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informativo do sindicato dos servidores da Justiça do rio Grande do sul – sindjus/rs - edição 200 – abril de 2015 LUTAR É PRECISO LUTAR É PRECISO Não queremos só migalhas! EDIÇÃO Nº 200 A importância da mobilização | Pag. 3 Redução da jornada, produtividade e economia | Pags. 4 e 5

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informativo do sindicato dos servidores da Justiça do rio Grande do sul – sindjus/rs - edição 200 – abril de 2015

LUTARÉ PRECISOLUTARÉ PRECISO

informativo do sindicato dos servidores da Justiça do rio Grande do sul – sindjus/rs - edição 200 – abril de 2015

Não queremossó migalhas!

EDIÇÃO Nº 200• A importância da mobilização | Pag. 3

• Redução da jornada, produtividade e economia | Pags. 4 e 5

eDitoriaL 2

Só unidos e atuantes conquistaremos a dignidade

É chegado o momento de reunir a categoria em Assembleia-Geral. Uma Assembleia que é realizada, e não por acaso, em união com os colegas do Ministério Público, companheiros de tantas lutas e parceiros na resistência às tentativas de precarização do trabalho na Justiça. Vivemos tempos em que atentados aos direitos dos trabalhadores são tratados como elementos naturais das relações de trabalho: o achatamento dos salários, o aumento das jornadas, o assédio moral. Mas esses abusos não são naturais. Reconhecer o absurdo como absurdo é o primeiro passo para mudar a realidade. Por isso, a importância de denunciarmos esses ataques e fi rmarmos posição de resistência. Mas apenas a indignação não bastará para vencermos essa luta. É preciso também que a categoria se una e se mobilize. Somente a participação efetiva nas Assembleias, em grupos de discussão, em reuniões nos locais de trabalho, em atos e eventos promovidos pelo Sindicato poderá barrar o movimento atual de precarização do nosso trabalho e desmonte dos direitos da categoria para favorecer castas privilegiadas. Divididos e apáticos, somos facilmente vencidos. Juntos e mobilizados, podemos vencer. O ano de 2015 será (e já está sendo) muito intenso. Temos no horizonte a possibilidade de várias conquistas reais para a categoria:

• A redução da jornada sem prejuízo do atendimento de 8 horas a partes e advogados: essa pauta, já conquistada por quase todos os Judiciários do país, aumenta a produtividade, economiza recursos e melhora a qualidade de vida dos servidores. Mas só será possível se vier acompanhada de preenchimento dos cargos vagos, adoção do processo eletrônico e otimização das rotinas de trabalho. Aqui, mais uma vez, só a mobilização e pressão da categoria conquistarão a vitória. • Uma negociação salarial que resulte em ganho real e reconquista de um salário digno é um processo que precisa, necessariamente, de uma categoria forte, unida e atuante. Para ter peso na mesa de negociação, o Sindjus precisa contar com o suporte de servidores comprometidos com as pautas e atuantes para pressionar e cobrar seus direitos. • A construção de um Plano de Carreira que seja benéfi co ao conjunto dos servidores é outra de nossas pautas para este ano. O Judiciário gaúcho, único do país sem plano de carreira, pode ir ao extremo oposto e implantar, goela abaixo, um PCS prejudicial às demandas da categoria. Barrar esse atentado aos nossos direitos e ajudar a criar um plano que contemple as nossas necessidades é uma tarefa árdua e que exige a participação ativa e efetiva dos trabalhadores. Enfim, a hora chegou e precisamos do apoio de todos para mostrar a nossa força. Vamos em frente, unidos e atuantes. Até a vitória!

À luta, mulheres!

Que nada nos defina. Que nada nos sujeite.Que a liberdade seja a nossa própria substância. Simone de Beauvoir

As conquistas passam pela luta e pela união de todos

Dica de leitura: Breve História de Quase Tudo

Para ver em casa: Capitalismo, Uma História de Amor

Dica de cinema: Relatos Selvagens

As conquistas passam pela luta e pela união de todos

Dica de leitura: Breve História de Quase Tudo

Para ver em casa: Capitalismo, Uma História de Amor

Dica de cinema: Relatos Selvagens

5 FILMES SOBRE A LUTA DAS MULHERES

Dois dias, uma noite

Frida

O cárcere e a rua

Enquanto isso, na vida real

Qualquer pessoa é verdadeiramente digna da liberdade quando não espera que esta lhe seja concedida, mas conquistada. Madeleine Pelletier

Revolução em Dagenham

Sem teto nem lei

Jornal_Marco_v5.indd Spread 2 of 6 - Pages(2, 11) 05/03/2015 11:46:35

Lutar é preciso 3

Por Davi Pio | Secretário-Geral

À luta, mulheres!

