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PLANTA DANINHA II(2): 73-84, 1979 INFLUÊNCIA DO EPTC NO DESENVOLVIMENTO E ABSORÇÃO DE MACRONUTRIENTES PELA CULTURA DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L. VAR. CARIOCA) R. DEUBER*, P.N. CAMARGO** e R. FORSTER* * Pesquisadores Científicos. Instituto Agronômico - CP 28, 13.100 - Campinas (SP). ** Professor Adjunto. Escola Superior de Agricul- tura «Luiz de Queiroz», CP 9, 13.400 - Piracicaba (SP). Parte da dissertação do primeiro autor para obtenção do grau de Mestre. Recebido para publicação em 20.06.79. RESUMO O efeito de EPTC (S-etildipropiltiolcarba- mato) sobre o desenvolvimento e a absorção de macronutrientes até o florescimentoe os seus teores nas sementes e vagens, na colheita, foi estudado em dois experimentos de campo com a cultura do feijão, var. Carioca. O EPTC foi aplicado em pré-plantio com in- corporação nas doses de 0, 1, 2, 4, 8 e 16 kg/ha em dois experimentos em solos argiloso e barrento. A avaliação da ação do herbicida sobre o desenvolvimento da cultura se fez pela obtenção de pesos de matéria seca de folhas, caules e va- gens, durante o ciclo e número de plantas e pro- dução de sementes na colheita. No início do florescimento foram analisados os teores de N, P, K, Ca, Mg e S em folhas e caules e, na colheita, em vagens e sementes. O EPTC, nas doses de 1, 2 ou 4 kg/ha não afetou o desenvolvimento da cultura, não alterou o teor de nutrientes em folhas ou caules, no início do florescimento, nem o teor nos grãos ou vagens, na colheita. Também não alterou a população de plantas ou a produção de grãos. As doses de 8 e 16 kg/ha de EPTC causaram redução de crescimento, de absorção de nutrien- tes, número de plantas por área e produção de se- mentes. O ciclo da cultura foi alongado. Os teores de nutrientes foram mais elevados, em geral, nas folhas, caules e vagens. Com essas doses ocorreu maior acúmulo de K nas vagens na colheita. Nenhuma das doses de EPTC, em qualquer dos experimentos, causou alteração nos teores de macronutrientes nas sementes. UNITERMOS: EPTC, Feijão, Crescimento, Nutrição Mineral. SUMMARY INFLUENCE OF EPTC ON GROWTH AND MINERAL NUTRITION OF Phaseolus vul- garis CV. CARIOCA. The effect of EPTC, on growth and the ma- cronutrient content in leaves and stems, at flo - wering set, and in seeds and pods, at harvest, in common beans CV. Carioca was studied. The EPTC was applied pre-plant incorpora- ted at the dosages of 0, 1, 2, 4, 8 and 16 kg/ha in two experiments on clay and loamy soils. The influence of the herbicide on the crop growth was evaluated by means of fresh and dry matter weights of leaves, stems and pods at diffe - rent periods of the crop cycle and by the stand and seed production. In both experiments the concentration of N, P, K. Ca, Mg and S were ana - lysed in leaves and stems at the flowering set. The content of the same nutrients in seeds and pods were determined at harvest. Rates of 1, 2 or 4 kg/ha of EPTC did not affect the crop growth or the nutrient content in leaves, stems, seeds or pods. Rates of 8 and 16 kg / ha reduced the plant growth, nutrient absorption, stand and yield, but the nutrient con- centration was enhanced in leaves, stems and pods. With these rates of EPTC the K content in pods was signifficantly higher. None of the applied rates of EPTC caused changes in the macronutrients concentration in the seeds at harvest. KEYWORDS: EPTC, Phaseolus vulgaris, Growth, Mineral Nutrition. INTRODUÇÃO O feijão comum, Phaseolus vulga- ris L. é um alimento de grande importância no Brasil, mas, mesmo assim, não tem recebido dos agricultores a devida atenção. De um modo geral tem sido cultivado em pequenas áreas ou intercalado em outras culturas. A pesquisa, entretanto, já está bem adiantada no que diz respeito a

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PLANTA DANINHA II(2): 73-84, 1979

INFLUÊNCIA DO EPTCNO DESENVOLVIMENTO E ABSORÇÃO

DE MACRONUTRIENTES PELA CULTURA DEFEIJÃO (Phaseolus vulgaris L. VAR. CARIOCA)

R. DEUBER*, P.N. CAMARGO** e R. FORSTER*

* Pesquisadores Científicos. Instituto Agronômico- CP 28, 13.100 - Campinas (SP).

