INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas...

78
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS PROPRIEDADES CIMENTÍCIAS DO RESÍDUO DE BAUXITA Relatório Científico Final de Pós-doutorado, apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em junho de 2011. Dr. Daniel Véras Ribeiro Orientador/Supervisor: Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli Agência Financiadora: FAPESP São Carlos / SP 2011

Transcript of INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas...

Page 1: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS

PROPRIEDADES CIMENTÍCIAS DO RESÍDUO DE BAUXITA

Relatório Científico Final de Pós-doutorado, apresentado à Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em junho de 2011.

Dr. Daniel Véras Ribeiro

Orientador/Supervisor: Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli

Agência Financiadora: FAPESP

São Carlos / SP

2011

Page 2: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

i

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter iluminado meu caminho nestes 30 anos e ter permitido

alcançar meus objetivos;

Aos meus pais, Carmen Lucia Veras Ribeiro e Everaldo Prates Ribeiro (in

memorian) por tornarem possíveis os passos deste caminho e por estarem

sempre a postos nos momentos de adversidades;

Ao Prof. Dr. Marcio Raymundo Morelli pela orientação, confiança e,

principalmente, amizade durante este período. Muito mais que um orientador, um

grande amigo;

A toda minha família que torceu, mesmo de longe, pela concretização deste

sonho;

Aos meus amigos Maradona, Luis e Geocris, sempre presentes nesta

empreitada, auxiliando no desenvolvimento deste trabalho;

Aos técnicos de laboratório Walter, Binoto, Zezinho, e Zé Luis (DEMA) pela

ajuda e cooperação nos experimentos desenvolvidos;

Ao Prof. Dr. João A. Labrincha pelo grande interesse dado ao estudo,

facilitando a realização de diversos ensaios, bem como o contato com empresas,

laboratórios e centros de pesquisa em Portugal;

Ao Prof. Dr. Antônio Santos Silva, do Laboratório Nacional de Engenharia

Civil (LNEC), em Lisboa, e aos técnicos Luís Vicente, Ana Paula, Fátima Meneses

e João Balsinha pelo apoio para a realização dos testes de verificação da reação

álcalis-agregado (RAA);

Aos professores e funcionários do PPGCEM/UFSCar pelo incentivo ao

crescimento profissional e científico. São estas pessoas que fazem do

PPGCEM/UFSCar uma referência na pesquisa em materiais em todo o mundo;

À FAPESP pelo apoio financeiro que permitiu a realização deste trabalho;

A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para que este trabalho se

completasse.

Page 3: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

ii

RESUMO

O presente trabalho de pós-doutorado aborda dois problemas da sociedade

contemporânea: a geração e o destino inadequado dos resíduos sólidos e a

busca por alternativas sustentáveis de substituição ao cimento Portland. Estes

dois problemas da sociedade moderna se intensificaram com a elevada produção

industrial (para os resíduos) e com o consumo cada vez maior de cimento para a

produção de argamassas e concretos. Dentro deste contexto, é proposta uma

alternativa para utilização da lama vermelha, resíduo gerado em grandes

quantidades (cerca de 117 milhões de toneladas mundialmente, sendo 10,6

milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no

beneficiamento da bauxita, pelo processo Bayer, em substituição parcial ao

cimento Portland. Para tal, a lama vermelha foi calcinada a temperaturas

determinadas por ensaios termogravimétricos, definidas a 450 ºC, 650ºC e

1000ºC.

Os resultados apresentaram-se razoavelmente favoráveis à utilização da

lama vermelha que, após calcinada, apresentou uma leve capacidade cimentícia,

com redução do tempo de pega, redução da expansibilidade e surpreendente

redução nas reações álcalis-agregado (RAA), apesar do elevado teor de sódio.

Como fatores negativos observaram-se uma perda nas propriedades reológicas e

razoável redução na resistência mecânica, que foi melhorada quando a lama

vermelha foi adicionada na mistura ao invés de substituir parcialmente o cimento.

Assim, conclui-se que a lama vermelha é uma opção bastante promissora como

adição a matrizes cimentícias.

Page 4: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

iii

INFLUENCE OF CALCINATION TEMPERATURE ON

CEMENTITIOUS PROPERTIES OF RED MUD.

ABSTRACT

This postdoctoral project addresses two problems of contemporary society:

the inadequate generation and destination of solid wastes and the search for

sustainable alternatives to Portland cement replacement. These two problems of

modern society are intensified by high industrial production (for the waste) and the

increasing consumption of cement to produce mortars and concretes. Within this

context, it’s proposed an alternative use to red mud, by-product generated during

aluminium production from bauxite ore, by using the Bayer process (about 117

Mton worldwide, with 10.6 Mton in Brazil), to partially replace the Portland cement.

The red mud was calcined at temperatures determined by thermogravimetric (TG)

tests, set at 450 ºC, 650 °C and 1000 °C. The results we re favorable to red mud

use, being positive for most of the techniques used about de corrosibility, and a

positive environmental characterization. Thus, it was observed that the red mud is

presented as a promising addition to the reinforced concrete.

The results were reasonably favorable to red mud use, after calcination

presented a slight cementitiuous capacity, which reduces the setting time, the

expansibility and surprising reduction in the alkali-aggregate reaction (AAR),

despite the high content of sodium. As negative factors, the loss in the rheological

properties and reasonable reduction on mechanical resistance were observed,

which was improved when the red mud was added into the mix instead of partially

replacing cement. Thus, it’s possible to conclude that the red mud is a promising

option as an addition to cement matrices.

Page 5: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

iv

SUMÁRIO

Pág.

AGRADECIMENTOS .............................................................................................. i

RESUMO.................................................................................................................ii

ABSTRACT ............................................................................................................ iii

SUMÁRIO...............................................................................................................iv

A) RESUMO DO PLANO INICIAL ......................... ................................................ 1

1 INTRODUÇÃO E RELEVÂNCIA DO PROJETO............................................. 1

2 OBJETIVOS.................................................................................................... 4

2.1 Geral............................................................................................................ 4

2.2 Específicos .................................................................................................. 4

3 SÍNTESE DA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL ............................................. 5

3.1 Cimento Portland......................................................................................... 5

3.2 Resíduo de Bauxita – Lama Vermelha ........................................................ 6

4 PLANO DE TRABALHO.................................................................................. 8

4.1 Revisão de Literatura................................................................................... 8

4.2 Procedimento Experimental......................................................................... 8

4.2.1. 1ª Etapa – Caracterização da lama vermelha e determinação das

temperaturas de calcinação. ............................................................................. 8

4.2.2. 2ª Etapa – Análise da influência da adição do resíduo calcinado nas

propriedades de pastas e argamassas de cimento Portland. ........................... 9

5 APLICAÇÃO DOS RECURSOS DA RESERVA TÉCNICA E DURAÇÃO DO

PROJETO ............................................................................................................ 10

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS..................................................................... 12

B) ATIVIDADES DESENVOLVIDAS AO LONGO DO PROJETO. ... .................. 13

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13

2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................... 14

3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ............................................................ 22

4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 24

4.1 Materiais .................................................................................................... 24

4.1.1 Cimento Portland ................................................................................... 24

4.1.2. Lama Vermelha..................................................................................... 24

Page 6: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

v

4.1.3. Areia...................................................................................................... 25

4.1.4. Aditivo Superplastificante...................................................................... 25

4.1.5Água de Amassamento........................................................................... 25

4.2 Métodos..................................................................................................... 25

4.2.1. Caracterização das Matérias-primas..................................................... 25

4.2.2. Calcinação da Lama Vermelha ............................................................. 26

4.2.3. Obtenção e Preparo das Composições ................................................ 26

4.2.4. Propriedades das pastas e argamassas ............................................... 27

Atividade Pozolânica. ................................................................................ 27

Tempo de Pega. ........................................................................................ 27

Calor de Hidratação................................................................................... 28

Propriedades Reológicas........................................................................... 28

Expansibilidade (NBR 11582) e Reação Álcalis-agregado (RAA). ............ 30

Resistência Mecânica................................................................................ 32

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 33

5.1 Caracterização das Matérias-primas ......................................................... 33

5.1.1. Cimento Portland .................................................................................. 33

5.1.2. Resíduo de Bauxita (Lama Vermelha) .................................................. 34

5.1.3. Areia...................................................................................................... 41

5.2 Caracterização das Pastas e Argamassas de Cimento Portland Contendo

Lama Vermelha. ............................................................................................... 43

5.2.1. Atividade Pozolânica............................................................................. 43

5.2.2. Tempo de Pega e Calor de Hidratação................................................. 44

5.2.3. Propriedades Reológicas ...................................................................... 50

5.2.4. Expansibilidade (NBR 11582) e Reação Álcalis-agregado (RAA) ........ 53

5.2.5. Resistência Mecânica ........................................................................... 59

6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 62

7 REFERÊNCIAS............................................................................................. 65

8 PUBLICAÇÕES ASSOCIADAS AO PROJETO DE PÓS-DOUTORADO...... 71

8.1 Eventos Científicos. ................................................................................... 71

8.2 Publicações em Periódicos........................................................................ 71

8.2.1. Artigos Publicados ................................................................................ 71

8.2.2. Artigo Aceito para Publicação ............................................................... 71

8.2.3. Artigos Submetidos à Publicação ......................................................... 72

Page 7: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

1

A) RESUMO DO PLANO INICIAL

O plano inicial para o pós-doutorado, proposto à FAPESP, pode ser

resumido a partir dos seguintes itens:

1 INTRODUÇÃO E RELEVÂNCIA DO PROJETO

Uma das maiores preocupações da sociedade moderna é a grande

quantidade de resíduos gerada nas indústrias. Segundo levantamento realizado

FIESP, em parceria com a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de

Limpeza Pública e Resíduos Especiais), em 2008, o Brasil gerou cerca de 86,5

milhões de toneladas de resíduos industriais, sendo 4,1 milhões de toneladas de

resíduos industriais perigosos [1]. Dentre os perigosos, apenas 28% são tratados,

destinados e dispostos adequadamente, sem causar danos ao meio ambiente. O

restante, cerca de 2,95 milhões de toneladas, a cada ano, é jogado em lixões a

céu aberto ou despejados em cursos d’água. Dentro desse contexto, a destinação

dos resíduos industriais sólidos é motivo de crescente preocupação dos órgãos

ambientais, que através de fiscalização, tem obrigado as empresas a terem

cuidados minuciosos com seus resíduos, durante todo o processo, desde sua

correta classificação, tratamento, coleta, transporte, até a sua destinação final. É

com o propósito de dar uma destinação adequada a estes que a sua utilização

alternativa em materiais de construção vem sendo desenvolvida.

Entre estes resíduos está o resíduo da bauxita, também conhecido como

lama vermelha, um sub-produto gerado pela indústria metalúrgica de

beneficiamento do alumínio, por meio do processo Bayer. A lama vermelha é um

material complexo, cuja composição química e mineralógica varia muito,

dependendo da fonte de bauxita e dos parâmetros do processo tecnológico de

produção. Baseado nos três diferentes tipos de produção da alumina, a lama

vermelha pode ser classificada como lama vermelha Bayer, lama vermelha

sinterizada ou lama vermelha proveniente dos dois métodos combinados. Devido

ao fato de mais de 90% da alumina produzida em todo o mundo ser proveniente

do processo Bayer, pesquisas que busquem alternativas a este tipo de resíduo

têm particular importância.

Page 8: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

2

A estocagem desta grande quantidade de resíduo alcalino (lama vermelha)

é cara (1-2% do preço da alumina), requer uma grande área de disposição (cerca

de um quilômetro quadrado por cinco anos para uma fábrica que produza um

milhão de toneladas de alumina por ano) e provoca uma série de problemas

ambientais [2].

Assim, a utilização deste resíduo em matrizes cimentícias torna-se bastante

atrativa pelo fato da elevada quantidade de cimento consumido em todo o mundo

ser compatível com a geração também bastante elevada deste resíduo.

Matrizes alcalinas como as de cimento Portland (argamassas e concretos)

são comumente usadas no acondicionamento de resíduos. Elas são baratas,

mostram uma história amplamente documentada de segurança, e são

provenientes de uma tecnologia facilmente acessível. A alcalinidade reduz a

solubilidade de muitas espécies inorgânicas perigosas e inibe processos

microbiológicos. Além disso, uma vez que essas matrizes necessitam de água

para hidratação, eles podem facilmente incorporar resíduos úmidos ou pastosos

[3], tais como a lama vermelha. A lama vermelha foi escolhida para o presente

trabalho, devido aos seus elevados teores de alumina e óxidos de ferro.

Diversos estudos têm avaliado a utilização da lama vermelha diretamente

como um componente do clínquer [2, 4, 5], e a sua adição às formulações de

argamassa e concreto também foi relatadas [6]. De acordo com SINGH et al. [4]

os cimentos baseados em compostos aluminoferrosos têm uma série de

vantagens sobre o cimento Portland comum. Estas incluem a conservação de

energia e a redução das emissões de CO2, devido à temperatura mais baixa de

clinquerização e formação de clinquers mais leves, capacidade de reutilizar

resíduos industriais, características de boa resistência, boas propriedades anti-

infiltração, boa resistência à corrosão e pega rápida.

A busca por alternativas ambientalmente e economicamente viáveis de

reciclagem incluem aplicações da lama vermelha como adsorvente para a

remoção de cádmio, zinco e arsênio, flúor, chumbo e cromo em soluções aquosas

[7], como componente de materiais de construção, tais como tijolos [8], cerâmicas

e telhas [9], esmaltes [10], como compósitos de base polimérica para substituir a

madeira [11], cimentos ricos em ferro [4, 5], etc. A utilização como material de

construção comum tem sido sugerida como uma alternativa que garante altas

taxas de consumo [12]. No entanto, poucos estudos, como o de DOW &

Page 9: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

3

GLASSER [13] propõem uma verificação da atividade cimentícia da lama

vermelha.

Cerca de metade da quantidade de cimento Portland consumida na

construção civil corresponde a aplicações secundárias como alvenaria e reboco.

Nesses produtos, as resistências máximas desenvolvidas pelas argamassas

nunca são totalmente utilizadas. Na verdade, os requisitos de resistência em tais

serviços são da ordem de 4,0 MPa, enquanto que o cimento Portland é ideal para

aplicações com requisitos de resistência superior a 15,0 MPa [14].

Materiais com características pozolânicas podem, então, substituir

parcialmente o cimento para estes tipos de aplicações e a lama vermelha será

pesquisada com este objetivo, no presente trabalho, conforme sugerido na

literatura [14, 15, 16, 17]. De acordo com METHA [17], uma pozolana é definida

como um material silicoso e/ou aluminoso, em forma de pó fino, que é capaz de

reagir com o hidróxido de cálcio (cal) na presença de umidade e de formar

compostos de cimento estáveis.

O projeto de pós-doutorado buscará avaliar a utilização deste resíduo como

adição em matriz de cimento Portland, após desaglomeração, à temperatura

ambiente e a três diferentes temperaturas de calcinação, que serão determinadas

após análise térmicas (ATD/TG) e mineralógicas (DRX), além da caracterização

físico-quimica. Pretende-se, assim, estudar o efeito da calcinação nas

características pozolânicas da lama vermelha, além de determinar o teor

adequado de utilização.

Por meio da análise dos resultados em comparação com amostras de

referência, sem adição do resíduo, pretende-se determinar a viabilidade do

resíduo como adição a matriz de cimento Portland, dando-lhe uma destinação

adequada. A metodologia a ser executada prevê a preparação inicial de

composições a base de cimento Portland tipo CP II-Z com a adição do resíduo de

bauxita (lama vermelha – “red mud”) nos percentuais de 10%, 20% e 30%, em

relação à massa de cimento.

Pela avaliação do efeito da adição desses componentes, busca-se estender

os resultados para a aplicação em inertização de rejeitos industriais perigosos na

matriz de cimento Portland e gerar contribuição científica e tecnológica para o

desenvolvimento destes materiais.

Page 10: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

4

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

O presente projeto de pesquisa objetiva estudar o comportamento do

resíduo gerado pelo processo Bayer na produção de alumínio, na sua forma

natural (de elevada alcalinidade) e após calcinação em três diferentes

temperaturas, como aditivo em matrizes de cimento Portland, analisando a

influência deste resíduo nas propriedades de argamassas e pastas, sobretudo

quanto à sua atividade pozolânica.

2.2 Específicos

Avaliar as composições à base de cimento Portland com adição da lama

vermelha nos teores de 10%, 20% e 30%, com propriedades adequadas para

uma aplicação específica, seja ela estrutural (resistência à compressão, tração ou

flexão) ou com relação à durabilidade (reação álcalis-sílica e expansibilidade).

