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REVISTA DE IBEROAMERICANA DE PSICOLOGÍA DEL EJERCICIO Y EL DEPORTE Vol. 4, nº 1, pp. 75-92 ISSN: 1886-8576 RESUMO: O objetivo do estudo foi verificar os efeitos imediatos da caminhada, da musculação e de exercícios de alongamento sobre os níveis de dor e o número de sintomas de estresse em mulheres portadoras de fibromialgia. Seis mulheres com fibromialgia foram submetidas a quatro situações experimentais (com duração de 30 minutos cada) em dias diferentes: controle, camin- hada em esteira, musculação e exercícios de alongamento. Antes do início e após o término de cada atividade as participantes responderam a dois questionários, o primeiro para indicar a inten- sidade de dor e o segundo para verificação do número de sintomas de estresse. Os resultados foram analisados estatisticamente por ANOVA e teste post hoc de Newman-Keuls (p<0,05). Embora as participantes do estudo tenham apresentado estresse (fase de resistência), não foram observadas influências significativas de nenhuma das condições de esforço sobre o nível de dor e o número de sintomas de estresse. PALAVRAS-CHAVE: fibromialgia, estresse, dor, exercício. ABSTRACT: The aim of this study was to verify the acute effects of walking, weight lifting and stretching exercise on pain level and the stress symptoms number in women with fibromyalgia. Six women diagnosed with fibromyalgia were submitted to four experimental conditions (30 minutes each one) in different days: control, walking in treadmill, weight lifting and stretching exercise. Before and after each condition, participants asked two questionnaires to indicate the 75 INFLUÊNCIA AGUDA DA CAMINHADA, MUSCULAÇÃO E ALONGAMENTO NOS NÍVEIS DE DOR E NÚMERO DE SINTOMAS DE ESTRESSE DE MULHERES PORTADORAS DE FIBROMIALGIA Fábio Edson Cremasco Leite 1 , Priscila Carneiro Valim-Rogatto 1 y Gustavo Puggina Rogatto 1 , 2 Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício. Universidade Federal de Lavras 1 y Laboratório de Investigação e Estudos sobre Metabolismo de Exercício Físico. Universidade Federal de Lavras 2

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REVISTA DE IBEROAMERICANA DE PSICOLOGÍA DEL EJERCICIO Y EL DEPORTEVol. 4, nº 1, pp. 75-92 ISSN: 1886-8576

RESUMO: O objetivo do estudo foi verificar os efeitos imediatos da caminhada, da musculaçãoe de exercícios de alongamento sobre os níveis de dor e o número de sintomas de estresse emmulheres portadoras de fibromialgia. Seis mulheres com fibromialgia foram submetidas a quatrosituações experimentais (com duração de 30 minutos cada) em dias diferentes: controle, camin-hada em esteira, musculação e exercícios de alongamento. Antes do início e após o término decada atividade as participantes responderam a dois questionários, o primeiro para indicar a inten-sidade de dor e o segundo para verificação do número de sintomas de estresse. Os resultadosforam analisados estatisticamente por ANOVA e teste post hoc de Newman-Keuls (p<0,05).Embora as participantes do estudo tenham apresentado estresse (fase de resistência), não foramobservadas influências significativas de nenhuma das condições de esforço sobre o nível de dore o número de sintomas de estresse.

PALAVRAS-CHAVE: fibromialgia, estresse, dor, exercício.

ABSTRACT: The aim of this study was to verify the acute effects of walking, weight lifting andstretching exercise on pain level and the stress symptoms number in women with fibromyalgia.Six women diagnosed with fibromyalgia were submitted to four experimental conditions (30minutes each one) in different days: control, walking in treadmill, weight lifting and stretchingexercise. Before and after each condition, participants asked two questionnaires to indicate the

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INFLUÊNCIA AGUDA DA CAMINHADA, MUSCULAÇÃO E ALONGAMENTO NOS NÍVEIS DE DOR E NÚMERO DE

SINTOMAS DE ESTRESSE DE MULHERES PORTADORAS DE FIBROMIALGIA

Fábio Edson Cremasco Leite1, Priscila Carneiro Valim-Rogatto1 yGustavo Puggina Rogatto1,2

Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício. UniversidadeFederal de Lavras1 y Laboratório de Investigação e Estudos sobreMetabolismo de Exercício Físico. Universidade Federal de Lavras2

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pain intensity and to verify the stress symptoms number. The results were analyzed by ANOVAand Newman-Keuls post hoc test (p<0,05). Even the participants presented stress (resistancephase), no significant influences of physical stimulus were observed on the pain level and thestress symptoms number.

KEYWORDS: fibromyalgia, stress, pain, exercise.

