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Revista FAMECOS Porto Alegre nº 35 abril de 2008 quadrimestral 95 MOBILIDADES TECNOLÓGICAS Nos últimos anos, para compreender a hipercomplexida- de cultural e comunicacional das sociedades contempo- râneas, tenho utilizado como hipótese de trabalho a idéia de que essa hipercomplexidade advém da simulta- neidade de seis formas de cultura que coexistem, sobre- põem-se, intercambiam-se e misturam-se inextricavel- mente: a cultura oral, a escrita, a impressa, a cultura de massa, das mídias e cibercultura 1 . O critério empregado para essa divisão está baseado na gradativa introdução histórica de novos meios de produção, armazenamento, transmissão e recepção de signos no seio da vida social. Longe de se excluírem mutuamente, a tendência dos meios é cumulativa e integrativa. Os novos meios vão chegando, levando os anteriores a uma refuncionaliza- ção e provocando uma reacomodação geral na paisa- gem midiática. Em um texto colaborativo do site New Media Literacies, encontrei uma divisão quase similar à minha, que apre- senta as seguintes etapas na evolução histórica dos sis- temas de mídia: ancestral (cultura oral), residual (cultu- ra impressa), dominante (cultura de massas) e emergente (cultura participativa). O que é mais importante não é a divisão em si, mas a constatação de que a emergência de um novo sistema não apaga o que veio antes, mas adere como uma nova camada, tornando a ecologia midiática ainda mais estratificada. Seguindo a minha divisão, vale lembrar que, embora as culturas oral, escrita e impressa ainda estejam vivas e ativas, não resta dúvida de que as três últimas - massiva, das mídias e cibercultura - são as mais nitidamente visíveis. Todo o quadro também nos leva a notar que, especialmente em países como o Brasil, apesar do domí- nio incontestável da cultura de massas, esta é apenas parte de uma ecologia midiática híbrida que se constitui em princípio organizador da sociedade. Os sistemas midiáticos consistem de tecnologias comunicacionais e das mais variadas práticas econômicas, políticas, insti- tucionais e culturais que crescem com eles. Já enfatizei em muitas ocasiões, mas não custa repetir, que cada uma das formações culturais apresenta carac- teres que lhe são próprios e a distinção entre eles nos leva a constatar que as mídias não funcionam como um monolito indistinto. Embora misturada às outras, cada formação cultural funciona socialmente de maneiras di- versas. A cultura dos meios de massa, do jornal à televi- são, opera socialmente de modo muito diverso da cultu- ra das mídias e de maneira ainda mais distinta do modo como opera a cibercultura. Quando isso é levado em consideração, evitam-se os equívocos correntes que nas- cem da imposição sobre uma formação cultural de crité- rios de julgamento e crítica que são empregados para uma formação cultural distinta. Para os propósitos deste artigo, o que merece ser trazi- Lucia Santaella PUC/SP [email protected] RESUMO Chamando atenção para a impressionante aceleração nas transformações dos meios tecnológicos de produção de linguagens, que, em menos de dois séculos, da inven- ção da fotografia já chega hoje até a internet móvel, este artigo se detém na cultura da mobilidade, uma variação avançada da cibercultura, baseada nos dispositivos móveis aliados ao sistema de posicionamento global (CPS). Uma das práticas mais relevantes que essa nova aliança vem trazendo é a das mídias locativas, fazendo emergir novas espacialidades de acesso, presença e inte- ração que reconstituem os modos como nossos encon- tros com lugares específicos, suas bordas e nossas res- postas a eles estão fundadas social e culturalmente. PALAVRAS-CHAVE mídias locativas mobilidade espaço ABSTRACT Calling attention to the impressive acceleration of media transformations which, in less than two centuries, from the invention of photography reaches nowadays mobile internet, this article deals with the culture of mobility, an advanced variety of cyberculture based on mobile devices linked to GPS. One of the most relevant practices that this new alliance is bringing about is called locative media. They are provoking the emergency of new spacialities of access, presence, and interaction that reconstitute the way in which our encounters with specific places, their borders e our responses to them are socially and culturally founded. KEY WORDS locative media mobility space Mídias locativas: a internet móvel de lugares e coisas

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Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 35 • abril de 2008 • quadrimestral 95

MOBILIDADES TECNOLÓGICAS

Nos últimos anos, para compreender a hipercomplexida-de cultural e comunicacional das sociedades contempo-râneas, tenho utilizado como hipótese de trabalho aidéia de que essa hipercomplexidade advém da simulta-neidade de seis formas de cultura que coexistem, sobre-põem-se, intercambiam-se e misturam-se inextricavel-mente: a cultura oral, a escrita, a impressa, a cultura demassa, das mídias e cibercultura1. O critério empregadopara essa divisão está baseado na gradativa introduçãohistórica de novos meios de produção, armazenamento,transmissão e recepção de signos no seio da vida social.Longe de se excluírem mutuamente, a tendência dosmeios é cumulativa e integrativa. Os novos meios vãochegando, levando os anteriores a uma refuncionaliza-ção e provocando uma reacomodação geral na paisa-gem midiática.

