Disfagia na distrofia muscular de Duchenne: recomendações ...
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HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL
TRABALHO DE CONCLUSA�O DE CURSO
GRADUAÇÃO DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM CLÍNICA MÉDICA
INGRID ALMEIDA GOMES FERREIRA
Disfagia: uma manifestação grave em paciente com
Dermatomiosite. Relato de caso e revisão de literatura
São Paulo
2015
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INGRID ALMEIDA GOMES FERREIRA
Disfagia: uma manifestação grave em paciente com
Dermatomiosite. Relato de caso e revisão de literatura
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Comissão de Residência Médica do Hospital do
Servidor Público Municipal, para obtenção do
título de Residência Médica.
Área: Clínica médica (Reumatologia).
Orientadora: Dra Pérola Goberstein Lerner
São Paulo
2015
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Disfagia: uma manifestação grave em paciente com
Dermatomiosite. Relato de caso e revisão de literatura
Autorizo a inclusão integral deste Trabalho de Conclusão de Curso de minha autoria na Biblioteca Virtual do Município de São Paulo. Autorizo a divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
__________________________________
Ingrid Almeida Gomes Ferreira Residente de Clínica Médica
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FICHA CATALOGRÁFICA
Ferreira, Ingrid Almeida Gomes
Disfagia: uma manifestação grave em paciente com dermatomiosite:
relato de caso e revisão de literatura / Ingrid Almeida Gomes Ferreira. São
Paulo: HSPM, 2015.
31 f.: il.
Orientadora: Drª. Pérola Goberstein Lerner.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de
Residência Médica do Hospital do Servidor Público Municipal de São
Paulo, para obter o título de Residência Médica, na área de Reumatologia.
1. Dermatomiosite 2. Disfagia I. Hospital do Servidor Público Municipal
II. Título.
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Agradecimento: À Dra Pérola Goberstein Lerner, pela colaboração e orientação na execução deste trabalho.
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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
(Carl Jung)
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RESUMO A dermatomiosite (DM) é uma doença crônica do grupo das miopatias
inflamatórias manifestada por fraqueza muscular proximal além de lesões
cutâneas características em regiões típicas do corpo. A disfagia neste grupo de
pacientes pode ser um problema sério implicando severidade no quadro e
também um indicador de pior prognóstico da doença, podendo ocorrer em mais
de 50% dos pacientes. É relatado o caso de uma paciente de 42 anos de idade
com fraqueza muscular proximal nos 4 membros, perda ponderal de 60kg,
disfagia para sólidos e líquidos com necessidade de colocação de sonda
nasoenteral (SNE) e posteriormente gastrostomia percutânea (GTT). Os
exames laboratoriais iniciais revelaram aumento de enzimas musculares e
transaminases. A eletroneuromiografia evidenciou miopatia de 4 membros e
potenciais de fibrilação em repouso. A biópsia muscular revelou presença de
miosite. Foi iniciada terapia com prednisona na dose de 1mg/kg e
posteriormente feita associação com azatioprina. Após alguns meses do inicio
da terapia houve melhora importante na força muscular dos 4 membros e do
quadro cutâneo, porém com pouca melhora no quadro de disfagia. Quase um
ano após o inicio do tratamento, a paciente permanece necessitando do uso de
GTT apesar da remissão dos demais sintomas. Em conclusão, os casos de
disfagia refratária necessitam de intervenção precoce devido a sua potencial
morbimortalidade.
Palavras-chave: Dermatomiosite, Disfagia
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ABSTRACT:
Dermatomyositis (DM) is a chronic disease from the group of idiopathic inflammatory myopathies characterized by proximal muscle weakness and skin lesions in typical areas. Dysphagia in this group of patients can be a serious problem and also an indicator of poor prognosis. Dysphagia can occur in more than 50% of patients. We reported the case of a 42 year-old woman presenting proximal muscle weakness in four limbs, weight loss(60kg), dysphagia to both solids and liquids with the percutaneous enteral feeding. Laboratory findings showed increased muscle enzymes and transaminases. Electromyography demonstrated evidence of a proximal myopathy and fibrilation. Muscle biopsy revealed myositis. Prednisone was administered at a dose of 1mg / kg and later combined to azathioprine. After the treatment started, there was a significant improvement in muscle strength and skin lesions. However, there was no improvement in dysphagia. Almost a year later, the patient remains in use of percutaneous enteral feeding despite the remission of other symptoms. In conclusion, cases of refractory dysphagia require early intervention due to its potential morbidity and mortality.
