INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE UMA CAMADA DE LAMA...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE UMA CAMADA DE LAMA NA ESTABILIDADE DE UMA BARRAGEM DE REJEITOS DE MINÉRIO DE FERRO ISABELA PAULA DE SOUZA ARAUJO 2020

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE UMA CAMADA DE LAMA NA

    ESTABILIDADE DE UMA BARRAGEM DE REJEITOS DE MINÉRIO DE FERRO

    ISABELA PAULA DE SOUZA ARAUJO

    2020

  • ii

    INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE UMA CAMADA DE LAMA NA

    ESTABILIDADE DE UMA BARRAGEM DE REJEITOS DE MINÉRIO DE FERRO

    Isabela Paula de Souza Araujo

    Projeto de Graduação apresentado ao

    curso de Engenharia Civil da Escola

    Politécnica, Universidade Federal do Rio

    de Janeiro, como parte dos requisitos

    necessários à obtenção do título de

    Engenheiro.

    Orientador: Prof. Leonardo De Bona

    Becker

    RIO DE JANEIRO

    Março de 2020

  • iii

    INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE UMA CAMADA DE LAMA NA

    ESTABILIDADE DE UMA BARRAGEM DE REJEITOS DE MINÉRIO DE FERRO

    Isabela Paula de Souza Araujo

    PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

    ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

    NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

    Examinado por:

    ________________________________________________

    Prof. Leonardo De Bona Becker, D.Sc.

    ______________________________________________

    Prof. Maria do Carmo Reis Cavalcanti, D.Sc.

    ______________________________________________

    Prof. Marcos Barreto de Mendonça, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

    Março de 2020

  • iv

    Araújo, Isabela Paula de Souza

    Influência da presença de uma camada de lama na estabilidade de uma barragem de rejeitos de minério de ferro /

    Isabela Paula de Souza Araujo– Rio de Janeiro: UFRJ/Escola

    Politécnica, 2020.

    xiv, 69 p.:il.; 29,7 cm.

    Orientador: Leonardo De Bona Becker

    Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

    Engenharia Civil, 2020.

    Referências Bibliográficas: p. 56-60

    1. Introdução 2. Revisão Bibliográfica 3. Metodologia 4.

    Análises de estabilidade 5. Conclusão

    I. Leonardo De Bona Becker; II. Universidade Federal do

    Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil.

    III. Influência da presença de rejeitos finos na estratigrafia de

    uma barragem de rejeitos de minério de ferro

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus pais e irmãos, pelo apoio e

    incentivo. Em especial, gostaria de agradecer à minha mãe, Angela Cristina, por todo o

    esforço realizado para que eu pudesse chegar até aqui.

    Gostaria também de agradecer ao meu orientador, Professor Leonardo De Bona

    Becker, pelo tempo dedicado ao desenvolvimento deste trabalho, sempre solícito ao

    retirar dúvidas, assim como paciente e disponível em todos os momentos, acompanhando

    de perto e se propondo a discutir cada etapa realizada.

    Aos professores e servidores da UFRJ, agradeço por todo o conhecimento passado

    e serviço prestado durante todos os anos de graduação.

    Aos meus amigos e colegas da UFRJ, agradeço pela companhia, compreensão,

    conversas, risadas e grupos de estudo, que fizeram dos momentos difíceis mais leves.

    Por fim, gostaria de agradecer à Deus por mais uma etapa concluída e por me

    permitir superar momentos difíceis durante este percurso e me tornar cada vez mais forte

    e determinada a alcançar meus objetivos.

  • vi

    Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

    dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

    INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE UMA CAMADA DE LAMA NA

    ESTABILIDADE DE UMA BARRAGEM DE REJEITOS DE MINÉRIO DE FERRO

    Isabela Paula de Souza Araujo

    Março de 2020

    Orientador: Leonardo De Bona Becker

    Já ocorreram muitas rupturas de barragens de rejeitos no mundo. No Brasil, as mais

    conhecidas são as rupturas de barragens de rejeitos de minério de ferro em Mariana e

    Brumadinho, ambas localizadas em Minas Gerais, em 2015 e 2019. Tais eventos

    causaram prejuízos de bilhões de dólares e perda de centenas de vidas, demonstrando

    inequivocamente a importância do estudo da estabilidade destas estruturas e da forma

    como são projetadas e planejadas as barragens de rejeitos. As duas barragens citadas

    possuíam camadas entremeadas de rejeitos finos (lamas) e grossos em seu interior. Neste

    trabalho são apresentadas análise de estabilidade de uma barragem hipotética na qual é

    avaliada a influência da presença de camadas de lama. Para tanto foram realizadas

    análises de abordagem determinística e probabilística para estimar o fator de segurança e

    a probabilidade de ruptura. Os dados da barragem modelada foram estimados a partir de

    uma compilação de resultados de ensaios de materiais da região do Quadrilátero Ferrífero,

    MG. As análises foram feitas em um software de equilíbrio limite, utilizando o método

    de Spencer para cálculo do fator de segurança e o método de Monte Carlo para avaliação

    de sua distribuição.

    Palavras-chave: Rejeitos de Minério de Ferro; Análise de estabilidade de taludes;

    Análise Probabilística.

  • vii

    Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Engineer.

    INFLUENCE OF THE PRESENCE OF SLIME LAYER ON THE STABILITY OF AN

    IRON ORE TAILING DAM

    Isabela Paula de Souza Araujo

    March 2020

    Adviser: Leonardo De Bona Becker

    Many tailings dam failures have occurred in the world. In Brazil, the most well-known

    are the collapses of tailing dams in the municipalities of Mariana and Brumadinho, both

    located in the Minas Gerais state, in 2015 and 2019. Such events caused losses of billions

    of dollars and hundreds of lives, demonstrating unequivocally the importance of studying

    the stability of these structures and the way tailings dams are designed and planned. Those

    two dams had layers of fine (slimes) and sandy tailings. This work presents an analysis

    of the stability of a hypothetical dam in which the influence of the layers of slime is

    evaluated. For that, deterministic and probabilistic analyses were performed to estimate

    the safety factor and the probability of failure. The data from the modeled dam were

    estimated from a compilation of test results of tailings from the Quadrilátero Ferrífero

    region, Minas Gerais state. The analyses were performed using a limit equilibrium

    software, Spencer's method for calculating the safety factor and Monte Carlo method to

    assess its distribution.

    Keywords: Tailings; Stability Analisys; Probabilistic Analysis.

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.1- Participação do Ferro no percentual de exportações no Brasil em 2017

    (IBRAM, 2018) ................................................................................................................ 1

    Figura 1.2 - Produção de Minério de Ferro em milhões de toneladas (USGS, 2012 apud

    IBRAM 2018) ................................................................................................................... 2

    Figura 1.3 - Seção da Barragem da Mina do Córrego do Feijão (Brumadinho-MG).

    (ROBERTSON et al., 2019). ............................................................................................ 3

    Figura 1.4- Seção transversal com presença de lamas- Barragem do Fundão.

    (MORGENSTERN, 2016)................................................................................................ 4

    Figura 2.1- Fluxograma de Tratamento de Minérios (WOLFF, 2009 apud BEZERRA,

    2017) ................................................................................................................................. 6

    Figura 2.2 - a) Esquema de funcionamento do Hidrociclone. b) Hidrociclone em

    funcionamento. c) Detalhe saídas overflow e underflow (VIEIRA, 2006). ...................... 8

    Figura 2.3- Método do aterro hidráulico, a partir de descarga em múltiplos pontos

    (SOARES, 2010). ............................................................................................................. 9

    Figura 2.4 - Método Para Montante (VALERIUS, 2014, apud THOMÉ 2018) ............ 10

    Figura 2.5 - Método para Jusante (VALERIUS, 2014, apud THOMÉ 2018) ................ 10

    Figura 2.6 - Método Linha de Centro (VALERIUS, 2014, apud THOMÉ 2018) ......... 11

    Figura 2.7 - Métodos construtivos das barragens de rejeitos brasileiras até Jan/2019.

    (ANM, 2019) .................................................................................................................. 11

    Figura 2.8 - Envoltória de Ruptura de Rejeito Granular extraído da Pilha do Xingu, MG

    – Ensaio Triaxial (ESPÓSITO, 2000) ............................................................................ 12

    Figura 2.9 - Envoltória de Ruptura de Rejeito Granular extraído da Barragem do Fundão,

    MG – Ensaio de cisalhamento direto (ANDRÉ, 2018) .................................................. 13

    Figura 2.10 - Gráfico Su x σ’v0- Dados referentes à rejeitos Finos da Unidade de Germano,

    MG (PENNA, 2007) ....................................................................................................... 14

    Figura 2.11 - Representação da Teoria do Equilíbrio Limite (BECKER, 2016)............ 15

    Figura 2.12 - Representação do método das Fatias (adaptado de GEO-RIO, 2014) ...... 18

    Figura 2.13 - Decomposição de forças atuantes em Fatia “i” ........................................ 19

    Figura 2.14 - Forças atuantes em fatia “i” segundo o método de Spencer (SPENCER,

    1967 apud BECKER, 2016) ........................................................................................... 20

    Figura 2.15 - Determinação de FS a partir de curvas FSf x δ e FSM x δ (SPENCER, 1967

    apud BECKER, 2016) .................................................................................................... 21

    Figura 2.16 - Probabilidade de áreas da Curva de Distribuição Normal (RIOS, 2015) . 24

  • ix

    Figura 2.17- Exemplo de distribuição Triangular de moda = 0,175; valor mínimo = 0,05;

    valor máximo = 0,55; média = 0,263 ............................................................................. 24

    Figura 2.18 - Convergência da simulação de Monte Carlo para n Simulações (BAECHER

    & CHRSTIAN, 200, apud SILVA, 2019) ...................................................................... 26

    Figura 3.1 – Perfil 1 ........................................................................................................ 27

    Figura 3.2 – Perfil 2 ........................................................................................................ 27

    Figura 3.3- Histograma e Distribuição normal de ϕ’ ...................................................... 30

    Figura 3.4 - Histograma e Distribuição de C - Lama de Rejeitos .................................. 33

