissipação o armazenamento da

energia de atrito, e para isso dividiu a interface em camadas que ele chamou

de FEDZ (Frictional Energy Dissipation Zones) como se apresenta na figura

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2.2. A camada FEDZ 1 representa a região na qual o fluido tem o papel

predominante. Na região FEDZ 2 a dissipação de energia ocorre a partir da

deformação das camadas que cobrem os corpos em contato, por exemplo,

camadas de óxidos ou modificadores de atrito. A dissipação de energia por

deformações elásticas o plástica dos sólidos em contato acontece na região

identificada como FEDZ 3 e finalmente a região identificada como FEDZ 4

representa a influência das estruturas vizinhas no fenômeno de atrito.

Figura 2.2. Esquema das regiões de dissipação da energia (BLAU, 2008c)

Tabela 2.1. Fatores que influenciam o comportamento do coeficiente de atrito (BLAU, 2008c)

Categoria Fator

Geometria de contato Tipo de contato (conforme o não conforme) Rugosidade das superfícies (forma e distribuição das asperezas) Ondulação da superfície Tendência da superfície (direcionalidade) referente ao movimento relativo

Propriedades do fluido e do escoamento

Regime de lubrificação (tipo, espessura de filme e pressão)

Características de viscosidade do fluido e como afeta o escoamento Newtoniano ou não Newtoniano Efeito da temperatura e pressão na viscosidade Efeito da tensão de cisalhamento em filmes ultra-finos

Química do lubrificante Formação dos filmes de lubrificantes alterados pelo atrito Estabilidade dos modificadores de atrito com o tempo Oxidação e acidificação dos lubrificantes

Movimento relativo Movimento unidirecional ou alternado Constância do movimento (acelerações, pausas, paradas-partidas) Magnitude da velocidade relativa das superfícies

Forças aplicadas Magnitude da força normal (Pressão de contato) Constância da aplicação de forças

Terceiro corpo Características das partículas que entram nos lubrificantes

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Características das partículas na interface (partículas de desgaste, partículas externas, camadas de pós sinterizados como lubrificantes)

Temperatura Efeitos térmicos nas propriedades dos materiais (instabilidades termoelásticas) Efeitos térmicos nas propriedades dos lubrificantes (viscosidade, fluxo, possibilidades de cavitação) Combinação entre a temperatura induzida por atrito e da temperatura ambiente

Rigidez e vibrações Tendência no contato (stick slip) Amortecimento da vibração e vibrações externas Realimentação entre o estímulo devido ao atrito e resposta da estrutura

2.2 Mecanismos de atrito

Blau (BLAU, 2009) define mecanismo de atrito como um fenômeno físico que

pode ser modelado ou quantificado com base em princípios fundamentais.

Neste sentido foram propostos diferentes mecanismos de atrito nos últimos

cem anos, porém, recentemente são poucas as mudanças conceituais neste

quesito e ainda continuam sendo considerados pelos pesquisadores os

mesmos mecanismos tradicionais de atrito com pequenas mudanças.

Os principais mecanismos responsáveis no fenômeno de atrito são: adesão,

sulcamento e deformação plástica local devida a um terceiro corpo(KIM; SUH,

1991). Em um processo de atrito atuam vários mecanismos de atrito. Não

obstante, geralmente um dos mecanismos é predominante. A figura 2.3 mostra

uma representação dos mecanismos de atritos mencionados anteriormente.

a

b

c

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Figura 2.3. Mecanismos de atrito, a) adesão, b) sulcamento e c) deformação plástica

devida a terceiro corpo.

A adesão dos materiais consiste na formação de junções nos pontos de

contato devido à interação física ou química entre as asperezas. Este

mecanismo é frequentemente atribuído a Bowden e Tabor ainda que eles não

fossem os primeiros em dar uma descrição deste fenômeno; porém, foram os

trabalhos de Bowden e Tabor os que ofereceram suficiente evidência da

influência da adesão no atrito. O termo de adesão dos materiais foi modelado

como a força associada ao cisalhamento das junções criadas pela adesão,

assim a força de adesão ou cisalhamento (como é trabalhada originalmente no

texto) Fa foi calculada como o produto da área real de contato Ar e a resistência

ao cisalhamento do material , conforme é visto na equação 2.2 (BOWDEN;

TABOR, 1950)

(2.2)

Bowdem e Tabor assumiram que as asperezas se deformam ate acontecer o

escoamento plástico do material mais mole atingindo-se uma pressão de

contato igual à dureza do material mais mole. Desta forma expressaram a área

real de contato como se mostra na equação 2.3:

(2.3)

Partindo do suposto que a força de adesão é a responsável pela força de atrito,

define-se uma expressão para o coeficiente de atrito como se mostra na

equação 2.4.

(2.4)

Desta equação pode-se concluir que uma forma de diminuir o coeficiente de

atrito consiste em reduzir a área real de contato, sendo que isso pode ser feito

a partir do aumento da dureza do material mais mole. Outra maneira de

diminuir o coeficiente de atrito é reduzir a resistência ao cisalhamento na

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interface. Este resultado foi comprovado experimentalmente a partir de ensaios

feitos com esferas de aço (metal duro) contra uma superfície plana de índio

(metal mole), contra uma superfície plana de aço e contra uma superfície plana

de aço com um filme fino de índio na superfície respectivamente como é

representado na figura 2.4.

a)

b)

c)

Figura 2.4. Relação entre força de atrito e dureza do substrato, a) Metal duro em

contato com metal mole, b) Dois metais em contato com durezas similares e c) Dois

metais em contato com durezas similares separados por um filme fino de metal mole

(ASM INTERNATIONAL,1978). .

Para o primeiro dos casos se obteve um coeficiente de atrito alto em função do

índio ter uma resistência ao cisalhamento baixa, mas a área real de contato é

grande, no segundo caso a área real de contato é pequena, mas a resistência

ao cisalhamento é alta; para os dois primeiros casos o coeficiente de atrito

esteve entre 0,6 e 1,2. Já no terceiro caso o coeficiente de atrito foi pequeno,

na ordem de 0,06, justificado pelo cisalhamento que se procede no filme fino de

índio e a carga normal que é suportada pelo substrato mais duro de aço

(BOWDEN; TABOR, 1950).

Nos trabalhos de Bowden e Tabor, a força de atrito também foi atribuída à

dissipação de energia devido à deformação plástica das asperezas. O termo

correspondente à deformação plástica foi associado ao sulcamento das

asperezas do material mais duro através da superfície do material mais mole.

Este termo pode ser assumido a partir de um modelo simplificado de uma

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aspereza rígida do material mais duro. A força tangencial necessária para

deslocar o material mais mole pode ser assumida como sendo a dureza do

material mais mole Hm multiplicada pela seção transversal (BOWDEN; TABOR,

1950); para uma aspereza cônica de raio r, semi-ângulo α e profundidade de

penetração x, como se mostra na figura 2.5, a força devida à deformação

plástica Fdef é:

(2.5)

Figura 2.5. Modelo do componente de deformação para uma aspereza cônica de

semi-ângulo α (HUTCHINGS, 1992).

Portanto, a força de atrito no modelo de Bowden e Tabor foi modelada como a

soma dos termos associadas à adesão Fa e à deformação plástica Fdef

(BOWDEN; TABOR, 1950). No entanto, os coeficientes de atrito obtidos com

base nos modelos apresentados anteriormente não estão de acordo com os

coeficientes de atrito experimentais, Bowden e Tabor também perceberam isso

e atribuíram essa diferença às forças horizontais durante o deslizamento dos

corpos que faz com que a área real de contato da aspereza aumente

(crescimento de junção) e, portanto, aumente também o coeficiente de atrito.

