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INOVAÇÃO E ENGENHARIA DE PRODUÇÃO: UMA VISÃO
GERAL DA CONSTRUÇÃO DE PROTÓTIPOS INDUSTRIAIS
E DOIS CASOS PRÁTICOS EM UMA FÁBRICA DE
ALIMENTOS
João Gabriel Gomes Carvalho
Projeto de Graduação apresentado ao Curso de
Engenharia de Produção da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de
Engenheiro de Produção.
Orientador: Renato Flórido Cameira, D.Sc.
Rio de Janeiro
Agosto de 2017
ii
iii
Carvalho, João Gabriel Gomes
Inovação e Engenharia de Produção: uma visão geral da construção de
protótipos industrias e dois casos práticos em uma fábrica de alimentos
/ João Gabriel Gomes Carvalho – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola
Politécnica, 2017.
xii, 77 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Renato Flórido Cameira
Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de Engenharia de
Produção, 2017.
Referências Bibliográficas: p. 68-70
1. Prototipagem industrial. 2. Desenvolvimento de novos produtos.
3. Inovação. 4. Prototipagem virtual. 5. Prototipagem rápida.
6. Prototipagem mista.
I. Cameira, Renato Flórido II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
UFRJ, Curso de Engenharia de Produção. III. Inovação e Engenharia
de Produção: uma visão geral da construção de protótipos industrias e
dois casos práticos em uma fábrica de alimentos.
iv
Dedico este trabalho, em primeiro lugar, a Deus, por
ter permitido que eu estudasse em instituições de
grande relevância para a Engenharia e que eu
vivenciasse experiências pessoais e profissionais
incríveis ao longo desses seis anos de formação.
Em segundo lugar, presto homenagens aos meus pais,
Albertina e Ricardo, por todo o suporte fornecido ao
longo dessa trajetória para que este sonho se
tornasse realidade. Vocês são minhas maiores
referências de força, perseverança, amizade e amor!
Por fim, dedico este trabalho aos meus demais
familiares por estarem sempre por perto em todos os
momentos, aliviando os esforços para superar os
desafios.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todo o Corpo Docente do curso de Engenharia de Produção da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, ao Corpo Docente da Ecole Centrale de Lyon (França) do Programa
de Duplo Diploma de Engenharia Generalista, aos meus coordenadores de monitoria e de
empresa júnior, ao meu orientador de projeto de extensão, saudoso Luiz Meirelles, ao meu
orientador de artigo científico e de projeto de graduação, Renato Cameira, aos meus gestores
dos estágios que realizei, Marc Rocher, Daniel Ruppert, Roberta Piazzon e José Eduardo Vieira,
por terem contribuído de forma determinante para que eu me tornasse um profissional de
Engenharia de Produção.
Registro também um grande agradecimento especial aos professores Vinícius Cardoso,
Lino Marujo, Eduardo Jardim e Maria Alice Ferruccio, por toda a contribuição para que este
texto pudesse ter sido construído.
Agradeço igualmente a todo o corpo de profissionais da empresa que se tornou caso
deste estudo, por todos os dados fornecidos e todas as entrevistas concedidas, que foram de
grande valia para esta obra.
Por fim, deixo explícita a minha gratidão aos meus amigos, colegas de faculdade e
engenheiros, com quem tive o prazer de levar discussões relevantes para a elaboração deste
trabalho de fim de curso.
vi
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.
INOVAÇÃO E ENGENHARIA DE PRODUÇÃO: UMA VISÃO GERAL DA
CONSTRUÇÃO DE PROTÓTIPOS INDUSTRIAIS E DOIS CASOS PRÁTICOS EM UMA
FÁBRICA DE ALIMENTOS
João Gabriel Gomes Carvalho
Agosto/2017
Orientador: Renato Flórido Cameira
Curso: Engenharia de Produção
O desenvolvimento de novos produtos e processos é um ponto focal de competição no mundo
global e dinâmico e gerir de modo excepcional o processo de inovação tornou-se estratégico
para as organizações. A construção de protótipos é considerada de grande relevância para o
processo de desenvolvimento de um novo produto ou sistema, trazendo maior eficiência e maior
velocidade de lançamento de novos produtos/sistemas às organizações. Por isso, em primeiro
lugar, este trabalho levantou as boas práticas ferramentais existentes de desenvolvimento de
protótipos para aplicações industriais, procurando esclarecer as vantagens e desvantagens entre
as técnicas existentes. Em segundo lugar, considerando esse mapeamento de boas práticas e
tendo como unidade de análise uma fábrica de alimentos, foram recomendadas as melhores
soluções de protótipos possíveis para dois problemas reais, sendo possível verificar a geração
de valor que a construção de protótipos propiciou nos dois casos, com uma economia total de
investimentos de ordem de grandeza significativa para a empresa estudada.
Palavras-chave: inovação; desenvolvimento de novos produtos; prototipagem industrial;
prototipagem virtual; prototipagem rápida; prototipagem mista
vii
Abstract of Undergraduate Project presented to Escola Politécnica/UFRJ as a partial fulfillment
of the requirements for the degree of Industrial Engineer.
INNOVATION AND INDUSTRIAL ENGINEERING: AN OVERVIEW OF THE
BUILDING OF INDUSTRIAL PROTOTYPES AND TWO PRACTICAL CASES IN A
FOOD FACTORY
João Gabriel Gomes Carvalho
August/2017
Advisor: Renato Flórido Cameira
Course: Industrial Engineering
The development of new products and processes is a focal point of competition in the global
and dynamic world and managing in an exceptional way the process of innovation has become
very strategic for organizations. The building of prototypes is very relevant to the process of
developing a new product or system, bringing greater efficiency and speed of launching new
products / systems to the organizations. Therefore, firstly, this project has described the existing
good practices in terms of building prototypes for industrial applications, seeking to clarify the
advantages and disadvantages of existing techniques. Secondly, considering these good
practices as well as having a food factory as a unit of analysis, the best viable solutions of
prototypes were recommended for two real problem situations, verifying the value creation
provided in both cases by the building of prototypes, with a total saving of investments of
significant magnitude for the company studied.
Keywords: innovation; new product development; industrial prototyping; virtual prototyping;
rapid prototyping; mixed prototyping
viii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................. 1
1.2 OBJETO DE ESTUDO ..................................................................................................... 5
2 METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................... 7
3 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................... 10
3.1 APRESENTAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE PROTOTIPAGEM .......................... 10
3.1.1 Integração CAD/CAM......................................................................................... 13
3.1.2 Manufatura por subtração convencional .......................................................... 14
3.1.3 Prototipagem rápida a partir de usinagem CNC.............................................. 16
3.1.4 Estereolitografia ................................................................................................... 17
3.1.5 Sinterização seletiva a laser ................................................................................ 18
3.1.6 Inibição seletiva de sinterização ......................................................................... 19
3.1.7 Modelagem por deposição de material fundido ................................................ 21
3.1.8 Manufatura laminar de objetos .......................................................................... 22
3.1.9 Cura em solo sólido .............................................................................................. 23
3.1.10 Contour Crafting................................................................................................... 24
3.1.11 Direct Shell Production Casting........................................................................... 25
3.1.12 Impressão a jato de tinta ..................................................................................... 26
3.1.13 Laser Engineered Net Shaping (LENS) .............................................................. 27
3.1.14 Impressão 3D ........................................................................................................ 28
3.1.15 Realidade virtual e aumentada ........................................................................... 29
3.2 SÍNTESE ACERCA DAS TÉCNICAS DE PROTOTIPAGEM .................................... 32
4 APLICAÇÃO DO PROCESSO DE INOVAÇÃO EM DOIS CASOS REAIS ............ 36
4.1 CASO 1: A TAXA DE QUEBRA DE SALGADINHOS .............................................. 40
4.1.1 Aquisição de conhecimento ................................................................................. 49
4.1.2 Pesquisa de conceito ............................................................................................ 50
ix
4.1.3 Projeto básico ....................................................................................................... 51
4.1.4 Construção do protótipo ..................................................................................... 55
4.2 CASO 2: ADEQUAÇÃO DO TAMANHO DOS SALGADINHOS ............................. 59
4.2.1 Da aquisição de conhecimento ao projeto básico .............................................. 63
4.2.2 Construção de protótipo...................................................................................... 63
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................... 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 68
APÊNDICES ........................................................................................................................... 71
APÊNDICE A – RESULTADO DO DISPOSITIVO ALEATÓRIO UTILIZADO PARA FINS
DE AMOSTRAGEM CASUAL SIMPLES ............................................................................. 71
APÊNDICE B – DADOS AMOSTRAIS PARA O PRIMEIRO CASO DE APLICAÇÃO ... 72
APÊNDICE C – PÁ METÁLICA UTILIZADA PARA AMOSTRAGEM DE PRODUTOS 73
APÊNDICE D – NOVO RESULTADO DO DISPOSITIVO ALEATÓRIO UTILIZADO
PARA FINS DE AMOSTRAGEM CASUAL SIMPLES (TESTES DO SISTEMA DE
TOBOGÃS E DO SISTEMA DE CHICANE)......................................................................... 74
APÊNDICE E – DADOS AMOSTRAIS APÓS OS TESTES DE TOBOGÃS E DO SISTEMA
DE CHICANE .......................................................................................................................... 75
APÊNDICE F – VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DOS DADOS AMOSTRAIS DOS TESTES
DE TOBOGÃS E DO SISTEMA DE CHICANE.................................................................... 76
x
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – A realidade de muitos projetos de desenvolvimento de inovação: atraso ocorrido nas
tarefas do projeto ........................................................................................................................ 2
Figura 2 – Processo de desenvolvimento de um novo produto/sistema de aplicações industriais
nas organizações ......................................................................................................................... 3
Figura 3 – O ciclo projeto-construção-teste na resolução de problemas do desenvolvimento de
produtos ...................................................................................................................................... 5
Figura 4 – Processo de mapeamento sistemático ....................................................................... 8
Figura 5 – Técnicas de prototipagem industrial ....................................................................... 10
Figura 6 – O processo genérico de prototipagem rápida .......................................................... 12
Figura 7 – Modelo típico de implantação CIM ........................................................................ 14
Figura 8 – Estruturas CN vs. Estruturas distribuídas de controle numérico computadorizado 15
Figura 9 – Exemplo de prototipagem rápida CNC ................................................................... 17
Figura 10 – Esquema da técnica de estereolitografia ............................................................... 18
Figura 11 – Esquema do processo de sinterização seletiva a laser ........................................... 19
Figura 12 – Estágios do processo de inibição seletiva de sinterização .................................... 20
Figura 13 – Exemplo de aplicação de deposição de material fundido. .................................... 21
Figura 14 – Esquema ilustrativa da técnica de manufatura laminar de objetos. ...................... 23
Figura 15 – A técnica de cura em solo sólido........................................................................... 24
Figura 16 – Aplicação da técnica de Contour Crafting ............................................................ 25
Figura 17 – A técnica DSPC..................................................................................................... 26
Figura 18 – A técnica de impressão a jato de tinta ................................................................... 27
Figura 19 – Ilustração da técnica LENS ................................................................................... 28
Figura 20 – A lógica da impressão 3D ..................................................................................... 29
Figura 21 – Realidade virtual (esquerda) vs. Realidade aumentada (direita). .......................... 31
Figura 22 – A estrutura de simulação hápticas. ........................................................................ 31
Figura 23 – Modelo para aquisição, desenvolvimento e consolidação do conhecimento numa
organização por meio do método.............................................................................................. 37
Figura 24 – O modelo do diagrama de causa-e-efeito .............................................................. 40
Figura 25 – Exemplos de aperitivos quebrados ........................................................................ 41
Figura 26 – Resultado encontrado a partir do Minitab® para o teste de outliers ..................... 42
Figura 27 – Resultado para o teste de correlação entre as observações da amostra ................. 42
Figura 28 – Resultado da distribuição encontrada no software ARENA® .............................. 43
xi
Figura 29 – Fluxograma da linha de fabricação de sachês de salgadinhos aperitivos.............. 44
Figura 30 – Diagrama de causa-e-efeito consolidado a partir de sessões de brainstorming .... 45
Figura 31 – Análise comparativa de evolução da taxa média de quebra de biscoitos. ............. 45
Figura 32 – "5 Porquês" da categoria Máquina ........................................................................ 46
Figura 33 – Pequenas quedas sofridas pelos salgadinhos ao longo do resfriamento. .............. 46
Figura 34 – Ações tomadas para reduzir a taxa de quebra de biscoitos ................................... 48
Figura 35 – Ensacadora vertical vs. Ensacadora inclinada ....................................................... 52
Figura 36 – Configuração do sistema de chicane acoplado no conformador da ensacadora ... 54
Figura 37 – Análise estática do protótipo virtual de uma placa chicane com aço 304. ............ 55
Figura 38 – Análise estática de deslocamento do sistema chicane em PET............................. 56
Figura 39 – Análise estática de tensões do sistema chicane em PET ....................................... 57
Figura 40 – Fluxograma da linha de produção de tubos de 300g de biscoitos aperitivos. ....... 60
Figura 41 – Configuração média do tubo com 300g de produto no cenário anterior (esquerda) e
no cenário com o novo maquinário .......................................................................................... 61
Figura 42 – Diagrama de causa-e-efeito para o segundo caso ................................................. 61
Figura 43 – Estado inicial dos biscoitos aperitivos usando o CATIA® ................................... 64
Figura 44 – Estado final com volume final 1,5x maior usando o CATIA® ............................ 64
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Planilha de controle do processo de mapeamento sistemático da literatura ............. 8
Tabela 2 – Análise multicritério para as técnicas de prototipagem .......................................... 35
Tabela 3 – Hierarquia pela análise funcional emparelhada ...................................................... 38
Tabela 4 – Ferramenta QFD ..................................................................................................... 39
Tabela 5 – Análise funcional emparelhada para o primeiro caso ............................................. 49
Tabela 6 – Ferramenta QFD aplicada para o primeiro caso ..................................................... 51
Tabela 7 – Análise comparativa da dureza de diferentes polímeros ........................................ 56
Tabela 8 – Estudo de alternativas concorrentes para o Caso 1 ................................................. 58
Tabela 9 – Estudo de alternativas concorrentes para o Caso 2 ................................................. 65
1
1 INTRODUÇÃO
A inovação está presente na sociedade desde a criação de um novo conceito de produto
com proposta de valor original para atender a uma demanda até então não percebida em um
determinado segmento de mercado, passando pela transformação de um determinado conceito
em um produto ou em um processo factível e economicamente viável, até a incorporação de
novas ferramentas de tecnologias digitais e da internet nos negócios de uma empresa e de seus
concorrentes. Segundo Burgelman et al. (2012), as inovações são resultados de atividades
combinadas que levam a produtos novos e comercializáveis ou a novos sistemas de produção e
distribuição. Elas são classificadas em três tipos: as incrementais, que implicam em adaptação,
refinação e aprimoramento dos produtos e serviços existentes, assim como dos sistemas de
produção e distribuição; as radicais, que incluem novas categorias de produtos e serviços e/ou
de sistemas de produção e distribuição e, por fim, as de arquitetura, que se referem a
reconfigurações do sistema de componentes que constituem o produto, serviço ou sistema
produtivo/logístico.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Gerir de modo excepcional o processo de inovação tornou-se estratégico para as
organizações. De fato, Wheelwright et al. (1992) argumentam que o desenvolvimento de novos
produtos e processos é um ponto focal de competição em um mundo global e dinâmico. As
firmas que lançam no mercado, com maior eficiência e rapidez, produtos que correspondem às
necessidades do público-alvo criam vantagem competitiva significativa e sustentável, desde
que administrem o risco de imitação. Ghemawat (2012) ilustra uma variedade de barreiras a
essa prática, sob a lógica da visão baseada em recursos: patentes; uso de informações tácitas e
privadas em detrimento de conhecimento explícito; criação de custos de mudança caros, com a
assinatura de contratos milionários com clientes, fornecedores e/ou complementadores;
economias de escala; ameaças de retaliação nos outros negócios dos concorrentes e o fato de
que as imitações geralmente levam tempo para serem implantadas.