    Figura 3.5 - Classificação de solo da Fundação ............................................................. 35

    Figura 3.6- Perfil 1.......................................................................................................... 36

    Figura 3.7 – Perfil 2 ........................................................................................................ 37

    Figura 4.1 – Análise de abordagem determinística Perfil 1- Etapa 1 ............................. 39

    Figura 4.2 - Análise Determinística Perfil 1- Etapa 2 .................................................... 39

    Figura 4.3 – Análise Probabilística- Perfil 1, com 100 Simulações de Monte Carlo ..... 40

    Figura 4.4- Análise Probabilística Perfil 1 com 100 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS .......................................................................................................... 41

    Figura 4.5- Análise Probabilística- Perfil 1 com 100 Simulações de Monte Carlo –

    Valores de FS das SPR ................................................................................................... 41

    Figura 4.6- Análise Probabilística- Perfil 1, com 5.000 Simulações de Monte Carlo.... 42

    Figura 4.7 - Análise Probabilística Perfil 1 com 5.000 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS .......................................................................................................... 42

    Figura 4.8- Análise Probabilística- Perfil 1 com 5.000 Simulações de Monte Carlo –

    Valores de FS das SPRs.................................................................................................. 43

    Figura 4.9 – Análise Determinística Etapa 1- Perfil 2 .................................................... 44

    Figura 4.10 – Análise Determinística Etapa 2- Perfil 2 .................................................. 44

    Figura 4.11- Análise Probabilística- Perfil 2 com 100 Simulações Monte Carlo .......... 45

    Figura 4.12- Análise Probabilística Perfil 2 com 100 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS .......................................................................................................... 45

    Figura 4.13- Análise Probabilística do Perfil 2 com 100 simulações de Monte Carlo... 46

    Figura 4.14 SPR nº 63 com maior Pr (SPR Nº 63 em preto e SPR nº18 em branco) ..... 46

    Figura 4.15- Análise Probabilística- Perfil 2 com 500 Simulações Monte Carlo .......... 47

    Figura 4.16- Análise Probabilística Perfil 2 com 500 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS .......................................................................................................... 47

  • x

    Figura 4.17- Análise Probabilística Perfil 2 com 500 simulações Monte Carlo – Valores

    de FS, FSmédio, Pr e β encontrados para as SPR........................................................... 48

    Figura 4.18- SPR nº 29 com maior Pr (SPR Nº 29 em preto e SPR nº18 em branco) ... 48

    Figura 4.19- Análise Probabilística- Perfil 2 com 1.000 Simulações Monte Carlo ....... 49

    Figura 4.20 - Análise Probabilística Perfil 2 com 1.000 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS .......................................................................................................... 49

    Figura 4.21 - Análise Probabilística Perfil 2 com 1.000 simulações Monte Carlo – Valores

    de FS, FSmédio e Pr encontrados para as SPR............................................................... 50

    Figura 4.22 - Análise Probabilística- Perfil 2 com 5.000 Simulações de Monte Carlo . 50

    Figura 4.23 - Análise Probabilística Perfil 2 com 5.000 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS .......................................................................................................... 51

    Figura 4.24 - Análise Probabilística Perfil 2 com 5.00 0simulações Monte Carlo – Valores

    de FS, FSmédio e Pr encontrados para as SPR............................................................... 51

    Figura 4.25 – Simulações de Monte Carlo x Probabilidade de Ruptura – Perfis 1 e 2 .. 53

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 - Valores de FS admissíveis NBR 11682 ..................................................... 16

    Tabela 2.2 - Valores de FS admissíveis NBR 13028 ..................................................... 16

    Tabela 3.1- Covariância admitida para os parâmetros (DUNCAN et al, 2014) ............. 30

    Tabela 3.2 - Parâmetros adotados para camada de Rejeitos Grosseiros ......................... 31

    Tabela 3.4 - Parâmetros adotados para camada de Rejeitos Finos ................................. 33

    Tabela 3.5 - Parâmetros Utilizados para os Diques ........................................................ 34

    Tabela 4.1 – Valores comparativos análises Perfis 1 e 2................................................ 52

    Tabela A.0.1 – Dados para definição de γsat e γnat- Rejeitos Grosseiros ......................... 61

    Tabela A.0.2 - Dados para definição de γsat e γnat- Rejeitos Finos .................................. 62

    Tabela B.0.1 - Ângulo de atrito efetivo ϕ’- Rejeito Grosseiro ....................................... 64

    Tabela B.0.2 - Dados Compilados – Relação de resistência C - Rejeitos Finos ............ 66

  • xii

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

    1.1 MOTIVAÇÃO DO TRABALHO...................................................................... 3

    1.2 OBJETIVO ........................................................................................................ 4

    1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................. 5

    2 REVISÃO BIBLIGRÁFICA .................................................................................... 6

    2.1 MÉTODO DO ATERRO HIDRÁULICO ......................................................... 6

    2.1.1 Funcionamento do método: Formas de execução....................................... 7

    2.2 MÉTODOS DE ALTEAMENTO DE BARRAGENS DE REJEITOS ............. 9

    2.2.1 Prática Brasileira....................................................................................... 11

    2.3 PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA .............................................................. 12

    2.3.1 Envoltória de ruptura de rejeitos grosseiros (underflow) ......................... 12

    2.3.2 Envoltória de ruptura de rejeitos finos (lamas ou overflow) .................... 13

    2.4 TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE .............................................................. 14

    2.4.1 Definição da Teoria .................................................................................. 14

    2.5 MÉTODOS DE ABORDAGEM DETERMINÍSTICA x PROBABILÍSTICA

    17

    2.5.1 Método das Fatias ..................................................................................... 18

    2.5.2 Método de Spencer (1967) ....................................................................... 20

    2.6 ANÁLISE PROBABILÍSTICA ....................................................................... 21

    2.6.1 Noções de probabilidade e estatística ....................................................... 21

    2.6.1.1 Universo, população e amostra ......................................................... 21

    2.6.1.2 Moda, Mediana e Média (μ) .............................................................. 22

    2.6.1.3 Desvio Padrão (σ) .............................................................................. 23

    2.6.1.4 Histograma, Distribuição Normal e Distribuição Triangular ............ 23

    2.6.1.5 Simulação de Monte Carlo ................................................................ 25

    2.6.1.6 Probabilidade de ruptura (Pr) ............................................................ 26

    3 METODOLOGIA ................................................................................................... 27

  • xiii

    3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................... 27

    3.2 DADOS COLETADOS ................................................................................... 28

    3.2.1 Rejeitos Grosseiros ................................................................................... 29

    3.2.1.1 Peso específico Saturado (γsat) e natural (γnat) ................................... 29

    3.2.1.2 Coesão Efetiva (c’) e Ângulo de Atrito efetivo (ϕ’) ......................... 29

    3.2.2 Rejeitos Finos (Lama) .............................................................................. 32

    3.2.2.1 Peso específico Saturado (γsat ) e natural (γnat) .................................. 32

    3.2.2.2 Razão de resistência (C) .................................................................... 32

    3.2.3 Diques ....................................................................................................... 34

    3.2.4 Solo de fundação ...................................................................................... 35

    3.3 PERFIS MODELADOS .................................................................................. 35

    3.3.1 Perfil 1- Perfil sem presença de rejeitos finos na praia de areia ............... 35

    3.3.2 Perfil 2 – Perfil com presença de rejeitos finos na praia de areia ............. 36

    4 ANÁLISES DE ESTABILIDADE ......................................................................... 38

    4.1 PERFIL 1 ......................................................................................................... 38

    4.1.1 Análise de abordagem determinística ....................................................... 38

    4.1.1.1 Etapa 1 ............................................................................................... 38

    4.1.1.2 Etapa 2 ............................................................................................... 39

    4.1.2 Análises de abordagem probabilística ...................................................... 40

    4.1.2.1 Análise com 100 simulações de Monte Carlo ................................... 40

    4.1.2.2 Análise com 5.000 simulações de Monte Carlo ................................ 41

    4.2 PERFIL 2 ......................................................................................................... 43

    4.2.1 Análises de abordagem determinística ..................................................... 43

    4.2.1.1 Etapa 1 ............................................................................................... 43

    4.2.1.2 Etapa 2 ............................................................................................... 44

    4.2.2 Análises de abordagem probabilística ...................................................... 45

    4.2.2.1 Análise com 100 simulações de Monte Carlo ................................... 45

    4.2.2.2 Análise com 500 simulações de Monte Carlo ................................... 46

    4.2.2.3 Análise com 1.000 simulações de Monte Carlo ................................ 48

  • xiv

    4.2.2.4 Análise com 5.000 simulações de Monte Carlo ................................ 50

    4.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE PERFIS 1 e 2 ..................................... 52

    5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 54

    5.1 RECOMENDAÇÃO PARA TRABALHOS FUTUROS ................................ 54

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 56

    APÊNDICE A – DADOS UTILIZADOS PARA A DEFINIÇÃO DE γsat e γnat ........... 61

    APÊNDICE B – DADOS UTILIZADOS PARA A DEFINIÇÃO DE μ e σ ................. 64

  • 1

    1. INTRODUÇÃO

    O surgimento da atividade mineradora no Brasil data de 1696, quando foram

    descobertas jazidas de ouro durante expedição exploratória na região onde atualmente

    está localizado o estado de Minas Gerais. A partir de então a região foi ocupada visando

    realizar a extração de metais com alto valor de mercado. A exploração do ouro teve seu

    ápice no século XVIII e durou até início do século XIX, quando se tornou necessária a

    ocorrência de expedições exploratórias do território para encontrar novos minérios a

    serem extraídos (FIGUEIRÔA, 1994).

    Em 1910, o potencial de jazidas de minério de ferro foi divulgado, fazendo da

    extração desse mineral uma das principais atividades de aproveitamento de riquezas do

    território, que até os dias de hoje representa importante contribuição para a economia do

    país (SILVA,1995).

    Segundo IBRAM (2018), a atividade de exportação mineral representou 1,4% do

    PIB brasileiro no ano de 2014, sendo a participação do Minério de Ferro equivalente a

    62% do volume de exportação no Brasil (dados de 2017). Na Figura 1.1 está representada

    a participação de Minério de Ferro no total de exportação mineral no Brasil no ano de

    2017.