Os trabalhos de Bowdem e Tabor têm sido muito importantes no estudo dos

mecanismos atuantes no fenômeno de atrito, razão pela qual várias pesquisas

a respeito dos mecanismos de atrito partem dos trabalhos realizados por estes

dois pesquisadores ingleses, ainda que vários destes trabalhos tenham

destacados algumas limitações do modelo. Rabinowicz (RABINOWICZ, 1965),

por exemplo, destaca que o efeito da adesão é limitado nas superfícies em

condições ambientais dado que a formação de filmes finos de diferente

natureza reduz a formação de junções por adesão. Outra simplificação do

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modelo é aceitar uma tensão de escoamento sempre constante, mas é de

conhecimento geral que a maioria dos metais são encruados quando

deformados. O efeito das partículas de desgaste também tem sido destacado

por outros autores até o ponto de identificá-lo como outro mecanismo de atrito.

Suh (SUH, 1981) partiu de um modelo no qual o coeficiente de atrito é fruto da

soma de quatro termos: um termo associado à adesão, que é só importante em

condições em vácuo, e três termos associados à deformação das asperezas

como se apresenta a continuação:

(2.6)

Onde é o termo associado à adesão, é o termo associado à deformação

plastica das asperezas e o sulcamento por parte das asperezas mais duras na

superfície mais mole, é o termo associado à deformação elástica das

asperezas e finalmente é o termo associado às partículas de desgaste ou

um terceiro corpo preso entre as superfícies em contato.

A importância do termo foi comprovada a partir de ensaios pino-disco

feitos por Suh (SUH, 1981) em um par cobre-cobre. Nos ensaios tipo A o pino

de cobre deslizou sobre uma superfície lisa, nesta condição o coeficiente de

atrito inicial foi da ordem de 0,2 e depois de certa distância percorrida teve um

aumento até atingir um coeficiente de atrito da ordem de 0,8. Para os ensaios

tipo B o pino de cobre deslizou em uma superfície na qual foram usinados

canais que evitaram que as partículas de desgaste se aglomerassem na

superfície, neste tipo de ensaio não se observou o aumento no coeficiente de

atrito observado nos ensaios tipo A. O comportamento do coeficiente de atrito

para os dois tipos de ensaios é observado na figura 2.6 (SUH apud ASM

INTERNATIONAL, 1986). Rovani (ROVANI, 2012) por sua parte demonstrou

através de ensaios pino disco de um par aço contra aço que quando eram

retiradas as partículas de desgaste o coeficiente de atrito cumpria com a

primeira lei de atrito, porém, quando estas partículas ficavam na superfície o

coeficiente de atrito aumentava com o aumento da carga.

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Figura 2.6. Resultados de coeficiente de atrito para, A) pino de cobre contra superfície

lisa e B) pino de cobre contra superfície com canais (SUH apud ASM

INTERNATIONAL, 1986).

2.3 Running-in, regime permanente e outras transições.

Uma pratica comum nos estudos de atrito é realizar um registro da força de

atrito ao longo do tempo. No entanto, em vários estudos só é aproveitada a

parte da curva na qual se atinge um regime permanente, este regime

corresponde ao período em que a força de atrito é aproximadamente

constante. Não obstante, Blau (BLAU, 2009) destacou a importância do estudo

do período conhecido com o nome de running-in, que acontece no começo de

interação entre duas superfícies. Segundo Blau, a partir do conhecimento dos

mecanismos de atrito atuantes durante o running-in é possível controlar o

mecanismo predominante de atrito que atuará durante o regime permanente.

O running-in tem sido relacionado principalmente a dois efeitos: mudança da

área real de contato e shakedown elástico. A mudança da área real de contato

se relaciona às altas tensões nas pontas das asperezas não desgastadas que

leva a uma constante alteração na rugosidade superficial até atingir uma

rugosidade de equilíbrio própria do regime permanente. Por sua vez, o

shakedown elástico (JOHNSON, 1985) relaciona uma alta deformação plástica

da superfície até se obter uma camada encruada capaz de suportar a carga em

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um contato predominantemente elástico, neste ponto se atingiria o regime

permanente. Baseado em dados de diferentes trabalhos, Blau identificou oito

tipos de curvas de atrito contra tempo com diferentes períodos de running-in

como se apresenta na figura 2.7 (BLAU, 2005).

A forma de cada gráfico não descreve um único mecanismo ou conjunto de

mecanismos de atrito, a análise, segundo Blau (BLAU, 2005), deve ser

efetuada a partir do contexto do tribossistema dado. O autor fez uma descrição

de dois contextos destas curvas, a curva da figura 2.7 (a) correspondente aos

ensaios a seco de um par de materiais com pouca quantidade de

contaminantes na superfície, óxidos ou algum outro filme fino, o que leva a um

rápido desgaste como causa de uma adesão significativa na interface, e como

consequência deste processo a força de atrito aumenta. Neste trabalho foi

destacado a figura 2.7 (b) que corresponde a uma curva característica do

deslizamento de metais a seco. No começo do contato tem-se um aumento da

força de atrito que se deve, segundo Blau, à alta taxa de desgaste, produto da

interação entre as asperezas maiores, a força de atrito aumentará até se obter

uma superfície mais lisa, depois se tem um decréscimo do processo de

deformação plástica das asperezas e com isso da força de atrito a qual

continuará diminuindo até se obter uma rugosidade mais estável que levara ao

regime permanente.

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Figura 2.7. Curvas de força de atrito contra tempo com diferentes períodos de

running-in (BLAU, 2005).

Além das transições de atrito que podem acontecer pelo continuo uso de

materiais ou lubrificantes também se tem as transições de atrito induzidas pela

variação das condições do sistema. Bhushan (BHUSHAN, 2002) identificou

duas transições no coeficiente de atrito resultante do deslizamento de metais

em função da carga normal como se vê na figura 2.8. Segundo Bhushan, para

baixas cargas normais se tem um contato predominantemente elástico, neste

regime o atrito é controlado pelos óxidos que se encontram na superfície. Com

o aumento da força normal o filme de óxido é removido e se tem uma

deformação plástica considerável das asperezas. Se continuar aumentando a

força normal se tem a segunda transição, neste regime o coeficiente de atrito

decresce devido ao aumento da rugosidade das superfícies e pelo papel das

partículas de desgaste. Blau (BLAU, 2009) também identificou estas duas

transições, porém, destaca que a razão pela qual acontece a segunda

transição é o amolecimento das superfícies decorrente da dissipação de calor

pelo atrito.

Figura 2.8. Transições no atrito de materiais metálicos em função da carga normal

(BHUSHAN, 2002).

1.4 Relação entre atrito e desgaste.

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Como foi explicado anteriormente, a força de atrito varia normalmente com o

tempo. O desgaste das superfícies tem tomado como um dos principais fatores

nas transições da força de atrito, dado que uma das principais razões pelas

quais se explica a variação da força de atrito é a deformação plástica das

asperezas e o desgaste é uma consequência desta deformação (BLAU, 2008a)

No entanto, se haja vista casos nos quais dois tribossistemas diferentes podem

ter o mesmo coeficiente de atrito (comparando só regime permanente) mas a

taxa de desgaste varia significativamente. Como se discutiu anteriormente, o

fenômeno de atrito pode ser considerado como um processo de

armazenamento ou dissipação de energia e o desgaste é só uma das formas

de dissipação da energia por atrito, desse modo, para realizar a correlação

entre desgaste e atrito é fundamental ter uma ideia da forma como é dividida a

energia de atrito no tribossistema (BLAU, 2008c).