Keywords: Dermatomyositis, dysphagia
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SUMÁRIO
REVISÃO DE LITERATURA......................................................................................... 10
OBJETIVO..................................................................................................................... 15
METODOLOGIA............................................................................................................ 16
RELATO DO CASO ...................................................................................................... 17
DISCUSSÃO.................................................................................................................. 21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 28
ANEXOS........................................................................................................................ 31
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REVISÃO DE LITERATURA
As miopatias inflamatórias idiopáticas (MII) são um grupo heterogêneo
de desordens autoimunes caracterizadas por inflamação e fraqueza muscular.
De acordo com a classificação originalmente proposta por Bohan e Peter em
1975 são reconhecidos cinco subtipos de doença: polimiosite primária
idiopática (PM), dermatomiosite primária idiopática (DM), PM ou DM associada
à neoplasia, PM ou DM juvenil e PM ou DM associada a outras doenças do
colágeno.1
A etiopatogenia das miopatias inflamatórias ainda é desconhecida.
Existem relatos na literatura de associação com antígenos de
histocompatibilidade, autoimunidade e fatores ambientais. Infecções virais tais
como influenza A, hepatite B, Coxsackie e Picornavírus, vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e vírus T-linfotrópico humano (HTLV) podem
desencadear um quadro de DM. A lesão primária da doença no tecido
muscular é evidenciada histologicamente pelo infiltrado celular, rico em
linfócitos T, B e macrófagos, e, pela necrose das fibras musculares.2,3,4
A incidência anual de DM e PM é estimada em menos de 10 casos por
milhão de indivíduos. Em geral, as mulheres são mais afetadas do que os
homens, em uma proporção estimada de 2:1, de modo que há uma distribuição
bimodal, com o primeiro pico de surgimento da doença entre 5 – 15 anos de
idade e o segundo entre 45 – 65 anos.2
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O diagnóstico das MII definido por Bohan e Peter inclui os seguintes
critérios: 1.Fraqueza muscular proximal e simétrica; 2. Elevação de enzimas
musculares séricas - creatinofosfoquinase (CPK) ou aldolase ou desidrogenase
lática (DHL) ou aminotransferases; 3. Eletroneuromiografia compatível com
miosite (potenciais de unidade motora polifásicos de baixa amplitude e de curta
duração; fibrilações, mesmo em repouso; descargas de formato bizarro e
repetitivas) 4. Exame anatomopatológico de biópsia muscular com
anormalidades como degeneração, regeneração, necrose, fagocitose e
infiltrado mononuclear intersticial; 5 lesões cutâneas características de DM −
heliótropo; pápulas de Gottron; sinal de Gottron. O diagnóstico de DM é
considerado definitivo, provável ou possível quando o rash cutâneo é
associado a 3,2, ou 1 dos critérios supracitados respectivamente.1
A DM é uma doença crônica caracterizada por fraqueza muscular proximal
e a presença de erupção cutânea característica em áreas típicas. O quadro
muscular da doença inclui perda de força proximal, principalmente em tríceps e
quadríceps sendo o acometimento da musculatura normalmente de forma
simétrica e com acentuação progressiva.4 Além do envolvimento da
musculatura esquelética, também pode acometer os sistemas cardíaco,
pulmonar e o trato gastrointestinal.5
A disfagia neste grupo de pacientes pode ser um problema sério
implicando severidade no quadro e também um indicador de pior prognóstico
da doença. A disfagia pode ocorrer em mais de 50% dos pacientes e pode
resultar do envolvimento da musculatura orofaríngea, do esôfago, ou de ambas
estruturas. Pode ser notada ainda disfonia, com voz de característica
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anasalada nestes pacientes. A dificuldade do transporte através da cavidade
oral, a retenção faríngea e a alteração na motilidade esofágica superior podem
ser comprovadas através de exames como a videofluoroscopia, sendo as
complicações mais comumente observadas a aspiração nasal ou traqueal.6,7,8
A relação entre DM e malignidade é bem estabelecida na literatura. Por
sua vez, a presença de câncer é mais frequente na DM do que na PM.9 Em
geral, carcinomas são mais frequentes do que sarcomas e malignidades
linfoproliferativas.10 A DM pode surgir como uma síndrome paraneoplásica,
precedendo o tumor em 34% dos casos, suceder à manifestação neoplásica
em 40% dos casos ou as duas concorrerem concomitantemente (26%).9,11 A
miosite pode ou não melhorar com o tratamento da neoplasia sendo que a DM
neoplásica é menos responsiva aos corticoides sistêmicos.10,12
Os corticoesteróides (CE) representam as drogas de primeira linha no
tratamento da DM. A prednisona via oral é iniciada na dose de 1-2mg/kg/dia.