RESUMEN: El objetivo del estudio era verificar el efecto inmediato de la caminata, de la mus-culación y de ejercicios de estiramiento en los niveles de dolor y el número de síntomas de estrésen mujeres con fibromialgia. Se sometieron seis mujeres con fibromialgia a cuatro situacionesexperimentales (con una duración de 30 minutos cada una) en diversos días: control, caminataen estera, musculación y ejercicios de estiramiento. Antes del comienzo y al final de cada activi-dad los participantes contestaron dos cuestionarios, primero para indicar la intensidad del dolory segundo para verificar el número de síntomas de estrés. Los resultados fueron analizados esta-dísticamente por ANOVA y por la prueba post hoc de Newman-Keuls (p<0,05). Aunque losparticipantes del estudio han presentado estrés (fase de la resistencia), las influencias significati-vas de algunas de las condiciones del esfuerzo en el nivel de dolor y el número de síntomas deestrés no fueron observados.

PALABRAS CLAVE: fibromialgia, estrés, dolor, ejercicio.

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Fábio Edson Cremasco Leite, Priscila Carneiro Valim-Rogatto y Gustavo Puggina Rogatto

INTRODUÇÃOA fibromialgia é uma síndrome que

tem como característica dor músculo-esquelética difusa em sítios sensíveis àpalpação, chamados tender points (Haun etal, 2001; Pollak, 1999). Ela é consideradauma síndrome, uma vez que englobavárias manifestações que podem ocorrersimultaneamente em diferentes indiví-duos. A dor é considerada difusa porqueabrange pontos acima e abaixo da cintu-ra, tanto do lado direito quanto esquer-do do corpo.

O termo fibromialgia foi criado paraexpor várias condições desta síndrome.Fibro é derivado do latim, e significa liga-mentos, tendões, tecido fibroso. O radi-cal mio, que vem do grego, significa teci-

do muscular. Ainda do grego, algos signi-fica dor e ia uma condição. Portanto,fibromialgia significa uma condiçãodolorosa que provém de tendões, liga-mentos e músculos (Prando e Rogatto,2006).

Segundo Weidebach (2002), a fibro-mialgia, que anteriormente era denomi-nada de fibrosite, não era uma doençamuito bem definida clinicamente antesda década de 1970, quando foram publi-cados os primeiros achados que derammargem para pesquisas mais aprofunda-das sobre o assunto. Contrariamente aoque se pensava no passado, ela não con-siste de uma doença inflamatória nemgera comprometimentos articulares oucausa deformidades. Contudo, conside-

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rando seu caráter crônico, a fibromialgiacausa impacto negativo na qualidade devida de seus portadores.

De acordo com Cavalcanti et al.(2006), a fibromialgia acomete de 0,66%a 4,4% da população dependendo dacaracterística do grupo, sendo mais pre-valente em mulheres do que em homens,principalmente na faixa etária entre os30 e 60 anos. Pelo estudo de Pollak(1999), o grupo etário mais acometidoestá entre os 35 e 50 anos de idade,sendo predominantemente mulheres,independente da etnia. Já Haun et al(2001) e Antônio (2001) destacam queessa síndrome tem ocorrência desde ainfância até em adultos entre 60 e 70anos. Seu diagnóstico é feito geralmenteentre os 40 e 50 anos, sendo que os sin-tomas surgem por volta dos 29 aos 37anos, com uma média de 9,3 anos entreo início dos sintomas e o diagnóstico dadoença (Antônio, 2001).

Desde 1990, o Colégio Americano deReumatologia (ACR) definiu os seguin-tes critérios de classificação e diagnósti-co para a fibromialgia: 1) queixas fre-qüentes de dor difusa por um período depelo menos três meses; e 2) apresenta-ção de dor difusa em no mínimo 11 dos18 pontos anatômicos (tender points)padronizados (Wolfe et al., 1990). Tenderpoint pode ser considerado um pontoque quando submetido à palpação digitalé referido desconforto doloroso no localpressionado. Em relação à digitopressão,a intensidade de força aplicada para diag-nóstico equivale a 4kg.f com uso dedolorímetro (Weidebach, 2002).Segundo Antônio (2001), os tender points,

quando pressionados ou palpados,geram dor extrema, porém não irradia-da. Estes pontos dolorosos estão dispos-tos bilateralmente, tanto na porção ante-rior quanto posterior do corpo, sendonove pontos do lado direito e nove dolado esquerdo, totalizando 18 pontos dedor.

Considerando que os exames labora-toriais, tanto de atividades inflamatóriasquanto de imagem são normais, o diag-nóstico da fibromialgia é totalmente clí-nico (Weidebach, 2002). Isso requer dosmédicos especialistas que fazem o diag-nóstico de doenças reumatológicasmuito preparo durante a avaliação deseus pacientes, uma vez que a presençade outras doenças associadas não excluio diagnóstico de fibromialgia.

A principal característica clínica dafibromialgia, como dito anteriormente, éa dor crônica e difusa nos pontos anatô-micos (tender points). Essa dor é conside-rada essencial para o diagnóstico.Inicialmente os pacientes relatam dorem apenas uma região do corpo (geral-mente nos ombros e pescoço), mas pos-teriormente essas dores tornam-se gene-ralizadas.

