Informativo PANEWA que na Língua Zoró significa alimento ... · em 05 de outubro de 1988 e retoma...

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Informativo PANEWA que na Língua Zoró significa alimento, sabedoria, povo forte. Edição 47 - Ano 2017 E ntre os dias 26 a 29 de setembro de 2017, na casa Betânia, em Porto Velho realizou- se a XXXII Assembleia regional do CIMI/RO, como tema: “Bem viver dos pobres”: Proposta de Jesus Cristo e como lema: " É preciso servir aos frágeis ao invés de se servir deles. Somos chamados a estender a mão aos pobres, a en- contrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão” Papa Francisco. Contou com a presença de todas as equipes de missio- nários e missionárias que atuam na região de Ji -Paraná, Vilhena, Porto Velho e Guajará- mirim, além da presença do secretário executi- vo do CIMI/Nacional Cleber Cesar Buzatto e com a assessoria do Frei Vilson OFM/cap. No primeiro momento da assembleia, a partir da análise da política indigenista nas regiões e nas comunidades indígenas, os missionários destacaram os seguintes aspectos: invasão territorial por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros, loteamentos dos territó- rios, crescimento dos grandes projetos como: REDD, mineração, hidrelétricas e o agronegócio; aumento desenfreado das violências e violação dos direitos indígenas, direitos esses que vão se intensificando na desassistência nas áreas: da saúde, educação e fiscalização. Após a análise de conjuntura local, Cleber Buzatto expôs a conjuntura nacional acerca da política indigenista, destacan- do que a rota da conjuntura continua praticamente a mesma, porém no estado de Rondônia, Sul do Amazonas e Noroeste do Mato Grosso, a partir da conjuntura das aldeias se vê, uma forma mais intensa de colonização e invasão como é o caso do povo Karipuna que está na iminência de um genocídio devido às invasões no seu território. Há novos instrumentos que se agregaram à paralisação na demarcação das Terras Indígenas, como é o caso do parecer 001/2017 da AGU que sugere a demarcação somente daquelas terras indígenas que estavam sob a posse das comunidades em 05 de outubro de 1988 e retoma os fundamentos anti-indigenas propostos pela Portaria 303/2012 da AGU que estabele- ce às 19 condicionantes do caso da T.I. Raposa Serra do Sol para os procedimentos de demarcação de outras terras; A anu- lação da portaria declaratória 581/15 que firmou a área do povo Guarani que vivem no Jaraguá em São Paulo, com as escu- sas de que haveria “vício administrativo” no processo de demarcação e decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF); A criminalização dos movimentos sociais e dos indígenas e a CPI da FUNAI e do IN- CRA, são aspectos que vão tomando uma intensidade bem maior. Após o aprofundamento da conjuntura política local e Nacional, Fr. Vilson refletiu os conceitos de Bem-Viver (Sumak kowsay) e Reino de Deus (βασιλεία τοῦ θεοῦ) reafirmando que o Bem – Viver e o Reino de Deus consistem nos princípios da reciprocidade entre as pessoas, da amizade fraterna, da convivência com os outros seres e com a natureza e do respeito pela terra e pela natureza através da transcendência. E ainda Fr. Vilson nos provocou com os seguintes questionamentos: Como transformar a boa nova do reino em propostas alternativas? Como nós missionários do CIMI evidenciamos estas propostas, a partir da exigência da ruptura e do desapego à luz do reino de Deus? E que tiveram, entre outras, as seguintes considerações: A denúncia ao modelo de exclusão, a igualdade nas relações, a vivência comunitária, o respeito, a escuta, a prática missionária, a promoção do diálogo e a construção das relações sociais em harmonia com toda a criação. Além disso, na assembleia regional o grupo de missionários presente acolheram como novos membros do CIMI, os missionários Pedro Marques Alcântara e Souza e Cyntia Regina Marques da Silva e elegeram os delegados para a assem- bleia geral do CIMI. Cada assembleia é momento de retomada da caminhada, de refazer a história, reacender a Esperança e avançar na bus- ca de novos projetos e alternativas dentro dos princípios do Bem Viver. A terra como marco histórico para os povos é ga- rantia de força e resistência. Humilhados, mas não vencidos!!!! Texto: Pedro Alcântara/ Vilhena. Foto: Arquivo Cimi-RO Julho / Agosto / Setembro

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Informativo PANEWA que na Língua Zoró significa alimento, sabedoria, povo forte.

Edição 47 - Ano 2017

E ntre os dias 26 a 29 de setembro de 2017, na casa Betânia, em Porto Velho realizou-

se a XXXII Assembleia regional do CIMI/RO, como tema: “Bem viver dos pobres”: Proposta de Jesus Cristo e como lema: "É preciso servir

aos frágeis ao invés de se servir deles. Somos chamados a estender a mão aos pobres, a en-contrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para

lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão” Papa Francisco. Contou com a presença de todas as equipes de missio-

nários e missionárias que atuam na região de Ji-Paraná, Vilhena, Porto Velho e Guajará-

mirim, além da presença do secretário executi-vo do CIMI/Nacional Cleber Cesar Buzatto e com a assessoria do Frei Vilson OFM/cap.

No primeiro momento da assembleia, a partir da análise da política indigenista nas regiões e nas comunidades indígenas, os missionários

destacaram os seguintes aspectos: invasão territorial por madeireiros, garimpeiros e fazendeiros, loteamentos dos territó-rios, crescimento dos grandes projetos como: REDD, mineração, hidrelétricas e o agronegócio; aumento desenfreado das

violências e violação dos direitos indígenas, direitos esses que vão se intensificando na desassistência nas áreas: da saúde, educação e fiscalização.

Após a análise de conjuntura local, Cleber Buzatto expôs a conjuntura nacional acerca da política indigenista, destacan-

do que a rota da conjuntura continua praticamente a mesma, porém no estado de Rondônia, Sul do Amazonas e Noroeste do Mato Grosso, a partir da conjuntura das aldeias se vê, uma forma mais intensa de colonização e invasão como é o caso do povo Karipuna que está na iminência de um genocídio devido às invasões no seu território.

