INOVAÇÃO NO SERVIÇO PÚBLICO ATRAVÉS DE DADOS ABERTOS
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INOVAÇÃO NO SERVIÇO PÚBLICO ATRAVÉS DE DADOS ABERTOS: UM
ESTUDO DE CASO DO BUUS
André Tadashi Eurico Ikeda
Projeto de Conclusão de Curso de
Graduação em Engenharia de Computação e
Informação da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Engenheiro.
Orientador: Marcos Cavalcanti
Rio de Janeiro
Março 2015
i
INOVAÇÃO NO SERVIÇO PÚBLICO ATRAVÉS DE DADOS ABERTOS: UM
ESTUDO DE CASO DO BUUS
André Tadashi Eurico Ikeda
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO
DE ENGENHARIA DE COMPUTAÇÃO E INFORMAÇÃO DA ESCOLA
POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
ENGENHEIRO DE COMPUTAÇÃO E INFORMAÇÃO.
Examinada por:
Prof. Marcos Cavalcanti, D.Sc.
Prof. Aloysio de Castro Pinto Pedroza, D.Sc.
Eng. Warner Gijs Vonk, M.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
MARÇO DE 2015
ii
Ikeda, André Tadashi Eurico
Inovação no Serviço Público através de Dados Abertos:
Um Estudo de Caso do Buus / André Tadashi Eurico
Ikeda. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.
XI, 52 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Marcos Cavalcanti
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/
Curso de Engenharia de Computação e Informação, 2015.
Referências Bibliográficas: p.48-50.
1. Dados abertos governamentais. 2. Serviço Público.
3. Modelo de Negócios. 4. Estudo de Caso. 4. Buus. I
Cavalcanti, Marcos. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de
Computação e Informação. III. Título.
iii
Aos cidadãos de boa vontade
que observam, pensam e repensam
a cidade que os cerca.
iv
Agradecimentos
Aos meus pais e irmão por todo o amor.
À Ludmila pelo imenso carinho, apoio e companheirismo.
Ao Leozinho que trouxe mais alegria à minha vida.
Aos meus amigos da eletrônica e da computação pelo companheirismo.
Aos meus amigos e sócios Warner e Tilman pelo trabalho conjunto, inúmeras
discussões e vivências nas quais pude absorver um pouco de visões, análises e
experiências, que muito fizeram amadurecer meu pensamento.
Aos professores que mais que ensinam, inspiraram, Marcos Cavalcanti e Henrique
Cukierman.
À inconformidade, à inquietude, à vontade de mudança, à esperança e a Computação,
que dão movimento à minha vida.
À música e à dança.
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Computação e
Informação e Informação
INOVAÇÃO NO SERVIÇO PÚBLICO ATRAVÉS DE DADOS ABERTOS: UM
ESTUDO DE CASO DO BUUS
André Tadashi Eurico Ikeda
Março/2015
Orientador: Marcos Cavalcanti
Curso: Engenharia de Computação e Informação
Vivemos um momento onde a participação da sociedade ganha destaque indo além da
votação de representantes nos rituais eleitorais democráticos. A ideia de dados
abertos a nível governamental, propõe a diminuição de barreiras para que indivíduos
e organizações atuem em conjunto com a administração pública, produzindo algo de
valor para a sociedade, seja através da utilização desses dados para aumentar a
transparência, facilitando a accountability, na melhoria na prestação dos serviços
públicos e até mesmo na criação de empregos, dentre outras maneiras.
Este trabalho tem como objetivo apontar evidências do uso de dados abertos
governamentais no Brasil, analisando o caso específico do Buus - um serviço de
informação para o usuário do transporte público no Rio de Janeiro. A perspectiva
econômica da iniciativa é alvo de destaque. Para tal, o conceito de modelos de
negócios adaptados para os casos onde estão presentes, de alguma forma, dados
produzidos, coletados e armazenados pelo setor público, será explicado e utilizado
como ferramenta para análise do caso.
Palavras-chave: dados abertos, dados abertos governamentais, inovação, modelos de
negócio, serviço público.
vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as partial fulfillment of
the requirements for the degree of Engineer.
FOSTERING PUBLIC SERVICE INNOVATION BY OPEN DATA: CASE STUDY
OF BUUS – AN INFORMATION SYSTEM FOR PUBLIC TRANSPORTATION
IN RIO DE JANEIRO, BRAZIL
André Tadashi Eurico Ikeda
March/2015
Advisor: Marcos Cavalcanti
Major: Computer and Information Engineering
We’re living a moment that people are empowered by technology and the relationship
between government and citizen goes beyond democratic elections. The open
government data concept decreases barriers for individuals and third party
organizations to work together with public sector in delivering value for society
through transparency, fostering accountability, public services improvement and also
creating new jobs.
This work aims to provide evidences of open government data usage, in a
study case of Buus – a public transit information service in Rio de Janeiro, Brazil –
using the Business Model Canvas and also a framework proposed by Osella & Ferro
(2012) for analyzing business models where open government data are present.
Keywords: Open data, open government data, innovation, business models, public
service.
vii
Sumário
Agradecimentos ........................................................................................................... iv
Sumário ...................................................................................................................... vii
Lista de Figuras ........................................................................................................... ix
Lista de Tabelas ........................................................................................................... x
Lista de Siglas .............................................................................................................. xi
Capítulo 1 Introdução ................................................................................................ 1 Estrutura e Metodologia ..................................................................................................... 1 Objetivos ............................................................................................................................... 2
Capítulo 2 Conceitos .................................................................................................... 3 Public Sector Information .................................................................................................. 3 Dados Abertos ...................................................................................................................... 4 Dados Abertos Governamentais (DAG) ............................................................................ 5
Direito ............................................................................................................................... 7 Movimento ........................................................................................................................ 8 Política ............................................................................................................................... 8 Mercado ............................................................................................................................. 9
Capítulo 3 Impactos dos Dados Abertos Governamentais ..................................... 10 Na Transparência e Accountability .................................................................................. 10 No Serviço Público ............................................................................................................. 11 Na Economia ...................................................................................................................... 13
Capítulo 4 O Impacto Econômico ............................................................................ 15 Modelo de Negócios ........................................................................................................... 16 Modelo de Negócios de Osterwalder e Pigneur .............................................................. 16
Segmentos de Clientes .................................................................................................... 17 Proposta de valor ............................................................................................................. 17 Canais .............................................................................................................................. 17 Canais de Relacionamento .............................................................................................. 17 Fontes de Receita ............................................................................................................ 18 Recursos-chave ............................................................................................................... 18 Atividades-chave ............................................................................................................. 18
viii
Parcerias-Chave ............................................................................................................... 18 Estrutura de Custo ........................................................................................................... 19
Modelo de Negócios para Dados Abertos Governamentais ........................................... 19 Arquétipos de Modelos de Negócios para Dados Abertos ............................................. 22
Produto ou serviço Premium ........................................................................................... 22 Produto ou serviço Freemium ......................................................................................... 22 Open Source like ............................................................................................................. 22 Infrastructural Razor & Blades ....................................................................................... 22 Demand-Oriented Plataform ........................................................................................... 23 Supply-Oriented Platform ............................................................................................... 23 Free as Branded Advertising ........................................................................................... 23 White-Label Development .............................................................................................. 23
Capítulo 5 Estudo de Caso: Buus – Serviço de Informação para o Transporte Público ......................................................................................................................... 25
1a Fase - Buus: Passageiros Unidos .................................................................................. 25 Desafio Rio Apps ............................................................................................................ 25 O Aplicativo .................................................................................................................... 27 Abordagem Colaborativa ................................................................................................ 28 Resultados ....................................................................................................................... 29 Modelo de Negócios ....................................................................................................... 32
2a Fase ................................................................................................................................. 33 Capital de Risco .............................................................................................................. 34 Primeiro Cliente .............................................................................................................. 37 Outros serviços ................................................................................................................ 43 Resultados ....................................................................................................................... 44 Estágio Atual ................................................................................................................... 47
Capítulo 6 Considerações Finais .............................................................................. 48
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 50
ix
Lista de Figuras
Figura 1 Diagrama que retrata classificações e relações dos conceitos de dados
abertos, dados abertos governamentais e informação pública. .............................. 5
Figura 2 Canvas do modelo de negócios de Ostwalder & Pigneur (2003) .................. 16
Figura 3 Aspectos destacados do framework de Ferro & Osella (2012) sobre o canvas
de Osterwalder & Pigneur (2003). Fonte: Ferro & Osella, 2012, p. 2. ................ 20
Figura 4 Metáfora visual dos blocos destacados por Ferro & Osella (2012). Fonte:
Ferro & Osella, 2012, p. 3. ................................................................................... 21
Figura 5 Primeira tela do aplicativo reunindo as posições e lotações dos últimos
ônibus informados. E tela com detalhamento da posição de um veículo no mapa.
.............................................................................................................................. 28
Figura 6 Lista de ocorrências viárias fornecida pela API da prefeitura do Rio e
detalhamento de uma ocorrência com sua contextualização em um mapa. ......... 29
Figura 7 Localização dos ônibus informadas pelos usuários na versão colaborativa do
Buus. .................................................................................................................... 30
Figura 8 Tela inicial da primeira versão do Buus utilizando dados abertos da
Prefeitura do Rio .................................................................................................. 42
Figura 9 Contextualização dos ônibus localizados através da API aberta de GPS no
Buus. .................................................................................................................... 42
Figura 10 Lista de linhas que passam em um ponto de ônibus obtida através de
convênio com a Fetranspor .................................................................................. 42
Figura 11 Amostra de localidades de onde o aplicativo foi utilizado no Rio de Janeiro.
.............................................................................................................................. 45
Figura 12 Amostra de localidades onde o aplicativo foi utilizado em São Paulo ........ 45
Figura 13 Usuário reconhecendo utilidade no aplicativo baseado em dados abertos. O
ponto circular azul representa a posição do usuário, e o marcador com o símbolo
do ônibus, a posição do veículo. .......................................................................... 46
x
Lista de Tabelas
Tabela 1 Classificação de bases de dados abertas segundo a escala das 5 estrelas de
Berners-Lee (2010) ................................................................................................ 4
Tabela 2 Relação dos vencedores no concurso Rio Apps 2012 ................................... 26
Tabela 3 Canvas do primeiro modelo de negócios do Buus. ....................................... 32
Tabela 4 Classificação do primeiro modelo de negócios do Buus utilizando o modelo
de Ferro & Osella (2012) ..................................................................................... 33
Tabela 5 Canvas do segundo modelo de negócio do Buus .......................................... 35
Tabela 6 Classificação do segundo modelo de negócios do Buus utilizando o
framework de Ferro & Osella (2012) ................................................................... 36
Tabela 7 Canvas do terceiro modelo de negócios do Buus ......................................... 39
Tabela 8 Classificação do terceiro modelo de negócios do Buus utilizando o
framework de Ferro & Osella (2012) ................................................................... 40
Tabela 9 Canvas do quarto modelo de negócios do Buus ........................................... 43
Tabela 10 Classificação da quarta versão do modelo de negócios utilizando o
framework de Ferro & Osella (2012) ................................................................... 44
xi
Lista de Siglas
API – Application Programming Interface
CDO – Chief Data Officer
CSV – Comma Separated Value
DAG – Dados Abertos Governamentais
RTF – Rich Text Format
ETA – Estimated Time of Arrival
GPS – Global Positioning System
IPLAN – Empresa Municipal de Informática da Cidade do Rio de Janeiro
LAI – Lei de Acesso à Informação
OD – Open Definition
ODI – Open Data Institute
OG – Open Government
OGP – Open Government Partnership
ONU – Organização das Nações Unidas
PDF – Portable Document Format
PSI – Public Sector Information
RAR – Roshal Archive
SMS – Short Message Service
SPTrans – São Paulo Transporte
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
URI – Uniform Resource Identifier
1
Capítulo 1
Introdução
O cidadão muitas vezes angustiado com a qualidade dos serviços públicos prestados
pelo Estado, estouros de escândalos de corrupção, ou insatisfação com a situação
econômica, sai às ruas para pedir mudança. Ir às ruas é fundamental, mas hoje
também é possível contribuir de outras maneiras.
