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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INPA INFLUÊNCIA DOS TRAÇOS FUNCIONAIS NA DISTRIBUIÇÃO DE MORCEGOS INSETÍVOROS AÉREOS EM UMA PAISAGEM INSULARIZADA GUTHIERI TEIXEIRA COLOMBO Manaus, Amazonas Março, 2018

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INPA

INFLUÊNCIA DOS TRAÇOS FUNCIONAIS NA DISTRIBUIÇÃO DE MORCEGOS

INSETÍVOROS AÉREOS EM UMA PAISAGEM INSULARIZADA

GUTHIERI TEIXEIRA COLOMBO

Manaus, Amazonas

Março, 2018

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GUTHIERI TEIXEIRA COLOMBO

INFLUÊNCIA DOS TRAÇOS FUNCIONAIS NA OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES DE

MORCEGOS INSETÍVOROS AÉREOS EM UMA PAISAGEM INSULARIZADA

Orientador: Dr. Paulo Estefano Dineli Bobrowiec

Dissertação apresentada ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Biologia (Ecologia) em março de 2018.

Manaus, Amazonas

Março, 2018

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Ata da defesa

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Ficha catalográfica e sinopse

Sinopse

Avaliou-se se a comunidade dos morcegos insetívoros aéreos é estruturada pelos traços funcionais ou

pelas características ambientais em uma paisagem insularizada. Verificaram-se quais traços funcionais

estão mais associados com as características da vegetação e da configuração da paisagem.

Palavras-Chave: ecologia funcional, filtro ambiental, bioacústica, fragmentação

C718 Colombo, Guthieri Teixeira

Influência dos traços funcionais na distribuição de morcegos

insetívoros aéreos em uma paisagem insularizada / Guthieri Teixeira

Colombo. - Manaus: [s.n.], 2018.

47 f. : il. color.

Dissertação (Mestrado) - INPA, Manaus, 2018.

Orientador : Paulo Estefano Dineli Bobrowiec.

Programa: Ecologia.

1. Traço funcional. 2. Filtro ambiental. 3. Fragmentação florestal.

I. Título.

CDD 577.27

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Agradecimentos

Ao meu orientador Paulinho por ter sido participativo e muito atencioso em

todas as etapas desta pesquisa. Além de ter sido um bom orientador, é um grande amigo

que pude compartilhar bons momentos. Sem dúvida foi uma das pessoas que fizeram

diferença em minha vida profissional.

Aos amigos de laboratório (Raffaello, Giuliana, Guilherme e Dinah) pelas

inúmeras contribuições para a melhora desta dissertação. As conversas sobre

apresentações orais, redação e ecologia me ajudaram a manter a calma e organizar as

ideias em momentos em que me senti pressionado. Sempre que compartilharam suas

experiências adquiridas com suas pesquisas, me mostraram muitos caminhos que eu

pude escolher para ajudar a responder as perguntas desta dissertação.

Ao Raffaello, inicialmente por ter aceitado compartilhar comigo os recursos

financeiros, que conseguiu por conta própria, para que eu pudesse desenvolver este

projeto de pesquisa; por ter sido um grande amigo e parceiro por todo o período deste

mestrado; por ser corajoso e justo em conversas difíceis, mas necessárias para que todo

o trabalho que realizamos juntos continuasse funcionando da melhor maneira possível.

E também, por ser um amigo que me fez sorrir e me ensinou a ver as coisas por um

outro ângulo.

A melhor parte da vida de um biólogo são as coletas de dados em campo! Fazer

isso com amigos e fazer novas amizades no meio da floresta eleva este momento para a

estratosfera. Muito obrigado ao Thiago e ao Dedeu por terem aceito trabalhar em campo

junto comigo e às muitas boas atitudes de cada um de deles que tornaram as

dificuldades de campo um prazer.

Agradeço ao Bill e a Flavia por, finalmente, me fazerem entender um pouco

sobre estatística, estes dois são exemplos de pesquisadores para mim. Ao Fabricio por

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ter me apresentado o R e todo seu poder, e ter deixado claro que, após os olhos

sangrarem tentando resolver um problema de código, todo este poder passa a ser seu.

A Flavia por apresentar a disciplina de ecologia de comunidades de forma clara

e produtiva, e por me aceitar como monitor desta disciplina no ano seguinte. Ao Beto

Quesada por transformar a ecologia de ecossistemas em uma disciplina muito

interessante. E a todos os professores que participaram como convidados das disciplinas

por tornar as discussões sobre as teorias ecológicas produtivas.

O Anderson e a Ivana... não sei quais palavras usar para agradecer estes dois. Me

envolveram em tamanha sinceridade que me fizeram repensar minha vida. Dentre estes

dois anos compartilhamos poucos dias, mas foram, sem dúvidas, os melhores e mais

importantes dias desta dissertação! Obrigado por me fazerem enxergar o quanto preciso

melhorar para chegar a ser um cientista.

Aos amigos que fiz no PDBFF, por tornarem os dias de trabalho mais agradáveis

durante os intervalos e mais deliciosos durante o almoço de todos os dias.

Agradeço a todos da turma de Ecologia de 2016. De certa forma, o conteúdo

dessa dissertação contém um pouco de todos vocês.

Agradeço a minha a minha família que, mesmo longe, sempre me deu apoio em

cada boa decisão que tomei e me tranquilizou em momentos difíceis. Agradeço a Lilian

por me incentivar e por acreditar em mim quando tive dúvidas em viajar para fazer o

mestrado, cada morcego que capturamos juntos durantes estes 10 anos de convivência

foram inesquecíveis.

A Reserva Biológica do Uatumã por todo apoio logístico nas atividades de

campo, e pelas boas amizades que construí dentro deste órgão ambiental.

Ao CNPq pela bolsa de estudos concedida durante os dois anos do mestrado.

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Epígrafe

“Como muito na natureza permanece oculto, nossa visão de mundo é baseada apenas na

fração da realidade que podemos medir e analisar.”

A ilha do conhecimento – Marcelo Gleiser

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Resumo

A construção de hidrelétricas tem gerado a perda de habitat e fragmentação de florestas

tropicais. Essa modificação do ambiente dificulta a dispersão das espécies entre floresta

contínua e fragmentos ou tenham dificuldades para se estabelecer em um novo local.

Uma razão para esta exclusão é que os traços funcionais podem limitar a capacidade das

espécies para habitar locais com certas características. O reservatório de água de

hidrelétricas gera uma paisagem onde os atributos ambientais são completamente

modificados pelo alagamento, formando ilhas com um gradiente de atributos ambientais

entre elas. Isto faz com que a composição de espécies seja modificada em relação à

floresta contínua e a distribuição das espécies sejam filtradas pelo ambiente. Neste

estudo, nós avaliamos se a comunidade dos morcegos insetívoros aéreos é estruturada

pelos traços funcionais ou pelas características ambientais em escala local e da paisagem,

em uma região insularizada pelo reservatório de uma hidrelétrica na Amazônia.

Utilizamos modelos PGLS para ajustar a dissimilaridade filogenética entre as 18

espécies de morcegos e verificamos através do AICc quais dos nove modelos são mais

sensíveis a insularização. A estatísticas RLQ possibilitou identificar quais as associações

entre traços funcionais e atributos ambientais são mais fortes, e a partir dessas

associações utilizamos a estatística fourth-coner para testar se a comunidade de

morcegos foi estruturada pelas características ambientais ou pelos traços funcionais.