Em um texto colaborativo do site New Media Literacies,encontrei uma divisão quase similar à minha, que apre-senta as seguintes etapas na evolução histórica dos sis-temas de mídia: ancestral (cultura oral), residual (cultu-ra impressa), dominante (cultura de massas) e emergente(cultura participativa). O que é mais importante não é adivisão em si, mas a constatação de que a emergência deum novo sistema não apaga o que veio antes, mas aderecomo uma nova camada, tornando a ecologia midiáticaainda mais estratificada.

Seguindo a minha divisão, vale lembrar que, emboraas culturas oral, escrita e impressa ainda estejam vivas eativas, não resta dúvida de que as três últimas - massiva,das mídias e cibercultura - são as mais nitidamentevisíveis. Todo o quadro também nos leva a notar que,especialmente em países como o Brasil, apesar do domí-nio incontestável da cultura de massas, esta é apenasparte de uma ecologia midiática híbrida que se constituiem princípio organizador da sociedade. Os sistemasmidiáticos consistem de tecnologias comunicacionais edas mais variadas práticas econômicas, políticas, insti-tucionais e culturais que crescem com eles.

Já enfatizei em muitas ocasiões, mas não custa repetir,que cada uma das formações culturais apresenta carac-teres que lhe são próprios e a distinção entre eles nosleva a constatar que as mídias não funcionam como ummonolito indistinto. Embora misturada às outras, cadaformação cultural funciona socialmente de maneiras di-versas. A cultura dos meios de massa, do jornal à televi-são, opera socialmente de modo muito diverso da cultu-ra das mídias e de maneira ainda mais distinta do modocomo opera a cibercultura. Quando isso é levado emconsideração, evitam-se os equívocos correntes que nas-cem da imposição sobre uma formação cultural de crité-rios de julgamento e crítica que são empregados parauma formação cultural distinta.

Para os propósitos deste artigo, o que merece ser trazi-

Lucia SantaellaPUC/SP

[email protected]

RESUMOChamando atenção para a impressionante aceleraçãonas transformações dos meios tecnológicos de produçãode linguagens, que, em menos de dois séculos, da inven-ção da fotografia já chega hoje até a internet móvel, esteartigo se detém na cultura da mobilidade, uma variaçãoavançada da cibercultura, baseada nos dispositivosmóveis aliados ao sistema de posicionamento global(CPS). Uma das práticas mais relevantes que essa novaaliança vem trazendo é a das mídias locativas, fazendoemergir novas espacialidades de acesso, presença e inte-ração que reconstituem os modos como nossos encon-tros com lugares específicos, suas bordas e nossas res-postas a eles estão fundadas social e culturalmente.

PALAVRAS-CHAVEmídias locativasmobilidadeespaço

ABSTRACT

Calling attention to the impressive acceleration of mediatransformations which, in less than two centuries, from theinvention of photography reaches nowadays mobile internet,this article deals with the culture of mobility, an advancedvariety of cyberculture based on mobile devices linked to GPS.One of the most relevant practices that this new alliance isbringing about is called locative media. They are provokingthe emergency of new spacialities of access, presence, andinteraction that reconstitute the way in which our encounterswith specific places, their borders e our responses to them aresocially and culturally founded.

KEY WORDS

locative mediamobilityspace

Mídias locativas: a internet móvel de lugares e coisas

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do à baila é a impressionante aceleração das transfor-mações dos meios tecnológicos de produção de lingua-gens, desde a revolução industrial que trouxe consigo ainvenção da fotografia, do telégrafo e os germens dacultura de massas. No capítulo sobre Mediações tecnoló-gicas e suas metáforas, do livro Linguagens líquidas na era damobilidade (Santaella, 2007), explicitei que, do séculoXIX para cá, já alcançamos a quinta geração de tecnolo-gias comunicacionais.