Há novos instrumentos que se agregaram à paralisação na demarcação das Terras Indígenas, como é o caso do parecer 001/2017 da AGU que sugere a demarcação somente daquelas terras indígenas que estavam sob a posse das comunidades em 05 de outubro de 1988 e retoma os fundamentos anti-indigenas propostos pela Portaria 303/2012 da AGU que estabele-

ce às 19 condicionantes do caso da T.I. Raposa Serra do Sol para os procedimentos de demarcação de outras terras; A anu-lação da portaria declaratória 581/15 que firmou a área do povo Guarani que vivem no Jaraguá em São Paulo, com as escu-

sas de que haveria “vício administrativo” no processo de demarcação e decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF); A criminalização dos movimentos sociais e dos indígenas e a CPI da FUNAI e do IN-CRA, são aspectos que vão tomando uma intensidade bem maior.

Após o aprofundamento da conjuntura política local e Nacional, Fr. Vilson refletiu os conceitos de Bem-Viver (Sumak kowsay) e Reino de Deus (βασιλεία τοῦ θεοῦ) reafirmando que o Bem – Viver e o Reino de Deus consistem nos princípios da reciprocidade entre as pessoas, da amizade fraterna, da convivência com os outros seres e com a natureza e do respeito

pela terra e pela natureza através da transcendência. E ainda Fr. Vilson nos provocou com os seguintes questionamentos: Como transformar a boa nova do reino em propostas alternativas? Como nós missionários do CIMI evidenciamos estas

propostas, a partir da exigência da ruptura e do desapego à luz do reino de Deus? E que tiveram, entre outras, as seguintes considerações: A denúncia ao modelo de exclusão, a igualdade nas relações, a vivência comunitária, o respeito, a escuta, a prática missionária, a promoção do diálogo e a construção das relações sociais em harmonia com toda a criação.

Além disso, na assembleia regional o grupo de missionários presente acolheram como novos membros do CIMI, os missionários Pedro Marques Alcântara e Souza e Cyntia Regina Marques da Silva e elegeram os delegados para a assem-bleia geral do CIMI.

Cada assembleia é momento de retomada da caminhada, de refazer a história, reacender a Esperança e avançar na bus-ca de novos projetos e alternativas dentro dos princípios do Bem Viver. A terra como marco histórico para os povos é ga-

rantia de força e resistência. Humilhados, mas não vencidos!!!!

Texto: Pedro Alcântara/ Vilhena. Foto: Arquivo Cimi-RO

Julho / Agosto / Setembro

Página 0002 Edição 47 - Ano 2017

D a terceira edição do Panewa Infor-

mativo 2017, chegamos a cada um/a para par-tilhar a vida, as espe-ranças e lutas das co-munidades indígenas. Neste ano, pode-se afirmar que houve, graves retrocessos no que tange à perspectiva

de consolidação de políticas que atendam às necessidades e aos direitos indígenas, especialmente no tocante às especifici-dades étnicas e culturais. As paralisações das demarcações de terras, em função da pressão dos rura-listas, caracterizam redução dos direitos fundamentais e sobre os quais estão ali-cerçados os demais direitos. O governo federal tem imposto restrições orçamen-tárias tão severas a Funai, que chega ao ponto das coordenações locais e regionais não terem dinheiro sequer para comprar combustível, como fiscalizar as terras invadidas por madeireiros, grileiros e todo o tipo de esbulho, a exemplo do que vem ocorrendo na T. I. Karipuna, denún-cia feito no site do Cimi e Meios de Co-municações Sociais. O Procurador da Re-pública fala de uma situação que pode levar ao genocídio do povo. Temos diante de nós uma conjuntura extremamente complexa para os povos indígenas e aliados, pois os direitos indí-genas continuam sendo ameaçados por todos os lados, a paralisação das demar-cações de terras indígenas e a redução de direitos, continuam mobilizando os povos que estão na luta pelo território e reconhecimento étnico a se manterem vigilantes, mobilizados e resistentes na defesa da integridade física, cultural e territorial. Muita vida acontece e a esperança de dias melhores é traduzida na resistência e na revitalização cultural dos povos in-dígenas, que buscam através de oficinas, encontros e roda de conversas fortale-cem a força cultural e o espírito livre dos antepassados. Neste Panewa partilhamos parte da experiência de uma jovem indígena do povo Cassupá, que nos conta sua traje-tória de vida, para conseguir concluir o curso de Medicina. Também com tristeza e pesar, uma homenagem a jovem guer-reiro Claudio Tupari, que foi plantado na terra sagrada de seu povo.

CIMI/RO.

EDITORIAL

E X P E D I E N T E O Informativo “PANEWA” é uma publicação do Conselho Indigenista Missionário – Regional Rondônia - CIMI-RO Rua Dom Pedro II, 650 – Centro - Porto Velho/RO CEP—76.801-151 E-mail: [email protected] - Site: www.cimi.org.br - Fone: (69) 3224-6373 Coordenadora: Laura Vicuña P. Manso Diagramação: Gessiane Francis - Colaboradores: Coordenação, Missionários/as, Funcionários e Voluntários.

N os dias 30 e 31 de agos-

to de 2017, realizou-se

a XXII Assembleia do Povo

Indígena Karitiana, na Terra

Indígena Karitiana, na Aldeia

Central, localizada 95 km da

Cidade de Porto Velho/RO, esti-

veram presentes lideranças das

aldeias: Bom Samaritano Cara-

col, Joari, Candeias, Cimi/RO,

Sesai e Seduc.

A abertura oficial da assembleia ocorreu no período da tarde, o presiden-

te da associação do Povo Karitiana Orlando Karitiana deu as boas vindas

aos Indígenas e ao CIMI. Após esse momento de acolhida, foi construída a

pauta com a comunidade.

A primeira mesa foi com os representantes da Sesai, Aucimar Gonçalves

Galvão; Casai Porto Velho/RO. Foi ressaltado pelo representante de

Endemia que a mais de um ano, não teve casos de malária nas comunidades

indígenas. Por outro lado foi geral a insatisfação dos indígenas/ usuários

em denunciar o descaso e precariedade no atendimento e acolhida por parte

das equipes da CASAI.