Como resultado encontramos que os traços funcionais massa corpórea e largura de banda

do ultrassom foram os mais influenciados pela insularização do ambiente. Os traços

funcionais que foram melhores associados às variáveis locais também foram associados

à escala de paisagem e os atributos do ambiente tem maior influência na estruturação da

comunidade de morcegos do que seus traços funcionais. A grande variabilidade dos

traços funcionais possibilita aos morcegos forragearem em diferentes ambientes, mas a

persistência das espécies varia com a redução da área florestada, levando a exclusão de

determinadas espécies devido as diferentes características nas ilhas insularizadas.

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Abstract

Influence of functional traits on distribution of aerial insectivorous bats in an

insularized landscape

The construction of hydroelectric dam results in habitat loss and tropical forest

fragmentation. This modification of the environment hinders the dispersion of the

species between continuous forest and fragments or has difficulties to establish itself in

a new place. One reason for this exclusion is that functional traits may limit the species'

ability to inhabit sites with certain characteristics. The reservoir of hydroelectric water

generates a landscape where the environmental attributes are completely modified by

the flood, forming islands with a gradient of environmental attributes between them.

This causes the composition of species to be modified relative to the continuous forest

and the distribution of the species to be filtered by the environment. In this study, we

evaluated whether the insectivorous bats community is structured by functional traits or

environmental characteristics on a local scale and landscape scale in a region insularized

by the reservoir of a hydroelectric plant in the Amazon. We used PGLS models to

adjust the phylogenetic dissimilarity among the 18 species of bats and verified through

the AICc which of the nine models are more sensitive to insularization. Through the

RLQ statistic we identified which associations between functional traits and

environmental attributes are stronger, from these associations we used the fourth-coner

statistic to test whether the bat community was structured by environmental

characteristics or functional traits. As a result, we found that the functional traits of

body mass and ultrasound bandwidth had greater influence on the insularization of the

environment. The functional traits that are associated with local variables are also

associated with the landscape scale and the attributes of the environment have a greater

influence on the structuring of the bats community than their functional traits. The great

variability of the functional traits allows the bats to forage in different environments,

but the persistence of the species varies with the reduction of the forested area, leading

to the exclusion of certain species due to the different characteristics in the insularized

islands.

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Sumário

Apresentação ................................................................................................................................ 1

Objetivos ....................................................................................................................................... 2

Objetivo geral ............................................................................................................................ 2

Objetivos específicos ............................................................................................................. 2

Introdução ..................................................................................................................................... 3

Material e métodos ....................................................................................................................... 5

Delineamento amostral............................................................................................................. 6

Traços funcionais das espécies.................................................................................................. 8

Variáveis do ambiente em escala local ..................................................................................... 9

Variáveis ambientais em escala de mancha ............................................................................ 10

Análise de dados ..................................................................................................................... 11

Resultados ................................................................................................................................... 13

Discussão ..................................................................................................................................... 17

Bibliografia .................................................................................................................................. 23

Apêndices .................................................................................................................................... 32

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Apresentação

Diante da impossibilidade de se definir o que é uma comunidade de espécies, é

necessário considerar que a estrutura das comunidades é indiretamente afetada pela

escala de observação, sendo que a composição e as características a elas associadas

variam através de gradientes locais e regionais (Stahla et al 2014). Grande parte da

organização das espécies no ambiente está relacionada com variações nas condições

ambientais de cada escala (Gámez-Virués et al 2015). Os mecanismos envolvidos nessa

organização podem ser definidos como filtros ambientais, dos quais as condições

abióticas diminuem a chance de ocorrência de determinada(s) espécie(s) do pool de

espécies regional e permitem que apenas as espécies com atributos adequados persistam

sob certos conjuntos de condições ambientais (McGill et al 2006).

Para a estruturação das comunidades, duas condições principais estarão

presentes: a convergência e a divergência de atributos funcionais (Cianciaruso et al.

2009). As condições ambientais, vistas como filtros, atuam diretamente na seleção de

traços funcionais, sendo que apenas a variabilidade de determinados traços é adequada

às condições ambientais (Keddy 1992). Por outro lado, a coexistência das espécies deve

ser restrita pela similaridade de traços, de forma que as interações bióticas negativas

sejam reduzidas, levando à divergência de atributos e gerando uma limitação por

similaridade entre as espécies presentes num determinado local (Cianciaruso et al.

2009). Diante disso, as comunidades não são apenas aglomerados de espécies; mas sim

organizações de espécies com certas combinações de traços funcionais que possibilitam

não apenas a ocorrência em um ambiente, mas também a coexistência entre espécies.

Neste estudo, nós avaliamos se a ocorrência de espécies de morcegos insetívoros

aéreos é influenciada pelas características físicas do ambiente ou pelas diferenças entre

os traços funcionais das espécies. Para isso, estudamos um sistema com milhares de

ilhas insularizadas em um reservatório de água de uma hidrelétrica na Amazônia

brasileira, que gerou um gradiente de ilhas com diferentes tamanhos e formas. Primeiro,

analisamos se a ocorrência das espécies de morcegos insetívoros aéreos difere entre as

diferentes quantidades de obstáculos gerados pelo efeito de borda. Em seguida,

analisamos se há associações entre os traços e a estrutura da vegetação. Por fim,

testamos se a ocorrência das espécies é devida às diferenças do ambiente ou devido à

diferença dos traços funcionais entre as espécies.

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Objetivos

Objetivo geral

Avaliar se a estrutura da vegetação tem influência na ocorrência dos traços

funcionais de uma comunidade dos morcegos insetívoros aéreos em uma paisagem

insularizada pelo reservatório de água da hidrelétrica de Balbina na Amazônia Central.

Objetivos específicos

• Avaliar quais traços funcionais explicam a sensibilidade dos morcegos

insetívoros aéreos à insularização;

• Avaliar quais traços funcionais estão mais fortemente associados aos atributos

ambientais decorrentes do processo de insularização;

• Testar se a ocorrência de espécies dos morcegos é mais fortemente influenciada

pelos traços funcionais ou pelas características ambientais.

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Introdução

A construção de hidrelétricas é atualmente uma das principais intervenções

humanas que geram perda de habitat e fragmentação de florestas tropicais de terras

baixas, portanto, são uma ameaça para a biodiversidade (Lees et al. 2016). O

represamento dos rios inunda as áreas baixas do terreno para formar o reservatório da

hidrelétrica, e os locais mais altos ficam emersos, gerando uma paisagem insularizada

com ilhas desconectadas e de diferentes tamanhos em meio a uma matriz aquática.

Neste cenário, a biodiversidade geralmente diminui com a redução da área de floresta e

o aumento da distância da floresta contínua, causando o aumento do isolamento, o efeito

de borda, o declínio da cobertura vegetal e da complexidade estrutural da vegetação

(August 1983, Philpott et al., 2008).

Diferente do que geralmente ocorre na fragmentação em ambientes não

alagados, os atributos da paisagem e as características da vegetação gerados pelo

alagamento, atuam como um forte filtro ambiental para a maioria das espécies,

permitindo que apenas as espécies com características ecológicas capazes de usar e/ou

atravessar uma matriz aberta, sem vegetação, persistam nas ilhas remanescentes

(Benchimol e Peres, 2015; Farneda et al., 2018; Meyer e Kalko, 2008). Matrizes

florestadas minimizam os efeitos de borda, aumentam a permeabilidade da matriz e a

conexão entre fragmentos, pois o contraste entre a vegetação do fragmento e da matriz

não é muito acentuado, o que contribui para que muitas espécies também usem a matriz

como habitat de forrageio (Prevedello e Vieira 2010).

Por outro lado, em reservatórios de usinas hidrelétricas, a diferença de habitat

entre a ilha e a matriz aquática é radical (Mendenhall et al. 2014). Como estes habitats

são muito contrastantes em características ambientais, a persistência das espécies nas

ilhas depende de características funcionais que toleram mudanças radicais nas

características ambientais (Bueno et al. 2018).

