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sumário editorial .................................................................................... ...............................02 Maria Esther de Carvalho ponto de vista..................................................................................................... 03 SAÚDE DOS TRABALHADORES DA SAÚDE: QUESTÕES PARA REFLEXÕES Francisco Antonio de Castro Lacaz A NOVA GERAÇÃO DE PESQUISADORES DA SUCEN Karin Kirchgatter Hildebrand painel..............................................................................................................................08 INVASÃO MALICIOSA Fábio de Castro NÚCLEO DE ESTUDOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR CARRAPATOS - SUCEN NÚCLEO DE ESTUDOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA - SUCEN ATIVIDADES DA SUCEN FRENTE À REEMERGÊNCIA DE FEBRE AMARELA NO ESTADO DE SÃO PAULO Grupo de Febre Amarela publicações científicas..............................................................................................13 fatos e fotos................................................................................................................... 15 REUNIÃO DE ENGENHEIROS EM SOROCABA - 1960 seção cult.........................................................................................................................17 A REPARTIÇÃO DOS PÃES Clarice Lispector SES - SP julho/2011 número 10 Informativo SUCEN Superintendente Virgília Luna Castor de Lima Edtora Maria Esther de Carvalho Conselho Editorial Cristina Sabbo da Costa l Eduardo Fonseca Neto l Liana Cardoso Soares l Lúcia de Fátima Henriques Ferreira l Rubens Antonio da Silva Consultor Científico Cláudio Santos Ferreira Projeto gráfico e editoração Liana Cardoso Soares Revisão Liana Cardoso Soares l Maria Esther de Carvalho l Rubens Antonio da Silva

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sumário editorial...................................................................................................................02 Maria Esther de Carvalho ponto de vista.....................................................................................................03 SAÚDE DOS TRABALHADORES DA SAÚDE: QUESTÕES PARA REFLEXÕES Francisco Antonio de Castro Lacaz A NOVA GERAÇÃO DE PESQUISADORES DA SUCEN Karin Kirchgatter Hildebrand painel..............................................................................................................................08 INVASÃO MALICIOSA Fábio de Castro NÚCLEO DE ESTUDOS DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR CARRAPATOS - SUCEN NÚCLEO DE ESTUDOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA - SUCEN ATIVIDADES DA SUCEN FRENTE À REEMERGÊNCIA DE FEBRE AMARELA NO ESTADO DE SÃO PAULO Grupo de Febre Amarela puubblliiccaaççõõeess cciieennttííffiiccaass.................................................................................................13

ffaattooss ee ffoottooss......................................................................................................................15 REUNIÃO DE ENGENHEIROS EM SOROCABA - 1960

sseeççããoo ccuulltt............................................................................................................................17 A REPARTIÇÃO DOS PÃES Clarice Lispector

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julho/ 2011 número 10

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Superintendente Virgília Luna Castor de Lima Edtora Maria Esther de Carvalho Conselho Editorial Cristina Sabbo da Costa l Eduardo Fonseca Neto l Liana Cardoso Soares l Lúcia de Fátima Henriques Ferreira l Rubens Antonio da Silva Consultor Científico Cláudio Santos Ferreira Projeto gráfico e editoração Liana Cardoso Soares Revisão Liana Cardoso Soares l Maria Esther de Carvalho l Rubens Antonio da Silva

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Maria Esther de Carvalho Pesquisador Científico - SUCEN

O décimo número do Vector circula com a apresentação de interessantes temas na Seção Ponto de Vista. O primeiro, redigido pelo Professor Francisco A. de Castro Lacaz, da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp), trata da preocupação com a saúde do trabalhador da área da Saúde, remetendo-nos à reflexão sobre o modo de conviver harmoniosamente com os colegas e dirigentes, objetivando elevar os níveis de qualidade alcançados pelo trabalho de cada um, com enfoque primordial no ambiente hospitalar. Consideramos isto bastante oportuno no momento em que, na SUCEN, a atuação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA – junto com o Gabinete da Superintendência, tende a incentivar procedimentos favoráveis ao diálogo entre os trabalhadores em seus diversos níveis de atuação e à adoção de condutas relacionadas ao bem-estar dos servidores e funcionários da Autarquia. O outro tema, desenvolvido pela pesquisadora Karin K. Hildebrand expõe a preocupação, não só com a atuação de Pesquisadores Científicos na Instituição, mas também com a política de preenchimento de cargos nas carreiras de Apoio à Pesquisa, de Assistente Técnico de Pesquisa e de Pesquisador Científico vigentes em nosso meio. Na Seção Painel, trazemos matéria de divulgação de resultados de pesquisa científica realizada por equipe brasileira da UNIFESP que, durante muito tempo trabalhou em colaboração com os também brasileiros cientistas radicados em Nova Iorque, o casal Victor e Ruth Nussenzweig. Trata-se de esclarecimento de mecanismos de invasão do organismo do hospedeiro e do escape de suas defesas naturais, desenvolvidos por Trypanosoma cruzi, agente causador da doença de Chagas. É importante destacar que, tendo sido descoberta há cem anos por um brasileiro, Carlos Justiniano Ribeiro

das Chagas, a doença continua projetando nomes nacionais no cenário da pesquisa internacional. Os Núcleos de Estudos em Febre Maculosa Brasileira (FMB), em Leishmaniose Visceral Americana (LVA) e em Febre Amarela (FA), atualizam seus informes sobre o andamento de suas atividades, culminando o primeiro com a divulgação do II Simpósio Estadual de doenças transmitidas por carrapatos, evento que, cada vez mais, conquista seu espaço no cenário científico nacional. O segundo faz um balanço de dois anos de atuação, estabelecendo os principais resultados encontrados no período. E o terceiro expõe sobre a formação do Grupo de Estudos em Febre Amarela, as principais propostas para a vigilância de epizootias por FA e o respectivo monitoramento entomológico. Publicações científicas de março a maio referem-se ao predomínio de artigos em Doença de Chagas, três dos quais fazem parte de um volume especial da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, comemorativo do centenário da descrição da doença. A Seção Fatos e fotos destaca importante Reunião de Engenheiros responsáveis por logística em atividades de controle da malária, nos idos de 1960. Da foto ilustrativa desse evento participa o engenheiro do Serviço Regional de Araçatuba, Percy Gandini, autor do logotipo da SUCEN. Queremos dizer aqui que o Vector está receptivo às contribuições de seus leitores através do espaço destinado a essa finalidade: Carta do leitor. Críticas, sugestões e comentários sobre as matérias apresentadas serão bem recebidos. O endereço eletrônico para a correspondência é o de Liana Cardoso Soares: [email protected] Aguardamos, assim, sua importante participação, leitor!