Assim, busca-se:

• Observar as alterações mineralógicas, físicas e de composição química

que sofre a lama vermelha após calcinação em diferentes temperaturas;

• Adequar o melhor teor de adição do resíduo;

• Avaliar o efeito da adição de resíduo da bauxita no processo de hidratação,

tempo de pega, resistência inicial e nas idades normalizadas (3, 7 e 28

dias);

• Analisar as características físicas e microestruturais de argamassass

contendo resíduo de bauxita;

• Verificar a expansibilidade das pastas por meio das agulhas de Le

Chatelier e a possível reação álcalis-sílica, devido ao elevado teor de sódio

presente no resíduo.

Desta forma, espera-se: i) gerar uma contribuição científica para o

entendimento do efeito dos seus constituintes nos mecanismos que governam a

formação das fases, a evolução microestrutural e as propriedades finais destes

materiais e ii) obter um material compósito que possa ser uma alternativa para

Page 11: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

5

adequação deste tipo de resíduo às diretrizes da resolução CONAMA, a fim de

reincorporá-lo ao ciclo produtivo, reduzindo seu passivo ambiental.

3 SÍNTESE DA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL

3.1 Cimento Portland

O cimento Portland pode ser definido como um aglomerante hidráulico

produzido pela moagem do clínquer, que consiste essencialmente de silicatos de

cálcio hidráulicos, usualmente com uma ou mais formas de sulfato de cálcio como

um produto de adição. Os clínqueres são nódulos de 5 a 25 mm de diâmetro de

um material sinterizado, produzido quando uma mistura de matérias primas de

composição pré-determinada é aquecida a altas temperaturas [17, 18].

Inicialmente chamado de cimento Portland devido à semelhança da dureza

e cor do produto com a pedra da Ilha de Portland, Inglaterra, empregada nas

construções daquela época, é atualmente manufaturado em todo o mundo, com

uma produção que excede 109 ton/ano [3, 19]. O Brasil ocupa a sexta posição na

produção mundial de cimento, ficando atrás da China (33,49%), Estados Unidos

(5,62%), Índia (5,60%), Japão (5,13%) e Coréia do Sul (3,54%), e possuindo um

parque industrial de última geração e alto grau de desenvolvimento, comparável

aos principais produtores mundiais. O consumo de cimento per capita, no Brasil,

está em torno de 267 kg/habitante [20].

Sendo os silicatos de cálcio os principais constituintes do cimento Portland,

as matérias primas para a produção do cimento devem suprir cálcio e sílica em

formas e proporções adequadas. Os materiais de carbonato de cálcio, que

ocorrem naturalmente como pedra calcária e mármore são as fontes industriais

comuns de cálcio, tendo a argila e dolomita (CaCO3.MgCO3) como as principais

impurezas [17, 21].

As argilas são fontes de alumina (Al2O3), sílica (SiO2) e, freqüentemente,

óxidos de ferro (Fe2O3) e álcalis. A presença de Al2O3, Fe2O3, MgO e álcalis na

mistura de matérias primas tem um efeito mineralizante na formação de silicatos

de cálcio; isto é, ajuda na formação de silicatos de cálcio a temperaturas

consideravelmente mais baixas do que seria possível de outro modo. Como

Page 12: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

6

resultado, além de silicatos de cálcio, o produto final também contém aluminatos e

ferroaluminatos de cálcio [17].

Para facilitar a formação dos compostos desejados no clínquer de cimento

Portland, é necessário que a mistura de matérias primas esteja bem

homogeneizada antes do tratamento térmico. Isto explica porque os materiais

extraídos têm que ser submetidos a uma série de operações de britagem,

moagem e mistura.

As matérias primas são moídas em moinho de bolas ou de rolo até

partículas geralmente menores que 75 µm, sendo a mistura assim obtida

denominada por “farinha”. Aproximadamente 5% de gipsita (ou de sulfato de

cálcio) é usualmente moído juntamente com o clínquer com a finalidade de

controlar as reações iniciais de pega e endurecimento do cimento [17, 18, 22].

Devido à importância do cimento na construção civil, sua hidratação tem

sido intensivamente estudada. As reações químicas são complexas devido à

natureza polimineral do clínquer de cimento e à presença de aditivos, além de

uma cinética de reação complexa [23].

Os produtos de hidratação do cimento Portland incluem fases cristalinas e

amorfas. Assim como a mineralogia define as propriedades químicas do sistema,

a microestrutura define suas propriedades físicas (resistência, permeação e

percolação) [3].

Os principais compostos responsáveis pela resistência do cimento Portland

são o C3A (3CaO.Al2O3, primeiras 24 horas), C3S (3CaO.SiO2 ,até os 28 dias) e

C2S (2CaO.SiO2 ,a partir dos 45 dias).

3.2 Resíduo de Bauxita – Lama Vermelha

A obtenção do alumínio é feita a partir da bauxita, um minério que pode ser

encontrado em três principais grupos climáticos: o Mediterrâneo, o Tropical e o

Subtropical [24, 25].

A produção mundial de bauxita em 2008 foi de 205 milhões de toneladas, e

os principais países produtores foram Austrália, China, Brasil, Guiné, Índia e

Jamaica. Ocupando a 3ª posição no ranking mundial em 2008, o Brasil produziu

26,6 milhões de toneladas de bauxita. O Brasil também possui a terceira maior

Page 13: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

7

reserva de minério de bauxita do mundo (cerca de 3,5 bilhões de toneladas),

concentrado principalmente no norte do país (estado do Pará) [26].

A bauxita deve apresentar no mínimo 30% de alumina aproveitável para que

a produção de alumínio seja economicamente viável. Mais de 90% da produção

mundial de bauxita é utilizada na obtenção de alumina, visando principalmente a

redução ao alumínio metálico (85%) [27]. O processo de obtenção de alumínio

primário divide-se em três etapas: Mineração, Refinaria e Redução [24].

As principais fases da produção de alumina, desde a entrada do minério até

a saída do produto final são: moagem, digestão, filtração/evaporação,

precipitação e calcinação.

Basicamente, são necessárias cerca de cinco toneladas de bauxita para se

produzir duas toneladas de alumina e duas toneladas de alumina para produzir

uma tonelada de alumínio pelo processo de Redução. Isto significa que a

produção mundial de bauxita, que é de cerca de 205 milhões de toneladas, gera

aproximadamente 41 milhões de toneladas de alumínio e 82 milhões de toneladas

de resíduo sem destinação final. No Brasil, a geração é estimada em 10,6 milhões

de toneladas.

Estes valores são uma estimativa, visto que a quantidade de resíduo gerado

por tonelada de alumínio produzido varia bastante, a depender do tipo de bauxita

utilizada, variando desde 0,3 toneladas para bauxitas de alto grau a 2,5 toneladas

para a bauxita de baixo grau. As propriedades físicas e químicas dependem

primariamente da bauxita utilizada, além da forma em que ela é processada [28].

A bauxita é composta principalmente das formas monohidratadas e

trihidratadas de alumina em proporções variadas. As principais impurezas são os

óxidos de ferro, sílica e titânio, além de traços de zinco, fósforo, níquel e vanádio.

Devido à alcalinidade do resíduo, que é imposta ao licor durante o processo,

este é quimicamente estável e não tóxico. A Tabela 1 mostra a larga faixa de

variação da composição química que pode ser encontrada na lama vermelha.

Tabela 1. Faixa de Variação da Composição Química da Lama Vermelha [28].

Composto Fe2O3 Al2O3 SiO2 Na2O CaO TiO2

Teor (%) 30 – 60 10 – 20 3 – 5 2 – 10 2 – 8 Traços – 10

Page 14: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

8

A alta concentração de compostos ferrosos dá ao resíduo sua cor vermelha

típica e, conseqüentemente, seu nome (lama vermelha). O grande volume de

lama vermelha produzida e seu caráter alcalino (pH ≈ 13) representa um

importante problema ambiental nas áreas onde as indústrias geradoras estão

instaladas [6].

4 PLANO DE TRABALHO

O plano de trabalho a ser desenvolvido nesta proposta envolveu:

4.1 Revisão de Literatura.

Será feito um acompanhamento bibliográfico sistemático sobre o estado da

arte tanto de cimentos Portland quanto de possíveis aditivos pozolânicos,

objetivando a formação de materiais compósitos competentes. Será dada também

ênfase à questão ambiental com a incorporação de resíduo de bauxita em uma

matriz de cimento Portland.

4.2 Procedimento Experimental.

O procedimento experimental do trabalho seguiu duas etapas básicas, que

consistem: 1) caracterização da lama vermelha e determinação das três

temperaturas de calcinação a serem utilizadas, por meio dos resultados de

ATD/TG e; 2) análise da influência da adição do resíduo calcinado nas

propriedades de pastas e argamassas de cimento Portland.

4.2.1. 1ª Etapa – Caracterização da lama vermelha e d eterminação das

temperaturas de calcinação.

A primeira etapa consistiu, basicamente, na escolha das três temperaturas

de calcinação “ideais” para a lama vermelha por meio da interpretação dos

resultados de ATD/TG.

Esta escolha foi embasada, também, na análise da caracterização física

(área superficial BET, massa unitária, massa específica e distribuição do tamanho

Page 15: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

9

de partículas), química (pH e composição química obtida por FRX) e mineralógica

(DRX) da lama vermelha após a calcinação.

4.2.2. 2ª Etapa – Análise da influência da adição do resíduo calcinado nas

propriedades de pastas e argamassas de cimento Port land.

Na segunda etapa foram realizados testes para verificar o desempenho de

pastas e argamassas contendo a lama vermelha in natura e calcinada nas três

temperaturas determinadas na etapa anterior. Assim, as principais atividades

realizadas podem ser resumidas em:

• Análise da adição da lama vermelha no tempo de pega (NBR NM 65),

expansibilidade (agulhas de Le Chatelier) e pH do cimento Portland;

• Determinação do índice de atividade pozolânica da lama vermelha pelo

método químico, segundo a NP EN 196-5 (“Ensaio de pozolanicidade

dos cimentos pozolânicos”).

• Análise de possíveis reações álcalis-agregado que possam ocorrer

devido ao elevado teor de sódio no material, prejudicando a

durabilidade do material;

• Avaliação da influência da adição do resíduo nas propriedades

reológicas da argamassa no estado fresco e no calor de hidratação;

• Avaliação da influência da adição do resíduo nas propriedades da

argamassa no estado endurecido (resistência à compressão axial).

A avaliação dos resultados ocorrerá com base na verificação das

características dos corpos-de-prova e das misturas com adição do resíduo de

bauxita in natura e calcinado a diferentes temperaturas, em comparação à mistura

de referência (sem adição do resíduo). Assim, determinar-se-ão os teores de

adição “ideal” e a temperatura de calcinação mais favorável.

As duas etapas do trabalho podem ser resumidas na Figura 1.

Page 16: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

10

Figura 1. Esquema das duas etapas que compõem o projeto experimental.

5 APLICAÇÃO DOS RECURSOS DA RESERVA TÉCNICA E DURAÇ ÃO

DO PROJETO

Os recursos da reserva técnica foram utilizados para propiciar condições

laboratoriais mínimas ao desenvolvimento experimental do projeto de pesquisa,

suprindo eventuais necessidades de caracterização de materiais por técnicas não

disponíveis na Universidade Federal de São Carlos, principalmente junto ao

Page 17: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

11

Departamento de Engenharia de Materiais e necessidades de material de

consumo e de informática, se necessárias.

Além disso, os recursos foram utilizados na formação do bolsista através

do incentivo à publicação e participação em eventos científicos nacionais e

internacionais. Maiores detalhes podem ser encontrados no Relatório de

Aplicação dos Recursos de Reserva Técnica.

O projeto pós-doutorado foi previsto para um período de 24 meses, entre

setembro de 2010 e agosto de 2012 e é resumido na Tabela 2.

Tabela 2. Planejamento inicial do projeto de pós-doutorado.

ATIVIDADES

2o S

EM

ES

TR

E

2010

• Revisão de Literatura;

• Caracterização das matérias-primas (areia e cimento);

• Caracterização da lama vermelha in natura;

• Definição dos teores ideais de adição da lama vermelha;

1º S

EM

ES

TR

E

2011

• Revisão de Literatura;

• Realização de análises térmicas (ATD/TG);

• Escolha das três temperaturas de calcinação;

• Caracterização da lama vermelha calcinada nas temperaturas

determinadas;

2º S

EM

ES

TR

E

2011

• Revisão de Literatura;

• Análise das pastas de cimento Portland, quanto ao tempo de

pega, calor de hidratação e expansibilidade;

• Verificação da resistência mecânica (axial e à flexão); Análise

das propriedades reológicas das argamassas, além da

possível reação álcalis-sílica;

PE

RÍO

DO

1º S

EM

ES

TR

E

2012

• Revisão de Literatura;

• Verificação da atividade pozolânica da lama vermelha

calcinada a diferentes temperaturas;

• Análise dos resultados e redação do relatório final.

Page 18: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

12

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados foram analisados de forma comparativa e com base nas

normas utilizadas como referência. Observaram-se os efeitos da temperatura de

calcinação do resíduo de bauxita nas propriedades das argamassas, em

comparação ao resíduo não calcinado.

Page 19: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

13

B) ATIVIDADES DESENVOLVIDAS AO LONGO DO PROJETO.

Nos 10 meses compreendidos entre setembro de 2010 e junho de 2011 foram

realizadas todas as atividades previstas ao longo do projeto. Assim sendo, o

projeto, antes previsto para 24 meses, foi concluído de forma satisfatória e gerou,

além de um trabalho científico de qualidade, diversas publicações em congressos

e revistas nacionais e internacionais.

Todas as atividades realizadas e seus respectivos detalhamentos encontram-

se nos itens a seguir.

1 INTRODUÇÃO

A indústria da construção está sob crescente pressão para adotar práticas

verdes no setor produtivo. A cada ano, a indústria de construção produz cerca de

12 bilhões de toneladas de concreto e argamassa e utiliza cerca de 1,6 bilhões de

toneladas de cimento em todo o mundo [29]. A produção de cimento cresce a

uma taxa de 3% ao ano. Segundo dados da indústria do cimento, a produção de

uma tonelada de cimento gera aproximadamente uma tonelada de CO2, lançados

na atmosfera, correspondendo a cerca de 5-8% das emissões de CO2 a nível

mundial [30], colocando o setor como o segundo maior produtor desse gás estufa.

Além disso, espera-se que a produção de cimento e as emissões resultantes

tenham um aumento de 100% do nível atual até o ano de 2020 [31].

Uma alternativa que pode reduzir significativamente as emissões da

indústria cimenteira é a utilização de adições ao cimento. Outra alternativa é o uso

de cinzas álcali-ativadas, escórias, outros materiais a base de alumínio (como a

lama vermelha) ou argila queimada. Atualmente, diversos pesquisadores vêm se

debruçando sobre a viabilidade da utilização de diferentes tipos de resíduos

tratados como substituição ao cimento para limitar sua produção, modificando as

propriedades do cimento Portland e eliminando parte dos resíduos, uma das

maiores preocupações da sociedade moderna.

Segundo levantamento realizado FIESP, em parceria com a Abrelpe

(Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais),

em 2009, o Brasil gerou cerca de 86,5 milhões de toneladas de resíduos

Page 20: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

14

industriais, sendo 4,1 milhões de toneladas de resíduos industriais perigosos [1].

Dentre os perigosos, apenas 28% são tratados, destinados e dispostos

adequadamente, sem causar danos ao meio ambiente. O restante, cerca de 2,95

milhões de toneladas, a cada ano, é jogado em lixões a céu aberto ou despejados

em cursos d’água. Dentro desse contexto, a destinação dos resíduos industriais

sólidos é motivo de crescente preocupação dos órgãos ambientais, que através

de fiscalização, tem obrigado as empresas a terem cuidados minuciosos com

seus resíduos, durante todo o processo, desde sua correta classificação,

tratamento, coleta, transporte, até a sua destinação final. É com o propósito de

dar uma destinação adequada a estes que a sua utilização alternativa em

materiais de construção vem sendo desenvolvida.

Entre estes resíduos está o resíduo da bauxita, também conhecido como

lama vermelha, um sub-produto gerado pela indústria metalúrgica de

beneficiamento do alumínio, através do processo Bayer e que foi foco do presente

trabalho.

Assim, o presente projeto de pós-doutorado avaliou a utilização da lama

vermelha, in natura e calcinada a três diferentes temperaturas, como adição à

matriz de cimento Portland. Pretendeu-se, assim, estudar o efeito da calcinação

nas características pozolânicas da lama vermelha, além de determinar o teor

adequado de utilização.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Dentre os materiais mais utilizados pelo homem está o alumínio e suas

ligas. Este metal é obtido a partir da bauxita, minério que pode ser encontrado nos

três principais grupos climáticos: o Mediterrâneo, o Tropical e o Subtropical [24,

25]. A produção mundial de bauxita em 2009 foi de 205 milhões de toneladas, e

os principais países produtores foram Austrália, China, Brasil, Guiné, Índia e

Jamaica. Ocupando a 3ª posição no ranking mundial em 2009, o Brasil produziu

26,6 milhões de toneladas de bauxita. O Brasil também possui a terceira maior

reserva de minério de bauxita do mundo (cerca de 3,5 bilhões de toneladas),

concentrado principalmente no norte do país (estado do Pará) [26].

