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  • Encontro Nacional BETO ESTRUTURAL - BE2012

    FEUP, 24-26 de outubro de 2012

    Influncia dos moldes dos provetes no ensaio de

    resistncia compresso do beto

    Lino Maia

    1,2 Ctia Caetano

    3 Miguel Correia

    4

    RESUMO

    A resistncia compresso do beto uma propriedade mecnica muito importante nas estruturas de

    beto armado. O conhecimento preciso da resistncia compresso permite um dimensionamento

    otimizado relativamente ao estado limite ltimo. Embora as normas permitam que se realizem ensaios

    de resistncia compresso quer em provetes cbicos quer em provetes cilndricos, tradicionalmente,

    em Portugal, utilizam-se provetes cbicos. De acordo com o Eurocdigo 2, a realizao de ensaios de

    resistncia compresso em provetes cbicos conduz a resultados cerca de 20% superiores de

    provetes cilndricos, cuja altura duas vezes o dimetro. Contudo existem dvidas sobre esta

    correlao. Por outro lado, nos ltimos anos tem crescido a substituio dos tradicionais moldes

    metlicos por moldes fabricados base de plsticos. Assim, torna-se fundamental perceber qual a

    influncia que este fator pode ter sobre os resultados da resistncia compresso do beto. Neste

    trabalho, so estudados betes das classes de resistncia C20/25, C25/30 e C30/37. Para cada beto

    estudado, avaliou-se a resistncia compresso aos 28 dias em provetes cbicos, em provetes

    cilndricos e em provetes prismticos. Avaliou-se tambm, o efeito da retificao das faces de

    compresso dos cubos e ainda as diferenas introduzidas pela utilizao de moldes de diferentes

    materiais. O estudo mostrou haver diferenas significativas na relao apresentada no Eurocdigo 2 e

    que o material em que os moldes so fabricados afeta o valor a resistncia compresso dos provetes.

    Palavras-chave: Resistncia Compresso, Provetes Cbicos, Provetes Cilndricos, Eurocdigo 2.

    1 LABEST, Laboratrio da Tecnologia do Beto e do Comportamento Estrutural, Faculdade de Engenharia da Universidade

    do Porto, Departamento de Engenharia Civil, Porto, Portugal. [email protected] 2 Centro de Cincias Exatas e da Engenharia, Universidade da Madeira, Campus Universitrio da Penteada, 9020-105

    Funchal, Portugal. [email protected] 3 Centro de Cincias Exatas e da Engenharia, Universidade da Madeira, Campus Universitrio da Penteada, 9020-105

    Funchal, Portugal. [email protected] 4 LREC, Laboratrio Regional de Engenharia Civil, Rua Agostinho Pereira de Oliveira, 9000 - 264 Funchal, Portugal.

    [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • Influncia dos moldes dos provetes no ensaio de resistncia compresso do beto

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    1. INTRODUO E OBJETIVOS

    A resistncia compresso a propriedade mais utilizada para a caracterizao do beto. Por um lado,

    porque uma propriedade que indica a capacidade de resistncia do material beto e como tal est

    intimamente ligada segurana de uma estrutura de beto armado. Por outro lado, tradicionalmente a

    propriedade de referncia para estimar outras propriedades (resistncia trao, mdulo de

    elasticidade, retrao, fluncia, permeabilidade, durabilidade, etc.). Nesse sentido, compreende-se que

    o valor da resistncia compresso seja um dos parmetros que mais condiciona o dimensionamento

    de uma composio de beto.

    De acordo com vrios regulamentos (REBAP [1], NP EN 206-1 [2], Eurocdigo 2 [3]) os betes so

    classificados por classes de resistncia. Por exemplo, qualquer beto cujo valor caracterstico da

    resistncia compresso (fck) aos 28 dias esteja compreendido entre 20 e 25 MPa

    (20 MPa fck < 25 MPa) classificado como sendo da classe de resistncia C20. Deste modo, torna-

    se vital conhecer com exatido qual a resistncia compresso, de cada composio de beto, para

    que o valor da resistncia possa ser minimizado para a classe em questo.