Geralmente utiliza-se essa dosagem nas primeiras 6-8 semanas. A
corticoterapia deve ser mantida até a melhora clínica e laboratorial, que pode
demorar de semanas a meses. A redução da dosagem deve ser gradual, tendo
por base a melhora clínica e queda dos níveis de CK buscando atingir a menor
dose efetiva do corticoide.13. Em casos graves com envolvimento pulmonar ou
cardíaco pode ser necessário a pulsoterapia endovenosa com
metilprednisolona na dose 20-30 mg/kg/dia durante 3 dias consecutivos.14
Atualmente é preconizada a introdução de imunossupressores (IS) desde
o início do tratamento, tanto com a finalidade de reduzir a dose de
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corticosteroides, após remissão do quadro agudo, quanto para os casos de
prevenir eventual falha no tratamento com CE. Com o uso isolado de CE,
estima-se que aproximadamente 20% a 30% dos pacientes mantêm doença
ativa com fraqueza e deterioração muscular persistentes ou recaída após o
controle inicial.15 Metotrexate (MTX), azatioprina (AZA), ciclosporina A (CSA) e
ciclofosfamida (CFA), isolados ou em associação, são considerados agentes
imunossupressores de escolha.16
Nos pacientes refratários ao tratamento com corticoides e
imunossupressores, evidências preconizam o uso de imunoglobulina humana
intravenosa (IGIV). Esta recomendação é baseada em dois estudos. O
medicamento foi avaliado em ensaio clínico duplo-cego, placebo controlado em
15 pacientes com DM refratária ao tratamento com corticoides e
imunossupressores. No grupo tratado com IGIV, houve resposta
estatisticamente significativa na avaliação do escore de força muscular e dos
sintomas neuromusculares após 3 meses.16 Em estudo observacional com 35
pacientes com PM refratária à corticoterapia e a imunossupressores, foi
administrada IGIV mensalmente (durante 4 – 6 meses). Após 6 meses, houve
decréscimo de 50% da dose inicial de prednisona, redução dos níveis de CPK
e melhora da força muscular. Foi evidenciada resposta clínica satisfatória em
70% dos pacientes, que foi mantida em aproximadamente metade deles ao
longo de 3 anos de observação.17 O uso de imunoglobulina intravenosa não se
relacionou com eventos adversos sérios.18
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De acordo com dados encontrados na literatura, a taxa de sobrevida
média em 5 anos dos pacientes com miopatias inflamatórias idiopáticas varia
em torno de 63% a 95% podendo a causa de morte ser decorrente de
acometimento cardíaco, pulmonar ou a existência de câncer associado.19,20,21
Dentre os fatores de mau prognóstico relacionados a esta doença destacam-se
a idade avançada ao diagnóstico, severidade da miosite, a presença de
disfagia, o envolvimento do aparelho cardiopulmonar, a associação com
neoplasias e atraso no início do tratamento.22
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OBJETIVO
Realizar uma revisão de literatura sobre a dermatomiosite;
Relatar o caso de uma paciente atendida no setor de Reumatologia do HSPM,
com diagnóstico de dermatomiosite associada à disfagia grave, sua
repercussão na qualidade de vida do paciente bem como evolução e desfecho
terapêutico.
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METODOLOGIA
Este estudo foi realizado de acordo com as normas para pesquisa
envolvendo seres humanos e obedecendo aos preceitos do Código de
Nuremberg.