Os meios de comunicação de massa eletro-mecânicos(primeira geração: foto, telégrafo, jornal, cinema) e eletro-eletrônicos (segunda geração: rádio, televisão) foram se-guidos por aparelhos, dispositivos e processos de comu-nicação narrowcasting (terceira geração: TV a cabo, xérox,fax, vídeo cassete, walkman etc. que chamo de cultura dasmídias). Ao mesmo tempo em que ia minando o domínioexclusivista dos meios de massa, a cultura das mídiaspreparava o terreno da sensibilidade e cognição huma-nas para o surgimento da cibercultura, dos computado-res pessoais ligados a redes teleinformáticas (quarta ge-ração). Estes, por sua vez, foram muito rapidamentesendo mesclados aos aparelhos de comunicação móveis(quinta geração), constituindo assim, em muito poucotempo, cinco gerações de tecnologias comunicacionaiscoexistentes que, aliadas a saberes que delas se origi-nam, práticas sociais e institucionais, políticas públi-cas, formas de organização burocráticas e fluxos do ca-pital, “entretecem uma rede cerrada de relações, em quenenhuma delas é ‘causa’ das demais, mas todas se con-figuram como “adjacências históricas” fortemente arti-culadas, que expressam e simultaneamente produzemmutações nos modos de se perceber, conceber e habitar otempo” (Ferraz, 2005, p. 52).

Pouco mais de dez anos se passaram desde a consoli-dação da cibercultura com a explosão da WWW e, hoje,em concomitância com o potencial aberto pela Web 2.0, acultura da mobilidade, uma variação avançada da ci-bercultura, baseada nos dispositivos móveis, aliados aosistema de posicionamento global (GPS)2, já começa arender frutos que têm chamado atenção de artistas e deteóricos e críticos da comunicação e cultura.

A reavaliação dos discursos sobre perdasO que a emergente era da mobilidade vem colocando emrelevo, antes de tudo, é a necessidade de reavaliação dosprognósticos tanto sobre o desaparecimento da experi-ência humana do lugar e das interações sociais em pre-sença, quanto sobre a perda da integridade corporal dohumano na intersecção com sistemas cibernéticos – com-putadores, organismos engenheirados biogeneticamen-te, sistemas espertos, robôs, andróides e ciborgues.

Para muitos, as tecnologias das redes de informação einteração criam um espaço virtual (um ciberespaço) in-dependente, que transcende e se sobrepõe aos espaçosdo mundo cotidiano. Realidade virtual, telepresença eSecond Life parecem, de fato, intensificar essa impressãode mundos paralelos autônomos. Para Dourish (Dou-

rish, 2006, p. 6), entretanto, o mundo tecnológico nãoestá separado do mundo físico, mas está incrustadonele, fornecendo novos modos de compreendê-lo e seapropriar dele. A mediação tecnológica do ciberespaçocondiciona a emergência de novas práticas culturais.Não é por meio da criação de uma esfera separada queisso se dá, mas pela abertura de modalidades diferenci-ais de práticas que se inserem à sua maneira na vidacotidiana, refletindo e condicionando novas formas deacesso à informação e ao conhecimento. Os espaços ele-trônicos estão firmemente situados na experiência vivi-da, motivados por ela e tomam forma em resposta àssuas demandas.

Cada vez mais, os recursostecnológicos se hibridizam,transformando as mídiaslocativas em um campo múltiplo,disponível em muitas versões,dependendo do modo como sãooperadas e dos usos que lhessão agregados.

Antes mesmo da emergência dos dispositivos móveis,que agora provocam a intersecção do ciberespaço com oespaço em que nossos corpos circulam, Harrison e Dou-rish (Harrison e Dourish, 1996) já se referiam ao ciberes-paço como espaços híbridos. Argumentavam que, quan-do nosso avatar entra em um ambiente virtualcolaborativo, ambos, o ambiente e o avatar, de fato, sãovirtuais. Entretanto, no ciberespaço, se as conexões entreas pessoas são virtuais, as projeções delas nos avataresnão o são. O que é projetado na conexão é uma represen-tação do próprio usuário. Cabe aqui uma analogia com aconstatação de Freud de que, se no sonho os ladrões sãofictícios, o medo é real. Assim também, no ciberespaço,se o avatar é uma mera representação virtual, a projeçãoé real. Ademais, sem a manipulação remota dessa repre-sentação por uma pessoa fisicamente situada, o espaçovirtual não teria existência. Quando entramos em umambiente virtual, usamos esse espaço midiático paracriar um novo espaço híbrido que nos inclui como seresditos físicos e reais.

As cidades também, atravessadas invisivelmente pelofluxo de informações, foram reordenadas pelos sistemastecnológicos das redes, gerando uma arqui tetura digitalconsiderável. Muitos julgaram e continuam julgandoque essas construções virtuais rizomáticas, comparti-lhadas por milhões de pessoas pelo mundo afora, cons-

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tituem-se em universos paralelos capazes de apagar sig-nificados e valores, estes sim verdadeiros, da vida real.Outros, entretanto, entre eles Castells (Castells, 2000),argumentam que a ciber-realidade é parte integrante daorganização material, econômica, política das socieda-des, sendo inclusive determinante nessa organização esignificativa de sua real existência.