Contudo, os próprios autores Wheelwright et al. (1992) abordam que, na maioria das
vezes, a realidade que circunda muitos projetos de inovação, embora comece com grandes
expectativas por parte de todos os interessados, ao final, fica muito aquém dos objetivos
originalmente concebidos, conforme mostra a Figura 1.
2
Figura 1 – A realidade de muitos projetos de desenvolvimento de inovação: atraso ocorrido nas tarefas do projeto.
Fonte: Wheelwright et al. (1992), p. 11
3
No caso industrial, mesmo diante disso, é possível que uma organização alcance
capacitações de desenvolvimento robustas e previsíveis que levarão ao atingimento das metas
de mercado almejadas, das metas da própria empresa e daquelas dos indivíduos envolvidos,
evitando atrasos na chegada dos produtos no mercado. Fazer isso requer uma série habilidades,
ferramentas e conceitos que, em muitos casos, diferem significativamente das inclinações
naturais comuns nas empresas (BURGELMAN et al., 2012).
No cerne dessa necessidade de mudança está a gestão do processo inovativo nas
organizações, resumido na Figura 2, desde a aquisição de conhecimento e pesquisa do conceito,
de coleta das necessidades de futuros clientes, potenciais oportunidades e criação das
especificações-alvo do novo produto/sistema, passando pelo projeto básico, onde são estudadas
alternativas de design de acordo com as funcionalidades requeridas, construção do protótipo,
tendo assim a primeira ou as duas primeiras unidades de um novo produto ou sistema,
elaborando uma análise de custos final e testando as respectivas especificações estabelecidas,
até a produção-piloto, verificando a produtibilidade do produto e eliminando quaisquer defeitos
no projeto final antes da empresa passar para a produção em larga escala. A vantagem
competitiva resulta, em grande parte, da maneira como o trabalho é feito durante o processo de
desenvolvimento.
Figura 2 – Processo de desenvolvimento de um novo produto/sistema de aplicações
industriais nas organizações. Fonte: O autor
São muitos os esforços de gestão necessários para garantir a vantagem estratégica
organizacional no contexto do processo de inovação: ter clareza dos objetivos; planejar os
lançamentos; sanar descompassos entre as funções de Marketing, Engenharia (ou P&D) e
Produção; resolver trade-offs entre custos e benefícios de correções de erros de projeto;
controlar a mutabilidade que pode ser sofrida pelo novo produto/sistema, com futuras
circunstâncias de mercado e tecnologias no médio-longo prazo, entre outros. Neste trabalho,
temos como assunto central a etapa de construção do protótipo, considerada de significativa
relevância para o processo de desenvolvimento de um novo produto ou sistema não só de um
ponto de vista subjetivo, mas também objetivo.
De um modo subjetivo, a importância dos protótipos na indústria está na fase de testes,
onde as características e funções que um produto deve possuir são devidamente verificadas (DA
4
SILVA et al., 2015). Não é incomum que testes de usuários revelem erros de concepção de
modelos (BORDEGONI, 2011). Burgelman et al. (2012) ratificam que a experiência dos
clientes revela diversas lacunas entre o protótipo e as exigências inicialmente estabelecidas. A
maneira como a equipe de desenvolvimento toma atitudes para preencher tais lacunas – a forma
de enquadrar e definir os problemas, gerar alternativas e realizar soluções de protótipos –
determina a velocidade e a eficiência da resolução dos problemas e consequentemente do
lançamento das inovações. Bordegoni (2011) ainda evidencia que corrigir falhas na fase de
prototipagem é significativamente mais barato do que alterar alguma especificação do produto
na fase de produção em larga escala.
Kamrani et al. (2010) argumentam que a fase de construção de protótipos é aquela em
que as decisões críticas acerca da inovação são tomadas, isto é, decisões que afetam diretamente
a forma final e o custo do produto ou sistema. Essa fase se refere a atividades que envolvem
decisões sobre a arquitetura, os materiais, a engenharia dos vários componentes que garantem
o funcionamento da inovação, entre outras. Em linhas gerais, pode-se afirmar que a construção
do protótipo se refere coletivamente a todo o processo de desenvolvimento da inovação,
concretizando as ideias de identificação de oportunidades de mercado na criação do
produto/sistema, nos testes, modificações e refinamentos necessários até que ela esteja pronta
para a produção-piloto. Os autores ainda abordam que a qualidade do design final do
produto/sistema é o fator mais importante na determinação do sucesso comercial da inovação.
Se o design final (ou protótipo) é ruim, não importa quão desenvolvido seja o sistema de
produção, o novo item está praticamente condenado a contribuir muito pouco para o bem-estar
e geração de riqueza da firma que o produz. Por fim, protótipos são também conhecidos por
facilitar a comunicação no processo de desenvolvimento de um novo produto. Eles enriquecem
tanto a comunicação através de uma organização com todos os stakeholders (gerência de topo,
vendedores, parceiros, consumidores e investidores), como as discussões no processo de design
entre todo o time de desenvolvimento (ELVERUM et al., 2015).
Objetivamente, Chartejee et al. (2005) corroborados por Kamrani et al. (2010) afirmam
que mais de 70% dos custos de todo o ciclo de vida de um produto são diretamente associados
a decisões tomadas na fase de elaboração do projeto, que se encerra com a construção do
protótipo. Dessa forma, fica perceptível que quanto maior a efetividade da técnica de construção
de modelos utilizada no processo inovativo, maior será a vantagem competitiva da organização,
uma vez que menos iterações no ciclo de projeto-construção-teste (Figura 3) ocorrerão. Nesse
ciclo, na fase de projeto, o time de desenvolvimento enquadra o problema e estabelece metas
5
para o processo de resolução; na fase de construção são desenvolvidos os protótipos das
alternativas de projeto para que na fase de testes sejam experimentados, desde uma perspectiva
global de funcionamento até com foco em uma dimensão particular de interesse.
Figura 3 – O ciclo projeto-construção-teste na resolução de problemas do desenvolvimento de
produtos. Fonte: Burgelman et al. (2012), p. 571
Uma vez descrito o contexto de inovação, elucidamos o objeto de estudo do presente
projeto de graduação, com seus respectivos tema, objetivos e unidade de análise.
1.2 OBJETO DE ESTUDO
A partir do exposto, a prototipagem industrial, isto é, a realização de protótipos nas
indústrias de um modo genérico foi adotada como a temática central deste texto. Tivemos como
objetivo geral, ilustrar a relevância da prototipagem para o processo de desenvolvimento de
inovação em uma organização industrial real, através de projetos de Engenharia de própria
autoria para solucionar problemas concretos. Mesmo que a literatura já remarque a importância
dos protótipos, notamos carência de comprovações práticas que corroborem a importância dos
protótipos nessa agregação de valor para as organizações. Nesse sentido, desenvolvemos
soluções desde a etapa de levantamento de requisitos de clientes até a construção de protótipos
para satisfazer a principal missão da Engenharia: resolver problemas reais em uma empresa.
Trouxemos como primeiro objetivo secundário, evidenciar, a partir da revisão
sistemática da literatura, as boas práticas ferramentais existentes acerca do desenvolvimento de
protótipos para aplicações industriais, possibilitando trazer maior eficiência e maior velocidade
de lançamento de novos produtos/sistemas às organizações. Conhecendo as boas práticas
tecnológicas (o Estado das Práticas), apresentamos, então, duas aplicações reais do processo de
inovação em uma unidade de análise específica: uma inovação de arquitetura e a outra,
6
incremental. A partir disso, tivemos como segundo objetivo secundário, desenvolver todas as
etapas do processo de inovação ilustrado na Figura 2 até a etapa de construção de protótipo,
recomendando a melhor solução de design final possível para os casos práticos apresentados.
A unidade de análise escolhida foi uma subsidiária de uma indústria multinacional de
grande porte do setor de alimentos (biscoitos aperitivos), cuja identidade foi preservada para
não comprometer o negócio. Essa condição, no entanto, não afetou o rigor das análises contidas
neste texto, bem como os resultados finais encontrados.
Após as justificativas, no capítulo 2, da metodologia de pesquisa empregada, o
levantamento do Estado das Práticas foi consolidado no capítulo 3 desta obra, juntamente com
um estudo comparativo das técnicas apresentadas, apontando suas respectivas vantagens e
desvantagens. A seguir, no capítulo 4, foram apresentados os problemas reais da unidade de
análise e os respectivos resultados encontrados, após o desenvolvimento autoral dos projetos
de Engenharia. O capítulo 5 foi reservado para a síntese final acerca dos dois protótipos
construídos, bem como para discussões de trabalhos futuros, expondo os desafios da Gestão da
Inovação nas empresas sob a ótica da Engenharia de Produção.
7
2 METODOLOGIA DE PESQUISA
No intuito de constatar a relevância da construção de protótipos nas organizações,
baseado em Thiollent (1986), a metodologia utilizada neste trabalho é a pesquisa-ação,
estruturada basicamente na proposição de soluções de problemas de uma unidade de análise
real desenvolvidas integralmente pelo próprio autor desta obra. É a partir do resultado desse
trabalho de projeto de Engenharia que efetivamente analisamos os impactos da prototipagem
no processo de desenvolvimento de novos produtos/sistemas em uma organização real.
Além disso, seguindo Lakatos et al. (2003), em paralelo a uma pesquisa de campo de
natureza quantitativa-descritiva, com desenvolvimentos matemáticos acerca das características
dos casos práticos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o objetivo de realizar um
apanhado geral sobre as principais técnicas relacionadas com o tema de prototipagem industrial.
Foram realizadas pesquisas bibliográficas no Portal de Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em bases de renome em engenharia
e tecnologia, a saber: ScienceDirect, SpringerLink e Web of Science, assim como na Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações. A heurística adotada neste texto para eliminar vieses
na consulta, de modo a construir um resultado academicamente defensável, foi a busca de
palavras-chave relevantes para o tema e número de citações, de modo a identificar as
referências-chave para a pesquisa. A partir de filtragens sucessivas por esses critérios, passou-
se à delimitação sequenciada pelo título, resumo e pela leitura inspecional dos textos com
acesso gratuito. A seguir, utilizamos a recursividade das fontes retidas para satisfazer o
princípio do esforço suficiente (PROENÇA JR. et al., 2016), ou seja, chegamos a outras obras
diretamente pertinentes ao contexto de prototipagem industrial por meio das principais
referências inicialmente estabelecidas.
O processo de mapeamento sistemático utilizado está ilustrado na Figura 4.
8
Figura 4 – Processo de mapeamento sistemático. Fonte: Proença Jr. et al. (2015), p. 236
De modo a documentar de maneira completa o controle de realização do mapeamento,
sintetizando a coleção de referências-chave adotadas para esta obra, apresentamos na Tabela 1
a planilha eletrônica utilizada para registrar os passos do worflow acadêmico.
Tabela 1 – Planilha eletrônica de controle do processo de mapeamento sistemático da
literatura
Fonte: O autor
9
A partir de três principais palavras-chave identificadas como características da temática
desenvolvida nesta obra, para cada uma das bases científicas pesquisadas, coletamos
inicialmente os 2.645 resultados de maior relevância relativa, utilizando como chave de
aceitação o número de citações dos textos na literatura científica. Eliminando 328 fontes, entre
jornais, revistas, livros, dissertações, teses e artigos pelo critério de duplicação de textos,
prosseguimos com a etapa de rejeição de referências pelos títulos, resumos e pela leitura
inspecional dos que tivemos acesso gratuito. Sempre que seja o título, seja o resumo e,
posteriormente, a leitura inspecional das fontes não demonstrasse claramente o Estado das
Práticas, contribuindo para o alcance do primeiro objetivo secundário, optamos pela eliminação
das mesmas. Sendo assim, utilizamos 23 fontes, definidas, portanto, como os pilares da
literatura científica para este projeto. O relato desses resultados-chave foi apresentado ao longo
do texto da seção seguinte, de revisão da literatura.
10
3 REVISÃO DA LITERATURA
Visando caracterizar as boas práticas ferramentais existentes que podem
consequentemente conferir vantagem competitiva às organizações inovadoras, propiciando
ganho financeiro, buscamos neste capítulo desenvolver um mapeamento sistemático da
literatura acerca da construção de protótipos, ou seja, apresentar o estado da literatura de
prototipagem industrial, identificando as referências pertinentes ao tema.
3.1 APRESENTAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE PROTOTIPAGEM
Seja com o objetivo de explorar novas oportunidades ou de refinar soluções existentes,
a prototipagem é uma atividade valiosa no processo de desenvolvimento de inovações
(ELVERUM et al., 2016). O modelo da Figura 5 sintetiza as principais técnicas de construção
de protótipos identificadas na literatura científica.
Figura 5 – Técnicas de prototipagem industrial. Fonte: O autor
Um protótipo virtual pode ser definido como um modelo computacional de um
produto/sistema real (WANG, 2002; CHATERJEE et al., 2005). Esses modelos são muito
usados para realizar as análises estáticas e dinâmicas de seus componentes e estruturas. Como
apresentado em Chua et al. (1999), para que sejam considerados como completos, os protótipos
virtuais devem possuir três elementos: um modelo tridimensional desenvolvido com auxílio de
um computador (Computer Aided Design – CAD); uma interface de interação Homem-
Protótipo e uma plataforma de testes computacionais para aperfeiçoar a engenharia do produto
11
(Computer Aided Engineering – CAE) bem como otimizar as condições sob as quais ele será
manufaturado (Computer Aided Manufacturing – CAM).
Segundo Carvalho et al. (2016), um protótipo físico pode ser obtido a partir de
tecnologias tradicionais de manufatura por subtração, exemplificadas nesta obra nas máquinas
de Comando Numérico Computadorizado (CNC) devido à sua forte consolidação na indústria,
ou por técnicas de prototipagem rápida. As máquinas CNC convencionais de três a cinco eixos
são capazes de produzir objetos sólidos em centenas de tipos de materiais, desde diversos tipos
de metais até inúmeras variações de resinas plásticas. A partir de uma linguagem de
programação automática, os comandos associados aos movimentos das ferramentas das
máquinas CNC ao longo dos eixos são controlados a partir de um conjunto de instruções
gerados automaticamente, seguindo como referência características e tolerâncias do design final
do produto/sistema a ser desenvolvido. Enfim, o processo de usinar um material bruto até a
forma desejada é inteiramente automatizado e o fato de poder reproduzir adequadamente o
material do novo produto em questão aumenta significativamente a qualidade dos testes
realizados na fase de avaliação do design detalhado dos protótipos oriundos de máquinas CNC
(BREILAND, 2013). Com base em Caulliraux et al. (1999), a linguagem de programação
automática mais conhecida é o Automatic Programming Tools (APT).
