Inocência Roubada

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Inocência Roubada Quanto tempo aquela mulher resistiria antes de cair na armadilha do milionário grego? Alexander Koutoufides decidira seduzir Saskia Prentice para saldar uma velha dívida, contudo não obtivera o que procurava. Agora Saskia precisava da ajuda dele e Alex pensou que era o momento perfeito para acabar o que começara. Saskia não conseguira perdoar nem esquecer o bonito grego que lhe roubara a inocência, todavia a paixão que despertava nela era mais poderosa do que nunca. O perigoso brilho dos seus olhos era um sinal inequívoco de que ele também a desejava e, a julgar pela sua reputação, sem dúvida consegui-la-ia...

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Inocência Roubada

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Inocência Roubada

Quanto tempo aquela mulher resistiria antes de cair na armadilha do milionário grego?Alexander Koutoufides decidira seduzir Saskia Prentice para saldar uma velha dívida, contudo não obtivera o que procurava. Agora Saskia precisava da ajuda dele e Alex pensou que era o momento perfeito para acabar o que começara.Saskia não conseguira perdoar nem esquecer o bonito grego que lhe roubara a inocência, todavia a paixão que despertava nela era mais poderosa do que nunca.O perigoso brilho dos seus olhos era um sinal inequívoco de que ele também a desejava e, ajulgar pela sua reputação, sem dúvida consegui-la-ia...

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Inocência Roubada

TRISH MOREY

Euromance

HARLEQUIN

Digitalização e revisão

Fátima Tomás

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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S A© 2006 Trish Morey Todos os direitos reservadosINOCÊNCIA ROUBADA, N 289 - 1 11 07Título original The Greek’s VirginPublicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd, LondresTodos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorizaçãode Harlequin Enterprises II BVTodas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ®, Harlequin, logotipo Harlequm e Harlequin Euromance são marcas registadas por Harlequin Books S A ®e São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Espanola de Patentes y Marcas e noutros paísesISBN 978-84-671-5495-5Depósito legal. M-34722-2007Fotocomposição M T Color & Diseno, S Las RozasImpresso COIMOFF, S A Arganda del ReyDISTRIBUIDOR EXCLUSIVO PARA PORTUGAL. LOGISTA Rua da República da Coreia, 34 Ranholas - 2710 Sintra -Portugal

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Boston,Nova Iorque Newark Filadélfia.ESTADOS UNIDOS

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PrólogoSidney, AustráliaA vida não podia correr melhor!Saskia Prentice permitiu-lhe que a recostasse contra as almofadas, com o seu coração jovem a palpitar, os seus lábios ainda inchados depois do último beijo, desejando o que ia acontecer.A luz da lua entrava pelas janelas através das cortinas de seda, transformando a pele dele em cetim eiluminando o quarto com o seu reflexo lunar. Os olhos dele estavam escuros, enquanto se deitava em cima dela.Saskia derreteu-se, enquanto olhava nos olhos do homem que amava.Ainda não tinha dezoito anos e já tinha encontrado o homem da sua vida, o homem cujo destino estava entrelaçado com o seu. Não havia possibilidade de erro, aquele era o homem da sua vida. Passariam anos a amar-se, anos assim, como naquele momento.Como podia ser tão sortuda?Saskia deixou de pensar e entregou-se por completo

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às sensações que lhe estava a proporcionar. Queria que a possuísse, desejava senti-lo e que ele a penetrasse profundamente para satisfazer aquele desejo desesperado...Olharam-se nos olhos brevemente quando ele ia começar a penetrá-la.- Amo-te - sussurrou ela.Mas passados uns segundos... ele tinha-a deixado.Saskia abriu os olhos e procurou-lhe o olhar. Viu-o do outro lado do quarto, a vestir as calças de ganga e a camisa. O seu olhar era agora furioso.- Veste-te. Vou chamar um táxi pelo telefone. Saskia olhou para ele com horror. De repente, sentiu-se inepta e vulnerável.- Alex... o que se passa?- Tsou - respondeu ele como que enojado consigo próprio. Depois, atirou-lhe a roupa, olhando para ela com um olhar frio como o gelo. - Isto foi um erro.Saskia agarrou na sua roupa, humilhada e envergonhada consigo própria. A sua inocência era assim tão repulsiva?- Fiz alguma coisa de mal? Desculpa...- Veste-te! - ordenou-lhe ele com uma voz que para Saskia pareceu irreconhecível, a voz de um desconhecido- Mas... - as lágrimas vieram-lhe aos olhos, enquanto se vestia. - Mas porquê?- Vai-te embora! - gritou ele. - Eu não me dedico a desvirginar jovens!

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Londres, oito anos depoisSucesso! Saskia Prentice encaminhou-se para a porta da sala de reuniões com a sensação de sucessoa correr-lhe nas veias.Em menos de cinco minutos tornar-se-ia pública a sua nomeação como editora-chefe da revista de negócios AlphaBiz.Ela merecia, trabalhara muito para o conseguir!Doze meses de luta constante e intensa com a sua principal adversária para o cargo, a sua colega jornalista Carmen Rivers. Carmen não deixara lugar para dúvidas de que estava disposta a fazer o que fosse preciso para conseguir aquele cargo e dada a sua reputação não era de estranhar. No entanto, fora ela, Saskia, quem tivera as notícias mais importantes a nível mundial e quem conseguira ter contactos e fazer entrevistas às pessoas de negócios mais renitentes em deixar-se entrevistar. Há já dois dias que, não oficialmente, o director da revista lhe confessara que era ela a vencedora, que lhe ofereceria aquele

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8cargo oficialmente na reunião de directores daí a dois dias.E esse dia tinha chegado.Saskia tinha estado muito nervosa durante todo o dia, até ao momento em que, finalmente, a tinham chamado. Iam atribuir-lhe o cargo. O que também lhe permitiria tirar o seu pai do lar onde estava e ir para algum lugar pitoresco no campo.Tinha pensado em tudo, ela mudar-se-ia para uma casa no campo, perto da do seu pai. A sua casa teria um jardim para que o seu pai, aos fins-de-semana, pudesse plantar ou fazer o que quisesse. O salário melhor e os benefícios que o novo cargo implicavam tornariam isso possível.Pôs uma mão na maçaneta da porta e levou a outra à cabeça para se certificar de que os seus caracóis rebeldes estavam bem presos no coque. Respirou fundo, pensando que os seus sonhos em breve se tornariam realidade. Era a grande oportunidade de fazer com que o apelido Prentice recuperasse o seu valor no mundo dos negócios mais uma vez e também a oportunidade de devolverao seu pai parte do orgulho que tão cruelmente lhe tinham usurpado.Respirou fundo, bateu suavemente à porta e entrou.O sol que entrava pelas enormes janelas encandeou-a, momentaneamente, ao entrar. Quando os seusolhos se habituaram à luz, surpreendeu-se ao ver a ausência dos membros do conselho, só o presidente lá estava.- Tudo bem, menina Prentice... Saskia? - o presidente, sentado à cabeceira da mesa, indicou-lhe comum gesto que se sentasse. - Obrigado por vir.

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9Uma inquietação súbita apoderou-se dela.O senhor Rodney Krieg cumprimentara-a quase com amabilidade. O senhor Rodney nunca empregava um tom amável. E onde estava o resto dos elementos do conselho directivo? Porque é que não se encontravam presentes para anunciar que o cargo era dela?O presidente suspirou.- Como já sabe, quando marcámos esta reunião, fizemo-lo com a ideia de anunciar a sua tomada de posse como editora-chefe da empresa.Saskia assentiu com apreensão.- Enfim, receio que tenha havido uma mudança de planos.- Não compreendo.A menos que tivessem dado o cargo a Carmen...- O conselho decidiu dar o cargo a Carmen?O senhor Rodney abanou a cabeça e Saskia sentiu um alívio momentâneo.- Pelo menos, ainda não - respondeu o presidente. As esperanças de Saskia desvaneceram-se novamente.Mas não estava disposta a dar-se por vencida sem lutar.- O que quer dizer com ”ainda não”? O que se passou? Há apenas dois dias disse-meO senhor Rodney levantou uma mão para a acalmar.- Admito que não foi o correcto, mas Carmen esteve a falar com alguns dos membros do conselho para que votassem a favor dela...Saskia ficou gelada. Não queria sequer imaginar o que teria estado a dizer aos membros do conselho.

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- Em resumo, o conselho decidiu não se precipitar na escolha da pessoa que vai ocupar o cargo - concluiu o senhor Rodney.- Não houve precipitação nenhuma - protestou ela. - O conselho está há doze meses a deliberar sobre isso.- De qualquer modo, alguns elementos acham que Carmen tem razão. Você esteve envolvida em vários projectos durante esse tempo, talvez Carmen não tenha tido a oportunidade de demonstrar a sua capacidade de trabalho.Saskia pensou no seu pai. O que ia dizer-lhe? Com apenas mais um ano ou dois antes de o seu estado de saúde o deixar inválido na cama, o seu pai sonhava em sair da cidade e ir parao campo.- O que vai acontecer agora? - perguntou ela, completamente desolada. Trabalhara muito para conseguir aquele cargo e agora tiravam-lho das mãos. Quanto tempo vai levar o conselho para tomar uma decisão definitiva?- Isso depende de si e de Carmen. Saskia franziu a testa.- O que quer dizer?O senhor Rodney conseguiu mostrar entusiasmo na sua expressão.- O conselho decidiu que a melhor forma de comparar o seu talento com o de Carmen é competirem directamente. A cada uma de vocês será atribuído uma pessoa à nossa escolha, tratar-se-á de um homem de grande sucesso nos negócios que, por qualquer motivo, escolheu manter-se à margem da opinião pública; um homem cujas aparições em público sejam escassas, enquanto a sua reputação no mundo

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11dos negócios continua em ascensão a cada dia. O que você e Carmen têm de fazer é um perfil da personalidade do homem que escolhamos para cada uma. A que conseguir um melhor perfil no prazo de um mês terá o seu artigo publicado na capa da edição especial anual, além do cargo de editora-chefe.- Mas, senhor Rodney, estive o ano todo a publicar bons perfis...- Nesse caso, mais um não será qualquer problema. Lamento muito, Saskia, mas esta foi a decisão do conselho. Os membros querem que as duas compitam pelo cargo e isso é o que vai ter de fazer para o conseguir.- Estou a ver.Pelo menos, tudo se decidiria num mês. Tentaria fazê-lo em menos tempo e o cargo seria dela. Porque tinha a certeza de que o seu perfil seria o melhor. Disso não havia dúvida. Tratava-se apenas de um atraso nos seus planos.- Bem, que pessoa me atribuíram?O senhor Rodney pôs os óculos e depois agarrou numa pasta, abriu-a e olhou para a informação quecontinha.- Uma pessoa muito interessante. Um indivíduo de Sidney cujos negócios se espalharam por todo o mundo. Aparentemente, um australiano de origem grega.Um receio súbito apoderou-se dela. Um australiano de origem grega de Sidney?Não, não podia ser.Tinha de haver outras pessoas que se ajustassem àquela descrição.Era impossível.

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12- Chama-se Alexander Koutoufides. Já ouviu falar dele?Saskia ficou tensa. Quase não conseguia respirar. Já ouvira falar dele?!Era o homem por quem, estupidamente, pensara estar apaixonada, o homem que a tinha expulsado da sua cama precisamente antes de destruir o negócio do seu pai tão cruelmente.Sim, ouvira falar em Alexander Koutoufides!E por nada no mundo faria um perfil daquele homem. Não estava disposta a voltar a vê-lo, muito menos a sentar-se à frente dele e a fazer-lhe perguntas.- Estava a tornar-se famoso no mundo dos negócios. De repente, há oito anos, deixou de aparecer em cerimónias públicas e transformou-se praticamente num eremita, embora não tenha sido por isso que deixou de expandir os seus negócios pelo hemisfério norte, enquanto se negou sistematicamente a conceder entrevistas...Saskia levantou uma mão. Não queria ouvir mais nada.- Lamento muito, senhor Rodney, mas acho que não é muito boa ideia eu fazer o perfil de Alexander Koutoufides.O senhor Rodney inclinou-se para a frente na sua cadeira.- Não estou a pedir-lhe a sua opinião, estou a dizer-lhe qual é o seu trabalho.- Não - insistiu ela. - Não vou fazer o perfil de Alex Koutoufides.O presidente ficou a olhar para ela com incredulidade antes de fechar a pasta.

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13- Saskia, porque é que quer arriscar a sua promoção?- Porque conheço Alexander Koutoufides.O senhor Rodney abriu muito os olhos, com deleite.- Excelente! Isso dar-lhe-á uma grande vantagem sobre a sua adversária. Sei que o senhor Koutoufides sente uma grande apreensão no que diz respeito aos meios de comunicação, no entanto,não me espanta, dada a fama da sua irmã e as suas conhecidas escapadelas com um jovem piloto de Fórmula 1.Saskia pestanejou ao compreender o significado das palavras do senhor Rodney.- Maria Quartermain é irmã de Alex Koutoufides? - Saskia lera artigos sobre o assunto na revista Snap. Recordava vagamente que Alex tinha uma irmã mais velha, mas nunca a tinha conhecido. Não havia dúvidas de que preferira manter isso em segredo.- Sim, certamente. O facto de a sua irmã ter o apelido do seu primeiro marido, um indivíduo com quem se casou aos dezasseis anos e de quem se divorciou em menos de um ano, também ajudou. O primeiro de uma longa lista de casamentos falhados e aventuras amorosas tristes - o senhor Rodney suspirou. - Mas deve ter ido demasiado longe e Alex viu-se obrigado a intervir. Um dos nossos fotógrafos viu-o a tirar a sua irmã de um hotel de Sidney pela entrada de serviço. Ao princípio, pensou que se tratasse de uma amante dele, mas, ao investigar, descobriu que era a sua irmã.Saskia assimilou a informação. A revista Snap não fora propriamente simpática para a irmã de Alex,por

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isso não era de estranhar que este tivesse tentado proteger Maria.- Tendo em conta o que a Snap publicou sobre Maria, acho que Alex não se sente inclinado a conceder uma entrevista à AlphaBiz, embora as revistas sejam completamente opostas.O senhor Rodney encolheu os ombros.- Por isso é que nos ajuda o facto de você o conhecer, não lhe parece?- Não - Saskia abanou a cabeça. - Alex Koutoufides...Saskia interrompeu-se para escolher bem as suas palavras. O senhor Rodney não precisava de saber os pormenores daquele assunto sórdido.- Bom, há mais de vinte anos, o pai de Alex e o meu tinham negócios em Sidney, mas o meu pai conseguiu um contrato que fez com que o pai de Alex perdesse o seu negócio. Alexnunca lhe perdoou. Há oito anos, Alex destruiu o negócio do meu pai. É um homem desumano. Odeio-o com toda a minha alma. E não vou fazer o perfil dele.- Não é possível que esteja a falar a sério, Saskia. Tem todos os ingredientes para fazer um perfil brilhante! - o presidente do conselho olhou para ela como se não acreditasse no que acabava de ouvir. Nunca a vi acovardar-se perante nada. Do que tem medo?- Não tenho medo! O que se passa é que não quero voltar a ver esse homem na minha vida.- Porque é que não o considera uma forma de se vingar dele pelo que fez ao seu pai? - o senhor Rodney bateu na mesa. - Descubra os podres de Alexander Koutoufides e traga-os a conhecimento público.

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15Saskia lançou-lhe um olhar fulminante.- AlphaBiz não se dedica aos podres das pessoas. Embora seja indiferente porque não vou fazer o perfil desse homem.- Nesse caso, renuncia ao cargo?- Porquê ele? Não poderia fazer o perfil de outra pessoa?O senhor Rodney recostou-se nas costas da cadeira.- Pressuponho que os membros do conselho não vão achar muita graça, mas é possível que consigamos fazê-lo. Talvez pudéssemos fazer uma troca, dar-lhe o sujeito do perfil de Carmen e trocar com o seu.Nesse caso, Carmen faria o perfil de Alex. E Carmen adoraria depois de descobrir o quão bonito Alex era. Talvez decidisse fazer as suas entrevistas com ele na posição horizontal...Quase conseguia imaginar. Carmen com Alex, Carmen em cima de Alex, com a boca nos mamilos. E Alex a mudar de posição, em cima dela, procurando o seu sexo...Sentiu-se agoniada.Carmen não sabia nada sobre Alex! Enquanto ela tinha essa vantagem. Sabia como era aquele homem.Talvez o senhor Rodney tivesse razão, talvez aquela fosse a oportunidade da sua vida para se vingardo homem que destruíra a vida do seu pai e a humilhara.- Senhor Rodney, é possível que me tenha precipitado...O senhor Rodney voltou a inclinar-se para a frente.- Vai fazê-lo? Vai fazer o perfil de Alex Koutoufides?

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16Saskia olhou para o presidente nos olhos, perguntando-se ainda no que ia meter-se e porquê.”Pelo meu pai”, respondeu a si própria em silêncio imediatamente,”Por vingança”.- Sim, fá-lo-ei - respondeu ela rapidamente para não ter tempo de mudar de ideias. - Quando tenho de partir?

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Alex Koutoufides estava a fazer-se de rogado. Nas ruas de Sidney corria o rumor de que estava escondido, à espera que o interesse do público passasse devido à última aventura amorosa da sua irmã. Tinha a sua lógica, reconheceu Saskia, enquanto percorria a praia da pequena baía naquela zona exclusiva de Sidney Harbour. Qualquer escândalo relacionado com outra pessoa famosa faria com que a imprensa se esquecesse da última indiscrição de Maria Quartermain. Embora isso não fosse valer de nada no que lhe dizia respeito.Mas como ninguém o via desde o incidente do hotel e também não parecia que tivesse saído do país, Saskia deixou-se levar pela intuição para o localizar. Por isso estava ali, escondida pela vegetação que rodeava a praia, a observar aquela casa.A casa onde Alex a levara há oito anos.Saskia ignorou o vazio que sentia no estômago, enquanto olhava para a casa à luz do entardecer.As garagens estavam fechadas quando ela, um momento antes, tocara à campainha do portão. Também não tinha conseguido descobrir se aquela casa

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18era propriedade de Alex ou de alguma das suas empresas. Talvez nunca tivesse sido sua.No entanto, o instinto dizia-lhe o contrário e, apesar da agonia que sentia ao pensar na possibilidadede ver Alex Koutoufides, a sua busca elevava os níveis de adrenalina nas suas veias. Poderia não correr bem daquela vez, mas seguir o seu instinto fora sempre muito positivo na sua carreira profissional.Era evidente que Alex não queria ser encontrado. E se ninguém conhecia aquela casa na praia, não seria o lugar perfeito para se manter longe de tudo?O edifício em si era uma maravilha arquitectónica de madeira e vidro, encaixava na colina como se fizesse parte dela e os seus enormes terraços ampliavam o espaço interior quase até ao mar em todos os andares do edifício. E pelo que recordava, o interior da casa era igualmente impressionante.Assustou-se ao ver acender uma luz no interior. Sabia que quarto era aquele. Tinha estado lá, nua naenorme cama, enquanto a brisa do mar balançava as cortinas. Ainda recordava a magia do momento. Ainda conseguia sentir a tristeza que lhe produziu a rejeição de Alex.Fechou os olhos num esforço para eliminar aquelas lembranças amargas. Não podia deixar que continuassem a magoá-la. Superara-o! Além disso, agora tinha um assunto mais importante entre mãos. A casa não estava vazia, havia alguém lá dentro e ela tinha de se aproximar.Levantou a gola do casaco e tocou na cabeça para se certificar de que os seus caracóis rebeldes estavam presos dentro da boina, não queria que os seus brilhos dourados se tornassem visíveis à luz da lua.

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19O barulho de uma porta a abrir fê-la fixar a sua atenção naquele ponto. Viu movimento de cortinas e, rapidamente, escondeu-se atrás de uns arbustos no momento em que uma pessoa vestida apenas com umas calças de ganga saiu para o terraço. Conteve a respiração ao reconhecer aquela figura arrogante de ombros largos e peito perfeito.Saskia olhou para a cara dele. Não, não havia dúvida, era Alex, com as suas feições morenas e esculpidas.Sentiu ódio e satisfação simultaneamente. Encontrara a sua presa. Encontrara Alex Koutoufides!Não tinha mudado muito. O seu rosto era talvez mais magro e mais duro, o queixo mais pronunciado, como se não costumasse sorrir, mas os seus músculos pareciam mais poderosos. Baixou o olhar à procura das mudanças produzidas pelo tempo, fixou os olhos no seu peito e nos mamilos e, mais abaixo, para os pêlos escuros que desapareciam pelas suas calças de ganga.As mesmas ancas que uma vez se encontraram entre as suas pernas. Os mesmos ombros sobre o seucorpo, preparando-se para a penetrar...Saskia mudou de postura. Tinha a garganta seca e a reacção instintiva do seu corpo aborreceu-a. Como lhe ocorrera pensar que conseguiria esquecer o que se passara há anos? Não, nunca o esqueceria, não devia fazê-lo, tendo em conta a forma como ele se aproveitara dela e fizera com quea empresa do seu pai fosse à falência.Levantou a máquina digital e tirou duas fotografias. O senhor Rodney ia adorar que ela tivesse localizado a sua presa com tanta rapidez, pensou, enquanto voltava a meter a máquina na mala.

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20Ia obrigar Alex a cooperar no trabalho que lhe fora atribuído e isso proporcionar-lhe-ia a segurança económica para cuidar do seu pai, caso contrário, Alex teria de aceitar a publicação de certos feitos que, é claro, não quereria que fossem do conhecimento público. Naturalmente, ele podia escolher, pensou Saskia com um sorriso.Agora, a única coisa que tinha de fazer era subir a colina, meter-se no seu carro e vigiar.Ao virar-se, tropeçou numa coisa sólida, um pedaço de madeira. Conseguiu reprimir um grito instintivo, mas, ao perder o equilíbrio, agarrou-se a um ramo. No entanto, o pedaço de madeira caiu ao mar, fazendo barulho.Era muito agradável respirar e sentir no rosto a brisa fresca do mar. Os últimos dias ali, com Maria aqueixar-se incessantemente, estavam a começar a tirar-lhe a paciência. Mas... que alternativa tinha? Os paparazzi não paravam de rondar os seus escritórios em Sidney à procura de notícias e, de formanenhuma, podia permitir que se aproximassem de Maria. Nem sequer tinha a certeza de que aquela casa na praia permanecesse em segredo durante muito mais tempo; há apenas uma hora alguém tocou à campainha. Um engano? Duvidava.Mas em breve sairiam dali, no momento em que recebesse a chamada que lhe confirmasse que Maria tinha uma vaga na clínica perto do Lago Tahoe. Tratava-se de uma clínica privada, exclusiva, que também funcionava como centro de relaxamento e spa. Lá, Maria estaria a salvo da imprensa e entretida vinte e

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21quatro horas por dia. Ténis, massagens, cirurgia plástica... podia escolher o que quisesse. Quando saísse, os meios de comunicação já se teriam esquecido dela. E, talvez, conseguisseencaminhar a sua vida.Com um pouco de sorte, Maria partiria no dia seguinte, num avião, sem que ninguém a tivesse descoberto.Olhou para a praia. Pelo menos no momento, ali estavam a salvo.De repente, ouviu qualquer coisa. Alguma coisa tinha caído à água. Um intruso?- Alex - chamou Maria do interior da casa. Alex, onde estás? O que vou precisar para...?- Não te mexas de onde estás! - ordenou ele. - Já volto.Voltou a passear a vista pela praia antes de se afastar do corrimão e fechar o terraço.Saskia sabia que Alex não a tinha visto. Agora, o que tinha de fazer era subir a colina rapidamente, voltar a bater à porta e, se ele não abrisse, ficar à espera até que se cansasse.Na escuridão, procurou a entrada pelo caminho entre os arbustos. Ainda estava a tentar encontrá-la quando ouviu uns passos nas suas costas.De repente, uma mão agarrou-a por um braço com firmeza. Ela tentou escapar, mas tropeçou. Sentiu o peso do seu atacante que, puxando-a, a fez rodar até à praia.Quase não conseguia respirar, tinha o rosto enterrado na areia e um dos seus braços presos com força atrás de si. Sentiu uma dor no ombro.

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22- Quem é você e o que raios quer?Conhecia a pessoa que estava a falar. Saskia levantou a cabeça.- Estás a magoar-me. -O que...?Imediatamente, Alex largou-a e levantou-se, horrorizado de ter atacado fisicamente uma mulher. Não tinha imaginado que debaixo daquele casaco preto e daquela boina se escondesse uma mulher.- O que está a fazer aqui? Isto é uma praia privada.Saskia, dorida, deu meia volta e depois endireitou-se até ficar sentada na areia. Olhou para ele fixamente e Alex franziu o sobrolho, enquanto a observava. Finalmente, ela esboçou umsorriso brincalhão, olhando para ele nos olhos.- Vim ver-te, Alex.Os olhos dele abriram-se muito ao reconhecê-la.- Theos! - exclamou ele. - O que raios estás a fazer aqui?- Vim entrevistar-te - respondeu Saskia com calma. Depois, levantou-se e sacudiu a areia docorpo.- Mas antes tinha de te encontrar e, aparentemente, consegui.Antes de acabar a frase, Alex tinha-lhe agarrado na mala que tinha pendurada ao ombro e estava a examinar o seu conteúdo.- Eh! - protestou Saskia, lutando para recuperar a sua mala. - O que estás a fazer?Mas Alex já tinha encontrado o seu telemóvel e a sua máquina fotográfica, deixando-lhe a mala como prémio de consolação. Quando Saskia se deu conta do que ele queria, Alex já tinha aberto a máquina.