Page 21: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

15

A bauxita deve apresentar no mínimo 30% de alumina aproveitável para que

a produção de alumínio seja economicamente viável. Mais de 90% da produção

mundial de bauxita é utilizada na obtenção de alumina, visando principalmente a

redução ao alumínio metálico (85%) [27]. O processo de obtenção de alumínio

primário divide-se em três etapas: Mineração, Refinaria e Redução [24].

As principais fases da produção de alumina, desde a entrada do minério até

a saída do produto final são: moagem, digestão, filtração/evaporação,

precipitação e calcinação. As operações de alumina têm um fluxograma de certa

complexidade, que pode ser resumido em um circuito básico, apresentado na

Figura 2.

Figura 2. Diagrama simplificado do processo Bayer para produção de hidróxido

de alumínio e alumina a partir da bauxita [25].

Basicamente, são necessárias cerca de cinco toneladas de bauxita para se

produzir duas toneladas de alumina e duas toneladas de alumina para produzir

Page 22: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

16

uma tonelada de alumínio pelo processo de Redução. Isto significa que a

produção mundial de bauxita, que é de cerca de 205 milhões de toneladas, gera

aproximadamente 41 milhões de toneladas de alumínio e 117 milhões de

toneladas de resíduo sem destinação final. No Brasil, a geração é estimada em

10,6 milhões de toneladas [32].

Estes valores são uma estimativa, visto que a quantidade de resíduo gerado

por tonelada de alumínio produzido varia bastante, a depender do tipo de bauxita

utilizada, variando desde 0,3 toneladas para bauxitas de alto grau a 2,5 toneladas

para a bauxita de baixo grau.

A lama vermelha é o principal resíduo sólido proveniente da indústria de

beneficiamento da bauxita. É um material complexo, cuja composição química e

mineralógica varia muito, dependendo da fonte de bauxita e dos parâmetros do

processo tecnológico de produção [28]. Baseado nos três diferentes tipos de

produção da alumina, a lama vermelha pode ser classificada como lama vermelha

Bayer, lama vermelha sinterizada ou lama vermelha proveniente dos dois

métodos combinados. Devido ao fato de mais de 90% da alumina produzida em

todo o mundo ser proveniente do processo Bayer, pesquisas que busquem

alternativas a este tipo de resíduo têm particular importância.

A estocagem desta grande quantidade de resíduo alcalino (lama vermelha)

é cara (entre 1 e 2% do preço da alumina), requer uma grande área de disposição

(cerca de 1 Km2 por cinco anos, para uma fábrica que produza 1 Mton de alumina

por ano) e provoca uma série de problemas ambientais [2].

A bauxita é composta principalmente das formas monohidratadas e

trihidratadas de alumina em proporções variadas. As principais impurezas são os

óxidos de ferro, sílica e titânio, além de traços de zinco, fósforo, níquel e vanádio.

Devido à alcalinidade do resíduo, que é imposta ao licor durante o processo, este

é quimicamente estável e não tóxico. A Tabela 3 mostra a larga faixa de variação

da composição química que pode ser encontrada na lama vermelha.

Tabela 3. Faixa de Variação da Composição Química da Lama Vermelha [28].

Composto Fe2O3 Al2O3 SiO2 Na2O CaO TiO2

Teor (%) 30 – 60 10 – 20 3 – 5 2 – 10 2 – 8 Traços – 10

Page 23: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

17

A alta concentração de compostos ferrosos dá ao resíduo sua cor vermelha

típica e, conseqüentemente, seu nome (lama vermelha). O grande volume de

lama vermelha produzida e seu caráter alcalino (pH ≈ 13) representa um

importante problema ambiental nas áreas onde as indústrias geradoras estão

instaladas [6]. Assim, a utilização deste resíduo em matrizes cimentícias torna-se

bastante atrativa pelo fato da elevada quantidade de cimento consumido em todo

o mundo ser compatível com a geração também bastante elevada deste resíduo.

Matrizes alcalinas como as de cimento Portland (argamassas e concretos)

são comumente usadas no acondicionamento de resíduos. Elas são baratas,

mostram uma história amplamente documentada de segurança, e são

provenientes de uma tecnologia facilmente acessível. A alcalinidade reduz a

solubilidade de muitas espécies inorgânicas perigosas e inibe processos

microbiológicos. Além disso, uma vez que essas matrizes necessitam de água

para hidratação, eles podem facilmente incorporar resíduos úmidos ou pastosos

[3], tais como a lama vermelha. A lama vermelha foi escolhida para o presente

trabalho, devido aos seus elevados teores de alumina e óxidos de ferro.

Diversos estudos têm avaliado a utilização da lama vermelha diretamente

como um componente do clínquer [2, 4, 5], e a sua adição às formulações de

argamassa e concreto também foi relatadas [6]. De acordo com SINGH et al. [4]

os cimentos baseados em compostos aluminoferrosos têm uma série de

vantagens sobre o cimento Portland comum. Estas incluem a conservação de

energia e a redução das emissões de CO2, devido à temperatura mais baixa de

clinquerização e formação de clinquers mais leves, capacidade de reutilizar

resíduos industriais, características de boa resistência, boas propriedades anti-

infiltração, boa resistência à corrosão e pega rápida.

A busca por alternativas ambientalmente e economicamente viáveis de

reciclagem incluem aplicações da lama vermelha como adsorvente para a

remoção de cádmio, zinco e arsênio, flúor, chumbo e cromo em soluções aquosas

[7], como componente de materiais de construção, tais como tijolos [8], cerâmicas

e telhas [9], esmaltes [10], como compósitos de base polimérica para substituir a

madeira [11], cimentos ricos em ferro [4, 5], etc. A utilização como material de

construção comum tem sido sugerida como uma alternativa que garante altas

taxas de consumo [12], no entanto, poucos estudos, como o de DOW &

Page 24: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

18

GLASSER [13] propõem uma verificação da atividade cimentícia da lama

vermelha.

Inicialmente chamado de cimento Portland devido à semelhança da dureza

e cor do produto com a pedra da Ilha de Portland, Inglaterra, empregada nas

construções daquela época, é atualmente manufaturado em todo o mundo, com

uma produção que excede 109 ton/ano [3, 19]. O Brasil ocupa a sexta posição na

produção mundial de cimento, ficando atrás da China (33,49%), Estados Unidos

(5,62%), Índia (5,60%), Japão (5,13%) e Coréia do Sul (3,54%), e possuindo um

parque industrial de última geração e alto grau de desenvolvimento, comparável

aos principais produtores mundiais. O consumo de cimento per capita, no Brasil,

está em torno de 267 kg/habitante [20].

Sendo os silicatos de cálcio os principais constituintes do cimento Portland,

as matérias primas para a produção do cimento devem suprir cálcio e sílica em

formas e proporções adequadas. Os materiais de carbonato de cálcio, que

ocorrem naturalmente como pedra calcária e mármore são as fontes industriais

comuns de cálcio, tendo a argila e dolomita (CaCO3.MgCO3) como as principais

impurezas [17, 21].

As argilas são fontes de alumina (Al2O3), sílica (SiO2) e, freqüentemente,

óxidos de ferro (Fe2O3) e álcalis. A presença de Al2O3, Fe2O3, MgO e álcalis na

mistura de matérias primas tem um efeito mineralizante na formação de silicatos

de cálcio; isto é, ajuda na formação de silicatos de cálcio a temperaturas

consideravelmente mais baixas do que seria possível de outro modo. Como

resultado, além de silicatos de cálcio, o produto final também contém aluminatos e

ferroaluminatos de cálcio [17].

Devido à importância do cimento na construção civil, sua hidratação tem

sido intensivamente estudada. As reações químicas são complexas devido à

natureza polimineral do clínquer de cimento e à presença de aditivos, além de

uma cinética de reação complexa [23]. Os produtos de hidratação do cimento

Portland incluem fases cristalinas e amorfas. Assim como a mineralogia define as

propriedades químicas do sistema, a microestrutura define suas propriedades

físicas (resistência, permeação e percolação) [3].

Os principais compostos responsáveis pela resistência do cimento Portland

são o C3A (3CaO.Al2O3, primeiras 24 horas), C3S (3CaO.SiO2 ,até os 28 dias) e

C2S (2CaO.SiO2 ,a partir dos 45 dias).

Page 25: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

19

Cerca de metade da quantidade de cimento Portland consumida na

construção civil corresponde a aplicações secundárias como alvenaria e reboco.

Nesses produtos, as resistências máximas desenvolvidas pelas argamassas

nunca são totalmente utilizadas. Na verdade, os requisitos de resistência em tais

serviços são da ordem de 4,0 MPa, enquanto que o cimento Portland é ideal para

aplicações com requisitos de resistência superior a 15,0 MPa [14].

Materiais com características pozolânicas podem, então, substituir

parcialmente o cimento para estes tipos de aplicações e a lama vermelha será

pesquisada com este objetivo, no presente trabalho, conforme sugerido na

literatura [14-17]. De acordo com METHA [17], uma pozolana é definida como um

material silicoso e/ou aluminoso, em forma de pó fino, que é capaz de reagir com

o hidróxido de cálcio (cal) na presença de umidade e de formar compostos de

cimento estáveis.

A lama vermelha, por ser rica em sílica e alumina, apresenta grande

potencial de uso como aglutinante cimentício e o seu caráter alcalino favorece

quimicamente sua adição a matrizes cimentícias. Como se sabe, o valor do pH

desempenha um papel importante no processo de hidratação e determina

natureza de formação do CSH e o valor de pH deve ser superior a 11,5 para

ativar efetivamente a hidratação [33, 34], que não ocorre para ambientes com pH

abaixo de 9,5. A formação do CSH ocorre em função dos tipos de silicato em

solução, que é afetada pelo pH. As maiores concentrações de Si e Al e menor

concentração de Ca e Mg levam a um maior pH [33]. Quando o valor do pH é

mais elevado, o material mostra melhor capacidade de ativação da hidratação

[34], acelerando o tempo de pega e aumentando a resistência mecânica [33].

No entanto, apesar dos aspectos positivos citados no parágrafo anterior, a

lama vermelha pode prejudicar a trabalhabilidade das argamassas de cimento

Portland devido à sua elevada área superficial. Além disso, o elevado teor de

álcalis (principalmente o sódio, usado no processo Bayer) é uma fonte de

preocupação devido à ocorrência de possíveis reações álcalis-sílica.

Termos como trabalhabilidade, consistência, capacidade de escoamento,

mobilidade e capacidade de bombeamento têm sido usados para descrever o

comportamento de concretos e argamassas no estado fresco. Porém, esses

termos refletem mais pontos de vista pessoais do que precisão científica [35]. A

argamassa pode ser considerada como uma matriz fluída (pasta de cimento) com

Page 26: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

20

a presença de agregados finos (areia). Assim, sendo a argamassa um fluído,

nada mais adequado que aplicar os conceitos da reologia ao estudo do seu

comportamento quando no estado fresco. As propriedades reológicas são

importantes principalmente no período em que o material é lançado nas fôrmas e

podem ser determinadas em qualquer momento durante o período de indução da

hidratação do cimento. Assim, a reologia de argamassas é controlada pela

reologia da pasta de cimento e das propriedades dos agregados [36].

Na tentativa de quantificar o comportamento reológico da argamassa no

estado fresco, reômetros de diferentes tipos e qualidade têm sido desenvolvidos.

Um dos testes mais antigos e mais famosos é o teste conhecido por “flow table”.

Devido à sua simplicidade, este método é amplamente utilizado no local da obra,

em todo o mundo. O “flow table” é sensível ao identificar a influência das

partículas finas na mistura. No entanto, não permite a aplicação de taxas de

deformação diferentes ou a medição dos parâmetros reológicos mais precisos,

tais como o limite de elasticidade e a viscosidade plástica, pois consideram que

as argamassas se comportam como um fluido newtoniano, o que não é correto

[37]. Desta forma, o reômetro tem sido utilizado para suprir esta deficiência [35,

37-40].

O modelo tradicionalmente usado para determinar os parâmetros reológicos

(tensão de escoamento e viscosidade plástica) das argamassas é o modelo de

Bingham (equação A).

τ = τo + µpγ (A)

,sendo τ (Pa) a tensão de cisalhamento, τo (Pa) a tensão de escoamento, µp

(Pa.s) a viscosidade plástica e γ (s-1) representa a taxa de cisalhamento.

Para reômetros que medem o torque (T) como função da velocidade (N), a

equação de Bingham pode ser descrita da seguinte forma:

T = g + hN (B)

onde “T” é o torque, “g” e “h” são diretamente proporcionais à tensão de

escoamento e à viscosidade plástica, respectivamente.

Page 27: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

21

A degradação do concreto por ações químicas é um fenômeno

extremamente complexo, envolvendo muitos parâmetros, nem sempre fáceis de

serem isolados e que atuam em diferentes graus. As reações álcalis-agregado

(RAA) são reações químicas que se desenvolvem entre constituintes reativos dos

agregados e íons alcalinos e hidroxilos presentes na solução intersticial da pasta

de cimento, podendo ter um efeito altamente prejudicial para as argamassas [41].

Estas reações são de caráter fortemente expansivo, levando ao desenvolvimento

de tensões internas no material e conseqüente fissuração, freqüentemente

acompanhadas do aparecimento de eflorescências e exsudações à superfície.

Apesar de dificilmente ser referida como causa primária do colapso, a

fissuração gerada pela RAA pode favorecer outros processos de deterioração

como a carbonatação, descolamento de revestimentos cerâmicos e a corrosão

das armaduras, no caso do concreto armado [41]. Existem três tipos distintos de

RAA: reações álcalis-sílica (RAS), reações álcalis-silicato e reações álcalis-

carbonato.

A reação álcalis-sílica é o tipo de reação álcalis-agregado mais comum e

que tem recebido maior atenção. A RAS corresponde essencialmente a uma

reação química entre certas formas de sílica reativa, possuindo estrutura mais ou

menos desordenada e, por isso, instável num meio de elevado pH, e os íons

alcalinos (Na+ e K+) e hidroxilos (OH-) presentes na solução intersticial da pasta

de cimento, produzindo um gel de silicato alcalino [41].

A velocidade de reação dependerá da concentração dos hidróxidos alcalinos

na solução intersticial. Os íons cálcio (Ca2+), cuja fonte principal é a portlandita

(hidróxido de cálcio) formada pelas reações de hidratação do cimento penetram

rapidamente no gel, dando origem a geles de silicatos de cálcio, sódio e potássio.

Estes geles são capazes de absorver moléculas de água e expandir, gerando

forças expansivas [41, 42].

As reações álcalis-silicato é um fenômeno mais complexo e tem sido pouco

explorado. Supõe-se que o mecanismo de expansão seja semelhante à RAS,

sendo, no entanto, mais lenta [41]. Freqüentemente estes dois tipos de reações

são englobados num mesmo termo genérico de reações álcalis-sílica (RAS).

A reação álcalis-carbonato é explicada por uma desdolomitização, ou seja,

uma decomposição do carbonato duplo de cálcio e magnésio (dolomita) por ação

da solução intersticial alcalina, a qual origina um enfraquecimento da ligação

Page 28: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

22

pasta de cimento-inerte. Não há a formação de geles expansivos e a expansão é

atribuída à absorção de íons hidróxilos pelos minerais de argila [41].

Assim, os fatores condicionantes da reação álcalis-agregado associados à

velocidade da reação são [43, 44]:

• Temperatura, sendo maior a expansão quanto maior a temperatura;

• Umidade Elevada;

• Alcalinidade suficientemente elevada da solução intersticial;

• Existência de inertes reativos com concentrações dentro de uma faixa

crítica e;

• Granulometria, sendo maior a força de expansão à medida que diminui

a superfície específica do material.

A RAA só será perigosa quando coexistirem estas condições [41, 42]. Assim

sendo, devido à elevada concentração de íons Na+ e OH- no resíduo de bauxita,

provenientes do uso da soda caustica no processo Bayer, as reações álcalis-

agregado são foco de preocupação quanto à utilização deste material de elevado

pH como aditivo ao cimento Portland em concretos e argamassas. Segundo

diversos autores, uma concentração de Na2O superior a 0,6% ou entre 3 e 5

Kg/m3 [45] é suficiente para uma RAA acentuada.