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Os efeitos da insularização sobre a diversidade taxonômica também podem ser

observados na diversidade funcional (Boesing et al. 2018). Análises tradicionais de

diversidade biológica, como riqueza, abundância e composição, consideram que as

espécies de uma assembleia como ecologicamente equivalentes (Cianciaruso et al.

2009). Traços funcionais são medidas de diversidade que incorporam informações

fenotípicas das espécies e que afetam diretamente a performance do indivíduo no

ambiente (McGill et al. 2006; Cisneros et al. 2015; Farneda et al. 2015). Os traços

funcionais permitem avaliar quais características morfológicas, fisiológicas ou

comportamentais das espécies respondem às mudanças de um gradiente ambiental

(McGill et al. 2006).

Em um contexto de insularização, a permeabilidade da matriz, os atributos da

paisagem e as características da vegetação do fragmento filtram quais espécies e traços

funcionais específicos persistem nas ilhas (Keddy 1992). Em ambientes com

caracteristicas parecidas a quantidade de espécies podem ser diferentes, mas as espécies

podém conter traços funcionais semelhantes. Compreender quais traços são filtrados

permite prever quais espécies podem persistir em uma paisagem insularizada e gerar

informações para desenvolver estratégias para gestão e conservação de áreas sob

influência direta de barragens de hidrelétricas.

Os morcegos possuem grande variedade de formas de interação com o ambiente

devido à diversidade de guildas, formas do ultrassom, estratégias de voo e formas de

forrageio (Findley e Wilson, 1982). Por isso, os morcegos são bons modelos para

relacionar a distribuição de espécies com diversidade funcional e características

ambientais, incluindo ambientes antropizados. Os morcegos insetívoros aéreos, aqueles

que se alimentam de insetos durante o voo, representam oito famílias, das nove

existentes, e 48% das espécies (N = 178 espécies) de morcegos que ocorrem no Brasil

(Nogueira et al. 2014). No entanto, nas regiões neotropicais os morcegos insetívoros

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aéreos têm sido omitidos por não serem adequadamente amostrados com redes de

captura, método mais usado para amostrar morcegos (Silva e Bernard 2017).

Gravadores de ultrassom autônomos, programas de análises acústicas e a

disponibilidade de bibliotecas de sons têm permitido a amostragem e identificação de

morcegos insetívoros aéreos tropicais (Estrada-Villegas et al. 2010; Bader et al. 2015;

De Oliveira et al. 2015). Esses avanços possibilitam responder questões ecológicas

relacionadas às mudanças ambientais provocadas pelo homem sobre este grupo de

morcegos, antes restritas à família Phyllostomidae que predominam nas capturas com

redes (Bader et al., 2015; Estrada-Villegas et al., 2010).

Neste estudo, nós avaliamos se a comunidade de morcegos insetívoros aéreos é

estruturada pelos traços funcionais ou pelas características ambientais (atributos da

mancha e estrutura da vegetação local) em uma paisagem insularizada pelo reservatório

da hidrelétrica de Balbina na Amazônia Central. Nós esperamos que tanto os traços

funcionais quanto as características ambientais irão influenciar na estruturação da

comunidade de morcegos.

Material e métodos

O estudo foi realizado nas ilhas e na área de floresta contínua na bacia do rio

Uatumã, onde está situado o Usina Hidrelétrica de Balbina (1°26’ – 1°54’S; 59°52’ –

59°28’O), e na grade do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PELD/CNPq), e do

Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) localizada dentro da Reserva

Biológica do Uatumã, (1°47'35.92"S; 59°14'52.12"O), ao leste do reservatório da

hidrelétrica, no estado do Amazonas, Brasil (Figura 1). A Usina Hidrelétrica de Balbina

foi finalizada no ano de 1986, e o reservatório inundou ~3.129 km² de floresta alagável

e de terra firme, criando 3.525 ilhas no rio Uatumã (Benchimol e Peres 2015). A

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Reserva Biológica do Uatumã é uma unidade de conservação governamental,

implementada para compensar os impactos ambientais gerados pela construção da

hidrelétrica, cobrindo 938.720,95 ha de floresta contínua e ilhas (Brasil 2017).

A precipitação anual durante a estação chuvosa (dezembro a maio) é de 2.420

mm e a média anial durante a estação seca (junho a novembro) é de 80 mm. A

temperatura média anual é 26,7 ºC (Alvares et al. 2013). A vegetação é caracterizada

por uma floresta ombrófila densa submontana (Benchimol e Peres 2015).

Figura 1. Localização da usina hidrelétrica de Balbina na América do Sul (quadrado

vermelho). A estrela vermelha representa a represa; o azul claro a água; o verde claro as

ilhas insularizadas; o verde escuro a floresta contínua. Os locais amostrados estão em

cinza, os polígonos são as ilhas e os círculos são os locais de floresta contínua.

Delineamento amostral

Nós amostramos as mesmas 26 ilhas e seis sítios de floresta contínua amostrados

por Benchimol e Peres (2015) porque estes dados demosntram um gradiente ambiental

na estrutura do interior dos sítios e da paisagem. Em cada um das ilhas e sítios de

floresta contínua foram instaladas parcelas de 250×10 m (com exceção de 10 ilhas <10

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ha que tiveram parcelas de 125×20 m). Para detectar os morcegos, nós instalamos em

cada parcela um gravador de ultrassom Song Meter 2 BAT+, conectado a um microfone

omnidirecional ultrassônico SMX-US (Wildlife Acoustics, Maynard, Massachusetts)

posicionado a 1.5 m de altura do solo.

Os gravadores de ultrassom foram programados para gravar das 17:30h às

06:30h durante quatro noites consecutivas e foram configurados para registrar

passivamente a atividade dos morcegos em tempo real com uma taxa de amostragem de

384 khz, resolução de 32 bit e apenas os sons com 18 dB acima do ruído do ambiente.

Os registros gravados de ultrassons foram salvos no formato WAC, em arquivos com

duração de 30 minutos, produzindo 26 arquivos a cada 13 horas de gravação. No

programa Kaleidoscope 4.0.3 (Wildlife Acoustics, Maynard, Massachusetts), esses

arquivos foram convertidos para formato WAV e divididos em arquivos de cinco

segundos. Os espectrogramas com no mínimo dois pulsos de ecolocalização foram

considerados como um registro válido da atividade dos morcegos. Nós definimos a

atividade de cada espécie de morcego como a soma da atividade nas quatro noites

dividida pelo número de noites amostradas em cada parcela.

Todas as gravações foram identificadas caso-a-caso no programa Kaleidoscope

4.0.3, usando a sonoteca de ultrassom de morcegos Amazônicos (López-Baucells et al.,

2016) e comparando as características dos ultrssons com a literatura (Jung et al. 2007,

Surlykke e Kalko, 2008, Jung et al. 2014, Barataud e Giosa 2013). Nós separamos os

registros de Pteronotus parnellii em dois sono-tipos conforme Pavan et al (2017)

(Pteronotus 55 khz = P. rubiginosus e Pteronotus 60 khz = P. alitonus). As espécies

Eptesicus brasiliensis e E. chirichinus foram classificadas como um complexo

(Eptesicus brasiliensis/chirichinus), por causa de sobreposição das características dos

ultrassons que impediram a separação dos registros das duas espécies (López-Baucells

et al., 2016). Nós incluímos nas análises somente as espécies com pelo menos 10

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registris de atividade. Devido os gravadores terem sido instalados no sub-bosque, nós

não incluimos nas análises espécies que tipicamente forrageiam no dossel. Espécies da

família Molossidae também não foram incluídas nas análises devido à baixa qualidade

das gravações não possibilitar diferenciar as espécies dessa familía.