** Professor Adjunto. Escola Superior de Agricul-tura «Luiz de Queiroz», CP 9, 13.400 - Piracicaba(SP).Parte da dissertação do primeiro autor paraobtenção do grau de Mestre.Recebido para publicação em 20.06.79.

RESUMOO efeito de EPTC (S-eti ldipropi lt io lcarba -

mato) sobre o desenvolvimento e a absorção demacronutrientes até o florescimento e os seus teoresnas sementes e vagens, na colheita, foi estudado emdois experimentos de campo com a cultura dofeijão, var. Carioca.

O EPTC foi aplicado em pré-plantio com in-corporação nas doses de 0, 1, 2, 4, 8 e 16 kg/ha emdois experimentos em solos argiloso e barrento.

A avaliação da ação do herbicida sobre odesenvolvimento da cultura se fez pela obtençãode pesos de matéria seca de folhas, caules e va -gens, durante o ciclo e número de plantas e pro-dução de sementes na colheita.

No início do florescimento foram analisadosos teores de N, P, K, Ca, Mg e S em folhas e caulese, na colheita, em vagens e sementes.

O EPTC, nas doses de 1, 2 ou 4 kg/ha nãoafetou o desenvolvimento da cultura, não alterouo teor de nutrientes em folhas ou caules, no início doflorescimento, nem o teor nos grãos ou vagens, nacolheita. Também não alterou a população deplantas ou a produção de grãos.

As doses de 8 e 16 kg/ha de EPTC causaramredução de crescimento, de absorção de nutrien -tes, número de plantas por área e produção de se-mentes. O ciclo da cultura foi alongado. Os teoresde nutrientes foram mais elevados, em geral, nasfolhas, caules e vagens. Com essas doses ocorreumaior acúmulo de K nas vagens na colheita.

Nenhuma das doses de EPTC, em qualquer dosexperimentos, causou alteração nos teores demacronutrientes nas sementes.

UNITERMOS: EPTC, Feijão, Crescimento,Nutrição Mineral.

SUMMARYI NF L UENC E OF EP TC ON G RO WTH

AND MINERAL NUTRI TION OF Ph aseolus vul-garis CV. CARIOCA.

The effect of EPTC, on growth and the ma-cronutrient content in leaves and stems, at flo -

wering set, and in seeds and pods, at harvest, incommon beans CV. Carioca was studied.

The EPTC was applied pre-plant incorpora -ted at the dosages of 0, 1, 2, 4, 8 and 16 kg/ha intwo experiments on clay and loamy soils.

The influence of the herbicide on the cropgrowth was evaluated by means of fresh and drymatter weights of leaves, stems and pods at diffe -rent periods of the crop cycle and by the standand seed production. In both experiments theconcentration of N, P, K. Ca, Mg and S were ana -lysed in leaves and stems at the flowering set. Thecontent of the same nutrients in seeds and podswere determined at harvest.

Rates of 1, 2 or 4 kg/ha of EPTC did notaffect the crop growth or the nutrient content inleaves, stems, seeds or pods. Rates of 8 and 16kg / ha redu ced the plant growth, nutrientabsorption, stand and yield, but the nutrient con-centration was enhanced in leaves, stems andpods. With these rates of EPTC the K content inpods was signifficantly higher.

None of the applied rates of EPTC causedchanges in the macronutrients concentration inthe seeds at harvest.

KEYWORDS: EPTC, Ph aseolu s vu lg ar is ,Growth, Mineral Nutrition.