    Figura 1.1- Participação do Ferro no percentual de exportações no Brasil em 2017

    (IBRAM, 2018)

    Conforme visto em Figura 1.1, o Minério de Ferro representa principal mineral

    brasileiro exportado para outros países, sendo o Brasil o 2ª maior exportador do mundo

    (USGS, 2016, apud IBRAM, 2018). Na Figura 1.2, representada abaixo, pode ser

    verificada a produção de minério de ferro, em toneladas, no Brasil e no Mundo (USGS,

  • 2

    2012 apud IBRAM 2018). Conforme pode ser observado, o Brasil é responsável por uma

    parcela significativa da produção mundial (IBRAM, 2018).

    Figura 1.2 - Produção de Minério de Ferro em milhões de toneladas (USGS,

    2012 apud IBRAM 2018)

    Para a extração do minério podem ser utilizadas diversas técnicas e processos de

    beneficiamento e a separação entre minério e solo. Após beneficiamento, o rejeito,

    resíduo resultante da separação, é misturado com água para formar uma polpa aquosa que

    possa ser transportada por bombeamento até uma barragem, onde será depositada. Na

    barragem de rejeitos, uma parcela da água será drenada e outra permanecerá nos poros

    dos rejeitos.

    Um risco importante associado à atividade mineradora é o rompimento da

    barragem de rejeitos. Este rompimento pode ocorrer de forma brusca, como nos casos das

    barragens em Mariana e Brumadinho, podendo causar imensas perdas materiais e mortes.

    Para prevenir estas ocorrências, é preciso prever o comportamento das barragens,

    especialmente no que se refere à estabilidade do seus taludes, levando em conta todas as

    condições de campo.

    Nas análises de estabilidade, as propriedades dos materiais envolvidos (solos e

    rejeitos) podem ser consideradas como valores conhecidos e fixos (abordagem

    determinística) ou como variáveis aleatórias (abordagem probabilística). No primeiro

    caso, calcula-se o fator de segurança (FS), que representa a razão entre a resistência

    disponível e a resistência necessária para a estabilidade. As normas estabelecem valores

    mínimos admissíveis para os valores de FS para compensar a existência de diversas

  • 3

    incertezas no processo de análise de estabilidade (imprecisão na estimativa da resistência

    dos materiais, imprecisão na estimativa dos níveis d’água, imprecisão na estimativa dos

    carregamentos, simplificações dos métodos de cálculo etc.). No segundo caso, calcula-se

    a probabilidade de haver combinações de parâmetros, com base em análises estatísticas

    da distribuição dos valores obtidos em ensaios na literatura para o material em análise,

    que resultem em FS ≤ 1 (probabilidade de ruptura).

    1.1 MOTIVAÇÃO DO TRABALHO

    No relatório sobre as prováveis causas de ruptura da Barragem 1 da Mina do

    Córrego do Feijão, no município de Brumadinho/MG (Robertson et al. 2019), é possível

    observar a presença de camadas de rejeitos finos nos perfis estratigráficos, em regiões

    próximas aos taludes (Figura 1.3). Apesar da diferenciação entre rejeitos finos e lamas na

    Figura 1.3, neste trabalhos ambos serão considerados como o mesmo material.

    Figura 1.3 - Seção da Barragem da Mina do Córrego do Feijão (Brumadinho-MG).

    (ROBERTSON et al., 2019).

    O mesmo pode ser observado n Figura 1.4, extraída do relatório sobre as causas

    da ruptura da barragem do Fundão, no município de Mariana/MG, o que foi apontado

    pelo painel como uma das causas de ruptura, dentre as várias condições que levaram ao

    desastre (MORGENSTERN et al, 2016).

  • 4

    Figura 1.4- Seção transversal com presença de lamas- Barragem do Fundão.

    (MORGENSTERN, 2016)

    Acredita-se que estas camadas de material fino podem desempenhar papel

    importante nas análises de estabilidade, tendo em vista que sua menor permeabilidade

    pode resultar em comportamento não drenado e elevações da superfície freática.

    1.2 OBJETIVO

    Este trabalho pretende verificar a influência da presença de camadas de rejeitos

    finos na estabilidade do talude de jusante de uma barragem hipotética alteada para

    montante com rejeitos dispostos pelo método do aterro hidráulico.

    Cabe ressaltar que o alteamento para montante foi proibido no Brasil em 2019,

    pela Resolução 4/2019 da Agência Nacional de Mineração (DIÁRIO OFICIAL DA

    UNIÃO, 2019). Entretanto, ainda existem muitas barragens já construídas por este

    método em território nacional.

    Para o cálculo dos valores de FS, será utilizado o método rigoroso de Spencer e,

    para a determinação da probabilidade de ruptura, será utilizada a Simulação de Monte

    Carlo, que consiste em gerar números aleatórios, dentro da faixa de incerteza fornecida,

    para que seja calculado o valor de FS através de Spencer, a probabilidade de ruptura é a

    razão do número de simulações com FS

  • 5

    1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

    Este trabalho segue a seguinte organização:

    No capítulo 1 é realizada a introdução do tema deste trabalho, ressaltando a

    importância da mineração na economia do Brasil, assim como sinalizando os impactos

    associados à esta atividade. Além disso, são apresentadas as motivações para a escolha

    deste tema e o objetivo do trabalho.

    No capítulo 2, os temas abordados e conceitos utilizados para o desenvolvimento

    do trabalho serão apresentados e desenvolvidos.

    O capítulo 3 trata da metodologia adotada para o desenvolvimento do trabalho,

    serão apresentados os métodos de análise, os perfis que serão analisados e suas

    divergências, assim como os dados que serão utilizados e sua distribuição.

    O capítulo 4 apresenta a análise de estabilidade dos perfis estudados, considerando

    os dados apresentados no capítulo 3. Neste capítulo são comparados os valores

    encontrados nas análises e avaliada a influência da presença de rejeitos finos sobre os

    valores de FS e PR.

    No capítulo 5 são feitas as conclusões acerca das análises e comparações

    realizadas, assim como sugestões para trabalhos futuros.

  • 6

    2 REVISÃO BIBLIGRÁFICA

    2.1 MÉTODO DO ATERRO HIDRÁULICO

    No processo da exploração do minério de ferro, é realizado o seu beneficiamento,

    quando ocorre a separação do material extraído da mina entre minério, que seguirá para

    comercialização, e rejeito. As etapas da mineração podem ser observadas na Figura 2.1.

    Para este trabalho, as etapas anteriores à formação do rejeito e a etapa de transporte não

    serão estudadas, sendo relevante apenas a disposição do mesmo.

    Figura 2.1- Fluxograma de Tratamento de Minérios (WOLFF, 2009 apud BEZERRA,

    2017)

    O rejeito de minério de ferro é o resíduo proveniente do beneficiamento do minério,

    sob a forma de polpa ou lama (slime), formado basicamente pela mistura entre água e

    partículas de sílica, alumina e óxido de ferro.

    Para a disposição dos rejeitos no Brasil, é comum adotar-se o método do aterro

    hidráulico, depositando-os em barragens de rejeitos. O método consiste em bombear o

    rejeito misturado à água (polpa), através de tubulações, e depositá-lo na barragem com o

    auxílio de dispositivos mecânicos para lançamento, que podem estar localizados na

  • 7

    extremidade da tubulação. Os rejeitos são dispostos na barragem até atingir um nível

    limite previamente determinado em projeto, a partir do qual são realizados alteamentos,

    geralmente já considerados no plano de implantação da barragem, visando aumentar a

    sua capacidade.

    O transporte e deposição de rejeitos também é um processo que necessita de

    planejamento, uma vez que o material constituinte da polpa está altamente saturado, o

    que pode ser prejudicial à estabilidade do aterro (RUSSO, 2007), conforme será discutido

    adiante.

    A técnica do aterro hidráulico surgiu muito antes do desenvolvimento dos

    conhecimentos na área de Mecânica dos solos. Segundo a literatura, os Egípcios já

    utilizavam este método para suas construções (ESPÓSITO, 2000 apud RUSSO, 2007) e

    o conhecimento foi propagado até ser amplamente utilizados por Chineses e Russos entre

    as décadas de 40 e 80 (RIBEIRO, 2000).

    O aumento do uso da técnica na China e na Rússia pode ser explicado pelo custo

    reduzido, quando comparado com métodos mais complexos, e a baixa oferta de

    equipamentos de compactação nos países menos desenvolvidos na época, o que

    impossibilitava a construção de aterros compactados (RUSSO, 2007).

    No Brasil, o método é muito utilizado até hoje, pois além de ser econômico,

    possibilita transporte e deposição de grandes volumes de rejeito. Em adição, o rejeito

    pode ser utilizado como matéria prima de construção dos diques da barragem,

    representando mais uma redução nos custos com aquisição e transporte de material

    importado (RUSSO, 2007).

    2.1.1 Funcionamento do método: Formas de execução

    A polpa é transportada até a barragem através de tubulações que podem ser

    bombeadas ou direcionadas por gravidade, dependendo da topografia da mina. Na

    extremidade das tubulações, onde ocorre o lançamento da polpa, podem ser utilizados

    diversos dispositivos mecânicos para realizar o descarte do material na lagoa de

    decantação/praia de rejeitos (ESPÓSITO, 2000). Serão apresentados a seguir, dois

    mecanismos distintos entre si e suas singularidades:

    ⮚ Ciclonagem– Instalação de Hidrociclones, que utilizam força centrípeta para

    realizar a separação do rejeito em duas parcelas, fina e grossa, de acordo com sua

    massa.

  • 8

    Conforme pode ser observado na Figura 2.2, partículas de maior massa

    são denominadas Underflow e realizam movimento descendente, enquanto

    partículas de menor massa realizam movimento ascendente e são denominadas

    Overflow. As partículas de Overflow e Underfow são depositadas a montante e

    jusante do ponto de lançamento, res pectivamente. A separação entre os dois tipos

    de materiais garante maior controle sobre a homogeneidade da lagoa de

    decantação, além da reserva das areias, mais apropriadas para a construção de

    diques de alteamento (THOMÉ, 2018).