O chefe da CASAI Aucimar Gonçalves Galvão, falou das dificuldades e

avanços ocorridos. Além de dúvidas com relação aos contratos de indígenas

para atuar nas suas respectivas comunidades. O tema que mais repercutiu

nessa mesa foi a questão de acesso à água para o consumo humano. Ficou

encaminhado que fosse feito um documento ao Ministério público Federal,

denunciando pela não aplicação dos recursos para o saneamento básico nas

comunidades indígenas através da perfuração de poços. Para confirmar ta-

manho descaso e negligencia o poço da aldeia Joari se encontra paralisado.

Professor e liderança Daniel Karitiana diz: “A nossa aldeia Joari está aban-

donada, esquecida por parte da SESAI. Já fizemos documentos e entrega-

mos para o chefe da CASAI e até agora não tivemos resposta. Peço que

cumpram como profissionais”.

Na questão educacional o povo exige que sejam atendidos e que os pro-

fissionais da Seduc respeite o povo nas decisões que dizem respeito ao pro-

cesso educacional do povo, o professor Indígena Geovaldo Karitiana foi

enfático ao dizer: “Queremos a Direção da escola na aldeia e não na cida-

de”. E o professor indígena Nelson acrescenta, “a CREA não atende bem os

indígenas”.

O povo teve um momento para discutir e refletir a conjuntura indigenis-

ta, destacando que o agravamento das situações de violências sofridas pelos

povos esta cada vez pior. Os povos indígenas são as maiores vítima de vio-

lência e criminalização, o estado governa em favor dos interesses das elites

e se esquece dos direitos dos pequenos e por isso precisam estar juntos e

unidos para resistir. As lideranças indígenas enfatizaram que o maior ini-

migo dos índios é a bancada ruralista que além de provocar violências e

aumentar a discriminação contra os indígenas, esta unida com o poder exe-

cutivo e juntos instituíram o parecer da AGU 001/2017 uma ideia tão absur-

da que chega a ferir a constituição federal e os direitos dos povos indígenas

que esta no artigo 231 e 232. Além de instituir o parecer da AGU 001/2017

querem aprovar o Marco Temporal. A apresentação da conjuntura atual termina com a fala dos indígenas que disseram que continuarão lutando

e resistindo pelos seus direitos e seus territórios “Demarcação já”!!!

Texto: Silvania Manu Cespedes/Porto Velho. Fotos: Arquivo Cimi Ro

XXII Assembleia Karitiana.

Página 03 Edição 47 - Ano 2017

O povo Arara da Terra Indígena Igarapé Lourdes, reconhece a importância da

língua materna e oralidade na manutenção da identidade, e concebe a escola como espaço de aprendizagem e manifestação cultural: local de construir saberes,

reelaborar dinâmicas culturais e estratégias de resistência. A partir dessa perspectiva a comunidade, da Aldeia Paygap, os professores indíge-nas da Escola Paygap solicitaram a contribuição do Cimi/Pastoral Indigenista de Ji-

Paraná para em conjunto desenvolver a partir de uma oficina realizada nos dias 21 a 25/08/17, a elaboração de material didático como suporte no desenvolvimento da

leitura e escrita. As missionárias Emília e Virgínia ajudaram na organização e orien-tação durante o processo. A oficina foi permeada com outros momentos de discus-

sões e trabalho de campo para nortear, apontar possíveis estratégias no decorrer das atividades. Iniciou-se com uma reflexão sobre o uso da língua materna, presente em todos os espaços de socialização da comunida-

de, a responsabilidade da escola, dos professores para assegurar a permanência das tradições culturais, sendo a língua ma-

terna uma das principais formas de resistência e autoafirmação da identidade. Foi apresentado pelos professores alguns materiais usados na escola, que foram construídos com o apoio de entidades, sendo a maioria pelas equipes do Cimi com a

assessoria da linguista Ruth Monsserrat. Em Rondônia, pode-se dizer que todos os povos indígenas vêm buscando com apoio de entidades aliadas o estudo para

construção de material didático na língua materna. Nesse contexto, os Arara vêm se destacando, pelo esforço coletivo den-tro da comunidade/escola na pesquisa envolvendo as lideranças tradicionais com sábios conhecimentos que transcendem a realidade das aldeias. São conhecimentos não disponíveis em literaturas, mas na memória de anciãos e anciãs, guardião,

mestre e multiplicadores dos saberes ancestrais de cada povo.

Nas reflexões, sentia-se a necessidade, o desejo que tem esta comunidade-escola, os professores em ampliar os conheci-mentos em relação a língua e outras áreas culturais, dando significado ao papel da escola como espaço político de forma-ção e afirmação de identidade. A partir das discussões, do diálogo fez-se a revisão de alguns materiais já em uso construí-

dos pelos professores e aliados, uma vez que a Secretaria Estadual de Educação não oferece às escolas indígenas nenhum apoio nesta área. Este trabalho foi pensado para possibilitar a reedição destes materiais, com as correções e mudanças que

vão surgindo no decorrer do estudo, da pesquisa em relação língua materna. Na sequência das atividades realizou-se um trabalho de campo com professores, alunos e lideranças da comunidade para

visitar um castanhal, observando as trilhas utilizadas para transportar a castanha na época da coleta. As castanheiras são enormes e estão carregadas de ouriços. Em meio a floresta os professores observavam também os pés de copaíba que em alguns meses se dará a retirada do óleo. Foi momento de vivência e aprendizado da cultura em vários aspectos tanto nas

conversas como em práticas da cultura com a coleta de babaçu para extrair o gongo, alimento muito apreciado pelo povo. Nas conversas, diante de tanta beleza, e das diversas alternativas oferecida pela floresta, fonte fundamental da economia,

refletiu-se a importância da preservação do ambiente natural, e decidiu-se iniciar nesta oficina para a construção de um material que possa traduzir a história milenar com suas diversas expressões socioculturais, respaldando com esta experiên-

cia a importância da proteção da floresta para preservação e manutenção da própria cultura, sendo um material que abran-ge várias áreas do conhecimento.