INTRODUÇÃO

O fei jão comum, Phaseolus vulga-ris L. é um alimento de grandeimportância no Bras il , mas, mesmoassim, não tem recebido dosagricultores a devida atenção. De ummodo geral tem sido cultivado empequenas áreas ou intercalado em outrasculturas.

A pesquisa , entr etan to , já estábem adiantada no que diz respeito a

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melhoramento genético e tratos cultu-rais, sendo possível conduzir a culturado feijão extensivamente e com altaprodutividade (1) . Em algumas regiõesdo Brasil já se veem culturas extensasde feijão solteiro conduzidas segundo astécnicas mais avançadas. Nesses casos,torna-se obrigatória a mecanização e ocontrole do mato por outros meios quenão o manual, uma vez que a mão-de-obra se torna cada vez mais escassa eonerosa. A opção que se apresenta, en-tão, é a do uso de herbicidas, que no ca-so do feijão são aplicados normalmenteem pré-plantio com incorporação ou àsuperfície, após a semeadura e antes daemergência do mato (11).

Dentre os herbicidas seletivos àcultura do feijão está o EPTC, comoevidenciam muitos trabalhos de pesqui-sa (2, 7, 11, 12, 16, 30), podendo mesmoser aplicado em doses muito elevadassem grandes danos (12).

Podem ocorrer, algumas vezes, al-terações metabólicas e fisiológicas emplantas tratadas, inclusive variações naabsorção de nutrientes. Assim, o EPTCcausou alterações nos teores de váriosnutrientes em plantas de Cyperus escu-lentus, trigo e milho (18), reduziu o me-tabolismo do nitrogênio em plantas dealgodão (23) e causou decréscimo deteores de ácidos graxos na cutícula defolhas de Cassia obtusifolia (32). Em ou-tros casos não ocorreram alterações deteores de nutrientes (13, 34).

Concentrações subletais de herbi-cidas também podem causar est ímulode crescimento de plantas como foi de-monstrado por Wiedmann & Apple by(31) aplicando dezesseis diferentes her-bicidas em plantas de aveia.

Tendo em vista a perspectiva degrande uti lização de herbicidas na cul -tura do feijão é importante se conhecerperf ei tamente seu modo de ação nasplantas cultivadas e os possíveis efeitosque possam causar na nutr ição dasplantas.

O objetivo do presente trabalhofoi verificar se o EPTC, aplicado em di-ferentes doses, tem influência sobre odesenvolvimento e absorção de nutrien -tes pelo fei jão e se altera a composiçãodas sementes no que diz respeito aosmesmos nutrientes.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram instalados dois experimentos decampo no Centro Experimental de Campinas coma cultura do feijão (Phaseolus vulgaris L. Var. Ca-rioca).

Experimento 1,de1973-74.Foi instalado em um latossolo roxo, série

Chapadão (26), de textura argilosa, levemente on-dulado e altitude média de 660m, apresentando,nos horizontes Alp e A., (0 a 20 cm), as caracterís-ticas físicas e químicas constantes no quadro 1.

Aplicou-se o herbicida EPTC, nas doses de 0,1, 2, 4, 8 e 16 kg/ha em pré-plantio com incorpo-ração ao solo à profundidade de 0,10m, com gradedupla de discos.

O delineamento experimental foi o de blo-cos ao acaso com cinco repetições. As parcelasmediam 2,50m de largura por 6,00m de compri-mento e estavam afastadas 1,0m entre si. Em ca-da parcela foram semeadas três sementes de fei-jão a cada 0,20m, em sulcos espaçados de 0,50m,com adubação prévia no sulco com uma misturacontendo 80 kg de P205, e 30 kg de K20 por hecta-re. O nitrogênio foi aplicado aos 25 dias após aemergênc;a da cultura na proporção de 20 kg/ha.

A aplicação do EPTC foi feita no dia 8 denovembro de 1973, entre 9,00 e 10,00 horas, apósperfeito preparo do solo, utilizando-se um pulveri-zador de gás carbónico de pressão constante de2,81 kg/cm e gastando 400 litros de água por hec-tare. A umidade do solo, nos primeiros 0,10m seapresentava com 12,80% e a temperatura ambien-te era de 25°C à sombra. O céu se apresentavasem nuvens e havia vento leve. Imediatamenteapós a aplicação fez-se a incorporação do herbici-da.