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23Uma fúria crescente invadiu-a ao vê-lo encontrar as fotografias que lhe tirara quando estava no terraço.- Vlaka! - exclamou Alex, amaldiçoando-se por semelhante descuido.Como tinha suspeitado, aquela não era uma visita inocente. E agora que um deles os tinha encontrado, podia esperar a presença de um exército de paparazzis. Maria já não estava a salvo ali. Ele também não.Alex tirou o cartão de memória da máquina fotográfica e atirou-o ao mar.- Não tens o direito de fazer isso!- Acabei de o fazer.Alex olhou fixamente... para aquele fantasma do passado. A pequena Saskia Prentice transformara-se numa mulher. E claro, os mesmos caracóis que enfeitavam um rosto em forma de coração, a mesma boca desenhada, a mesma pele branca e os olhos mais verdes que vira na sua vida, no entanto, as curvas que se adivinhavam por baixo do casaco pareciam indicar que a transformação deadolescente para mulher fora generosa com ela. A única coisa que desaparecera fora a inocência dosseus olhos; neles, só via um cinismo frio e duro.Durante uns momentos, perguntou-se até que ponto se devia a ele. Mas rejeitou a ideia imediatamente. Não, o emprego que Saskia escolhera era o responsável. Ninguém podia permanecer inocente naquele tipo de trabalho.Um tipo de trabalho de que ele não gostava.- És repórter - disse Alex, colocando o telemóvel e a máquina no bolso da camisa que, apressadamente, vestira dentro da casa antes de sair. Esperava que Saskia não tomasse as suas palavras em jeito de

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24elogio, porque não era. - Pressuponho que não devia surpreender-me que alguém como tu acabasse a trabalhar para a imprensa do lixo.- Sou jornalista - disse ela, enfatizando as suas palavras, com um olhar ainda mais frio. - Trabalho numa revista de negócios. E agora que já fizeste o que querias com o meu telefone e a minha máquina, importavas-te de mos devolver.- E dar-te outra oportunidade de me tirares uma fotografia ou de telefonares aos teus colegas? - Alexsabia muito bem que tipo de revistas se dedicavam a perseguir os ricos e famosos. Também sabia como se comportavam, perseguindo as suas presas como aves de rapina, à espera de fazer dinheiro àcusta de trazer a público a vida privada de alguém. Parasitas, todos eles.- Como ia fazê-lo? Atiraste o cartão de memória ao mar.- Os repórteres não têm sempre um de recurso? Não, nem pensar, não vou dar-te isto até me dares o teu cartão e farei com que te enviem isto.- É propriedade minha! Não me vou embora sem a minha máquina fotográfica e o meu telemóvel.- Neste momento estás na minha propriedade e não me recordo de te ter dado permissão para entrares, muito menos para me tirares fotografias com intenção de as venderes ao melhor licitador. Estou farto dos parasitas como tu, a perseguir Maria, à espera da mínima oportunidade para a destruir.- Eu jamais faria isso! Como já te disse, trabalho para a revista...- Óptimo - interrompeu Alex, sem acreditar em nenhuma palavra. - Nesse caso, não será um problema

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25não teres aquelas fotografias. Diz-me, quem te disse que estava aqui?Saskia ficou a olhar para ele, com as mãos nas ancas.- Ninguém me disse.- Nesse caso, como sabias que estava aqui? Ela sorriu de um modo sarcástico.- Lembrei-me de passar por aqui... recordando os velhos tempos. Não te esqueceste daquela noite, ou esqueceste? Divertimo-nos tanto...Alex olhou para ela, furioso.Esquecer aquela noite? Impossível. Embora tivesse tentado repetidamente, a lembrança daquela noite era como uma mancha indelével na sua psique. Fora um erro, um grande erro. E agora Saskia voltara, uma lembrança a três dimensões do passado. Como fora idiota ao levá-la para aquela casa!Mas fosse o que fosse o que Saskia queria dele, ia voltar por onde tinha vindo. Estava errada se pensava que o que tinha acontecido há anos lhe ia permitir a entrada na sua vida privada agora.- Quero que te vás embora imediatamente.- E eu a única coisa que quero é uma entrevista.- Estás a perder tempo. A minha irmã não dá entrevistas.- Não quero falar com a tua irmã. Quem interessa à minha revista és tu.- Sim, pois - disse Alex, conduzindo-a para o caminho íngreme. - E agora, vai-te embora se não queres que chame a polícia para que te tirem daqui.- Não vou a lado nenhum sem conseguir fazer-te um perfil.- E era assim que pensavas conseguir, escondendo-te entre os arbustos como um paparazzi?

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26- Tinha de descobrir se estavas aqui. Além disso, primeiro bati à porta, mas tu não abriste.- Não te ocorreu pensar que talvez não quisesse falar com ninguém?- Tens de concordar em dar-me a entrevista.- De maneira nenhuma. Se tivesses realmente alguma coisa a ver com o mundo dos negócios, saberias que não dou entrevistas nem permito que façam perfis meus.- Desta vez permitirás. Trabalho na revista AlphaBiz...- Eh, espera um momento - Alex parou. - Essa revista não faz parte do grupo Snapmedial Esse grupo de parasitas dedicados a descobrir os podres dos famosos? Sabia que não podia confiar em ti.- Eu trabalho na Alpha Biz! É uma revista de negócios.- Mas que pertence ao mesmo grupo da Snapl Faz parte da imprensa de porcaria. E não finjas ser alguma coisa de especial, não vou acreditar.- Tens de me ouvir...- Não tenho de ouvir nada. Tu, no entanto, tens de te ir embora já - Alex aproximou-se dela, deixando-lhe claro que queria que desse meia volta e se afastasse dali a toda a pressa. - Adeus, menina Prentice. Tome cuidado, o caminho tem muitas pedras.Mas Saskia não se moveu. E desejou ser mais alta, desejou não se sentir intimidada pelo tamanho e pela proximidade dele, desejou que o calor que emanava do corpo de Alex não estivesse a perturbar-lhe os sentidos.- Alex, garanto-te que não queres que me vá embora.- Nisso enganas-te.

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27- Embora não aceites que faça um perfil teu, vou ter de o fazer... e serei obrigada a escrever o que puder, o que souber. Não é possível que queiras isso.Alex praguejou.- Não tenho dúvidas de que é isso que vais fazer, quer aceite que me entrevistes quer não.- Vou escrever que me atacaste.- Força, escreve. Estavas na minha propriedade vestida como um rapaz.Saskia respirou fundo, tentando ganhar a coragem necessária para dizer:- Nesse caso, escreverei sobre a tua falta de escrúpulos nos negócios. Acabarás por ter de esquecer atua vida de recluso, a imprensa do mundo inteiro vai andar atrás de ti.Alex aproximou-se ainda mais e olhou para ela com um olhar gélido. Mas ela não recuou, aceitou a provocação.- A que raios te referes?- Por seres o homem de negócios transparente como a água, acabarás por ser amaldiçoado. Quando acabar contigo, não te atreverás a aparecer em público.- Isso é tudo tretas! - declarou Alex, apesar de começar a sentir uma certa angústia.- É isso que achas? Bem. volta para a tua casa. Estou desejosa de publicar a triste verdade de como fazes os teus negócios, de como compras empresas e de como gostas de celebrar as tuas vitórias, humilhando o adversário, seduzindo e rejeitando as suas filhas.

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28A fúria obscureceu os olhos de Alex, a sua expressão estava cheia de ódio.- Portanto não tinhas nada a ver com a imprensa da porcaria, eh?- Estou a falar em contar a verdade, em contar como foi e de contar o que me fizeste justamente no dia antes de destruíres a empresa do meu pai e de lhe destruíres a vida - respondeu ela com uma calma fingida.- Pode saber-se o que te fiz exactamente? -Aproveitaste-te de mim!- Vais contar na tua revista que te violei?- Não! Jamais diria isso. Embora não duvide que gostarias de imaginar que não houve nenhuma relação sexual entre nós.- Fomos para a cama juntos e, se bem me lembro, tu estavas contente.- E tu! Pelo menos, foi o que achei no momento. Alex mudou de expressão.- Por isso é que estás tão zangada comigo, porque não acabei o que comecei?Saskia pestanejou, ao reconhecer parte da verdade.

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29- Vai ser esse o título do artigo? ”Homem rejeita desvirginar a mulher.” O que queres realmente, condenar-me ou fazer com que pareça um santo?- Teres ou não parado é irrelevante. A questão é que me levaste para a cama.- Não. Não sei quantos homens não se teriam aproveitado do que tão facilmente lhes oferecias numabandeja de prata! Só te faltou pores-te de joelhos e suplicar-me!- A questão não é essa! - protestou Saskia.Era isso que Alex achava? Era assim que recordava o ocorrido? Não fora assim, pelo menos, não para ela.De repente, a situação descambara para assuntos demasiado pessoais, demasiado dolorosos que abriam feridas antigas. Que importância tinha não ter chegado a consumar o acto sexual? Faltara-lhes pouco e a rejeição de Alex fizera-a sentir-se violada. Usara-a e depois mandara-a embora.- Nesse caso, qual é a maldita questão? - quis Alex saber.- Se não quisesses ficar com a empresa do meu pai, não me terias levado para a cama - conseguiu ela dizer. - Para ti não era suficiente acabar com o negócio do meu pai, tinhas de o humilhar e ao resto da sua família.Os olhos de Alex iluminaram-se de forma perigosa e Saskia deu-se conta de que tinha razão. Mas não viu sinais vitoriosos na confirmação dele,- Não podes publicar isso - sussurrou ele com intensidade. - Não tens ideia ao que te exporias.Saskia reparou no tom de ameaça na sua voz.- Prova isso - desafiou ela. O facto de estar a ameaçá-la

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significava que Alex tinha medo do que ela pudesse revelar, tinha medo do impacto que isso poderiater nos seus negócios. - O mundo inteiro vai descobrir que tipo de homem és. Além disso, achas queisso vai ajudar a tua irmã? Boa noite, Alex. Dorme bem.Saskia deu meia volta e ele praguejou. Maldita mulher! Justamente quando Maria estava praticamente a salvo. Justamente quando ele estava prestes a afastá-la da imprensa cor-de-rosa, a mesma imprensa que ia virar-se contra ele. E só havia uma forma de o evitar.Alex agarrou-a por um braço, parando-a, quando Saskia apenas tinha dado dois passos.- Espera.Ela baixou o olhar e fixou-o na mão de Alex, com os seus olhos esmeralda frios e mortais.- Eu não gosto que me toques. Alex largou-a.- Quem vai garantir-me que, mesmo que concorde com a entrevista, não vais publicar isso?- Eu. Dou-te a minha palavra.- Porque é que ia confiar na tua palavra?- Pensas mesmo que quero que as pessoas descubram o que me fizeste? Mas não tenhas ilusões, publicá-lo-ei se não tiver outra opção. No entanto, se me deres a entrevista para te fazer o perfil, ninguém saberá o quanto és descarado nem o quanto fui idiota.- Nesse caso, dou-te a entrevista. Saskia pestanejou.- Está bem - disse ela finalmente. - Quando terás tempo para falarmos nos pormenores? Não te incomodarei na medida do possível, mas precisamos de tempo para entrevistas pessoalmente.

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31- Eh, espera. Concordei em dar-te a entrevista, mais nada.-Mas...- E concedo-te dez minutos. A partir de agora.- Não! Não é assim que trabalho. Não posso fazer um perfil sobre ti em dez minutos.- Nesse caso, de quanto tempo precisas?- Uma semana pelo menos. Às vezes, mais. Depende da cooperação do sujeito da entrevista. Precisode ver como trabalhas, preciso de ter acesso aos teus escritórios.- Uma semana? Nem pensar, não há acordo. Nem sequer vou estar cá, na Austrália.O olhar dela endureceu-se.- Então não temos mais nada a dizer um ao outro. Ou o perfil ou verás o que vou escrever sobre ti. Eaviso-te, vai ser muito bom... mas não para ti.Porque é que aquela mulher tinha de aparecer na sua vida outra vez?O telemóvel que tinha no bolso das calças tocou três vezes. Sem mexer a cabeça, tirou-o do bolso e levou-o ao ouvido; sabia que era Jake.-Sim.Alex ficou a ouvir uns momentos sem desviar o olhar dela. Sentiu uma grande satisfação ao ouvir que em vinte e quatro horas Maria estaria a salvo nos Estados Unidos. Mas o que ouviu depois preocupou-o.- O que queres dizer com isso de ”um engodo”?- O aeroporto está cheio de repórteres - argumentou Jake Wetherill. - Podíamos levar Maria de helicóptero até Brisbane e partir daí para os Estados Unidos, mas não é certo que aí não haja jornalistas. No entanto, se acontecesse alguma coisa que concentrasse

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32a atenção em ti, Maria poderia escapulir-se sem que ninguém a visse.Alex abrandou o olhar, enquanto observava Saskia.- Um engodo, eh? - repetiu Alex, enquanto lhe passava pela cabeça uma ideia louca. Talvez funcionasse. E podia ajudá-lo noutros sentidos... - Está bem.Alex desligou e voltou a meter o telemóvel no bolso das calças.Saskia olhou para ele com apreensão ao vê-lo sorrir.- O que se passa?- Será melhor que me acompanhes - disse ele, agarrando-lhe o pulso. - Tens de estar pronta em breve.- Estar pronta para quê? O que vais fazer?- No fim, terás o teu perfil.Saskia fincou os calcanhares na areia, não confiava nele.- O que tenho de fazer para o conseguir? O que é isso de ”engodo”?Alex puxou-a, obrigando-a acompanhá-lo.- Vou fazer um acordo contigo. Tu consegues o teu perfil e, em troca, fazes uma coisa por mim.- O quê? Alex parou.- Fazes demasiadas perguntas.- Sou jornalista - argumentou ela. - Faz parte do meu trabalho.- E a única coisa que te proponho é dar-te a oportunidade para que o faças.- O que tenho de fazer para conseguir?Alex olhou para ela e, durante uns segundos loucos, sentiu vontade de a beijar.

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33Devia estar louco.Desviou o olhar, para quebrar o feitiço daqueles olhos verdes e voltou a puxá-la em direcção à casa.- Amanhã vamos para os Estados Unidos. Tens o passaporte à mão?- No hotel. Mas... para os Estados Unidos? Porquê?- Importa-te onde te conceda as entrevistas para que possas fazer o meu perfil? -Não, mas...- Nesse caso, enviarei alguém para ir buscar as tuas coisas. Vens comigo. Querias uma semana e conseguiste-a. A única coisa que te peço em troca é que me ajudes a colocar Maria num avião sem que ninguém a descubra.- Era esse o ”engodo” ao qual te referias?- Rapariga esperta.- E o que é suposto eu fazer?- Simplesmente passeares-te pelo aeroporto comigo calmamente. Os repórteres ainda andam à procura de Maria, pois bem, quero que me vejam a andar pelo aeroporto contigo... de mão dada.Saskia, finalmente, compreendeu o significado daquelas palavras.- Tu e eu? - Saskia abanou a cabeça depois de perguntar - Queres que pensem que há alguma coisa entre nós, não é? Que sou tua amante ou algo do género, não é isso?Alex permitiu-se sorrir. Saskia pronunciara a palavra ”amante” como se fosse um míssil e deu-se conta de que encontrara a pessoa perfeita para o que queria fazer. Acontecesse o que acontecesse no dia seguinte, fosse o que fosse o que tivesse de fazer para convencer

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os jornalistas que eram um casal, Saskia jamais lhe exigiria que aquele teatro se tornasse realidade depois. -Estás louco!- Antes pelo contrário, é o plano perfeito. Tu acompanhas-me e consegues fazer o teu desejado perfil e Maria sai do país sem que ninguém a incomode.- Não funcionará. Eu não poderia... não poderia...- O que é que não poderias, Saskia? - Alex passou-lhe a mão pelo braço até ao ombro, depois, rodeou-lhe o pescoço, enquanto observava os olhos de Saskia a mexerem-se ao sentir o contacto da sua pele.- Fingir que gostas de mim? Acho que ambos sabemos que isso não é verdade. Acho que, seolhares para o passado, vais recordar-te o quanto era fácil gostares de mim.Saskia pestanejou, mas o seu movimento rápido não conseguiu desfazer-se da mão dele.- Isso foi há anos! Recuso-me a fingir que gosto de ti, sobretudo, depois do que fizeste à minha família, depois de saber do que és capaz.”E muito menos odiando-te como te odeio!”- E apesar de tudo, estás aqui - Alex acariciou-lhe a pele do pescoço, maravilhando-se com a sua textura aveludada, sentindo o pulso acelerado dela. Não te parece estranho? Se realmente me odeias, porque é que aceitaste este trabalho?- Não me deram alternativa! Tenho de o fazer para progredir na minha carreira profissional.Garanto-te que não me ofereci como voluntária.- Não te deram alternativa? É por isso que estás aqui?

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35Uma onda de raiva foi notória nos olhos de Saskia, mas permaneceu quieta, sem se mexer. Limitou-se a olhar para ele fixamente, com raiva nos olhos.- Não, não é a única razão - redarguiu ela. - Uma vez que soube que não tinha outra solução senão vir, alegrei-me de que me aparecesse a oportunidade de fazer alguma coisa que pudesse provocar a tua queda.Portanto odiava-o realmente? Muito melhor.- Lamento decepcionar-te - disse Alex. - Bom, há acordo ou não? O meu perfil em troca da tua cooperação?Finalmente, Saskia assentiu.- Óptimo. Nesse caso, assim que Maria estiver a salvo e tu tiveres feito o teu perfil, voltarás para onde vieste com o teu trabalho feito.- De acordo - respondeu Saskia.- Só uma condição - acrescentou Alex.- Qual?- Não falarás com Maria. Nem esta noite nem em nenhum momento. Não falarás com Maria nem lhe tirarás fotografias. Entendido?Saskia pareceu aliviada.- Já te disse que não vim para entrevistar Maria, vim entrevistar-te a ti.Alex olhou para ela friamente.- Certifica-te de que é assim - disse ele passado um momento. - Caso contrário, arrepender-te-ás.Apesar da condição que Alex impusera, Maria estava presente quando entraram na casa.

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36- Havia alguém lá fora? - perguntou Maria com curiosidade.Mas Alex fez um gesto a Saskia para que não entrasse na casa.- Uma visita imprevista - Alex agarrou o braço de Saskia com força como se tivesse medo de que esta se lançasse para Maria. - Maria, peço-te que não te aproximes dela. Vou levá-la para o quarto das visitas e não vai sair de lá.- Quem é?- Uma repórter - respondeu ele como se aquelas duas palavras lhe tivessem azedado a boca. - Ninguém com quem devas preocupar-te...- Sou jornalista - interrompeu Saskia, farta de que falassem dela como se não estivesse presente e consciente da expressão de receio que aparecera no rosto de Maria. - Vim entrevistar Alex. Trabalhopara a revista AlphaBiz e chamo-me...- Isso não interessa! - interrompeu Alex, olhando para ela para lhe lançar um olhar assassino. Depois, dirigiu-se novamente à sua irmã. - E diga o que disser, não vamos correr risco nenhum. Nãofales com ela. E aconteça o que acontecer, não respondas a nenhuma pergunta.Saskia reparou que Maria olhava para ela com medo. Sem a maquilhagem com que costumava vê-lanas fotografias das revistas, Maria apresentava um aspecto vulnerável, o seu rosto era pálido e os seus olhos eram grandes e inocentes.- Nesse caso, porque é que está aqui?Alex já estava a levar Saskia para umas escadas.- Vai ajudar amanhã no aeroporto para que não te descubram; em troca, vou dar-lhe a entrevista que diz

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37que quer. Ela e eu iremos à frente, enquanto isso, Jake vai encarregar-se de ti.- Não quero que Jake me acompanhe! - gritou Maria. - Não o suporto. Não preciso de uma ama!- Vais fazer o que estou a dizer-te! - respondeu Alex, virando a cabeça.Alex continuou a subir a escada, levando Saskia, e não a soltou até chegarem a uma sala no andar de cima.Ali, Alex fechou a porta, enquanto ela, esfregando o braço, olhou à sua volta, reparando nos tons café e creme. Pressupôs que, por trás das cortinas das janelas, haveria uma vista impressionante do porto. Do outro lado de uma porta aberta viu um quarto; a cama enorme recordou-lhe outra cama naquela mesma casa, noutro lugar no tempo...Não, Alex não a levara ali para continuar onde tinham parado anos atrás. Além disso, de maneira nenhuma ela o permitiria.- Não quero que saias desta zona. Vou pedir que te tragam qualquer coisa para comeres.- Vou ser tua prisioneira?Os olhos de Alex estavam escuros e o seu olhar era impenetrável.- Tens tudo o que possas precisar. Há uma casa de banho no quarto. Não é necessário que saias para fazer nada.- Preciso das minhas malas. Além disso, tenho de devolver o carro que aluguei. Não posso fazer nenhuma das duas coisas sem sair daqui.- Dá-me as chaves. Eu trato da tua bagagem e de devolver o carro.- Não quero que ninguém revolva as minhas coisas! Quero ser eu a ir buscar a minha bagagem.

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38- Não vais sair daqui até amanhã. E, até então, farás o que eu te disser.- Gostas de manipular as mulheres e dizer-lhes o que podem fazer ou não? Nem sequer permites à tua irmã decidir com quem fala ou com quem viaja.- Deixa a minha irmã em paz!- Eu jamais permitiria que o meu irmão me tratasse como tu a tratas. Não compreendo como aguenta isso. Se fosses meu irmão, mandar-te-ia para o inferno.- Como te disse, não tens nada a ver com isso. Tu não sabes nada de nada sobre esse assunto e será melhor que te mantenhas à margem. Entendeste?- O que percebi é que para a tua irmã seria indiferente protestar ou não; tu não a ouvirias.- Para alguém que confessa não estar interessada na minha irmã, pareces preocupar-te demasiado com o assunto.- Achas isso estranho? Tendo em conta que estou na mesma casa que ela, claro que me importo. Maria não é invisível!- O facto de estares aqui deve-se exclusivamente ao facto de eu querer que Maria saia do país sem que os paparazzi descubram. Se conseguir isso, terá as entrevistas de que precisas para me fazeres operfil que, segundo tu, precisas de fazer. Caso contrário, não há acordo. Entendido?- Perfeitamente - respondeu Saskia. - Mas não te esqueças de que, se deres um passo em falso, escreverei um artigo que afectará negativamente os teus negócios.Os olhos de Alex revelaram fúria. Durante um momento, Saskia sentiu o ressentimento que emanava deles como se fosse algo evidente. Mas, subitamente,

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39algo diferente apareceu naqueles olhos, acompanhado de um sorriso.- Fico contente por nos entendermos tão bem. Trazer-te-ão a bagagem mais tarde. Até lá, boa noite.O terminal internacional do aeroporto de Sidney estava abarrotado de gente quando a limusina pretaparou em frente às portas de saída. Saskia respirou fundo, enquanto esperava que o motorista lhe abrisse a porta, pronta para representar o papel de amante de Alex. Amante de Alex? Pois, pois! Depois da forma como ele a tratara na noite anterior, sair-se-ia muito melhor no papel da pior inimiga de Alex. No entanto, com um pouco de sorte, ninguém lhes prestaria atenção e ela conseguiria fazê-lo, limitando-se a dar-lhe a mão.Mas quando olhou de soslaio para o homem sentado ao seu lado, deu-se conta de que passar despercebidos seria impossível. Com excepção da chegada numa limusina ao aeroporto, um homemdo porte e com a estatura de Alex não podia passar despercebido de maneira nenhuma. Além da sua beleza morena e roupa elegante, aquele homem emanava poder, atraindo a atenção das pessoas como um íman. Além disso, não era chamar a atenção que Alex pretendia? O contrário era impossível.Alex foi o primeiro a sair do carro. Depois, aproximando-se, estendeu-lhe uma mão, estava a usar óculos de sol.- Pronta? - perguntou ele. Saskia achara estar pronta, mas hesitara momentaneamente antes de lhe dar a mão.”Tem calma, é só a fingir”, disse para si. ”É pelo

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meu perfil. Depois, vou-me e nunca mais voltarei a vê-lo”.Saskia deu-lhe a mão e fez o que pôde para ignorar o calor do toque da sua pele quando ele fechou os dedos sobre os dela com suavidade e firmeza ao mesmo tempo, enquanto a afastava do carro.Saskia olhou, nervosa, à volta dele numa tentativa de se distrair, para esquecer o homem que tinha ao seu lado, enquanto o condutor da limusina descarregava a bagagem e a punha num carrinho. Parecia estar a demorar muito tempo, sem dúvida, para chamar a atenção dos membros da imprensa.Já tinham chamado a atenção de várias pessoas, que olhavam para eles e murmuravam. Ela virou a cabeça, consciente de que, uns doze carros atrás do seu, estava o de Maria. A irmã de Alex usava uma cabeleira preta, pois os seus cabelos normalmente pintados de loiro platinado chamavam muitoa atenção e usava um fato de corte sóbrio. Jake acompanhava-os e ambos estavam à espera que ela eAlex chamassem a atenção da imprensa para conseguir tirar a sua bagagem e passar na alfândega anónima.- Sabias que estás linda hoje?Sobressaltada, Saskia virou a cabeça ao ouvir as palavras de Alex, mas a expressão que viu nele nãoparecia acompanhar as suas palavras. Faziam parte do papel que estavam A representar. Além disso,não se importava com o que Alex pensava. Mas então, a mão que ele tinha livre desviou-lhe os caracóis para trás da orelha com movimentos suaves e, simultaneamente, viris, fazendo com que os batimentos do seu coração acelerassem.Não podia permitir que aquele homem a afectasse

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daquela maneira! Anos atrás fizera-o e fora o maior erro da sua vida.Alex exasperara-a naquela manhã ao fazê-la trocar de roupa duas vezes, ao obrigá-la a desfazer-se dos fatos práticos que tinha nas suas malas e ao fazer com que lhe enviassem roupa para casa, vindade uma loja famosa. Depois, ele próprio escolhera o vestido que devia vestir, contratara uma cabeleireira para ir lá a casa para lhe arranjar o cabelo. Em definitivo, transformara-a na mulher com quem aceitava ser fotografado e, apesar disso, ela tinha de admitir que gostava do resultado final. Sentia-se bonita, inclusive atraente.Saskia tentou afastar-se ligeiramente de Alex mas ele, rodeando-lhe os ombros com um braço, impediu-a.- Tem calma - murmurou Alex ao ouvido. - Precisamos de ser convincentes.Então, Alex tirou os óculos de sol e olhou para ela como se fosse a única coisa importante no mundo para ele.Saskia sentiu um aperto no estômago. Conhecia aquele olhar, sabia a paixão que podia despertar. Também sabia que aqueles olhos podiam transformar-se em frios e cruéis.”Não consigo continuar com isto”, pensou Saskia.Imediatamente, viu o olhar de Alex tornar-se duro e deu-se conta de que falara em voz alta.- Tens de o fazer. Fizemos um acordo - declarou Alex.Saskia pestanejou. Sim, Alex tinha razão, conseguia fazê-lo. Tinha de o fazer porque não restava outra alternativa.Além disso, Alex não podia fazer-lhe mal porque ela agora sabia o tipo de homem que era.