Blau (BLAU, 2008b) buscou estudar esta correlação a partir da comparação

dos tempos necessários para se obter um regime permanente da força de atrito

e da taxa desgaste para diferentes pares de materiais. Como se percebe na

figura 2.9, não é sempre que estes tempos foram iguais

Figura 2.9. Relação entre os tempos para atingir o regime permanente no desgaste e

no atrito (BLAU, 2008b)

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Capitulo 3

3 Desgaste por deslizamento

O desgaste, segundo Zum-Gahr, é definido como a perda progressiva de

material de um corpo solida em decorrência do movimento relativo com outra

superfície (ZUM-GAHR, 1987). Porém, na norma ASTM G40 se especifica que

a perda de material do corpo também pode acontecer pelo movimento relativo

com um liquido ou gas (ASMT G40, 1993)

Existem diversas classificações de desgaste, uma delas, devida a Hutchings

classifica o desgaste em a) Desgaste por deslizamento e b) Desgaste por

partícula dura. No desgaste por deslizamento incluem-se o desgaste por

rolamento (rolling wear, fatigue wear), o fretting e o desgaste por deslizamento

propriamente dito. No desgaste por partícula dura o autor inclui a abrasão e a

erosão (HUTCHINGS, 1992). Particularmente aqui se vai discutir o desgaste

por deslizamento e segundo a definição feita por o Hutchings vai-se tratar de

uma distinção puramente cinemática.

A pesar das diferentes classificações de desgaste existentes, em geral, a

severidade do desgaste vai depender mais do mecanismo de desgaste

atuando no processo de desgaste que no tipo de desgaste. Desta forma é

possível encontrar mecanismos de desgaste que atuam tanto no desgaste por

deslizamento quanto no desgaste por abrasão, um exemplo disso é o

mecanismo de sulcamento.

Os primeiros estudos de desgaste relacionaram a perda de volume ou massa

com o tempo o distancia deslizada, como se mostra na figura 3.1. Nesta figura

se encontram três períodos, o período (I) chamado de running-in, o período (II)

chamado de regime permanente e o período (III) conhecido como break-out ou

período de falha do material (CZICHOS, 1978).

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O primeiro período recebe o nome de running-in e, similar que no atrito, se

relaciona com acomodação das superfícies onde as superfícies maiores se

deformam plasticamente. Este período se caracteriza por ter uma taxa de

desgaste (perda de massa ou de volume por unidade de tempo) maior do que a

regime permanente. Porém, quando as condições do sistema são muito

severas a taxa de desgaste do running-in e regime permanente são similares.

O segundo período II é conhecido como regime permanente ou regime

estacionário de desgaste e se caracteriza por apresentar uma relação

diretamente proporcional entre a perda de massa ou volume e o tempo. Em

termo práticos se busca que este período seja o mais longo possível dado que

tem uma taxa de desgaste constante devido à operação de um mecanismo de

desgaste predominante.

Figura 3.1. Gráfico convencional de variação de volume o massa em função do tempo

ou distancias deslizada.

Para o projeto de componentes mecânicos é necessário ter uma ideia do

desgaste a partir da relação ente as diferentes variáveis envolvidas. Assim,

procurando calcular o desgaste e partindo da relação de proporcionalidade

entre o desgaste e a distância de deslizamento (período II da figura 2.1) o

Archard desenvolveu o seguinte modelo (ARCHARD, 1953)

Page 21: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

21

(3.1)

Onde: Q é o volume de desgaste por unidade de distância de deslizamento, k o

coeficiente de desgaste, W é a força normal aplicada e H é a dureza do

material de menor dureza. A constante de desgaste K usualmente é

denominada como o coeficiente de desgaste adimensional. O coeficiente K tem

sua importância devido a que este determina a severidade do processo de

desgaste em diferentes sistemas. Este coeficiente pode ser definido como a

probabilidade que no encontro de duas asperezas aconteça a remoção do

material. Este modelo realiza várias simplificações, umas das principais é que

no processo de desgaste por deslizamento atuam dois corpos e Archard leva

em conta a dureza do corpo mais mole e ignora a dureza do material mais

duro. O efeito do corpo com maior dureza foi estudado primeiramente por

Welsh (WELSH 1957) que mostrou o deslocamento da transição de regime de

desgaste moderado a severo para maiores forças com o aumento de dureza do

material mais duro. O tema foi retomado por Viafara (VIÁFARA; SINATORA,

2011) que mostrou existirem dois regimes de desgaste em função do tempo de

ensaios.

3.1. Mecanismo de desgaste.

Como no atrito, os mecanismos clássicos de desgaste que ocorrem no

desgaste por deslizamento devem-se a Bowden e Tabor (Bowden e Tabor,

1956). No texto destes pesquisadores se reconhecem dois mecanismos:

deformação plástica e adesão.

O mecanismo de deformação plástica se refere à resistência do material mais

mole a ser deformado pelas asperezas do material mais duro. O mecanismo de

deformação é causado pelo sulcamento (deslocamento de uma protuberância)

o que permite a interpretação de que a abrasão (enquanto mecanismo) atua no

desgaste por deslizamento. Em trabalhos mais recentes, as partículas de

desgaste (debris) também têm sido indicadas como responsáveis deste

sulcamento (JIANG; STOTT; STACK, 1998).

Page 22: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

22

O mecanismo de adesão acontece devido às forças de atração entre duas

superfícies em contato. A adesão pode acontecer pela formação de ligações

primárias e secundarias; nos metais estes tipos de ligações acontecem com

maior facilidade quando se tem deformação plástica das asperezas e

superfícies livres de óxidos. Algumas das teorias de adesão foram

apresentadas por Kinloch (KINLOCH, 1980), estas teorias são mostradas na

figura 3.2. A primeira teoria de bloqueio mecânica tem mais relevância com

polímeros fibrosos e em metais rugosos. A segunda teoria de difusão relaciona

a adesão com a difusão de átomos ou moléculas na interface. A terceira teoria

propõe que as forças eletrostáticas que surgem na interface de corpos que

possuem diferentes estruturas de bandas eletrônicas. A quarta se refere à

adesão pela formação de ligações primarias ou secundárias na interface.

Figura 3.2. Teorias de adesão segundo revisão feita por Kinloch (KINLOCH, 1980)

Outro mecanismo observado comumente no desgaste por deslizamento de

metais é mecanismo de reação triboquímica ou de oxidação (ZUM-GAHR,

1987). O mecanismo de oxidação se caracteriza por ser um processo de

remoção e continua formação de camadas de óxido. Quando duas superfícies

metálicas deslizam uma sobra a outra se acelera a formação do filme de óxido,

Page 23: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

23

comparado com a condição na qual as mesmas superfícies metálicas são

exposta ao mesmo meio ambiente em condições estáticas.

O aumento da temperatura nos pontos de contato entre asperezas parece ser a

razão pela qual se acelera o processo de formação de óxidos na superfície. A

formação desta camada de óxido vai ser favorecida pelo aumento da

temperatura ambiente, da umidade do meio ambiente e da velocidade de

deslizamento (HUTCHINGS, 1992).

Na figura 3.3 se mostra o processo de formação e remoção da camada de

óxidos descritos por Zum-Gahr (ZUM-GAHR, 1987). Primeiro, figura 2.3(a), a

área real de contato é estabelecida e pequenos núcleos de óxidos são

formados nos pontos de contato, depois os núcleos de óxidos começam a

crescer como se apresenta nas figuras 2.3(a) e 2.3(b). Quando os óxidos

atingem uma espessura critica entre 1 e 5µm, os óxidos quebram na forma de

pequenas partículas. A espessura critica dos óxidos vai depende do tipo de

óxido, do material do substrato e as condições de carga. Outra possibilidade

especificada pelo Zum-Gahr é que o processo de oxidação pode acontecer no

debris metálico, dado que este debris tem uma área superficial maior favorece

a oxidação.

Figura 3.3. Desgaste por reação triboquímica (a) formação no núcleo de óxido (b) e

(c) crescimento do filme de óxido e (d) fratura de óxidos e formação de novos óxidos

(ZUM-GAHR, 1987)..

Page 24: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

24

Outro possível mecanismo no desgaste por deslizamento de metais é a fadiga

superficial, caracterizada pela formação de trincas e desprendimento de

material por um contato repetitivo das asperezas das superfícies em contato.

Este mecanismo é mais importante quando se tem um contato não conforme.

Finalmente, a figura 3.4 mostra as curvas de perda de volume ou massa com o

tempo o distancia deslizada mostrando como muda a forma da curva

dependendo do mecanismo de desgaste predominante. Percebe-se que só

para o mecanismo de deformação plastica ou abrasão não se tem o period

inicial de running-in.