Traços funcionais das espécies

Nós selecionamos sete traços funcionais: três características do ultrassom, três

medidas de mobilidade, e o ambientes de forrageio das espécies (Tabela 1) (Apêndice

4). Esses traços têm sido usados para entender como o ambiente influencia a

composição funcional de uma comunidade de morcegos (Farneda et al. 2015; Blakey et

al. 2017).

Tabela 1. Características funcionais utilizadas como preditoras da vulnerabilidade de espécies de morcegos à

insularização florestal na Hidrelétrica de Balbina, na Amazônia.

Tipo de

dados

Componente

funcional

Traço funcional Unidade de

medida

Referência

Contínuo Ultrassom Largura de banda khz Este estudo

Ciclo de trabalho % Este estudo

Taxa de repetição khz Este estudo

Contínuo Mobilidade Wing loading N m-² Norberg e Rayner (1987)

Aspect ratio Norberg e Rayner (1987)

Peso g Paglia et al. (2012)

Categórico Ambiente de

forrageio

Uncluttered space Sampaio et al. (2003),

Estrada-Villegas et al. (2010)

Background-cluttered space Sampaio et al. (2003),

Estrada-Villegas et al. (2010) Highly-cluttered space Sampaio et al. (2003),

Estrada-Villegas et al. (2010)

Selecionamos cinco espectrogramas obtidos em cinco parcelas diferentes para

cada espécie, e mensuramos os traços funcionais em cada espectrograma selecionado.

No programa Kaleidoskope 4.0.3, nós medimos manualmente a frequência máxima

(khz), frequência mínima (khz), duração do pulso (ms), intervalo entre pulsos (ms) e

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intervalos entre chamados (ms) (Jung et al. 2014). A partir desses parâmetros,

calculamos a largura de banda (frequência máxima – frequência mínima), ciclo de

trabalho (duração do pulso/intervalos entre pulsos*100) e taxa de repetição

(1000/intervalo entre chamados) (Jung et al. 2014).

As medidas corporais das espécies de morcegos foram obtidas da literatura. Os

pesos (g) das 18 espécies foram obtidos de Paglia et al. (2012). O wing loading e o

aspect ratio de sete espécies foram obtidos de Norberg e Rayner (1987). As espécies

para as quais não encontramos medidas corpóreas na literatura foram calculadas usando

regressões lineares com base no peso das espécies (wing loading = 0.1491x × 4.7968;

R²=0.92; aspect ratio = 0.0345x × 6.3955; R² = 0.52;) (Apêndice 1).

O ambiente de forrageio das espécies foi obtido de Schnitzler et al. (2003)

seguindo modificações de Sampaio et al. (2003) e Estrada-Villegas et al. (2010). Dentre

as espécies que detectamos, nós separamos as espécies em background-cluttered space,

highly-cluttered space e uncluttered space.

Variáveis do ambiente em escala local

Usamos seis variáveis preditoras em escala local (Tabela 2) (Apêndice 5).

Destas, três variáveis foram obtidas de Benchimol e Peres (2015): número de espécies

de árvores, abundância de árvores e área basal da floresta. Medimos a obstrução da

vegetação de cada parcela, a distância da parcela até a borda da ilha ou a interface da

floresta contínua com o reservatorio, e categorizamos o ambiente em dois níveis: ilha e

floresta contínua. A obstrução da vegetação foi adaptada de Marciente et al. (2015).

Colocamos um painel branco de 3×3 m em cada um dos quatro lados do gravador e

fotografamos os painéis a uma distância de oito metros. No programa ImageJ 1.8.0

(Schneider, 2012), transformamos as fotos em preto e branco, com os pixels pretos

representando a vegetação, e estimamos a porcentagem média de vegetação por parcela.

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Consideramos a distância da borda como a menor distância entre o gravador e a margem

da ilha ou a interface da floresta contínua com o reservaatorio, obtida pelo programa

QGIS 2.18.14 (QGIS, 2017).

Variáveis ambientais em larga escala

Usamos três variáveis preditoras em escala de mancha (Tabela 2) (Apêndice 5).

As variáveis área das ilhas e distância das ilhas até a floresta contínua foram obtidas de

Benchimol e Peres (2015). Nós medimos a cobertura de vegetação dentro de um buffer

de 500 m por não haver auto correlção espacial para as variaveis resposta, conforme o

resultado do teste de Moran I cauculado a priori no programa R v.3.0.1 (R Development

Core Team 2013) através da função “correlog” do pacote Pgirmess (Giraudoux 2017), a

partir do gravador de ultrassom como ponto central, usando o programa QGIS 2.18.14

(QGIS, 2017).

Tabela 2. Variáveis preditoras dos traços funcionais em escalas local e de mancha.

Tipo de dados Variáveis Unidade de

medida

Referência

Variáveis locais

Contínua Número de espécies de árvores N Benchimol e Peres (2015a)

Abundância de árvores N Benchimol e Peres (2015a)

Área basal da floresta m²/ha Benchimol e Peres (2015a)

Obstrução da vegetação % Este estudo

Distância da borda m Este estudo

Categórica Ilha/Floresta contínua Este estudo

Variáveis de mancha

Contínua Área da ilha ha Benchimol e Peres (2015a)

Distância da floresta contínua m Benchimol e Peres (2015a)

Cobertura vegetal ha Este estudo

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Análise de dados

Todas as análises foram realizadas no ambiente computacional R v.3.0.1 (R

Development Core Team 2013). Nós calculamos duas medidas de sensibilidade à

fragmentação adaptadas de Farneda et al. (2015) usando a ocorrência das espécies e a

atividade dos morcegos: prevalência das espécies – proporção de ilhas ocupada pela

espécie; e mudança de atividade – razão da atividade de uma espécie entre ilhas e

floresta contínua, calculada pela formula: y = log((atividade nas ilhas +

0.0001)/(atividade na floresta continua + 0.0001)). Nós acrescentamos o valor de 0.0001

devido algumas espécies terem sido exclusivas das ilhas ou da floresta contínua.

Valores maiores que zero representam maior atividade da espécie nas ilhas.

Nós usamos a prevalência de espécies nas ilhas e a mudança de atividade como

variáveis resposta em modelos PGLS (Phylogenetc Generalised Least Square),

calculados pela função ‘pgls’ do pacote caper (Orme, 2013). Utilizamos este método

para considerar as distências filogéticas entre as espécies nos modelos, assim evitando

pseudoréplica filogenpeticas entre as espécies evolutivamente muito próximas, uma vez

que espécies que compartilham um ancestral comum mais recente devem ter valores dos

traços mais semelhantes do que as espécies mais distantes, pois seus traços tiveram

menos tempo para divergir independente da filogenia compartilhada entre as espécies

(Symonds e Blomberg 2014). Os traços funcionais foram as variáveis preditoras para os

nove modelos avalaidados: um modelo global com todos os traços funcionais, um

modelo para cada um dos seis traços funcionais e dois modelos compostos por três

traços funcional: ultrassom (langura de banda, ciclo de trabalho e taxa de repetição) e

mobilidade (peso, wing loading e aspect ratio). A árvore filogenética das espécies

estudadas foi construída pelas funções ‘drop.tip’ do pacote ape (Paradis et al, 2004) e

‘comparative.data’ do pacote caper (Orme, 2013). Nós usamos a filogenia proposta por

Agnarsson et al. (2011). Essa filogenia, embora relativamente recente, não comtempla

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cinco das 18 espécies/complexo de espécies de morcegos amostradas. Para contornar

esse problema, substituímos essas espécies pelos congêneres neotropicais mais

próximos que não foram amostrados. Comparamos os modelos usando o Critério de

Seleção de Modelos de Akaike corrigido para amostras pequenas (AICc) no pacote

MuMIn (Bartón, 2014). Os valores de ∆i < 2 e wi próximo a 1 foram identificados como

modelos que receberam melhor suporte para explicar a prevalência das espécies nos

sítios amostrais e a mudança de atividade entre ilhas e floresta contínua. Os traços

funcionais foram padronizadas para média zero e desvio padrão igual a um; as

vairiáveis distância da borda e cobertura vegetal foram transformadas para log10 e, em

seguida, todas as variáveis preditoras foram padronizadas com média zero e desvio

padrão igual a um para a comparação dos resultados.