Trata-se de um relato de caso, retrospectivo e analítico. Foram
levantados os dados do prontuário do paciente em estudo após autorização de
acesso do Setor de Arquivos Médicos do referido Hospital. Além disso, foi
aplicado ao indivíduo analisado, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Anexo 1), autorizando, assim, os pesquisadores a terem acesso aos seus
dados médicos, se comprometendo a não divulgarem dados pessoais que
possam identificar o paciente.
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RELATO DO CASO
Paciente do sexo feminino, raça branca, 42 anos de idade, casada, do lar,
natural e procedente de São Paulo - SP.
Paciente admitida com queixa de mialgia e fraqueza muscular há cerca de
4 meses, apresentando dificuldade importante para deambular, associada a
disfagia incapacitante (sólidos e líquidos) e emagrecimento de 60 kg neste
período (referiu que pesava 160kg). Negava comorbidades prévias ou hábitos
de etilismo/tabagismo. Procurou pronto socorro deste hospital, sendo procedida
internação hospitalar e solicitada uma avaliação da Reumatologia.
Na avaliação e exame físico iniciais apresentava-se em regular estado
geral, ausência de força muscular nos 4 membros (não conseguia deambular
ou ficar em pé, estava acamada e locomovia-se apenas através de cadeira de
rodas). Havia presença de lesão violácea nas pálpebras superiores
(Heliótropo), e eritema violáceo na face dorsal das articulações
metacarpofalangeanas (Sinal de Gottron). Exame do aparelho cardiovascular,
do aparelho pulmonar e do abdome sem alterações significativas.
Permaneceu internada por 14 dias em outubro de 2014, período no qual
realizou diversos exames para rastreio de neoplasia oculta que foram
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inconclusivos seguidos de biópsia muscular que evidenciou miopatia
inflamatória.
Os exames da admissão revelaram CK: 1044U/L (VR: 26-140), DHL:
998U/L (VR: 240-480), AST: 123U/L (VR: 12-38), ALT 105U/L (VR: 7-41),
Proteína C Reativa (PCR): 11,1 (VR: até 0,5mg/dl), Anticorpo antinuclear (FAN)
reagente 1/1280 e demais auto-anticorpos (Anti-SM, Anti-RNP, Anti SSA, Anti-
SSB, Anti Scl70) não reagentes. A eletroneuromiografia demonstrou sinais de
miopatia de 4 membros de predomínio proximal e potenciais de fibrilações em
repouso.
Para investigação complementar de neoplasia oculta a paciente
realizou tomografia computadorizada de tórax, abdome, pelve, USG
transvaginal, USG de mamas, endoscopia digestiva alta e colonoscopia. Todos
estes exames não encontraram alterações significativas dos padrões da
normalidade. O estudo contrastado de EED demonstrou zona de estreitamento
na porção proximal do esôfago e a videolaringoscopia disfagia orofaríngea
grave, sendo orientado SNE exclusiva e acompanhamento fonoaudiológico
devido alto risco de broncoaspiração e outras complicações. A biópsia
muscular realizada em 17/11/2014 evidenciou infiltrado linfoplasmocitário,
intersticial e necrose de fibras musculares compatível com miopatia
inflamatória. Baseado nestes achados, foi feito o diagnóstico de
Dermatomiosite (DM)
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Figura 1. Estudo contrastado de Esfôfago-Estômago-Duodeno (EED) evidenciando estreitamento proximal do esôfago. Exame prejudicado devido ingesta insuficiente do contraste baritado em virtude da disfagia grave da paciente. Foi iniciada terapia com prednisona 1mg/kg/dia e associação com
azatioprina. Após 8-12 semanas de inicio do tratamento a paciente apresentou
melhora importante do quadro de fraqueza muscular, com retorno progressivo
da força muscular nos 4 membros e da deambulação, remissão do quadro
cutâneo, porém sem melhora expressiva na queixa de disfagia. Os exames
laboratoriais de CK, AST, ALT, DHL e PCR que se encontravam alterados
incialmente, retornaram aos valores encontrados na normalidade. Ao final de
junho de 2015 foi internada novamente no serviço para realização de
gastrostomia para retirada de SNE e treinamento da musculatura da deglutição
com fonoterapia.