Ribeiro e Proietti (2005) afirmam quealém da dor e da sensibilidade dos tenderpoints, os pacientes também apresentamirregularidades no sono (sono não-repa-rador), fadiga e rigidez matinal. Os fibro-miálgicos podem ainda ter manifesta-ções secundárias menos freqüentes, taiscomo, síndrome do cólon irritável, cefa-léias, parestesias não dermatoméricas,alterações psicológicas e incapacidadefuncional significativa (Antônio, 2001).

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Todos esses sintomas prejudicam a vidasocial e profissional do indivíduo,impossibilitando-o, algumas vezes, atémesmo a realização de tarefas domésti-cas básicas. Outros sintomas freqüentes,segundo Weidebach (2002), são os esta-dos depressivos, ansiedade, síndrome dopânico, déficit de memória, desatenção,distúrbios funcionais da articulação têm-poro-mandibular (ATM) secundários aobruxismo, e boca seca. Perfeccionismo,autocrítica severa e comportamentoobsessivo por detalhes são característi-cas que freqüentemente fazem parte doperfil psicológico dos pacientes fibro-miálgicos (Weidebach, 2002)

Vários fatores estressores podem vira desencadear a fibromialgia, já que umadas teorias que tentam explicar a causadesta síndrome é a predisposição genéti-ca aliada a fatores de estresse. Stisi,Venditti e Sarracco (2008) destacam quea fibromialgia pode ocorrer devido a res-postas psico-neuro-endócrinas a várioseventos estressores em pacientes comhiperresponsividade genética ao estres-se. De maneira simplificada, o estressepode ser definido como uma respostanão específica do organismo a qualquerestímulo que possa interferir na suahomeostase. Contudo, para Nieman(1999), estresse é qualquer ação ou situa-ção que submete uma pessoa a deman-das físicas ou psicológicas especiais, ouseja, pode ser qualquer fator que a dese-quilibre. Já para Batista e Dantas (2003),o estresse é a combinação de sensaçõesfísicas, sociais e mentais que resultam devários estímulos de preocupações quevão necessitar de uma adaptação. A res-

posta de estresse pode ser boa ou ruim,dependendo da situação e do momento.Para Selye (1954), ocorrem demandaspsicológicas e orgânicas, em ambas asrespostas, que levam a uma adaptaçãofisiológica similar. A intensidade dessaresposta dependerá da percepção doindivíduo sobre a gravidade da situação.

Segundo Selye (1954), se os aspectosestressores forem mantidos por muitotempo, o organismo poderá atravessartrês fases: 1) Reação de alarme: estágioinicial, no qual o organismo se mobilizapara responder ao estímulo estressor; 2)Estágio de resistência: no qual ele lutariapara vencer as cargas que lhe estãosendo impostas pelo agente estressor; 3)Estágio de exaustão: que significa umasomatização latente, onde os sintomasda reação de alarme retornam, podendolevar até mesmo à morte.

Segundo Nieman (1999), quando osindivíduos são levados a situaçõesextremamente estressantes, várias alter-ações fisiológicas podem ocorrer, taiscomo aumento da freqüência cardíaca eda pressão arterial, e elevação dos hor-mônios do estresse e da atividade do sis-tema nervoso, o que pode ser bom atécerto ponto, devido ao organismo seadaptar e ficar mais resistente aos estí-mulos estressores negativos que poderãosurgir futuramente. Contudo, caso elescomecem a afetar sua condição mental efísica, estes passam a ser prejudiciais.

Estudos recentes encontraramrelação estreita entre estresse e dor(Staud e Smitherman, 2002). Neste sen-tido, considerando as evidências psico-físicas que atestam que fibromiálgicos

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apresentam hiperalgesia mecânica, tér-mica e elétrica (Staud e Smitherman,2002), as anormalidades centrais e peri-féricas de nocicepção, frequentementedescritas na fibromialgia, podem desen-cadear processo doloroso, ativandomecanismos fisiológicos de estresse.Stisi, Venditti e Sarracco (2008) observa-ram que portadores de fibromialgiamostraram maior índice de avaliação deestresse quando comparados com indiví-duos saudáveis. Além disso, o númerode eventos vitais estressantes foi signifi-cativamente maior nos pacientes comfibromialgia.

O tratamento na fibromialgia é sinto-mático, pois ainda não se sabe o querealmente causa essa condição. Na práti-ca clínica diária, os médicos têm particu-larizado cada caso para prescrever o tra-tamento, podendo ele ser medicamento-so e/ou não-medicamentoso. ParaKanda (2003), ao optar pela associaçãodos métodos, a porção medicamentosado tratamento deverá iniciar com dosesbaixas, aumentando gradualmente con-forme as necessidades do paciente.