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42Não, não ia permitir que ele a manipulasse.Tinham apenas dado uma dúzia de passos no terminal quando tudo começou. Apesar de o balcão de primeira classe ser rápido e eficiente, no momento em que se afastaram dele com os cartões de embarque depararam-se com um grupo de fotógrafos que pareciam ter aparecido como por artes mágicas.- Aqui estão os abutres - disse Alex, agarrando-a pelo braço e ignorando as chamadas dos fotógrafosque queriam chamar a sua atenção. - Vamos.- Como está Maria? - gritou alguém.- Onde está? - perguntou outro indivíduo, aproximando um microfone de Alex.Alex afastou o aparelho.- Esperava que vocês me pudessem dizer - respondeu Alex sarcasticamente. - Parecem saber tudo sobre ela.Alex continuou a avançar para a zona da polícia.Saskia seguiu-o, protegida pelo braço poderoso que Alex tinha posto por cima dos seus ombros. As perguntas continuaram acompanhadas pelos flashes das máquinas fotográficas. Não se surpreendia que Alex tivesse querido proteger Maria daquelas pessoas.Sobre o mar de cabeças e de máquinas levantadas, aparecia a entrada para a zona de recepção dos passageiros de primeira classe. Mas desapareceu rapidamente, quando Alex a conduziu para um dosbares mais próximos.O que raios estava a fazer?, pensou ela.- Quem é a sua amiga? - inquiriu um repórter intrépido, aparentemente, cansado de não obter resposta às perguntas sobre Maria. - Não é frequente

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ver o solteiro mais cobiçado da Austrália num local público e muito menos na companhia de uma mulher. Imediatamente, a pergunta provocou a reacção que Alex esperara e outros repórteres começaram a perguntar sobre Saskia em vez de sobre Maria. Ele sorriu depois de ter pedido champanhe a uma empregada.- Sem comentários - disse Alex aos repórteres. Como era de prever, os jornalistas começaram a disparar perguntas. Saskia chegou a cabeça para trás numa tentativa de afastar os microfones que lhe estavam a pôr à frente.Alex levantou uma mão para a proteger dos repórteres, enquanto, com a outra mão, lhe agarrava a dela.- Saskia é uma boa amiga, mais nada.Mas o olhar que Alex lhe lançou foi puro pecado. Sob o sutiã minúsculo, sentiu-se arrepiada e um calor percorreu-lhe o corpo. Quase não conseguia respirar.No entanto, Saskia recordou-se de que fazia parte da representação, enquanto as máquinas continuavam a fotografá-los.Sorriu de forma enigmática para as objectivas. Em breve estariam longe dali, missão cumprida. Maria e Jake já deviam estar na zona reservada aos passageiros de primeira classe e, felizmente, aquele teatro teria acabado.- Achas que devíamos dizer-lhes, querida?As palavras de Alex tiraram-na dos seus pensamentos. Querida? Dizer-lhes... o quê? Um calafrio percorreu-lhe o corpo.- Alex... - sussurrou ela, procurando na expressão dele alguma coisa que lhe indicasse que o jogo estava prestes a acabar.

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No entanto, o instinto dizia-lhe que Alex não era o tipo de homem que passava de lobo a cavaleiro andante.- Eu sei, eu sei - disse ele, acariciando-lhe uma perna.Excitando-a. Despertando uma paixão não desejada.- Bom, já sei que queríamos que continuasse a ser um segredo, pelo menos, durante mais algum tempo.- Que fosse um segredo o quê, senhor Koutoufides? - perguntou um dos repórteres, antecipando uma grande notícia. - Que são mais do que amigos?Saskia sentiu uma onda de pânico. O que raios é que Alex estava a fazer? Ela estava a cumprir a suaparte do acordo, não lhe parecia suficiente?Saskia forçou um sorriso, no entanto, inclinou-se para ele e perguntou-lhe com uma fúria contida.- Isto não fazia parte do plano!Alex beijou-lhe a têmpora antes de responder:- Eu sei, querida. Mas... porquê esperar?Alex serviu-se de mais champanhe e pediu mais meia dúzia de garrafas para convidar os elementos da imprensa.- Senhoras e senhores - disse Alex, levantando-se e obrigando Saskia a acompanhá-lo. - É um prazeranunciar-vos que a menina Prentice concordou ser minha esposa.

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45De repente, gerou-se uma confusão à volta dele. Mas Saskia estava tão furiosa, que nem prestou atenção ao furor que a declaração de Alex tinha causado.- Alex! O que raios...?Mas Alex não a deixou acabar. Fosse o que fosse que Saskia tivesse estado prestes a dizer, desapareceu quando ele cobriu a boca dela com a sua. Viu incredulidade nos olhos dela, no entanto, apertou-a contra si. Saskia tinha os lábios húmidos, o seu sabor era doce. Podia não gostar de se ver envolvida naquilo, mas o seu corpo gostava, um corpo coberto com uma malha extremamente fina edelicada. E sob o estampado floral escondia-se uma pele perigosamente feminina, tanto que lamentou não se encontrar num lugar mais privado e íntimo naquele momento.Sentiu-a tremer nos seus braços...Naquele momento, o seu telemóvel tocou e Alex sorriu para si. Maria e Jake estavam a salvo, o que significava que podia parar de beijar Saskia. Mas não o fez, continuou a beijá-la e a apertá-la contra o seu

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corpo, aproveitando o prazer que aquela mulher lhe estava a proporcionar.O plano correra bem. Atraíra a atenção dos repórteres. E, para cúmulo, estava a divertir-se. Mas já era suficiente.Além disso, se não parasse de beijar Saskia imediatamente, o seu estado físico pô-lo-ia numa situação embaraçosa.Com desinteresse, Alex afastou os lábios dos dela com uma certa apreensão, temeroso de que Saskia lhe arranhasse o rosto pelo que fizera. Mas viu no rosto dela que, pelo menos no momento, oseu espírito de luta a abandonara. Os olhos verdes de Saskia mostravam confusão. Apesar disso, ele sabia que a raiva depressa se apoderaria dela.”Theos!”Só de olhar para ela voltara a sentir-se ameaçado pela reacção física que tentara evitar. Agarrou Saskia, pô-la à sua frente e rodeou-lhe a cintura com os braços, de frente para os membros da imprensa.- Obrigado - disse ele aos repórteres. - E agora, se nos dão licença... Temos um avião para apanhar. Por favor, desfrutem do champanhe.Saskia, contendo a fúria que sentia, conseguiu chegar às escadas rolantes que os conduziram ao restaurante de primeira classe localizado no andar de cima. Depois de as portas de vidro se fecharem atrás deles, decidiu fazer-se ouvir.- Não tinhas o direito de fazer o que fizeste! Alex sorriu, apesar de estar um passo atrás dela.- O acordo era fazeres-te passar por meu amante. Acho que ambos fomos muito convincentes, não achas?

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47Saskia virou-se para ele e os olhos frios de Alex fizeram-na corar, uns olhos que, apenas uns minutos antes, tinham olhado para ela com um desejo primitivo, uns olhos que a tinham despido... eum desejo que não se limitara aos seus olhos.E quando Alex a pôs à sua frente, ela sentira a evidência inconfundível desse desejo encostada ao seu próprio corpo e, infelizmente, este reagira também com vontade própria.Mas... o que é que Alex estava a tentar demonstrar-lhe?- Aquelas fotografias vão aparecer amanhã em todos os jornais.- Eu sei - respondeu Alex como se adorasse a ideia. - A falta de eficiência não é um dos defeitos da imprensa cor-de-rosa.- Por acaso achas que quero aparecer nos jornais contigo... assim?- Neste momento o que tu queres ou deixas de querer não me interessa. Isto foi tudo um meio para atingir um objectivo, mais nada.- Nesse caso, porque é que tiveste de dizer que estamos noivos? Por que motivo o disseste?- Tinha de fazer com que não perdessem o interesse em nós - explicou Alex. - Não queria que se fossem embora antes de me certificar de que Maria estava a salvo.- Certamente, é preciso reconhecer que conseguiste cativar o interesse da imprensa - apontou ela.Naquele momento, um empregado conduziu-os para uma sala privada e Saskia esperou até estarem a sós para acrescentar:- Mas em breve a imprensa escreverá sobre outro

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48acontecimento, referindo-se a este noivado como o mais curto da História.- Não necessariamente - respondeu Alex com um sorriso ao mesmo tempo que lhe indicava que se sentasse numa das confortáveis poltronas ou num pequeno sofá à volta de uma mesa de centro.Saskia olhou à sua volta, esquecendo-se momentaneamente do que estavam a falar.- Onde está Maria? Não disseste que já estava a salvo? Achava que já devia estar aqui.Alex olhou para ela e ficou tenso.- Achas que vou permitir que te aproximes da minha irmã? Já corri um risco considerável ao permitir que as duas passassem a noite debaixo do mesmo tecto.-Já te disse que...- Não - interrompeu Alex com firmeza. - Maria está a salvo e tu não vais aproximar-te dela. Alterámos os planos. Jake e Maria vão noutro avião, não no nosso.- Repito que Maria não me interessa!- Nesse caso, ainda é melhor. O que te apetece beber?Saskia deixou-se cair numa poltrona.- Não achas suficiente o champanhe que bebeste para celebrar o nosso compromisso? Acho que devias explicar o que quiseste dizer primeiro.Alex franziu a testa ao mesmo tempo que pedia as bebidas à empregada.- Primeiro?- Sim, quando insinuaste que talvez o nosso noivado não fosse o mais curto da História. O que quiseste dizer com isso?

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49Alex encolheu os ombros como se o assunto não tivesse a menor importância.- Simplesmente que talvez convenha a ambos prolongar este ”acordo”, pelo menos, até teres acabado o perfil que vais fazer sobre mim.- Estás louco! Isso não estava no acordo. Foste tu quem deu a notícia, foste tu que mentiste à imprensa.- E amanhã será um facto. O mundo inteiro vai ficar convencido de que vamos casar-nos.- Não - Saskia abanou a cabeça. - Não, de maneira nenhuma.- Vais ver que sim - respondeu Alex, levantando o copo de uísque que lhe tinham servido. - Caso contrário, não vais conseguir o perfil. É muito simples.- Fizemos um acordo! Eu cumpri a minha parte.- A única coisa que estou a fazer é alargar os termos do acordo, mais nada.-Alteraste-o, foi isso que fizeste.- Faz sentido, para ambos. Embora fiquemos no Lago Tahoe durante a nossa estadia nos Estados Unidos, eu tenho de ir a Nova Iorque para ir a uma angariação de fundos. Sem dúvida, tu quererás acompanhar-me para elaborares o teu perfil e, se estiveres comigo lá, é natural que as pessoas nos perguntem sobre o noivado. Será menos embaraçoso para ambos continuarmos a fingir estarmos noivos, pelo menos, enquanto continuarem a ver-nos juntos.- Queres dizer continuar a enganar as pessoas! era inconcebível. Não podia continuar a fazer o papelde namorada de Alex, chegava-lhe um dia. - Não vou continuar com este jogo. Eu cumpri o que acordámos e agora é a tua vez.Alex encolheu os ombros.

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50- É uma pena. Porque se não o fizeres, não vais conseguir o teu perfil.- Maldito sejas! - gritou Saskia. - Devia ter imaginado que não podia confiar em ti depois do que fizeste ao meu pai, depois da maneira tão brutal como te apoderaste do seu negócio e o arruinaste. Devia ter percebido que manipulas sempre tudo para conseguires o que queres.A expressão dele obscureceu-se. O seu copo bateu na mesa, entornando um pouco da bebida. Mas não pareceu dar-se conta disso, enquanto olhava para ela fixamente com os olhos cheios de raiva.- E achas que o teu pai era a virtude personificada nos negócios? Não digas tolices. O teu pai merecia o que lhe aconteceu. O teu pai merecia que o arruinassem!Saskia levantou-se. O coração batia-lhe aceleradamente depois de ouvir aquelas palavras, depois de ouvir o que Alex acabava de dizer sobre o seu pai, agora tão doente e indefeso.- Como te atreves! Não só arruinaste a vida e o futuro dele, como agora também o insultas. Pois bem, já estou farta de ti. Podes ficar com o teu maldito perfil e com o teu noivado falso, eu vou limitar-me a contar a história que quero contar. E vais vê-la em todo o lado... E garanto-te que não vais gostar.- E que história é essa?Alex recostou-se nas costas da sua cadeira. Notava-se ressentimento nele, mas controlado. Também viu uma certa expressão de satisfação naquele rosto que a enfureceu.- Vou contar ao mundo inteiro o que fizeste, que destruíste o meu pai e abusaste de mim.

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51Em jeito de resposta, Alex limitou-se a sorrir, irritando-a ainda mais.- E dizes que a AlphaBiz é única e exclusivamente uma revista de negócios? Saskia levantou o queixo.- Foi o que te disse.- E achas então que uma história estúpida como a tua aventura amorosa com o homem de quem estás noiva vai sair numa revista de negócios? - Alex interrompeu-se uns segundos e ficou a observá-la. Embora, pensando bem, pudesses vendê-la à Snap. Sei que a única coisa que importa a essa revista é as histórias sórdidas.- Nós não estamos realmente noivos...Um calafrio percorreu-lhe o corpo ao dar-se conta das implicações do que Alex fizera aquela manhã. Não, ela não tinha nada para vender a nenhuma revista. Já não, depois das fotografias que lhe tinham tirado a beijar Alex. Porque é que uma mulher ia casar-se com o homem que lhe tinha causado uma experiência tão traumática? Rir-se-iam dela se publicasse a sua história.Alex pusera-a entre a espada e a parede.Agora, não tinha alternativa. Tinha de seguir o jogo dele.- Planeaste tudo! Alex franziu a testa.- É claro. Pensavas que ia aceitar uma situação em que tu podias ameaçar-me o tempo todo com a publicação do que aconteceu no passado?Saskia engoliu em seco, sabia que a única saída que restava era insistir na sua ameaça e ver onde a levava.- Isso não muda nada - insistiu Saskia. - Direi a

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52toda a gente o tipo de pessoa que és. Contarei a ver dade, que tu inventaste o noivado com o objectivo de que a tua irmã saísse do país sem ser incomodada pelos paparazzis.- E quem achas que vai acreditar em ti? - insistiu Alex. - Ninguém acreditaria. Ninguém.- E o que me fizeste?! Só tinha dezassete anos!- Se foi uma experiência assim tão terrível, porque é que quererias casar-te comigo, o causador de uma desgraça semelhante?- És um descarado! O noivado é uma farsa.- Mas isso ninguém sabe.- Eu vou contar a toda a gente! Farei com que acreditem em mim.- E vais arriscar a continuares a fazer-te de vítima? As pessoas vão pensar que tivemos uma discussão de namorados e que, pelos motivos que forem, ages por despeito. Admito que será um pouco embaraçoso, mas não vai destruir a minha carreira profissional. No entanto, a tua...Alex arqueou uma sobrancelha e cruzou uma perna. Depois, acrescentou:- Parece-me que te calhava bem uma bebida. Porque é que não te sentas?- Odeio-te - disse ela em voz baixa.Mas Saskia reconheceu que não tinha opção, que tinha caído na armadilha que Alex lhe estendera.Saskia sentou-se, como ele lhe sugerira, mas ia continuar a dizer-lhe o que pensava dele.- Odeio a forma como enganas as pessoas, como as manipulas para conseguires os teus objectivos. Odeio a forma como destróis as pessoas e os seus sonhos. Odeio que aches que és o dono do mundo.

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53Alex observou o seu copo de uísque antes de beber de um gole o que restava.- Eu gostava mais de quando estava a beijar-te -comentou ele.Saskia tentou ignorar o tremor que lhe percorreu o corpo.- O que queres dizer?- Foi a única vez que não discutiste comigo.- Nesse caso, não te esqueças - disse ela. - Porque garanto-te que não vai voltar a acontecer.Saskia acordou quando a limusina abrandava a velocidade e entrou num caminho de cascalho. Olhou à volta, enquanto o condutor esperava que as portas do portão se abrissem. Depois de as atravessar, viu pinheiros altos, céu azul e, ao fundo, uma casa de pedra.- Onde estamos? Já chegámos ao Lago Tahoe?- Bom, acordaste finalmente. Quer isso dizer que já não vais precisar do meu ombro como almofada?Saskia virou a cabeça com uma expressão horrorizada. Era uma brincadeira? Mas ao ver o rosto de Alex, deu-se conta de que não se tratava de uma brincadeira. Dormira encostada a ele, encostada ao homem que odiava.Ao entrarem no carro, tinham-se sentado em lados opostos, o mais longe possível um do outro. No entanto, durante os trezentos quilómetros que separava São Francisco do seu destino, ela adormecera e acabara na posição em que acordara.- Adormeci - disse Saskia, sentindo-se uma tonta por ter dito algo tão evidente.

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54Saskia olhou pela janela do carro para disfarçar a aflição que sentia.- Já tinha reparado - respondeu Alex, enquanto o veículo seguia o seu caminho para a casa. - Costumas falar a dormir?Saskia virou a cabeça bruscamente. Tinha medo do desconhecido, mas não estava disposta a permitir que Alex descobrisse.- O que é que disse? Que te odeio? Alex encolheu os ombros.- Não, não me lembro que fosse isso. Bom, finalmente chegámos.O carro acabava de parar em frente a uma impressionante construção de pedra, madeira e vidro de dois andares.- Esta vai ser a tua residência durante uma semana. -Vou ficar aqui?- Mais ou menos. Vais estar na casa de hóspedes, à beira do lago. Calculei que fosses gostar de ter uma certa privacidade. A casa de hóspedes tem tudo, incluído um escritório.Saskia surpreendeu-se por Alex se ter incomodado em pensar no que ela podia ou não gostar. Também se surpreendeu que parecesse conhecer tão bem aquele lugar.- Esta casa é tua?- Sim, é uma das minhas propriedades.Saskia observou, durante uns momentos, a imponente fachada da casa.- Não és modesto nos teus gostos, pois não?- Trabalhei muito para ter tudo o que tenho.- Depende de como se vir. Embora suponha que, do teu ponto de vista, deva ser assim.

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55- Esse é o único ponto de vista que importa.Saskia virou a cara para olhar para ele com o objectivo de que um olhar gélido acompanhasse as palavras que ia pronunciar para que não houvesse engano na sua interpretação.- Se assim te sentires melhor...- Gerard vai levar-te à casa de hóspedes - disse Alex sem fazer comentários sobre as palavras dela. Daqui a pouco vou mostrar-te a propriedade para te dizer onde podes e não podes ir. Venho buscar-te daqui a... umas duas horas.Como fora inocente! Pensara que Alex podia mostrar um mínimo de consideração por ela? Não, nãoera privacidade o que lhe oferecia, estava a prendê-la.- Até daqui a duas horas - disse Alex, dirigindo-se para a casa.O condutor levou-a de carro até à casa de hóspedes através de um caminho que atravessava um bosque. Quando o lago apareceu à frente deles, Saskia conteve a respiração. O Lago Tahoe era um verdadeiro espectáculo.E ali, à beira do lago, rodeada de árvores, encontrava-se o que devia ser a casa de hóspedes. Parecia uma versão em miniatura da casa principal, também construída com pedra, madeira e vidroSem dizer nada, Gerard levou-lhe a bagagem para o interior da casa e a seguir retirou-se discretamente depois de lhe perguntar se não precisava de mais nada. Gerard parecia estar habituadoa levar mulheres para aquela casa e, se não estivesse, disfarçava perfeitamente. No entanto, Saskia pressupunha que as amigas de Alex se instalariam na casa principal.

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56aquela casa devia estar reservada para as pessoas nas quais ele não confiava, as pessoas a quem preferia fechar num canto da sua propriedade.Uma visita à casa indicou-lhe que tinha dois quartos, duas casas de banho e um escritório, com telefone e acesso à Internet. Era perfeito. Escreveria o seu perfil com a maior rapidez possível e ir-se-ia embora imediatamente. Além disso, também podia telefonar para a sua casa dali.Tinha de reconhecer que Alex acertara numa coisa: gostava de desfrutar de privacidade.Uma hora mais tarde, depois de ter tomado banho, com roupa lavada e com uma pasta com os melhores perfis que já fizera para os mostrar a Alex quando chegasse, Saskia desligou o telefone com lágrimas nos olhos depois da sua primeira chamada. O seu pai mal conseguira falar, resultado de uma infecção viral, tal como lhe dissera a enfermeira que fora à sua casa tratá-lo. Por sorte, parecia estar a recuperar bem.Maldito o apartamento frio e húmido do seu pai! Com sorte, não permaneceria naquela situação durante muito mais tempo. Ela ia fazer o que fosse humanamente possível para conseguir o novo cargo no emprego, que lhe garantiria que o seu pai tivesse tudo de que precisava. No entanto, continuava a sentir que a obstinação do seu pai a tinha impedido de ir viver com ela para o pequeno apartamento que tinha.Saskia limpou as lágrimas e preparou-se para fazer a chamada seguinte com a esperança de que fosse mais fácil do que a primeira.