Vivemos um momento onde a participação da sociedade ganha destaque indo
além da votação de representantes nos rituais eleitorais democráticos. A ideia de
dados abertos governamentais (DAG), propõe a diminuição de barreiras para que
indivíduos e organizações atuem em conjunto com a administração pública,
produzindo algo de valor para a sociedade, seja através da utilização desses dados
para aumentar a transparência, facilitando a accountability, a melhoria na prestação
dos serviços públicos e até mesmo na criação de empregos, dentre outras maneiras.
A ideia de DAG envolve a disponibilização de todo o tipo de dado que esteja
em posse do poder público. Porém, lançando mão das conveniências e benefícios das
tecnologias de comunicação e informação. Isso cria condições para que os dados
sejam amplamente difundidos e que o cidadão se aproprie da maneira como bem
entender. Muitos estudos (Bonina, 2013; Davies, 2013; Ferro & Osella, 2012; Fioretti,
2010; Heusser, 2012; Stott, 2014, Vickery, 2011) vêm se dedicando a compreender e
medir as consequências dessas apropriações no contexto socioeconômico, algo que
também será feito neste trabalho, no estudo de caso do Buus - uma ferramenta que
auxilia usuários do transporte público.
Estrutura e Metodologia
Nos próximos capítulos iremos discorrer sobre alguns conceitos fundamentais e
refletir sobre o impactos na transparência, accountability, nos serviços públicos e na
2
economia. Posteriormente apresentaremos o método proposto por Osterwalder &
Pigneur (2003), o Business Model Canvas, que foi adaptado por Ferro & Osella
(2012) para o contexto onde estão presentes os DAG, com o objetivo de desenvolver
um entendimento de forma sucinta, sobre empreendimentos baseados em dados
públicos. Por fim, utilizando as ferramentas apresentadas, iremos aplicá-las a
observação feita do Buus, uma empresa oriunda do Rio de Janeiro, que desenvolve
produtos voltados para o setor de transporte público e o cidadão dependente dele.
Objetivos
Os objetivos neste trabalho são, (1) apontar evidências de como a publicação dos
dados de GPS da frota de ônibus do Rio de Janeiro impactou um negócio e sustentou
uma inovação no serviço público, e (2) fornecer material para consultas futuras,
através da documentação de fatos ocorridos na história do Buus, dando a chance dos
leitores desenvolverem um entendimento próprio do papel dos DAG no
empreendimento em si, bem como suas consequências para o ambiente externo à
empresa. O segundo objetivo conta ainda com a observação de que o autor deste
trabalho é um dos responsáveis pela criação do Buus, sendo possível assim, fazer
relatos detalhados e sem ruídos de intermediários.
3
Capítulo 2 Conceitos
Public Sector Information
Public Sector Information (PSI) ou apenas “informação pública”, se refere a todo o
tipo de dado coletado, armazenado ou produzido pelas instituições públicas. De fato,
governos figuram entre os maiores produtores de dados, e fazem isso para dar suporte
às suas políticas e operações (Stott, 2014).
Bases de dados demográficos, econômicos, meteorológicos, documentos
históricos, mapas e outros geo-espaciais, por exemplo, muitas vezes têm o governo
como uma de suas poucas fontes. E em uma economia onde o principal fator
produtivo é o conhecimento, e o dado como elemento fundamental da construção do
mesmo, tais bases assumem uma papel-chave na construção de novos produtos e
serviços que os exploram economicamente, gerando valor. (Vickery, 2011)
Indo além da perspectiva econômica, eles também se tornam importantes para
a compreensão das atividades públicas, e quando disponibilizados à população,
contribuem para o processo de transparência e accountability. Efeitos sobre a
qualidade dos serviços públicos também podem ser observados. (Heusser, 2010)
Graças ao processo de digitalização das coisas e os benefícios causados pelas
tecnologias de informação e comunicação (TIC), em destaque a internet e a web, a
difusão de informação pública ocorre a um custo de distribuição marginal igual a
zero, permitindo que mais pessoas tenham acesso e de forma mais fácil, estimulando
novos usos, inclusive diferentes daqueles exercidos pelo governo e que serviram de
motivação inicial para a sua aquisição. (Stott, 2014)
Reconhecendo o valor dessas informações, conceitos como dados abertos,
dados abertos governamentais (DAG) e governo aberto (open government) foram
desenvolvidos e vêm sendo difundidos globalmente pela sociedade civil e os próprios
governos. A Open Government Partnership (OGP), que surgiu dentro da ONU, é um
exemplo desse movimento à nível global.
4
Dados Abertos
Vamos iniciar a discussão do papel dos dados abertos governamentais, conceituando
primeiramente, o que são dados abertos. Segundo o Open Data Institute (ODI), dados
abertos ou open data são os dados que estão disponibilizados por organizações,
empresas e indivíduos para que qualquer um acesse, utilize e os compartilhe. Sobre o
aspecto da utilização, a ODI ainda diz que eles necessitam ser licenciados de tal forma
a dar garantias ao seu reutilizador. A Open Definition (OD) em sua versão 2.0, ainda caracteriza os aspectos de
acessibilidade, reuso e compartilhamento, citados pela ODI, além de outros princípios
que envolvem a questão da abertura de dados. Sobre o acesso, diz a OD, ele deve ser gratuito ou poderá ser cobrado apenas
pelo custo de reprodução envolvido e disponibilizado, preferencialmente, através da
internet sem quaisquer cobranças adicionais. O formato sob qual os dados estarão
disponíveis, também deve ser aberto, permitindo que sejam facilmente manipulados
via máquina, o que não ocorre quando formatos proprietários (ex: DOC, RTF, RAR)
estão envolvidos e cujas licenças contradizem os princípios declarados na Open
Definition. Sobre o uso, ele deve ser livre, a redistribuição ou compartilhamento deve ser
permitida, incluindo sua venda e sua modificação, permitindo a transformação do
conjunto de dados iniciais em derivados, que também devem estar sob os mesmos
termos de licenciamento que os originais.
Encontrar conjuntos de dados que cumprem estritamente os requisitos
publicados pela OD, pode ser desafiador. Para conferir flexibilidade na avaliação se
um dado é aberto ou não, e diagnosticar a situação das bases de dados existentes,
Berners-Lee (2010) propôs uma escala que indica graus de abertura conhecida como
“escala das 5 estrelas”.
Tabela 1 Classificação de bases de dados abertas segundo a escala das 5 estrelas de Berners-Lee (2010)
Quantidade de
Estrelas
Característica
5
* Dados disponíveis na Web, independente do formato, porém sob alguma
licença aberta. Ex: Uma imagem JPEG de um contrato de licitação.
** Dados disponíveis de alguma forma estruturada. Ex: O contrato de
licitação em um documento Word.
*** Uso de formatos não proprietários. Ex: Relação de empresas que
contratadas em um arquivo CSV (Comma Separated Value) em vez de
um um DOC.
**** Uso de URIs (Uniform Resource Identifier) para identificação dos dados.
***** Links para outra fonte de dados ou informação de tal forma a fornecer
contexto aos dados publicados.
Dados Abertos Governamentais (DAG)
Figura 1 Diagrama que retrata classificações e relações dos conceitos de dados abertos, dados abertos
governamentais e informação pública.
Embora a definição de dados abertos não faça restrição quanto a sua origem, oito
princípios para a abertura de dados que se encontram sob posse de governos, foram
elaborados em dezembro de 2007 por um grupo de trabalho, o Open Government
Working Group, coordenado por Carl Malumad e Tim O’Reilly, com a finalidade de
6
tornar explícita sua visão sobre dados abertos governamentais e suas propriedades. Ao
longo tempo, esses princípios sofreram modificações e hoje difundem a ideia que eles
devem ser (tradução nossa):
1. Completos – Todo dado público deve estar disponível. Um dado público é aquele
que não está sujeito a restrições de privacidade, segurança e controle de
acesso. Esse dado público precisa existir de forma eletrônica para estar sujeito
aos princípios formulados.
2. Primários – Os dados devem ser disponibilizados no maior nível de
granularidade possível, evitando agregações ou formas modificadas.
3. Atualizados – Os dados devem ser disponibilizados tão logo produzidos para
manter sua atualidade e preservar seu valor.
4. Acessíveis – Os dados devem estar disponíveis para todos e para qualquer
finalidade em seu uso;
5. Processáveis por máquina – Os dados devem estar estruturados de maneira a
permitir sua leitura automatizada por algoritmos.
6. Acesso não discriminatório – Devem estar disponibilizados para todos não
havendo exigência de registro prévio e qualquer mecanismo de autenticação e
autorização. O acesso anônimo deve ser permitido.
7. Não-proprietário – Não deve ser utilizado nenhum formato proprietário na
representação das bases de dados.
8. Livre de licenças – Os dados não estão sujeitos a restrições de direitos autorais,
patentes, marcas ou segredo industrial. Algumas restrições de privacidade,
segurança e controle de acesso podem ser permitidas desde que reguladas por
estatutos.
Além das definições e princípios, outras perspectivas podem ser lançadas sobre os
dados abertos governamentais. Heusser (2012) expõe quatro interpretações sob as
7
quais são possíveis entendê-los: como um direito, um movimento, uma política e um
mercado.
Direito
É possível enxergar os DAG como uma evolução das leis de acesso a informação, que
datam antes mesmo do início da era digital. O primeiro ato legislativo que garante o
direito da imprensa e o direito de acesso a informação que está sob o poder público,
foi registrado na Suécia em 1766 no “Freedom of Writing and of the Press”.
Posteriormente, Finlândia (1951) e Estados Unidos (1966) criaram suas leis de acesso
à informação. Hoje encontra-se referência ao direito de acesso à informação na carta
de Direitos Humanos (artigo 19), de forma bem abrangente:
“Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.
(Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 19)
Além da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção (artigo 10 e 13) e a
Declaração Interamericana de Princípios de Liberdade de Expressão (item 4) serem
mais específicas:
“Cada Estado-parte deverá (...) tomar as medidas necessárias para aumentar a
transparência em sua administração pública (...) procedimentos ou regulamentos que
permitam aos membros do público em geral obter (...) informações sobre a
organização, funcionamento e processos decisórios de sua administração pública
(...)” (Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, artigos 10 e 13)
“O acesso à informação mantida pelo Estado constitui um direito fundamental de
“todo o indivíduo. Os Estados têm obrigações de garantir o pleno exercício desse
direito” (Declaração Interamericana de Princípios de Liberdade de Expressão, item 4)
8
No Brasil, a Lei de Acesso à Informação (LAI), foi sancionada no ano de 2011,
regulamentando o acesso à informação pública e estabelecendo procedimentos
administrativos para o atendimento de pedidos de informação pelo cidadão. A partir
dessa perspectiva, o acesso à informação é um direito do cidadão, e informações
públicas devem ser disponibilizadas à exceção de casos previstos em lei. O acesso é a
regra e o sigilo, a exceção.
Movimento
Acadêmicos, ativistas, hackers-cívicos, ONGs, o setor privado e até mesmo o poder
público, dentre outros atores, têm agido para promover o ato de se publicar online
dados brutos sob posse da administração pública. Eventos comemorativos como Open
Data Day, hackathons, concursos de inovação aberta e o surgimento de aplicativos
voltados para o cidadão, que abrangem as mais variadas temáticas, são reflexos desse
movimento em torno da ideia de dados abertos. Um exemplo de movimento, partindo
de governos e a nível global, é o Open Government Partnership (OGP), liderado pelo
Brasil e Estados Unidos, que surgiu dentro da ONU em 2011 e que até o início de
2015, contava com mais de 65 países adeptos. A missão e objetivo da OGP é
promover a abertura de governos, ampliando a transparência de suas atividades, a
accountability e tornando mais efetivo o atendimento aos cidadãos (Open
Government Partnership, 2015). Para que isso seja cumprido, a Open Government
Declaration (2011), endossada por todos os países participantes, define alguns
compromissos de forma genérica, como: o aumento na disponibilidade de
informações acerca das atividades governamentais, o estímulo à participação da
sociedade civil nas decisões de governo, e a adoção de novas tecnologias que
permitam ampliar o acesso às informações em guarda da administração pública.
Política
Quando os DAG são vistos como algo essencial à democracia e seus benefícios são
reconhecidos, fazendo parte da agenda política de candidatos ao executivo ou
compromisso de quem já está no poder, ele assume a forma política. Um dos
exemplos mais conhecidos é o do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e a
9
sua Open Government Directive (2009). Em memorando enviado às agências do
poder executivo, Obama inicia da seguinte forma:
“My administration is committed to creating an unprecedent level of opennes in
government. We will work together to ensure the public trust and establish a system
of transparency, public participation, and collaboration. Opennes will strengthen our
democracy and promote efficiency and effectiveness in Government” (Obama, 2009)
Nela pode-se observar três princípios que nortearão sua política de abertura:
transparência, participação e colaboração.
Mercado
Enxergar os dados governamentais abertos como um mercado, significa reconhecer
sua utilidade como recurso-chave no desenvolvimento de novos produtos ou serviços.
Dessa maneira, produz impactos sobre a economia, sendo responsável pelo
surgimento de novas empresas, criação de novos empregos, aumento na arrecadação e
outros efeitos diretos e indiretos. O potencial econômico dos dados produzidos,
coletados e armazenados pelo poder público, que nem sempre são abertos, tem sido
alvo de diversos estudos (PIRA, 2000, MEPSIR, 2006). Em 2000, em estudo
patrocinado pela União Europeia, avaliou-se que os gastos de governos no continente
para a coleta dessas bases, e a riqueza gerada a partir da exploração de tais dados,
atingiram 68 bilhões de euros, sendo 36 bilhões referentes a exploração de dados geo-
espaciais (PIRA, 2000). Em 2006, outros estudo para a União Europeia e Noruega,
estimou um valor médio de 27.6 bilhões, mínimo de 10 bilhões e máximo de 46,5
bilhões de euros (MEPSIR, 2006).
10
Capítulo 3 Impactos dos Dados Abertos Governamentais
Os possíveis desdobramentos que surgem a partir a reutilização dos DAG é motivo de
diversas investigações. Uma onda de empolgação anuncia potenciais benefícios
sociais e econômicos, porém ainda é reconhecido que os dados abertos estão ainda em
sua infância, apesar também de constatar-se que políticas de DAG estão se
disseminando rapidamente pelo mundo (Davies, Perini & Alonso 2013).
Transparência, accountability, melhoria nos serviços públicos e crescimento
econômico são frequentemente listados e identificados em estudos de caso sobre o
uso desses dados. Neste capítulo, através das ideias de Heusser (2012), vamos
entender o porquê os DAG podem contribuir para as ideias listadas.
Na Transparência e Accountability
Transparência e accountability são dois conceitos distintos. Porém, para que se
melhore a accountability é preciso transparência. Transparência, da perspectiva
política, pode ser entendida como qualquer iniciativa cujo objetivo é expor
informações ou processos em domínio público, e que antes permaneciam inacessíveis
debaixo guarda da administração pública (Joshi, 2011). Accountability, que é um
conceito sem equivalente em um único termo em português (Pinho & Sacramento,
2009), segundo Campos (1990) e a partir de Frederich Mosher (Democracy and the
public service), é apontado como significado de “responsabilidade objetiva” e
“prestação de contas”. No âmbito público, segundo Santos & Cardoso (2001),
comunica a ideia de:
11
“(...) ‘responsabilização’ dos agentes políticos, dirigentes e servidores públicos pelo
resultado de sua gestão, perante os atores sociais e políticos aos quais prestam
contas” (Quirck, 1997 apud Santos & Cardoso, 2001)
Dessa forma, entendemos que quanto maior o acesso às informações públicas, maior
o grau de transparência, e maiores as chances de que a sociedade acompanhe as
iniciativas do poder público e as fiscalize.
Diante da própria definição e princípios dos DAG, que demanda a
disponibilização de dados em formato compreensível por máquina, de maneira ampla
e para uso livre, além de ressaltar a necessidade de manter os dados publicados
atualizados, é evidente que a implementação de uma política de abertura leve a
necessidade dos órgãos públicos de tomar ações de transparência para o cumprimento
do seu objetivo. O que não necessariamente aumenta, automaticamente, a
accountability. A ideia de accountability está ligada a ideia de transparência, de tal
maneira que uma pessoa ou organização, somente pode ser responsabilizada caso
exista informação disponível para ser analisada. O acesso a informação é uma
condição necessária, porém não suficiente. É necessário também a ação ou ato de se
fiscalizar e cobrar pelos resultados obtidos.
No Serviço Público
Um serviço público possui um propósito específico, de interesse coletivo, que
justifica a atenção dada pelas autoridade públicas. Ele pode ser prestado por alguma
entidade pública ou por iniciativas voluntárias e pelo setor privado contratado pela
administração pública sob forma de terceirização (Thenint, 2010).
Heusser (2012) indaga de que forma os DAG podem contribuir para melhoria
dos serviços públicos. Para tal, ele parte das ideias de eficiência e efetividade,
verificando como uma política de abertura de dados ajuda a perseguir essas duas
qualidades.
Antes mesmo da eficiência e efetividade, a implementação de uma política de
DAG promove mudanças em procedimentos internos. Para se alcançar a reconhecida
abertura, é necessário antes, revisar os processos internos de gerenciamento de
informação. A produção, coleta, armazenamento e distribuição dos dados de forma
12
padronizada e em conformidade com as definições e princípios da Open Definition e
Open Government Declaration, já representam em si um desafio à burocracia
(Heusser, 2012). Tal desafio pode motivar até a revisão na estrutura do funcionalismo
público. Em 2013, mesmo já possuindo uma política de abertura de dados desde 2009,
a prefeitura de São Francisco (Califórnia, EUA), revisou sua legislação de dados
abertos e criou um novo cargo chamado Chief Data Officer (CDO). Essa pessoa seria
responsável em liderar a criação de uma estratégia de abertura de dados, de tal forma
a fomentar o reuso de informações públicas entre departamentos distintos, inclusive,
para tomada de decisão, além da própria sociedade. Além disso, definiu que todos os
departamentos da cidade deveriam ter um “coordenador de dados” para atuar em
conjunto com o CDO.
“Goal 5: Support increased use of data in decision-making. Once data is available, we need to
use it. Open data already supports a broad range of external users. But it can also better
support internal use of data and enabling new means of displaying and communication data.
We need to match the avilability of data with the capacity to use data, both in termos of
people and technology.” (CITY & COUNTY OF SAN FRANCISCO, 2014)
A partir dessa infraestrutura estabelecida (custo fixo elevado), a eficiência
acontece uma vez que o custo para que informações sejam trocadas, seja intra-
governo ou entre governo e entidades externas, é reduzido. Quando digitalizados, o
custo marginal de distribuição de informações pública se reduz aos bytes transferidos
de um local para o outro, ou seja, pode ser considerado zero (Pollock, 2008) . Já na
xerox ou impressão em papel, custos de outra natureza incorrem sobre cada cópia.
Outra dimensão da eficiência, ainda segundo Heusser (2012), é o aspecto do
tempo. Ferramentas de software, facilitam e agilizam a busca e recuperação de
informação, reduzindo o tempo empregado nesse tipo de atividade. Além disso, a
utilização de padrões abertos, ou seja, não-proprietários, para a representação dos
dados faz com que a integração entre sistemas heterogêneos, ocorra de forma mais
natural, pois são formatos amplamente conhecidos e sobre os quais não incidem
custos oriundos de propriedade intelectual.
Sobre a efetividade, ao se instalar uma política de abertura de dados, tornando-
os acessíveis para qualquer fim e sem custos, damos a chance à terceiros de fazerem
usos diferentes daqueles imaginados inicialmente pela administração pública que
13
serviram de justificativa para investimento em sua captura. A ideia baseada num
pensamento economicamente liberal, é que as agências governamentais não são
totalmente eficazes em identificar demandas sociais e endereça-las (Heusser, 2012). E
ninguém melhor que o próprio cidadão ou organização, que conhece a si mesmo e
suas necessidades, para se auto-organizar e elaborar uma solução para os problemas
vividos. Em contraposição ao planejamento top-down quando o debate e decisões são
realizados por um pequeno grupo de gestores, a abordagem bottom-up retrata
idealmente, uma mobilização espontânea da própria sociedade, desenvolvendo novos
produtos e serviços de forma mais participativa, muitas vezes tomando para si o
próprio ônus (ex: despesa em infraestrutura de TI) da execução. Mais uma vez,
quando falamos do conjunto de dados cuja fonte primária é o governo, não existindo
outros fornecedores, ou existindo um oligopólio, da mesma informação, eles se
tornam ainda mais valiosos e produtos ou serviços inexistentes anteriormente, podem
começar a surgir, é o caso das bases de dados do transporte público, mapas e demais
dados georreferenciados. Nesse momento, incentivos como hackathons , competições
de programação de curtíssima duração) ou concursos mais amplos (ex: Rio Apps
2012) ajudam a divulgar as iniciativas de abertura da administração pública e a
desenvolver uma relação com pessoas que possuem as habilidades necessárias e
específicas para dar vida à base de dados abertas.