Ex. Laboratoriais Out/2014 Nov/2014 Mar/2015 Ago/2015
CK 1044 149 22 63
DHL 998 337 239 201
TGO (AST) 123 58 29 19
TGP (ALT) 105 112 47 18
Quadro 1. Evolução laboratorial – antes e após o inicio do tratamento
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Figura 2. Gastrostomia percutânea para evolução de dieta enteral exclusiva
Atualmente a paciente segue em acompanhamento ambulatorial regular
com a equipe de Fonoaudiologia e Reumatologia, ainda em uso de terapia com
corticoide e imunossupressor (azatioprina) com diminuição progressiva da dose
do corticoide, realizando fonoterapia regularmente visando aumento na força
das estruturas orofaríngeas e otimização da deglutição
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DISCUSSÃO
A DM é uma doença crônica do grupo das miopatias inflamatórias
manifestada por fraqueza muscular proximal (cintura escapular e pélvica) e
lesões cutâneas características em regiões típicas do corpo. O envolvimento da
pele na DM pode ter diversas manifestações tais como uma erupção eritemato-
violácea nas pálpebras (sinal do Heliótropo); erupções eritematosas na face,
pescoço e região anterior do tórax; erupção eritematosa em região posterior
dos ombros (sinal do “xale” ou “manto”); lesões violáceas sobre articulações
interfalangeanas ou metacarpofalangeanas, cotovelos ou joelhos (pápulas de
Gottron); descamação, fissuras, ceratose e hiperpigmentação simétricas e não
pruriginosas nas palmas (“mãos de mecânico”); fotossensibilidade e outras
alterações.23, 24
A paciente do presente estudo apresentou lesões dermatológicas do tipo
“heliótropo” e sinal de Gottron em articulações interfalangeanas e
metacarpofalangeanas na avaliação inicial, o que aliado aos critérios de Bohan
e Peter1 citados anteriormente facilitou a caracterização do quadro de DM. No
entanto, as lesões cutâneas regrediram prontamente logo ao início do
tratamento com corticoterapia e imunossupressão.
Além do envolvimento da musculatura estriada esquelética, a DM
envolve ainda a musculatura respiratória, o miocárdio e o trato gastrointestinal.
É estimado que em torno de 10-73% dos pacientes que apresentem miopatias
inflamatórias sofram de algum grau de disfagia. A disfagia ocorre com mais
frequência em portadores de miosite por corpúsculo de inclusão (MCI) do que
na PM/DM. Este distúrbio pode ocorrer devido o comprometimento da
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musculatura estriada orofaríngea envolvida na deglutição.5 Da mesma forma, a
musculatura lisa do esôfago e estômago também podem estar afetadas
levando a disfunção motora destes órgãos. Como consequência, sobrevém
peristalse ineficiente que resulta em refluxo gastroesofágico, gastroparesia e
constipação devido à inércia colônica.25 Estas disfunções na deglutição são
consideradas grande causa de morbidade e mortalidade nestes pacientes e
podem levar a complicações ameaçadoras a vida tais como caquexia
relacionada a distúrbio severo na deglutição, e pneumonias aspirativas de
repetição.26,27
A paciente deste estudo apresentou perda ponderal de 60kg, disfagia
para sólidos e líquidos inclusive engasgos com a própria saliva com
necessidade urgente de introdução de dieta exclusiva por sonda nasoenteral e
programação de GTT pelo alto risco de broncoaspiração. Em casos nos quais
os sintomas da disfagia se sobrepõem aos demais achados clínicos, como
ocorreu com a paciente deste relato, GTT percutânea deve ser realizada
precocemente para diminuir os efeitos deletérios tanto na qualidade de vida
quanto no risco de pneumonia por aspiração, embora haja relatos na literatura
de altas taxas de mortalidade neste grupo de pacientes que necessitem de tal
intervenção.5
Devido a perda ponderal dramática da paciente em poucos meses, todo
esforço foi envidado no sentido de encontrar uma neoplasia associada,
ocorrência frequente neste grupo de pacientes. Todavia, toda investigação
resultou negativa e a acentuada perda ponderal verificada deveu-se ao grau
severo de disfagia, que repercute até o presente, embora tenha ocorrido a
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regressão do processo inflamatório muscular evidenciado pela normalização
das enzimas musculares.