Que nada nos defina. Que nada nos sujeite.Que a liberdade seja a nossa própria substância. Simone de Beauvoir

As conquistas passam pela luta e pela união de todos

Dica de leitura: Breve História de Quase Tudo

Para ver em casa: Capitalismo, Uma História de Amor

Dica de cinema: Relatos Selvagens

As conquistas passam pela luta e pela união de todos

Dica de leitura: Breve História de Quase Tudo

Para ver em casa: Capitalismo, Uma História de Amor

Dica de cinema: Relatos Selvagens

5 FILMES SOBRE A LUTA DAS MULHERES

Dois dias, uma noite

Frida

O cárcere e a rua

Enquanto isso, na vida real

Qualquer pessoa é verdadeiramente digna da liberdade quando não espera que esta lhe seja concedida, mas conquistada. Madeleine Pelletier

Revolução em Dagenham

Sem teto nem lei

Jornal_Marco_v5.indd Spread 2 of 6 - Pages(2, 11) 05/03/2015 11:46:35

Por que só mobilizados venceremos Realizamos em março a primeira grande Assembleia-Geral, oportunidade em que afloram, nos debates os questionamentos, as queixas, as expectativas e deliberação sobre os rumos da nossa luta. Tenho como absolutamente necessário que ampliemos e intensifiquemos o combate aos privilégios da magistratura, em especial ao famigerado auxílio-moradia. Sei que uns, ou muitos, imediatamente dirão: isso não é luta a nosso favor e sim luta contra eles. Mesmo respeitando essas opiniões, vejo-as como equivocadas por completo. Se o orçamento do Judiciário é um só, tudo o que for em demasia transposto para o lado de lá, faltará no lado de cá. É matemática pura e simples. A velha história do cobertor curto. O problema é que o lado descoberto é sempre os pés dos servidores e nunca o busto dos membros. Não bastasse esse argumento, há que se levar em conta, e até muito mais ainda, o aspecto moral desse vergonhoso e descabido penduricalho. Como é possível que os mais abastados percebam mais de R$ 4 mil a título de auxílio-moradia, sem qualquer taxação de imposto, quando sabidamente já residem em suas boas casas próprias, na esmagadora maioria dos casos, inclusive

já quitadas? E, para além disso, como pode um julgador decretar o despejo ou a reintegração de posse de um miserável, se paradoxalmente se permite usufruir de uma regalia como essa? Afora essa particularidade pontual da nossa agenda, que, a propósito, também faz parte da agenda da Advocacia-Geral da União, é preciso termos claro que não enfrentaremos tão só a Administração do TJRS. O Governo do Estado já mostrou claramente a sua intenção de cortar despesas e, inclusive, solicitou aos chefes dos outros Poderes a diminuição em 13,5% do montante correspondente ao repasse daqueles. Pedido indeferido, isso por si só não nos isenta de sermos os bois de piranha da vez. Ou seja: todas as demais categorias do Estado estarão apreensivas e atentas aos encaminhamentos e aos pleitos da nossa categoria e deveremos sofrer pressão de todos os lados, no sentido de limitarem o mais possível o nosso índice de reajuste, de modo que o desgaste com os outros segmentos do serviço público seja, para os seus gestores, menor. Isso é revoltante e triste, porém é a tendência, que só não se concretizará se soubermos intensificar o enfrentamento e constranger a

Administração, demonstrando a toda sociedade as suas enormes contradições.Volta, pois, à tona, o mesmo questionamento de campanha passada: Afinal, que Justiça é essa? O Governo do Estado, estrategicamente, já ameaça os servidores dos seus quadros inclusive com parcelamento ou eventual atraso no pagamento dos seus vencimentos. Mas o que deseja, de fato, o Governo Sartori, senão levar o servidor estadual a pensar: “Nossa! Que bom que ao menos eu percebi em dia o meu salário!”? Óbvio. Ameaçado de parcelamento ou atraso, receber em dia os seus parcos vencimentos, mesmo sem reposição digna, será, para muitos, infelizmente, o suficiente. E, para quem ainda não se deu conta, o nome disso é arrocho. Portanto, companheiros(as), é hora do exercício pleno de toda a nossa energia, canalizada e afinada em dois importantes eixos: não vivemos numa ilha e temos, sim, de ter a compreensão de que somos parte de um contexto. E, se há imensas contradições no âmbito da Justiça, que essas sejam cada vez mais demonstradas a todos os outros setores, única maneira possível de chamarmos a atenção devida para as nossas mazelas. Boa luta a todos(as), e que comecem os rounds de 2015!