Os álcalis presentes no cimento Portland são expressos na forma de óxido

de potássio (K2O) e óxido de sódio (Na2O). A quantidade de álcalis disponíveis no

cimento Portland é expressa em equivalente alcalino em Na2O (%Na2O +

0,658.%K2O) por apresentar melhor correlação com a expansão devida à reação

álcali-agregado [44].

Para ocorrer a RAA, o agregado deve conter formas de sílica capazes de

reagir quimicamente com os íons hidroxila e os álcalis presentes na solução dos

poros, tais como: vidro vulcânico, sílica amorfa, sílica microscritalina, tridimita,

cristobalita, calcedônia, opala, quartzo e feldspato deformados [44].

3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Todas as atividades propostas inicialmente no procedimento experimental

(ver parte A, tópico 4.2) foram cumpridas com êxito. Assim, o procedimento

experimental do trabalho seguiu duas etapas básicas, que consistem: 1)

Page 29: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

23

caracterização da lama vermelha e determinação das três temperaturas de

calcinação a serem utilizadas, por meio dos resultados de ATD/TG e; 2) análise

da influência da adição do resíduo calcinado nas propriedades de pastas e

argamassas de cimento Portland.

O projeto de pós-doutorado proposto teve suas atividades cumpridas em 10

meses (setembro/2010 a junho/2011). A adequação do cronograma é

apresentada na Tabela 4.

Tabela 4. Replanejamento do projeto de pós-doutorado.

2010 2011 ATIVIDADES

9 10 11 12 1 2 3 4 5 6

Revisão de Literatura x x x x x x x x x x

Escrever Artigos x x x x x x x x

Caracterização das MP´s x x x

Definição Teores Ideais x x x

ATD/ATG x

Temperaturas de Calcinação x x

Caracterização LV calcinada x x

Tempo de Pega x x x

Calor de Hidratação x x x

Expansibilidade x x x x x

Resistência Mecânica x x x x

Reologia x x x x x x

RAS x x x x x x

Atividade Pozolânica x x x

Relatório Final x

Esta adequação no cronograma e a realização das atividades em menos da

metade do tempo proposto foi possível graças à cooperação de diversos

pesquisadores colaboradores, os quais se podem citar o Prof. Dr. João Labrincha

(Universidade de Aveiro, Portugal) e o Dr. Antônio Santos Silva (Laboratório

Nacional de Engenharia Civil, LNEC, Portugal)

Page 30: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

24

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Materiais

Os materiais utilizados neste projeto foram matérias primas de pureza

comercial e, quando necessário, matérias primas de análise PA como ferramenta

de auxílio na análise de formação das fases. Os principais materiais utilizados

foram: cimento Portland CP-II 32 Z, areia, água potável e destilada, aditivo

superplastificante e resíduo de bauxita (lama vermelha).

4.1.1 Cimento Portland

Utilizou-se um cimento Portland CP-II 32 Z, da marca Itaú, comercialmente

encontrado na cidade de São Carlos.

4.1.2 Lama Vermelha

Por apresentar-se na forma pastosa, a lama vermelha, gerada pela ALCOA

do Brasil, em Poços de Caldas (MG), e utilizada neste trabalho foi seca e,

posteriormente, desaglomerada para que se tivesse à disposição um material

pulverulento. As moendas utilizadas para realizar esta desagregação primária e

secundária são apresentadas na Figura 3.

Figura 3. Moendas utilizadas para desagregação (a) primária (moinho de

mandíbula) e (b) secundária (galga) do resíduo.

O teor de líquido presente inicialmente no resíduo é de cerca de 40%. Isto

significa que o teor de sólidos (apenas 60%) que foi utilizado neste estudo, na

(A) (B)

Page 31: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

25

verdade, representa uma utilização de cerca de 1,67 vezes mais resíduo (100/60).

O ideal, se verificada a efetividade da adição deste resíduo, é aproveitar a própria

água constituinte como água de mistura da argamassa. Isto seria parte de uma

nova etapa do projeto de pesquisa e desenvolvimento.

4.1.3 Areia

Neste trabalho foi utilizada uma areia de rio, normalmente comercializada na

cidade de São Carlos, São Paulo.

Para os ensaios de verificação do ensaio de reatividade álcalis-agregado foi

utilizada uma areia de alta reatividade proveniente do rio Tejo, em Portugal, com o

objetivo de tornar a análise mais efetiva.

4.1.4 Aditivo Superplastificante

O aditivo químico utilizado foi o superplastificante Vedalit, aditivo líquido à

base de resinas naturais produzido pela Vedacit.

4.1.5 Água de Amassamento

Para a confecção dos corpos de prova de argamassa foi utilizada água

potável, proveniente de poços existentes na Universidade Federal de São Carlos,

campus São Carlos.

Para a determinação do teor de água para a consistência normal, tempo de

pega e expansibilidade, foi utilizada água destilada e deionizada.

4.2 Métodos

4.2.1 Caracterização das Matérias-primas

A caracterização dos materiais envolveu análises de difração de raios X

(Rigaku Geirgeflex ME 210GF2 Diffractometer, configurado com radiação CuKα,

voltagem de 40 KV, corrente igual a 100 mA, e velocidade de varredura igual a

4º/min) e fluorescência de raios X (Philips PW1480 X-ray Fluorescence

Spectrometer), enquanto os parâmetros físicos tais como área superficial

específica (estimada por BET, usando um equipamento Micrometrics Gemini 2370

Page 32: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

26

V1.02), massa unitária (NBR 7251 - “Agregado em estado solto - Determinação

da massa unitária”) e a massa específica (Helium Pycnometer Accupyc 1330

V2.01 da Micrometrics) também foram determinados.

Para a determinação da distribuição do tamanho das partículas do cimento e

da lama vermelha seca e desaglomerada (antes e após calcinação), utilizou-se a

técnica baseada na sedimentação de partículas em uma dada suspensão,

associada à absorção da luz. Assim, empregou-se um Sedígrafo (Analisador de

distribuição do tamanho de partículas) Horiba CAPA-700, o qual possibilitou o

registro da porcentagem de massa acumulada em função do diâmetro equivalente

das partículas.

Análises de TG/ATD foram realizadas com um equipamento STA 409 EP,

Germany. A taxa de aquecimento será de 10ºC/min e as amostras foram

aquecidas de 20ºC até 1100ºC.

4.2.2 Calcinação da Lama Vermelha.

A lama vermelha foi calcinada utilizando-se um forno Termolab, com uma

taxa de aquecimento de 10ºC/min, até que se atingisse a temperatura desejada, a

escolhida em função dos resultados de ATD/TG e DRX, com um patamar de 120

minutos.

4.2.3 Obtenção e Preparo das Composições

Pastas de cimento Portland contendo lama vermelha foram utilizadas para

verificação do tempo de pega e expansibilidade, de acordo com suas respectivas

normas e após a análise das características das matérias-primas.

Corpos de provas de argamassas cilíndricos (5x10 cm3) e prismáticos

(4x4x16 cm3), normalizados, com adições de resíduo entre 10% e 30%, em peso,

foram moldados para a realização dos ensaios mecânicos, reológicos e

reatividade álcalis-agregado (RAA), de acordo com suas respectivas normas.

Page 33: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

27

4.2.4 Propriedades das pastas e argamassas.

Atividade Pozolânica.

No intuito de verificar a pozolanicidade, foram realizados ensaios químicos

com o objetivo de ratificar se um possível bom resultado ocorreu devido às

reações químicas ou foi somente proveniente de um melhor empacotamento

(efeito filler) da mistura.

Para tal, utilizou-se a norma NP EN 196-5 (“Ensaio de pozolanicidade dos

cimentos pozolânicos”). Segundo esta norma, a pozolanicidade é determinada

comparando a quantidade de hidróxido de cálcio presente na solução aquosa em

contato com o cimento hidratado, depois de um período de tempo determinado,

com a quantidade de hidróxido de cálcio que faz saturar um meio de mesma

alcalinidade. O ensaio deve ser considerado positivo se a concentração de

hidróxido de cálcio em solução for inferior à concentração de saturação.

Para o procedimento experimental, prepara-se uma solução padrão

contendo 20g de cimento para 100 mL de água destilada. Para a solução

contendo o material a ser analisado, substitui-se 25% do cimento (5g) pela

pozolana, ficando com 15g de cimento e 5g de pozolana para cada 100 mL de

água destilada.

Estas misturas foram deixadas em estufa a 40 ± 2 ºC durante 14 dias,

quando devem ser retiradas para a realização do ensaio.

Tempo de Pega.

Para a determinação do tempo de pega, utilizou-se o método de Vicat,

segundo a NM NBR 65 (“Cimento Portland – Determinação do Tempo de Pega”).

O procedimento consiste em preparar a amostra com a água de

consistência normal (determinada anteriormente). A seguir, preenche-se o molde

tronco-cônico e faz-se investidas com a agulha em tempo normalizados até que

esta entre a (4 ± 1) mm da base. Observa-se neste momento o início de pega. A

seguir, troca-se a agulha por uma mais “precisa”, inverte-se o tronco e quando a

penetração for de apenas 0,5 mm na amostra, é caracterizado o tempo de fim de

pega.

Page 34: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

28

Calor de Hidratação.

O calor de hidratação é uma forma de se avaliar a reatividade dos materiais

cimentícios e/ou pozolânicos. Isto ocorre, pois a química de formação dos

principais compostos do cimento Portland ocorre por meio de reações

exotérmicas.

As misturas foram preparadas de acordo com a norma NP EN 196-1,

utilizando o traço sugerido 1,0 : 3,0 : 0,6 (cimento + lama, areia, água). As

argamassas foram colocadas em moldes de PVC (Figura 4a), os quais foram

hermeticamente fechados e colocados no interior de uma caixa de isopor (Figura

4b). Esta caixa permaneceu dentro de uma estufa (Figura 4c) sob condições

controladas de temperatura (22ºC) e umidade relativa (60%). Os dados foram

registrados a cada minuto por meio de um termopar ligado a um computador

(Figura 4c). Os resultados apresentados são uma média de três amostras.

Figura 4. Aparato utilizado para a medição do calor de hidratação das

argamassas contendo lama vermelha.

Propriedades Reológicas.

O índice de consistência é um importante parâmetro de desempenho para

argamassas de cimento Portland. Este índice reflete a trabalhabilidade da massa,

o que é de fundamental importância para a sua aplicabilidade. No presente

trabalho, foram utilizados dois métodos para a verificação da trabalhabilidade:

uma mais usual na construção civil (mesa de espalhamento, flow table, Figura 5a)

e outra técnica mais precisa que a anterior, utilizando-se um Reômetro Viskomat

NT, da Schleibinger Geräte (Figura 5b).

(A) (B) (C)

Page 35: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

29

Figura 5. Aparatos utilizados na determinação das propriedades reológicas de

argamassas contendo diversos teores de lama vermelha. (A) Mesa de

espalhamento (Flow Table) e; (B) Reômetro Viskomat NT Schleibinger Geräte.

Para a análise das características reológicas das argamassas de cimento

Portland com adição de lama vermelha calcinada a diferentes temperaturas foram

confeccionados corpos de prova, de acordo com a norma européia NP EN 196-1,

utilizando o mesmo traço dos testes de calor de hidratação.

De acordo com a NBR 13276/2005 (“Argamassa para assentamento e

revestimento de paredes e tetos - Preparo da mistura e determinação do índice de

consistência”), após determinado o traço a ser utilizado, preenche-se um molde

troncônico, em três camadas (com 5, 10 e 15 golpes de soquete,

respectivamente), liberando-o, a seguir. São aplicados então 30 golpes, numa

velocidade de um golpe por segundo, na mesa de ensaio (flow table) e verifica-se

o diâmetro da massa espalhada, tendo como resultado uma média de três

determinações.

O diâmetro da base inferior do molde é de 100 mm (diâmetro inicial) e o

diâmetro que adotaremos como limite de trabalhabilidade é de 140 mm (diâmetro

limite).

As propriedades reológicas também foram determinadas através de um

reômetro Viskomat NT Schleibinger Geräte (Figura 5b), aplicando uma velocidade

de rotação de 150 rpm durante 45 minutos (tempo máximo em que as

(A) (B)

Page 36: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

30

argamassas ficam paradas em uma obra). A cada 15 minutos, a velocidade era

reduzida para zero, mantida por 30 segundos e então se aumentava novamente

até 150 rpm.

A cada 15 minutos a velocidade de rotação (N) é reduzida para zero. Nesse

momento obtém-se a Figura 6a. Na curva de descida, que está destacada em

vermelho, é aplicado o modelo de Bingham, de acordo com a Figura 6b. A tensão

de escoamento (g) é representada pelo coeficiente linear, enquanto a viscosidade

plástica (h) pelo coeficiente angular.

Figura 6. Modelo de Bingham, utilizado na determinação dos parâmetros

reológicos (tensão de escoamento, g e viscosidade plástica, h) das argamassas.

Expansibilidade (NBR 11582) e Reação Álcalis-agregado (RAA).

Para a verificação de possíveis reações expansivas, devido ao elevado teor

de álcalis na lama vermelha (principalmente sódio), seguiram-se os métodos

sugeridos pela NBR 11582 (“Determinação da expansibilidade pelo método de Le

Chatelier”) e verificou-se uma possível reação álcalis-agregado (RAA), feita com

base na norma ASTC C 1260 (“Potential Alkali Reactivity of Aggregates: Mortar-

Bar Method”).

De acordo com a NBR 11582, o ensaio é separado em duas partes: com

cura a frio e com cura a quente. A expansibilidade a frio visa verificar a influência

do MgO e a expansibilidade a quente, a influência do CaO.

Assim, devem ser preparadas, no mínimo, três agulhas de Le Chatelier para

cada ensaio. No presente estudo preparam-se quatro agulhas para cada uma das

0

50

100

150

200

250

0 20 40 60 80 100 120

N (rpm)

T (N

mm

)

y = 0.6583x + 107.27

R2 = 0.9912

0

50

100

150

200

250

0 20 40 60 80 100 120

N (rpm)

T (N

mm

)

(A) (B)

T = hN + g

Page 37: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

31

determinações.

Na cura a frio, as agulhas devem permanecer imersas em água, durante seis

dias, de tal modo que as extremidades de suas hastes fiquem fora da água. As

medidas dos afastamentos das extremidades das hastes devem ocorrer logo após

a moldagem e após sete dias consecutivos em água a (23 ± 2) ºC

Na cura a quente, as três agulhas devem permanecer imersas em água em

ebulição durante o tempo necessário, e superior a 5 horas, para se determinar a

expansibilidade a quente. As medidas dos afastamentos das extremidades das

hastes devem ocorrer logo após o início do aquecimento da água, após três horas

de ebulição e de duas em duas horas, até que não se verifiquem, em duas

medições consecutivas, variações de afastamento das extremidades das hastes.

No presente estudo, as agulhas analisadas a quente ficaram imersas durante 24

horas.

Segundo a norma ASTC C 1260 (“Potential Alkali Reactivity of Aggregates:

Mortar-Bar Method”), devem ser moldados corpos de prova prismáticos e as

misturas devem ter relações água/aglomerante e agregado/aglomerante

constantes e iguais a 0,47 e 2,25, respectivamente.

A seguir, colocam-se os corpos de prova em recipiente com água, em estufa

a 80 ± 2 °C, onde as amostras devem permanecer por mais 24 ho ras até nova

medida do comprimento. Após esta medida, deve-se colocar os corpos de prova

em solução de NaOH (1N) também em estufa a 80 ± 2 °C e realizam-se medidas

do comprimento a cada dois dias, até completarem-se 16 dias de ensaio (14 dias

em NaOH). As etapas deste procedimento podem ser visualizadas na Figura 7.

Figura 7. (A) Aparelho para medida do comprimento dos corpos de prova; (B)

amostras em água a 80ºC e; (C) amostras em solução de NaOH (1N).

Page 38: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

32

A expansão é calculada como o aumento percentual do comprimento ao

longo do ensaio, sendo considerado para análise que:

• Expansões inferiores a 0,10% aos 16 dias são indicativas de

comportamento inócuo, isto é, a expansão é desprezível;

• Expansões de mais de 0,20% aos 16 dias são indicativas de expansão

potencialmente deletéria;

• Expansões entre 0,10% e 0,20% aos 16 dias são duvidosas. Para estes

casos, é interessante continuar o ensaio até os 28 dias, com o objetivo de

verificar se o limite de expansão igual 0,20% é ultrapassado.

Resistência Mecânica.

Os corpos de prova de argamassa utilizados para a verificação da

resistência mecânica das amostras contendo lama vermelha foram moldados

segundo a norma NBR 7215 (“Cimento Portland - Determinação da resistência à

compressão”), que preconiza a utilização do traço 1,00 : 2,25 : 0,48 (cimento :

areia : água). O cimento foi substituído pela lama vermelha calcinada, nos teores

de 10%, 20% e 30%. Devido à perda de trabalhabilidade das misturas com a

adição da lama vermelha, optou-se por usar aditivo superplastificante, no teor de

1% em relação à massa de cimento.