Segundo Pollak (1999), mesmo nãohavendo evidências de inflamação nafibromialgia, vários estudos foram feitosutilizando antiinflamatórios, porém semrespostas positivas para a fibromialgia, anão ser quando a síndrome estava asso-ciada a outras doenças inflamatórias. Osantiinflamatórios podem auxiliar nocontrole da dor desde que tomados con-comitantemente com outros medica-mentos, como por exemplo, os analgési-cos. Contudo, a maioria dos pacientes sófaz uso deles quando a dor já se encon-

tra em grau denominado insuportável, oque é extremamente prejudicial ao orga-nismo, pois mantém por tempo prolon-gado o ciclo de dor-contração muscular.Existem ainda muitas outras drogassendo utilizadas no tratamento da fibro-mialgia, tais como, os antidepressivos tri-cíclicos, inibidores seletivos de recapta-ção da serotonina e ainda relaxantesmusculares. Antonio (2001) diz que aserotonina controla tanto a dor quanto osono, sistemas que fisiologicamente nãofuncionam da maneira correta na fibro-mialgia. Para Pollak (1999), ao fazeremuso dos antidepressivos tricíclicos, todosos pacientes que apresentaram melhorasnas dores também relataram melhorasna qualidade de seu sono. Segundo essemesmo autor, os tricíclicos agem naquarta fase do sono REM e atuam tam-bém aumentando o nível de serotoninacerebral elevando o limiar de excitabili-dade dos nociceptores periféricos.

Embora em alguns casos haja anecessidade de lançar mão de medica-mentos para o controle dos sintomasrelacionados à fibromialgia, as alternati-vas não-medicamentosas podem apre-sentar algumas vantagens para o indiví-duo fibromiálgico. Em relação aos méto-dos não medicamentosos de tratamentoda fibromialgia, especialistas recomen-dam a terapia cognitivo-comportamen-tal, a eletroacupuntura e a hipnoterapia.Além desses, alguns pesquisadores têmanalisado os efeitos do exercício sobre oquadro do portador da síndrome. Assim,a administração de programas de ativida-de física pode consistir na terapia maisindicada aos pacientes portadores de

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fibromialgia, devido a seu grande efeitoanalgésico. Além disso, a prática de exer-cícios físicos pode proporcionar melho-ra do condicionamento físico e outrosbenefícios físicos, psicológicos e sociais.Neste sentido, vários estudos têm sidoconduzidos com o intuito de analisar ainfluência do exercício sobre sinais e sin-tomas da fibromialgia. Programas detreinamento físico aeróbio e de forçamuscular têm induzido melhora de qua-dros depressivos em indivíduos comdepressão clínica (Brosse et al., 2002;Dunn, Trivedi e O’Neal, 2001). Alémdisso, favorecimento no perfil de sonopode ser observado pela prática crônicade esforço (King, 1997; Singh, 1997).

Revisões sistemáticas sobre o assun-to têm apontado evidências de que otreinamento aeróbio, prescrito em inten-sidades recomendadas para aumentar aaptidão cardiorrespiratória, promoveimportantes benefícios para fibromiálgi-cos, tanto em relação a aspectos de fun-ção física quanto para os níveis de dor(Busch et al., 2008). Os mesmos autoresdestacam que programas de treinamentode força apresentam evidências limitadasquanto à melhora da sintomatologiadolorosa, bem-estar global, função físicae tender points. Dentre os trabalhos queabordaram os efeitos de programas deflexibilidade, não estão estabelecidasinfluências da atividade física sobre oestado depressivo ou tender points depacientes com fibromialgia (Jones,2002).

A busca por informações sobre afibromialgia é incessante, tanto por partedos pacientes, quanto dos médicos e

estudiosos da área. Muitos pesquisado-res têm dedicado anos de suas vidas pro-curando explicações plausíveis que escla-reçam todas as dúvidas que ainda se tema respeito desta síndrome. Existe umgrande número de publicações na litera-tura, porém não foram encontradas pes-quisas que consigam provar cientifica-mente a etiologia da fibromialgia. O quese tem é uma forma padrão de diagnós-tico e classificação da síndrome, elabora-da pelo Colégio Americano deReumatologia, em 1990, e ainda estudosnão comprovados sobre as possíveisfisiopatologias. Devido a isso, realizarestudos sobre esse tema é de extremarelevância para a área de EducaçãoFísica. Assim, o presente estudo tevecomo objetivo verificar os efeitos ime-diatos de uma sessão de caminhada,exercício resistido e alongamento sobreos níveis de dor e número de sintomasde estresse em mulheres portadoras defibromialgia.

METODOLOGIAParticipantes

Participaram deste estudo seismulheres portadoras de fibromialgia ecom idades entre 35 e 60 anos(média±DP: 46,8±8,2 anos). Como cri-tério de inclusão na pesquisa as partici-pantes deveriam ter sido diagnosticadaspor um médico especialista e não teremparticipado de programas de atividadesfísicas por pelo menos seis meses.