Na convivência com a comunidade percebia-se os questionamentos em relação conjuntura atual, a preocupação com as estratégias que vem sendo implementada pelo governo para o extermínio de direitos e desarticulação dos povos indígenas em nível nacional. Durante a oficina, dedicou-se alguns momentos específicos para apresentar através de vídeos, slides os

dados reais desta conjuntura, como também o respeito, o apoio que estes povos têm conseguido ultimamente junto a sociedade

com a música “Demarcação Já”. Entre as discussões destacou-se a compreensão da liderança tradicional Firmino Arara em relação a conjuntura e função da educação escolar, chamando a

atenção dos jovens para estar atentos e aprofundar o estudo a respeito das leis e aproveitar o conhecimento adquirido na esco-

la para ajudar o povo a lutar contra esta realidade. As atividades da oficina repercutiram em toda comunidade,

que dedicava momentos especiais para as refeições coletivas com variedades de caças, tomar Macaloba (bebida tradicional) e conversas descontraídas demonstrando alegria e gratidão por

esta iniciativa. Texto: Virginia Miranda/Ji Paranáe Emília/Porto Velho

Fotos: Arquivo Cimi Ro

A Língua materna é o alicerce da cultura e da resistência de um povo.

Página 4 Edição 47 - Ano 2017 Página 04

Oficina de artesanato do Povo Sakyrabiat “A cultura é a alma de um povo, que em função de sua

história de vida às vezes fica um tempo adormecida, mas pode a qualquer momento ser retomada como símbolo da resistência”.

O povo Sakyrabiat nos últimos anos vem se organizando para revitalizar as tradições culturais enfraquecidas pelas cons-

tantes e violentas interferências externas, em seu modo de ser e viver, desde o início da colonização do Estado. Os meses de junho e julho foram dedicados às diversas atividades, como a coleta de sementes, cipó e outros materiais que serão utilizados na confec-ção durante a oficina de artesanatos.

A oficina foi articulada pelos professores indígenas e outros jovens com apoio dos caciques e lideranças tradicionais do povo. No primeiro momento as comunidades em conjunto refletiram enfatizando a importância desse trabalho para o fortalecimento da cultura, da identidade enquanto povo, planejando o custo financei-ro desse trabalho que tinha como finalidade contribuir nos gastos com alimentação e transporte, considerando que a oficina foi pen-sada para atender as quatro aldeias do povo.

A realização da oficina foi concretizada na aldeia Baixa Verde, Terra Indígena do Rio Mequéns, em Alto Alegre dos Parecis nos dias 17 a 19 de julho, com apoio do Cimi e Funai. Tiveram a assessoria dos sabedores dos povos Aikanã, Kwazá e Surui. No decorrer da oficina as mulheres num aprendizado recíproco confeccionaram: rede, bracelete, tipoia, cestos, cocares, colares pulseiras e brincos. Enquanto os homens, nesse processo de reciprocidade fizeram arco, fle-chas, balaio. A coleta da matéria prima tinha em vista a confecção desses artesanatos, como prática de revitalização cultural, na área dos artefatos originários do povo repassando às crianças, a partir dos seus sabedores.

Foi um momento que marcou o povo pela oportunidade de vivenciar com seus sabedores essa experiência, bem co-mo para a equipe missionária do Cimi presente. O processo de repasse das práticas artesanais, das quais poucas pessoas do povo lembravam os passos da confecção da rede, do bracelete, da tipoia (de carregar bebê), da cesta, do cocar, do arco, da flecha e dos balaios, bem como o processo de preparar as sementes para confeccionar brincos, pulseiras e cola-res, que seus ancestrais deixaram. Tudo isso não se perdeu, porque a comunidade pode contar com a orientação de mu-lheres e homens do povo Suruí, Aikanã, Kwazá. Atendendo assim as demandas específicas de ambos as partes.

A construção da rede foi o processo mais demorado, pois exigiu dos jovens e mulheres um trabalho constante. Nessa construção coletiva, a alegria da troca de saberes fez com que todos puderam testar a utilidade da rede, deitando nela e todos iam reafirmando ficou boa, forte e resistente.

A oficina proporcionou momentos fortes de vivencia cultural. Na alimentação tinha sempre carne de caça moqueada, todos os dias foram servidos várias ve-zes a bebida tradicional feita de milho, cará e mandioca. Os cantos e danças foram destaque, pois a construção dos artesanatos, diziam os sabedores é para fortalecer os rituais, Mesmo na contra mão do tempo que os surpreendeu com uma friagem e com vento muito forte, o povo encontrou alternativa servindo - se de uma manilha, para contribuir no aquecimento do corpo. A comunidade está firme no processo de resgatar, fortalecer as tradições, que ia se confirmando na participação das crianças como Maria Eduarda de três anos e Gabriel de seis anos, que cantou na língua música do povo na maior empolgação, e ainda é preciso não deixar de ressaltar o entusiasmo dos jovens, adultos e lideranças tradicionais. A única interferência negativa foi a presença de pessoa estra atividade, que aproveitou o povo reunido para fazer o seu trabalho. Em vários momentos tirava as pessoas que estavam confeccionando os artesanatos levando para um lugar separado da oficina para esse estudo, não respeitando assim o evento que com carinho o povo havia organizado. Só aparecia na oficina para filmar e

fazer fotos dos trabalhos, dava para perceber que era esse seu objetivo, porque poderia ter feito seu trabalho antes ou depois para não interferir num espaço tão importante, alguns jovens questionaram sobre isso.

Com mais uma experiência vivenciada pelo povo e de iniciativa dos jovens, ainda nessa oficina houve tempo para conversar sobre a grave ameaça de violência sofrida pelos povos indígenas no Brasil, sobre as ações do governo Michel Temer quanto: A paralisação da demarcação das T.I; O fim da titulação de terras quilombolas; o abandono da regulari-

zação dos territórios das comunidades tradicionais; A reversão do processo de reforma agrária, proposto por meio da MP 759/16; Na entrega do território nacio-nal ao capital estrangeiro, através do PL 4059/12; Na flexibilização das leis ambi-entais proposta por meio do PL 3729/04; No aumento descontrolado do desmata-mento; Na ocorrência de chacinas, de assassinatos da criminalização de campo-neses, quilombolas, indígenas e de apoiadores às lutas sociais no campo; e por último o Marco Temporal, pois, considerar a data de promulgação da Constitui-ção como referência legitima e legaliza as violações e violências cometidas contra os índios antes de 5 de outubro de 1988. "Aprovar o marco temporal significa anistiar os crimes cometidos contra esses povos e dizer aos que hoje seguem inva-dindo suas terras que a grilagem, a expulsão e o extermínio de indígenas é uma prática vantajosa, pois é premiada pelo Estado”. Os povos indígenas encontram em suas culturas a grande força da resistência que ocupou e ocupa até hoje toda a pauta de luta e do compromisso na defesa de seus direitos garantidos constitucionalmente.