Tal intersecção, antes menos visível, do ciberespaçocom a vida circundante, vem recebendo um novo impul-so recentemente com os aparelhos móveis que permitemencontros com a tecnologia em situações sociais distin-tas, que criam a necessidade de entender os contextos eque nos dão a habilidade de transformar o espaço pelaintrodução da tecnologia. Tudo isso junto com a emer-gência de projetos variados de mídias locativas vemcolocando em questão os maus presságios sobre perdasirrecuperáveis que feriam a integridade da nossa consti-tuição humana e social.

De fato, as mídias locativas estão criando oportunida-des para se repensar e re-imaginar o espaço cotidiano.Embora conectados à imaterialidade das redes virtuaisde informação, não poderia haver nada mais físico doque GPS e sinais de Wi-Fi que trazem consigo outrasmaneiras de pensar o espaço e o que se pode fazer nele.Uma nova espacialidade de acesso, presença e interaçãose anuncia: espacialidades alternativas em que as exten-sões, as fronteiras, as capacidades do espaço se tornamlegíveis, compreensíveis, práticas e navegáveis, possibili-tando, sobretudo, práticas coletivas que reconstituem osmodos como nossos encontros com lugares específicos,suas bordas e nossas respostas a eles estão fundadassocial e culturalmente.

O território em expansão das mídias locativasA computação móvel e pervasiva (computadores em to-dos os lugares) é a chave para a compreensão das mídi-as locativas. No processo, o uso de sistemas de informa-ção geográfica (GIS) espalhou-se das corporações eescritórios para as ruas e os campos, da administraçãopública e ambiental para um largo espectro de usossociais. Desse modo, como lembra McCullough (Mc-Cullough, 2006), um dos mais profundos desafios dasmídias locativas está em transmitir informação geográfi-ca não mais nas tradicionais e pesadas janelas dosdesktops, mas nas tecnologias finas e leves dos sistemasmóveis e embarcados.

É bastante esclarecedora a explicação que nos é forne-cida por André Lemos (no prelo) - pioneiro no Brasil noestudo das ciberurbes - sobre a constituição e abrangên-cia das mídias locativas no seu atual estado da arte.

Um conjunto de processos e tecnologias [que] secaracteriza por emissão de informação digital a par-tir de lugares/objetos. Esta informação é processa-da por artefatos sem fio, como GPS, telefones celula-res, palms e laptops em redes Wi-Fi ou Wi-Max,Bluetooth, ou etiquetas de identificação por meio de

rádio freqüência (RFID3). As mídias locativas sãoutilizadas para agregar conteúdo digital a uma lo-calidade, servindo para funções de monitoramento,vigilância, mapeamento, geoprocessamento (GIS),localização, anotação ou jogos. Dessa forma, os lu-gares e objetos passam a dialogar com dispositivosinformacionais, enviando, coletando e processan-do dados a partir de uma relação estreita entre in-formação digital, localização e artefatos digitaismóveis.

Existem muitas classificações dos tipos de mídias lo-cativas, mas, mais uma vez, é em Lemos (ibid) que sepode encontrar uma classificação relevante por estarbaseada nas funções que elas desempenham, tais como:realidade móvel aumentada, mapeamento e monitora-mento, geotags, anotação urbana e os games wireless queutilizam uma ou mais dessas funções.

As aplicações de realidade aumentada móvel refe-rem-se a informações sobre uma determinada localida-de visualizadas em um dispositivo móvel, aumentando ainformação. Assim, um celular pode identificar uma pi-zzaria em local próximo e, por meio de links, ver a foto dolugar e ter acesso ao cardápio no website do restaurante.

Tanto quanto espaço e lugar,outro conceito que as mídiaslocativas estão trazendo para otopo das considerações é oconceito de objeto que, nalinguagem corrente, chamamosde coisas.

As funções locativas também podem ser aplicadas aformas de mapeamento (mapping) e de monitoramentodo movimento (tracing) no espaço urbano. Em sistemasque permitem o compartilhamento de tags4 (etiquetas),informações textuais digitais são agregadas a mapas,podendo ser acessadas pelos equipamentos móveis.

Celulares, palms, etiquetas RFID ou redes bluetooth sãoutilizados para indexar mensagens (SMS, vídeo, foto) alocalidades. Essas práticas são chamadas de anotaçõesurbanas.