Conforme apresentado em Da Silva et al. (2015), a prototipagem rápida é um sistema
composto por um conjunto de tecnologias que usa o princípio da superposição de camadas de
finas espessuras de um determinado material, usando informações oriundas de um modelo
digital para reproduzir uma peça mecânica física. O primeiro estágio da fabricação de um
protótipo rápido é o desenvolvimento de um modelo computacional tridimensional. A seguir, o
modelo geométrico CAD é convertido em formato Stereolithography (STL), interface-padrão
entre os modelos computacionais e os sistemas de prototipagem rápida. A partir desse arquivo,
um pacote de software "fatia" o modelo do componente CAD em várias camadas de espessura
mínima, em geral, com aproximadamente 0,1 mm de espessura, as quais são dispostas uma
sobre a outra. Toda camada infinitesimal CAD é aproximada por outra superfície composta por
facetas triangulares no arquivo STL, que atribui coordenadas cartesianas aos vértices de cada
faceta triangular. Por fim, esses dados de posição espacial são usados para criar os protótipos
físicos (KAMRANI et al., 2010).
Toda essa lógica da prototipagem rápida foi esquematizada na Figura 6. É interessante
notar que os sistemas de prototipagem virtual podem também ser utilizados para a produção em
larga escala. Tal aplicação, entretanto, foge do escopo deste trabalho. Ademais, Kamrani et al.
12
(2006) apresentam um sistema de usinagem CNC para prototipagem rápida, onde a partir de
um conjunto de algoritmos e de um simples modelo CAD são processados protótipos físicos.
Dessa forma, tendo como base Macarrão Jr. (2004) e Bezerra (2015), os sistemas de
prototipagem física existentes na literatura são: sistemas convencionais de manufatura por
subtração, prototipagem rápida a partir de usinagem CNC, estereolitografia, sinterização
seletiva a laser, inibição seletiva de sinterização, modelagem por deposição de material fundido,
manufatura laminar de objetos, cura em solo sólido, Contour Crafting, Direct Shell Production
Casting (DSPC), impressão a jato de tinta, LENS e impressão 3D.
Figura 6 – O processo genérico de prototipagem rápida.
Fonte: Adaptado de Kamrani et al. (2010), p. 341
Segundo Bezerra (2015), a realidade aumentada, por sua vez, se refere à tecnologia que
projeta, em tempo real, elementos virtuais em um ambiente real, aumentando a percepção do
usuário ao acrescentar uma dimensão de informação desenvolvida no computador sobre o
mundo real. Entende-se por realidade virtual como sendo uma simulação gerada por
computador de uma imagem ou ambiente tridimensional na qual o participante tem a sensação
de presença e participação na experiência, reduzindo a distinção entre o mundo real e o digital
(CHOI et al., 2015). De acordo com Talaba et al. (2008), em um ambiente virtual, os usuários
interagem com o meio e realizam suas ações através de alguns dispositivos específicos, como
13
óculos/visores de alta definição (Head Mounted Display – HMD), luvas de dados (datagloves)
e sensores neurais e biológicos que capturam a direção dos olhos, os gestos com as mãos e
sinais da resistência da pele, da taxa de batimento cardíaco, pressão arterial, atividade muscular
e sinais cerebrais, explorando os sentidos dos seres humanos com uma resolução igual ou
superior àquelas alcançadas de modo natural.
Tendo discutido os conceitos das diversas técnicas de prototipagem para facilitar o
entendimento do leitor, esclarecemos a seguir as funcionalidades de cada uma delas.
3.1.1 Integração CAD/CAM
O design assistido por computador é definido como qualquer atividade de desenvolvimento
que envolve o uso efetivo do computador para criar, modificar, analisar, otimizar e documentar um
design de engenharia. No que se refere ao desenvolvimento de um modelo digital tridimensional,
CATIA®, SOLIDWORKS®, Pro/ENGINEER®, Inventor®, I-deas® e Blender® são algumas das
principais ferramentas CAD disponíveis comercialmente para modelar computacionalmente
qualquer objeto. Quanto à interface Homem-Protótipo, um modelo virtual pode ser experimentado
em apenas um sentido dos seres humanos, o da visão. Entretanto, com a visualização oferecida
pelos softwares CAD, é possível observar o modelo computacional sob qualquer orientação espacial
e sob diversas condições de iluminação possíveis devido às inúmeras combinações de sombras e
cores disponíveis (WANG, 2002).
O desenvolvimento da manufatura virtual, isto é, o uso de sistemas computacionais para
simular os processos de fabricação dos produtos e da tecnologia de análise não-linear por elementos
finitos permitem que as organizações simulem a fabricação e analisem o comportamento estático e
dinâmico de seus novos produtos, de uma maneira cada vez mais realista, otimizando, por exemplo,
a vida útil dos componentes e o uso de materiais e reduzindo o custo final de produção (WANG,
2002; CHATTERJEE et al., 2005). Alguns softwares de referência em engenharia e/ou manufatura
assistida por computador são: Marc®, Adams®, Abaqus® e ANSYS®.
No contexto do ciclo projeto-construção-teste, é de suma importância alcançar uma boa
integração entre design e manufatura no intuito de promover uma linguagem comum para interação
do time de desenvolvimento. O objetivo da integração CAD/CAM é dar suporte à construção do
protótipo e suas respectivas modificações, análises e produção dentro de um único ambiente, de
modo que todos os aspectos do sistema CAD sejam coordenados e possam ser replicados para o
processo de produção. Entre os aspectos positivos no que se refere ao uso de sistemas CAD/CAM
temos o aumento da produtividade do time de desenvolvimento, que consegue reduzir
significativamente o tempo requerido para criar, analisar e documentar o design e o aumento da
qualidade do design, pois o time de desenvolvimento pode usufruir de um universo grande e diverso
14
de alternativas para atender às necessidades dos clientes, optando sempre pelo melhor resultado
possível (KAMRANI et al., 2010).
A Figura 7 ilustra melhor essa integração no contexto da Manufatura Integrada por
Computador (Computer Integrated Manufacturing – CIM). Tanto os aspectos de design do
protótipo final da inovação, como aspectos de controle e planejamento da produção em larga escala
e do negócio (marketing e finanças) são englobados em um sistema único integrado que compartilha
informações ao longo de todo o processo de inovação em tempo real, inibindo duplicidade de
conteúdo e retrabalhos e aumentando, portanto, a eficiência do desenvolvimento.
Figura 7 – Modelo típico de implantação CIM. Fonte: Kamrani et al. (2010), p.190
Sendo assim, concluída a apresentação da integração CAD/CAM, podemos explorar a
manufatura por subtração convencional.
3.1.2 Manufatura por subtração convencional
A manufatura por subtração convencional CNC é a estrutura mais difundida atualmente
em termos de comandos para máquinas-ferramenta, sobretudo naquelas aplicações relacionadas
à usinagem de materiais. Segundo Caulliraux et al. (1999), essa tipologia se desenvolveu
juntamente com a microeletrônica, e valeu-se de recursos desenvolvidos originalmente para os
microcomputadores, que vão desde os microprocessadores (cada vez mais rápidos e poderosos)
até os recursos de entrada/saída (unidades de discos magnéticos e óticos, unidades de vídeo ou
mesmo redes de comunicação de dados).
15
Essa tipologia se baseia na adoção de um microcomputador dedicado ao controle do
sistema com razoáveis capacidades de memória e processamento local ligado a uma ou várias
máquinas-ferramenta e assumindo as tarefas do controle numérico. Segundo Scheer (1993), em
substituição às primeiras unidades de Comando Numérico (CN), com programas introduzidos
nas máquinas de produção (tornos, perfuradoras e fresadoras) com o auxílio de fitas de papel,
as máquinas CNC foram então desenvolvidas para permitir uma maior flexibilidade de
operação, afinal, agora, os programas podiam ser carregados diretamente nas máquinas-
ferramenta e as alterações podiam ser implantadas muito mais facilmente através do teclado do
computador, sem a necessidade de manutenção de fitas e leitoras. Tais programas são
estruturados de acordo com a descrição das matérias-primas dos protótipos físicos, a descrição
das peças a serem fabricadas (dimensões e tolerâncias aceitáveis) e as instruções de controle de
usinagem propriamente ditas. A Figura 8 ilustra a distinção da tecnologia dos anos 60
(estruturas CN) para a tecnologia do século XXI (centros de usinagem CNC).
Figura 8 – Estruturas CN vs. Estruturas distribuídas de controle numérico computadorizado.
Fonte: Scheer (1993), p. 44
Mesmo no contexto de sistemas flexíveis de fabricação, exposto em Caulliraux et al.
(1999), com centros de usinagem equipados com dispositivos de troca automática de
ferramentas e capacitados a desempenhar diversas rotinas de usinagem diferentes ao mesmo
tempo (desbaste, furação, roscas, etc.) no mesmo hardware, pelo fato de seus programas serem
de complexa e demorada codificação e por utilizarem ciclos fixos de usinagem, as máquinas
CNC têm seu foco voltado para a produção em larga escala, em detrimento da construção de
protótipos (KAMRANI et al., 2006).
16
3.1.3 Prototipagem rápida a partir de usinagem CNC
Desde o primeiro processo comercialmente disponível de prototipagem rápida, muitos
processos que utilizam o princípio da superposição de camadas de espessura infinitesimais
foram desenvolvidos, e atualmente os custos de um sistema de prototipagem rápida têm se
tornado cada vez mais acessíveis (BEZERRA, 2015). Poucos deles, entretanto, explorando as
máquinas-ferramenta CNC. De fato, o tempo requerido para programação da peça a ser usinada,
do conjunto de ferramentas necessárias para tal e setup das máquinas-ferramenta limita o uso
de CNC para fins de construção de um protótipo. Kamrani et al. (2006) descreveram uma
metodologia capaz de criar um sistema de prototipagem rápida a partir de máquinas CNC que
podem ser utilizados por qualquer usuário, não somente por técnicos de Usinagem habilitados.
Em linhas gerais, o objetivo dessa técnica é de utilizar um conjunto de algoritmos e
hardwares genéricos que têm como entrada modelos CAD simples e que, após o input, são
capazes de enviar diretamente códigos de controle numérico para um determinado centro de
usinagem começar a processar o protótipo físico. Tal técnica pode ser aplicada para qualquer
material que possa ser usinado.
Utilizando o princípio de superposição de camadas infinitesimais, o conceito básico
consiste em usinar uma superfície visível do protótipo físico a cada orientação de ferramentas,
garantindo rotações sequenciais dos eixos de orientação das máquinas-ferramenta. Dessa
forma, o objetivo é usinar o protótipo a partir de configurações de orientações suficientes de tal
modo que, após todos os caminhos possíveis, todas as superfícies tenham sido usinadas
completamente (KAMRANI et al., 2006). Sendo assim, em vez das descrições do protótipo e
suas tolerâncias (como no programa numérico computadorizado codificado por um
especialista), para cada orientação, há uma camada infinitesimal a ser usinada pelas
ferramentas. O efeito “escada” criado com os contornos de superfície em outras técnicas de
prototipagem rápida se torna praticamente inexistente, visto que a precisão de corte em
máquinas-ferramenta CNC é elevada e a espessura da camada infinitesimal gerada é da ordem
de 20 µm. A Figura 9 ilustra essa precisão em detalhes.
17
Figura 9 – Exemplo de prototipagem rápida CNC.
Fonte: <https://goo.gl/GU9eTm>. Acesso em jul/2017
Vale ressaltar que, no intuito de otimizar os setups sucessivos dos centros de usinagem,
respeitando a complexidade do modelo final, apenas um eixo de rotação é solicitado para a
operação. Ademais, um conjunto de métodos algorítmicos determinam o mínimo de
configurações de orientação necessário para usinar todas as superfícies do protótipo físico. Tais
algoritmos otimizam o tempo de fabricação do protótipo, contribuindo para a eficiência do
processo de inovação.
3.1.4 Estereolitografia
Dentre as técnicas de prototipagem rápida, a estereolitografia foi a primeira. Segundo
Gorni (2001), seu processo utiliza polímeros líquidos sensíveis à luz, que se solidificam quando
expostos à radiação ultravioleta. A resina líquida fotocurável é inserida em uma cuba com uma
plataforma elevatória mergulhada (exercendo a função de base para o protótipo) que se desloca
para baixo a cada camada construída (BEZERRA, 2015). Um feixe de raio laser de alta precisão
focal de Hélio-Cádmio (HeCd) é direcionado por um conjunto de lentes e espelhos de acordo
com o desenho de cada seção transversal da camada infinitesimal do modelo computacional do
protótipo. Por ser fotossensível ao raio ultravioleta, a resina solidifica apenas na região
percorrida pelo raio (MACARRÃO JR., 2004). Com a camada concluída, a plataforma desce o
equivalente à espessura de uma nova camada. Um nivelador passa horizontalmente ao nível da
resina (garantido por outro raio laser – de Hélio-Neônio – HeNe) a fim de romper a tensão
superficial do líquido e minimizar o tempo de confecção de cada camada. O processo de
18
exposição à radiação de HeCd é repetido sucessivamente até que o protótipo físico seja
concluído.
Macarrão Jr. (2004) ainda acrescenta que como o modelo é construído no interior de um
líquido, é necessário que sejam adicionados suportes para fixação e sustentação do protótipo,
impedindo que ele se movimente ou flutue durante a operação. O modelo concluído é retirado
do interior da resina e do contato com os suportes e é então limpo com solvente apropriado e
colocado em forno para a cura total da resina solidificada. A fim de melhorar a qualidade da
superfície do modelo, esta pode ser lixada manualmente. A Figura 10 ilustra o funcionamento
do processo de estereolitografia.
Figura 10 – Esquema da técnica de estereolitografia.
Fonte: Adaptado de Gorni (2001). Acesso em jul/2017
Concluída a apresentação da estereolitografia, a técnica de prototipagem rápida
subsequente é a sinterização seletiva a laser.
3.1.5 Sinterização seletiva a laser
A técnica de sinterização seletiva a laser é similar ao processo de estereolitografia,
porém, o raio laser (desta vez de dióxido de carbono – CO2 – de média potência) funde de forma
seletiva, de acordo com a geometria da camada infinitesimal do modelo computacional,
materiais pulverulentos, tais como náilon, elastômeros e metais. Nesse processo, ilustrado na
Figura 11, o material em pó, espalhado e nivelado em uma cuba por um rolo nivelador, é
19
fundido e depois solidificado, camada por camada, à medida que a plataforma vai descendo.
Vale ressaltar que, ao contrário da estereolitografia, o protótipo em formação não necessita de
suporte, pois o próprio pó fornece a sustentação necessária, impedindo qualquer movimentação
do modelo físico.
Figura 11 – Esquema do processo de sinterização seletiva a laser.
Fonte: Adaptado de Macarrão Jr. (2004), p. 47
Segundo Bezerra (2015), como vantagens a tecnologia apresenta a variedade de
materiais que podem ser processados em um mesmo protótipo, bem como a não necessidade de
pós-cura. Como desvantagens, podemos mencionar os problemas de acabamento nas
superfícies similares aos da estereolitografia, o alto custo do equipamento de prototipagem e o
seu respectivo elevado consumo de energia.
3.1.6 Inibição seletiva de sinterização
A inibição seletiva de sinterização é um método de construção de protótipo que usa
sinterização de material em pó. Contudo, ao contrário do processo a laser, a fabricação de
protótipos físicos é realizada sem radiação. A técnica é realizada para uma variedade de
polímeros, entre eles o poliéster e o poliestireno.