“Povos Indígenas e seus aliados na Luta sempre”

Texto e Fotos: Virgínia Miranda/ Ji Paraná e Volmir Candido /Porto Velho.

Página 05 Edição 47 - Ano 2017

“Em era de Temer, renovemos a Esperança e a Unidade, Juntos sempre”

N a prática cultural do Povo Tenharin moradores da Terra Indígena Marmelo na transamazônica, BR 230 km 130, na comunidade/aldeia Campinh’u aconteceu entre os dias 20 a 23 de julho de 2017 a tradicional festa Mbotawa do

povo, que ocorre anualmente e quase sempre em no mês de julho. Nesta festa o povo revive seus rituais e encontram for-ças e vigor na caminhada, fazem memória da vida do povo, sua lín-gua, seus cantos, danças e tradições.

O Mbotawa é uma celebração da história cultural deixada pelos antepassados e vem permanecendo viva nas veias das gerações que neste presente momento mantém firme e convicta a base cultural que está sendo passada aos jovens para a perpetuação cultural. O Mbota-wa é a festa da vida do povo, por isso relembram sempre os últimos fatos vividos pelas comunidades, pelo povo, suas conquistas, suas lutas de resistência, onde valorizam seus antepassados e recebem no-vo impulso para a garantia de um mundo, de uma sociedade, mais justa e mais digna.

O cerimonial começa com a chegada do povo das demais comuni-dades/aldeia, que chegam pintados, ornamentados e cantando. O dono da festa e Cacique Geral recebe cada grupo e na sequencia é servido o café. A pintura no Mbotawa se faz dentro do tempo da festa, desde o preparo da tinta preta feita com carvão e óleo de babaçu e a vermelha com urucum. As cores representam os dois grandes grupos cultural-mente classificados pelo povo – Mutum pela cor preta e Tarawe pela cor vermelha.

O Mbotawa é enriquecido pelas danças ao som das flautas tocadas pelos homens. As mulheres dão à dança um destaque especial, as casadas sem muita pintura, mas as jovens e adolescentes muito bem ornamentadas, pinturas, adornos e roupa a rigor o que representa a dança na cultura. Tudo é seguido de ritual, quem pinta quem, quem dança com quem, sempre seguindo a organização em metade mutum e tarawe. As adolescentes sempre são conduzidas por dois homens mais velhos que as conduz até ao galpão da dança e ai indicam as jovens, o ho-mem com quem vai dançar. O tempo da dança varia de 20 a 30 minutos seguido. Num ritmo sincronizado ao som da flau-ta e acompanhado por chocalho no pé direito.

Entre um dança a outra há comunicação como: anúncio dos representantes de entidades que se faziam presente; o Pare-cer da AGU 001/2017, baixado pelo Presidente Golpista Michel Temer, sobre a política relacionada a demarcação dos Territórios Indígenas que extrapolou os limites de hipocrisia de um Congresso malvado, cruel e ditador, entre outros. Diz Gilvan/Cacique Geral: “Em tempo de era Temer só a esperança e a resistência nos move e nos encoraja. Jamais esmore-cer. Venceremos sempre. Lutaremos até o último índio existir”.

Um momento muito especial e emocionante foi distribuição de fotos enviadas pela Universidade do Amazonas, às co-munidades e para algumas pessoas. Ressaltamos como destaque desse momento, quando foi chamado o Cacique Duca da comunidade Bela Vista para a entrega do Cocar enviado por um cacique de um povo da região do Xingu, não lembraram o nome: Dizendo: “Duca um cacique da região do Xingu enviou esse cocar pra você. O Cacique falou que sentiu dentro dele o quando você conhece da sua cultura e sabe o valor da luta”. Houve silêncio seguido de cântico pelos mais velhos sabedores do povo.

Outro momento forte foi o ritual do casamento que se inicia com a chegada dos casais que se apresentam na comunidade e quando autorizado pelo dono da festa às pessoas autorizadas e por direito no ritual da cultura dá o inicio ao ritual com a pintura a partir do homem, feita pelo cunhado. Seguindo com o ritual da mulher, com a pintura do corpo e os ornamentos culturais. Em seguida, ambos os casais sentam na rede. Após esse ritual segue com os conselhos do cacique geral, caciques das aldeias e sabedores dos parentes mais próximos. Enquanto os cantores entoam cantos de invocação dos espíritos bons sobre eles e o povo. Na sequencia é realizada a dança dos casais confirmando o assumir a cultura e o dever de cuidar do Sagrado na cultura. Nessa dança participam os casais já confirmados em casamento. Na manhã do último dia o grande ritual da partilha, neste ano con-sistiu apenas na distribuição da farinha..... porque a produção de castanha foi escassa. Após esse ritual seguiu com as informações da política indigenista oficial e do parecer 001/2017; A informação era repassada na língua, para uma melhor compreensão dos mais idosos. Foi colocada toda a situação do Parecer que tem como for-ça no processo de demarcação das terras o marco temporal. Trouxe presente a situação da Gleba D, onde foi salientado que Povo Te-nharin sempre ocupou a Gleba D, pois é de lá que vem muito ma-

terial sagrado, que é utilizado na festa tradicional Mbotawa, neste local tem cemitério que sempre é visitado pelos famili-ares dos parentes que lá estão enterrados. Este cemitério, recanto dos antepassados é lugar tradicional e morada dos espí-ritos, de lá partem as forças culturais presentes nos anciões, isso jamais será esquecido por nós. Diante desta reflexão foi reforçada a importância de passar estas informações aos jovens e as crianças, assunto este que os sabedores devem repas-sar aos estudantes na escola, para que todos os alunos conservem este conhecimento tradicional.

No almoço de encerramento foi servido carne de anta com farinha. Neste Mbotawa o arroz e o macarrão foram insigni-ficantes. Nos almoços era servido peixe em calda e farinha. No café da manhã o cará roxo. As comidas culturais prevale-

ceram.