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ppoonnttoo ddee vviissttaa SAÚDE DOS TRABALHADORES DA SAÚDE:

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

Francisco Antonio de Castro Lacaz Professor Associado III da Universidade Federal de São Paulo,

Departamento de Medicina Preventiva, setor acadêmico Política, Planejamento e Gestão em Saúde

Introdução A discussão sobre a saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde é de certa forma recente, podendo ser situada nos anos 1990. A partir da categoria processo de trabalho, introduzida pela abordagem do campo Saúde do Trabalhador (Lacaz, 1996), pode-se pensar a temática de forma mais ampla. Silva (1998), citando Pitta e Rego, aponta que a perda da saúde dos trabalhadores em hospitais é decorrente da impotência diante de uma estrutura hierárquica centralizadora e da alienação pela impossibilidade de atuar de forma criativa nas relações de trabalho do cotidiano devido aos restritos limites que a organização do trabalho impõe à utilização de seu saber, o que leva a sofrimento e desgaste. Ademais, a sobrecarga de trabalho, particularmente do pessoal de enfermagem, expressa no alto absentismo, desdobra-se no aumento de horas - extras, criando um círculo vicioso de mais desgaste. A isto se soma o papel dos Serviços de Medicina do Trabalho existentes nos serviços de saúde, como hospitais, que ao atuar de forma individual, abstrai a verdadeira causalidade dos problemas de saúde, tendo uma atuação paliativa. A precariedade das informações e a não existência de registros apropriados contribui para dificultar o conhecimento da realidade o que leva, na maioria das vezes, à tomada de decisões e a ações que impactam pouco tais organizações. Finalmente, é importante contextualizar a discussão, atentando para uma questão intimamente relacionada à temática: em tempos de reestruturação produtiva neoliberal globalizada, o não cumprimento de regras de proteção social ao trabalho é um elemento cada vez mais ressaltado pelos estudiosos. Pode-se afirmar que tal realidade é mais presente no setor secundário da economia, mas também é observada no setor de serviços, inclusive de saúde. E, aqui, configura-se uma contradição, particularmente no caso do Sistema Único de Saúde (SUS), no qual a flexibilização e a precarização de direitos e vínculos não se exprime através do desemprego estrutural, na medida em que tal sistema é um forte indutor de emprego, apesar de que uma parte importante da força de trabalho que atua no SUS – entre 30 e 50% dos empregados – não é coberta por esses direitos, o que mostra uma realidade perversa criada e sustentada pela administração pública (Nogueira, Baraldi e Rodrigues, 2005) e ainda desconhecida da sociedade. Frise-se que estudo realizado pelo Ministério da Saúde em 2001/2002 mostrou percentagem ainda maior de precarização, que chegava a 80%, particularmente de algumas categorias profissionais ligados ao Programa de Saúde da Família (PSF) (Brasil, MS, 2003). Processo de trabalho em saúde e adoecimento Conforme aponta Mehry (1997: 120-21): ... o trabalho em saúde não pode ser globalmente capturado pela lógica do trabalho morto, expresso nos equipamentos e nos saberes tecnológicos estruturados, pois o seu objetivo não é plenamente estruturado e suas tecnologias de ação mais estratégicas se configuram em processos de intervenção, em ato, operando como tecnologias de relação, de encontros de subjetividades, para além dos saberes tecnológicos estruturados.

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Assim, os agentes do trabalho em saúde, representados nas várias categorias profissionais compõem a multiprofissionalidade e os aportes teórico-metodológicos interdisciplinares ao serem operados por tais agentes pela mediação dos diversos saberes poderão construir outros saberes que possibilitem o exercício da intersubjetividade na interação entre profissionais e entre estes e a população usuária dos serviços de saúde (Merhy, 2002). A multiprofissionalidade é aqui tomada como um conjunto de profissionais envolvidos no processo de trabalho em saúde, isto é, no exercício do trabalho cotidiano, constituindo uma equipe. Para entender sua atividade, ela deve ser apreendida como uma interação entre os vários profissionais com o objeto, os instrumentos e o trabalho em saúde em si, com uma direcionalidade dada pelo processo de trabalho. Diante disso, na abordagem/estudo da equipe multiprofissional é necessário considerar a divisão social e a divisão técnica do trabalho, a valorização dos trabalhos especializados, a autonomia técnica dos profissionais e responsabilização pelas ações clínicas e de saúde coletiva, aos projetos dos profissionais da equipe e a interação/comunicação entre eles e deles com os usuários dos serviços. A isso se agregam as relações de poder entre os diversos profissionais inseridos na produção de cuidados em saúde, as quais permeiam e compõem tais relações. Considerando-se, então, as dimensões da organização do trabalho em saúde, assumem relevância para a saúde dos trabalhadores em saúde a questão da hierarquia, da autonomia de decisão, da responsabilidade, da sobrecarga e das relações de poder dentro da equipe que podem ou não propiciar a intersubjetividade. Neste sentido, é pertinente apontar as interfaces desta abordagem com a da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Para Ciborra & Lanzara (1985), são várias as definições deste termo. Ora associa-se às características intrínsecas das tecnologias introduzidas e ao seu impacto; ora aos aspectos econômicos, como o salário, incentivos, abonos; ora a fatores de saúde física e mental e segurança e, em geral, ao bem estar daqueles que trabalham. Em outros casos, segundo os mesmos autores, considera-se que é:

... determinada por fatores psicológicos como grau de criatividade, de autonomia, de flexibilidade de que os trabalhadores podem desfrutar ou, (...) fatores organizativos e ‘políticos’ como a quantidade de controle pessoal sobre o posto de trabalho ou a quantidade de poder que os trabalhadores podem exercitar sobre o ambiente circundante a partir de seu posto de trabalho. (Ciborra & Lanzara, 1985: 25, grifos nossos)

Diante dessa realidade prevalece o adoecimento relacionado à esfera mental, às doenças cárdio-circulatórias, psicossomáticas e gastrocólicas, cuja causalidade é mais complexa e de difícil determinação, ao lado de agravos relacionados ao esforço e à postura como lombalgias, tendinites, cervicalgias, varizes, além dos acidente do trabalho com instrumentos perfuro-cortantes. Para Dejours (1987) o trabalho torna-se estressante quando interfere nas necessidades individuais de satisfação e realização, daí a importância dos elementos psicossociais e a forma como podem influir no bem-estar físico e mental dos trabalhadores. Em geral os elementos geradores de estresse patológico no trabalho compõem três categorias: exigências do trabalho/atividade; fatores organizacionais e condições do ambiente de trabalho. No que se refere às exigências é importante considerar os trabalhos pesados e que duram longas horas (associadas às doenças coronarianas), bem como as mudanças de turno (associadas a distúrbios do sono, gastrointestinais, emocionais e à maior freqüência de acidentes do trabalho) (Hurrel & Murphy, 1992). Os mesmos autores apontam que os elementos organizacionais relacionam-se à complexidade e à responsabilidade exigida pelo trabalho, ao significado das tarefas e à postura das chefias, o que inclui a possibilidade de participação dos trabalhadores nas decisões, a falta de apoio e reconhecimento dos superiores, a ausência e promoções, incertezas sobre o futuro de trabalho e relações intersubjetivas fracas seja com os colegas da equipe de trabalho, superiores e subordinados. Sugestões de melhorias no trabalho em saúde Do ponto de vista das novas tendências na gestão da força de trabalho são consideradas importantes mudanças aquelas que atingem os esquemas de estilos de direção,