Na Economia
Para esclarecer o efeito sobre a economia, é preciso distinguir entre dois grandes
grupos que tiram proveito dos DAG. Eles são os grupos de usuários e o grupo dos
reutilizadores. O primeiro se beneficia pelo uso direto desses dados disponibilizados
por algum meio digital (ex: sites do governo), um exemplo de usuário pertencente a
esse grupo são os cientistas, que se beneficiam em suas pesquisas, produzindo
conhecimento que posteriormente pode ser explorado economicamente. O segundo
grupo, os reutilizadores, são os que geram receita através de um produto ou serviço
que utilizam os DAG como recurso-chave para o negócio. Um exemplo que Heusser
(2012) cita em seu trabalho, é o caso de desenvolvedores de aplicativo mobile na
França, que implementaram uma ferramenta para usuários do metrô em Paris,
lançando mão de dados georreferenciados fornecidos pelo governo local. O aplicativo
que é disponibilizado de forma paga nas lojas virtuais, onde a cobrança é realizada
14
por download do mesmo. Ainda segundo Heusser (2012), o aplicativo já faturou mais
de 400 mil euros. Uma outra forma de mensurar o seu valor econômico, é estimar que
usuários da ferramenta, graças a ela, conseguem tomar boas decisões durante seu
deslocamento na cidade, e com isso deixam de desperdiçar 1 hora no trânsito ao longo
de um ano. Considerando uma média salarial de 20 euros por hora, calcula-se uma
economia de 8 milhões de euros anuais.
Outro caso interessante, foi a aquisição da empresa Climate Corp por U$ 930
milhões, pela Monsanto em Outubro de 2013. A Climate Corp, montou seu modelo
de negócios utilizando mais de 60 anos de dados sobre colheita, clima e tempo de
mais de 1 milhão de localidades nos EUA e 15 terabytes de dados sobre qualidade do
solo, todos disponíveis de forma gratuita pelo governo americano. Seu principal
produto era um seguro que ressarcia agricultores em caso de prejuízo na colheita
causado por adversidades climáticas. A diferença era que a Climate Corp,
automaticamente enviava o dinheiro quando certas condições climáticas eram
atingidas, sem qualquer necessidade de inspeção manual e comprovação de perda
pelo segurado (Delloite, 2012).
15
Capítulo 4 O Impacto Econômico
Em busca de evidências que possam esclarecer os impactos de dados abertos
governamentais no âmbito econômico e social, têm se discutido e realizado
extensivos casos de estudos. Osella e Ferro (2012), desenvolveram um framework
para análise de casos com base no modelo de negócios de Osterwalder (2004), porém
contextualizados ao uso de dados abertos governamentais. Em sua análise, buscaram
explicar como valor é gerado, por quais mecanismos, quem se beneficia, e devido a
não-rivalidade do dado público, que mecanismos de diferenciação e criação de
vantagem competitiva existem.
Como resultado de seu trabalho, em pesquisa patrocinada pelo governo
italiano, Osella e Ferro (2012) identificaram padrões nos modelos de negócios e
estabeleceram oito arquétipos para modelos baseados em reuso de dados públicos,
que serão descritos no final deste capítulo.
De forma a contribuir para a análise contínua de empreendimentos que surgem
e de alguma forma exploram os dados abertos governamentais em seu negócio, o
presente trabalho discorre em detalhes, sobre a história de uma empresa carioca cujo
surgimento foi fortemente influenciado por um concurso promovido pela secretaria de
Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro, e encontra origem dentro de uma
política de abertura de dados e inovação aberta da prefeitura do Rio. É importante
lembrar que o autor deste trabalho, André Ikeda, é um dos fundadores deste
empreendimento, esteve e ainda é envolvido em todos os aspectos do negócio
descrito. Ao longo da análise do estudo de caso, será aplicado o framework de Ferro e
Osella (2012), com o objetivo de ressaltar o papel que os DAG desempenham no
modelo de negócios do Buus em conjunto com o modelo de Osterwalder para dar um
compreensão mais abrangente do negócio. Para entender o método adaptado para o
contexto de reuso de dados abertos, vamos explicar primeiro, o modelo de negócios
proposto por Osterwalder e Pigneur (2003).
16
Modelo de Negócios
Um modelo de negócios é a representação dos aspectos de um empreendimento que
expõe como valor é criado e capturado pela organização. Considera a noção de
modelo de negócios como uma ferramenta conceitual, contendo um conjunto de
elementos inter-relacionados que permitem a empresa gerar receita. Ele compreende a
descrição do valor que a empresa oferece para um ou mais segmentos de clientes, a
organização da empresa em termos de atividades exercidas, e seus parceiros
envolvidos na criação e distribuição do valor proposto com a finalidade de gerar
lucro. A seguir, o modelo de Osterwalder e Pigneur é apresentado em detalhes.
Modelo de Negócios de Osterwalder e Pigneur
Conhecido também como “Canvas”, o modelo compreende nove blocos básicos. Os
blocos são: 1) parcerias-chaves, 2) atividades-chaves, 3) recursos-chaves, 4) proposta
de valor, 5) relacionamento com clientes, 6) clientes, 7) canais de distribuição, 8) a
estrutura de custo do negócio e, por fim, 10) fontes de receita.
Figura 2 Canvas do modelo de negócios de Ostwalder & Pigneur (2003)
17
Sobre cada bloco descrevem:
Segmentos de Clientes
Define os grupos de pessoas ou organizações que um negócio pretende alcançar e
servir. São o cerne de qualquer modelo de negócio e dão sustentabilidade ao mesmo,
pois é a partir deles que se espera gerar receita. A distinção entre diferentes tipos de
clientes acontece quando: 1) suas necessidades exigem e justificam uma oferta
diferente; 2) São alcançados por canais de distribuição diferentes; 3) exigem
diferentes tipos de relacionamento; 4) têm lucratividade substancialmente diferentes;
e estão dispostos a pagar por aspectos diferentes da oferta;
Proposta de valor Descreve os produtos ou serviços que criam valor para um segmento de clientes. Ou
seja, é o motivo pelo qual uma relação é estabelecida entre o cliente e o fornecedor.
Perguntas como “Qual problema estamos ajudando a resolver?”, “Que necessidade
estamos satisfazendo?” podem ser úteis na descoberta do valor que deve ser entregue.
Canais São os meios pelos quais a empresa comunica com seus clientes para entregar a
proposta de valor prometida. Tomando como exemplo um desenvolver independente
de aplicativos, as lojas Google Play Store e App Store, representam dois canais por
onde o aplicativo pode ser divulgado e adquirido. Os canais podem ser classificados
como diretos (ex: força de venda que bate em porta em porta) e indiretos (ex: loja de
aplicativos Google Play Store), bem como particulares (ex: loja própria em um
shopping) e parceiros (ex: rede de anúncios para web como Google AdSense).
Canais de Relacionamento Descreve as modalidades de relacionamento que a empresa desenvolve com um
segmento específico de clientes. A escolha do tipo de relacionamento pode ser
motivada por: 1) conquista de clientes; 2) retenção de cliente e 3) Ampliação das
vendas. Em seu livro, Osterwalder cita seis tipos de relacionamento, dos quais
destacamos dois como exemplos:
18
“Assistência pessoal: Baseada na interação humana. O Cliente pode se comunicar com um
representante de verdade para obter auxílio durante o processo de venda ou depois que a
compra esteja completa. Isso pode acontecer no próprio ponto de venda, por call centers, e-
mail, entre outros.
Cocriação: Muitas empresas estão indo além da tradicional relação cliente-vendedor para
cocriar valor com os clientes. A Amazon convida os consumidores a escrever resenhas e
opinar e, assim, criar valor para outros amantes de livros. Algumas empresas permitem aos
clientes colaborar em novos projetos. Outras, como YouTube, solicitam aos clientes a criação
de conteúdo para o consumo público.” (Osterwalder & Pigneur, 2011)
Fontes de Receita É a forma pela qual o empreendimento deve gerar receita sobre o um segmento de
clientes. Existem dois tipos diferentes de fontes de receita: 1) a que é oriunda de um
único pagamento, como ocorre numa compra de uma peça de roupa por exemplo; 2)
receita recorrente, onde o pagamento é feito periodicamente, como o caso típico de
uma mensalidade de TV por assinatura.
Recursos-chave Descreve os principais insumos exigidos pelo modelo de negócio para entrega da
proposta de valor. Eles podem ser gerados pela própria organização ou obtidos
externamente, com parceiros por exemplo. Os recursos ainda podem ser físicos,
financeiros, intelectuais ou humanos.
Atividades-chave Retrata as principais atividades realizadas por uma empresa para executar seu modelo
de negócios. Em uma fabrica de software, por exemplo, uma atividade principal é o
processo de desenvolvimento do software em si.
Parcerias-Chave As parcerias são firmadas entre organizações que contribuem para o desenvolvimento
do negócio, e podem ser úteis para reduzir riscos ou adquirir recursos. Osterwalder e
19
Pigneur (2003) usam quatro classificações para avaliar uma relação de parceria: 1)
alianças estratégicas entre não competidores; 2) coopetição: parcerias estratégicas
entre concorrentes; 3) joint ventures para desenvolver novos negócios; 4) relação
comprador-fornecedor para garantir suprimentos.
Estrutura de Custo É esperado que as operações descritas pelo modelo de negócios incorram em custos,
desta forma os principais custos devem ser retratados neste bloco. Ações para
aquisição de novos clientes, por exemplo, demandam investimentos em marketing e
vendas. Dividindo-se o valor gasto para a entrada de novos clientes em um dado
período, sobre o total de receita gerada pelos mesmos clientes em seu tempo de vida,
podemos saber se a estratégia de aquisição é deficitária ou não. Se o valor da taxa é
maior que 1, a estratégia é deficitária, caso contrário, seus novos clientes geram lucro.
Modelo de Negócios para Dados Abertos Governamentais
A característica fundamental de um modelo de negócios baseado no reuso de dados
do setor público é claro, a incorporação dos dados produzidos por alguma instituição
pública em seu estado bruto. Eles compõe a essência do modelo, mas por si só não
são suficientes para se gerar valor algum, pois quando dispostos sob a condição de
dados abertos, constituem um bem comum, e por si só não representam vantagem
competitiva. Para entender tal modelo de negócios acontece, vamos usar as ideias
propostas por Osella e Ferro (2012).