especiaL 4

Redução da jornada, produtividade e economia

Processo eletrônico e teletrabalho

Economia e sustentabilidade

Está em pauta, no setor privado e na administração pública, a necessidade da redução da jornada laboral, o que representa avanço na qualidade de vida e de trabalho de milhões de pessoas. Os paradigmas que fixaram as jornadas em 40 ou 44 horas semanais, há quase um século, já não são os mesmos de hoje. Conjugar produtividade com qualidade de vida dos trabalhadores é essencial no moderno processo produtivo. Na contramão do conceito corrente de que a redução de jornada é benéfica aos trabalhadores e, por consequência, melhoraria a produtividade, o TJRS editou, há alguns anos, as Ordens de Serviço nº 10/2008 e 01/2009, que

Por Fabiano Marranghello Zalazar | Diretor de Imprensa e Divulgação

padronizaram o horário de funcionamento do primeiro e do segundo graus da Justiça. Na prática, a grande maioria dos servidores passou a trabalhar mais e com menos qualidade de vida. E isso não significou aumento da produtividade, muito pelo contrário. A otimização do serviço com a consequente redução da jornada gera resultado positivo para todas as partes. Mas esse avanço deve ser conjugado com outras medidas: adoção gradual do processo judicial eletrônico, mais concursos públicos para preenchimento dos cargos vagos e a qualificação permanente dos servidores, com remuneração condigna e valorização profissional.

Com o advento do processo judicial eletrônico (PJe), serão necessários gradativamente menos servidores para atendimento nos balcões. Essa realidade se verificou, por exemplo, na Justiça Federal da 4ª Região, que já adotou o PJe, com um decréscimo no atendimento pessoal. A implantação do Sistema Themis e a facilitação do acesso a sentenças, certidões, alvarás e guias resultaram em considerável redução do atendimento direto a partes e advogados. A informatização agiliza também a

A redução da jornada gera considerável economia de recursos como eletricidade, água, telefonia e material de uso contínuo. Dados coletados pela comissão de representantes do 2º grau do TJ, em 2010, demonstraram que essas despesas tiveram significativo aumento em relação entre 2008 e 2009, quando da implantação do novo horário com pelo menos uma hora a mais de trabalho. À época, dados oficiais revelaram que, em 2009, o consumo de água e esgoto no prédio do Tribunal de Justiça, na Capital, teve um acréscimo de 4,05% comparativamente ao ano de 2008, enquanto no prédio do Palácio da Justiça tal consumo aumentou 4,11% no mesmo ano. Quanto ao consumo de energia, o aumento em 2009 no prédio do Tribunal foi de 4,39% em relação a 2008. Já no Palácio da Justiça, consumiu-se 7,74% mais energia em 2009 que no

carga e devolução de processos e torna despicienda a extração de cópias. Da mesma forma, uma ferramenta moderna de gestão tem sido adotada por tribunais com êxito: o teletrabalho, ou “home-office”, que permite a otimização da produtividade conjugada à qualidade de vida dos trabalhadores. O TST e TRFs já adotam essa prática, benéfica aos servidores, à administração e à sociedade, pois economiza recursos, melhora a mobilidade urbana e a saúde do servidor.

ano anterior. Ou seja, aumentar o tempo de trabalho aumentou também os gastos e o consumo. Com a redução de 13% desses recursos, o que representaria uma hora a menos trabalhada por milhares de servidores, milhões de reais poderiam ser economizados e investidos em rubricas em benefício dos servidores, como aumento do auxílio-alimentação e da gratificação de remuneração dos plantões, verbas de custeios sobre as quais não incide a Lei de Responsabilidade Fiscal. Hoje, o TJ gasta milhares de reais mensais com energia, por exemplo. Inúmeros computadores, estabilizadores e nobreaks permanecem constantemente ligados e ociosos, quando poderiam ser desligados, o mesmo ocorrendo com o material contínuo que deixaria de ser empregado nessa hora a menos.

especiaL 5

Saúde do trabalhador

A experiência de outros Tribunais com a redução da jornada

O SindjusRS não medirá esforços para que o ano de 2015 signifique o derradeiro passo rumo à conquista da redução da jornada para todos servidores, sem prejuízo do horário de funcionamento dos fóruns e tribunal, tampouco à atividade jurisidicional. Essa medida acima de tudo significa justiça para aqueles que, segundo os índices de desempenho do CNJ, são os mais eficientes trabalhadores no país.

