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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS UEA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLIMA E AMBIENTE PPG-CLIAMB DETECÇÃO DE FENÔMENOS EXTREMOS NA CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA NOTURNA ACIMA DA FLORESTA AMAZÔNICA A PARTIR DA ANÁLISE DE SINAIS PRECURSORES FRANCISCO OTÁVIO MIRANDA FARIAS Manaus, Amazonas Fevereiro de 2017

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLIMA E AMBIENTE – PPG-CLIAMB

DETECÇÃO DE FENÔMENOS EXTREMOS NA CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA

NOTURNA ACIMA DA FLORESTA AMAZÔNICA A PARTIR DA ANÁLISE DE

SINAIS PRECURSORES

FRANCISCO OTÁVIO MIRANDA FARIAS

Manaus, Amazonas

Fevereiro de 2017

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FRANCISCO OTÁVIO MIRANDA FARIAS

DETECÇÃO DE FENÔMENOS EXTREMOS NA CAMADA LIMITE ATMOSFÉRICA

NOTURNA ACIMA DA FLORESTA AMAZÔNICA A PARTIR DA ANÁLISE DE

SINAIS PRECURSORES

Orientador: Dr. Leonardo Deane de Abreu Sá

Co-Orientadores: Dr. Celso von Randow

Dr. Fernando Manoel Ramos

Tese de doutorado apresentada ao programa de

pós-graduação em Clima e Ambiente do

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e

Universidade do Estado do Amazonas em

cumprimento aos requisitos necessários para

obtenção do título de Doutor em Clima e

Ambiente.

Manaus, Amazonas

Fevereiro de 2017

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Sinopse: Estudaram-se métodos precursores da ocorrência de fenômenos extremos na

camada limite atmosférica noturna acima de floresta com ênfase na

aplicabilidade de métodos de sinais precursores

Palavras chave: Camada limite atmosférica noturna, sinais precursores, regimes de

turbulência, fenômenos extremos, “critical slowing down”.

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Dedico esse trabalho a toda minha família. Em especial ao “velho meu querido velho” que

esteve presente em meus pensamentos em cada linha que eu construía nesse modesto

manuscrito.

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Agradecimentos:

Dedico sinceros agradecimentos:

À minha família por todo incentivo e dedicação e orações ao longo de todo esses anos

em que estive dedicado à realização desse trabalho;

Ao Dr. Leonardo Deane de Abreu Sá pela excelente orientação e por ter me concedido

a honra de compartilhar todo o seu imenso conhecimento científico, o que possibilitou a

realização desse trabalho;

Aos meus co-orientadores Drs. Celso von Randow e Fernando Manoel Ramos por todo

o suporte, orientações e motivação científica.

Aos colegas pela colaboração constante:

Dr. Cledenilson Mendonça de Souza, Dr. Cléo Quaresma Dias-Júnior e Raony Aquino

pela colaboração durante a execução do trabalho e aos colegas Thomas Kaufmann, Rayonil

Carneiro e Vinicius pela ajuda constante nas simulações de modelo;

Sou especialmente grato ao Dr. Gilberto Fisch, à Dra. Rosa Maria Nascimento dos

santos e ao Dr. Theomar Neves Trindade por toda colaboração na execução desse trabalho e

esforço especial nas simulações de modelo;

Ao projeto CHUVA que cedeu as imagens de radar e ao Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE) que disponibilizou imagens do satélite GOES existentes no banco de dados

da Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (DSA) do Centro de Previsão de Tempo e

Estudos Climáticos (CPTEC);

Agradeço à FAPEAM pela bolsa de estudos concedida

Agradeço à Universidade do Estado do Amazonas pelo apoio e incentivo à realização

do presente trabalho;

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Agradecimentos especiais são destinados a todos aqueles que participaram das

atividades de campo do projeto GoAmazon 2014/2015;

Agradeço aos Drs. Luiz Augusto Toledo Machado, Wagner Anabor e Rodrigo A. F. de

Souza pelas discussões úteis;

Sou particular e especialmente grato ao Centro de Estudos Superiores de Parintins

CESP/UEA:

Ao professor Me. David Xavier da Silva, diretor do CESP/UEA pelo constante incentivo

e empenho na formação dos docentes;

A todo o colegiado de Física do CESP/UEA:

Dr. Adriano Márcio dos Santos, Me. Antônio Leocádio Martins Ferreira e Me. Edilson

Barroso Gomes, Dr. Elton Márcio da Silva Santos, Dr. Nélio Sasaki, Dr. Marceliano Eduardo

de Oliveira, e Raimundo Teixeira Nascimento Filho. Sem a imensa colaboração deles, a

realização desse trabalho se tornaria muito difícil.

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“... que a boa fama seja para o homem senhor, como para a senhora, seu bem de maior

valor (...),

(...) se me roubam dinheiro, roubam algo que é meu, mas que foi de outros e ainda será

de mil outros,

Mas tudo que se subtrai de meu bom nome desfalca-me de um bem que ao ladrão não

enriquece, mas que a mim torna completamente pobre ...”

(Trechos do que ainda resta na minha memória sobre textos de

William Shakespeare estudados na 6ª série do ensino fundamental)

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Resumo

É estudada a ocorrência de fenômenos extremos (FE) na camada limite estável (CLE) acima da

floresta Amazônica. Para isso foi utilizada metodologia disponível na literatura, baseada na

detecção estatisticamente robusta de sinais precursores que antecedem a existência de um ponto

de ruptura que marca o limiar entre dois estados qualitativamente diferentes do sistema

dinâmico investigado. Tais sinais precursores são detectáveis nos períodos que antecedem tal

transição crítica em que há um amortecimento considerável das flutuações turbulentas, como

se isto funcionasse como fenômeno precursor da irrupção dos fenômenos extremos, o que indica

processos característicos de "critical slowing down” (CSD), conforme a conceituação de Dakos

et al. (2012). Eles apresentam-se associados a forte atividade convectiva, com diminuições

consideráveis nos valores da temperatura potencial equivalente, θE, e com aumentos

consideráveis nas concentrações de ozônio, O3 (assumidas como variáveis de estado), além de

alterações na direção do vento e aumentos abruptos nos valores da velocidade do vento (U), em

geral indicando a transição de um regime de turbulência fraca para outro de turbulência forte.

A aplicação de outra metodologia para a caracterização de FE’s, baseada na utilização da

decomposição do sinal em escalas usando-se a Transformada Wavelet (TW) e a utilização da

informação referente aos valores das fases do sinal nas escalas permitiu a detecção de

singularidades associadas à ocorrência do FE, além da caracterização de processos associados

à sua geração, como a existência de bifurcações sub-harmônicas e super-harmônicas,

respectivamente antes e depois da eclosão do FE e de dobramento de período. A utilização de

diagramas de Poincaré, nos quais foi usada informação que precede, e também que sucede o

FE, permitiu a identificação de ponto fixo e ciclo-limite repulsores antes do FE e de ciclo-limite

e ponto fixo atratores depois do FE. Este último permaneceu existindo enquanto foi possível se

manter um regime de turbulência suficientemente forte, após o que o padrão de oscilação dos

sinais medidos pouco acima da copa florestal sofreu modificação drástica, com reflexos nos

padrões de interação entre a floresta e a atmosfera. As séries temporais usadas foram obtidas

em torre meteorológica erigida na reserva Biológica do Cuieiras, localizada a 60 km a

norte/noroeste da cidade de Manaus, norte do Brasil (S 2°36.11', W 60°12.56'), durante o

período correspondente à estação chuvosa da Amazônia, quando das campanhas experimentais

do projeto GoAmazon (Observations and Modeling of the Green Ocean Amazon) em 2014/15.

No presente estudo foram efetuados diversos testes estatísticos para comprovar a ocorrência de

fenômenos do tipo CSD na camada limite atmosférica, particularmente, na camada limite

noturna. Foram analisados quatro casos em que ocorreu CSD em períodos precursores da

transição entre os dois regimes de turbulência supramencionados, o que se verificou sempre

durante a estação chuvosa da região. Aqui serão inicialmente aprofundadas as análises para o

caso do dia 12 de abril de 2014 por se tratar do dia com maior disponibilidade de dados e para

o qual foram obtidos os melhores resultados, em comparação com os demais casos

identificados, possivelmente por se tratar de um evento em que a forte nuvem convectiva que

desencadeou o FE à superfície teve seu eixo de deslocamento espacial disposto de forma a

apontar para a região onde estava a torre experimental. Como principais conclusões, podem ser

mencionados: i) foram feitos vários testes estatisticamente robustos que comprovaram a

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existência de CSD para alguns casos na atmosfera tropical. Ao que se saiba este foi o primeiro

caso comprovado de CSD para dados experimentais na camada limite noturna; ii) os casos em

que se obteve maior robustez nas tendências dos indicadores de CSD foram aqueles em que o

eixo de deslocamento da nuvem estava apontando na direção da torre experimental; iii) as

variáveis que se mostraram mais adequadas para verificar a ocorrência de CSD foram 𝜃𝐸 e

concentração de 𝑂3; iv) Aumentos significativos nos indicadores ocorrem uma única vez por

transição, reafirmando os princípios do CSD já analisados na literatura disponível e discutidos

ao longo do presente manuscrito; v) Todas as tendências positivas para existência de CSD

ocorreram sempre em transições entre regimes de turbulência fraca e forte e estiveram sempre

acompanhadas de mudanças de pelo menos 45° na direção do vento e presença de convecção

profunda nos arredores do sitio experimental; vi) para alguns casos verificou-se a existência de

ciclos repulsores e atratores associados às flutuações de variáveis como a velocidade do vento.

Esses ciclos foram obtidos a partir da construção de diagramas de Poincaré associando as

flutuações das variáveis e suas respectivas derivadas temporais. Observe-se que os diagramas

de Poincaré associados aos dados de velocidade do vento foram plenamente satisfatórios para

este estudo de caso. Para os demais casos tal robustez não foi plenamente verificada, mas com

os ciclos sempre evidentes para todos os casos analisaos. Com tal metodologia foi possível

obter informações sobre o processo não linear envolvendo a interação dos movimentos

engendrados em nuvens convectivas fortes com a superfície.

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Abstract

The occurrence of extreme phenomena (EF) in the stable boundary layer (SBL) above the

Amazon forest is studied. For this, a methodology available in the literature has been proposed,

based on the statistically robust detection of precursor signals that precede the existence of a

turning point that marks the threshold between two qualitatively different states of the

investigated dynamical system. Such precursor signals are detectable in the periods prior to

such a critical transition when there is considerable dumping of turbulent fluctuations, as if they

act as a precursor to the extreme phenomena onset, which indicates characteristic “critical

slowing down” (CSD) processes, according to Dakos et al. (2012) proposition. They are

associated with strong convective motions and great changes in the values of the equivalent

potential temperature, θE, increases in the ozone O3 concentrations (which are considered as

state variables), and with changes in wind direction and abrupt increases in wind speed (U)

values, generally indicating the transition from a weak turbulence regime to a strong turbulence

regime. The application of another methodology for EFs characterization based on the Wavelet

Transform (TW) analysis and on the use of the information regarding the scale-value phase

provided by the wavelet coefficients has allowed the detection of singularities associated to the

occurrence of the EF, besides the characterization of processes associated to its generation, such

as the existence of subharmonic and superharmonic bifurcations, respectively before and after

the of EF’s occurrence, and period doubling oscillations. The use of Poincaré’s diagrams with

information obtained before and after the EF occurrence allowed the identification of a repulsor

fixed point and a repulsor limit-cycle before the EF occurrence and of an attractor limit-cycle

and an attractor fixed point after the EF occurrence. The latter remained while it was possible

to maintain a sufficiently strong turbulence regime, after which the oscillation pattern of the

signals measured just above the forest canopy presented a drastic modification, with effects on

the forest-atmosphere interaction patterns. The used time series were obtained from a

meteorological tower erected in the Cuieiras Biological Reserve, located 60 km north /

northwest of the city of Manaus, northern Brazil (S 2 ° 36.11 ', W 60 ° 12.56'), during the

Amazon rainy season regarding the experimental campaigns of the GoAmazon project

(Observations and Modeling of the Green Ocean Amazon) in 2014/15. In the present study,

several statistical tests are performed in order to verify the occurrence of CSD phenomena in

the atmospheric boundary layer, particularly in the nocturnal boundary layer. Four cases in

which CSD occurred in precursor periods of the transition between the two above mentioned

turbulence regimes were analyzed, which was always carried out during the region‘s rainy

season. Here we will initially deepen the analyzes for the case of April 12, 2014 because it is

the day with greater data availability and for which the best results were obtained in comparison

with the other identified cases, possibly because it is an event in which the strong convective

cloud that triggered FE detected at the surface had its axis of spatial displacement arranged so

as to point towards the region in which the experimental tower is located. As main conclusions,

we can mention: i) several statistically robust tests were performed in order to prove the

existence of CSD for some cases in the tropical atmosphere. To our knowledge this is the first

proven case of CSD detection for experimental data in the atmospheric nocturnal boundary

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layer; Ii) the cases in which the CSD indicators tended to be more robust were those where the

axis of displacement of the cloud was pointing towards the experimental tower; Iii) the variables

that were most adequate to verify the occurrence of CSD was θE and O3 concentration; Iv)

Significant increases in the indicators occur only once per transition, reaffirming the CSD

principles already analyzed in the available literature and discussed throughout the present

manuscript; V) All positive trends for CSD always occurred in transitions between weak and

strong turbulence regimes and were always accompanied by changes of at least 45 ° in the

direction of the wind and presence of deep convection in the surroundings of the experimental

site; Vi) for some cases there were repulsor and attractors cycles associated with oscillations of

the measured variables, such as wind speed. These cycles have been obtained from Poincaré’s

diagrams associating the variable oscillations with their respective time derivatives. It should

be noted that the Poincaré’s diagrams associated with the wind speed data were fully

satisfactory for this particular case study. For the other cases, such good accuracy was not fully

verified. With this methodology it was possible to obtain information about the nonlinear

process involving the interaction of the movements generated in strong convective clouds with

the surface.

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Sumário

Resumo .......................................................................................................................... ix

Abstract .......................................................................................................................... xi

Lista de figuras ............................................................................................................... xvii

Lista de tabelas ............................................................................................................... xxiv

Nomenclaturas ............................................................................................................... xxiv

1. Introdução .................................................................................................................. 26

2. Elementos teóricos ..................................................................................................... 33

2.1. Camada Limite Noturna ...................................................................................... 33

2.2 Tipos de regimes turbulentos ................................................................................ 34

2.3. Ocorrência de fenômenos extremos na atmosfera Tropical ................................. 40

2.4. Atmosfera tropical continental ............................................................................ 47

2.5. Convecção profunda ........................................................................................... 47

2.5.1. Convecção profunda na atmosfera tropical ............................................... 48

2.6. Temperatura Potencial Equivalente (𝜃𝐸) ............................................................ 51

2.7. Sinais de alerta precoce (EWS) - Fundamentos Teóricos: ................................... 53

2.7.1 Aplicações em Ecologia ............................................................................. 54

2.7.2 Aplicações ao Sistema Climático Global .................................................. 56

2.7.3 Aplicações a sistema de evolução rápida ................................................... 57

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2.8 Utilização de sinais de alerta precoce (EWS) na Camada Limite Atmosférica

Noturna ...............................................................................................................

63

2.8.1 Possibilidade de aplicações dos sinais de alerta precoce associados à

convecção Profunda ..................................................................................

64

3. Sítio experimental, instrumentação utilizada e dados disponíveis

3.1. Sítio Experimental ..............................................................................................

66

3.1.1 Análise de distâncias utilizando-se os subsídios oferecidos pelas imagens

topográficas do sitio experimental .............................................................

67

3.2. Instrumentação utilizada e dados disponíveis .................................................... 68

4. Métodos

4.1. Análises em tempo-escala proporcionadas pela Transformada Wavelet (TW) ... 69

4.2. Detecção de singularidades no sinal analisado .................................................... 73

4.3. Análises de diagramas em espaços de fase .......................................................... 74

4.4. Elementos estatísticos ......................................................................................... 80

4.5. Metodologia aplicada na detecção de sinais precursores de fenômenos

extremos: “Critical slowing down” ....................................................................

83

4.5.1. Critérios para identificação de um ponto de ruptura .................................. 86

4.5.2. Escolha da variável de estado e da taxa de amostragem conveniente ......... 87

4.5.3. Hipótese sobre a aplicabilidade dos métodos de sinais de alerta precoce

a fenômenos induzidos por convecção profunda .......................................

88

4.6. Breve apreciação sobre algumas proposições de Martens (1984) ....................... 92

4.7. Altura estimada do topo de nuvem ...................................................................... 94

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4.8. Estudo das características de escalas dominantes de ondulação de terreno da

reserva do CUIEIRAS ........................................................................................

96

5. Resultados e discussão

5.1. Fenômenos com Ocorrência de Amortecimento Crítico (CSD) .......................... 103

5.2. Sinais de alerta precoce aplicados à temperatura potencial equivalente (𝜃𝐸)

como variável de estado ......................................................................................

106

5.3. Sinais de alerta precoce aplicados à concentração de Ozônio (𝑂3) como

Variável de Estado ..............................................................................................

112

5.4. Discussão sobre Ocorrência de Amortecimento Crítico (CSD) .......................... 118

5.4.1. Aspectos favoráveis à ocorrência de CSD acima de floresta ..................... 118

5.5. Alguns aspectos subsidiários relevantes para uma melhor compreensão da

ocorrência do fenômeno extremo ........................................................................

120

5.5.1. Diagrama de Poincaré aplicado a uma região de amortecimento crítico

(CSD) ........................................................................................................

124

5.5.1.1. Testes associados à existência de um Envelope ............................ 125

5.5.2. Análises da velocidade horizontal U para os instantes que antecedem o

FE ..............................................................................................................

128

5.5.3. Dos instantes que sucedem o FE ................................................................ 127

5.5.4. Das etapas que sucedem imediatamente o FE a transição para os dados

de velocidade do vento horizontal (U) .......................................................

128

5.5.5. Temperatura para a situação que sucede o FE ........................................... 135

5.6. Análise de Confluência de Linhas de Mesma Fase em Múltiplas Escalas .......... 137

5.7. Caracterização do regime turbulento associado a fenômenos extremos na

Atmosfera tropical acima de floresta - Reserva do Cuieiras ...............................

147

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5.8. Organização da Convecção Profunda Acima do Sítio Experimental do Cuieiras

Considerada a Partir da Visão da Escala Grande ................................................

155

5.8.1. Verificação de nuvens profundas na região do sitio do Cuieiras

utilizando-se imagens do satélite GOES-13 e de Radar Meteorológico...

156

6. Visão Geral, Conclusões e Sugestões ........................................................................ 163

7. Referências ................................................................................................................. 167

8. Anexos

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Lista de figuras

Figura 2.2.1. Esquema representativo de três regimes de turbulência, observados para o período

noturno por Sun et al. (2012) durante o CASES-99. Regime 1, com ventos fracos;

regime 2, com ventos fortes e regime 3, sob condições intermitentes (Fonte: Sun et al.,

2012).

35

Figura 2.2.2. “Relação entre concentração de CO2 (μmol mol-1) - “c” e VTKE (m s-1) mostrando a

variabilidade de CO2 de acordo com regimes turbulentos encontrados para os Períodos

1 e 2 (menos chuvoso e chuvoso, respectivamente) ”. (Fonte: Mafra et al., 2016).

38

Figura 2.3.1. Valores do desvio padrão da velocidade vertical (σ𝑤), como uma escala de velocidade

turbulenta característica em função da velocidade média do vento, U, medidos a 67 m

de altura, correspondentes a 14 noites de observação. Os círculos “preto”, “azul” e

“vermelho” correspondem respectivamente ao regime 1 (vento baixo e turbulência

fraca), regime 2 (vento forte e forte turbulência) e regime 3 (eventos de turbulência

intermitente). (Fonte: Dias-Júnior et al., 2017).

43

Figura 2.3.2. Séries temporais da componente horizontal do vento para as alturas de (a) 52,8 m e (b)

48,1 m durante a ocorrência do fenômeno de rajada no sítio experimental de Caxiuanã.

(Fonte: Nogueira, 2008).

44

Figura 2.3.3. Sinais turbulentos das variáveis medidas por instrumentos de resposta rápida durante

o período da rajada do dia 03/11/2003: (a) temperatura; (b) componente vertical do

vento; (c) concentração de CO2; (d) umidade específica (Fonte: Nogueira, 2008).

45

Figura 2.3.4. A figura mostra a relação entre a escala de energia cinética turbulenta (VTKE) e a

Velocidade média do vento (U) mostrando os três regimes turbulentos encontrados

para o Período 1, menos chuvoso. b) Relação entre VTKE (m s-1) e Velocidade média

do vento (m s-1) mostrando os três regimes turbulentos encontrados para o Período 2,

chuvoso: Regime 1 (aro preto), Regime 2 (triângulo vermelho) e Regime 3 (aro azul).

(Fonte: Mafra et al., 2016).

46

Figura 2.5.1. Imagens de satélite referentes a uma sequência de cinco dias de dados nos quais é

possível identificar as classes de padrões de interação de acordo com a classificação

de Siqueira e Machado (2004). (a) Tipo 1; (b) tipo 2. (Fonte: Adaptação de Siqueira e

Machado 2004)

49

Figura 2.7.1. Abordagem esquemática associada a poços de potencial apresentada por Lenton et al.

(2008). Nesta, os poços representam atratores estáveis e a esfera, o estado do sistema.

Ao se aproximar de um ponto de bifurcação (tipping point), o poço fica cada vez mais

raso até o limite em que desaparece completamente. Em tal situação a profundidade do

poço é inversamente proporcional ao tempo de resposta do sistema e este tempo

aumenta à medida em que o sistema se aproxima de uma bifurcação (Fonte: Lenton et

al., 2008).

61

Figura 3.2. Torre experimental micrometeorológica K34, localizada na reserva do Cuieiras (60

km da cidade de Manaus-Am) e características topográficas do sitio experimental

(Fonte: TOPODATA - Banco de dados Geomorfométricos do Brasil

http://www.dsr.inpe.br/topodata/dados).

66

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Figura 3.2. Triangulações utilizadas para estimar as distâncias entre pontos conhecidos que

representam as localizações das torres experimentais K34, e do projeto ATTO e a

cidade de Manaus utilizadas para validar procedimento utilizado na estimativa das

distâncias de interesse.

68

Figura 4.1. Exemplo da aplicação da função autocorrelação à série temporal de temperatura virtual

em função do número de pontos da série. Esta figura corresponde ao intervalo de

tempo que antecede um evento de CSD para dados acima de floresta.

81

Figura 4.5.1. Esquema representativo dos passos seguidos na análise de sinais turbulentos utilizados

para testar se houve efetivamente a ocorrência de um processo de amortecimento

crítico.

85

Figura 4.5.2. Proposta de esquema representativo de interação entre duas bacias de atração,

representadas pela bacia atual e bacia convectiva. Neste esquema a nuvem provoca a

formação de uma bacia de atração com grande declividade (bacia convectiva) e avança

no decorrer do tempo (t até t + 4dt). Para este caso considera-se que o processo de

regeneração (formação de novos complexos de nuvens) diminui no decorrer do tempo

de modo que a nuvem profunda vai se desgastando, diminuindo a profundidade de sua

bacia de atração associada (dy). Essa aproximação simultaneamente perturba a bacia

de atração atual (com menos declividade) levando à perda de resiliência e deslocando

o sistema para uma nova condição de equilíbrio (dx). Esta aproximação entre a bacia

atual e a bacia convectiva envolveria um processo de cintilação, que é o mecanismo

pelo qual o sistema oscila entre os dois estados estáveis: Condições atuais e o novo

estado de equilíbrio. Na mesma figura é possível ainda observar um perfil idealizado

da velocidade do vento necessário para induzir o CSD. Tais perfis poderiam ser usados

em simulações posteriores visando representar condições de vento forte, fraco e

moderado na atmosfera tropical.

91

Figura 4.7.1. (a) Dados correspondentes a Radio sondagens representativas de quatro dias de dados

do período chuvoso do ano de 2014. Netas radio sondagens é possível observar que a

relação altura x Temperatura é muito próxima, com algumas variações à altura

aproximada de 17 km, que é a altura em que o mínimo de temperatura é atingido (de -

79.1 a -84.2 o C) (altura de Tropopausa). (b) Imagem de satélite que confirma a

presença de nuvens nos arredores do sitio de CUIEIRAS às 03:30 UTC do dia Juliano

103. A seta vermelha no destaque indica a direção do vento e o quadrado vermelho

indica a localização aproximada da torre K34.

95

Figura 4.8.1. Área do sítio experimental onde se desenvolve parte do projeto GoAmazon, dentro da

reserva do CUIEIRAS. Na origem está à torre de 54 m a qual serve de referencial para

a construção dos eixos nas direções (15°, 30°, 45°, ..., 175 °, 180 °). As variações de

cores na legenda que seguem do “azul” para o “vermelho” representam a elevação do

terreno, em metros.

97

Figura 4.8.2. Exemplos da utilização da TW complexa de Morlet aplicada à analise altimétrica do

terreno a partir do ponto de localização da torre experimental K34. Nesta, constam

vistas altimétricas do terreno nas direções correspondente a: (a) 0°; (b) 45°; (c) 90° e

(d) 120°. A seta “vermelha” aponta a direção Norte e corresponde a “zero graus”. A

rotação é no sentido horário, de modo que Leste corresponde à direão de 90°. O arco

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que corresponde da direção de 0° até 120° corresponde ao intervalo de interesse (cone

de interesse) a ser utilizado em análises posteriores.

99

Figura 5 DJ 102: Definição do ponto de transição para os dados de (a) Série temporal bruta (na

cor “preta”) e suavizada (na cor “vermelha”) da componente horizontal do vento na

qual a linha “azul” corresponde ao valor limiar de transição. As setas vermelhas 1 e 2

marcam os intervalos de tempo que antecede a eclosão do FE. As setas 3 e 4 marcam

o intervalo de tempo que sucede o FE; (b) Série temporal bruta (na cor “preta”) e

suavizada (na cor “vermelha”) da temperatura potencial equivalente; (c) série temporal

bruta (na cor “preta”) e suavizada (na cor “vermelha”) da concentração de Ozônio à

superfície. Nas figuras (b, c) as setas indicando o limiar (Tipping point) são

correspondentes à seta de número 2 na figura (a).

102

Figura 5.1.1. Tendências dos principais indicadores, quando aplicados à série temporal de vento

horizontal como Variável de Estado (VE). Aqui foi utilizada uma série contendo 70%

do comprimento do segmento de VE que antecedeu a eclosão do Fenômeno Extremo

(FE) e os resultados mostram: (a) Segmento de 70% do comprimento da série temporal

da variável de estado, (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e

através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1), (c) desvio padrão.

104

Figura 5.1.2. Tendências dos principais indicadores estatísticos, quando aplicados à série temporal

de pressão atmosférica como Variável de Estado (VE). Aqui foi utilizada uma série

contendo 70% do comprimento do segmento de VE que antecedeu a eclosão do

Fenômeno Extremo (FE) e os resultados mostram: (a) Segmento de 70% do

comprimento da série temporal da VE; (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro

passo (LAG1) e através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1); (c) Desvio

Padrão.

105

Figura 5.2.1. Tendências dos principais indicadores estatísticos, quando aplicados à série temporal

de 𝜃𝐸 como Variável de Estado. (a) Segmento correspondente a 55% do comprimento

da série temporal da Variável de Estado; (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro

passo (LAG1) e através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1); (c) Desvio

padrão (Variância) (d) Skewness e Curtose.

108

Figura 5.2.2. Tendências dos principais indicadores estatísticos, quando aplicados à série temporal

residual obtida após filtragem Gaussiana (Residuals of detrend data) de 𝜃𝐸 como

Variável de Estado. (a) Segmento correspondente a 55% do comprimento da série

temporal da Variável de Estado; (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo

(LAG1) e através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1); (c) Desvio padrão

(Variância) (d) Skewness e Curtose.

108

Figura 5.2.3. Distribuição de tendências para os indicadores estatísticos: (a) Função autocorrelação

obtida através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1), (b) Função

Autocorrelação obtida no primeiro passo acf1, (c) Desvio Padrão SD, (d) Skewness

(SK) e (d) Curtose (Kurt), quando θE foi usada como variável de estado.

110

Figura 5.2.4. Distribuição de tendências obtidas pós-surrogate para (a) Autocorrelação e (b)

Variância. Os círculos pretos indicam as respectivas máximas concentrações de pontos

anteriormente verificadas nas distribuições de Kendall (tau).

111

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xx

Figura 5.3.1. Tendências dos principais indicadores, quando aplicados à série temporal real de 𝑂3

como variável de estado. (a) Segmento correspondente a 50% do comprimento da série

temporal da Variável de Estado; (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo

(LAG1) e através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1); (c) Desvio padrão

(Variância) (d) Skewness e Curtose.

114

Figura 5.3.2. Tendências dos principais indicadores, quando aplicados à série temporal residual

(Residuals of detrend data) usando 𝑂3 como variável de estado. (a) Segmento

correspondente a 50% do comprimento da série temporal da Variável de Estado; (b)

Função Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e através do coeficiente auto

regressivo de ordem 1 (ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e Curtose.

114

Figura 5.3.3. Distribuição de tendências para os indicadores estatísticos: (a) Função autocorrelação

obtida através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1), (b) Função

Autocorrelação obtida no primeiro passo acf1, (c) Desvio Padrão SD, (d) Skewness

(SK) e (d) Curtose (Kurt), quando O3 foi usada como variável de estado.

115

Figura 5.3.4. Teste de distribuição de tendências para Autocorrelação e Variância realizados após

Surrogate para a concentração de 𝑂3. Os círculos pretos indicam as respectivas

máximas concentrações de pontos anteriormente verificadas nas distribuições de

Kendall (tau).

116

Figura 5.5.1. Série temporal da velocidade horizontal do vento mostrando Fenômeno Extremo (FE).

O painel de destaque apresenta a região pós-FE, na qual pode-se verificar um

comportamento típico de uma oscilação sob efeito de amortecimento subcrítico. Na

figura principal, a seta na cor “vermelha” localiza a região em destaque e a linha na

cor “preta” localiza a velocidade limiar. No destaque a linha “magenta” representa o

que pode ser considerado como um eixo de simetria entre os lados superior e inferior

do envelope representado pelas duas linhas na cor “preta”.

121

Figura 5.5.2. Intervalo da série temporal da velocidade do vento no qual podem-se verificar dois

comportamentos distintos: O primeiro, que vai desde a origem até o ponto “M”,

apresenta um comportamento típico de oscilação amortecida, à qual é possível

associar-se um envelope que é representado pelas linhas na cor “preta” na figura e que

caracteriza uma região em que ainda predomina o regime de forte turbulência. O

segundo intervalo, que vai do ponto “M” em diante, mostra uma mudança de tendência

da série temporal e possivelmente o fim da prevalência da ação do FE. Isso por que a

partir do ponto “M” retorna-se às condições de regime de turbulência fraca, em que os

efeitos do FE não são mais dominantes.

122

Figura 5.5.3. Série temporal da Temperatura Potencial Equivalente, na qual também se destacou a

região pós-FE, em que se verifica um comportamento típico de uma oscilação sob

efeito de amortecimento subcrítico. Na Figura Principal, a seta na cor “vermelha”

localiza a região do painel em destaque. Neste, por sua vez, a linha “magenta”

representa o que pode ser considerado como um eixo de simetria entre os lados superior

e inferior do envelope representado pelas duas linhas na cor “preta”.

123

Figura 5.5.4. Intervalo da série temporal da temperatura Potencial Equivalente, na qual pode-se

verificar (assim como para a velocidade de vento da Figura 5.5.2) dois comportamentos

distintos. O primeiro que vai desde a origem até o ponto “M’ ” apresenta um

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comportamento típico de oscilação amortecida, à qual é possível associar um envelope

que é representado pelas linhas na cor “preta”. O segundo intervalo que vai do ponto

“M’ ” em diante mostra uma mudança de tendência da série temporal e possivelmente

o fim da prevalência do FE.

124

Figura 5.5.1.1. Relação entre flutuações dos dados obtidos a partir da Equação 5.5.1.1 e suas

respectivas derivadas temporais para: (a) períodos que antecedem o FE em que o

aumento de amplitude pode ser obtido utilizando-se o valor positivo da constante “a”;

e (b) intervalo de tempo que sucede o FE, cujo amortecimento foi obtido utilizando-se

o valor negativo da constante “a”.

126

Figura 5.5.1.2. Diagramas de Poincaré correspondentes aos dados do sinal bruto e de suas respectivas

derivadas temporais. No eixo horizontal consta o sinal bruto obtido diretamente da

equação 5.5.1.1. No eixo vertical consta a derivada da Equação 5.5.1.1 multiplicada

pelo fator (102) por uma questão de ajuste ao gráfico. Estes referem-se aos intervalos

temporais anteriores (a) e posteriores (b) ao FE.

127

Figura 5.5.2.1. Flutuação de TSU’s na cor “azul” e sua respectiva derivada temporal na cor “preta”

para os instantes que antecedem o FE.

129

Figura 5.5.2.2. Diagrama de Poincaré apresentando aspectos do ciclo repulsor que caracteriza os

instantes que antecedem a transição entre turbulência fraca e forte. Ele foi construído

a partir da flutuação da TSU’s representada no eixo horizontal e sua respectiva

derivada temporal (x104), representada no eixo vertical. O ponto “O” marca a origem,

“P1”, “P2” e “P3” marcam os centros de órbita sucessivas, o ponto “A” marca o

aumento de amplitude entre o segundo e o terceiro ciclos e “H”, o “tipping point”

anterior à eclosão do “FE” e que foi usado como indicador do limiar nos testes de CSD,

“K” fornece indicações sobre características desta órbita. As setas “vermelhas”

indicam o sentido de evolução das órbitas no diagrama.

130

Figura 5.5.3.1. Séries temporais da velocidade do vento horizontal (U) em “azul ”e temperatura virtual

(TV) em “magenta” imediatamente após a ocorrência de um FE até a chegada ao ponto

“M” (não mostrado).

132

Figura 5.5.4.1 Flutuação da TSU’s na cor “azul” e sua respectiva derivada temporal na cor “preta”,

para a situação pós-FE. O ponto “M” marca o limiar, a partir do qual as oscilações

amortecidas geradas pelo FE e sua respectiva impulsão deixariam de ser dominantes,

comparativamente aos efeitos mecânicos “locais”.

133

Figura 5.5.4.2. Diagrama de Poincaré que caracteriza uma órbita atratora centrada no ponto “M”. Ele

representa os intervalos de tempo imediatamente posteriores à ocorrência FE e foi

construído a partir das flutuações da TSU’s representadas no eixo horizontal e suas

respectivas derivadas temporais (x104) representadas no eixo vertical. A linha

pontilhada que intercepta os pontos “M” e “P” marca a posição do ponto fixo atrator

em relação às órbitas consecutivas. As setas “vermelhas” indicam o sentido das órbitas.

133

Figura 5.5.4.3. Ajustes para o amortecimento subcrítico da série temporal real (linha na cor “preta”)

em comparação com o obtido por Martens (1984) (na cor “azul”) e o que resulta na

equação 5.5.1.1 (na cor “magenta”). Os termos de amortecimento foram ajustados em

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relação aos envelopes da Equação 5.5.1.2 (a, b) mostrados na figura acima. O ponto

fixo “M” está localizado à direita no limite da figura.

134

Figura 5.5.5.1. Flutuação da (𝑇𝑉) suavizada (na cor “azul”) e sua respectiva derivada temporal (na cor

“preta”), para o intervalo entre os pontos ”P” e “M”, para os instantes que sucedem

imediatamente a ocorrência do FE. O ponto “M” indica a posição do ponto fixo atrator.

135

Figura 5.5.5.2. Diagrama de Poincaré para a (𝑇𝑉) suavizada, correspondente à situação pós-FE, que

se localiza entre os pontos “P” e “M”. Observa-se que o comportamento que caracteriza

uma órbita atratora, centrada no ponto “M” (já apresentado na figura anterior), também

pode ser observado para (𝑇𝑉). A flutuação de (𝑇𝑉) é apresentada no eixo horizontal e

sua respectiva derivada temporal (x104) é representada no eixo vertical. A linha

pontilhada marca o ponto fixo atrator. As setas “vermelhas” indicam o sentido das

órbitas.

136

Figura 5.6.1. Conjunto de figuras representativas da manifestação sincronizada de um Fenômeno

Extremo, a qual pode ser observada tanto nas variáveis turbulentas (Figuras “a” até

“e”) quanto em escalogramas das fases e das partes reais dos coeficientes resultantes

da aplicação da TW complexa de Morlet (Figuras “f”, “g”, “h”) aos dados do dia

DJ103. Para melhor entendimento da duração do fenômeno em questão, nas figuras

“f”, “g” e “h” o eixo das ordenadas mostra, em lugar do período (em segundos), o

tempo correspondente a horas e minutos.

142

Figura 5.6.2. Figura representativa da relação entre (a) a série temporal de U (ms -1) e seus

respectivos escalogramas de b) de energia associada e c) da parte real dos coeficientes

obtidos aplicando a TW complexa de Morlet (as linhas tracejadas marcam as regiões

do escalograma que sugerem a existência de sub-harmonicidade, como verificado por

Lau e Weng, 1995). Novamente, para melhor entendimento da duração do fenômeno,

nas figuras “b” e “c” é mostrado o tempo correspondente a horas e minutos.

144

Figura 5.6.3. Destaque correspondente à retângulo da Figura 5.6.2b, na qual é mostrada (a) o

escalograma de energia; (b) escalograma da parte real dos coeficientes-wavelet; e (c)

oscilação para as frequências contidas entre 8,83 e 17,01 minutos. Todas essas figuras

correspondem á série temporal de vento horizontal para o intervalo entre 02:30 e 05:00

(UTC) do DJ103.

146

Figura 5.7.1. Estimativas das posições de velocidades limiares VL a partir da determinação das

abscissas associadas aos pontos em que se dá a mudança brusca na declividade da reta

num espaço de fase de VTKE x U, para cada altura com medidas disponíveis acima da

copa, em médias de 0,5 em 0,5 m/s. Estão assinalados os pontos associados à VL para

cada altura.

149

Figura 5.7.2. Representação de regimes de turbulência conforme classificação de Sun 12 para o sitio

experimental de Cuieiras (Projeto GoAmazon). Aqui o regime 1 está representado

pelos círculos “pretos”. O regime 2 está representado em duas partes: Os quadrados

“azuis” representam condições de regime de turbulência forte que não estão

classificados como resultantes de um FE. Os quadrados “magentas” representam

situações de regime 2 associadas à ocorrência de FE. Os triângulos em “marrom”

representam a ocorrência de regime 3. Estes resultados correspondem ao período

chuvoso de 2014 para o intervalo de 01 de abril de 2014 a 16 de maio de 2014 e

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também, dezembro de 2014. No gráfico, cada ponto corresponde a médias de 5 minutos

de dados. As retas “amarela” e “vermelha” correspondem a um ajuste de mínimos

quadrados para os regimes 1 e 2, respectivamente.

150

Figura 5.7.3. Relação entre o fluxo de calor sensível e a velocidade média do vento para episódios

dos regimes de turbulência fraca (na cor “preta”) e de turbulência forte moderada

(regime 2-1 na cor “azul”) e de turbulência muito forte (regime 2-2 na “cor de vinho”)

obtidos para os dados do sitio experimental do Cuieiras para o mesmo conjunto de

dados da Figura anterior (5.7.2). As barras verticais indicam valores do desvio padrão

e as cores das barras diferenciam os regimes.

151

Figura 5.7.4. Séries temporais bruta e suavizada de velocidade horizontal do vento para o DJ103. A

linha horizontal azul indica o limiar de transição entre regiões em que predominam os

regimes 1 e 2 e as linhas verticais tracejadas indicam a região de ocorrência do máximo

de FE.

152

Figura 5.7.5. Espaço de fase do tipo Sun 12 indicando ocorrências de regimes de turbulência, cada

um para intervalo de 5 min de dados, para o DJ103. Os círculos “pretos” correspondem

ao regime 1. Os triângulos nas cores “azul” e vermelha correspondem ao regime 2

moderado (regime 2-1), e os quadrados na cor “magenta correspondem ao regime 2

forçado (regime 2-2). Este diagrama de análise ponto a ponto representa o intervalo de

02:00 às 05:00 UTC.

152

Figura 5.7.6. Séries temporais brutas e suavizadas de: (a) velocidade do vento horizontal em que a

linha “azul” mostra onde fica o limiar entre os regimes 1 e 2; (b) velocidade vertical

do vento; (c) temperatura potencial equivalente, com todas as grandezas medidas a

48,2 m; (d) concentração de ozônio a 48,2 m; (e) pressão atmosférica a 35 m e (f)

pressão a 1,5 m. Nestas, a seta vermelha marca o limiar utilizado nos teste de CSD.

154

Figura 5.8.1. São apresentadas imagens do satélite GOES contendo a região do sítio experimental a

nordeste do estado do Amazonas em diversos horários UTC: (a) 01:30, (b) 02:30 e (c)

03:30 (UTC) para DJ103. A Figura (d) contém gráfico exprimindo a temperatura do

topo de nuvem acima do sitio experimental no eixo horizontal e a altura do topo da

nuvem do eixo vertical. A Figura (e) contém imagem de radar meteorológico na qual

a “estrela” marca a localização da torre experimental e a seta “vermelha”, o sentido

preferencial do deslocamento das nuvens.

157

Figura 5.8.2. Ao lado esquerdo consta uma sequencia de imagens de radar utilizadas para verificar

a estrutura da cobertura de nuvens acima do sitio experimental. Associadas a estas

imagens de radar, o lado direito da figura mostra as rosas dos ventos correspondentes,

nas quais é possivel verificar as variações na direção do vento (aproximadamente de

30 em 30 minutos). A “estrela” marca a localização aproximada da torre e a seta

“vermelha” o sentido de deslocamento das nuvens em relação à torre experimental.

Este sentido de deslocamento foi estimado a partir das imagens de radar (projeto chuva:

https://www.youtube.com/user/projetochuva).

159

Figura 5.8.3. Composição entre imagem de radar para as 02:48 UTC e imagens de satélite (topodata)

utilizadas para estimar a distância entre o ponto mais alto da nuvem e a torre

experimental K34.

160

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Figura 5.8.4. Composição entre imagem de radar para as 03:00 UTC e imagem de satélite (topodata)

utilizada para estimar a distância entre o ponto mais alto da nuvem e a torre

experimental K34.

160

Figura 5.8.5. Composição entre imagem de radar para as 03:24 UTC e imagem de satélite (topodata)

utilizada para estimar a distância entre o ponto mais alto da nuvem e a torre

experimental K34

162

Lista de tabelas

Tabela 4.8.1. Análise de variabilidade e topografia do terreno na reserva do CUIEIRAS a cada 5°

94

Tabela 5.3.1. Tendências de Kendall (tau) para as Variáveis de Estado θE, e O3, nas análises de

detecção de Ocorrência de Amortecimento Crítico (CSD):

102

Nomenclaturas

APE Aumento no padrão de energia

CAPE Energia potencial disponível para convecção

CLA Camada limite atmosférica

CLN Camada limite noturna

CSD Critical slowing down

DJ082 Dia Juliano 082

DJ103 Dia Juliano 103

DJ136 Dia Juliano 136

DJ342 Dia Juliano 342

FE Fenômeno extremo

GOES Geostationary Operational Environmental Satélite

TSU’s Série temporal da velocidade do vento horizontal

SK Skewness

KURT Curtose

VE Variável de estado

VL Velocidade limiar

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VTKE Escala característica de velocidade turbulenta

TW Transformada wavelet

TTE Energia turbulenta total

TKE Energia cinética turbulenta

TPE Energia potencial turbulenta

U Velocidade média do vento horizontal

w Velocidade média do vento vertical

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26

1. Introdução

Ao longo da história, desde que Leonardo da Vinci desenhou expressões do escoamento

com padrões de organização em diversas escalas, a busca da explicação destas manifestações

do escoamento dos fluidos a elevados valores do número de Reynolds (Re) não cessou. Muitas

sugestões sobre a forma e a gênese dessas estruturas são encontradas na literatura, como as de

Townsend (1976), Hussain (1983; 1986), Robinson (1991), Lumley (1992), Panton (2001),

dentre outros, que designaram tais padrões de ordem no escoamento como estruturas coerentes.

Townsend (1976), por exemplo, estabeleceu a hipótese de que a turbulência gerada perto de

uma superfície pode ser separada em uma parte ativa que transporta momentum e uma parte

inativa que não o transporta e que a interação entre elas não existiria. Ou seja, movimentos de

maior escala, originados na camada exterior, não teriam influência significativa nos fluxos perto

da superfície (McNaughton e Brunet, 2002).

Neste trabalho, buscou-se verificar uma possível relação entre regimes de forte

turbulência e sua possível causa em manifestações bruscas à superfície. Para isso, foram

investigados movimentos convectivos sobre floresta, principalmente aqueles considerados

extremos, nos quais são verificadas assinaturas de transições bruscas nas variáveis de séries

temporais de temperatura e componentes de velocidade do vento, para a camada limite estável

(Betts et al., 2002; von Randow, 2007; Gerken et al., 2015).