Situações experimentaisTodas as voluntárias foram submeti-

das a quatro situações experimentais dis-

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tintas (repouso, caminhada, musculaçãoe alongamento). Cada uma das interven-ções foi realizada em dias intercaladostendo a duração de 30 minutos cada umae intervalo de 48 horas entre cada situa-ção experimental. A sequência de reali-zação das situações experimentais foiestipulada de forma aleatória por meiode sorteio. Na primeira condição experi-mental as mulheres ficaram, durante operíodo determinado, em repouso, ouseja, sentadas em poltronas da sala dolaboratório conversando sobre assuntosdo cotidiano e sem realizar nenhum tipode atividade física, respondendo aosquestionários de avaliação antes e depoisdo período determinado (SituaçãoControle). Já na segunda situação, asparticipantes foram submetidas a exercí-cio de caminhada (Situação Caminhada)em esteira da marca Moviment modeloRT200 (São Paulo, Brasil), com inclina-ção 0%. A intensidade foi monitoradapor cardiofrequencímetro POLARmodelo Vantage NV (Kempele,Finlândia), com freqüência cardíacavariando entre 60 a 85% da freqüênciacardíaca máxima condizente a cada umadas participantes (Pinto, Meirelles eFarinatti, 2003). A sessão de exercícioem esteira foi realizada dentro dasdependências do laboratório. Na terceirasituação experimental, as mulheresforam submetidas a uma sessão de exer-cício resistido (Situação Musculação),sendo executado um exercício para cadaum dos principais grupos musculares emaparelhos específicos de musculação damarca Buick Fitness Equipment (Rio deJaneiro, Brasil). Os exercícios realizados

foram: supino sentado, leg press horizon-tal, remada fechada, cadeira flexora, ele-vação lateral com halteres, banco Scott,elevação na ponta do pé e tríceps machi-ne, executados nessa ordem e com cargasequivalentes a 15 repetições máximas(RM). Em cada exercício as participantesexecutaram duas séries de 15 RM, comintervalo de 30 a 45 segundos entre cadauma das séries e entre os exercícios(Fleck e Kramer, 2006). Na última situa-ção experimental, as voluntárias foramsubmetidas a uma sessão de exercíciosde alongamento (SituaçãoAlongamento), onde foram utilizados osmétodos ativo e passivo de execuçãocom acompanhamento de música ins-trumental. A sessão de alongamentocontou com movimentos e posturaspropostas por Rodrigues (1986) e envol-veram todos os segmentos corporais.Foram realizadas três séries para cadaum dos movimentos, com duração de 20segundos cada (Vieira et al., 2002), con-siderando que cada série corresponde atoda a seqüência de movimentos realiza-dos.

Procedimentos e avaliaçõesAntes do início e imediatamente após

o término de cada uma das quatro situa-ções experimentais foram aplicados doisinstrumentos de avaliação. O primeiro aser aplicado foi a Escala VisualAnalógica de Dor (Rosenberg, Soudry eStahl, 2004). Este instrumento é caracte-rizado por uma escala numérica quevaria de 0 a 10 pontos, onde 0 (zero) cor-responde à ausência total de dor e 10 aopico de dor, denominado dor insuportá-

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vel. Já o segundo instrumento(Inventário de Sintomas de Stress deLipp - ISS) foi aplicado para verificar onível e a fase de estresse em que seencontrava cada uma das voluntárias. OISS, já validado para sujeitos a partir de15 anos (Calais, Andrade, Lipp, 2003), seconstitui de uma lista de sintomas físicose psicológicos divididos em três quadros.Baseia-se no modelo trifásico de Selye,sendo que cada quadro corresponde auma das fases do modelo (alerta, resis-tência e exaustão). Neste instrumento,os sintomas físicos e psicológicos deestresse estão subdivididos em três par-tes, de acordo com a intensidade dos sin-tomas e o tempo que estes vêm sendoapresentados pela pessoa. Na primeiraparte, a pessoa deve assinalar os sinto-mas experimentados nas últimas 24horas; na segunda parte, os sintomas quesentiu na última semana e; na terceiraparte, os sintomas apresentados duranteo último mês. Dentre os sintomas físicosdisponíveis no ISS estão, por exemplo,“tensão muscular”, “taquicardia” e “ton-tura ou sensação de estar flutuando”.Dentre os sintomas psicológicos estão,por exemplo, “entusiasmo súbito”,“pensar constantemente em um sóassunto”, “angústia, ansiedade ou medodiariamente”. Os dados referentes aoISS foram agrupados somando-se isola-damente os sintomas físicos bem comoos psicológicos de cada uma das trêspartes do instrumento. Os escores “físi-cos” e “psicológicos” foram somadospara se chegar ao número de sintomastotal de estresse.