“Na celebração da vida, o reviver da História”! Texto e fotos: Emília Altini e Volmir Candido/Porto Velho

Mbotawa do Povo Tenharin

Página 06 Edição 47 - Ano 2017

Outubro/2017 20— Lançamento Relatório de Violência– PVH 220 E 21 - Feira Agroecológica/ Ji-Paraná 23 a 27 - Assembleia Nacional/Brasília (DF)

N os dias 20 a

22 de agosto de 2017, no Cen-

tro de treinamento São Jose, em Guajará Mirim,

aconteceu o En-contro de lideranças indígenas, com o Tema: “Resolução de Conflitos e Conjuntura Indigenista”, com assessoria

Ir.Laura Vicuña – Cimi/RO. Estiveram presentes lideranças dos Povos: Karitiana, Cassupá, Guarasugwe, Salamai, Ca-noé, Cabixi, Tupari, Puruborá, Oro Win, Oro Mon, Oro Eo,

Oro Nao, , Oro Waram, Oro Waram Xijein, vindos de Porto Velho, Nova Mamoré e Guajará Mirim e dos missionários

do CIMI. No decorrer do Encontro vários momentos foram contribuindo e reforçando na reflexão do tema. Foram usa-dos vários recursos áudios visuais, para trabalhar o tema ,

levando o grupo a levantar os principais problemas internos e externos vividos nas comunidades.

A liderança Jap Verônica Oro Mon Canoé, colocava: “O

momento é de reflexões: além da violação dos Direitos Indí-genas, ainda temos que enfrentar os problemas internos e

externos nas comunidades, alem da perseguição e muitos outros, e para enfrentar todas dificuldades é necessário o fortalecimento e a União, acredito que temos sim lideranças

e lideres que pensam na coletividade e no bem estar do seu povo e que o nosso inimigo são aqueles que na calada da noite tramam para a redução e a violação dos Direitos, con-

quistados com sacrifício pelos nossos antepassados”. O encontro foi sendo construído coletivamente, numa

metodologia bem participativa, com os depoimentos e as conclusões apresentadas pelos grupos diante da realidade vivida nas comunidades em suas diferentes culturas, na pers-

pectiva de encontrar soluções e resoluções coletivas para os problemas que afetam o dia a dia das comunidades indíge-nas.

Das muitas ameaças que afetam a vida dos Povos Indíge-nas foram elencados alguns como: os Projetos de Emendas Constitucionais, os grandes empreendimentos (hidrelétricas,

hidrovias, rodovias...), as invasões por garimpeiros, madei-reiros, loteamento nas Terras Indígenas, e por último a amea-

çadora PL 1610 para legalizar e regularizar a mineração tem Terras Indígenas. Constatou-se que as ameaças compromete os direitos adquiridos na Constituição Federal de 1988, como

mostra os artigos 231 e 232, que a Lei garante , mas não é esta realidade vivida pelos Povos Indígenas .

Fortalecidos culturalmente o grito dos Povos Indígenas é

pela Vida, pela Terra, pelos Direitos adquiridos. Por isso façamos ecoar por todos os cantos da terra a uma só voz:

Demarcação já. Texto e Foto: Vera Lucia Gabriel e Cyntia Regina/Guajará

Mirim

“Resolução de Conflitos e Conjuntura Indigenista”

Novembro/2017 07 a 18 - Estudo Língua Puruborá/ Cujubim e Arara 20 a 24 - Encontro de lideranças em contexto urbano

É com tristeza, mais com muito carinho que expresso meus sentimentos em homenagem a

esse Jovem-Menino Guerreiro Claudio Tupari. Menino pela sua simplicidade, alegria, humilda-de. Quem teve a oportunidade, o privilégio de conviver com ele sabe do que estou falando. Conheci Claudio em 2004, quando realizei a primeira visita às aldeias da Terra Indígena Rio Branco. Na época ele ainda adolescente, mas seu espírito de Menino levado continuou sempre presente em suas brincadeiras e alegrias, a pri-meira coisa que se via em Claudio a cada encon-tro era o sorriso. Mas também um Grande Guerreiro quando se tratava de responsabilida-

de em todas as suas ações, quer seja internamente dentro de sua família, comunidade, associações, trabalho, quanto em atividades que assumia fora das aldeias em nível local e Esta-dual como o cargo que exerceu por vários anos no setor de Educação Escolar Indígena na Representação de Ensino em Alta Floresta do Oeste

Mas gostaria de falar de sua responsabilidade pela Educa-ção, quando o assunto era a luta dentro do movimento indí-gena na defesa de uma Educação Escolar Específica e Dife-renciada, mas com a qualidade que lhes é de direito. Todos os povos indígenas de Rondônia e seus aliados históricos de-vem lembrar de seu esforço quando esteve por alguns anos na coordenação do NEIRO – Núcleo de Educação Indígena de Rondonia e uma das demandas na época era o concurso específico para professores indígenas. O NEIRO foi criado na década de 90 a partir da transferência da execução da educa-ção do âmbito Funai para a Secretaria de Estado da Educação. Lembro que nesse momento o Movimento Indígena de Rondô-nia e seus aliados encamparam uma luta para que essa organi-zação não ficasse apenas dentro da Seduc como é comum na maioria dos estados. Nesse processo de discussão o NEIRO então foi constituído e composto por vários órgãos do governo como a Seduc, Funai, Unir e Secretaria Municipais de Educa-ção, e como entidades de apoio estavam a frente o Comin, o Sil, o Cimi e os sujeitos da educação representado pela CUN-PIR e todo o movimento indígena de base.

A frente do NEIRO representando a OPIRON (Organização dos Professores Indígenas de Rondônia Sul do Amazonas e Noroeste do Mato Grosso), criada no ano 2000, Claudio foi capaz de com sua simplicidade e responsabilidade, com apenas 22 anos, articular junto aos órgãos governamen-tais e não governamentais que compõem o NEIRO para discu-tir em encontros e seminários todos os passos que no conjunto precisávamos dar para a elaboração, a construção coletiva de uma Lei que pudesse garantir a contratação de professores indígenas e outros profissionais ligado a educação através de concurso. Foi um processo desenvolvido com a participação ampla de todas as entidades envolvidas, professores indígenas e lideranças tradicionais. Com a orientação do MPF, em 2010, nesse conjunto articulado de discussões foi aprovado pelo governo do Estado a Lei 578, construída pelo NEIRO, a qual delibera sobre o concurso especifico e contratação de profissi-onais da educação escolar indígena e inclusive criando a cate-goria Sabedor Indígena para assegurar o ensino da cultura de cada povo em suas comunidades-escolas.