    Figura 2.2 - a) Esquema de funcionamento do Hidrociclone. b) Hidrociclone em

    funcionamento. c) Detalhe saídas overflow e underflow (VIEIRA, 2006).

    ⮚ Descarga em múltiplos pontos da crista (THOMÉ, 2018) – Neste método são

    utilizados espigotes com espaçamento constante, localizados sobre a crista da

    barragem e interligados à tubulação principal que realiza o transporte da polpa.

    Cabe ressaltar que o método visa afastar as partículas finas do talude da

    barragem, formando a praia de areia próximo à crista (Figura 2.3, 4) e o lago de

    decantação em pontos mais afastados (Figura 2.3, 5), buscando melhorar a

    estabilidade da base para a construção dos diques de alteamento. Porém, devido à

    existência de partículas finas com maior peso específico (óxidos de Ferro), pode

    ocorrer o acúmulo das partículas de menor granulometria próximo à crista da

    barragem.

  • 9

    Figura 2.3- Método do aterro hidráulico, a partir de descarga em múltiplos pontos

    (SOARES, 2010).

    2.2 MÉTODOS DE ALTEAMENTO DE BARRAGENS DE REJEITOS

    A barragem é iniciada com um dique de partida composto de solo selecionado e

    compactado e, posteriormente, podem ser realizados alteamentos. Estes são executados

    para aumentar a capacidade da Barragem, permitindo o descarte de um volume maior de

    rejeitos, utilizando a mesma bacia.

    Para realizar os alteamentos, existem 3 métodos principais, sendo estes

    diferenciados de acordo com o a posição do eixo do dique de alteamento em relação ao

    eixo do dique de partida. É importante ressaltar que os diques de alteamento são

    comumente executados com o próprio rejeito presente na bacia, na umidade natural.

    Dessa maneira, diferentemente do dique de partida, onde geralmente se utilizam solos

    selecionados e submetidos à controle de compactação, os alteamentos não possuem

    características tão bem definidas ou controladas. Abaixo estão relacionados os métodos

    mais utilizados:

    ⮚ Método Para Montante

    Conforme pode ser observado na Figura 2.4, o método consiste na

    execução de alteamentos com eixos localizados à montante do dique de partida e

    de alteamentos anteriores, ou seja, à medida que os diques alteados são

    construídos, a base dos mesmos é construída sobre os rejeitos depositados na

    bacia, que podem não ter atingido a resistência adequada.

  • 10

    Figura 2.4 - Método Para Montante (VALERIUS, 2014, apud THOMÉ 2018)

    Além disso, devido à quantidade de água envolvida no processo de

    transporte e deposição, pelo método do aterro hidráulico, o nível freático pode

    estar bem próximo ao talude de jusante do alteamento, podendo resultar em erosão

    interna. É importante que seja prevista a drenagem interna do maciço da barragem

    que pode ser realiza, por exemplo, a instalação de tapetes drenantes, capazes de

    captar a água presente na bacia de rejeitos e encaminhá-la para o exterior.

    ⮚ Método para Jusante

    Este método considera a execução dos diques de alteamento com eixo à

    jusante do dique de partida, conforme Figura 2.5. É imprescindível que seja

    executada a extensão do dreno interno da barragem, garantindo a saída da água

    para o exterior da bacia.

    Figura 2.5 - Método para Jusante (VALERIUS, 2014, apud THOMÉ 2018)

    ⮚ Método Linha de Centro

    Representa uma mescla entre os dois métodos apresentados anteriormente,

    considerando que uma parte da base dos alteamentos executados está localizada

  • 11

    sobre a praia de rejeitos, enquanto a outra está sobre o terreno original, mesma

    base do dique de partida, conforme Figura 2.6.

    Figura 2.6 - Método Linha de Centro (VALERIUS, 2014, apud THOMÉ 2018)

    2.2.1 Prática Brasileira

    Por apresentar menor custo e maior produtividade, o método de alteamento para

    montante era muito utilizado no Brasil até 2019, quando em resolução nº 4 de 15 de

    fevereiro de 2019, a ANM proibiu a execução de alteamentos seguindo este método

    construtivo ou métodos considerados como desconhecidos (IMPRENSA NACIONAL,

    2019). A Figura 2.7 ilustra a quantidade de barragens de minério por método de

    construção no Brasil, até janeiro de 2019.

    Figura 2.7 - Métodos construtivos das barragens de rejeitos brasileiras até Jan/2019.

    (ANM, 2019)

  • 12

    2.3 PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA

    A resistência de rejeitos finos, grossos e de solos naturais geralmente é avaliada

    pelo critério de Mohr-Coulomb, cujos parâmetros são ângulo de atrito efetivo ϕ’ e

    intercepto de coesão efetiva c’ (análise em tensões efetivas) ou resistência não drenada

    Su (análise em tensões totais).

    Estes conceitos estão bem explicados em diversos livros-texto e sua revisão foge

    do objetivo deste capítulo. Para mais informações a respeito, sugere-se consultar a

    bibliografia de Fernandes M. M., Lambe T. W. & Whitman R.V. e etc.

    2.3.1 Envoltória de ruptura de rejeitos grosseiros (underflow)

    Devido aos processos de britagem e moagem, os rejeitos grosseiros possuem

    característica de apresentar valores de intercepto de coesão efetiva (c’) muito próximos

    de zero. Por este motivo, sua envoltória é semelhante à das areias limpas, que possuem c’

    nulo.

    As Figuras 2.8 e 2.9 ilustram envoltórias obtidos por ensaios realizados em rejeitos

    grosseiros por Espósito (2000) e André (2018).

    Figura 2.8 - Envoltória de Ruptura de Rejeito Granular extraído da Pilha do Xingu, MG

    – Ensaio Triaxial (ESPÓSITO, 2000)

  • 13

    Figura 2.9 - Envoltória de Ruptura de Rejeito Granular extraído da Barragem do

    Fundão, MG – Ensaio de cisalhamento direto (ANDRÉ, 2018)

    2.3.2 Envoltória de ruptura de rejeitos finos (lamas ou overflow)

    Seja pelo uso de hidrociclones ou espigotes, é possível que sejam depositadas

    camadas de lama (rejeito fino) na praia de rejeitos. Estes materiais têm a característica de

    possuir velocidade de adensamento lenta e baixa permeabilidade. Geralmente a sua

    resistência é avaliada através de Ensaio Triaxial Não Drenado, CIU.

    Devido à dificuldade de precisar os valores de excesso de poropressão gerado

    pelo cisalhamento, a análise de resistência deste tipo de material é frequentemente

    realizada em tensões totais. Quando o material está saturado, seu ângulo de atrito ϕ é nulo,

    e sua coesão passa a ser denominada resistência não drenada (su ou cu).

    A resistência não drenada é função da tensão efetiva atuante antes do

    carregamento e da razão de pré-adensamento, dentre outros fatores. Tendo em vista que

    os rejeitos geralmente são normalmente adensados, é conveniente utilizar a razão de

    resistência não drenada C, para representar a resistência das lamas em função da tensão

    vertical efetiva atuante: su/’v0, conforme pode ser observado na Figura 2.10.

  • 14

    Figura 2.10 - Gráfico Su x σ’v0- Dados referentes à rejeitos Finos da Unidade de

    Germano, MG (PENNA, 2007)

    2.4 TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE

    2.4.1 Definição da Teoria

    O método do equilíbrio limite é o mais utilizado para análises de estabilidade de

    taludes. Neste método considera-se que uma parcela de solo é delimitada por uma

    Superfície Potencial de Ruptura (SPR). A seguir admitem-se as seguintes hipóteses:

    ⮚ A geometria da SPR é arbitrada, o solo contido pela SPR está em equilíbrio com

    o restante do solo mais resistente e as forças, momentos e/ou tensões resistentes

    que atuam ao longo da superfície SPR estão em equilíbrio com as forças,

    momentos e/ou tensões instabilizantes (Figura 2.11);

    ⮚ Define-se um Fator de segurança (FS) que expressa o grau de mobilização da

    resistência disponível do solo, como se verá mais adiante;

    ⮚ Comportamento do solo rígido-plástico.

  • 15

    Figura 2.11 - Representação da Teoria do Equilíbrio Limite (BECKER, 2016)

    O método exige que se arbitrem muitas SPRs e que se calcule o valor de FS de

    cada uma separadamente. A SPR que possuir o menor valor de FS é denominada

    Superfície Crítica.

    O FS é definido como a razão entre a resistência disponível (τres) e a resistência que seria

    necessária para manter o equilíbrio (chamada de resistência mobilizada, τmob) :

    FS = τres / τmob (1)

    Para que o talude seja estável, é preciso que τmob < τres , ou seja, que FS > 1. FS =

    1 corresponderia a um estado de ruptura iminente. FS < 1 seria uma condição

    teoricamente impossível, pois violaria o critério de resistência adotado.

    Cabe ressaltar que o processo de cálculo do FS tem várias incertezas, dentre as

    quais destacam-se:

    Incertezas na determinação da resistência dos materiais;

    Incertezas na determinação dos carregamentos;

    Incertezas na determinação dos níveis piezométricos;

    Incertezas causadas pelas simplificações adotadas nos métodos de cálculo.

    Por causa destas incertezas, as normas e manuais nacionais e internacionais

    exigem que as obras apresentem valores mínimos de FS, chamados de FS admissíveis,

    que podem levar em conta uma série de fatores como condições de carregamento,

    responsabilidade da obra etc.

    Os valores de FS admissíveis preconizados pela NBR 11682 – Estabilidade de

    Taludes pode ser verificado na Tabela 2.1, enquanto a Tabela 2.2 apresenta os valores da

    NBR 13028 –Mineração: Elaboração e apresentação de projeto de barragens para

    disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de água- Requisitos. Cabe

    ressaltar que a ANM passou a exigir FS>1,3 a partir da resolução 4/2019.