A relação entre os traços funcionais das espécies e as variáveis ambientais foi

avaliada pela estatística de ordenação RLQ usando a função ‘rlq’ do pacote ade4 (Dray

e Dufour 2007). A ordenação RLQ é uma relação entre três tabelas: tabela R (variáveis

ambientais por parcela), tabela Q (traços funcionais por espécie) e tabela L (espécies por

parcela). As tabelas R e Q foram ordenadas usando Análise de Componentes Principais

de Hill-Smith (PCA) e a tabela L usando a ordenação Análise de Correspondência

(CA). Os escores das parcelas da tabela L foram usados como entrada nas linhas da

tabela R e os escores das espécies da tabela L como entrada nas linhas da tabela Q,

possibilitando analisar as variáveis ambientais e os traços funcionais com a atividade

das espécies de morcegos (Dolédec et al. 1996). Com a posição relativa das espécies,

traços funcionais e variáveis ambientais nos eixos das ordenações, foi possível

identificar associações entre traços funcionais, variáveis ambientais e as espécies.

Para testar se os traços funcionais são filtrados pelos atributos da mancha e pelas

caracteristicas ambientais locais, nós aplicamos a estatística fourth-coner (Dray et al.

2014). Nós rodamos o modelo 2 – que considera a hipótese de que a distribuição das

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espécies é influenciada pelas características ambientais, e o modelo 4 – que considera a

hipótese que a distribuição das espécies é influenciada pelos traços funcionais. A

significância foi acessada com base em 49.999 permutações. Para controlar erros do tipo

I, nós usamos a taxa de descoberta falsa (FDR) nos modelos fourth-coner (Benjamini,

Hochberg 1995; Dray et al., 2014).

Resultados

As repostas dos traços funcionais à sensibilidade à fragmentação foram difentes

para as medidas de prevalência das espécies e pela razão de atividade entre as ilhas e a

floresta contínua. A maioria das espécies de morcegos insetívoros aéreos ocorreu em

menos de 50% das ilhas, e somente quatro espécies foram registradas em mais de 60%

das ilhas (Figura 2a). Nenhuma espécie foi onipresente nas ilhas ou na floresta contínua.

A atividade de 10 espécies, dentre as 18 amostradas (Apêndice 4) foi similar entre as

ilhas e a floresta contínua, com exceção de Pteronotus rubiginosus e Eptesicus

brasiliensis/chiriquinus que tiveram maior atividade na floresta contínua, e Pteronotus

personatus, Peropteryx macrotis, Furipterus horrens, Myotis nigricans, Saccopteryx

canescens e Eptesicus furinalis que foram mais ativas nas ilhas (Figura 2b). A

prevalência das espécies e a mudança de atividade tiveram baixa correlação (Pearson = -

0.30), indicando que a alta prevalência não é um reflexo de maior atividade nas ilhas ou

na floresta contínua.

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Figura 2. Resposta à insularização de 18 espécies de morcegos na área do reservatório

de água da Hidrelétrica de Balbina e em áreas adjacentes de floresta contínua,

Amazônia central, quantificada como prevalência de espécies (porcentagem das ilhas

ocupadas por cada espécie) e mudança de atividade (razão da atividade das espécies

entre ilhas e áreas de floresta contínua).

O AICc selecionou diferentes modelos que explicam a prevalência das espécies e

a mudança de atividade (Tabela 3). Para a prevalência das espécies, a largura de banda

do ultrassom teve o maior ranque e melhor suporte em relação aos outros modelos

(Tabela 3). Para a mudança de abundância, o peso corpóreo foi o modelo com melhor

suporte. Os modelos largura de banda, ciclo de trabalho e taxa de repetição dos

ultrassons também foram plausíveis. A prevalência de espécies nas ilhas foi

negativamente relacionada com a largura de banda. Por outro lado, a mudança de

atividade foi negativamente relacionada com outras variáveis como o peso corpóreo,

ciclo de trabalho e wing loading.

Tabela 3. Resultados da seleção de modelos PGLS em função das métricas de

sensibilidade à insularização de morcegos na área do reservatório da Usina

hidrelétrica de Balbina. Para cada modelo são apresentados o AICc ajustado pelo

tamanho da amostra (AICc), as diferenças de Akaike (Δi), os pesos de Akaike (wi) e

a direção do modelo (- / +) são apresentados.

Variável

resposta Modelos

Direção do

modelo AICc ∆AICi Wi

Prevalência Largura de banda - 161.3 0 0.60

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das espécies

Ciclo de trabalho + 164.4 3.11 0.13

Aspect ratio - 165.6 4.3 0.07

Wing loading + 166.1 4.82 0.05

Taxa de repetição - 166.2 4.84 0.05

Peso + 166.2 4.9 0.05

Ultrassom

167.1 5.76 0.03

Mobilidade

171.5 10.2 0

Modelos global

175.9 14.57 0

Mudança

de atividade Peso - 68.9 0 0.25

Largura de banda + 69.6 0.72 0.17

Ciclo de trabalho - 69.9 0.95 0.15

Taxa de repetição + 69.9 0.99 0.15

Aspect ratio + 70.3 1.4 0.12

Wing loading - 70.5 1.61 0.11

Mobilidade

73 4.15 0.03

Ultrassom

75.1 6.17 0.01

Modelo global 86.8 17.86 0

Os resultados da análise RLQ para as características ambientais locais e da

mancha tiveram resultados parecidos. Em ambas as escalas o primeiro eixo capturou

grande variabilidade entre os traços funcionais dos morcegos e as variáveis do ambiente

(escala local = 87.99%; escala da mancha = 96.01%; (Tabela 4). A atividade dos

morcegos teve mais de 60% de correlação com o primeiro eixo da RLQ, e as variáveis

ambientais representaram 90% da variância do primeiro eixo, maior que a variância

representada pelos traços funcionais tanto em escala local como em escala da mancha.

Tabela 4. Comparação da inércia resultante das análises separadas e da análise RLQ. a) autovalores para

análise separada; b) autovalores da análise de RLQ; covariância e correlação com a análise de

correspondência e variância projetada das variáveis ambientais e matrizes de traços funcionais.