Na concepção de muitos povos indígenas, um guerreiro nunca morre, não é enterrado, mas plantado para gerar frutos, novas lideranças para continuar sua luta. Com certeza pode-mos dizer com orgulho que onde estivermos articulados e reu-nidos para discutirmos e lutar pela educação ele estará sempre presente, iluminando os nossos passos articulados em todas as lutas pelos direitos indígenas. O que podemos dizer a sua família é muito obrigado por ter forjado esse Guerreiro que ficou pouco tempo entre nós, mas que será sempre lembrado com carinho. Se a Saudade permanece é porque o Amor ficou. Muita paz a todos que tiveram o prazer de conhecê-lo.

Texto: Virgínia Miranda /Ji Paraná

Foto: https://www.noticiadoestado.com.br/nota-de-pesar-3

Homenagem ao jovem guerreiro entre a distância

e a presença.

Página 07 Edição 47 - Ano 2017

S ilvia Helena Cassupá, neta da matriarca Maria Cassupá, filha mais velha da família de Maria Helena Cassupá, reside na

reserva indígena Cassupá no km 5,5 da BR 364, sentido sul com sua avó, mãe e sua irmã Silvana, mais nova. Silva relata sua experiência de vida ao cursar Medicina em CUBA. Assim diz: Na realidade tudo começou a 27 anos atrás quando nasci e Deus me deu o legado de ser médica e salvar vidas. Mas aqui quero me deter em contar como me formei médica em Cuba e tudo o que lá passei, pra hoje estar com minha carteira de CRM revalidada em mãos.

Há nove anos quando duas pessoas muito amigas, comprometidos com os povos indígenas, Irmã Emília Altini e Frei Volmir C. Bavaresco chegaram a minha casa oferecendo uma vaga, que estava reservada para uma indígena cursar medicina em Cuba.

Desde criança lembro-me que queria ser médica, não sei por que, quero acreditar que Deus me deu este dom, de querer salvar vidas, ajudar o próximo, cada um tem sua missão e essa é a minha. Agora ir a Cuba e fazer medicina já tinha passado pela minha cabeça, por que já havia lido na internet uma reportagem que dizia que a medicina lá era gratuita.

Então como a minha vida em casa nunca foi de fartura, mas sempre tinha um prato de comida na mesa, no entanto ter condições de fazer medicina no Brasil, onde só faz quem é filho de pais ricos, pra mim sempre foi praticamente impossível, porém nunca desisti, sempre estudei muito e sempre que me perguntavam o que queria ser era a única resposta que sempre tive: ser Médica.

A dificuldade era somente descobrir como, afinal como disse a condição financeira não era das melhores, e depois sou indígena outro dilema no Brasil, o preconceito, que graças a Deus nunca sofri, mas pude vivenciar isso muito bem ao lado de amigos.

Chegou o terceiro ano do ensino médio e com ele o tão temido vestibular, no fundo eu sabia que havia pessoas bem mais preparadas que eu, mas eu tinha fé, sempre acreditei que iria fazer medicina.

Ao enfrentar o vestibular mesmo ao contrário do que muitos me aconselharam, eu decidi por medicina e infelizmente não passei. Foi um dos dias mais triste que me lembro da minha vida. Mas logo depois consegui uma vaga para fazer enfermagem pelo Prouni, na Faculdade São Lucas. Só tenho a agradecer muito por ter ficado quase dois anos cursando essa profissão, foi onde aprendi que todos são iguais, ninguém é melhor que ninguém independente de sua formação acadêmica. Foi aí onde aprendi que o amor à profissão é a única marca que você deixa ao seu paciente, conheci pessoas maravilhosas nesse curso, amigos que levo na memória para resto da vida.

Então chegou o tão sonhado ano de 2007, esse ano foi marcado por muitas coisas a primeira delas foi que completei 18 anos, era maior de idade, achava que já era adulta, mal sabia o que ainda estava por vir.

Em maio deste mesmo ano foi quando começou toda a história de ir a Cuba. Começou o processo de arrumar a documentação que era exigida, exames médicos, papéis pra autenticar, passaporte e outras tantas coisas que nem me lembro, mas que com a força recebida de, Emília Volmir e Reginaldo Ferreira de Oliveira, mais popular Regis foi conseguindo. Pouco a pouco o sonho ia se tornando realidade. Depois que enviamos tudo, foi marcado a entrevista para o mês de julho.

Afinal não é tão simples assim ir a Cuba, são várias etapas pelo qual passei, a entrevista foi muito simples, pois me perguntaram: Por que fazer medicina? Por que em Cuba? O que pretende fazer depois que se formar? Como pretende ajudar sua comunidade? Passei por uns testes psicológicos, só para saber se não tem distúrbios. Ai foi avisado que talvez em janeiro estivesse embarcando para Cuba, pensei em janeiro! Em julho me enviaram um e-mail dizendo que em setembro deveríamos estar lá, pensei e agora? Como vou?

Que bom deu certo mesmo. Várias dúvidas, deixar família, deixar amigos, deixar o país, deixar tudo pra trás. E com fé decidi que sim, era isso que iria fazer, afinal era meu sonho. E junto da equipe do CIMI conseguimos o dinheiro da passagem, e quando digo que as coisas tem que dar certo, nada dá errado.

De última hora a Via Campesina junto com os movimentos sociais conseguiu um avião da FAB para nos levar a Cuba, e no dia 28 de setembro de 2007 pousamos em terras cubanas. Desse dia em diante foram seis anos e meio de lutas diárias, de choros noturnos, de alegrias constantes.