Os games móveis ou sem fio utilizam celulares, palms ea rede internet para jogos executados entre jogadores noespaço das ruas e jogadores on line. Lenz (Lenz, 2007)apresenta 26 exemplos desse tipo de jogo e novos exem-plos não cessam de aparecer.

Segundo o relatório da Escola Politécnica Federal deLausanne, citado por Lenz (ibid.), “o contexto de uso

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mais comum dos sistemas móveis é a localização dousuário, visto que é fácil determiná-la e seria significati-vo usá-la para adaptar o comportamento de uma aplica-ção móvel”. Uma vez que o fator mais relevante dasmídias locativas é o contexto, Schmidt et al., tambémcitados por Lenz, distinguem duas categorias de contex-to: ambiente físico e fatores humanos. O primeiro refere-se às variáveis físicas como local (absoluto e relativo),condições (luz, temperatura etc.) e infraestrutura (recur-sos para a comunicação, computação, desempenho detarefas etc.). Os fatores humanos relacionados ao con-texto estruturam-se em: informação sobre o usuário(estado emocional, conhecimento de hábitos etc.), oambiente social do usuário (co-localização em rela-ção aos outros, interação social etc.) e as tarefas dousuário (atividade espontânea, atividade engajada,objetivos gerais etc.).

Cada vez mais, os recursos tecnológicos se hibridi-zam, transformando as mídias locativas em um campomúltiplo, disponível em muitas versões, dependendo domodo como são operadas e dos usos que lhes são agre-gados. Além dos sistemas de informação geográfica (GIS)e das tags de identificação de rádio freqüência (RFID), alinguagem de marcação de geografia (GML - geographicmarkup language5), e o sensoriamento ambiental distribu-ído podem ser utilizados nas estratégias das mídiaslocativas, também conhecidas como mídias táticas, namedida em que tratam o contexto como meio dinâmicode produção de atividades engajadas e não meramentecomo um arranjo preexistente de destinações. São táti-cas porque buscam a produção do sentido, mesmo quan-do uma posição estratégica é negada.

Recentemente tratei da estética politicamente orienta-da das mídias locativas (Santaella - no prelo). Outroaspecto que me parece bastante relevante é a vivifica-ção dos lugares e das coisas que as mídias locativasestão propiciando, questão que passarei a discutir noque se segue.

Espaço, lugar e coisasNão há um consenso entre os teóricos sobre o conceito

de lugar, especialmente sobre a distinção conceitual en-tre lugar e espaço. No seu sentido convencional, espaçoé uma noção matemática, uma representação formal quegera modelos provenientes de diferentes espécies de prá-ticas científicas6. Segundo Dourish (Dourish, 2006), nainterpretação predominante da relação entre espaçoe lugar, o primeiro é visto como pré-dado e o segundocomo um produto social. Distinta desta e bem maiscomplexa, no campo da análise social, é a interpreta-ção de Certeau (Certeau, 1984), um dos autores maisinfluentes sobre o assunto. Para este, lugar é uma espé-cie de “localização”.

É o espaço geométrico que dá conta do fato de queduas coisas não podem ocupar o mesmo lugar noespaço. Já o espaço é um produto social, um lugarpraticado. Assim, uma rua, definida geometricamen-

te pelo planejamento urbano, é transformada em es-paço pelos transeuntes.

Noção bastante rica de lugar nos é fornecida por Har-rison e Dourish (Harrison e Dourish, 1996). Para estes,espaço é a estrutura do mundo, é o ambiente tridimensi-onal no qual objetos e eventos ocorrem e no qual eles têmposição e direção relativa. Lugar, por seu lado, é espaçoinvestido de compreensão, de comportamento apropria-do, de expectativas culturais. Uma vez que o mundo éespacial e tridimensional, noções de espaço perpassamnossa experiência cotidiana. Tudo se localiza no espa-ço, de modo que lugares também estão ligados ao espa-ço. Estamos localizados no espaço, mas agimos em luga-res. O lugar é o modo como o espaço é usado. Portanto, égeralmente um espaço com algo que se lhe adiciona:sentido social, convenção, compreensão cultural sobrepapéis, função e natureza etc. O sentido do lugar trans-forma o espaço. Lugares são criados e sustentados pelospadrões de uso. Em suma: a ação humana não é emoldu-rada apenas pelo espaço, mas por padrões de compreen-são, associações e expectativas com que os lugares estãoimpregnados.