Figura 3.4. Desgaste em função do tempo para os mecanismo de desgaste que atuam no desgaste por deslizamento (ZUM-GAHR, 1987).

3.2. Regimes de desgaste a transições de regime.

A intensidade de atuação dos mecanismos acima citados resulta em regimes

de desgaste conhecidos como regime severo de desgaste e regime moderado

de desgaste. No trabalho de Archard e Hirst (ARCHARD; HIRST, 1956) se fez

uma caracterização dos mecanismos de desgaste que atuam no desgaste de

metais a seco. Foram identificados mecanismos de formação de junções de

adesão e a oxidação das superfícies deslizantes. A partir do tipo de mecanismo

atuante, foram definidos os regimes de desgaste como resultado do nível de

dano na superfície; assim, o regime severo se relacionou à formação das

junções por adesão e o regime moderado à oxidação das superfícies. Archard

Page 25: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

25

e Hirst também fizeram uma distinção dos regimes em relação ao coeficiente

adimensional de desgaste (K, equação 3.1), ao perfil de rugosidade, à

aparência das superfícies e à natureza e tamanho das partículas de desgaste.

Para ensaios feitos com pino de latão e anel de stellite, o regime severo

apresentou um coeficiente de desgaste entre 10-3 e 10-2, a rugosidade das

superfícies atingiram valores de Ra de 25µm e partículas de desgaste de

natureza metálica, igual à aparência das superfícies. O regime moderado

apresentou um coeficiente de desgaste entre 10-6 e 10-5, um Ra menor a 0,5

µm (menor que o Ra inicial) e aparência das superfícies oxidada igual que as

partículas de desgaste. Para cargas baixas se obteve um regime de desgaste

moderado, enquanto em carga maiores se obteve uma transição a um regime

de desgaste severo.

Em outro trabalho, Hirst e Lancaster (HIRST; LANCASTER, 1956) também

identificaram a ocorrência da transição de regime moderado a severo de

desgaste com o aumento da carga normal para um pino de latão e um ring de

stellite. Na figura 3.5 se observa em baixas cargas um regime moderado que

passa a ser denominado como regime severo quando se apresenta uma

elevação da taxa de desgaste. Além da taxa de desgaste, também se

apresenta as medidas realizadas da resistência de contato a qual vai

diminuindo com o aumento da carga até o ponto que acontece a transição na

taxa de desgaste. A alta resistência de contato em baixas cargas é associada à

presença de filmes de óxidos na interface, quando se atinge as cargas de

transição o filme de óxido é quebrado e se produz o contato metal-metal

diminuindo a resistência de contato. Também se mostram as rugosidades para

cada regime de desgaste, a superfície mais lisa associada ao mecanismo

oxidativo e uma mais rugosa associada ao regime severo.

Page 26: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

26

Figura 3.5. Variação da resistência de contato e da taxa de desgaste em função da

carga normal.

Alem da transição de regime moderado a severo é também encontrada outra

transição de regime de severo a moderado que é comum quando são atingidas

altas temperaturas na interface. O primeiro trabalho que descreveu esta

transição foi realizado por Lancaster (LANCASTER, 1962) para ensaios feitos

com um pino de latão e um anel de aço ferramenta. Para estes ensaios se

relacionou a taxa de desgaste com a velocidade de deslizamento, para altas

velocidade se obteve a figura 3.6 para a qual as letras A para D relacionam um

aumento da área aparente de contato, por tanto, na condição A se tem os pinos

de menor diâmetro e na D os de maior. Percebe-se que para as velocidades

mais altas se apresentou uma diminuição considerável da taxa de desgaste.

Este efeito foi relacionado ao amolecimento no material do pino como

consequência das altas temperaturas alcançadas pelo calor dissipado por atrito

que permitiu a penetração do óxido. O argumento disso se encontrou no

aumento da velocidade de transição com o aumento da área aparente do pino,

que indica maior calor dissipado para atingir o amolecimento do material.

Lancaster estudou também o efeito da temperatura ambiente sobre as

velocidades de transição. O incremento da temperatura deslocou a velocidade

de transição de regime severo para moderado para menores velocidades de

deslizamento.

Page 27: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

27

Figura 3.6. Variação da taxa de desgaste com a velocidade de deslizamento em altas

velocidades de deslizamento com diferentes áreas aparente de contato com 3 kg de

carga normal a temperatura ambiente (LANCASTER, 1962)

Um dos trabalhos mais citados em referencia à transição de regimes de

desgaste por deslizamento foi publicado por Welsh no ano de 1965 em duas

partes (WELSH, 1965a, b). Na primeira parte do trabalho foram discutidas

pesquisas anteriores que estudaram as possíveis causas das transições de

regime de desgaste. As diferentes hipóteses apresentadas nestas pesquisas

foram reproduzidas por médio de diferentes ensaios que avaliaram o efeito da

carga normal e de outras variáveis como a velocidade de deslizamento e da

porcentagem de carbono sobre as transições de regime de desgaste usando

uma configuração de pino sobre anel do mesmo material em um arranjo de

cilindros cruzados.

Um dos resultados da pesquisa se apresenta na figura 3.7 na qual se

relacionou a taxa de desgaste com a carga normal. Na figuram se identificam

duas transições de regime de desgaste chamadas como T1 e T2 que já tinham

sido obtidas por outros autores de forma separada. Dado que a faixa de carga

normal foi maior foi possível se obter as duas transições no mesmo gráfico.

Pode-se observar que existem três regiões distintas dentro das quais a taxa de

desgaste se eleva linearmente com a força aplicada. Para cargas abaixo de T1

Page 28: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

28

e acima de T2 se tem o regime moderado de desgaste enquanto entre T1 e T2

encontra-se o regime severo de desgaste. No primeiro regime a taxa de

desgaste é controlada pela remoção dos óxidos pré-existentes sobre os

materiais (aços), no segundo pela adesão, deformação plástica e ruptura de

junções metálicas entre os corpos em movimento e no terceiro pela formação e

remoção de óxidos devidos ás elevadas temperaturas de contato.

Este trabalho foi o primeiro no qual se obteve a transição T2 em função da

carga, anteriormente Lancaster tinha observado esta transição em função da

velocidade de deslizamento (LANCASTER, 1962). O resultado de Welsh

confirma que esta transição esta relacionada com uma alta quantidade de calor

dissipado por atrito entre as superficies com altas magnitudes de cargas

normais e velocidades de deslizamento.

Nessa figura se observa também que o pino e o anel tiveram um

comportamento similar de desgaste antes e depois da transição T1. Em cargas

um pouco maiores a T2 o comportamente foi significativamente diferentes, o

começo deste comportamento foi definido como transição T3. Este

comportamento foi explicado como resultado da diferença na dinâmica dos

corpos, com o pino em contato continuo com e anel em contato intermitente

que leva a um comportamento divergente com respeito as altas temperaturas

atingidas nas superfícies.

Page 29: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

29

Figura 3.7. Taxa de desgaste em função da carga normal para um aço de 0.52%C,

velocidade de deslizamento de 100 cm⁄s, x-pino, o-anel (WELSH, 1965a)

Outro resultado desta primeira parte do trabalho de Welsh e de importância

para esta pesquisa foi o efeito da variação na dureza do anel deixando

constante a dureza do pino na operação dos regimes de desgaste. Encontrou-

se uma faixa de dureza de anel acima da qual só acontece o regime moderado

de desgaste. Partindo deste trabalho, Rovani (ROVANI, 2012), usando uma

configuração tipo pino-disco, mostrou o deslocamento de T1 para cargas

maiores com o aumento de dureza do disco (que tem condições de contato

similares ao anel usado por Welsh)

Em outras pesquisas que estudaram o efeito da dureza no regime de desgaste,

Akakay e Rigney (AKAGAKI, 1991) estudaram o atrito o desgaste durante o

deslizamento de diferente metais em vácuo. Usando uma configuração pino

disco, encontraram que o comportamento tribológico dependeu da relação

entre as durezas do disco e do pino (Hd /Hp). Quando esta relação foi maior que

um, se apresentou o regime moderado de desgaste. No caso de uma relação

menor que um atuou um regime severo de desgaste.