  • 16

    Tabela 2.1 - Valores de FS admissíveis NBR 11682

    Tabela 2.2 - Valores de FS admissíveis NBR 13028

  • 17

    2.5 MÉTODOS DE ABORDAGEM DETERMINÍSTICA x PROBABILÍSTICA

    Na Análise de Estabilidade de taludes, podem ser adotadas duas abordagens

    distintas: Determinística e Probabilística. A primeira trata da análise de estabilidade de

    perfis utilizando parâmetros de entrada fixos, ou seja, neste tipo de análise não é

    considerado que haja variação dos parâmetros adotados. Por outro lado, a análise

    probabilística considera a variabilidade dos parâmetros de entrada, geralmente adotando

    uma função de distribuição de probabilidade dos parâmetros do material obtidos em

    ensaios e literatura.

    Diferentemente das construções realizadas utilizando materiais produzidos

    industrialmente ou com controle de qualidade, tais como concreto e aço, cujas

    propriedades podem ser especificadas e cuja variabilidade pode ser controlada ou mais

    facilmente determinada, os solos frequentemente são mais antigos que a própria

    humanidade e tem origem natural. Sendo assim, é necessário um esforço grande de

    investigação empírica para estimar suas propriedades e as respectivas variabilidades.

    O método de deposição dos rejeitos, ainda que resultantes de processos artificiais,

    faz com que a estimativa de suas propriedades exija esforço similar ao dos solos naturais.

    As limitações de custo e prazo impostas aos esforços de investigação e a elevada

    variabilidade das propriedades dos solos e rejeitos adicionam um nível de incerteza

    considerável às análises de estabilidade. Considerando que o processo de deposição de

    rejeitos nas barragens não garante uniformidade, é importante que, ao considerar os

    parâmetros de resistência do rejeito, seja levada em conta a sua variação (ESPÓSITO,

    2000).

    Ainda hoje, entretanto, a maior parte das análises de estabilidade de taludes é

    realizada utilizando abordagens determinísticas, que apresentam a vantagem de serem

    mais simples, porém desconsideram a variação das propriedades dos solos e rejeitos

    assumidos como variáveis conhecidas de valor fixo. Os resultados destas análises são o

    valor de FS e a geometria de superfície crítica.

    Para uma análise mais fiel à realidade, seria possível considerar a variação das

    propriedades do solo e dos rejeitos, mas para isso seria preciso assumir que estas

    propriedades são variáveis aleatórias e realizar uma abordagem probabilística, cujo

    resultado seria a distribuição de probabilidade do FS. A partir desta distribuição é possível

    calcular a probabilidade de ruptura do talude.

  • 18

    2.5.1 Método das Fatias

    Hoje existem diversos métodos de fatias, tendo sido o primeiro foi proposto por

    FELLENIUS (1927). A massa de solo potencialmente instável é dividida em n fatias

    verticais (Figura 2.12), cuja relação entre a resistência disponível e os esforços

    instabilizantes é analisada de forma isolada e em conjunto.

    Figura 2.12 - Representação do método das Fatias (adaptado de GEO-RIO, 2014)

    A partir da divisão da massa em fatias, pode ser analisado o equilíbrio do

    somatório de forças (∑Fx =∑Fy = 0) e momentos (∑M=0) em cada fatia ou em toda a

    massa de solo. A Figura 2.13 apresenta um diagrama de forças atuantes na i-ésima fatia

    de uma SPR hipotética.

  • 19

    Figura 2.13 - Decomposição de forças atuantes em Fatia “i”

    Sendo:

    Wi- Peso da fatia

    Ei, Xi - Resultantes das tensões normais efetivas / cisalhantes que atuam na face

    esquerda

    Ei+1, Xi+1 - Resultantes das tensões normais efetivas/ cisalhantes que atuam na face

    direita

    Ud, Ue - Resultantes da poro-pressão nas faces verticais

    N’i- Resultante das tensões efetivas normais à base

    Ti- Resultante das tensões cisalhantes mobilizadas na base

    Ui- Resultante das poro-pressões na base.

    O problema para obtenção do equilíbrio de forças / momentos atuantes na massa

    de solo potencialmente instável é que existem mais incógnitas do que equações. A

    maneira de resolver este problema pelo método das fatias é aplicar hipóteses

    simplificadoras, buscando diminuir o número de incógnitas.

    Os diversos métodos disponíveis empregam diferentes hipóteses. A descrição

    detalhada de tais métodos e suas vantagens e desvantagens foge ao escopo deste trabalho.

    Será apresentada a seguir somente uma descrição sucinta do método de Spencer,

    selecionado para uso nas análises que serão apresentadas a seguir.

  • 20

    2.5.2 Método de Spencer (1967)

    Este é um método rigoroso, pois satisfaz as três condições de equilíbrio da estática:

    equilíbrio de forças (∑Fx =∑Fy = 0) e de momentos (∑M=0).

    Spencer utiliza a hipótese simplificadora de que as resultantes das forças Qi , entre

    as fatias, são paralelas e possuem inclinação δ em todas as faces, além de considerar Wi,

    N’i e Ui atuando no centro da base, conforme Figura 2.14.

    Figura 2.14 - Forças atuantes em fatia “i” segundo o método de Spencer (SPENCER,

    1967 apud BECKER, 2016)

    Qi pode ser calculado pelo equilíbrio das forças nas direções normal e tangencial

    à base da fatia, conforme equação (2) abaixo:

    𝑄𝑖 =[𝑐′.𝑙𝑖𝐹𝑆

    +𝑡𝑎𝑛𝜙′

    𝐹𝑆.(𝑤𝐼.𝐶𝑂𝑆𝜃𝑖−𝑈𝑖)−𝑊𝑖.𝑠𝑒𝑛𝜃𝑖

    ]

    𝑐𝑜𝑠𝑐𝑜𝑠 (𝜗𝑖−𝛿) .[1+𝑡𝑎𝑛𝜙′

    𝐹𝑆.𝑡𝑎𝑛𝑡𝑎𝑛 (𝜃𝑖−𝛿) ]

    (2)

    Considerando que a massa de solo se comporta como um corpo rígido, o somatório

    dos momentos das forças Qi em relação ao centro do sistema de eixos é nulo:

    ∑ 𝑄𝑖(𝑦𝑖. 𝑐𝑜𝑠𝛿 + 𝑥𝑖 . 𝑠𝑒𝑛𝛿)𝑛𝑖=1 = 0 (3)

    Na condição de não existência de forças externas ao talude, o próprio somatório

    das forças Qi é nulo:

    ∑ 𝑄𝑖𝑛𝑖=1 = 0 (4)

  • 21

    O método fornece dois valores de FS: um calculado pela equação de equilíbrio de

    forças (FSf) e outro pela equação de equilíbrio de momentos (FSM). Para a determinação

    do valor correto de FS, são arbitrados valores de δ para a obtenção das curvas FSf x δ e

    FSM x δ. O valor do fator de segurança final será aquele em que FSf = FSM (Figura 2.15).

    Figura 2.15 - Determinação de FS a partir de curvas FSf x δ e FSM x δ (SPENCER,

    1967 apud BECKER, 2016)

    2.6 ANÁLISE PROBABILÍSTICA

    2.6.1 Noções de probabilidade e estatística

    Para a realização de análises de estabilidade com abordagem probabilística, é

    necessária a introdução de alguns conceitos fundamentais ao entendimento de

    Probabilidade e Estatística. A seguir serão apresentados sucintamente alguns tópicos

    importantes para o desenvolvimento deste trabalho.

    2.6.1.1 Universo, população e amostra

    Em uma visão macro do que se deseja estudar na Probabilidade e Estatística, o

    universo é considerado o como conjunto de dados mais completo, onde estão presentes

    todas as informações e variações possíveis. O universo é, portanto, o foco de estudo da

    probabilidade e estatística. Ex.: Barragem de Rejeitos.

  • 22

    A população representa o conjunto de dados específico de determinada

    característica do universo que se deseja estudar. Ex.: c’ e ϕ’ dos rejeitos grosseiros da

    barragem.

    As amostras por sua vez, são uma representação dos dados encontrados em

    determinada população, pertencente a um universo. O objetivo da amostragem é

    conseguir, a partir de um pequeno conjunto de dados, representar o comportamento de

    uma população. Ex: Conjunto de corpos de prova ou dados de ensaios realizados sobre

    rejeitos grosseiros de uma barragem de rejeitos, visando a obtenção de c’ e ϕ’.

    2.6.1.2 Moda, Mediana e Média (μ)

    A moda é o dado ou valor mais frequente de determinada amostra.

    A mediana é o valor que ocupa a posição central da amostra, quando a mesma é

    organizada de forma crescente ou decrescente.

    A média é a principal medida de tendência central de uma população.

    Para este trabalho, a média utilizada será a aritmética, que considera equivalente

    o peso atribuído a cada unidade de amostragem.

    A média aritmética da amostra pode ser calculada da seguinte forma:

    ∑ 𝑥𝑖𝑛1

    𝑛= �̅� (5)

    Onde n é o tamanho da amostra, ou quantidade de unidades de amostragem, xi é

    o valor individual de cada medida i e �̅� representa a média da amostra, ou valor central

    da mesma.

    Como normalmente não é possível medir todas as unidades de amostragem de

    uma população, a média da população (μ), pode ser representada pelo valor da média da

    amostra, �̅�.

    Considerando que para a análise probabilística de estabilidade de taludes as

    variáveis serão os parâmetros de resistência do solo, estes parâmetros podem ser

    considerados como variáveis aleatórias contínuas, que seguem a seguinte equação:

    𝜇 = ∫ 𝑋�̅�𝑓(𝑥)+∞

    −∞ (6)

    Sendo f(x) a função densidade de probabilidade.

  • 23

    2.6.1.3 Desvio Padrão (σ)

    Medida de dispersão utilizada para representar o grau de uniformidade de uma

    amostra. Quanto mais próximo de zero for o desvio padrão, mais uniforme será a amostra.

    Assim como a média, o desvio padrão também pode ser diferenciado em desvio

    padrão da amostra (s) e desvio padrão da população (σ).

    O desvio padrão amostral pode ser representado pela seguinte equação:

    𝑠 = √∑ (𝑥𝑖− �̅�)

    2𝑖𝑛=1

    (𝑛−1) (7)

    Para este trabalho, será considerado que o desvio padrão populacional pode ser

    representado pelo desvio padrão amostral, σ = s.