O privilégio da noção de lugar em detrimento de espa-ço, que se insinuava na concepção de Harrison e Dou-rish, em 1996, foi revista por Dourish no seu artigo de2006. Afinal, do ponto de vista do designer, em meadosdos anos 1990, tratava-se de criar lugares colaborativospara a prática e apropriação dos usuários nos ambien-tes do ciberespaço. Dez anos depois, o uso cada vez maisgeneralizado de redes tecnológicas por meio de sistemassem fio e telefonia celular vem alterando os modos comocompreendemos as relações entre as pessoas, ações e osespaços em que elas ocorrem. Uma vez que questões demobilidade estão indissoluvelmente ligadas a questõesde espacialidade, no seu artigo de 2006, mais próximode Certeau, Dourish concede ao espaço, tanto quanto aolugar, o estatuto de produto de práticas sociais.

De fato, a tecnologia móvel nos força a reconsiderar oespaço, a legibilidade do espaço, o modo como as pesso-as reencontram o espaço cotidiano, pois, quando o mo-vimento da cidade e a mobilidade humana - ambos tec-nologicamente mediados - se cruzam, múltiplasespacialidades podem se interseccionar7. Assim, o pa-pel da computação ubíqua e pervasiva no ambiente ur-bano tornou-se hoje questão primordial para os estudio-sos da cibercultura nos umbrais desta era dahipermobilidade.

Tanto quanto espaço e lugar, outro conceito que asmídias locativas estão trazendo para o topo das consi-derações é o conceito de objeto que, na linguagem cor-rente, chamamos de coisas. Longe de serem inocentes, ascoisas trazem consigo uma robusta tradição filosófica.Não podemos nos esquecer de que, em sociedades capi-talistas, as coisas deixaram de ser coisas. São mercadori-as e, como tal, impregnadas de fetichismo, valores psí-quicos dissimulados que o capital adere às coisas.Trata-se aí de uma lógica tão onipresente de que nem

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mesmo nossos afetos e paixões se safam, pois estes sãotambém perfeitamente intercambiáveis de acordo com alei universal da equivalência. Freud considerou o fetichecomo um substituto simbólico do objeto irrecuperável,perdido no trauma original. Para Marx, o fetichismo é oresultado da alienação do produto em relação à suaprodução e origem. Comum na concepção de ambos é ofato de que a vida dos objetos é meramente ilusória, poiso objeto fetiche é mera costura de um vazio, para Freud, eum fascínio ocultador, para Marx.

Diante disso, é no mínimo ingênuo reivindicar a pos-sibilidade de interceder teórica ou praticamente peloretorno dos objetos à vida. Entretanto, os projetos demídias locativas estão acenando com novos potenciaisque parecem merecer considerações cuidadosas, sem apressa dos julgamentos já prontos.

Tornar visível o invisível, animar o inanimadoEm agosto de 2004, no evento SIGGRAPH, Bruce Ster-ling, escritor de ficção científica, do gênero ciberpunk,sob o título de “Quando os blobjetos governarem a Ter-ra”, proferiu um discurso sarcástico e genial, em queprofetizava um mundo em que os objetos passariam deblobjetos a spimes (ambas as palavras de invenção pró-pria). Um ano depois, publicou o livro Shaping Things,no qual fornece explicações bem claras do sentido quedá às suas estranhas palavras. A tese do livro está fun-damentada na teoria do design, tecnologia e história eanalisa como os dispositivos que os designers produ-zem transformam a sociedade, a nós mesmos e ao pró-prio design. A trajetória histórica, por ele traçada, vaidas ferramentas a partir dos artefatos (ferramentas dosagricultores) para as máquinas (dispositivos para clien-tes), e dos produtos (compras efetuadas pelos clientes)até os gizmos (plataformas dos terminais de usuários).Os blobjetos são os objetos computacionais criados pelosdesigners. O futuro será definido pelos spimes.

Spimes são objetos sensíveis ao lugar, sensíveis aoambiente, auto-conectados, auto-documentados, inden-tificáveis na sua unicidade e expelem dados sobre simesmos e seu ambiente em grandes quantidades. Umuniverso de spimes é um universo informacional commilhões desses experimentos em potência. Hackers, ati-vistas, advogados, competidores, designers, todos nóspoderemos pesquisar a corrente de dados para desco-brir, por exemplo, o que vai acontecer com a sola denossos tênis no fim de sua vida. Vão ser reciclados etransformados no piso do pátio de uma escola ou vão setransformar em aerosol cancerígeno? Em suma: tomare-mos conhecimento da vida dos objetos desde os seusberços até seus túmulos, o que nos tornará mais consci-entes do papel ecológico dos objetos no mundo. ParaDoctorow (Doctorow, 2005), os spimes são os dispositi-vos últimos dos “hacktivistas” – um ponto limite paratornar os frutos negativos da produção industrial visí-veis e óbvios.