Como ilustra a Figura 12, segundo Kamrani et al. (2006), o processo de inibição seletiva
de sinterização começa na deposição de resina plástica em pó sobre um suporte, sobre o qual
atravessa um rolo nivelador. Após o espalhamento do material pulverulento, as áreas
selecionadas para a inibição de sinterização, escolhidas de acordo com a geometria da camada
20
infinitesimal do modelo computacional tridimensional, são molhadas por um cabeçote de
impressora de alta precisão, com soluções salinas, em geral. A camada inteira de pó é então
sinterizada a partir de radiação infravermelha. Uma placa de minimização de ação radiadora é
posicionada para prevenir a área de camada de pó estendida fora da região do protótipo físico,
economizando material. O processo (etapas A-D) é repetido até que todas as camadas
infinitesimais do protótipo físico sejam percorridas, restando apenas o sólido polimérico
sinterizado da etapa E, com exceção da superfície molhada com líquido inibidor (solução
aquosa de iodado de potássio – KI, por exemplo), correspondente à superfície externa do
protótipo. Após a separação da parte sinterizada não correspondente ao protótipo, temos o
modelo físico formado (etapa F). Após a sinterização de cada camada, há a evaporação do
líquido inibidor, restando apenas camadas de sal com a geometria da camada infinitesimal do
modelo computacional.
Figura 12 – Estágios do processo de inibição seletiva de sinterização.
Fonte: Kamrani et al. (2006), p. 198
Essa técnica possui como vantagens: o baixo custo de equipamento (qualquer elemento
gerador de calor pode ser utilizado para sinterizar as camadas de resina em pó); a alta velocidade
de prototipagem (uma camada de pó é sinterizada na ordem de grandeza de segundo); a alta
acurácia e qualidade de acabamento e a possibilidade de realizar modelos físicos de diferentes
materiais poliméricos com diversas cores.
21
3.1.7 Modelagem por deposição de material fundido
Segundo Kamrani et al. (2010), a técnica de modelagem por deposição de material
fundido utiliza um cabeçote com dois bicos de extrusão controlado por computador para
depositar uma resina termoplástica de acordo com as especificações do protótipo no arquivo
STL. A operação do equipamento, ilustrada na Figura 13, inicia com a alimentação do cabeçote
a partir de uma bobina de resina. A seguir, o material é derretido no cabeçote de impressão a
temperaturas controladas, gerando uma resina semilíquida que sofre extrusão por um dos bicos,
sendo depositada em filetes de acordo com a geometria do modelo computacional sobre a base
do equipamento, que pode ser fixa ou móvel. Essa deposição é, então, repetida camada por
camada até obtermos o protótipo físico.
Figura 13 – Exemplo de aplicação de deposição de material fundido.
Fonte: <https://goo.gl/FrjtXa>. Acesso em jul/2017
Para dar a sustentação necessária ao modelo, o segundo bico de extrusão constrói um
suporte frágil e quebradiço, suficiente para o apoio da peça. Após a conclusão da construção do
protótipo, tal suporte é removido manualmente (MACARRÃO JR., 2004). A resina
termoplástica utilizada é em geral formada por Acrilonotrila Butadieno Estireno – Acrynolitrile
Butadiene Styrene (ABS).
22
A facilidade de remoção do modelo físico completo, sem perda de material é uma
vantagem clara da técnica. Como desvantagens, podemos mencionar: a fraca força interlaminar
do material termoplástico, gerando deformações no protótipo em caso de formas curvas ou
cisalhamento ao longo da superfície externa do modelo físico, assim como a lenta velocidade
relativa de funcionamento do equipamento de prototipagem.
3.1.8 Manufatura laminar de objetos
A manufatura laminar de objetos é a técnica de prototipagem rápida que utiliza modelos
CAD tridimensionais para a construção de protótipos a partir de material em folha (KAMRANI
et al., 2010). O processo de prototipagem foi ilustrado na Figura 14 e funciona da seguinte
forma: uma folha do material de construção do protótipo é colocada em contato físico sobre a
plataforma elevatória do equipamento; o feixe de laser do maquinário delineia a camada
infinitesimal correspondente à seção transversal do modelo físico; o mesmo feixe de laser
também corta uma área excedente em formato retangular para facilitar a fluidez do processo e
dar suporte à construção do protótipo; a plataforma elevatória sobe até destacar a área retangular
delineada na etapa anterior e retorna à posição original; a camada seguinte de material é puxada
para a parte superior da plataforma; o rolo compressor térmico pressiona a camada seguinte, de
modo a fixá-la na anterior e o processo se repete até que o modelo seja finalizado. Finalmente,
o volume excedente de material é destacado e o protótipo físico é revelado.
Kamrani et al. (2010) ainda faz menção às vantagens e desvantagens da manufatura
laminar de objetos. Como aspectos positivos podemos ressaltar: o baixo investimento em
material e em maquinário de prototipagem; o fato dos materiais serem não-tóxicos e a acurácia
dimensional. Os fatores negativos considerados na técnica são a susceptibilidade a deformações
no momento da selagem de camadas, devido à influência de humidade, bem como a necessidade
de pós-processamento, devido aos resíduos gerados com os cortes realizados pelo feixe de laser.
23
Figura 14 – Esquema ilustrativa da técnica de manufatura laminar de objetos.
Fonte: <https://goo.gl/FrjtXa>. Acesso em jul/2017
3.1.9 Cura em solo sólido
A cura em solo sólido é um sistema de prototipagem rápida que utiliza luz ultravioleta
para curar cada camada infinitesimal do protótipo físico, construído em resina líquida. É uma
técnica relativamente mais complexa e ao contrário de sistemas à laser, o processo de cura em
sólido fixa as camadas infinitesimais dos modelos em apenas uma única exposição, não sendo
necessário percorrer as geometrias das camadas com feixes pontuais (KAMRANI et al., 2010).
O funcionamento da técnica consiste inicialmente na impressão eletrostática da camada
infinitesimal correspondente ao modelo em uma placa de vidro transparente (que pode ser limpa
e reutilizável). A impressão é realizada de tal forma que apenas a geometria do modelo
computacional permaneça transparente na placa de vidro. Em seguida, a plataforma principal
de construção do protótipo é revestida com resina fotocurável líquida, para, após isso, ser
deslocada horizontalmente para uma posição abaixo do vidro transparente marcado. Tanto a
plataforma como a placa de vidro são alinhados verticalmente sob a iluminação de uma lâmpada
ultravioleta. A luz ultravioleta atravessa, então, o vidro transparente e cura a área com resina
sobre a plataforma sem marcação eletrostática projetada. Os resíduos de resina não-curados na
plataforma são removidos por um aspirador à vácuo e a placa de vidro é limpa para ser
novamente utilizada na etapa de impressão da camada infinitesimal do modelo computacional.
24
Posteriormente, a plataforma é revestida com cera líquida, preenchendo os espaços entre as
áreas curadas, sendo endurecida a seguir por uma placa resfriadora. A camada enrijecida de
resina e cera sobre a plataforma é fresada até o nível de altura da última camada. A adição de
cera (nivelada com a resina curada) facilita a deposição subsequente de líquido fotocurável. A
própria plataforma retorna à posição sob a luz ultravioleta para concluir a cura da última
camada. O processo se repete até todo o modelo geométrico computacional ser percorrido. Em
linhas gerais, a Figura 15 ilustra a técnica de cura em solo sólido.
Figura 15 – A técnica de cura em solo sólido.
Fonte: <https://goo.gl/cRkLNf>. Acesso em jul/2017
Finalmente, a cera é dissolvida em água quente ou em solução aquosa com ácido cítrico.
Após a remoção integral de cera, temos o protótipo físico. A boa acurácia dimensional e o fato
de que qualquer sólido tridimensional pode ser construído com essa técnica são aspectos
positivos relevantes. Em se tratando de aspectos negativos, podemos mencionar a necessidade
contínua de supervisão do processo, principalmente no que se refere à limpeza da placa de vidro
transparente, além da quantidade significativa de resíduo material gerado (seja na aspiração à
vácuo ou na operação de fresagem).
3.1.10 Contour Crafting
A técnica Contour Crafting é uma tecnologia de fabricação capaz de utilizar vários tipos
de materiais para produzir peças complexas e volumosas com bom acabamento de superfície
em elevada velocidade.
25
A partir de Khoshnevis et al. (2010), o processo de fabricação é baseado na extrusão de
camadas grossas de material (cerâmica – argila e titanato zirconato de chumbo (PZT) em estado
pastoso – e resinas termoplásticas derretidas) contornadas com palhetas laterais cujas
orientações são dinamicamente alteradas para obter um melhor acabamento de superfície para
cada camada preenchida, conforme a Figura 16. A deposição de camadas grossas, de espessura
limitada pelo tamanho das espátulas, reduz de maneira significativa o tempo de construção do
protótipo, o que é fundamental na fabricação de itens volumosos.
Figura 16 – Aplicação da técnica de Contour Crafting. Fontes: Adaptado de
Kamrani et al. (2006), p. 222 e <https://goo.gl/wfmb35>. Acesso em jul/2017
Avanços rápidos na pesquisa dessa técnica de prototipagem rápida, a consideram como
uma opção viável para a construção de casas e estruturas civis (KAMRANI et al., 2006).
3.1.11 Direct Shell Production Casting
A técnica Direct Shell Production Casting (DSPC) consiste em um sistema diferente de
todos os demais no que se refere à prototipagem rápida. Basicamente, o processo gera um molde
cerâmico (em carboneto de silício, óxido de alumínio ou silicato de zircónio) para fundição
metálica, a partir de um modelo tridimensional computacional, evitando a necessidade das
ferramentas tradicionais de fundição.
Em linhas gerais, o funcionamento da técnica é ilustrado na Figura 17. Segundo
Kamrani et al. (2010), em primeiro lugar, o desenho CAD é utilizado para criar um modelo
computacional de molde cerâmico, assumindo que suas cavidades internas são correspondentes
às superfícies externas do protótipo a ser construído. Em seguida, o equipamento de
prototipagem rápida automaticamente espalha a camada inicial de material cerâmico em pó no
interior de uma cuba. Com o suporte de um bico de alta precisão, um aglutinante líquido é
impresso, seguindo a geometria da seção transversal do molde. A seguir, uma nova camada de
26
material pulverulento é depositada e o processo se repete até que a totalidade do molde seja
impressa. O molde é, então, separado do pó não sinterizado e depois cozido de modo a elevar
sua rigidez mecânica. Em uma fornalha específica, o molde é preenchido com metal fundido.
Finalmente, após o devido resfriamento do metal, a cerâmica é removida, dando origem ao
protótipo físico.
Figura 17 – A técnica DSPC. Fonte: <https://goo.gl/3QFcL7>. Acesso em jul/2017
Como vantagens da técnica podemos salientar: a redução de tempo e custo de produção,
quando comparamos com o processo de fundição tradicional; a possibilidade de construir
protótipos de geometria de alta complexidade e o fato de que muitos itens podem ser fabricados
de uma só vez. Como limitações do processo DSPC temos o acabamento superficial áspero (o
efeito “escada” da prototipagem rápida geralmente é aparente com camadas de espessuras da
ordem de grandeza de 0,175mm; a necessidade de eliminar rebarbas, além do fato que apenas
uma peça pode ser fabricada por molde.
3.1.12 Impressão a jato de tinta
Gorni (2001) apresenta que os protótipos fabricados a partir da técnica de impressão a
jato de tinta são construídos sobre uma plataforma elevatória a partir de recipientes preenchidos
com material fotopolimérico à base de acrilato líquido. Dois cabeçotes de impressão depositam
27
pequenas gotas de material de construção e de suporte para formar uma camada do protótipo,
seguindo a geometria da seção transversal do modelo computacional. Uma fonte de luz
ultravioleta realiza a cura das camadas. A plataforma é ligeiramente abaixada, adiciona-se mais
material e o processo é repetido. Uma barra niveladora garante o estado plano das camadas a
cada iteração. Finalmente, o material de suporte é removido com jatos de água e solventes
específicos, fazendo emergir o resultado final de protótipo. Para facilitar o entendimento do
leitor, o processo é ilustrado na Figura 18.
Figura 18 – A técnica de impressão a jato de tinta.
Fonte: <https://goo.gl/FrjtXa>. Acesso em jul/2017
Bezerra (2015) aponta como vantagens da técnica a boa precisão e a boa qualidade de
acabamento superficial do protótipo físico. Como desvantagens temos a baixa durabilidade e
baixa rigidez do material utilizado.
3.1.13 Laser Engineered Net Shaping (LENS)
Segundo Gorni (2001) e Bezerra (2015), a Laser Engineered Net Shaping é uma técnica
que apresenta a vantagem de produzir protótipos de metal plenamente densos, com boas
propriedades metalúrgicas e sob velocidades razoáveis de construção. Um gerador de raio laser
de alta potência é usado para fundir pó metálico armazenado em uma câmara de atmosfera
controlada e fornecido coaxialmente ao foco do raio laser, por gravidade ou através de um gás
28
portador inerte pressurizado. O raio laser passa através do centro do cabeçote e é focado para
um pequeno ponto da plataforma de suporte através de um sistema de lentes. Os pontos são
calculados de acordo com as respectivas seções transversais dos modelos CAD. O bico de
deposição se movimenta nos três eixos, com possibilidade de rotação e inclinação, também
possíveis com a plataforma do equipamento de prototipagem.
Podem ser usados materiais de diversas ligas metálicas, tais como aço inoxidável, cobre,
alumínio e titânio. Os protótipos produzidos requerem usinagem para acabamento,
apresentando densidade plena, boa microestrutura e propriedades mecânicas. A potência do
gerador de raio laser utilizado é elevada da ordem de grandeza de 20KW, o que aumenta
consideravelmente o consumo energético. A Figura 19 ilustra uma aplicação prática da técnica
LENS.
Figura 19 – Ilustração da técnica LENS.
Fonte: <https://goo.gl/7cqvjP>. Acesso em jul/2017
Descritas as características da técnica LENS, prosseguimos com a última técnica de
prototipagem rápida relevante de acordo com as referências-chave do mapeamento sistemático
da literatura: a impressão 3D.
3.1.14 Impressão 3D
A técnica denominada por impressão 3D utiliza uma máquina que opera de maneira
similar às impressoras a jato de tinta para papéis. Segundo Macarrão Jr. (2004), o material em
pó é depositado em camadas, as quais recebem sobre si um jato de tinta, dando liga ao material
na geometria da seção transversal do modelo computacional. O autor alerta ainda que as
superfícies externas dos modelos construídos têm aparência semelhante a degraus, devido à
formação em camadas.
29
Em linhas gerais, o princípio de funcionamento da técnica foi representado na Figura
20. A impressora contém um reservatório de alimentação do material pulverulento de
construção do modelo. Abaixo desse reservatório, existe um pistão móvel que realiza
movimentos verticais descendentes durante a construção do modelo. O pó é então nivelado por
um cilindro que se desloca horizontalmente. O jato de tinta com a função de fundir os grãos de
material forma a camada infinitesimal do protótipo. O pistão desce e, com o material nivelado
novamente, o processo se repete, as camadas subsequentes são formadas até a construção
completa do modelo físico. Nesse processo, o próprio material em pó ao redor do modelo
fornece a sustentação necessária durante a fabricação do protótipo. Uma camada de cola deve
ser aplicada à superfície do modelo para evitar que ela se deteriore com o uso (MACARRÃO
JR., 2004).
Figura 20 – A lógica da impressão 3D. Fonte: <https://goo.gl/FrjtXa>. Acesso em jul/2017
Sendo assim, descrevemos na próxima subseção as técnicas de prototipagem mista, de
meio-termo entre os protótipos virtuais e físicos.
3.1.15 Realidade virtual e aumentada
Segundo Talaba et al. (2012), fazer um produto de sucesso no mercado requer alta
qualidade de design, que deve levar em consideração os requisitos cada vez mais sofisticados
30
dos usuários. A sensibilidade humana e o senso de conforto durante a interação com os novos
produtos/sistemas se tornaram uma das questões mais importantes no desenvolvimento de uma
inovação. Existe uma hierarquia de necessidades dos usuários quando eles interagem com um
produto, na qual o prazer ocupa o lugar mais importante antes da aplicação, funcionalidade,
segurança e bem-estar (PALACE, 2002). Sendo assim, um objetivo importante do design de
novos produtos/sistemas voltados para os usuários é facilitar a boa interação com os mesmos.