O que os dados meteorológicos medidos no sítio experimental indicam é que séries

temporais de dados noturnos referentes a transições de regimes de turbulência fraca para forte

podem apresentar padrões característicos de um processo de amortecimento crítico (na Teoria

da Dinâmica dos Processos Não Lineares, chamado de “Critical Slowing Down” - CSD) e que

precedem a eclosão de um fenômeno extremo (FE), conforme analisado por Dakos et al. (2008;

2012). Em tais processos é possível confirmar seu caráter precursor de FEs através da aplicação

de um conjunto de testes estatísticos adequados cuja robustez estatística dos resultados confirma

a ocorrência de um “ponto de ruptura” (tipping point), de acordo com a metodologia proposta

por Dakos et al. (2008). O conjunto de variáveis cujos testes de robustez estatística são

significantes contribuem para a determinação da origem física do processo que gerou o

fenômeno extremo. Aqui a relação entre FE’s e a ocorrência de “CSD” será verificada

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utilizando-se sinais de alerta precoce (“early warning signals” – EWS) de acordo com a

metodologia proposta por Dakos et al. (2008) e Dakos et al. (2012) (designadas daqui em diante

por Dakos 08 e Dakos 12), a qual se adequa melhor à análise dos dados disponíveis.

Efetivamente, a distinção entre características de regimes de turbulência “fraca” e

turbulência “forte” já tem sido pesquisada há algum tempo (Mahrt, 1998; 1999; Acevedo et al.,

2015; etc.). Todavia, a metodologia proposta por Sun et al. (2012) (designada daqui em diante

por Sun 12) estabelece como interessante inovação é a possibilidade de se poder separar três

regimes turbulentos qualitativamente diferentes a partir da construção de um “espaço de fase”

adequado em que a velocidade média do vento fica no eixo das abscissas , e a escala

característica de velocidade turbulenta (VTKE) ocupa o eixo das ordenadas, sendo <.> o operador

média temporal, geralmente aplicado para séries temporais de dados noturnos, com duração de

5 min (conforme Sun et al., 2002).

Uma característica marcante dos dados inseridos graficamente em tal espaço de fase é a

de que uma fração considerável deles se agrupa ao longo de duas linhas retas que apresentam

declividades diferentes: a primeira, com declividade menor, associada a valores menores de

<U> e a segunda, com declividade maior, associada a valores maiores de <U>, sendo que a

abscissa do ponto de encontro destas duas retas indica o valor da chamada “velocidade limiar”,

VL, a qual serve como um indicador para separar um regime de turbulência fraca (regime 1) de

outro associado à turbulência forte (regime 2). Além dos pontos que se agrupam claramente ao

longo das duas retas já mencionadas, há muitas vezes um terceiro grupo de pontos que pairam

acima da região onde se alinham os pontos do regime 1, os quais, conforme sugerido por Sun

12, podem ter sua geração associada a situações de forte intermitência no escoamento

atmosférico próximo à superfície na presença de movimentos do tipo “top-down”.

Sun et al. (2016), com base nos resultados anteriores de Sun 12 e Sun et al. (2015),

procuraram explicar a origem física da diferença entre aqueles que eles consideram “os dois

principais regimes turbulentos noturnos”, os regimes 1 e 2. Para isso usaram o conceito de

energia turbulenta total (ETT), a qual resulta da soma da energia cinética turbulenta (ECT) e da

energia potencial turbulenta (EPT), cujo conceito foi proposto anteriormente por Zilitinkevich

et al. (2007). Sun et al. (2016) concluíram que no regime 1, quando <U> < VL, o aumento da

ECT a uma dada altura z próxima da superfície é controlado pela energia para aumentar EPT

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por meio da existência de um fluxo vertical de flutuabilidade. Mas, no regime 2, quando <U>

> VL, o gradiente vertical de θ abaixo da altura de medição, z, é suprimido pela existência de

grandes vórtices (eddies) turbulentos com escala “z” de tal forma que o cisalhamento vertical

do vento é capaz de gerar ECT diretamente sem que tenha que passar por uma etapa em que a

energia ETT é usada, em parte, para aumentar a EPT.

O que se tem observado acima de reservas florestais amazônicas indica que a ocorrência

do regime 2 parece estar associada a fenômenos apresentando mudanças bruscas nos valores

das variáveis meteorológicas, inclusive na direção do vento (Nogueira, 2008), além de

oscilações amortecidas que se iniciam com grandes amplitudes expressando redução da

velocidade do vento. E ainda, queda súbita em variáveis como a temperatura e a umidade

específica (Betts et al., 2002; Gerken et al., 2015; Wang et al., 2016). Além disso, tais mudanças

nas séries temporais parecem ser antecipadas pelo aparecimento de padrões de amortecimento

das flutuações turbulentas nas séries temporais de grandezas meteorológicas, as quais muitas

vezes estão associadas à presença de forte atividade convectiva com nuvens cumulonimbus e

tempestades próximas ao sitio experimental (Nogueira, 2008).

É provável que tais fenômenos semelhantes a “gust fronts” em regiões tropicais estejam

associados a correntes de densidade como as relatadas por Costantino e Heinrich (2014), em

seu estudo de modelagem de alta resolução do escoamento convectivo na costa ocidental da

África, e devam sua existência às características de desenvolvimento de complexos de nuvens

convectivas com os seus fatores ora impulsionadores, ora inibidores do desenvolvimento de

downdrafts (Wissmeier e Gooler, 2009). Convém mencionar que Charnay (2014), em sua tese

voltada para a explicação da disposição espacial das dunas observadas na região equatorial de

Titã, satélite do planeta Saturno, conseguiu explicar a sua geração através da existência de

nuvens convectivas com elevada CAPE (energia potencial disponível para convecção) e forte

cisalhamento vertical do vento, além de eventual precipitação a partir de uma simulação

numérica reproduzindo aspectos da circulação geral da atmosfera desse astro (Charnay et al.,

2015).

A detecção e previsão de fenômenos extremos que ocorrem na Geofísica, Ecologia,

Economia e outros domínios do conhecimento têm recebido crescente atenção de muitos

autores, tais como Sornette (2002), Dakos 08; Ghil et al. (2011), dentre outros, cada um dos

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quais formulando teorias para a sua caracterização precisa e a sua previsão. Em estudos futuros

espera-se poder utilizar várias metodologias diferentes e compará-las. Todavia, pretende-se

utilizar como metodologia inicial aquela de Dakos 08 em função dos dados disponíveis para a

aplicação dos vários testes estatísticos de significância, os quais revelaram ser possível prever

com antecedência alguns dos fenômenos extremos precedidos por um processo típico de CSD.

No presente estudo são investigados os casos de ocorrência do regime de forte

turbulência, o qual se caracterizou por estar sempre associado (para o caso dos dados do sítio

experimental em estudo) à presença de fenômenos extremos que ocorreriam acima do sítio

experimental, compreendendo: i) aspectos precursores da sua ocorrência; ii) algumas

características dos fenômenos extremos propriamente ditos; iii) consequências da ocorrência

dos fenômenos extremos na geração de diferentes regimes turbulentos noturnos. Na elaboração

desta investigação parte-se do particular para o geral, começando-se com a comprovação da

aplicabilidade de um método de detecção de fenômenos extremos na Camada Limite Noturna

(CLN) acima da floresta quando ocorrem regimes de turbulência muito forte. Trata-se da

metodologia de Dakos 08, a qual já foi utilizada com sucesso em vários domínios da Geofísica,

Ecologia, Economia (Bathyany et al., 2016) mas que ainda não tinha sido, ao que se sabe,

aplicada em estudo de dados experimentais oriundos de fenômenos da Camada Limite

Atmosférica (CLA), ainda que já tenha sido aplicada recentemente para caracterizar a existência

de CSD na transição tarde-noite em CLA de latitudes médias a partir de dados provenientes de

simulação numérica direta (van Hooijdonk et al., 2016).

Também são verificadas algumas características gerais de tais fenômenos extremos,

particularmente a existência de sincronização da fase das grandezas analisadas. A existência de

sincronização das fases de dois pêndulos colocados lado a lado já tinha sido observada pelo

físico holandês Christiaan Huygens no século XVII (Ramírez et al., 2016) e hoje apresenta

grande aplicação tecnológica (Glazier e Libchaber, 1988). Contudo, a determinação da fase por

escala de uma série temporal constitui procedimento recente e teve um grande avanço com o

desenvolvimento da teoria da transformada Wavelet (Meyer, 1990; Daubechies, 1992; Farge,

1992; Hubbard, 1988) e da decomposição Multirresolução (Mallat, 1989). Com isso, tem sido

possível construir diagramas pelos quais verificam-se localizações no tempo (espaço) em que

as fases do sinal em várias escalas apresentam alguma característica de continuidade, em um

intervalo considerável de escalas (Gilbert et al., 2011) naquilo que tem sido designado por

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“singularidade” (Mallat e Hwang, 1992; Weng e Lau, 1994), com a identificação de linhas com

fases constantes ou contínuas (Crook, 1988) a partir da utilização conveniente da Transformada

Wavelet Complexa (WT) ou metodologias similares (Clarke e Shen, 2015).

Tais procedimentos têm aplicação em investigação sobre a dinâmica de fenômenos não

lineares, inclusive detecção de ocorrência de bifurcações em espaços de fase como, por

exemplo, processos de “dobramento de período” (Weng e Lau, 1994; Kantz e Schreiber, 2002),

oscilações sub-harmônicas e super-harmônicas (Thompson e Stewart, 1986; Weng e Lau, 1994;

Lau e Weng, 1995; Gordeyev e Thomas, 1999; Salvi et al., 2016), dentre outros fenômenos.

Uma vez caracterizada a manifestação do fenômeno extremo propriamente dito, foi analisada a

existência de regimes distintos de organização da turbulência atmosférica próximo da superfície

(logo acima da copa florestal) após a ocorrência do fenômeno extremo. Para isso, a utilização

adequada de diagramas em espaços de fase possibilitou a identificação de pontos fixos, ciclos

limites e outras categorias de manifestação de fenômenos não lineares em espaços de fase

(Veronis, 1963; Pontriaguine, 1969; Birkhoff e Rota, 1978; Logan, 1987; Lorenz, 1993; Clarke

e Shen, 2015). Para isso utilizou-se metodologia proposta por Martens (1984), de construção

de um diagrama em espaço de fase em que as órbitas obtidas ajudam a identificar o caráter dos

processos não lineares (no caso, turbulentos) investigados, além de possibilitarem a

determinação do instante em que ocorrem modificações qualitativas em sua estrutura.

Esta pesquisa, ao que se saiba, apresenta os primeiros exemplos de detecção

comprovada do fenômeno de CSD em séries temporais medidas na camada limite atmosférica

noturna (CLN), associadas à manifestação de um “fenômeno extremo” (variação abrupta de

grandezas meteorológicas medidas em torre instalada em floresta primária na Amazônia)

precursor de ocorrência do regime turbulento 2. Ressalte-se que van Hooijdonk et al. (2016)

detectaram a existência de CSD na CLA em período de transição tarde-noite utilizando dados

de simulação numérica direta (DNS). FE’s na atmosfera já têm sido relatados na literatura.

Estes, muitas vezes, têm a sua existência associada à ocorrência de “gust fronts” (Wakimoto,

1982), também podem estar associados à presença de correntes de gravidade (Costantino e

Heinrich, 2014), de fortes tempestades (Zipser et al., 2006) e, no caso do escoamento

atmosférico acima da floresta amazônica, tais fenômenos são capazes de causar a destruição de

áreas consideráveis de floresta no que se convencionou chamar de “blowdowns” (Nelson et al.,

1994; Garstang et al., 1998; Garstang e Fitzjarrald, 1999; Negron-Juárez et al., 2010).

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Wissmeier e Goler (2009) compararam as diferenças entre as evoluções de eventos fortemente

convectivos geradores de tempestades em regiões tropicais continentais e clamaram pela

necessidade do desenvolvimento de modelos conceituais de tempestades adequados para as

regiões tropicais, sem o quê, a capacidade preditiva dos modelos numéricos fica

consideravelmente prejudicada. O ponto de partida para a identificação de tais fenômenos na

CLN amazônica efetivou-se a partir da observação da ocorrência de distintos regimes

turbulentos noturnos verificados na região, detectados com base na metodologia proposta por

Sun 12, e aprofundada em estudos posteriores de Sun et al. (2015, 2016). Há resultados na

literatura os quais comprovam que tal metodologia se aplica a muitos sítios experimentais em

regiões distintas (Martins et al., 2013; Acevedo et al., 2015; Sun et al., 2015; 2016) e com

resultados satisfatórios encontrados inclusive na subcamada rugosa existente acima da floresta

amazônica (Mafra, 2014; Sales, 2014; Andreae et al., 2015; Dias-Júnior et al., 2017).

Com base em análises de séries temporais de grandezas medidas em torre instalada na

floresta Amazônica são efetuados: 1) Caracterização e análise da possível existência de padrões

precursores de eventos extremos, detectáveis em séries temporais (Dakos 08); 2) Caracterização

de fenômenos extremos, aspectos da estatística de sua ocorrência e sua eventual relação com os

regimes turbulentos noturnos de Sun 12, particularmente no que se refere à oposição entre

regimes de turbulência forte (HOST) e turbulência fraca (MOST), segundo a denominação

sugerida por Sun et al. (2015); 3) Discussão sobre a eventual natureza não linear de alguns (se

não todos) dos fenômenos extremos, os quais poderiam ser gerados por ressonância estocástica

ou por fenômenos típicos de processos de dobramento de período ou bifurcações sub-

harmônicas (Feigenbaum, 1980; 1983; Libchaber et al., 1982; Thompson e Stewart, 1986;

Gleick, 1987; Weng e Lau, 1994; Lau e Weng, 1995).

Um resultado interessante e digno de menção foi obtido a partir dos gráficos das fases

por escala da série temporal da velocidade do vento contendo o fenômeno extremo (através da

aplicação da wavelet complexa de Morlet). Trata-se do fato de as isolinhas de mesma fase em

diversas escalas confluírem para o instante em que o fenômeno explosivo ocorreu

(provavelmente exprimindo a ação de fortes downdrafts, agindo no sitio experimental nesta

ocasião), separando nitidamente a dinâmica dos eventos que precedem e que sucedem a

ocorrência dos fenômenos explosivos (cuja manifestação deixa registros nas séries temporais

de pressão à superfície ou perto desta). Contudo, como será mostrado ao longo deste estudo, a

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caracterização robusta de CSD associado à eclosão de um FE, a partir dos dados medidos à

superfície, dependerá do grau de proximidade dos downdrafts gerados a partir das nuvens

convectivas com relação à posição em que se situa a torre no sitio experimental.

A interpretação da ocorrência de vários episódios de regime turbulento 2 ao longo de

um período da noite que se inicia antes do fenômeno extremo e termina bem após a sua

ocorrência ganha uma nova qualidade ao se construir uma modalidade de espaço de fase

contendo o que se convencionou chamar de “diagrama de Poincaré” (no eixo horizontal, a

variável meteorológica e no eixo vertical, sua derivada com relação ao tempo) (Kantz e

Schreiber, 2002; p. 37-38; Thompson e Stewart, 1991, p. 77; Logan, 1987, p. 394-397). Através

de tais diagramas foi possível identificar a existência de um ponto fixo repulsor cuja irrupção

no tempo corresponde ao início do período em que os sinais precursores do fenômeno extremo

começam a se manifestar via processo de CSD, estes associados com um padrão de ciclo-limite

no diagrama de Poincaré aplicado aos dados que antecedem o fenômeno extremo. O mesmo

diagrama foi elaborado para os dados que sucederam o fenômeno extremo, oportunidade em

que também foram observados ciclos-limite e finalmente um ponto-fixo atrator que marca o

fim da prevalência do regime turbulento 2 na CLN acima do sítio experimental.

Objetivos:

Geral:

• Verificar a ocorrência de amortecimento crítico (CSD) na Camada Limite Noturna da

atmosfera tropical acima de floresta através da análise de sinais precursores (EWS).

Objetivos específicos:

• Identificação dos testes estatísticos mais adequados para a caracterização de um CSD

na camada limite atmosférica noturna;

• Verificar a escala de tempo mais adequada para efeitos de cálculos estatísticos;

• Utilizar diagramas em espaços de fase adequados para estudar o processo que culmina

com o fenômeno extremo;

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• Utilizar os diagramas de Poincaré para localizar o início do processo e os diagramas de

fase por escala (Weng e Lau, 1994) para localizar o clímax do Fenômeno extremo;

• Identificar um padrão de bifurcação que, sugere-se, seja de Hopf (Salvi et al., 2016,

Medeiros et al. 2017)

• Verificar a relação entre fenômenos extremos e regimes de turbulência forte;

2. Elementos teóricos

Os elementos teóricos buscam proporcionar uma visão geral sobre os temas de interesse

deste trabalho através de uma breve apresentação deles nos tópicos a seguir.

2.1. Camada limite noturna

Camada Limite Noturna (CLN) é a denominação dada à Camada Limite Atmosférica

(CLA) que se forma em resposta ao resfriamento radiativo superficial noturno e que é

caracterizada por uma inversão térmica próximo à superfície (Stull, 1988). Suas características

de estabilidade com fluxos de calor relativamente pequenos, apontando da atmosfera para a

superfície, em comparação aos dos processos diurnos, apontando da superfície para a atmosfera,

particulariza esta condição como tendo, em princípio, pouca contribuição para trocas superfície-

atmosfera e dispersão de poluentes (Mahrt, 2008).

Os estudos da CLN mostraram grandes avanços no final dos anos noventa do século XX

e início do século XXI com a implantação de projetos experimentais ambiciosos, com a

disponibilidade de utilização de amplos recursos de observação e de medida de variáveis

meteorológicas relevantes e isso, realizado em vários sítios experimentais, como foi o caso dos

experimentos “Stable Atmospheric Boundary Layer Experiment in Spain” – SABLES (Cuxart

et al., 2000) e “Cooperative Atmosphere-Surface Exchange Study” – CASES-99 (Poulos et al.,

2002).

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A partir daí foi possível ampliar a compreensão da ação exercida por de numerosos

fenômenos atmosféricos noturnos como jatos de baixos níveis (Mahrt, 1999; Banta et al., 2002;

2006; Cuxart e Jiménez, 2007; Prabha et al., 2007), Ondas de Gravidade (Terradellas et al.,

2005; Meillier et al., 2008; Viana et al., 2010; Zeri e Sá, 2011), Circulações Locais (Jiménez et

al., 2006), Ventos Catabáticos (Cuxart et al., 2007), Instabilidade de Kelvin-Helmholtz

(Blumen et al., 2001; Zhang et al., 2001), Vórtices Isolados (Sun et al., 2002), Frentes de rajada

(Gust-fronts), Correntes de densidade (Terradellas et al., 2005; Viana et al., 2010) na dinâmica

da CLN, além de processos decorrentes da interação entre vários desses fenômenos.

A complexidade de tais processos é amplificada pela presença de nuvens convectivas

(Zipser et al., 2006; Wissmeier e Goler, 2009; Costantino e Heinrich, 2014) e pelas eventuais

características heterogêneas da superfície e a natureza de sua cobertura vegetal. No caso

particular da CLN acima da floresta Amazônica, durante períodos relativamente curtos (dezenas

de minutos), podem ocorrer fenômenos intensos que provocam alterações significativas na

dinâmica atmosférica e nos processos de interação biosfera-atmosfera. Eles se manifestam à

superfície na forma de variações bruscas nos valores das grandezas medidas em torres

meteorológicas, tais como picos nas componentes turbulentas do vento, variações momentâneas

na pressão, aumentos substanciais nos fluxos turbulentos e queda de temperatura potencial

equivalente (Garstang et al., 1998; Garstang e Fitzjarrald, 1999; Betts et al., 2002a; Nogueira,

2008; Mafra, 2014; Andreae et al., 2015; Wang et al., 2016).

Tais fenômenos ganham uma interpretação física particularmente interessante quando

são analisados à luz da sua classificação em distintos regimes de turbulentos noturnos propostos

por Sun et al. (2012; 2015; 2016) e cuja ocorrência foi pesquisada acima da floresta Amazônica

por Sales (2014), Mafra (2014), Andreae et al. (2015) e Dias-Júnior et al. (2017), dentre outros,

a partir de registros da sua existência em séries temporais obtidas em torres meteorológicas.

2.2 Tipos de regimes turbulentos

A turbulência para a Camada Limite Noturna tem sido classificada em: Classes de

turbulência (Cava et al., 2004) ou em regimes de turbulência, seja com base no fluxo vertical

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turbulento de calor sensível (Mahrt, 1998) ou com base, por exemplo, na relação entre

velocidade do vento e variações na energia cinética turbulenta (Sun et al., 2012; 2015;2016).

Segundo Sun et al. (2012), existiriam três regimes turbulentos com características

distintas (regime 1 com ventos fracos; regime 2 com ventos fortes e regime 3 sob condições

intermitentes). Sua metodologia de classificação depende basicamente de duas grandezas: a

velocidade média do vento horizontal U (ms-1) e a energia cinética turbulenta expressa por uma

escala característica de velocidade turbulenta, VTKE (ms-1). A transição entre os regimes

turbulentos 1 e 2 ocorre em situações nas quais a velocidade média do vento ultrapassa um

valor limiar característico, VL (the wind speed threshold) o qual indica a ocorrência de uma

mudança brusca na relação entre VTKE e U (Figura 2.2.1). Essa mudança caracteriza a transição

entre os regimes 1 e 2.

Figura 2.2.1. Esquema representativo de três regimes de turbulência, observados para o período noturno por Sun

et al. (2012) durante o CASES-99. Regime 1, com ventos fracos; regime 2, com ventos fortes e regime 3, sob

condições intermitentes (Fonte: Sun et al., 2012).

Em seu mais recente artigo, Sun et al. (2016) aprofundaram a investigação de alguns de

seus resultados apresentados em seus artigos anteriores a fim de aprimorar o significado físico

da existência de diferentes declividades para os regimes turbulentos 1 e 2. Para isso eles

utilizaram o conceito de “energia turbulenta total” (TTE), o qual resulta da adição de “energia

cinética turbulenta” (TKE) e “energia potencial turbulenta” (TPE). Ou seja, para uma dada

altura z,

𝑇𝑇𝐸 = 𝑇𝐾𝐸 + 𝑇𝑃𝐸 2.2.1

em que

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𝑇𝐾𝐸(𝑧) = [1

2(𝜎𝑢(𝑧)

2 + 𝜎𝑣(𝑧)2 + 𝜎𝑤(𝑧)

2)]1 2⁄

2.2.2

Utilizando-se a informação apresentada no artigo de Zilitinkevich et al. (2007), é

possível encontrar:

𝑇𝑃𝐸(𝑧) =1

2[(𝑔

𝑇0) (

1

𝑁(𝑧))]2

⟨(𝜃′)2⟩ 2.2.3

nesta, N(z) é a frequência de Brunt-Väisälä à altura “z”, sendo 𝑇0, a temperatura do ar e ⟨. ⟩, o

operador “média” .

Para explicar melhor as diferenças encontradas entre os regimes turbulentos 1 e 2, Sun

et al. (2016) combinaram as equações acima para TKE e TPE e obtiveram a equação:

(𝐷𝑇𝑇𝐸

𝐷𝑡) + (

𝜕𝜑𝑇𝜕𝑧

) = −⟨𝑤′𝑉′⟩𝜕⟨𝑉(𝑧)⟩

𝜕𝑧, 2.2.4

em que 𝜑𝑇 é o fluxo vertical de TKE.

Segundo Sun et al. (2016), a equação 2.2.4 mostra que TKE e TPE estão dinamicamente

acoplados, o que implica que a estratificação estável é capaz de converter TKE em TPE. Ainda,

segundo Sun et al. (2016), quando ⟨𝑉(𝑧)⟩ < 𝑉𝐿(𝑧) o aumento de TKE próximo da superfície é

contido pela energia usada para aumentar TPE por meio do fluxo de flutuabilidade. Assim

sendo, nessas condições o valor de TKE não aumenta significativamente com o crescimento de

⟨𝑉(𝑧)⟩. No entanto, segundo Sun et al. (2016), quando ⟨𝑉(𝑧)⟩ > 𝑉𝐿(𝑧), “o gradiente vertical de

temperatura potencial abaixo de z é suprimido pelos vórtices turbulentos com escala z, e o

cisalhamento vertical do vento é capaz de gerar TKE diretamente, sem ser consumido para criar

acréscimos de TPE”, o que explicaria as diferenças de declividade entre os regimes 1 e 2 (OBS:

essa afirmação seria válida especificamente para o caso do experimento CASES).

Ressalte-se que, no artigo de Sun 12 e em seus dois artigos posteriores (Sun et al., 2015;

2016), as suas conclusões resultaram de medidas efetuadas em torres meteorológicas instaladas

em terrenos suficientemente planos, em latitudes médias, como foi o caso do experimento

“Cooperative Atmosphere-Surface Exchange Study in 1999” (CASES-99) (Poulos et al., 2002).

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Ressalte-se, porém, que experimentos realizados acima da floresta Amazônica estudam

processos atmosféricos com várias características distintas daquelas observadas em sítios

experimentais como é o caso do experimento CASES-99: i) Foram realizados acima de floresta

tropical com vegetação alta (altura média das árvores superior a 30m); ii) Os sítios

experimentais amazônicos localizam-se no Trópico Úmido, com forte atividade convectiva e

elevada umidade próximo da superfície (Dickinson, 1987; Garstang e Fitzjarrald, 1999; Silva

Dias et al., 2002; Betts et al., 2009).

Apesar disso, vários autores tais como Sales (2014), Mafra (2014), Andreae et al.

(2015), Dias-Júnior (2015), Mafra et al. (2016), Dias-Júnior et al. (2017), dentre outros, foram

capazes de identificar os três regimes turbulentos noturnos propostos por Sun 12 em sítios

experimentais amazônicos tais como o da Reserva Biológica do Jarú em Rondônia, Projeto

LBA (Andreae et al., 2002) e o da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uatumã, Projeto

ATTO (Andreae et al., 2015). Desses autores, apenas Mafra (2014) e Mafra et al. (2016) foram

capazes de encontrar subsídios que poderiam tê-los levado à proposição da existência de um

segundo tipo de regime de turbulência forte acima da floresta Amazônica. Eles acharam uma

velocidade máxima de vento horizontal de 3,5 m s -1, para dados noturnos medidos a 39,4m e

46,0m, (na reserva de Uatumã, a nordeste de Manaus, onde fica o Amazon Tall Tower

Observatory - ATTO), utilizaram a escala característica de velocidade turbulenta (𝑉𝑇𝐾𝐸 =

[(1 2⁄ )(𝜎𝑢2 + 𝜎𝑣

2 + 𝜎𝑤2)]1 2⁄ ) proposta por Sun 12 para estudar a variabilidade de dados de

concentração média de CO2, “c”, com VTKE máximo de 2,4 m s-1, para uma sequência de

intervalos da grandeza VTKE e encontraram resultados que sugeriram a existência de dois

padrões diferentes de variação de “c” (Figura 2.2.2), um deles apresentando limiar de seu

padrão de variabilidade coincidindo com a velocidade média limiar do vento, VL (a qual separa

o regime de turbulência fraca daquele de turbulência forte), acima da qual o valor de “c” cresce

consideravelmente.

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Figura 2.2.2. “Relação entre concentração de CO2 (μmol mol-1) - “c” e VTKE (m s-1) mostrando a variabilidade

de CO2 de acordo com regimes turbulentos encontrados para os Períodos 1 e 2 (menos chuvoso e chuvoso,

respectivamente) ”. (Fonte: Mafra et al., 2016).

Contudo, eles encontraram um segundo valor de velocidade média do vento, VL2, em

que VL2 > VL, para o qual “c” sofreu um decréscimo considerável durante a estação chuvosa

da região (Figura 2.2.2). Porém, eles não aprofundaram a pesquisa para melhor entender as

possíveis causas da existência de VL2.

Para o caso particular da atmosfera tropical acima de floresta, a ocorrência dessa

transição VL2 poderia caracterizar a existência de uma segunda modalidade do regime 2,

associada à existência de convecção profunda acima da região em que fica o sítio experimental,

palco do fenômeno intenso e sua origem seria determinada pela presença de convecção

profunda (deep convection) (Wakimoto, 1982; Betts et al., 2002; Khairoutdinov e Randall,

2006; Zipser et al., 2006; Wissmeier e Goler, 2009; Costantino e Heinrich, 2014).

Por outro lado, Acevedo et al. (2015), utilizando dados do experimento FLOSSII

(Fluxes over Snow-Covered Surfaces II, realizado a noroeste do estado do Colorado, EUA, em

região suficientemente plana) também encontraram situações em que foi possível detectar a

existência de um segundo ponto de transição relativo à velocidade média do vento, formalmente

do tipo intitulado anteriormente de VL2, ainda que com diferença substancial em seu

significado físico, comparativamente ao mencionado anteriormente. Eles usaram designações

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próprias para se referir a regimes turbulentos noturnos similares aos de Sun 12 e as suas

respectivas transições e valores limiares de velocidades médias do vento associadas.

Assim, denominaram a transição VL de Sun 12 como sendo “transição de acoplamento”

(coupling transition) e a segunda transição por eles encontrada de “transição com travessia“

(crossover transition). Também designaram o regime 1, de turbulência fraca (camada limite

muito estável), de Sun 12, como sendo “regime desacoplado” (decoupled regime) e o regime 2,

de turbulência forte (estado fracamente estável) de Sun 12 foi chamado de “regime acoplado”

(coupled regime).

Para eles, a “transição com travessia” ocorre quando o gradiente vertical de energia

cinética turbulenta muda de sinal em todas as alturas estudadas em torre meteorológica de 30m

de altura, dotada de instrumentos de medida de turbulência (resposta rápida) em 7 níveis

distintos (de 1m a 30m de altura). Para Acevedo et al. (2015) a grande diferença entre as

velocidades limiares VL (Sun 12) e VL2 (transição com travessia) reside no fato desta última

depender de VTKE em todos os níveis, diferentemente do primeiro (VL de Sun 12), o qual está

associado a um processo local envolvendo velocidade do vento e o processo turbulento em uma

mesma altura específica. Para eles, a “transição com travessia” é o ponto localizado no eixo das

velocidades médias de vento a partir do qual “a camada do escoamento acoplada à superfície

incorpora a camada limite inteira”.

Acevedo et al. (2015) se baseiam nas equações do balanço da energia cinética turbulenta

e na equação do balanço do fluxo de calor (cujos significados físicos dos termos são

convenientemente explicados em Stull, 1988). No caso desta última, eles levaram em conta

apenas os termos seguintes: i) TGP – Gradiente de produção térmica, o qual é um termo de

produção de fluxo de calor pela estratificação térmica existente, com 𝑇𝑃𝐺 = −⟨𝑤′ 2⟩ (𝜕𝜃

𝜕𝑧); ii)

BD – Termo de destruição por flutuabilidade, que representa os efeitos da flutuabilidade na

estratificação estável, sendo 𝐵𝐷 = (𝑔

𝜃) ⟨𝜃′ 2⟩.

Usando tais relações, Acevedo et al. (2015) obtiveram conclusões interessantes sobre os

processos turbulentos noturnos que estudaram, particularmente a partir dos dados medidos a

2m de altura, em que TGP > BD (em magnitude), quando os ventos médios ficaram entre VL

(Sun 12) e VL2 (transição com travessia), explicado pela “existência de um estado acoplado

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próximo da superfície em que o gradiente térmico produz fluxo de calor mais rapidamente do

que as flutuações de temperatura são capazes de o destruir”.

Com base em seus resultados, Acevedo et al. (2015) consideraram que a relação entre

BD e TGP (𝑅𝐸𝑊𝑇 = 𝐵𝐷/𝑇𝐺𝑃) “constitui um bom indicador do estado de acoplamento da

camada limite estável em seus níveis mais baixos”, a qual, segundo eles, já foi apresentada por

Mahrt et al. (2013) como sendo a razão entre energia potencial e energia cinética do escoamento

turbulento. Tal temática também discutida por Sun et al. (2016), em que discutiram no conceito

de energia potencial de Zilitinkevich et al. (2007), no qual se basearam em suas elaborações

teóricas.

Acevedo et al. (2015) ressaltaram, porém, que a grandeza RETW não pode ser um bom

indicador do estado de acoplamento em níveis mais altos, situação em que a grandeza TGP não

deve exceder BD, mesmo em condições de ventos muito fortes. Tais resultados serão levados

em considerações na discussão dos resultados obtidos para o sítio experimental do Cuieiras, no

presente trabalho.

2.3 Ocorrência de fenômenos extremos na atmosfera Tropical

Como podem ser considerados “Fenômenos Extremos”, por que eles acontecem e o

que os caracteriza na atmosfera tropical?

É provável que a resposta a essa questão seja tão complexa quanto complexos são os

fenômenos associados à sua ocorrência na Amazônia. Por isso, este tópico trará de uma visão

geral daquilo que é permitido estimar (ver) através dos dados disponíveis para este estudo, que,

em sua grande maioria, foram medidos próximo da superfície, em torres experimentais.

Considerar-se-á como ponto de partida um estado atmosférico cujo escoamento não

apresenta desvios significativos em relação a um padrão moderado que caracteriza seus modos

normais de variabilidade. No entanto, grandes desvios relativos a este padrão normal/moderado

podem ocorrer em escalas de tempo desde as curtas até as extremamente elevadas (Marengo et

al., 2012; Boers et al., 2014; Marengo e Espinoza; 2015) e a esses desvios elevados em relação

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a uma média moderada serão tratados aqui como Fenômenos Extremos (FEs) para a atmosfera

tropical.

Eventos atmosféricos extremos e sua capacidade de gerar interessantes fenômenos à

superfície, tais como frentes de rajada (gust fronts) e correntes de densidade (“density currents”)

já têm sido reportados (Wakimoto, 1980; Garstang et al., 1998; Khairoutdinov e Randall, 2006;

Zipser et al., 2006; Wissmeier e Goler, 2009; Costantino e Heinrich, 2014). Garstang e

Fitzjarrald (1999, cap. 7) chagaram a estabelecer uma distinção entre estados da atmosfera

tropical continental. Segundo eles, em estados que eles intitulam como sendo “perturbados”, há

uma grande capacidade de as perturbações induzidas por fortes atividades convectivas

estabelecerem um processo de forte interação entre escalas.

Em tais condições, segundo eles, conceitos convencionalmente aceitos, como o da

existência de uma camada limite planetária bem definida, deveriam ser revistos. É possível que

tais condições estejam associadas à ocorrência do regime turbulento noturno com turbulência

forte, conforme sugerido por Sun et al. (2012; 2015; 2016). Tais FE’s estariam associados com

uma sinergia entre diversos fatores que se inter-relacionam quando da formação de uma forte

nuvem convectiva, conforme discutido detalhadamente por Wissmeier e Goller (2009). Dentre

tais fatores, poderiam ser mencionados: a velocidade inicial dos updrafts, a energia potencial

disponível para convecção (CAPE), o cisalhamento vertical do vento, a condição de

estabilidade da atmosfera, a ocorrência ou não de precipitação ao se intensificar a atividade

convectiva, etc. Todas estas variações simultâneas nos sinais turbulentos foram utilizadas no

processo de quantificação dos fenômenos extremos a partir de uma classe de condições

chamadas de “sinais de alerta precoce” na metodologia de detecção que será aplicada

posteriormente.

Estudos de caracterização associados a padrões do escoamento atmosférico noturno e

de regimes turbulentos associados têm recebido crescente atenção (Van de Wiel, 2002; Cava et

al., 2004; Acevedo et al., 2009; Martins et al., 2013; Sun et al., 2012; 2015a; 2015b; 2016).

Grande parte desses estudos usaram critérios baseados na construção de espaços de fase nos

quais é possível estabelecer uma distinção qualitativa entre regimes turbulentos noturnos

associados a ventos mais fracos e mais fortes, com a existência de um valor limiar de separação

(tal como o descrito por Sun et al., 2012 e aprofundado por Sun et al., 2015; 2016).

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A existência de regimes diferentes separados por um valor limiar é discutida também

Acevedo et al. (2015) para regiões de latitudes médias e por Mafra (2014); Andreae et al.

(2015); Dias-Júnior et al. (2017), dentre outros, para regiões acima de floresta tropical. A

questão é a de determinar quais as causas dessa transição e a de saber se os elementos

envolvidos podem de alguma maneira ser antecipados ou sua aproximação quantificada.

Questiona-se se existe alguma relação na transição entre limiares que marcam a

transição entre regimes turbulentos noturnos e a ocorrência de fenômenos extremos acima de

florestas e se estes fenômenos são de alguma forma caracterizados por forte movimento

convectivo e seus fortes movimentos descendentes de ar associados (downdrafts), conforme

discutido por Garstang et al. (1998), Garstang e Fitzjarrald (1999), Strong et al. (2005),

Monteiro da Silva (2008), Wang et al. (2016). A seguir serão descritas ocorrências de

fenômenos extremos e seus efeitos associados, para diversos sítios experimentais estabelecidos

na floresta Amazônica pelo experimento de larga escala na biosfera atmosfera na Amazônia

(LBA)

Rebio Jarú (2002)

A estrutura da turbulência atmosférica foi analisada por Dias-Júnior (2015) e Dias-

Júnior et al. (2017) com base no agrupamento de dados experimentais em regimes de

turbulência, conforme classificação de Sun et al. (2012). Foram utilizados dados medidos na

Reserva Biológica do Jarú, Ji-Paraná, Rondônia. Os autores observaram que, em situações de

ventos fortes e com altos valores de uma escala de velocidade turbulenta característica 𝜎𝑊, os

fluxos de calor sensível associados ao regime de turbulência forte (Regime 2 representado pelos

círculos “azuis” na Figura 2.3.1) podem chegar a ser 40 vezes maiores do que aqueles em

situações de ventos fracos com baixos valores de 𝜎𝑊 (Regime 1 representado pelos círculos

“pretos” na Figura 2.3.1). Para esta situação, analisada por Dias-Júnior et al. (2017), o fluxo de

calor sensível variou de 𝐻 = −1,82 𝑊 𝑚2⁄ no regime 1 para um valor médio de 𝐻 =

−43,62 𝑊 𝑚2⁄ no regime 2 (Dias-Júnior et al., 2017).

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Figura 2.3.1. Valores do desvio padrão da velocidade vertical (σ𝑤), como uma escala de velocidade turbulenta

característica em função da velocidade média do vento, U, medidos a 67 m de altura, correspondentes a 14 noites

de observação. Os círculos “preto”, “azul” e “vermelho” correspondem respectivamente ao regime 1 (vento baixo

e turbulência fraca), regime 2 (vento forte e forte turbulência) e regime 3 (eventos de turbulência intermitente).

(Fonte: Dias-Júnior et al., 2017).

Caxiuanã (2003)

Um estudo sobre fenômenos turbulentos noturnos foi desenvolvido por Nogueira (2008)

utilizando dados das campanhas de coleta de dados CiMeLA (Circulações de Mesoescala no

Leste da Amazônia) na estação seca do ano de 2003 e COBRA-PARÁ na estação seca do ano

de 2006. Nele foram identificados dois fenômenos turbulentos noturnos sobre a região de

Caxiuanã, na Amazônia Oriental, no final da estação seca: jatos de baixos níveis (JBNs) e fortes

rajadas de vento (Figura 2.3.2). A autora caracterizou os eventos de acordo com seus horários

de ocorrência, intensidade, altura e duração, bem como a sua evolução noturna. Contudo, ela

não fez análises de regimes ou classes de turbulência noturna, como foi posteriormente efetuado

por Dias-Júnior et al. (2017).

Ela observou que a maioria dos eventos de JBN’s observados foi acompanhada de queda

na temperatura potencial equivalente e que as rajadas de vento exerceram uma importante

influência sobre as trocas floresta-atmosfera. Ressalte-se que na Figura 2.3.2, elaborada por

Nogueira (2008) e apresentada abaixo, em que são apresentadas a variação temporal da

velocidade do vento medida em duas alturas diferentes, é possível observar outro aspecto

interessante que acompanha o aparecimento das rajadas, caracterizado pela existência de uma

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“calmaria” que antecede a sua eclosão. Na Figura 2.3.2 também é possível observar aumentos

na amplitude de oscilação na velocidade do vento horizontal após a irrupção da rajada. Sua

intensidade é “amortecida” consideravelmente quando a medida é efetuada no interior da copa.

Figura 2.3.2. Séries temporais da componente horizontal do vento para as alturas de (a) 52,8 m e (b) 48,1 m

durante a ocorrência do fenômeno de rajada no sítio experimental de Caxiuanã. (Fonte: Nogueira, 2008).

Durante a ocorrência de tais rajadas de vento é possível observar simultaneamente queda

de temperatura, aumento súbito na velocidade vertical do vento e aumentos nas concentrações

de CO2 e de vapor d’água à superfície, como é possível verificar no evento ocorrido no dia 03

de novembro de 2003 (Figura 2.3.3) (Nogueira, 2008).

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Figura 2.3.3. Sinais turbulentos das variáveis medidas por instrumentos de resposta rápida durante o período da

rajada do dia 03/11/2003: (a) temperatura; (b) componente vertical do vento; (c) concentração de CO2; (d) umidade

específica (Fonte: Nogueira, 2008).

Aqui deve-se chamar atenção para a simultaneidade dos eventos que envolvem queda

de temperatura, aumento na velocidade da componente vertical do vento e aumentos nas

concentrações de escalares.

ATTO (2014)

Mafra (2014) e Mafra et al. (2016) analisaram a variabilidade da concentração média de

CO2 relacionada a cada um dos diferentes regimes de turbulência para regiões acima de floresta.

Para isso foram usados dados do Observatório Amazônico da Torre Alta (Amazon Tall Tower

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Observatory – ATTO). A autora utilizou metodologia similar à proposta por Sun et al. (2012) e

observou que ocorrem variações sazonais na concentração de CO2 bem como variações em

decorrência da alteração nos valores médios da escala característica de velocidade turbulenta,

VTKE (Figura 2.3.4). Foi observado ainda, que a concentração média de CO2 aumenta

“levemente” com o aumento de VTKE até se atingir um primeiro limiar, a partir do qual, há uma

mudança substancial nas tendências das retas de ajuste que representam as condições de

diferentes regimes de turbulência (Figura 2.3.4), cujas declividades, positiva ou negativa,

dependem da condição sazonal (período chuvoso, com declividade positiva e período menos

chuvoso, com declividade negativa). Além disso, para valores muito maiores de VTKE (UTKE >

1,3 m/s), nota-se uma dispersão considerável nos valores das concentrações médias de CO2,

particularmente para o período menos chuvoso (uma vez que há muito pouca informação

referente ao período chuvoso para tal condição).

Para a autora “Esses resultados têm importantes consequências para a parametrização

de grandezas meteorológicas na CLN e modelagem do escoamento atmosférico na interface

floresta-atmosfera”.

Figura 2.3.4. A figura mostra a relação entre a escala de energia cinética turbulenta (VTKE) e a Velocidade média

do vento (U) mostrando os três regimes turbulentos encontrados para o Período 1, menos chuvoso. b) Relação

entre VTKE (m s-1) e Velocidade média do vento (m s-1) mostrando os três regimes turbulentos encontrados para o

Período 2, chuvoso: Regime 1 (aro preto), Regime 2 (triângulo vermelho) e Regime 3 (aro azul). (Fonte: Mafra et

al., 2016).

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2.4. Atmosfera tropical continental

Uma importante característica que deve ser considerada em estudos da atmosfera

tropical continental, são as condições físicas que governam os processos convectivos na região

e que impõem uma relativa complexidade na dinâmica das circulações atmosféricas (Holton,

2004 – p. 370-375). Entre estas características a serem consideradas estão, por exemplo:

✓ A fonte primária de energia que desencadeia distúrbios na escala sinótica é a energia

potencial disponível associada ao gradiente latitudinal de temperatura (Holton, 2004 –

p. 370-375);

✓ Circulações locais são impulsionadas por aquecimento diabático associadas a

precipitação e interações de convecção cúmulos de mesoescala e circulações de grande

escala (Holton, 2004 – p. 307).

✓ A atmosfera tropical é verticalmente mais extensa e mais quente (Holton, 2004 – p.

370-375; Wissmeier e Goler, 2009). Entre outras.

Entre as consequências da maior profundidade da tropopausa em regiões tropicais está

a formação de tempestades com uma corrente ascendente mais profunda e mais forte do que a

tempestade de latitudes médias, além de maior “tempo de vida” em comparação a tempestades

características de latitudes médias (Wissmeier e Goler 2009). A maior profundidade de nuvens

na região tropical induz a processos peculiares de grande importância na atmosfera continental

tropical, como aqueles geradores de blowdowns, downdrafts, gust fronts e correntes de

densidade, os quais estão associadas à ocorrência de convecção profunda na atmosfera,

complexos de nuvens, etc, conforme citado em Gartang et al. (1998); Garstang e Fitzjarrald

(1999); Zipser et al. (2006); Betts et al. (2002; 2009); Costantino e Heinrich (2014), o que pode

variar dependendo de os ventos na escala sinótica serem de leste ou de oeste, conforme

mencionado por Strong et al. (2005). Esses temas discutidos resumidamente a seguir.