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interferindo na hierarquia, na participação nas decisões, nos processos internos de comunicação, na busca por favorecer um melhor clima organizacional. Assim, parece interessante apontar possíveis ações que devem ser implementadas com a participação dos trabalhadores em saúde:

1. quanto aos processos de trabalho: reconhecer a atuação dos trabalhadores na perspectiva de melhoria dos processos de trabalho e no seu planejamento;

2. quanto ao ambiente hospitalar: ouvir os trabalhadores sobre condições de trabalho, particularmente no que se refere ao desenvolvimento de equipamentos de transporte de pacientes e de roupas, organizar setores que concentram aparelhos, equipamentos e instrumentais, visando facilitar seu fluxo e uso.

3. quanto aos trabalhadores e seus órgãos de representação: estabelecer sistemática e permanentemente a troca de informações sobre o controle e a avaliação das condições e processos de trabalho sugerindo e cobrando medidas de implementação de melhorias relativas a processos, rotinas e procedimentos a fim de que as condições de trabalho atendam as necessidades dos trabalhadores no sentido da preservação da saúde propiciando qualidade de vida no trabalho;

4. quanto ao Serviço de Medicina do Trabalho: estabelecer um sistema de informações e registros adequado; desenvolver política de prevenção de doenças relacionadas ao trabalho, inclusive buscando investigar sua causalidade e alternativas de controle.

A propósito da atuação dos serviços de Saúde Ocupacional e Medicina do Trabalho,

cabe fazer algumas considerações sobre a Portaria no. 1.675, de 06/10/2006, originária da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), que trata da orientação para instituir o Manual para os Serviços de Saúde dos Servidores Civis Federais a ser adotado como referência aos procedimentos periciais em saúde. Frise-se que o “Manual está inserido dentro da Política e Seguridade Social e Benefícios do Servidor Público Civil Federal que possui como norteador o Sistema Integrado de Saúde Ocupacional do Servidor Civil da Administração Pública Federal (Sisosp).

O Manual, além de nortear as atividades médico-periciais pela avaliação de nexo produzida pela Equipe de Vigilância à Saúde dos Servidores, calcada na abordagem tradicional da Medicina/Saúde Ocupacional a partir de equipes compostas de médico do trabalho, engenheiro de segurança, técnico de segurança, enfermeira do trabalho, higienista, cuja atuação tem sido criticada pela base conceitual que adotam; não refere nenhuma palavra sobre o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) no campo da Saúde do Trabalhador, que deve compor a proposta de Seguridade e cuja atuação tem sido calcada na perspectiva deste campo, a qual avança do ponto de vista teórico-conceitual e metodológico na apreensão e prevenção do adoecimento relacionado ao trabalho (Lacaz, 1996).

_____________________ Referências Brasil, Ministério da Saúde Avaliação Nacional do Programa de Saúde da Família – 2001/2002. Brasília: MS, 2003. Ciborra, C. & Lanzara, G.F. (orgs.) Progettazione delle Tecnologie e Qualità del Lavoro. Milano: Franco Angeli Editore, 1985. Dejours, Ch. A loucura do trabalho. São Paulo: Oboré, 1987. Hurrel, Jr J.J. e Murphy, L.R. Psychological job stress. In: Rom, W. Enviromental and Occupational Medicine. London: Little, Brown and Company, 1992. pp. 675-682 Lacaz, F.A.C. Saúde do Trabalhador: um estudo sobre as formações discursivas da academia, dos serviços e do movimento sindical, 1996. Tese de Doutorado, Campinas: Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas.

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Mehry, E.E. et al. Em busca de ferramentas analisadoras das tecnologias em saúde: a informação e o dia a dia de um serviço, interrogando e gerindo trabalho em saúde. In: Merhy, E.E. e Onocko, R. (orgs.) Praxis en Salud – un desafio para lo público. São Paulo: Hucitec, 1997. Merhy, E.E. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec, 2002. Nogueira, R.P.; Baraldi, S. e Rodrigues, V.A. Limites críticos das noções de precariedade e desprecarização do trabalho na administração pública. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. (Observatório de Recursos Humanos em Saúde no Brasil: estudos e análises, 2) Silva, C.O. Trabalho e subjetividade no hospital geral. Revista Psicologia, Ciência e Profissão, 18 (2): 26-33, 1998.