    Para determinar a resistncia compresso dos betes os regulamentos (NP EN 12350-1 [4], NP EN

    12350-2 [5], NP EN 12390-1 [6], NP EN 12390-2 [7], NP EN 12390-3 [8] e NP EN 12390-4 [9])

    descrevem a metodologia que deve ser aplicada desde a recolha de uma amostra at execuo do

    ensaio propriamente dito. Contudo, as normas referidas no so completamente estritas e permitem

    alguma flexibilidade na aplicao dos procedimentos de ensaio por exemplo, o material com que os

    moldes so fabricados, a forma e dimenses dos provetes no esto totalmente definidos. Para alm

    disso, h que ter em conta que, por vezes o procedimento ligeiramente ajustado para melhorar a

    produtividade e as condies de trabalho normalmente existe algum tempo de espera entre retirar o

    provete da gua e realizar o ensaio de compresso.

    No que concerne forma dos provetes, estes podem ser prismticos, cilndricos ou cbicos.

    Normalmente, para ensaios de resistncia compresso utilizam-se provetes cilndricos ou cbicos, j

    os provetes prismticos so utilizados, principalmente, para ensaios de resistncia flexo. Embora as

    dimenses tambm possam variar, em regra os provetes cilndricos tm 150 mm de dimetro e

    300 mm de altura e os provetes cbicos 150 mm de aresta. Tradicionalmente, em Portugal, utilizam-se

    provetes cbicos para determinar a resistncia do beto compresso. Consultando o Eurocdigo 2 [3]

    (ou o REBAP [1]), verifica-se que o valor da resistncia compresso depende da forma dos provetes.

    De facto, observa-se que se o ensaio for realizado em provetes cbicos o valor da resistncia obtido

    dever ser reduzido em aproximadamente 20%, para corresponder ao valor que ser de esperar caso o

    ensaio seja realizado em provetes cilndricos. Assim, a classificao dos betes atravs da classe de

    resistncia pelo Eurocdigo 2 implica que, por exemplo, para a classe cuja resistncia caracterstica

    20 MPa (classe C20/25): (i) se o ensaio da resistncia compresso for realizado em provetes

    cilndricos a resistncia caracterstica ter de ser pelo menos 20 MPa; mas (ii) se o mesmo ensaio for

    realizado em provetes cbicos a resistncia caracterstica ter de ser pelo menos 25 MPa.

    Para alm da forma geomtrica, o material que os moldes so fabricados poder ter influncia no

    resultado final da resistncia compresso [10, 11]. Por um lado, a (no) planura das faces pode

    conduzir a resultados inferiores de resistncia compresso e com maior disperso. Por outro lado, a

    condutncia dos moldes influencia a taxa de libertao do calor gerado pelas reaes de hidratao do

    cimento, facto que pode conduzir ao aumento da temperatura e consequentemente a alteraes na

    maturidade do beto.

    Este trabalho visa contribuir para a clarificao dos resultados dos ensaios compresso do beto.

    Assim, neste trabalho pretende-se saber:

    1. Qual a influncia da forma geomtrica do provete no resultado do ensaio compresso: a. Verifica-se se a relao entre os valores da resistncia compresso efetuada em provetes

    cbicos e em provetes cilndricos a estabelecida pelo Eurocdigo 2;

  • L. Maia, C. Caetano, M. Correia

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    b. Avalia-se a influncia da altura do provete atravs da anlise da relao da resistncia compresso realizada em provetes (i) cbicos versus prismticos e (ii) cilndricos versus

    prismticos;

    2. Se o material em que os moldes so fabricados (poliuretano e ferro fundido) influenciam o valor da resistncia compresso;

    3. Se o valor da resistncia compresso influenciado pelo facto dos provetes serem colocados temperatura e humidade ambiente durante algum tempo antes da realizao do ensaio.