Embora sejam amplamente utilizados nas indústrias, como a de brinquedos, a de
embalagens e a de eletrodomésticos de pequeno porte (KAMRANI et al., 2010), protótipos
físicos adequados, que propiciam claramente interações com os clientes, são muitas vezes
indisponíveis no contexto de aplicações de maior porte, como nas indústrias de veículos
automotores, de aviões e de dutos para o setor de óleo e gás. Nessas circunstâncias, testes com
protótipos virtuais são a melhor alternativa, mas para obter resultados realmente efetivos, testes
de comportamento físico avaliando a interação com os usuários são mandatórios. Ligações
físicas entre os usuários e as inovações podem ser estabelecidas com o uso de dispositivos
hápticos de realidade virtual (KÜNZLER et al., 2004).
Talaba et al. (2012) afirmam que sistemas hápticos são divididos em duas categorias de
reação ao tato: a primeira ligada ao toque, direcionada a lidar com forças de baixa intensidade,
enquanto que a segunda é associada às forças cinéticas, relacionadas à posição, ao peso e aos
movimentos de músculos, tendões e juntas. Tecnologias que englobam as duas categorias de
feedbacks hápticos são consideradas de realidade virtual, já que o usuário é exposto
exclusivamente a modelos virtuais. Entretanto, o nível de aceitação da interação física com o
usuário é bastante limitado para essas tecnologias. De fato, o toque e as forças de baixa
intensidades são muito complexas de simular, uma vez que elas refletem diretamente o
fenômeno do contato, aonde o atrito desempenha um papel muito importante (TALABA, 2012;
BORDEGONI, 2011).
O estado da técnica sugere que a maneira de superar essa limitação seja mesclando
protótipos virtuais com feedback háptico, para forças cinéticas, com protótipos físicos, que
facilitam a assimilação da interação de toque (TALABA, 2012; MARNER et al., 2011;
BORDEGONI et al., 2009). Nesse ambiente de interação com modelos físicos e virtuais se
estabelece a realidade aumentada. A Figura 21 explicita a distinção de um ambiente de realidade
virtual para um ambiente de realidade aumentada. Para um mesmo produto, lavadora de roupas,
nota-se que o usuário à esquerda interage apenas com o protótipo virtual da lavadora, enquanto
que o usuário à direita interage tanto com o modelo virtual como com o físico.
31
Figura 21 – Realidade virtual (esquerda) vs. Realidade aumentada (direita).
Fontes: Bordegoni et al. (2010), p. 173 e Bordegoni (2011), p. 132-136
A Figura 22 evidencia a estrutura típica de uma aplicação de feedbacks hápticos em
ambientes de realidade virtual/aumentada. A interface háptica faz a ligação física entre o último
objeto do mundo real e o primeiro objeto do mundo virtual (denominado avatar). O avatar é
uma cópia virtual desse último objeto real e é o único objeto do mundo virtual cujos
movimentos não são controlados nele. Com isso, na prática, um avatar controlado por um
usuário é sempre integrado no ambiente virtual para possibilitar as reações hápticas. A interação
do avatar com os outros objetos virtuais é computada por meio de câmeras de detecção de
movimento ou joysticks de alta tecnologia com vários graus de liberdade, luvas de dados e
sensores neurais e biológicos; e transmitida ao usuário, através de paredes retroprojetoras de
renderização estereoscópica, visores de alta definição estereoscópica HMD e aparelhos de
renderização sonora.
Figura 22 – A estrutura de simulação hápticas.
Fonte: Adaptado de Talaba et al. (2012), p. 571
Bordegoni et al. (2009) afirmam que a prototipagem mista é um método que tem sido
cada vez mais provado como eficiente e eficaz no desenvolvimento de novos produtos. De fato,
ele facilita o real envolvimento de usuários finais, sem qualquer conhecimento técnico exigido,
32
nas etapas de validação do design, ao contrário do que ocorre com a grande maioria de máquinas
e sistemas, avaliadas por técnicos que seguem protocolos e procedimentos já pré-estabelecidos.
Além da baixa acessibilidade às tecnologias acima apresentadas, os efeitos colaterais que os
seres humanos podem sofrer a longo prazo ao serem submetidos aos ambientes virtuais
(JIMENO, 2007) são os principais pontos negativos destacados na literatura.
3.2 SÍNTESE ACERCA DAS TÉCNICAS DE PROTOTIPAGEM
Embora tenhamos explicitado o funcionamento genérico e os principais pontos positivos
e negativos de cada uma das técnicas de prototipagem apresentadas, julgamos pertinente para
a sequência do trabalho, consolidar essa informação em uma seção independente. De modo
complementar às informações já apresentadas na seção anterior, torna-se relevante, para fins de
projeto de Engenharia, classificar as técnicas de prototipagem com base nos aspectos mais
determinantes na avaliação e aprovação de protótipos, de modo a identificar qual técnica é mais
adequada para cada tipo de problema. Sendo assim, uma análise multicritério nos sugere ser
uma ferramenta que auxilia na escolha da melhor técnica possível, dentre as mapeadas no
Estado das Práticas.
Inicialmente, tendo como base Bordegoni (2011), é importante lembrar que protótipos
podem ser construídos com níveis variados de fidelidade, de acordo com as necessidades,
propósitos e maturidade do projeto básico de um novo produto/sistema. De fato, fabricar
protótipos muito realistas, idênticos aos modelos que serão produzidos em larga escala, pode
ser uma tarefa muito demorada e cara. Evidentemente que o nível de fidelidade pode afetar a
avaliação do design assim como o envolvimento emocional e as respostas dos usuários, por
isso, a seleção do tipo de técnica de prototipagem depende do quanto o protótipo deve se parecer
com a versão final do produto/sistema.
Assumindo que o nível de fidelidade é escolhido com o devido bom-senso, para
satisfazer as expectativas dos futuros clientes, um protótipo deve satisfazer, no mínimo, três
aspectos: estéticos, funcionais e ergonômicos (BORDEGONI, 2011). Todos eles avaliados
pelos sentidos humanos de visão, tato e audição. Wall et al. (1992) reafirmam esses aspectos a
partir das pesquisas que coletaram com especialistas, afirmando que os atributos que
efetivamente avaliavam a performance de um protótipo qualquer eram: aparência geral, módulo
de elasticidade, limite de resistência à tração, acurácia dimensional e geométrica, acabamento
de superfície, dureza, peso, temperatura de fusão, opacidade, condutividade e cor. É importante
salientar que estamos considerando avaliações exclusivamente do ponto de vista técnico.
33
Entendemos que considerações econômicas são melhor discutidas em análises ad hoc. De fato,
na seção posterior, exploramos algumas análises de custos para justificar a recomendação de
construção de protótipo para os dois casos práticos.
De modo a eliminar qualquer tendenciosidade, sem desviar o foco deste estudo com
pesquisas de campo (a partir do método Delphi, por exemplo), utilizamos variáveis binárias
associadas a cada um dos aspectos mencionados acima para realizar a análise multicritério para
cada uma das cinco principais técnicas de prototipagem. Essas variáveis traduzem os resultados
obtidos com a utilização das técnicas em termos de estética, funcionalidade e ergonomia.
Dessa forma, para o aspecto estético, definimos a variável garantia de ausência de
“escadas”, que demonstra a qualidade final de acabamento superficial do modelo; para o
aspecto funcional, foram definidas as variáveis análise de comportamento estático e dinâmico,
que investiga todas as propriedades mecânicas e elétricas dos protótipos e diversidade de
materiais, que demonstra a possibilidade de aplicação prática pelo usuário do modelo como
efetivamente a primeira unidade do novo produto/sistema e, por fim, para o aspecto ergonômico
foram utilizadas as variáveis feedback háptico, que avalia a real possibilidade de interação física
entre o protótipo e os usuários e diversidade de tamanhos, referenciando a todas as
possibilidades de garantia de acurácia dimensional e geométrica.
A única desvantagem da prototipagem virtual está representada na ausência de feedback
háptico (extensiva para a técnica de realidade virtual), que pode ser mitigada, por exemplo, com
a fabricação de modelos físicos de baixo custo, mesmo que não completamente fiéis à realidade
de produção em larga escala. Para as demais variáveis consideradas, percebemos que a
integração CAD/CAM satisfaz os resultados de garantia de bom efeito de acabamento, de
possibilidade de realização de análises de comportamentos mecânicos e de modelagem com
diversos tamanhos e materiais, garantindo que o design esteja adequadamente integrado com o
seu respectivo sistema de fabricação.
No que se refere à manufatura por subtração convencional, o principal ponto negativo
consiste nas análises de comportamento estático e dinâmico, existentes para as demais
tecnologias. Por não possuir como inputs modelos CAD (necessários para as demais técnicas)
e sim códigos de controle numérico, a técnica convencional de prototipagem por subtração não
usufrui do rico portfólio de análises computacionais de simulação de aplicações e processos de
fabricação dos produtos, a partir da tecnologia de análise não-linear por elementos finitos,
embora forneça alta qualidade de acabamento de usinagem e interação física com usuários,
assim como possa ser aplicada a uma gama diversa de materiais.
34
De acordo com o que foi discutido ao longo das doze técnicas distintas de prototipagem
rápida, presentes inclusive em ambientes de realidade aumentada, não é possível garantir a
ausência do efeito “escada” de superposição de camadas de fina espessura de material para a
maioria delas. As limitações de diversificação de material e tamanho para protótipos também
são desvantagens relevantes. O feedback háptico que é possível estabelecer com os clientes se
revela como bom ponto positivo para a técnica.
Considerando as técnicas de prototipagem mista, embora distintas entre si, elas se
revelam equivalentes quanto às avaliações. Em se tratando particularmente do porte das peças
fabricadas, tanto a realidade virtual como a aumentada não se mostram aplicáveis para modelos
de pequeno e médio porte, visto que o investimento tecnológico é relativamente alto quando
comparado às técnicas de prototipagem física e virtual. No caso da realidade virtual, o feedback
háptico não pode ser considerado como resultado, visto que a simulação de efeitos de toque, de
forças de baixa intensidade, ainda se mostra como uma oportunidade de melhoria. Para a
realidade aumentada, a utilização de modelos de prototipagem rápida nos ambientes virtuais
faz com que a avaliação estética seja comprometida.
Preenchendo a tabela com os critérios de comparação da linha superior, as técnicas de
prototipagem na coluna inicial e valores binários, aonde “0” significa a ausência do resultado
apresentado na linha superior e em que “1” representa o oposto, temos que o resultado final da
análise consolidada foi evidenciado na Tabela 2. Como importante conclusão intermediária
deste trabalho, podemos inferir que a prototipagem virtual se revela como aconselhável para a
construção de protótipos nos projetos em geral. De fato, em todos os três critérios de avaliação
(estético, funcional e ergonômico) a técnica apresenta vantagens, sendo a principal delas, que a
diferencia das demais a aceitação de uma ampla diversidade de tamanhos de modelos.
35
Tabela 2 – Análise multicritério para as técnicas de prototipagem
Fonte: O autor
Finalizada a descrição da comparação entre as diversas técnicas de prototipagem
existentes na literatura, temos que o primeiro objetivo específico deste trabalho foi alcançado.
Portanto, na seção seguinte, iniciamos a apresentação dos casos práticos deste projeto.
36
4 APLICAÇÃO DO PROCESSO DE INOVAÇÃO EM DOIS CASOS REAIS
Como compete à Engenharia de Produção a melhoria de sistemas produtivos, por meio
do projeto de produtos (ABEPRO, 1998), esta seção foi dedicada à aplicação prática dos
conceitos acerca da inovação e das técnicas de prototipagem descritas nas seções anteriores. De
fonte autoral, foram desenvolvidos dois projetos independentes de protótipos, tendo como base
dois casos reais em uma fábrica alimentícia de biscoitos aperitivos.
Após inicialmente descrevermos as problemáticas encontradas, percorremos as etapas
de aquisição de conhecimento, de pesquisa do conceito e de projeto básico do processo de
inovação. Finalizamos com as melhores recomendações no que se refere à construção de
protótipos das soluções propostas para ambos os casos. Como o foco desta obra é a
prototipagem industrial, a implantação das soluções projetadas em produção-piloto e larga
escala não foram consideradas.
Como norte metodológico para se chegar até as soluções propostas, foi utilizado o
PDCA (Plan – Do – Check – Act), representado no modelo da Figura 23. Falconi (2013) aponta
que o método transforma uma organização numa escola, pois a busca por resultados é paralela
à busca do conhecimento, que é o insumo para o alcance de resultados. De fato, a Figura 23
ilustra quatro pontos de busca pelo conhecimento: ou ele é criado, pela busca de fatos e dados;
ou aprendido, seja por recursos da própria empresa seja por recursos externos; ou copiado, a
partir do levantamento das melhores práticas mundiais relacionadas ao problema; ou difundido,
com a padronização e treinamento do trabalho, para manter os resultados. O método permite
buscar exatamente o conhecimento necessário para atingir uma meta almejada, sendo bastante
eficaz (FALCONI, 2013).
37
Figura 23 – Modelo para aquisição, desenvolvimento e consolidação do conhecimento numa
organização por meio do método. Fonte: Falconi (2013), p. 114
Analogamente ao modelo da Figura 23, temos o processo de inovação da Figura 2 e as
etapas de aquisição do conhecimento e de pesquisa de conceito, com a criação de conhecimento,
a partir da identificação das necessidades dos clientes e das funcionalidades exigidas no novo
produto/sistema; a de projeto básico, de conhecimento aprendido, explorando todo o potencial
técnico da organização; a etapa de construção de protótipo, de decisão final do design, com a
análise final das informações técnicas emergentes da organização comparadas com o
conhecimento copiado das melhores práticas de mercado; a etapa de produção-piloto, de
execução e verificação da solução planejada de prototipagem e a etapa final de produção em
larga escala, onde o protótipo é padronizado na organização.
Realizada essa analogia, para a etapa de aquisição do conhecimento, utilizamos a técnica
de análise funcional emparelhada para hierarquizar todos os critérios objetivos a serem
satisfeitos, oriundos das demandas dos clientes (CONSTANT, 2015). Essa técnica permite
identificar o conjunto de critérios objetivos a serem satisfeitos no projeto, atribuindo
importância relativa a cada um deles. Para isso, é realizada uma tabela para análise de
38
comparação por pares, em que para cada par de critérios distintos (i-j), são atribuídos números
entre “0,25” e “4”, indicando quanto i é julgado mais importante do que j. O valor “1” é
encontrado para as análises entre critérios similares. A Tabela 3 ilustra um exemplo da tabela
utilizada para a análise funcional emparelhada.
Tabela 3 – Hierarquia pela análise funcional emparelhada
Fonte: O autor
No que se refere à pesquisa de conceito, utilizamos o método Quality Function
Deployment (QFD) para traduzir as demandas de clientes em especificações de projeto, isto é,
usa-se a ferramenta com o objetivo de associar para cada demanda de cliente, o melhor critério
técnico a ser satisfeito no projeto da solução inovadora. Em termos práticos, utilizamos uma
tabela de duas entradas, em que na coluna inicial são colocadas as necessidades dos clientes e
na coluna superior são listados todos os requisitos técnicos de projeto. A seguir, são atribuídas
relações de pertinência entre as diferentes soluções, classificadas entre forte, moderada ou fraca.