A adubação e a semeadura foram feitas nodia 14 do mesmo mês. Vinte dias após fez-se a ra-leação das plantas ficando apenas duas a cada0,20m.

Das seis linhas de cada parcela, as duas ex-ternas foram consideradas bordaduras, uma in-terna utilizada para amostragens de plantas paraanálise de crescimento e química, e três destina-das à avaliação da produção final de grãos.

O experimento foi mantido livre de matopor meio de dois cultivos com enxada, aos 26 e 42dias após a semeadura. Plantas nascidas após asegunda capina foram eliminadas manualmente.

Aos 25 dias após a semeadura foram coleta-das dez plantas de feijão por parcela para obten-ção de pesos de matéria fresca e seca de folhas ecaules. As plantas foram cortadas rente ao soloseparando-se folhas e caules, pesando-se imedia-tamente o material, que, após, foi levado à seca-gem a 65°C em secador de circulação forçada dear para nova pesagem. O mesmo se fez aos 42dias, sendo que as folhas, após a pesagem do ma-terial fresco, lavadas com água corrente, deter-gente e enxaguadas com água destilada e entãolevadas ao secador. Esse material foi submetido àanálise química de teores de N, P, K, Ca, Mg e S.O N e o P analisados pelos métodos estabelecidospor Lott et al. (24), o K por fotometria de chamade absorção (28), o Ca e Mg pela mesma técnica(6) e o S por espectrofotometria de absorção atô-mica (5).

Aos sessenta e três dias, fez-se nova amos-tragem de dez plantas para verificar os pesos defolhas, caules e vagens com sementes, proceden-

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EPTC x DESENVOLVIMENTO E NUTRIÇÃO DE FEIJÃO

Quadro 1 - Características físicas e químicas dos solos em que instalaram os experimentos com EPTCem cultura de feijão.

do-se da mesma forma que na primeira amostra -gem.

A colheita foi realizada no dia 5 de fevereirode 1974, com um ciclo de 83 dias. Os grãos forampesados e foi feita a separação daqueles que apre-sentavam defeitos ou má formação. Foram retira -das dez plantas por parcela para análise do teorde macronutrientes nas vagens e sementes sepa-radamente. Os pesos de matéria seca de caules evagens de dez plantas também foram obtidos.

Experimento 2, de 1974-75.Foi instalado, em um latossolo vermelho-es-

curo orto, série Barão (26), de textura barrenta, le-vemente ondulado, com altitude média de 680m,apresentando, nos horizontes Alp e A21 (0 a20 cm), as características fisicas e químicasconstantes no quadro 1.

Os tratamentos e o delineamento foram osmesmos do Experimento 1.

A aplicação do herbicida se fez no dia 24 deoutubro de 1974, entre as 8,00 e 9,00 horas, após per-feito preparo do solo q ue se apresentava limpo esem torrões. Imediatamente após foi feita a incor-poração do herbicida, com grade dupla de discos, àprofundidade de 0,10m. A umidade do solo, nessacamada era de 7,20%. A temperatura ambiente, àsombra era de 26°C. O céu se apresentava semnuvens e havia vento leve.

A aplicação do herbicida foi feita da mesmamaneira que no experimento anterior, assim co-mo a adubação e semeadura. Estas foram realizadasno dia 25 de outubro. A raleação de plantas se fez 20dias após a semeadura. Esse experimento tambémrecebeu dois cultivos aos 20 e 46 dias após asemeadura, para ficar livre de mato.

Aos 32 dias após a semeadura foi feita a pri-meira amostragem de plantas de feijão para veri-ficação de pesos de matéria fresca e seca de folhas ecaules, com 10 plantas por parcela. O procedimentofoi o mesmo ao já descrito.

Aos 45 dias, fez-se nova amostragem paraobtenção de pesos e para análise de teores de ma-cronutrientes, procedendo -se como já descrito pa-ra o experimento anterior.

Aos 60 dias, foi realizada nova amostragempara obtenção de pesos de caules, folhas e vagens.