Escala local Escala de mancha

Eixo 1 (%) Eixo 2 (%) Eixo 1 (%) Eixo 2 (%)

a

Variáveis ambientais (PCA Hill-Smith) 2.89 (48.17) 1.60 (26.72) 1.64 (54.94) 0.97 (32.64)

Atividade média (CA) 0.96 (33.48) 0.47 (16.54) 0.95 (28.66) 0.71 (21.30)

Traços funcionais (PCA Hill-Smith) 4.05 (50.67) 1.35 (16.89) 4.37 (54.73) 1.14 (14.27)

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b

Autovalores dos eixos RLQ 1.79 (87.99) 0.17 (8.65) 1.66 (96.01) 0.05 (3.25)

Covariância com a atividade média 1.33 0.41 1.28 0.23

Correlação com a atividade média 0.59 (60.41) 0.20 (29.75) 0.64 (65.62) 0.30 (36.44)

Variância projetada para as variáveis ambientais 2.66 (92.13) 4.20 (93.55) 1.59 (96.59) 2.08 (79.34)

Variância projetada para os traços funcionais 1.91 (47.18) 4.62 (85.54) 2.53 (57.86) 3.74 (67.82)

Em escala local, no lado esquerdo do primeiro eixo da RLQ, os escores das

variáveis ilhas, área basal da floresta e abundância de árvores foram associados com a

largura da banda do ultrassom (Figura 3a). No lado direito do primeiro eixo da RLQ, os

scores das variáveis floresta contínua, número de espécies de árvores e distância da

borda foram associados com os traços funcionais highly-cluttered space, uncluttered

space, wing loading, peso corpóreo e ciclo de trabalho (Figura 3a) (Apêndice 2). Na

escala da mancha, o lado esquerdo do primeiro eixo da RLQ, as variáveis área da ilha e

cobertura de vegetação foram mais associadas com os ambientes de forrageio highly-

cluttered space e uncluttered space, com a característica da asa wing loading, peso

corpóreo e ciclo de trabalho (Figure 3b). Os traços funcionais background-cluttered

space e largura de banda não foram associados com nenhuma característica da mancha

(Figura 3b) (Apêndice 3).

Figura 3. Relações entre características funcionais dos morcegos insetívoros aéreos e

variáveis ambientais. Análise RLQ mostrando autovalores para o primeiro eixo

explicando 87,99% e 96,01% da co-estrutura entre traços funcionais e variáveis

ambientais em escala local (a) e em escala de paisagem (b), respectivamente. Traços

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funcionais (em preto) e variáveis ambientais (em branco) que ocupam um espaço

semelhante ao longo do eixo RLQ co-variam.

A estatística fourth-corner encontrou alta relação entre a composição das

espécies de morcegos insetívoros aéreos e as variáveis ambientais, tanto em escala local

quanto em escala da mancha (modelo 2, P = 0.01 para ambas escalas). A composição de

espécies não foi associada aos traços funcionais em ambas as escalas (modelo 4, P >

0.05). Estes resultados indicam que a composição de espécies foi estruturada pelas

características locais e da mancha com baixo suporte dos traços funcionais dos

morcegos.

Discussão

Nós avaliamos se a comunidade de morcegos insetívoros aéreos sob efeito da

insularização causada pelo reservatório de uma hidrelétrica na Amazônia foi estruturada

pelos traços funcionais das espécies ou pelas características ambientais em escala local e

de mancha. Nossos resultados mostram que espécies de menor peso corpóreo e que

emitem ultrassom com menor largura de banda foram mais sensíveis à insularização. No

geral, a comunidade de morcegos insetívoros aéreos foi estruturada pelos atributos

ambientais tanto em escala local quanto em escala de mancha e os traços funcionais não

influenciaram significativamente a estruturação das assembleias.

Os morcegos insetívoros aéreos foram sensíveis à insularização, tanto para a

prevalência de espécies quanto para a mudança de atividade entre ilhas e floresta

contínua. No entanto, estas duas medidas de sensibilidade não são explicadas pelos

mesmos fatores. As espécies M. nigricans, E. furinalis, P. personatus, F. horrens e P.

macrotis tiveram maior quantidade de atividade nas ilhas e persistiram em menos de

50% dos sítios. Ainda que estiveram mais ativas nas ilhas seus traços funcionas não

possibilitam forragear em todas as ilhas, pois os atributos do ambiente diferem em

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escala local e de mancha. Não obstante os ambientes formam grupos conforme suas

semelhanças, então C. maximiliani, P. alitonus, S. leptura e C. brevirostris tiveram alta

prevalência e quantidade de atividade semelhante entre ilhas e floresta contínua, porque

seus traços são menos tolerantes a uma grande variabilidade do ambiente. Morcegos

Phyllostomidae tiveram alta correlação entre estas medidas de sensibilidade à

fragmentação, porque as diferenças nos hábitos alimentares desses morcegos

restringiam os animalívoros aos fragmentos maiores (baixa prevalência e baixa

mudança de abundância) e os fitófagos conseguiam explorar diversos fragmentos (alta

prevalência e alta mudança de abundância) (Farneda et al. 2015), então os morcegos

insetívoros aéreos parecem estar restritos aos locais que seus traços possibilitam

explorar. Por isso há grande variabilidade da prevalência, mas a atividade fica restritas

as ilhas com atributos semelhantes.

Diferentes características ecológicas têm sido testadas para prever a

sensibilidade de espécies de animais à fragmentação do habitat (Henle et al. 2004).

Empiricamente, fatores como mobilidade, nível trófico e tolerância à borda tem

produzido modelos para explicar a prevalência, mudanças de atividade e abundância de

morcegos em paisagens com diferentes históricos de fragmentação (Cosson et al. 1999;

Meyer et al. 2008; Farneda et al. 2015). Nossos resultados demonstram que a

sensibilidade dos morcegos insetívoros aéreos foi melhor explicada pelo peso dos

morcegos e pela largura de banda do ultrassom. A relação entre o peso e a mudança de

atividade pode ocorrer porque a frequência em que o ultrassom é emitido é

negativamente relacionada com o peso dos morcegos; como morcegos mais pesados

emitem ultrassom em uma frequência mais baixa, conseguem detectar melhor insetos

maiores (Waters et al. 1995; Jones 1999; Mora e Torres 2008). Então as diferenças entre

os pesos das espécies interferem na quantidade de atividade devido à disponibilidade de

insetos ser diferentes nas ilhas e na floresta contínua (Fowler et al. 1993; Didham et al.

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1996; Fáveri et al. 2008). Enquanto que a relação entre largura de banda e prevalência

pode ser explicada pela quantidade de obstáculos entre os sítios amostrados (Benchimol

e Peres 2015; Jones et al. 2017), espécies que emitem frequências com grande largura

de banda toleram forragear em ambientes com obstrução, enquanto que espécies que

emitem frequências constantes e quase-constante evitam locais com vegetação muito

fechada (Jones e Holderied, 2007; Schinitzler, Kalko, 2004; Siemers, Björn, Schinitzler,

2004). Em paisagens com matriz terrestre os traços de mobilidade possibilitam que os

morcegos fitófagos permutem entre os fragmentos menores, enquanto os animalívoros

ficam restritos aos fragmentos maiores (Farneda et al. 2015); já quando a matriz é

aquática os traços de mobilidade parecem não ter influência na sensibilidade à

insularização, no entanto as diferenças na tolerância à borda limitam a prevalência e a

atividade das espécies de morcegos (Meyer et al. 2008). Semelhante a Meyer et al.

(2008) a mobilidade não teve influência sobre a sensibilidade à fragmentação dos

insetívoros aéreos, sugerindo que o tipo de matriz interfere na resposta dos morcegos à

fragmentação. A mesma característica ecológica pode variar na resposta a diferentes

ambientes fragmentados, então interpretar a funcionalidade do traço em relação às

caracteristicas ambientais contribui para melhor prever a sensibilidade das espécies à

fragmentação (Henle et al. 2004; Fuentes-Montemayor et al. 2013).

O primeiro eixo da RLQ está ordenado em função da variabilidade da obstrução,

as ilhas estando no lado esquerdo do eixo, juntamente com abundância de árvores e área

basal, e a floresta contínua está no lado direito, com obstrução e distância da borda. A

quantidade de obstáculos no interior da ilha varia com o tamanho e com a cobertura da

vegetação das ilhas, em ilhas pequenas há grande quantidade de lianas e abundância de

árvores devido ao efeito de borda (Benchimol e Peres 2015; Jones et al. 2017).