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57- Senhor Rodney...- Saskia! Apareceu em todos os jornais! - exclamou o senhor Rodney sem rodeios. - Os membros doconselho querem saber o que raios está a passar-se. Eu disse-lhes o que você me tinha dito, que não se dava bem com Alexander Koutoufides. Mas agora, de repente, não só o localizou, como também o tem na mão. O que é que se passa?- Senhor Rodney, ouça-me. Não é o que pensa...- O que penso é que isto é uma loucura. Esperava um perfil, em vez disso, vou receber um convite de casamento. Depois de tanto protestar em relação à pessoa de quem tinha de fazer o perfil... enfim, os membros do conselho estão um pouco desapontados consigo e isso não vai ajudá-la a conseguir o novo cargo.- Por favor, ouça-me. Alex Koutoufides e eu não estamos noivos.- No que raios estava a pensar? Achava que queria aquele cargo... O que é que disse? Repita.- Disse que não estamos noivos. É uma farsa.- Mas os jornais disseram que...- Já sabe como são os jornais - respondeu Saskia com ironia na voz. - Nunca acredite no que dizem os jornais.- Nesse caso. o que está a passar-se- É uma história muito comprida - respondeu ela. ”E demasiado dolorosa para lhe contar agora”. - Aúnica coisa que quero que saiba é que estou a trabalhar no perfil e que o terá em cima da sua secretária assim que o terminar, que será em breve.- Fico contente, porque já sabe o que está em jogo. Carmen conseguiu o impossível e convenceu Drago

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58Maiolo a deixá-la fazer o seu perfil, portanto é melhor despachar-se se quiser o novo cargo.Saskia tentou aceitar as notícias em relação a Carmen com respeito. O perfil de Carmen era menos problemático do que o seu, sem um passado comum. No entanto, ela esperava que isso jogasse a seufavor, que Alex cooperasse.- Quero o cargo - declarou Saskia com firmeza.- Então acho que não tenho de a recordar o quanto é importante para ambas fazerem um bom perfil continuou o presidente. - Só uma das duas será promovida. Quero que se esforce, que faça o que forpreciso para ganhar a Carmen. Talvez possa fazer com que a situação lhe dê vantagem. Acha que esse falso compromisso de noivado pode acrescentar uma nova dimensão ao seu perfil? Algo que possamos usar?- Não - respondeu ela, com ênfase. - Não há compromisso nenhum, portanto, não pode dar-me vantagem nenhuma. Não vou fazer referência a isso no artigo. No que se refere a mim, quanto mais depressa for esquecido, melhor.- Nesse caso, o que me diz de Maria? Há alguma coisa interessante que possamos escrever sobre ela? Qual é a relação entre ela e o irmão? Até que ponto é difícil para um homem de negócios de sucesso ter uma irmã tão... desordeira? Koutoufides tem medo de que a irmã afecte a sua reputação nos negócios? Os membros do conselho querem que escreva sobre isso. Tem de haver alguma coisa aí, dado ter mantido a relação secreta durante tanto tempo.Saskia suspirou.- Não tenho a certeza de que essa seja a melhor forma de ataque, senhor Rodney. Vi Maria e achei-a

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59ainda muito afectada por causa do que a revista Snap escreveu sobre ela. Além disso, nem sequer sei onde está. Alex não me deixa aproximar da irmã.- Bom, já sabe como estão as coisas aqui e sabe que tem de fazer o impossível para vencer Carmen. Se conseguisse escrever sobre Maria além de sobre Alex, acho que conseguiria ter vantagem sobre Carmen.Saskia cerrou os dentes e olhou para o tecto, enquanto pensava numa forma de responder. Maldito processo de selecção! Mas tinha de vencer, fosse como fosse.- Senhor Rodney, está a insinuar que os membros do conselho querem que escreva também sobre Maria? Porque se for isso, garanto-lhe que Alex não vai gostar nada. Está a fazer o impossível para me manter afastada da sua irmã.- Quem está a fazer esse perfil? - quis o senhor Rodney saber. - Alexander Koutoufides ou você? Se quer ser a editora-chefe, tem de estar preparada para enfrentar situações difíceis.Mas não era assim que ela trabalhava e não ia começar agora. No entanto, também não ia começar adiscutir por telefone com o senhor Rodney depois do quanto parecia aborrecido com a notícia do noivado. De uma forma ou de outra, teria de encontrar alguma coisa que lhe desse vantagem sobre Carmen sem necessidade de renunciar à sua integridade.- Compreendo - respondeu Saskia. - Não se preocupe, fá-lo-ei. Escreverei o melhor perfil que tanto o senhor como os membros do conselho alguma vez viram.- Conto com isso! - depois daquela exclamação, o presidente desligou.

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60Saskia também desligou o telefone, sentindo-se mais confusa do que nunca. Tinham acontecido demasiadas coisas e demasiado depressa.De repente, Saskia ouviu um ruído nas suas costas. Ao virar-se, viu Alex, a sua expressão parecia deraiva.Há quanto tempo estaria ali? O que ouvira da conversa?

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61- Mentirosa!Viu-a avançar para ele. -Alex...- Mentirosa. Mentiste-me, disseste que querias entrevistar-me a mim! Mentiste ao dizer que não estavas interessada em Maria! Mentiste-me, era tudo mentira!- Alex, ouve... - Saskia deu outro passo na direcção dele, mas parou quando Alex começou a avançar para ela.- Eu sabia - declarou Alex, parando mesmo em frente a ela, muito perto. - Sabia que não demoraria muito tempo a descobrir-te. Apesar de teres repetido várias vezes o Contrário, sabia sobre quem querias escrever.- Não é nada disso, juro...- Tinha razão em não querer que falasses com Maria. É evidente que estiveste a esboçar as linhas doartigo com... com quem, com o teu chefe? Estavas a falar com o teu chefe?- Este perfil é sobre ti, não é sobre Maria.

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62- Estavas a falar com o teu chefe?Saskia recuou, foi recuando até chegar à secretária de madeira, seguida por ele.- Isso não importa, tens de compreender...- Oh, não te preocupes, compreendo perfeitamente - interrompeu Alex com um sorriso que não acompanhava o seu olhar. - Vais escrever o teu perfil e vais escrever também sobre Maria. Não foi isso que disseste ao telefone?Bom, sim, mas...- Mas nada! Estiveste a mentir desde o começo. Sabias que eu não ia permitir que entrevistasses Maria e foi por isso que fingiste estar interessada em escrever só sobre mim, embora o teu verdadeiro propósito fosse descobrir os podres da minha irmã. E podias tê-lo conseguido, ninguém tentou chegar à minha irmã através de mim. E, apesar das minhas dúvidas, apesar do instinto me dizer que estavas a mentir, abri-te as portas da minha casa. Deixei-te ver Maria. Confiei em ti e decepcionaste-me.- Tu nunca confiaste em mim! Desde o primeiro momento me trataste como uma mentirosa.Alex colocou as mãos de ambos os lados dela, por cima da secretária. Parecia desfrutar do desespero que deve ter visto na sua expressão.- E achas isso estranho?- O quê? Pára de falar como se fosses um santo e não tentes fazer-me acreditar que me abriste as portas da tua casa devido à tua bondade inata. Tu não confiavas em mim. E abriste-me as portas da tua casa porque tinhas medo do que pudesse publicar sobre ti. Só por isso!Os olhos de Saskia lançavam faíscas.

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63- Tens razão - respondeu Alex finalmente. Saskia pestanejou.- O quê?- Disse que tens razão. Não queria que publicasses o que sabes sobre mim.De repente, Alex acariciou-lhe os lábios com as pontas dos dedos, enquanto repetia:- Não queria que publicasses um artigo no qual falasses do que houve entre nós.Saskia abriu muito os olhos e engoliu em seco, os lábios, sob os dedos dele, tremeram-lhe.- Mas tu certificaste-te de que já não possa fazê-lo- comentou ela com voz rouca.Alex permitiu-se um sorriso e, descendo a mão, acariciou-lhe o queixo e a garganta, depois o decote... Sentiu-a tremer.- É verdade - respondeu ele em voz baixa. - E agora?Os olhos esmeralda de Saskia brilharam.- Agora estou aqui com a ideia de escrever um artigo totalmente diferente.- Nesse caso... talvez pudesse ajudar - disse Alex. Os olhos dele prometiam sedução, os seus lábios convidavam ao desejo. E quando tocaram nos dela, Saskia sentiu um fogo abrasador no mais profundo do seu ser que transformou a raiva em desejo. Tremeu quando os lábios de Alex continuaram a tocar os seus com uma ternura surpreendente, doce. E ela não conseguiu rejeitar o convite.Foi um beijo muito diferente do do aeroporto. Esse fora-lhe roubado, arrancado contra a suavontade. Aquele era como uma dança ancestral que

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64acompanhava o ritmo dos batimentos do seu coração, um ritmo lento, mágico, hipnótico e evocador.Sentiu a mão de Alex na nuca, segurando-lhe a cabeça, enquanto aprofundava o beijo, o fôlego dele a misturar-se com o seu.Era como se o rancor que sentira por Alex todos aqueles anos se tivesse dissipado. Era como voltar para o lar. Porque reconheceu o sabor de Alex, as suas carícias...Saskia permitiu que as suas mãos fizessem o que queriam fazer, permitiu-se acariciar-lhe as costas, deleitar-se no seu contacto. Não protestou quando Alex a levantou e a sentou na secretária. Não protestou, apenas gemeu, quando lhe cobriu um seio com a mão e tocou no mamilo. Não protestou quando Alex deslizou a mão por baixo da sua blusa para lhe acariciar a pele nua dos seios.Tinham passado minutos ou segundos durante os quais Alex lhe acariciara os seios? Perdera a noçãodo tempo.E quando, tal como no início do beijo, suave e terno, ele lhe tocou, Saskia quis gritar de prazer. Quantas vezes sonhara com aquilo?Quantas vezes sonhara com ele a voltar a tocar-lhe intimamente?E agora, o seu sonho tornara-se realidadeAquele era o Alex que tinha conhecido no passado. Fora aquilo o que a fizera sentir anos atrás. Aquele era o Alex que amava...”Não!”Saskia abriu os olhos bruscamente.Não o amava.Tinha-o amado em tempos.

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65Aquele era o Alex que a traíra. Aquele era o Alex que odiava! E, apesar de tudo, permitira-o chegar àquele ponto...Saskia, empurrando-o, afastou-se.- Não, Alex.- Oh, sim... - murmurou ele com a boca no pescoço de Saskia.Saskia juntou as pernas com força, a tentar parar.- Não, pára!Alex levantou o rosto e olhou para ela, mas não afastou a mão, continuou a acariciá-la suavemente, apesar de ela não parar de apertar as pernas com firmeza.- Porque é que havia de parar?- Porque te odeio. Alex sorriu.- Sim, já calculava. Nota-se pela forma como gemes quando te faço isto...Alex esforçou-se para lhe dar prazer. Continuou a acariciá-la por baixo das cuecas de seda...Saskia levantou o olhar para o tecto, quase sem forças para resistir.- Vamos, repete que queres que pare - disse Alex.- Quero... que... - mas Saskia não conseguiu continuar.- Não me convenceste - disse ele com uma gargalhada rouca sem parar as suas carícias.Mas Saskia não podia permitir aquilo. Nem agora nem nunca.- Não - ofegou ela, debatendo-se entre o desejo e o desespero. - Tens de parar.- A sério? Porquê?

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66- Já te esqueceste? Porque tu não te dedicas a desvirginar jovens!Alex afastou-se dela, permitindo-lhe ter o espaço suficiente para descer da secretária e arranjar a roupa.Sim, recordava ter-lhe dito aquilo. Ainda lhe guardava rancor por aquilo que acontecera então?- Estás a tentar vingar-te de mim?Saskia olhou para ele, mas era como se não o visse.- Vamos, Saskia... O que se passa? Tens vinte e cinco ou vinte e seis anos, não é possível que sejas virgem.Saskia virou a cara rapidamente. Mas não sem que antes ele conseguisse ver a verdade nos seus olhos, a dor...- Meu Deus - a surpresa fê-lo dar uma gargalhada irracional. - Quem diria? És virgem.- Não digas isso como se fosse um monstro! Saskia, cruzando os braços, virou-se para a parede. Ele avançou um passo para ela.- Não me pareces nenhum monstro. Simplesmente, estou surpreendido.Muito surpreendido, pensou Alex, sobretudo, tendo em conta a idade de Saskia, a sua profissão e o tipo de pessoas com quem lidava.Mas ainda se surpreendia mais por, bonita como era, ninguém ainda a ter seduzido. Sim, estava surpreendido e também... agradado.- Saskia... - Alex, aproximando-se, tocou-lhe no ombro.-Não me toques!Ela virou-se de frente para ele, parecia ter faíscas

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67a sair pelos olhos, embora as suas pestanas estivessem humedecidas.- Que tipo de homem és? Primeiro acusas-me de te mentir e de ter vindo aqui com o único propósito de descobrir os podres de Maria, depois, num abrir e fechar de olhos, sentas-me na secretária e atiras-te a mim?As palavras de Saskia afectaram-no, mas não ia reconhecê-lo.- Estás cansada - disse Alex. - Deixemos a visita pela propriedade para amanhã. Deita-te um momento a descansar, depois, pedirei que te tragam o jantar aqui.- Não uses essa atitude paternalista comigo - replicou Saskia. - E não te incomodes com o jantar. Não quero nada de ti, com excepção do perfil. Mais nada.- Há uns minutos querias mais alguma coisa.Saskia corou imediatamente.- Há uns minutos não estava a pensar com a cabeça. Que desculpa tens tu?Normalmente, Alex relaxava em Tahoe, inclusive quando ia para lá trabalhar. Era um lugar longe do bulício de Sidney, um lugar de onde podia gerir os seus negócios longe das distracções da vida do escritório principal.Em teoria, devia sentir-se relaxado, mas não era o que estava a acontecer, pensou Alex, enquanto percorria o caminho da cabana à casa principal. Maldita mulher. E maldita a forma como o seu corpo reagira perante ela. Todavia, não era lógico?

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68O que tinha aquela mulher que o fazia esquecer os motivos pelos quais sabia que não devia tocar-lhe e também não devia desejar fazê-lo?A pasta que lhe dera ao sair tocou-lhe na perna. Levantou-a na mão para olhar para ela. Saskia achava mesmo que umas amostras dos seus trabalhos iam mudar as coisas?Nem pensar.O céu estava limpo e o ar matutino era frio, tanto pela altura como porque estavam no fim da época do degelo. Saskia, fechando o casaco, aproximou-se do barco de madeira.O sol não tinha nascido há muito tempo, mas não conseguira permanecer na cama nem mais um minuto. A frente dela o lago estendia-se por quilómetros e quilómetros em todas direcções, as suas águas eram azuis e cristalinas.Era um lugar lindo.- Bolas, madrugaste!Saskia virou-se, assustada. Havia uma mulher na borda do lago, a olhar para ela. A mulher tinha as mãos nos bolsos do casaco e o carapuço na cabeça. No entanto, reconheceu-a imediatamente.- Olá, Maria.Maria aproximou-se dela, os saltos das suas botas cor-de-rosa repicaram na madeira do barco. Ao chegar perto dela, respirou fundo e olhou à sua volta.- Eu adoro isto - disse Maria, a sorrir. - É o meu lugar preferido.- Não sabia que ias ficar aqui.- Ao princípio, não ia fazê-lo. Alex tinha-me reservado

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69um quarto numa clínica que há na zona, mas recusei-me rotundamente a ir para lá. A clínica está cheia de estrelas de cinema desesperadas, músicos fracassados... enfim, um horror. Não me interpretes mal, sei que não sou perfeita e que gosto de margaritas, mas... - Maria sorriu com uma certa tristeza. - Talvez goste demasiado, reconheço. No entanto, não suportaria voltar a passar por uma terapia de grupo.Saskia deu uma gargalhada, depois virou a cabeça na direcção da casa principal. Conseguia vê-las dali?- É suposto não falarmos, sabias?- Sim, eu sei. Alex disse-me - Maria pôs uma mão no ombro de Saskia brevemente; o seu olhar era azul como as águas do lago. - Mas estou farta de que me digam o que posso ou não fazer. Não achas?”Sim, tens toda a razão”, pensou Saskia com paixão. Mas ela precisava do seu perfil, caso contrário,comportar-se-ia de forma diferente.- Alex não confia em mim - confessou a Maria. Acha que quero surripiar-te informação para publicar coisas sobre ti.Maria desatou a rir-se.- O meu irmão é um pouco machista, é parecido com o meu pai. Não confia em ninguém, muito menos nas pessoas que trabalham na imprensa. No entanto, confesso que lhe dei motivos para que esteja preocupado comigo.- Então, não tens medo de que eu esteja aqui para isso, para te surripiar informação?Maria abanou a cabeça.- Se quisesses realmente fazer isso, terias encontrado forma de me entrevistar sem necessidade de vires

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70para aqui. Portanto... vou arriscar-me. Além disso, queria agradecer-te.- Porquê? Pelo que se passou no aeroporto?- Por isso também. Mas queria agradecer-te pelo que estás a fazer com Alex. Não sei o que é, mas ontem à noite, quando me recusei a ir para a clínica, aceitou a minha recusa sem protestar. É como se não fosse ele. Pela primeira vez na vida não está obcecado comigo. Obrigada por isso.Saskia reflectiu sobre as palavras de Maria, mas ela não reparou nisso.- Sabias que disse publicamente que vamos casar-nos?- Sim, eu sei. Também à imprensa daqui. Não viste? Se quiseres, posso trazer-te um jornal.- Não, acho que não quero ver - respondeu Saskia. - De qualquer modo, obrigada.Maria suspirou.- Bom, será melhor ir-me embora antes que Jake volte do ginásio. Aquele homem está a enlouquecer-me. Achas que podíamos ver-nos amanhã de manhã antes de ires para Nova Iorque?Saskia levou vários segundos a lembrar-se.- Ah, referes-te à festa de angariação de fundos? Alex disse-me qualquer coisa sobre isso - Saskia abanou a cabeça. - Mas não sei os pormenores.- Vai levar-te para te apresentar como sua noiva, outra manobra destinada a distrair a atenção da imprensa para que se esqueçam de mim. Pressuponho que deva estar farto de ter uma irmã como eu.- Por favor, Maria, não sejas tão dura contigo própria.Maria franziu a testa.

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71- Obrigada, mas não sou assim tão parva para não reconhecer os meus defeitos. Embora a verdade seja que na imprensa exageraram - Maria voltou a suspirar. - Bom, tenho de me ir embora, mas espero ver-te amanhã. É muito agradável poder falar com outra mulher. E, Saskia...-Sim?- Achas que podias fazer-me um favor?- Sim, se puder - Saskia encolheu os ombros. Que favor?Maria hesitou uns instantes.- Percebes alguma coisa do mundo editorial? Refiro-me à publicação de livros.- Um pouco. Dei isso no curso e tenho contactos no mundo das editoras. Porquê?Maria adoptou uma expressão esperançada.- Uma amiga minha tem umas coisas escritas, uma espécie de colecção de textos sobre a sua vida, nada de especial. Achas que poderias dar-lhes uma olhadela ou até enviá-los a alguém que pudesse estar interessado em publicar aquilo?- Como favor à tua amiga?Maria assentiu, o seu olhar era suplicante.- Agradecer-te-ia muito. Trago-te os textos amanhã de manhã, a esta hora, está bem?- Não sei. Acho que Alex não ia gostar.- Por favor - pediu Maria. - É muito importante para ela. E Alex não tem de saber. Será o nosso segredo. Farias a minha amiga muito feliz.Saskia não soube resistir a um pedido quase desesperado de Maria.- Sim, fá-lo-ei.Saskia viu-a afastar-se sem conseguir esconder o

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72seu deleite. Fosse o que fosse que aqueles textos contivessem, podia ser dinamite se caíssem nas mãos de alguém sem escrúpulos. E se Alex descobrisse, seria a sua perdição.O que significava que devia fazer o impossível para que isso não acontecesse.

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73Alex Koutoufides não estava de bom humor e, no seu avião privado a sobrevoar a cidade de Nova Iorque, não podia culpar a sua irmã Maria. Naquela manhã vira a sua irmã... feliz. Também não podia culpar a cerimónia, à qual ia assistir aquela noite para angariar fundos, pelo seu mau humor.Não, a razão do seu desassossego devia-se, em parte, a certas pastas com uma série de artigos que lera na noite anterior.Não fora sua intenção ler os artigos. O que pretendera fora dar uma olhadela na diagonal e encontrara evidência que apoiasse a sua ideia pré-concebida de que os artigos eram uma porcaria, depois, uma vez satisfeito, tê-lo-ia deixado de lado.Mas não fora assim. Ao abrir as pastas, encontrara um artigo que lhe interessara, o perfil de Ralph Scheider, um membro do conselho do Banco Mundial, um homem que vira diversas vezes. O artigo despertara o seu interesse e, ao lê-lo, apercebera-se de que era profundo e bem informado, aprofundava os factos e, ao mesmo tempo, dava uma ideia do carácter do indivíduo

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em questão, uma ideia com a qual Alex concordava.Talvez Ralph fosse um homem fácil de descrever num perfil, pensara ele. Aquilo levara-o a ler outro perfil, o de um promotor da construção à escala mundial; novamente, Saskia fora objectiva e correcta.Ao acabar de examinar os perfis, fechara a pasta, sentindo-se absolutamente frustrado.Era natural estar de mau humor. Acusara Saskia de querer aproximar-se de Maria, de trabalhar para a imprensa cor-de-rosa. Ela negara várias vezes, mas ele insistira em não acreditar nela. No entanto,se aqueles artigos eram um exemplo do perfil que Saskia queria escrever sobre ele, devia reconhecer que a julgara mal.”Theos!”Alex olhou de soslaio para Saskia, que ocupava o lugar ao lado do dele. Ela tinha os olhos fixos na janela, embora tivesse passado a maior parte do voo a tomar notas sobre o que estava a fazer. O que escreveria sobre ele? Como seria o seu perfil? Pressupunha que não seria lisonjeador. Limitar-se-ia a escrever sobre as suas práticas nos negócios?Preferia não pensar nisso naquele momento.Em breve aterrariam no aeroporto JFK. Passado o fim-de-semana, voltariam para Tahoe, daria a Saskia o tempo de que ela precisava para escrever o seu perfil e depois ir-se-ia embora.Mas antes tinham de marcar presença no acto daquela noite. Alex tocou no objecto que tinha no bolso, o objecto que tirara do seu cofre. Não podia esperar.- Toma, põe isto.Com desinteresse, Saskia afastou os olhos da janela

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e da vista de Nova Iorque que o avião lhe oferecia.- O que é? - assim que perguntou, viu a caixa que Alex tinha na mão. - Não, não, de maneira nenhuma.- Não estou a pedir - disse Alex com impaciência,- estou a ordenar. Tens de usar isto. As pessoas têm de o ver, esperam vê-lo.Alex tinha razão, pensou Saskia. Mas saber isso não fazia com que fosse mais fácil para ela. Fingir ser namorada de Alex era uma coisa, usar um anel de noivado era outra muito diferente.Aqueles brilhantes lançariam a mensagem de que ela pertencia a Alex Koutoufides.- Não gostas?Como não ia gostar?! Era magnífico, espectacular. Um brilhante quadrado, num anel repleto de brilhantes mais pequenos que lançavam uma mistura de brilhos.- Por acaso a minha opinião importa? - interrogou ela.- Não, nada - respondeu Alex com brusquidão. Engolindo em seco, Saskia permitiu que lhe pegasse na mão e deslizasse o anel pelo seu dedo.- Já está - disse ele.Alex largou-lhe a mão e voltou a recostar-se nas costas do seu banco. Depois, fechou os olhos, enquanto o avião se preparava para aterrar.Saskia levantou a mão, sentindo o peso do anel.- Como sabias?- O quê? - perguntou ele sem abrir os olhos, sem se mexer.- O tamanho do meu dedo.- Não sabia - respondeu Alex. - Era da minha mãe.

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76Saskia sentiu um aperto no peito. Não podia ser! Aquele anel era herança de família, uma coisa que não tinha direito a usar.- Não podes pedir-me que use este anel. Era da tua mãe!Saskia ia tirar o anel, mas Alex, agarrando-lhe em ambas as mãos, impediu-a.- Vais usá-lo. É o anel que a minha mãe queria que desse à minha noiva.-Mas eu não sou...Alex aproximou-se dela, tinha o rosto a escassos centímetros do dele.- Em público, és. Será melhor que comeces a representar o teu papel.Saskia afastou-se dele.- Está bem, vou fingir ser a tua noiva adorada. Mas não quero que voltes a repetir a cena do aeroporto. Fingir que somos noivos não significa que tenhamos de fazer uma cena em público.Alex lançou-lhe um olhar cheio de raiva.- Farei o que for necessário para convencer as pessoas de que vamos casar-nos e tu vais cooperar.Saskia não conseguiu evitar ficar espantada ao entrar na sala do Hotel Waldorf-Astoria. A impressionante sala estilo art deco estava repleta de homens de smoking e mulheres deslumbrantes. Apesar de ter estado em festas a acompanhar políticos e homens de negócios, devido à sua profissão, nunca vira um lugar tão luxuoso.Sentiu-se profundamente aliviada por ter aceitado, contrariada, o vestido de noite que Alex lhe enviara.

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Um vestido azul de seda, clássico e elegante, acompanhado por uma tiara que também devia usar na ocasião.Era estranho. Desejava acabar o perfil de Alex para poder voltar para a sua casa e para a suavida. No entanto, nessa noite sentia-se como uma princesa. E nessa noite estava acompanhada pelo homem mais atraente de todos.Porque não aproveitar?Alex empurrou Saskia suavemente, queria acabar com as boas-vindas. Não gostava daquelas festas, embora naquela noite não se sentisse tão deslocado como se sentia na maioria das vezes. Com Saskia de braço dado com ele, com aquele vestido que Maria escolhera, não sentiu vontade de se ir embora a correr depois de fazer a sua aparição na festa.Os flashes dos fotógrafos cegaram-nos momentaneamente.- Senhor Koutoufides, já marcaram a data do casamento? - perguntou um dos repórteres.Alex olhou para Saskia e, surpreendentemente, encontrou-a a sorrir com uma expressão de felicidade. Aparentemente, Saskia decidira desempenhar bem o seu papel. Se Saskia continuasse assim, iam partir muito em breve da festa e levá-la-ia directamente para a cama.Como se o tivesse notado a hesitar, Saskia colocou-lhe uma mão em cima da sua, a mão do anel. Imediatamente, as objectivas focaram os brilhantes.- No que me diz respeito, quanto mais cedo, melhor - respondeu ele com um sorriso.Passados uns minutos a música começou a tocar.