A NOVA GERAÇÃO DE PESQUISADORES CIENTÍFICOS DA SUCEN

Karin Kirchgatter Hildebrand

Pesquisador Científico Laboratório de Malária da Coordenação de Laboratórios

de Referência e Desenvolvimento Científico- CLRDC- SUCEN A carreira de Pesquisador Científico foi criada em 18/11/1975 pelo Governador do Estado de São Paulo, Paulo Egydio Martins, através da Lei Complementar no 125. Entretanto, a Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) não estava elencada entre as instituições de pesquisa consideradas para este fim. Apenas pelo Decreto nº 8.833, de 20 de outubro de 1976 a referida lei foi aplicada à SUCEN. Desta forma, foi autorizado o enquadramento de técnicos, com comprovada atividade em pesquisa, nos diversos níveis da carreira. No entanto, a carreira não teve a evolução determinada pela Lei nos anos que se seguiram sendo então modificada pela Lei Complementar nº 335, de 1983, que possibilitou novo enquadramento e conseqüentemente, o ingresso de mais técnicos na carreira. Desde então foram realizados na SUCEN três concursos para Pesquisador Científico Nível I: em 1987, 1992 e finalmente em 2004, quando foram aprovados para ingresso 17 pesquisadores em 12 áreas de especialização, distribuídos em unidades da SUCEN na capital e no interior. Mesmo após a homologação do concurso realizado pela SUCEN, conforme Portaria/Processo SS-2120/1998, homologado em 1º/12/2004, a Superintendência sugeria não existir a possibilidade em proceder às nomeações por infringência à Lei de Responsabilidade Fiscal, embora o limite prudencial não houvesse sido atingido. Apenas em março de 2006, esses aprovados finalmente foram nomeados. Nos dias atuais, a Autarquia dispõe de 40 pesquisadores científicos atuando na instituição, sendo 6 destes de outros Institutos de Pesquisa do Estado de São Paulo, prestando serviços na SUCEN. Embora em seu quadro existam 45 pesquisadores, muitos estão conveniados ou prestando serviços em outras instituições e, portanto, não produzem mais cientificamente para esta Autarquia. Outros, ainda, migraram para as universidades em busca de melhores salários, em virtude da defasagem salarial na carreira. O mesmo ocorre com os trabalhadores de apoio à pesquisa. A falta de renovação e de qualidade destes funcionários devido aos baixos salários dificulta muito o trabalho dos Pesquisadores Científicos. Atualmente, após apenas cinco anos das nomeações, os pesquisadores contratados em 2006 constituem praticamente metade dos pesquisadores que atuam na instituição e vêm contribuindo imensamente para sua produção científica. Dos 17 pesquisadores, 14 são Doutores (2 em andamento) e 3 são Mestres (1 em andamento). Os únicos pesquisadores da SUCEN que fizeram pós-doutoramento estão incluídos neste grupo, sendo uma dessas especializações realizada no exterior. Embora ingressando no Nível I da Carreira e nem todos os pesquisadores poderem concorrer logo no primeiro ano ao segundo nível, devido à necessidade de cumprimento de período de experiência e, mais ainda, a necessidade de tempo

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de experiência em atividade de pesquisa científica para concorrer (3, 6, 9, 12 e 16 anos para concorrer aos níveis II, III, IV, V e VI, respectivamente), podemos citar neste grupo um pesquisador nível V, três nível IV, cinco nível III e cinco nível II. É importante ainda notar que apenas 6 dos 17 não eram da SUCEN, os demais já eram assistentes de pesquisa atuantes e, portanto, possuíam o tempo de experiência em atividade de pesquisa científica necessário para concorrer aos níveis superiores. Outro ponto que deve ser considerado é a projeção de pesquisadores deste grupo fora da instituição e até mesmo do país. Quatro pesquisadores desta nova geração atualmente coordenam auxílios com financiamentos externos (CNPq e FAPESP). Nos últimos 5 anos foram publicados mais de 50 artigos em revistas indexadas em PubMed, tanto nacionais (Brazilian Journal of Infectious Diseases, Cadernos de Saúde Pública, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Neotropical Entomology, Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, Revista de Saúde Pública, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical) como internacionais (Acta Tropica, Annals of the New York Academy of Sciences, Annals of Tropical Medicine and Parasitology, Biomédica-Bogotá, Clinical and Vaccine Immunology, Emerging Infectious Diseases, Journal of Helminthology, Journal of Medical Entomology, Journal of Medical Primatology, Journal of Vector Ecology, Malaria Journal, Parasitology Research, Vector Borne and Zoonotic Diseases, Veterinary Parasitology, The Nautilus-Philadelphia). Constam também da produção destes pesquisadores 7 capítulos de livros, 29 participações em bancas de qualificação ou defesa de mestrado/doutorado e mais de 140 resumos em congressos. Três pesquisadores já foram responsáveis por organização de eventos (congressos, simpósios e oficinas) e alguns atuam como revisores de periódicos nacionais e internacionais (Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Neotropical Entomology, Revista de Saúde Pública, Cadernos de Saúde Pública, Revista Brasileira de Epidemiologia, Clinical Infectious Diseases e Vector Borne and Zoonotic Diseases). Por fim, é importante notar que alguns destes pesquisadores já são orientadores em programas de pós-graduação strictu-senso em instituições renomadas como a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e a Universidade de São Paulo. Embora a produção científica deste grupo seja considerada boa, ela poderia ser melhor. Com a estrutura engessada das instituições públicas, principalmente dos Institutos de Pesquisa, é muito difícil alavancar essas carreiras. Os pesquisadores da área laboratorial, por exemplo, entraram em laboratórios pré-existentes o que dificulta muito a formação de seu próprio grupo de trabalho, desenvolvimento de novas linhas de pesquisa e alianças com novos colaboradores. Essas dificuldades podem contribuir para a migração de pesquisadores para a Universidade, onde há maior liberdade de trabalho neste sentido. Os temas de pesquisa têm evoluído muito rapidamente e fica difícil enquadrá-los em uma estrutura pré-estabelecida, que limita a criação de novas linhas de pesquisa. A liberdade de ação e o apoio dos pesquisadores mais antigos poderiam ajudar a evolução destes pesquisadores recentes que se esforçam tanto para progredir e poderiam contribuir com o aprimoramento de laboratórios tornando a SUCEN uma importante Instituição de Pesquisa. Como dito por Jacob Palis*, um dos brasileiros de maior projeção na comunidade científica internacional “Quanto mais barreiras houver para atrair e reter cérebros, tanto pior será nossa produção científica”. _____________________ *Jacob Palis ocupa desde 1973 o cargo de Professor no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, no Rio de Janeiro, do qual foi diretor entre 1993 e 2003. É o atual presidente da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências dos Países em Desenvolvimento (TWAS). É coordenador do Instituto do Milênio ("Avanço Global e Integrado da Matemática Brasileira"). É membro estrangeiro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, da Accademia dei Lincei, da Academia Leopoldina, da Academia das Ciências de Lisboa e da Académie des Sciences.

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INVASÃO MALICIOSA

Fábio de Castro Professor Associado da Disciplina de Imunologia Clínica e Alergia do

Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP. Supervisor do Serviço de Imunologia Clínica e Alergia.

do Hospital das Clínicas de São Paulo . Vice-Coordenador e Orientador de Pós-Graduação em

Alergia e Imunopatologia da Faculdade de Medicina da USP.

Agência FAPESP - www. agencia.fapesp.br 29/06/2011

Vários patógenos empregam uma estratégia traiçoeira para invadir uma célula hospedeira: eles subvertem mecanismos existentes na própria membrana celular para ter acesso ao citoplasma. Um grupo de pesquisadores brasileiros acaba de demonstrar que o Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, utiliza esse tipo de subterfúgio, aproveitando o mecanismo de reparo das membranas das células como recurso para invadi-las.