NA INTERNET:Para mais informações, acesse:

www.tiny.cc/redjornada

O mesmo estudo efetuado pelos servidores do 2º grau revelou que o número de dias de afastamento apenas do quadro do TJ em virtude de licenças-saúde, conforme levantamento do DMJ, vinha caindo até 2009. Todavia, naquele ano, quando da implantação do expediente das 9h às 19h, o número de dias de afastamento por licença-

O TRT da 4ª Região, em 2002, reduziu de 8 para 6 horas sua jornada, após constatar queda na produtividade em virtude do novo horário. O estudo foi feito pelo sociólogo Carlos Alberto Colombo, no artigo “Aumento da Jornada de Trabalho, Qualidade de Vida e Produtividade na Justiça do Trabalho da 4ª Região”, de outubro de 2002, onde afirmou: “(...) Um conjunto de evidências sugere que a elevação do número de horas trabalhadas implicou queda na produtividade (considerada a relação número de processos solucionados por hora de trabalho) e, contrariando as expectativas de seus proponentes, apresenta indicativos quantitativos e qualitativos de ser um procedimento contraproducente, que não contribuiu para a agilização e o aprimoramento da qualidade da

saúde subiu 19,1%, contrariando a tendência de queda dos dois anos anteriores. A duração salutar do trabalho aumenta o tempo com atividades que promovam qualidade de vida e minimiza a incidência de doenças psicológicas, Lesões de Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

prestação jurisdicional. (...) Ou seja, a Administração do TRT tinha a intenção de melhorar a prestação jurisdicional, mas os meios escolhidos geraram consequências imprevistas: queda da produtividade, aumento das doenças do trabalho e da duração das licenças médicas, frustração e desmotivação dos servidores, etc.” Um documento do TJ-SC diz o seguinte sobre o horário das 12h às 19h, adotado no Estado:“É um horário inteligente, pois: a) Atende à sociedade no horário do meio-dia e após as 18 horas (horário em que os cidadãos podem vir ao TJ, uma vez que é intervalo ou final de expediente); b) O servidor trabalha continuamente, sem intervalo, o que produz, indubitavelmente, melhor aproveitamento e rendimento;

c) O servidor chega ao Tribunal com seus inevitáveis compromissos pessoais e familiares já atendidos/resolvidos (estudo, médico, filhos, atividades físicas importantes, etc.), o que lhe permite desenvolver com afinco e prontidão suas tarefas.” No caso do RS, que possui um número de processos maior que SC, concluímos que é possível um revezamento de servidores coordenado pelas chefias para que todos possam exercer turnos ininterruptos de trabalho dentro das sete horas do horário de atendimento ao público externo (9h – 18h). A imensa maioria dos TJs do país adota jornadas entre seis e sete horas diárias. Dos 26 Estados federados, apenas cinco têm jornada semanal superior a 35 horas. Quatorze Estados possuem jornada de 30 horas, e sete têm jornada de 35 horas.

artiGo 6

Três palavras gregas:hýbris, oligarquia, isonomia

A primeira, ausente nestas plagas. Hýbris, a transgressão ética, religiosa, jurídica e política crucial para o povo que inventou os fundamentos, deles e nossos. Desmedida, ultrapassar a dimensão humana e logo desencadear rancores destrutivos. No mito, trata-se da arrogância que leva à catástrofe, examinada na tragédia grega; na política, ataca-se o excesso de ambição que leva à crise (guerra civil ou ostracismo). Com esta categoria, o pensamento histórico grego evoluiu, atacou anomalias sociais e pactuou um regime preocupado com o equilíbrio e a liberdade, fontes da felicidade comum. Os alvos máximos eram plutocratas, oligarcas e tiranos. No cume dramático de Édipo Rei (c. 425 a.C.), Sófocles denuncia: “A hýbris nutre o tirano” (voz do coro, verso 863). O sujeito da hýbris era dito hybristês, alguém que cometia excessos, ultrapassava o razoável, feria os limites da condição humana, em plano sagrado e histórico. O hybristês julga-se heroico ou divino. Nenhuma oligarquia grega (ou de qualquer povo) foi tão perfeita quanto a brasileira. Um grupo reduzido de elementos considera-se sobre-humano, e se assegura privilégios inacessíveis aos demais, sobretudo aqueles procedentes do Estado. Neste caso, Leviatã (Estado) opera não para um rei garantidor da ordem e da paz social, como teorizou Hobbes (1651), mas para o conforto de um pequeno