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78- Dança comigo - disse Alex, dando-lhe a mão para a conduzir para a pista de dança.Em silêncio, Saskia assentiu, deixando-se levar.Sentiu-se segura nos braços dele, pareciam existir só para a abraçar.Alex sentiu o perfume dela, inspirou-o, era como uma droga. Aquela mulher era o afrodisíaco mais delicioso.A música acabou e começou a seguinte e a seguinte... Alex negava-se a largá-la. Tinha-a entre os seus braços, apertava-a contra o seu corpo. Estavam tão perto que Saskia apoiou a cabeça no seu ombro. Os seus corpos estavam em contacto dos pés à cabeça, movendo-se ao ritmo da música.Saskia queria prefaciar aquele momento. Se aquilo era o que implicava fingir ser namorada de Alex,estava disposta a oferecer-se como voluntária durante o resto da sua vida. Não havia tensões nem discussões, só a magia de o sentir junto a ela, enquanto sentia o cheiro viril do corpo de Alex, enquanto sentia os seus braços fortes a segurá-la.Estava disposta a passar toda a noite assim se Alex quisesse...- Saskia Prentice! Não acredito.Saskia afastou-se de Alex com desinteresse, a tentar controlar o seu desejo.- És tu! Bolas, estás sensacional! - exclamou a mesma voz.- Carmen - Saskia, recuperando a compostura, fez as apresentações. - Não esperava ver-te aqui.Carmen sorriu e agarrou-a por um braço, puxando-a até a tirar da pista de dança.- Drago foi buscar mais champanhe. Estou aqui a

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79trabalhar, tal como tu - Carmen olhou para Alex, que as seguira. - Bom, talvez não. Suponho que deva felicitar-te, não? Ao princípio, não acreditei. Mas agora, ao ver o tamanho da pedra que tens nodedo... Bom, suponho que tenha de me render à evidência.Carmen levantou uma mão e pô-la no peito de Alex.- Portanto aqui está o grande Alexander Koutoufides - disse Carmen com voz rouca. - Saskia tem muita sorte. Quem diz que os negócios e o prazer nunca devem misturar-se? Eu tento sempre fazê-lo.A linguagem corporal de Carmen era um convite, pensou Saskia com uma fúria súbita.Não, não estava com ciúmes. Porque é que havia de estar? Ela não tinha ilusões em relação a Alexander Koutoufides.Alex sorriu a Carmen, enquanto afastava a mão de si, depois, levou-a aos lábios num gesto cavalheiresco, à antiga.- São colegas de trabalho? - perguntou ele com os olhos fixos em Carmen.- Sim, somos. Ou fomos. Suponho que não teremos o prazer de ver Saskia durante muito mais tempo na empresa. Que pena, estava a gostar desta corrida pelo novo cargo. Mas agora...- De facto, Carmen, continuo na corrida - interrompeu Saskia, pronunciando as palavras com ênfase. - O nosso noivado não muda nada.- Que corrida? - perguntou Alex. Carmen dedicou-lhe um sorriso radiante.- Não te contou? O cargo de editora-chefe da revista está vazio, ambas estamos a competir para o

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80conseguir. A que conseguir o melhor perfil fica com o cargo.Finalmente, Alex afastou os olhos de Carmen e fixou-os em Saskia. Olhou para ela sem expressão nos olhos, no entanto, ela sentiu que estava à procura da verdade, respostas para as perguntas que não lhe estava a fazer.Saskia pestanejou, uma afirmação silenciosa. Embora, na verdade, o que queria era gritar, queria que Alex soubesse porque é que estava tão desesperada para conseguir o seu perfil.- Eu tenho de fazer o perfil de Drago Maiolo continuou Carmen. - Ah, mesmo a tempo, aqui está ele.Um cavalheiro com o cabelo grisalho juntou-se a eles. Drago Maiolo olhou para Alex com frieza, mas os seus olhos ganharam vida quando pousaram em Saskia. Deu uma taça de champanhe a Carmen e depois deu a sua a Saskia.- Estou a ver que fizeste amizades - a voz daquele homem era tão grossa como os seus traços.Carmen agradeceu-lhe sorrindo e apoiou-se nele com um ar de inocência fingida.- Drago disse-me que Alex estaria aqui. Calculei que tu talvez também viesses.Como é que ele sabia? perguntou Saskia.-Alex vem sempre a esta festa - respondeu Drago por Carmen. - É o principal benfeitor da FundaçãoBaxter. Não é verdade, Alex?- Como estás? - perguntou Alex por sua vez, dirigindo-se a Drago, mas sem lhe ter respondido. Pela sua expressão, era evidente que não parecia gostar muito daquele homem.

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81- Melhor do que nunca. Sobretudo, agora que tenho Carmen para me animar durante a noite. Em geral não tenho grande apreço pela imprensa, mas esta mulher é diferente. Não fazia ideia de que as entrevistas profundas podiam ser tão estimulantes.Drago e Carmen desataram a rir-se.- Drago está a cooperar bastante bem - disse Carmen. - Vai ser um perfil fabuloso.- Melhor para ti - respondeu Alex. - Se não for assim, vais ter muitas dificuldades no novo posto de trabalho. Vi o trabalho de Saskia e é excelente. E agora, se nos dão licença, acabo de ver alguém com quem devo falar um momento antes dos discursos.Alex puxou Saskia, afastando-a do casal em direcção ao terraço.Saskia estava espantada. Alex não só pusera Carmen no seu lugar, como também a defendera.Saskia olhou à sua volta quando Alex a conduziu a um canto tranquilo, atrás de uma cortina.- Porque é que viemos para aqui? Achava que querias falar com alguém.- É verdade. Quero falar contigo.- Ainda bem. Eu também quero falar contigo. Leste os meus artigos?Alex sorriu.- Achas que teria dito o que disse sem os ler?Ela pestanejou.- Defendeste-me.Alex encolheu os ombros para tirar importância ao acto.- Serviu-me para a calar e para nos afastarmos deles.

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82- Sim, claro. Diz-me, porque é que não me disseste que és o principal benfeitor da fundação?- Não me perguntaste. - Mas...- Não. Primeiro, quero que me contes sobre o cargo no teu emprego. Estão a competir?Saskia levantou a sua taça com um ar irritado.- Foi o que Carmen te disse. A que conseguir o melhor perfil fica com o cargo. Os directores escolheram dois homens de negócios que não costumam conceder entrevistas a ninguém, um para Carmen e outro para mim.- Ela tem possibilidades? Não me deu essa impressão.- Não julgues Carmen pelas aparências. Formou-se em Harvard e tem uma mente fria e calculista apesar das curvas. Está decidida a ganhar custe o que custar. E a julgar por quão amável Drago é com ela, suponho que conta com o seu apoio e cooperação absolutos.- Eu acho que conta com muito mais do que isso. Saskia olhou para ele e recordou o beijo que Alex dera na mão de Carmen.- Podias ter sido tu em vez de Drago. Alex pestanejou.- Queres dizer que tu podias estar a fazer o perfil a Drago e eu a desfrutar da companhia de Carmen?Saskia ignorou aquelas palavras.- Talvez tivesse sido melhor. Certamente, para mim teria sido.- Estás a esquecer-te de uma coisa. Sabes porque é que concordei com o perfil. Chantageaste-me. Disseste que, se não colaborasse, publicarias o que tinha

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83havido entre ti e mim há anos. Duvido que Carmen tivesse essa carta na manga. Saskia encolheu os ombros.- Tendo em conta a forma como Carmen enche aquele vestido prateado, acho que não teria precisado.Alex voltou a sorrir.- Tomo nota - disse ele, olhando para ela nos olhos com uma voz inesperadamente rouca. - Mas... terias preferido que Carmen fizesse o meu perfil? Não te teria incomodado?Saskia engoliu em seco sob o olhar fixo de Alex. E se ele estivesse a olhar para Carmen assim naquele momento? Sim, claro que a teria incomodado!Era isso que Alex queria demonstrar?- Claro que não - mentiu.- Se tu o dizes... Embora, da minha parte, reconheça que fico contente que tenhas calhado comigo.Saskia sentiu um aperto no coração.- Porquê?- Porque seria uma pena que Drago se aproveitasse de ti. Não respeitei a tua virgindade para que acabasses por a perder com um tipo como ele.A raiva apoderou-se dela.- Como te atreves?! Não acredito no que acabei de ouvir.- Porquê? Preferirias perdê-la com alguém como ele?- Como te atreves a achar que tens o direito a decidir com quem faço amor? Isto não tem nada a ver contigo.- Enganas-te, tem muito a ver comigo. Podia ter-me aproveitado do que me ofereceste naquela

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84noite, podia ter-te possuído. Podia ter-te desvirginado, ter-te utilizado e ter-te deixado depois. Mas não o fiz. Deixei-te ir embora. Mas, certamente, não para que acabasses com um depravado que podia ser teu avô.- Não posso acreditar que estejamos a ter esta conversa - disse Saskia, abanando a cabeça.Mas, de repente, Alex rodeou-a com os seus braços, apertando-a contra si. Saskia gemeu ao sentir a sua erecção, o seu corpo inteiro tremeu.- Nesse caso, diz-me o que preferias estar a fazer?- perguntou-lhe Alex com voz rouca ao ouvido.O que Saskia desejava mais no mundo era encostar-se contra o corpo de Alex, permiti-lo fazer-lhe oque ele quisesse. Queria que saciasse o desejo que sentia por ele.Mas lutou contra o seu desejo com todas as suas forças. Por fim, conseguiu contê-lo.- Quero... - sussurrou Saskia.- Sim? O que é que queres? - perguntou Alex, acariciando-lhe o ouvido com a ponta da língua.- Quero fazer o teu perfil e ir para minha casa. Alex ficou imóvel momentaneamente.- O perfil?- Por isso é que estou aqui, ou tinhas-te esquecido? É por isso e mais nada.- É assim tão importante para ti ganhar a Carmen? Ganhar a corrida para o novo cargo no emprego?- Naturalmente que quero ganhar! Porque é que achas que tive o trabalho de te encontrar? Certamente, não foi para recordar os velhos tempos.Alex ficou a olhar para ela com intensidade. Saskia devia precisar desesperadamente daquela promoção

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85na sua carreira para se ter dado ao trabalho a que se dera, para se arriscar a voltar para ele. Mas ele também não precisava de lembranças do passado que pudessem implicar um risco para o seu presente. Nesse caso, porque é que não conseguia deixar Saskia em paz?- Porque é que é tão importante para ti o novo cargo?- O que é que isso te interessa?Alex, de repente, sentiu raiva. Estava furioso consigo próprio pelas emoções que Saskia despertava nele.- Porquê? - insistiu Alex. - Prestígio? Honra? Saskia abanou a cabeça.- Não, não é uma questão de prestígio.- Nesse caso, deve ser o dinheiro. Quanto é que precisas? Posso dar-te dinheiro.Por acaso aquele homem achava que podia comprá-la?, pensou Saskia, encolerizada.- Farias isso? Dar-me-ias dinheiro? - interrogou ela com incredulidade.- Quanto é que precisas? Saskia abanou a cabeça.- Não quero o teu dinheiro. Espero ganhar. A única coisa que te peço é que colabores comigo para poder fazer o melhor perfil que seja possível fazer.- E se ganhares?- Vou ganhar.- Não sejas teimosa. Se o que precisas é de dinheiro, eu posso dar-to.- Porque é que ias fazê-lo? Porque é que, de repente, ias dar dinheiro à mulher que acusaste de ser o pior do pior, a mulher que acusaste de ir atrás da tua irmã com intenção de a destruir?

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86- E o que querias que pensasse depois de te encontrar escondida a espiar a casa ao mesmo tempo que todos os paparazzis andam atrás de Maria? Alex passou uma mão pelos cabelos. - Escuta, porque é que não me deixas ajudar-te? Considera-o uma forma de compensação pelo que aconteceu no passado.- Queres dar-me dinheiro porque me expulsaste da tua cama para a seguir destruíres a vida do meu pai? - perguntou ela, furiosa. - O que é que procuras, a absolvição? A sério que achas que podes compensar-me pelo que aconteceu com dinheiro? Nem sequer sabes de quanto é que preciso. Cem mil dólares? Quinhentos mil dólares? O que achas de um milhão? Quanto estás disposto a pagar para sossegar o teu sentimento de culpa?- Chega!- Nenhuma quantia será suficiente! - apontou ela.- Eu só tinha dezassete anos e estava louca por ti, achava que eras o homem mais bonito que algumavez tinha visto na minha vida. Trataste-me como uma rainha durante semanas, mas o sonho acabou numa noite. No dia seguinte, destruíste o meu pai. Riste-te dos dois. Humilhaste-nos aos dois. E agora achas que podes compensar-me com dinheiro? Nem sonhes.- O teu pai merecia o que lhe aconteceu!- Isso é o que tu dizes. Se assim foi, fizeste-o pagar com juros. Mas... e eu? Eu também merecia isso?Alex afastou o rosto dela, revivendo o velho ódio que sentira pelo pai de Saskia. E também sentiu ódio por si próprio por se ter transformado no homem que

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87agora era. Mas... o que podia dizer? Saskia tinha razão, ela não tinha merecido nada.- Podia ter sido pior - declarou Alex finalmente.- Achas? Como sabes se podia ter sido pior?- Podia ter acabado o que comecei. Podia ter feito amor contigo.

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88Fez-se um silêncio tenso. Finalmente, Saskia quebrou-o.- Tens razão - disse ela. - Ainda bem que me libertei disso.Alex, com uma expressão satisfeita, olhou para o relógio.- Agora há uma série de discursos; depois vamos embora.- Tão cedo? Que pena, agora que estávamos a divertir-nos tanto.Com um gemido, Alex deixou-a ir à casa de banho, enquanto ele ia falar com os organizadores do evento.O interior da casa de banho das senhoras era uma espécie de santuário, com paredes cobertas de veludo, cortinas luxuosas e poltronas, parecia uma sala de estar.Saskia aproximou-se dos lavatórios e molhou a cara com uma toalha.Naquele momento, a porta abriu-se e, pelo espelho, a primeira coisa que viu foi um vestido prateado.

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89Gemeu. Era a última pessoa que queria ver no mundo: Carmen. Aquele santuário, de repente, pareceu-lhe um inferno.- Algum problema com o teu namorado? - perguntou Carmen.- Não. Acho que tenho alguma coisa no olho respondeu Saskia, colocando uma ponta da pequena toalha por baixo da pálpebra. Depois, pousou a toalha.- Bom, já está - declarou Saskia, fingindo ter tirado algo do olho. Depois, virou-se, disposta a ir-se embora. - Alex disse que os discursos iam começar, tenho de ir.- Não vais ganhar. O lugar vai ser meu - disse Carmen sem conseguir disfarçar o ódio que sentia pela sua colega de trabalho.- Pareces muito segura de ti própria - respondeu Saskia com calma. - Nesse caso, boa sorte com o teu perfil.- Como conseguiste? - questionou Carmen.- Como consegui o quê?- Que Alex te tivesse pedido em casamento. Achava que seria a última pessoa no mundo com quem tu quererias casar-te depois de ter destruído a empresa do teu pai.Saskia não conseguiu disfarçar a sua surpresa.- Sabias? Como demónios...?Carmen sorriu, mas foi um sorriso cheio de despeito.- Sou uma profissional. Por acaso achas que ia permitir que designassem o sujeito do teu perfil à sorte? Quem achas que sugeriu o sujeito do teu perfil?

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90Saskia deu uma gargalhada.- Não é possível que estejas a falar a sério. O conselho directivo jamais te permitiria semelhante coisa!- Não foi difícil, garanto-te - disse Carmen, fingindo interesse nas suas unhas. - Uma palavra aqui, uma insinuação ali... Por fim, escolheram Alex para ti, achando que a escolha tinha sido deles. Mas tu estás a estragar tudo. Nos meus planos não previ que, gostasses daquele tipo e muito menos que fosses casar-te com ele.Carmen esboçou um sorriso de desprezo, parecia disposta a dar o golpe de misericórdia quando acrescentou:- Mas agora isso também está a jogar a meu favor. Os membros do conselho estão a começar a pensar que não és a pessoa adequada para o cargo; sobretudo, tendo em conta que talvez em breve peças baixa de maternidade. Quer dizer, se é que já não estás...Carmen fixou os olhos na barriga de Saskia com uma expressão acusadora.- Já te engravidou?Saskia reprimiu a vontade de esbofetear aquela mulher.- Não te parece improvável? Não te esqueças que só estamos juntos há uma semana.- O tempo suficiente para ficarem noivos, não? Diz-me, como é na cama? Drago é muito efusivo, mas falta-lhe delicadeza. Apostaria que a Alex não falta nada.- Quem te disse que fui para a cama com ele?- Vais casar-te com ele, não? Nenhum homem na situação de Alex aceitaria comprometer-se sem terprovado a mercadoria antes.

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91- E se te dissesse que não temos esse compromisso matrimonial? E se te dissesse que não vamos casar-nos?- Nesse caso, diria que tenho pena. Porque isso significaria que em breve estarás sem emprego e sem noivo - Carmen suspirou. - Coisa que me vai divertir enormemente.Saskia respirou fundo.- Deves estar desesperada por conseguir o cargo se estás disposta a mentir e a fazer truques.- Sim, é verdade. E vou consegui-lo - respondeu Carmen.Saskia já tinha ouvido o suficiente. Dirigiu-se para a porta e, ao chegar, virou a cabeça e olhou para Carmen.- Não contes com isso.- Perdeste os discursos.Alex pôs-lhe a estola sobre os ombros e ela agradeceu-lhe, ainda a pensar na conversa que tivera com Carmen.Do outro lado do hall, Drago moveu uma mão, chamando a sua atenção como se quisesse falar com eles. Alex empurrou-a para a porta, ignorando-o.- Vamos - disse ele. -Drago...- Sim, já vi - respondeu Alex, mas continuou a andar, encaminhando-a para o porteiro e para a fila de limusinas.O porteiro abriu a porta de trás do carro e esperou que Saskia pegasse na saia do vestido e entrasse.- Tenho a impressão de que não gostas muito de Drago, ou estou enganada?

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92- Porque é que dizes isso? - perguntou Alex, seguindo-a até ao interior do carro.A limusina afastou-se, mas Saskia ficara curiosa,- Penses o que penses dele, eu diria que têm bastante em comum - comentou ela. - Ambos são homens de sucesso nos negócios e ambos gostam de evitar a imprensa. E são membros da FundaçãoBaxter.Ele ficou tenso.- Ainda não te ocorreu pensar que algumas pessoas preferem manter-se à margem da vida pública porque preferem que a sua vida privada seja isso mesmo, privada? Outras pessoas, pelo contrário, preferem que seja assim para evitar problemas.O significado das palavras de Alex foi claro.- Quer dizer que Drago está metido em negócios sujos?Os olhos pretos de Alex fixaram-se nos dela.- Fiz negócios com ele no passado e decidi que nunca mais voltarei a fazê-lo.- Está metido em negócios sujos então?- Digamos que devias alegrar-te de não seres tu quem está a fazer o perfil dele.Alex ficou mais confortável no seu banco, aliviado por Saskia não ter Drago como personalidade doseu perfil. A ideia das mãos daquele homem nas curvas doces de Saskia deixava-o doente. Ela aindaera virgem. Demasiado deliciosa para tipos como Drago.Era demasiado deliciosa para qualquer tipo!Mas isso não o impedia de a desejar.E estava a ser quase impossível não fazer amor com ela!

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93- E tu, a que tipo pertences? - perguntou ela com voz suave, tirando-o dos seus pensamentos.Alex virou-se para olhar para ela.- O que queres dizer?- Prezas a tua intimidade ou tens alguma coisa a esconder? - perguntou Saskia.- O que é que tu achas? Saskia observou-o uns instantes.- Sei que antes não te incomodava tanto aparecer nos jornais ou revistas. Portanto, é de pressupor que aconteceu alguma coisa.Alex não gostou do rumo que a conversa estava a levar. Saskia também não gostaria se ele falasse claramente.- Estás a esquecer-te de Maria? Não achas que ela é motivo suficiente?Saskia olhou para ele fixamente.- Talvez. Mas também é possível que estejas a tentar esconder alguma coisa. Porque é que desapareceste da face da terra de repente?Fez-se silêncio. Devia contar-lhe que tudo tinha começado aquela noite?, perguntou-se Alex. Devia contar-lhe que se dera conta do homem no qual estava a transformar-se e que preferira fugir?Naquele momento, o carro parou em frente ao hotel- Colaborarei contigo no perfil - disse Alex finalmente, enquanto saíam do carro. - E dar-te-ei o tempo que precises para o fazer... mas quero uma coisa em troca.- O quê? - inquiriu ela quase com entusiasmo. Para ganhar a Carmen, precisava da colaboração de Alex.

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94- Quero que me garantas que manterás Maria à margem de tudo. Não quero que tenhas nada a ver com ela e não quero que a menciones no teu artigo. Entendido?Saskia estava prestes a concordar quando recordou o texto que tinha na mala, o texto que prometera ler. Fizera uma promessa a Maria e não podia quebrá-la, por muito que Alex o exigisse. No entanto, não era uma coisa que ela fosse incluir no seu perfil.- O meu artigo é sobre ti, não sobre Maria. Não tenho nenhum desejo de a incluir no teu perfil.Alex observou-a.- Espero que seja assim - foi o que Alex disse.A sós no seu quarto no hotel, tapada com o robe, Saskia acomodou-se na cama, de barriga para baixo, com o bloco de notas que Maria lhe dera. Embora Maria lhe tivesse dito que fora escrito por uma amiga, Saskia sabia que a autora era ela. No entanto, não estava com muita esperança; para publicar aquilo, devia estar bem escrito. Esperava que Maria compreendesse.Com desinteresse, abriu o caderno com o texto, ao qual Maria dera o título De Dentro, com a ideia de ser capaz de oferecer uma crítica honesta, embora suave, uma crítica que não destruísse as aspirações e as esperanças daquela mulher. Era evidente que Maria precisava de alguma coisa que lhe devolvesse a confiança em si mesma. Talvez essa coisa fosse escrever.Saskia começou a ler.Leu sobre uma jovenzinha a tentar encontrar o seu lugar no mundo, uma jovenzinha cuja vida mudara

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95quando descobrira o sexo aos quinze anos com um homem muito mais velho do que ela, uma jovenzinha a quem o acto sexual entusiasmou e decidiu experimentar.O texto falava da morte dos pais da jovem ao incendiar-se o iate no qual viajavam e de como ela se lançara numa corrida de casamentos e divórcios. Falava dos prazeres e dos desastres da sua vida e do mundo dos famosos. Falava de tudo: droga e álcool, clínicas de reabilitação, terapias...O texto falava de uma mulher que precisava de se curar, uma mulher que reconhecia que chegara o momento de amadurecer emocionalmente.A prosa era magnífica. O estilo era cru, mas irrepreensível. Era brutal e honesto, falava da autora talcomo ela se sentia, sem rodeios. Às vezes, era até engraçado e irónico.Horas depois de ter começado e com lágrimas nos olhos, Saskia fechou o caderno. Maria era uma mulher excepcional. Se ela pudesse fazer alguma coisa para a ajudar, fá-lo-ia. Estar em Nova Iorqueera perfeito, conhecia a pessoa certa para entregar o texto. Era uma antiga colega da revista que agora trabalhava numa editora em Nova Iorque.Seguindo um impulso e guiada pelo seu entusiasmo, agarrou no telefone antes de se dar conta das horas que eram. Não faltava muito para que amanhecesse. Meteu-se na cama e apagou a luz, sentindo-se contente consigo própria. Telefonaria quando acordasse.Alex estava a bater à porta quando Saskia saiu do elevador antes do meio-dia.

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96- Estou aqui - respondeu Saskia.- Onde estavas? - perguntou ele com brusquidão.,- Estou a ligar-te há horas.- Por aí. Apetecia-me... dar uma volta.- O carro virá buscar-nos daqui a dez minutos disse Alex, entrando atrás dela no quarto.- Não há problema, já fiz as malas.Saskia não se incomodou em despir o casaco, embora estivesse a transpirar por se ter apressado a regressar. Deixou a mala numa cadeira e foi à casa de banho arrumar os seus produtos. Meteu-os numa mala e, ao virar-se, deparou-se com Alex, que a agarrou pelas ancas.- Porquê tanta pressa?- Disseste que o carro...- Temos tempo - Alex pôs-lhe uma mão no queixo e obrigou-a a levantar o rosto. - Estás corada.Saskia sabia que o rubor das suas faces não se devia apenas ao que tinha andado; devia-se, em parte,ao alívio que sentira depois de realizar a tarefa a que se propusera. A sua antiga colega de trabalho, depois de ler o primeiro capítulo do texto de Maria, mostrara-se tão entusiasmada como ela. Desejava voltar para Tahoe para dizer a Maria que a editora estava a considerar seriamente a possibilidade de publicar o seu trabalho.Quanto a outros motivos para estar corada... Devia-se exclusivamente a Alex, à sua proximidade.- Corri uns quantos quarteirões.- Talvez devesses descansar um pouco - disse ele com voz rouca.Porque é que lhe dizia para descansar? Onde estava a pressa que Alex parecera ter uns minutos antes?