Análise estatísticaOs resultados de nível de dor (obti-

dos pela EVAD) e número de sintomasfísicos, psicológicos e totais de estresse(obtidos pelo ISS) são apresentados emvalores médios e desvio padrão e foramanalisados estatisticamente por Análisede Variância (ANOVA) para medidasrepetidas e teste post hoc de Newman-Keuls,com nível de significância de 5%.

RESULTADOSA dor é o sintoma mais importante

na fibromialgia. Durante a maioria dassituações experimentais, exceto na ativi-dade musculação, foi relatado pelogrupo estudado, diminuição dos níveisde dor. Porém, estatisticamente, nãohouve diferença significativa entre osmomentos do estudo nas quatro situa-ções como mostra a tabela 1. Com rela-ção ao número de sintomas físicos, nãohouve diferença significante entre osgrupos experimentais em nenhuma dastrês partes registradas pelo ISS (Tabela2). Ao analisar o número de sintomaspsicológicos viu-se que também nãohouve diferença estatística em nenhumadas três partes de todas as situaçõesexperimentais. Analisando o número desintomas totais de estresse da parte 2 doinstrumento (relacionada à fase deResistência de Selye), observa-se que emtodas as condições experimentais, tantona avaliação pré quanto na pós-exercício,as voluntárias encontravam-se estressa-das, pois de acordo com o escore pro-posto pelo ISS, o grupo atingiu mais detrês pontos, considerando a somatóriado número de sintomas físicos e psicoló-

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gicos. Contudo, não foram observadasdiferenças significativas no número total

de sintomas de estresse em todas as par-tes do ISS (Tabela 2).

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DISCUSSÃOA fibromialgia, embora bem caracte-

rizada clinicamente, tem sua fisiopatolo-gia ainda não bem definida. De acordocom Pollak (1999), Haun et al (2001), ateoria mais aceita no meio científico é ade que esta síndrome é causada por umaalteração nos mecanismos de modulaçãoda dor, ou seja, uma disfunção do siste-ma nervoso central (SNC) em regular asensibilidade dolorosa. Com isso, o indi-viduo pode apresentar uma diminuiçãodos níveis de serotonina (neurotransmis-sor do sistema descendente inibitório) eum aumento dos níveis de substância P(substância neuroexcitatória envolvidana condução da dor) no SNC. ParaRibeiro e Proietti (2005), este fenômenocircunda sobre os mecanismos de gera-ção da dor não-nociceptiva (DNN),

explicada como dor resultante da esti-mulação de neurônios não relacionadoscom a dor (não-nociceptivos) na medulaespinhal. Haun et al (2001) explicam queao recebermos um estímulo doloroso,ele é transmitido pelas fibras aferentesfinas para o corno posterior da medula,onde é analisado, interpretado e respon-dido em forma de defesa. Durante oretorno do impulso para a periferia,regiões vizinhas podem ser ativadaserroneamente. Com isso, há um aumen-to dos estímulos aferentes na medula,provocando maior liberação de neuro-peptídeos (principalmente de substânciaP) para facilitar a transmissão de noci-cepção, e conseqüente diminuição dosníveis de serotonina. Esses neuromedia-dores se difundem na medula, ativamnovos neurônios e geram aumento da

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área dolorosa, devido à ausência ouquantidade insuficiente de serotonina.

Vários estudos têm demonstrado queexiste predisposição genética para sedesenvolver a fibromialgia. Porém estapredisposição está ligada a fatoresambientais externos, tais como, estresseemocional e físico, processos infecciosose traumas físicos. Todos esses fatorespodem aumentar a percepção à dor econseqüentemente desencadear esta sín-drome (Haun et al, 2001).

Outras hipóteses ainda são levanta-das para explicar a fisiopatologia dafibromialgia, porém estas não são exclu-dentes entre si, pelo contrário, somam-se para encontrar a verdadeira causa dadoença. Weidebach (2002) e Kanda et al(2002) dizem que em estudos sobre osono, a intrusão de ondas alfa nos está-gios três e quatro do sono não-REM,diz-se, sono não restaurador e superfi-cial, com despertares freqüentes, podeser um dos fatores desencadeadores dedor e manifestações fibromiálgicas.Antônio (2001) e Haun et al (2001) afir-mam que em alguns estudos encontrou-se em portadores de fibromialgia nívelreduzido de IGF-1, um fator relaciona-do ao trofismo celular e ao hormônio docrescimento (GH). Provavelmente adiminuição da secreção desse hormôniodeva-se ao comprometimento do sono,uma vez que sua liberação pode ocorrerdurante as fases três e quatro do sonoprofundo. A falta de IGF-1 leva a umadeficiência no processo recuperativo doorganismo, tornando músculos, tendõese ligamentos fadigados e mais susceptí-veis a lesão. Neste sentido, o exercício

pode ter fundamental importância já quea realização de atividade motora podeestar relacionada a aumentos da secreçãode IGF-1 e hormônio do crescimentocomo observado em estudos préviosrealizados em nosso laboratório (Gomeset al., 2006; Leme et al., 2007).