No mesmo ano em que Sterling publicava seu livro, o

relatório da internet da União de Telecomunicação In-ternacional8, com o título de “Internet das coisas” e comtoda a seriedade, detectava um futuro para a internetmuito similar às irônicas profecias de Sterling. O docu-mento cita as palavras de Mark Weiser, falecido ex-cientista chefe do Centro de Pesquisa da Xérox em PaloAlto: “as tecnologias mais profundas são aquelas quedesaparecem. Elas se entretecem no tecido da vida coti-diana até se tornarem indistinguíveis dele”. Weiser esta-va se referindo aí à disponibilização crescente e à visibi-lidade decrescente do poder de processamento. Por meiode dispositivos dedicados, os computadores vão grada-tivamente sumir da nossa vista, enquanto as habilida-des de processamento de informação vão emergir portodo o ambiente circundante. Com a capacidade de pro-cessamento de informação integrada, os produtos vãopossuir habilidades de inteligência. Eles poderão tam-bém adquirir identidades eletrônicas que podem ser pes-quisadas remotamente ou serem equipados com senso-res para detectar mudanças físicas no seu entorno. Objetosestáticos e mudos tornar-se-ão seres dinâmicos e comu-nicantes, incrustando inteligência nos ambientes. Nomomento em que os objetos se tornarem inteligentes, omundo das coisas e o mundo humano estarão se comuni-cando sob condições inéditas.

Os projetos de mídias locativasdevem ser avaliados à luz decontextos mais vastos da vidacotidiana, dos espaços públicosurbanos e, sobretudo, dossistemas de controle e vigilânciade que essas mídias fazem uso.

Embora pareça que ainda não saímos da ficção cientí-fica de Sterling, o documento preconiza que tecnologiascomo RFID e computadores inteligentes prometem ummundo de dispositivos interconectados em rede que for-necerão conteúdo relevante e informação para qualquerlugar em que o usuário esteja. Qualquer coisa, da escovade dentes ao pneu do carro, entrará em faixas comunica-cionais, anunciando o alvorecer de uma era em que ainternet de hoje, de dados e de pessoas, conviverá com ainternet das coisas. Essa será uma sociedade de redesubíquas cujos dispositivos serão onipresentes. Germensdessa sociedade já se fazem sentir nas aplicações daterceira geração de telefones móveis que vem trazendoserviços de internet para o bolso dos usuários. O quedizer, entretanto, se muito mais do que isso fosse conec-tado às redes: um carro, uma frigideira, uma xícara de

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chá? À conexão de pessoas em qualquer tempo e emqualquer lugar, somar-se-á a conexão de objetos inani-mados às redes de comunicação. O uso de tags eletrôni-cas (por exemplo, RFID) e sensores servirão para esten-der o potencial comunicacional e de monitoramento darede das redes, assim como a introdução de poder com-putacional em coisas cotidianas, como lâminas, sapatose sacolas avisando, por exemplo, que a chave da casa foiesquecida. Avanços na nanotecnologia (manipulaçãoda matéria em nível molecular) irão acelerar esses de-senvolvimentos. Estes são os prenúncios do documento.Embora soe ficcional, o mundo que nele se apresenta jácomeça a se insinuar nos projetos de mídias locativas.

Para McCullough (McCullough, 2006), fenômenoscomo habilidade espacial, escala e padrão físico persis-tente cavam as bases para uma virada tanto da mobili-dade universal para uma aproximação mais socialmen-te centrada na computação situada, quanto das mídiasmeramente posicionais para o componente semânticodos modelos locativos. A computação pervasiva trazmobilidade, precisão, personalização e enraizamentona anotação urbana. Desse modo, as mídias locativasaumentam o acesso aos sistemas de informação geográ-fica, adicionam flexibilidade na sua filtragem e os apre-sentam de acordo com a atividade, desafiando-nos afazer anotações em lugares de maneira não invasiva.

Quando bits imateriais de informação são conectadosa localizações físicas no espaço público urbano, lugarese objetos cotidianos entram nas redes de computaçãointeligente, fazendo emergir novas práticas tecno-so-ciais com “o potencial de gerar espaços híbridos eformas de participação pública que reconectam as di-mensões materiais do espaço público urbano com asaffordances9 participativas da esfera pública das redes”(Shepard, 2007).

Colocar geotags nos objetos, de modo que esses objetosnos contem suas histórias, leva-nos a conhecer sua ge-nealogia, seu enraizamento na matriz de produção. Es-tamos entrando, portanto, em um mundo em que, porestarem ligados a chips inteligentes, os objetos vão setornar sencientes, quer dizer, conscientes das impres-sões dos sentidos, o que nos trará a possibilidade de umengajamento mais ativo entre o corpo, a cidade, os luga-res e as coisas.