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97- Obrigada, fá-lo-ei. E agora, se não te importas, vou acabar de fazer a mala.Alex largou-a, aproximou-se da porta e ficou ali, a olhar para ela, enquanto acabava de arrumar tudo.- Bom, já estou pronta - anunciou Saskia. Alex afastou-se da porta para a seguir.-Antes de saírmos... ontem à noite ofereci-te dinheiro - disse Alex. - Tu recusaste-te a aceitá-lo, mas talvez tenhas pensado melhor. Talvez tenhas mudado de ideias. O que quero dizer é que a oferta ainda continua de pé.Saskia fechou os olhos uns segundos e respirou fundo. Na noite anterior falara demasiado. Reagira com raiva, talvez revelando que ainda se sentia magoada com o que acontecera no passado.Mas já não a magoava! Superara-o.- Não - disse ela, agarrando a mala e pondo-a ao ombro. - Não devias ter-me oferecido dinheiro. Mas esqueçamos o assunto. Esqueçamos o passado e concentremo-nos no presente.Alex aproximou-se um passo dela.- Saskia, pensa bem. Podias esquecer a corrida pelo cargo no trabalho. Podias deixar a tua revista neste momento.Saskia recuou.-Não me toques!O olhar de Alex tornou-se gélido.- Nunca me perdoarás pelo que aconteceu, pois não?- Porque é que ia fazê-lo? Não podes comprar-me.Não devia ter acontecido.- Digamos que tinha as minhas razões.O quê?! Agora vais dizer-me que tinhas motivos

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98para fazeres o que fizeste? Que pouca vergonha. Não consigo sequer imaginar que motivos podiam justificar o teu comportamento nem quero saber.- Não, suponho que não queiras saber - murmurou Alex.Na manhã seguinte, quando Saskia saiu do porto, Maria já estava lá à espera dela. Devia estar ansiosa por ter notícias.- Que tal a festa? - perguntou Maria com um sorriso nervoso.- Foi boa.- Fico contente.Pelo nervosismo que mostrava, Saskia deu-se conta de que Maria tinha medo de perguntar pelo seu texto.- Maria, em relação ao texto... - Sim?- Sei que és tu a autora.Maria, com a cabeça baixa, deu o braço a Saskia.- Desculpa. Achava que, se te dissesse que eram meus, te recusarias a lê-los. A sério, queria saber a tua opinião - Maria olhou para ela nos olhos. Leste-os? O que achaste?Saskia sorriu.- Bom, em primeiro lugar... sabes o quanto é difícil publicar alguma coisa, não sabes? Algumas pessoas estão anos à espera antes que alguém publique os seus textos.A expressão de Maria escureceu instantaneamente.- Não está bem escrito, pois não?

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99- Na minha opinião, o que escreveste é muito bom.- A sério? Achas mesmo isso? Saskia desatou a rir-se.- Sim, acho mesmo isso.Ainda agarrada ao braço de Saskia, Maria deu pulos de alegria.- Fantástico. Nesse caso, qual é o problema?- O problema é que não quero que tenhas muitas ilusões. Deixei os textos com uma editora de Nova Iorque minha amiga, mas isso não significa...- A sério que uma editora está a ler o que escrevi? O meu livro? - Maria largou-lhe o braço e levou as mãos à boca. - Não acredito. Saskia, obrigada, obrigada, muito obrigada!Maria abraçou-a com força.- Certamente, é bom sinal - disse Saskia. - Mas não te desiludas muito se decidirem não publicar o que escreveste, está bem? Há outras editoras, portanto não quero que desanimes. Tenho a certeza de que se eles rejeitarem, mais cedo ou mais tarde acabará por ser publicado, mas tens de ter paciência.- Meu Deus, não acredito! - exclamou Maria, abraçando-a outra vez. -Não sabes o quanto fico contente por teres vindo. É a melhor notícia que tive na vida.Passearam pela borda do lago a conversar amigavelmente, Maria a fazer comentários a respeito de alguns pontos da sua obra. Num momento, Saskia afastou o cabelo do rosto.- Este cabelo aborrece-me. Maria olhou para ela.- Eu gosto muito. Os caracóis ficam-te muito bem

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e a cor é linda - Maria tirou o carapuço do casaco e passou uma mão pelo seu cabelo loiro. -Achas que esta cor me favorece? Acho que vou mudar.Saskia sorriu. Sim, uma cor mais quente ficaria melhor a Maria.- Sim, muda a cor do cabelo.De repente, uma voz irrompeu aquele ambiente de camaradagem. -Maria! Maria virou-se.- Meu Deus, não, atrasei-me. É Jake, anda à minha procura. Aquele tipo enlouquece-me. Enfim, é melhor voltar a correr.Maria beijou Saskia na face e, apressadamente, empreendeu o caminho de volta a casa.Finalmente, Saskia encontrou a oportunidade de trabalhar. Alex cumprira a sua palavra e convidara-a para o seu impressionante escritório, com todo o tipo de equipamentos electrónicos, inclusive para ter conferências por vídeo.- Ena! - exclamou Saskia, observando o ecrã e tirando umas fotografias que, finalmente, elelhe permitiu tirar. - Aqui tens tudo o que precisas para dirigir os teus negócios, sejam onde forem- É verdade. Agora que os meus interesses profissionais estão tão expandidos, não posso estar em todos os sítios ao mesmo tempo. Daqui, consigo controlar a maior parte dos meus negócios.Alex tirou umas pastas do arquivo, enquanto ela via as fotografias que ele tinha em cima dasua secretária. Havia uma muito antiga da sua família ao lado

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101de um barco de pesca. Ela pegou nela e sorriu. Na fotografia, Alex devia ter uns dez anos, estava de braços cruzados e esboçava um sorriso muito travesso para a câmara. Maria estava ao seu lado, umaadolescente de quinze anos de pernas compridas e muito bonita. Os seus pais estavam por trás deles.Maria mencionara que tinham morrido num acidente no mar. Teria sido naquele barco?- São os meus pais - disse Alex com voz rouca, tirando-lhe a fotografia das mãos e deixando-a novamente na secretária.- Quantos anos tinhas quando morreram?Alex suspirou.- Catorze.- Não é justo. A minha mãe morreu quando eu era muito pequena, nem sequer me lembro dela. Deve ter sido terrível para ti perdê-la na adolescência.- Do que é que a tua mãe morreu?- De cancro da mama. Tinha medo de ir ao médico, quando foi, já era demasiado tarde. Mas eu era um bebé. Não quero sequer imaginar perder ambos os pais na adolescência num acidente tão horrível. Deve ter sido horroroso.Alex olhou para ela com o sobrolho franzido.- Como sabes como é que os meus pais morreram? Não me recordo de to ter dito.Saskia engoliu em seco, lera-o no texto de Maria.- Devo ter lido em algum lado. Talvez numa das minhas notas de referência.Alex ficou pensativo uns momentos.- Às vezes, acho que morreram mesmo quando perderam o negócio. Ficaram destruídos - Alex sentou-se em frente a ela. - Enfim, se quiseres o perfil,

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102será melhor começarmos. Tenho aqui umas coisas preparadas para leres...A chamada chegou horas depois, quando continuavam no escritório. O sol do meio da tarde filtrava-se pelas janelas e a brisa balançava as cortinas.Alex ouviu durante uns momentos antes de lhe passar o auscultador a ela.- É para ti, de Londres. Um tal Rodney Krieg. Saskia agarrou no auscultador, enquanto Alex se recostava nas costas da sua cadeira com os braços atrás da cabeça e as pernas cruzadas em cima da secretária.Senhor Rodney, não esperava que entrasse em contacto comigo tão depressa.- Saskia, querida, que tal vai isso?- Muito bem. Já estou a trabalhar no perfil - Saskia assentiu, olhando para Alex. - O senhor Koutoufides está a colaborar em pleno comigo. Acho que estará acabado daqui a uma semana.- Ah, em relação ao perfil...Um calafrio percorreu o corpo de Saskia.- O que se passa? Algum problema? - perguntou ela com voz tensa.Alex inclinou-se para a frente.- Bom, os elementos do conselho estão um pouco preocupados...A tensão transformou-se em receio profundo.- O que se passa?- Há rumores de que talvez se retire da competição pelo cargo.- Porque é que eu ia fazer uma coisa dessas? Estou

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103a trabalhar há doze meses para o conseguir. Porque é que ia retirar-me agora?- Pode ser difícil para si ocupar um cargo que exige tanta dedicação em Londres quando pensa ir viver para outro lado e começar a ter filhos. Como já lhe disse, é um trabalho que exige muita dedicação.Espero que entenda.Saskia sentiu um aperto no coração. Não queria acreditar no que ouvia.- Não, não, senhor Rodney. Acho que já lhe tinha explicado. Não vou casar-me, o noivado não é real. É só uma fachada para o público para desviar a atenção, para que a imprensa perca interesse por Maria. É evidente que o truque está a funcionar, caso contrário, o conselho não teria acreditado.- Por favor, Saskia, sei perfeitamente o que me disse - disse ele sem convicção. - Mas está aesquecer-se de uma coisa: Carmen viu-vos ontem à noite na angariação de fundos da Fundação Baxter e disse que pareciam muito apaixonados, além disso, Koutoufides anunciou que o casamento vai ter lugar muito em breve. Também há rumores de que talvez não falte muito para que tenham um filho. Saskia ficou imóvel.- Foi Carmen quem fez correr esses rumores? Ontem à noite, disse-me que estava disposta afazer o que fosse preciso para conseguir o cargo. Não compreende o que Carmen está a fazer?- É importante saber quem fez correr o rumor se for verdade?- Naturalmente que importa! Por favor, senhor Rodney, acredite. Não vai haver casamento nenhum! Já disse, não estou noiva de Alex Koutoufides.

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104- Lamento muito, Saskia - disse o senhor Rodney com impaciência. - Sei que o cargo de editora-chefe significa muito para si e sei o quanto trabalhou para o conseguir, mas o conselho está convencido de que estão noivos. Não querem correr o risco de lhe dar o cargo para que, passado pouco tempo, o deixe. É um cargo demasiado importante.-Não deixaria!- Além disso, Carmen já entregou um relatório preliminar do seu perfil. É excelente, exactamente o que queríamos. A verdade é que o conselho está a questionar-se se faz sentido continuar com a competição.- Mas, senhor Rodney...- Lamento muito, Saskia. Aconselho-a a apresentar oficialmente a sua retirada da competição e quanto antes melhor.Saskia ficou com o auscultador colado ao ouvido depois de o senhor Rodney desligar. Desligar era reconhecer que lhe tinham roubado o seu sonho.Fizera todo o tipo de sacrifícios e não lhe valera de nada.E tudo devido a um homem.O homem que estava sentado em frente a ela.Alexander Koutoufides!Finalmente, Saskia desligou o telefone.- O que se passa? - interrogou Alex. - O que aconteceu?Saskia levantou-se; não conseguia controlar o tremor dos seus músculos.- Maldito sejas! - exclamou ela. - Maldito sejas! Se não tivesses metido na cabeça anunciar que éramos noivos, se não tivesses dito a todos os jornalistas que íamos casar-nos em breve...

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105- Eh, o que ia fazer então? - Alex levantou-se, rodeou a secretária e aproximou-se dela.- Estou fora da corrida pelo novo cargo. O conselho decidiu que não podem dar-me o cargo por muito bom que seja o perfil que lhes apresente e tudo porque se pressupõe que vou ser uma mulher casada.- Pensei que lhes tinhas explicado o que se passava.- E expliquei! Pensava que os tinha convencido. Mas insististe em levar-me contigo para Nova Iorque, insististe em que usasse o anel da tua mãe e que o mostrasse a toda a gente, incluindo a pessoa com quem competia pelo cargo. E depois disseste à imprensa que íamos casar-nos em breve.E agora perdi a possibilidade de conseguir aquele cargo. E a culpa é tua!- Não é possível que te façam isso. Seres casada ou não é irrelevante para conseguir um cargo. O que estão a fazer é discriminação.- Não! Esperam que me retire, sobretudo, agora que Carmen lhes apresentou um relatório preliminardo qual gostaram. Já nem sequer estão interessados em ver o que escrevo.Saskia respirou fundo. Devia haver alguma coisa que pudesse fazer. Tinha de haver alguma coisa.- Talvez a situação não seja tão má como achas.- Não fazes ideia de como é a situação. Não fazes ideia do que me fizeste nem do que vai custar-me.Destruíste-me a vida há oito anos e voltaste a fazê-lo.Alex apertou-a nos seus braços, tentando acalmá-la, enquanto ela se desfazia em lágrimas contra o seu corpo. A única coisa que podia fazer por ela naquele

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106momento era segurá-la, esperar com paciência que se acalmasse.O problema era que... não conseguia esperar.Saskia estava nos seus braços, apaixonada, desesperada e ele estava suficientemente preso na paixão e desesperado para se aproveitar da situação. Como conseguia resistir aos batimentos do coração de Saskia, a ascensão frenética dos seus seios, o seu cheiro, a sensação doce das suas curvascoladas ao seu corpo? Por que razão ia incomodar-se em resistir?Alex baixou a cabeça e beijou-a na cabeça, enterrando os lábios naqueles cabelos despenteados, sentindo o seu cheiro de mulher.Sentiu-a conter a respiração. Ao pôr-lhe os dedos no queixo e levantar-lhe o rosto, viu sombras e lágrimas naqueles olhos verdes, mas também viu calor. E os lábios de Saskia estavam húmidos, rosados e entreabertos.Alex abanou a cabeça. Em que raios estava a pensar? Mas tinha importância? Não era o mais natural do mundo?Encostou a boca na de Saskia porque era inevitável.Ela ficou muito quieta uns instantes, depois, relaxou, enquanto ele a beijava.Depressa, Saskia devolveu-lhe o beijo. Acariciou-lhe o corpo e apertou-se contra ele, como se quisesse fazer parte dele. Depois, começou a desabotoar-lhe os botões da camisa, a descer-lhe o fecho das calças... Dar-se-ia conta do que estava a fazer? Tinha ideia do convite que estava a fazer-lhe?- Sto thiavolo - murmurou ele ao ouvido de Saskia, tremendo de desejo.

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107Ao demónio com tudo.Saskia queria que continuasse a beijá-la e ele não conseguia parar.- O que estás a fazer? - perguntou ela com voz rouca, com voz cheia de desejo, quando ele a tomou nos seus braços e empreendeu o caminho para o seu quarto.Alex beijou-lhe a testa antes de responder:- Uma coisa que deveríamos ter feito há muito tempo.

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108Na vida, uma pessoa não tinha a mesma oportunidade duas vezes, muito menos três. Alex sabia disso. Com Saskia tivera-a há oito anos, mas ele desperdiçara-a e aceitara as consequências. Sabia que a forma como a tratara fora um erro.Mas agora tinha uma segunda oportunidade e, daquela vez, não ia desperdiçá-la. Era um presente docéu.Deitou-a na cama com a intenção de se despir antes de fazer amor com ela, mas ao olhar para ela nos olhos, deu-se conta de que não tinha tempo, que o seu lugar era com ela ali, na cama, já. Só demorou o tempo necessário para descalçar os sapatos e foi para a cama completamente vestido, depois, abraçou-a.- Ágape mou - sussurrou em grego, porque o inglês pareceu-lhe inadequado para expressar o que sentia. - És tão bonita...E demonstrou-lho com os lábios e com as mãos.Queria saboreá-la inteira. E Saskia também parecia arder de desejo.Era virgem há oito anos atrás e continuava a ser.

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109Estava a entregar-se a ele, confiando nele a responsabilidade de lhe mostrar a magia do amor.Era um presente lindo. Um presente que não ia voltar a rejeitar.Acariciou-a com ardor, com paixão. Libertou-se da roupa, do sutiã e de tudo o que se interpunha entre ele e a pele nua de Saskia. Cobriu-lhe os seios com as mãos. Acariciou-lhe os mamilos e sentiu-a arquear-se debaixo dele, ouviu-a gritar de prazer, enquanto lhe puxava a camisa, exigindo mais.Alex despiu as calças de ganga e depois despiu-lhe as dela, descobrindo a pele suave e aveludada das pernas compridas de Saskia.Percorreu-lhe as pernas com as mãos e depois cobriu-as com beijos.Pôs-lhe as mãos na parte superior das coxas e brincou com o elástico das cuecas de seda. Pôs-lhe as mãos na cabeça, afundando os dedos nos seus cabelos. -Alex! - gritou Saskia.Mas não a fizera sentir tudo o que ela era capaz de sentir. Escondeu o rosto nela e sentiu o cheiro do seu desejo, um cheiro feito para ele, para aquela ocasião. Um cheiro que o deixoulouco de paixão.Num instante tirou-lhe as cuecas e fê-la afastar as pernas para a acariciar com a língua e saborear a sua doçura.Saskia voltou a gritar, agarrando-se a ele, abanou a cabeça, de um lado para o outro.- Por favor... por favor... - pediu ela.Alex queria agradar-lhe. Queria demonstrar-lhe quão bonito podia ser. Quão maravilhoso tinha de ser. Levantou a cabeça e tocou-lhe com os dedos, penetrando-a

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110-Alex! -Saskia era virgem e tinha de ir com cuidado. Sabia que tinha de demorar o tempo que fosse preciso para que fosse uma experiência maravilhosa para ela. Mas o desespero que ouviu na sua voz destruiu as suas boas intenções.Cheio de desejo, colocou-se entre as pernas dela, antes de recordar que precisavam de protecção. Encarregou-se disso, foi apenas um atraso mínimo.Já estava pronto. Saskia agarrou-se a ele, rodeou-lhe o pescoço com os braços, beijou-o e recebeu a sua língua dentro da boca como o receberia a ele.Alex penetrou-a com um movimento suave, carinhoso e sem dor que deixou ambos sem respiração e lhe tirou a virgindade. E ela sentiu-o e incentivou-o a continuar, a penetrá-la com mais intensidade.Alex estava perdido, a paixão de Saskia levou-o ao outro lado do abismo. Ela ficou muito quieta, entre os seus braços, os seus músculos a contraírem-se à volta dele.Ambos estavam a recuperar o ritmo das suas respirações, imóveis. Alex ouviu o ritmo da respiração de Saskia, uma mulher de curvas deliciosas e boca delineada, uma mulher a quem abraçar, a quem amar.”Theos!” O seu corpo ficou tenso e uma onda de pânico apoderou-se dele.Como lhe ocorrera semelhante ideia? Não podia amá-la. Nunca. Só tinha aceitado o que lhe tinha oferecido, mais nada.Alex afastou-se dela e deitou-se na cama; de repente, sentiu vontade de se afastar dali. No entanto, enterneceu-se quando ela se aproximou para se apoiar

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111nele. Olhou para ela e viu que Saskia tinha os olhos fechados. Incapaz de resistir, levantou uma mãoe acariciou-lhe o rosto.Ela abriu os olhos cheios de lágrimas e olhou para ele.- Magoei-te?De repente, Alex sentiu-se preocupado. Não queria fazê-la chorar.- Não. É suposto doer?- Fico contente por ter sido assim - respondeu Alex com uma certa brusquidão.Não queria saber a razão pela qual Saskia estava a chorar. Não queria que a situação se complicasse.Para isso, tinha de a tirar dali o mais rápido possível.- Amanhã vou levar-te de volta a Londres - declarou Alex sem conseguir evitar acariciar-lhe o corpo.- Para Inglaterra? Tens assuntos de trabalho para resolver?- Não exactamente. Vou levar-te para que fales com o senhor Rodney e com os outros elementos do conselho. Vou contar-lhes a verdade. Vou demonstrar-lhes que não existe nenhum compromisso matrimonial.- Farias isso por mim? - perguntou Saskia. Era mais do que teria esperado dele, no entanto, foi difícil para ci mostrar alegria- Conseguir aquele cargo significa muito para ti e corres o risco de o perder por minha causa. É o mínimo que posso fazer.”Não é a única coisa que podes fazer”, quis ela dizer. ”Podias...” O quê? O que esperava que Alex fizesse? Que lhe declarasse um amor incondicional? Que se casasse com ela porque tinham feito amor?

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112Não, já não era uma adolescente inocente... já nem sequer era virgem.De repente, tornou-se difícil pensar. Alex estava a beijá-la e a acariciar-lhe o corpo com paixão. E quando voltou a penetrá-la, deixou de pensar por completo.Moveu-se dentro dela, fazendo-a ofegar, fazendo-a arquear as costas. Daquela vez, a sensação foi diferente, mais profunda do que antes e o prazer foi enlouquecedor. Um prazer que quase lhe doeu.Enquanto faziam amor, Saskia sentiu-se possuída. Possuída por eleAmando-o...Não, não podia apaixonar-se por Alex. Mas saber isso não a impediu.Amaldiçoou-se por o amar, por o desejar com todo o seu corpo e a sua alma...Saskia gritou, enquanto Alex a conduzia ao clímax, até alcançar o êxtase.Saskia sentia-se mal. Depois de passar a noite inteira a fazer amor, de manhã, Alex organizara o voopara voltar para Londres. Tinham aterrado à tarde e tinham ido jantar ao restaurante de um hotel famoso. Alex marcara uma reunião com o senhor Rodney no dia seguinte de manhã e, se tudo corresse bem, ela pensara em ir ver o seu pai ao início da tarde. Com sorte, tudo se resolveria.Agora, Saskia, com um copo de vinho na mão, olhava pela janela do hotel de Regents Park com ar ausente, enquanto esperava que Alex voltasse de fazer uma chamada. Se conseguisse o novo cargo,

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113iria viver para os arredores de Londres, passaria os fins-de-semana com o seu pai e não voltaria a ver Alex.Em breve, a sua relação com ele teria chegado ao fim. Alex tinha estado muito tenso todo o dia. Parecia ter tanta vontade de se ver livre dela como ela de fugir dele. Porque é que estava tão disposto a ajudá-la a conseguir o cargo?Alex regressou à mesa e sorriu com ar tenso, desculpando-se por ter demorado tanto, enquanto voltava a encher os seus copos de vinho.- Está confirmado. Vamos ter uma reunião com o senhor Rodney às onze da manhã. Vamos brindar ao teu sucesso.Levantaram os copos e Saskia tentou ignorar o nó que sentia no estômago. Ao fim e ao cabo, ainda tinha aquela noite com ele, porque não desfrutar ao máximo?- Gostavas de fazer alguma coisa depois da reunião? Não sei, ir a um museu ou dar um passeio pelo rio de barco...- Obrigada, mas tenho planos - respondeu ela. Alex encolheu os ombros.- Entendo. E quais são esses planos? Saskia respirou fundo.- Vou ver o meu pai.Alex pousou o copo de vinho que tinha na mão depois de uma breve hesitação.- O teu pai vive aqui, em Londres? Saskia lançou-lhe um olhar desafiante.- Onde achavas que vivia? Em Sidney, ainda? Não, veio comigo quando me concederam a bolsa para estudar na Escola de Estudos Económicos de

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114Londres. Achavas que ia deixá-lo sozinho em Sidney depois do que aconteceu? O meu pai desejava sair dali e começar uma nova vida.- E começou? - perguntou Alex, empregando, de súbito, um tom agressivo.Saskia torceu o guardanapo que tinha no seu colo. O seu pai fizera o que pudera. Tentara refazer o seu negócio em Inglaterra, mas todas as suas propostas tinham sido rejeitadas. Também tentara encontrar emprego, mas sem sucesso, pois não queriam executivos tão velhos. Por fim, acabara por recorrer ao jogo e às apostas. Ela não demorara muito para descobrir que o jogo acabara com as economias do seu pai e que as dívidas começavam a amontoar-se.- Os últimos anos foram difíceis - admitiu Saskia.- A vida é difícil.A tristeza dela evaporou-se num segundo por causa da crueldade do comentário de Alex.- Não esperava que te mostrasses compreensivo, sobretudo, sabendo que arruinaste o negócio dele.- Tal como ele arruinou o do meu pai.Saskia levantou-se e deixou o guardanapo em cima da mesa.- Não quero ouvir mais nada sobre esse assunto. Alex agarrou-lhe o pulso.- Senta-te - ordenou ele. Depois, suavizou o seu tom de voz. - Senta-te, por favor. Não devia ter ditonada. Não vamos discutir.Depois de hesitar um momento, Saskia voltou a ocupar o seu lugar.Beberam café e depois dirigiram-se para a suíte que Alex reservara para ambos.No corredor da suíte, Alex abraçou-a. Ao princípio,

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115Saskia aceitou aquele abraço com resistência, tensa. Mas quando Alex começou a beijá-la, a resistência transformou-se em desejo.Alex conduziu-a ao quarto e deixaram-se cair na cama de dossel, pernas e braços entrelaçados, bocas unidas... até alcançarem o orgasmo.Depois, permaneceram deitados sem se mexerem, enquanto recuperavam a respiração. A pouco e pouco voltaram à normalidade.- Não te mexas - disse Alex e deu-lhe um beijo na testa antes de se levantar.Alex dirigiu-se para a casa de banho e abriu as torneiras da banheira ovalada, depois, despejou gel de banho. Quando regressou ao quarto, encontrou Saskia sentada em frente à cómoda, de robe, a tirar as jóias.Aproximou-se dela, beijou-a e disse-lhe para ir para a banheira; ele segui-la-ia num instante.Enquanto Saskia entrava na banheira, Alex foi buscar a garrafa de champanhe que estava no gelo em cima de uma bandeja com duas taças. Tirou a rolha da garrafa, encheu as taças e agarrou-as paraas levar para a casa de banho quando, de repente, parou. Uma luz intermitente do telefone indicava que alguém deixara uma mensagem no atendedor de chamadas.Esteve prestes a não ouvir a mensagem, mas seria melhor fazê-lo caso fosse o senhor Rodney; haviaa possibilidade de querer mudar a hora da reunião. De qualquer maneira, se jogasse bem as suas cartas aquela noite, Saskia não precisaria daquele emprego. Saskia apresentaria a sua demissão. Queria pedir-lhe para ir viver com ele, que esquecessem o passado e começassem uma vida nova.