O modelo de negócios para dados abertos governamentais, ofusca blocos do
modelo do Canvas, de tal maneira a destacar apenas as partes onde os dados oriundos
do setor público são protagonistas, fazendo-se então é chamado de modelagem
orientada a recursos.
20
Figura 3 Aspectos destacados do framework de Ferro & Osella (2012) sobre o canvas de Osterwalder
& Pigneur (2003). Fonte: Ferro & Osella, 2012, p. 2.
Na leitura dos autores, e usando a pirâmide como metáfora visual, o bloco de
recursos-chave é subdivido em “Recursos Públicos” e “Recursos específicos da
empresa”, onde residem os dados elaborados ou processados, que sofreram alguma
transformação comparado ao seu estado inicial e contextualizado para um negócio
específico. Esses dois sub-blocos aparecem como um bloco acima do outro, sugerindo
alguma atividade-chave atua como “liga” entre esses estágios, e é responsável por tal
transformação. Esse dado então, posteriormente é incorporado na proposta de valor
assumindo algum papel específico, podendo ser um ingrediente-chave para o produto
final ou serviço, ou ainda um papel secundário. Por fim, a existência de um
mecanismo de precificação sobre a proposta de valor, dará origem a fonte de receita
baseada nos dados abertos governamentais.
21
Figura 4 Metáfora visual dos blocos destacados por Ferro & Osella (2012). Fonte: Ferro & Osella,
2012, p. 3.
As transições de um nível da pirâmide para o seguinte, são caracterizadas de maneiras
distintas. A transformação de dados brutos para dados elaborados, pode ser tipificada
como atividade de agregação dos dados, estruturação e classificação,
georreferenciação, validação, mash-up e visual analytics.
Na transição seguinte, os dados derivados por algum processo de transformação,
são incorporados na proposta de valor. Quanto aos mecanismos de precificação e que
dão origem a fonte de receita, são classificados como:
- Premium: À la carte (pagamento único), Assinatura (pagamento recorrente) e
Royalties;
- Freemium: Limitado por feature, limitado por tempo de uso, limitado por
tamanho/cota;
- Gratuito: Baseada em propagada, subsídio-cruzado e custo marginal zero.
22
Arquétipos de Modelos de Negócios para Dados Abertos
Osella e Ferro, ao aplicar o framework explicado proposto em suas pesquisas,
mapearam o ecossistema de dados abertos governamentais e encontraram oito padrões
de negócios que serão detalhados a seguir.
Produto ou serviço Premium O modelo onde o reutilizador trabalhando em cima dos dados brutos, consegue gerar
valor o suficiente, a ponto do cliente pagar à la carte ou de forma recorrente (ex:
mensalidade). A primeira modalidade de pagamento é um valor único por venda,
enquanto o segundo ocorre através uma assinatura renovável periodicamente.
Produto ou serviço Freemium Parecido com o modelo anterior, a principal diferença é a existência de uma cota de
gratuidade para avaliação do produto ou serviço por parte do cliente. Essa cota pode
ser baseada em tempo de uso, quantidade de funcionalidades disponibilizadas ou
intensidade de uso (ex: limite para quantidade de dados transferidos entre o
fornecedor e seu cliente). É um modelo comum em produtos e serviços baseados na
Web.
Open Source like Se assemelha ao modelo utilizado por produtos open source, onde um produto é
oferecido de forma gratuita, sendo a fonte de receita originária de uma linha de
negócios auxiliar, como por exemplo, treinamento de usos e suporte comercial, que
envolve qualquer atividade de suporte, cobrindo desde a instalação, configuração a
eventuais problemas identificados pelo cliente.
Infrastructural Razor & Blades É um modelo centrado na atuação como um intermediário. O negócio então coleta e
armazena os DAG em sua infraestrutura, e os torna consultáveis de maneira
conveniente através de uma API (application programming interface), por exemplo a
um custo marginal. Outros produtos e serviços, geralmente caracterizados por uma
23
curva de demanda inelástica e altas margens de lucro são responsáveis por gerar
receita.
Demand-Oriented Plataform Diversas bases de dados são agregadas em uma infraestrutura própria, os dados então
são catalogados, transformando-os em um formato comum e disponibilizando uma
forma conveniente de acesso padronizada (ex: API). A cobrança existente é elástica,
dependendo dos recursos computacionais demandados pelo uso do cliente, por isso
demand-oriented. Com isso, espera-se que problemas de inconsistências existentes na
base de dados original sejam resolvidos e o cliente economize tempo e dinheiro para
fazer tratamentos preliminares.
Supply-Oriented Platform É o modelo orientado a demanda, porém com a cobrança invertida. Em vez de se
cobrar diretamente ao reutilizador, que acessa as bases de dados, a cobrança é feita
sobre quem publica, ou seja, o órgão público que disponibiliza seus dados coletados.
Como benefício, os reutilizadores acessam de forma gratuita os dados existentes e o
poder público tem à disposição uma infraestrutura para armazenar suas bases e
disponibilizá-las seguindo um padrão de qualidade.
Free as Branded Advertising Ocorre quando um produto ou serviço, baseado em dados abertos, é oferecido
gratuitamente para um segmento de clientes, por sua vez subsidiado por uma fonte de
receita oriunda de anunciantes de propaganda. A ideia se baseia no fato de que, ao
promover um produto ou serviço de utilidade pública, marcas e anunciantes
encontram uma forma de reforçar sua presença de mercado, e embora possa não ter
impacto direto em suas vendas, é considerado uma ação de marketing que contribui
para o desenvolvimento do seu negócio.
White-Label Development O desenvolvimento de um produto white-label, significa que ele receberá a “estampa”
ou marca de quem pagar. O ato de estampar uma marca é algo que encontra respaldo
24
dentro de uma estratégia de marketing, num interesse de reforço de marca mais
profundo do que o modelo Free as Branded Advertising, significa que o produto se
apresentará como algo próprio do contratante. A compra de um produto white-label
pode acontecer quando o anunciante não provém de conhecimento ou capacidade para
desenvolver sua própria solução.
25
Capítulo 5 Estudo de Caso: Buus – Serviço de Informação para o Transporte Público
Buus é uma empresa de sistemas de informação para transporte público sediada no
Rio de Janeiro, composta por três sócios engenheiros, André Ikeda, Warner Vonk e
Tilman Kolks. Sua missão é preencher o gap de informações sobre o transporte
público tanto para o usuário e consumidor final, quanto para o empresariado.
Atualmente focado no transporte urbano rodoviário, seu principal produto para
o usuário de ônibus é um aplicativo para dispositivos móveis também chamado de
Buus. A narrativa da empresa, tomando como ponto de partida os esforços iniciais de
André Ikeda, começa num concurso de inovação aberta, conhecido como Rio Apps no
ano de 2012. Após esse marco, sua trajetória foi unida com a de Warner Vonk e
Tilman Kolks, quando juntos tornaram o Buus um negócio formal, em operação até a
data presente.
A história do Buus pode ser dividida em fases que refletem modelos de
negócios distintos. Os tópicos deste estudo de caso seguirão essa estrutura e
descreverão, não só a evolução do modelo de negócios, mas como alguns fatos
relevantes que marcaram a trajetória da empresa, incluindo a participação no processo
de abertura de dados de transporte público na cidade do Rio de Janeiro.
1a Fase - Buus: Passageiros Unidos
Desafio Rio Apps No ano de 2011, é feita a chamada para o Desafio Rio Ideias e o Rio Apps. Dois
concurso promovidos pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, na gestão do
secretário de Ciência e Tecnologia, Franklin Dias Coelho e do prefeito Eduardo Paes.
Os concursos possuíam uma dependência entre si. O desafio Rio Ideais, era uma
chamada ao cidadão carioca para opinar e dar ideias de aplicativos relacionados a
26
alguma temática pública como saúde, segurança, transporte, ou qualquer outra. As dez
ideias mais bem avaliadas por uma comissão julgadora, foram premiadas com R$1
mil reais cada uma, e as outras vinte com R$ 500. Essas ideias então, serviram como
insumo para o concurso posterior, o Rio Apps, onde desenvolvedores de software
transformariam algumas delas em um produto digital gratuito.
A segunda etapa, o Rio Apps, começou em dezembro de 2011 e terminou em
julho de 2012. A premiação também foi em dinheiro, sendo para o 1o lugar geral, R$
30 mil reais, o segundo e terceiro lugar R$ 20 mil e R$ 10 mil respectivamente.
Também foram distribuídos prêmios menores, de até R$ 5 mil reais, dependendo da
categoria. No total, mais de 50 aplicativos foram submetidos para apreciação.
Um dos requisitos do Rio Apps, foi a utilização de alguma base de dados
aberta da prefeitura, disponibilizada no site Rio DataMine (riodatamine.com.br). Os
dados podiam ser acessados via API e abrangiam temas diversos desde turismo,
passando por infraestrutura até transportes.
Como resultado dos concursos, foram submetidos 53 aplicativos, sendo 12
destes premiados.
Tabela 2 Relação dos vencedores no concurso Rio Apps 2012
Aplicativo Prêmio Descrição
Buus 1º Prêmio Transporte público – Informa a posição dos ônibus de
forma colaborativa;
Pacificados Web &
Mobile
2º Prêmio
Site de anúncios de produtos e serviços focadas em
comunidades pacificadas.
Rio Saúde 3º Prêmio Aplicativo contendo informações sobre localização de
postos de saúde e especialidades
Zurbb Menção Honrosa Rede social mobile para troca de informações entre os
usuários e focada no segmento de lazer e
entretenimento.
Alerta Chuva Rio Menção Honrosa Aplicativo que informa locais onde chove na cidade;
Rio de Bicicleta Menção Honrosa Aplicativo que contém informações úteis para o
ciclista urbano, tais como localização de ciclovias,
27
bicicletários, chuveiros entre outros.
Obras Rio Menção Honrosa Aplicativo que facilita a busca por obras públicas na
cidade do Rio, bem como informações básicas a
respeito de cada uma delas.
App Rio Melhor Menção Honrosa Aplicativo social que expõe demandas de moradores
da cidade visando a mobilização popular em torno de
questões em comum.
Não precisa anotar Prêmio Estudante Um guia de serviços da cidade do Rio, contendo
informações sobre estabelecimentos comerciais,
modos de transporte, programação cultural entre
outras.
Easy Taxi Beta Prêmio Investidor Aplicativo para chamar taxi.
BRS Rio - Vias
Expressas de
Ônibus
Prêmio Escolha Popular
– 1º Lugar
Aplicativo que reúne informações sobre as vias
expressas de ônibus (BRS).
Desaperto Mobile Prêmio Escolha Popular
–2º Lugar
Aplicativo que por via realidade aumentada, mostra
onde estão os banheiros públicos montados para o
carnaval.