Page 30: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

30

O Viafara e colegas (VIÁFARA et al., 2005) discutiram a importância da

microestrutura de aços em ensaios pino-disco, para pinos perliticos e bainiticos

deslizando sobre discos perliticos. Estes autores encontraram que os pinos

bainiticos exibiram um regime severo de desgaste enquanto os perliticos

tiveram um desgaste predominantemente oxidativo, embora a dureza dos pinos

bainiticos fosse maior. As diferenças nas perdas de massa foram de até três

ordens de magnitude. Este comportamento foi atribuído à maior capacidade de

encruamento da perlita comparada com a bainita.

Finalmente, o Viafara em estudos mais recentes (VIÁFARA; SINATORA, 2009)

em uma configuração pino-disco realizou ensaios para uma condição de

dureza de pino e duas condições de dureza do disco, sendo sempre a dureza

dos discos maior que a dureza do pino. Neste trabalho se encontrou que para o

a condição de disco de menor dureza, a perda de massa do disco foi uma

ordem de grandeza maior que a perda de massa do pino, ainda que a dureza

do pino fosse menor no começo do ensaio. Este comportamento se relacionou

com a dinâmica dos corpos em contato, dado que o pino é estático e sempre

esta em contato com o disco, razão pela qual o contato é mais intenso

comparado com o disco, que sofre um contato intermitente. Por tanto, na

condição de disco mais mole, o pino no final do ensaio teve um maior

encruamento da superfície finalizando o ensaio com uma dureza maior que a

dureza no disco.

Page 31: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

31

Capitulo 4

4 Materiais e métodos

Na continuação é apresentada uma descrição dos procedimentos

experimentais usados com o objetivo de avaliar os efeitos da carga normal e da

dureza do corpo na transição de regime de desgaste moderado – severo. Os

mecanismos de desgaste foram analisados empregando-se as técnicas usuais

de microscopia óptica e eletrônica de varredura, microdureza e perfilometria

2D.

4.1. Ensaios tribológicos

Para a realização dos ensaios tribológicos foi usada uma configuração pino

contra disco. O equipamento pode ser observado na figura 4.1 e foi construído

e calibrado no Laboratório de Fenômenos de Superfícies (LFS). Consta de uma

base cilíndrica que tem um movimento de rotação induzido por um eixo que é

acoplado a um motor, nesta base é posicionado o disco que vai ser testado.

Além da base, o equipamento também tem um braço que contém uma guia

linear na qual é fixado o pino, e na parte superior desta guia é aplicada a carga

normal a partir de peso morto. Com o objetivo de realizar um acompanhamento

do coeficiente de atrito durante o ensaio, foi adaptada ao braço da guia linear

uma célula de carga a fim de medir a força tangencial e obter o coeficiente de

atrito através da equação x que se encontra no capitulo 1. A taxa de aquisição

da citada célula de carga permite ter um registro da força tangencial por cada

segundo de ensaio.

Page 32: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

32

Figura 4.1. Fotografia do tribômetro usado

Para a realização dos ensaios foram seguidas as recomendações encontradas

na norma ASTM G99-2010. Os passos seguidos na execução dos ensaios

foram:

Com a finalidade de garantir o paralelismo entre as superfícies do disco

e do pino foram recortadas lixas de granulometrias 240 e 600 as quais

foram colocadas na superfície do disco. Depois o pino foi assentado ao

ser posto em contato com o conjunto em rotação lixa-disco com uma

velocidade de deslizamento de 0,1m/s e uma carga de normal de 7,5N.

O assentamento foi feito até que o acabamento fosse homogêneo em

toda a superfície do pino.

Logo após, tanto o pino quanto o disco foram levados a um recipiente

com álcool e postos em uma maquina de limpeza por ultrassom durante

10min. Após a limpeza as amostras foram secadas com um fluxo de ar

quente seguido de um fluxo de ar frio.

Foi registrada a massa inicial das amostras em uma balança com

precisão de 0,01mg.

Para garantir a perpendicularidade entre o pino e o disco, foi medida a

inclinação do disco usando um relógio apalpador obtendo-se sempre

uma diferença de altura menor que 50µm.

Foram fixadas as condições de carga, velocidade de rotação e de tempo

de ensaio por meio de uma instrução no controlador lógico programável

Page 33: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

33

(CLP). Finalmente, o pino foi posto em contato com o disco quando este

último atingiu uma velocidade de rotação constante. Depois de finalizado

o ensaio, as amostras foram limpas e mediu-se novamente as suas

respectivas massas.

Na tabela 4.1, são apresentadas as condições experimentais usadas na

execução dos ensaios. O intervalo de força foi escolhido procurando a

obtenção dos regimes de desgaste moderado e severo. Foi usada uma baixa

velocidade para diminuir os efeitos térmicos devidos à dissipação de calor por

atrito. O critério para a seleção do tempo de duração dos ensaios foi previsto

de modo a garantir a ocorrência de um regime permanente de atrito. Para as

cargas maiores foram usados menores tempos de ensaio dado à excessiva

perda de comprimento dos pinos como consequência do alto desgaste. Com o

intuito de garantir uma reprodução adequada dos ensaios formam controladas

também as variáveis temperatura ambiente e umidade relativa.

Tabela 4.1 – Parâmetros usados nos ensaios de desgaste.

Parâmetro Valores

Força normal 10 a 140N

Velocidade de deslizamento 0.1m/s

Raio da trilha de desgaste 25mm

Umidade relativa 45 a 55%

Temperatura ambiente 19 a 220C

Tempo de deslizamento 900, 1800 e 3600seg

Distância de deslizamento 900, 180 e 360m

4.2. Caracterização dos materiais

Para a seleção dos materiais a serem ensaiados, utilizou-se o durômetro digital

VMT7 da Buehler com uma carga de 30kgf para realizar medidas de

macrodureza tanto no disco quanto no pino, e tendo como finalidade

caracterizar a resistência mecânica dos materiais antes dos ensaios. Foram

realizadas dez medições de dureza nos discos distantes da região que iria ser

desgastada e cinco medições em pedaços seccionados das amostras de pino

que iriam ser testadas Além da dureza, foi usado um rugosímetro mecânico

Page 34: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

34

Kosaka SE 1700α da Mitutoyo, para realizar uma caracterização da topografia

das amostras antes e depois dos ensaios, as medidas de rugosidade foram

feitas sempre em uma orientação perpendicular à direção de deslizamento. Os

parâmetros usados nas medidas de rugosidade são apresentados na tabela

4.2.

Tabela 4.2 - Parâmetros usados nas medidas com rugosimetro.

Parâmetro Valor

Raio do apalpador 2µm

Cut-off 0,8 mm

Comprimento amostral 4 mm

Filtro Gaussiano

Amplitude Vertical 800 μm

Velocidade de deslocamento do apalpador

0,05 mm/s

Normas ISO97/ JIS2001/ ASME95

Além das medidas iniciais de macrodureza foram feitas medidas de

microdureza nas amostras ensaiadas usando um microdurômetro Micromet

série 2100 com uma carga de 50gf, e com este procedimento se permitiu

conferir o encruamento das amostras depois de realizados os ensaios.

Finalmente, as amostras foram caracterizadas usando uma lupa e um

microscópio eletrônico de varredura marca Jeol série 6010LA disponibilizados

no Laboratório de Fenômenos de Superfície objetivando identificar os

mecanismos de desgaste para cada uma das condições de ensaio.

4.2. Materiais usados

Tomando-se por base a revisão bibliográfica apresentada anteriormente, foi

proposto que a maioria das pesquisas feitas no tema de transição de desgaste

em condições de deslizamento são feitas para aços, razão pela qual foram

escolhidos este tipo de materiais para a realização dos ensaios procurando

reproduzir alguns dos efeitos resultantes encontrados na literatura.