O limite de resistência à compressão axial é uma das propriedades mais

importantes em materiais frágeis, como as cerâmicas e é cerca de dez vezes

superior ao limite de resistência à tração por compressão diametral.

O limite de resistência à compressão axial (Rc) é calculado pela carga

máxima (P) suportada pelo corpo-de-prova (CP), dividida pela sua secção

original, de acordo com a equação (C), em que Φ representa o diâmetro do CP.

Rt = (4P)/(π. Φ2) (C)

Os resultados de limite de resistência à compressão axial apresentados

foram uma média de três valores obtidos para cada uma das composições, aos 3,

7 e 28 dias de idade, utilizando uma máquina de ensaios universal Instron modelo

Page 39: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

33

5500R. Os valores que diferiram mais de 5% da média foram descartados e

substituídos pelos obtidos por novos CP´s.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização das Matérias-primas

5.1.1 Cimento Portland

A composição química do cimento Portland utilizado foi fornecida pelo

fabricante e é apresentada na Tabela 5.

Tabela 5. Composição química do Cimento Portland CP-II 32 Z obtida pela

técnica de espectrometria por fluorescência de raios X.

Constituinte CaO SiO2 Al2O3 MgO Fe2O3 SO3 K2O Na2O PF

Teor (%) 56,0 24,5 6,1 4,0 2,5 1,8 0,25 0,45 4,1

A perda ao fogo (PF) do cimento foi de apenas 4,1%. Foram observadas,

também, as características físicas do material, mostradas na Tabela 6 e na Figura

8. O diâmetro médio de partículas (D50) do cimento utilizado é de

aproximadamente 12 µm. As principais fases presentes e detectadas são

mostradas no difratograma da Figura 9. Observa-se a predominância dos silicatos

de cálcio, o que está de acordo com o observado na composição química

apresentada na Tabela 5.

Tabela 6. Caracterização física do Cimento Portland CP-II 32 Z.

Grandeza Cimento Portland

Área superficial específica 0,93 m2/g

Massa unitária 1,00 kg/dm3

Massa específica 3,11 kg/dm3

Page 40: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

34

0

20

40

60

80

100

0 1 10 100

Diâmetro esférico equivalente (µm)

Fre

quên

cia

acum

ulad

a (%

m)

Figura 8. Distribuição do tamanho de partículas do cimento Portland

CP-II 32 Z da marca Itaú.

10 20 30 40 50 60 70 80

2φ (graus)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

+ 3CaO.SiO2

x 2CaO.SiO2

+

+

+

+

+

+ +

+

+

x

x x x

x x

Figura 9. Difratograma de raios X do cimento Portland CP-II 32 Z da marca Itaú.

5.1.2 Resíduo de Bauxita (Lama Vermelha)

A lama vermelha foi recebida como uma pasta, contendo cerca de 40% de

água livre. No presente estudo, o material foi seco e moído e então utilizado como

um material em pó.

Page 41: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

35

O primeiro passo quanto à caracterização da lama vermelha foi identificar as

fases presentes na lama vermelha (Figura 10). A seguir, como o objetivo deste

trabalho é observar o efeito da calcinação nas propriedades cimentícias da lama

vermelha, realizou-se uma análise termogravimétrica (TG). Os resultados dos

testes de TG/ATD da lama vermelha são apresentados na Figura 11.

0

250

500

750

1000

1250

1500

0 10 20 30 40 50 60 70 80

2ϕϕϕϕ (graus)

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

x

● ○ ▲

x ▲ ◊

+

+

x

x

▲ ▲

▲ +

● x

x

x

■ ▲

+ SiO2

x Fe2O3

▲ CaCO3

● Al(OH)3

◊ FeO(OH)○ Muscovite■ Na5Al3CSi3O15

◊ ◊

Figura 10. Difratograma de raios X da lama vermelha.

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

0 200 400 600 800 1000

Temperatura (ºC)

Per

da

de

Pes

o (

%)

-5

5

15

25

35

45

55

65

TG

ATD

DT

A (

µV

)

End

Figura 11. Curvas TG/ATD da lama vermelha (in natura).

Page 42: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

36

Como esperado, o hidróxido de alumínio (Al(OH)3), o carbonato de cálcio

(CaCO3), o SiO2 e o óxido de ferro (Fe2O3) são os compostos predominantes. No

entanto, quantidades relativas de muscovita (KAl2(AlSi3O10)(OH)2) e FeO(OH) são

também relevantes. Além destes, uma fase complexa de sódio e alumínio, o

carbonato silicato de sódio e alumínio ,(Na5Al3CSi3O15) foi identificada.

Como podem ser observados na Figura 11, os pontos de inflexão ocorrem

aos 250ºC, 400ºC, 600ºC e 850ºC. Assim, podemos dividir a curva TG em 5

regiões: < 250ºC, 250ºC-400ºC, 400ºC-600ºC, 600ºC-850ºC e > 850ºC.

Nas duas primeiras regiões (antes de atingidos os 400ºC), a curva mostra

contínua perda de peso com uma taxa de cerca de 12%, que ocorre

principalmente devido à perda da água adsorvida pela lama vermelha.

Na terceira região (entre 400ºC e 600ºC), ocorre uma perda de peso de

cerca de 2%, que representa primariamente a desidratação da água presente a

estrutura cristalina e perda de matéria orgânica. Baseado nestes resultados

deduz-se que a água está presente na lama vermelha de várias formas e com

forças de ligação também diferentes, com uma parte da água presente de forma

adsorvida e outra como água estrutural.

Na quarta região (entre 600ºC e 850ºC) a perda de peso é de cerca de 6% e

representa perda de água na forma dos íons hidroxila (FeO(OH)). Na quinta

região, superior a 850ºC, há uma ligeira perda de peso correspondente à

descarbonatação (CaCO3) e reações de desidroxilação (Al(OH)3 e muscovita). A

tendência de estabilidade, prevista por análise da curva de TG ocorre a partir dos

900ºC, indicando que a água, carbonatos ou quaisquer outros elementos voláteis

já foram decompostos.

Assim sendo, com base nestes resultados, escolheram-se as temperaturas

de calcinação em 450ºC, 650ºC e 1000ºC, por serem imediatamente posteriores

às principais alterações verificadas acima. A seguir, serão apresentados os

resultados de caracterização física, química e mineralógica da lama vermelha

calcinada a estas temperaturas escolhidas (450ºC, 650ºC e 1000ºC) e in natura.

Após a calcinação, a lama vermelha foi caracterizada mineralogicamente

para que se conhecessem as fases formadas e que poderiam influenciar na

pozolanicidade do material. O resultado é apresentado na Figura 12.

Page 43: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

37

Figura 12. Espectrum de difração da lama vermelha calcinada a diferentes

temperaturas (450ºC, 650ºC e 1000ºC) e sem sofrer calcinação (in natura).

Quando a lama vermelha é calcinada a 450ºC, há a perda de compostos

hidratados, com a destruição dos grupos OH- presentes nos compostos Al(OH)3 e

FeO(OH), como o esperado, de acordo com os resultados de TG/ATD,

apresentados na Figura 11. Aos 650 ºC não há modificações consideráveis

quanto às fases presentes, se comparado à lama vermelha calcinada a 450 ºC.

Ocorre apenas uma passagem do quartzo alfa para o quartzo beta aos 570 ºC e

desidratação aos 500 ºC (perda de massa).

Quando calcinada a 1000ºC, ocorrem as mudanças mais significativas. A

calcita (CaCO3), o quartzo (SiO2) e a muscovita (KAl2(AlSi3O10)(OH)2) não estão

presentes e a nefelina (K0.48Na3.48(AlSiO4)4) foi identificada. As ausências da

Page 44: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

38

calcita e da muscovita ocorrem, obviamente, devido à descarbonatação (liberação

de CO2, acompanhado de perda de massa) e destruição da muscovita (liberação

do grupo OH-).

A formação da nefelina, também observada por outros autores [46-49],

ocorre devido à quantidade insuficiente de sílica para combinar com o sódio e

formar feldspato, favorecendo a formação desta nova fase no material. A

muscovita (mica) reage com o carbonato de sódio, Na2CO3 (criado durante a

liberação do CO2, que reage com o sódio presente no material devido à utilização

da soda caustica utilizada no processo Bayer), dando origem à nefelina e

liberando H2CO3 [50], de acordo com a equação (D):

KAl2(AlSi3O10)(OH)2 + Na2CO3 → 3(K, Na)AlSiO4 + H2CO3 (D)

Outro efeito direto da calcinação é a alteração da área superficial, da

densidade e da massa unitária, devido à perda da água adsorvida e formação de

novas fases, principalmente quando o material é calcinado a 1000ºC. Estes

resultados de caracterização física podem ser visualizados na Tabela 7.

Tabela 7. Efeito da temperatura de calcinação nas principais propriedades físicas

da lama vermelha.

Temperatura de

Calcinação

Área Superficial

(m2/g)

Densidade

(g/cm 3)

Massa Unitária

(g/cm 3)

Natural 20,95 2,90 0,64

450ºC 21,55 2,91 0,62

650ºC 20,93 3,00 0,59

1000ºC 3,60 3,27 0,56

Uma característica que chama a atenção é a área superficial do resíduo de

bauxita, bastante elevada, o que mostra ser este resíduo muito mais fino que o

próprio cimento Portland e o elevado pH (12,04), próximo ao limite da norma NBR

10004.

Como se pode observar na Tabela 7, com o aumento da temperatura de

calcinação, há um aumento da densidade (perda de matéria orgânica,

Page 45: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

39

descarbonatação, água adsorvida e estrutural, além da formação de novos

compostos, mais densos) e uma brusca redução da área superficial quando o

material é calcinado a 1000ºC (provavelmente devido à formação do composto

nefelina). A redução da área superficial (grãos mais grosseiros) é diretamente

refletida na diminuição da massa unitária. Estas características terão influência

direta na reologia do material. A distribuição de tamanho de partículas não sofreu

alteração relevante após a calcinação (Figura 13). Observa-se que o diâmetro

médio de partículas (D50) da lama vermelha é da ordem de 3,5 µm.

0

20

40

60

80

100

0 1 10 100

Diâmetro Esférico Equivalente (µm)

Por

cent

agem

Acu

mul

ada

(%)

0ºC450ºC650ºC1000ºC

Figura 13. Distribuição do tamanho de Partículas da lama vermelha in natura e

após calcinação a 450 ºC, 650 ºC e 1000 ºC.

Na Tabela 8, pode-se perceber que não há significativa modificação na

composição química da lama vermelha em função da temperatura de calcinação.

A diferença observada ocorre somente devido à presença de uma maior

quantidade de água na amostra “in natura” que, depois de corrigida, apresenta a

mesma proporção das demais. Como era esperado, predominam os compostos

de alumínio, ferro e sílica (material argiloso) e o sódio, utilizado durante o

processo Bayer, em que a lama vermelha é gerada. Para a verificação da

periculosidade ambiental, foram realizados ensaios de lixiviação e solubilização,

cujos resultados são apresentados na Tabela 9.

Page 46: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

40

Tabela 8. Composição química da lama vermelha calcinada a diferentes

temperaturas obtida por fluorescência de raios X (FRX).

Teor (%) Tempe -

ratura Al 2O3 Fe2O3 Na2O CaO SiO2 K2O MnO TiO2 MgO Outros PF

Natural 19,87 19,87 7,35 4,61 14,34 1,87 0,21 2,66 0,34 1,67 27,2

450ºC 29,74 22,43 11,36 5,47 20,95 2,41 0,50 3,29 0,52 2,13 1,2

650ºC 30,40 22,00 11,60 5,60 21,80 2,56 0,48 3,28 0,21 2,08 0,0

1000ºC 30,80 21,50 12,10 5,40 21,20 2,60 0,48 3,17 0,54 2,21 0,0

Após correção da perda ao fogo (PF)

Natural 27,30 27,30 10,10 6,33 19,70 2,57 0,29 3,65 0,47 2,29 -

450ºC 30,10 22,70 11,50 5,54 21,20 2,44 0,51 3,33 0,53 2,16 -

650ºC 30,40 22,00 11,60 5,60 21,80 2,56 0,48 3,28 0,21 2,08 -

1000ºC 30,80 21,50 12,10 5,40 21,20 2,60 0,48 3,17 0,54 2,21 -

Tabela 9. Resultados de solubilização e lixiviação do resíduo de bauxita, segundo

as normas NBR 10004, NBR 10005 e NBR 10006.

Solubilizado Lixiviado Amostra Bruta Parâmetros Resultado

mg/L VMP mg/L

Resultado mg/L

VMP mg/L

Resultado g/Kg

VMP mg/Kg

Óleos e graxas x # x # nd 5% Alumínio 41,8 0,2 x # 79,77 # Arsênio 0,082 0,010 nd 1,0 nd 1000 Bário nd 0,7 nd 70,0 nd # Chumbo nd 0,010 nd 1,0 nd 1000 Cromo Total nd 0,050 nd 5,0 nd # Fenóis 0,014 0,010 x # nd 10 Prata nd 0,05 nd 5,0 x # Selênio 0,019 0,010 nd 1,0 nd 100 Sódio 1665 200 1510 # 59,98 # Ferro nd 0,3 x # 128,07 # Cloretos 54,6 250,0 x # x # Fluoretos 78,0 1,5 2,26 150,0 x # Nitratos 0,2 10,0 x # x # Sulfatos 43,0 250,0 x # x # Surfactantes 0,81 5,00 x # x #

VMP = Valor máximo permitido; # = ausência de limite pela NBR 10004; x =não solicitado pela NBR 10004; nd = não detectado.

Page 47: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

41

Os ensaios de solubilização e lixiviação mostram que a periculosidade deste

resíduo, está associada, principalmente, à presença de sódio, fluoretos e

alumínio, bastante acima dos limites estabelecidos pela NBR 10004 e do seu

elevado pH (12,04), que caracterizam este material, inicialmente, como “resíduo

não-perigoso não inerte” (Classe II-A). No entanto, outros parâmetros

(patogenicidade, inflamabilidade, combustibilidade, radioatividade, etc) devem ser

realizados para se ter um laudo mais preciso.

A elevada concentração destes elementos no extrato solubilizado era

previsível, uma vez que a argila que compõe este resíduo está numa jazida de

bauxita (alto teor de alumínio e fluoretos) e a soda caustica (sódio) é utilizada na

etapa de digestão, no processo Bayer.

O arsênio, fenóis e o selênio também se apresentaram em limites acima do

permitido. No entanto, estes resultados foram atribuídos a alguma impureza ou

contaminação do material, haja vista não haver motivos aparentes para sua

presença.

Algo que chama a atenção é o fato do ferro não ser detectado, apesar de o

óxido de ferro estar presente, de acordo com a análise química apresentada na

Tabela 8, em elevado teor (19,87%). Isto se justifica pelo método de ensaio, em

que se pesa certa massa de material e a deixa em repouso por sete dias, em

água destilada. Pelo fato do resíduo ser altamente alcalino, os metais se

precipitam, ficando retidos em membrana 0,45 µm após serem filtrados e,

conseqüentemente, não são detectados pelo teste.

5.1.3 Areia

A distribuição do tamanho de partículas da areia utilizada no presente

estudo é mostrada na Figura 14. A NBR 7211 classifica as areias em quatro

faixas, denominadas muito fina, fina, média e grossa. Ainda na Figura 14,

podemos ver os limites inferior e superior que caracterizam uma areia como

“média” (faixa 3). Como se pode perceber, todas as porções da areia utilizada se

colocam dentro da faixa em questão.

A composição química e a caracterização física da areia são mostradas nas

Tabelas 10 e 11, respectivamente.

Page 48: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

42

0

20

40

60

80

100

0,1 1,0 10,0

Diâmetro esférico equivalente (mm)

Fre

quên

cia

acum

ulad

a (%

)

Figura 14. Distribuição granulométrica da areia utilizada e limites que a

classificam como “areia média – faixa 3”, segundo a NBR 7211.

Tabela 10. Composição química da areia utilizada na produção das argamassas

obtida pela técnica de espectrometria por fluorescência de raios X.

Constituinte SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO Na2O K2O TiO2 PF

Teor (%) 95,33 1,91 0,64 0,20 0,15 0,91 0,32 0,47

Tabela 11. Caracterização física da areia utilizada na produção das argamassas.

Grandeza Areia

Área superficial 0,68 m2/g

Massa unitária 1,63 kg/dm3

Massa específica 2,48 kg/dm3

Módulo de Finura 2,62

Dimensão Máxima Característica 2,40 mm

Para o ensaio de resistência mecânica (NBR 7215) e na avaliação da reação

álcalis-agregado (ASTM C 1260-01), foram utilizadas areias graduadas, segundo

a Tabela 12.