Em termos quantitativos temos a atribuição dos respectivos números: “9”, “3” e “1”
(CONSTANT, 2015). Ao combinar todas as importâncias relativas das demandas, oriundas da
análise funcional emparelhada e os respectivos relacionamentos com os requisitos técnicos,
podemos elucidar a importância relativa das soluções, estabelecendo, assim, prioridades entre
as mesmas. A Tabela 4 exemplifica uma tabela QFD.
39
Tabela 4 – Ferramenta QFD
Fonte: Adaptado de Campos (2017)
Para fins de projeto básico, utilizamos como referência o controle estatístico do
processo, uma poderosa coleção de ferramentas para a melhoria da qualidade
(MONTGOMERY, 2015). Dentre essas ferramentas, a que melhor se relaciona no contexto de
aprendizado de conhecimento técnico organizacional, de extração de conhecimento das pessoas
de forma organizada, é o diagrama de causa-e-efeito, com o qual procura-se eventuais causas
dos resultados do sistema a partir de brainstormings, buscando, segundo Falconi (2013),
relacionar variáveis independentes com a variável dependente origem do problema. A Figura
24 exemplifica essa técnica. As causas prováveis dos problemas aliadas às melhores práticas de
mercado norteiam os projetos básicos de soluções.
40
Figura 24 – O modelo do diagrama de causa-e-efeito. Fonte: Falconi (2013)
A construção de protótipo foi uma discussão realizada caso-a-caso, com bom-senso, de
acordo com as necessidades expostas em cada um dos dois casos de aplicação industrial.
Mesmo que a justificativa de escolha detalhada de técnicas como a análise funcional
emparelhada, o método QFD e o diagrama de causa-e-efeito não pertença ao escopo desta obra,
é importante ressaltarmos que diversos autores como Falconi (2013), Bordegoni (2011) e
Kamrani et al. (2010) sugerem essas ferramentas como boas práticas de análise no contexto do
processo de inovação. A aplicação dessas ferramentas foi demonstrada ao longo da descrição
dos problemas. Sendo, assim, seguimos com o desenvolvimento dos casos práticos.
4.1 CASO 1: A TAXA DE QUEBRA DE SALGADINHOS
A motivação inicial para elaborar esta obra sobre protótipos surgiu da necessidade de
elaborar uma solução inovadora para um problema existente na organização estudada por mais
de doze anos. Embora uma análise estratégica fuja do escopo deste trabalho, sabe-se que os
elevados padrões de confiabilidade e de qualidade percebida de produtos finais são os
diferenciais competitivos determinantes da unidade de análise frente a seus concorrentes, em
todos os seus setores de atuação. Sendo assim, um significativo histórico de reclamações de
consumidores que constatam quebras de mercadoria nos sachês de biscoitos aperitivos
justificou o estudo aprofundado em uma linha de produção para o formato de sachês de 200g
de produto.
41
Com a inexistência de tecnologias de sensores e medidores automáticos de percentuais
de quebra de biscoitos no interior dos sachês de 200g, foi necessário realizar a amostragem
manual de diversas unidades do produto, de modo a nos nortear em termos de resultado. Por
questões de custos, levando em consideração as perdas associadas à operação do processo, onde
todos os sachês recolhidos para amostragem tiveram que ser abertos e, posteriormente,
descartados por uma pessoa totalmente dedicada à atividade ao longo do dia para a pesagem
dos salgadinhos quebrados (cf. Figura 25), separados dos inteiros, o tamanho amostral diário
foi limitado pela Direção Industrial a 100 sachês, contabilizando 0,5% de descarte de uma
produção média diária.
Figura 25 – Exemplos de aperitivos quebrados. Fonte: O autor
Seguindo Costa Neto (2002), de modo a garantir a representatividade da amostra sem
qualquer viés, adotamos o método de amostragem casual simples e sem reposição como
referência. De fato, trata-se de um caso de amostragem probabilística, onde a população de
sachês de 200g de biscoitos aperitivos é finita (20.000 unidades produzidas por dia), totalmente
acessível e todas as (20.000100
) combinações possíveis de amostras são igualmente prováveis.
Utilizando o dispositivo aleatório do editor de planilhas Microsoft® Excel® (cf. Apêndice A),
coletamos apenas os elementos sorteados para a amostra, garantindo, portanto, a
representatividade da população. Os dados amostrais foram expostos no Apêndice B.
Segundo Marujo (2016), após toda coleta de dados é necessário realizar uma etapa de
preparação dos mesmos, o que implica na eliminação de eventuais outliers e na garantia de que
não há correlação entre as observações amostrais. Dessa forma, utilizando o software de
estatística Minitab® (cf. Figura 26), garantimos que nenhum outlier pode ser verificado, afinal
a estatística de Grubbs G = 2,48 > Gtabelado para um nível de significância superior a 10%,
não rejeitando a hipótese nula de que não existem outliers (INMETRO, 2017).
42
Figura 26 – Resultado encontrado a partir do Minitab® para o teste de outliers. Fonte: O autor
Do mesmo modo, verificamos, conforme a Figura 27, a partir da estatística de Pearson
r = 0,246(≅ 0) que não há correlação entre os dados da amostra (GUJARATI et al., 2008).
Figura 27 – Resultado do Minitab® para o teste de correlação entre as observações da
amostra. Fonte: O autor
Utilizando o software estatístico ARENA®, conseguimos agrupar todos os dados
coletados em um histograma, bem como adequar uma distribuição de probabilidade a este
histograma. A Figura 28 ilustra o resultado encontrado. A distribuição que melhor se aproxima
estatisticamente é a distribuição normal de média 𝜇 = 0,124 (12,4%) e variância 𝜎2 =
0,004 (0,4%). Aplicando o teste qui-quadrado com nível de significância de 1,0%, temos que
χ2calculado = 12,9 < χ2
teórico = 13,3, e, portanto, o modelo da distribuição N(12,4%; 6,1%)
é adequado para representar a distribuição da população.
43
Figura 28 – Resultado da distribuição encontrada no software ARENA®. Fonte: O autor
No intuito de eliminar de maneira definitiva o problema de quebra, duas metas
igualmente importantes foram levadas em consideração. A primeira consiste em reduzir de
12,4% para uma mínima taxa média de quebra de salgadinhos que saem da fábrica e a segunda
consiste em conservar esse estado de taxa mínima até o consumidor final, de modo a eliminar
os impactos de choques sobre os biscoitos durante toda a etapa logística de transporte da fábrica
até os grandes varejos (supermercadistas), do estoque dos varejistas até as gôndolas, das
gôndolas até os carrinhos/cestas de clientes etc.. No contexto deste trabalho, apenas a primeira
meta foi considerada, sendo a segunda, de acordo com entrevistas em campo com engenheiros
experientes da indústria alimentícia, principalmente associada à injeção de ar nos sachês. Ficou
definido com a Direção Industrial da unidade de análise que o alvo para a taxa média de quebra
de biscoitos seria de, no mínimo, 3%, percentual favorável quando comparado a produtos
concorrentes, segundo análises não divulgadas, realizadas pela própria empresa.
O modelo da Figura 29 ilustra as etapas do fluxo de material existente na linha de
produção estudada.
44
Figura 29 – Fluxograma da linha de fabricação de sachês de 200g de salgadinhos aperitivos.
Fonte: O autor
A Figura 30 ilustra o diagrama de causa-e-efeito construído a partir de sessões de
brainstorming, animadas pelo autor desta obra, com uma equipe constituída por operadores,
engenheiros, técnicos de Manutenção, gerentes de Produção e de Qualidade, onde cada um
expôs sua sugestão de causa para o problema em questão, sendo anotadas aquelas de maior
aceitação pela maioria do grupo de trabalho.
45
Figura 30 – Diagrama de causa-e-efeito consolidado a partir de sessões de brainstorming.
Fonte: O autor
É importante ressaltar que através das diversas discussões em equipe, o grupo de
trabalho decidiu que a categoria Máquinas era o principal ponto de partida para alcançar a meta
de 3%. A evolução da taxa média de quebra de 200g de biscoitos ao longo da linha corroborou
essa decisão. De fato, foi constatado a partir de um trabalho de campo específico de
amostragem, concomitante ao apresentado na Figura 28, que dos 12,4% de taxa de quebra de
biscoitos, 11,6% ocorriam devido ao impacto da queda livre vertical de 1,44m. Para este
trabalho de amostragem, foi desenvolvida uma pá metálica de dimensões adequadas para
coletar 200g de produto antes da etapa de pesagem na balança multicabeçote, conforme o
Apêndice C.
Figura 31 – Análise comparativa de evolução da taxa média de quebra de biscoitos.
Fonte: O autor
46
Analisando o problema das máquinas com mais detalhe, foi possível identificar as várias
subcausas do efeito de elevada taxa de quebra de biscoitos na Figura 32.
Figura 32 – "5 Porquês" da categoria Máquina. Fonte: O autor
O alto impacto sofrido pelos biscoitos aperitivos na queda vertical de 1,44m na etapa da
ensacadora vertical (cf. Figura 35) faz com que as fissuras internas presentes no produto se
propaguem até chegar à quebra. Tais fissuras internas são formadas devido às pequenas quedas
sofridas pelos biscoitos ao longo das etapas de resfriamento bem como devido às tensões
formadas pelo gradiente de humidade que se forma logo após a saída do forno, na etapa de
secagem (BONAZZI et al., 2017). A Figura 33 visa facilitar o melhor entendimento do leitor
acerca da etapa de resfriamento dos salgadinhos após serem assados nos fornos.
Figura 33 – Pequenas quedas sofridas pelos salgadinhos ao longo do resfriamento.
Fonte: O autor
A partir do método de resolução de problemas, o PDCA (FALCONI, 2013) e tendo
como norte a análise de causas exposta na Figura 30, realizamos um conjunto de diferentes
47
testes visando reduzir a média da distribuição normal de percentual de quebra de aperitivos da
população de sachês de 200g, ao mesmo tempo que a sua respectiva variância. A Figura 34
consolida em imagens todas as quatro ações realizadas: a) instalação de tobogãs/conexões entre
as esteiras transportadoras planas, que eliminam as pequenas quedas anteriormente sofridas
pelos salgadinhos (cf. Figura 33); b) a instalação de um sistema de guilhotina, que introduz uma
pausa intermediária na queda livre vertical dos biscoitos, passando de um cenário de 1,44m de
queda para duas quedas consecutivas de 50,7cm e 93cm, reduzindo o impacto final sofrido
pelos biscoitos após a operação de selagem do sachê de 200g; c) a instalação de um sistema
chicane, de duas peças de material mole que se deformam elasticamente fixadas no interior da
ensacadora para reduzir a velocidade de queda dos salgadinhos e d) a mudança das espumas
técnicas no nível de selagem dos sachês, contribuindo para a amortização do impacto dos
biscoitos.
Sabendo que o detalhamento dos testes realizados não é o objetivo central deste texto,
nos atemos a mencionar que verificamos empiricamente que as soluções dos tobogãs e do
sistema de chicane contribuem para a melhoria do indicador de taxa de quebra de biscoitos. A
partir da instalação dos tobogãs adequados para a linha de condicionamento, nos dedicamos em
solucionar a problemática do caso com a implantação do sistema de chicane acoplado à
ensacadora vertical de sachês de 200g.
48
Figura 34 – Ações tomadas para reduzir a taxa de quebra de biscoitos. Fonte: O autor
49
4.1.1 Aquisição de conhecimento
Para o presente caso, três grupos de interessados foram mapeados: os consumidores dos
biscoitos, o setor de Qualidade da unidade de análise, bem como a área de Produção da fábrica
em estudo. Muito embasados a partir de inúmeras reuniões com a Direção Industrial,
identificamos seis critérios objetivos, abrangentes a todos esses stakeholders, a serem satisfeitos
no desenvolvimento de qualquer solução que pudesse ser implantada para reduzir a taxa de
quebra de biscoitos. São eles: (i) o resultado final de taxa média de quebra de aperitivos igual
ou inferior a 3,0%; (ii) o respeito à cadência máxima da ensacadora vertical; (iii) o indicador
de eficiência global da ensacadora vertical (Overall Equipment Effectiveness – OEE) inalterado,
sem qualquer fenômeno de bloqueio de queda de biscoitos no conformador da ensacadora; (iv)
se aplicável, utilização de material regulamentado para aplicações industriais alimentícias; (v)
uma baixa variabilidade nos resultados de percentual de quebra nos sachês de 200g e,
finalmente, se aplicável, (vi) a suficiente resistência à usura do material da solução, de modo
que nenhum vestígio pudesse ser localizado no interior dos sachês.
Novamente usufruindo de inúmeras entrevistas com a gerência e os setores da unidade
de análise, elaboramos uma análise funcional emparelhada, conforme ilustra a Tabela 5, com o
objetivo de hierarquizar cada uma das seis demandas apontadas para o caso.
Tabela 5 – Análise funcional emparelhada para o primeiro caso
Fonte: O autor
Sendo assim, a utilização de material regulamentado foi apontada como fator de maior
relevância, seguido pela inalterabilidade de performance, pelo respeito à cadência nominal da
ensacadora vertical, pela baixa variabilidade nos resultados de quebra de biscoitos, pela taxa
média de quebra igual ou inferior a 3% e pela resistência à usura suficiente para o material
constituinte da solução final. É curioso notar que mesmo que a problemática seja inteiramente
50
descrita no intuito de reduzir o percentual de quebra de biscoitos na linha de condicionamento
estudada, tal critério é elencado apenas na penúltima ordem de prioridade a ser respeitada. Essa
constatação ilustra a complexidade envolvida em projetos reais de Engenharia de Produção, ou
seja, não poderíamos resolver apenas o problema da taxa de quebra, era necessário também
englobar quatro requisitos multidisciplinares de clientes para implantar com efetividade uma
solução.
4.1.2 Pesquisa de conceito
Uma vez especificadas as necessidades dos clientes, nesta seção descrevemos as
características que o sistema de chicane deve possuir para responder a essas exigências. Em
linhas gerais, essas características correspondem às limitações dimensionais que as placas
devem possuir, condicionadas ao tamanho do conformador da ensacadora vertical, e às
propriedades mecânicas que o material constituinte do sistema deve possuir. Baseado em
Callister Jr. (2008), podemos dizer que são elas: o limite de escoamento, nível de tensão no qual
a deformação plástica tem seu início, causando, portanto, uma mudança permanente na
estrutura chicane, não sendo capaz de funcionar como programado; a resistência à flexão, ou
seja, a tensão máxima suportada pela estrutura sob flexão; a resiliência, capacidade do material
de absorver energia quando ele é deformado elasticamente; a dureza, medida de resistência de
um material a uma deformação plástica localizada (como uma pequena impressão ou risco) e,
por fim, a anelasticidade, que é associada à rapidez de recuperação do material após a
deformação elástica. Para os metais, as deformações elásticas são consideradas instantâneas,
sendo a componente anelástica desprezível.
A partir da identificação desses componentes, utilizamos o método QFD para identificar
todos os relacionamentos existentes entre as características do sistema de chicane e as
necessidades dos clientes, hierarquizadas na análise funcional emparelhada na seção anterior.
O resultado final foi apresentado na Tabela 6.
51
Tabela 6 – Ferramenta QFD aplicada para o primeiro caso
Fonte: O autor
Dela depreendemos que a anelasticidade, o respeito à regulamentação alimentícia e a
resistência à flexão do material, bem como a estrutura dimensional do sistema de chicane,
dentro dos limites físicos da ensacadora vertical, são os aspectos mais relevantes que a solução
inovadora deve compreender. Efetivamente satisfazendo esses quatro critérios, conseguimos
criar relacionamentos fortes com todos os seis requisitos dos clientes.