O estudo, publicado na revista Journal of Experimental Medicine, teve origem em linhas de pesquisa desenvolvidas por Norma Andrews, do Departamento de Biologia Celular e Genética Molecular da Universidade de Maryland (Estados Unidos), e Renato Mortara, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O trabalho mereceu destaque em editoriais das revistas Cell e Nature Reviews in Microbiology. A primeira autora do artigo, Maria Cecília Fernandes, concluiu seu doutorado em 2007, com Bolsa da FAPESP, no laboratório de Mortara na Unifesp e preparou o trabalho durante seu pós-doutorado no laboratório de Andrews, nos Estados Unidos. Os outros autores do artigo são Mauro Cortez, Andrew Flannery e Christina Tam, todos da Universidade de Maryland. Andrews tem trabalhado com a interação entre o Trypanosoma cruzi e células hospedeiras pelo menos desde seu doutorado – realizado no Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP), também com Bolsa da FAPESP, com orientação de Walter Colli. A pesquisadora brasileira radicada nos Estados Unidos fez seu pós-doutorado com Victor Nussenzweig, na Universidade de Nova York, e foi professora e pesquisadora na Universidade de Yale, antes de se transferir para a Universidade de Maryland. Mortara realizou estágio no laboratório de Andrews, com apoio da FAPESP, por meio do Projeto Temático Estudos moleculares do Trypanosoma cruzi e de sua interação com células e fatores do hospedeiro in vitro e in vivo, coordenado por José Franco da Silveira Filho, também da Unifesp. Enquanto Mortara desenvolve estudos sobre a invasão celular pelo parasita, Andrews tem dado atenção especial aos estudos sobre o reparo da membrana plasmática de células eucarióticas. Segundo Mortara, Fernandes conseguiu, em seu trabalho, demonstrar o encontro dessas duas importantes vias biológicas: a invasão celular pelo parasita e o reparo de membrana.

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“O artigo teve grande repercussão porque demonstrou que o Trypanosoma cruzi é mais um microrganismo capaz de explorar um mecanismo constitutivo da célula hospedeira, além de descrever detalhadamente o mecanismo que o parasita utiliza para isso”, disse Mortara à Agência FAPESP. O laboratório de Andrews já havia desenvolvido estudos sobre as funções dos lisossomos – organelas celulares responsáveis por degradar partículas provenientes do meio extracelular – no reparo de membranas. Segundo Mortara, já se sabia que, quando a membrana da célula sofre um dano, os lisossomos são recrutados e liberam seu conteúdo, que se funde com a membrana, reparando a lesão. “O grupo de Maryland observou recentemente que esse mecanismo de reparo tem duas etapas. Quando o lisossomo se funde com a membrana, a célula continua ainda com uma ruptura. Então, uma parte da membrana é internalizada pela célula, incorporando a lesão. A ruptura é englobada por essa espécie de ‘bolha’, passando para o interior da célula, preservando as propriedades da membrana”, explicou. Fernandes juntou o conhecimento sobre a invasão do parasita e o reparo da membrana. A pesquisadora observou que o parasita provoca danos na membrana, induzindo todo o processo de internalização da lesão. “Como o parasita permanece próximo à lesão, o processo acaba levando-o para o interior da célula”, contou Mortara. Quando o parasita danifica a membrana, o dano não promove diretamente sua entrada no citoplasma. Mas desencadeia a mobilização dos lisossomos, que, além de liberar seu conteúdo para a superfície da célula, liberam também a enzima lisossomal esfingomielinase ácida (ASMase), dependente de cálcio. “O estudo mostrou que as células com ASM reduzida são resistentes à infecção e que tratar as células com enzimas extracelulares é suficiente para promover a entrada do parasita. O aumento de ASM estimula a endocitose, dando ao parasita a chance para entrar na célula”, explicou. Segundo o estudo, o uso do mecanismo de reparo da membrana pelo Trypanosoma cruzi pode ajudar a explicar por que esses parasitas tendem a infectar músculos lisos e cardiomiócitos – tecidos nos quais os mecanismos de reparo são especialmente ativos. O artigo Trypanosoma cruzi subverts the sphingomyelinase-mediated plasma membrane repair pathway for cell invasion (doi:10.1084/jem.20102518), de Maria Cecília Fernandes e outros, pode ser lido por assinantes da Journal of Experimental Medicine em jem.rupress.org/content/early/2011/04/27/jem.20102518.abstract.

NÚCLEO DE ESTUDOS DE DOENÇAS

TRANSMITIDAS POR CARRAPATOS - SUCEN

Núcleo de Estudos de Doenças Transmitidas por Carrapatos O Núcleo de estudos de doenças transmitidas por carrapatos da SUCEN vem se dedicando à organização do “II Simpósio Estadual de Doenças Transmitidas por Carrapatos” que será realizado em Campinas em 21, 22 e 23 de setembro próximo. Trazemos a seguir uma retrospectiva dos eventos promovidos pela SUCEN relacionados a este tema. O primeiro evento aconteceu em Campinas no ano de 2001 e foi organizado pela SUCEN e, desde então, os eventos seguintes nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2007 propiciaram a pesquisadores, especialistas e profissionais das equipes estaduais e municipais de saúde a discussão profícua de temas relacionados à Febre Maculosa Brasileira e à Doença de Lyme. Os encontros – seminários – contaram com a participação e contribuição valiosa de pesquisadores, especialistas e técnicos de diversas áreas e locais do país: Ministério da Saúde; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA; Universidade de São Paulo - USP, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP; Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ; Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal Rural do Rio de

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Janeiro. Nos últimos anos, o evento teve sua formatação ampliada e, a partir de 2009, passou a ser nominado “Simpósio”, com a inclusão de conferências com especialistas altamente qualificados no assunto e de um espaço de debates de temas livres com exposições orais e trabalhos apresentados em formato de pôster. A qualidade das conferências temáticas e dos trabalhos debatidos agradou muito aos quase 300 participantes no último evento, estimulando, assim, os técnicos do Núcleo a promoverem novamente um espaço de discussão e integração entre professores, alunos, especialistas, pesquisadores, profissionais de saúde e técnicos de outras áreas comprometidos com a temática. Encontra-se disponível no site da SUCEN um link com informações gerais do evento.

NÚCLEO DE ESTUDOS DE LEISHMANIOSE

VISCERAL AMERICANA - SUCEN

Núcleo de LVA - SUCEN O Núcleo de Estudos de Leishmaniose Visceral Americana nos seus dois anos de existência (junho de 2009 a junho de 2011) destinou-se a levantar os pontos relevantes da problemática da leishmaniose visceral americana (LVA) aprofundando-se em certos aspectos de sua dinâmica de transmissão no Estado de São Paulo (ESP), concernentes aos elos da cadeia epidemiológica representados pelo vetor e reservatório doméstico, além de estudos na área de Educação em Saúde e de Saúde Ambiental . Desta forma seus membros vêm trabalhando, com a expectativa de alcançar resultados que permitam contribuir para reduzir a expansão da doença no território paulista. Até o presente, no ESP, o vetor Lutzomyia longipalpis foi detectado em 115 municípios e a transmissão de LVA está estabelecida em 99 municípios (66 municípios com casos autóctones humanos e caninos, três municípios com casos autóctones humanos e 30 municípios com casos autóctones caninos) situados nas Mesorregiões de Araçatuba, Assis, Bauru, Marília, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Campinas, Piracicaba, Macro Metropolitana Paulista e Metropolitana de São Paulo.