Os exames subsidiários que podem auxiliar no diagnóstico da disfagia
são a videofluoroscopia da deglutição, que pode contribuir para identificar o
local exato da alteração fisiológica, uma vez que analisa todas as fases da
deglutição desde a oral até as fases faríngea e esofágica. O exame contrastado
de esôfago-estômago-duodeno (EED) é um método seguro simples e não
invasivo que pode demonstrar distúrbios na motilidade das estruturas
pesquisadas.5 A manometria de esôfago é outro método com boa sensibilidade
na avaliação da disfagia, especialmente naqueles pacientes com envolvimento
esofágico.28,29
A paciente do presente estudo realizou EED que evidenciou zona de
estreitamento na porção proximal do esôfago, entretanto, o exame com
contraste de bário ficou prejudicado em sua análise porque a paciente não
conseguiu deglutir quantidades suficientes do contraste para se obter
informação conclusiva do padrão de disfagia existente. Por razões técnicas, a
paciente não realizou manometria esofágica. Os achados clínicos e dos
exames complementares levam a conclusão de que o tipo de disfagia da
paciente é de comprometimento orofaríngeo e também da musculatura lisa do
esôfago.
Evidências sugerem que níveis de CK podem ser usados para
determinar atividade da doença, porém não existe muita correlação com o grau
de comprometimento clínico.30 Como verificado no presente caso, a
normalização dos níveis de CK, bem como a melhora na força muscular dos 4
membros, após instituída a terapia, não se acompanhou da reversão total dos
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sintomas. Esta dissociação entre a força nos membros e severidade do
acometimento orofaríngeo foi descrita na pesquisa realizada por Kim et al, a
qual não encontrou correlação entre a força muscular e a severidade da
disfagia.31 Isto reforça, portanto, a dissociação ocorrida com a paciente desta
pesquisa.
Em relação aos marcadores de autoimunidade, estes são classificados
em específicos e não específicos para miosite. Dentre os não específicos, o
fator antinuclear (FAN) é positivo em 80% dos casos.32 Os anticorpos ditos
miosite-específicos são encontrados em até 30% dos pacientes (anti-Jo-1, anti-
PL-7, anti-PL-12, anti-EJ, anti-Mi-2). Sua presença caracteriza a síndrome
relacionada ao autoanticorpo Jo-1 cujas manifestações clínicas incluem: febre,
artrite, fenômeno de Raynaud e doença pulmonar intersticial. Isto define a
chamada síndrome antissintetase, presente em 20% dos pacientes com PM.33
O anticorpo anti-RNP está presente quando doença mista do tecido conjuntivo
ou lúpus eritematoso sistêmico está relacionado a dermatomiosite, e o anti-Scl
70 quando é a esclerodermia a doença associada.34
A paciente em questão não apresentou outros marcadores de doença
autoimune além do FAN. A pesquisa de autoanticorpos miosite-específicos
estava indisponível no momento, mas a ausência dos autoanticorpos anti- Sm,
anti-RNP, anti-SSA, anti-SSB e anti- Scl 70 sugerem, neste caso, a ocorrência
de DM em sua forma primária, portanto, não associada a outras doenças do
colágeno.
Os fatores de mau prognóstico associados a DM mais relatados na
literatura são a idade avançada, a associação com malignidade, envolvimento
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cardíaco, pulmonar, faríngeo e o atraso no início do tratamento.30 A paciente
deste estudo apresentou somente a disfagia como fator de mau prognóstico da
doença.
O tratamento da dermatomiosite é fundamentado principalmente na
corticoterapia,14 embora atualmente alguns autores sugerem que seja
preconizada a associação com imunossupressores desde o início do
tratamento para melhor controle da doença.15,16 Nos pacientes refratários a
terapia com CE e IS por sua vez, é preconizada a administração de
imunoglobulina intravenosa em doses elevadas, com alto grau de remissão de
doença. 16
A paciente do presente relato fez uso de prednisona desde o momento
do diagnóstico sendo posteriormente associada azatioprina com boa tolerância
e boa resposta manifestada por melhora na força muscular nos 4 membros.