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116Ele encarregar-se-ia de que não faltasse nada a Saskia.Alex pousou a garrafa, levou o auscultador do telefone ao ouvido e carregou na tecla do atendedor de chamadas.- Saskia!Alex pestanejou ao reconhecer a voz. Uma súbita angústia apoderou-se dele. Por que demónios Maria telefonava a Saskia?- Tenho notícias maravilhosas. Fizeram-me uma oferta, querem publicar as minhas memórias. Recomendaram-me procurar um agente, portanto preciso que me ajudes. Quando regressas? Telefona-me o mais rápido possível. Nem acredito, vão publicar o meu livro! E devo isso a ti!

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117A banheira era um paraíso, a espuma chegava-lhe ao queixo, a pressão dos jactos de água massajavam-lhe os músculos...Saskia fechou os olhos com a cabeça apoiada na beira da banheira. Mas não ia dormir. Dali a pouco,Alex ia ter com ela e começaria outro capítulo da sua vida sexual.Naquela noite não ia pensar em nada. O amanhã ainda estava muito longe...Saskia ouviu-o entrar. Abriu os olhos e virou a cabeça, esperando vê-lo nu. No entanto, Alex estava de calças de ganga e camisa e a sua expressão era de raiva.- Alex - disse ela com o sobrolho franzido.- Bruxa - replicou ele. - Achavas que ias levar a tua avante?Saskia endireitou-se até se sentar.- Alex, o que é que se passa?- Toda aquela conversa sobre o meu perfil e o novo cargo. Foi tudo uma armadilha. Um enorme erropara encobrires o que realmente querias.

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118- Não te compreendo - Saskia levantou-se, saiu da banheira e tapou-se com uma toalha. - Do que estás a falar?- Das memórias de Maria!Um calafrio percorreu-lhe o corpo.- Como sabes?Alex esboçou um sorriso frio.- Nem sequer negas.Saskia abanou a cabeça e agarrou noutra toalha mais pequena para tirar a espuma que tinha no cabelo.- Porque é que ia negar? Maria pediu-me que as lesse.Alex tirou-lhe a toalha das mãos, obrigando-a a fixar-se nele.- Estás a mentir! Desde o começo que foi por causa dela.- Não sabes o que dizes. Maria pediu-me que lesse o texto dela e foi isso que fiz. E o que escreveu émuito bom. Entreguei-o a uma editora minha amiga em Nova Iorque, tal como Maria queria que fizesse.- Disse-te para te manteres longe dela!- E mantive. Ela procurou-me, não o contrário. -Mentira!- É verdade! Não foi culpa minha, foi tua. Maria e eu estávamos em celas diferentes, mas era a tua prisão.- Prometeste-me, em Nova Iorque, que não ias aproximar-te dela.- Não! Prometi-te que o perfil era sobre ti, que não tinha nada a ver com a tua irmã - recordou Saskia. - Além disso, já tinha lido o texto de Maria e não ia quebrar a promessa que lhe tinha feito.

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119- Não me disseste isso.- Porque é que ia dizer-te?! Sabia como reagirias e Maria também. Mas pediu-me que o lesse - Saskia olhou fixamente para ele, furiosa. - O que aconteceu? Maria ligou?Saskia passou à frente dele e saiu da casa de banho, precisava de se vestir. Não podia continuar comaquela conversa nua.- Deixou uma mensagem - respondeu Alex, seguindo-a. - Uma editora, suponho que uma editora de uma revista cor-de-rosa, propôs publicar a sua biografia.Saskia, com as mãos cheias de roupa, virou-se.- Fizeram-lhe uma oferta? É uma notícia maravilhosa. Deve estar muito feliz. Não é possível que não te dês conta da oportunidade maravilhosa que tem.Alex aproximou-se.- A única coisa que sei é que fizeste com que os pormenores sórdidos da vida privada da minha irmãsaiam nos jornais.- Não vão sair nos jornais e não se trata de pormenores sórdidos da vida privada da tua irmã. Se o que diz é verdade, e espero que seja, trata-se de publicar um livro. Tens ideia do quanto é difícil conseguir publicar um livro?- A sordidez encontra sempre mercado.- Como te atreves a dizer isso? Estamos a falar do que a tua irmã escreveu. E se te incomodasses emlê-lo, verias que é um relato maravilhosamente escrito sobre a vida de uma pessoa e a sua luta por encontrar o seu lugar no mundo. Mais nada. E é divertido, engenhoso, terno e sábio. Não sabias quea tua

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120irmã tem talento? Aposto que não sabias que a tua irmã escrevia.Alex desviou o olhar dela e Saskia deu-se conta de que tinha tocado num ponto fraco.- Maria é uma boa escritora - continuou Saskia. Isto pode inclusive ser o começo de uma carreira como escritora para ela. Será que não gostarias que ela o fizesse? Não gostarias que tivesse uma vida preenchida e que se sentisse satisfeita consigo própria? Ou preferes continuar a fazer de irmão responsável e decidir o que Maria pode ou não pode fazer? Garanto-te que Maria quer liberdade e não quer que a tratem como uma menina pequena.- Maria precisa de ajuda.- Não, o que precisa é de liberdade. Tu mantém-la fechada. Não acho estranho que tente chamar a atenção. Tem-na fechada e não a deixas descobrir que tipo de pessoa é realmente.- E tu achas que sabes o que é melhor para Maria? Saskia viu dor nos olhos de Alex.- Escuta, sei que a amas muito, mas devias deixá-la assumir a responsabilidade dos seus próprios actos. Sei que é isso que Maria quer.- E a forma de o conseguires é expondo a sua vida? Porque é que não a deixaste em paz? Disse-te para a deixares em paz!- Alex, escuta...- Maria estava bem até que a tua família apareceu. Que direito tens de lhe destruir a vida? Não bastao que o teu pai fez?As palavras de Alex silenciaram-na. Porque é que Alex odiava tanto o seu pai? De certeza que as suas famílias se relacionaram no mundo dos negócios,

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121como todas as pessoas de negócios em Sidney. Era normal.- Está bem, ambos sabemos que o meu pai ficou com o negócio do teu pai. Sei que deve ter sido difícil para a tua família. Mas isso foi há muito tempo. Acho que é altura de o superares.Alex desatou a rir-se, foi uma gargalhada sem humor, uma gargalhada cheia de desprezo.- Não estou a falar de negócios - apontou Alex. Um receio intenso apoderou-se dela. Se não estava afalar de negócios...- A que te referes?- O teu pai violou a minha irmã!Saskia sentiu um calafrio. Não conseguia falar, não conseguia responder. Abanou a cabeça com incredulidade.- Não acreditas? Não achas que o teu maravilhoso pai fosse capaz de fazer uma coisa do género?- Não - respondeu ela.Era repugnante. Não podia ser verdade.- Pois acredita - disse Alex. - O teu querido pai não se conformou em destruir o negócio do meu, também decidiu acabar com a virgindade da minha irmã.- Não! Isso não é verdade! Não pode ser verdade!- Pois foi isso que aconteceu. E o teu pai vangloriou-se de o ter feito à frente do meu pai- Não é possível.- Maria tinha quinze anos!Saskia deu uns passos para trás, afastando-se dele. Não podia acreditar.Mas, de repente, recordou o texto de Maria. Falava de quando perdera a virgindade aos quinze anos com um homem muito mais velho do que ela.

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122Aquele homem podia ser o seu pai?O que é que Alex lhe dissera? Dissera-lhe que os seus pais nunca tinham superado a tragédia de perder o seu negócio. Agora percebia que não fora perder o negócio o que os arrasara, fora o desespero de saber o que tinha acontecido à sua filha.Porque é que Alex odiava tanto o seu pai? Devia ser verdade o que lhe contara, caso contrário, não fazia sentido.Com uma náusea, Saskia deu meia volta e correu para a casa de banho. Ali, vomitou o pouco que tinha jantado.Alex foi atrás dela e deu-lhe uma toalha para que limpasse a boca.- Eu sei. A mim também me dá vómitos. Saskia tremia e um suor frio cobria-lhe o corpo.- Alex, não fazia ideia. Não sabia - gemeu ela.- Agora já sabes. E agora também sabes porque é que não queria que te aproximasses da minha irmã.- Tentavas proteger-me, evitar que descobrisse o que o meu pai tinha feito a Maria.De repente, uma angústia súbita apoderou-se de Saskia. Maria confiara nela, procurara o seu apoio.- Alex, a tua irmã sabe quem sou?- Referes-te a se sabe que és filha dele? Claro que não Se soubesse, acho que não se aproximava de ti.- Não sei o que dizer - disse Saskia, levando a toalha ao rosto como se com ela quisesse absorver o horror que sentia.- Nesse caso, faz-me um favor e não digas nada declarou Alex com frieza. - É curioso, mas tinha chegado a pensar que podíamos esquecer o passado, que

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123tu eras diferente. Tinha chegado a esquecer quem era o teu pai.Alex deu uma gargalhada e abanou a cabeça antes de acrescentar:- Mas és como ele. Foste atrás da tua presa com crueldade, uma presa inocente e vulnerável, para conseguires o que querias. Sim, és como o teu pai.Alex saiu da casa de banho. Uns segundos depois, Saskia ouviu-o a falar ao telefone.Ela ficou ali, a tremer. Depois, foi à casa de banho para lavar a cara. Ao levantar a cabeça, viu-o atrás de si e virou-se. Alex tinha nas mãos uma carteira e a mala de viagem.- Vais-te embora?- Vou para outra suíte. Amanhã vou-me embora de Londres. Vou mandar enviar o resto das tuas coisas.- E a reunião de amanhã com o senhor Rodney?- Por favor, Saskia. Não esperas que acredite nessa tolice, pois não? Conseguiste o que querias. Conseguiste fazer com que Maria revelasse a sua vida privada. Mesmo que eu recuperasse o texto, tu já o entregaste a quem de direito. Não tens de continuar a fingir. É demasiado tarde.Saskia não achava estranho que Alex não acreditasse, que não quisesse ter nada a ver com ela. Ao fim e ao cabo, recordava-lhe o que o seu pai fizera à sua irmã.- Ah, e quando vires o teu pai amanhã... Saskia esperou uns segundos.-Sim?- Diz-lhe que é a única pessoa no mundo que quis matar. Diz-lhe que, dadas as circunstâncias, não se deu mal.

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124Saskia fechou os olhos como reacção à amargura daquelas palavras de despedida. Uns segundos depois, ouviu a porta da suíte a fechar-se.Alex tinha-se ido embora.

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125A reunião com o senhor Rodney e os outros membros do conselho correu tão bem como podia esperar-se. Pelo menos, foi isso que Saskia disse para si, tentando animar-se, ao sair do edifício da empresa com lágrimas nos olhos.O conselho decidira que, se conseguisse acabar o perfil no prazo de uma semana, ainda tinha uma ligeira possibilidade de a considerarem uma adversária para o cargo, mas tinha de competir com o magnífico relatório que Carmen lhes enviara.Ficou na rua, à espera que passasse um táxi vazio para ir ver o seu pai. Apesar do que fizera, era seupai e ela era a única pessoa no mundo que podia cuidar dele.Mas se o que Alex dissera fosse verdade... Se o seu pai cometera tal desonra...Finalmente, um táxi parou. Depois, disse ao taxista a morada do seu pai.Vinte minutos mais tarde, o táxi parou em frente a um prédio modesto.”Está mais velho”, disse Saskia para si, enquanto subia as escadas até ao segundo andar.

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126Depois de bater à porta três vezes, arrependeu-se de não ter telefonado para o avisar de que ia. Talvez fosse uma sorte que o seu pai não estivesse em casa, pois não sabia se estava em condições de falar da irmã de Alex Koutoufides.A porta do apartamento contíguo ao do seu pai abriu-se e uma mulher saiu para o patamar.- Olá, senhora Sharpe - disse Saskia ao ver a vizinha. - Vim ver o meu pai, mas não me abre a porta.Sabe onde pode estar?Enid Sharpe olhou para ela com preocupação.- Oh, Saskia, não sabes o que aconteceu?Alex estava de mau humor quando chegou a Tahoe e não melhorou quando Maria foi recebê-lo comum sorriso de orelha a orelha. A sua irmã beijou-lhe as faces e depois, olhando para o carro, franziu o sobrolho.- Onde está Saskia?- Em Londres - disse Alex. E agarrou na bagagem antes de o motorista ter tempo de o fazer.- Porquê? Não vem para cá?- Não, não vem - Alex viu Jake, que estava à porta da casa. - Olá, Jake.- Olá, chefe. É um prazer tê-lo de volta.”Não vais dizer o mesmo quando acabar contigo”, pensou Alex.- Quero que venhas ter comigo ao escritório dentro de quinze minutos - declarou Alex, olhando paraJake.Maria seguiu-o até à sala de estar. -Mas...

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127Em frente à gigantesca lareira de pedra, Alex virou-se como se quisesse arrancar a cabeça à sua irmã. De repente, notou algo diferente nela.- O que fizeste? Não sei, estás diferente.Maria levou uma mão à cabeça com gesto hesitante.- Pintei o cabelo. Gostas?Como não ia gostar? Era um tom mel, mesmo a cor de cabelo de que ele gostava. Tal como o cabelode...- Recebi a tua mensagem. Descobri sobre o livro- declarou Alex.Maria pestanejou. -E?- E quero que saibas que vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para o recuperar.- O que estás a dizer? - Maria agarrou-lhe um braço. - Querem comprá-lo, vão publicá-lo.- Não, se puder evitar.- Não! Não compreendes. Saskia disse que... Alex libertou-se dela.- Não quero saber o que Saskia disse! Maria olhou para ele, furiosa.- Como descobriste? A mensagem que deixei era para Saskia, não devias tê-la ouvido. Perguntei pelo quarto dela no hotel... - de repente, os seus olhos abriram-se muito. - Estavam no mesmo quarto! Foste para a cama com ela, não foste?Alex deu meia volta, com as malas na mão, e dirigiu-se para o seu quarto.- Foste para a cama com Saskia. Sabia que ias fazê-lo, era evidente que querias fazê-lo. Foi por isso que Saskia não me devolveu as chamadas? O que lhe disseste? Porque é que ficou em Londres?

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128Alex virou-se e fixou os olhos em Maria.- Desde o começo que lhe tinha dito para se manter afastada de ti. Mas não conseguiu fazê-lo, pois não? Veio aqui fingir que era a mim que queria entrevistar, mas o que realmente queria era saber coisas de ti, expor a tua vida. Confiei nela e enganou-me.- Tu nunca confiaste em ninguém na tua vida!- Saskia disse-me que a única coisa que queria fazer era o meu perfil.- E é verdade.- Nesse caso, como acabou a vender a tua biografia?- Porque eu fui procurá-la e pedi-lhe! Vi-a à beira do lago uma manhã e fui ter com ela. Gosto dela. E pedi-lhe por favor que lesse o meu texto.- Sim, pois.- Saskia disse-me que tu não irias gostar, tive de insistir. Inclusive menti e disse-lhe que tinha sido escrito por uma amiga minha, embora ela não tivesse acreditado. Percebi que ela pensava que era impossível que o meu texto pudesse interessar a alguém, mas eu obriguei-a.Alex olhou para a sua irmã fixamente. Maria fazia muitas coisas na vida que o incomodavam, mas nunca lhe tinha mentido. Além disso, não fora exactamente isso o que Saskia lhe dissera, que Maria fora ter com ela?De todos os modos, que importância tinha? Saskia continuava a ser quem era, nada podia mudar isso.- De qualquer maneira, o facto é que temos de recuperar o teu texto.Maria cruzou os braços.- E se eu não quiser fazê-lo?

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129- Lamento por ti, mas vou recuperá-lo. Sabes que o faço pelo teu próprio bem.- Não, isso não é verdade. Como podes tu saber o que é melhor para mim? Alguma vez me perguntaste o que quero? E a julgar pela forma como trataste Saskia, também não sabes o que te convém.Alex passou uma mão pelo cabelo. Estava cansado, tinha fome e estava farto das mulheres.- Escuta, só quero que sejas feliz, está bem? - replicou ele com um suspiro.- Eu também.- Nesse caso, acho que não é necessário publicar uma coisa que se vai virar contra nós.- Como sabes que é isso que vai acontecer? Alex, não o leste.- Maria, por favor, quando é que publicaram alguma coisa sobre ti que não nos tenha causado problemas?- Quem escreveu isto fui eu. Será que não tens confiança nenhuma em mim?- Não é uma questão de ter confiança...- É sim! Tenho quase quarenta anos e não confias no que posso ter contado. Se falasses com Saskia...- Não! Não vou falar com Saskia. E se tu soubesses o que é melhor para ti, também não falavas comela.- No entanto, não tem mal nenhum tu teres ido para a cama com ela, pois não?Alex suspirou de exasperação.- Não entendes. Não sabes que tipo de pessoa é.- Sei que não trabalha para a imprensa cor-de-rosa, apesar do que tu pensas.- Trata-se de quem é, não do seu trabalho.

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130- Referes-te a ser filha de Victor Prentice?- Tu sabias? - perguntou Alex com incredulidade.- Naturalmente que sabia. -Mas o pai dela...- Não tens de me recordar o que o pai dela fez! Eu sei perfeitamente.- Tinhas quinze anos!- E tu só tinhas doze! O que sabes tu sobre o que aconteceu? Oxalá não tivesses sabido. Oxalá o papá não te tivesse contado nada.- Antes de o papá me dizer, eu sabia que se passava alguma coisa. E quando descobri que te violou tive vontade de o matar. Jurei vingar-me dele.Maria olhou para ele com a boca aberta.- O que disseste? Disseste que me violou? É isso que pensas?- Tirou-te a virgindade. Eras uma adolescente. Como é que tu lhe chamas?- Chamo-lhe sexo. Chamo-lhe satisfazer um desejo mútuo.- Tsou - exclamou Alex. - Aquele homem tinha idade para ser teu pai! Como podias desejá-lo? Como podias saber sequer o que querias?Maria encolheu os ombros.- Quem pode explicar a atracção física? Enfim, a única coisa que sei é que me atraía e sentia curiosidade pelo sexo. E ele sentia-se sozinho e triste, sem esposa e com uma filha pequena. Suponho que tive pena.- Mas... porque é que concordaste em fazê-lo?- Não fui eu quem concordou, foi ele. Pedi-lhe que fizesse amor comigo e ele consentiu fazê-lo. O que fizemos não foi correcto, mas eu pedi-lhe Maria olhou fixamente para ele. - É isso que tens

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131contra Saskia? O que te incomodava nela não era que fosse jornalista, mas sim que fosse filha de Victor, verdade? Como pudeste atirar-lhe isso à cara? Saskia usava fraldas quando aconteceu.- É indiferente. A questão é que Victor foi para a cama contigo e não tinha o direito de o fazer.- Deixa Victor em paz! Tens de parar de o odiar, Alex! Além disso, Victor está muito mais velho, está doente e precisa de cuidados constantes - Maria interrompeu-se ao ver a expressão de perplexidade de Alex. - Não sabias? Saskia não te disse? Porque é que achas que está tão desesperada por aquele cargo no emprego? É a única maneira de ter os meios económicos suficientes para proporcionar ao seu pai os cuidados que precisa.- Theos - exclamou Alex, fechando os olhos. De repente, sentia-se quase doente.- O que fizeste? - perguntou Maria, pondo-lhe uma mão no braço. - Não tinhas ido a Londres para a ajudar? O que se passou?Alex olhou para a sua irmã com angústia. Maria respirou fundo ao dar-se conta do que devia ter acontecido.- Oh, meu Deus, não! Contaste-lhe, não foi? Disseste-lhe que o pai me tinha violado, não disseste?Alex baixou a cabeça, reconhecendo o seu erro. O que fizera!Saskia mudou de postura na poltrona forrada com plástico com braços de madeira. Olhou para o seupai com a esperança de ver uma melhora, mas sentiu o coração apertado imediatamente.

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132Nenhuma mudança.Depois de passar três dias ao lado da cama do seu pai no hospital, sabia o que podia esperar.O seu pai entrara em coma devido a uma hemorragia cerebral, os médicos não lhe tinham dado muitas esperanças. Segundo eles, podia sair do coma em cinco dias, em, cinco meses, ou...Mesmo que saísse do coma, talvez precisasse de meses de reabilitação, até anos. Aquele erao melhor prognóstico.As lágrimas escorriam pelas suas faces quando, de repente, a porta do quarto se abriu e entrou uma enfermeira para examinar o seu pai.- Está um dia lindo, menina Prentice, embora digam que vai chover. Porque é que não vai tomar um café e respirar um pouco de ar fresco agora que pode?Saskia espreguiçou-se.-Acho que tem razão, é isso que vou fazer.Na verdade, não havia muito mais que pudesse fazer.Já era de noite quando Saskia regressou ao seu pequeno apartamento, esgotada. A única coisa que queria era tomar um banho quente. Passara cinco dias no hospital, queria estar ao lado do seu pai caso saísse do coma.Mas os médicos tinham razão, devia ir para casa.No corredor, encontrou o correio. Como de costume, a senhoria tivera a amabilidade de passar pela casa para ver se estava tudo bem e para levar o correio. Depois, ao virar-se, viu uma pilha de caixas amontoadas na sala de estar.

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133Saskia aproximou-se das caixas para examinar a sua procedência.Tahoe. Sim, Alex dissera-lhe que lhe enviaria as suas coisas. Mas... tantas? Quase não deixara nada lá.Abriu uma das caixas. Vestidos. Eram os vestidos que Alex lhe comprara em Sidney. Vestidos que não considerava seus. Também vinha o vestido de noite que usara em Nova Iorque. E tinha vestidos e sapatos que ainda não usara.Sentou-se no chão e... desatou a rir-se.Tinha graça.Riu-se e riu-se, incapaz de controlar a histeria.E continuou a rir-se ao mesmo tempo que as lágrimas escorriam pelas suas faces. Quando finalmente foi para a cama, a gargalhada tinha cessado e só restavam as lágrimas.Vinte e quatro horas mais tarde voltara à sua vida normal, ou algo parecido.Quando a campainha da porta tocou, Saskia prendeu o cabelo molhado num rabo-de-cavalo e correupara a porta. Devia ser da organização de caridade a quem ligara para que fossem buscar as caixas com roupa. Quanto mais depressa desaparecessem, mais depressa se livraria de tudo o que pudesse recordar-lhe de Alex.Abriu a porta e ficou gelada.- Olá, Saskia.

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134Saskia pestanejou e respirou fundo, mas quando voltou a abrir os olhos, Alex continuava ali, na soleira da porta.- Porque é que vieste?- Vim ver-te. Não vais convidar-me para entrar?- Para quê?- Temos de falar. Saskia abanou a cabeça.- Não. Acho que já não temos nada para dizer um ao outro.Dois homens de fato-macaco apareceram por trás de Alex.- Somos da Charity Central, viemos buscar umas caixas.- Sim, entrem. Estão ali - respondeu Saskia ao homem que se identificou.Alex não se afastou, entrou no apartamento para os deixar entrar, Saskia reparou nisso com irritação. Ela apontou para as caixas e disse:- Levem-nas todas.

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135Alex olhou para as caixas e depois para ela quando um dos homens se aproximou da porta com umadas caixas.- Eh, um momento - protestou Alex. - Não são...?- Sim, são - Saskia assentiu.- Esses vestidos valem uma fortuna.- A tua fortuna, não a minha. Agora se os quiseres...O homem parou à porta e virou a cabeça.- Levamo-los ou não?- Sim, levem-nos. -Não.O homem pousou a caixa no chão e, olhando para Alex, perguntou:- O que fazemos então, chefe?- Comprei isto tudo para ti - disse Alex num tom acusatório, olhando para ela fixamente.- Não quero nada.- Está bem, levem as caixas - disse Alex ao homem, contendo a raiva que sentia.Em minutos os homens acabaram de tirar as caixas e foram-se embora.Saskia suspirou de alívio, enquanto fervia água para fazer chá. Depois de se servir de uma chávena, acrescentou duas colheres de açúcar. Precisava de toda a energia necessária para enfrentar Alex.- Não paraste para pensar na possibilidade de não querer ver-te?- Sim, mas era indiferente.Saskia desatou a rir-se, mas foi uma gargalhada histérica.- Claro, quem vai enfrentar o grande Alexander Koutoufides.