Sugerimos que a alta correlação dos traços funcionais com o primeiro eixo RLQ deve-se

ao gradiente de obstáculos formados entre ilhas pequenas até a floresta continua.

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Consistente com a teoria ecomorfológica, a análise RLQ previu maior ciclo de trabalho,

menor largura de banda e alto wing loading e aspect ratio em habitats com menos

obstáculos (floresta contínua) e o inverso para habitats com mais obstáculos (ilhas)

(Blakey et al. 2017).

O ultrassom emitido pelos morcegos retorna para seu emissor através do eco

carregando informações do ambiente, os diferentes traços do ultrassom capturam

diferentes informações que são interpretadas por células cerebrais como imagens do

ambiente em que estão passando (Simmons 2012). Os traços highly-cluttered space e

uncluttered space, que representam ambientes de forrageio opostos, foram associados

com os mesmos atributos do ambiente nas diferentes escalas, porque P. alitonus, P.

rubginosus e P. kappleri emitem ultrassom com maiores ciclos de trabalho em relação

as espécies background-cluttered space. Como o alto valor de ciclo de trabalho tem

maior eficiência em ambientes com poucos obstáculos, P. alitonus e P. rubginosus, que

são morcegos highly-cluttered space, também podem se locomover em ambientes com

menos obstrução (Brinkløv et al., 2010; De Oliveira et al., 2015; Denzinger e

Schnitzler, 2013). P. alitonus e P. rubginosus, mesmo emitindo som com alto ciclo de

trabalho, conseguem forragear em ambientes com muitos obstáculos, porque possuem

adaptações em células cerebrais que trabalham conjuntamente com o alto ciclo de

trabalho que geram comportamentos de forrageio diferente do previsto pelas

características do som (Schnitzler e Denzinger 2011; Mora et al. 2013).

Os traços largura de banda e background-cluttered space foram associados com

a área basal e abundância de árvores, que representam o espaço ocupado pelos troncos

das árvores, porque ajudam a distinguir a localização de objetos em diferentes planos,

por isso conseguem forragear em ambientes com obstáculos (Jones, 1999; Siemers,et al,

2004; Surlykke e Kalko, 2008; Hanspach et al., 2012). No entanto, estes traços não

foram associados à obstrução da vegetação, que representa o espaço ocupado por galhos

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e folhas, enquanto que Blakey et al. (2017) encontrou forte relação entre morcegos que

forrageiam em ambientes fechados. Provavelmente, os morcegos background-cluttered

space que emitem ultrassom com componente quase-constate (e.g. Embalonuridae)

podem preferir permutar entre ambientes utilizando estratos da floresta que tenham

menor quantidade de obstrução possível, pois o traço quase-constante do ultrassom

melhora a detectabilidae de presas, mas não melhora a localização em relação ao

ambiente (Jones 1999). Conforme esperávamos, a largura de banda e morcegos

background-cluttered space não estiveram associados com os atributos da paisagem,

pois ultrassons que modulam a frequência em pouco tempo não atingem grandes

distâncias (Brinkløv et al. 2010), o que impossibilita receber ecos de ambientes

completamente abertos (e.g. distância até a floresta contínua).

A morfologia da asa influencia diretamente a manobrabilidade e a velocidade de

voo dos morcegos (Norberg e Rayner 1987; Marinello e Bernard 2014). Morcegos com

alto valor de aspect ratio e wing loading voam em alta velocidade, mas com pouca

capacidade de manobrabilidade, estas características são ideias para forragear em

ambientes com poucos obstáculos. As espécies que estudamos demonstraram pouca

variabilidade nos traços de mobilidade (Marinello e Bernard 2014), mas entre elas há

diferentes combinações de valores de aspect ratio e wing loading, representando

diferentes comportamentos de voo. Esses comportamentos estão associados com as

variáveis ilhas e floresta contínua. Na floresta contínua, por ter maior cobertura de copa,

a abundância de arbusto no sub-bosque é menor, consequentemente menos obstáculos

gerados por galhos e folhas (Jones et al. 2017). Por isso, as espécies com altos valores

de aspect ratio e wing loading estão associadas a floresta contínua e os menores valores

estão associados às ilhas. Às espécies com valores intermediários estão associadas aos

dois tipos de ambientes, reforçando o suporte limitado que as características das asas

receberam dos modelos AIC. Provavelmente para espécies que forrageiam dentro da

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floresta um conjunto de traços, além daqueles ligados à mobilidade, devem influenciar a

distribuição dos morcegos insetívoros aéreos em uma paisagem insularizada.

As condições ambientais, vistas como filtros, atuam diretamente na seleção de

traços funcionais, sendo que apenas a variabilidade de determinados traços é adequada a

determinada condição ambiental (Keddy 1992; Schnitzler et al. 2003; Mancina et al.

2012). Nossos resultados estão dentro do previsto pela teoria de filtro ambiental,

indicando que a distribuição das espécies foi fortemente influenciada pelas variáveis

ambientais em ambas as escalas. Tanto que os morcegos podem ser divididos em

guildas de acordo com seu ambiente e comportamento de forrageio, que coincide com

adaptações na morfologia da asa e na estrutura da ecolocalização que respondem

diretamente aos atributos do ambiente (Sleep e Brigham 2003; Denzinger e Schnitzler

2013). Entretanto, não está claro como a variabilidade de cada traço difere dentro das

guildas. Por exemplo, P. kappleri e P. macrotis são classificadas como uncluttered

space, mas os traços de P. kappleri indicam maior tolerância à obstrução do que P.

macrotis. O mesmo foi observado entre cinco espécies simpátricas de Myotis, elas

diferem na largura de banda do ultrassom e forrageiam em ambientes com mais ou

menos obstáculos (Siemers, Björn M.; Schinitzler 2004). Isso indica que a variabilidade

dos traços contribui para seleção do ambiente em que vão forragear.

O hábito dos morcegos insetívoros aéreos de forragear no interior das florestas e

a matriz inóspita faz com que a persistência das espécies nas ilhas seja dependente da

funcionalidade de seus traços em relação ao ambiente. A massa corpórea tem sido bom

indicador da persistência das espécies em ambientes fragmentados, no entanto a

interpretação conjunta de diferentes traços funcionais (e.g. massa corpórea e largura de

banda) contribui para entender melhor os tipos de habitat em que os morcegos preferem

forragear. A grande variabilidade dos traços funcionais possibilita os morcegos

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forragearem em diferentes ambientes, mas a redução da área florestada homogeneíza o

ambiente levando à redundância de traços, limitando a biodiversidade local.

Bibliografia

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Apêndices

Apêndice 1 – Distribuição dos valores de Wing loading e Aspect ratio em função do peso das espécies de morcegos insetívoros aéreos e equação da reta utilizada para estimar os valores destes traços para as espécies que não constam em Norberg e Rayner (1987). As estimativas de Wing loading tiveram R²=0,92 e as estimativas de aspect ratio tiveram R²=0,50.