Por Francisco Marshall | Historiador, arqueólogo e professor da UFRGS

grupo alienado da realidade histórica. Esta presunção oligárquica é forma clássica da hýbris, e gera, naturalmente, rancores e violências latentes, tanto pelo agravamento da miséria quanto pelo sentimento de injustiça que se dissemina como sensibilidade moral coletiva. “Um mal para si faz quem pratica tortas sentenças”, disse Hesíodo (séc. 7º a.C.), no texto (Os Trabalhos e os Dias) em que denunciava os “juízes comedores de presentes” e o caráter refl exo do mal social inaugurado com a torpeza judiciária. Nestes casos, ninguém pode perceber justa bonança na riqueza desfrutada (bem vestir-se, ir a Miami...), antes vê-se a usurpação de bens sociais, a péssima partilha latejando como nódoa, a vaidade como símbolo de dignidade putrefacta. A vacina grega contra tais males foi complexa. Houve longo período (do século 8º ao 6º a.C.) de guerra civil (stásis), mortes, emigrações, golpes e, simultaneamente,

especulação ética, moral, jurídica e política feita por pensadores, reformadores e poetas, especialmente um reformador-poeta, Sólon de Atenas (c. 638 – 558 a.C.). Assunto: as palavras hýbris, díke (justiça), métron(medida) e nómos (convenção). O resultado foi a produção do que Heródoto (séc. 5º a.C.) chamou “a mais doce das palavras”: a isonomia, um regime baseado em noções de equilíbrio geométrico, sensível às discrepâncias entre ricos e pobres, seguro de que um ambiente de oportunidades igualitárias coopera para a emergência do bem comum. Aqueles gregos dedicavam-se à busca e à difícil preservação de parâmetros, ponderados com a ciência dos números; eis como Pitágoras nutriu o regime que mais tarde os atenienses chamaram democracia. Era, sobretudo, isonomia: a busca e a defesa, pela pólis(Estado), de parâmetros razoáveis para o convívio social. Sem hýbris e sem oligarquia, inimigas da isonomia, ameaças à democracia. Parte desta evolução social decorreu da ação de aristocratas reformadores pelo bem social, que cometiam o que em Ciência Política se chama “suicídio de classe”. Péricles, que expôs sua vida muitas vezes, não se importaria de ser chamado de “esquerda caviar”, mas abriria novos combates pela democracia, em um país de ideologias oligárquicas tão vigorosas, como o Brasil.

Nenhuma oligarquia grega (ou de qualquer povo) foi tão perfeita quanto a brasileira. Um grupo reduzido de elementos considera-se sobre-humano, e se assegura privilégios inacessíveis aos demais, sobretudo aqueles procedentes do Estado. Neste caso, Leviatã (Estado) opera não para um rei garantidor da ordem e da paz social, como teorizou Hobbes (1651), mas para o conforto de um pequeno

ameaças à democracia. Parte desta evolução social decorreu da ação de aristocratas reformadores pelo bem social, que cometiam o que em Ciência Política se chama “suicídio de classe”. Péricles, que expôs sua vida muitas vezes, não se importaria de ser chamado de “esquerda caviar”, mas abriria novos combates pela democracia, em um país de ideologias oligárquicas tão vigorosas, como o Brasil.

NotÍcias 7

Conselho de Representantes defi ne ações e estratégias

Sindicatos do país unidos na luta Deputados criam

frente de luta pelo serviço público

Em reunião no dia 13/03, na sede do Sindjus, o Conselho de Representantes debateu algumas das principais pautas e demanda dos servidores. Também foram defi nidas ações e estratégias da categoria para conquistar a valorização buscada na campanha deste ano. Entre as atividades propostas, estão visita aos cartórios para dialogar com servidores, panfl etagem e colocação de faixas convocando para a assembleia. O assessor econômico do Sindjus, Cândido da Roza, estava presente no encontro e apresentou aos representantes os dados do Boletim Financeiro

Em encontro realizado nos dias 12 e 13 de março, os presidentes e coordenadores dos Sindicatos dos Servidores das Justiças Estaduais reuniram-se em Belo Horizonte para traçarem estratégias de luta conjunta na busca da qualifi cação e valorização dos trabalhadores dos Judiciários estaduais. Desse encontro, nasceu a Carta de Belo Horizonte, que defi ne pautas e linhas de ação em nível nacional para a luta que se avizinha na busca de direitos para as categorias.