Page 49: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

43

Tabela 12. Graduação da areia utilizada em alguns ensaios específicos.

Abertura da Malha (#) Massa (%)

Passando na Retida na NBR

7215/96

ASTM C

1260-01

4,75 mm 2,36 mm --- 10

2,36 mm 1,18 mm 25 25

1,18 mm 600 µm 25 25

600 µm 300 µm 25 25

300 µm 150 µm 25 15

5.2 Caracterização das Pastas e Argamassas de Cimen to Portland

Contendo Lama Vermelha.

5.2.1 Atividade Pozolânica.

A norma NP EN 196-5 compara a quantidade de hidróxido de cálcio

presente em solução aquosa em contato com o cimento hidratado, após 14 dias

com a quantidade de hidróxido de cálcio necessária para saturar o ambiente de

igual alcalinidade. O material é considerado pozolânico se a concentração de

hidróxido de cálcio em solução é menor que a concentração de saturação. Os

resultados são mostrados na Figura 15.

O efeito pozolânico é indicado por um decréscimo da concentração de CaO

na fase líquida, uma vez que o hidróxido de cálcio gerado pela hidratação do

cimento é seqüestrado e combinado pela pozolana. Há uma diminuição da

concentração de CaO na solução quando a lama vermelha é adicionada e

simultâneo aumento da concentração de íons [OH-]. Para a lama vermelha in

natura e calcinada a 450 º C, os valores são próximos do limite de saturação. No

entanto, uma clara ação pozolânica é observada para misturas contendo lama

vermelha calcinada a 650 ºC e 1000 ºC. Estes valores indicam uma razoável

capacidade de lama vermelha para fixação de íons cálcio, que estão presentes na

solução aquosa.

Page 50: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

44

Figura 15. Diagrama de determinação da pozolanicidade segundo a norma

NP EN 196-5.

5.2.2 Tempo de Pega e Calor de Hidratação.

Diversas propriedades do concreto nas primeiras idades, tais como

trabalhabilidade, tempo de endurecimento e ganho de resistencia são

predominantemente influenciadas pela cinética de hidratação dos materiais

cimentícios. A hidratação dos materiais cimentícios consiste de uma série de

reações químicas que liberam calor. O processo de evolução de calor está

intimamente associado à taxa de reação química de materiais cimentícios e é

influenciado por aditivos químicos, pelo traço do concreto e pelas condições de

cura. Como resultado, os desvios de desempenho de argamassas podem ser

detectados ou previstos, monitorando o calor de hidratação dos materiais

cimentícios [51].

Os compostos do cimento Portland são produtos de reações em altas

temperaturas que não estão em equilíbrio e, por isso, estão em um estado de

energia elevado. Ao reagir com água para atingir estados estáveis de baixa

energia, o processo é acompanhado pela liberação de calor, logo, são reações

exotérmicas [17].

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

35 45 55 65 75 85 95 105 115 125 135 145 155 165 175 185 195 205

Concentração de íons OH - (mmol/L)

Con

cent

raçã

o em

CaO

(mm

ol/L

)

REFERÊNCIA

RM 0ºC

RM 450ºC

RM 650ºC

RM 1000ºC

LIMITE EN 196-5

Material Pozolânico

Material Não Pozolânico

Page 51: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

45

Vários métodos de teste de calorimetria estão disponíveis, mas a maioria

destes métodos exigem equipamentos caros, procedimentos complexos, e longo

tempo de teste. Calorímetros mais simples têm sido introduzidos, mas são

limitados ao estudo qualitativo de hidratação do cimento [52]. No presente estudo,

um calorímetro isotérmico de baixo custo foi utilizado para testar amostras de

argamassa.

Em geral, as amostras apresentaram dois picos principais nas curvas, que

representam a variação da temperatura durante a cura. A evolução da

temperatura durante a hidratação mostra um valor máximo, que é atingido em

momentos diferentes e têm intensidade variável (altura), de acordo com a

reatividade da mistura (Figura 16).

Figura 16. Resultado geral do calor de hidratação das argamassas contendo

diversos teores de lama vermelha: (A) in natura, (B) calcinada a 450 ºC, (C)

calcinada a 650 ºC e, (D) calcinada a 1000 ºC.

O primeiro pico ocorre nos primeiros momentos após o contato com a água,

enquanto o segundo pico inicia após 4-6 horas, tendo o seu máximo após 11-13

horas. Segundo a literatura [53, 54], quando o cimento é misturado com água,

22

23

24

25

26

27

28

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52

Age (h)

Tem

pera

ture

(ºC

)

0%RM 10%RM

20%RM 30%RM

22

23

24

25

26

27

28

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52

Age (h)

Tem

pera

ture

(ºC

)

0%RM 10%RM

20%RM 30%RM

22

23

24

25

26

27

28

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52

Age (h)

Tem

pera

ture

(ºC

)

0%RM 10%RM

20%RM 30%RM

22

23

24

25

26

27

28

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52

Age (h)

Tem

pera

ture

(ºC

)

0%RM 10%RM

20%RM 30%RM

(A) (B)

(C) (D)

Page 52: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

46

reações químicas intensas e rápidas ocorrem envolvendo as fases C3S, C3A e

C4AF. Além disso, a solubilidade dos aluminatos em soluções contendo sulfato é

reduzida [55]. Este efeito é mais acentuado quando se utiliza lama vermelha

calcinada a 450 ºC e 650 ºC, o que provavelmente significa que aluminatos estão

mais disponíveis na lama vermelha tratada nessas condições.

Depois de um período de dormência, a hidratação do cimento tende a

reiniciar e a liberação de calor é notada novamente. A presença de tal pico pode

estar relacionada à formação de etringita, das fases Ca(OH)2 e C-S-H, e

representam o processo de pega [17, 50]. A viscosidade da pasta aumenta, pois a

relação sólido/líquido aumenta [53].

Os resultados mostrados na Figura 16 podem ser melhor visualizados na

Figura 17. Em geral, a adição de lama vermelha acelera o processo de hidratação

(Figura 17a). O tempo necessário para atingir o pico também diminui em tais

casos, reforçando a idéia de melhorar a reatividade da mistura. Este efeito é mais

evidente pela adição de 30% de lama vermelha e com o uso da lama calcinada a

650 ºC. Quando calcinada a 650 ºC, o resíduo apresenta maior área superficial e

decomposições importantes ocorrem, uma vez que o caráter amorfo do material é

melhorado, realçando sua atividade pozolânica.

Apesar destes resultados favoráveis e da variação de tempo necessário para

atingir a temperatura máxima, tendo variado entre 5% (1000 ºC) e 75% (650 °C),

a temperatura máxima teve uma pequena variação, mostrando que, apesar de

acelerar o processo de hidratação do cimento, a atividade cimentícia de lama

vermelha é levemente aumentada, devido à calcinação.

Além disso, o uso da lama vermelha calcinada a 1000 °C g era diferenças

menores em comparação com a mistura de referência. O material mostra sinais

de recristalização (ver DRX da Figura 12) e sua área superficial específica

também diminui, tornando-se menos reativa. Como conseqüência da adição da

lama vermelha calcinada (Figuras 16b-d), a região entre o final do primeiro pico

("período de dormência") e o tempo para atingir o segundo pico da evolução de

temperatura aumentou. O valor máximo do segundo pico foi ligeiramente

aumentado (Figura 17b), devido à maior geração de calor devido à reação

pozolânica.

Page 53: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

47

Figura 17. (A) Tempo em que o pico de temperatura é registrado e (B) valores do

pico de temperatura em função do teor de lama vermelha.

O tempo de pega foi determinado de acordo com a norma NM NBR 65, sem

correção do teor de água necessário para obter uma pasta com "consistência

normal". A adição de lama vermelha tende a acelerar o processo de pega (Figura

18). O tempo de pega diminuiu com a adição de lama vermelha para todas as

temperaturas de calcinação e para a lama vermelha in natura. Este efeito pode

ser explicado pela sua elevada alcalinidade e devido à presença do hidróxido de

alumínio na lama, que deve causar uma descontrolada hidratação de aluminatos,

o que sugere que a maioria hidratação da fase C3S do cimento é atrasada, não

300,0

400,0

500,0

600,0

700,0

800,0

900,0

1000,0

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Teor de Lama Vermelha

Tem

po (

min

)

RM natural RM 450 ºC RM 650 ºC RM 1000 ºC

(A)

25,5

26,0

26,5

27,0

27,5

28,0

28,5

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Teor de Lama Vermelha

Tem

pera

tura

(ºC

)

RM natural RM 450 ºC RM 650 ºC RM 1000 ºC

(B)

Page 54: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

48

ocorrendo durante o período de ensaio. A reação severamente atrasada do C3S

pode causar um lento desenvolvimento da resistência. Além disso, devido à sua

finura, as partículas do resíduo também pode ser parcialmente responsáveis pela

retenção de água, concorrendo assim com cimento. Uma vez que o teor de água

foi constante em todas as formulações, a parte restante de água livre disponível

para combinação com as partículas de cimento foi consumida rapidamente.

0

100

200

300

400

500

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Teor de Resíduo (%)

Tem

po (m

in)

Início LV natural Fim LV natura Início LV 450 ºC Fim LV 450 ºC

Fim LV 1000 ºC Fim LV 650 ºC Start RM 1000 ºC End RM 1000 ºC

Figura 18 . Tempo de Pega das pastas de cimento Portland em função do teor de

lama vermelha (in natura e calcinada a 450ºC, 650ºC e 1000ºC), estimado para

misturas contendo uma quantidade fixa de água.

Pode-se notar que o tempo de pega foi reduzido para as pastas que

continham lama vermelha calcinada a 450 ºC e 650 °C, e m comparação com as

amostras que continham lama vermelha in natura e com a pasta de referência

(sem resíduo). Para as amostras contendo lama vermelha calcinada a 1000 °C,

ocorre um ligeiro aumento no tempo de pega. Esse comportamento é semelhante

ao observado para os ensaios de calorimetria (Figura 17a). Os processos de

hidratação do cimento são muito relacionados com a sua evolução de calor

portanto, é racional determinar o tempo de pega do cimento a partir da curva de

evolução de calor da argamassa.

Page 55: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

49

GE et.al [52] usaram a primeira derivada da curva de evolução de calor (P)

da em relação ao tempo (t), d(P)/d(t), obtida a partir dos dados originais de

evolução de calor. No momento em que a primeira derivada da curva atinge seu

maior valor, o aumento na taxa de geração de calor é o mais rápido. Este ponto

ocorre em torno do tempo onde ocorre o segundo pico de hidratação e deve estar

relacionado com o tempo de pega inicial. No ponto de inflexão, quando a

temperatura máxima ocorre, a taxa é zero e a geração de calor começa a

desacelerar. O tempo em que isto ocorre é definido como o tempo de pega final

dos materiais testados.

No entanto, a Figura 19 mostra que os "tempos de pega térmicos",

determinados a partir do método calorimétrico não apresentam boa correlação

linear com os tempos de pega determinados pelo tradicional método de Vicat (NM

NBR 65) com R2 em torno de 0,74. Este resultado mostra que a calorimetria pode

indicar qualitativamente as mudanças no tempo de pega. No entanto, não existe

uma boa correlação quantitativa.

y = 0,5959x - 129,6

R2 = 0,7359

0

50

100

150

200

250

300

350

400

300 400 500 600 700 800 900

Resultados Calorimétricos (min)

Tem

po d

e P

ega

- V

icat

(m

in)

Figura 19 . Relação entre os tempos de pega obtidos pela norma NM NBR 65

(método de Vicat) e por métodos calorimétricos.

As diferenças entre os resultados, provenientes dos dois métodos, podem

ser uma consequência dos fatos a seguir, de acordo com GE et.al [52]:

(1) Os dois métodos têm definições muito diferentes para o tempo de pega.

O método preconizado pela NM NBR 65 é baseado na força de

Page 56: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

50

penetração (agulha de Vicat), enquanto o método calorimétrico é

baseado na taxa de reação química, e

(2) Os dois métodos de ensaio usam amostras com diferentes condições

ambientais e de temperatura. Durante o teste de Vicat, as pastas são

testadas sob condições ambientes. Devido ao efeito semi-adiabático, a

temperatura das amostras testadas aumenta com o tempo. No entanto,

durante o teste de calorimetria, as amostras estavam em condições

ambientais controladas. A temperatura das amostras foi mantida

constante.

5.2.3 Propriedades Reológicas.

Quando a lama vermelha in natura foi adicionada, os valores de torque,

tensão de escoamento e viscosidade plástica aumentaram (Figuras 20 e 21). Em

geral, a maioria das amostras apresentaram baixa plasticidade durante o ensaio

e, em alguns casos, o ajuste pelo modelo de Bingham não foi ideal. O mesmo

comportamento é observado para argamassas contendo lama vermelha calcinada

a 450 ºC, 650 °C e 1000 ºC.

Figura 20. Valores de torque de argamassas contendo lama vermelha: (A) in

natura, e calcinada a (B) 450ºC, (C) 650°C, e (D) 10 00ºC.

Page 57: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

51

Figura 21. Valores de viscosidade plástica (h) e tensão de escoamento (g) de

argamassas contendo lama vermelha: (A) in natura, e calcinada a (B) 450ºC, (C)

650ºC, e (D) 1000ºC.

Como as partículas de lama vermelha são menores e possuem maior área

superficial do que os grãos de cimento Portland, estas reduzem a quantidade de

água livre necessária para lubrificar as partículas sólidas [5, 37]. Além disso, a

hidratação dos aluminatos e álcalis (presente na lama vermelha) é responsável

pelo endurecimento das argamassas [37, 56]. Como resultado, o atrito interno

entre as partículas aumenta e a plasticidade da mistura é reduzida.

O mesmo comportamento foi observado por PARK et al. [40], que

mostraram que adições minerais afetam significativamente a reologia dos

materiais cementícios no estado fresco, o que está diretamente relacionado com o

desenvolvimento de resistência, durabilidade e propriedades de engenharia das

estruturas. Tal fenômeno ocorre em misturas com menor trabalhabilidade inicial.

Além disso, as partículas ultra-finas em solução têm uma forte tendência a se

aglomerar, o que dificulta a fluência adequada da mistura. A rápida perda de

plasticidade resultou na redução do tempo de pega e não permitiu a identificação

clara do efeito pozolânico da lama vermelha.

Page 58: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

52

Argamassas contendo 20% de lama vermelha calcinada a 650 ºC

apresentaram menor plasticidade e, superaram o limite máximo do equipamento.

Em geral, as amostras de contendo lama vermelha calcinada a 1000 °C e 450 °C

apresentaram, respectivamente, os valores mínimo e máximo da tensão de

escoamento entre as amostras calcinadas. O menor diâmetro de partícula obtido

a 450 ºC e a menor área superficial verificada após calcinação a 1000 º C podem

ser considerados como responsáveis por estes resultados. Portanto, o

comportamento reológico das argamassas também é influenciado pela

temperatura de calcinação da lama vermelha. Tais diferenças são mais

significativas quanto maior for o maior percentual de lama vermelha adicionado.

Colisões entre partículas, formação de uma estrutura tridimensional após a

hidratação e concomitante redução da água livre disponíveis são as possíveis

causas para essa variação. Além disso, a tensão de escoamento é o parâmetro

reológico que melhor representa o efeito da quantidade de lama vermelha, uma

vez que a viscosidade plástica não mostra uma evolução definida ao longo do

teste.

Para avaliar o efeito da adição da lama vermelha em teores mais elevados,

foi utilizado o tradicional teste “flow table” (NBR 13276/2005). A Figura 22 mostra

os resultados do diâmetro de espalhamento após 15 e 30 golpes, em função do

teor de lama vermelha. As diferenças nos valores de espalhamento são

consideráveis com o maior teor de lama vermelha adicionada e mudanças

notórias no comportamento reológico são notadas. Assim como verificado nos

resultados obtidos por meio do reômetro, a trabalhabilidade, representada pelo

diâmetro de espalhamento sobre a mesa de fluxo (inversamente proporcional à

viscosidade plástica, h) diminuiu em função do teor de lama vermelha, para todas

as condições (sem tratamento e calcinada) e as amostras contendo lama

vermelha calcinada em 1000 °C apresentaram a melhor tr abalhabilidade entre as

amostras calcinadas.

De acordo com estudos de WALLEVIK [53], a diferença entre os resultados

do abatimento de tronco, “slump” (equivalente ao teste “flow table” para amostras

de concreto), e os resultados obtidos por meio do reômetro é que a gravidade

nem sempre pode superar esse tipo de obstáculo (devido ao peso insuficiente

para empurrar a massa de concreto para baixo), enquanto o motor de um

reômetro quase sempre pode.