2.5. Convecção profunda

As diferenças existentes entre a atmosfera continental tropical e de latitudes médias,

brevemente discutidas no item anterior, refletem-se nos processos convectivos característicos

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de cada uma dessas regiões. Na região tropical, a convecção profunda associada a sistemas de

mesoescala representa dois terços da precipitação global e constituem o agente dominante nos

processos de transporte de calor, umidade e momentum na troposfera livre (Costantino e

Heinrich, 2014). Por isso, em análises sobre convecção profunda deve-se considerar os

processos que regem a dinâmica de evolução e regeneração de complexos de nuvens

convectivas e como eles controlam a partição de energia na região tropical (Wakimoto, 1982;

Gartang et al., 1998; Betts et al., 2002b 2009). Para o caso de florestas, estes processos que

regem a dinâmica de nuvens na atmosfera tropical são relacionados com grandezas tais como a

quantidade de água disponível para evaporação, precipitação, umidade e cobertura vegetal

(Betts et al., 2009).

Além disso, devem-se considerar as peculiaridades representadas pela presença de

convecção profunda na região e seus efeitos característicos à superfície, como já descritos

anteriormente (Gartang et al., 1998; Garstang e Fitzjarrald, 1999; Zipser et al., 2006; Betts et

al., 2009; Costantino e Heinrich, 2014) e que causam perturbações características em grandezas

meteorológicas medidas à superfície. Movimentos do tipo “top down”, além de outros efeitos

relacionados à presença de nuvens, foram analisados por Garstang et al. (1998). Os autores

observaram que a velocidade média da frente de rajada para os casos analisados foi de 12,7 m/s

e a sua duração média de 17 minutos, acompanhadas de queda na temperatura potencial

equivalente que, em média foi de -11,38 K e aumentos de pressão de cerca de 0,57 hPa. Para

estes casos foi identificado precipitação média de 11.06 mm/dia e por isso os fenômenos

analisados foram enquadrados como sendo “wet downbursts”. Estes “wet downbursts” estão

geralmente associados a veios de intensa precipitação a partir de tempestades associadas a

convecção profunda (Garstang et al., 1998).

2.5.1. Organização da convecção profunda na atmosfera tropical

Em ambientes de floresta tropical, um salto qualitativo no entendimento dos processos

físicos envolvidos depende da capacidade de se modelar adequadamente, não só a convecção

profunda, mas também os processos de transportes a ela associados (Adams et al., 2009). Além

disso, os ciclos de variabilidade espacial e heterogeneidade muito ligados às variáveis

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termodinâmicas como Energia Potencial Disponível para Convecção (CAPE), Energia de

Inibição Convectiva (CIN) e o cisalhamento vertical do vento são fundamentais para a

compreensão das deficiências em se reproduzir adequadamente o ciclo de convecção,

principalmente o ciclo diurno (Adams et al, 2009). Outro fator importante é o papel das piscinas

frias (cold pools) na regeneração de células convectivas na região frontal de linhas de

instabilidade que avançam na atmosfera tropical (Khairoutdinov e Randall, 2006; Alcântara et

al., 2014). Isso por que, de acordo com Alcântara et al. (2014), quanto mais intensa for a piscina

fria do sistema, maior será a capacidade de geração de novas células em uma frente de nuvem.

Siqueira e Machado (2004) estudaram especificamente os principais padrões de

variabilidade da convecção na América do Sul (AS) associados com a presença de sistemas

frontais (Figura 2.5.1).

Figura 2.5.1. Imagens de satélite referentes a uma sequência de cinco dias de dados nos quais é possível identificar

as classes de padrões de interação de acordo com a classificação de Siqueira e Machado (2004). (a) Tipo 1; (b)

tipo 2. (Fonte: Adaptação de Siqueira e Machado 2004)

Eles elaboraram uma classificação para melhor investigar os vários tipos de interações

entre a convecção tropical e a presença de sistemas frontais na AS. Foram encontradas três tipos

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principais de padrões de interação (Figura 2.5.1): i) Penetração de sistemas frontais para o norte

a partir dos sub-trópicos organizando atividade convectiva nos trópicos, podendo atingir baixas

latitudes tropicais; ii) Caracteriza-se pelo aumento da convecção na direção sul, dos trópicos

para os sub-trópicos, com a organização de nuvens frias nos trópicos devido à existência de

sistemas frontais em latitudes médias; iii) Situação que se caracteriza pela inexistência de

interação entre sistemas frontais em latitudes médias e a convecção tropical.

Siqueira e Machado (2004) também reportam as seguintes características associadas à

circulação geral em altos níveis na AS: a) Aumento da inclinação meridional noroeste-sudeste

(“of the meridional northwest-southeast tilt”); b) Existência de um vórtice ciclônico de altos

níveis sobre a AS, o qual se desloca para oeste no período de dois dias que antecedem a

ocorrência de casos do tipo 2.

Siqueira e Machado (2004), através de estudo de casos, também sugeriram que estas

modalidades convecção tropical estão frequentemente associadas à presença de um vórtice

ciclônico transiente (“Transiente Cyclonic Vortex – TCV”) em baixos níveis, localizado na AS

subtropical e também à ocorrência de fortes ventos transitórios (“strong transient winds –

STW") da região amazônica para as regiões central e sudeste da AS, o que constitui um

mecanismo relevante para a manutenção de TCV e suporte da convecção no centro e sudeste

da AS.

Adicionalmente, Siqueira et al. (2005) investigaram a estrutura de sistemas convectivos

(SCs) acima da AS utilizando 3 anos de dados do “International Cloud Climatology Project”

(SCCP DX) e “microwave sensor data collected by the Tropical Rainfall Measurement

Mission” (TRMM). Eles mostraram que os três tipos de interações entre SC’s e incursões de

frentes frias na AS, discutidos acima, modelam fortemente a convecção profunda na AS

produzindo complexos convectivos de mesoescala (CCM’s) com frações apreciáveis das

nuvens de convecção profunda. Nos trópicos os CCM’s associados às interações do tipo 2 são

constituídos por maiores frações de nuvens de convecção profunda com desenvolvimento

vertical mais fraco, comparativamente às interações do tipo 1, do que resulta maiores frações

de chuva e menor presença de chuva convectiva nas interações do tipo 2.

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Recentemente, Nunes et al. (2016) analisaram a distribuição de convecção

potencialmente severa sobre a bacia amazônica utilizando 15 anos de dados do TRMM. A bacia

amazônica foi subdivida em sub-regiões, onde a região central da Amazônia, alvo do presente

estudo, apresentou maior número de caso de convecção potencialmente extremas no triênio de

Outubro a Dezembro que corresponde a fase inicial do período chuvoso desta região. Por outro

lado, o triênio em que se observou menor número de casos de tempestades potencialmente

severas foi entre Abril e Junho. Outro aspecto interessante notado é que estas tempestades

potencialmente severas foram observadas durante o período da tarde enquanto as demais

convecções ocorreram tanto durante a tarde como durante a noite.

2.6. Temperatura Potencial Equivalente (𝜃𝐸)

Uma definição clássica para temperatura potencial equivalente: ”É a temperatura

potencial que uma parcela de ar teria se toda a sua umidade fosse condensada e o calor latente

libertado, resultando no aquecimento da parcela” (Vianello e Alves, 2000, p. 100; Stull, 2014,

cap. 4)

Em ambientes com umidade relativamente alta, como por exemplo a floresta tropical,

com convecção forte presente, as análises de temperatura potencial equivalente são úteis em

situações em que prevalecem movimentos verticais (condições de instabilidade). θE é função

da umidade (por via da razão de mistura) e de temperatura (temperatura potencial), e cresce

com o aumento no teor de umidade ou aumento de temperatura (Houze Jr. e Robert, 2013).

Considerando-se que, quanto maior o teor de umidade, maior a capacidade de liberar calor

latente, 𝜃𝐸 pode ser usado para mapear regiões de maior instabilidade, auxiliando em estudos

de parametrização de grandezas meteorológicas em modelagem numérica (Garstang et al.,

1998; Houze Jr. e Robert, 2013, p. 28).

Considerando-se que na atmosfera tropical os processos convectivos são relativamente

frequentes e que a temperatura potencial equivalente θE poderia ser um indicador de processos

que desencadeiam tempestades e assim ser utilizada na quantificação de efeitos de frentes de

rajadas e demais processos que envolvem alterações à superfície causadas pela ação da

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convecção profunda. Além disso, os efeitos em fluxos de escalares que ocorrem na interface

floresta-atmosfera podem estar associados às alterações nos padrões de θE causados pela

intrusão de ar frio e seco proveniente da média e baixa troposfera no sentido da superfície (Betts

et al., 2002b; Gerken et al., 2015).

Em investigações sobre a atmosfera tropical, Betts et al. (2002b) utilizaram a

temperatura potencial equivalente para análises de alterações nas propriedades termodinâmicas

da atmosfera em reação à aproximação de convecção profunda na região. Eles definiram 𝜃𝐸 da

seguinte forma:

𝜃𝐸 = 𝜃 𝑒𝑥𝑝 (2.67𝑞

𝑇∗) 2.6.1

na qual, 𝜃 é a temperatura potencial dada em [K], 𝑞 é a razão de mistura de vapor d’água dada

em [𝑔. 𝑘𝑔−1] e 𝑇∗ é a temperatura de saturação dada em [K]. Sejam então apresentadas as

definições seguintes:

Temperatura Potencial é a temperatura que teria uma parcela de ar, inicialmente em um

nível qualquer da atmosfera (à pressão 𝑝) se fosse trazida adiabaticamente a uma pressão de

referência (𝑝0) (Vianello e Alves, 2000, p. 100; Stull, 2014, cap. 4) e pode ser escrita na forma:

𝜃 = (𝑇 + 273,15) (𝑝0𝑝)0,286

2.6.2

em que 𝑇 é a temperatura dada em (°C), 𝑝0 = 1000ℎ𝑃𝑎 é a pressão de referência e 𝑝 é a

pressão barométrica.

Razão de mistura. Formulações de Betts et al. (2002b):

𝑞 = 𝑅𝐻𝑄𝑆

(1 +𝑄𝑆622

(1 − 𝑅𝐻))

2.6.3

Nesta, 𝑅𝐻 é a umidade relativa e 𝑄𝑆 é a razão de mistura de saturação (Betts et al., 2002)

Razão de mistura de saturação:

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𝑄𝑆 =622

(0,16361 𝑝 𝑒𝑥𝑝 (−17,67 𝑇𝑇 + 243,5

) − 1) 2.6.4

Temperatura de saturação:

𝑇∗ = 55 + (2840

3,5 ln(𝜃) − ln (1000𝑞622 + 𝑞) − 4,805

) 2.6.5

Quedas na temperatura potencial equivalente foram relatadas em Garstang et al. (1998),

Garstang e Fitzjarrald (1999); Betts et al. (2002b; 2002b); Houze Jr. e Robert (2013, p. 28),

entre outros, como resultados da intrusão de ar frio e seco transportado a partir de grandes

altitudes sob o efeito de downdrafts.

2.7. Sinais de alerta precoce (EWS) - Fundamentos Teóricos:

O presente tópico, fundamentado na Teoria de Sistemas Dinâmicos Associados a

Processos Não Lineares (Dakos 08) utilizará uma análise de perturbações na CLA tropical para

verificar se estas podem estar associadas transições críticas geradas a partir de fatores externos,

como por exemplo, efeitos oriundos de convecção profunda (“Deep convection”). A análise de

tais perturbações se efetiva através da determinação de parâmetros estatísticos calculados a

partir de séries temporais de grandezas meteorológicas medidas à superfície. Pretende-se

investigar sob quais condições tais perturbações podem ser caracterizados como contendo sinais

de alerta precoce de fenômenos extremos.

Para isso pretende-se verificar quais grandezas medidas/disponíveis são mais adequadas

para quantificação de um valor crítico a partir do qual o parâmetro de controle que rege a

dinâmica do sistema passaria para um estado de equilíbrio alternativo (Sornette, 2002; Dakos

08; Ditlevsen e Johnsen, 2010).

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Em outras palavras, espera-se dispor de elementos teóricos capazes de qualificar o

processo de transição crítica. Por exemplo, se este resultou da ocorrência de ressonância

estocástica ou de processos de bifurcação sub-harmônica que exprimem a chamada rota de

dobramento de período para o caos (Thompson e Stewart, 1986, p. 291-292; Weng e Lau, 1994).

Transições abruptas entre estados alternativos em sistemas dinâmicos têm sido objeto de

estudos em diversas áreas que vão desde a Ecologia (Biggs et al., 2009; Bestelmeyer et al.,

2011; Dakos 12), o Clima (Dakos 08; Lenton, 2011; Lenton et al., 2012), e em eventos

catastróficos como ruptura de materiais, terremotos, turbulência, mercado financeiro e parto

humano (Sornette, 2002). Aqui, espera-se verificar a ocorrência de tais transições na dinâmica

da atmosférica tropical, em condições estáveis, a partir da utilização de dados experimentais.

2.7.1 Aplicações em Ecologia

Biggs et al. (2009) utilizaram estudos de alertas precoces com objetivo de identificar

antecipadamente a mudança de regime a fim de intervir no processo. Foi observado que através

do manejo da gestão pesqueira e recuperação das condições de habitat costeiro, era possível

estimar o tempo necessário para uma ação preventiva afim de evitar que o sistema sofresse

transição. Para o caso de gestão pesqueira, que pode ser rapidamente manipulada com a redução

da atividade de pesca, o tempo necessário de antecipação para evitar a transição seria de 10

anos. Para o caso de recuperação costeira o tempo é bem maior, 45 anos antes, visto que a

recuperação será gradual (lenta), ou seja, não admite intervenção direta. No entanto, como

observado pelos autores, aumentos significativos nos indicadores ocorrem uma única vez por

mudança de regime e são visíveis apenas depois de a mudança ter-se iniciado. Por isso, na

maioria dos casos, os sinais de alerta precoce não serão observáveis a tempo de uma intervenção

no sentido de evitar que a transição ocorra (Scheffer et al., 2001; Dakos 08; Biggs et al., 2009;

Dakos 12).

Bestelmeyer et al. (2011) analisaram transições bruscas entre estados de equilíbrio

distintos para ambientes marinhos (região pelágica, bentônica costeira, região marinha polar) e

ecossistema terrestre semiárido. Os autores analisaram variações de um gênero de Krill

(Nyctiphanes) em resposta à Oscilação Decadal do Pacífico (na região de California Current

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Ecosystem), abundância de pepino do mar (Pachythyone rubra) em relação ao número de dias

com ondas grandes (> 3,25m) que interrompem a evolução da população de pepinos do mar e

permite a evolução de macroalgas e demais elementos da fauna associada (na costa do Sul da

Califórnia). Analisou-se ainda a biologia reprodutiva de 3 espécies de pinguins (P. adeliae,

P. antarctica, P. papua) em resposta à duração sazonal do gelo marinho que afeta a biologia

reprodutiva dessas espécies na região península Antártica Ocidental.

Para ecossistema terrestre foi analisada a produção de espécies gramíneas

(Bouteloua eriopoda) de região semiárida (deserto de Chihuahua) e sua relação com o ciclo de

chuvas que rege sua produção. Nesse caso, os autores consideram que a variância temporal

funcionou melhor entre os indicadores para dados altamente correlacionados e amostras de alta

frequência. Além disso reconhecem a importância da regularidade das amostras para as suas

análises e consideram que a utilidade dos principais indicadores para esses casos pode depender

de quão bruscamente ocorreu a transição e do tempo de vida das espécies estudadas. O

interessante para essas duas análises de dados ecológicos é que se tratam de transições com

causas (drivers) conhecidas, nas quais supõe-se possibilidades de intervenção (Biggs et al.,

2009) ou se estabelecem uma relação imediata de causa e efeito para todos os casos

(Bestelmeyer et al., 2011). Trata-se, porém, de casos reais nos quais o ponto de transição,

quando existe, não tem uma localização bem definida. Dakos 08 e Dakos 12, por exemplo,

utilizaram dados sintéticos de situações típicas de sistemas submetidos a uma transição crítica

para séries temporais de uma variável ecológica (biomassa).

Os autores fornecem um quadro combinado/comparativo de métodos (baseado em

métricas ou modelos estatísticos para detectar transições críticas), em que um dos principais

objetivos foi o de reduzir a ocorrência de falsos alarmes. Estes falsos alarmes ocorrem quando

uma transição é forçada, por exemplo, pelo aumento sistemático de ruído o que não

necessariamente configura uma transição crítica (Ditlevsen e Johnsen, 2010; Ashwin, 2012).

Este aumento no ruído leva a um aumento na variância, mas não na autocorrelação, daí a

importância de se disponibilizar de um conjunto de indicadores e não um único indicador para

caracterizar a transição entre dois estados de equilíbrio distintos (Dakos 12). O que Dakos et al.

(2008; 2011; 2012; 2015) concluem é que é possível se obter conjunto de dados associados com

diferentes abordagens (estatísticas, por exemplo) para determinar um sinal robusto de uma

transição iminente. Como informações subsidiárias visando a ampliação dos procedimentos

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disponíveis para caracterização de sinais de alerta precoce mencionem-se as contribuições

recentes de Salvi et al. (2016), em processos biofísicos e de Medeiros et al. (2017) em processos

envolvendo a existência de ciclos limite e de outras estruturas interessantes, detectáveis em

espaços de fase, próximo de pontos de ruptura.

2.7.2 Aplicações ao Sistema Climático Global

No que se refere a análises de alerta precoce para dados paleoclimáticos terrestres,

Dakos 08; Lenton, (2011); Lenton et al. (2012), dentre outros, analisaram transições climáticas

bruscas do passado e observaram que todas elas foram precedidas por uma desaceleração

característica que se inicia bem antes da mudança real. Tal desaceleração poderia ser

quantificada por uma redução na taxa de variação do sistema e, portanto, por um aumento no

valor da função autocorrelação (Dakos et al., 2008; 2012; 2015; Lenton, 2011; Lenton et al.,

2012). Dakos 08 verificaram aumentos no valor da função autocorrelação em períodos de tempo

que antecederam mudanças climática do passado, sendo que para alguns casos o aumento na

função autocorrelação foi moderado (3 casos) a fraco (2 casos). Os resultados associados a

testes simulados mostraram que a probabilidade de encontrar aumentos na função

autocorrelação para dados “após surrogate” é muito baixa, o que reduz a possibilidade de um

falso alarme associado aos casos em que o aumento dos valores da função autocorrelação não

foi expressivo (aumento fraco na função autocorrelação). Embora os resultados obtidos por

Dakos 08 sejam considerados promissores, a utilização de um único indicador, como o aumento

na correlação de curto prazo, pode não ser suficiente para detectar uma transição climática

iminente (Ditlevsen e Johnsen, 2010).

Para Ditlevsen e Johnsen (2010) aumentos simultâneos nos valores da função

autocorrelação e variância indicariam com maior robustez uma transição iminente. Testes com

outras grandezas associadas foram realizados, como por exemplo, estimativa da menor taxa de

decaimento de subsistemas climáticos associados à modelagem da circulação termohalina do

Atlântico Norte (Held e Kleinen, 2004) com propósito de estimar sua proximidade de limiares

não lineares. Ou ainda, estimar a capacidade do sistema em alterar suas propriedades espectrais

(demonstra vermelhidão espectral) quando o sistema é movido em direção a um ponto de

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bifurcação (Kleinen et al., 2003). Estas questões associadas à relevância das estimativas e

robustez dos sinais precursores têm incentivado pesquisas no sentido de construir um quadro

comparativo de indicadores através da combinação de diferentes propriedades estatísticas

associadas a uma (ou mais) grandezas representativas das condições do sistema (Dakos 12;

Lenton et al., 2012).

Justificativas para estudos que visam identificar os chamados sinais de alerta precoce

associados a mudanças do Sistema Climático Global são evidentes, tanto no que diz respeito a

evitar possíveis catástrofes ou para buscar mecanismos de adaptação à nova realidade que se

aproxima (Dakos 08; Lenton, 2011; Lenton et al., 2012; Boulton et al., 2014). Obtiveram-se

grandes avanços na atual capacidade estimar sinais de alerta precoce a partir de modelos de

sistemas complexos como as circulações oceânicas, que, além do campo de vento que são

impulsionadas pelo grau de salinidade e temperatura do oceano (Stommel, 1961), cuja alteração

poderia ter um impacto profundo sobre o sistema climático global (Boulton et al., 2014). No

entanto a aplicação eficaz dos sinais de alerta precoce não depende apenas da precisão das

previsões, mas também de sua capacidade de gerar avisos úteis para as diferentes regiões

(Travis, 2013). Um bom exemplo disso é o grau de aplicabilidade/generalidade dos elementos

de ruptura detectados por Lenton et al. (2008), todos potencialmente associados às mudanças

climáticas iminentes. Avanços consideráveis foram também obtidos no sentido de alinhar

categorias de elementos precursores à dinâmica climática global (Dakos 08; Lenton, 2011;

Lenton et al., 2012; Travis, 2013; Boulton et al., 2014). Sinais de alerta precoce, porém, não

são exclusivos de sistemas ecológicos ou climáticos. Buscas por sinais eficientes já estão em

atividade para sistemas com evolução relativamente rápidos como furacões e tsunamis e de

evolução mais lenta como surtos de doenças (Lenton, 2011) além de mapeamentos de grandes

tempestades a partir de monitoramento terrestre (em tempo real) de variações nos campos de

pressão (Costantino e Heinrich, 2014).

2.7.3 Aplicações a sistema de evolução rápida

Trabalhos da literatura recente têm considerado a possibilidade de que muitos sistemas

dinâmicos poderiam apresentar pontos de ruptura (Dakos 08; Dakos et al., 2011; Dakos 12;

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2015; Lenton, 2011; Lenton et al., 2012). A questão é saber como grandes eventos catastróficos

podem evoluir a partir de interações/eventos individuais e isoladas de modo a provocar um

“colapso geral” através de uma sequência (improvável) de acontecimentos? (Sornette, 2002).

Isto por que transições críticas ocorrem em muitos sistemas dinâmicos complexos e podem ser

desencadeadas por fortes respostas não lineares de integrantes individuais que caracterizam um

sistema dinâmico (Livina e Lenton, 2007; Mesquita, 2007; Dakos 12).

Outra questão importante é de como representar matematicamente o comportamento de

um sistema através do desenvolvimento de equações diferenciais, o que não constitui uma tarefa

simples. Embora muitos sistemas possam ser descritos por leis determinísticas, outros

apresentam comportamentos fortemente caracterizados por sua imprevisibilidade e grande

sensibilidade às condições iniciais (Sornette 2002; Livina e Lenton, 2007). Essas questões

conduzem à reflexão de que “muitos sistemas dinâmicos apresentam graus de complexidade

algorítmica que os tornam matematicamente irredutíveis, ou seja, a única forma de os entende-

los seria pela observação de sua evolução temporal” (Sornette, 2002). Isto não impede, porém,

a utilização de métodos (matemáticos ou estatísticos) que possibilitem um esforço de previsão

de seu comportamento futuro (Sornette, 2002; Dakos 08).

Como exemplo, formulou-se a suposição de que um terremoto grande nada mais é do

que um terremoto pequeno que não parou de crescer e por este motivo nuclear (ou definir o

ponto de origem) sua origem torna-se extremamente complexa (Sornette, 2002). De modo

análogo poder-se-ia pensar que uma tempestade gigante nada mais é do que o resultado de um

processo convectivo que não parou de evoluir devido a à sua regeneração, o que evoluiu

suficientemente com acumulações sucessivas no decorrer do tempo e do espaço (Lin, 2001;

2007; Costantino e Heinrich, 2014).

O conjunto de indicadores chamados sinais de alerta precoce podem ser estimados a

partir de alterações em propriedades do sistema que levam a grandes desvios de um padrão de

variabilidade considerado normal e podem ser consequências diretas de processo em que ocorre

amortecimento crítico (Dakos 12 – Maiores informações em: http://www.early-warning-

signals.org/resources/glossary/).

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Para melhor entender a metodologia associada aos sinais de alerta precoce vai-se

apresentar abaixo de maneira simplificada o padrão conceitual simples, já descrito na literatura

por Lenton, (2011); Scheffer, (2012); Dakos et al. (2011; 2012; 2015):

Transição-crítica: Mudança abrupta no comportamento de um sistema quando

determinado parâmetro (parâmetro de controle) atingir um limiar. Matematicamente, estas

transições críticas correspondem às chamadas bifurcações catastróficas (Lenton, 2011;

Scheffer, 2012; Dakos et al., 2011; 2012; 2015).

Bifurcação: Ponto a partir do qual o estado atual de um sistema desaparece e o sistema

é forçado a se mudar para um estado alternativo (Arnol’d, 1994; Lenton, 2011; Scheffer, 2012;

Dakos et al., 2011; 2012; 2015; Salvi et al., 2016; Medeiros et al., 2017).

Indicador: é a estatística (indicador principal) selecionada, para a análise de

sensibilidade e serão aplicados a uma variável de estado. Efetivamente, os indicadores

suportados nos Toolbox dos sinais de alerta precoce disponíveis são: (ar1) coeficiente auto-

regressivo de um modelo de primeira ordem AR, (sd) desvio padrão, (acf1) autocorrelação no

primeiro lag, (sk) skewness (coeficiente de assimetria), (Kurt) curtose (Lenton, 2011; Scheffer,

2012; Dakos et al., 2011; 2012; 2015). Os demais indicadores não citados (que podem ser

obtidos em http://www.early-warning-signals.org/resources/glossary/) não serão utilizados

efetivamente neste trabalho (salvo na condição de elementos subsidiários para sanar eventuais

dúvidas associadas aos resultados posteriormente apresentados).

Resiliência: É a magnitude de uma perturbação que um sistema pode tolerar antes de

mudar para um estado diferente. Fisicamente é a capacidade de o sistema retornar à sua

condição original quando submetido a um desvio de seus modos normais (padrão em relação

ao que é considerado normal) de variabilidade (Dakos et al., 2012).

Amortecimento crítico: O fenômeno pelo qual o tempo de retorno ao equilíbrio em

resposta a uma perturbação aumenta perto de uma bifurcação (Lenton, 2011; Scheffer, 2012;

Dakos et al., 2011; 2012; 2015).

Variável de estado: A variável de estado, que a partir deste ponto será chamada de VE,

é uma grandeza sensível às perturbações do sistema. A partir da VE é possível identificar a

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ocorrência ou não das condições de amortecimento crítico (Lenton, 2011; Scheffer, 2012;

Dakos et al., 2011; 2012; 2015).

Ponto de ruptura (Tipping point): Um ponto de ruptura ocorre quando uma pequena

mudança desencadeia uma “resposta fortemente não linear na dinâmica interna do sistema,

mudando qualitativamente sua condição futura” (Sornette 2002; Dakos 08; Dakos 12). Esses

pontos correspondem a um valor crítico de um parâmetro de controle a partir do qual um atrator

torna-se instável, o que leva a uma alteração na bacia de atração possivelmente associada à

intrusão de um atrator de impacto (Thompson e Stewart, 1986, p. 291-292; Squartini et al.,

2013; Clark e Shen, 2015). Esta transição eleva o sistema de um estado estável de repouso para

um novo estado distinto (Sornette 2002; Scheffer et al., 2009; Ditlevsen e Johnsen, 2010;

Medeiros et al., 2017) e envolve interações entre múltiplas escalas espaciais e temporais. Como

aplicações suas podem-se citar: o sistema climático, abordado por Sornette (2002) e os

movimentos turbulentos da atmosfera na transição tarde-noite por van Hooijdonk (2016). Ao

se analisarem bifurcações associadas a estados de ruptura convém fazer uma investigação

minuciosa nos efeitos de possíveis ruídos existentes nos sinais analisados, pois eles podem

alterar o caráter da bifurcação e a localização de pontos críticos, ciclos limite e outras categorias

usadas na representação em espaço de fase de tais processos, conforme discutido com

profundidade por Salvi et al. (2016) e Medeiros et al. (2017).

Declividade da bacia de atração: Aqui, pode-se considerar como exemplo (puramente

ilustrativo), um poço de potencial com profundidade razoavelmente grande, sob a influência do

qual um sistema oscila harmonicamente (ou não), em que os vales (ou poços) representam

atratores estáveis (Lenton et al., 2008; Lenton, 2011). Considere-se então que o sistema sofre

uma influência externa que o leva a um deslocamento de sua condição normal de oscilação. Se

o poço de potencial for profundo, ou seja, tiver grande declividade, o sistema rapidamente

retornará a seu modo normal de oscilação em torno do equilíbrio, pois o agente externo não foi

capaz de romper a estabilidade do sistema e provocar grandes desvios (Dakos et al., 2012;

Lenton, 2011; Lenton et al., 2012). No entanto, admita-se que este poço fique cada vez mais

raso (com menor declividade) como representado na Figura 2.7.1.

Nessa nova condição, uma perturbação com a mesma intensidade ocasionará um grande

desvio de sua condição de equilíbrio e sua taxa de retorno será cada vez menor, até o ponto em

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que o sistema não poderá mais recuperar seu estado de equilíbrio anterior e será forçado a

transitar para um novo estado. Assim, a declividade ou o raio do poço de potencial será

inversamente proporcional ao tempo de resposta do sistema a determinadas perturbações

(Lenton et al., 2008). Esta resposta tende ao infinito quando tal sistema se aproxima do ponto

de transição (bifurcação) e a esta lentidão do sistema em retornar ao estado de equilíbrio

caracteriza um “critical slowing down” (Lenton et al., 2008; Lenton, 2011; Scheffer, 2012;

Dakos et al., 2011; 2012; 2015).

Figura 2.7.1. Abordagem esquemática associada a poços de potencial apresentada por Lenton et al. (2008). Nesta,

os poços representam atratores estáveis e a esfera, o estado do sistema. Ao se aproximar de um ponto de bifurcação

(tipping point), o poço fica cada vez mais raso até o limite em que desaparece completamente. Em tal situação a

profundidade do poço é inversamente proporcional ao tempo de resposta do sistema e este tempo aumenta à medida

em que o sistema se aproxima de uma bifurcação (Fonte: Lenton et al., 2008).

Como fora visto, uma diminuição da taxa de retorno ao equilíbrio devido à diminuição

da declividade da bacia de atração pode ser estimada indiretamente por aumento no valor da

autocorrelação e variância de uma variável quando o sistema se aproxima da transição critica

(Sornette, 2002; Lenton et al., 2008; Dakos 08; Dakos 12; Dakos et al., 2015; Lenton, 2011;

Lenton et al., 2012). Muitas vezes uma transição critica entre estados de equilíbrio alternativos

pode causar efeitos devastadores em populações/ecossistemas inteiros (Biggs et al., 2009;

Bestelmeyer et al., 2011).

Embora estimativas adequadas de indicadores que caracterizem efetivamente a

aproximação de transições críticas sejam amplamente desejáveis, uma estimativa direta da

perda de resiliência de um sistema é extremamente complexa e seus efeitos são visíveis apenas

depois de a transição já haver começado (Scheffer et al., 2001; Dakos 08; Biggs et al., 2009;

Dakos 12). Estudos recentes têm-se dedicado à busca de novas provas da existência de sinais

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de alerta precoce, como informações de tendências de skewness e curtose e dados espectrais na

tentativa de consolidação de um conjunto adequado de indicadores (Dakos 12). Além desses,

há análises de probabilidade de uma perturbação estocástica levar a uma mudança temporária

entre bacias de atração no momento em que o sistema está próximo de uma transição (Dakos

12 – Mais informações em: http://www.early-warning-signals.org/).

Muitos desses estudos têm fornecido resultados consistentes de forma a consolidar ainda

mais esses métodos de alerta precoce. No entanto, uma quantidade maior de análises e estudos

empíricos ainda são necessários para a compreensão de tais processos com dados do mundo

real (Dakos 12; Lenton et al., 2012). Isto por que, na aplicação de tais procedimentos a dados

reais, ainda existem questões a serem cuidadosamente consideradas como aquelas expressas

por: (i) baixa frequência de amostragem, ou associadas às dificuldades na aplicação de técnicas

de tratamentos de dados experimentais como, por exemplo, a remoção de tendência de séries

temporais, cuja efetivação pode ter influência significativa nos resultados, (ii) procedimentos

para preenchimento de falhas em séries temporais (data gaps) em séries temporais, o que leva

à necessidade de interpolação nos dados, o que poderia comprometer a robustez das análises

(Dakos 12; Lenton et al., 2012). (iii) ambiguidades associadas à definição do local exato e a

natureza da transição para dados experimentais (Dakos 12), (iv) análises de transições forçadas

por ruídos que pode alterar a modalidade e localização de bifurcações (Salvi et al., 2016;

Medeiros et al., 2017).

Outras abordagens associadas à dinâmica de processos não lineares foram descritas na

pesquisa de Bathiany et al. (2016). Os autores mencionam a possibilidade de que transições críticas em

sistemas locais (sistemas de circulação regional) possam permanecer indetectáveis para análises

associadas a grandes áreas ou a períodos de tempo elevados (por exemplo, pode haver efetivamente uma

ocorrência de CSD na atmosfera tropical, mas ela só ser detectada através dos dados medidos à

superfície se o ponto de observação tiver um grau de proximidade espacial adequado, de forma a

possibilitar que os testes de caracterização de CSD sejam suficientemente robustos). Além disso,

análises médias de séries temporais associadas a sistemas de evolução rápida podem ofuscar a

localização de uma transição crítica (Bathiany et al., 2016).

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2.8 Utilização de sinais de alerta precoce (EWS) na Camada Limite Atmosférica

Noturna.

Limiares de Transições entre diferentes regimes turbulentos na camada limite

superficial noturna, obtidos a partir da construção de espaços de fase adequados (considerando

como parâmetros a velocidade média do vento e uma escala característica de velocidade

turbulenta) já foram documentadas por Sun et al. (2012; 2015;2016) e Acevedo et al. (2015)

para dados medidos em latitudes médias já discutidos no tópico 2.2, em que tais limiares são

assinalados por VL e VL2. Por outro lado, van Hooijdonk et al. (2016) utilizaram dados

resultantes de simulação numérica direta (DNS) para analisar a transição tarde noite da CLA.

No entanto os autores não visavam associar os sinais de alerta precoce à ocorrência de

fenômenos extremos. Transições similares também já foram observadas acima de florestas

tropicais (Mafra, 2014; Andreae et al., 2015; Dias-Júnior, 2015; 2016), mas até o presente não

se tem notícia de aplicações de procedimentos de detecção de sinais precursores na investigação

da transição entre os mencionados regimes turbulentos.

O desafio aqui é mostrar que sinais precursores como os propostos por Dakos 08 e

Dakos 12 podem eventualmente servir na previsão de ocorrências de FEs na CLN a partir da

disponibilidade de dados experimentais medidos em torres próximo da superfície. Para isso é

necessário verificar a existência de padrões precursores da irrupção de fenômenos como os

observados por Nogueira (2008) ou como aqueles identificados por Mafra (2014) e Dias-Júnior

et al. (2017).

O primeiro passo nesse sentido é verificar em que condições uma transição ocorreria e

quais os fatores que poderiam influenciar na sua ocorrência. Uma possível resposta para esta

questão seria proporcionada por situações em que um “Gust-front” gerado por convecção

profunda introduz mudanças repentinas nas condições atmosféricas próximo da superfície,

causando queda brusca na Temperatura Potencial Equivalente e aumento no teor de Ozônio

(O3), fenômeno já discutido por diversos autores (Betts et al., 2002b; Costantino e Heinrich,

2014; Wang et al., 2016). Aqui, define-se um “Gust-Front” como o limite frontal de uma

corrente descendente de ar frio originado numa nuvem com alto desenvolvimento vertical e que

se desloca horizontalmente (próximo) à superfície e marca uma grande mudança em condições

meteorológicas da superfície (Wakimoto, 1982; Garstang et al., 1988; Lin e Joyce, 2001; Betts

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et al., 2002a; 2002b; Lin 2007; Wissmeier e Goler, 2009; Costantino e Heinrich, 2014; Barth,

2014). Consequentemente uma perturbação na pressão à superfície é caracterizada por uma alta

na vanguarda do “Gust-front“, cuja máxima convergência coincide com a máxima pressão

(Houze Jr. e Robert, 2013, p. 313-319). Geralmente tal fenômeno está associado à geração de

correntes de densidade próximas da superfície (Costantino e Heinrich, 2014).

Correntes de densidade (ou Correntes de Gravidade conforme definição em Houze Jr. e

Robert 2013, p.313) são escoamentos horizontais nos quais a gravidade impulsiona o

movimento por causa de gradientes de densidade dentro de um fluido. Estas correntes de

densidade são geralmente produzidas a partir de movimentos descendentes que derivam da ação

de convecção profunda e impõem mudanças significativas em várias propriedades atmosféricas,

como por exemplo, aumento de pressão, mudanças na direção e aumento na velocidade do vento

(Wakimoto, 1982; Houze Jr. e Robert, 2013, p. 313-367; Costantino e Heinrich, 2014). Essas

variações bruscas nos sinais turbulentos que ocorrem simultaneamente a quedas de temperatura

e aumentos na concentração de escalares à superfície podem ser um ponto de partida em

aplicações de sinais de alerta precoce para Camada Limite Noturna acima de floresta.

A seguir serão apresentados os métodos que serão utilizados para verificar a Hipótese

de que existe Amortecimento Crítico na CLN.

2.8.1 Possibilidade de aplicações dos sinais de alerta precoce associados à

convecção Profunda

Considerando-se todas as dificuldades discutidas acima, a questão levantada agora é: -

Os sinais de alerta precoce (como os propostos por Dakos 08) podem ser aplicados

satisfatoriamente em análises de transições críticas para dados da atmosfera tropical?

O primeiro passo nesse sentido é verificar em que condições uma transição ocorreria e

quais os fatores que poderiam influenciar na sua ocorrência. Uma possível resposta para esta

questão seria o momento em que um “Gust-front” gerado por convecção profunda introduz

mudanças repentinas nas condições atmosféricas, causando queda brusca na Temperatura

Potencial Equivalente e aumento no teor de Ozônio (O3) à superfície (Betts et al., 2002;

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Costantino e Heinrich, 2014; Wang et al., 2016). Aqui, define-se um “Gust-Front” como o

limite frontal de uma corrente descendente de ar frio originado numa nuvem com alto

desenvolvimento vertical e que se desloca horizontalmente (próximo) à superfície e marca uma

grande mudança em condições meteorológicas da superfície (Wakimoto, 1982; Garstang et al.

1988; Lin e Joyce, 2001; Betts et al. 2002; 2002b; Lin 2007; Wissmeier e Goler, 2009;

Costantino e Heinrich, 2014; Barth, 2014). Consequentemente uma perturbação na pressão à

superfície é caracterizada por uma alta na vanguarda do “Gust-front“, cuja máxima

convergência coincide com a máxima pressão (Houze Jr. e Robert, 2013, p. 313-319).

Geralmente tal fenômeno está associado à geração de correntes de densidade próximas da

superfície. Correntes de densidade (ou Correntes de Gravidade conforme definição em Houze

Jr. e Robert 2013, p.313) são fluxos horizontais nos quais a gravidade impulsiona o movimento

por causa de gradientes de densidade dentro de um fluido. Estas correntes de densidade são

geralmente produzidas a partir de movimentos descendentes associados à convecção profunda

e impõem mudanças significativas em várias propriedades atmosféricas, como por exemplo,

aumento de pressão, mudanças na direção e aumento na velocidade do vento (Wakimoto, 1982;

Houze Jr. e Robert, 2013, p. 313-367; Costantino e Heinrich, 2014).

No que se refere a variações de pressão, as Figuras 8.41 e 8.42 de Houze Jr. e Robert

(2013, p. 316) demonstram resultados de simulação nas quais observa-se que o ponto de

máxima pressão coincide com o ponto de máxima convergência. O importante nesses resultados

é observar que nos pontos adjacentes à máxima convergência ocorre um fenômeno de

espalhamento do ar que pode resultar em diminuição de pressão. Costantino e Heinrich, (2014)

observam que o espalhamento destes veios de máxima convergência ocorre à medida que

atingem o solo e que estes espalhamentos podem desencadear novas correntes de convecção

em seus limites. O processo de espalhamento nos arredores de um ponto de máxima

convergência também foi documentado por Garstang et al. (1998 – Fig. 4) no estudo de fortes

correntes descendentes de ar (blowndown) acima da floresta amazônica e de alguns de seus

efeitos à superfície, tais como fluxos em resposta a um forte gradiente de pressão.

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3. Sítio experimental, instrumentação utilizada e dados disponíveis

3.1. Sítio Experimental

Os dados utilizados neste trabalho foram medidos em torre experimental instalada em

região típica da floresta amazônica de terra firme e que foi instrumentada durante as campanhas

experimentais do projeto GoAmazon 2014/15 (Observations and Modeling of the Green Ocean

Amazon) realizadas na Estação Experimental de Silvicultura Florestal e Reserva Florestal do

Cuieiras (que será designada daqui em diante por reserva do CUIEIRAS), localizada a 60 km a

norte/noroeste da cidade de Manaus, Amazonas (S 2°36.11', W 60°12.56'), no período de março

de 2014 a janeiro de 2015 (Gerken et al., 2015; Fuentes et al., 2016). A Figura 3.1 mostra a

localização (aproximada) da torre experimental intitulada K34 localizada na reserva do

CUIEIRAS (em função da sua distância da cidade de Manaus) acompanhada de características

do relevo do sítio experimental, obtidos utilizando-se dados topográficos disponibilizados pela

“Shuttle Radar Topographic Mission” (SRTM) e metodologia similar à usada por Rennó et al.

(2008).

Figura 3.1. Torre experimental micrometeorológica K34, localizada na reserva do Cuieiras (60 km da cidade de

Manaus-Am) e características topográficas do sitio experimental (Fonte: TOPODATA - Banco de dados

Geomorfométricos do Brasil http://www.dsr.inpe.br/topodata/dados).

Fon

te: P

roje

to L

BA

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O sítio de pesquisas é gerido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)

e é cercado por floresta fechada cuja altura de dossel é de 30 a 40 metros de altura, em que

predominam ventos de Leste (Gerken et al., 2015) e com um índice de área foliar (LAI)

estimado entre 6,1 m2m-2 (Marques Filho et al., 2005) e 7,3 m2m-2 (Tóta et al., 2012). O terreno

tem características irregulares, com vales e planaltos, com variabilidade de altitude de até 60

metros. Nessa área foi instalada a torre experimental K34, que foi utilizada como plataforma

para instalação dos equipamentos e medição (Gerken et al., 2015; Fuentes et al., 2016). Outras

informações sobre a topografia do sítio experimental podem ser encontradas em Rennó et al.

(2008).

3.1.1 Análise de distâncias utilizando-se os subsídios oferecidos pelas imagens

topográficas do sitio experimental

Para as análises de distância entre a torre experimental (K34) e os demais pontos de

interesse (por exemplo regiões com maior cobertura de nuvens próximas da torre experimental),

utilizou-se uma técnica simples para estima-las aproximadamente. Utilizando-se imagens do

tipo apresentado na Figura 3.2, procedeu-se da seguinte maneira:

Sabendo-se que cada pixel da imagem topográfica equivale a 30 metros, um processo

simples de triangulação foi capaz de fornecer as distâncias de interesse para este trabalho. Para

comprovação da validade do procedimento estimaram-se as distâncias entre a cidade de Manaus

e as torres do projeto ATTO e a torre experimental K34, cujas distancias são conhecidas.

A partir da localização da cidade de Manaus, da torre experimental do projeto ATTO e

da torre experimental K34 determinou-se a localização correspondente destes, em pixel, na

imagem: Cidade de Manaus (2840, 4070); sítio do projeto ATTO (5995, 518); torre

experimental K34 (1689, 2149). A partir desta localização na imagem (Figura 3.2) estimou-se

a distância em linha reta entre os pontos de interesse (com erro estimado em um raio de 90

metros a partir do ponto estimado), sendo estes:

Distância de Manaus ao sítio do projeto ATTO: ≈ 150,021 km

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Distância Manaus à torre experimental K34: ≈ 63, 65 km. (A literatura indica 60 km

de distância)

Distância do sítio do projeto ATTO à torre experimental K34: ≈ 138,13 km

Figura 3.2. Triangulações utilizadas para estimar as distâncias entre pontos conhecidos que representam as

localizações das torres experimentais K34, e do projeto ATTO e a cidade de Manaus utilizadas para validar

procedimento utilizado na estimativa das distâncias de interesse.

Este procedimento foi muito útil para estimar a distância entre a torre experimental K34

e pontos de maior desenvolvimento vertical de uma nuvem em estudos de caracterização a

serem apresentados ao longo deste trabalho.

3.2. Instrumentação utilizada e dados disponíveis

Aqui serão mostrados resultados em Tempo UTC (UTC = local time + 4h). Tal escolha

se deu por que alguns dos dados aqui utilizados têm seus registros temporais em UTC, como

são os casos das imagens tanto de radar (PROJETO CHUVA) quanto de satélite (GOES)

utilizadas, as quais têm seus registros temporais permanentemente em UTC.