Particularmente, foram selecionados o aço ABNT 4140 como material do pino e

o aço AISI H13 como material do disco porque são ligas das quais já se têm

Page 35: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

35

conhecimento do comportamento tribológico em ensaios pino disco feitos em

trabalhos prévios no Laboratório de Fenômenos de Superfícies (ROVANI,

2012; VIAFARA, 2010). A composição química destes materiais é apresentada

na tabela 4.3

Tabela 4.3 – Composição química dos aços ABNT 4140 e H13.

Aço C[%] Mn[%] Si[%] P[%] S[%] Cr[%] Mo[%] V[%]

4140 0,37 0,78 0,23 0,014 0,005 1,07 0,19 -

H13 0,39 0,34 0,97 0,02 0,001 5,18 1,24 0.99

Para a realização dos ensaios foram testadas duas condições de dureza para o

pino, ao passo que a dureza do disco foi mantida. Para umas das condições

foram cortados parafusos comerciais de alta resistência de aço ABNT 4140

com uma dureza média de 430HV aproveitando a parte sem rosca. Foram

também usinados pinos, os quais foram submetidos a processos de têmpera e

revenimento obtendo-se uma dureza média de 586HV. O diâmetro para os dois

tipos de pino foi de 4.9mm e comprimento que variou entre 18 e 23mm. O

acabamento da superfície de contato foi obtido depois do assentamento dos

pinos com lixa de granulometria 600.

Os discos foram usinados a partir de barras de aço ABNT H13. Estes discos

receberam tratamentos térmicos de têmpera e revenimento para obter uma

dureza média de 607HV. Os discos foram usinados obtendo-se um diâmetro de

65mm e uma espessura de 5mm. O acabamento das superfícies foi dado

através de um processo de retificação.

Na tabela 4.4 são apresentados alguns parâmetros de rugosidade medidos nas

superfícies que foram ensaiadas para garantir que as condições iniciais fossem

semelhantes.

Tabela 4.4. Parâmetros de rugosidade dos corpos ensaiados.

Corpo Ra Rq

Disco 0,63±0,06 0,78±0,05

Pino 0,25±0,02 0,32±0,03

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36

Finalmente na tabela 4.5 são mostradas as condições experimentais que foram

ensaiadas. Para cada uma das condições de força normal, foram realizadas

cinco réplicas com exceção da condição de carga de 70 N com pino de 580HV

para o qual foram feitas dez replicas. A razão pela qual nesta condição foram

feitos mais ensaios será esclarecida no capitulo de resultados.

Tabela 4.5. Condições de dureza de pino e cargas dos ensaios.

Hd(HV) Hp (HV) Cargas(N)

607±5

430±2 10, 20, 35, 70 e 140

586±1 10, 20, 35, 53, 70, 105 e 140

Page 37: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

37

Capitulo 5

9. Resultados e discussões preliminares.

Nesta capitulo são apresentados os resultados de desgaste e atrito realizados

no momento. Na primeira parte são apresentados os resultados de desgaste

por médio de gráficos que relacionam a taxa de desgaste com a carga para as

duas condições de dureza de pino testadas. A partir da comparação das taxas

de desgaste, coeficientes de desgaste e imagens de microscopia óptica e

eletrônica de varredura são identificados os regimes de desgaste. Na segunda

parte é feito um analise dos gráficos de coeficiente de atrito contra o tempo

para as diferentes condições ensaiadas

9.1. Resultados de desgaste

Os resultados de desgaste dos ensaios de deslizamento são representados

pelo registro de perda de massa do pino e do disco. Na figura 5.1 são

apresentados os resultados de perda de massa contra carga normal para a

condição de pino 430HV, que é o pino de menor dureza testado. Na figura

5.1(a), correspondente à perda de massa do pino, se percebe que para as

cargas menores se parece ter uma relação diretamente proporcional entre a

carga normal e a perda de massa, como o pressupõe a equação de Archard

(equação 3.1). No entanto, esta proporcionalidade não continua na medida em

que se aumenta a carga, identificando-se duas regiões neste gráfico, uma

região para as cargas de 10, 20 e 35N e outra região para as cargas de 70 e

140N. A diferença de perda de massa entre as duas regiões chega a ser de

três ordens de grandeza. No caso do disco, são também identificadas estas

duas regiões, porém, a variação na perda de massa entre replicas e maior.

Uma das hipóteses e que no caso do disco o contato é intermitente e o corpo

de prova é maior que o pino, por esta razão as condições de desgaste variam

Page 38: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

38

mais na trilha de desgaste do disco que na superfície desgastada do pino

comparando as replicas.

a

b

Figura 5.1. Gráficos de perda de massa vs carga normal para o pino de 430HV, para o (a) pino e o (b) disco.

Na figura 5.2 se mostra a aparência das superfícies desgastadas na condição

de pino 430HV, para a região correspondente as cargas mais baixas descritas

anteriormente. Para o pino, figura 5.2 (a), se tem uma superfície oxidada na

qual ainda se encontram as marcas deixadas pelo assentamento do pino. Uma

característica dos pinos ensaiados nestas cargas, como se percebe na figura, é

que o desgaste não se apresenta de forma uniforme em toda a superfície do

pino, encontrando-se regiões que não mostram sinais de contato com o disco;

com o aumento da carga normal a região oxidada é maior. No caso do disco,

figura 5.2(b), também se identifica uma marca de uma cor mais clara

correspondente à trilha oxidada formada no disco durante o contato. Se

percebe também que a trilha tem um tamanho inferior aos 5mm que equivalem

ao diâmetro do pino, mostrando de novo que aparentemente não toda a área

do pino entro em contato com o disco.

Na figura 5.3 se mostra a aparência das superfícies desgastadas na condição

de pino 430HV, para a região correspondente as cargas mais altas (70 e

140N). No pino, figura 5.3 (a), se observa uma superfície de uma cor metálica

com uma deformação plástica considerável nas bordas do pino. A diferença do

acontecido nas cargas mais baixas, toda a área do pino mostra sinais de

desgaste. Para o disco, figura 5.3(a), também se observa uma superfície

riscada de cor metálica sem indícios de oxidação na superfície; comparado

Page 39: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

39

com o disco da figura 5.2(b), se percebe um aumento da largura da trilha de

desgaste para as cargas mais altas.

a

b

Figura 5.2. Aparência das superfícies desgastadas na condição de pino 430HV com carga normal de 20N, (a) do pino e (b) disco.

a

b

Figura 5.3. Aparência das superfícies desgastadas na condição de pino 430HV com carga normal de 140N, (a) do pino e (b) disco.

Na figura 5.4 são apresentados os resultados de perda de massa contra carga

normal para a condição de pino 586HV, que é o pino de maior dureza testado.

Para o pino, figura 5.4 (a), nas condições de carga normal de 10, 20 e 35N

também a relação entre carga normal e perda de massa parece ser

diretamente proporcional. Para o disco esta relação não e tão clara, pelo

contrario a perda de massa não tem um aumento significativo com o aumento

da carga normal.

Como no caso do pino de 430HV, também foram feitos ensaios para as cargas

de 70 e 140N, no entanto, dado que a dispersão entre as cinco replicas feitas

Page 40: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

40

inicialmente na condição de 70N era tão alta foram feitos outras cinco replicas

para caracterizar melhor esta condição. Além de aumentar o número de

replicas na condição de 70N, foram feitos ensaios em cargas intermediarias

entre 35 e 70N (53N) e entre 70 e 140N (105N) com o fim de avaliar as

condições que antecediam e procediam ao ponto de maior dispersão. Como se

percebe, comparando tanto o pino quanto o disco, para as condições de 53, 70

e 105N se tem uma maior dispersão que se percebem também em

características diferentes das superfícies desgastadas, estas diferenças de

perda de massa e a aparência das superfícies desgastadas é mais evidente na

carga de 70N. Já para a carga de 140N, as perdas de massa e aparência de

superfície desgastada não foram tão diferentes.

a

b

Figura 5.4. Gráficos de perda de massa vs carga normal para o pino de 586HV, para o (a) pino e o (b) disco.