    2. METODOLOGIA EXPERIMENTAL

    Para cumprir os objetivos foram recolhidas trs amostras de beto numa empresa de beto pronto da

    Regio Autnoma da Madeira. No total foram moldados dezoito provetes cilndricos, sessenta

    provetes cbicos e doze provetes prismticos. No Quadro 1 apresenta-se a informao referente a cada

    amostra recolhida. Todos os ensaios foram realizados no Laboratrio Regional de Engenharia Civil

    (LREC) idade de 28 dias.

    Quadro 1. Informaes sobre a amostragem

    Amostra Especificao do beto Data da

    amostragem

    Hora da

    amostragem

    Temperatura do

    beto fresco

    1 NP EN 206- 1: C20/25 X0 (P)

    Cl 1,00 Dmx 22 S3 08-05-12 12:00 24,0 C

    2 NP EN 206- 1: C25/30 XC2 (P)

    Cl 0,40 Dmx 11 S3 30-04-12 15:30 20,8 C

    3 NP EN 206- 1: C30/37 XC 4 (P)

    Cl 0,40 Dmx 11 S3 12-06-12 15:30 25,0 C

    2.1 Amostragem e ensaio de abaixamento

    Neste trabalho recolheram-se trs amostras de beto fresco seguindo os procedimentos especificados

    na norma NP EN 12350-1: 2009. Assim, as amostras eram do tipo pontual e foram recolhidas com o

    auxlio de uma colher, um recipiente para receber as tomas de beto e um termmetro com uma

    exatido de 1 C. Para obter cada amostra, em primeiro lugar limpou-se os utenslios, depois com a

    colher retirou-se as tomas da parte requerida da amassadura e depositou-se as tomas no recipiente.

    Mediu-se a temperatura do beto fresco e registou-se a data e hora de amostragem (Quadro 1).

    A consistncia do beto fresco foi determinada de acordo com a NP EN 12350-2: 2009. Para proceder

    ao ensaio de abaixamento comeou-se por humedecer o molde e a placa, depois colocou-se o molde na

    superfcie horizontal. Durante o enchimento do molde manteve-se o molde fixo contra a superfcie

    com os ps sobre as abas. A amostra do beto foi colocada no molde em trs pores, compactando-se

    cada camada com 25 pancadas distribudas uniformemente sobre a seco transversal, utilizando o

    varo de compactao. Depois de terminada a compactao da camada de topo rasou-se a superfcie de

    beto atravs do rolamento com o varo de compactao. Removeu-se o excesso de beto da

    superfcie e depois o molde, subindo-o cuidadosamente na vertical. As operaes de desmoldagem

    foram executadas entre 2 e 5 s, atravs de um movimento firme e sem transmitir movimentos laterais

    ou torsionais ao beto. Toda a operao, desde o incio do enchimento at remoo do molde foi

    efetuada sem interrupo e com durao mxima de 150 s. Imediatamente aps remover o molde

    mede-se e registou-se o abaixamento. O abaixamento registado na Amostra 1 foi de 140 mm enquanto

    na Amostra 2 e na Amostra 3 foi de 130 mm. Verificou-se em todos os ensaios um abaixamento

    verdadeiro, isto , o beto permaneceu intato e simtrico (Figura 1).

    2.2 Execuo e cura de provetes

    Para levar a cabo o programa experimental, para cada uma das amostras realizam-se: (i) 10 provetes

    cbicos com 150 mm de aresta em moldes fabricados em ferro fundido; (ii) 10 provetes cbicos com

  • Influncia dos moldes dos provetes no ensaio de resistncia compresso do beto

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    150 mm de aresta em moldes fabricados em poliuretano; (iii) 6 provetes cilndricos com 150 mm de

    dimetro e 300 mm de altura; e (iv) 2 provetes prismticos (de base quadrada) com 150 mm de aresta

    e 750 mm de comprimento. Para o efeito utilizaram-se moldes pertencentes ao LREC, todos eles

    calibrados, estanques e no absorventes (Figura 2 e Figura 3).