A colheita foi feita no dia 20 de janeiro de1975, com um ciclo de 87 dias. Os mesmos dados

obtidos no Experimento 1 foram também obtidosnesse, com excessão da p orcentagem de grãoscom defeito.

Todos os resultados dos dois experimentos,exceto os pesos de matéria fresca, foram submeti -dos à análise estatística.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Desenvolvimento da cultura - Osresultados de pesos de matéria seca defolhas, caules e vagens de plantas dosExperimentos 1 e 2 estão nos quadros 2e 3, respectivamente. O EPTC foi bas -tante fitotóxico na dose de 16 kg/ha e,em menor grau, na de 8 kg/ha, no iníciodo desenvolvimento do feijão. No Expe-rimento 1, os pesos de folhas e caulesmostram que a partir de 42 dias já se veri-ficava recuperação das plantas e aos 63dias essa recuperação parecia plena. NoExperimento 2 as plantas apresentavamcrescimento mais vigoroso, mas comigual dano pelo EPTC. Os efeitos fitotó-xicos persistiam até os 45 dias como sepode veri ficar pelos pesos de fo lhas ecaules. Aos 70 dias, houve plena recupe-ração aparentemente e pelos pesos queeram mesmo mais elevados com as do -ses de 8 a 16 kg de EPTC. Isso se expli -ca pelo fato de ter havido atraso no c i-clo, pois as plantas, nesses tratamentosapresentavam maior número de folhas.O peso de vagens com sementes, no Ex-perimento 1, aos 63 dias evidencia esse

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Quadro 2 - Pesos de maté ria seca de folhas, caules e vagens com sementes, por parcela, em cada época deamostragem do Experimento 1, em solo argiloso. Média de cinco repetições e amostra gem dedez plantas por parcela.

Quadro 3 - Pesos de matéria seca de folhas, caules e vagens com sementes, por parcela, em cada época deamostragem do Experimento 2, em solo barrento. Médias de cinco repetições e amostras de dezplantas por parcela.

atraso no ciclo. Na colheita, aos 83 dias,verif icou-se boa recuperação das plan-tas. No Experimento 2, a redução de pe -so, causada pela dose máxima, não foitão pronunciada aos 70 ou 81 dias, masconfirma os resultados verificados noprimeiro.

A ação fitotóxica do EPTC era es-perada uma vez que as doses de 8 e 16kg/ha são bastante elevadas, duasequatro vezes maiores que arecomenda da para uso na cultura (7, 11).

Estes resultados concordam com otrabalho anteriormente conduzido nasmesmas condições de clima e soloargiloso, com doses de 17,28 e 21,60kg/ha, com as variedades Chumbinho -opaco e Carioca (12). Nos doisexperimentos, as condi ções de umidadee temperatura foram favoráveis adissipação do EPTC no so-

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lo, uma vez que houve chuvas frequen-tes e temperaturas, em geral elevadas.Esses fatores aliados à dose aplicadasão muito importantes em relação àpersistência do EPTC no solo como odemonstraram diversos autores (4, 19,20). Os dois solos apresentaram teoresrelativamente baixos de M.O. O solo doExperimento 1 era mais argiloso masapresentava-se mais úmido na aplica-ção que o solo do segundo. Mesmo es-sas condições favoráveis a uma dissipaçãomais rápida do EPTC, não foramsuficientes para evitar danos à cultura,nas doses de 8 e 16 kg/ha.

O feijoeiro é uma planta que apre-senta elevada capacidade de degradar oEPTC, sendo partes da molécula incor-poradas em diferentes compostos for-mados no seu metabolismo (14, 15). OEPTC é rapidamente metabolizado emfeijão (4), quando aplicado em dosesnormais de uso agrícola. Sua mobilida-de dentro da planta é também muitogrande (27, 33). Mesmo assim verificou-se que as doses de 8 e 16 kg/ha de EPTC,aplicados ao solo, determinaram con-centrações muito elevadas dentro daplanta acima da capacidade de degra-dação. Esses teores elevados agiram naparte aérea, in ib indo seu desenvolvi -mento e causando os sintomas observa-dos: folhas menores, bordos recurvadose pontos necrosados.