Na figura 5.5 se observa a aparência das superfícies desgastadas na condição

de pino 586HV para uma carga normal de 20, se identificam a presença de

óxidos na superfície do pino e do disco e de marcas do assentamento e de

retifica, respectivamente. Como no caso da condição de pino de 430HV, a área

de contato do pino não apresentou um desgaste uniforme com áreas que na

mostram indícios de algum tipo de desgaste. A aparência da superfície de

desgaste foi similar para os ensaios feito com cargas normais de 10 e 35,

porém, se percebeu que na medida em que se aumenta a carga área oxidada

foi maior.

A aparência das superfícies desgastadas na condição de pino 586HV para os

ensaios feitos com uma carga normal de 140N se mostra na figura 5.6. Nesta

condição são identificadas superfícies que tem uma cor metálica sem evidência

Page 41: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

41

clara de oxidação. Também se percebe a deformação plástica das superfícies

com riscos nas duas amostras e um fluxo de material nas bordas do pino, não

obstante, este fluxo de material é menor comparado com a condição de pino de

dureza 430HV e carga normal de 140N.

a

b

Figura 5.5. Aparência das superfícies desgastadas na condição de pino 586HV com carga normal de 20N, (a) do pino e (b) disco.

a

b

Figura 5.6. Aparência das superfícies desgastadas na condição de pino 586HV com carga normal de 140N, (a) do pino e (b) disco.

A figura 5.7 se observa a aparência encontrada nos discos ensaiados para as

condições de dureza de pino de 430HV e 586HV com carga normal de 70N. As

figuras 5.7(a) e 5.7(b) correspondem a ensaios realizados na condição de pino

586HV com uma carga normal de 70N, se percebe que se têm duas condições

de dano superficial ainda que as condições de ensaio sejam iguais. Na figura

5.7 (a) as características da superfície são similares às encontradas em cargas

baixas, com uma superfície oxidada e na qual ainda se identificam as marcas

de retifica. Na figura 5.7 (b), se observam evidências de oxidação na trilha de

Page 42: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

42

desgaste, mas o dano da superfície é claramente maior que na condição da

figura 5.7 (a) com mostras de deformação plástica na superfície. Já para a

condição de pino 430HV com a mesma carga de 70 N, figura 5.7 (c), as

características de superfície das cinco replicas foram similares, com uma trilha

de desgaste com traços principalmente metálicos e pouca evidência de

oxidação.

a

b

c

Figura 5.7. Aparência das superfícies desgastadas com carga de 70N nas duas condições de pino ensaiado; (a) condição pino 586HV com aparência oxidada, (b) condição pino 586HV com deformação plástica e evidências de óxidos e (c) condição pino 430HV com deformação plástica

Na figura 5.8 se apresenta a perda de massa média para cada uma das

condições ensaiadas. Comparando a perda de massa de cada uma das

condições de pino ensaiada, figura 5.8 (a) e figura 5.8 (b), se identifica que

para as cargas mais baixas de 10, 20 e 35N a relação entre a perda de massa

e a carga normal parece ser diretamente proporcional. Porém, o aumento de

dureza de pino de 430HV a 586HV não levo a uma mudança significativa na

Page 43: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

43

perda de massa dos pinos nestas cargas baixas. Para cargas mais altas, as

diferenças de perda de massa no pino entre as duas durezas de pino testadas

começam ser bastante consideráveis, sendo mais significativa na carga de 70N

na qual se observa diferenças de perda de massa de até duas ordens de

grandeza.

Nas figuras 5.8(c) e 5.8(d) se encontram os gráficos de perda de massa média

para os discos em todas as condições ensaiadas. As diferenças na perda de

massa nos discos não foram significativas comparando os ensaios feitos com

pinos de dureza 430HV e dureza 586HV nas cargas de 10 e 35N. Como

aconteceu nos pinos, nos discos as diferenças de perda de massa começam

ser significativas nas cargas mais altas, encontrando-se diferenças de perda de

massa do disco na carga de 70N de até duas ordens de grandeza, quando são

comparadas as duas condições de dureza de pino testadas.

a

b

c

d

Figura 5.8. Perda média de massa para cada umas das condições ensaiadas. Perda média de massa para o pino (a)na condição pino 430HV e (b) na condição pino 586HV. Perda média de massa para o disco (a)na condição pino 430HV e (b) na condição pino 586HV.

Os resultados mostrados até agora indicam que se teve uma transição de

regime de desgaste quando foi aumentada a carga normal para as duas

Page 44: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

44

condições de pino ensaiadas. Para os ensaios realizados com baixas cargas

(10, 20 e 35N) se identificaram superfícies de aparência oxidada e lisa

(comparada com a condição inicial) característica de um regime de desgaste

moderado. Também se percebeu que neste nível de carga a equação descrita

por Archard pareceu cumprir-se. Uma característica especial dos ensaios

feitos com baixas cargas é que a perda de massa não teve uma mudança

significativa quando se aumentou a dureza do pino. A razão deste

comportamento é que possivelmente neste regime o filme de óxido é mais

importante que a dureza do substrato. A presença de óxidos foi validada a

partir de analise EDS em corpos ensaiados em baixas cargas como se mostra

na figura 5.9. As marcas pretas indicam a presença de óxidos como confirma a

alta presença de oxigênio no EDS.

Figura 5.9. EDS realizada sobre um pino de 430HV de dureza desgastado com uma carga de 20N

Para a carga de 140N, se promoveu um regime de desgaste severo

caracterizado por umas superfícies desgastadas de aparência metálica e com

uma deformação plástica considerável. Uma das explicações clássicas de este

comportamento é a quebra do filme de óxido como resultado da alta tensão de

contato, o que leva a um contato metal-metal. Percebe-se também que a perda

de massa dos componentes diminuiu com o aumento de dureza do pino. Dado

que em esta carga não se teve presença de filme de óxido, o desgaste dos

materiais em contato dependeu mais da dureza do substrato. Na figura 5.10 se

apresenta uma imagem tomada por MEV de uma superfície na qual se

promoveu o regime de desgaste severo, nesta foto se observa a severidade do

Page 45: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

45

dano na superfície com parte do material a ponto de desprender-se da

superfície.

Figura 5.10. Imagem da superfície de um disco desgastado com um pino de 430HV e carga de 140N.

Para uma carga intermediaria de 70N, se apresentou um regime de desgaste

severo na condição de pino de 430HV, enquanto que na condição de pino de

586HV se obteve uma mistura de regimes. Ou seja, o aumento de dureza do

pino desloca a transição T1 (moderado a severo) para cargas maiores. Em

estudos recentes Rovani (ROVANI, 2012), usando uma configuração pino-

disco, já tinha demostrado o deslocamento da transição T1 para cargas maiores

com o aumento da dureza do disco. Uma explicação deste deslocamento foi

dada por Welsh (WELSH, 1965b). Uma das conclusões do trabalho de Welsh é

que a dureza do material deve estar acima de um valor crítico para sustentar o

filme de óxido formado na superfície e assim inibir a operação do regime

severo de desgaste.

Outra forma tradicional de caracterizar as transições de regime de desgaste é a

partir da comparação do coeficiente adimensional de desgaste K que se

encontra na equação de Archard. Na figura 5.11. se relaciona o coeficiente

Page 46: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

46

adimensional de desgaste com diferentes formas de desgaste. Este gráfico foi

realizado por Childs (CHILDS, 1993) a partir de uma extensa revisão

bibliográfica de ensaios de desgaste realizado em diferentes condições.

Figura 5.11. Coeficiente adimensional de desgaste para diferentes forma de desgaste.