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Apêndice 2 – Ordenação das espécies de morcegos insetívoros aéreos em função dos dois primeiros eixos da análise RLQ em escala local (a), Análise

de Componentes principais (PCA Hill-Smith) analisando a covariação dos atributos ambientais (b) e dos traços funcionais (c). Os nomes científicos

abreviados no gráfico (a) estão descritos por extenso no apêndice 4.

a

b

c

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Apêndice 3 – Ordenação das espécies de morcegos insetívoros aéreos em função dos dois primeiros eixos da análise RLQ em escala de mancha (a),

Análise de Componentes principais (PCA Hill-Smith) analisando a covariação dos atributos ambientais (b) e dos traços funcionais (c). Os nomes

científicos abreviados no gráfico (a) estão descritos por extenso no apêndice 4.

a

b

c

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Apêndice 4 – Lista de espécies detectadas seus respectivos valores para cada traço funcional. As espécies marcadas com um asterisco foram

substituídas por seu congênere mais próximo conforme a filogenia de Agnarsun et al (2011). Os traços funcionais peso, Wing loading e Aspect ratio

foram obtidos na literatura e por regressão linear; a largura de banda, ciclo de trabalho e a taxa de repetição foram obtidas neste estudo. Para mais

detalhes ver Materiais e métodos

Espécies Estratégia de

forrageio

Peso

(g)

Wing loading

(N/m2)

Aspectio

ratio

Largura de

banda (KHz)

Ciclo de

trabalho

(%)

Taxa de

repetição

(Hz)

Centronycteris maximilliani (J. Fischer, 1829) BS 5.00 6.36 6.73 4.84 4.39 13.40

Cormura brevirostris (Wagner, 1843) BS 8.50 6.89 6.85 6.21 6.73 16.48

Saccopteryx leptura (Schreber, 1774) BS 6.00 6.51 6.77 4.59 9.84 28.91

Saccopteryx canescens (Thomas, 1901) BS 5.00 6.36 6.73 6.02 5.14 13.28

Saccopteryx bilineata (Temminck, 1838) BS 8.00 5.90 6.10 3.08 3.68 12.29

Peropteryx kappleri (Peters, 1867) US 8.50 6.89 6.85 8.82 13.02 5.80

Peropteryx macrotis (Wagner, 1843) US 6.10 5.90 7.60 4.47 3.04 6.86

Pteronotus alitonus (Pavan et al. 2018)* HCS 26.00 7.90 6.70 2.54 17.34 8.12

Pteronotus rubiginosus (Wagner, 1843) HCS 26.00 7.90 6.70 2.49 44.16 23.16

Pteronotus gymnonotus (Wagner, 1843) BS 13.00 7.30 8.00 10.15 21.38 47.45

Pteronotus personatus (Wagner, 1843) BS 14.70 7.82 7.07 12.97 9.45 16.85

Myotis nigricans (Schinz, 1821) BS 5.50 6.10 6.50 11.81 4.02 17.14

Myotis riparius (Handley, 1960) BS 6.00 6.51 6.77 13.29 5.07 22.05

Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819)/E. chiriquinus (Thomas, 1920)* BS 10.50 6.36 6.76 17.86 5.62 15.45

Eptesicus furinalis (d’Orbigny & Gervais, 1847)* BS 7.60 7.30 6.20 15.07 2.42 5.34

Lasiurus sp.* BS 14.00 6.88 6.88 8.86 1.87 12.03

Furipterus horrens (F. Cuvier, 1828) BS 5.00 6.36 6.73 17.29 7.58 91.94

Thyroptera sp.* BS 4.00 5.39 6.54 19.86 3.42 31.44

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Apêndice 5. Localização dos sítios amostrais e seus respectivos valores para as variáveis locais e da mancha. As variáveis obstrução, e cobertura da

vegetação foram obtidas neste estudo, as outras variáveis foram obtidas de Benchimol e Peres (2015a). O datum das coordenadas está em WGS-84.

Para mais detalhes ver Materiais e Métodos.

Nomes dos sítios Latitude (S) Longitude (O) Obstrução

(%)

Borda

(m)

Número de

árvores

Número de

espécies de

árvores

Área basal

da floresta

(m²/ha)

Área da

ilha (ha)

Distância da

Floresta

contínua (m)

Cobertura da

vegetação

(%)

Abusado 1°45'47.89" 59°40'45.38" 22.95 95.70 101 55 8.07 13.410 4862 30.91

André 1°35'4.37" 59°52'17.72" 37.08 44.30 104 58 11.27 2.170 10679 18.99

Bacaba 1°29'57.91" 59°49'24.70" 66.09 118.80 94 42 4.31 53.300 3714 58.87

Beco 1°45'4.40" 59°42'27.42" 54.63 186.20 138 60 6.56 637.490 5556 97.42

Floresta contínua p1 1°49'10.97" 59°14'48.90" 60.87 2538.40 143 62 6.77 16900.400 NA NA

Floresta contínua p2 1°47'26.58" 59°15'23.17" 68.55 297.24 129 60 7.78 16900.400 NA NA

Floresta contínua p3 1°47'39.81" 59°15'55.62" 75.65 930.08 131 59 7.34 16900.400 NA NA

Floresta contínua p4 1°50'15.42" 59°43'49.97" 58.21 419.33 134 65 6.01 16900.400 NA NA

Floresta contínua p5 1°50'19.15" 59°43'54.83" 69.30 1794.10 140 73 8.04 16900.400 NA NA

Floresta contínua p6 1°24'27.41" 59°52'51.99" 68.11 3092.26 167 70 8.75 16900.400 NA NA

Cipoal 1°42'24.51" 59°46'53.43" 78.73 141.90 118 47 6.05 218.740 5580 75.10

Coata 1°29'31.79" 59°47'17.63" 68.08 104.10 123 58 11.17 17.450 6646 45.60

Furo 1°44'7.12" 59°26'29.54" 55.10 209.00 124 72 7.33 193.000 912 79.84

Garrafa 1°35'16.62" 59°50'2.97" 67.02 74.00 126 61 8.28 9.540 11872 52.68

Gavião real 1°37'13.07" 59°37'24.71" 51.24 229.40 142 64 8.65 1690.040 3822 93.39

Jabuti 1°37'17.28" 59°45'43.53" 55.83 93.90 122 68 10.71 231.390 11668 78.24

Jiquitaia 1°50'10.04" 59°35'40.66" 42.42 110.00 107 53 4.36 7.280 800 11.04

Joaninha 1°31'20.58" 59°49'44.43" 68.59 28.00 84 14 4.87 1.150 6125 4.82

Martelo 1°40'31.11" 59°43'24.07" 59.33 152.30 107 56 7.39 471.000 13217 86.38

Mascote 1°38'31.17" 59°50'59.39" 53.09 379.00 96 50 6.23 673.350 4625 99.10

Moita 1°33'28.02" 59°53'49.87" 70.64 143.70 117 54 6.92 98.840 7528 72.23

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Neto 1°50'30.43" 59°21'6.03" 56.84 141.10 135 55 5.74 32.920 581 52.25

Palhal 1°47'19.92" 59°26'53.69" 71.35 157.80 139 51 6.72 21.210 5803 50.93

Pé torto 1°46'1.54" 59°21'46.43" 69.37 66.90 132 43 9.84 5.850 146 16.53

Piquiá 1°30'21.65" 59°47'22.00" 72.41 74.10 109 50 6.60 13.590 7484 39.61

Pontal 1°49'36.03" 59°41'38.65" 58.02 119.30 152 64 7.70 110.430 66 91.19

Porto seguro 1°47'59.53" 59°30'46.67" 69.34 371.40 139 58 7.63 1466.000 44 93.55

Relógio 1°40'18.21" 59°38'50.67" 76.95 173.00 100 53 6.92 72.100 8089 55.28

Sapupara 1°41'50" 59°36'43.63" 69.57 206.20 144 54 7.26 78.440 4278 53.05

Toquinho 1°43'7.89" 59°45'31.25" 54.39 39.80 133 43 8.09 0.830 5013 2.71

Torem 1°49'45.57" 59°37'57.56" 57.29 88.10 167 31 9.84 3.940 2017 7.77

Tristeza 1°45'40.77" 59°44'45.17" 53.40 206.60 113 64 8.88 487.500 792 91.00