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Dispôs-se de séries temporais turbulentas das componentes horizontal e vertical da

velocidade do vento, temperatura, amostradas à frequência de 20 Hz com anemômetros 3D

(model CSAT3, Campbell Scientific Inc., Logan, UT) à altura de 48.15 metros acima do solo

(é a maior altura em que foram realizadas medidas das componentes do vento e da temperatura

dentre as dez alturas disponíveis) e umidade e pressão medidos à altura de 35m. Para as análises

de cobertura de nuvens, recorreu-se às imagens de radar (do PROJETO CHUVA: disponíveis

em https://www.youtube.com/user/projetochuva) obtidas a cada 12 minutos, discutidas de

maneira muito compreensiva por Gerken et al. (2015). Dispôs-se também de imagens do

satélite GOES (Geostationary Operational Environmental Satellite) em projeção retangular

sobre a América do Sul, existentes no banco de dados da Divisão de Satélites e Sistemas

Ambientais (DSA) do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), disponíveis em

(http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes.formulario.logic).

Para este estudo foram analisados apenas os casos em que o sentido do escoamento

esteve do instrumento de medição para a torre experimental, tendo sido excluídos os dados que

não satisfizeram tal condição dentro de um intervalo de 120°. Foi utilizado o intervalo de

medidas compreendido entre 23 de março de 2014 a 20 de janeiro de 2015, com ênfase no

período chuvoso (março abril e dezembro de 2014 e janeiro de 2015), pois é neste período que

são observados os FE’s que estão sendo pesquisados.

4. Métodos

Aqui será realizada uma apresentação dos métodos diretamente utilizados ou associados

aos resultados obtidos.

4.1. Análises em tempo-escala proporcionadas pela Transformada Wavelet (TW)

Uma característica frequentemente presente nas séries temporais geofísicas é a sua não

estacionariedade, ou seja, o fato de as suas flutuações existentes nas diversas escalas de

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movimento não apresentarem momentos estatísticos invariantes no tempo conforme já foi

discutido em estudos de séries temporais climatológicas (Mahrt e Howell, 1994; Gu e Philander,

1995; Lau e Weng, 1995), meteorológicas (Lumley e Panofsky, 1964; Gamage e Blumen, 1993;

Weng e Lau, 1994; Zeri e Sá, 2011), inclusive aquelas referentes a sinais turbulentos (Farge, 1992;

Collineau e Brunet, 1993; Katul e Parlange, 1995; Krusche e Oliveira, 2004; Thomas e Foken,

2005; 2007). Sob tais condições, devem ser utilizadas metodologias de decomposição do sinal

diferentes da Transformada de Fourier (na qual as energias associadas às frequências

correspondentes são invariantes no tempo).

Historicamente, conforme ressaltado por Daubechies (1992), Farge (1992) e Hubbard

(1998), uma primeira alternativa para superar tal dificuldade foi proposta por Gabor (1946)

através do que foi denominado de Transformada de Fourier janelada (Windowed Fourier

Transform). Esta possibilita estimar a energia associada a uma determinada frequência

localmente no tempo (frequency locally in time). O método de Gabor, todavia, como apontam

Gasquet e Witomsky (1990), apresenta o grande inconveniente de possuir janela de comprimento

fixo, desvantagem considerável quando se quer analisar sinais cujas variações podem conter

ordens de grandeza muito variáveis, como parece ser o caso do sinal climatológico (Lau e Weng,

1995) e meteorológico, em particular (Gamage e Blumen, 1993).

Como explicado por Daubechies (1992, p. 7), uma alternativa para se obter uma

localização no tempo é fornecida por um dos diferentes tipos de Transformada Wavelet (WT):

A WT continua e a WT discreta.

De acordo com Lau e Weng (1995) a WT decompõe um dado sinal 𝑠(𝑡) em termos de

certas funções elementares 𝜓β,α(𝑡) derivadas de uma função intitulada wavelet mãe (mother

wavelet) por meio de translações β e dilatações α, as quais são quadraticamente integráveis no

intervalo em questão (Daubechies, 1992; Farge, 1992):

𝜓β,α(𝑡) =1

√𝛼𝜓 (

𝑡 − 𝛽

𝛼) (4.1.1)

𝛼, 𝛽 ∈ ℝ, com 𝛼 > 0.

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Um fator de normalização (𝛼)−1/2 foi introduzido na equação acima a fim de manter a

mesma energia da wavelet mãe em toda a família de wavelet utilizada.

A transformada Wavelet de um sinal real 𝑠(𝑡) pode ser definida com relação à wavelet

de análise 𝜓(𝑡) como (Lau e Weng, 1995):

𝑊(𝛽, 𝛼) =1

√𝛼∫𝜓∗ (

𝑡 − 𝛽

𝛼) 𝑠(𝑡)𝑑𝑡 (4.1.2)

onde 𝜓∗ é o complexo conjugado de 𝜓 definido no semi-plano real de “tempo-escala” (𝛽, 𝛼).

Segundo Farge (1992) é possível obter a fase ϕ(𝛽, 𝛼) do sinal, num instante 𝛽 e numa

escala 𝛼 conforme a expressão:

ϕ(𝛽, 𝛼) = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 {𝐼𝑚[𝑊(β, α)]

𝑅𝑒[𝑊(β, α)]} (4.1.3)

Ainda segundo Farge (1992), são ingredientes necessários para a WT:

i) Admissibilidade: A função de análise tem a sua média igual a zero.

ii) Similaridade: Todas as análises de wavelets são mutuamente semelhantes.

iii) Invertibilidade: Há pelo menos uma fórmula de reconstrução para recuperar o sinal

de seus coeficientes wavelet.

iv) Regularidade: A wavelet pode ser suficientemente regular e tem que ser concentrada

em algum suporte espacial finito.

v) Cancelamento: além e apresentar média nula a função wavelet pode apresentar

valores nulos para alguns de seus valores de ordem elevada.

Como a TW possui a característica de ser uma transformação local, (contrariamente à

Transformada de Fourier, que possui funções-base globais), a ocorrência de uma alteração local

na série a ser analisada não resulta numa contaminação ao longo de todos os coeficientes

resultantes da decomposição. Gamage e Blumen (1993) efetuaram uma interessante discussão

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deste problema em que comparam as características da TW com aquelas de algumas transformadas

globais muito aplicadas em Meteorologia.

Segundo Lau e Weng (1995) para se obterem melhores resultados com análises obtidas

via WT convém usar análises wavelets que apresentem boa similaridade (resemblance) com a

forma do sinal a ser analisado. Neste trabalho será utilizada a wavelet complexa de Morlet, dada

por:

𝜓(𝑡) = 𝑒𝑥𝑝(𝑖𝑘𝜓𝑡) 𝑒𝑥𝑝 (−|𝑡|2

2) (4.1.4)

Dentre as vantagens de se utilizar a wavelet de Morlet destacam-se:

1) Seu caráter complexo que facilita a análise por escala da fase do sinal (Weng e Lau,

1994);

2) A possibilidade que oferece de permitir ótima localização no domínio das frequências

(Thomas e Foken, 2005);

3) A sua capacidade de detecção de processos envolvendo modulação de amplitude,

modulação de frequência, mudanças abruptas na frequência, mudanças abruptas no tempo (Lau

e Weng, 1995);

4) A possibilidade de detectar singularidades observando a convergência de linhas de

fase contínua em espaços de fase tempo-frequência (Weng e Lau, 1994);

5) Possibilita a detecção da estrutura de frequência de processos dinâmicos não lineares

contendo quase-periodicidade, bifurcações super e sub-harmônicas e fenômenos de bloqueio

de fase (Lau e Weng, 1995).

A capacidade de a wavelet de Morlet ser utilizada na detecção de singularidades

associadas a mudanças bruscas no sinal atmosférico a ser analisado merecerá uma atenção

especial no sub-item a ser apresentado a seguir.

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4.2. Detecção de singularidades no sinal analisado

O termo “singularidade” ou “ponto singular” provém dos estudos de certas equações

diferenciais investigadas há muitas décadas (Minorsky, 1974; Birkhoff e Rota, 1978, pp.29,

225) sendo que, na época, já tinham sido propostas classificações de singularidades.

O estudo das singularidades experimentou um grande avanço nos anos 70 do século

passado com a sistematização da chamada “Teoria da Catástrofe” por René Thom (1972), o que

despertou a atenção de Vladimir Arnol’d (Arnol’d, 1994) e Michael Berry (Berry, 1988), dentre

outros (Khesin e Tabachnikov, 2012), que aprofundaram os estudos de Thom. Segundo Arnol’d

(1994, p.209), o termo “catástrofe” foi introduzido por René Thom (1972) “a fim de denotar

uma mudança qualitativa em um objeto quando os parâmetros com relação aos quais ele

dependem variam suavemente”. Segundo Arnol’d (1994, p.239), nos anos sessenta do século

XX, R. Thom foi o primeiro a reconhecer a importância da Teoria de Singularidades de H.

Whitney em suas aplicações interessantes em Embriologia, em particular e em Morfogênese,

em geral. Arnol’d (1994, p. 215) traça um interessante histórico da Teoria da Catástrofe por

períodos anteriores ao trabalho de R. Thom (1972): i) antes de Poincaré (de que Christian

Huygens foi o mais eminente precursor); ii) a contribuição de Henri Poincaré (Arnol’d, 1994,

p. 220); iii) A contribuição do trabalho de A. A. Andronov para aprofundar a Teoria da

Bifurcação, mostrando que algumas bifurcações, particurlamente o “ciclo limite” e sua relação

com a estabilidade estrutural do sistema e sua capacidade atingir parâmetros críticos, com perda

de estabilidade e o surgimento de auto-oscilações (Arnol’d, 1994, p.224-230) A formulação

da Teoria da Catástrofe de R. Thom incentivou o surgimento de consideráveis avanços teóricos

no aprofundamento da Teoria das Singularidades (Arnol’d, 1983; 1994) e na sua aplicação em

vários domínios científicos (Arnol’d, 1980; Martens, 1984; Berry, 1988; 1992; 2002; etc.). A

partir do início dos anos 90 do século passado com a divulgação do clássico artigo de Mallat e

Hwang (1992), foi possível propor a utilização da TW na detecção de singularidades em sinais

oriundos de vários domínios científicos (Weng e Lau, 1994; Hsung et al., 1999; Sun e Tang,

2002; Tu et al., 2005; Peng et al., 2007; além de outros).

Mallat e Hwang (1992), baseados em análise “multirresolução”, desenvolveram

estratégias baseadas na determinação de “modulus maxima” para detectar todas as

singularidades de uma função e formularam procedimentos para medir sua regularidade de

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Lipschitz. Eles mostraram que é possível utilizar a TW para a determinação de singularidades

isoladas nos sinais providos por séries temporais. Para isso utilizaram a propriedade de as

isolinhas de mesma fase, em diversas escalas, convergirem para uma abscissa comum, βo,

quando a escala tende para zero. Em outras palavras, em um semiplano com abscissa β e

ordenada α (com α > 0) as isolinhas de mesma fase indicam uma região do semiplano em que

as fases do sinal, em suas diversas escalas resolvidas pela análise de wavelets, encontram-se

“sincronizadas” e possuem um mesmo valor na abscissa βo correspondente à abscissa da

singularidade. Para que tal resultado seja obtido é fundamental que a wavelet analisante seja

complexa. Schertzer e Lovejoy (1991) propuseram que uma tal singularidade detectada em um

sinal geofísico separaria regiões em que existem fortes interações entre escalas, de outras em

que tais interações ocorrem em muito menor intensidade. Em outras palavras, as singularidades,

segundo aqueles autores, poderiam estar associadas à existência de fenômenos extremos. Ou

ainda, as singularidades poderiam indicar regiões em que há intrusões de um atrator novo numa

dada bacia de atração, consequência de uma topologia de impacto (Clarke e Shen, 2015).

4.3. Análises de diagramas em espaços de fase

Um elo direto entre a Teoria dos Fenômenos Caóticos e o mundo real é efetivado pela

análise de séries temporais provenientes de sistemas reais em termos de dinâmica não linear

(Kantz e Schreiber, 2002, pp. xiii). A teoria dos sistemas dinâmicos não lineares oferece novos

instrumentos e grandezas para caracterização de dados expressos em séries temporais

irregulares. O domínio de tais métodos se estende desde invariantes, como os expoentes de

Lyapunov a análises de dimensões dos sistemas dinâmicos, os quais fornecem caracterizações

concisas e profundas da estrutura de tais sistemas através de métodos estatísticos apropriados

(Kantz e Schreiber, 2002, pp. xiii).

Poder-se-ia indagar de o porquê dedicar atenção aos métodos não lineares?

Efetivamente, porque equações lineares são governadas por paradigmas segundo os quais

pequenas causas geram pequenos efeitos sendo que todo comportamento irregular do sistema

deve ser atribuído à ação de alguma forçante aleatória externa a ele. Por outro lado, sistemas

governados por equações não lineares mostram que dados consideravelmente irregulares não

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precisam ser necessariamente consequência da ação de forçantes externos, pois podem ser

gerados por sistemas não lineares regidos por equações determinísticas do movimento (Kantz

e Schreiber, 2002, pp. xiii).

Métodos associados a séries temporais não lineares se baseiam na teoria dos sistemas

dinâmicos, nos quais a evolução temporal do sistema é definida em alguma modalidade de

espaço de fase e nos quais alguma componente estocástica pode ser incorporada à descrição do

processo (Kantz e Schreiber, 2002, pp. 29). Entenda-se aqui “espaço de fase” como sendo um

espaço de vetores que especifica o estado do sistema em cada ponto. Teoricamente, os sistemas

dinâmicos são comumente definidos por um conjunto de equações diferenciais ordinárias

(EDOs) de primeira ordem agindo num espaço de fases (Kantz e Schreiber, 2002, pp. 29),

conforme apresentado abaixo para um sistema de N EDOs (Pontriaguine, 1969, cap. 1, 2;

Dasgupta, 2000):

𝑥1

𝑑𝑥1𝑑𝑡

= �̇�1 = 𝑓1(𝑥1, 𝑥2, … , 𝑥𝑁 , 𝑡)

𝑑𝑥2𝑑𝑡

= �̇�2 = 𝑓2(𝑥1, 𝑥2, … , 𝑥𝑁 , 𝑡)

.

.

.

𝑑𝑥𝑁𝑑𝑡

= �̇�𝑁 = 𝑓𝑁(𝑥1, 𝑥2, … , 𝑥𝑁 , 𝑡)}

(4.3.1)

Espera-se que o estado do sistema seja completamente determinado pelas variáveis

atribuídas às N grandezas, 𝑥1, 𝑥1, … , 𝑥𝑁 em um dado instante, t.

Diz-se que o sistema dinâmico é um sistema autônomo quando os membros localizados

à direita do sinal de igualdade da equação 4.3.1 não contiverem o tempo “t” explicitamente nas

funções 𝑓𝑖 (Hagedorn, 1984, p. 29).

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Ao se definir um “vetor X”, com as componentes 𝑥𝑖, i = 1 ... n e um outro vetor F, com

as componentes 𝑓𝑖, i = 1 ... n o sistema de EDOs pode ser expresso pela equação 4.3.2

(Pontriaguine, 1969, p. 120; Dasgupta, 2000):

𝑑𝑥

𝑑𝑡= 𝐹(𝑥) (4.3.2)

O espaço N-dimensional apresentando 𝑥𝑖, i = 1 ... n, como coordenadas é chamado de

espaço de fase. O estado de um sistema em um determinado instante é representado por um

ponto P no espaço de fase. A curva descrita por P se deslocando temporalmente no espaço de

fase é chamada de órbita ou trajetória. A velocidade de P no espaço de fase é dada pelo vetor

velocidade, F, apresentado na equação 4.3.2.

Para melhor se conhecer a natureza do sistema dinâmico convém analisar suas

trajetórias em diferentes regiões do espaço de fase partindo-se da análise dos pontos de

equilíbrio detectados, ou seja, os pontos obtidos igualando-se a zero as derivadas temporais da

equação 4.3.1. Seja o sistema dinâmico autônomo cuja evolução seja governada pelas equações

seguintes (Pontriaguine, 1969, p.263; Dasgupta, 2000).

𝑑𝑥1𝑑𝑡

≡𝑑𝑥

𝑑𝑡= 𝑓1(𝑥1, 𝑥2) ≡ 𝑓1(𝑥, 𝑦) (4.3.3𝐴)

𝑑𝑥2𝑑𝑡

≡𝑑𝑦

𝑑𝑡= 𝑓2(𝑥1, 𝑥2) ≡ 𝑓2(𝑥, 𝑦) (4.3.3𝐵)

(nas quais 𝑥1 e 𝑥2 foram substituídos por 𝑥 e 𝑦, respectivamente).

Fazendo-se 𝑑𝑥

𝑑𝑡=

𝑑𝑦

𝑑𝑡= 0, obtém-se:

𝑓1(𝑥0, 𝑦0) ≡ 𝑓2(𝑥0, 𝑦0) = 0 (4.3.4)

em que os zeros das funções 𝑓1(𝑥, 𝑦) e 𝑓2(𝑥, 𝑦), 𝑥0, 𝑦0, são chamados de pontos de equilíbrio.

Para se estudar a natureza das trajetórias na vizinhança imediata dos pontos de equilíbrio

considera-se um ponto (𝑥, 𝑦) na vizinhança imediata de (𝑥0, 𝑦0) e se efetua uma expansão em

série das funções 𝑓1(𝑥, 𝑦) e 𝑓2(𝑥, 𝑦) próximo de 𝑥0, 𝑦0, conforme exposto a seguir. Fazendos-e

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uma transição de eixos de tal forma que a origem do sistema de coordenadas seja deslocada de

𝑥0, 𝑦0, de tal forma que 𝑓1(0,0) = 𝑓2(0,0) = 0 (Pontriaguine, 1969, p.263; Dasgupta, 2000).

𝑑𝑥

𝑑𝑡= 𝑎1𝑥 + 𝑏1𝑦 + 𝑃(𝑥, 𝑦) (4.3.5𝐴)

𝑑𝑦

𝑑𝑡= 𝑎2𝑥 + 𝑏2𝑦 + 𝑄(𝑥, 𝑦) (4.3.5𝐵)

em que:

𝑎1 = [𝜕𝑓1𝜕𝑥] |(𝑥=0, 𝑦=0)

𝑏1 = [𝜕𝑓1𝜕𝑦] |(𝑥=0, 𝑦=0)

𝑎2 = [𝜕𝑓2𝜕𝑥] |(𝑥=0, 𝑦=0)

𝑏2 = [𝜕𝑓2𝜕𝑦] |(𝑥=0, 𝑦=0)

e as funções 𝑃(𝑥, 𝑦) e 𝑄(𝑥, 𝑦) contêm potências de ordens mais elevadas de x e y. Na vizinhança

do ponto de equilíbrio (0,0) as equações linearizadas tornam-se (Pontriaguine, 1969, p.263;

Dasgupta, 2000):

𝑑𝑥

𝑑𝑡= 𝑎1𝑥 + 𝑏1𝑦 (4.3.6𝐴)

𝑑𝑦

𝑑𝑡= 𝑎2𝑥 + 𝑏2𝑦 (4.3.6𝐵)

Espera-se que tais equações sejam capazes de conter as características geométricas das

trajetórias no espaço de fase das equações 4.3.3A e 4.3.3B. As soluções não triviais de 4.3.6A

e 4.3.6B são:

𝑥 = 𝑟𝑒𝜆𝑡,

𝑦 = 𝑠𝑒𝜆𝑡,

Mostra-se que existem soluções não triviais se e somente se o determinante expressado

abaixo for nulo (Pontriaguine, 1969, p. 120; Dasgupta, 2000):

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|𝑎1−𝜆 𝑏1𝑎2 𝑏2−𝜆

| = 0

ou se:

ou se: 𝜆2(𝑎1 + 𝑏2)𝜆 + (𝑎1𝑏2 − 𝑎2𝑏1) = 0 (Equação Característica),

As duas raízes da Equação Característica são, 𝜆1 e 𝜆2.

Logo, a solução para 𝑥(𝑡), 𝑦(𝑡), a qual constitui a coordenada de um ponto 𝑃 em uma

trajetória no espaço de fase próximo do ponto de equilíbrio é dada por:

𝑥(𝑡) = 𝐶1𝑒𝑥𝑝(𝜆1𝑡) + 𝐷1𝑒𝑥𝑝(𝜆2𝑡)

𝑦(𝑡) = 𝐶2𝑒𝑥𝑝(𝜆1𝑡) + 𝐷2𝑒𝑥𝑝(𝜆2𝑡)

em que as constantes 𝜆1, 𝜆2, 𝐶1, 𝐶2, 𝐷1, 𝐷2, podem ter valores reais ou complexos.

Há diversas formas que as trajetórias no espaço de fase podem assumir dependendo dos

valores de 𝜆1, 𝜆2, serem reais (positivos e/ou negativos), imaginários, e assim por diante. Por

exemplo (Pontriaguine, 1969, pp. 120-132; Thompson e Stewart, 1991, pp. 206-211):

i) se 𝜆1, 𝜆2, forem imaginários puros, com 𝑞 > 0 e 𝑝 = 0, tem-se um centro;

ii) se 𝜆1, 𝜆2, forem complexos, com parte real diferente de zero, Δ < 0, 𝑝 ≠ 0, tem-se

uma espiral associada a um foco e assim sucessivamente, para outras alternativas de valores de

𝜆1, 𝜆2,.

Um caso especial de trajetória no espaço de fase de muito interesse nesta pesquisa é

constituído pelo chamado “ciclo limite” (Pontriaguine, 1969, pp. 234-255; Birkhoff e Rota,

1978, pp.134-135; Kantz e Schreiber, 2002, pp. 35). Trata-se de uma modalidade de trajetória

inerente a sistemas dinâmicos não lineares e que se caracteriza por apresentar uma trajetória

fechada. Qualquer trajetória existente próxima do ciclo limite não pode cruzá-lo. O ciclo limite

indica a existência uma solução periódica isolada de um sistema autônomo.

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Se todas as trajetórias da sua vizinhança se aproximarem do ciclo limite considera-se

que ele é um atrator, ou que ele é estável. Se o oposto ocorrer, ou seja, se as trajetórias na

vizinhança do ciclo limite se afastam dele, diz-se que o ciclo limite é um repulsor, ou que ele é

instável. Convém considerar aqui o conceito de estabilidade estrutural a partir do

estabelecimento de uma definição geométrica de um estado de equilíbrio (Thompson e Stewart,

1991, pp. 108-111). Partindo-se de um sistema n-dimensional de EDO’s, como o definido na

equação 4.3.1, e supondo-se que um ponto 𝑝𝐸 = (𝑥1𝐸 , 𝑥2

𝐸 , … , 𝑥𝑁𝐸) está em estado de equilíbrio

caracterizado por 𝐹1 = (𝑥1𝐸 , 𝑥2

𝐸 , … , 𝑥𝑁𝐸) = 0, (𝑖 = 1,2, … , 𝑛) , diz-se que “este ponto de

equilíbrio é estável se toda a solução vizinha permanecer próxima durante todo o tempo futuro”

(Thompson e Stewart, 1991, pp. 109). Se uma configuração de equilíbrio for representada pelo

ponto PE no espaço de variáveis 𝑥𝑖, fica claro que uma perturbação pode ser representada por

um ponto 𝑃 nas vizinhanças de 𝑃𝐸 . “Diz-se que PE é estável no sentido de Lyapunov se, para

toda a vizinhança 𝑈 de 𝑃𝐸 nesse espaço de fase, se existir uma vizinhança menor 𝑈1 de 𝑃𝐸 ,

contida em 𝑈, tal que toda solução que começar em 𝑈1 irá permanecer em 𝑈 para todo 𝑡 > 0”

(Thompson e Stewart, 1991, pp. 109). “Se todas as soluções tenderem para o equilíbrio quando

t tender para o infinito, então PE é considerado como sendo assintoticamente estável”. Por outro

lado, “PE será considerado como sendo um ponto de equilíbrio instável se for possível achar

qualquer perturbação local que mova o sistema para fora de 𝑈” (Thompson e Stewart, 1991,

pp. 109).

Antes de terminar este tópico, cujo conteúdo até aqui se baseou em considerações

puramente matemáticas, convém mencionar aspectos da Análise de Bifurcações quando esta

for realizada a partir de dados geofísicos experimentais reais, os quais comumente apresentam

“ruídos” (Surovyatkina, 2005), ou mesmo em dados provenientes de outros domínios do

conhecimento, como a Biofísica. Neste sentido, Salvi et al. (2016) chamam atenção para a

identificação de bifurcações em certos tipos de osciladores biológicos com ruídos, os quais

tornaram-se acessíveis experimentalmente. Segundo os autores, sob certas condições os ruídos

podem desempenhar um papel significante e irredutível na caracterização de bifurcações. Eles

propuseram uma metodologia adequada, baseada no emprego de vários tipos de métricas para

identificar e classificar bifurcações em dados experimentais, independentemente dos ruídos que

possam apresentar, cuja representação em espaço de fase apresenta uma variedade de

trajetórias. Eles também estimaram a localização das bifurcações e, além disso, classificaram o

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tipo de bifurcação a partir de sua metodologia, cuja viabilidade de aplicação a dados

experimentais foi analisada em seu artigo.

4.4. Elementos estatísticos

Este tópico busca descrever algumas categorias de parâmetros de análise estatística para

a determinação de padrões (de coerência) em séries temporais de grandezas turbulentas acima

de floresta, os quais são localmente dominantes quando o escoamento atmosférico é afetado

por padrões de variabilidade forçados externamente. Para aplicações estatísticas em sistemas

dinâmicos, dois testes são considerados de maior relevância. Eles associam-se a aumentos

simultâneos na função autocorrelação e variância de uma variável de estado nos instantes que

antecedem uma transição crítica entre dois estados distintos (Dakos 08; Dakos 12; Lenton,

2011; Lenton et al., 2012; Clarke e Shen, 2015; Dakos et al., 2015, Salvi et al. 2016; Medeiros

et al. 2017). Aqui, aumentos simultâneos na função autocorrelação e variância foram usados

como critério principal na caracterização de transição entre estados alternativos que tenham

sido externamente induzidos. Além da Função Autocorrelação e da Variância, foram ainda

usadas as tendências (crescentes ou decrescentes) dos momentos estatísticos de terceira e quarta

ordens, respectivamente, Skewness e Curtose, além do Coeficiente de Correlação Não

Paramétrico de Kendall (tau), conforme descrito abaixo.

Função Autocorrelação: de acordo com Wyngaard (2010, p. 331) a função

autocorrelação, ρ, é definida por:

[⟨𝑧(𝑡1) 𝑧(𝑡2)⟩

⟨𝑧2⟩] = 𝜌(𝑡2 − 𝑡1) (4.4.1)

na qual ⟨ . ⟩ é o operador media; 𝑧(𝑡) é uma função estacionária no tempo, 𝑡, que depende apenas

da diferença (𝑡2 − 𝑡1) entre os dois instantes 𝑡2 e 𝑡1 em que os valotres de 𝑧(𝑡1) e 𝑧(𝑡2) foram

medidos.

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Lumley e Panofsky (1964, p. 218) usaram a desigualdade de Schwartz’s para

demonstrar que:

|𝜌(𝑡)| ≤ 𝜌(0) = 1.

Assim, como para funções estocásticas 𝜌(𝑡) → 0 𝑐𝑜𝑚 𝑡 → ∞, é possível considerar a Função

Autocorrelação como sendo uma “memória” de 𝑧(𝑡) (Lumley e Panofsky, 1964, p. 14).

Aqui, considera-se que a autocorrelação deverá capturar as maiores escalas nos

processos oscilatórios dos fenômenos analisados, ou seja, oscilações associadas às escalas

próximas do pico espectral. A Figura 4.1 mostra a função autocorrelação para dados da

temperatura virtual obtidos no sítio experimental acima de floresta (reserva do CUIEIRAS).

Figura 4.1. Exemplo da aplicação da função autocorrelação à série temporal de temperatura virtual em função do

número de pontos da série. Esta figura corresponde ao intervalo de tempo que antecede um evento de CSD para

dados acima de floresta.

Para estes casos específicos a função autocorrelação deverá captar a escala de tempo

correspondente à duração do processo convectivo. Uma breve análise por escalas poderá

verificar esta hipótese. Nesta breve análise por escalas deverá ser utilizada a TW complexa de

Morlet em que um sinal deverá ser separado por escalas (oitavas) utilizando-se uma subdivisão

de 10 sub-oitavas por oitava, ou seja, o intervalo entre dois períodos consecutivos será

subdividido em 10 partes. Cada uma dessas partes fornece uma série individual do sinal

0 2000 4000 6000 8000 10000-0.2

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

n points

Au

toco

rre

latio

n F

un

ctio

n T V

C)

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(correspondente a uma sub-oitava) e nelas serão feitas as análises individualmente. Esses testes

são utilizados para verificar a representatividade do sinal quando analisados por “bandas” em

lugar de se analisar o sinal “bruto”, o que pode vir a ser uma ferramenta robusta na análise de

sinais precursores.

Variância: A Variância (Momento Estatístico de Segunda Ordem), por sua vez, deve

estimar a dispersão com relação à média de uma grandeza (Stull, 1988). Matematicamente, o

estimador não tendencioso da variância pode ser dado por:

𝜎2 =1

(𝑛 − 1)∑(𝑧𝑡 − 𝜇)

2 (4.4.3)

𝑛

𝑡=1

em que 𝜇, é o valor médio:

Skewness: De acordo com Lumley e Panofsky (1964, p. 11) a skewness, S, é o momento

estatístico de terceira ordem adequadamente adimensionalizado da seguinte maneira:

𝑆 =⟨(𝑧(𝑡))

3⟩

[⟨(𝑧(𝑡))2⟩]3/2 (4.4.4)

O valor de "𝑆" indica o grau de assimetria da série temporal 𝑧(𝑡) em relação ao seu valor

médio

Curtose: No entanto, de acordo com Lumley e Panofsky (1964, p. 11) a curtose, K, é o

momento estatístico de quarta ordem adequadamente adimensionalizado. Ele é expresso por:

𝐾 =⟨(𝑧(𝑡))

4⟩

[⟨(𝑧(𝑡))2⟩]2 (4.4.5)

o valor de "𝐾" indica o grau de intermitência da série temporal 𝑧(𝑡)

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Kendall (tau): “O coeficiente de correlação não paramétrico de Kendall (tau), foi

utilizado para estimar a robustez das tendências dos principais indicadores (Dakos 12). Este

teste estima a associação ordinal ou correlação de ordem entre duas grandezas (para este caso,

entre ela própria) para uma variável de estado, VE, cuja definição será apresentada ao longo do

tópico 4.5.

Testes de verificação com Surrogate (Schreiber e Schmitz, 2000; Dakos 12) foram

utilizados para verificar a possibilidade de ocorrência de falsos alarmes ou falsos positivos,

principalmente para os casos em que os indicadores de CSD não apresentarem forte

consistência estatística (ex. quando a função autocorrelação não se aproximar da unidade

antes da transição), conforme sugerido por (Dakos 12).

4.5. Metodologia aplicada na detecção de sinais precursores de fenômenos

extremos: “Critical slowing down”

Os métodos aqui utilizados baseiam-se na abordagem de fenômenos peculiares em que

se verifica a ocorrência de CSD amplamente conhecidos na teoria de sistemas dinâmicos

(Wissel, 1984), com aplicações recentes na dinâmica do clima (Dakos 08; Dakos et al. 2011;

Dakos 12; Lenton, 2011; Lenton et al. 2012); resiliência de florestas e uso da terra (Hirota et

al., 2011; Staal et al., 2015; Salazar et al., 2015; Verbesselt et al., 2016) ou aplicações

envolvendo sistemas de naturezas diversas (Sornette, 2002; Dakos 12; Streeter e Dugmore,

2012; Dakos et al. 2015, Salvi et al., 2016; Medeiros et al., 2017; dentre outros já citados) em

análises de ; séries temporais reais e seus resíduos associados. Neste caso específico foram

utilizados indicadores baseados em métrica especificamente construída para a detecção de tais

fenômenos (baseada na determinação de categorias estatísticas tais como Autocorrelação,

Variância, Skewness e Curtose) conforme descrito por Dakos 12.

Foi utilizado o “Early warnings package”, uma biblioteca em software R (3.2) - Early

Warning Signals Toolbox for Detecting Critical Transitionsin Timeseries (Dakos 12). A

robustez das tendências dos indicadores foi estimada pelo coeficiente de correlação não

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paramétrico de Kendall (tau), tanto para série real, quanto para seus resíduos associados

(Residuals of Gaussian detrend data).

Na aplicação da metodologia de Dakos 08 aos dados disponíveis procurou-se

inicialmente identificar quais as variáveis disponíveis satisfaziam aos critérios de Dakos 08.

Após vários testes constatou-se que as séries temporais da temperatura potencial equivalente

(𝜃𝐸), e da concentração de Ozônio (𝑂3), eram aquelas que melhor satisfaziam a metodologia de

Dakos 08 para caracterização de um fenômeno extremo apresentando CSD. Tais tipos de

variáveis serão intitulados “variáveis de estado” (VE). Aqui será mostrado um diagrama

esquemático dos passos utilizados na identificação e tratamento dos dados utilizados para

caracterizar os fenômenos de interesse neste trabalho (Figura 4.5.1). Tais fenômenos de

interesse são aqueles cujos fenômenos precursores podem ser quantificados pelas proposições

de CSD (Dakos 08; Dakos et al., 2011; Lenton, 2011; Dakos 12; Lenton et al., 2012; Dakos et

al., 2015).

Cumprida esta etapa, passa-se à definição do procedimento a ser utilizado para

identificar uma partição da VE imediatamente anterior à ocorrência do FE, com a definição do

início e do final da série da VE com a qual os testes de Dakos 08 serão aplicados.

Foram estimados a Função Autocorrelação, Desvio Padrão (usado para estimar a

Variância), Skewness e Curtose em escala “winsize”. "Winsize é o tamanho da janela de

rolagem expressa como porcentagem do comprimento da série temporal", que pode variar entre

os valores de 25% a 75% do comprimento da série temporal da VE que antecede a eclosão do

FE. Aqui, os comprimentos de janela utilizados foram de valores entre 50 e 70% (largura de

banda) do comprimento do segmento da série temporal da VE que antecede a ocorrência do FE

(mais informações sobre o método e suas aplicações a séries temporais (ou espaciais) podem

ser consultadas em: http://search.r-project.org/library/earlywarnings/html/generic_ews.html).

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Figura 4.5.1. Esquema representativo dos passos seguidos na análise de sinais turbulentos utilizados para testar

se houve efetivamente a ocorrência de um processo de amortecimento crítico.

Nos testes prévios aos métodos aqui apresentados, o grau de suavização deve ser

cuidadosamente determinado, principalmente para estimativas de resíduo. Aqui o processo de

suavização das séries temporais foi utilizado tanto nas análises de CSD quanto na suavização

das demais séries temporais utilizadas na construção adequada de um espaço de fase adequado

(Kantz e Schreiber, Cap. 3), como, por exemplo, um Diagrama de Poincaré.

Para os testes de CSD foi utilizado o valor padrão de suavização de “25” (redução de

25% da amplitude de oscilação) conforme recomendações do pacote “early warning package"

(Dakos 12; Lenton et al., 2012). Entre o início da série e o ponto considerado como ponto de

ruptura na VE, é possível se utilizar janelas que variam de 25 a 75% desse comprimento (da

origem até o ponto de ruptura). Aqui, foram realizados alguns testes com larguras de banda

variáveis (como é o caso das análises de vento), mas em geral utilizou-se uma janela com 50%

do comprimento da série temporal (Dakos 08; Dakos et al., 2011; Dakos 12; Lenton 2011;

Lenton et al., 2012; Dakos et al., 2015), com incrementos de 20 pontos para os testes de CSD.

Os incrementos (20 pontos) são o padrão do “early warning package", o qual foi utilizado para

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manter a regularidade em relação aos demais testes. Ainda, como teste de consistência neste

trabalho, o valor de incremento foi variado entre 20 a 200 pontos e foi verificado que, como já

esse esperava, as alterações nos resultados são observadas na forma de uma diminuição na

quantidade de pontos de saída (resultado final por janela), tanto para os testes de distribuição

de Kendall (tau), quanto para as análises de surrogate.

Para as demais suavizações das séries temporais, utilizou-se um procedimento de

filtragem passa-baixa que resultou em uma diminuição de 10% na amplitude de oscilação da

série temporal. Para estes casos, principalmente os que envolvem diagramas de Poincaré, a

suavização da série temporal constitui-se em procedimento fundamental na identificação de

estruturas de interesse. Para maiores informações sobre graus de suavização apropriadas,

recomenda-se consultar o trabalho de Izadi (2012), especificamente voltado para o pré-

tratamento de dados sísmicos para fins de determinação de fenômenos precursores de

terremotos.

4.5.1. Critérios para identificação de um ponto de ruptura

Aqui serão tratados os critérios que foram considerados para definir o limiar a partir do

qual o estado atual de um sistema termina, ocasião em que ele e é forçado a transitar para um

estado alternativo (Dakos 12). Este item tem uma relevância particular, pois aborda uma

questão crucial na análise de transição entre estados de equilíbrio de um sistema: - “As

ambiguidades existentes quanto à determinação do local exato e a natureza da transição” (Dakos

12). Para estes casos buscou-se definir um critério para determinar este ponto de transição com

base em alterações simultâneas observadas nas séries temporais turbulentas utilizadas no

presente estudo.

Foram inicialmente identificadas mudanças na estrutura da camada limite tropical

caracterizadas por alterações bruscas nas séries temporais da componente horizontal do vento

que culminam (em todos os casos observados) em uma transição entre um regime de turbulência

fraca para um regime de turbulência forte (Sun 12; Acevedo et al., 2015). Além dos dados de

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vento, foram também verificadas alterações na temperatura, pressão, concentração de Ozônio,

umidade relativa, vapor d’água, componente vertical da velocidade do vento e direção do vento.

Nas séries temporais esse limiar estará sempre assinalado (com uma seta) como o limiar

de uma perturbação que se manifesta nos dados de vento horizontal na forma de alterações no

padrão de oscilação tanto em amplitude quanto em frequência. Para estimar a localização do

ponto de ruptura foram utilizadas todas as variáveis disponíveis e a partir destas foi determinado

o ponto mais representativo para ser considerado como sendo o ponto de ruptura.

De acordo com Biggs et al. (2009), aumentos significativos nos indicadores de CSD

devem ocorrer apenas uma vez por transição. Para verificar isso, foi realizado um “teste de

distanciamento” do local considerado como ponto de ruptura. Isso se fez subtraindo-se do

segmento de série temporal que antecede o ponto de ruptura uma quantidade de pontos

equivalente a 33 minutos (a partir do ponto de ruptura) e realizou-se novamente os testes de

CSD para confirmar que um aumento significativo nos indicadores ocorre apenas uma vez por

transição (o procedimento foi realizado quatro vezes).

4.5.2. Escolha da variável de estado e da taxa de amostragem conveniente

Serão discutidos aqui aspectos da aplicação da metodologia proposta por Dakos 08 e

Dakos 12 para a detecção do fenômeno de CSD e para a comprovação de que o fenômeno

estudado apresenta um ponto de ruptura que pode ser efetivamente caracterizado pelas

proposições do CSD.

Com a finalidade de atingir tal objetivo, uma atenção especial foi dada às considerações

de Lenton, (2011) e Dakos et al. (2015) referentes às condições que podem induzir a falsos

positivos (falsos alarmes) ou condições que podem ofuscar uma ocorrência do fenômeno de

CSD, principalmente no que se refere às transições causadas por perturbações alheias ao CSD.

Assim, foram efetuados testes estatísticos em diversas grandezas turbulentas para verificar qual

delas seria mais representativa para ser usada como VE na quantificação do CSD. Foram usadas

nos testes as componentes horizontal e vertical do vento, pressão atmosférica a 35 e 1,5 metros,

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temperatura potencial virtual, temperatura potencial e potencial equivalente (θE), concentração

de CO2, concentração de vapor d’água, concentração de Ozônio (O3).

Duas dessas grandezas turbulentas apresentaram resultados satisfatórios e foram

definidas como sendo VEs: - Trata-se da θE e da concentração de O3. θE foi calculada a partir

de dados medidos a 48,2 m de altura (conforme metodologia de Betts et al. 2002, apresentada

no tópico 2.6) e a concentração de O3 foi medida a 40 m de altura. Para θE a série temporal foi

reamostrada para frequência de 1 Hz de modo a proporcionar redução de tempo computacional.

Para os dados de concentração de O3 reamostradas a 0.5 Hz (1/2s) para haver ajuste à

quantidade de pontos utilizados nos cálculos envolvendo θE (que foi de aproximadamente 8000

pontos). Observou-se que frequência de amostragem influenciou na robustez das tendências.

Ao se realizarem testes buscando determinar a melhor largura da banda de análise (entre 25%

e 75%) e o número de pontos mais adequado para visualizar os indicadores de CSD, observou-

se que quanto menor a frequência utilizada, menos a função autocorrelação se aproximava da

unidade (1). Realizando-se os testes para essas frequências observou-se que as tendências dos

indicadores permaneceram praticamente as mesmas; no entanto, os valores de indicadores

como autocorrelação sofreram influência decorrente de alterações na frequência.

Aqui não foram necessários tratamentos de interpolação e nenhum tratamento de

correção de falhas nos dados, mas foram realizados testes de qualidade dos dados

experimentais, conforme descritos em metodologia de Vickers e Mahrt (1997), (principalmente

para tratamento de remoção de dados espúrios-spikes). As grandezas aqui utilizadas foram

medidas à frequências constantes de modo contínuo e independente, o que aumentou o grau de

confiança nos dados para estimativa de uma transição crítica.

4.5.3. Hipótese sobre a aplicabilidade dos métodos de sinais de alerta precoce a

fenômenos induzidos por convecção profunda

Aqui serão apresentadas algumas hipóteses que são básicas para alimentar elementos de

convicção sobre aplicabilidade dos sinais de alerta precoce a fenômenos da atmosfera tropical.

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Como é sabido, os sinais turbulentos possuem memória, ou seja, apresentam escalas

integrais de tempo associadas à Função Autocorrelação diferente de zero (Lumley e Panofsky,

1964, p. 14-16). Espera-se assim, que ao se aproximar de uma transição crítica, ocorra um

amortecimento característico que conduz a um aumento na memória de curto prazo dos sinais

turbulentos das VEs. Para esses casos, em particular, nos quais espera-se a ocorrência de CSD,

um aumento na autocorrelação da VE indica que o estado do sistema se torna mais similar

àqueles de seus estados precedentes e por este motivo os valores associados à Função

Autocorrelação devem tender à unidade.

Para o caso de aumento simultâneo de autocorrelação e variância, autores como Dakos

08 e Medeiros et al. (2017) tratam de tal fenômeno como sendo resultado de um processo de

“cintilação”, em que o sistema oscila entre o estado atual e o novo estado de equilíbrio. Tal

processo aumenta à medida em que a transição critica se aproxima, induzindo a um crescimento

significativo na variância da VE.

Convém salientar que essa hipótese pode ser interpretada idealmente como estando

associada a um cenário em que há sinergia entre duas bacias de atração, cuja aproximação se

dá gradativamente no decurso do tempo (Clarke e Shen, 2015). Para o caso particular do

presente estudo define-se bacia de atração da seguinte forma:

Bacia Atual: atmosfera em condições normais sem apresentar grandes desvios daquilo

que seria considerado como um estado atmosférico padrão.

Bacia convectiva: para este caso o estado da atmosfera estaria sob os efeitos de

perturbações causadas pela aproximação de complexos de nuvens convectivas com grande

desenvolvimento vertical, ou seja, a bacia está sob a influência direta dos efeitos provocados

pela presença de nuvens, com as variações de pressão, chuva, variações de temperatura e rajadas

de vento inerentes a tal condição. Pode-se imaginar as perturbações associadas à aproximação

de nuvem como sendo similares àquelas geradas pela onda que se aproxima de uma praia,

situação em que remove água da região próxima da borda e fornece assim massa à onda que se

aproxima. Logo, ao se aproximar de um meio qualquer (onde se localiza um instrumento de

medida), uma nuvem profunda impõe a este meio seus padrões de oscilação e de variabilidade

(Wakimoto, 1982; Wissmeier e Goler, 2009). Tais manifestações de variabilidade podem ser

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percebidas antecipadamente através de alterações nas condições físicas expressas nas variáveis

dinâmicas e termodinâmicas do ambiente devido às alterações causadas pela aproximação de

uma frente de nuvens fortemente convectivas.