    Figura 1. Ensaio de abaixamento Figura 2. Moldes preparados com leo descofrante

    Figura 3. Pormenor dos diversos tipos de moldes

    A execuo e cura dos provetes foram realizadas de acordo com a NP EN 12390-2: 2009. Assim, para

    realizar os provetes utilizou-se: os moldes, um recipiente com produto descofrante, um dispositivo de

    compactao do beto, uma colher com aproximadamente 100 mm de largura, uma talocha de ao, um

    tabuleiro plano, uma p com seco quadrada e um mao com superfcie macia.

    Para proceder a execuo dos provetes homogeneizou-se a amostra antes de encher os moldes,

    utilizando o tabuleiro e a p com seco quadrada. Para evitar a aderncia do beto ao molde, cobriu-

    se as faces interiores do molde com uma fina camada de leo descofrante. Na Figura 2 pode observar-

    se os moldes devidamente preparados com leo descofrante e dispostos para serem enchidos.

    Encheu-se cada molde em duas camadas e compactou-se atravs de vibrao mecnica, com um

    vibrador de agulha. O beto foi compactado logo aps a colocao no molde de forma a obter uma

    total compactao, sem que produzisse segregao ou exsudao e com o devido cuidado para no

    danificar o molde (a agulha foi mantida na posio vertical e sem tocar no fundo ou nas paredes do

    molde). Aps a compactao realizou-se cuidadosamente o nivelamento da superfcie. Depois

    marcaram-se os provetes sem os danificar.

    Segundo a norma NP EN 12390-2: 2009, pode deixar-se o provete dentro do molde entre 16 e 72

    horas, protegido contra choques, vibraes excessivas e desidratao temperatura de 20 5 C. Para

    as amostras 1 e 3 os provestes ficaram dentro dos moldes at idade de 24 horas. J para a amostra 2

    os provetes ficaram dentro dos moldes at idade de 48 horas.

    Os moldes de poliuretano foram removidos atravs da introduo de ar comprimido na base. Os

    restantes moldes foram removidos aps a sua desmontagem, utilizando-se para o efeito chaves de

    bocas adequadas. Aps a remoo dos moldes, os provetes foram colocados em gua, temperatura de

    20 2 C nas instalaes do LREC.

  • L. Maia, C. Caetano, M. Correia

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    2.3 Determinao da resistncia compresso

    Para determinar a resistncia dos provetes de beto endurecido, ensaiou-se os provetes at rotura

    numa prensa (walter + bai ag, TYP 102/3000) de classe 1, conforme indicado na norma NP EN

    12390-4:2003. O procedimento deste ensaio resume-se na preparao e posicionamento de provetes,

    aplicao da carga, avaliao do tipo de rotura e expresso dos resultados.

    Para cada amostra determinou-se a resistncia compresso:

    a) Em 5 provetes cbicos moldados em moldes de poliuretano (CP) estes provetes foram ensaiados compresso quase imediatamente aps retirar da gua;

    b) Em 5 provetes cbicos moldados em moldes de poliuretano (CP120) estes provetes foram retirados da gua e colocados a secar temperatura e humidade ambiente durante 120

    minutos;

    c) Em 5 provetes cbicos moldados em moldes de ferro fundido (CFF) estes provetes foram ensaiados compresso quase imediatamente aps retirar da gua;

    d) Em 5 provetes cbicos moldados em moldes ferro fundido (CFFR) em que as faces de compresso destes provetes foram previamente retificadas;

    e) Em 4 provetes prismticos (P) com base quadrada de aresta 150 mm e com 370 mm de comprimento;

    f) Em 6 provetes cilndricos (CC) em que as faces de compresso foram retificadas para previamente retificadas.

    2.3.1 Preparao dos provetes

    A preparao dos provetes foi realizada 51 dias antes dos ensaios de compresso. Os provetes que

    necessitavam de preparao foram retirados da gua, posteriormente preparados e por fim colocados

    novamente debaixo de gua. Nenhum provete esteve fora de gua mais de 60 minutos.