    2.6.1.4 Histograma, Distribuição Normal e Distribuição Triangular

    Após amostragem da população, os dados precisam ser organizados de forma a

    traduzir as informações obtidas através das amostras referentes à população. Por este

    motivo, é necessário que os dados sigam uma distribuição.

    Uma das formas de organização de dados é o Histograma, gráfico de barras no

    qual o eixo das abcissas é representado por intervalos dos valores obtidos por resultados

    de amostragem e no eixo das ordenadas ficam as informações a respeito da frequência,

    ou seja, quantas vezes determinado valor foi obtido na amostragem. Entretanto, quando

    a amostragem fornece muitos dados em pequenos intervalos, para uma fácil interpretação

    dos resultados é mais indicado que eles sejam representados por uma curva suave de

    distribuição de frequências (ESPÓSITO, 2000).

    Uma curva de distribuição é a Curva de Distribuição Normal, ou Curva de Gauss,

    determinada pelos parâmetros de média populacional μ e desvio padrão populacional σ.

    Esta curva é caracterizada por ser simétrica em relação à média. Por causa disto, a moda

    e a mediana coincidem com a média. A distribuição normal pode ser verificada na Figura

    2.16, onde são apresentadas também as porcentagens da população abrangidas por um,

    dois e três desvios padrão em relação à média.

  • 24

    Figura 2.16 - Probabilidade de áreas da Curva de Distribuição Normal (RIOS, 2015)

    Para os casos nos quais a distribuição é assimétrica, pode-se utilizar uma função

    triangular para representá-la. Seu uso pode ser conveniente quando é possível determinar

    a moda (valor mais provável) da variável aleatória e seus valores mínimo e máximo,

    porém não se conhece muito sobre a distribuição empírica dos dados. Na Figura 2.17

    observa-se uma distribuição triangular na qual a média é maior que a moda (está à sua

    direita).

    Figura 2.17- Exemplo de distribuição Triangular de moda = 0,175; valor mínimo =

    0,05; valor máximo = 0,55; média = 0,263

  • 25

    2.6.1.5 Simulação de Monte Carlo

    Trata-se de uma simulação probabilística que, quando aplicada a problemas de

    estabilidade de taludes, permite estimar a probabilidade de ruptura.

    A partir da inserção das informações acerca da distribuição de probabilidade de

    determinada variável aleatória, um gerador de números randômicos normalizados fornece

    ao sistema n valores para a variável, respeitando a sua faixa de variação. O número de

    variáveis aleatórias consideradas na simulação depende apenas das premissas adotadas

    para o sistema, não havendo limite imposto pelo método. Cada um desses valores é

    utilizado para a resolução da função de desempenho, neste caso o FS de uma SPR, que

    será calculado n vezes, utilizando os valores fornecidos pela simulação. Em seguida, o

    mesmo processo ocorrerá para as demais SPR, até que todas tenham sido analisadas

    (SILVA, 2019).

    O objetivo desta simulação é gerar a função de probabilidade de massa FPM do

    Fator de Segurança, FS, para cada SPR, fornecendo características importantes como: FS

    médio e Probabilidade de Ruptura (Pr).

    O valor de n dependerá da precisão desejada e da quantidade de variáveis

    aleatórias e sua variação. Quanto maior o seu valor, menor será o erro obtido na análise.

    Para análises mais próxima da realidade, é importante garantir convergência dos valores

    encontrados, ou seja, devem ser realizadas quantas iterações forem necessárias, até que o

    aumento do valor de n não afete os valores encontrados, conforme Figura 2.18.

  • 26

    Figura 2.18 - Convergência da simulação de Monte Carlo para n Simulações

    (BAECHER & CHRSTIAN, 200, apud SILVA, 2019)

    2.6.1.6 Probabilidade de ruptura (Pr)

    A probabilidade de ruptura é o percentual que indica a chance de ruptura de um

    talude, sendo esta a razão entre a quantidade de casos desfavoráveis, ou seja, que

    apresentam ruptura (FS

  • 27

    3 METODOLOGIA

    3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

    Para a realização deste trabalho, foram modelados dois perfis transversais de uma

    barragem hipotética, com alteamentos sucessivos realizados pelo método à montante.

    Para fins de comparação, os parâmetros considerados para os materiais serão os mesmos

    para todos os perfis, assim como o nível d’água, tipo de solo de fundação, altura do dique

    de partida e demais alteamentos da barragem. Os perfis serão diferenciados pela presença

    de uma camada de lama, conforme pode ser verificado nas Figuras 3.1 e 3.2.

    Figura 3.1 – Perfil 1

    Figura 3.2 – Perfil 2

    Primeiramente foram definidos quais os parâmetros do solo cuja variabilidade

    seria considerada nas análises. Os demais parâmetros serão considerados de forma

    determinística.

    Neste trabalho, os valores de peso específico de todos os materiais serão

    considerados como invariáveis, pois sua variabilidade é relativamente reduzida.

    Pode-se supor que o solo de fundação seja mais resistente que os materiais da

    barragem, fato comum de ocorrer. Neste caso, é de se esperar que a superfície crítica não

  • 28

    atinja a fundação. Sendo assim, as SPR utilizadas nas simulações deste trabalho passam

    somente pelos materiais da barragem.

    As variáveis aleatórias consideradas neste trabalho foram o ângulo de atrito do

    rejeito arenoso (ϕ') e a razão de resistência não drenada das camadas de lama (su/σ'v).

    Para a determinação dos parâmetros de resistência da barragem e de suas variabilidades

    foram coletados dados em diversos trabalhos publicados sobre rejeitos de Minério de

    Ferro da Região do Quadrilátero Ferrífero - MG.

    Em uma barragem de rejeitos com camadas alternadas de rejeito fino e grosseiro

    existe uma possibilidade considerável que haja diversas superfícies freáticas. Por outro

    lado, se não houver camadas de lama, o mais provável é que exista somente uma

    superfície freática e que ela seja mais baixa. Entretanto, para facilitar a comparação, foi

    simulada a existência de um nível piezométrico único, mesmo que não representativo de

    um perfil de rejeito grosseiro ou fino. Tendo em vista que o objetivo deste trabalho é

    comparar probabilidades de ruptura, optou-se por utilizar um nível piezométrico

    significativamente elevado, representativo de uma situação desfavorável de mau

    funcionamento dos sistema de drenagem.

    Após definidos os parâmetros, a linha freática e a estratigrafia da barragem

    hipotética, foram realizadas análises de estabilidade com abordagem determinística para

    as duas geometrias, utilizando o programa Geostudio Slope/W 2012, empregando o

    método de Spencer para determinar FS e a superfície crítica.

    Para a análise com abordagem probabilística, considerando a variação dos

    parâmetros de resistência dos rejeitos, foi utilizado o método de Spencer para cálculo de

    FS e o Método de Monte Carlo para geração das variáveis aleatórias dos parâmetros e a

    determinação da probabilidade de ruptura.

    Finalmente, foi realizada a comparação entre os valores de FS e Pr para a

    superfície de ruptura considerada crítica em cada perfil, para que possa ser avaliada a

    influência da lama na probabilidade de ruptura da barragem.

    3.2 DADOS COLETADOS

    Abaixo estão relacionados os dados utilizados para a realização da análise de

    estabilidade dos perfis da barragem.

  • 29

    Para a coleta de dados, tomou-se como ponto de partida a recomendação da NBR

    11682 – Estabilidade de Taludes, anexo D, que preconiza que os parâmetros de

    resistência ao cisalhamento devem ser estimados por regressão linear numa quantidade

    mínima de 12 pontos por camada idealizada no perfil geotécnico.

    3.2.1 Rejeitos Grosseiros

    3.2.1.1 Peso específico Saturado (γsat) e natural (γnat)

    Após análise de dados apresentados para o peso específico dos rejeitos grosseiros

    em Morgenstern et al (2016), Telles (2017) e Robertson et al (2019), foram observados

    valores de γsat na faixa entre 18,54 kN/m³ e 26kN/m³. Para fins de análise, decidiu-se

    adotar γsat= 22 kN/m³ e γnat= 21 kN/m³, por representarem valores intermediários da faixa

    de dados. Como γ possui uma variabilidade significativamente menor que a dos

    parâmetros de resistência (Tabela 3.1), decidiu-se simplificar o problema desprezando a

    variabilidade dos pesos específicos.

    A tabela de dados com os valores considerados na determinação do valor adotado

    pode ser consultada no Apêndice A, tabela A1.

    3.2.1.2 Coesão Efetiva (c’) e Ângulo de Atrito efetivo (ϕ’)

    Os parâmetros de resistência dos rejeitos grosseiros, c’ e ϕ’, apresentam

    variabilidade de seus valores de acordo com as condições do meio, mesmo quando

    pertencentes ao mesmo solo. Estas variações podem estar ligadas à diferenças nos valores

    de compacidade relativa do solo, índice de vazios e porosidade (ESPÓSITO, 2000).

    A coesão efetiva do rejeito grosseiro apresenta comportamento similar ao das

    areias limpas devido às etapas de britagem e moagem, que compromete a força de

    interligação das partículas. Desta maneira, o valor de c’ foi considerado como 0 kPa e sua

    variação será considerada nula

    Para a determinação da média μ e desvio padrão σ do ângulo de atrito efetivo ϕ’,

    foram compilados 31 dados referentes à ensaios realizados sobre rejeitos grosseiros em

    barragens localizadas no estado de MG. Os dados utilizados podem ser verificados no

    Apêndice B, Tabela B1.

  • 30

    A Figura 3.3 apresenta Histograma e Distribuição Normal dos valores de ângulo

    de atrito dos rejeitos grosseiros encontrados na literatura. A distribuição normal ajustada

    tem média de 33° e desvio padrão de 5,05°.

    Figura 3.3- Histograma e Distribuição normal de ϕ’

    A Tabela 3.1 apresenta a relação entre os parâmetros do solo e sua

    covariância típica, elaborada por DUNCAN et al (2014). Considerando que a covariância

    de ϕ’ foi de 15%, constata-se que a mesma encontra-se pouco acima do limite superior da

    faixa proposta por Duncan et al. (2014).