GRUPO DE FEBRE AMARELA - SUCEN

Atividades da SUCEN frente à reemergência

da febre amarela no estado de São Paulo

Grupo de Febre Amarela A febre amarela é um grave problema de saúde pública que afeta populações humanas principalmente das regiões norte e centro-oeste do Brasil, assim como aquelas de países fronteiriços que compartilham conosco a bacia amazônica. Em ciclos com intervalos variáveis a área de transmissão silvestre da doença se expande e casos humanos são eventualmente notificados em localidades fora da área endêmica. Porém, esses são geralmente precedidos pelo adoecimento de primatas, hospedeiros naturais do vírus da febre amarela, motivo pelo qual o Ministério da Saúde preconiza a vigilância desses animais a partir da notificação e investigação do óbito de macacos. No estado de São Paulo, a SUCEN participa ativamente dessa vigilância, executando a coleta e a identificação de mosquitos nas áreas de ocorrência de óbitos de macacos para tentativa de isolamento viral, realizada pelo Instituto Adolfo Lutz - IAL. Caso o Flavivirus específico da febre amarela seja isolado de macacos mortos ou de mosquitos potenciais vetores, há tempo de organizar os serviços de saúde para a prevenção de casos humanos.

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Na década de 2000 a 2010 houve forte expansão da febre amarela no Brasil, com circulação viral em áreas silvestres dos estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, entre outros. Esse fenômeno gerou vários casos humanos com muitos óbitos fora da área endêmica, além de significativa epizootia, bem documentada no estado do Rio Grande do Sul, que reduziu dramaticamente a população de bugios (Allouata, spp.) daquele estado. Neste mesmo período, no estado de São Paulo, foram registrados casos humanos nos municípios de Santa Albertina e Ouroeste (dois casos em 2000, dois óbitos); São Carlos e Luiz Antonio (dois casos em 2008, dois óbitos); Sarutaiá, Avaré, Piraju, Tejupá e Buri (28 casos em 2009, onze óbitos). Com o objetivo de colher subsídios para ampliar a recomendação de vacinação no estado de São Paulo, o Ministério da Saúde solicitou à SUCEN informações sobre os vetores da febre amarela em municípios limítrofes entre as áreas vacinadas e não vacinadas do estado. Assim, no início de 2009, por determinação da Superintendência foi criado grupo de estudos para discussão e encaminhamento de propostas referentes à vigilância e controle da febre amarela silvestre (FAS) no estado de São Paulo, composto por técnicos de diferentes serviços regionais, laboratório central de entomologia e Departamento de Assistência Técnica aos Municípios - DATEM. A partir de fevereiro de 2009, foram realizadas reuniões mensais, inicialmente com o propósito de se estabelecer metodologia para o monitoramento entomológico na faixa indicada pelo Ministério da Saúde como “sentinela” entre regiões do estado nas quais se registraram casos humanos ou epizootias em anos anteriores e as regiões onde a febre amarela não era notificada havia décadas, portanto, tida como indene. Essa proposta foi alterada quando casos humanos autóctones foram confirmados nos municípios de Sarutaiá e Avaré, na região de Botucatu, em março de 2009. Novas notificações se sucederam até o início do mês de abril, distribuídas desigualmente por outros municípios do Serviço Regional de Sorocaba - SR04 como Piraju, Tejupá e Buri, já citados. Diante dessa situação epidemiológica avaliou-se como possível a ocorrência de transmissão silvestre do vírus de febre amarela em municípios da região metropolitana de São Paulo e em outras áreas de Mata Atlântica. Com o incremento do risco de reintrodução do ciclo urbano da doença no nosso meio houve também a necessidade de avaliação das áreas de recomendação de vacina. Considerando a missão institucional da SUCEN, o grupo de estudos avaliou as ações que deveriam ser implantadas com vistas a contribuir com a melhoria da vigilância das epizootias de primatas não humanos e também a atualização dos conhecimentos acerca da entomofauna potencialmente vetora da febre amarela silvestre no estado de São Paulo. A primeira proposta definida está vinculada à vigilância de epizootias por febre amarela, como forma de ampliar a notificação de primatas mortos. O grupo de estudos da febre amarela tem realizado treinamentos de guardas parque do Instituto Florestal e da Fundação Florestal, órgãos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, para que entendam a situação da FAS no estado, reconheçam a importância da rápida notificação da morte de macacos na sua área de atuação e, principalmente, notifiquem a referência regional para que ocorra a colheita de material para exames laboratoriais a partir de necropsia. Essa rede de referência obrigatoriamente envolve os IALs e Grupos de Vigilância Epidemiológica - GVEs regionais, bem como médicos veterinários igualmente capacitados e aparelhados para o procedimento de necropsia. Participam dessa capacitação técnica profissionais da SUCEN, Centro de Vigilãncia Epidemiológica - CVE e IAL, do nível central e regional. No período de um ano foram treinados gestores, funcionários, conselheiros das comunidades, quilombolas, de dezenas de unidades de conservação do Vale do Ribeira e do Vale do Paraíba, além de técnicos de vigilâncias epidemiológicas municipais, totalizando aproximadamente 250 pessoas. A segunda proposta diz respeito ao monitoramento entomológico. O conhecimento sobre as espécies e a distribuição de mosquitos potencialmente vetores da febre amarela silvestre no estado de São Paulo é pontual e insuficiente. Essa realidade pode ter como uma das justificativas a inexistência de notificação de caso humano autóctone neste estado entre os