Jurídico em defesado servidor O Departamento Jurídico do SindjusRS está mobilizado contra a decisão do TJ que cortou o ponto dos servidores que participaram das ações da categoria no fi m do ano passado. Medidas judiciais estão sendo tomadas para reverter essa absurda tentativa do Tribunal de cercear o direito dos servidores de reivindicar melhores condições de trabalho e renda.

Desde o dia 18 de março, os servidores públicos de todas as categorias contam com um importante apoio na luta pela valorização: a Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público da Assembleia Legislativa. O SindjusRS, que prestigiou o lançamento da frente, estará em constante diálogo com os parlamentares, para defender as pautas dos trabalhadores da Justiça.

NA INTERNET:Para ler a íntegra da Carta de Belo Horizonte, acesse www.tiny.cc/cartabh

Atenção: organize-se para a eleição de representante de comarca Dia 10 de abril, será realizada a eleição dos representantes de comarca. Salientamos a importância de que cada Comarca/Local de Trabalho eleja seus representantes, que

serão o elo entre a diretoria do Sindicato e os diversos locais de trabalho em todo oRio Grande do Sul.

Para mais informações, acesse www.tiny.cc/elecrep

cuLtura 8

O Homem que Amava os Cachorros

Para ver em casa(ou em qualquer lugar)

Entre Aspas

Escrito pelo cubano Leonardo Padura, o livro “O Homem que Amava os Cachorros’ reproduz os últimos anos da vida do líder revolucionário Leon Trotski, assassinado no México em 1940. Romance em que a narrativa fi ccional e a vida real de personagens históricos se mesclam e interrelacionam, o livro articula três planos geográfi cos e temporários distintos: a melancólica jornada de Trotski e de seu círculo mais íntimo nos anos de exílio e perseguição; a trajetória do militante comunista catalão Ramón Mercader, desde a luta no lado republicano da Guerra Civil Espanhola até se tornar um espião e assassino a serviço de Stalin; e a vida sofrida do cubano Iván Cárdenas Maturell, o narrador. Ao descrever as vidas desses três homens, a princípio tão diferentes, que viveram em momentos históricos distintos as paixões e frustrações dos projetos de construção de novas

O Netfl ix, um serviço de assinatura de vídeos que permite ver fi lmes e séries no computador ou em dispositivos móveis, é uma alternativa à baixa qualidade da TV aberta e mesmo da fechada, com suas programações repetitivas e padronizadas. Além de compilar grandes clássicos da história do cinema e da TV, o Netflix também investe em produções próprias, como seriado Better Call Saul, que está na primeira temporada. O projeto surgiu a partir do advogado Saul Goodman (interpretado por Bob Odenkirk) personagem de Breaking Bad, a já clássica série da AMC,

“Depois da greve de2014, um gari disse: ‘Quando

os professores voltarem às ruas, nós iremos com eles.

Foram os professores quenos ensinaram a fazer greve’.Como professor e militante

dessa greve dos professores, fi co emocionado com essa declaração. E apenas posso retribuir com o meu apoio integral à greve dos garis”.

Tarcísio MottaProfessor e sindicalista fl uminense

sociedades, Padura nos mostra as semelhanças entre eles, que acabam se fundindo, por obra do narrador-personagem Iván, em um único homem. Um homem oprimido pela máquina burocrática que deveria trazer-lhe uma vida de felicidade e igualdade. O livro relaciona os dramas de Trotski, vítima da mesma estrutura assassina que ajudou a criar, de Mercader, que descobre ter dedicado a vida a um ato abominável e não a um feito heroico, e de Iván, que suportou tantas censuras e privações. Mas também apresenta refl exões de outras fi guras, em especial o agente soviético Kotov, o mentor do militante catalão e o único homem com quem ele podia falar abertamente sobre os absurdos que vivenciava. Em “O Homem que Amava os Cachorros”, vemos uma crítica ao stalinismo e ao trotskismo feita a partir de dentro, mostrando que nenhum

encerrada no ano passado. O novo seriado conta como Saul construiu seu negócio e sua reputação, convivendo com bandidos de todos os calibres em Albuquerque, Novo México, e construindo uma carreira de sucesso com muito cinismo e criatividade.

Para acessar: www.netfl ix.com

projeto igualitário prosperará se não souber valorizar a vida e a dignidade das pessoas acima de tudo.