Fonte: Adaptado de site da Prefeitura do Rio de Janeiro.1
O Aplicativo Com o nome de Buus e lema “Passageiros Unidos”, André Ikeda desenvolveu e
submeteu seu aplicativo cujo objetivo primário era a localização dos coletivos
urbanos, respondendo a pergunta “falta muito pro meu ônibus chegar?”. Como forma
de cumprimento de requisito, a base de dados utilizada do Rio Datamine, continha
apenas dados sobre ocorrências de incidentes nas vias da cidade e reportados,
oficialmente, pelos agentes de trânsito.
1 Disponível em http://www.rio.rj.gov.br/web/sect/exibeconteudo?id=4116802. Acesso em: 15 Fev
2015
28
Abordagem Colaborativa A época do concurso, não existia nenhuma API ou base contendo informações
suficientes sobre o sistema de transporte de ônibus da cidade para cumprir o objetivo
do aplicativo. A abordagem utilizada então, foi uma “abordagem de guerrilha”,
construindo o aplicativo de tal forma que os próprios usuários pudessem reportar a
localização dos coletivos que estivessem ou avistassem, fazendo um ‘check-in’ no
mesmo. Esse processo envolvia 5 etapas: 1) escolha da linha de ônibus, 2) o destino
no qual o ônibus estava em direção, 3) um ponto de referência (ex: barra shopping,
maracanã), 4) a lotação - com lugares disponíveis, pessoas em pé ou uma lata de
sardinha - e 5) o tempo que se passou desde a passagem do ônibus pelo ponto de
referência. Outra possibilidade, era o usuário “pedir” informação sobre uma linha na
esperança que uma outra pessoa pudesse responder.
Além do Rio Datamine, a utilização de uma segunda API foi de grande
importância, com informações geolocalizadas sobre uma ampla lista de
estabelecimentos no Rio de Janeiro. Essa base de dados aberta pertencia a rede social
Foursquare e também foi construída de forma colaborativa pelos usuários. Assim era
possível, através do GPS do celular, identificar pontos de referência conhecidos e
compor uma mensagem com a estrutura “318 sentido Barra Sul, há 5 min próximo ao
Barra Shopping”.
Figura 5 Primeira tela do aplicativo reunindo as posições e lotações dos últimos ônibus informados. E
tela com detalhamento da posição de um veículo no mapa.
29
Figura 6 Lista de ocorrências viárias fornecida pela API da prefeitura do Rio e detalhamento de uma
ocorrência com sua contextualização em um mapa.
Resultados Com a ajuda de algumas publicações na imprensa, a divulgação do aplicativo
conseguiu chamar atenção de um número interessante de pessoas, bem como de
checkins. De Maio até Dezembro de 2012, cerca de 5.800 usuários acessaram o site,
1.175 posições de ônibus reportadas e 608 pedidos de informações solicitados
espalhados por toda a cidade.
30
Figura 7 Localização dos ônibus informadas pelos usuários na versão colaborativa do Buus.
Das solicitações de informações realizadas, apenas 38 foram atendidas e
respondidas pelos demais usuários. As razões para uma taxa tão baixa podem ser
inúmeras, a única certeza que pôde ser constatada, é a dificuldade de criação de uma
comunidade de usuários grande o suficiente diante dimensão do transporte público na
cidade do Rio, onde existiam mais de 700 linhas e 15 mil ônibus, na ocasião. A
colaboração tinha que ser constante e em escala, para que a proposta de valor pudesse
ser sustentada.
O feedback explícito dos usuários também foi demonstrado através de contato
estabelecido pelos mesmos através do site do aplicativo ou e-mail. Alguns exemplos
de mensagens recebidas demonstram a percepção sobre a qualidade na operação do
transporte público, bem como a utilidade percebida pelos usuários de uma ferramenta
como o Buus.
“Muito legal mesmo, porém eu não tiro meu celular da bolsa em qualquer ocasião
por medo de assalto”. Usuário 1 apontando sua percepção sobre a falta de segurança
no transporte público.
31
“Nunca está atualizado”. Usuário 2 sobre a baixa disponibilidade de informação no
aplicativo.
“(...) ele não me é útil no meu momento atual pois não preciso deste aplicativo no
meu dia a dia. (...) Eu participo e interajo no Buus para ajudar outros usuários na
penosa tarefa de usar e depender do transporte público no Brasil. (...) há pouco
tempo consegui comprar meu carro e reduzir esta dependência. Conheço bem o
sofrimento das pessoas que dependem do transporte público ainda bem precário no
Brasil perto de outros países e metrópoles”. Usuário 3, que não precisava do
aplicativo em sua rotina, mas contribuía por puro altruísmo.
“Sim, quase todo dia compartilho localização dos ônibus que pego. Nunca respondi
a pedido.” Usuário 4, ao ser perguntado via e-mail, se já havia contribuído com
alguma informação no aplicativo.
“Ainda não foi útil pra mim! Mas procuro sempre pôr a localização do ônibus que
estou, para tentar ajudar alguém e assim motivar essa pessoa a coloca informação
também!”. Usuário 5, ao ser perguntado via e-mail, se o aplicativo foi útil em algum
momento de necessidade.
Em meados de Junho de 2012, o Buus foi anunciado como o aplicativo
vencedor do concurso em 1o lugar geral pelo júri. Junto com a vitória, iniciou-se um
esforço com a prefeitura (sem cronograma definido), para a disponibilização do GPS
dos ônibus da cidade e seu aproveitamento no aplicativo.
32
Modelo de Negócios Tabela 3 Canvas do primeiro modelo de negócios do Buus.
Parceiros-chave
- Prefeitura do Rio
(Rio Datamine)
- Foursquare (API
de
estabelecimentos)
Atividades-chave
- Desenvolvimento de
Software
- Community Building
Proposta de
Valor
- Informação:
localização dos
ônibus na cidade
Relacionamento com
Clientes
- Redes Sociais (Facebook
e Twitter)
- Website
Segmentos de
Clientes
- Usuário de
transporte
público
rodoviário
Recursos-chave
- Comunidade de
usuários
- Base de dados
geolocalizada de
estabelecimentos
(Foursquare)
- Base de dados de
ocorrências viárias
(Rio Datamine)
Canais
- Aplicativo Web Mobile
(para todas as
plataformas: Android,
iOs, Windows Phone, etc)
Estrutura de Custo
- Servidores de infra-estrutura para
hospedagem de software.
Fontes de Receita
- Receita única: prêmio do concurso (R$ 30 mil)
Utilizando o framework proposto para avaliar modelos que fazem reuso de
DAG, a tabela abaixo destaca os aspectos de interesse pertinentes a reutilização dos
dados.
33
Tabela 4 Classificação do primeiro modelo de negócios do Buus utilizando o modelo de Ferro & Osella
(2012)
Tipos de Elaboração de Dados Papel do DAG na Proposta de Valor
þ Agregação de dados ☐ O produto final em si
þ Estruturação e classificação ☐ Ingrediente chave do produto
☐ Georreferenciação de dados ☐ Ingrediente chave do serviço
þ Mash-up þ Ingrediente secundário do produto
☐ Validação de dados ☐ Ingrediente secundário do serviço
☐ Visual analytics
Precificação
Premium ☐ À la carte
☐ Recorrente
☐ Royalties
Freemium ☐ Limitado por feature
☐ Limitado por tempo de uso
☐ Limitado por tamanho
Gratuito ☐ Baseado em publicidade
þ Subsídio cruzado
☐ Custo marginal zero
2a Fase
Após a primeira publicação da imprensa, no dia 3 de Junho de 2012, em matéria
publicada no caderno de domingo do jornal O Globo, o Buus atinge seu primeiro pico
de acessos. Neste dia, Warner Vonk, holandês radicado no Brasil e mestre em
engenharia em Transportes pela Universidade de Twente na Holanda, leu a matéria e
entrou em contato com Ikeda via e-mail.
Warner, fundador da iFluxo, empresa de consultoria em planejamento de
transporte urbano, trabalhava com Tilman Kolks, doutor em engenharia elétrica
pela Interuniversity Microelectronics Centre, da Bélgica. Na ocasião desenvolviam
juntos um projeto piloto para uma viação com sede na Ilha do Governador, no Rio de
Janeiro, de análise de dados de GPS da frota de veículos da empresa, para gerar o que
é conhecido como Estimated Time of Arrival – ETA – como um serviço
34
complementar, via SMS (Short Message Service) aos passageiros da empresa. Para
obter acesso ao posicionamento via GPS, além do interesse da empresa de ônibus, era
necessário convencer a empresa de monitoramento de frota prestadora do serviço.
Essa empresa figurava como um ator muito importante, pois poderia criar barreiras no
acesso a tal informação, sob pretexto de alteração nos custos e atividades não
previstas no contrato de prestação de serviço. Para resolver essa questão foi
necessário desenvolver uma relação de parceria, com a inclusão da mesma no modelo
de negócio.
Coincidentemente, Ikeda como aluno de engenharia na UFRJ e usuário das
linhas envolvidas no projeto piloto, também havia entrado em contato com a empresa
pouco antes da primeira conversa com Vonk, apresentando o aplicativo e solicitando
acesso a mesma informação para incorporar no Buus. Decidiu-se então unificar os
esforços para o desenvolvimento de um produto que envolveria SMS e aplicativos
móveis. O serviço via SMS acabou sendo abandonado, já que envolvia uma estrutura
de custos para envio e recebimento, e em uma abordagem mais enxuta, permaneceu
apenas as plataformas móveis como canal de entrega das estimativas de chegada.
Capital de Risco Meses depois, em agosto de 2012, é lançado uma chamada para o processo de seleção
para um programa de aceleração de startups promovido pela Papaya Ventures, situada
na época em Botafogo. Em troca de 10% de opção de compra de ações da
empresa, disponibilizariam R$ 20 mil reais em dinheiro, além de todo um programa
de benefícios (ex: créditos em serviços de parceiros como a Amazon), espaço físico,
networking e mentoria por 6 meses. Dentre 100 empresas candidatas, o Buus foi uma
das quatro startups a serem escolhidas para o programa que se iniciou logo em
Novembro do mesmo ano.
Desta vez, lançando mão do relacionamento já existente com o setor de
transportes, e a inexistência de uma base de dados aberta que forneceria os dados de
GPS dos ônibus da cidade, concebeu-se um modelo de negócio onde havia um novo
parceiro-chave, as empresas de monitoramento de frota. Em troca do acesso as
informações georreferenciadas da frota, o que deveria acontecer somente com o
interesse do seu cliente, a empresa receberia um share das vendas do serviço de
35
informação para a viação. Repara-se que nenhum DAG é considerado parte do
modelo.
Tabela 5 Canvas do segundo modelo de negócio do Buus
Parceiros-chave
- Empresas de
monitoramento de
frota
Atividades-chave
- Análise de dados de
GPS e predição;
- Desenvolvimento de
Software;
- Parcerias comerciais
com empresas de
monitoramento de
frota.
Proposta de Valor
- Informação: Previsão
de tempo de chegada dos
ônibus em uma parada
para os passageiros.
- Reforço de marca e
imagem na customização
do app para empresas de
ônibus.
- Canal de
relacionamento entre
empresa x passageiro.