Nessas doses é possível admitir ainterferência do EPTC na fotossíntese,cominibição na fixação de CO2, o que já

fora observado por Ashton (3).A dose de 4 kg/ha, de uso corren -

te, não causou danos à cultura em qual-quer é poca do ci cl o, o que concordacom o resultado de vários trabalhosrealizados com EPTC em nossas condi -ções (2, 7, 11, 30).

O postulado de Arndt-Schulz afirmaque qualquer veneno, em doses ex-tremamente pequenas, atua como esti-mulantes nos processos fisiológicos. Nosexperimentos aqui descritos, o EPTC,em doses sub -le ta is de 1 a 2 kg/ha,não apresentou qualquer efeito estimu-lante no crescimento das plantas.

Número de plantas e produção degrãos - Os resultados de números deplantas e produção de grãos do Experi-mento 1 estão no quadro 4 e os respecti-vos resultados do Experimento 2, noquadro 5.

Em ambos os experimentos, partiu-se de uma população inicial de200.000 plantas por hectare ocorrendoredução média de 12,5% no primeiro e26% no segundo at é a colheita. Redu-ções do número de plantas durante o ciclosão normais e devido às causas diversas.No segundo experimento para as dosesde 8 e 16 kg/ha parte de redução podeser atribuída ao efeito fitotóxico severono início do ciclo com morte de plantasjá que a redução total foi da ordem de35%. Essa diferença foi significativa nocaso do Experimento 2.

Quadro 4 - Número de plantas, produção de sementes, peso de matéria seca de vagens e peso de sementesmal formadas na cultura do Experimento 1, em solo argiloso. Médias de cinco repeti ções eamostragem de 18 metros lineares por parcela.

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Quadro 5 - Número de plantas, produção de se-mentes, peso de matéria seca e númerode vagens na co lheita do Experi -mento 2, em solo barrento. Médias decinco repetições e amostragem de de -zoito metros lineares por parcela.

A produção de grãos nos dois ex-perimentos também apresentou valoresmenores nos tratamentos com as dosesde 8 e 16 kg/ha de EPTC, sem ser signi-ficativa no primeiro. Pode -se af irmarque essas reduções foram devido aostratamentos, pois os valores de produ -ção acompanham os de peso de plantasdesde o início do ciclo nos dois experi-mentos. As reduções de produção, nosdois experimentos, foram proporcional-mente maiores que as de número deplantas, portanto com menor produçãopor planta, para as doses mais eleva -das, o que evidencia a ação fi totóxicado EPTC nesse caso. Parte dessa redu-ção poderia ser atribuída ao atraso nociclo da cultura. Todos os tratamentosforam colhidos no mesmo dia e aquelescom as doses de 8 e 16 kg/ha não esta-vam ainda totalmente desenvolv idos.Os pesos de matéria seca de vagens egrãos foram menores para esses trata-mentos mesmo não havendo diferençano número de vagens de 10 plantas. Is-so leva a concluir que o EPTC não in-terferiu no florescimento e frutificaçãomesmo com essas doses elevadas.

As sementes mal formadas, sepa-radas no primeiro experimento, não evi-denciaram a ação do herbicida sobre asua qualidade. Esse resultado concordacom o trabalho anteriormente real iza -do, com a aplicação de até 21,60 kg deEPTC/ha (12).

As diferenç as de produção entreos dois experimentos devem ser atribuí-das às condições do solo, já que as decl ima foram muito favoráve is e seme -

lhantes nos dois. o solo barrento do se-gundo ano apresentava melhores condi-ções fís icas e bom suprimento de fósfo -ro , possibi li tando melhor desenvolvi -mento do sistema radicular. As plantasda cultura cresceram melhor nesse solo,durante todo ciclo (comparar quadros 2e 3). A produção do Experimento 1, con-corda com Almeida et al . (1 ) pa ra aprodução média de três anos para a re-gião. Já no segundo experimento, a pro-dução foi bem mais elevada, o que mos-tra a importância das condições de solo(quadros 4 e 5).