    No que concerne preparao dos provetes prismticos, importa relembrar que os provetes moldados

    tinham um comprimento de 750 mm. Assim, houve a necessidade de em primeiro lugar se proceder ao

    corte (Figura 4) dos mesmos para cada provete dar origem a dois provetes com base quadrada de

    aresta 150 mm e com 370 mm de comprimento.

    Para melhorar a planura das faces de compresso de alguns provetes (4 prismticos, 5 cbicos

    moldados em moldes de ferro fundido e 6 cilndricos) procedeu-se cuidadosamente retificao das

    faces de compresso dos respetivos provetes. A retificao foi realizada no equipamento apresentado

    na Figura 5.

    Figura 4. Corte de provetes prismtico

    Figura 5. Retificao de provete prismtico

    2.3.2 Ensaio

    idade de 28 dias, cada provete foi retirado da gua e com uma toalha ligeiramente hmida removeu-

    se o excesso de gua e eventuais materiais estranhos das superfcies dos provetes. De seguida

  • Influncia dos moldes dos provetes no ensaio de resistncia compresso do beto

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    determinou-se as dimenses e a massa de todos os provetes (Figura 6), verificando-se que eram

    satisfeitos os requisitos da norma EN 12390- 1: 2010.

    Depois limpou-se as superfcies de compresso da prensa de ensaio para remover possveis materiais

    estranhos, colocou-se o provete na prensa com o auxlio de marcaes gravadas no prato inferior,

    centrou-se o provete e iniciou-se o ensaio de compresso. Refira-se que nos provetes cbicos (e

    prismticos) o posicionamento dos provetes foi efetuado de forma que a carga fosse aplicada

    perpendicularmente direo de moldagem (Figura 7).

    A aplicao da carga foi realizada a uma velocidade constante, dentro do intervalo 0,6 0,2 MPa/s

    para todos os provetes. Comeou-se por aplicar uma carga inicial inferior a cerca de 30 % da carga de

    rotura, depois aumentou-se de forma contnua at que no fosse possvel aplicar carga maior, com a

    velocidade constante selecionada 10%. Registou-se a carga mxima e verificou-se que a rotura foi

    satisfatria.

    Figura 6. Determinao das dimenses

    Figura 7. Prensa para realizao do ensaio compresso

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    Segundo a NP EN 12390- 3: 2009, a resistncia compresso calculada atravs da expresso:

    fc=F/A, onde fc a resistncia compresso [MPa], F a carga mxima rotura [N] e Ac a rea da

    seco transversal [mm2] do provete na qual a fora de compresso foi aplicada. Depois de calculada a

    resistncia compresso aos 28 dias para os diversos provetes, calculou-se a mdia e o desvio padro

    para cada conjunto de provetes. Nas Figuras 8, 9 e 10 apresentam-se os valores mdios e os respetivos

    desvios padres obtidos para os diversos conjuntos de cada amostra.

    Analisando globalmente os resultados, observa-se que os resultados do beto C20/25 e do beto

    C25/30 seguem tendncias muito semelhantes. J a composio de beto C30/37 apresenta algumas

    diferenas nas tendncias.

    3.1 Relao entre a resistncia compresso em provetes cbicos versus cilndricos

    Analisando os resultados obtidos (Figuras 8, 9 e 10) em provetes cbicos e em provetes cilndricos

    (CC) a relao entre os diversos conjuntos bem superior (para todos os tipos de conjuntos de

    provetes cbicos CP, CP120, CFF e CFFR) relao tradicionalmente assumida

    (fc,cilindros = 80% x fc,cubos). De facto, estabelecendo a comparao direta entre os provetes cbicos em

    moldes de poliuretano (visto serem os mais utilizados em Portugal CP), verifica-se que a relao

    sobe para 98% para beto de classe C20/25, 99% para o beto C25/30 e 96% para o beto C30/37.