Relacionamento
com Clientes
- Pessoal
(empresários de
ônibus e )
- Redes sociais
(passageiros de
ônibus)
- Website
Segmentos de
Clientes
- Usuário de
transporte
público
rodoviário
- Empresas de
ônibus
Recursos-chave
- Conhecimento em
transportes;
- Conhecimento em
análise de dados e
tecnologia em tempo-
real;
- Dados de GPS das
frotas de uma empresa
de ônibus.
Canais
- Aplicativo Web
Mobile;
- SMS
Estrutura de Custo
- Servidores de infra-estrutura para
hospedagem de software; - Share das
vendas para empresas parceiras
Fontes de Receita
- Mensalidade cobrada da empresa de ônibus dependendo do
tamanho da frota monitorada.
- Mobile advertising
Diante da perspectiva de parcerias com o setor de monitoramento de frotas e a
inexistência de uma base de dados aberta nos mercados-alvo de atuação do Buus, o
modelo não conta com reuso de nenhum DAG.
36
Tabela 6 Classificação do segundo modelo de negócios do Buus utilizando o framework de Ferro &
Osella (2012)
Tipos de Elaboração de Dados Papel do DAG na Proposta de Valor
☐ Agregação de dados ☐ O produto final em si
☐ Estruturação e classificação ☐ Ingrediente chave do produto
☐ Georreferenciação de dados ☐ Ingrediente chave do serviço
☐ Mash-up ☐ Ingrediente secundário do produto
☐ Validação de dados ☐ Ingrediente secundário do serviço
☐ Visual analytics
Precificação
Premium ☐ À la carte
☐ Recorrente
☐ Royalties
Freemium ☐ Limitado por feature
☐ Limitado por tempo de uso
☐ Limitado por tamanho
Gratuito ☐ Baseado em publicidade
☐ Subsídio cruzado
☐ Custo marginal zero
Ao longo do programa de aceleração, a sede da aceleradora, onde existia um
escritório compartilhado entre as 4 startups escolhidas, inúmeras visitas aconteceram
e relacionamentos foram estabelecidos. Os 6 meses corridos serviram para o
desenvolvimento e aprimoramento do produto final, e o desenvolvimento do negócio
em si. Alguns fatos relevantes ocorreram nesse período, o primeiro deles foi o
rompimento com a empresa parceira, e um dos princiapsi players no mercado de
monitoramento de frota no Rio no setor de transporte público. Nesta época, duas
empresas dividiam o mercado entre si. Com esse rompimento abrupto, o recurso-
chave e insumo para nosso principal produto foi perdido. Um golpe duro. Para não
ficar parado, o Buus decide ali direcionar sua atuação para a cidade de São Paulo,
onde esses dados poderiam ser obtidos, ainda sem licença específica, através da
internet e coletados pelo site da São Paulo Transporte (SPTrans). Em fevereiro de
37
2013, é lançada a primeira versão do aplicativo contendo ETAs para as linhas que
circulavam na cidade universitária em São Paulo.
Outros diversos esforços foram feitos em paralelo. O canal de relacionamento
estabelecido com a prefeitura devido a vitória no Rio Apps 2012, ainda estava aberto,
embora adormecido. Neste momento, retomaram-se as conversas com a Secretaria de
Transportes e Secretaria de Ciência & Tecnologia. O surgimento do interesse por
parte do Centro de Operações Rio, nos mesmos dados, fez com que esforços fossem
somados para sua disponibilização de forma aberta. Cada vez mais o nível executivo
da prefeitura foi envolvido na questão. Foi aí que o Buus é chamado a participar no
processo de levantamento de requisitos de uma API aberta e é envolvido das
discussões técnicas dentro do Iplan Rio, sobre os dados em si e sua forma de acesso.
Conversas com a Fetranspor também foram realizadas e como resultado,
embora não imediato, obteve-se acesso a uma série de dados de planejamento do
sistema rodoviário, que na época não eram abertos. Neles continham dados sobre
itinerários, pontos de ônibus, e dados georreferenciados sobre mais de 500 linhas de
ônibus operantes no município. Dessa forma, novas funcionalidades foram
implementadas no aplicativo e, consequentemente, mais valor foi agregado para o
usuário de transporte público.
Primeiro Cliente Em Março de 2013, iniciamos o primeiro contato com uma segunda empresa fora do
município do Rio de Janeiro, com sede no município de São Gonçalo, RJ. Esta
empresa administra 11 linhas que fazem o trajeto diário entre São Gonçalo x Rio de
Janeiro com uma frota composta por cerca de 200 ônibus; uma terceira empresa
fornecia o serviço de monitoramento de frota para ela. Como a atividade exercida é
intermunicipal, ela não está sob as mesmas regras que as demais linhas urbanas que
circulam apenas dentro do município do Rio de Janeiro. Seus dados não são coletados
pela Secretaria Municipal de Transporte do Rio e, na futura abertura de dados de GPS
da frota, seus ônibus não constariam listados.
Além da inclusão dos dados da nova empresa no aplicativo Buus, houve
customização de parte do aplicativo aplicando-se elementos da identidade visual da
mesma. Outras funcionalidades também foram implementadas, como um canal de
comunicação direto com ao Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da viação
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que poderia o correr a partir do próprio app, por ligação telefônica, e-mail e até
mesmo push notifications, que são mensagens emitidas pela empresa para seus
clientes com informações sobre, por exemplo, alterações no itinerário, mudanças na
tarifa, e entre outras possibilidades.
Processo de Abertura de Dados
A Iplan Rio ou Iplan, Empresa de Municipal de Informática da Cidade do Rio de
Janeiro, vinculada à Secretaria Municipal da Casa Civil, administra os recursos de
Tecnologia e Informação dos órgãos municipais. Ele foi o órgão diretamente
responsável pela implementação técnica da API de transportes, que contém os dados
de GPS da frota de ônibus do Rio. O primeiro contato partindo da própria Iplan
aconteceu via e-mail no dia 2 de Fevereiro, convidando André Ikeda para uma
apresentação do Buus no evento interno quinzenal “Sexta-feiras tecnológicas”. Foi a
oportunidade para apresentar os resultados da primeira versão colaborativa do
aplicativo. Após o final da apresentação, a seguinte pergunta é feita para Ikeda: “O
que podemos fazer para ajudar? Que tipo de dados vocês precisam?”. Ikeda foi
taxativo: “Acesso ao GPS dos ônibus”. Um mês depois, um assessores da presidência
do Iplan, entra novamente em contato para agendar um segundo encontro, dessa vez
para entender nossa experiência prévia com os dados das empresas de ônibus e os
dados de São Paulo, identificando requisitos do projeto. Três meses depois, uma
terceira reunião envolvendo o corpo técnico do Iplan foi realizada para discutir
detalhadamente, aspectos mais técnicos no formato dos dados e a forma de
disponibiliza-los. Incrivelmente, apenas dois dias após esta reunião, um dos
funcionários já disponibilizava uma versão preliminar, ainda bem imatura porém
funcional, contendo os dados de GPS. Foi algo mágico ver todos aqueles dados e o
empenho da equipe do Iplan. Contra todos os estereótipos e preconceitos, a dedicação
e o senso de propósito que existia em torno do projeto, fizeram com que sua
realização acontecesse em tempo muito mais rápido do que o imaginado. Finalmente,
após outras duas versões da API e um período de testes e avaliação, em Março de
2014 a API se torna aberta para o público de maneira geral.
Neste momento, o modelo de negócios sofre, novamente, mudanças.
39
Tabela 7 Canvas do terceiro modelo de negócios do Buus
Parceiros-
chave
- Prefeitura do
Rio e São Paulo;
- Fetranspor;
- Aceleradora de
Startups (Papaya
Ventures)
- Empresas de
monitoramento
de frota.
Atividades-chave
- Análise de dados de
GPS e predição;
- Desenvolvimento
de Software;
Proposta de Valor
- Informação: Previsão
de tempo de chegada
dos ônibus em uma
parada para os
passageiros;
- Informações
complementares:
localização dos pontos
de ônibus, itinerários e
linhas existentes;
- Diferencial na
prestação de serviços
para empresas de
ônibus. Canal de
comunicação com
passageiros via
mensagem.
- Share das vendas
para as empresas de
monitoramento de
frota. Agregação de
valor para plataforma
de monitoramento.
Relacionamento
com Clientes
- Pessoal
(empresários de
ônibus e )
- Redes sociais
(passageiros de
ônibus)
- Website
Segmentos
de Clientes
- Usuário de
transporte
público
rodoviário
- Empresas
de ônibus;
Recursos-chave
- Conhecimento em
transportes;
- Conhecimento em
análise de dados e
tecnologia em
tempo-real;
- Dados de GPS de
toda frota de ônibus
no Rio de Janeiro;
- Dados de
planejamento do
transporte público
rodoviário (linhas,
itinerários, rotas, etc)
Canais
- Aplicativo
Mobile;
Estrutura de Custo
- Servidores de infra-estrutura para
hospedagem de software;
Fontes de Receita
- Mensalidade cobrada da empresa de ônibus dependendo
do tamanho da frota monitorada.
- Único: Investimento em dinheiro da aceleradora;
Os DAG voltam a ser protagonistas nas atividades do Buus e viabilizam o
desenvolvimento do produto para a cidade de São Paulo e Rio de Janeiro.
40
Tabela 8 Classificação do terceiro modelo de negócios do Buus utilizando o framework de Ferro &
Osella (2012)
Tipos de Elaboração de Dados Papel do DAG na Proposta de Valor
þ Agregação de dados ☐ O produto final em si
þ Estruturação e classificação þ Ingrediente chave do produto
þ Georreferenciação de dados ☐ Ingrediente chave do serviço
☐ Mash-up ☐ Ingrediente secundário do produto
þ Validação de dados ☐ Ingrediente secundário do serviço
☐ Visual analytics
Precificação
Premium
☐ À la carte
þ Recorrente
☐ Royalties
Freemium
☐ Limitado por feature
☐ Limitado por tempo de uso
☐ Limitado por tamanho
Gratuito
☐ Baseado em publicidade
þ Subsídio cruzado
☐ Custo marginal zero
Em meados de Novembro de 2013, é lançado uma versão do Buus contendo
os dados de GPS da frota, embora ainda não estivessem inclusas as estimativas de
chegada, era possível visualizar a posição em tempo real dos coletivos na cidade, sua
direção, bem como os pontos de ônibus e informações sobre as linhas que passavam
pelo mesmo; os traçados dos itinerários também eram acessíveis.
Duas atividades de importantes de transformação empregadas foram 1) a
filtragem de dados antigos, quando um ônibus deixa de reportar por muito tempo sua
posição e 2) o desenvolvimento de algoritmo que identificava qual o sentido da linha
percorrido pelo ônibus. Para tal, os dados de planejamento (ex: itinerário
georreferenciado) obtidos junto a Fetranspor, foram fundamentais.