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anos de 1953 e 2000, quando foram notificados dois pacientes na região de São José do Rio Preto. Esses casos geraram levantamentos entomológicos em municípios dos Serviços Regionais – SR06 (Ribeirão Preto), SR08 (São José do Rio Preto), SR09 (Araçatuba) e SR10 (Presidente Prudente) – que margeiam o rio Grande e o rio Paraná. Com a expansão da área de transmissão epizoótica verificada no Brasil nos últimos anos, que culminou com notificações que ultrapassaram a área geográfica prevista para casos humanos, inclusive no estado de São Paulo, tornou-se necessário ampliar também o conhecimento disponível sobre a fauna entomológica envolvida na transmissão da febre amarela silvestre. No âmbito da Saúde Coletiva no estado essa é uma responsabilidade exclusiva da SUCEN e foi definida como uma de suas prioridades, pois o componente entomológico sempre será levado em consideração no processo de investigação epidemiológica de foco da febre amarela, seja pelos parceiros da Secretaria da Saúde, seja pelos do Ministério da Saúde. O monitoramento entomológico tem como objetivos verificar a presença de potenciais espécies vetoras de FAS em áreas com cobertura vegetal de diferentes perfis fisionômicos; verificar a abundância de potenciais espécies vetoras de FAS; coletar, identificar e armazenar os culicídeos para posterior tentativa de detecção viral, seja por técnicas moleculares ou por isolamento, neste caso a ser realizado pelo Instituto Adolfo Lutz. As coletas dos mosquitos adultos são realizadas em áreas previamente definidas, no período mais favorável ao encontro dos vetores da FA silvestre, entre os meses de outubro e abril, pois suas formas imaturas desenvolvem-se em recipientes naturais, principalmente buracos em árvores, que são criadouros transitórios e dependem da água de chuva para se manterem ativos. Para a seleção das matas pesquisadas na atividade de monitoramento entomológico foram considerados vários fatores, entre os quais: áreas do estado sem informações sobre a fauna de mosquitos silvestres; áreas florestadas remanescentes representativas da cobertura vegetal original de estado; áreas com alguma estrutura do estado, de município ou privada, que pudessem oferecer suporte para as atividades de campo, caso necessário; áreas que contemplassem o maior número de sub-bacias hidrográficas. Após a análise de várias possibilidades, selecionaram-se 22 diferentes unidades de conservação que foram visitadas por membros do grupo, munidos de instrumento padronizado (boletim de campo). Desse modo, onze foram escolhidas, distribuídas pelos Serviços Regionais de São Paulo, São Vicente, Taubaté, Sorocaba, Campinas, Ribeirão Preto e Marília. O mapa abaixo ilustra a localização das unidades escolhidas para o monitoramento entomológico dos vetores da FA silvestre:

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No momento parte do material biológico coletado no monitoramento entomológico está sendo identificado, contudo; os resultados obtidos até agora mostram que há diversas matas com número elevado de potenciais vetores de FAS. Ao final, espera-se avaliar se haverá continuidade dessa atividade nas mesmas localidades ou se outras áreas serão amostradas.

publicações científicas

ARTIGOS PUBLICADOS Março a maio de 2011

Labruna MB, Ogrzewalska M, Soares JF, Martins TF, Soares HS, Nieri-Bastos FA, Almeida AP, Pinter A. Experimental infection of Amblyomma aureolatum with Rickettsia rickettsii. Emerging Infectious Diseases 2011, 17:829-834. Yang HM, Macoris MLG, Galvani KC, Andrighetti MTM. Follow up estimation of Aedes aegypti entomological parameters and mathematical modellings. BioSystems 2011, 103(2011):360–371. Silva EOR, Rodrigues VLCC, Silva RA, Wanderley DMV. Programa de Controle da Doença de Chagas no estado de São Paulo, Brasil: o controle e a vigilância da transmissão vetorial. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2011, 44(supl 2): 74-84. Carvalho ME, Silva RA, Wanderley DMV, Barata JMS. Programa de Controle da Doença de Chagas no Estado de São Paulo: aspectos soroepidemiológicos em microrregiões geográficas homogêneas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2011, 44(supl 2): 85-94.

Carvalho ME, Silva RA, Wanderley DMV, Barata JMS. Programa de Controle da Doença de Chagas no Estado de São Paulo: aspectos sorológicos e entomológicos de inquéritos entre escolares de ensino fundamental. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2011, 44(supl 2): 95-106.

Silva RA, Mercado VTC, Barbosa GL, Rodrigues VLCC, Wanderley DMV. Situação atual da vigilância entomológica da doença de Chagas no Estado de São Paulo. Boletim Epidemiológico Paulista 2011, 8(87):4-13. Scandar SAS, Silva RA, Cardoso Junior RP, Oliveira FH. Ocorrência de leishmaniose visceral americana na região de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, Brasil. Boletim Epidemiológico Paulista 2011, 8(88):13-22.

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Galati EAB, Condino MLF, Casanova C. Description of the female of Evandromyia rupicola (Martins, Godoy & Silva) with a review of the rupicola series (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae). Neotropical Entomology 2011, 40(3):398-404.

RESUMOS EM CONGRESSO Fevereiro de 2011

Scandar SAS, Cardoso Junior RP, Silva RA. Dengue na região de São José do Rio Preto: Comparação entre municípios com e sem transmissão no verão 2009/2010. In: XLVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2011, Natal. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba: SBMT, 2011. v. 44. Wanderley DMV, Silva RA, Domingos MF, Yasumaro S, Scandar SAS, Pauliquévis Junior C, Sampaio SMP, Rodrigues VLCC. Doença de Chagas: Notificações de triatomíneos no Estado de São Paulo na década de 2000. In: XLVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2011, Natal. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba: SBMT, 2011. v. 44. Silva RA, Mercado VTC, Barbosa GL, Rodrigues VLCC, Wanderley DMV. Situação atual da vigilância entomológica da doença de Chagas no Estado de São Paulo. In: XLVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2011, Natal. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba: SBMT, 2011. v. 44. Costa CS, Pelicioni MCF. O risco da Febre Maculosa Brasileira em parques públicos com grande circulação de pessoas, uma abordagem pedagógica no Parque do Horto Florestal de São Paulo. In: XLVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2011, Natal. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uberaba: SBMT, 2011. v. 44. Casanova C, Hamilton JGC, Colla-Jacques FE, Brazil RP, Shaw JJ. Distribution of Lutzomyia longipalpis populations by sex pheromone analysis in São Paulo State, Brazil. In: 7th International Symposium on Phlebotomine Sandflies. Kusadasi – Turkey: 2011, 25-30. Camargo-Neves VLF, Guirado M, Rodas L, Cabral GS, Pauliquévis-Jr C, Silva LJ. Evaluation of the feeding preferences of Lutzomyia longipalpis in Araçatuba, São Paulo, Brazil from 2002 to 2005 after the introduction of deltamethrin dog collars – Scalibor. In: 7th International Symposium on Phlebotomine Sandflies. Kusadasi – Turkey: 2011, 25-30.

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fatos e fotos

REUNIÃO DE ENGENHEIROS EM SOROCABA - 1960 Reunião para estabelecer regras e avaliar como a Campanha de Malária estava funcionando – suas dificuldades, seus acertos – e, também, para padronizar as atividades de campo, de laboratório e das demais técnicas.