    Pela anlise dos resultados verifica-se que se os betes forem classificados atravs dos resultados dos

    ensaios em provetes cbicos moldados em moldes de poliuretano, ento de acordo pelo Eurocdigo, a

    Amostra 1 deveria ser classificada como C16/20, a Amostra 2 como um C25/30 e a Amostra 3 deveria

    ser classificada como C30/37 (quase chega a C35/45). Contudo, fazendo a classificao com base nos

  • L. Maia, C. Caetano, M. Correia

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    provetes cilndricos a Amostra 1 deveria ser classificada como C20/25, a Amostra 2 como um C30/37

    (quase chega a C35/45) e a Amostra 3 deveria ser classificada como C40/50. Ou seja, todas as

    amostras sobem de classe, sendo que no caso da Amostra 3 a subida de duas classes.

    Figura 8. Resistncia compresso obtida em diferentes conjuntos de provetes para a Amostra 1 (C20/25)

    Figura 9. Resistncia compresso obtida em diferentes conjuntos de provetes para a Amostra 2 (C25/30)

    Figura 10. Resistncia compresso obtida em diferentes conjuntos de provetes para a Amostra 3 (C30/37)

  • Influncia dos moldes dos provetes no ensaio de resistncia compresso do beto

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    Deste modo, verifica-se que em termos econmicos altamente penalizador para o produtor realizar

    ensaios em provetes cbicos moldados em moldes de poliuretano, quando comparado com a realizao

    de ensaios em provetes cilndricos. No obstante, importa considerar que a utilizao de provetes

    cilndricos conduz a custos acrescidos na execuo do ensaio (necessitam ser retificados e de maior

    volume de beto).

    3.2 Relao entre a resistncia compresso em provetes cbicos versus prismticos e em

    provetes cilndricos versus prismticos

    Visto que a relao entre a resistncia compresso entre provetes cbicos e provetes cilndricos

    consideravelmente diferente da referida no Eurocdigo 2, interessa conhecer a relao da resistncia

    compresso de um provete prismtico (P) com os cbicos e com os cilndricos. Importa referir que

    para evitar diferenas nas tenses de confinamento provocadas pelo prato da prensa de ensaio, a altura

    dos provetes prismticos (370 mm) foi escolhida de modo a que a relao rea da base / Altura fosse

    semelhante quer para os provetes prismticos quer para provetes cilndricos (~0,06).

    Observando os resultados obtidos (Figuras 8, 9 e 10) verifica-se que a resistncia obtida em provetes

    prismticos consideravelmente inferior s obtidas nos restantes provetes. Deste modo, verifica-se

    que de facto a altura tem influncia no valor dos resultados dos ensaios compresso. Contudo, visto

    que a relao rea da base / Altura foi semelhante, verificou-se que os provetes cilndricos

    conduziram a maiores resistncias (facto que compara e refora os resultados discutidos na Seco

    3.1). Alm disso, fazendo a comparao com os provetes cbicos moldados em moldes metlicos

    retificados (ou seja, s a altura do provete variou), verifica-se que a resistncia nos provetes

    prismticos de 0,81, 0,76 e 0,88 para a Amostra 1, 2 e 3, respetivamente. Finalmente, importa

    chamar a ateno de que os provetes prismticos foram os que conduziram maior disperso de

    resultados.

    Assim, comparando os provetes prismticos com os cbicos conclui-se que, de facto, os pratos da

    prensa devero produzir algum efeito de confinamento, ou seja, o 0,80 para a relao entre a

    resistncia compresso entre provetes cbicos e prismticos parece estar correta. Paralelamente

    conclui-se tambm que, ensaiar um provete cilndrico conduz a resistncias bem superiores a ensaiar

    um provete prismtico.

    3.3 Relao entre a resistncia compresso em provetes cbicos moldados em moldes de

    poliuretano e moldes de ferros fundido

    Pela anlise das Figuras 8, 9 e 10 verifica-se que a resistncia compresso dos provetes cbicos

    moldados em moldes de ferro fundido (CFF) foi superior dos moldados em moldes de poliuretano

    (CP). Nas amostras 1 e 2 o valor foi cerca de 10% superior e na Amostra 3 foi cerca de 4% a mais.