    Tabela 3.1- Covariância admitida para os parâmetros (DUNCAN et al, 2014)

    Property or in Situ Test

    COV (%) References

  • 31

    Unit Weight (γ) 3 - 7 Harr (1987), Kulhawy

    (1992)

    Buoyant unit weight (γb)

    0 - 10 Lacasse and Nadim

    (1997), Duncan (2000)

    Effective Stress Friction angle (ϕ')

    2 - 13 Harr (1987), Kulhawy

    (1992), Duncan (2000)

    Undrained Shear Strength (Su)

    13 - 40 Kulhawy (1992), Harr (1987), Lacasse and

    Nadim (1997)

    Undrained Strength ratio ( Su/σ'v)

    5- 15 Lacasse and Nadim

    (1997), Duncan (2000)

    Standard penetration test blow count (N)

    15 - 45 Harr (1987), Kulhawy

    (1992)

    Eletric cone penetration test

    (qc) 5- 15 Kulhawy (1992)

    Mechanaical cone penetration test

    (qc) 15 - 37

    Harr (1987), Kulhawy (1992)

    Dilatometer test tip resistance (qd)

    5- 15 Kulhawy (1992)

    Vane Shear test undrained strength

    (Sv) 10 - 20 Kulhawy (1992)

    Na Tabela 3.2 podem ser verificados os parâmetros de entrada considerados para

    a camada de rejeitos grosseiros;

    Tabela 3.2 - Parâmetros adotados para camada de Rejeitos Grosseiros

    Parâmetros adotados para camada de Rejeitos Grosseiros

    Parâmetro Valor

    Peso Específico Saturado 22 kN/m³

    Peso Específico Natural 21 kN/m³

    c' 0 kPa

    ϕ' ( μ ± σ) 33 ± 5 °

  • 32

    3.2.2 Rejeitos Finos (Lama)

    3.2.2.1 Peso específico Saturado (γsat ) e natural (γnat)

    Após análise de dados apresentados para o peso específico dos rejeitos finos

    em Morgenstern et al (2016), Telles (2017) e Robertson et al (2019), foram observados

    valores de γsat na faixa entre 18,54 kN/m³ e 26kN/m³. Para fins de análise, decidiu-se

    adotar γsat= 24 kN/m³ e γnat= 23 kN/m³. Como γ possui uma variabilidade menor que os

    parâmetros de resistência (Tabela 3.1), decidiu-se simplificar o problema desprezando a

    variabilidade dos pesos específicos.

    A tabela de dados com os valores considerados na determinação do valor adotado

    na presente análise pode ser consultada no Apêndice A, tabela A2.

    3.2.2.2 Razão de resistência (C)

    Devido à variabilidade dos valores de Su e consequentemente, da razão de

    resistência C do solo, definida como o quociente entre 𝑆𝑢

    𝜎′𝑣 , este parâmetro foi considerado

    como variável aleatória.

    Para a determinação da média, μ, e desvio padrão, σ, de C, foram analisados 60

    dados referentes à amostragem e ensaios realizados em trabalhos da área. Os dados podem

    ser verificados no Apêndice B, tabela B2.

    Conforme pode ser verificado na Figura 3.4, a distribuição dos valores de C não

    segue uma distribuição normal, ou seja, os dados não apresentam concentração dos

    valores próximos à média. Dessa maneira, é importante representar a distribuição do

    parâmetro de forma a considerar a variação e frequência dos valores obtidos. Para isto,

    foi realizada distribuição triangular.

  • 33

    Figura 3.4 - Histograma e Distribuição de C - Lama de Rejeitos

    Na Tabela 3.4 podem ser verificados os parâmetros de entrada considerados para

    a camada de rejeitos finos.

    Tabela 3.3 - Parâmetros adotados para camada de Rejeitos Finos

    Parâmetros adotados - Rejeitos Finos

    Peso Específico Saturado 24kN/m³

    Peso Específico Natural 24kN/m³

    C (μ ± σ) 0,263 ± 0,11

    Moda 0,175

    Valor Mínimo 0,05

    Valor Máximo 0,55

  • 34

    Considerando que a covariância de C foi de 41%, constata-se que a mesma não se

    enquadra na faixa citada por Duncan et al. (2014). Entretanto, a mesma encontra-se

    próxima à faixa de variação do parâmetro da Resistência não drenada (Undrained Shear

    Strength), Su, a qual é diretamente proporcional à razão de resistência, apresentada na

    Tabela 3.1.

    3.2.3 Diques

    O dique de partida é executado utilizando materiais com propriedades conhecidas,

    geralmente solo de área de empréstimo, e técnicas de compactação controladas. Os diques

    de alteamento podem ser construídos com o próprio rejeito grosseiro presente na praia, e

    geralmente são compactados.

    Os diques representam uma pequena parcela da totalidade do perfil, e

    consequentemente, suas eventuais variações tem pouca influência no resultado final da

    análise.

    Por estas razões os parâmetros dos diques serão considerados como variáveis

    determinísticas.

    A tabela 3.5 apresenta os parâmetros de entrada utilizados para os solos dos

    diques. Eles foram baseados em pesquisa realizada por REZENDE, 2013 e adaptados

    para os diques de alteamento, considerando c’=20 kPa, buscando representar a coesão

    aparente dos grãos, já que os diques de alteamento estão considerados em zona não

    saturada.

    Tabela 3.4 - Parâmetros Utilizados para os Diques

    Dados Utilizados - Diques

    Solo Coesão

    (kPa)

    Ângulo

    de atrito

    (°)

    Peso

    específico

    (kN/m³)

    Região Fonte

    Dique de partida -

    Aterro

    compactado

    (classificação

    desconhecida)

    37 40 21

    Barragem

    do Fundão-

    MG

    REZENDE,

    2013

    Dique de

    Alteamento 20 40 21 - Adaptado

  • 35

    3.2.4 Solo de fundação

    Considerando os relatórios dos rompimentos das Barragens de Brumadinho

    (ROBERTSON et al, 2019) e Mariana (MORGENSTERNS et al, 2016), nos quais foi

    verificado que a ruptura ocorreu na praia de rejeitos e não no solo de fundação, os

    parâmetros adotados objetivaram modelar uma fundação resistente, para que as eventuais

    SPR não passem por este solo. Conforme Figura 3.6, foi utilizada a classificação do

    programada Geostudio Slope W- Rocha impenetrável (Bedrock- Impenetrable, em

    inglês), para determinar que a superfície não passasse pelo solo em questão.

    Figura 3.5 - Classificação de solo da Fundação

    3.3 PERFIS MODELADOS

    3.3.1 Perfil 1- Perfil sem presença de rejeitos finos na praia de areia

    Conforme pode ser verificado em Figura 3.7, este perfil de barragem considera

    um dique de partida, seguido por nove diques de alteamento realizados à montante. A

    disposição de rejeitos foi realizada seguindo o método do aterro hidráulico com o uso de

    espigotes, considerando a distribuição dos rejeitos em praia de areia, composta somente

    por rejeitos grosseiros, e lago de decantação, composto por rejeitos de granulometria fina

    (lamas).

    Entre os alteamentos 2 e 3, foi realizado avanço do eixo da barragem em direção

    à praia de rejeitos.

  • 36

    Figura 3.6- Perfil 1

    3.3.2 Perfil 2 – Perfil com presença de rejeitos finos na praia de areia

    Para avaliar a influência da presença de rejeitos finos no interior da barragem, foi

    modelado um segundo perfil, seguindo as características utilizadas no primeiro, porém

    considerando a existência de uma camada de lama na praia de areia. Além disso, a camada

    arenosa abaixo da lama foi considerada como uma material impenetrável, conforme pode

    ser verificado em Figura 3.8. Este artifício permite ao programa rodar superfícies

    multiplanares passando pela base da lama.

    O objetivo desta análise é realizar uma comparação entre os valores de FS e Pr

    obtidos, avaliando se de fato esta alteração irá afetar a estabilidade da barragem.

  • 37

    Figura 3.7 – Perfil 2

  • 38

    4 ANÁLISES DE ESTABILIDADE

    Para realização da análise de estabilidade dos perfis, foram utilizados os dados já

    apresentados no capítulo 3 como parâmetros de entrada no programa Slope-W, no qual

    foram modelados os perfis.

    O valor de FS foi calculado utilizando o método de Spencer. A busca da superfície

    crítica do perfil 1 foi feita com SPR circulares. No perfil 2 foram utilizadas SPR circulares

    e multiplanares, devido à presença de uma camada de lama.

    Em cada superfície crítica serão analisados os valores de FS e Pr utilizando as

    variáveis aleatórias definidas anteriormente e a Simulação de Monte Carlo, cujo número

    de iterações será discutido mais adiante.

    4.1 PERFIL 1

    Para a determinação dos valores de FS do perfil 1, assim como sua distribuição,

    serão realizadas análises buscando aumentar a eficiência do programa Slope W e a

    convergência dos resultados.

    4.1.1 Análise de abordagem determinística

    4.1.1.1 Etapa 1

    Nesta etapa, foram analisadas no total 2816 superfícies potenciais de ruptura

    (SPR) para realizar a busca pela superfície critica determinística (Figura 4.1). Conforme

    pode ser verificado, a região de entrada da superfície crítica ocorre na crista da barragem,

    pouco acima do último dique de alteamento, enquanto a região de saída está localizada

    na área do recuo, próximo ao pé do terceiro dique. O valor do FS calculado pelo método

    de Spencer, sem considerar variação nos parâmetros foi igual a 1,861.

  • 39

    Figura 4.1 – Análise de abordagem determinística Perfil 1- Etapa 1

    4.1.1.2 Etapa 2

    Após localizada a superfície crítica, as regiões de entrada e saída da busca de

    superfície tiveram sua extensão encurtada, para reduzir o número de SPR a 99 (Figura

    4.2). Esta redução do número de SPR foi feita buscando reduzir o esforço computacional

    quando da aplicação do método de Monte Carlo. Conforme pode ser verificado na Figura

    4.2, a redução das regiões de entrada e saída da SPR não causou diferenças significativas

    nem no valor de FS, nem na geometria da superfície crítica.