4.1.3 Projeto básico
Com foco nos quatro requisitos mais relevantes da análise QFD, de dimensão,
anelasticidade, resistência à flexão e respeito à regulamentação alimentícia, o objetivo dessa
seção foi de apresentar as conclusões iniciais de design do sistema de chicane para a redução
da significativa taxa média de quebra de biscoitos de 12,4%.
Em primeiro lugar, entretanto, para fins de projeto, é relevante mencionar o estudo de
melhores práticas desenvolvido na organização estudada. Tomando como referência outras
indústrias de aperitivos, como a de batatas chips, foi feito um levantamento, junto a
fornecedores parceiros, de investimento em uma nova máquina ensacadora inclinada, que
reduziria significativamente o impacto sofrido pelos aperitivos. É possível comparar
visualmente as duas tecnologias a partir da Figura 35.
52
De fato, a partir de um teste com diversas amostras de produtos em um fornecedor, a
eliminação da queda vertical de 93cm, correspondente à troca de uma tecnologia pela outra,
implicaria em uma redução da taxa média de biscoitos de 12,4% para 2,0%, resultado muito
satisfatório, tendo em vista a meta de 3%. Não foi possível obter acesso aos dados coletados no
teste realizado junto ao fornecedor parceiro para verificar a veracidade estatística do resultado,
a partir de uma metodologia similar à utilizada na Seção 4.1. Tendo foco exclusivamente no
contorno da elevada taxa de quebra de salgadinhos, o alto valor de investimento, da ordem de
grandeza de 295.000,00 USD para uma vida útil do novo equipamento de 10 anos, fez com que
a Direção Industrial optasse pelo estudo de solução alternativa com o sistema de chicane.
Embora não seja o objetivo central da seção, é necessário observar que uma análise
detalhada de investimentos se justificaria se o número de intervenções mecânicas no
equipamento antigo fosse exorbitante, alocando custos expressivos de mão-de-obra indireta,
bem como se indicadores de perda de material fossem muito acentuados. O fato constatado em
campo foi que os índices de performance da ensacadora vertical eram estáveis e pouco
destoantes dos valores observados para o equipamento novo. Vale ressaltar que, segundo os
próprios relatos de fornecedores parceiros, os mesmos não possuíam solução técnica alternativa
para a ensacadora vertical no que se refere ao grande impacto sofrido pelos biscoitos aperitivos,
sendo, portanto a ensacadora inclinada a única opção de comparação com o sistema de chicane.
Figura 35 – Ensacadora vertical vs. Ensacadora inclinada. Fontes: <https://goo.gl/oGZhu4> e
<https://goo.gl/ZCTGZR>. Acesso em jul/2017
Retornando ao conceito do sistema de chicane, como a importância relativa da
anelasticidade é maior (22,9%), justamente para não afetar a performance do equipamento,
permitindo que a ensacadora opere dentro da sua cadência nominal de 60 sachês min⁄ , torna-
se relevante sugerir algum material metálico compatível com a indústria alimentícia. De fato, a
53
instantaneidade proporcionada pelos metais na total recuperação material após as deformações
elásticas, em comparação com os efeitos viscoelásticos de resinas poliméricas, é um fator
decisivo para essa sugestão inicial.
Segundo Maceiras (2014), para garantir as condições adequadas de higiene alimentar,
as superfícies em contato com os alimentos precisam ser lisas, impermeáveis, livres de fendas,
trincas e arranhões de modo a evitar o aprisionamento de matéria orgânica nessas
irregularidades. As superfícies devem ainda ser de materiais não-tóxicos, à prova de danos,
resistentes à corrosão, não-absorventes e incapazes de migrar para os produtos alimentícios.
Sendo assim, o material que melhor se enquadra dentro deste rol de características é o aço
inoxidável.
De acordo com Palmetal (2017), a maioria dos contêineres e equipamentos em contato
com alimentos são fabricados com aço inoxidável tipo austenítico 304/316 ou tipo ferrítico 430.
Para condições mais severas de temperatura, acima de 50℃, onde a corrosão sob tensão pode
ser um risco, aços tipo dúplex tais como o 1.4362 ou o 1.4462 são recomendados. O de maior
aceitação por parte das indústrias e pelas agências de vigilância sanitária, pelo seu custo
benefício é o aço inox do tipo austenítico 304 (PALMETAL, 2017), sendo esse material,
portanto, a recomendação básica de projeto, desde que sua geometria atenda à resistência
mínima de flexão exigida para a funcionalidade da operação. Vale salientar que a temperatura
de funcionamento da linha de condicionamento estudada é ambiente (≈ 25℃).
Em paralelo à questão material, no que se refere ao dimensionamento do sistema de
chicane, foram realizados ciclos sucessivos de PDCA para encontrar a melhor forma geométrica
que criasse maiores oportunidades de contato com o produto para reduzir o impacto final do
conjunto de 200g no momento da selagem dos sachês. A partir da ideia inicial de uma rampa
de descida para os biscoitos ou de um tronco de cone no interior do conformador da ensacadora,
nos deparamos com a principal problemática do dimensionamento: os bloqueios de produção
gerados pelos conjuntos de biscoitos impossibilitados de serem condicionados, devido a
inserção de um material fixo no interior de um conformador de diâmetro estreito, de 100mm.
Dessa forma, chegamos ao sistema de chicane, em que o produto colide, de modo
sequencial, com duas placas de material flexível que se deformam elasticamente. As dimensões
adotadas foram as máximas possíveis que permitissem que as placas não criassem algum tipo
de empecilho à queda dos biscoitos (sem interferência entre elas próprias), de modo a não
impactar a performance da linha de condicionamento. O melhor resultado possível de ser
54
encontrado foi o ilustrado na Figura 36. Note que a placa da esquerda está no limiar de interferir
o perfeito funcionamento da placa adjacente.
Figura 36 – Configuração do sistema de chicane acoplado no conformador da ensacadora.
Fonte: O autor
Com as dimensões em mãos e com as placas feitas em resina PU de aplicação
alimentícia, de fácil acesso na unidade de análise, realizamos um novo trabalho de coleta de
amostras nos moldes anteriormente descritos (cf. Apêndices D, E e F) e nas mesmas condições
de produção, garantindo a representatividade da população, a inexistência de outliers e que não
havia correlação entre os dados da amostra. Verificamos que a população de sachês de 200g de
salgadinhos seguiu a distribuição exponencial f(x) = 60,98 ∙ e−60,98∙x − 0,001, de parâmetro
𝜆 = 60,98, valor médio 𝜇 =1
𝜆= 0,0164 = 1,6% e variância 𝜎2 =
1
𝜆2 = 0,0003 = 0,03%, o
que implica em uma redução do percentual de quebra de biscoitos em mais de 87% e uma
redução na variabilidade em mais de 70%. Esse resultado muito satisfatório evidencia o
significativo impacto potencial da solução até aqui projetada para a unidade de análise.
É fundamental separar, no entanto, os resultados garantidos pela inserção de tobogãs
dos resultados obtidos com os testes do projeto básico do sistema de chicane. Um novo trabalho
de amostragem nos moldes do que vem sendo adotado neste texto (Figura 28) foi elaborado
para as configurações com tobogãs (i) e com sistema de chicane e (ii) e sem sistema de chicane.
Encontramos a resposta de que 46,3% da redução de 87% da taxa média de quebra foi associada
aos tobogãs e 53,7%, associada ao sistema de chicane.
Mesmo com a análise dimensional concluída, deve-se ressaltar que se faz necessário um
estudo final de design da solução de chicane, uma vez que a resina plástica utilizada não garante
55
a perenidade do resultado em larga escala. Suas propriedades viscoelásticas e de dureza não
mantêm o estado intacto das placas por mais de um dia completo de produção, gerando margem
para que vestígios de material sejam encontrados nos sachês. Tal estudo foi realizado na seção
seguinte.
4.1.4 Construção do protótipo
No que se refere à elaboração do design final da solução, a construção de um protótipo
virtual se fez presente, no intuito de explorar as análises computacionais estáticas. Utilizando o
CATIA®, vimos que as sugestões de aços inoxidáveis do projeto básico se mostraram inviáveis
tecnicamente (cf. Figura 37). Simulando uma das placas encastrada em uma extremidade e com
a tensão exercida pela força distribuída do peso dos 200g de produto em sua superfície, nota-se
que o deslocamento máximo sofrido é quase desprezível, da ordem de 0,1mm, inviabilizando a
solução. Dessa forma, a utilização de polímeros se torna essencial para o design final do sistema
de chicane.
Figura 37 – Análise estática do protótipo virtual de uma placa chicane com aço 304.
Fonte: O autor
Rodrigues et al. (2014) e Kasther (2017) nos salientam acerca da existência de materiais
poliméricos com características como: boa resistência ao desgaste, atoxicidade, não retenção
56
de cheiros e não transmissão de sabor, aplicáveis no contexto do caso apresentado. São eles:
polietileno tereftalato (PET), polietileno de alta densidade (HDPE), polipropileno
homopolímero (PP Homo) e poliestireno expandido (EPS). Realizando uma análise
comparativa desses materiais com base nas especificações de projeto da Seção 4.1.2, temos que
a principal diferença entre eles está na dureza, afinal o módulo de relaxação é da ordem de
grandeza de 109MPa e o limite de escoamento é da ordem de 100 MPa para todos os quatro
tipos. Dessa forma, conforme indica a Tabela 7, temos que o material de maior dureza é o PET,
com 87 Shore D.
Tabela 7 – Análise comparativa da dureza de diferentes polímeros
Fonte: <https://goo.gl/9FrJME>. Acesso em jul/2017.
Com base no que foi exposto, a análise computacional foi refeita para o protótipo virtual,
desta vez, considerando o PET, cuja dureza excede inclusive a da resina PU utilizada na seção
anterior, em quase 20%. O resultado da Figura 38 demonstra um cenário muito favorável, em
que o deslocamento das placas é expressivo, ultrapassando a projeção máxima de ambas no
interior do conformador, garantindo a ausência de bloqueio de produção por impedimento de
queda de produto.
Figura 38 – Análise estática de deslocamento do sistema chicane em PET. Fonte: O autor
57
Além disso, o resultado da Figura 39 indica que a tensão gerada em ambos os casos é
inferior à resistência à flexão da ordem de grandeza de σ = 15MPa (JQ, 2017).
Figura 39 – Análise estática de tensões do sistema chicane em PET. Fonte: O autor
Sendo assim, conseguimos chegar a uma conclusão final de design para o sistema de
chicane, adotando as mesmas geometrias da seção anterior (retangulares de 775x85mm e
355x85mm) e o material PET, de aplicações alimentícias, resistente à flexão e, principalmente,
de maior dureza possível, visando mitigar o impacto de possíveis vestígios de material serem
encontrados nos sachês de produtos finais. É importante ressaltar que durante a produção-piloto,
é necessário estimar o tempo de vida útil de cada placa no intuito de programar manutenções
preventivas, de modo a não impactar negativamente a garantia de qualidade do produto final.
Retomando a discussão da Seção 3.2 acerca da necessidade de reprodução de protótipos
muito próximos aos produtos/sistemas que serão utilizados em larga escala, com base nas
geometrias retangulares das placas do sistema de chicane de dimensões pequenas (775x85mm
e 355x85mm), podemos concluir que é fundamental que uma reprodução fiel à realidade seja
aplicada para o caso. O custo baixo da implantação do protótipo neste caso, aliado à
inviabilidade técnica de reprodução integral do cenário de condicionamento corroboram o
raciocínio. De fato, a cada sachê, a disposição de biscoitos é totalmente aleatória, sendo
necessário, apenas em nível produção-piloto, verificar a perenidade dos resultados da solução
chicane de taxa média de quebra. Embora seja possível fabricar peças de resina flexível através
58
de tecnologias como a impressão 3D e a estereolitografia, o recomendável é, portanto, fabricar
o protótipo físico utilizando recursos convencionais como pequenas bobinas de material e
equipamentos de corte de alta precisão.
Sendo assim, realizando um cálculo simplificado do retorno das opções técnicas
concorrentes (conjunto tobogãs-chicane e ensacadora inclinada), assumindo como base apenas
a garantia de qualidade do produto final, com baixo percentual médio de quebra, temos o
resultado da Tabela 8. Tomando como base cotações reais que não puderam ser expostas em
anexo, por sigilos de negociação, percebemos a vantagem da prototipagem. No que se refere ao
cálculo de retorno financeiro, apenas levamos em consideração o investimento inicial
necessário, assumindo que o sistema de chicane seria renovado a cada semana, considerando
30 semanas de produção de sachês de 200g de biscoitos por ano, num horizonte de tempo de
10 anos, equivalente à vida útil da nova ensacadora. De fato, o fluxo de caixa gerado nesse
contexto é similar, visto que os percentuais de quebra são pouco destoantes entre si e os
indicadores operacionais de performance e de capacidade nominal de produção de 60
sachês/min puderam ser considerados idênticos.
Outra vantagem da solução de protótipo projetada é o seu tempo de implantação 93,8%
inferior ao de fabricação e instalação de uma nova ensacadora. Vale ressaltar que não foram
considerados, para fins de precisão de cálculos, os investimentos complementares necessários
para alterar todo o sistema de esteiras transportadoras tendo em vista a redução de altura
provocada pela mudança tecnológica.
Tabela 8 – Estudo de alternativas concorrentes para o Caso 1
Fonte: O autor
Com isso, concluímos o trabalho de desenvolvimento de soluções para o problema da
elevada taxa de quebra de biscoitos. Na seção a seguir, discutimos um novo caso.
59
4.2 CASO 2: ADEQUAÇÃO DO TAMANHO DOS SALGADINHOS
Além do problema referente à elevada taxa de quebra de biscoitos nos sachês de 200g,
que afeta diretamente a imagem da unidade de análise, fomos apresentados a outra
problemática. Desta vez, trata-se da linha de biscoitos de maior volume (em termos de unidades
e faturamento) da fábrica em estudo, em que o produto é condicionado em embalagens de
plástico alimentício de formato cilíndrico, com pesagem total de 300g. O fluxo de material
modelado na Figura 40 é um pouco mais elaborado em relação ao apresentado no primeiro caso.
A situação está associada a uma mudança tecnológica que a empresa-caso estava
atravessando há um ano da data de redação desta obra, substituindo todo o maquinário obsoleto
dessa linha de produção (sistema de abastecimento de embalagens, balanças multicabeçote e
empacotadoras de preenchimento volumétrico), de elevada vida útil (superior a quinze anos) e
de elevada carga de manutenção associada (cerca de 30% do tempo total de trabalho dos
técnicos mecânicos e de automação estava associado a intervenções nesses maquinários) por
um sistema de condicionamento de nova geração. Devido a questões de sigilo de investimento,
ao contrário do primeiro caso, não foi possível ter acesso a fotos desse maquinário.
O investimento não se justificou apenas pela obsolescência dos equipamentos antigos,
mas também pela maior produtividade, flexibilidade, pela redução de custo de dois operadores
com a automação de atividades e redistribuição da carga de trabalho para os demais
trabalhadores e também pela elevada precisão que o novo maquinário conferia ao
condicionamento. De fato, segundo os dados técnicos do equipamento novo, a cadência máxima
nominal era 25% superior, sendo a máquina facilmente adaptável ergonomicamente, com
dispositivos de regulagem nominal para outros formatos como os de 100g e 200g.
60
Figura 40 – Fluxograma da linha de produção de tubos de 300g de biscoitos aperitivos.