    Estes resultados no deixam de ser relativamente surpreendentes, pois seria de esperar que a planura

    das faces dos moldes fosse superior nos moldes de poliuretano. Contudo, observa-se que no que

    concerne disperso de resultados, os provetes moldados em moldes de ferro fundido tiveram menor

    disperso do que os moldados em moldes de poliuretano. Mais se verifica que, embora a retificao

    dos provetes cbicos nas faces onde foi aplicada a fora de compresso tenha conduzido a um ligeiro

    aumento da resistncia compresso, a disperso de resultados no melhorou (pelo contrrio). Ou

    seja, conclui-se as faces dos moldes de ferro fundido tinham elevada planura.

    Pela anlise de disperso de resultados pode-se levantar a hiptese de que a planura dos moldes de

    poliuretano possa ser inferior dos moldes de ferro fundido e como tal possa estar a conduzir a

    resultados menores. Contudo, uma outra hiptese para explicar os resultados encontrados poder ser a

    diferena de condutncias trmicas entre as paredes dos moldes de poliuretano e dos de ferro fundido.

    Dado que a condutncia trmica dos moldes de poliuretano muito inferior condutncia trmica dos

    moldes de ferro fundido, era de esperar que a temperatura no interior do provete at idade de

    desmolde fosse consideravelmente inferior para os moldes de ferro fundido. Assim, seria de esperar

  • L. Maia, C. Caetano, M. Correia

    9

    que os provetes moldados em moldes de poliuretano tivessem uma resistncia superior nas primeiras

    idades (devido ao aumento da velocidade das reaes de hidratao do cimento) e uma resistncia

    inferior em idades mais avanadas.

    Como neste trabalho (i) no foram ensaiados provetes cbicos moldados em moldes de poliuretano

    com faces retificadas, (ii) no se avaliou a evoluo da temperatura no interior dos provetes moldados

    e como (iii) s se avaliou a resistncia compresso idade de 28 dias; no possvel avanar com

    uma explicao completa sobre os resultados obtidos.

    3.4 Relao entre a resistncia compresso em provetes cbicos ensaiados imediatamente aps

    retirados da gua versus colocados algum tempo a secar as superfcies

    Embora a norma NP EN 12390- 3: 2009 [8] refira que os provetes devem ser ensaiados imediatamente

    aps serem retirados d gua, quando se necessita de realizar o ensaio da resistncia compresso em

    vrios provetes, vulgar, devido a questes de produtividade, retirar os provetes da gua todos de

    seguida (numa s tarefa). Deste modo, enquanto o primeiro provete ensaiado na prensa quase

    imediatamente a seguir a ter sido retirado da gua, os restantes provetes ficam a esperar que se

    realizem alguns ensaios. Quando se trata de um elevado nmero de provetes, o tempo de espera pode

    ser superior a 2 horas.

    Assim, no sentido de avaliar se o tempo de espera temperatura e humidade ambiente tm influncia

    no valor da resistncia compresso, neste trabalho comparam-se os resultados da resistncia

    compresso entre provetes (cbicos moldados em moldes de poliuretano) que estiveram 120 minutos

    espera de serem ensaiados (CP120) e provetes que foram ensaiados quase (devido a medies e

    pesagem) imediatamente aps terem sido retirados da gua.

    Assim, analisando os resultados das Figuras 8, 9 e 10 para os provetes CP e CP120 observa-se que

    na Amostra 1 e na Amostra 2 ocorreu um ligeiro aumento da resistncia compresso (~4%), contudo

    na Amostra 3 (beto C30/37) houve uma reduo muito tnue do valor mdio (mas perfeitamente

    dentro dos desvios padres encontrados). Assim, embora para os betes das classes inferiores a

    existncia de tempo de espera parea conduzir a um aumento da resistncia, pelos resultados obtidos

    para a classe de resistncia C30/37 conclui-se que so necessrios mais ensaios para comprovar esta

    tendncia.