Essa aproximação perturba gradativamente as grandezas físicas, aumentando a sua

dispersão (Wakimoto, 1982; Lin et al., 1998; Stull, 1988, cap. 8; Garstang, 1998; Garstang e

Fitzjarrald, 1999; Wissmeier e Goler, 2009). Diante dessas considerações, acredita-se que, no

espaço existente entre as duas bacias de atração, é possível quantificar os efeitos da interação

entre elas através de técnicas de detecção de sinais de alerta precoce. Ressalte-se que a posição

ocupada pelo complexo de nuvens convectivas com relação ao local onde estão sendo efetuadas

as medidas (torre experimental) exerce uma influência importante na qualidade dos sinais

disponíveis para detecção de um CSD. Assim, quando os movimentos descendentes originados

das nuvens incidirem de maneira obliqua na torre instrumental, o CSD poderá não ser

plenamente detectado. Certamente os ângulos de incidência dos downdrafts também devem

desempenhar um papel importante numa tal situação (ver demais casos para efeitos de

comparação no material anexo).

Assume-se aqui que se uma nuvem não tiver profundidade (desenvolvimento vertical)

suficiente, esta (provavelmente) não será capaz de induzir um CSD. Wissmeier e Goler (2009),

em seu estudo sobre evolução de nuvens convectivas em região tropical, mencionam um

conjunto de fatores que vão determinar se a nuvem convectiva vai crescer suficientemente para

produzir fortes movimentos descendentes de ar (downdrafts) e frentes de rajadas (gust-fronts)

ou não. Dentre tais fatores, mencionem-se a velocidade inicial do updraft (movimento vertical

ascendente de ar), CAPE (energia potencial disponível para convecção), cisalhamento vertical

do vento, ocorrência ou não de precipitação (atingindo ou não a superfície), etc. A seguir será

apresentada a Figura 4.5.2, na qual são esquematizados os efeitos da aproximação de uma

nuvem convectiva profunda nos dados medidos à superfície, em torre experimental.

A partir de tal figura são esboçadas possíveis perturbações induzidas por fortes

movimentos de ar, tais como downdrafts, updrafts e demais fenômenos associados à presença

de nuvem e a partir do qual é definida uma região de influência (aquilo que é designada como

“região de influência”, tem associada a si um “raio de influência”, delimitando região dentro da

qual considera-se que os efeitos da presença de nuvem são dominantes). Na interação entre duas

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bacias de atração pode-se considerar a sinergia existente entre elas como representada na Figura

4.5.2. Uma delas representa as condições atmosféricas padrão (bacia atual que apresenta baixa

profundidade) e a outra representa condições atmosféricas alteradas pela ação de um agente

externo (bacia convectiva com grande profundidade). Nessas bacias, os vales (ou poços)

representam atratores estáveis (como no caso discutido no trabalho de Lenton, 2011).

Figura 4.5.2. Proposta de esquema representativo de interação entre duas bacias de atração, representadas pela

bacia atual e bacia convectiva. Neste esquema a nuvem provoca a formação de uma bacia de atração com grande

declividade (bacia convectiva) e avança no decorrer do tempo (t até t + 4dt). Para este caso considera-se que o

processo de regeneração (formação de novos complexos de nuvens) diminui no decorrer do tempo de modo que

a nuvem profunda vai se desgastando, diminuindo a profundidade de sua bacia de atração associada (dy). Essa

aproximação simultaneamente perturba a bacia de atração atual (com menos declividade) levando à perda de

resiliência e deslocando o sistema para uma nova condição de equilíbrio (dx). Esta aproximação entre a bacia

atual e a bacia convectiva envolveria um processo de cintilação, que é o mecanismo pelo qual o sistema oscila

entre os dois estados estáveis: Condições atuais e o novo estado de equilíbrio. Na mesma figura é possível ainda

observar um perfil idealizado da velocidade do vento necessário para induzir o CSD. Tais perfis poderiam ser

usados em simulações posteriores visando representar condições de vento forte, fraco e moderado na atmosfera

tropical.

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Então, considere-se que o sistema sofra uma influência externa que o leva a um

deslocamento de sua condição normal de variabilidade. Se o poço for profundo, o sistema

rapidamente retornará a seus modos normais de variabilidade em torno do equilíbrio, pois o

agente externo não foi capaz de provocar desvios permanentes ou de longa duração (Dakos 08;

2010; 2011; 2015; Lenton, 2011; Lenton et al., 2012). No entanto, considere-se que este poço

fique cada vez mais raso no decurso do tempo. Então, uma perturbação com uma certa

intensidade ocasionará um grande desvio de sua condição de equilíbrio e sua taxa de retorno

será cada vez menor, até o ponto em que o sistema não pode mais voltar a seu estado de

equilíbrio anterior e é forçado a transitar para um estado de equilíbrio qualitativamente distinto

(Dakos 08; Medeiros et al. 2017).

Se esta proposição estiver essencialmente correta, em condições reais os FE’s induzidos

por nuvens profundas poderiam conservar algumas características, a partir das quais seria

possível estabelecer um conjunto de padrões que se conservam e que podem servir como

indicadores de uma transição iminente, conforme discutido sob distintas condições ambientais

por (Wissel, 1984; Sornette, 2002; Dakos 08; Dakos 12; Lenton, 2011; Lenton et al., 2012;

Medeiros et al., 2017, dentre outros). O que se sugere é que, diante da frente da nuvem, ocorreria

o fenômeno de abrandamento que antecede a chegada da “Ondulação” ou “Oscilação Livre”

(Figura 4.5.2) e que este abrandamento seria quantificável pelos sinais de alerta precoce.

4.6. Breve apreciação sobre algumas proposições de Martens (1984)

Antes de iniciar efetivamente a discussão dos resultados experimentais, que é o objetivo

deste tópico, vele a pena apresentar uma breve apreciação sobre as modalidades de aplicações

de métodos não lineares discutidos por Martens (1984). Ele ressalta que não há métodos gerais

para resolver equações diferenciais não lineares, embora muitos problemas da física, geofísica,

engenharia, economia, ecologia, etc. sejam expressos por tais equações. A construção de um

modelo não linear constitui uma etapa básica para a solução de tal tipo de problemas. Podem-

se adotar diferentes abordagens na construção de modelos não lineares. Martens (1984)

menciona três diferentes tipos de estratégias para a construção de modelos não lineares:

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93

i) “O simulacro matemático” – Neste, um conjunto de equações não lineares é escolhido

por representar fenômenos que são similares àqueles que são observados e que se deseja

modelar;

ii) “Estabelecimento de equações ad hoc” – Nesta abordagem, parte-se de um conjunto

de equações governantes, as quais são simplificadas a partir da consideração de argumentos

plausíveis sobre as características dominantes que as soluções devem apresentar;

iii) “Consideração de equações aproximadas” – Nesta abordagem, as equações

disponíveis são reduzidas a formas mais simples com a adoção de aproximações.

Adotar-se-á aqui a primeira abordagem descrita acima, a qual se fundamenta na solução

proposta por Martens (1984) para um problema de flutuações em séries temporais de dados

astrofísicos envolvendo a ocorrência de uma “bifurcação do tipo Hopf”, as quais mostram

acentuada similaridade com aquelas que são encontradas, tanto antes, quanto imediatamente

após a ocorrência de um FE, detectável nas séries temporais turbulentas medidas em torre

experimental, utilizadas no presente estudo. Conforme informado por Martens (1984), a Teoria

das Bifurcações não é particularmente nova, pois em 1834 Jacobi estudou a ocorrência de uma

bifurcação no equilíbrio de corpos auto-gravitantes em rotação. Ainda segundo Martens (1984),

Poincaré introduziu em 1885 a palavra francesa “bifurcation” ao estudar problema similar

àquele investigado anteriormente por Jacobi. Contudo, foi Hopf em 1942 quem proporcionou

uma clara demonstração das bifurcações que acabaram sendo designadas com o seu nome. Para

Martens (1984) o que representa novidade no conceito de bifurcação é a percepção do papel

decisivo que ela pode desempenhar na gênese de um comportamento caótico.

O que é mais relevante para este tópico são as relações observadas entre pontos fixos,

ciclos limite e a caracterização de uma Bifurcação de Hopf discutidos por Martens (1984 – p

334 a 336) a partir da representação do fenômeno em espaço de fase adequado.

Para o autor, o sistema de equações diferenciais 4.6.1 tem como solução as equações

4.6.2, abaixo:

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�̇� = −𝑦 + 𝑏𝑥 − 𝑥3 − 𝑦2𝑥

�̇� = −𝑥 + 𝑏𝑦 − 𝑦3 − 𝑥2𝑦

} (4.6.1)

𝑥(𝑡) = 𝑥0𝑒𝑏𝑡 cos(𝑡) − 𝑦0𝑒

𝑏𝑡 sin(𝑡)

𝑦(𝑡) = 𝑦0𝑒𝑏𝑡 cos(𝑡) + 𝑥0𝑒

𝑏𝑡 sin(𝑡)} (4.6.2)

Nas Equações 4.6.2 se obtém um comportamento amortecido para valores de 𝑏 < 0.

Porém, para 𝑏 > 0, o sistema começa a oscilar com amplitudes cada vez maiores até um limite

além do qual os termos não lineares passam a inibir o aumento da amplitude de oscilação

(Martens, 1984). Ambas as equações (Equações 4.6.1) exibem ciclos atratores ou repulsores

para valores de “b” menores ou maiores que zero, respectivamente.

Os comportamentos descritos pelas Equações 4.6.2 chamam a atenção por

representarem um bom ajuste em relação a um estudo de caso apresentado posteriormente neste

trabalho. Tal ajuste refere-se a um dia em que tanto o aumento de amplitude que culminou com

um regime de máxima turbulência, quanto o posterior amortecimento, puderam ser associados

aos padrões de transição entre regimes de turbulência fraca para turbulência forte até atingir um

clímax (FE) a partir do qual o processo sofreu reversão. Esta transição foi notavelmente

precedida por fenômeno precursor, conforme apresentado por Sornette (2002); Dakos et al.

(2008; 2012; 2015, Salvi et al., 2016; Medeiros et al., 2017).

4.7. Altura estimada do topo de nuvem

Diante da indisponibilidade de informações de radiossondagens realizadas durante a

campanha intensiva do Projeto GoAmazon, procurou-se sanar esta dificuldade buscando-se

informações de radiossondagens de outros períodos da estação chuvosa no sítio experimental

do Projeto GoAmazon. Para isso foram consideradas as informações de quatro radiossondagens

realizadas na reserva do CUIEIRAS, mas longe (poucas dezenas de km) da região em que se

localiza a torre experimental realizadas nos seguintes dias: 10, 12, 15 e 25 de março de 2014.

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95

Elas permitiram que se tivesse uma estimativa do comportamento da CLA acima da reserva do

CUIEIRAS durante a estação úmida, particularmente no que se refere ao que será mostrado na

Figura 4.7.1 (d) na qual busca-se relacionar a variação de temperatura da radiossonda com a

temperatura do brilho de nuvem tomando como base o método utilizado por Pinto-Júnior

(2016).

Na figura tem-se uma composição entre a imagem de satélite, que representa os

complexos de mesoescala e a imagem de radar que evidencia a localização da torre de medidas.

Nesta, a imagem de radar está atrasada 6 minutos em relação à imagem de satélite. Esse atraso

se deve à diferenças na amostragem que para as imagens de satélite GOES-13 são na frequência

de 30 minutos enquanto as imagens de radar tem frequência de 12 minutos, o que causa uma

defasagem de 6 minutos entre as imagens.

Figura 4.7.1. (a) Dados correspondentes a Radio sondagens representativas de quatro dias de dados do período

chuvoso do ano de 2014. Netas radio sondagens é possível observar que a relação altura x Temperatura é muito

próxima, com algumas variações à altura aproximada de 17 km, que é a altura em que o mínimo de temperatura é

atingido (de -79.1 a -84.2 o C) (altura de Tropopausa). (b) Imagem de satélite que confirma a presença de nuvens

nos arredores da reserva do CUIEIRAS às 03:30 UTC do dia 13 de abril de 2014. A seta vermelha no destaque

indica a direção do vento e o quadrado vermelho indica a localização aproximada da torre K34.

Nas Figuras 4.7.1 associou-se a temperatura de brilho do topo da nuvem com a

temperatura das radiossondas para estimar a altura correspondente. Nesta imagem o mínimo de

-100 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 0 20 400

5

10

15

limite 17

20

25

Temperatura (º C)

h (

km

)

10/03

12/03

15/03

25/03

(a) (b)

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96

temperatura que é de -70 °C representado pela cor rosa na legenda de temperatura corresponde

à altura máxima atingida pelo topo da nuvem que seria de aproximadamente 15 km de acordo

com a imagem do satélite GOES (Pinto-Júnior, 2016). Aqui deve-se estar atento para o fato de

as estimativas serem do topo da nuvem. Considerando-se que uma estimativa da altura da base

da nuvem não foi possível de ser realizada neste trabalho não foi possível também estimar a

altura do complexo de nuvens. Por esse motivo uma noção do desenvolvimento vertical será

feita com base apenas na altura do topo da nuvem.

O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) classifica a relação de Base de nuvens

como o seguinte:

Nuvens Altas: base acima de 6km de altura - sólidas.

Nuvens Médias: base entre 2 a 4 km de altura nos pólos, entre 2 a 7 km em latitudes

médias, e entre 2 a 8 km no equador - líquidas e mistas.

Nuvens Baixas: base até 2km de altura - líquidas.

Embora uma possível estimativa de altura de nuvens seja bastante subestimada por

causa das incertezas com relação à altura da base, é possível verificar que se trata de uma

extensão vertical razoavelmente grande (Pinto-Júnior, 2016). Esta extensão vertical ou

profundidade pode ser um requisito fundamental para a ocorrência dos FE’s na região tropical.

4.8. Estudo das características de escalas dominantes de ondulação de terreno da

reserva do CUIEIRAS

Este tópico será brevemente descrito por ser de utilidade em análises posteriores sobre

posição e distância das nuvens profundas em relação à torre. As análises de característica do

terreno foram realizadas a partir da torre experimental de 54m (S -2.60907, W -60.20917), a

aproximadamente 115m acima do nível do mar. Para análise das características do terreno foi

tomada como ponto de partida uma imagem “.tiff”, com resolução de 30 m (como aquela

mostrada na Figura 3.2), contendo informação topográfica do terreno através da qual obtiveram-

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se as escalas horizontais de comprimento características da variabilidade topográfica

(ondulações do terreno) associadas a várias direções (em graus). Esta análise foi possibilitada

a partir de aplicações da Transformada Wavelet Complexa de Morlet, utilizando metodologia

semelhante àquela de Mendonça de Souza (2014), apresentada em Andreae et al. (2015).

Em seguida foram construídos eixos 15 em 15 graus, (0 º, 15 º, 30 º, 45 º, ..., 165 º, 180

º) partindo da localização da torre experimental (origem) orientados no sentido horário como

esquematizados na Figura 4.8.1, região em que predomina a direção que predomina o vento

climatológico. Posteriormente foi formada uma série espacial com os dados altimétricos, com

533 pontos (15,99 km). Sobre esta série espacial foi aplicada a Transformada Wavelet

Complexa de Morlet 1D (Daubechies, 1992; Farge, 1992) para identificar a maior variância da

parte real dos coeficientes wavelet para todas as séries supramencionadas em cada escala e

direção dos eixos acima determinados.

Figura 4.8.1. Área do sítio experimental onde se desenvolve parte do projeto GoAmazon, dentro da reserva do

CUIEIRAS. Na origem está à torre de 54 m a qual serve de referencial para a construção dos eixos nas direções

(15°, 30°, 45°, ..., 175 °, 180 °). As variações de cores na legenda que seguem do “azul” para o “vermelho”

representam a elevação do terreno, em metros.

Escolheu-se o número de onda ks (𝑘𝑠 = 2𝜋 𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎 𝑒𝑠𝑝𝑎𝑐𝑖𝑎𝑙⁄ ) associado à máxima

variância contida nos dados referentes à série com 533 pontos (15,99 km) a contar da origem,

pois se verifica que tais regiões mais próximas da torre podem exercer maior influência nas

medidas (Mendonça de Souza, 2014).

Distância (km)

Dis

tân

cia

(km

)

0 200 400 600 800 1000

0

200

400

600

800

10000

20

40

60

80

100

120

Torre K34

[m]

N

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98

Tabela 4.8.1. Análise de variabilidade e topografia do terreno na reserva do CUIEIRAS a cada 5°

Ângulo

Meteorológico

Variância Número de onda

(kS) m-1 x (10-3) Escala Wavelet Escala espacial (m)

0 107,6 3229,04 4,63

5 53,82 1614,52 5,50

10 53,82 1614,52 3,89

15 53,82 1614,52 3,89

20 45,25 1357,65 3,27

25 53,82 1614,52 3,27

30 53,82 1614,52 3,27

35 76,11 2283,28 4,63

40 76,11 2283,28 5,50

45 32,00 960,00 5,50

50 45,25 1357,65 3,89

55 32,00 960,00 3,89

60 38,05 1141,64 5,50

65 38,05 1141,64 5,50

70 38,05 1141,64 4,63

75 45,25 1357,65 3,89

80 38,05 1141,64 2,75

85 53,82 1614,52 7,78

90 53,82 1614,52 3,89

95 64,00 1920,00 2,75

100 64,00 1920,00 4,63

105 64,00 1920,00 6,54

110 45,25 1357,65 4,63

115 38,05 1141,64 5,50

120 38,05 1141,64 3,89

125 53,82 1614,52 3,89

130 53,82 1614,52 3,27

135 38,05 1141,64 3,27

140 38,05 1141,64 3,27

145 45,25 1357,65 4,63

150 53,82 1614,52 5,50

155 76,11 2283,28 5,50

160 26,91 807,26 3,89

165 53,82 1614,52 3,89

170 76,11 2283,28 5,50

175 45,25 1357,65 5,50

180 32 960,00 4,63

Estudos das escalas de variabilidade do terreno são importantes pois podem fornecer

informações sobre geração de diversos fenômenos como ondas de gravidade, que podem ser

influenciadas por súbitas mudanças de rugosidade da superfície, topografia, convecção,

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99

ondulações, etc. (Mendonça de Souza, 2014; Andreae et al., 2015). Estas características são

capazes de redistribuir a energia e quantidade de movimento e determinam de forma

significativa a estrutura vertical da atmosfera em mesoescala - microescala e fenômenos de

acoplamento. Com base no método desenvolvido por Mendonça de Souza (2014) podem-se

apresentar os seguintes testes (Tabela 4.8.1) sobre a análise de variabilidade e topografia do

terreno onde está localizada a torre experimental K34 para um intervalo de cinco graus (Estes

testes foram elaborados exclusivamente para análise de topografia desta região da torre).

Então é possível verificar as escalas de maior influência para cada direção, as quais

poderão ser importantes para as análises posteriores. Considera-se na Figura 4.8.2, exemplos

das características da altimetria do terreno em relação à distância.

Figura 4.8.2. Exemplos da utilização da TW complexa de Morlet aplicada à analise altimétrica do terreno a partir

do ponto de localização da torre experimental K34. Nesta, constam vistas altimétricas do terreno nas direções

correspondente a: (a) 0°; (b) 45°; (c) 90° e (d) 120°. A seta “vermelha” aponta a direção Norte e corresponde a

“zero graus”. A rotação é no sentido horário, de modo que Leste corresponde à direão de 90°. O arco que

corresponde da direção de 0° até 120° corresponde ao intervalo de interesse (cone de interesse) a ser utilizado em

análises posteriores.

0 3000 6000 9000 12000 150000

50

100

150

200

Distância (m)

Alti

metr

ia (

m)

Altmetria da série espacial na direção de 0° N

(a)

0 3000 6000 9000 12000 150000

50

100

150

200

Distância (m)

Alti

metr

ia (

m)

Altmetria da série espacial na direção de 45° N

(b)

0 3000 6000 9000 12000 150000

50

100

150

200Altmetria da série espacial na direção de 90°

Distância (m)

Alti

metr

ia (

m)

N

(c)

0 3000 6000 9000 12000 150000

50

100

150

200

Distância (m)

Alti

metr

ia (

m)

Altmetria da série espacial na direção de 120° N

(d)

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5. Resultados e discussão

São apresentados os resultados referentes à existência de Fenômenos de Amortecimento

Crítico (CSD) na atmosfera tropical noturna, o que foi comprovado pela aplicação de

metodologia de detecção adequada dos sinais de alerta precoce às variáveis de estado

selecionadas, conforme apresentado no Capítulo 2 (Elementos Teóricos). Também são

abordados aspectos favoráveis à ocorrência de CSD da atmosfera tropical, com a verificação de

algumas hipóteses sobre a aplicabilidade dos métodos de identificação de sinais de alerta

precoce a fenômenos induzidos pela ocorrência de convecção profunda na região tropical acima

de floresta. Além disso, são estudados aspectos relevantes sobre a ocorrência de Fenômenos

Extremos (FEs) e suas relações com Fenômenos de Amortecimento Crítico (CSD). Aspectos

complementares à ocorrência de CSD foram explorados com a utilização de metodologias

baseadas na representação dos processos estudados em espaços de fase adequados e em análises

em tempo-escala das séries temporais associadas a tais processos.

Foram utilizados dados da estação chuvosa na camada limite noturna acima da floresta

Amazônica para verificar as situações em que houve fenômenos extremos. Uma vez

identificados, tais fenômenos foram submetidos aos testes para verificação se eles satisfaziam

às exigências estabelecidas por Dakos 08 de forma a poderem ser considerados como detentores

de comportamento de Amortecimento Crítico e assim, classificados como fenômenos com

CSD. Os dias em que os testes se mostraram satisfatórios foram: 24 de março (DJ083), 13 de

abril (DJ103), 16 de maio (DJ136) e 08 de dezembro (DJ342) do ano de 2014.

Os resultados daqui em diante apresentados, referem-se ao estudo de caso para o dia 13

de abril de 2014 (DJ103 de 2014). No DJ103, o FE ocorreu às 03:30 UTC e este foi o caso em

que todos os testes apresentaram os melhores resultados e foi também aquele em que os testes

estatísticos indicadores de CSD apresentaram os resultados mais robustos. Os demais casos

estão apresentados no Anexo C deste trabalho.

Antes de se apresentar os Fenômenos de Amortecimento Crítico (CSD) propriamente

ditos (no tópico 5.1), procurar-se-á abordar o procedimento de busca da localização exata de

um fenômeno extremo (FE) com a apresentação de um exemplo de sua determinação.

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101

Assim, mostra-se como se procedeu para determinar com exatidão o FE ocorrido no

DJ103. Para isso utilizaram-se dados de velocidade horizontal do vento U (m s-1), temperatura

e concentração de Ozônio. Na Figura 5a consta a série temporal da velocidade horizontal do

vento em função do tempo, onde a cor “preta” mostra a série temporal de dados brutos,

amostrada a uma taxa de 20 Hz. Na cor “vermelha” é apresentada a mesma série temporal

suavizada (filtrada passa-baixa), com redução aproximada de 10% de sua amplitude de

oscilação. A linha “azul” marca o valor limiar (VL) entre estados de turbulência fraca (abaixo

da linha azul) e turbulência forte (acima da linha “azul”), cujas características foram discutidas

anteriormente no tópico 2.2. As duas setas “vermelhas” (1 e 2) localizadas à esquerda do gráfico

marcam o intervalo de tempo que antecede a eclosão do FE.

As duas setas “vermelhas” (3 e 4) localizadas à direita do gráfico Figura 5 a, indicam o

intervalo de tempo que sucede o fenômeno extremo, no qual ainda existe regime de turbulência

forte e será utilizada nos estudos de diagramas em espaços de fase para intervalos de tempo

pós-FE. O intervalo entre a segunda e a terceira seta vermelha foi usado para indicar a região

onde ocorreu o fenômeno extremo propriamente dito, possível região de oscilações livres,

consequência provável de o sistema dinâmico ter passado por bifurcação (autores tais como

Crucifix, 2012; Clarke e Shen, 2015; Han et al., 2016; Salvi et al., 2016; Medeiros et al., 2017;

analisaram fenômenos similares a este em diversas áreas do conhecimento), sendo esta uma das

regiões de interesse neste trabalho.

Nas Figuras 5b e 5c constam, respectivamente, as séries temporais brutas e suavizadas

da temperatura potencial equivalente e da concentração de ozônio em função do tempo, onde a

cor “preta” mostra a série temporal de dados brutos, amostrada a uma taxa de 20 Hz. Na cor

“vermelha” é apresentada a mesma série temporal suavizada (filtrada passa-baixa). As análises

foram efetuadas no intervalo de 01:00 às 06:00 UTC do DJ103.

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Figura 5. DJ 102: Definição do ponto de

transição para os dados de (a) Série

temporal bruta (na cor “preta”) e

suavizada (na cor “vermelha”) da

componente horizontal do vento na qual

a linha “azul” corresponde ao valor limiar

de transição. As setas vermelhas 1 e 2

marcam os intervalos de tempo que

antecede a eclosão do FE. As setas 3 e 4

marcam o intervalo de tempo que sucede

o FE; (b) Série temporal bruta (na cor

“preta”) e suavizada (na cor “vermelha”)

da temperatura potencial equivalente; (c)

série temporal bruta (na cor “preta”) e

suavizada (na cor “vermelha”) da

concentração de Ozônio à superfície. Nas

figuras (b, c) as setas indicando o limiar

(Tipping point) são correspondentes à

seta de número 2 na figura (a).

Tip

pin

g p

oin

t

Tip

pin

g p

oin

t

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103

5.1. Fenômenos com Ocorrência de Amortecimento Crítico (CSD)

São considerados como resultados satisfatórios os casos em que os principais

indicadores de CSD desmontaram tendências positivas em Autocorrelação e Variância, com

tendências simultaneamente positivas ou negativas na Skewness e Curtose.

Nos testes utilizando-se sinais de alerta precoce foram testadas todas as variáveis

disponíveis. No entanto, os resultados não foram plenamente satisfatórios para a maioria das

variáveis utilizadas, tais como, as velocidades horizontal e vertical do vento, a pressão

atmosférica, a concentração de vapor d’água e a umidade relativa do ar. A seguir serão

apresentados dois exemplos de duas variáveis cujos resultados dos principais indicadores não

foram considerados plenamente satisfatórios. Trata-se da velocidade horizontal do vento

(medida a 48.2 metros) e da pressão atmosférica (medida a 35 metros) no intervalo de 01:00 ás

06:00 UTC do DJ103. Para estes casos específicos, utilizando-se vento horizontal e pressão

atmosférica como VEs, os indicadores Skewness e Curtose não foram considerados como sendo

indicadores plenamente satisfatórios (e não serão apresentados em detalhe na discussão dos

resultados), provavelmente devido à grande intermitência (variações positivas e negativas) nos

resultados obtidos com estas duas variáveis.

Para o caso da velocidade do vento horizontal (Figura 5.1.1) é possível verificar um

aumento expressivo na Função Autocorrelação no intervalo de tempo que antecede a eclosão

do FE, o que poderia ser interpretado como um resultado satisfatório de acordo com Dakos 08

e Verbesselt et al. (2016). A Variância, no entanto, demonstra um aumento expressivo somente

na parte final do segmento da série temporal de vento e é provável que ele se deva à maior

variação na amplitude de oscilação na parte final da série (em torno da seta número 2 da Figura

5). Como fora mencionado antes (tópico 4.4), os resultados satisfatórios são aqueles em que a

Função Autocorrelação e a Variância apresentam tendências positivas simultaneamente.

Nos demais dias para os quais foram realizados testes com a velocidade do vento, o

comportamento foi de redução seguido de um aumento expressivo nos indicadores. Logo, por

não apresentar uma regularidade nas tendências dos seus principais indicadores, a velocidade

do vento não foi considerada uma VE adequada para estudos de CSD.

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Figura 5.1.1. Tendências dos principais indicadores, quando aplicados à série temporal de vento horizontal como

Variável de Estado (VE). Aqui foi utilizada uma série contendo 70% do comprimento do segmento de VE que

antecedeu a eclosão do Fenômeno Extremo (FE) e os resultados mostram: (a) Segmento de 70% do comprimento

da série temporal da variável de estado, (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e através do

coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1), (c) desvio padrão.

Além desses resultados para dados de vento horizontal, testaram-se ainda os dados de

pressão atmosférica (medidos a 35 metros de altura), utilizada como VE, cujos resultados são

mostrados na Figura 5.1.2. Neste caso, embora se observe um aumento (fraco) nos indicadores

dos testes para comprovação de CSD, em nenhum momento os valores da Função

Autocorrelação se aproximaram da unidade, atingindo um valor máximo de apenas 0,35 (Figura

5.1.2).

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Figura 5.1.2. Tendências dos principais indicadores estatísticos, quando aplicados à série temporal de pressão

atmosférica como Variável de Estado (VE). Aqui foi utilizada uma série contendo 70% do comprimento do

segmento de VE que antecedeu a eclosão do Fenômeno Extremo (FE) e os resultados mostram: (a) Segmento de

70% do comprimento da série temporal da VE; (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e

através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1); (c) Desvio Padrão.

Daqui em diante serão apresentados os resultados para as duas variáveis para as quais

os resultados foram considerados plenamente satisfatórios: Temperatura potencial equivalente

𝜃𝐸 e Concentração de Ozônio 𝑂3 . Os seus respectivos resultados serão mostrados a seguir.

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106

5.2. Sinais de alerta precoce aplicados à temperatura potencial equivalente (𝜃𝐸)

como variável de estado

Considerados os critérios para definir o limiar da transição crítica (apresentados no item

4.5.1), os testes com sinais de alerta precoce foram aplicados à série temporal de 𝜃𝐸 referente

ao intervalo de 01:00 a 06:00 (UTC) do DJ103 (Figura 5 b). Como resultado, as Figuras 5.2.1

e 5.2.2 mostram as tendências dos principais indicadores estatísticos quando aplicados a 𝜃𝐸 ,

para as séries real e seu resíduo associado, obtido por filtragem Gaussiana (a partir da

suavização representada pela linha “vermelha” nas Figuras 5.2.1 e 5.2.2). Aqui serão

apresentados os resultados da Função Autocorrelação, Variância, Skewness e Curtose quando

aplicadas à temperatura potencial equivalente como VE.

Função Autocorrelação: Podem-se observar aumentos expressivos no valor da função

autocorrelação utilizando-se um segmento de 55 % da série de 8000 pontos da VE que

antecedem o limiar (ponto de ruptura). Os aumentos na autocorrelação vão de 0,840 a 0,900

para a série real (Figuras 5.2.1 b) e de 0,820 a 0,880 para seu resíduo associado (Figura 5.2.2

b). Aumentos da Função Autocorrelação (com uma diferença mínima entre ar1 e acf1)

associados ao indicador de Kendall (tau) da ordem de 0,962 a 0,964 para os testes configuram

um resultado bastante robusto no sentido de quantificar a ocorrência de CSD para os fenômenos

extremos em estudo, que ocorrem na atmosfera tropical acima de floresta.

Embora a robustez das tendências seja significativamente positiva para a ocorrência de

CSD, uma breve análise por escalas (como descrito no tópico 4.4) mostra que o aumento na

Função Autocorrelação torna-se mais robusto nas maiores escalas (baixa frequência), de modo

que o aumento na memória de curto prazo é provavelmente forçado por interações de

frequências mais baixas (como expressão da duração do processo convectivo profundo,

associado ao evento), para este caso particular da atmosfera tropical continental noturna. Essa

possibilidade de refinamento do sinal através de análises por escala ajuda a fornecer subsídios

que levam a mostrar que um CSD pode ser essencialmente caracterizado utilizando-se apenas

uma banda do sinal disponível em lugar do sinal total medido.

Variância: A variância mostra tendências crescentes também para o segmento de 55%

da série de 8000 pontos. Nesta, porém, observam-se pontos de máximos e mínimos com

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características de degrau, mas sempre mantendo a tendência crescente, indo de 0,155 a 0,185

para a série real (Figura 5.2.1 c) e de 0,140 a 0,170 para seu resíduo associado (Figura 5.2.2 c),

com Kendall (tau) da ordem de 0,727 e 0,703, para as séries real e residual, respectivamente.

Estes resultados também caracterizam um indicador robusto da ocorrência de CSD quanto

observadas as tendências de variância da VE. Também, para a variância, uma breve análise por

escalas foi realizada.

Como resultado dessas análises em escala é importante observar que aumentos

simultâneos da Função Autocorrelação e Variância não ocorrem necessariamente na mesma

escala e por muitas vezes pode-se supor que estes aumentos são induzidos por uma escala

dominante na qual os aumentos na Função Autocorrelação e na Variância são muito mais

significativos. Um exemplo disso é obtido quando, ao se aproximar das maiores escalas, a

Função Autocorrelação tende à unidade. Por outro lado, a tendência de aumento da Variância

pode mudar de sentido, invertendo sua tendência a partir da escala de 2×103 segundos. Estas

análises por escalas devem ser objeto de estudos posteriores buscando-se verificar por que o

CSD ocorre um uma escala, e em outras não, e principalmente se será possível potencializar o

CSD ao se usarem escalas preferenciais de sua ocorrência na atmosfera tropical. Contudo deve-

se ter em mente a natureza dos dados experimentais ora analisados. Eles resultam do efeito de

nuvens convectivas profundas que agem na região onde se encontra a torre meteorológica em

que os dados são medidos e muitas vezes tais sistemas convectivos em evolução rápida (ordem

de grandeza de dezenas de minutos) se aproximam do sítio experimental. Assim, tais processos

são determinantes nas características das séries temporais analisadas. A Função Autocorrelação

está estritamente associada à escala integral da turbulência, a qual exprime aproximadamente a

maior escala temporal associada ao processo turbulento (Lumley e Panofsky, 1964). Por outro

lado, a variância das grandezas, particularmente na presença de eventuais frentes de rajadas e

correntes de densidade além de outros efeitos da ação de processos convectivos profundos

(Costantino e Heinrich, 2014), além de outros associados às características específicas da CLN,

conforme discutido por Poulos et al. (2002), podem perfeitamente explicar alguns dos

resultados obtidos ao se estudar a evolução da variância por escala próximo de um ponto de

ruptura.

Skewness e Curtose: A Skewness e a Curtose mostraram tendências decrescentes para

as séries real e residual. Para a série real a Skewness teve uma redução de 1,6 para ≈ 1,05 e a

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curtose, de 10,0 para 6,8, com Kendall (tau) da ordem de – 0,402 e – 0,701, respectivamente

(Figura 5.2.1 d). Para o resíduo associado, a redução na Skewness foi de 1,25 para 0,70 e de 8,0

para 6,0 para a Curtose, com Kendall (tau) da ordem de – 0,362 e – 0,658, respectivamente

(Figura 5.2.2 d).

Figura 5.2.1. Tendências dos principais indicadores

estatísticos, quando aplicados à série temporal de 𝜃𝐸

como Variável de Estado. (a) Segmento

correspondente a 55% do comprimento da série

temporal da Variável de Estado; (b) Função

Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e

através do coeficiente auto regressivo de ordem 1

(ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e

Curtose.

Figura 5.2.2. Tendências dos principais indicadores

estatísticos, quando aplicados à série temporal

residual obtida após filtragem Gaussiana (Residuals of

detrend data) de 𝜃𝐸 como Variável de Estado. (a)

Segmento correspondente a 55% do comprimento da

série temporal da Variável de Estado; (b) Função

Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e

através do coeficiente auto regressivo de ordem 1

(ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e

Curtose.

(a)

(b)

(c)

(d)

(a)

(b)

(c)

(d)

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109

Aqui, uma questão importante deve ser observada. Todos os indicadores estatísticos das

Figuras 5.2.1 e 5.2.2 são absolutamente sensíveis a fortes intermitências nas séries temporais

de VEs. Tais desvios ocorrem em intervalos de tempo em que há uma forte redução em valores

de variáveis como a Umidade Relativa (e Umidade Específica) antes da transição ocorrer

efetivamente. Atribuem-se essas reduções nos valores da Umidade à ocorrência de intrusões do

tipo “top down”, de ar mais seco e mais frio, oriundas do topo da Camada Limite Atmosférica

Tropical (Garstang et al., 1998; Garstang e Fitzjarrald, 1999; Lin e Joyce, 2001; Betts et al.,

2002; Wissmeier e Goler, 2009; Costantino e Heinrich, 2014; Wang et al., 2016). Estas

intrusões também causam descontinuidades nas séries temporais prejudicando as interpretações

sobre a ocorrência do fenômeno de CSD. Uma dessas intrusões ocorreu por volta das 02:15

UTC do DJ103 levando a descontinuidades na série temporal da VE. Em consequência disso

impôs-se que fosse deslocado o início da série analisada para 55% do comprimento da VE, em

lugar de 50%, conforme o padrão usado para os demais casos estudados. Este pequeno ajuste

se fez necessário para manter a regularidade dos resultados e não levar a possíveis erros de

interpretação. Seria lógico se encurtar a série para efetuar ajuste ao melhor resultado, mas

preferiu-se manter o comprimento original da série, buscando-se preservar a plena veracidade

dos dados e dos seus resultados associados.

No conjunto de Figuras 5.2.3 são apresentadas as tendências dos coeficientes Kendall

(tau) associados aos principais indicadores de CSD para uma frequência de amostragem de 3

em 3 segundos. A opção pela referida frequência se deu principalmente para ganho

computacional, pois, ainda que as tendências estimadas a cada 3 segundos demonstrassem

alguma diferença em relação à amostragem de 1 Hz, o ganho computacional com tal

procedimento (de algumas horas) foi bastante significativo.

Em cada uma das Figuras 5.2.3 é apresentada distribuição por janelas para um indicador

específico utilizado e a frequência correspondente (ocorrência ou quantidade de pontos por

janela, ou seja, cada janela quantifica uma quantidade de pontos nela contido). O que se pode

verificar aqui é que a ocorrência de valores próximo da unidade é suficientemente alto para

reforçar a robustez das tendências dos principais indicadores mostrados nas Figuras 5.2.1 e

5.2.2 para a mesma VE.

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Pode-se verificar claramente que as tendências positivas da Função Autocorrelação e da

variância da VE, estão em sua totalidade concentrados em janelas entre os valores 0,5 e 1,0,

referentes à distribuição de Kendall (tau). Para a Skewness e a Curtose as tendências estão mais

dispersas entre 0,0 e -1,0, mas sempre com a tendência negativa (Figura 5.2.3).

Figura 5.2.3. Distribuição de tendências para os indicadores estatísticos: (a) Função autocorrelação obtida através

do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1), (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo acf1, (c)

Desvio Padrão SD, (d) Skewness (SK) e (d) Curtose (Kurt), quando θE foi usada como variável de estado.

Ainda, em relação aos resultados apresentados acima, uma forma de garantir que eles

não corresponderam a falsos alarmes consiste na aplicação de testes de Surrogate, o que é

fortemente recomendável por (Dakos 08). Todos os testes de Surrogate foram elaborados em

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relação aos dois principais indicadores estatísticos, a Função Autocorrelação (foi utilizado o

método ar1 pela pouca diferença observada entre os métodos ar1 e acf1) e a Variância. Todos

os testes foram aplicados para uma largura de banda de 50% do comprimento total da série da

VE. Nas Figuras abaixo constam os testes de Surrogate para 1000 iterações (de acordo com

padrão estabelecido pelo “Toolbox Early Warning Signals”).

Nas Figuras 5.2.4 observa-se que as distribuições anteriormente obtidas para a Função

Autocorrelação e para a Variância não são mais observadas. Nelas o círculo preto estima a

máxima concentração de pontos anteriormente verificada na distribuição de Kendall (tau). Isto

reforça a convicção de que houve identificação de um fenômeno real e não um “falso alarme”.

Falsos alarmes ocorrem quando as tendências dos indicadores estatísticos exprimem a

ocorrência de uma transição crítica que não é real.

Figura 5.2.4. Distribuição de tendências obtidas pós-surrogate para (a) Autocorrelação e (b) Variância. Os círculos

pretos indicam as respectivas máximas concentrações de pontos anteriormente verificadas nas distribuições de

Kendall (tau).

Com a Temperatura Potencial Equivalente como VE, os resultados mostram que os

sinais de alerta precoce podem ser convenientemente aplicados a fenômenos da atmosfera

tropical. No entanto, dadas as particularidades dos casos analisados, foi usada uma grandeza

adicional (a concentração de ozônio) como elemento de reforço para os resultados previamente

obtidos. Os resultados desta aplicação são apresentados a seguir.

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5.3. Sinais de alerta precoce aplicados à concentração de Ozônio (𝑂3) como

Variável de Estado

Dadas as similaridades entre as modificações nos padrões de O3 concomitantes às

variações de θE, os sinais de alerta precoce também foram testados em dados de O3 à superfície.

As tendências dos indicadores para a concentração de O3 reafirmam a evidência

supramencionada da existência de padrões precursores a uma transição entre dois estados

distintos (Figura 5.3.1). Porém, somente para o caso do DJ103, foi necessária a disponibilidade

uma série ligeiramente mais longa em relação à série temporal de θE para detectar as tendências

dos principais indicadores. Para o caso de O3 no DJ103, o sistema pode ter estado sob a

influência de intensos ruídos (para este caso em particular). De acordo com Liu et al. (2015),

uma transição surgirá estocasticamente muito antes da bifurcação determinística “e as fortes

não-linearidades trazidas pela inserção de ruído podem violar as suposições de CSD, ou seja,

uma força restauradora linear” (Liu et al., 2015). Tal conclusão também é corroborada pelos

resultados obtidos por Salvi et al. (2016) em seu estudo sobre a capacidade de ruídos alterarem

o caráter de um sistema dinâmico ao cruzar uma bifurcação.

Procedimentos de filtragem adequada poderiam simplificar a solução de problemas

dessa natureza, mas poderiam influir na questão de robustez (e até mesmo de significância) das

análises do sinal investigado. Portanto, questões de filtragem devem ser tratadas com a devida

cautela, sobretudo quando o sistema dinâmico em estudo se aproxima de uma bifurcação (Salvi

et al., 2016; Medeiros et al., 2017). O ponto de ruptura foi mantido como sendo o mesmo que

aquele considerado em θE para efeito de comparação entre O3, θE e as demais grandezas

turbulentas. Agora serão apresentados os resultados obtidos para Função Autocorrelação,

Variância, Skewness e Curtose aplicadas ao sinal bruto de concentração de O3 (utilizada como

VE). Para O3 foi utilizada uma série de 7500 pontos, da qual 50% do comprimento foi usado

para os testes apresentados a seguir.

Função Autocorrelação: No que tange à Função Autocorrelação considerando-se os

dados de O3, observou-se que ela apresentou tendência crescente de 0,942 para 0,958 (para ar1

e acf1) e que atingiu o seu valor máximo cerca de 40 minutos antes do limite associado à

“ruptura”. Para este caso, também não foram verificadas diferenças significativas entre os

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métodos ar1 e acf1, com valores do teste de Kendall (tau) da ordem de 0,578 e 0,567,

respectivamente, para a série real (Figura 5.3.1 b). Para o resíduo, o aumento foi de 0,942 para

0,958, com valores do teste de Kendall (tau) da ordem de 0,578 e 0,567 para ar1 e acf1,

respectivamente (Figura 5.3.2 b).

Supõe-se que, para este caso específico, ao atingir seu valor máximo antes dos demais

indicadores, a função autocorrelação evidencia a aproximação de processos convectivos

associados a aumentos na concentração de O3. Uma breve análise por escalas utilizando-se a

Wavelet Complexa de Morlet, mostra que a Função Autocorrelação mantém seus valores

elevados entre as escalas de 32 a 8×103 segundos, com valores sempre acima de 0,980. Em

alguns intervalos de escalas a tendência foi negativa (Kendall tau negativo), mas a tendência

positiva foi dominante para a maioria das escalas observadas.

Variância: Com relação à análise da Variância, esta manteve uma tendência

ligeiramente crescente, com alguns máximos e mínimos até a marca dos 5800 pontos (≈ 2:45

hora UTC). O aumento mais expressivo foi observado aproximadamente entre 03:00 e o “ponto

de ruptura”. Em geral, a Variância aumentou de 0,50 a 0,70, com valores do teste de Kendall

(tau) da ordem de 0,669 para a série real (Figura 5.3.1 c). Para o resíduo associado, o aumento

foi de 0,50 a 0,70, com valores do teste de Kendall (tau) da ordem de 0,669 (Figura 5.3.2 c).

Aqui também foi elaborada uma breve análise por escalas. Nesta, as menores escalas (32 a 68

segundos) mostram uma tendência decrescente (Kendall (tau) negativo). Para as escalas

superiores (acima de 68 segundos) a tendência positiva foi dominante, com alguns intervalos

de escalas com tendência negativa. Pode-se inferir que, para algumas escalas, o comportamento

da função foi muito similar àquele apresentado na Figura (5.3.1 c). Isso aponta novamente para

a possibilidade de aprimorar o procedimento de detecção CSD ao se aplicarem os testes apenas

para as escalas em que os indicadores forem mais expressivos.

Skewness e Curtose: Para este caso estes dois indicadores apresentaram tendências positivas,

o que é aceitável se considerar-se que o sistema está transitando de um estado de menor skewness e

curtose para outro estado com maior Skewness e Curtose (Dakos 12). Para a série real (em valores

aproximados) a Skewness foi de 0,2 a 0,35 com uma redução brusca ao final da série. A Curtose

de 2,8 para 3,3 com Kendall (tau) da ordem de 0,667 e 0,561, respectivamente. Para a série

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residual, a Skewness foi de 0,2 para 0,35 e a Curtose de 2,8 para 3.3 com Kendall (tau) da

ordem de 0,669 e 0,555, para a Skewness e a Curtose, respectivamente.