Antonio (2001) destaca a existênciade evidências que apontam que empacientes com fibromialgia foi diagnosti-cado fluxo sanguíneo cerebral diminuídonas áreas do tálamo, núcleo caudado eregiões pré-frontais. Segundo Haun et al(2001), essas áreas são responsáveis pelaintegração, análise e interpretação dosestímulos dolorosos que controlam assensações e a afetividade. Apesar doimenso esforço dos pesquisadores, nãose conseguiu definir se o hipofluxo san-guíneo é causador da fibromialgia ou éconseqüência do desequilíbrio neuro-hormonal.

Muitos estudos afirmam que pacien-tes fibromiálgicos apresentam quadro dedor tão intensa que foram superiores aartrite reumatóide quando as escalasvisuais analógicas de dor foram utiliza-das como fonte de avaliação de dor(Wolfe, 1989; Wolfe et al., 1990). Essesresultados diferem dos achados do pre-sente estudo, onde o grupo manifestouníveis de dor abaixo de quatro, conside-rando essa mesma escala de avaliação.

De acordo com Pollak (1999), o exer-cício promove maior analgesia mediadapelo aumento dos níveis endorfina ecortisol. Contudo, principalmente emfibromiálgicos, o grande problema doexercício físico é que em suas fases ini-ciais, a dor e a fadiga podem piorar,

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fazendo com que as pessoas desistam daprática da atividade física precocemente.Em geral, os pacientes necessitam de 16a 20 semanas para adquirirem um bomcondicionamento (Pollak, 1999), o quepode melhorar a tolerância ao esforçofísico. Isso pode justificar os resultadosencontrados no atual estudo, pois comoas participantes estavam fora de progra-mas de atividades físicas por pelo menosseis meses, o exercício medido de manei-ra aguda, não apresentou resultados sig-nificantes com relação aos níveis de dor.

Em um estudo prévio conduzido porPrando e Rogatto (2006), o efeito agudode uma sessão de exercício físico tam-bém foi avaliado. Neste trabalho, ondeportadoras de fibromialgia foram sub-metidas a 30 minutos de caminhada a50% da freqüência cardíaca máxima, nãoforam observadas modificação nosníveis de dor durante a realização doesforço. Contudo, nos últimos 15 minu-tos de caminhada houve tendência aaumento da condição dolorosa medidapela escala visual analógica de dor.Embora o presente estudo tenha avalia-do os efeitos das condições experimen-tais após a realização das diferentes ativi-dades, não foram realizadas medidas dosníveis de dor em diferentes intervalos detempo (10, 20, 30 minutos ou horas)após o término da prática do exercício.Esse fato limita as discussões sobre aduração dos efeitos agudos pós-esforçoque as atividades podem desencadear,uma vez que 30 minutos depois doesforço os níveis de dor tendem a dimi-nuir (Prando e Rogatto, 2006). Por essarazão, sugere-se que em estudos futuros

se faça o controle da incidência dolorosapor um período mais prolongado após arealização do esforço.

Embora o exercício agudo pareça terpouca influência sobre a condição dolo-rosa, vários estudos têm observado efei-tos positivos da realização crônica deesforço sobre portadoras de fibromial-gia. Um estudo realizado por McCain(1988) durante 20 semanas, com 42pacientes fibromiálgicos divididos emdois grupos, um submetido somente aum programa de condicionamento car-diovascular aeróbio e outro a exercíciosde alongamento, obteve como resultadoum aumento no desempenho cardíacoem 83% e uma melhora no limiar de dorsobre os tender points das participantes dogrupo condicionamento aeróbio quandocomparadas aos selecionados somentepara exercícios de alongamento. Wigers,Stiles e Vogel (1996) compararam efeitosdo condicionamento aeróbico (caminha-da) com exercícios de relaxamento esituação controle, observando que apósquatro semanas os grupos submetidosaos exercícios aeróbicos e de relaxamen-to tiveram melhora em relação ao grupocontrole, com uma discreta superiorida-de para o grupo de condicionamentoaeróbico sobre a atividade de relaxamen-to. Segundo Valim (2006), uma hipótesepara explicar esta observação é que otreinamento aeróbio provoca mudançasneuroendócrinas necessárias para amelhora do humor (aumento de seroto-nina e norepinefrina) e o alongamentonão.

Bennet, Clark e Goldenberg (1989)em seu estudo constataram que pacien-

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tes com fibromialgia são menos condi-cionados que pessoas sedentárias sem adoença. Segundo Janal et al. (1984), cor-redores de longa distância têm hipoalge-sia e melhora do humor que é acompa-nhada de aumento sérico de neurotrans-missores do sistema endorfínico: hor-mônio adrenocorticotrópico e prolacti-na, que podem promover analgesia esensação de bem-estar.