Na figura 5.12 são apresentados os coeficiente adimensionais de desgaste

médios segundo a carga normal para as duas condições de pino ensaiadas.

Percebe-se que em baixas cargas não se teve uma variação significativa do

coeficiente de desgaste. Já para a carga de 70N se obteve um aumento de

uma ordem de grandeza. Para as cargas de 70N e 140N o coeficiente de

desgaste foi maior para o pino mais mole. Segundo a figura 4.9, o coeficiente

de desgaste em baixas cargas foi característico do regime de desgaste

moderado. Já para os ensaios feitos com uma carga de 140N em ambas

condições de pino e para uma carga de 70N em ensaios com pino de 430HV, o

coeficiente de desgaste foi característico de um regime de desgaste severo.

Cabe destacar novamente que os resultados da figura 5.12 apresentam valores

médios do coeficiente adimensional de desgaste. Não obstante, como se tinha

observado na figura 4.4, os ensaios realizados com uma carga de 70N na

condição de pino de 586HV apresentaram alta dispersão mostrando uma

mistura de regimes. Este resultado demonstra que nas cargas que se

encontram na região de transição o regime de desgaste dominante vai

depender fortemente de pequenas variações no sistema tribológico. Por tanto,

partir de coeficientes médios de desgaste na região de transição sem saber o

desvio padrão associado é um erro que se deve evitar.

Page 47: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

47

Figura 5.12. Coeficiente adimensional de desgaste médio segundo a carga normal

para as duas condições de pino ensaiadas.

9.2. Resultados de coeficiente de atrito.

A continuação são apresentadas as curvas de coeficiente de atrito contra

tempo para as condições ensaiadas. Na figura 5.13 são observados gráficos

característicos da cada condição de carga para os ensaios feitos com um pino

de 430HV. São identificados em cada condição os regimes clássicos de atrito:

o running-in e o regime permanente. Para um melhor analise do running-in é

observado na figura 5.14 os primeiros 500 segundos do ensaio. Como é

apresentado na literatura, o running-in é caracterizado por um aumento

progressivo do coeficiente de atrito nos primeiro segundos de contato

atingindo-se valores de até 0.9 para a condição de 35N. Para a condição de

20N não se observo um aumento significativo do coeficiente de atrito nos

primeiros instantes de contato. Após o running-in, os valores do coeficiente de

atrito variaram em uma faixa constante, abaixo dos valores do running-in,

denotando o regime permanente de atrito. Percebe-se que para a condição de

140N o regime permanente acontece depois de transcorridos quase 1000seg.

Também se percebeu uma diminuição da variação do coeficiente de atrito com

o aumento da carga normal,

Page 48: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

48

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Pino 430HV

Tempo (seg)

Co

eficie

nte

de

atr

ito

()

10N 20N 35N 70N 140N

F

igura 5.13. Coeficiente de atrito em função do tempo para as diferentes condições de

carga para os ensaios realizados com pino de 430HV.

0 100 200 300 400 500

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 Pino 430HV

Tempo (seg)

Coeficie

nte

de a

trito ()

10N 20N 35N 70N 140N

Figura 5.14. Coeficiente de atrito nos primeiros 500 segundos de ensaios com o fim

de analisar o running-in em ensaios com pino de 430HV.

Page 49: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

49

.

Na figura 5.15 se encontra a curva de coeficiente de atrito em relação ao tempo

para a condição de pino de 586HV. Novamente se encontra o período de

running-in e regime permanente. No entanto, segundo a figura 4.16, o período

de running-in observado nesta condição foi mais curto comparado com a

condição de pino de 430 HV. Também se mostra a tendência que tem o

coeficiente de atrito de diminuir com aumento da carga normal

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

-0,1

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Pino 586HV

Tempo (seg)

Coeficie

nte

de a

trito ()

10N 20N 35N 70N 140N

Figura 5.15. Coeficiente de atrito em função do tempo para as diferentes condições de

carga para os ensaios realizados com pino de 586 HV.

Page 50: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

50

0 100 200 300 400

-0,1

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Pino 586HV

Tempo (seg)

Co

eficie

nte

de

atr

ito

()

10N 20N 35N 70N 140N

Figura 5.16. Coeficiente de atrito nos primeiros 500 segundos de ensaios com o fim

de analisar o running-in em ensaios com pino de 586HV.

Finalmente, se apresenta na tabela 5.1 os coeficientes de atrito médios para

condição ensaiada quando se atingia o regime permanente. Para garantir que

se estava na região correspondente ao regime permanente, o coeficiente de

atrito médio foi calculado usando os dados dos últimos 500 segundos de cada

ensaio. Nesta tabela se identifica a tendência do coeficiente de atrito diminuir

com o aumento da carga normal, ainda que o valor correspondente a 30 N para

o pino de 430HV e o valor em 140N para o pino de 586HV parece romper com

esta tendência. Porém, se encontra que o aumento de dureza do pino diminuiu

o coeficiente de atrito em cada condição. Os resultados vão encontra da

primeira lei de Amontons e da tendência apresentada por Blau (BLAU, 2009)

do aumento de coeficiente de atrito com o aumento da carga normal.

Page 51: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

51

Tabela 4.1. Coeficiente de atrito médio para as diferentes condições ensaiadas.

Carga(N) Pino 430HV Pino 586 HV

µ prom µ prom

10 0,66±0,03 0,61±0,05

20 0,36±0,02 0,52±0,02

35 0,51±0,03 0,54±0,03

70 0,48±0,12 0,45±0,04

140 0,37±0,03 0,56±0,07

Page 52: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

52

Capítulo 6

10. Conclusões preliminares

As principais conclusões obtidas com o trabalho realizado no momento são as

seguintes.

O aumento da carga normal levou à transição de regime de desgaste

moderado a severo em ensaios de desgaste por deslizamento de pinos

de aço ABNT 4140 contra disco de aço ABNT H13. A caracterização da

superfície mostrou que o desgaste severo produziu marcas de

deformação plástica, resultando em uma superfície brilhante e rugosa.

No caso do regime moderado, se encontraram superfícies oxidadas e

lisas.

O aumento de dureza dos pinos deixando constante a dureza do disco

deslocou a região de transição de regime de desgaste moderado a

severo (T1) a maiores cargas normais. Este fato foi demonstrado a partir

do analise das taxas de desgaste e da aparência das superfícies

desgastadas

Nas cargas localizadas na região de transição, não é possível definir um

mecanismo de desgaste predominante dado que nesta região se tem

uma mistura dos mecanismos de adesão ou deformação plastica e do

mecanismo oxidativo. Esta região é especialmente sensível a pequenas

variações no sistema tribológico.

Mostrou-se que em baixas cargas normais, onde se teve um mecanismo

de desgaste predominantemente oxidativo, o aumento de dureza do pino

não gerou mudanças significativas no desgaste dos componentes em

contato.

Page 53: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

53

Capítulo 7.

11. Próximas etapas.

Para as próximas etapas serão realizadas medidas de microdureza e

rugosidade dos materiais já ensaiados no momento com a finalidade de

caracterizar mais detalhadamente os mecanismos de desgaste atuantes.

Serão também caracterizados os óxidos usando espectroscopia Raman.

Serão também feitos umas serie de ensaios interrompidos com o fim de realizar

gráficos de taxa de desgaste contra tempo procurando identificar outras

possíveis transições ao longo do tempo. Além disso, serão feitos ensaios de

longa duração para cargas nas quais atue um mecanismo oxidativo com a

finalidade de analisar a estabilidade dos óxidos.

A continuação se apresenta um cronograma detalhando os passos a seguir.

Atividade Mês

out/13 nov/13 dez/13 jan/14 fev/14 mar/14 abr/14

Exame de qualificação

Ensaios interrompidos

Caracterização de materiais depois de testados

Analise dos resultados

Caracterização dos óxidos

Defesa dissertação de mestrado

Elaboração de artigos

Page 54: Influencia da força normal e da dureza no desgaste por deslizamento de aços

54

Capitulo 8

8. Referencias

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