Fizemos seis meses de preparatória para o curso de medicina em que nos dão revisão de matemática, espanhol, geografia, história, biologia entre outras matérias. Quando se termina essa etapa que é chamada de Pré-médico iniciamos a carreira de medicina propriamente dita. Os dois primeiros anos são os mais difíceis, porque são matérias bases para se entender o corpo humano, no entanto em Cuba temos uma grande diferença convivemos com os pacientes desde o primeiro ano, logo a gente recebia uma família que se visitava uma vez na semana, mesmo sem saber muito de medicina era ótimo se sentir útil de alguma forma.

Depois de ter concluído o primeiro ano vim de férias ao Brasil e aí entra a equipe do CIMI me ajudando com as passagens. Algumas vezes quando retornei a Cuba passei pela experiência dos furacões e passei por um lá, que teve o nome GUSTAV, foram dias difíceis, mas foram dias também de perceber como um povo podia ser tão discriminado pela mídia em geral e pelas pessoas que não conhecem e mesmo assim mostrar todo seu valor humano.

Nossos professores que eram médicos, com missão fora do país, com currículos ótimos fizerem de tudo pela nossa segurança, praticamente estavam dando suas vidas pela nossa. Felizmente nada de ruim aconteceu com nenhum de nós, no entanto nossa escola e a cidade onde estávamos foi destruídas e tivemos que mudar para La Havana a capital do país. Daí em diante foi os restantes dos cinco anos nesse mesmo local. No terceiro ano começamos a trabalhar dentro dos hospitais, cada um com seu paciente, plantões, doenças raras, ótimos professores realmente mestres no que fazem e no que ensinam. Agradeço muito a eles, a todos sem discriminação, levo um pouquinho deles dentro de mim, eles me moldaram a ser a médica que sou hoje.

Texto: Silvia Cassupá/Porto Velho Foto: Arquivo

Cimi RO

Uma Profissão: Medicina

Outubro

07 - Gessiane Francis / Porto Velho

08 - Virginia Miranda/ Ji Paraná

09 - Ir. Janete/ Porto Velho

Edição 47 - Ano 2017 Página 08

NOTA DA OPIROMA

“Terra da União, não se comete invasão”

A Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato

Grosso e Sul do Amazonas – OPIROMA. Vem repudiar a violação de direito

de usufruto exclusivo do povo indígena Karipuna, na Terra Indígena Karipu-

na, localizado no estado de Rondônia, onde os mesmo sofrem as invasões de

madereiros e grileiros que estão fazendo loteamento dentro da terra tradicionalmente ocupado pelo Karipuna. Bem

como, as lideranças indígenas estão sofrendo ameaças de morte por causa das denuncias feito pelo mesmo sobre as

inúmeras invasões em seu próprio território.

Lembrando que a Terra Indígena Karipuna já foi alvo de redução do limite territorial na década de 90, por con-

ta de invasões ilegais, onde sofreu a perda de cerca de 40 mil hectares. Essa área originalmente interditada pela FU-

NAI foi negociada entre o INCRA, governo do estado de Rondônia e FUNAI para ser liberado na faixa do limite na

região sul da T.I Karipuna, invadida por colonos, a partir da estrada BR 421 que liga a cidade de Ariquemes a Gua-

jará Mirim. O INCRA fez o reassentamento dos colonos invasores da TI Uru eu wau wau (Projeto de Assentamento

Dirigido-PAD do Burareiro) e mequém (já que o próprio INCRA havia orientado e expedido os atestados de posses

para os colonos invasores dessas Terras indígenas), assim como, adotar um zoneamento fundiário na área

“liberada”, a fim de orientar uma ocupação mais racional e com menor impacto sobre a Terra indígena Karipuna e

Terra Indígena Lage. Na época o governo do estado de Rondônia deveria financiar os custos com as extrusões e ain-

da manter fiscalização permanente destas Terras indígenas com soldados do Batalhão da Policia Florestal, além de

se comprometer a suspender qualquer obra para prolongamento da BR 421. E atualmente inicia-se uma nova forma

de invadirem as terras indígenas.

No entanto. Vimos denunciar a morosidade e a irresponsabilidade dos órgãos responsáveis IBAMA, FUNAI,

governo do estado de Rondônia e outros órgãos dos setores de Vigilância, Fiscalização, Proteção e a Conservação

dos bens materiais e imateriais da terra e do povo indígena Karipuna, em coibir as invasões ilegais, e que vem resul-

tando na degradação e extinção da fauna e flora feitas pelos madeireiros, grileiros, pescadores que invadiram e fize-

ram loteamento de forma inescrupulosa dentro da T.I. Karipuna. E Até o presente momento já foram desmatado

mais de 1.045 ha, sem que haja qualquer tipo de fiscalização, prisão e multas por parte dos órgãos responsáveis. Isso

nos faz resumir que há uma verdadeira omissão do Estado Brasileiro em resolver esta situação.

O estado brasileiro representado pelos órgãos oficiais como a FUNAI, IBAMA, SEDAM são sabedores que

uma de suas funções é de proteção e conservação das Terras Indígenas. E que atualmente tem negado todo direito da

proteção territorial, da fauna e flora, e das riquezas naturais ainda existentes na Terra Indígena Karipuna. Entende-

mos que A organização social do povo indígena Karipuna é lícitas, reconhecida e protegida pela lei brasileira (CF

1988) e a lei internacionais (169 OIT). Portanto qualquer proposta de extinção, etnocídio do povo indígena Karipu-

na, promoverá a modificação do ordenamento jurídico e constitui em violação dos seus direitos e crime contra a hu-

manidade.

E esperamos que o Estado Brasileiro não seja omisso e nem pactue com a tamanha degradação, extinção da

fauna e flora, exploração ilegais dos recursos naturais, violação dos direitos garantidos, e violência contra o direito

do povo indígena Karipuna de usufruir aquilo que é de direito dentro de sua terra tradicionalmente ocupada. No en-

tanto. Exigimos imediata retirada dos invasores, a garantia da segurança e a integridade física, cultural e territorial

do povo indígena Karipuna.

José Luis Cassupá

Coordenador Geral Executivo da OPIROMA

Vilhena-RO, 02 de Outubro de 2017

Novembro

03 - Emilia Altini / Porto Velho

05 - D. Roque Paloschi/Porto Velho

08 - Edinei/Porto Velho

14 - Eura Manso/Porto Velho

15 - Miro/ Ji Paraná

21 - D. Benedito Araújo/ Guajará Mirim