Outras situações também foram observadas, como por exemplo, a não
atualização da data e hora dos informes dos ônibus de acordo com a mudança de
41
horário de verão. Esse tipo de fato requer atenção do reutilizador e os devidos
tratamentos. É comum também encontrar ônibus que continuam reportando sua
posição mesmo quando já estão fora de operação, na garagem por exemplo. E ainda
ônibus que informam estar na linha X, quando na verdade estão percorrendo a linha
Y. Ou seja, embora simples o acesso aos dados, o seu uso em um produto final ainda
requer uma série de atividades, às vezes não-triviais, para que algo com valor e
qualidade seja entregue ao cidadão.
42
Figura 8 Tela inicial da primeira versão do Buus
utilizando dados abertos da Prefeitura do Rio
Figura 9 Contextualização dos ônibus localizados
através da API aberta de GPS no Buus.
Figura 10 Lista de linhas que passam em um ponto de ônibus obtida através de convênio com a
Fetranspor
43
Outros serviços Em 2014, identificando outras demandas de mercado, e como forma de diversificação
de portfólio de produtos e serviços, o Buus devido ao seu conhecimento sobre
transporte público, começou a realizar pesquisas de satisfação de clientes para
empresas de ônibus, sendo até meados de Fevereiro de 2015, duas empresas distintas
já atendidas.
Tabela 9 Canvas do quarto modelo de negócios do Buus
Parceiros-chave
- Prefeitura do
Rio e São Paulo;
- Fetranspor;
- Aceleradora de
Startups (Papaya
Ventures);
- Empresas de
monitoramento
de frota.
Atividades-chave
- Análise de dados de
GPS e predição;
- Desenvolvimento de
Software;
Proposta de Valor
- Informação: Previsão de
tempo de chegada dos
ônibus em uma parada
para os passageiros;
- Informações
complementares:
localização dos pontos de
ônibus, itinerários e linhas
existentes;
- Diferencial na prestação
de serviços para empresas
de ônibus. Canal de
comunicação com
passageiros via
mensagem;
- Entendimento da
percepção do passageiro
com a qualidade do
serviço prestado e
identificação de
demandas.
Relacionamento com Clientes
- Pessoal
(empresários de
ônibus e );
- Redes sociais
(passageiros de
ônibus);
- E-mail;
- Website.
Segmentos de Clientes
- Usuário de
transporte
público
rodoviário;
- Empresas de
ônibus;
Recursos-chave
- Conhecimento em
transportes;
- Conhecimento em
análise de dados e
tecnologia em tempo-
real;
- Dados de GPS de toda
frota de ônibus no Rio
de Janeiro;
- Dados de
planejamento do
transporte público
rodoviário (linhas,
itinerários, rotas, etc)
Canais
- Aplicativo
Mobile;
- Entrevista
presencial.
Estrutura de Custo
- Servidores de infra-estrutura para
hospedagem de software;
- Contratação de entrevistadores para
pesquisas de satisfação e despesas relativas;
- Share das vendas para as empresas de
Fontes de Receita
- Mensalidade cobrada da empresa de ônibus dependendo do
tamanho da frota monitorada.
- Pesquisa de Satisfação de Clientes-Passageiros.
44
monitoramento de frota.
Tabela 10 Classificação da quarta versão do modelo de negócios utilizando o framework de Ferro &
Osella (2012)
Tipos de Elaboração de Dados Papel do DAG na Proposta de Valor
þ Agregação de dados ☐ O produto final em si
þ Estruturação e classificação þ Ingrediente chave do produto
þ Georreferenciação de dados ☐ Ingrediente chave do serviço
☐ Mash-up ☐ Ingrediente secundário do produto
☐ Validação de dados ☐ Ingrediente secundário do serviço
☐ Visual analytics
Precificação
Premium ☐ À la carte
þ Recorrente
☐ Royalties
Freemium ☐ Limitado por feature
☐ Limitado por tempo de uso
☐ Limitado por tamanho
Gratuito ☐ Baseado em publicidade
þ Subsídio cruzado
☐ Custo marginal zero
Resultados A nova versão do aplicativo, representou um marco para os usuários do Buus e para a
própria empresa em si. Avaliando o uso feito pelos usuários, uma série de estatísticas
foram geradas. De 12 de Novembro 2013 até 15 de Fevereiro 2015, o aplicativo
atingiu a marca de 41 mil usuários e 370 mil pedidos de informação (estimativas de
chegada e localização de ônibus) em três cidades: Rio de Janeiro, São Paulo e São
Gonçalo.
Nos gráficos abaixo vemos uma amostra reduzida do conjunto de pedidos de
informação, mas que nos dá a noção de dispersão geográfica, indicando as origens dos
pedidos.
45
Figura 11 Amostra de localidades de onde o aplicativo foi utilizado no Rio de Janeiro.
Figura 12 Amostra de localidades onde o aplicativo foi utilizado em São Paulo
46
É possível detectar que desta vez, utilizando a base de dados aberta de GPS
dos ônibus, os usuários do aplicativo e do transporte público, começam a reconhecer
efetividade na ferramenta.
Figura 13 Usuário reconhecendo utilidade no aplicativo baseado em dados abertos. O ponto circular
azul representa a posição do usuário, e o marcador com o símbolo do ônibus, a posição do veículo.
“O melhor até agora na categoria. Acha os ônibus mesmo, recomendo
demais!” Usuário 1 sobre a nova versão do aplicativo.
“Parou de funcionar. Eu usava sempre esse aplicativo, mas na última
semana parou de funcionar, não acha mais nenhum ônibus!” Usuário 2,
durante uma semana de indisponibilidade da API da Prefeitura.
“Impressiona-me como podem instalar o Moovit e não colocarem o Buus em
seus smartphones! Esse é o melhor aplicativo para acompanhar o itinerário
em tempo real!”. Usuário 3 comparando com outro aplicativo da mesma
categoria.
47
Estágio Atual No presente momento, o Buus continua ativo como empresa, gerando receita
mensalmente e tentado oportunidades de diversificação do negócio. Seu compromisso
com o usuário do transporte público continua firme e no final de Fevereiro de 2015
uma nova versão do aplicativo foi lançada com uma série de melhorias e ETAs para
mais linhas do Rio de Janeiro e São Paulo. Formas de monetização a partir dos dados
abertos estão sendo testadas, já que a barreira de entrada neste mercado de prestação
de serviços para empresas de ônibus foi reduzida, e as empresas de monitoramento de
frota não são mais as únicas detentoras dos dados de GPS. Desde 2012, vem
amadurecendo seus algoritmos próprios que realizam as estimativas de chegada dos
ônibus em seus pontos, gerando ETAs mais acurados. Desenvolvendo assim, o que
consideram uma forte vantagem competitiva.
Por fim, embora DAGs estejam no cerne de sua proposta de valor,
constituindo um recurso-chave para construção de um serviço público inexistente até
então para o Rio de Janeiro, o Buus até a presente data, não gera receita diretamente a
partir dos dados abertos governamentais, embora continuamente venha testando
formas para tal.
48
Capítulo 6 Considerações Finais
A atuação do poder público pondo em prática sua política de abertura de dados,
resultou na quebra de um “oligopólio das informações de GPS de ônibus”,
diminuindo significativamente barreiras para novos entrantes em mercados que se
baseiam em dados georreferenciados. O Buus é um caso onde tais dados são
essenciais para criação de seu produto gratuito aos usuários de transporte público no
Rio de Janeiro. Ele ajuda a preencher um vácuo deixado pelo poder público quando se
trata de informação sobre o sistema de transporte, e assume a forma de um serviço
público, de utilidade reconhecida e amplamente disponível através de aplicativos para
smartphones.
A experiência com a manipulação dos dados de GPS também expôs algumas
inconsistências dos mesmos. Com certa frequência é possível encontrar ônibus que
são rotulados como se estivessem servindo determinada linha, mas ao observar o seu
traçado real nota-se uma discrepância com a rota prevista, sugerindo o cumprimento
de um itinerário pertencente a uma outra linha da mesma empresa. Intervalos de
tempo entre as atualizações da posição dos ônibus também não são regulares e
homogêneos, a frequência de atualização varia de empresa para empresa e muitas
vezes são demasiadamente baixas (maior intervalo de tempo). Essas e outras
dificuldades também foram verificadas e relatadas pelo grupo de trabalho PENSA,
vinculado à Secretaria Municipal da Casa Civil do Rio de Janeiro, em ofício enviado
às entidades do setor de transporte público e empresas envolvidas na prestação do
serviço, em Fevereiro de 2014.
Da perspectiva de negócio, os problemas relatados acima, aparecem como
uma nova barreira para que as propostas de valor centradas nesses dados se sustentem
e produtos ou serviços de qualidade sejam ofertados. Nesse caso, o domínio de
técnicas de tratamento de dados e conhecimento em sistemas de transporte público,
podem ser muito úteis para elaboração de modelos e algoritmos que detectem os
desvios apontados e os corrijam, além de gerar informações inexistentes na fonte e
valiosas para o cliente (ex: direção percorrida e estimativas de chegadas). A
49
capacidade de análise desses dados está presente no modelo de negócios do Buus a
partir da sua segunda fase, e aponta com clareza, mais um exemplo de atividade de
transformação, que dá contexto, torna útil os dados brutos e gera diferencial
competitivo.
Outro aspecto muito interessante e que serve como evidência para o que
Heusser (2012) sustenta sobre o ganho de eficiência e efetividade no serviço público,
é que o processo de abertura de dados em si, exigiu a construção de uma
infraestrutura tecnológica interna na Prefeitura do Rio para facilitar o acesso e leitura
por máquina dos dados de GPS. Isso permitiu o reuso por outro órgão público, o
Centro de Operações Rio (COR) de maneira que pudesse realizar análises e
fiscalizações mais efetivas. Até então, em visitas às secretarias e conversas com
funcionários públicos, foi identificado que a única maneira de acesso à essas
informações em tempo real, era através de um sistema de informação web por
interface gráfica para uso humano, e não por máquina em formato aberto, nem em
conformidade com qualquer atributo da Open Definition.
Sob o olhar da transparência e accountability, embora não se tenha
conhecimento de nenhuma iniciativa externa à administração pública que tenha
resultado em ingerência e mudanças no serviço, fica evidente que esses dados são
fundamentais para avaliações sobre o nível de serviço prestado e o cumprimento de
cláusulas contratuais entre o poder concedente e as concessionárias que exploram esse
sistema. Em Julho de 2013, a Prefeitura do Rio, cruzando as reclamações sobre certas
linhas e utilizando o acesso ao sistema de GPS dos ônibus, concentrou sua
fiscalização e cassou 6 linhas de ônibus operantes na zona sul da cidade (Agência
Brasil, 2013).
Por fim, dos impactos listados em literatura sobre o tema, é possível
identificar que no processo de abertura dos dados na Prefeitura do Rio de Janeiro,
observando esse caso relatado, encontram-se evidências de impacto na transparência,
accountability, aperfeiçoamento e inovação de serviços públicos, bem como na
tentativa de exploração econômica desses dados, que ocorre continuamente.
50
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