Fonte: O autor
Justamente a elevada precisão de condicionamento nos levou à segunda motivação desta
obra. A Figura 41 ilustra melhor o problema. Na configuração com o modelo antigo, a
disposição de salgadinhos é totalmente aleatória, preenchendo todo o volume do recipiente com
a quantidade referente a 300g de produto. Isso acontecia graças ao sistema de vibração vertical
da máquina de empacotamento. Após o preenchimento do volume dosado na balança
multicabeçote na embalagem, vibrações verticais sequenciadas ajustavam melhor o
posicionamento dos aperitivos no interior do tubo. É importante notar que essa disposição
aleatória também contribuiu para o investimento em novos equipamentos. A Diretoria
Industrial nos informou adicionalmente acerca de uma perda média de 5g de produto para cada
unidade produzida na planta. De fato, após o preenchimento volumétrico, era possível constatar
61
por meio de observações a queda de biscoitos ao longo do transporte até a inserção da tampa
seladora. Não tivemos acesso às medidas de perda para esse caso. De qualquer forma, isso é
irrelevante para a problemática central aqui discutida.
Figura 41 – Configuração média do tubo com 300g de produto no cenário anterior (esquerda)
e no cenário com o novo maquinário. Fonte: O autor
Os testes com o modelo de nova geração indicaram uma disposição mais organizada e
concentrada, sem aleatoriedades, com biscoitos dispostos harmoniosamente uns sobre os
outros. Esse fenômeno gerou, por consequência, um espaço vazio de altura de 3,5cm em todos
os tubos fabricados, o que foi expressamente condenado pelo setor de Marketing, por questões
estéticas de consumo. Tendo em vista esse novo problema, um diagrama de causa-e-efeito foi
realizado com o apoio da Direção Industrial. Seu resultado final consta na Figura 42.
Figura 42 – Diagrama de causa-e-efeito para o segundo caso. Fonte: O autor
62
Mesmo que tenham sido relevantes os apontamentos nas categorias de Matéria-Prima e
Método, nos baseando em visitas de campo, não foram encontradas alterações nos parâmetros
de fabricação dos produtos, sendo essas causas sugeridas, de validade nula. A mudança
tecnológica no maquinário de condicionamento, contudo, realmente demonstrou ser a causa
raiz do problema.
Tecnicamente, mantendo a nova geração de máquinas de empacotamento, não existe
solução para randomizar a disposição dos biscoitos, como no modelo anterior. Em linhas gerais,
uma sequência de três vibradores pneumáticos associados em série, com efeito longitudinal, é
responsável por agitar as embalagens fazendo com que os biscoitos se posicionem alinhados
horizontalmente. Por mais que a agitação máxima e mínima consiga ser alterada pela dosagem
de ar comprimido inserida nos dispositivos mecânicos, a situação mais favorável deixava um
espaço vazio de altura média de 3,5cm na embalagem, na etapa de testes. Vale salientar que tal
tecnologia de vibrações mecânicas é comum a diversos outros equipamentos de última geração
no que se refere a condicionamento voltado a preenchimento volumétrico, de acordo com as
entrevistas com os engenheiros especialistas. Dessa forma, retornar ao método anterior baseado
em agitações verticais sequenciadas implicaria em não resolver a questão de perda associada
ao formato específico do biscoito aperitivo fabricado pela unidade de análise.
Além disso, embora cogitada, a alteração das dimensões do tubo de 300g foi também
proibida pelo setor de Marketing, uma vez que as dimensões já eram características marcantes
do produto diante dos principais concorrentes há mais de 50 anos no mercado de atuação.
Reduzir o volume significaria, segundo as pesquisas de mercado obtidas com o setor de
Marketing, destruir a unicidade do produto nas gôndolas dos principais varejos, praticamente,
igualando-se à concorrência.
Assim, para resolver o problema, o setor de Engenharia da empresa estudada foi
desafiado a desenvolver novas dimensões para o biscoito aperitivo, garantindo, entretanto, o
mesmo formato (adotado neste texto como de uma elipse) e a mesma massa de 300g por
embalagem de produto. Tal decisão foi alinhada com o departamento de Marketing, que não
agregou tanta importância relativa ao tamanho do biscoito, garantindo, por meio de pesquisas
de mercado que a receita era o principal critério de escolha do cliente final. De fato, foi
constatado um universo de mais de vinte formatos possíveis de biscoitos aperitivos na empresa
estudada, todos eles com a mesma receita de sucesso. A decisão final estava fundamentada na
hipótese de que o cliente identificando o tubo com suas dimensões tradicionais e os biscoitos
nos formatos elípticos que o caracterizavam não iriam alterar sua fidelização.
63
O desafio ainda é mais relevante no contexto de que a técnica de fabricação do biscoito
começa com um processo de desmoldagem da massa do biscoito em um molde cilíndrico de
alto valor agregado. Como não recebemos a autorização de divulgação de imagens desse
processo industrial, resta-nos destacar que o custo de fabricação de um molde cilíndrico no
formato do biscoito é relativamente elevado, da ordem de grandeza 23.600,00 USD, com tempo
de fabricação variando em torno de três a quatro semanas. Sendo assim, a alteração de formato
implica necessariamente na aquisição de um novo molde. Com as limitações de custo e tempo,
uma conduta de testes de tentativa e erro é infactível. Portanto, desenvolver uma solução técnica
com base em uma das diversas técnicas de prototipagem industrial nos parece muito
recomendável.
4.2.1 Da aquisição de conhecimento ao projeto básico
Como a problemática de adequação do tamanho dos salgadinhos é de natureza mais
simples do que a do caso 1, não foi necessária realizar as análises de funcionalidades
emparelhadas e QFD. De fato, para esse caso, há apenas um cliente interessado: o próprio setor
de Marketing, que demanda a eliminação do espaço vazio de 3,5cm, respeitando, porém, o
tamanho dos tubos e a receita da massa de biscoito.
Em se tratando da solução para o problema, é mandatório que o novo conjunto de
biscoitos a ser condicionado nos tubos tenha massa de 300g e formato elíptico, sendo fabricado
a partir do mesmo processo ilustrado no fluxograma da Figura 38.
Sendo assim, o projeto básico de solução envolveu manter a densidade unitária de cada
biscoito, consequentemente reproduzindo a receita de massa, aumentando o volume dos
mesmos a partir da mesma razão de proporção de espaço vazio
tamanho total do tubo=
3,5cm
14cm= 25%, ou seja,
cada dimensão de largura e comprimento seria prolongada 11,8%, visto que 1,1182 ≅ 1,25
com a alteração da massa unitária para ≅ 1,6g.
4.2.2 Construção de protótipo
Em termos de design final, o ponto de partida seria o desenvolvimento de um protótipo
virtual do biscoito (cf. Figuras 43 e 44), para que ele servisse de input para a confecção de um
protótipo físico, por meio da prototipagem rápida, economizando o tempo e o custo de
desenvolvimento da solução. No que se refere à escolha do material de prototipagem rápida, o
recomendável seria algum de densidade mais próxima possível de ρ ≅ 0,27 g cm³⁄ , associada
ao biscoito. De acordo com UFRGS (2017), as recomendações cairiam sobre os polímeros,
64
como o polipropileno (ρ ≅ 0,9 g cm³⁄ ) ou o ABS (ρ ≅ 1,0 g cm³⁄ ). A reprodução física dos
protótipos é fundamental em primeiro lugar para garantir a estimativa de projeto básico, em
termos dimensionais. Num segundo momento, essa escolha se deve pela inviabilidade técnica
em caráter virtual de se reproduzir os fenômenos de vibração do novo equipamento de
condicionamento instalado, fator determinante para se saber o nível de biscoitos.
Figura 43 – Estado inicial dos biscoitos aperitivos usando o CATIA®. Fonte: O autor
Figura 44 – Estado final com volume final 1,5x maior usando o CATIA®. Fonte: O autor
Para o caso do polipropileno, técnicas como a impressão 3D e a estereolitografia podem
ser consideradas, enquanto que para o caso do ABS, a técnica apropriada é a deposição de
material fundido. De um modo geral, segundo levantamentos iniciais, por mais que se tenha
retrabalhos com o dimensionamento e impressão dos biscoitos, a ordem de grandeza de custo
não se assemelha com o custo de um novo molde cilíndrico para fabricação dos aperitivos,
sendo cerca de 2% do investimento.
Por mais que as densidades dos protótipos sejam três vezes maiores do que a do biscoito,
julgamos que o efeito vibratório seja relevante o suficiente para deslocar as peças fabricadas
com precisão. De qualquer modo, em caso de alguma não-conformidade, seguindo a lógica do
ciclo projeto-construção-teste, recomendamos que um centro de usinagem convencional deva
65
ser solicitado para utilizar um material ainda mais específico de densidade similar a dos
biscoitos originais.
Tabela 9 – Estudo de alternativas concorrentes para o Caso 2
Fonte: O autor
Sendo assim, a Tabela 9 busca demonstrar os resultados positivos após o projeto dos
protótipos. Supondo um cenário de confecção de duas alternativas distintas, além da proposta
na Figura 44, de biscoitos em resina plástica, com a reprodução de cerca de 200 itens para um
tubo de 300g, temos que o custo é 99,4% menor do que o de fabricação direta de três moldes
cilíndricos que devem ser descartados. É evidente que para fins de produção-piloto e de larga
escala, torna-se necessário adquirir um molde final segundo as dimensões dos protótipos que
apontarem o melhor resultado estético para a disposição de biscoitos no tubo de 300g.
Outra vantagem adicional nítida da solução com protótipos é o seu tempo de
implantação. No caso descrito, temos que o tempo é 97,1% inferior à alternativa sem protótipos,
graças às técnicas de prototipagem física, que não consideram a fabricação sequenciada de três
moldes cilíndricos distintos entre si.
66
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Com base no que foi descrito nos quatro capítulos acima, podemos dizer que o objetivo
geral deste projeto de graduação foi alcançado. Por mais que não tenhamos como discutir a
vantagem competitiva adquirida pela fábrica de salgadinhos estudada, pelo fato do escopo desta
obra não englobar um estudo estratégico, foi possível verificar a geração de valor que a
construção de protótipos propiciou nos dois casos, com uma economia total de investimentos
da ordem de grandeza de 350.000,00 USD, considerando o potencial alcance de meta de
qualidade de percentual de quebra de biscoitos, frente a um investimento tecnológico de grande
porte, assim como as economias de tempo (de três semanas, no mínimo) e custo de fabricação
de moldes cilíndricos, se utilizássemos uma conduta de testes de tentativa e erro para adequar
o tamanho dos salgadinhos.
Além disso, os objetivos específicos também foram atingidos. Boas práticas de
prototipagem industrial foram descritas e comparadas, mediante um mapeamento sistemático
da literatura. Chegamos à importante conclusão acerca da recomendação de utilização da
prototipagem virtual, em detrimento das técnicas físicas e mistas, em todos os projetos de
inovação, satisfazendo os três critérios básicos de avaliação de modelos: estético, funcional e
ergonômico.
Nos dois casos apresentados, fomos responsáveis pelo desenvolvimento das melhores
soluções técnicas de protótipos tanto para o caso de inovação de arquitetura, que consistia na
modificação do sistema mecânico de uma ensacadora vertical para a redução da taxa de quebra
de biscoitos por meio de um sistema de chicane, como para o caso de inovação incremental, de
adequação do tamanho dos biscoitos para uma incorporação tecnológica, por meio de testes
como modelos oriundos da prototipagem rápida. Nesse momento de aplicação prática, nos
deparamos com o relevante papel do engenheiro de produção no processo de inovação em uma
organização real, gerindo as etapas de aquisição do conhecimento, pesquisa de conceito, projeto
básico, construção de protótipo, produção-piloto e produção em larga escala.
Sendo assim, seguindo a lógica de que quanto mais rápida e eficiente for a técnica de
prototipagem, maior a vantagem competitiva para uma organização, temos a comprovação
prática da relevância da prototipagem industrial no processo de inovação da empresa aqui
estudada.
Como trabalhos futuros dentro do campo da inovação, identificamos algumas
oportunidades ao longo de nossas revisões bibliográficas que merecem ser exploradas pelo seu
potencial. Inicialmente, a partir de Kamrani et al. (2010), destacamos a análise do real impacto
67
da formação de times orientados para o design de produtos em relação ao suporte às diferentes
áreas do processo de inovação, como Engenharia, Produção, Qualidade, Custos, Compras,
Marketing etc.. É interessante validar, por meio de casos práticos, se a discussão aberta
promovida por esses times resulta ou não em novos produtos/sistemas de melhor qualidade, que
trazem maior satisfação ao consumidor e cujos processos de produção sejam mais eficientes.
Outro ponto adicional a destacar é a utilização do data mining para a descoberta de
novos padrões inesperados a partir de bases de dados gigantes (big data). Seria pertinente
investigar, em termos práticos, os ganhos reais para as organizações com o uso dessa técnica,
que consiste na agregação e organização de dados, encontrando padrões específicos e/ou
anomalias, principalmente no que se refere à melhor identificação das necessidades do
consumidor e o aprimoramento do desempenho interno entre as diversas funções
organizacionais no desenvolvimento de inovações.
Finalmente, seguindo Elverum et al. (2016) e Gartzen et al. (2016), poderia ser avaliada
também a construção de protótipos no contexto de design thinking e de métodos ágeis de
desenvolvimento de projetos, como o Scrum, fundamentado em ciclos contínuos de interação
e de feedbacks de clientes. Ou seja, em um cenário diferente do processo de inovação comum,
como o que foi estudado neste texto, iniciando com a aquisição de conhecimento e finalizando
com a implantação da inovação numa produção de larga escala, seria pertinente investigar como
os protótipos poderiam, de fato, contribuir para a rapidez de lançamento de novos
produtos/sistemas a partir de novas ferramentas de gestão.
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APÊNDICES
APÊNDICE A – RESULTADO DO DISPOSITIVO ALEATÓRIO UTILIZADO PARA
FINS DE AMOSTRAGEM CASUAL SIMPLES
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APÊNDICE B – DADOS AMOSTRAIS PARA O PRIMEIRO CASO DE APLICAÇÃO
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APÊNDICE C – PÁ METÁLICA UTILIZADA PARA AMOSTRAGEM DE PRODUTOS
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APÊNDICE D – NOVO RESULTADO DO DISPOSITIVO ALEATÓRIO UTILIZADO
PARA FINS DE AMOSTRAGEM CASUAL SIMPLES (TESTES DO SISTEMA DE
TOBOGÃS E DO SISTEMA DE CHICANE)
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APÊNDICE E – DADOS AMOSTRAIS APÓS OS TESTES DE TOBOGÃS E DO SISTEMA DE CHICANE
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APÊNDICE F – VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DOS DADOS AMOSTRAIS DOS TESTES
DE TOBOGÃS E DO SISTEMA DE CHICANE
1º) Teste de outliers: Foi identificado um outlier, correspondente ao valor de 8,0%, atribuído
provavelmente a um erro na coleta de dados devido ao levantamento de dados manual. Com a
eliminação desse outlier, Gcalculado = 3,29 > Gtabelado = 3,21 para um nível de significância
de 5%, validando o fato de que a nova série de dados não contém qualquer outlier.
2º) Teste de correlação: Utilizando o Minitab®, verificamos a partir da estatística de Pearson
r = 0,225(≅ 0) que os dados amostrais não são correlacionados.
3º) Ajuste estatístico: Utilizando o ARENA®, verificamos que a distribuição que melhor se
ajusta aos dados amostrais é a exponencial de constante C = −0,001 e taxa de falha λ =
0,0164. Aplicando o teste qui-quadrado com nível de significância de 5,0%, temos que
χ2calculado = 3,4 < χ2
teórico = 5,9, e, portanto, o modelo da distribuição f(x) = 60,98 ∙
e−60,98∙x − 0,001 é adequado para representar a distribuição da população.
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