Teores de macronutrientes emcaules e folhas - A análise química foireal izada no in ic io do fl orescimento,pois a porcentagem de nutrientes absor-vida é muito grande até esse ponto (9,17, 21, 25).

Por outro lado, o EPTC é um her-bicida de curta persistência no solo, porser altamente volátil (29) e sua ação so -bre as plantas é muito pronunciada noinício do seu ciclo, desaparecendo como tempo.

Os teores de macronutrientes emcaules e folhas no Experimento 1 estãono quadro 6 e os do Experimento 2, noquadro 7.

Os teores encontrados nos doisexperimentos, de modo gera l, concor -dam com aqueles encontrados em o u-tros trabalhos com a variedade Carioca(8, 13). Quando comparados com os teo-res de outras variedades, são, em geral,mais elevados (9, 17, 21, 25), resultadosdev idos às características das varieda -des. Além disso, as variações nos teores,mesmo nos do i s exp er imen tos dest etrabalho, se devem ainda às condiçõesde solo.

Nos dois experimentos, verif icou -se elevação do teor de N nas fo lhas ecaules com as doses de 8, 16 kg/ha deEPTC. O P, o K e o Ca apresentaram al-guma elevação nos teores em caulesnos do is exper imentos, tendo o K tam -bém teor mais elevado em folhas no Ex-perimento 2 com aquelas doses do her-bicida. Esses aumentos no teor não in-dicam maior absorção dos nutrientes.Ocorreu, na realidade, que as plantasde feijão, com essas doses de EPTC,apresentaram menor desenvolvimento,portanto, menor produção de matéria

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seca. A extração desses nutrientes pelofeijão com essas doses foi sempre menordo que nos tratamentos com 0, 1, 2 ou 4kg/ha de EPTC, nos dois experimentos.Nestes tratamentos, não se verificouqualquer variação em teor ou extração.Os resul tado s mos tr am que mesmocom o crescimento pr ejudi cado, asplantas não apresentaram grandes va-riações na absorção de nutrientes.

Em trabalho anterior, com aplicaçãode EPTC, nas doses de 4,32 e 5,76 kg/ha,à altura de feijão em solo argilo so,também não se verificou qualqueralteração nos teores de N, P, K, Ca e Mgem folhas ou caules, aos 32 dias, concor-dando , port an to, com os re su lt adosaqui descritos para a aplicação de 4 kg/ha, nos dois experimentos (13). teor de enxofre foi significativamentemenor nos tratamentos com as dosesmais elevadas de EPTC, no Experimento1, contrariando o que ocorreu com osdemais nutr ientes. No Experi mento emsolo barrento, não ocorreu o mesmo.Também houve diferença em relação aolocal de maior concentração de enxofrenas plantas, sendo o teor maiselevado nos caules no Experimen to 2 emaior nas folhas no primeiro.

Os resultados diferentes dos doisexperimentos devem ser atribuidos adiferenças de disponibilidade do S nosdois solos. Não foram analisados os teo -res de S nos solos, uma vez que não éprática normal essa determinação.

Teor es de macr on ut ri en te s emvagens e sementes - Os teores de ma-cronutrientes em vagens e sementes doExperimento 1 estão no quadro 8, e osrespectivos teores do Experimento 2, noquadro 9.

Comparando-se os resultados dosdois experimentos, verificou-se que osteores dos nutrientes nas vagens sãosempre mais elevados no primeiro, comexcessão para o N e S quando foramiguais. No caso das sementes o mesmoocorreu para N e K. O P, o Ca e o Mgapresentaram teores iguais e o S maiselevado no segundo. teor de N, significativamente maiselevado em vagens, sem aplicação deEPTC, parece ter sido casual no Expe-rimento 2. teor de K nas vagens foi signifi-cativamente mais elevado, com aplica -ção de 8 e 16 kg/ha de EPTC, no Experi-mento 1 e com a dose mais elevada no

Experimento 2. Houve, também eleva -ção no teor de S em vagens com as do -ses de 1, 4, 8 e 16 kg/ha do herbicida, nosegundo Experimento.