Acervo do Laboratório de Mogi Guaçu

Em pé, da esquerda para a direita: 1- Dr. Décio Camargo Rodrigues; 2. Dr. Urias Pinto Alves; 3. Ubiratan Lemos dos Reis (Chefe de Rociado de Ribeirão Preto); 4. Engenheiro Jairo Dias Júnior 5. Engenheiro Percy Gandini; 6. Engenheiro José Benedito Meirelles França; 7. Engenheiro de Sorocaba (nome não identificado); 8. Engenheiro Jenite Noda; 9. Engenheiro de Marília (nome não identificado); 10. Dr. Eduardo Olavo da Rocha e Silva; 11. Dr. Renato de Robert Corrêa. Na frente, da esquerda para a direita: 1. Dr. José Aluísio Bittencourt da Fonseca; 2. Engenheiro Flávio Dionísio de Andrade Costa (Diretor de São Vicente); 3. Engenheiro George Kenge Ishihata; 4. Dr. Odilon Ferreira Guarita (Assistente de São Vicente).

Agradecimentos ao Benedicto da Silva, ao Drº Eduardo O. Rocha e Silva, à PqC Maria Esther de Carvalho e à PqC Vera Lúcia Cortiço Corrêa Rodrigues

pelo reconhecimendo das pessoas retratadas na fotografia

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SEMPDC (Serviço de Erradicação da Malária e Profilaxia da Doença de Chagas) - 1960 Diretor: Dr. Victor Homem de Mello Assessor: Dr. Fenelon Pinto Alves Epidemiologia ou Seção das Operações epidemiológicas: Barboza - Professor Do Deptº. de Epidemiologia da Faculdade de Higiene Rociado ou Seção das Operações de Rociado: Eng. José Benedito Meirelles França Entomologia: Dr. Renato Robert de Corrêa Laboratório: Dr. Décio Camargo Rodrigues Transportes: Engº. Flávio Dionísio de Andrade Costa Zonas do Interior: I – São Vicente: Dr. Odilon F. Guarita Assistente Eng. Jenite Noda II – Campinas: Dr. José Aluísio Bittencourt da Fonseca Ass. Dr. Eduardo O. Rocha e Silva III – Sorocaba: Dr. Urias Pinto Alves Assessor: Engenheiro Secretaria da Fazenda IV – Ribeirão Preto: Dr. Octávio Alves Ferreira Ass. Eng. Ubiratan Lemos dos Reis V – São José do Rio Preto: Dr. Pádua Ribeiro Assistente: Arquiteto (não identificado), sucedido pelo Dr. Cássio da Silva Melo VI – Marília/Bauru: Professor da USP (não identificado) e ex-funcionário do Serviço de Malária que retornou à origem. Ass. Engº. José Maluf VII – Presidente Prudente: Diretor Dr. Eduardo Freitas de Almeida e Souza – médico que havia participado da Campanha de Combate ao A. gambiae no nordeste. Eng. George K. Ishihata (Chefe de Operação de Campo) VIII Araçatuba: Engº. Percy Gandini (criador do logotipo da SUCEN) Engº. Jairo Dias Jr.

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seção cult

clarice lispector

Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América. Morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu 57° aniversário.

© Projeto Releituras Arnaldo Nogueira Jr

A REPARTIÇÃO DOS PÃES Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-lo na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço. À espera do almoço, bebíamos sem prazer, à saúde do ressentimento: amanhã já seria domingo. Não é com você que eu quero, dizia nosso olhar sem umidade, e soprávamos devagar a fumaça do cigarro seco. A avareza de não repartir o sábado, ia pouco a pouco roendo e avançando como ferrugem, até que qualquer alegria seria um insulto à alegria maior. Só a dona da casa não parecia economizar o sábado para usá-lo numa quinta de noite. Ela, no entanto, cujo coração já conhecera outros sábados. Como pudera esquecer que se quer

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mais e mais? Não se impacientava sequer com o grupo heterogêneo, sonhador e resignado que na sua casa só esperava como pela hora do primeiro trem partir, qualquer trem – menos ficar naquela estação vazia, menos ter que refrear o cavalo que correria de coração batendo para outros, outros cavalos. Passamos afinal à sala para um almoço que não tinha a bênção da fome. E foi quando surpreendidos deparamos com a mesa. Não podia ser para nós... Era uma mesa para homens de boa-vontade. Quem seria o conviva realmente esperado e que não viera? Mas éramos nós mesmos. Então aquela mulher dava o melhor não importava a quem? E lavava contente os pés do primeiro estrangeiro. Constrangidos, olhávamos. A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse. Junto do prato de cada mal-convidado, a mulher que lavava pés de estranhos pusera – mesmo sem nos eleger, mesmo sem nos amar – um ramo de trigo ou um cacho de rabanetes ardentes ou uma talhada vermelha de melancia com seus alegres caroços. Tudo cortado pela acidez espanhola que se adivinhava nos limões verdes. Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. 'Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe. Em nome de nada, era hora de comer. Em nome de ninguém, era bom. Sem nenhum sonho. E nós pouco a pouco a par do dia, pouco a pouco anonimizados, crescendo, maiores, à altura da vida possível. Então, como fidalgos camponeses, aceitamos a mesa. Não havia holocausto: aquilo tudo queria tanto ser comido quanto nós queríamos comê-lo. Nada guardando para o dia seguinte, ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que me fazia sentir. Era um viver que eu não pagara de antemão com o sofrimento da espera, fome que nasce quando a boca já está perto da comida. Porque agora estávamos com fome, fome inteira que abrigava o todo e as migalhas. Quem bebia vinho, com os olhos tornava conta do leite. Quem lento bebeu o leite, sentiu o vinho que o outro bebia. Lá fora Deus nas acácias. Que existiam. Comíamos. Como quem dá água ao cavalo. A carne trinchada foi distribuída. A cordialidade era rude e rural. Ninguém falou mal de ninguém porque ninguém falou bem de ninguém. Era reunião de colheita, e fez-se trégua. Comíamos. Como uma horda de seres vivos, cobríamos gradualmente a terra. Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come. Comi com a honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome. Nunca Deus foi tão tomado pelo que Ele é. A comida dizia rude, feliz, austera: come, come e reparte. Aquilo tudo me pertencia, aquela era a mesa de meu pai. Comi sem ternura, comi sem a paixão da piedade. E sem me oferecer à esperança. Comi sem saudade nenhuma. E eu bem valia aquela comida. Porque nem sempre posso ser a guarda de meu irmão, e não posso mais ser a minha guarda, ah não me quero mais. E não quero formar a vida porque a existência já existe. Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o meu. Nós somos fortes e nós comemos. Pão é amor entre estranhos.

Do livro "Laços de Família"