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136- Não! - Alex agarrou-lhe o braço, fazendo-a entornar um pouco de chá no chão.Ela olhou para a mão e depois para ele.- Larga-me.- Não vim discutir contigo.- Porque é que vieste, Alex?- Vim para te pedir desculpas. Saskia sorriu ironicamente.- Bom, isso resolve tudo, não é verdade?Alex largou-a e ela levou a chávena de chá à boca.- Maria disse-me que foi ela quem insistiu em dar-te o texto.- Não foi isso que eu te disse? No entanto, tinha a impressão de que não tinhas acreditado em mim. E agora, se já terminaste...- Bolas, Saskia! Tenho muitas coisas para te dizer- Alex passou as mãos pelo cabelo. - Escuta, fui-me embora de Londres porque pensei que tinhas traído a confiança que tinha depositado em ti. Achava que querias expor a minha irmã. Mas, quando falei com Maria, percebi que estava enganado... sabes como me senti?- Não - respondeu ela com franqueza. - Não, não faço ideia.- Não só te chamei mentirosa como também te abandonei e não fui à reunião com os teus chefes. A propósito, como correu?- Deram-me uns dias para acabar o perfil. O único problema era que não podia acabá-lo sem a tua colaboração - informou ela.- Dar-te-ão o cargo, se é que ainda o queres. Com ou sem perfil.

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137Saskia levantou a cabeça e olhou para ele nos olhos.- Que amável da tua parte. Mas já não me importa, decidi que Carmen pode ficar com o cargo se quiser.- Saskia, Carmen não vai precisar daquele cargo.- O que queres dizer?- Não ouviste as notícias hoje? Drago Maiolo teve um enfarte, enquanto conduzia o seu Ferrari e caiu por um precipício.- Meu Deus, isso é terrível. Mas o que tem isso a ver com Carmen?- Carmen estava com ele. Faleceram os dois.Saskia fechou os olhos e deixou-se cair numa poltrona. Por muito que Carmen estivesse contra ela, não merecia acabar assim.- Lamento - disse ele. - Mas, como podes ver, o cargo é teu.- Não entendes, já não quero o cargo.- Mas... achava que precisavas dele por causa do teu pai.Saskia olhou para ele, pestanejando. De repente, sentiu um nó na garganta que a impediu defalar.- Eu sei tudo. Maria contou-me - acrescentou Alex. - Disse-me que precisavas do dinheiro para pagar os cuidados que o teu pai requer. E disse-me mais, disse-me que...- Vais dizer-me agora que te importas com o meu pai? - perguntou ela com voz acusatória.- Escuta, falei com Maria e... O que eu te disse no hotel...Saskia levantou uma mão, pedindo-lhe silêncio com o gesto.

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138- Não te preocupes, Alex, já não tem importância. O meu pai morreu ontem.De repente, Alex compreendeu porque é que ela tinha olheiras.Victor Prentice tinha falecido.- Saskia - disse Alex, aproximando-se dela. Mas Saskia levantou-se e dirigiu-se à cozinha numa tentativa de se afastar de Alex.- Não me toques! - Saskia...- Por favor, não finjas que te importas. Querias que o meu pai estivesse morto, portanto deve ser um alívio para ti.- Saskia, não vou fingir, não vou dizer que gostava do teu pai, mas estava enganado a respeito dele. Não devia ter-te dito o que te disse.Saskia olhou para ele com dureza.- Ouve-me, Saskia, por favor... - Alex voltou a aproximar-se.Ela recuou.- Não quero ouvir-te. Para ti fui apenas uma forma de vingança. Só querias humilhar-me.- Isso não é verdade. Nunca quis humilhar-te.Não acredito Por acaso não te lembras do que me fizeste há oito anos? Saíste comigo, trataste-me como uma princesa e depois, quando estava nua na tua cama, expulsaste-me. Não achas que isso é humilhação?Alex baixou a cabeça, consciente da verdade das palavras de Saskia.- Acredita, o que queria não era humilhar-te.

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139- Nesse caso, o que raios pensavas que estavas a fazer? Vais dizer-me que não me usaste? - Saskia calou-se e levou uma mão à boca. - Meu Deus, como fui idiota! Eu achava que só querias humilhar a minha família porque o meu pai arruinou o teu. Mas não, tinhas outro motivo. Levaste-me para a cama para te vingares do que o meu pai fez à tua irmã. Que tipo de pessoa faria isso, que tipo de monstro faria isso?- Escuta, Saskia... - disse ele, aproximando-se.Saskia recuou mais uma vez.- É verdade, ia tirar-te a virgindade como o teu pai tirou à minha irmã - reconheceu Alex. - Mas não consegui fazê-lo. Por isso é que parei.- Não paraste, expulsaste-me da cama.- Sim, mas foi porque não queria fazer-te mal.- Não me venhas com essas. Expulsaste-me da cama porque és um descarado. Não te importas com nada nem com ninguém com excepção da tua irmã. És um arrogante.- Será que não entendes? Se fosse um descarado, não te teria expulsado da cama, ter-te-ia obrigado a ficar e ter-te-ia tirado a virgindade.- Mas tu disseste-me...- Não, Saskia, sei o que te disse, mas não te expulsei da cama por seres virgem.Saskia engoliu em seco.- Então... porque é que foi?- Porque não podia levar a cabo o meu plano de vingança. Tinha planeado tudo quase com uma precisão militar, acabar com o negócio do teu pai e tirar-te a virgindade. Sim, tinha tudo planeado.- E eu confiava em ti!

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140- Eu sei. Mas tens de me ouvir - disse Alex num tom de súplica. - Todo o tempo que passei contigo, levando-te a jantar, ao cinema e tudo o resto... enfimll comecei a ter sentimentos por ti. E não tinha contado com isso, era a última coisa que queria. Mas tu eras uma rapariga divertida e linda e era fácil estar contigo. Era fácil ficar apanhado por ti. No entanto, não] conseguia esquecer o que tinha havido entre Maria e, o teu pai e estava decidido a não esquecê-lo.Alex interrompeu-se um momento antes de continuar.- Enfim, quando te levei para a casa da praia estava tudo conforme os meus planos. Ia tirar-te o que queria tirar-te. Era a minha vingança - Alex suspirou.- O que... te fez mudar de ideias?- O que se passou foi que, de repente, percebi a pessoa em quem estava a transformar-me. Num momento, compreendi o que andava a fazer desde que tinha doze anos: estava a tentar recuperar tudo o que os meus pais tinham perdido. No entanto, tu fizeste-me ver o quanto descera baixo.- Por isso é que te afastaste da vida social? Não foi por causa de Maria?- Não, não foi por causa de Maria. Foi por minha causa, eu não gostava de mim próprio. Tu fizeste com que me desse conta de que, afinal, queria fazer o mesmo que o homem que mais odiava no mundo fizera, que me tinha transformado em alguém parecido com ele. Estava envergonhado de mim próprio.Alex aproximou-se dela. Daquela vez, Saskia não recuou. Ele tomou as mãos dela nas suas.- Não compreendes? Não podia fazer-te mal. Não

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podia tirar-te uma coisa que podias oferecer a outro homem, a um homem que merecesse. Saskia engoliu em seco.- O que foi que te disse naquela noite?Alex sorriu fracamente ao recordar aquela noite de há oito anos.- Disseste-me que me amavas - respondeu Alex.- Achava que estava apaixonada por ti - disse Saskia num sussurro. - Achava-me a rapariga mais sortuda do mundo.Alex levantou uma mão e acariciou-lhe os cabelos molhados, fazendo-a apoiar a cabeça no seu ombro. Sentiu o seu cheiro, preocupado de que pudesse ser a última vez que o fazia.- Saskia, lamento muito.Amara-o no passado. Havia a possibilidade de reviver aquele amor? Havia esperança para um futuro juntos?- A vontade de vingança cegava-me tanto que não era capaz de ver nada com clareza - declarou Alex. Conseguirás perdoar-me algum dia?- Não te preocupes - disse ela com lágrimas nos olhos. - Dadas as circunstâncias, suponho que devia agradecer-te que não me tivesses feito o que o meu pai fez à tua irmã.- Não. não tenho desculpa. Além disso... o teu pai não violou a minha irmã.De repente, Saskia levantou a cabeça e afastou-se ligeiramente dele. Alex pôs-lhe as mãos nos ombros.- O que disseste?- Falei com Maria e ela disse-me que não foi como eu pensava.- Quer dizer que não foram para a cama juntos?

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142- Sim, foram. Maria só tinha quinze anos, mas disse-me que o teu pai não a forçou. De facto, disse-me que ela insistiu para que fossem para a cama juntos.Saskia limpou as lágrimas com uma mão.- Mas... então não assumiu perante os teus pais que tinha tirado a virgindade a Maria?Alex suspirou.- Bom, isso fez. O teu pai disse ao meu que tinha desvirginado Maria.- Mas... porque é que fez isso? Alex cerrou os dentes.- Aparentemente, lamentava o que tinha feito, mas não queria que os meus pais descobrissem a verdade. Preferiu que os meus pais pensassem que a tinha forçado para que não se virassem contra ela. À sua maneira, o teu pai tentou proteger a minha irmã.Saskia fez um esforço por não perder a compostura, enquanto as lágrimas continuavam a escorrer-lhe pela cara.- Portanto o meu pai não era um violador, é isso?- Não, não era. Oxalá não te tivesse dito nada. Estava enganado.Saskia respirou fundo.- Tenho de te agradecer por vires e por me explicares isso tudo. Agradeço-te isso de verdade.Alex ficou gelado Saskia estava a despedir-se dele. Ainda não lhe dissera tudo o que queria dizer-lhe, mas sabia que Saskia estava demasiado afectada.- Nesse caso, vou-me embora - disse Alex.Saskia prendeu o cabelo com um laço preto e viu-se ao espelho. A maquilhagem disfarçava as suas

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143olheiras e o blush disfarçava a palidez das suas faces. Depois, olhou para o relógio e respirou fundo.Tinha de sair para o funeral. Durante os dois últimos dias pensara muito no seu pai. Sentia a falta dele e não sabia o que ia fazer sem ele.Agarrou na mala e nas chaves e saiu de casa. O táxi já devia ter chegado.- Posso levar-te?Saskia recuou. Jamais teria esperado ver aquele homem vestido de preto apoiado num Jaguar.- O que fazes aqui? Achava que tinhas voltado para a tua casa.- Estou aqui para te levar ao funeral.- Não - disse ela. - Passaste metade da vida a odiar o meu pai, não vou permitir que me leves ao seu funeral.Alex endireitou-se e olhou para ela nos olhos.- Disse-te por que razão o odiava. Também te disse que me tinha enganado.- Sim, estavas enganado.- De qualquer modo, não vim pelo que sentia pelo teu pai, mas pelo que sinto por ti.Saskia estava demasiado cansada para reflectir sobre o significado daquelas palavras.- Chamei um táxi.- E eu paguei ao taxista e disse-lhe para se ir embora.- Fizeste o quê? - Saskia baixou a cabeça e rebuscou na sua mala. - Nesse caso, acho que vou no meu carro.- Hoje não devias conduzir. Vamos, deixa-me levar-te.- Nem sequer me pediste permissão para ir.

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144- Se te tivesse pedido permissão, não ma terias dado.Dez minutos mais tarde, Alex parou o carro em frente à pequena capela e desligou o carro. Mas Saskia não se mexeu.- Sentir-te-ás melhor quando tudo tiver terminado. Vamos.Havia poucas pessoas ali. Enid Sharpe, a vizinha do seu pai, uma das enfermeiras que o visitava em casa e um amigo com quem o seu pai costumava jogar às cartas. Durante a cerimónia breve, Saskia manteve a compostura, o tempo todo com os olhos fixos no caixão.Quando a cerimónia terminou, Alex olhou para ela nos olhos e deu-lhe a mão.- Obrigada por me trazeres - disse ela antes que Enid se aproximasse para lhe dar um abraço.Depois das despedidas, Saskia entrou no carro de Alex e fechou os olhos.- Finalmente tudo terminou - declarou ela com um suspiro.Estava exausta e parecia ter perdido peso. Uma vez de volta a casa, apesar dos protestos dela, Alex levara-a ao colo até ao seu apartamento.- Queres que te encha a banheira? - perguntou ele.Saskia abanou a cabeça.- Não, o que quero é deitar-me - murmurou ela, com a cabeça apoiada no ombro de Alex.Ele levou-a para o quarto, abriu-lhe a cama e deitou-a com cuidado. Descalçou-lhe os sapatos e despiu-lhe o fato e ficou atónito ao ver o peso que Saskia perdera.

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145Saskia subiu o edredão até ao queixo, a tremer.- Tenho frio.Alex não podia deixá-la assim. Descalçou os sapatos e despiu o fato e meteu-se na cama com ela. Alex abraçou-a para lhe dar calor. Finalmente, os tremores pararam.Beijou-lhe a testa e sentiu o cheiro do seu cabelo.- Amo-te - disse ele. - Ágape mou.

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146Saskia acordou, sentindo-se muito melhor. Devia ter dormido horas e horas, acompanhada de sonhos cheios de amor. Então recordou-se. Alex. Virou-se na cama, mas estava sozinha. No dia anterior, Alex fora muito carinhoso com ela e muito compreensivo. Fora-se embora? Agora que já se tinha desculpado, por que motivo ia querer continuar a estar com ela?A porta do quarto abriu-se.- Ena, chego bem a tempo - Alex sorriu da porta com uma bandeja nas mãos cheia de pratos e chávenas. - Tens fome?- Estou a morrer de fome - disse ela, surpreendida de que fosse verdade. Há vários dias que não tinha apetite.- Vai lavar-te, enquanto eu vou buscar o café disse ele.Saskia saltou da cama e, agarrando no robe, foi apressadamente para a casa de banho. Ficou horrorizada ao ver-se ao espelho. Tinha o cabelo todo revolto e a maquilhagem borrada. Lavou a cara rapidamente e penteou-se.

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147- Vamos, vem outra vez para a cama - ordenou Alex quando ela voltou para o quarto.Saskia não protestou, desejava deitar a mão aos ovos, ao bacon com tomate, às torradas, à manteiga e à marmelada.Alex serviu-lhe um prato e deu-lho.- Meu Deus, isto é maravilhoso - disse Saskia, apoiando as costas na cabeceira.- Chega?- Com isto e depois a sobremesa será suficiente disse ela, dando uma palmada na barriga. - Obrigada, Alex. E não só pelo pequeno-almoço, como também pela ajuda que me deste ontem.Alex serviu o café.- Para mim também foi importante. Já era hora de superar o ódio que sentia há tanto tempo. Estava enganado em tudo. Além disso, como podia continuar a odiar o teu pai com a filha tão maravilhosa que fez?Saskia sorriu. Umas lágrimas afloraram aos seus olhos.- Meu Deus, achava que já não me restavam lágrimas.Alex deu uma gargalhada suave. Depois, aproximou-se dela e estendeu-lhe um lenço para que limpasse as lágrimas.- Porque é que ainda estás na minha casa? Alex, que se tinha sentado na cama, encostou as costas à cabeceira.- Queria perguntar-te uma coisa. Queria perguntar-te se poderás perdoar-me pelo mal que te fiz.- Já me pediste desculpas ontem.- Não chega - disse ele. - Quero saber se me perdoas porque é a única maneira de deixar o passado

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148para trás. Porque, se me perdoasses, podíamos contemplar o futuro juntos. Quer dizer, se tu quiserester um futuro comigo. Amo-te, Saskia. Sei que não te mereço, mas não quero viver sem ti.- Amas-me? - Saskia pestanejou, recordando aquelas palavras como parte de um sonho, um sonho feliz. Mas aquilo era muito melhor do que um sonho. Aquilo era a realidade.Alex sorriu.- Amo-te, embora me tenha custado a reconhecer. Quero passar o resto da vida a amar-te, se é que me aceitas.- Amar-me - repetiu ela, saboreando aquelas palavras.Alex desatou a rir-se.- Quer isso dizer que me aceitas?- Tens ideia de há quanto tempo espero que me digas isso? - replicou ela. - Oh, Alex, eu sempre te amei. Nunca deixei de te amar. Claro que te amo, claro que te aceito.- Saskia - disse ele, abraçando-a. - Não consegues imaginar o que sinto neste momento. Não imaginas o quanto te amo.

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EpílogoEstava no paraíso. A vida não podia ser melhor. Saskia estava à janela da sua casa à beira do Lago lato, observando Alex com a sua filha de um mês nos braços.A sua filha..A filha que tinham concebido juntos, a filha fruto do seu amor.Saskia agarrou em duas das saladas que a governanta preparara e saiu para o pátio. Depois pousou os pratos em cima da mesa e viu o rosto de Alex iluminar-se ao vê-la aparecer.-A que horas vêm os convidados?- Estão a chegar. Espero que tenhas posto o champanhe no gelo. Maria disse-me que tem uma notícia para nos dar. Alex levantou o rosto, ainda com a pequena Sophie nos seus braços, enquanto Saskia se sentava ao seu lado.- Estás a pensar no mesmo que eu.Saskia assentiu...- Sim. É Jake. Passaram muito tempo juntos e

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150Jake é bom para ela. É um homem leal e Maria precisa de estabilidade, sobretudo, agora que vai fazer uma tournée para promover o seu livro. É evidente que gostavam um do outro desde há muito tempo, apesar de ela dizer o contrário. Fico contente por, finalmente, o terem reconhecido.- Maria está muito mudada - disse Alex, observando os olhos escuros da sua filha. - Tem muito maisconfiança em si própria. É incrível o sucesso que o livro teve.- Acho que Maria se encontrou a si mesma. Descobriu a sua vocação.- E deve isso a ti. Saskia abanou a cabeça.- Não, deve-o a si mesma. Foi ela quem tomou as rédeas da sua vida. A única coisa que nós fizemos foi apoiá-la. E tu, finalmente, deixaste de estar em cima dela.Alex olhou para ela com respeito e amor.- Nunca deixarás de me surpreender. É possível que até me tenha apaixonado por ti, senhora Koutoufides.- E é possível que eu também esteja apaixonada por ti, senhor Koutoufides.Alex inclinou-se para ela e beijou-a.Bom, diz-me, já decidiste o que vais fazer? Vais considerar a oferta de Maria? Saskia assentiu.- Vou dizer-lhe hoje. Sim, vou aceitar tratar de tudo o que tiver a ver com as suas relações com a imprensa, será divertido. E também escreverei os meus próprios artigos em casa. É o trabalho perfeito.- Não sentes falta da AlphaBiz! - perguntou Alex.

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151Saskia sorriu e acariciou os caracóis da sua filha.- Que tolice é essa? Claro que não. Eu não gostava do rumo que a revista estava a tomar, cada vez mais interessados nos famosos. Além disso - disse ela, a sorrir, - porque é que ia andar por aí a tentar entrevistar homens de negócios velhos e enferrujados, tendo-te a ti em casa?Alex suspirou.- Homens de negócios velhos e enferrujados, eh?- Melhorando o presente, é claro. Alex puxou-a para voltar a beijá-la.- Depois vou mostrar-te como estou velho e enferrujado.- Estou a avisar-te, sou difícil de convencer - respondeu Saskia, o seu corpo começava a excitar-se com a promessa.Alex inclinou-se mais sobre ela e beijaram-se outra vez, mas um grito da sua filha afastou-os. Ele voltou a atenção para a menina e beijou-lhe a testa.- Desculpa, querida, tinha-me esquecido de ti por um momento.A menina deixou de protestar e, com os olhos fixos nos do seu pai, sorriu.- Sorriu para mim! - gritou Alex, olhando para Saskia. - Viste? Sorriu para mim! Achava que só sorriam, pelo menos, aos seis meses- Naturalmente que sorriu para ti - disse Saskia, acariciando a cabeça da sua menina. - Não consegue resistir aos teus encantos, tal como eu.Alex olhou para ela com adoração.- É isso que gosto que aconteça com as mulheres- disse Alex, olhando para Saskia fixamente. Amo-te, Saskia. Amo-te pela tua ternura e pela tua

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152beleza, amo-te por me teres dado esta menina. Mas, sobretudo, amo-te por me teres perdoado e peloteu amor. Fizeste-me o homem mais feliz do mundo.Saskia abraçou o seu marido, o seu amor, enquanto sentia o cheiro da sua filha.Sim, estava no paraíso.

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Nova IorqueNova Iorque, The Big Apple ou a Capital do Mundo são apenas alguns dos muitos nomes pelos quais é conhecida a cidade mais cosmopolita do mundo, à qual ninguém é capaz de ficar indiferente.Reza a História que um pequeno grupo de holandeses comprou a Ilha de Manhattan aos índios por vinte e seis dólares. No entanto, tudo começou em1524, quando Giovanni Daverrazzano, um florentino ao serviço de França, descobriu a baíadesta cidade, exactamente trinta e dois anos depois da chegada de Cristóvão Colombo à América. Este descobridor foi bem recebido pelos manhattans, uma tribo de índios que o ajudou a desembarcar. Apesar do relatório desta descoberta ao rei Francisco de França, passaria um século até que qualquer colonizador fosse viver para o estuário.Em 1609, um inglês chamado Harry Hudson, encarregado de encontrar uma rota para a índia pelo Oeste, entrou no estuário e subiu o rio que viria a receber o seu nome. Regressou à Holanda carregado de

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154peles, frutas e tabacos, incrementando, assim, o desenvolvimento do comércio nesta zona. Nesta época, foi atribuído o nome de Nova Amesterdão a este local.A 8 de Setembro de 1644, os holandeses renderam-se aos ingleses e o rei Carlos II entregou a colónia ao seu irmão, Duque de York, e Nova Amesterdão foi rebaptizada com o nome de Nova Iorque.A cidade de Nova Iorque é composta por cinco distritos, quatro deles situados em ilhas; Brooklyn e Queens formam o extremo sul de Long Island, que se estende por cento e noventa quilómetros em direcção a nordeste até às praias de veraneio que rodeiam Easthampton.A pequena povoação de Staten Island está situada entre Brooklyn e Nova Jérsia e comunica com Brooklyn através da ponte Verrazanobridge.O Bronx, a norte de Harlem, é o único distrito situado no continente. Aqui está localizado o Yankee Stadium e o grande jardim zoológico da cidade.Nestes quatro distritos moram seis milhões de nova-iorquinos. Contudo, quando o turista fala de Nova Iorque, refere-se ao quinto distrito, à ilha que reina sobre a metrópole: Manhattan, com vinte edois quilómetros de extensão.Nova Iorque é uma cidade que possui uma vida cultural intensa, onde se ditam modas e se lançam as sementes do que fará furor no futuro. O Lincoln Center, ao lado do Central Park, é um claro exemplo de uma agitação cultural que espanta e confunde pela sua versatilidade: bailado, ópera, concertos de jazz e

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155orquestras sinfónicas podem invadir os sentidos de todos, sem snobismos nem complexos, em calças de ganga ou em smoking. Na Broadway, ”a rua mais longa do mundo”, as comédias musicais,num ambiente mais pop, dão mais cor e um toque diferente à noite.No entanto, a primeira imagem que nos vem à mente quando ouvimos falar de Nova Iorque é, com certeza, um aglomerado de arranha-céus, a Estátua da Liberdade e uma enorme mistura de raças e credos. Esta diversidade está bem patente e é uma das principais características desta metrópole: umem cada quatro habitantes é negro e um em cada cinco é de origem hispânica.Locais a não perderMidtown: Nesta zona podemos encontrar o Rockefeller Center, composto por catorze edifícios originais que ocupam cinco hectares entre a Quinta Avenida - Sth Avenue -, a Avenida das Américas e a 6th Avenue. Construído entre 1931 e 1940, o Rcckefeller Center alberga diariamente milhares devisitantes e atrai compradores.A entrada pela Quinta Avenida faz-se pela Channel Gardens, uma rua pedonal, repleta de fontes e arbustos com flores. Entre os vários edifícios do complexo, destaca-se o RCA Building onde, no piso sessenta e cinco, está situado o mágico bar-restaurante Rainbow Room, de estilo art deco, ondepoderá desfrutar de uma maravilhosa vista sobre a cidade.

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156O Radio City Music Hall, na Avenida das Américas, é o maior cinema do mundo, com capacidade para seis mil pessoas. Aqui são batidos vários recordes: as maiores lâmpadas, o maior órgão eléctrico do mundo e um palco giratório com três níveis.A Quinta Avenida é sinónimo de luxo não só nos Estados Unidos, como em todo o mundo. Foi aqui que, desde os finais do século XIX, as famílias dos novos-ricos construíram as suas mansões. Depois da Primeira Guerra Mundial, a parte que dava para o Central Park transformou-se num localda moda. As lojas de marcas e os grandes armazéns mudaram-se para Midtown.O edifício das Nações Unidas: A pretensão de Nova Iorque de ser a capital do mundo é justificada pela imponente presença da sede das Nações Unidas.O Empire State Building: Fica no número trezentos e cinquenta da Quinta Avenida e é o arranha-céus mais famoso de Nova Iorque. Ficou famoso no cinema pelos filmes King Kong, Sleepless in Seattle, entre outros.South Street Seaport: Este bairro restaurado é muito visitado por famílias, pois permite visitas ao interior de barcos antigos e possui uma enorme variedade de lojas e excelentes lestaurantes. Além disso os pubs estão abertos até de madrugada.Ellis Island e a Estátua da Liberdade: Símbolo mundial da liberdade, a dama de Nova Iorque atrai milhares de admiradores.Ser turista em Nova Iorque é, no fundo, confrontar-se com a imensidão da escolha e da oferta. Quando

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157visitar Nova Iorque, aproveite ao máximo e não deixe de conhecer a zona de Wall Street, South Street Seaport, e os bairros típicos como Lower East Side, Chinatow, Little Italy e Greenwich Village, para, ao regressar, poder dizer uma vez mais I Love New York.