Um exemplo bem simples de mídia locativa, que secomporta como internet móvel de lugares e coisas, nos éfornecido por Elanor Taylor (Taylor, 2004), no seu co-mentário sobre o Manifesto Headmap, de Ben Russell(Russell, 1999), considerado o ur-texto das mídias loca-tivas. Basta a ligação de um dispositivo sensível alugares (isto é, algo com funcionalidade GPS), comum computador portátil e uma conexão internet semfio para que aconteça a situação descrita a seguir,pois esse trio fornece a plataforma necessária paratrazer a tecnologia tradicional baseada em desk-top parao domínio do espaço.

Dois amigos têm acesso a essa tecnologia requerida. O

amigo número um passa por uma árvore florida emplena primavera e conecta uma música a essa localiza-ção geográfica como uma mensagem para o amigo nú-mero dois. Sem saber que o amigo número um haviapassado por aquele local antes dele, o amigo númerodois, quando chega ao local em que está a árvore, ésurpreendido pela árvore tocando a música para ele,pois a mensagem originalmente deixada pelo primeirodispositivo é disparada pelo segundo dispositivo quan-do ele alcança aquele ponto geográfico marcado.

É claro que, sendo uma árvore, o lugar que canta adqui-re aí uma poética à altura da poética das flores na primave-ra. Entretanto, em pouco tempo, qualquer coisa, qual-quer objeto material, uma mercadoria, um fetichevalorizado pelos humanos, irá se tornar um nó senci-ente em enredados processos de comunicação: o pó, ovidro, o telefone, todos terão alguma inteligência.

Evidentemente não se trata de proclamar aqui, sobreas tecnologias móveis, uma segunda versão do evange-lho salvacionista do ciberespaço que dominou nos anos1990. Os projetos de mídias locativas devem ser avalia-dos à luz de contextos mais vastos da vida cotidiana,dos espaços públicos urbanos e, sobretudo, dos siste-mas de controle e vigilância de que essas mídias fazemuso. Bem a propósito, Lemos (ibid) nos lembra que nãopodem ser menosprezadas as questões não só comuni-cacionais ou urbanísticas, mas também políticas queemergem com as mídias locativas, questões “ligadas anovas formas de monitoramento, vigilância e controledo espaço urbano e da mobilidade social, já que tudo/todos terão uma tag, um indexador eletrônico, transfor-mando os espaços das cidades em nuvens de dados”.Todavia, como nos dizem Tuters e Varnelis (Tuters eVarnelis, 2006), o envolvimento nesse novo mundo deobjetos, que começam a se comportar como seres anima-dos, não deve ser dispensado, mesmo que os momentosutópicos e críticos, que soubermos fazer surgir, sejamapenas temporários e contingentes nFAMECOS

NOTAS1. Para maiores descrições dessa divisão ver Santae-

lla 2003 (introdução e cap. 4) e Santaella 2007 (caps5 e 8).

2. O sistema de posicionamento global (GPS) foi autori-zado pelo Congresso dos Estados Unidos em 1973 eé operado pelo departamento de defesa dos EstadosUnidos. Os instrumentos envolvidos nesse sistemasão um anel de 24 satélites que circundam a Terra demodo tal que, pelo menos quatro deles, são visíveisde qualquer ponto no globo em qualquer momento. Osistema tem sido usado para a navegação de veícu-los, mas encontrou seu caminho também na internetmóvel, quando o grupo de satélites é usado paralocalizar a posição de um usuário.

3. RFID é um método automático identificador de rádio

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Mídias locativas: a internet móvel de lugares e coisas • 95 – 101

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 35 • abril de 2008 • quadrimestral 101

freqüência que se baseia no arquivamento e recupe-ração de dados remotos utilizando os recursos dastags. Uma tag de RFID é uma etiqueta que pode serincorporada a um produto, animal ou pessoa.

4. Uma tag, etiqueta, é um metadado, uma palavra-chave ou termo associado a uma informação. Umatag eletrônica é uma forma de vigilância não sub-reptícia em que um dispositivo eletrônico de GPS écolocado em um carro ou uma pessoa.

5. Definida pelo Consórcio Geoespacial Livre, a GMLutiliza XML para exprimir características geográfi-cas. Pode servir de linguagem de modelação parasistemas geográficos e como um formato aberto paratroca de informação geográfica. A marcação de da-dos é um conceito recente e envolve a codificaçãosimples de seqüências de dados em um arquivo decomputador no formato texto-puro, ou seja, capaz deser lido tanto por pessoas quanto por máquinas.Para esse fim, a linguagem mais utilizada atualmen-te é a XML e suas variantes.

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