Figura 5.3.1. Tendências dos principais indicadores,

quando aplicados à série temporal real de 𝑂3 como

variável de estado. (a) Segmento correspondente a 50%

do comprimento da série temporal da Variável de

Estado; (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro

passo (LAG1) e através do coeficiente auto regressivo

de ordem 1 (ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d)

Skewness e Curtose.

Figura 5.3.2. Tendências dos principais indicadores,

quando aplicados à série temporal residual (Residuals

of detrend data) usando 𝑂3 como variável de estado.

(a) Segmento correspondente a 50% do comprimento

da série temporal da Variável de Estado; (b) Função

Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e

através do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1);

(c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e Curtose.

Na análise por escalas com relação à Skewness, predominaram as tendências verificadas

nas Figuras (5.3.1 d, 5.3.2 d) o que reafirma a perspectiva de um aperfeiçoamento na detecção

do CSD através do uso de apenas uma banda do sinal, em vez de o sinal bruto. Essas tendências

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observadas corroboram fortemente os resultados obtidos para θE e também o que foi proposto

por Dakos 12, nas suas análises de detecção de CSD para dados de naturezas diferentes. Com

isso observa-se que a concentração de O3 à superfície também é sensível à aproximação de uma

transição crítica, o que a credencia a também ser utilizada como VE. As Figuras (5.3.3), abaixo,

mostram a distribuição de tendências (por janelas) dos principais indicadores para a

concentração de O3.

Figura 5.3.3. Distribuição de tendências para os indicadores estatísticos: (a) Função autocorrelação obtida através

do coeficiente auto regressivo de ordem 1 (ar1), (b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo acf1, (c)

Desvio Padrão SD, (d) Skewness (SK) e (d) Curtose (Kurt), quando O3 foi usada como variável de estado.

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Para a concentração de 𝑂3 os testes de Surrogate também foram realizados e os testes

de autocorrelação (ar1) e variância constam na Figura (5.3.4).

Figura 5.3.4. Teste de distribuição de tendências para Autocorrelação e Variância realizados após Surrogate para

a concentração de 𝑂3. Os círculos pretos indicam as respectivas máximas concentrações de pontos anteriormente

verificadas nas distribuições de Kendall (tau).

Os resultados aqui apresentados atendem aos critérios de Ditlevsen e Johnsen, (2010),

segundo os quais uma transição crítica é caracterizada por aumentos simultâneos na Função

Autocorrelação e na Variância. Também atendem aos critérios de Dakos 08, segundo o qual,

aumentos da Função Autocorrelação (que exprimem um abrandamento critico) constitui

condição suficiente para verificação de uma transição crítica. As tendências dos principais

indicadores aqui apresentadas foram satisfatórias sempre que foram verificadas as condições

necessárias apresentadas na Figura (4.5.1). Essas tendências reforçam a ideia de que sob alguns

aspectos na atmosfera tropical o sistema sofre uma transição crítica para um estado de contraste

que perdura por um determinado tempo. Esta transição configura-se ao ultrapassar um limiar

crítico a partir do qual “o comportamento qualitativo do sistema muda para uma nova condição”

(Dakos 08; Dakos et al., 2011; Lenton, 2011; Dakos 12; Lenton et al., 2012; Streeter e Dugmore,

2012; Dakos et al., 2015). É importante observar que as tendências dos indicadores para ambas

as VE utilizadas exprimem fortes indícios da ocorrência de CSD na atmosfera tropical. Para

reforçar isto, a Tabela 5.3.1 mostra os quatro dias com ocorrência de fenômenos característicos

de fenômenos característicos de transição critica acima de floresta. Para todos os casos, os

indicadores, tanto para θE, quanto para O3, apresentam as tendências cuja robustez foi estimada

pela distribuição de Kendall (tau), tanto para séries temporais reais (Real), quanto para seus

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resíduos associados (Res). A partir da Tabela 5.3.1 pode-se observar que que todos os

indicadores seguem sempre a mesma tendência, seja crescente (Autocorrelação e Variância) ou

decrescente (Skewness e Curtose). Para os casos dos dias 083 e 342 os dados de concentração

de O3 não estiveram disponíveis.

Tabela 5.3.1. Tendências de Kendall (tau) para as Variáveis de Estado θE, e O3, nas análises de

detecção de Ocorrência de Amortecimento Crítico (CSD):

Dia Indicador VE ar (1) acf (1) RR DR SD SK KURT

083

Ken

da

ll (

tau

) fo

r re

al

Tim

e S

erie

s 𝜃𝐸 0,807 0,807 - 0,807 0,807 0,710 0,375 0,147

𝑂3 - - - - - - -

103 𝜃𝐸 0,962 0,964 - 0,962 0,964 0,727 - 0,402 - 0,701

𝑂3 0,566 0,557 - 0,566 0,557 0,612 - 0,578 - 0,558

136 𝜃𝐸 0,859 0,856 - 0,859 0,856 0,786 0,184 0,192

𝑂3 0,815 0,828 - 0,815 0,828 0,740 - 0,141 - 0,158

342 𝜃𝐸 0,619 0,621 -0,619 0,621 0,785 -0,876 -0,948

𝑂3 - - - - - - -

083

Ken

da

ll (

tau

) fo

r re

sid

ua

l T

ime

serie

s

𝜃𝐸 0,791 0,791 - 0,791 0,791 0,663 0,541 0,379

𝑂3 - - - - - - -

103 𝜃𝐸 0,965 0,967 - 0,965 0,967 0,703 - 0,362 - 0,658

𝑂3 0,566 0,557 - 0,566 0,557 0,612 0,580 0,556

136 𝜃𝐸 0,840 0,841 -0,840 0,841 0,751 - 0,080 - 0,147

𝑂3 0,795 0,809 -0,795 0,809 721 0,235 - 0,239

342 𝜃𝐸 0,644 0,645 -0,644 0,645 0,790 -0,923 -0,946

𝑂3 - - - - - - -

Ind=Indicator; SV= state variable; ar(1)= the autoregressive coefficient of a first order AR model fitted on the

data within the rolling window; acf(1)= the autocorrelation at first lag of the data estimated within each rolling

window; RR = Return ratio; DR = Desity Ratio; SD=Standard deviation; SK skewness; KURT = kurtosis

Até aqui foram apresentados os resultados da aplicação dos sinais de alerta precoce para

a quantificação do CSD. Como dito antes, a robustez dos resultados qualifica a ocorrência de

CSD na atmosfera tropical noturna. Porém, deve-se ressaltar que não se pode descartar a

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possibilidade de falsos alarmes de Ocorrência de Amortecimento Crítico (CSD), ou que haja

outras causas que não sejam uma transição entre dois estados de equilíbrio distintos. Por isso,

nos tópicos a seguir serão tratados alguns aspectos relevantes sobre a ocorrência de CSD na

atmosfera tropical.

5.4. Discussão sobre Ocorrência de Amortecimento Crítico (CSD)

Neste tópico será apresentada uma visão geral dos resultados referentes a Ocorrências

de Amortecimento Crítico (CSD). Também serão apresentadas algumas considerações acerca

do aperfeiçoamento da aplicabilidade dos métodos acima expostos.

5.4.1. Aspectos favoráveis à ocorrência de CSD acima de floresta

Os resultados apresentados nos itens 5.2 e 5.3 confirmam a existência de CSD em

subsistemas de evolução relativamente rápida, como descrito por Dakos 08 e corroborado por

van Hooijdonk et al. (2016) em seu estudo referente à a transição tarde-noite da CLA a partir de

análise de Simulação Numérica Direta (DNS). Dakos 08 mencionam que fenômenos contendo

CSD poderiam ser detectados em subsistemas mais rápidos que apresentassem pontos de ruptura

tais como os verificados em padrões de circulações atmosféricas locais.

Aqui o CSD poderia estar associado à “calmaria que antecede a tormenta” e que se

manifestaria de forma reveladora em dados de velocidade do vento horizontal e vertical. Embora

essas grandezas não sejam aplicáveis como VE para os casos ora estudados, elas foram

fundamentais na análise que levou à definição das VE’s associadas à detecção do ponto de

ruptura.

Ressalta-se, para todos os casos em que os sinais de alerta precoce indicaram existência

de CSD, que:

(i) Foram observados máximos nas componentes horizontal e vertical da velocidade do

vento e variações de pressão atmosférica simultaneamente à queda de 𝜃𝐸 e ao aumentos de 𝑂3.

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(ii) Esses máximos de velocidade do vento, que na grande maioria dos casos

ultrapassaram os 12 ms-1, caracterizaram transições entre regimes de turbulência fraca para

turbulência forte. Todos os casos em que foram observadas tendências positivas dos principais

indicadores estatísticos utilizados estiveram associadas à existência de fenômenos precursores

de uma transição de turbulência fraca para turbulência forte, similares aos descritos por Sun 12

e Acevedo et al. (2015).

(iii) Essa transição entre regimes de turbulência é acompanhada de uma mudança de

pelo menos 45° na direção do vento (180° para o caso do DJ 083), em uma região de ventos

predominantemente de leste, com a presença frequente de nuvens profundas.

Tais características podem ser indicadoras da ocorrência de fortes processos convectivos

e podem constituir condições necessárias para a ocorrência de CSD. Isto é suposto porque tais

características não foram observadas simultaneamente em nenhum outro instante salvo

naqueles casos em que a ocorrência de CSD foi testada e confirmada.

Além disso, o forte acoplamento verificado entre as variações de θE e O3, como descrito

por Betts et al. (2002a; 2002b) e Gerken et al. (2015) em seus estudos sobre aspectos do

escoamento atmosférico acima da floresta amazônica também é identificado nos testes de CSD

para a região tropical acima de floresta. Um fato muito relevante nessas análises é o de que, até

este momento, os fenômenos de CSD observados na CLA só foram identificados em casos

analisados na Camada Limite Estável (presente estudo) ou em transição tarde-noite

(van Hooijdonk et al., 2016). Muito embora fenômenos de transição como os analisados para a

camada estável também ocorram durante o dia (com maior frequência), os testes de robustez

para caracterização de um CSD não apresentaram as tendências esperadas para nenhum dos 25

casos analisados em condições instáveis. A possível explicação para o relatado acima é a de

que condições de instabilidade da Camada Limite Convectiva, particularmente na região

continental dos trópicos pode estar associada à existência de um termo de flutuabilidade muito

ativo na geração de energia cinética turbulenta (que facilita a ação de numerosas térmicas,

intensificação do processo de entranhamento e intensos updrafts e downdrafts associados, os

quais interagem com o campo turbulento próximo da superfície, conforme mencionado por

Khairoutdinov e Randall, 2006). Tais condições de instabilidade dificultariam a possibilidade

de ocorrência do “abrandamento crítico”, impedindo assim o aumento de memória de curto

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120

prazo da turbulência, refletindo na impossibilidade de estimativas robustas da Função

Autocorrelação (a qual é crucial na caracterização do CSD). Essas condições determinadas pela

capacidade de o termo de flutuabilidade gerar energia cinética turbulenta não estariam presentes

na CLN, onde o termo de flutuabilidade atua principalmente no amortecimento das flutuações

turbulentas (Stull, 1988, p..155-158).

Estudos de transporte vertical de O3, da média troposfera para a superfície, durante a

passagem de sistemas altamente convectivos acima de floresta, foram desenvolvidos por Betts

et al. (2002a; 2002b), Gerken et al. (2015) e Wang et al. (2016), dentre outros. Assim como nos

resultados aqui apresentados, os autores observam que “as alterações em θE e na concentração

de O3 estão fortemente acopladas, ainda que totalmente fora de fase”, e ocorrem

simultaneamente a eventos de rajadas descendentes de ar, o que sugere que “o mesmo transporte

vertical é responsável pelas modificações tanto nos padrões de O3 quanto nos de θE”, próximo

da superfície.

Deve-se ressaltar que durante tais fenômeno extremos, envolvendo transição crítica

induzida pela presença de nuvens, a permanência do sistema na nova condição apresenta

duração limitada. Assim, o sistema permanece na nova condição de equilíbrio em um período

de tempo equivalente à duração da influência do fenômeno causador da perturbação (conforme

descrito por Wissel, 1984, em análise de ecossistemas estáveis). Não se trata de uma transição

permanente, mas sim de uma resposta a um fenômeno externo de maior escala que tem a

capacidade de alterar significativamente as condições do meio em que age. Sob tais condições,

é plausível esperar que possa haver ocorrência de amortecimento crítico o qual pode ser

detectável segundo a metodologia de detecção de CSD utilizada no presente trabalho.

5.5. Alguns aspectos subsidiários relevantes para uma melhor compreensão da

ocorrência do fenômeno extremo

São tratados de alguns aspectos físicos relevantes relativos à ocorrência de FE’s na

atmosfera tropical, principalmente para os intervalos de tempo em que ocorrem amortecimentos

críticos (CSDs). Convém observar que a perda de estabilidade associada à ocorrência do CSD,

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121

detectável nos testes estatísticos propostos por Dakos 08, também pode ser investigada com o

auxílio de outros procedimentos metodológicos. Um deles consiste na representação das séries

temporais contendo amortecimento crítico em diagramas de fase adequadamente construídos,

a partir das grandezas turbulentas ligadas à ocorrência do CSD. Essas análises também são

importantes na busca de melhor entendimento da natureza física do processo de transição entre

dois estados distintos do sistema dinâmico. Como exemplo de amortecimento acima citado, a

Figura 5.5.1 mostra a série temporal da velocidade horizontal do vento, na qual é destacado o

intervalo de tempo que sucede a ocorrência do FE anteriormente apresentado na Figura 5. Nela

é possível verificar um caso clássico de amortecimento (que poderia ser classificado como um

caso de amortecimento subcrítico).

Figura 5.5.1. Série temporal da velocidade horizontal do vento mostrando Fenômeno Extremo (FE). O painel de

destaque apresenta a região pós-FE, na qual pode-se verificar um comportamento típico de uma oscilação sob

efeito de amortecimento subcrítico. Na figura principal, a seta na cor “vermelha” localiza a região em destaque e

a linha na cor “preta” localiza a velocidade limiar. No destaque a linha “magenta” representa o que pode ser

considerado como um eixo de simetria entre os lados superior e inferior do envelope representado pelas duas linhas

na cor “preta”.

A Figura 5.5.2 estende a região em destaque da Figura 5.5.1. Nela é possível observar

que ocorrem dois padrões de oscilação distintos para o intervalo de tempo que sucede o FE e

que podem ser melhor caracterizados com as análises de mudanças no coeficiente angular das

retas de melhor ajuste obtidas a cada um dos intervalos (ver mais no material Anexo A). O

primeiro intervalo vai desde a origem até o ponto “M” e o segundo do ponto “M” até o final da

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série na figura. A série temporal no primeiro intervalo apresenta uma tendência decrescente nos

pontos associados aos máximos relativos de oscilação e tendência crescente nos pontos

associados aos mínimos relativos de oscilação. A esses pontos de máximos e mínimos pode-se

associar um “envelope” como mostrado pelas linhas “pretas” na Figura 5.5.2.

Aqui é importante verificar que o ponto “M” na figura abaixo localiza não apenas o

término da região da série temporal cujas características admitem traçar um “envelope”, mas

também localiza o fim da região em que prevalecem os regimes de forte turbulência.

Figura 5.5.2. Intervalo da série temporal da velocidade do vento no qual podem-se verificar dois comportamentos

distintos: O primeiro, que vai desde a origem até o ponto “M”, apresenta um comportamento típico de oscilação

amortecida, à qual é possível associar-se um envelope que é representado pelas linhas na cor “preta” na figura e

que caracteriza uma região em que ainda predomina o regime de forte turbulência. O segundo intervalo, que vai

do ponto “M” em diante, mostra uma mudança de tendência da série temporal e possivelmente o fim da prevalência

da ação do FE. Isso por que a partir do ponto “M” retorna-se às condições de regime de turbulência fraca, em que

os efeitos do FE não são mais dominantes.

A Figura 5.5.1 e o destaque da Figura 5.5.2 representaram uma condição de

amortecimento que se observa após um FE em máximos nos dados de velocidade do vento, mas

que também pode ser verificada em outras séries temporais, como é o caso da temperatura

potencial equivalente (Figura 5.5.3).

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Figura 5.5.3. Série temporal da Temperatura Potencial Equivalente, na qual também se destacou a região pós-FE,

em que se verifica um comportamento típico de uma oscilação sob efeito de amortecimento subcrítico. Na Figura

Principal, a seta na cor “vermelha” localiza a região do painel em destaque. Neste, por sua vez, a linha “magenta”

representa o que pode ser considerado como um eixo de simetria entre os lados superior e inferior do envelope

representado pelas duas linhas na cor “preta”.

Os efeitos de amortecimento pós-FE observados em 𝜃𝐸 foram destacados na Figura

5.5.4. O importante a ressaltar aqui é que a tendência das retas de melhor ajuste aos pontos de

extremos relativos (associadas aos mesmos períodos) é a mesma, tanto para os dados de

velocidade de vento (Figura 5.5.2) quanto para os de 𝜃𝐸 (aos dois instantes Figura 5.5.4). As

análises associadas a fluxos de calor sensível, variância, coeficientes de correlação (w’u’) e

demais grandezas associadas a cada um desses intervalos são apresentadas no material anexo

(Anexo A). O importante a registrar aqui é a existência de uma correlação entre os efeitos

associados a dados de vento horizontal e da temperatura potencial equivalente.

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Figura 5.5.4. Intervalo da série temporal da temperatura Potencial Equivalente, na qual pode-se verificar (assim

como para a velocidade de vento da Figura 5.5.2) dois comportamentos distintos. O primeiro que vai desde a

origem até o ponto “M’ ” apresenta um comportamento típico de oscilação amortecida, à qual é possível associar

um envelope que é representado pelas linhas na cor “preta”. O segundo intervalo que vai do ponto “M’ ” em diante

mostra uma mudança de tendência da série temporal e possivelmente o fim da prevalência do FE.

5.5.1. Diagrama de Poincaré aplicado a uma região de amortecimento crítico

(CSD)

São estudadas as características de sinais com amortecimento crítico representadas em

Diagrama de Poincaré, tendo como ponto de partida o procedimento de análise utilizado por

Martens (1984), em que se constroem gráficos de séries temporais de uma grandeza x(t), nos

quais x(t) é colocada no eixo das abscissas de um plano Cartesiano e [�̇� = 𝑑𝑥 𝑑𝑡⁄ ](𝑡) é colocada

no eixo das ordenadas. Assim, ao se fazer variar o tempo t, são obtidas “órbitas” ou “trajetórias”

da evolução do sistema dinâmico, as quais podem oferecer informações importantes sobre a

natureza física do processo sob investigação (Kantz e Schreiber, 2002, cap. 3). Ressalte-se o

fato de que nos instantes que antecedem a ocorrência de um FE, como no caso apresentado

anteriormente na Figura 5, um “fator de instabilidade” (como mencionado por Martens, 1984)

ou, um padrão de “oscilação livre” (conforme comentado por Salvi et al., 2016) que leva a um

aumento significativo na amplitude das órbitas representadas em diagramas de espaço de fase

até um ponto de máximo (entre as setas 2 e 3 da Figura 5 a) em relação à órbita dos ciclos

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precursores. Nos instantes seguintes (entre as setas 3 e 4 da Figura 5 a) tais órbitas tendem a

diminuir de amplitude, com um comportamento clássico de oscilação amortecida tendendo a

um “ponto atrator” (marcado pela seta de número 4).

Aqui a importância da suavização das curvas representadas no diagrama em espaço de

fase fica evidenciada. Isso por que, dada a alta frequência de amostragem dos dados utilizados

(20 Hz), cada segundo corresponde a 20 ciclos completos. Assim, quando usada a informação

contida na série temporal sem suavização, para a construção dos espaços de fase, as oscilações

de alta frequência tornam muito difícil a visualização de qualquer provável estrutura de baixa

frequência na série temporal, no diagrama de fase que se deseja evidenciar. Convém mencionar

que Izadi (2012) dedicou sua dissertação à solução do problema de como suavizar uma serie

temporal geofísica de modo a tornar evidentes padrões significantes nos sinais brutos medidos,

precursores de um fenômeno crítico.

A seguir será desenvolvida análise para evidenciar o carácter subcrítico da oscilação

observado pós-FE.

5.5.1.1. Testes associados à existência de um Envelope:

Por questão de maior simplicidade é proposta como solução a equação 5.5.1.1., adaptada

tendo por base as conclusões de Martens (1984) referentes ao estudo de oscilações contidas em

“envelope” similar ao aqui investigado:

𝑦 = 𝐴𝑒±𝑎(𝑡±𝑙) cos(𝑘(𝑡 ± 𝑙) + 𝑐) + 𝑑 (5.5.1.1)

com a, b, c, d, l constantes.

Os ‘”envelopes” correspondentes aos ajustes superior (5.5.1.2a) e inferior (5.5.1.2b):

𝐸1 = 𝐴𝑒±𝑎(𝑡±𝑙) + 𝑑 (5.5.1.2𝑎)

𝐸2 = −𝐴𝑒±𝑎(𝑡±𝑙) + 𝑑 (5.5.1.2𝑏)

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Observe-se aqui o termo “a” na Equação 5.5.1.1. Seu valor positivo implicará em um

aumento de amplitude (Figura 5.5.1.1 a) e seu valor negativo representará um amortecimento

(Figura 5.5.1.1 b). Para os testes de demonstração apresentados na Figuras (5.5.1.1 a, b) foram

usados os seguintes ajustes na Equação 5.5.1.1:

𝐴 = 4,000; 𝑎 = ±0,040; 𝑘 = 0,025; 𝑐 = 0,000; 𝑑 = 0,000; l = 0,000

O termo “d” na equação 5.5.1.1 é usado para deslocar a oscilação da posição zero e

o termo ± 𝑙 constitui um termo de translação (± 𝑙 será bastante útil nos ajustes da equação

aos dados reais).

Nos gráficos a seguir a linha “azul” representa o sinal obtido a partir da Equação

5.5.1.1, com os ajustes acima, e a linha “vermelha” corresponde à sua respectiva derivada em

relação ao tempo.

Figura 5.5.1.1. Relação entre flutuações dos dados obtidos a partir da Equação 5.5.1.1 e suas respectivas derivadas

temporais para: (a) períodos que antecedem o FE em que o aumento de amplitude pode ser obtido utilizando-se o

valor positivo da constante “a”; e (b) intervalo de tempo que sucede o FE, cujo amortecimento foi obtido

utilizando-se o valor negativo da constante “a”.

Associando-se o sinal bruto e suas respectivas derivadas temporais em cada ponto

obtêm-se os seguintes diagramas de Poincaré (Figura 5.5.1.2) para os intervalos de tempo que

precedem e sucedem o FE:

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Figura 5.5.1.2. Diagramas de Poincaré correspondentes aos dados do sinal bruto e de suas respectivas derivadas

temporais. No eixo horizontal consta o sinal bruto obtido diretamente da equação 5.5.1.1. No eixo vertical consta

a derivada da Equação 5.5.1.1 multiplicada pelo fator (102) por uma questão de ajuste ao gráfico. Estes referem-

se aos intervalos temporais anteriores (a) e posteriores (b) ao FE.

Ao longo dessa análise procurar-se-á fazer uma comparação entre os ajustes aqui

obtidos e aqueles obtidos nos problemas estudados por Martens (1984), cujas soluções são

bastante similares. A aplicação da equação 5.5.1.1 baseada na solução do sistema de equações

estudados por Martens (1984) possibilitou a construção de diagramas de Poincaré que

representam o período que antecede e o que sucede o FE, investigado neste trabalho.

O esforço agora será o de ajustar essas representações em diagramas de Poincaré às

soluções dos casos reais. Tais representações procuram determinar aspectos críticos da

evolução de um sistema dinâmico. Assim, parte-se da ideia de que os comportamentos atrativos

ou repulsivos expressos nos diagramas de Poincaré representem regiões em que há amplificação

ou amortecimento da energia associada ao sistema. Isto por que, para o intervalo de tempo que

antecede a transição de um regime de turbulência fraca para outro de turbulência forte, até a

eclosão de uma impulsão que marca ocorrência de um FE associado a tal processo, há uma

evolução que se inicia em ponto fixo repulsor. Após o FE podem ser observados

comportamentos diferenciados nos diagramas de Poincaré elaborados. Para alguns casos, como

o do DJ103, há um decréscimo de energia tendendo a um ponto fixo atrator (como em casos

discutidos por Martens, 1984), que marca uma nova transição, agora no sentido de um regime

de turbulência forte para regime de turbulência fraca. Em outros casos, como naqueles dos dias

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083 e 136, houve dois regimes de turbulência forte separados por curtos intervalos de tempo

em que predominam regimes de fraca turbulência (ver mais no Anexo A).

A seguir será apresentada uma sequência de análises do FE do DJ103, para o qual a

clareza do CSD e a robustez das estimativas foram mais evidentes. O que é precedente,

simultâneo e posterior ao FE:

5.5.2. Análises da velocidade horizontal U para os instantes que antecedem o FE

Serão tratados os ciclos ou órbitas repulsoras associadas às oscilações de baixa

frequência da componente horizontal do vento para o intervalo de 01 às 06 UTC do DJ103.

Para a identificação destes ciclos foi efetuada uma suavização na série temporal de U (daqui

em diante TSU’s). Nesta foi usado filtro passa-baixa ao longo de todo intervalo de existência

da série temporal. Para a construção do diagrama de Poincaré correspondente foram calculadas

as flutuações da TSU’s e suas respectivas derivadas temporais para os três seguintes intervalos:

Período antecedendo o FE, período de ocorrência do FE e período posterior à ocorrência do FE,

conforme definido na Figura 5.2 (a).

Quando se tratar de derivação de resultados experimentais, o termo “derivada” foi

usado para especificar uma aproximação de ∆𝑈 ∆𝑡⁄ com ∆𝑡 = 1/20𝑠 (correspondente à

máxima frequência disponível, à frequência de amostragem dos dados de 20 Hz).

Na Figura (5.5.2.1) constam: No eixo vertical a flutuação de TSU’s na cor “azul” e sua

respectiva derivada temporal na cor “preta”; No eixo horizontal, o intervalo de tempo associado

às oscilações. Na Figura (5.5.2.1) é possível observar que ocorre uma alteração na amplitude

da linha em “preto”, com um ligeiro crescimento dos seus máximos e mínimos relativos. Tais

padrões determinam que, para um melhor ajuste, o termo “a” na equação 5.5.1.1 deve ter uma

valor positivo e próximo de zero até o limiar em que uma impulsão associada ao FE altera os

modos de oscilação gerando um pico de máxima amplitude.

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Figura 5.5.2.1. Flutuação de TSU’s na cor “azul” e sua respectiva derivada temporal na cor “preta” para os

instantes que antecedem o FE.

A partir dos dados da Figura 5.5.2.1 foi possível construir o diagrama de Poincaré

que sugere a existência de um ciclo repulsor no intervalo de tempo que antecede o FE. A Figura

5.5.2.1 poderia ser interpretada como aquela que representa a vizinhança de um ponto de perda

de estabilidade a partir do qual o sistema começa a oscilar com amplitudes cada vez maiores

(situação analisada por Martens, 1984, para um caso similar), culminando com um aumento

expressivo na amplitude a partir do ponto “L”. Por questões de ajuste ao gráfico, a derivada

temporal da flutuação foi multiplicada por um fator de 10 4. A utilização de diagramas de

Poincaré associados a comportamentos precursores do FE possibilita evidenciar tendências

importantes verificadas em situações de CSD. Em tais diagramas foi possível, por exemplo,

associar um “ponto de ruptura”, anteriormente classificado como tal em análise de CSD, com

o resultado observado no comportamento das órbitas em diagrama de Poincaré (associadas ao

movimento de baixa frequência da VE), além de indicar a possível ocorrência de uma

bifurcação de Hopf subcrítica precursora de FE’s (Pontriaguine, 1969, p. 234-282; Shirer e

Dutton, 1979; Logan, 1987, p. 394-400; Thompson e Stewart, 1991, p. 51-60; 115-131; Salvi

et al., 2016). Na utilização dos diagramas de Poincaré foi possível ainda, verificar uma relação

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de tendências existente pós-FE, que constitui um objeto de análise complementar da ocorrência

do FE (mas que não é detectável exclusivamente usando-se as proposições de CSD).

As Figura 5.5.2.1 e 5.5.2.2 apresentam os seguintes pontos relevantes:

“O” marca o ponto de origem;

“H” o ponto de ruptura no qual a série foi truncada para análises de “CSD”;

“L” ponto a partir do qual um impulso induz a um aumento expressivo na amplitude;

“K” marca o limite máximo para o diagrama de fase;

“A” identifica o aumento na amplitude entre a primeira e segunda órbitas.

Figura 5.5.2.2. Diagrama de Poincaré apresentando aspectos do ciclo repulsor que caracteriza os instantes que

antecedem a transição entre turbulência fraca e forte. Ele foi construído a partir da flutuação da TSU’s representada

no eixo horizontal e sua respectiva derivada temporal (x104), representada no eixo vertical. O ponto “O” marca a

origem, “P1”, “P2” e “P3” marcam os centros de órbita sucessivas, o ponto “A” marca o aumento de amplitude

entre o segundo e o terceiro ciclos e “H”, o “tipping point” anterior à eclosão do “FE” e que foi usado como

indicador do limiar nos testes de CSD, “K” fornece indicações sobre características desta órbita. As setas

“vermelhas” indicam o sentido de evolução das órbitas no diagrama.

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O diagrama de Poincaré da Figura 5.5.2.2 apresenta órbitas repulsoras, cada uma

centrada em pontos não coincidentes, sendo estes: P1 a origem da primeira órbita; P2 a origem

da segunda órbita e P3, a origem da terceira órbita. Nesta figura, “A” representa o aumento de

amplitude entre a primeira e segunda órbita antes da ocorrência do impulso “L”. O aumento na

amplitude da órbita no diagrama supramencionado é da ordem de 9×𝐴 e por este motivo, para

fins de melhor visualização na Figura 5.5.2.2, é mostrado 50% da amplitude máxima da órbita

centrada em P3. Isto foi elaborado para efeito de obtenção de maior clareza na apresentação das

órbitas menores que antecedem o FE. Aqui se observa uma relação entre um ciclo repulsor e

fenômenos de “perda de estabilidade”, descritos em análises sobre sinais precursores do CSD.

Na Figura 5.5.2.2 considera-se que um impulso é introduzido em “L”, o qual exprime aumento

de quantidade de movimento. Possivelmente este impulso é forçado pela ação de nuvens

convectivas, com seus downdrafts associados, existentes acima ou em região próxima do sitio

experimental (ver demais casos no Anexo A).

5.5.3. Dos instantes que sucedem o FE

Aqui, a existência de duas etapas distintas que sucedem o FE deve merecer a devida

atenção. Trata-se da sucessão observada de um regime de turbulência forte para um regime de

turbulência fraca, com separação indicada pela localização de um ponto fixo atrator. Para

ilustrar a existência de tais etapas são mostradas tendências das séries temporais de Tv e da

velocidade horizontal do vento (U), tanto para uma primeira etapa, com turbulência forte,

quanto para uma segunda etapa, com turbulência fraca, o que é mostrado na Figura 5.5.3.1.

Ambas as séries apresentam comportamento amortecido e serão analisadas separadamente.

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Figura 5.5.3.1. Séries temporais da velocidade do vento horizontal (U) em “azul ”e temperatura virtual (TV) em

“magenta” imediatamente após a ocorrência de um FE até a chegada ao ponto “M” (não mostrado).

5.5.4. Das etapas que sucedem imediatamente o FE. A transição para os dados de

velocidade do vento horizontal (U)

Das etapas que sucedem imediatamente o FE, em que predominam estados de forte

turbulência, é possível observar um comportamento peculiar nas órbitas do diagrama de

Poincaré da TSU’s. Elas diminuem de amplitude, com um comportamento amortecido tendendo

a um “ponto fixo atrator”. Coincidentemente tal atrator, para este caso específico, marca a

transição entre regimes de turbulência forte e fraca (cujo limiar para este caso é de 2,2 m/s). A

Figura 5.5.4.1 mostra a relação entre a série temporal na cor “azul” e sua derivada (∆𝑈 ∆𝑡⁄ ) na

cor “preta”. Nas Figuras 5.5.4.1 e 5.5.4.2 o ponto “P” marca a origem e o ponto “M” marca um

limiar a partir do qual as condições de predominância do FE deixam de ser dominantes e passam

a predominar condições de variabilidade puramente locais (“M” marca também a transição de

regime de turbulência forte para regime de turbulência fraca).

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Figura 5.5.4.1. Flutuação da TSU’s na cor “azul” e sua respectiva derivada temporal na cor “preta”, para a situação

pós-FE. O ponto “M” marca o limiar, a partir do qual as oscilações amortecidas geradas pelo FE e sua respectiva

impulsão deixariam de ser dominantes, comparativamente aos efeitos mecânicos “locais”.

Figura 5.5.4.2. Diagrama de Poincaré que caracteriza uma órbita atratora centrada no ponto “M”. Ele representa

os intervalos de tempo imediatamente posteriores à ocorrência FE e foi construído a partir das flutuações da TSU’s

representadas no eixo horizontal e suas respectivas derivadas temporais (x104) representadas no eixo vertical. A

linha pontilhada que intercepta os pontos “M” e “P” marca a posição do ponto fixo atrator em relação às órbitas

consecutivas. As setas “vermelhas” indicam o sentido das órbitas.

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A apresentação do diagrama da Figura 5.5.4.2 mostrou considerável ajuste com um

caso analisado por Martens (1984) em problema de Astrofísica, anteriormente discutido, assim

como com relação ao ajuste da equação 5.5.1.1, como é mostrado na Figura 5.5.4.3.

Evidentemente, o desvio na parte final da trajetória apresentada, em escalas menores, sob

condição de menor amortecimento, indica que os efeitos inerciais decorrentes do FE começam

a amortecer e em decorrência disso passam a ter maior influência os efeitos dinâmicos locais,

que poderiam ter sua causa associada a processos superficiais particularmente aqueles

envolvendo interação do escoamento com a vegetação.

Para ajustes na a equação 5.5.1.1: 𝐴 = 3,4; 𝑎 = 0,04; 𝑘 = ±0,024; 𝑐 = 0; 𝑑 =

0; 𝑙 = 0,95

Para ajustes na equação proposta por Martens (1984) utilizados nas equaçõess 4.6.1 e

4.6.2: 𝑥0 = 𝑦0 = 2,4; 𝑏 = 0,144

Figura 5.5.4.3. Ajustes para o amortecimento subcrítico da série temporal real (linha na cor “preta”) em

comparação com o obtido por Martens (1984) (na cor “azul”) e o que resulta na equação 5.5.1.1 (na cor “magenta”).

Os termos de amortecimento foram ajustados em relação aos envelopes da Equação 5.5.1.2 (a, b) mostrados na

figura acima. O ponto fixo “M” está localizado à direita no limite da figura.

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5.5.5. Temperatura para a situação que sucede o FE.

A peculiaridade do presente caso é a de que o diagrama representativo dos períodos

que sucedem a transição construída com (𝑇𝑉) suavizada também apresenta modos de oscilação

semelhantes ao dos TSU’s. Assim, foram construídos diagramas de Poincaré para a região entre

os pontos P e M, conforme já elaborado para U na Figura 5.5.4.1 e 5.5.4.2. Nas Figuras 5.5.5.1

e 5.5.5.2 o ponto “P” marca o início das análises e o ponto “M” representa o ponto fixo que

exprime o fim da primeira etapa pós-FE, em que os efeitos da ocorrência do FE ainda se

manifestam e em que ainda predomina o regime turbulento 2.

Figura 5.5.5.1. Flutuação da (𝑇𝑉) suavizada (na cor “azul”) e sua respectiva derivada temporal (na cor “preta”),

para o intervalo entre os pontos ”P” e “M”, para os instantes que sucedem imediatamente a ocorrência do FE. O

ponto “M” indica a posição do ponto fixo atrator.

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Figura 5.5.5.2. Diagrama de Poincaré para a (𝑇𝑉) suavizada, correspondente à situação pós-FE, que se localiza

entre os pontos “P” e “M”. Observa-se que o comportamento que caracteriza uma órbita atratora, centrada no ponto

“M” (já apresentado na figura anterior), também pode ser observado para (𝑇𝑉). A flutuação de (𝑇𝑉) é apresentada

no eixo horizontal e sua respectiva derivada temporal (x104) é representada no eixo vertical. A linha pontilhada

marca o ponto fixo atrator. As setas “vermelhas” indicam o sentido das órbitas.

Os diagramas de Poincaré (Figuras 5.5.4.2 e 5.5.5.2) mostram um comportamento

semelhante ao de uma oscilação com amortecimento subcrítico, até o instante que atinge o

ponto “M”. Aqui, sugere-se que um agente dissipador de energia introduz um amortecimento,

expresso nas equações de oscilação amortecida e ao consequente aparecimento de um ponto

atrator (o que também foi estudado por Martens, 1984, p. 337).

A chave para a explicação de tal comportamento pode estar na natureza fisicamente

distinta das forças de arrasto (drag) atuando logo acima da copa florestal enquanto os efeitos

inerciais do FE (gerado por fortes downdrafts incidindo na copa) ainda estão presentes (ainda

que em processo de amortecimento ou decaimento) ou não estão mais presentes (ou seja,

quando a evolução do sistema já ultrapassou um ponto crítico “atrator”). No primeiro caso

mencionado acima predomina o regime de turbulência forte, caracterizado por apresentar

maiores valores de 𝑉𝑇𝐾𝐸/⟨𝑈⟩, comparativamente ao regime de turbulência fraca (Acevedo et

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al., 2015; Sun et al., 2016 e Dias-Júnior et al., 2017 discutiram possíveis fatores físicos que

determinam a existência desses regimes turbulentos diferentes).

A partir das considerações dos autores acima e das observações obtidas nas Figuras de

5.5.3.1 a 5.5.5.1 pode-se sugerir que nas situações pós-FE há um período de regime turbulento

forte, associado a efeitos inerciais ainda decorrentes da forte impulsão gerada durante o FE.

Com o tempo elas vão se amortecendo pois, em geral, a sua fonte primária de energia já cessou

de atuar (exceto nos casos em que há regeneração de forte atividade convectiva após breve

intervalo, como já foi relatado por Lin et al. (1998), em se estudo sobre a evolução de um

sistema de nuvens convectivo).

Chega-se, assim, a um valor-limiar VL, para a velocidade média do vento horizontal

<U>, abaixo do qual, o campo de velocidade do vento já não possui as mesmas características

dominantes, oriundas de seu processo de geração. A partir daí, passam a predominar no

processo de arrasto na interface floresta-atmosfera fatores superficiais locais, típicos das

condições noturnas de interação floresta-atmosfera. Segundo Sun 12, nestes casos a TSMO

(Teoria da Similaridade de Monin-Obukhov) pode explicar muitos dos processos de troca de

energia envolvidos, diferentemente do que sucede durante a ocorrência do regime de

turbulência forte. Além dos fatores superficiais envolvidos, abordados comumente nas

aplicações da TSMO à CLN (como, por exemplo, fluxos, gradientes, relações adimensionais

semi-empíricas) podem-se mencionar outros fatores que teriam maior capacidade de influir na

estrutura do escoamento atmosférico nas condições em que os efeitos dos dowdrafts gerados

pelo FE não são mais relevantes, tais como: topografia do sítio experimental, ação de ondas de

gravidade e de jatos de baixos níveis, movimentos catabáticos, advecção de grandezas

turbulentas, além de outros fenômenos típicos da CLN, como aqueles enumerados por Poulos

et al. (2002).

5.6. Análise de Confluência de Linhas de Mesma Fase em Múltiplas Escalas

O principal objetivo deste tópico consiste em apresentar metodologia alternativa

através da qual também poderão ser identificados aspectos importantes associados à eclosão de

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um fenômeno extremo, apresentado como uma manifestação de existência de uma

“singularidade”, detectável a partir da utilização da fase dos coeficientes da TW complexa de

Morlet, cujos principais aspectos teóricos foram apresentados no tópico 4.2 (Detecção de

singularidades no sinal analisado). Trata-se da obtenção da fase ϕ(𝛽, 𝛼) do sinal, em um

instante 𝛽 e em uma escala 𝛼 , a partir da aplicação da TW complexa de Morlet aos dados

experimentais, conforme expresso na equação 4.1.3 do tópico 4.1. (Análises em tempo-escala

proporcionadas pela TW).

Aqui serão analisados dados experimentais verificados na vizinhança da ocorrência de

um fenômeno extremo e procurar-se-á mostrar que tal fenômeno poderá ser classificado como

singularidade, segundo Weng e Lau (1994), conforme apresentado no tópico 4.2. A seguir é

efetuada a detecção de singularidade aos dados que ocorreram no DJ103, no intervalo de

duração do fenômeno extremo, conforme apresentado na Figura 5a, mais precisamente, entre

as setas “vermelhas” 2 e 3 mostradas na figura. Aqui, a característica mais interessante e digna

de menção, é a da ocorrência de sincronização de fases em amplos intervalos de escalas,

conforme já reportado na literatura por Weng e Lau (1994). Tais fenômenos estão algumas

vezes associadas à bifurcação que caracteriza rota de dobramento de período para o caos (Weng

e Lau, 1994; Thompson e Stewart, 1986, p. 291-292). É possível que no caso aqui estudado,

envolvendo efeitos associados a nuvens fortemente convectivas como potenciais geradores de

fenômenos extremos, os fatores causadores deles estejam contidos nos próprios agentes

indutores da convecção forte em regiões tropicais, como os elencados por Wissmeier e Goler

(2009) em sua investigação sobre a atmosfera tropical. Talvez, interações entre células

convectivas no interior das nuvens também possam desempenhar papel importante em tais

situações.

Convém lembrar que Charnay (2014) e Charnay et al. (2015), utilizando modelagem

numérica de alta resolução, foram capazes de comprovar como a ação de nuvens existentes na

atmosfera tropical de Titã (satélite do planeta Saturno) geram fenômenos “explosivos” durante

o período de equinócio, aos quais estiveram associados valores elevados de CAPE, forte

cisalhamento vertical do vento (com desenvolvimento verticais das nuvens em eixos inclinados

com relação à direção vertical) e alguma precipitação, situações em que os downdrafts

resultantes modelaram dunas organizadas na região equatorial da superfície daquele astro.

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As características não lineares da assinatura do fenômeno de rajada de vento nas séries

temporais analisadas são marcadas pela existência de oscilações amortecidas. Possivelmente,

tal transição entre regimes turbulentos apresenta maior nitidez em suas manifestações em

diagramas de Poincaré (já mostrados nos tópicos precedentes) quando o eixo de deslocamento

da nuvem convectiva em movimento que a aproxima da torre experimental estiver apontando,

o mais próximo possível, para o ponto de localização da torre.

A seguir, mostra-se, para o caso particular do DJ103, o conjunto de Figuras 5.6.1.

Através delas demonstra-se haver uma sincronização considerável entre a ocorrência do FE e

as suas demais manifestações à superfície, inclusive a confluência de linhas de fase, que podem

ser observadas muito claramente na Figura 5.6.1 (g). Todavia, tal associação entre o que é

verificado acompanhando os diagramas de Poincaré elaborados para o presente caso, não ficou

tão evidente em outros casos estudados, em que o eixo de deslocamento da nuvem convectiva

que esteve associado à ocorrência do FE não teve o seu eixo apontado exatamente para a região

em que se localiza a torre experimental. Em tópicos seguintes, tal questão relevante voltará a

ser abordada.

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Figura 5.6.1. Conjunto de figuras representativas da manifestação sincronizada de um Fenômeno Extremo, a qual

pode ser observada tanto nas variáveis turbulentas (Figuras “a” até “e”) quanto em escalogramas das fases e das

partes reais dos coeficientes resultantes da aplicação da TW complexa de Morlet (Figuras “f”, “g”, “h”) aos dados

do dia DJ103. Para melhor entendimento da duração do fenômeno em questão, nas figuras “f”, “g” e “h” o eixo

das ordenadas mostra, em lugar do período (em segundos), o tempo correspondente a horas e minutos.

A sincronização de fase apresentada na Figura 5.6.1 (g) está centrada no ponto de

máxima velocidade do vento (Figura 5.6.1 e) e caracteriza a ocorrência da intensidade máxima

do FE (assim como observado por Lau e Weng, 1995, em seu estudo sobre aplicação de

Transformada Wavelet a séries temporais climáticas). Esta continuidade em escala das linhas

de mesma fase, ou singularidade de fases no domínio do tempo-frequência, é similar àquelas

identificadas por Weng e Lau (1994) e Lau e Weng (1995). Os autores usaram tal sincronização

para localizar a posição precisa de transições bruscas na série temporal que estudaram.

Aqui, além de representarem uma variação brusca nos sinais turbulentos, essas

singularidades de fase também representam o limiar de separação entre dois estados de

equilíbrio distintos. Podem ser consideradas como expressões de um fenômeno extremo e

representam os pontos máximos em uma transição de turbulência fraca para turbulência forte.