Page 59: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

53

80

100

120

140

160

180

200

220

240

260

280

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Teor de Resíduo

Índi

ce d

e C

onsi

stên

cia

(mm

)

in natura 15 golpes in natura 30 golpes 450 ºC 15 golpes 450 ºC 30 golpes

650 ºC 15 golpes 650 ºC 30 golpes 1000 ºC 15 golpes 1000 ºC 30 golpes

Φ inicial

Figura 22. Diâmetro de espalhamento na “flow table”, após 15 e 30 golpes, em

função do teor de lama vermelha adicionada (in natura e calcinada 450ºC, 650ºC

e 1000ºC).

5.2.4 Expansibilidade (NBR 11582) e Reação Álcalis- agregado (RAA).

Uma grande preocupação quando se pensa em utilizar a lama vermelha

como adição em matrizes cimentícias é o fato de este resíduo apresentar um

elevado teor de álcalis, principalmente o sódio. Como mostrado na revisão de

literatura, a reação álcalis–sílica é altamente prejudicial à estrutura de matrizes

cimentícias.

A reação entre os hidróxidos alcalinos solubilizados na fase líquida dos

poros dos concretos e alguns agregados reativos é lenta e resulta em um gel que,

ao se acumular em vazios da matriz e na interface pasta-agregado, na presença

de água, se expande, exercendo pressão interna no material. Ao exceder a

resistência à tração, a pressão interna pode promover fissurações. A reação

álcali-agregado requer a atuação conjunta de água, agregado reativo e álcalis

[51].

Page 60: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

54

Assim, foram realizados testes para avaliar uma possível reação álcalis-

agregado. Escolheu-se o método das barras e o das agulhas de Le Chatelier por

serem os mais aceitos internacionalmente.

Para que os resultados fossem realçados, utilizou-se uma areia de elevada

reatividade. Assim, as amostras de referência (0%, sem resíduo) apresentaram

uma expansão média igual a 0,30% já aos 14 dias, chegando a 0,47% aos 28

dias. Esta expansão da amostra de referência já é bastante acima do valor

considerado “seguro” (0,10%) ou “duvidoso” (0,20%).

A adição da lama vermelha surpreendentemente reduziu a expansilibilidade

destas argamassas, provocada pela RAA. Para uma adição de 30%, inclusive, a

expansão aos 28 dias ficou abaixo dos 0,20%. Observa-se na Figura 23 que nos

instantes iniciais (primeiros cinco dias), a expansão dos corpos de prova contendo

lama vermelha foi mais acentuada do que as amostras de referência.

Aparentemente o Na+ livre presente na lama vermelha foi consumido nestes

primeiros instantes, na reação com o agregado reativo, favorecendo uma menor

expansão nos momentos seguintes.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

Tempo (dias)

Exp

ansã

o (%

)

0%

10%

20%

30%

Figura 23. Curvas de expansão das argamassas contendo lama vermelha como

adição, para a verificação da reação alcalis-sílica, de acordo com a norma ASTM

C 1260-07.

Page 61: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

55

Alguns autores [51, 57] já demonstraram que entre as alternativas para

reduzir a reação álcalis-sílica está a adição de materiais pozolânicos ativos.

Assim, a reatividade da lama com o cimento pode ter sido positivamente mais

significativa do que a elevada presença de álcalis, que contribui negativamente.

Possivelmente, o fato de a lama vermelha ser rica em sódio é pouco

relevante neste ensaio, já que a solução de contato (NaOH 1N) fornece sódio em

quantidade mais que suficiente para a RAA. Assim, as amostras têm expansão

superior ao limite dos 0,10% aos 14 dias, pois a quantidade de álcalis do material

pode ser mobilizada para o ataque de sílica reativa nas primeiras 48 horas antes

da argamassa ser imersa na solução de soda caustica.

A diminuição da expansão com adição sucessiva da lama vermelha pode ter

ocorrido devido a um efeito de diluição do teor de cimento, pois o cálcio é

fundamental no mecanismo da RAA, como demonstram os estudos de

BLESZYNSKISND et al. [58] e SHEHATA et al. [59]. A minimização da expansão,

relacionada à redução do teor de hidróxido de cálcio na argamassa, que diminuiu

com o aumento do teor de adições pozolânicas ativas no cimento, foi verificada

em extensivo estudo realizado por MUNHOZ [51].

Resultados semelhantes aos apresentados na Figura 23 haviam sido

obtidos por GARCÍA-LODEIRO et al. [57] que, ao adicionarem cinzas volantes

(material pozolânico) ao concreto, observaram uma expansão menor em

comparação às amostras de referência. Coincidentemente, os estudos de

MUNHOZ [51] mostram que o teor mínimo de adição de pozolana ativa para que

a reação álcali-agregado seja mitigada é entre 10% e 15%. No presente estudo foi

observado que este valor é de cerca de 20%. Assim, realizaram-se testes com a

lama vermelha calcinada apenas neste teor de 20%, por limitações de material

(areia reativa). Estes resultados são apresentados na Figura 24.

Observa-se que a expansão das amostras contendo lama vermelha

calcinada a 450 ºC e 650 ºC é ligeiramente superior à das amostras contendo

lama vermelha in natura. No entanto, esta expansão é consideravelmente inferior

à das amostras de referência (sem o resíduo), a partir dos 10 dias de ensaio.

Como era de se esperar, a expansibilidade para amostras contendo lama

vermelha calcinada a 1000 ºC é pouco significativa, uma vez que nesta

Page 62: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

56

temperatura de calcinação, o material apresenta-se altamente cristalino e com

menor reatividade.

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

Tempo (dias)

Val

or d

a E

xpan

são

(%)

Ref

20% LV

20% LV /450º C

20% LV /650º C

20% LV /1000º C

Figura 24. Curvas de expansão das argamassas de referência e das argamassas

contendo lama vermelha (in natura e calcinada a 450ºC, 650ºC e 1000ºC), no teor

de 20% de adição, para a verificação da reação alcalis-sílica, de acordo com a

norma ASTM C 1260-07.

Além do método das barras, buscou-se avaliar as possíveis reações

expansivas, resultantes da utilização da lama vermelha, por meio do método de

expansibilidade de Le Chatelier. Os resultados obtidos são apresentados na

Figura 25.

Como descrito anteriormente, a expansibilidade a frio tem como objetivo

verificar a influência do MgO e a expansibilidade a quente visa verificar a

influência do CaO. Assim, ao contrário do esperado para o método das barras, a

substituição do cimento Portland pela lama vermelha tende a reduzir a

expansibilidade de Le Chatelier, uma vez que os teores de MgO (0,34%) e CaO

(4,6%) neste resíduo são consideravelmente inferiores aos encontrados no

cimento Portland (4% e 56%, respectivamente).

Page 63: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

57

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

1,80

0% 10% 20% 30%

Teor de Resíduo (%)

Exp

ansi

bilid

ade

de L

e C

hate

lier (

mm

)Expansibilidade a Frio

Expansibilidade a Quente

Figura 25. Expansibilidade de pastas de cimento Portland contendo diversos

teores de lama vermelha, obtidos por meio das agulhas de Le Chatelier, de

acordo com a norma NBR 11582.

Esta expectativa foi confirmada pelos resultados obtidos, que mostram uma

evidente redução da expansibilidade para as duas condições de ensaio. Como

esperado, a expansibilidade a frio é muito baixa, uma vez que tanto a lama

vermelha quanto o cimento apresentam baixos teores de MgO e a expansibilidade

a quente apresenta uma queda acentuada de 1,12% (referência) para 0,51%

(30% de lama vermelha), o que reflete a diferença considerável nos teores de

CaO entre o cimento Portland e o resíduo (56,0% contra 4,6%).

Assim como realizado no teste anterior, verificou-se a expansibilidade, por

meio das agulhas de Le Chatelier, nas amostras de pastas de cimento Portland

contendo adição de 20% de lama vermelha in natura e calcinada a 450 ºC, 650 ºC

e 1000 ºC. Estes resultados são apresentados na Figura 26. Devido à pequena

variação nos teores de MgO e CaO após a calcinação da lama vermelha (ver

Tabela 2), não foram verificadas alterações significativas na expansão, que sofreu

apenas uma leve redução.

Page 64: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

58

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

Referência natural 450 ºC 650 ºC 1000 ºC

Temperatura de calcinação (ºC)

Exp

ansi

bilid

ade

de L

e C

hate

lier (

mm

)Expansibilidade a Frio

Expansibilidade a Quente

Figura 26. Expansibilidade de pastas de cimento Portland de referência e das

pastas contendo lama vermelha (in natura e calcinada a 450ºC, 650ºC e 1000ºC),

no teor de 20% de adição, para a verificação da reação alcalis-sílica, por meio das

agulhas de Le Chatelier, de acordo com a norma NBR 11582.

O que chamou a atenção foi a brusca queda na expansão a quente para as

pastas contendo lama vermelha calcinada a 1000 ºC. Este comportamento pode

ser justificado pela maior cristalinidade e, conseqüentemente, menor reatividade

(assim como justificado para a menor expansibilidade segundo o método das

barras, ASTM C 1260-07). A redução da área superficial de cerca de 21,0 m2/g

para a lama vermelha in natura e calcinada a 450 ºC e 650 ºC para cerca de

3,6 m2/g para a lama vermelha calcinada a 1000 ºC (ver Tabela 1) foi

preponderante para este resultado, contribuindo para a redução na reatividade do

material.

Assim, podemos observar que as reações expansivas dos álcalis presentes

na lama vermelha (Na+ e Ca+) não comprometem o uso deste resíduo em

substituição parcial do cimento Portland para aplicações secundárias.

Page 65: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

59

5.2.5 Resistência Mecânica.

A Figura 27 mostra a evolução da resistência à compressão das amostras

moldadas segundo a norma NBR 7215 e contendo uma quantidade crescente de

lama vermelha em substituição ao cimento Portland, após 3, 7 e 28 dias de cura.

Como esperado, a resistência mecânica diminui com o aumento dos níveis de

substituição do cimento, uma vez que a lama vermelha tem limitadas

características hidráulicas e, como visto anteriormente, apresenta apenas uma

leve atividade pozolânica. Esse decréscimo é significativo para as amostras

contendo 30% de lama vermelha, chegando a cerca de 60% do valor obtido para

a amostra de referência, aos 28 dias (12,50 MPa contra 31,58 MPa,

respectivamente).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

Idade (dias)

Res

istê

ncia

Axi

al (

MP

a)

0%10%20%30%

Figura 27. Resistência mecânica (compressão axial) dos corpos de prova de

argamassas contendo quantidades crescentes de lama vermelha em substituição

ao cimento Portland e moldados segundo a NBR 7215/97.

Contrariamente ao observado nos ensaios de verificação da atividade

pozolânica pelo método químico, que se mostraram bastante positivos, a

substituição parcial (20%) do cimento Portland pela lama vermelha não

apresentou resultados satisfatórios, conforme se pode observar na Figura 28. A

queda de resistência entre as amostras de referência e as amostras contendo

Page 66: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

60

20% de lama vermelha calcinada a 1000 ºC foi de, aproximadamente, 28,5%

(31,58 MPa contra 22,55 MPa, respectivamente).

5

10

15

20

25

30

35

40

Referência LV natural 450ºC 650ºC 1000ºC

Temperatura de Calcinação (ºC)

Res

istê

ncia

Axi

al (M

Pa)

3 dias

7 dias

28 dias

Figura 28. Resistência mecânica dos corpos de prova de argamassas contendo

20% de lama vermelha (in natura e calcinada a 450 ºC, 650 ºC e 1000 ºC), em

substituição ao cimento Portland e moldados segundo a NBR 7215/97.

Na Tabela 13 são apresentados os índices de resistência mecânica das

argamassas contendo lama vermelha em seus diversos teores (in natura e

calcinada), tendo como referência as amostras sem a presença do resíduo, aos

28 dias.

Tabela 13. Índices de resistência mecânica das argamassas contendo lama

vermelha em seus diversos teores (in natura e calcinada), tendo como referência

as amostras sem a presença do resíduo, aos 28 dias.

Amostra Referência (0%)

10% natural

20% natural

30% natural

20% 450 ºC

20% 650 ºC

20% 1000 ºC

Índice 1,00 0,93 0,87 0,40 0,82 0,74 0,71

Para este fenômeno, devem-se considerar dois efeitos simultâneos: i) a

adição da lama vermelha provoca alterações reológicas, como visto anteriormente

Page 67: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

61

nas argamassas, dificultando o empacotamento e, conseqüentemente,

aumentando a porosidade total e; ii) a adição da lama vermelha, devido à sua

atividade pozolânica, elevado teor de sódio e elevado pH tendem a criar uma

matriz mais densa e resistente.

Estes dois fatores afetam negativamente (i) e positivamente (ii) a resistência

mecânica, respectivamente. Assim, verifica-se que os efeitos negativos da adição

da lama vermelha se tornam mais evidentes à medida que uma maior quantidade

é adicionada, com uma redução da resistência.

Com o intuito de observar outro aspecto da presença da lama vermelha nas

argamassas, foram moldados novos corpos de prova, utilizando o mesmo traço

dos ensaios reológicos (1,0 : 3,0 : 0,6, cimento : areia : água), e adicionando a

lama vermelha (in natura e calcinada) nos teores de 10%, 20% e 30%. Assim,

além da lama vermelha entrar como uma adição mineral (ao invés de substituir o

cimento), foi aumentada a relação água/cimento (de 0,48, segundo a NBR 7215,

para 0,60), permitindo um molhamento mais uniforme das partículas e,

conseqüentemente, uma melhor moldabilidade. Os resultados são apresentados

na Figura 29.

15

17

19

21

23

25

27

29

31

33

35

0% 10% 20% 30%

Teor de Resíduo (%)

Res

istê

ncia

Axi

al (

MP

a)

natural

450 ºC

650 ºC

1000 ºC

Figura 29. Resistência mecânica dos corpos de prova de argamassas contendo

adição de lama vermelha (in natura e calcinada a 450 ºC, 650 ºC e 1000 ºC), em

função do teor adicionado.

Page 68: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

62

Observa-se um aumento da resistência mecânica com a adição da lama

vermelha, principalmente quando calcinada a 1000 ºC. IKEDA apud GORDON et

al. [12] já haviam encontrado valores satisfatórios de resistência mecânica para

compósitos de cimento Portland contendo lama vermelha como adição. Segundo

PINNOCK & GORDON [60] e MAJUMDAR et al. [61], o óxido de cálcio reage com

a alumina presente na lama vermelha para a produção de aluminatos de cálcio

(CA e, possivelmente, C5A3). Estes também se hidratam para produzir compostos

cimentícios em reações que são bastante conhecidas por serem responsáveis

pela resistência das argamassas de cimento com elevado teor de alumina. De

acordo com DELAGRAVE et al. apud PRUCKNER & GJØRV [62], a resistência à

compressão de matrizes cimentícias aumenta com uma maior concentração de

hidróxido de sódio, pois a adição de NaOH origina uma rede de poros mais finos.

Estes resultados confirmam a possibilidade de utilização da lama vermelha

como substituto parcial para o cimento Portland em argamassas utilizadas em

atividades não estruturais ou secundárias.

6 CONCLUSÕES

A partir dos resultados e das discussões apresentadas anteriormente,

podemos concluir que:

A lama vermelha parece ser especialmente ativa se pré-calcinada a

temperaturas entre 650 ºC e 1000 ºC, quando mostra uma evidente ação

pozolânica com um decréscimo na concentração de CaO na solução e um

aumento simultâneo da concentração de íons [OH-].

A calcinação muda a composição das fases do material, principalmente por

promover a eliminação de fases hidratadas, e melhora seu caráter amorfo. Os

parâmetros físicos, tais como a área superficial e densidade são afetados e

também podem determinar a evolução microestrutural de argamassas após a

cura.

Quando a lama vermelha in natura foi adicionado, os valores de torque,

tensão de escoamento e a viscosidade plástica aumentaram. No estado fresco,

argamassas contendo 20% e 30% de lama vermelha calcinada a 450 ºC e 650 ºC

são menos plásticas e mostram trabalhabilidade ruim. O menor diâmetro de

Page 69: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

63

partícula obtido a 450 ºC e a menor área de superficial obtidos após calcinação a

1000 ºC podem ser considerados como responsáveis por estes resultados. Assim

como nos resultados obtidos por meio do reômetro, a trabalhabilidade,

representada pelo espalhamento sobre a mesa de fluxo (inversamente

proporcional à viscosidade plástica) diminuiu em função do teor de lama

vermelha, para todas as condições (sem tratamento e calcinada).

A presença de lama vermelha acelera o processo de hidratação (diminui o

tempo de pega), devido ao leve caráter hidráulico de lama vermelha e a

temperatura máxima de reação tem uma pequena variação, mostrando que,

apesar de acelerar o processo de hidratação do cimento, a atividade de cimento

de lama vermelha é um pouco maior devido à calcinação. Isto ocoore devido à

elevada alcalinidade da lama vermelha e à presença do hidróxido de alumínio.