    Figura 4.2 - Análise Determinística Perfil 1- Etapa 2

  • 40

    4.1.2 Análises de abordagem probabilística

    4.1.2.1 Análise com 100 simulações de Monte Carlo

    Após definidas as regiões de entrada e saída da superfície crítica e redução do

    número de SPR testadas pelo programa, foi realizada análise probabilística, considerando

    a variação dos parâmetros. Inicialmente foram realizadas 100 Simulações de Monte Carlo

    por SPR. Conforme pode ser visto em Figura 4.3, o FS encontrado foi de 1,880, com FS

    médio= 1,906 e Pr=0% para a superfície crítica. Este valor de probabilidade de ruptura

    indica que dentre todas as simulações realizadas, nenhuma superfície apresentou FS

  • 41

    Figura 4.4- Análise Probabilística Perfil 1 com 100 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS

    Figura 4.5- Análise Probabilística- Perfil 1 com 100 Simulações de Monte Carlo –

    Valores de FS das SPR

    4.1.2.2 Análise com 5.000 simulações de Monte Carlo

    Aumentou-se o número de simulações de Monte Carlo para 5.000. Este aumento

    foi realizado para verificar a convergência da análise, ou seja, se os resultados obtidos

    ainda sofrem variações com o aumento do número de simulações. Conforme pode ser

  • 42

    visto em Figura 4.6, o FS encontrado foi 1,880 com média de 1,890 e o valor de Pr se

    manteve próximo de 0%, com Pr= 0,02 % (ou seja, Pr= 2/10.000)

    Figura 4.6- Análise Probabilística- Perfil 1, com 5.000 Simulações de Monte Carlo

    A Figura 4.7 apresenta a distribuição de FS, que por possuir maior quantidade de

    dados, possui menos picos. Como a Superfície crítica analisada passa apenas pela camada

    de rejeitos grosseiros, sua distribuição de FS é aproximadamente normal, assim como a

    distribuição de ϕ’ dos Rejeitos Grosseiros.

    Figura 4.7 - Análise Probabilística Perfil 1 com 5.000 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS

  • 43

    Na Figura 4.8 podem ser verificadas as superfícies analisadas e seus valores de FS e Pr.

    A superfície crítica é a superfície nº 27, com FS = 1,88 e Pr = 0,02%. Porém sua

    probabilidade de ruptura é equivalente à das superfícies 16, 60, 49, 17, 28, 50 e 61 que

    apresentam valor de FS ligeiramente superior.

    Figura 4.8- Análise Probabilística- Perfil 1 com 5.000 Simulações de Monte Carlo –

    Valores de FS das SPRs

    4.2 PERFIL 2

    Para a determinação dos valores de FS do perfil, assim como sua distribuição, serão

    realizadas análises em etapas, buscando aumentar a eficiência do programa Slope W e a

    convergência dos resultados.

    4.2.1 Análises de abordagem determinística

    4.2.1.1 Etapa 1

    Nesta etapa, foram utilizadas no total 2816 superfícies potenciais de ruptura SPR

    para realizar a busca pela superfície critica determinística. Conforme pode ser verificado

    em Figura 4.9, a região de entrada da superfície crítica ocorre na crista da barragem,

    pouco acima do último dique de alteamento, enquanto a região de saída está localizada

  • 44

    no recuo, próximo ao segundo alteamento. O valor do FS calculado pelo método de

    Spencer, sem considerar variação nos parâmetros foi de 1,206.

    Figura 4.9 – Análise Determinística Etapa 1- Perfil 2

    4.2.1.2 Etapa 2

    Após localizada a superfície crítica, as regiões de entrada e saída da busca de

    superfície tiveram sua extensão encurtada, para reduzir o número de SPR a 99 (Figura

    4.10). Esta redução do número de SPR foi feita buscando reduzir o esforço computacional

    quando da aplicação do método de Monte Carlo. Conforme pode ser verificado na Figura

    4.10, a redução das regiões de entrada e saída da SPR não causou diferenças significativas

    nem no valor de FS, nem na geometria da superfície crítica.

    Figura 4.10 – Análise Determinística Etapa 2- Perfil 2

  • 45

    4.2.2 Análises de abordagem probabilística

    4.2.2.1 Análise com 100 simulações de Monte Carlo

    Após definidas as regiões de entrada e saída da superfície crítica e redução do

    número de SPR testadas pelo programa, foi realizada análise probabilística, considerando

    a variação dos parâmetros. Inicialmente foram realizadas 100 Simulações de Monte Carlo

    por SPR. Conforme pode ser visto na Figura 4.11, o FS da superfície crítica permanece

    em 1,208, com FSmédio = 1,2124 e Pr = 18%. A Figura 4.12 apresenta a distribuição de

    FS.

    Figura 4.11- Análise Probabilística- Perfil 2 com 100 Simulações Monte Carlo

    Figura 4.12- Análise Probabilística Perfil 2 com 100 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS

  • 46

    A superfície crítica é a superfície nº 18, com FS= 1,208 e Pr= 18%. Porém,

    conforme pode ser visto em Figura 4.13, a superfície com maior Pr é a superfície nº 63,

    que apresentou Pr = 19,19%. Na Figura 4.14 as superfícies 18 e 63 são apresentadas em

    branco e preto, respectivamente.

    Figura 4.13- Análise Probabilística do Perfil 2 com 100 simulações de Monte Carlo

    a)

    b)

    Figura 4.14 SPR nº 63 com maior Pr (SPR Nº 63 em preto e SPR nº18 em branco)

    4.2.2.2 Análise com 500 simulações de Monte Carlo

    Aumentou-se o número de simulações de Monte Carlo para 500 simulações por

    SPR. Este aumento foi realizado para verificar a convergência da análise, ou seja, se os

    resultados apresentados ainda sofrem variação com o aumento do número de simulações.

    1,227

    240 290 340 390 440 490 540 590 640 690 740 790 840 890 940 990 1.040 1.090 1.140 1.190 1.240

    310

    330

    350

    370

    390

    410

    430

    450

    470

    490

    510

    530

    550

    Materials

    Solo de Fundação

    Rejeito Grosseiro

    Rejeito Fino

    Diques de Alteamento

    Dique de Partida

  • 47

    Apesar de haver outras superfícies com Pr levemente superior, a superfície crítica será

    utilizada para acompanhar a convergência. Conforme pode ser visto em Figura 4.15,

    FSmédio = 1,187 e Pr = 21,8% para a superfície crítica. Percebe-se que ainda há variação

    no valor de Pr, o que justifica realização de nova etapa, considerando maior número de

    simulações.

    Figura 4.15- Análise Probabilística- Perfil 2 com 500 Simulações Monte Carlo

    A Figura 4.16 representa a distribuição de FS para a superfície crítica,

    considerando 500 simulações de Monte Carlo. O histograma resultante apresenta menos

    picos, quando comparada à distribuição da Etapa anterior.

    Figura 4.16- Análise Probabilística Perfil 2 com 500 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS

  • 48

    A superfície crítica é a superfície nº 18, com FS= 1,208 e Pr= 21,8%. Porém,

    conforme pode ser visto em Figura 4.17, a superfície com maior Pr é a superfície nº 29,

    que apresentou Pr = 23,8%. Na Figura 4.18 as superfícies 18 e 29 são apresentadas em

    branco e preto, respectivamente.

    Figura 4.17- Análise Probabilística Perfil 2 com 500 simulações Monte Carlo – Valores

    de FS, FSmédio, Pr e β encontrados para as SPR

    Figura 4.18- SPR nº 29 com maior Pr (SPR Nº 29 em preto e SPR nº18 em branco)

    4.2.2.3 Análise com 1.000 simulações de Monte Carlo

    Nesta etapa foram realizadas 1.000 simulações de Monte Carlo. Conforme pode

    ser observado em Figura 4.19, a superfície crítica sofreu ligeiro aumento na probabilidade

    de ruptura, apresentando valor de Pr, que foi igual a 21,9%.

  • 49

    Figura 4.19- Análise Probabilística- Perfil 2 com 1.000 Simulações Monte Carlo

    A figura 4.20 apresenta a distribuição dos valores de FS e, assim como ocorreu na

    última etapa, o histograma apresenta-se mais suave, devido ao aumento do número de

    dados. Conforme pode ser observado na Figura, a distribuição de FS começa a

    assemelhar-se à soma de uma curva normal com uma triangular, devido à consideração

    da distribuição normal de ϕ’ dos Rejeitos Grosseiros e da distribuição triangular da razão

    de resistência C, dos Rejeitos Finos.

    Figura 4.20 - Análise Probabilística Perfil 2 com 1.000 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS

  • 50

    Os valores de FSmédio e Pr obtidos para as SPR analisadas podem ser verificados

    na Figura 4.21.

    Figura 4.21 - Análise Probabilística Perfil 2 com 1.000 simulações Monte Carlo –

    Valores de FS, FSmédio e Pr encontrados para as SPR

    4.2.2.4 Análise com 5.000 simulações de Monte Carlo

    Por fim, foram realizadas 5.000 simulações de Monte Carlo. Na Figura 4.22

    podem ser verificado FS= 1,208, FS médio = 1,1982 e Pr=20,88%.

    Figura 4.22 - Análise Probabilística- Perfil 2 com 5.000 Simulações de Monte Carlo

  • 51

    A distribuição de FS pode ser observada na Figura 4.23, onde se percebe a influência

    das distribuições normal (do ângulo de atrito do rejeito grosseiro) e triangular (da razão

    de resistência não drenada da lama).

    Figura 4.23 - Análise Probabilística Perfil 2 com 5.000 simulações de Monte Carlo-

    Distribuição de FS

    A Figura 4.24 apresenta os valores de FSmédio e Pr obtidos para as SPR.

    Figura 4.24 - Análise Probabilística Perfil 2 com 5.00 0simulações Monte Carlo –

    Valores de FS, FSmédio e Pr encontrados para as SPR

  • 52

    4.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE PERFIS 1 e 2

    Conforme DUNCAN et al (2014), a acurácia inerente dos FS calculados po