Através do escalograma de fase, construído a partir da TW Complexa de Morlet, foi possível

observar que as confluências linhas de mesma de fase seguem no sentido da baixa para alta

frequência (Figura 5.6.1 g). Esta tendência inicia-se em um ponto do escalograma da Figura

5.6.1 h, no qual se observa um aumento no padrão de energia em uma escala maior (aprox.

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8×103 s), que se organiza sincronicamente no sentido das escalas menores, até atingir a escala

de 128 segundos (Figuras 5.6.1 e 5.6.2).

Estes resultados têm importância fundamental na qualificação de FE’s como sendo

singularidades (como aquelas consideradas em Weng e Lau, 1994) e também são importantes

para o entendimento dos fenômenos que se seguem à ocorrência desses FE’s, como por

exemplo, identificar a maior ou menor taxa de variação do módulo dos coeficientes wavelet,

caracterizados na Figura 5.6.1 pelas cores que vão do “vermelho” ao “azul” respectivamente.

Isto sugere a existência de sub-harmônicos identificados pelas linhas pontilhadas na cor

“branca” na Figura 5.6.2, além de possibilitarem visualmente a identificação de fenômenos não

lineares pouco estudados na atmosfera tropical, como é o caso da ocorrência de “dobramento

de período”. Lau e Weng (1995), por exemplo, comentaram que um forte aumento na amplitude

de um sinal deve resultar de uma “perturbação finita e fortemente amortecida” e que, como uma

consequência desta, tais perturbações têm curta duração (Lau e Weng, 1995, p. 2397).

Os autores associaram amortecimentos dessa natureza a outros fenômenos similares

verificados em sinais geofísicos (erupções vulcânicas), em variações de temperatura no sistema

paleo-climático terrestre e em oscilações decorrentes de forte atividade convectiva na região da

Indonésia. Aparentemente, variações abruptas na temperatura associadas a amortecimentos

subcríticos (como os observados aqui) também obedecem à mesma condição descrita por Lau

e Weng (1995, p. 2396, figura 4c) para eventos catastróficos (Peters et al., 2004) que apresentem

forte impacto nas oscilações (variações abruptas de frequência).

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Figura 5.6.2. Figura representativa da relação entre (a) a série temporal de U (ms -1) e seus respectivos

escalogramas de b) de energia associada e c) da parte real dos coeficientes obtidos aplicando a TW complexa de

Morlet (as linhas tracejadas marcam as regiões do escalograma que sugerem a existência de sub-harmonicidade,

como verificado por Lau e Weng, 1995). Novamente, para melhor entendimento da duração do fenômeno, nas

figuras “b” e “c” é mostrado o tempo correspondente a horas e minutos.

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Coincidentemente, aqui se observou que uma transição entre dois estados atmosféricos

distintos poderia estar associada às mudanças abruptas de frequência e também, a uma

confluência de linhas de mesma fase em escalogramas, gráficos tridimensionais nos quais o

eixo horizontal apresenta o tempo, o eixo vertical apresenta o intervalo das escalas em que foi

possível decompor o sinal original usando a TW A e a terceira dimensão é representada por

diferentes cores associadas a distintas fases do sinal (como descrito por Lau e Weng 1995).

Mudanças qualitativas semelhantes foram verificadas para o período que antecedeu a

ocorrência de um FE, quando foram utilizados métodos de CSD para analisar tal período

precursor com dados medidos à superfície. Na Figura 5.6.1 (h) é apresentado um escalograma

da parte real dos coeficientes-wavelet (da TW complexa de Morlet) mostrando as tendências

descritas por Lau e Weng (1995), para o que os autores classificam como comportamento típico

de mudanças bruscas na frequência que leva a uma mudança de escalas. Tais alterações estariam

também associadas à uma “mudança catastrófica” (como as descritas por Dakos 08; Carpenter

et al., 2011; Wang et al., 2012; Mones et al., 2014), as quais podem, em princípio, estar

associadas à ação de fatores externos, como para este caso (ocorre simultaneamente às demais

variações dos sinais apresentados nas Figura 5.6.1, a-h), ou a processos essencialmente

endógenos (Barthélemy et al., 2010), em que o sistema passa por uma bifurcação (Salvi et al.,

2016).

A Figura 5.6.2, por sua vez, apresenta uma série temporal de U (m s -1) mais longa,

com seus respectivos escalogramas de fase das flutuações e da parte real dos coeficientes,

resultantes da aplicação da TW aos dados experimentais. Na Figura 5.6.2 (c), é possível

verificar uma relação, que possivelmente, seja de caráter sub-harmônico (Pereira, 2009, p. 41-

50; Salvi et al., 2016), como observado por Lau e Weng (1995, Fig. 6b e 8b). Esta relação de

caráter sub-harmônico pode ser considerada como sendo de 1

2𝑓 e

1

4𝑓, em que 𝑓 é a frequência

fundamental de ≈ 1,7 hora (6144 segundos - que pode estar relacionado à duração de

influência do complexo de nuvens agindo sobre a torre de medidas). Ou seja, os sub-

harmônicos estariam entre ≈ 51,03 e ≈ 25,10 minutos e coincidiriam com o que se convencionou

chamar de aumento no padrão de energia como mostrado na Figura 5.6.2 em torno de 34,22

minutos. Os harmônicos fora da zona de APE são menos intensos, como os verificados entre as

23:00 e 01:00 (UTC) em torno da escala de tempo de 17 minutos.

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Além disso, é possível destacar uma região de interesse, como a contida no retângulo

“amarelo” na Figura 5.6.2b. Esse destaque é ampliado nas Figuras 5.6.3. em que é dada ênfase

à região em que ocorre o aumento no padrão de energia (Figura 5.6.3a) e em que é apresentado

escalograma da parte real para o mesmo intervalo em destaque (Figura 5.6.3b). Além disso são

mostradas as oscilações por escalas correspondente à região do escalograma em destaque (entre

8,93 e 17,01 min) (Figura 5.6.3 c)..

Figura 5.6.3. Destaque correspondente à retângulo da Figura 5.6.2b, na qual é mostrada (a) o escalograma de

energia; (b) escalograma da parte real dos coeficientes-wavelet; e (c) oscilação para as frequências contidas entre

8,83 e 17,01 minutos. Todas essas figuras correspondem á série temporal de vento horizontal para o intervalo entre

02:30 e 05:00 (UTC) do DJ103.

Os escalogramas wavelet (Figura 5.6.2) e seus respectivos destaques (Figura 5.6.3)

apresentam visualização ampliada dos ciclos limite que antecedem e sucedem o FE, os quais

ocorrem em escalas (frequências) diferentes. Sua existência sugere a existência de algumas

interconexões interessantes entre escalas nas regiões de ocorrência dos ciclos limite, as quais

parecem corroborar certos comentários de Medeiros et al. (2017) referentes a certas

características físicas de ciclos limite próximos de um ponto de ruptura. Ressalte-se que

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pesquisadores, como por exemplo Medeiros et al. (2017), não utilizaram a Transformada

Wavelet na análise que fizeram de um processo de amortecimento crítico. Contudo, os

escalogramas aqui apresentados, parecem mostrar graficamente que a utilização da TW pode

contribuir consideravelmente na análise de fenômenos de amortecimento crítico. Essas

observações apontem para um rumo importante para o aprofundamento de pesquisas futuras.

5.7. Caracterização do regime turbulento associado a fenômenos extremos na

Atmosfera tropical acima de floresta - Reserva do Cuieiras

O que se busca pesquisar aqui é a possibilidade de existência de mais de uma

modalidade de regime de turbulência forte na CLN, particularmente na presença de FE’s acima

da floresta Amazônica.

O ponto de partida para o estudo de regime de turbulência forte consiste no artigo de

Sun 12, e de seus dois artigos posteriores (Sun et al., 2015; 2016), todos voltados para medidas

em torres meteorológicas instaladas em terrenos suficientemente planos, em latitudes médias,

como foi o caso do experimento “Cooperative Atmosphere-Surface Exchange Study in 1999”

(CASES-99) (Poulos et al., 2002), conforme apresentado anteriormente em “Elementos

Teóricos”. Com base nos resultados obtidos no presente estudo, em parte sintetizados na Figura

5.7.3, foi possível encontrar uma interpretação para os resultados de Mafra (2014),

anteriormente apresentados, concernentes à variabilidade encontrada para seus valores de

concentração de CO2, “c”, no regime 2, relacionando-os à hipotética ocorrência ou não de FE’s

agindo no sítio experimental, o que, na ocasião da elaboração de sua tese, não foi possível de

verificar.

A Figura 5.7.3 traz uma sequência de colunas com valores médios do fluxo de calor

sensível obtidos para intervalos regulares de valores crescentes da velocidade média do vento

e na qual é possível identificar a localização de VL e de VL2, os quais separam episódios do

regime 1 e do que será denominado de regimes 2-1 e 2-2, respectivamente, sendo que foram

considerados dois tipos de regimes 2, a saber: 2-1, sem a influência da ação de FE’s, e 2-2, sob

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a ação de FE’s. Esta figura guarda certas similaridades com o quê foi encontrado por Mafra

(2014) para a variabilidade de seus fluxos de CO2 durante a estação úmida no sítio de Uatumã.

Ressalte-se que Acevedo et al. (2015), utilizando dados do experimento FLOSSII,

também encontraram situações em que foi possível detectar a existência de um segundo ponto

de transição relativo à velocidade média do vento, formalmente do tipo intitulado anteriormente

de VL2, ainda que com diferença substancial em seu significado físico comparativamente ao

do aqui proposto. Eles usaram designações próprias para se referir a regimes turbulentos

noturnos similares aos de Sun 12, suas respectivas transições e seus valores limiares de

velocidades médias do vento associadas. Assim, denominaram a transição VL de Sun 12 como

sendo “transição de acoplamento” (coupling transition) e a segunda transição por eles

encontrada de “transição com travessia“ (crossover transition). Contudo, os resultados aqui

apresentados referem-se a dados medidos em subcamada rugosa, em que efeitos da existência

de um ponto de inflexão no perfil vertical da velocidade média do vento estão presentes e nos

quais as alturas de medição estão em níveis suficientemente elevados de tal forma que neles,

não se deve esperar que RETW seja um bom indicador do estado de acoplamento, pois em

níveis mais altos, TGP não deve exceder BD, mesmo em condições de ventos muito fortes,

conforme ressaltado por Acevedo et al. (2015). Isso explicaria o fato de não ter sido possível

efetuar a comprovação, na Figura 5.7.3, da existência de um segundo limiar VL de “transição

com travessia“ (crossover transition), conforme encontrado por eles para o sítio do experimento

FLOSSII.

A Figura 5.7.1 mostra a mudança na declividade das retas de melhor ajuste que

representam os regimes de turbulência fraca (regime 1) e forte (regime 2) apenas para dois dos

dez níveis da torre experimental onde foram efetuadas medições (os mais elevados: 48,2m e

40,4m). Foram utilizados dois níveis acima da copa (48,2m e 40,4m). Com base na localização

em que ocorreu uma mudança brusca na inclinação da reta associada aos regimes 1 e 2 (Figura

5.7.1), foi possível estimar a Velocidade de vento Limiar VL (anteriormente definida) a partir

da qual um regime de turbulência fraca (regime 1) termina e o outro, de turbulência forte, se

inicia (regime 2). Aqui, velocidade limiar base (VL) se refere à altura de 48,2 m e este valor de

VL foi utilizado em todos os testes associados à representação de regimes de turbulência neste

trabalho.

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Figura 5.7.1. Estimativas das posições de velocidades limiares VL a partir da determinação das abscissas

associadas aos pontos em que se dá a mudança brusca na declividade da reta num espaço de fase de VTKE x U, para

cada altura com medidas disponíveis acima da copa, em médias de 0,5 em 0,5 m/s. Estão assinalados os pontos

associados à VL para cada altura.

A seguir, serão mostrados na Figura 5.7.1. 1. os resultados obtidos, correspondentes a

45 noites do período chuvoso do ano de 2014. A cada noite equivalem 09 h de dados (das 20:00

h até as 05:00 h do dia seguinte, horário local, ou de 00:00 h às 09:00 h UTC), que foram

coletados entre os dias 01 de abril e 16 de maio de 2014 e em dezembro de 2014, e passaram

por testes e tratamento de qualidade, conforme metodologia sugerida por Vickers e Mahrt

(1997).

Como já mencionado, durante a ocorrência de episódios do regime 2 algumas

características das grandezas turbulentas medidas à superfície se mantiveram (tais como as

variações bruscas nas velocidades horizontal e vertical do vento, queda na temperatura,

aumento na concentração de O3 e variações de pressão).

Posto isso, é muito conveniente apresentar a Figura 5.7.2, com os resultados da

classificação de regimes de turbulência (Sun 12) para os dados do sitio experimental de Cuieiras

(GoAmazon), objeto deste estudo. Nesta, foi possível verificar que o regime de turbulência forte

(regime 2 da classificação de Sun 12) pode ser dividido em dois sub-regimes: (i) o primeiro,

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que ocorre via uma transição “convencional” (sem fenômeno extremo envolvido) e será daqui

em diante chamado de regime 2 moderado, cujos limites estão entre as velocidades limiares

seguintes: de 2,2 m s-1 a 3,5 m s-1 e (ii) o segundo regime, que requer uma transição "crítica"

associada a fenômeno extremo, cuja origem poderia estar relacionada à ação de fortes nuvens

convectivas próximas do sítio experimental e que foi observado quando a velocidade média do

vento horizontal ultrapassou valores de 3,5 m s-1.

Figura 5.7.2. Representação de regimes de turbulência conforme classificação de Sun 12 para o sitio experimental

de Cuieiras (Projeto GoAmazon). Aqui o regime 1 está representado pelos círculos “pretos”. O regime 2 está

representado em duas partes: Os quadrados “azuis” representam condições de regime de turbulência forte que não

estão classificados como resultantes de um FE. Os quadrados “magentas” representam situações de regime 2

associadas à ocorrência de FE. Os triângulos em “marrom” representam a ocorrência de regime 3. Estes resultados

correspondem ao período chuvoso de 2014 para o intervalo de 01 de abril de 2014 a 16 de maio de 2014 e também,

dezembro de 2014. No gráfico, cada ponto corresponde a médias de 5 minutos de dados. As retas “amarela” e

“vermelha” correspondem a um ajuste de mínimos quadrados para os regimes 1 e 2, respectivamente.

O que se pôde observar claramente através das séries temporais de velocidade do vento

associadas a todas as demais variáveis disponíveis foi que as ocorrências de regimes 2 em que

a velocidade do vento ultrapassou a marca de 3,5 m s -1 e atingiu valores relativamente altos à

superfície (7 m s -1) estiveram sempre associadas e pulsos de acréscimo na velocidade do vento

que se correlacionaram bem com as variações nas demais grandezas medidas (velocidade do

vento vertical, temperatura, pressão, concentração de O3). Dentre essas grandezas que sofreram

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fortes variações podem-se citar 𝜃𝐸 , que mostrou fortes quedas, e 𝑂3, cuja concentração

apresentou aumentos consideráveis perto da superfície. É importante também mencionar que

houve alterações significativas nos valores do fluxo de calor sensível, ao se compararem os

dados dos regimes 1 e 2. A Figura 5.7.3 apresenta os fluxos cinemáticos de calor sensível

correspondentes aos regimes 1 e 2, apresentados na Figura 5.7.3.

Figura 5.7.3. Relação entre o fluxo de calor sensível e a velocidade média do vento para episódios dos regimes de

turbulência fraca (na cor “preta”) e de turbulência forte moderada (regime 2-1 na cor “azul”) e de turbulência

muito forte (regime 2-2 na “cor de vinho”) obtidos para os dados do sitio experimental do Cuieiras para o mesmo

conjunto de dados da Figura anterior (5.7.2). As barras verticais indicam valores do desvio padrão e as cores das

barras diferenciam os regimes.

A maior intensidade do fluxo de calor sensível obtida no regime 2, comparativamente

ao regime 1, fica evidente na Figura 5.7.3. Observa-se que, em média, o fluxo de calor

correspondente ao regime 1 (barras “pretas”) é de -5,56 (Wm-2), para o regime 2-1 (barras

“azuis”) foi de 31,65 (Wm-2) e para o regime 2-2 (barras na “cor de vinho”) foi de 91,16 (Wm-

2), o que corrobora os resultados de Mafra (2014) e Dias-Júnior et a. (2017).

Isto leva à comprovação da importância de se considerar a existência de dois tipos de

regime 2: "moderados" e "fortes". O primeiro, para valores moderados de <U>, logo acima do

valor limiar VL e o segundo, para valores consideravelmente maiores, associados a FE’s,

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152

acompanhados de seus fortes downdrafts e rajadas incidindo na copa florestal. Durante a

ocorrência destes últimos, em diagramas de Poincaré associados, observa-se a existência de

pontos fixos e ciclos limite (inicialmente um repulsor, e posteriormente outro atrator), entre os

quais se desenvolve um fenômeno de “ruptura” (com “oscilações livres”), cuja manifestação no

diagrama de Poincaré sugere a ocorrência de uma "bifurcação" de Hopf (Thompson e Stewart,

1986; Pereira, 2009; Salvi et al., 2016; Medeiros et al., 2017).

O DJ103 é um dos dias em que se contou com a maior quantidade de dados disponíveis

para efeitos de comparação, incluindo imagens de radar (PROJETO CHUVA), que possibilitam

o estabelecimento de uma relação de distância entre o ponto mais alto da nuvem e a torre K34.

Ademais, trata-se de um dia em que o eixo de deslocamento da nuvem convectiva ao se

aproximar da torre experimental apontou aproximadamente no sentido desta (ao longo do

presente trabalho será discutido o provável efeito de tal configuração propiciar um registro mais

nítido do FE à superfície, com desdobramentos na detecção robusta do CSD). No que se refere

ao regime 2 de Sun 12, a Figura 5.7.4 é mostrada novamente para uma situação em que ocorre

uma assinatura de um FE na componente horizontal da velocidade do vento, cujo pico máximo

ultrapassou a marca de 14 m s -1.

Figura 5.7.4. Séries temporais bruta e suavizada de

velocidade horizontal do vento para o DJ103. A linha

horizontal azul indica o limiar de transição entre regiões

em que predominam os regimes 1 e 2 e as linhas verticais

tracejadas indicam a região de ocorrência do máximo de

FE.

Figura 5.7.5. Espaço de fase do tipo Sun 12

indicando ocorrências de regimes de turbulência,

cada um para intervalo de 5 min de dados, para o

DJ103. Os círculos “pretos” correspondem ao

regime 1. Os triângulos nas cores “azul” e vermelha

correspondem ao regime 2 moderado (regime 2-1), e

os quadrados na cor “magenta correspondem ao

regime 2 forçado (regime 2-2). Este diagrama de

análise ponto a ponto representa o intervalo de 02:00

às 05:00 UTC.

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:000

VL3

6

9

12

15

UTC Time (hour)

U (

ms-1

)

0 1 2 3 4 5 6 70

0.5

1

1.5

2

2.5

U (ms-1)

VTK

E (

ms

-1)

02:55

03:35

03:30

04:15

04:40

03:40

03:1003:45

03:50

03:00

03:20

03:05

03:25

03:15

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153

Novamente se observa que o máximo na variabilidade do vento horizontal na Figura

5.7.4 corresponde aos pontos máximos de regime 2 na Figura 5.7.5. Porém, nota-se que a rajada

associada ao FE teve duração máxima de 15 minutos (com um certo grau de semelhança com

o ocorrido para o DJ083), o que corresponde a apenas 3 pontos referentes ao regime 2 (cada

ponto corresponde a uma média de cinco minutos de dados conforme sugerido por Sun et al.

2002, para dados noturnos).

Deve-se observar ainda, que logo após as 04:00 UTC, houve um repique (ou

regeneração) na velocidade do vento (fenômeno já discutido na literatura como, por exemplo,

por Lin et al. (1998), cujo máximo ficou ligeiramente abaixo da marca de 7 m s -1 e que está

representado na Figura 5.7.5 pelos triângulos “vermelhos”. Nestes, os horários não foram

inseridos (exceto para os casos em que a velocidade do vento ultrapassou o limiar do regime 2-

2). Outra observação importante é a de que entre as 02:50 e 03:25 ocorre uma oscilação entre

os regimes 1 e 2. Isto foi causado pelos máximos e mínimos de oscilação que provocaram a

intermitência verificada pela alternância do sistema entre os dois regimes mencionados e que

culmina com um máximo de regime 2.

Considere-se agora o conjunto de Figuras 5.7.6 nas quais se verifica o forte acoplamento

(correspondência) nas tendências das variáveis analisadas.

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:000

VL3

6

9

12

15

UTC Time (hour)

U (

ms-1

)

a

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00-6

-4

-2

0

2

4

6

UTC Time (hour)

W (

ms

-1)

b

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Figura 5.7.6. Séries temporais brutas e suavizadas de: (a) velocidade do vento horizontal em que a linha “azul”

mostra onde fica o limiar entre os regimes 1 e 2; (b) velocidade vertical do vento; (c) temperatura potencial

equivalente, com todas as grandezas medidas a 48,2 m; (d) concentração de ozônio a 48,2 m; (e) pressão

atmosférica a 35 m e (f) pressão a 1,5 m. Nestas, a seta vermelha marca o limiar utilizado nos teste de CSD.

Observe-se que as variações de pressão atmosférica (Figura 5.7.6 e, f) também estão

associados com as demais grandezas (conforme estudado por Betts et al., 2002a), com a

ocorrência de regime de turbulência do tipo 2-2. Estas poderiam indicar a ocorrência de uma

sequência de downdrafts e updrafts na CLA acima da floresta, como os descritos por Wang et

al. (2016) em seu estudo sobre ciclos de evolução de aerossóis acima da floresta amazônica,

que eles consideraram como potenciais responsáveis pelo levantamento (lifting) de partículas

biogênicas até a alta troposfera e que, após reagir quimicamente aí, desceriam nos downdrafts

(de natureza semelhante aos aqui estudados), contribuindo para a formação de núcleos de

condensação de nuvens (NCN) e propiciando a formação de circulação similar à encontrada

acima dos oceanos, que eles chamam de “Green Ocean” na região tropical continental, porém

muito mais rápida.

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00298

299

300

301

302

303

UTC Time (hour)

E (

K)

c

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:000

5

10

15

20

25

GMT Time (hour)

O3 (

ppb)

d

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:0099.3

99.4

99.5

UTC Time (hour)

Pre

ssure

(kP

a)

P (kPa) 35me

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:0099.7

99.8

99.9

100

UTC Time (hour)

Pre

ssure

(kP

a)

P (kPa) 1.5 mf

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5.8 Organização da Convecção Profunda Acima do Sítio Experimental do

Cuieiras Considerada a Partir da Visão da Escala Grande

Aqui é desenvolvido um esforço para apresentar a organização da convecção profunda

acima do sítio experimental a partir de informações disponíveis das escalas maiores e associar

a natureza dos Fenômenos Extremos detectados a partir de séries temporais medidas à

superfície, em torre meteorológica, com os movimentos organizados em maiores escalas,

detectáveis em imagens de satélite geoestacionário, fornecidas pela Divisão de Satélites do

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE (satélite GOES-13 -

http://tempo.cptec.inpe.br/boletimtecnico/pt), acompanhadas dos respectivos Boletins de

Análise das Condições do Tempo no Brasil, disponibilizados pelo Centro de Previsão de Tempo

e Estudos Climáticos (CPTEC), do INPE.

Uma primeira observação da sequência de imagens proporcionadas de 12 em 12 minutos

pelo satélite GOES-13 foi a da existência de uma grande área com convecção profunda na

Amazônia, inclusive abrangendo a área onde se encontra o Sítio Experimental do Cuieiras, a

qual esteve acompanhada de um sistema associado a uma região de baixa pressão no Sudeste

do Brasil, associada à atividade de uma frente fria presente na região.

Padrões de variabilidade da convecção na América do Sul (AS) já foram estudados por

Siqueira e Machado (2004; 2005), dentre outros. Como uma de suas principais conclusões,

Siqueira e Machado (2004) propuseram classificação para melhor investigar os vários tipos de

interações entre a convecção tropical e a presença de sistemas frontais na AS, em que

identificaram a existência de três tipos de padrões de penetração de sistemas frontais na AS

(conforme descrito nos Elementos Teóricos do presente trabalho, no tópico 2.5.1). Sugere-se

que no caso em estudo para o dia (DJ103), a situação estudada poderia ser classificada com o

padrão de interação do tipo 2, a qual caracteriza-se pelo aumento da convecção, da direção sul

dos trópicos para os sub-trópicos, com a organização de nuvens frias nos trópicos devido à

existência de sistemas frontais em latitudes médias. Em seu estudo, Siqueira e Machado (2004)

associaram os padrões encontrados nas imagens do satélite GOES-13 à existência de vórtices

ciclônicos de altos níveis que antecederiam a penetração de sistemas frontais do tipo 2 (da

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156

classificação de Siqueira e Machado, 2004), como parece ser o caso do dia (DJ103), ora em

estudo.

Efetivamente, com base nas informações disponíveis nos Boletins do CPTEC, relativas

ao (DJ103), foi possível identificar neste a ocorrência de um vórtice ciclônico de altos níveis

(250 hPa), o que constitui um indício para uma associação entre os fenômenos extremos aqui

encontrados com a ocorrência do padrão de interação do tipo 2 sugerido por esses autores. Outra

observação importante apresentada no Boletim de Análise Sinótica do CPTEC relativo ao dia

(DJ103) é de que: “na análise da carta sinótica de superfície da 00Z do dia 13/04 nota-se um

intenso ciclone extratropical, cujo centro atinge valor de 972 hPa em 40°S/50°W,

aproximadamente. Este sistema pode ser considerado como a mais baixa pressão para esse local

e época, pelo menos, desse século”.

Coincidentemente, o dia de ocorrência desse fenômeno descrito no Boletim do CPTEC

foi aquele em que as análises de FE’s e as respectivas análises estatísticas de comprovação de

amortecimento crítico apresentaram-se as mais robustas. Assim, coloca-se como um objeto de

pesquisa e aprofundamento futuro o estabelecimento de associações entre os efeitos de

fenômenos que ocorrem na escala grande com os efeitos do FE analisados a partir de medidas

“locais”. O que é apresentado a seguir consiste apenas na documentação dos fenômenos

meteorológicos na escala sinótica que marcaram a circulação atmosférica acima do território

brasileiro no dia em questão. Isso poderá servir de base para estudos cujo objeto foge ao escopo

do presente trabalho.

5.8.1. Verificação de nuvens profundas na região do sitio do Cuieiras utilizando-

se imagens do satélite GOES-13 e de Radar Meteorológico

Nas imagens da Figura 5.8.1 percebe-se a existência de uma defasagem de 6 minutos

entre as imagens de satélite e as imagens de radar meteorológico. Esta diferença ocorre devido

às diferentes frequências de amostragem empregadas em sua gravação, as quais são de 30

minutos para as imagens de satélite GOES e de 12 minutos para as imagens de radar.

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157

Figura 5.8.1. São apresentadas imagens do

satélite GOES contendo a região do sítio

experimental a nordeste do estado do

Amazonas em diversos horários UTC: (a)

01:30, (b) 02:30 e (c) 03:30 (UTC) para

DJ103. A Figura (d) contém gráfico

exprimindo a temperatura do topo de nuvem

acima do sitio experimental no eixo

horizontal e a altura do topo da nuvem do

eixo vertical. A Figura (e) contém imagem de

radar meteorológico na qual a “estrela” marca

a localização da torre experimental e a seta

“vermelha”, o sentido preferencial do

deslocamento das nuvens.

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158

Neste evento do DJ103 é possível notar que o complexo de nuvens se aproxima quase

que frontalmente da torre experimental (K34). É possível que a natureza desta aproximação seja

fundamental para a clareza do fenômeno de CSD analisado neste trabalho. Isto também ajudaria

a justificar o fato de terem sido observados ciclos limite nas séries temporais analisadas nesse

caso: i) o ciclo limite repulsor, que caracterizou a aproximação ao ponto de CSD; ii) o ciclo

limite atrator, que foi caracterizado pela presença de “repiques” (regenerações de ocorrência

de regime 2-2), como partes integrantes da oscilação amortecida nas séries temporais

analisadas, ainda pertencentes a um regime de turbulência forte.

Aqui, pode-se inferir que a observação nítida da existência de tais ciclos nas séries

temporais medidas na torre experimental pode ser atribuída à modalidade da aproximação e

afastamento do ponto mais alto da nuvem com relação à torre experimental. Embora este estudo

apresente um número limitado de casos (4 que atenderam a todos os critérios de significância e

qualidade dos dados), é possível imaginar que mais casos possam ter ocorrido (até mesmo com

maior frequência na atmosfera tropical). Contudo, a observação dos dados na torre impõe um

alcance limitado de detecção de CSDs (uma área circular com centro na torre e a existência de

um raio-limiar acima do qual a detecção de CSDs não seria mais robusta). A disponibilidade

das imagens de radar foi importante, pois assim pôde-se estabelecer uma relação de distância

entre o ponto mais alto da nuvem (dentro dos limites da imagem de radar) e o ponto em que se

localizou a torre experimental. Na Figura 5.8.2 consta, em seu lado esquerdo, uma sequência

de imagens de radar para o DJ103. Na mesma figura, em seu lado direito, consta a rosa dos

ventos correspondente a cada imagem de radar apresentada (em uma cadência aproximada de

30 em 30 minutos).

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159

Figura 5.8.2. Ao lado esquerdo consta uma sequencia de imagens de radar utilizadas para verificar a estrutura da

cobertura de nuvens acima do sitio experimental. Associadas a estas imagens de radar, o lado direito da figura

mostra as rosas dos ventos correspondentes, nas quais é possivel verificar as variações na direção do vento

(aproximadamente de 30 em 30 minutos). A “estrela” marca a localização aproximada da torre e a seta “vermelha”

o sentido de deslocamento das nuvens em relação à torre experimental. Este sentido de deslocamento foi estimado

a partir das imagens de radar (projeto chuva: https://www.youtube.com/user/projetochuva).

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A seguir será apresentada uma análise da distância do topo da nuvem (ponto de maior

desenvolvimento vertical) em relação à torre experimental (K34) para o período em que as

perturbações provocam aumento na amplitude e frequência de oscilação da série temporal

suavizada (que seria aproximadamente às 02:45).

A imagem de radar que mais se aproxima do início das perturbações é aquela das 02:48

UTC. O erro estimado para essas medidas corresponde a um raio de 3 pixels da imagem

utilizada (90 metros), tanto para o ponto mais alto da nuvem, quanto para a localização da torre

experimental. As circunferências em torno do ponto em que é estimado a localização do

máximo desenvolvimento da nuvem (nuvem nas imagens de radar e localização aproximada na

imagem topográfica), das Figuras 5.8.3 e 5.8.4, representam um possível “raio de influência”

efetivo para ação deste ponto de maior desenvolvimento vertical em direção à torre e que está

associado à “ONDULAÇÃO” mencionada na Figura 4.5.2 do tópico 4.5.3.

Figura 5.8.3. Composição entre imagem de radar para

as 02:48 UTC e imagens de satélite (topodata)

utilizadas para estimar a distância entre o ponto mais

alto da nuvem e a torre experimental K34.

Figura 5.8.4. Composição entre imagem de radar

para as 03:00 UTC e imagem de satélite (topodata)

utilizada para estimar a distância entre o ponto mais

alto da nuvem e a torre experimental K34.

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161

O ponto de maior elevação foi utilizado no presente estudo, pois aqui, considera-se que

a ação originada nestes pontos foi a responsáveis pelo acréscimo considerável na concentração

de 𝑂3 à superfície (Betts et al., 2002a; Gerken et al., 2015). A distância entre a torre e o topo

da nuvem será estimada de acordo com metodologia apresentada no tópico 3.1.1. As

coordenadas aproximadas do topo da nuvem para este caso estão localizadas nos pixels (2725,

2096). Convém lembrar que a torre experimental K34 está localizada aproximadamente nos

pixels (1689, 2149). Assim, pode-se estimar que a distância entre o topo da nuvem e a torre é

de ≈ 31,120 Km às 02:48 UTC, com um ângulo de aproximação em relação a uma linha

horizontal imaginária (Leste – Oeste) de aproximadamente 3,25°. Neste caso da Figura 5.8.4

consideraram-se dois máximos como topo da nuvem (ambos com brilho entre 60 e 65 dBz). As

distâncias estimadas em relação à torre são as seguintes: N1 tem as coordenadas em pixels de

(2646, 1993) e está a ≈ 29,088 km, deslocando-se com um ângulo estimado de 10,28° em

relação a uma linha horizontal. N2 tem as seguintes coordenadas em pixels (2413, 1773) e está

a ≈ 24,47 km da torre K34, deslocando-se com um ângulo de 30,49° em relação a uma linha

horizontal.

Na Figura 5.8.5 tem-se um posicionamento estimado do máximo de altura de nuvem em

relação à torre com a localização em pixels de (1896,1951), que equivale a uma distância em

relação à torre de 8,59 km (aproximando-se a um ângulo de 48,58°). Diz-se estimado por que

neste momento, toda a região nos arredores da torre já está encoberta por pontos que poderiam

ser considerados como pontos de máxima altura de nuvens (com brilho entre 50 e 60 dBz). Esta

Figura que representa as 03:24 UTC, corresponde ao instante de eclosão efetiva de FE

propriamente dito e como pode-se constatar pelas imagens, a máxima altura de nuvens que

encobrem toda a região da torre experimental, passando acima do local exato da torre. Talvez

esta natureza do deslocamento da nuvem em relação à torre seja responsável pela robustez dos

resultados obtidos, por exemplo em relação ao CSD estudado com detalhes no capítulo 2.

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Figura 5.8.5. Composição entre imagem de radar para as 03:24 UTC e imagem de satélite (topodata) utilizada

para estimar a distância entre o ponto mais alto da nuvem e a torre experimental K34

No material anexo (Anexo D) constam as relações para os demais dias em que estiveram

disponíveis imagens de radar (DJ136) ou para aqueles em que esta estimativa de cobertura de

nuvens se deu unicamente através das imagens do satélite GOES (Anexos B e D).

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6. Visão Geral, Conclusões e Sugestões

Estudos de sinais precursores de fenômenos extremos já foram objeto da proposição de

diversas metodologias de detecção, abrangendo áreas tão diversas do conhecimento como

mudanças climáticas, colapso no crescimento de cidades, crises econômicas, catástrofes

ambientais, crises hidrológicas, somente para citar algumas delas. No que se refere à detecção

de fenômenos precursores de fenômenos extremos na camada limite atmosférica a partir de

séries temporais obtidas próximo da superfície, ao que se sabe, só existe estudo elaborado a

partir de dados gerados em simulações numéricas. A finalidade do presente trabalho é a de

provar que é possível detectar fenômenos extremos na camada limite atmosférica noturna a

partir da disponibilidade de séries temporais de grandezas meteorológicas medidas próximas

da superfície nas quais existem “assinaturas” de ocorrência de amortecimento crítico,

precursoras da eclosão de um fenômeno de “ruptura” de padrões de oscilação. Para isso se

utilizou uma metodologia principal, articulada a outras modalidades subsidiárias de análise de

sinais. Como metodologia principal foram utilizados procedimentos estatísticos de detecção de

sinais de alerta precoce (EWS) para a identificação de ocorrência de um amortecimento crítico

(CSD), o que foi baseado na elaboração de testes estatísticos aplicados a séries temporais de

grandezas ambientais, amostradas a taxas suficientemente elevadas (superiores a 1 Hz), em

intervalos de tempo que precedem a eclosão de um fenômeno extremo. Categorias da análise

estatística tais como a Função Autocorrelação, a Variância (além de outras) e o padrão de sua

variabilidade temporal em períodos que antecedem a ocorrência do fenômeno extremo

constituem elementos essenciais na formulação de tal metodologia, a qual já estava disponível

na literatura. Dentre procedimentos metodológicos subsidiários para se obter um melhor

entendimento do processo ora investigado podem-se mencionar a utilização da Transformada

Wavelet Complexa para propiciar a elaboração de gráficos tridimensionais contendo análises

em tempo-escala (escalogramas), tanto das fases do sinal, quanto de sua parte real e de sua

energia. Isto possibilitou a detecção de “singularidades” no sinal estudado nas regiões que

envolvem a ocorrência de fenômenos extremos, com as suas “oscilações livres” características.

Também houve a identificação de fenômenos não lineares interessantes, possivelmente

associados à passagem do sistema dinâmico concernente através de “bifurcações”, tais como

processos de “dobramento de período”, ocorrência de oscilações sub-harmônicas e/ou super-

harmônicas acompanhando padrões de oscilação que antecedem ou sucedem o fenômeno

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164

extremo, além de outros. Ressalte-se que ao se consultar a literatura disponível na área da

Geofísica, em que são efetuadas análises espectrais, há uma predominância considerável na

análise da “energia” dos espectros das séries temporais, em detrimento das informações

oferecidas pelas fases dos sinais. O presente estudo procura, em parte, compensar tal

“desequilíbrio” ao utilizar metodologias baseadas na captura da informação contida nas fases

dos sinais. Ele ressalta a importância de se investigar a possibilidade de utilização mais efetiva

da Transformada Wavelet Complexa como instrumento subsidiário na detecção de fenômenos

de amortecimento crítico. Também foi possível investigar algumas das peculiaridades dos

regimes de turbulência atmosférica noturna acima da floresta Amazônica, com a proposição de

uma nova modalidade de regime de turbulência forte associado à ocorrência de fenômenos

extremos na atmosfera. Isto certamente poderá ser útil no futuro como subsídio à elaboração de

parametrizações mais adequadas de fenômenos extremos em modelos numéricos para simular

o escoamento atmosférico noturno.

Em síntese, são considerados como conslusões principais desta pesquisa:

• Foi possível encontrar situações em que comprovadamente detectou-se ocorrência de

amortecimento crítico (CSD) na camada limite noturna acima da floresta amazônica;

• As variáveis com as quais foram obtidos os índices mais robustos para a caracterização

do CSD foram a temperatura potencial equivalente e a concentração de ozônio;

• A identificação dessas grandezas (queda abrupta de 𝜃𝐸 e aumento considerável de 𝑂3)

como variável de estado para detecção de ocorrência de amortecimento crítico (CSD)

sugere que os fenômenos extremos estudados estão associados a fortes Movimentos

descendentes de ar (Downdrafts), oriundos de intensa atividade convectiva acima do

sitio experimental;

• Imagens de satélite e informações obtidas de radar, bem como séries temporais medidas

à superfície, corroboraram a informação acima. Isso sugere que, quando o sistema de

nuvens convectivas se desloca no sentido da torre experimental, os índices estatísticos

para detecção de ocorrência de amortecimento crítico (CSD) são os mais robustos.

• Este resultado é original sob perspectivas tais como: (i) é o primeiro resultado que

comprova a partir de dados experimentais a existência de CSD na CLAN, (ii) ao que se

saiba é o evento contendo amortecimento crítico com evolução mais rápida até hoje

detectado em análises de dados ambientais.

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165

• Os resultados enfatizam a importância de se encontrarem parametrizações

suficientemente adequadas para representação dos fenômenos extremos aqui estudados

em modelos numéricos de simulação do escoamento atmosférico da Camada Limite

Tropical;

• Os fenômenos extremos aqui estudados podem ser caracterizados como pertencentes ao

regime de turbulência forte sugerido por Sun et al. (2012).

• Foram incorporados procedimentos subsidiários à metodologia de Dakos et al. (2008),

aqui utilizada, de detecção de ocorrência de amortecimento crítico (CSD), para

caracterização dos processos que antecedem e sucedem o ponto de ruptura. Em algumas

situações, diagramas de Poincaré e análise da fase em tempo-escala dos coeficientes de

wavelet ofereceram intepretações interessantes sobre as oscilações observadas, os quais

deverão merecer aprofundamento futuro.

Sugestões para trabalhos futuros

• Aumentar o número de casos estudados: Estender para outros fenômenos similares em

outros sítios experimentais; e analisar os casos diurnos;

• Desenvolver pesquisa para encontrar o parâmetro de controle mais adequado para

caracterização do ponto de ruptura (tipping point);

• Desenvolver pesquisa para aprimorar os testes estatísticos para caracterização de

fenômenos extremos usando outras modalidades de índices, como por exemplo aqueles

associados a diagramas de processos físicos não lineares em espaços de fase, como, por

exemplo, os sugeridos por Salvi et al. (2016);

• Aprofundar a compreensão da relação existente entre os fenômenos críticos e a

organização de complexos convectivos de nuvens na escala sinótica, dentre outras. Com

isso melhorar o entendimento de como fenômenos tais como Oscilações de Madden-

Julian; Blowdowns, Linhas de instabilidade, Nuvens com Supercélulas, Efeitos de

ressonâncias em Ondas Atmosféricas, etc, podem, eventualmente, gerar fenômenos

críticos detectáveis pelo método de ocorrência de amortecimento crítico (CSD);

• A partir da classificação teórica de singularidades proposta por autores como Arnol’d,

e Mallat e Hwang, dentre outros, procurar identificar diversas modalidades de

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166

singularidades associadas a Fenômenos Extremos e entender quais dessas modalidades

podem apresentar CSD e explicar a causa disso.

Possíveis Áreas de Aplicação

• Aplicações na Climatologia: fenômenos que influenciam o Clima do Brasil tais como -

Secas, Deslocamentos das zonas de convergência, Mudanças na temperatura do oceano,

Irrupção de epidemias provocadas por fatores climáticos;

• Aplicações na Agrometeorologia: ocorrência de Bloqueio no Sul do Brasil;

• Aplicações na Hidrologia – Enchentes e Vazantes em diversas regiões do país;

• Aplicações na Ecologia: Como fenômenos de seca intensa causam alterações na

reprodução de quelônios como o Tracajá (Podocnemis unifilis).

• Estudar como índices associados a Fenômenos Extremos podem ser alterados pela

perspectiva de mudanças climáticas globais.

Como consideração final deve-se enfatizar que o presente estudo constitui um ponto de

partida para uma área de pesquisa que começa a se descortinar somente agora, a qual se

particulariza pela utilização de sinais medidos à superfície, conjugada à utilização de dados

medidos em escalas maiores (tais como sondagens verticais da atmosfera, dados de radares,

imagens de satélites, etc.) e à modelagem numérica dos processos atmosféricos que ocorrem na

atmosfera tropical continental (envolvendo a simulação das nuvens convectivas e seus efeitos

impactantes à superfície). Não se deve considerar o conjunto dos resultados aqui obtidos como

contendo uma explicação final e sistemática dos processos aqui analisados, mas como sendo

um esforço de caracterização de fenômenos ainda pouco estudados, os quais deverão merecer

estudos aprofundados no futuro.

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CLXXXIV

Anexo – A

Nesta seção serão apresentados os resultados complementares ao texto principal. Nela constam:

A1. Caracterização em diagramas de Poincaré para os demais casos em que foram verificadas

ocorrências de CSD.

A1.1. Análise para o caso de ocorrência de “CSD” para o dia 083

A2. Ajuste das Equações 4.6.1 e 5.5.1.1 (do texto principal) para o DJ083

A2.1. Verificação das tendências a partir de alterações no coeficiente angular da reta de

melhor ajuste

A3. Análises associadas aos regimes de turbulência fraca e forte.

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CLXXXV

A1. Caracterização em diagramas de Poincaré para os demais casos em que foram

verificadas ocorrências de CSD.

Na verificação de ocorrências de CSD para a atmosfera tropical foram identificados 4

casos em que todos os testes de consistência foram positivamente verificados. Destes casos,

um foi classificado como sendo muito bom (DJ103), que foi objeto de estudo no texto principal;

um foi classificado como bom (DJ342) e dois outros (devido a interferências nos indicadores

estatísticos de Skewness e Curtose) foram classificados como razoavelmente aplicáveis (DJ083

e DJ136). Esta classificação levou em consideração a robustez das tendências dos principais

indicadores estatísticos.

A1.1. Análise para o caso de ocorrência de “CSD” para o dia 083.

Aqui será apresentado a ajuste para o DJ 083 e para os demais casos serão mostradas

apenas as figuras, sem os respectivos ajustes introduzidos na equação 2.3.

DJ083: Análises de U (ms-1) para instantes que antecedem a ocorrência do FE

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CLXXXVI

Figura A1. Série temporal de vento horizontal suavizada na cor “azul” e sua respectiva derivada temporal, na cor

“preta”, para os instantes que antecedem a ocorrência do FE no dia 083.

Figura A2. Diagrama de Poincaré representativo de órbita repulsora, construído a partir da série temporal de

velocidade do vento horizontal suavizada para os instantes que antecederam o FE do dia 083. As setas vermelhas

indicam o sentido das órbitas.

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CLXXXVII

DJ083: Análises de U (ms-1) para intervalos de tempo que sucederam a ocorrência do FE

Figura A3. Série temporal suavizada do vento horizontal representada na cor “azul” e sua respectiva derivada

temporal, na cor “preta”, para os instantes posteriores à ocorrência do FE do 083.

Figura A4. Diagrama de Poincaré representativo de órbita atratora, construído a partir da série temporal suavizada

do vento horizontal para período que sucedeu o FE do dia 083. As setas “vermelhas” indicam o sentido das orbitas

no diagrama.