O teste de calorimetria pode indicar qualitativamente as alterações no tempo

de pega. No entanto, não há uma boa relação quantitativa.

Contrariamente ao esperado, a lama vermelha não aumenta a reação álcalis-

agregado (RAA) nas argamassas. Este fenômeno pode estar associado a um

efeito de diluição do teor de cimento, pois o cálcio é fundamental no mecanismo

da RAA.

A presença da lama vermelha proporciona uma redução na expansibilidade

das agulhas de Le Chatelier, proveniente da reação com o MgO e o CaO para as

duas condições de ensaio (a frio e a quente);

As reações expansivas dos álcalis presentes na lama vermelha (Na+ e Ca+)

não comprometem o uso deste resíduo em substituição parcial do cimento

Portland para aplicações secundárias.

A resistência mecânica das argamassas contendo lama vermelha diminui

com o aumento dos níveis de substituição do cimento, uma vez que a lama

vermelha tem limitadas características hidráulicas e, como visto anteriormente,

apresenta apenas uma leve atividade pozolânica. Além disso, devido à sua

elevada finura, a lama vermelha provoca alterações reológicas, dificultando o

empacotamento e, conseqüentemente, aumentando a porosidade total.

Quando adicionada às argamassas de cimento Portland, a lama vermelha

proporciona um aumento da resistência mecânica, principalmente quando

calcinada a 1000 ºC. Este resultado pode estar associado com a reação entre o

óxido de cálcio e a alumina presente na lama vermelha e conseqüente produção

Page 70: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

64

de aluminatos de cálcio (CA e, possivelmente, C5A3). Além disso, a resistência à

compressão de matrizes cimentícias aumenta com uma maior concentração de

hidróxido de sódio, pois a adição de NaOH origina uma rede de poros mais finos.

Estes resultados confirmam a possibilidade de utilização da lama vermelha

como substituto parcial para o cimento Portland em argamassas utilizadas em

atividades não estruturais ou secundárias ou como uma adição mineral de

excelente desempenho.

Page 71: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

65

7 REFERÊNCIAS

[1] ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2008 .

Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/download_2008.php>. Acesso

em: 17 fev. 2010.

[2] SINGH M.; UPADHAYAY S.N.; PRASAD P.M. Preparation of special

cements from red mud. Waste Management 16 (8) (1996): 665-670.

[3] GLASSER, F.P. Fundamental aspects of cement solidification and

stabilization. Journal of hazardous Materials , 1997, n. 52, 151-170.

[4] SINGH M.; UPADHAYAY S.N.; PRASAD P.M. Preparation of iron rich

cements using red mud. Cement Concrete Research 27 (7) (1997): 1037-

1046.

[5] TSAKIRIDS P.E.; AGATZINI-LEONARDOU S.; OUSTADAKIS P. Red mud

addition in the raw meal for the production of Portland cement clinker.

Journal of Hazardous Materials B116 (2004): 103-110.

[6] CABEZA, M.; COLLAZO A.; NOVOA, X.R; PÉREZ, M.C. Red mud as a

corrosion inhibitor for reinforced concrete. The Journal of Corrosion

Science and Engineering , 2003, v. 6, p. 1-4.

[7] AMRITPHALE S.S. et al. A novel process for making radiopaque materials

using bauxite—Red mud, Journal of the European Ceramic Society .

2007; 27(4): 1945–1951

[8] AMRITPHALE S.S.; PATEL M. Utilisation of red mud, fly ash for

manufacturing bricks with pyrophyllite. Silicates Ind . 1987; 2(3–4): 31–35.

[9] VINCENZO M.S.; RENZ C.; STEFANO M.; GIOVANNI C. Bauxite red mud in

the ceramic industry. Part 2: production of clay based ceramics. Journal of

the European Ceramic Society . 2000; 20(3): 245–252.

[10] YALCIN N.; SEVNIC V. Utilization of bauxite waste in ceramic glazes.

Ceramics International . 2000; 26(5): 485–493.

[11] ASOKAN P.; SAXEAN M.; ASOLEKAR S.R. Coal combustion residues-

environmental implications and recycling potentials. Resources ,

Conservation and Recycling . 2005; 43(3): 239–262.

Page 72: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

66

[12] GORDON J.N.; PINNOCK W.R.; MOORE M.M. A preliminary investigation of

strength development in Jamaican red mud Composites. Cement and

Concrete Composites . 1996; 18(6): 371-379.

[13] DOW C.; GLASSER F.P. Alkali releases from crushed minerals and

thermally activated constituents of metakaolin. Advances in Cement

Research , 2003; 15(4), 137-143.

[14] YOGANANDA M.R.; JAGADISH K.S. Pozzolanic properties of rice husk ash,

burnt clay and red mud. Building and Environmental , 1988; 23(4), 303-

308.

[15] COOK D.J.; PAMA R.P.; PAUL B.K. Rice husk ash-lime-cement mixes for

use in masonry units. Building and Environmental ., 1977, 12(4), 281-288.

[16] PERA J.; BOUMAZA R.; AMBROISE J. Development of a pozzolanic

pigment from red mud. Cement and Concrete Research , 1997, 27(10),

1513-1522.

[17] MEHTA, P.K.; MONTEIRO, P.J.M. Concreto: estrutura, propriedades e

materiais. São Paulo, Ed. PINI, 1994, 249 p.

[18] BAUER, L.A.F. Materiais de Construção 1 , 5. ed. Rio de Janeiro: LTC.

1994, 435 p.

[19] SMITH, F.S. Princípios de ciência e engenharia dos materiais . Editora

McGraw-Hill, Portugal, 1996, 892 p.

[20] ROBERTO, F.A.C. Cimento , Balanço Mineral Brasileiro 2001. Brasília,

2001.

[21] NEVILLE, A.M. Propriedades do concreto . Traduzido por Salvador E.

Giammusso. Editora PINI, São Paulo, 1982.

[22] LEA, F.M. The Chemistry of Cement and Concrete . Chemical Publishing

Company, New York, 1971.

[23] TAYLOR, H.F.W. Cement Chemistry . Academic Press, London, 1990.

[24] ABAL – Associação Brasileira do Alumínio. O alumínio: aluminio primário.

Disponível em: <www.abal.org.br/aluminio/producao/alupri. asp>. Acesso

em: 13 mai. 2011.

[25] CONSTANTINO, V.R.L.; ARAKI, K.; SILVA, D.O. et al. Preparação de

compostos de alumínio a partir da bauxita: considerações sobre alguns

aspectos envolvidos em um experimento didático. Química Nova , maio

2002, 25 (3), p. 490-498.

Page 73: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

67

[26] IBRAM – Brazilian Mining Association (2009). Bauxita . Disponível em:

<http://www.ibram.org.br/ sites/1300/1382/00000033.pdf>. Acesso em: 15

mai., 2011.

[27] PASCOAL, C.; PANDOLFELLI, V.C. Refractory bauxites: chemical

composition, phases and properties - Part I. Cerâmica , Abr./Mai/Jun. 2000,

vol. 46, n. 298, p. 76-82.

[28] WORLD ALUMINIUM. Bauxite Residue . Disponível em: <www.world-

aluminium.org/ environmen/challenges/residue.html>. Acesso em: 13 mai.

2011.

[29] RANGAN, B.V.; HARDJTO, D. Development and properties of low calcium

fly ash based geopolymer concrete. Research report GC-1 , Faculty of

Engineering, Curtins University of Technology, Perth, Australia, 2005.

[30] SCRIVENER, K.L.; KIRKPATRICK, R.J. Innovation in use and research on

cementitious material, 12th International Congress of Chemistry of Cement,

Montreal. Anais… Montreal, Canadá, 2007.

[31] NAIK T. Sustainability of concrete construction. ASCE Practice Periodical

on Structureal Design and Construction , 2008; 13(2), 98-103.

[32] RIBEIRO, D.V.; LABRINCHA, J.A.; MORELLI, M.R. Study of rheological

properties and hydration of red mud-ordinary Portland cement mortars.

Submetido à Construction and Building Materials em junho de 2011.

[33] SONG, S.; SOHN D.; JENNINGS, H.M.; MASON, T.O. Hydration of alkali-

activated ground granulated blast furnace slag. Journal of Materials

Science , 2000, 35, 249-257.

[34] SONG, S.; JENNINGS, H.M. Pore solution chemistry of alkali-activated

ground granulated blast-furnace slag, Cement and Concrete Research ,

1999; 29, 159-170.

[35] WALLEVIK, J.E. Relationship between the Bingham parameters and slump.

Cement and Concrete Research , 2006; 36, 1214–1221.

[36] BOUVET, A.; GHORBEL, E.; BENNACER, R. The mini-conical slump flow

test: Analysis and numerical study. Cement and Concrete Research , 2010;

40, 1517–1523.

[37] CASTRO A.L., LIBÓRIO J.B.L., PANDOLFELLI V.C.. Review article:

Rheology of high performance concretes applied in building site. Cerâmica ,

2011; 57, 63-75.

Page 74: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

68

[38] BANFILL, P.F.G. Rheological methods for assessing the flow properties of

mortar and related materials. Construction and Building Materials , 1994;

8, 43–50.

[39] BANFILL, P.F.G. The rheology of fresh cement and concrete – a review. In;

11th international cement chemistry congress, Durban. Anais… Durban,

Africa do Sul, 2003. p. 50–62.

[40] PARK C.K., NOH, M.H.; PARK, T.H. Rheological properties of cementitious

materials containing mineral admixtures. Cement and Concrete Research ,

2005; 35, 842–849.

[41] REIS, M.O.B; SILVA, A.M.S. Reacções álcalis-sílica: recomendações

gerais para prevenir a deterioração do betão. Lisboa: Laboratório Nacional

de Engenharia Civil, 1997, 27 p. (Boletim Técnico. ITCM 23).

[42] SICHIERI, P.E. et al. Materiais de construção 1. São Carlos: Editora USP,

2008, 271 p.

[43] ANDRIOLO, F.R. Observação de estruturas de concreto: Validade quanto à

ocorrência da reação alkali-agregado. In: SIMPÓSIO SOBRE

REATIVIDADE ÁLCALI-AGREGADO EM ESTRUTURAS DE CONCRETO,

1997. Goiânia. Proceedings… Goiânia: IBRACON, 1997, 14p.

[44] MUNHOZ, F.A.C. Efeito de adições ativas na mitigação das reações

álcali-sílica e álcali-silicato . 2008. 166p. Dissertação (Mestrado em

construção civil) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São

Paulo, 2008.

[45] RIVARD, P.; et al. Decrease of pore solution alkalinity in concrete tested for

alkali-silica reaction. Materials and Structures , 2007; 40(9), 909–921.

[46] USHEROV-MARSHAK, A.V.; KRIVENKO, P.V.; PERSHINA, L.A. The role of

solid-phase basicity on heat evolution during hardening of cements. Cement

and Concrete Research , 1998, 28(9), 1289–1296.

[47] WANG, Y.; YU, G.; DENG, M.; TANG, M.; LU, D. The use of thermodynamic

analysis in assessing alkali contribution by alkaline minerals in concrete.

Cement and Concrete Composites , 2008, 30, 353–359.

[48] WANG, S.D.; SCRIVENER, K.L. Hydration products of alkali activated slag

cement. Cement and Concrete Research , 1995, 25(3), 561-571.

Page 75: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

69

[49] LIU, W.; YANG, J.; XIAO, B. Application of Bayer red mud for iron recovery

and building material production from alumosilicate residues. Journal of

Hazardous Materials , 2009, 161, 474–478.

[50] MOYD, L. Petrology of the nepheline and corundum rocks of

southeastern Ontario. 741-742, 1959. Disponível em: <www.minsocam.org

/ammin/AM34/AM34_736.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2011.

[51] MINDESS, S.; YOUNG, J.S.; DARWIN D. Concrete , 2nd ed., Editora

Prentice Hall, New Jersey, 2003.

[52] GE, Z.; WANG, K.; SANDBERG, P.J.; RUIZ, J.M. Characterization and

performance prediction of cement-based materials using a simple isothermal

calorimeter, Journal of Advanced Concrete Technology , 2009; 7(3), 355-

366.

[53] LAWRENCE, P.; CYR, M; RINGOT, E. Mineral admixtures in mortars: effect

of inert materials on short-term hydration. Cement and Concrete Research ,

2003; 33, 1939–1947.

[54] NACHBAUR L, NKINAMUBANZI PC, NONAT A, MUTIN JC. Electrokinetic

properties which control the coagulation of silicate cement suspensions

during early ages hydration. Journal of Colloid and Interface Science ,

1998; 202(2), 261–268.

[55] VERBECK, G.J.; FOSTER, C.W. Long-Time Study of Cement

Performance in Concrete: Chapter 6 - The Heats of Hydration of the

Cements. Proceedings - American Society for Testing and Materials, 1950,

50, 1235-1262.

[56] GARCIA, C.G.R.; SANTOS, E.M.B.; RIBEIRO, S. Effect of the curing time on

the stiffness of mortars produced with Portland cement. Cerâmica , 2011; 57,

94-9.

[57] GARCÍA-LODEIRO, I.; PALOMO, A.; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ, A. Alkali–

aggregate reaction in activated fly ash systems. Cement and Concrete

Research , 2007; 37(2), 175–183.

[58] BLESZYNSKISND, R.F.; THOMAS, M.D.A. Microstructural studies of alkali–

silica reaction in Fly-ash Concrete immersed in alkaline solutions. Advanced

Cement Based Materials . 1998; 7(2), 766–778.

Page 76: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

70

[59] SHEHATA, M.H.; THOMAS, M.D.A. The effect of fly ash composition on the

expansion of concrete due to alkali–silica reaction. Cement and Concrete

Research , 2000; 30(7), 1063–1072.

[60] PINNOCK, W.R.; GORDON, J.N. Assessment of strength development in

Bayer process residues. Journal of Material Science , 1992; 27(3), 692-

696.

[61] MAJUMDAR, A.J.; SINGH, B.; EDMONDS, R.N. Hydration of mixtures of

cement aluminous cement and granulated blast furnace slag. Cement and

Concrete Research , 1990; 20(2), 197-208.

[62] PRUCKNER, F.; GJØRV, O. E. “Effect of CaCl2 and NaCl additions on

concrete corrosivity”. Cement and Concrete Research , 2004, 34(7), 1209–

1217.

Page 77: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

71

8 PUBLICAÇÕES ASSOCIADAS AO PROJETO DE PÓS-DOUTORAD O.

8.1 Eventos Científicos.

Maiores detalhes a respeito dos artigos desta seção podem ser obtidos no

anexo A do Relatório de Aplicação dos Recursos de Reserva Técnica.

• RIBEIRO, D. V., MORELLI, M.R. Cementitious activity of calcined red

mud. Anais do 10th Annual International Conference on Sustainable

Construction and Pavement Enginnering , p. 39. Liverpool, Inglaterra,

2011.

• RIBEIRO, D. V., MORELLI, M.R. Use of red mud as addition for

Portland cement mortars. Anais do 55º Congresso Brasileiro de Cerâmica .

Porto de Galinhas, Brasil, 2011.

8.2 Publicações em Periódicos.

Maiores detalhes a respeito dos artigos desta seção podem ser obtidos nos

anexos B, C e D do Relatório de Aplicação dos Recursos de Reserva Técnica.

8.2.1 Artigos Publicados.

• RIBEIRO, D. V., LABRINCHA, J. A., MORELLI, M.R. Use of Red Mud

as Addition for Portland Cement Mortars. Journal of Materials Science

and Engineering (USA) , v.4, n. 8, p. 1-9, 2010.

• RIBEIRO, D. V., LABRINCHA, J.A., MORELLI, M.R. Potential use of

natural red mud as pozzolan for Portland cement. Materials Research

(São Carlos. Impresso), v.14, n. 1, p. 60-66, 2011.

8.2.2 Artigo Aceito para Publicação.

• RIBEIRO, D. V., MORELLI, M.R. Cementitious activity of calcined red

mud. International Journal of Pavement Enginnering and A sphalt

Technology. Aceito em março de 2011.

Page 78: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO NAS …³rio Final Pós-Doc... · milhões de toneladas no Brasil) durante o processo de produção de alumínio, no beneficiamento da bauxita,

72

8.2.3 Artigos Submetidos à Publicação.

• RIBEIRO, D. V., LABRINCHA, J. A., MORELLI, M.R. Effect of calcined

red mud addition on the hydration of Portland cement. Submetido à

Materials Letters em março de 2011.

• RIBEIRO, D. V., LABRINCHA, J. A., MORELLI, M.R. Study of

rheological properties and hydration of red mud-ordinary Portland cement

mortars. Submetido à Construction and Building Materials em junho de

2011.