    NOTAS FINAIS

    Neste trabalho investigou-se a influncia de diversos fatores nos resultados dos ensaios de resistncia

    compresso do beto. Deste trabalho experimental podem ser retiradas as seguintes concluses:

    1. A utilizao de provetes cilndricos conduz a valores de resistncia compresso quase iguais aos dos provetes cbicos, ou seja, muito acima da relao prevista no Eurocdigo 2. Nesse

    sentido, do ponto de vista econmico a utilizao de provetes cilndricos muito vantajosa;

    2. A altura do provete tem influncia no valor obtido para a resistncia compresso. Contudo, importante distinguir a relao entre provetes cbicos versus provetes prismticos de base

    quadrangular e a relao entre provetes cbicos versus provetes cilndricos de altura superior

    dimenso da aresta;

    3. O material com que o molde fabricado tem influncia no valor da resistncia compresso do provete. Neste trabalho observou-se que os moldes de ferro fundido produziram provetes

    com resistncias compresso superiores do que os moldes de poliuretano. Possivelmente, tal

    facto est ligado temperatura que o provete atinge ou planura das faces dos moldes,

    contudo necessrio mais investigao, nomeadamente com a realizao de ensaios

    compresso em idades mais jovens, para documentar uma explicao;

    4. Aparentemente, o tempo que decorre entre retirar um provete da cura hmida e o momento em que se efetua o ensaio compresso afeta o valor obtido. Observou-se que nos betes das

  • Influncia dos moldes dos provetes no ensaio de resistncia compresso do beto

    10

    classes inferiores, para um tempo de espera de 120 minutos, o valor da resistncia foi

    aproximadamente 4% superior. Contudo, torna-se necessrio proceder a mais investigao

    nesta questo porque para a classe de beto C30/37, no se verificou qualquer aumento.

    AGRADECIMENTOS

    Especial agradecimento ao Laboratrio Regional de Engenharia Civil (LREC) pela disponibilidade

    para a utilizao dos recursos necessrios e empresa Prebel Sociedade Tcnica de Prefabricao e

    Construo S.A. pelo fornecimento das amostras de beto.

    REFERNCIAS

    [1] REBAP, Regulamento de estruturas de beto armado e pr-esforado, in: Decreto-lei n 349-

    C/1983, de 30 de Julho, 1983.

    [2] NPEN206-1, Beto, in: Parte1: Especificao, desempenho, produo e conformidade, 2007.

    [3] NPEN1992-1-1, Eurocdigo 2 - Projecto de estruturas de beto in: Parte 1- 1: Regras gerais e

    regras para edifcios, 2010.

    [4] NPEN12350-1, Ensaios do beto fresco, in: Parte1: Amostragem, 2009.

    [5] NPEN12350-2, Ensaios do beto fresco, in: Parte 2: Ensaio de abaixamento, 2009.

    [6] NPEN12390-1, Ensaios do beto endurecido, in: Parte 1: Forma, dimenses e outros requisitos

    para o ensaio de provetes e para os moldes, 2010.

    [7] NPEN12390-2, Ensaios do beto endurecido, in: Parte 2: Execuo e cura dos provetes para

    ensaios de resistncia mecncia, 2009.

    [8] NPEN12390-3, Ensaios do beto endurecido, in: Parte 3: Resistncia compresso de provetes,

    2009.

    [9] NPEN12390-4, Ensaios do beto endurecido, in: Parte 4: Resistncia compresso Caractersticas

    das mquinas de ensaio, 2003.

    [10] H.H. Ferreira, R.M. Ferreira, C. Oliveira, R.d.F. Magalhes, A influncia da qualidade dos

    moldes na verificao da conformidade da resistncia compresso do beto, in: BE2010 Encontro

    Nacional de Beto Estrutural; LNEC, 2010.

    [11] R. Day, The Effect of Mold Size and Mold Material on Compressive Strength Measurement

    Using Concrete Cylinders, SEDL - Journals - Cement, Concrete and Aggregates (CCA) 16 (1994).