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CLXXXVIII

DJ083: Análises de TV (°C) para intervalos e tempo pós-FE

Figura A5. Série temporal suavizada de TV na cor “azul” e sua respectiva derivada temporal, na cor “preta”, para

período posterior à ocorrência de FE do DJ083.

Figura A6. Diagrama de Poincaré representativo de órbita atratora, construído a partir da série temporal suavizada

de TV para o período que antecedeu o FE do dia 083. As setas “vermelhas” indicam o sentido das orbitas.

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CLXXXIX

A2. Ajuste das Equações 4.6.1 e 5.5.1.1 (do texto principal) para o DJ083

Como é possível observar na Figura 5.5.4.3 do texto principal, as séries temporais

demonstram um comportamento amortecido em torno do ponto no interior do envelope,

construído a partir da parte exponencial da equação (5.5.1.1). Este pode ser considerado um

resultado satisfatório em termos de ajuste entre a série temporal suavizada da velocidade do

vento U (m s-1) e séries sintéticas, obtidas a partir das equações (4.6.1) e (5.5.1.1). Para outros

casos, porém, a série temporal da variável real pode apresentar uma tendência levemente

crescente ou decrescente ao longo do tempo. Para representar adequadamente essas tendências

foram necessários pequenos ajustes nos parâmetros inseridos nas equações (4.6.1) e (5.5.1.1),

de forma a torná-las representativas das situações reais. No caso de haver tendência decrescente

(como para o DJ083) foi necessário subtrair o fator de amortecimento multiplicado pelo tempo

nas Equações (4.6.1) (fator – b) e (5.5.1.1) (fator - a(t+l)). Em havendo tendência crescente

(como para a temperatura do DJ342) teve-se que somar e não mais diminuir os fatores (bt e

a(t+l)) nas Equações (4.6.1) e (5.5.1.1), respectivamente. O mesmo ajuste serve tanto para

descrever a tendência de impulso que antecede o FE quanto para o amortecimento pós-FE.

A seguir são apresentadas as equações A1 e A2 (correspondentes às equações (4.6.1)

e (5.5.1.1) do texto principal), nas quais os fatores ± 𝑎𝑡 e ± 𝑏𝑡 são introduzidos. Os referidos

ternos atribuem às séries temporais sintéticas as tendências crescentes ou decrescentes que são

verificadas em séries temporais reais. Esses fatores também podem ser verificados nos casos

de séries temporais reais:

𝑥(𝑡) = [𝑥0𝑒𝑏𝑡 cos(𝑡) − 𝑦0𝑒

𝑏𝑡 sin(𝑡)] ± 𝑏𝑡

𝑦(𝑡) = [𝑦0𝑒𝑏𝑡 cos(𝑡) + 𝑥0𝑒

𝑏𝑡 sin(𝑡)] ± 𝑏𝑡

} (𝐴1)

𝑦 = [𝐴𝑒±𝑎(𝑡±𝑙) cos(𝑘(𝑡 ± 𝑙) + 𝑐) ± 𝑎(𝑡 ± 𝑙)] + 𝑑 (𝐴2)

Como demonstração da validade desse pequeno ajuste, aqui será considerado apenas

um caso representativo de comportamento descendente para o DJ083. Os demais casos não

serão demonstrados. A Figura 2.33 mostra o comportamento oscilatório descendente referente

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CXC

ao intervalo de tempo que sucede a ocorrência de um FE para o DJ083 e foi elaborada a partir

das equações (A1 e A2), para os seguintes ajustes:

Ajustes para a equação A1: 𝑥0 = 𝑦0 = 1,6; 𝑏 = 0,174

Ajustes para a equação A2: 𝐴 = 2,3; 𝑎 = 0,05; 𝑘 = ±0,22; 𝑐 = 0; 𝑑 = 1; l = 0,95

Figura A7. Ajustes para o amortecimento da série real (preta) referente ao dia 083, em relação às propostas por

Martens (1984) (azul) e à proposta da Equação 2.3 (magenta). Aqui se observa uma tendência decrescente nas

flutuações das séries temporais. Os termos de amortecimento foram ajustados em relação aos envelopes da

Equação 2.3 (a, b).

Para o ajuste dos dados de vento do DJ103 (Figura A7) a dificuldade esteve em

estabilizar as frequências da parte final do envelope. Isto por que as equações A1 e A2

representam uma oscilação amortecida que tende a um estado de “mínima energia” (tendendo

a um comportamento linear). Os dados reais, porém, tendem quase sempre a uma mudança de

sentido, mas mantendo sempre um certo grau de oscilação de baixa frequência. Assim, ao final

do envelope nas Figuras 5.5.4.3 (do texto principal) e A7 (acima) há uma mudança na tendência

(mudança de sentido) das séries temporais, evidenciada por uma mudança no coeficiente

angular da reta que representa o comportamento de cada intervalo analisado. Para demonstrar

esta tendência, serão mostrados a seguir dois exemplos.

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CXCI

A2.1. Verificação das tendências a partir de alterações no coeficiente angular da

reta

Os resultados mostrados a seguir são relativos à flutuação, pois o interesse maior neste

caso é a alteração no sinal dos coeficientes da reta e também, para se ter uma melhor noção dos

coeficientes em relação ao ponto zero. As Figuras a seguir basicamente estimam a relação ente

um intervalo da série temporal que exibe um determinado comportamento (sempre em relação

à primeira reta ajustada chamada de ajuste 1 – AJ_1) e outro intervalo que exibe uma tendência

diferente (sempre em relação à segunda reta ajustada e chamado de ajuste 2 – AJ_2). Para isso

utilizou-se uma reta associada à sua tendência crescente ou decrescente vinculada a cada

intervalo da série temporal. Os casos são mostrados a seguir:

Para o caso do DJ083, ao qual se refere o envelope representado pela Figura A7,

observa-se que inicialmente há uma tendência decrescente, com uma posterior inversão de

sentido das retas que representam a declividade nas séries temporais apresentadas nas Figuras

A8 e A9, correspondentes às séries temporais de vento (U) e temperatura virtual (TV),

respectivamente. As mudanças nos coeficientes das retas para os dois intervalos são

apresentadas na Tabela A1.

Figura A8. Série temporal da velocidade horizontal do vento, na qual é possível verificar dois intervalos da série

temporal com comportamentos distintos para os instantes que sucederam a ocorrência do FE do dia 083. A reta

“magenta” indica a região interna ao envelope e evidencia uma tendência decrescente pós-evento. A reta vermelha

caracteriza a região após o fim do envelope e apresenta uma tendência crescente.

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CXCII

Figura A9. Série temporal de Temperatura evidenciando dois intervalos da série temporal com comportamentos

distintos para os instantes que sucederam a ocorrência do FE do dia 083. A reta “magenta” indica a região interna

ao envelope e evidencia uma tendência decrescente. A reta vermelha caracteriza a região localizada após o fim do

envelope, a qual apresenta uma tendência crescente.

Tabela A1. Relação contendo os coeficientes Angular e Linear das retas de melhor ajuste referentes a

estados de turbulência fraca e turbulência forte para o caso do dia 083.

Serie Temporal Intervalo Angular Linear

U AJ_1 -2,63 e-05 2,07

AJ_2 9,44 e-06 -1,65

TV AJ_1 -9,27 e-06 -0,718

AJ_2 8,004 e-06 -2,249

Os resultados mostram que, para ambos os casos analisados, ocorrem duas situações

distintas e que são representadas por intervalos da série que se localiza no entorno de um

“envelope” construído a partir da equação A2 e um comportamento posterior qualitativamente

distinto. Os parâmetros de ajuste propostos para as equações A1 e A2 podem ser considerados

satisfatórios para ambos os casos. Supõe-se que essa mudança de comportamento possa ter

relação com o deslocamento de uma nuvem em relação à torre experimental.

DJ103: Inicialmente são mostrados os ciclos completos para séries temporais suavizadas de

velocidade de vento horizontal e temperatura.

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CXCIII

Figura A11. Diagrama de Poincaré obtido a partir da série temporal suavizada de Vento Horizontal, na qual se

observam os ciclos completos que antecedem (na cor “vermelha”) e sucedem (na cor “azul”) a eclosão do FE. A

intersecção entre as cores “vermelha” e “azul” em torno do ponto zero corresponde ao FE. As setas indicam o

sentido de rotação.

Figura A10. Diagrama de Poincaré obtido a partir da série temporal suavizada de Temperatura, na qual se

observam os ciclos completos que antecedem (na cor “vermelha”) e sucedem (na cor “azul”) a eclosão do FE. A

intersecção entre as cores “vermelha” e “azul” corresponde ao ponto de máximo FE. As setas indicam o sentido

de rotação.

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CXCIV

DJ103: Análises de U (ms-1) para instantes que sucederam a ocorrência do FE

Figura A12. Série temporal da Velocidade Horizontal do Vento. A reta “magenta” indica a região interna ao

envelope, que é representativa de regime de turbulência forte. A reta “vermelha” caracteriza a região localizada

após o fim do envelope e caracteriza um regime de turbulência fraca.

Figura A13. Série temporal da Temperatura, na qual também é possível observar um comportamento amortecido,

caracterizado por um envelope e representado no gráfico pela reta na cor “magenta”. A reta “vermelha” caracteriza

a região correspondente ao período verificado após o fim do envelope.

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CXCV

No DJ103 é possível verificar que o coeficiente angular da reta de melhor ajuste muda

de sentido, tornando-se negativo, tanto para TSU’s, quanto para TV nas Figuras A10, A11 e

Tabela A2.

Tabela A2. Relação dos coeficientes Angular e Linear das retas de melhor ajuste referentes a estados

de turbulência fraca e turbulência forte para o caso do DJ103.

Serie Temporal Intervalo Angular Linear

U (ms -1) AJ_1 0 0,178

AJ_2 -1,39 e-05 1,52

TV (°C) AJ_1 0 -1,092

AJ_2 -6,103 e-06 -0,580

DJ136: Análises de U (ms-1) para instantes que antecederam a ocorrência do FE

Figura A14. Flutuação da série temporal da velocidade do Vento Horizontal Suavizado, na cor “azul” e sua

respectiva derivada na cor “preta”, para os instantes que antecederam a ocorrência do Fenômeno Extremo

referente ao dia 136.

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CXCVI

Figura A15. Espaço de fase representativo da órbita repulsora, construído a partir da série temporal de Vento

Horizontal Suavizado, para os instantes que antecederam a transição do dia 136.

DJ136: Análises de U (ms-1) para instantes que sucederam a ocorrência do FE

Figura A16. Flutuação da série temporal de Vento Horizontal Suavizado na cor “azul” e sua respectiva derivada

temporal na cor “preta”, para os instantes que sucedem a ocorrência do Fenômeno extremo referente ao dia 136.

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CXCVII

Figura A17. Espaço de fase representativo da órbita atratora, construído a partir da série temporal suavizada de

Vento Horizontal, para os instantes que sucederam a transição do dia 136.

DJ136: Análises de TV (°C) para instantes que sucederam a ocorrência do FE

Figura A18. Flutuação da série temporal de 𝜃𝑉 suavizado, na cor “azul” e sua respectiva derivada temporal na

cor “preta”, para os instantes que antecederam a ocorrência do Fenômeno Extremo referente ao dia 136.

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CXCVIII

Figura A19. Espaço de fase representativo da órbita atratora, construído a partir da série temporal de 𝜃𝑉

suavizada, para os instantes que sucederam a transição do dia 136.

DJ342: Análises de U (ms-1) para instantes que antecederam a ocorrência do FE

Figura A20. Flutuação da série temporal de Vento Horizontal Suavizado, na cor “azul” e sua respectiva derivada

temporal na cor “preta”, para os instantes que antecedem a ocorrência do Fenômeno Extremo referente ao dia 342.

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CXCIX

Figura A21. Espaço de fase da órbita repulsora, construído a partir da série temporal de Vento Horizontal

Suavizado, para os instantes que antecederam a transição do dia 342.

DJ342: Análises de U (ms-1) para instantes que sucederam a ocorrência do FE

Figura A22. Flutuação da série temporal de Vento Horizontal Suavizado, na cor “azul”, e sua respectiva derivada,

na cor “preta”, para os instantes que sucederam a ocorrência do Fenômeno Extremo referente ao dia 342.

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CC

Figura A23. Espaço de fase da órbita atratora, construído a partir da série temporal de Vento Horizontal

Suavizado, para os instantes que sucederam a transição do dia 342.

Dia 342: Análises de TV (°C) para instantes que sucederam a ocorrência do FE

Figura A24. Flutuação da série temporal de TV suavizado, na cor “azul”, e sua respectiva derivada, na cor “preta”,

para os instantes que antecederam a ocorrência do Fenômeno Extremo referente ao dia 342.

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CCI

Aqui foi possível observar as tendências dos dias DJ083 e DJ103. Nelas há uma

impulsão inicial que dá origem a uma órbita com maior amplitude, muito elevada no início do

evento e, posteriormente, mostrando um amortecimento. As tendências características para os

instantes que sucederam os eventos, para cada um dos quatro dias considerados, serão

brevemente analisadas como segue.

A3. Análises associadas aos regimes de turbulência fraca e forte.

O objetivo aqui é o de observar as diferenças verificadas entre algumas variáveis

meteorológicas, quando são comparadas situações entre regimes de turbulência forte e fraca.

Para uma breve interpretação dos resultados referentes a esses dois regimes turbulentos

distintos, a Tabela A3 mostra valores de grandezas fisicamente relevantes para as duas

situações distintas. Aqui, nem todos os casos pós-evento poderão ser classificados a partir de

regimes de turbulência fraca e forte e as análises não consideram os instantes (exatos) de

ocorrência do FE. Assim, será considerado o primeiro mínimo exatamente após o ponto de

máxima velocidade do vento horizontal (o ponto de máxima velocidade do vento coincide com

o valor máximo do FE):

Serão utilizadas as seguintes nomenclaturas: Ajuste I e Ajuste II, são delimitados a

partir do coeficiente angular de uma reta associada a cada um dos intervalos como nas Figuras

(A8, A9 até A12 e A13).

O Ajuste I representará sempre o intervalo de tempo imediatamente após o FE

limitado pelo envelope da Equação A2.

O Ajuste 2 representará o intervalo seguinte ao fim do envelope, ou seja, o instante

em que acontece uma mudança no sinal do coeficiente angular da reta.

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CCII

Tabela A3. Análise comparativa entre valores de grandezas sob os regimes de turbulência forte e fraca

Dia Intervalo 𝑟𝑤𝑢 𝐻 (𝑊𝑚−2) ⟨𝑤′𝑢′⟩ (𝑚2𝑠−2) 𝑣𝑎𝑟(𝑣)/𝑣𝑎𝑟(𝑢) 𝑇𝐾𝐸 (𝑚2𝑠−2)

083 Ajuste I -0,128 -2,119 -0,0465 0,194 0,623

Ajuste II -0,329 9,631 -0,061 0,155 0,304

103 Ajuste I -0,176 23,923 -0,103 0,158 1,115

Ajuste II -0,220 -7,472 -0,028 0,2778 0,207

136 Ajuste I -0,105 -1,436 -0,007 0,065 0,148

Ajuste II -0,026 5,984 -0,001 0,056 0,053

342 Ajuste I -0,301 -19,486 -0,095 0,323 0,514

Ajuste II -0,280 -14,981 -0,131 0,409 0,758

OBS: Todos os cálculos foram feitos em relação ao envelope de U (m/s)

Observa-se que em três dos quatro casos de transições com “CSD” houve mudança de sinal

no valor do fluxo de calor sensível (𝐻). Coincidentemente, duas dessas transições (DJ083 e DJ136)

ocorreram com mudanças nos valores dos fluxos de calor sensível, de negativos para positivos, e são

aquelas em que o coeficiente angular da reta variou, se um sentido negativo para um sentido positivo.

O outro caso de inversão de sinal do fluxo de calor sensível foi o do DJ103, em que um fluxo de calor

fortemente positivo variou para um fluxo negativo. O DJ103 representa um caso especial em que

ocorreu claramente uma transição de um estado de turbulência forte para turbulência fraca, sendo que

a transição entre os dois regimes ocorreu exatamente no instante em que houve uma mudança no

coeficiente angular das retas representativas de cada intervalo.

O dia em que não ocorreu mudança no sinal do fluxo de calor foi aquele em que, ao término

do FE, a temperatura voltou a crescer sem passar por amortecimento posterior (trata-se do DJ342). Esse

dia foi caracterizado pela turbulência se manter forte mesmo depois da eclosão do fenômeno extremo e

por não ter havido mudança nos sinais de w’ T’, como ocorrera nos dois casos iniciais. As análises para

este caso podem ter sido dificultadas pela iminência da transição noite-dia. As demais características se

mantiveram semelhantes aos demais casos analisados.

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CCIII

Anexo – B

Nesta seção serão apresentados os resultados complementares ao texto principal. Nela constam:

B.1. Caracterização de fenômenos extremos

B2. Sobre a ocorrência de nuvens profundas na região do sítio experimental

B2.1. Para o DJ083

B2.2. Para o DJ136

B2.3. Para o DJ342

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CCIV

B.1. Caracterização de fenômenos extremos

A ênfase aqui será a de classificar episódios de ocorrência do regime turbulento 2, tanto

moderados, quanto fortes. O estudo e caracterização dos demais regimes não é objetivo do

presente tópico. Observem-se então, as Figuras B1 a B6.

Figura B1. Séries temporais, bruta e suavizada, de

Velocidade do Vento para o DJ083. A linha

horizontal “azul” marca a velocidade limiar entre os

regimes de turbulência fraca e forte. As linhas

tracejadas na cor “azul” assinalam a duração do

regime de turbulência forte

Figura B2. Regimes de turbulência para o DJ083. Diagrama

de análise ponto a ponto para intervalo de tempo entre 08:00

e 10:00 UTC. Os círculos “pretos” correspondem ao regime

1. Os quadrados na cor “azul” correspondem ao regime 2

Figura B3. Séries temporais, bruta e suavizada, de

Velocidade do Vento para o DJ136. A linha

horizontal “azul” marca a velocidade limiar entre

regimes de turbulência fraca e forte. As linhas

tracejadas na cor “azul” assinalam a duração do

regime de turbulência forte.

Figura B4. Regimes de turbulência para o DJ136. Este

diagrama de análise ponto a ponto representa o intervalo de

00:00 às 03:00 UTC. Os círculos “pretos” correspondem ao

regime 1. Os quadrados na cor “azul” correspondem ao

regime 2

06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:000

L3

6

9

12

UTC Time

U (

m s

-1)

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:000

L3

6

9

12

Hora UTC

U (

ms

-1)

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CCV

Figura B5. Séries temporais, bruta e suavizada, de

Velocidade do Vento para o DJ342. A linha

horizontal “azul” marca a velocidade limiar entre

regimes de turbulência fraca e forte. As linhas

tracejadas na cor “azul” assinalam a duração do

regime de turbulência forte.

Figura B6. Regimes de turbulência para o DJ342. Este

diagrama de análise ponto a ponto representa o intervalo de

04:00 a 08:00 UTC. Os círculos “pretos” correspondem ao

regime 1. Os quadrados na cor “azul” correspondem ao

regime 2

Através dessas Figuras possível identificar que o pico máximo de vento nas Figuras B1, B3, B5

correspondeu ao valor máximo de regime 2 nos diagramas B2, B4, B6, respectivamente.

Observe-se também, que os máximos de velocidade do vento horizontal ocorrem

simultaneamente a variações bruscas nas demais variáveis turbulentas, tais como temperatura potencial

equivalente, velocidade vertical do vento, pressão atmosférica, e quando estiveram disponíveis,

verificaram-se varações simultâneas também na concentração de ozônio, como pode ser observado nas

Figuras B7, B8 e B9 que correspondem aos DJ083, DJ136 e DJ342, respectivamente.

04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:000

L3

6

9

12

Hora UTC

U (

ms

-1)

06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:000

L3

6

9

12

UTC Time

U (

m s

-1)

(a)

06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00-4

-2

0

2

4

UTC Time

w (

ms

-1)

(b)

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CCVI

Figura B7. Séries temporais brutas e suavizadas apresentando FE se manifestando em: (a) velocidade do vento

horizontal em que a linha “azul” mostra o limiar entre regimes 1 e 2 conforme classificação de Sun et al. (2012); (b)

vento vertical; (c) Temperatura Potencial equivalente estimadas a 48,2 m e (d) Pressão a 35 m. Nestas a seta vermelha

manrca o limiar utilizado nos teste de CSD. Para este dia os dados de pressão a 1,5m e a cocentração de ozônio ainda

não estavam disponíveis.

06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00297

298

299

300

UTC Time

E (

K)

(c)

06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00

99.4

99.5

99.6

99.7

99.8

UTC Time

P (

kP

a)

(d)

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:000

L3

6

9

12

Hora UTC

U (

ms

-1)

a

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:00-4

-2

0

2

4

Hora UTC

w (

ms

-1)

b

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:00299

300

301

302

303

304

Hora UTC

E (

K)

c

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:000

5

10

15

Hora UTC

O3 (

ppb)

d

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CCVII

Figura B8. Séries temporais brutas e suavizadas correspondentes ao DJ136 correspodnentes ás seguintes variáveis

meteorológicas: (a) velocidade do vento horizontal em que a linha azul mostra o limiar entre regimes de turbulencia fraca e

forte 1 e 2; (b) vento vertical; (c) Temperatura Potencial equivalente medidas a 48.15 m e (d) concentração de Ozonio a 1.5

m; (e) Pressão a 35 m e (f) Pressão a 1.5m. Nestas a seta vermelha manrca o limiar utilizado nos teste de CSD para o DJ136.

Figura B9. Séries temporais brutas e suavizadas correspondentes ao DJ342 para as seguintes variáveis

meteorológicas: (a) velocidade do vento horizontal em que a linha “azul” indica o limiar entre regimes turbulentos

1 e 2; (b) velocidade vertical do vento; (c) Temperatura Potencial equivalente estimadas para uma altura de 48,2 m

e (d) Pressão a 35 m. Nestas a seta “vermelha” marca “tipping point” utilizado nos teste de CSD para o DJ136.

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:0099.2

99.25

99.3

99.35

99.4

99.45

99.5

Hora UTC

P (

kP

a)

e

01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:0099.5

99.55

99.6

99.65

99.7

99.75

99.8

99.85

Hora UTC

P (

kP

a)

f

04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:000

L3

6

9

12

Hora UTC

U (

ms

-1)

a

04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00-5

-2.5

0

2.5

5

Hora UTC

w (

ms

-1)

b

04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00

299

300

301

302

303

Hora UTC

E (

K)

c

04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:0099.6

99.7

99.8

99.9

100

100.1

Hora UTC

P (

kP

a)

d

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CCVIII

O passo seguinte foi o de verificar a ocorrência de nuvens acima do sitio para

eventualmente associá-las às variações das grandezas medidas à superfície (mencione-se que

autores tais como Wakimoto, 1982; Garstang et al., 1998; Betts et al., 2002; Khairoutdinov e

Randall, 2006; Zipser et al., 2006; Wissmeier e Goler, 2009; Costantino e Heinrich, 2014;

Barth, 2014; Gerken et al., 2015; Fuentes et al., 2016; Wang et al., 2016), estuaram

modalidades de fenômenos na Camada Limite Atmosférica). A simultaneidade das variações

nas grandezas medidas à superfície pode ser observada nas Figuras B7, B8 e B9.

B2. Sobre a ocorrência de nuvens profundas na região do sítio experimental

B2.1. Para o DJ083

O DJ083 foi um dos primeiros resultados obtidos a partir da instrumentação da torre

K34 para o projeto GoAmazon 2014/2015. Neste dia as imagens de radar do PROJETO

CHUVA ainda não estavam disponíveis e as análises da aproximação de nuvens convectivas

foi elaborada com as imagens do satélite GOES disponibilizadas pela Divisão de Satélites e

Sistemas Ambientais (DSA) do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)

do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

(http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes.formulario.logic).

Aqui serão utilizadas exclusivamente imagens do satélite GOES, uma vez que imagens

de radar ainda não estavam disponíveis na etapa inicial do experimento GoAmazon.

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CCIX

Figura B10. São apresentadas imagens do

satélite GOES contendo a região do sítio

experimental a nordeste do estado do

Amazonas em diferentes horários UTC: (a)

07:00, (b) 08:00 e (c) 09:00. A Figura (d)

contém gráfico exprimindo a temperatura

de brilho do topo de nuvem acima do sitio

experimental no eixo horizontal e a altura

do topo da nuvem do eixo vertical.

A falta das imagens de radar limita esta interpretação pois esta se baseia em uma visão

muito distante em relação ao sitio experimental. No entanto, as imagens do satélite GOES

(Figura B10) mostram que havia nuvens bastante profundas na região do sitio experimental

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CCX

durante a ocorrência do FE sob investigação. Em relação à profundidade da nuvem, embora

seja uma análise apenas aproximada e que dá uma noção apenas da altura do topo da nuvem, é

possível verificar que estas atingem a temperatura de -80 °C (temperatura de brilho de nuvem

representada pela cor “branca” na legenda de temperatura do GOES) que corresponde a 17 Km

de altura (Figura B10 d). Considera-se, porém, que as variações nas grandezas turbulentas

mostrada na Figura 3.5, associadas às imagens da Figura 3.6 e às mudanças bruscas na direção

do vento da Figura 3.7, forneceram forte indicio de que os eventos (queda de temperatura,

rajada de vento horizontal e vertical, variações de pressão) estão fortemente associados

relacionados.

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CCXI

Figuras B11. Rosa dos ventos nas quais é possível verificar as variações na direção do vento (VD) em médias

efetuadas em ≈ 30 min. A nesses gráficos foi o de verificar se as VD’s estão associadas à eclosão do FE. As

variações de direção mais evidentes foram entre os horários de 08:00 e 08:36 UTC.

B2.2. Para o DJ136

O DJ136 estiveram disponíveis imagens de radar do Projeto CHUVA. Neste dia, em

particular, observa-se uma menos cobertura de nuvens sobre a região amazônica em relação

aos casos anteriormente observados. Neste, os pulsos máximos de vento têm início

aproximadamente às 04:48 (UTC), com ligeiras mudanças de direção entre norte-nordeste,

atingindo velocidade máxima ligeiramente superior a 9 ms-1 (Figura B8 a). Também é

importante registrar que, para este caso, as variações de concentração de O3 e as rajadas de

vento ocorreram somente quando a rajada de vento veio da direção de maior desenvolvimento

vertical da nuvem. Até as 02:48 UTC o teor de concentração de O3 esteve em torno de 7,5 ppb

(Figura B8 d), o que pode ser considerado como sendo elevado em comparação com os padrões

noturnos (normais) que são estimados entre 3 e 5 ppb (Betts et al. 2002b). Porém, o interessante

é registrar que a concentração de O3 diminuiu para aproximadamente 2,5 ppb entre 03:10 e

04:48 (UTC), sendo que neste intervalo de tempo (03:10 e 04:48) a direção do vento foi

predominantemente de leste/nordeste (Figuras B13). Esta direção (leste/nordeste), no entanto,

não corresponde à direção do escoamento vindo da região de maior desenvolvimento vertical

da nuvem em direção à torre.

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CCXII

Figura B12. São apresentadas imagens do

satélite GOES contendo a região do sítio

experimental a nordeste do estado do

Amazonas em diferentes horários UTC: (a)

02:30, (b) 03:30 e (c) 04:30. A legenda nas

Figuras (a, b, c) são referentes à temperatura

de brilho de nuvem, (d) contém gráfico

exprimindo a variação de temperatura com a

altura a qual é relacionada com a temperatura

de brilho do topo de nuvem. Em (e) uma

imagem de radar com a localização

aproximada da torre experimental. A seta

“vermelha” indica a direção de deslocamento

das nuvens em relação à torre experimental.

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CCXIII

A redução expressiva da concentração de Ozônio entre 03:10 e 04:48 (UTC) (Figura

B8 d), coincide com ventos “quase” constantes de aproximadamente 2 ms-1 (Figura B8 a) e

temperatura potencial equivalente aproximadamente constante em torno de 301,5 K (Figura

B8 c). Porém, observa-se que quando a direção do vento volta a ser de nordeste, que é a região

onde se concentra a região com maior desenvolvimento vertical, a concentração de O3 aumenta,

de ≈ 2,5 para ≈ 12 ppb. Nesse momento, porém, a região da torre já está praticamente toda

envolvida pela presença de nuvens.

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CCXIV

Figura B13. Nessa figura, o lado esquerdo apresenta uma sequência de imagens de radar (PROJETO CHUVA)

referentes ao DJ136 utilizadas para verificação de cobertura de nuvens acima do sitio experimental do CUIEIRAS.

Nelas a “estrela” marca a localização aproximada da torre experimental e a seta “vermelha”, o sentido de

deslocamento das nuvens em relação à torre experimental. Este sentido de deslocamento foi estimado a partir das

imagens de radar (PROJETO CHUVA: https://www.youtube.com/user/projetochuva). Ao lado direito constam

rosas dos ventos com as respectivas direções do vento correspondente a um período de aproximadamente 30

minutos.

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CCXV

B2.3. Para o DJ342

Para o DJ342, ressalte-se, inicialmente uma peculiaridade digna de nota para os dados

do DJ342. Aqui não foi observado um complexo de nuvens que se desloca de Sudeste ou de

Leste. O que se pode verificar é que a nuvem em questão cresce gradativamente em uma região

que se encontra nos arredores do lago formado pela represa da usina hidrelétrica de Balbina

(Vale, 2016). Para este caso não houve, como dito antes, um deslocamento efetivo de um

complexo de nuvens se movendo em direção à torre experimental, mas sim um crescimento da

nuvem em uma dada região. Tal desenvolvimento da nuvem é tal que alcança a região em que

está localizada a torre experimental K34. A suposição aqui é que pode ter ocorrido um

fenômeno de convergência do escoamento atmosférico dirigido por circulações de brisa

lacustre na região da represa de Balbina, fenômeno que também já teria sido observado no

início da noite próximo à bahia de Caxiuanã no nordeste do Pará (Nogueira, 2008). As cartas

sinóticas do CPTEC para esse dia indicam um cavado na região em que tal convergência é

formada.

É possível verificar esta evolução do crescimento da nuvem nas imagens disponíveis

em (http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes.formulario.logic).

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CCXVI

Figura B14. São apresentadas imagens do

satélite GOES contendo a região do sítio

experimental do CUIEIRAS a nordeste do

estado do Amazonas em diferentes horários

UTC: (a) 05:00, (b) 07:00 e (c) 08:00. A

legenda nas Figuras (a, b, c) são referentes

à temperatura de brilho de nuvem, (d)

contém gráfico exprimindo a variação de

temperatura com a altura a qual é

relacionada com a temperatura de brilho do

topo de nuvem.

No DJ136 as imagens de radar também não estiveram disponíveis. Nas figuras abaixo

constam as direções do vento estimadas em médias de 30 minutos (Figura B15).

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CCXVII

Figuras B15. Rosa dos ventos nas quais é possível verificar as variações na direção do vento (VD) em médias

efetuadas em ≈ 30 min. A intenção aqui foi a de verificar se as VD’s estão associadas à eclosão do FE. As variações

de direção mais evidentes foram entre os horários de 06:30 e 07:30 UTC.

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CCXVIII

Anexo – C

Nesta seção serão apresentados os resultados complementares ao texto principal. Nela constam:

C1. Resultados das Análises de ocorrência de CSD para os demais casos identificados na

Camada Limite noturna acima do sítio do Cuieiras.

C1.1. Testes de CSD para o DJ083 – para temperatura Potencial equivalente como

variável de estado.

C1.2. Testes de CSD para o DJ136 – para temperatura potencial equivalente como

variável de estado

C1.3. Testes de CSD para o DJ136 – Para concentração de ozônio como variável de

estado

C1.4. Testes de CSD para o DJ342 – para temperatura potencial equivalente como

variável de estado.

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CCXIX

C1. Resultados das Análises de ocorrência de CSD para os demais casos

identificados na Camada Limite noturna acima do sítio do Cuieiras.

As figuras abaixo mostram os resultados da aplicação dos testes de detecção de CSD

para os DJ083, DJ136 (este os testes são para temperatura potencial equivalente e concentração

de ozônio) e DJ342 e mostram tendências positivas nos principais indicadores teóricos também

para 𝜃𝐸 (e quando estiveram disponíveis O3) como variável de estado. Tais tendências de

indicadores mostram com suficiente significância estatística a ocorrência de CSD para os

referidos dias.

Verifica-se que os indicadores Skewness e Curtose para o DJ083 e 136 (para o DJ136

tanto a temperatura potencial equivalente quanto a concentração de ozônio) foram bastante

influenciados pela intermitência presente. Tal intermitência é capaz de causar fortes desvios

nas tendências de todos os indicadores, para o presente caso, tanto a Skewness quanto a Curtose

mostraram-se mais sensíveis a existência de intermitência e apresentaram uma descontinuidade

para ambos os indicadores.

Por questões de verificar a possibilidade de falsos alarmes, as análises pós-surrogate

foram efetuadas. Estes testes com surrogate são importantes e muito utilizados para a

verificação de falsos positivos (KAKOS 08; DAKOS 12). Eles testam principalmente os

resultados referentes à função Autocorrelação e a Variância. Os resultados foram bastante

satisfatórios e mostram, assim como era esperado, que as tendências dos indicadores, deixam

de apresentar o comportamento típico demonstrado antes do surrogate (as distribuições de

tendências antes de surrogate tendem a demonstrar uma determinada tendência que indica a

robustez. Após o surrogate, tal tendência de robustez não deve mais ser visualizada) como pode

ser verificado nas Figuras C3, C6, C9 e C12.

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CCXX

C1.1. Testes de CSD para o DJ083 – para temperatura Potencial equivalente

como variável de estado.

Figura C1. Tendências dos principais indicadores, quando

aplicados à série temporal real de 𝜃𝐸 como variável de

estado para o DJ083. (a) Segmento correspondente a 50%

do comprimento da série temporal da Variável de Estado;

(b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo

(LAG1) e através do coeficiente auto regressivo de ordem 1

(ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e

Curtose.

Figura C2. Distribuição de tendências para os indicadores de

CSD: AR1, ACF1, skewness (SK) e curtose (Kurt), quando

𝜃𝐸 foi usada como variável de estado para o DJ083

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CCXXI

Nas Figuras C3 constam as analises após surrogate para a função autocorrelação (AR1)

e variância (correspondnetes a AR1 e variância da Figura C2) após surrogate da variável de

estado 𝜃𝐸 . Na figura observa-se novamente que as tendências deixam de ser visualizadas,

conforme se espera após os testes de surrogate.

Figura C3. Teste de distribuição de tendência para (a) autocorrelação e (b) variância, realizados após surrogate

para a variável θE do DJ083.

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CCXXII

C1.2. Testes de CSD para o DJ136 – para temperatura potencial equivalente como

variável de estado

Figura C4. Tendências dos principais indicadores,

quando aplicados à série temporal real de 𝜃𝐸 como

variável de estado para o DJ136. (a) Segmento

correspondente a 50% do comprimento da série

temporal da Variável de Estado; (b) Função

Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e

através do coeficiente auto regressivo de ordem 1

(ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e

Curtose.

Figura C5. Distribuição de tendências para os

indicadores: AR1, ACF1, skewness (SK) e curtose

(Kurt), quando 𝜃𝐸 foi usada como variável de estado para

o DJ136

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CCXXIII

Nas Figuras C6 constam as analises após surrogate para a função autocorrelação (AR1)

e variância (correspondnetes a AR1 e variância da Figura C5) após surrogate da variável de

estado 𝜃𝐸 . Na figura observa-se novamente que as tendências deixam de ser visualizadas.

Figura C6. Teste de distribuição de tendência para (a) autocorrelação e (b) variância, realizados após surrogate

para a variável θE do DJ136.

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CCXXIV

C1.3. Testes de CSD para o DJ136 – Para concentração de ozônio como variável

de estado

Quedas bruscas no valor de 𝜃𝐸 equivalente seguidas de aumentos expressivos no teor

de O3 à superfície acompanhadas de variações de pressão ocorrem acima da floresta amazônica

em reação a aproximação de convecção profunda (Betts et al. 2002). Estudos de transporte

vertical de O3 da média troposfera para a superfície durante a passagem de sistemas altamente

convectivos em região de floresta foram realizados por Betts et al. (2000; 2002); Betts et al.,

(2009); Gerken et al., (2015); Fuentes et al., (2015). Dadas essas semelhanças entre as

modificações nos padrões de concentração de O3 simultaneamente às variações de θE, os

“Early Warning Signals” também foram testados em dados de O3 à superfície (Figuras C7) e

as tendências dos principais indicadores para o teor de O3 confirmam a existência de uma

transição entre estados atmosféricos distintos (Figura 3.32). Aqui foi necessário utilizar uma

série temporal de concentração de O3 uma hora mais longa do que a série temporal de 𝜃𝐸 e o

“tipping point” associado esteve ligeiramente deslocado para a esquerda (seta “vermelha” na

Figura C7) em relação ao ponto considerado como “tipping point” para θE (marcado pela seta

na cor cinza na Figura C7).

Figura C7. Séries temporais de concentração de O3 bruta e suavizada, medida a 1,5 m de altura. Esta série foi

utilizada como VE para os testes de CSD do DJ136.

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CCXXV

Figura C8. Tendências dos principais indicadores, quando

aplicados à série temporal real de O3 como variável de

estado para o DJ08. (a) Segmento correspondente a 50%

do comprimento da série temporal da Variável de Estado;

(b) Função Autocorrelação obtida no primeiro passo

(LAG1) e através do coeficiente auto regressivo de ordem

1 (ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e

Curtose.

Figura C9. Distribuições de tendências para os

indicadores de CSD: AR1, ACF1, skewness (SK) e

curtose (Kurt), quando 𝑂3 foi usada como variável de

estado para o DJ136

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CCXXVI

Nas Figuras C10 constam as análises pós-surrogate para a função autocorrelação (AR1)

e variância (correpondentes aos testes das Figuras C9) quando a concentração de O3 foi

utilizada como variável de estado. Nestas, também é possivel verificar que as tendências

anteriormente observadas deixam de ser visualizadas.

Figura C10. Teste de distribuição de tendência para (a) autocorrelação e (b) variância, realizados após surrogate

para a variável O3 do DJ136.

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CCXXVII

C1.4. Testes de CSD para o DJ342 – para temperatura potencial equivalente como

variável de estado.

Figura C11. Tendências dos principais indicadores,

quando aplicados à série temporal real de θE como

variável de estado para o DJ342. (a) Segmento

correspondente a 50% do comprimento da série

temporal da Variável de Estado; (b) Função

Autocorrelação obtida no primeiro passo (LAG1) e

através do coeficiente auto regressivo de ordem 1

(ar1); (c) Desvio padrão (Variância) (d) Skewness e

Curtose.

Figura C12. Distribuição de tendências para os

indicadores: AR1, ACF1, skewness (SK) e curtose

(Kurt), quando θE foi usada como variável de estado

para o DJ342

Nas Figuras C13 constam as analises após surrogate para a função autocorrelação

(AR1) e variância (correspondnetes a AR1 e variância da Figura C12) após surrogate da

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CCXXVIII

variável de estado 𝜃𝐸 . Nas Figuras C13 observa-se novamente, como para os casos anteriores,

que as tendencias deixam de ser visualizadas, conforme se espera após os testes de surrogate.

Figura C13. Tendências da Função autocorrelação e variância após surrogate da VE.

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CCXXIX

Anexo – D

Nesta seção serão apresentados os resultados complementares ao texto principal. Nela consta:

D1. Estimativa sobre o ângulo de deslocamento da nuvem em relação à torre experimental K34

para o DJ136.

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CCXXX

D1. Estimativa sobre o ângulo de deslocamento da nuvem em relação à torre

experimental K34 para o DJ136.

As análises sobre o ângulo de deslocamento do ponto de maior desenvolvimento da

nuvem em relação à torre experimental demonstram uma complexidade (já esperada) na

quantificação exata de fenômenos da camada limite tropical. Para os dias em que estiveram

disponíveis imagens de radar que foram o DJ103 (apresentado no texto principal) e DJ136, foi

possível fazer uma estimativa da distância da nuvem em relação à torre experimental. Foi

possível também estimar o ângulo de deslocamento (aproximado) da nuvem em relação à torre.

Com isso foi possível verificar uma possível relação entre o ângulo de deslocamento

da nuvem e a robustez das tendências, principalmente para os testes de CSD e também para

aqueles resultados associados a diagramas de Poincaré. Sugere-se que uma quantificação do

caráter precursor de fenômenos extremos associados CSD pode ser complexa. Isto por que a

disponibilidade de medidas em diversos pontos necessitaria da presença de uma malha de

instrumentação suficientemente densa (cujas distâncias necessárias entre instrumentos

necessitariam de ser correspondentes às dimensões aproximadas dos complexos de nuvens)

que cobrisse uma grande área, o que torna sua implementação logisticamente inviável para uma

região de floresta densa, como a Amazônica. Para remediar este problema, simulações em

modelos numéricos seriam extremamente úteis, desde que os fenômenos pudessem ser

satisfatoriamente modelados. As análises seguintes são referentes à aproximação de complexos

de nuvens em relação à torre experimental para o DJ136. A exemplo do que foi feito para o

DJ103 (apresentada no texto principal), a análise será baseada entre o ponto mais alto da nuvem

e a torre experimental. A Figura D1 mostra a localização de uma nuvem às 03:00 UTC. Nesta,

o ponto de maior desenvolvimento vertical e que está mais próximo da torre, fica localizada

nos pixels (2952, 699). Convém lembrar que estando a torre experimental fixa nos pixels (1689,

2149), é possível verificar que a distância estimada entre a torre e este ponto da nuvem seja de

≈ 57,68 km. É possível ainda, verificar que esse ponto da nuvem se desloca com um ângulo de

54° em relação a uma reta horizontal imaginária que interceptaria a localização da torre

experimental K34. A Figura D2, por sua vez, destaca uma região da nuvem que está localizada

nos pixels (2617, 933). Assim, pode-se estimar a distância desse ponto em relação à torre como

sendo de ≈ 45,68 km e deslocando-se a um ângulo de 58,3° em relação à reta horizontal

imaginária que intercepta a localização da torre.

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CCXXXI

Figura D1. Composição entre imagem de radar para

as 03:00 UTC do DJ136 e imagem de satélite

(topodata) utilizada para estimar a distância entre o

ponto mais alto da nuvem e a torre experimental K34.

Figura D2. Composição entre imagem de radar para as

03:24 UTC do DJ136 e imagem de satélite (topodata)

utilizada para estimar a distância entre o ponto mais alto

da nuvem e a torre experimental K34.

A Figura D3 mostra a relação entre três pontos da nuvem e as imagens de radar

correspondentes. Para este caso, a concentração de O3 que estava ligeiramente alta,

possivelmente tenha sido anteriormente alterada pela presença de rajadas de vento vindo da

direção do ponto mais alto da nuvem. No entanto, as: 04:00 UTC a direção do vento que foi

predominantemente de Leste (Figura D3) não correspondia à uma direção de escoamento que

viesse do ponto mais alto da nuvem em direção à torre experimental. Neste intervalo de tempo

houve uma redução da concentração de O3 à superfície que foi de ≈ 7.5 ppb para ≈ 2,5 ppb. A

concentração de O3 voltou a aumentar somente quando a direção do vento veio

predominantemente da região de maior desenvolvimento da nuvem em direção à torre

experimental, o que aconteceu aproximadamente às 04:45 UTC.

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CCXXXII

Figura D3. Composição entre imagem de radar para as 04:00 UTC do DJ136 e imagem de satélite (topodata)

utilizada para estimar a distância entre o ponto mais alto da nuvem e a torre experimental K34.

A Figura D4 mostra a relação entre um ponto da nuvem, que não necessariamente é o

de maior desenvolvimento vertical, mas que tem maior probabilidade de estar exercendo

influência sobre a torre. Isto por que o ponto de maior desenvolvimento vertical está localizado

ligeiramente após o ponto de localização da torre. A Figura D5 mostra a nuvem às 05:00 UTC,

no instante em que a torre experimental já se encontra sob os efeitos da nuvem acima e também

é o instante em que a concentração de O3 volta a aumentar.

As imagens de radar associadas às imagens topográficas possibilitaram uma estimativa

do deslocamento de nuvens em relação à torre experimental, assim como efetuado para o

DJ103. É possível observar que para o DJ136 o deslocamento da nuvem em relação à torre não

foi aproximadamente frontal como o foi para o DJ103. Isso possivelmente introduza efeitos na

robustez estimada para as tendências de CSD, que para o DJ136 foram menos robustas em

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CCXXXIII

comparação com aquelas para o DJ103. Os resultados da aplicação dos testes de CSD para o

DJ136 são apresentados a seguir.

Figura D4. Composição entre imagem de radar para

as 04:36 UTC do DJ136 e imagem de satélite

(topodata) utilizada para estimar a distância entre o

ponto mais alto da nuvem e a torre experimental

K34.

Figura D5. Composição entre imagem de radar para as

05:00 UTC do DJ136 e imagem de satélite (topodata)

utilizada para estimar a distância entre o ponto mais

alto da nuvem e a torre experimental K34.