O potássio é um nutriente muitomóve l nas plantas e se transloca, demodo geral, totalmente para os frutos.No caso dos experimentos aqui relata -dos não se pode afirmar que houve umaação direta do EPTC sobre o movimen-to desse nutriente no feijão. Parece queo ocorrido é apenas uma decorrência damaior concentração do K nos caules,como foi visto nas análises dessas par -tes da planta. O atraso no ciclo da cul -tu ra pode te r causado absor ção pormais tempo que o normal. De qualquerforma, não houve elevação no teor de Knas sement es , indi cando que o exce -dente não é transferido para elas.

Para o caso do S, o fato de ocorre-rem teores mais el evados em apenasum dos experimentos, e justamente na-quele em que os teores em caules e fo -lhas eram bem menores, dificulta a ex-plicação. Pode-se admitir que houveabsorção desse nutr iente por períodomais longo que o normal, talvez devidoao atr aso do cicl o da cul tur a, com oocorreu com o K.

Segundo Haag et al. (21) todo Sexigido pelo feijoeiro é absorvido até os60 dias, sendo 98,6% do total absorvidoaté os 50 dias. O S absorvido mais tar-diamente teri a se acumulado nas va -gens diretamente, uma vez que é poucomóvel dentro das plantas.

Considerando a marcha de absorçãodos macronutrientes pelo feijoeiro, todo oN e o K necessários à planta sãoabsorvidos até os 50 dias do ciclo. Sãojustamente esses dois nutrientes os re-queridos em maior quantidade pelo fei-joeiro, indicando isso que é muitogrande a quantidade absorvida nametade inicial do ciclo.

O que foi verificado é que o EPTC,mesmo em doses de 8 e 16 kg/ha, que re-duziram o crescimento das plantas nãoimpediu a absorção de N e K. Nessas do-ses eles foram absorvidos em quantida-de acima da proporção normal. Isso édevido ao efeito de diluição. Em plantascom desenvolvimento normal, os teoresdos nutrientes variam dentro de certoslimites. Se o crescimento é acelerado,com maior produção de massa seca, os

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EPTC x DESENVOLVIMENTO E NUTRIÇÃO DE FEIJÃO

teores serão menores, proporcionalmen-te, e se for restringido, com menor pro-dução de massa seca, os teores poderãoser proporcionalmente maiores. Assim,parece que o EPTC não agiu diretamen-te sobre o mecanismo de absorção de Ne K. Os teores desses nutrientes forammais elevados, mas a extração do solofoi menor nesses tratamentos. Para ocaso de S, houve redução dos teores emfolhas e caules no Experimento 1, massem alteração no segundo. Para os de-mais nutrientes, que são requeridos emquantidades bem menores do que N eK, só houve redução da extração, comaplicação da dose máxima do EPTC.

Comparando os teores de macro-nutrientes, nas sementes, da variedadeCarioca, encontrados nos dois experi-mentos, com aquelas das variedadesChumbinho-opaco, Pintado e Rico 23,verifica-se que não houve diferençasmarcantes (9, 17, 21, 25).

O herbicida EPTC, em qualquerdas doses aplicadas, não afetou o teor denenhum dos macronutrientes nas se-ment es. A quant ida de abs or vida dequalquer deles por planta foi sempremenor com as doses de 8 e 16 kg/ha doherbicida, em função do menor desen-volvimento das plantas.

Nas vagens ocorreu o mesmo noprimeiro experimento, com exceção deK. No Experimento 2, mesmo com asduas doses ma is el evadas do EPTC,quase não ocorreu redução da quanti -dade de nutrientes absorvidos por plan-ta, sendo, também, o K mais absorvidonesse caso, com a dose maior.

Não fo i ve ri fi cada proporcional -mente entre os teores de N e S. Hav iamais enxofre nas sementes, no Experi-mento 2, do que no primeiro, sendo o teorde N um pouco inferior naquele. Nestecaso, o S poderia ter entrado como cons-tituinte de outros compostos que nãoa proteína, ou se formaram mais ami-noácidos sulfurados compondo-se umareserva proteica diferente.

LITERATURA CITADA

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R. DEUBER, P.N. CAMARGO E E. FORSTER84