Entretanto, os sintomas de disfagia não melhoraram e a paciente permanece
recebendo dieta via gastrostomia até o presente momento.
Igual importância deve ser dada as intervenções não farmacológicas em
pacientes com miopatias inflamatórias como fisioterapia e fonoterapia evitando
desse modo maior deterioração física e psicológica no curso da doença.35,36 A
paciente do presente relato apresentava inicialmente muita dificuldade para se
comunicar através da fala, além de sialorréia importante, fato este que
melhorou após inicio do tratamento fonaudiológico através do treinamento das
estruturas orofaríngeas o que enfatiza a necessidade da abordagem
multidisciplinar na condução desses pacientes.
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Em uma série de 301 pacientes com PM/DM, reportados por I. Marie et
al, 73 (24,3%) não responderam à terapia com esteroides, quanto a regressão
dos sintomas relacionados com o envolvimento do esôfago (disfagia, afagia,
tosse enquanto se alimentava, refluxo gastroesofágico para o faringe e
rouquidão da voz). A este grupo foi administrado imunoglobulina intravenosa
(IGIV). O esquema terapêutico usado foi 1mg/kg/peso de IGIV por 2 dias
seguidos no mês durante 6 meses. Sessenta pacientes (82,2%) exibiram
regressão dos sintomas esofágicos embora alguns deles ainda tenham
experimentado disfagia intermitente.
Esta seria uma possibilidade a ser aplicada na paciente do presente
caso, pois a persistência dos sintomas esofágicos, apesar da melhora dos
outros parâmetros, pôde classificá-la como refratária a terapêutica com
esteroides e, portanto qualificá-la para inclusão na terapia com IGIV que se
mostrou com alto percentual de resolução dos sintomas na série supracitada.
Em conclusão, a disfagia pode ser um desafio tanto diagnóstico quanto
terapêutico em portadores de miopatias inflamatórias. É muito importante a
detecção precoce dos sinais iniciais de disfunção na deglutição, visto que, aí
reside a principal causa de morbimortalidade por pneumonia aspirativa. A
demora da regressão dos sintomas esofágicos sinaliza para a busca de
tratamentos alternativos já consagrados na literatura como a imunoglobulina
intravenosa que tem demonstrado remissão da doença em casos refratários.
Além disso, é importante o acompanhamento multidisciplinar na condução
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desses pacientes desde o inicio do quadro para se obter melhor resposta ao
tratamento e também reduzir possíveis sequelas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO
Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) A senhora está convidada a participar como voluntário de um relato de caso realizado pelos pesquisadores Ingrid Almeida Gomes Ferreira e Pérola Goberstein Lerner O que é um relato de caso? Relato de caso é uma forma de comunicação científica onde o histórico de uma doença, tratamento ou cirurgia é descrito para educação dos profissionais de saúde. O assunto em questão geralmente é um fato raro ou incomum que, por seu valor instrutivo, pode ajudar outros profissionais a tratar de pacientes que sofram de uma condição semelhante. O relato de caso pode ser apresentado em reunião científica, aula, congresso da área da saúde ou em artigo publicado em revista especializada. O relato do seu caso não tem o objetivo de tratar de sua vida pessoal. Seu nome não será revelado e, no caso de haver fotos, essas serão somente usadas para comunicação científica, sempre procurando preservar sua identidade com tarjas para impedir seu reconhecimento. Você não receberá nenhum pagamento pela divulgação do trabalho, nem terá nenhum custo financeiro ou prejuízo no seu tratamento se não quiser participar. O estudo ainda será submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital do Servidor Público Municipal, antes de qualquer tipo de divulgação. Caso necessite de mais informações, o telefone de contato do CEP é 3397-8069. Após receber todos os esclarecimentos, caso aceite fazer parte deste estudo, a senhora deve assinar este documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Os pesquisadores estarão à sua disposição para discutir as dúvidas que a senhora possa ter a respeito deste estudo e sua participação.
Eu, _________________________________________________________, RG n.º _______________________, autorizo a divulgação de informações a respeito da doença e do tratamento para exclusiva finalidade educacional e
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científica, bem como a utilização da respectiva documentação médica, incluindo filmes e fotografias, para as mesmas finalidades.
São Paulo, ________ de ____________________ de _______.