Além da dor, o estresse também éoutro fator eminente em pessoas porta-doras de fibromialgia, existindo, inclusi-ve, teorias que apontam o estresse comoum dos fatores desencadeadores destasíndrome. O exercício físico tem sidobastante utilizado como forma de pre-venção e controle de inúmeras doenças,sendo também usado para o tratamentode condições de estresse, depressão eansiedade.

Como dito anteriormente as voluntá-rias do presente estudo encontravam-sena segunda fase de estresse (Fase deResistência). Estudos prévios têm obser-vado que a prática de atividades físicaspode ser uma estratégia bastante interes-sante para redução dos níveis de estresse(Parker e Smith, 2003). Estudo de Valim(2002) que abordou os efeitos de dife-rentes estratégias para a redução deestresse em uma população de jovensidentificados com essa síndrome, obser-vou que a atividade física teve influênciapositiva para a redução do número desintomas de estresse. Contudo, no pre-sente trabalho, os sintomas físicos, psi-cológicos e totais não sofreram modifi-cações pela aplicação de diferentes for-mas de intervenção motora. Pessoas

mais ativas fisicamente relatam se sentirmais relaxadas e menos cansadas do quepessoas inativas (Nieman, 1999), fatoverificado por observação empírica dosrelatos das participantes do presenteestudo, com afirmações sobre estaremmais relaxadas e menos cansadas queanteriormente. Contudo, essas observa-ções não corroboram com os dadosobjetivamente avaliados por análisesestatísticas que, além da constatação dapermanência das participantes nomesmo nível de estresse segundo o ISS(fase de resistência), verificou que nãohouve diferença significativa com rela-ção ao número de sintomas físicos, psi-cológicos e totais de estresse antes edepois de cada situação experimental.Segundo Lima (2003), os efeitos positi-vos do exercício físico na diminuição doestresse estão ligados ao aumento daconcentração de endorfinas circulantesno sangue, e à promoção de várias alte-rações fisiológicas e bioquímicas envol-vidas com a liberação de neurotransmis-sores, tais como, serotonina e norepine-frina, visto que alterações na liberaçãodesses neurotransmissores podemdesenvolver muitas patologias, podendoa fibromialgia ser uma delas.

Durante a prática de atividade física oorganismo responde ao estímulo aumen-tando a freqüência cardíaca, a pressãoarterial e a liberação dos hormônios doestresse. Contudo, à medida que a ativi-dade física se torna freqüente, os indiví-duos se adaptam a esses estímulos (adap-tação crônica ao treinamento), e o corpoé fortalecido e treinado a reagir demaneira mais eficiente quando os mes-

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mos estímulos são desencadeados. ParaValim (2006), pacientes com fibromial-gia necessitam de um período maiorpara adaptar-se a um programa de exer-cício, sendo que a progressão da cargadeve ser mais lenta que o habitual.Devido a isso, programas de curta dura-ção não demonstraram melhora na qua-lidade de vida, enquanto programas maislongos, com mais de 15 semanas, conse-guiram observar melhora em váriosaspectos, inclusive qualidade de vida.

Pacientes com fibromialgia geral-mente são descondicionados (Valim,2006) e assim a prescrição de exercíciosde baixa intensidade é mais adequada aesta população. Estudos que utilizaramapenas baixa intensidade mostraram ten-dência de melhora, mas não demonstra-ram benefícios estatisticamente signifi-cativos. De acordo com Valim (2006),programas de atividades com intensida-des de moderada a alta, definidos comoaqueles capazes de elevar a freqüênciacardíaca até a freqüência do limiar anae-róbio, foram os que conseguiram benefí-cios clínicos mais significativos, reduzin-do o limiar de dor e os sintomas psicoa-fetivos, tais como, estresse, depressão eansiedade em seus praticantes.

Embora muitos estudos tenhamobtido efeitos positivos do exercício físi-co no tratamento da fibromialgia, auxi-liando na diminuição da dor, dos sinto-mas de estresse, ou de outros sintomasdesta síndrome, os resultados do presen-te estudo não permitem fazer afirma-ções a esse respeito. Contudo, muitosestudos ainda devem ser desenvolvidospara buscar a maneira correta de pres-

crever atividades que sejam eficientes eque propiciem aos fibromiálgicos umamelhor qualidade de vida.

CONCLUSÃOEmbora as mulheres portadoras de

fibromialgia que participaram do estudoapresentassem estresse (Fase deResistência), não foram observadasinfluências significativas de nenhumadas condições de esforço avaliadas sobreo nível de dor e o número de sintomasde estresse. Sugerimos que se façamnovos estudos evidenciando critérios deavaliação da dor e dos sintomas deestresse por um período maior e após arealização do esforço.

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Manuscrito recibido: 4/7/2008Manuscrito aceptado: 9/4/2009

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