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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA-INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BOTÂNICA ATRIBUTOS FUNCIONAIS DA FLORA ARBÓREA E ARBUSTIVA DE CAMPINA E CAMPINARANA NA AMAZÔNIA CENTRAL LIANE LIMA Manaus, Amazonas Abril, 2015

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA-INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BOTÂNICA

ATRIBUTOS FUNCIONAIS DA FLORA ARBÓREA E ARBUSTIVA DE CAMPINA E

CAMPINARANA NA AMAZÔNIA CENTRAL

LIANE LIMA

Manaus, Amazonas

Abril, 2015

ii

LIANE LIMA

ATRIBUTOS FUNCIONAIS DA FLORA ARBÓREA E ARBUSTIVA DE CAMPINA E

CAMPINARANA NA AMAZÔNIA CENTRAL

Dr. Florian Wittmann

Dissertação apresentada ao Instituto

Nacional de Pesquisas da Amazônia

como parte dos requisitos para

obtenção do título de Mestre em

Botânica.

Manaus, Amazonas

Abril, 2015

iii

Relação Banca Julgadora

Qualificação:

Henrique Eduardo M. Nascimento

Juliana Schietti de Almeida

Michael John Gilbert Hopkins

Defesa:

Christopher Jon Baraloto

Jochen Schöngart

Juliana Schietti de Almeida

iv

L732 Lima, Liane

Atributos funcionais da flora arbórea e arbustiva de campina e

campinarana na Amazônia Central / Liane Lima. --- Manaus: [s.n.],

2015.

56 f. : il.

Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015.

Orientador : Florian Karl Wittmann.

Área de concentração: Botânica.

1. Composição florística. 2. Campina. 3. Campinarana. I.

Título.

CDD 581.4

Sinopse:

Estudou-se os efeitos dos diferentes valores de atributos funcionais da flora arbórea e

arbustiva de campina e campinarana do Parque Nacional do Jaú e da Reserva de

Desenvolvimento Sustentável do Uatumã.

Palavras-chave: Atributos funcionais, composição florística, campina, campinarana.

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, minha irmã e meus avós por todo amor e por sempre me

apoiarem em todas as minhas escolhas. Agradeço também ao meu orientador, Florian

Wittmann, pela amizade e compreensão, que sempre disposto a ajudar, contribuiu muito para

minha formação.

A todos os participantes do grupo MAUA (“Ecologia, Monitoramente e Uso

Sustentável de Áreas Úmidas” - projeto INPA/Max Planck): pesquisadores, técnicos,

auxiliares de limpeza, alunos dos programas de pós-graduação e demais bolsitas do projeto, a

vocês o meu eterno carinho e gratidão.

Aos amigos queridos que ajudaram nos trabalhos de campo e na construção desse

projeto: Adriano Quaresma, Bianca Weiss, Boris Villa, Cyro Assahira, Deborah Castro, Ethan

Householder, Layon Demarchi, Rafael Assis, Thaiane Souza, Yuri Feitosa.

A minha família manauara: Maria Antonieta Dias, Mariana Dettmer e Thaiane Souza,

gratidão pela amizade e por tornarem a minha vida em Manaus muito mais feliz, sempre

amenizando a saudade de casa.

Ao Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); ao Programa de pós-

graduação em Botânica, seus coordenadores e secretárias; à Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudos; ao Projeto

INPA/Max-Planck e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM),

pelo financiamento e suporte logístico para as atividades de campo e de laboratório; ao

Herbário do INPA, a todos os funcionários, em especial ao Sr. José Ramos.

Gratidão a todos.

vi

RESUMO

As fito-fisionomias encontradas sobre areia branca (podzol) na Amazônia Central ocorrem de

forma fragmentada ao longo do bioma e são nomeadas de campinas e campinaranas. Elas

formam um conjunto único de variações fisionômicas sobre componentes edáficos pobres em

nutrientes minerais e, em alguns casos, em condições de saturação hídrica. Para

compreendermos a variação fisionômica das campinas para as campinaranas é necessário

avaliar os atributos funcionais que respondem sobre variações ambientais, podendo ser eles

tanto morfológicos (p.ex.: densidade específica da madeira, área foliar específica, DAP-

diâmetro na altura do peito, altura) como fisiológicos (p.ex.: concentração de micronutrientes

nas folhas). Este presente trabalho teve os seguintes objetivos: (i) compreender o papel dos

fatores edáficos na distribuição dos valores dos atributos funcionais dos indivíduos, da flora

arbórea e arbustiva, em diferentes fisionomias de campinas e campinaranas na Amazônia

Central, (ii) determinar se há um padrão funcional entre as campinas e campinaranas de duas

diferentes localidades, independente de suas localizações geográficas e das composições

florísticas. Dois sítios amostrais foram selecionados para este estudo, o Parque Nacional do

Jaú (PARNA Jaú) e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RDS Uatumã),

ambos localizados na Amazônia Central. Análise de Componentes Principais (ACP) foi

aplicada e através dela foi possível observar a formação de dois grupos distintos, separando a

distribuição dos atributos funcionais dos indivíduos da campina dos indivíduos da

campinarana, em ambas as áreas de estudo, para a maioria dos atributos avaliados. Porém a

variação fisionômica não foi explicada pelos componentes edáficos da vegetação, pois estes

não variaram de acordo com as fisionomias. Sendo assim, o fator saturação hídrica do solo

arenoso, que é diferente nas campinas em relação às campinaranas, corresponde à provável

explicação da variação estrutural da vegetação entre essas duas fito-fisionomias.

vii

ABSTRACT

The phyto-physiognomies which are found on white sand (podzol) in the Central Amazon

occurr in a fragmented way along the biome and are named “campinas” and “campinaranas”.

They comprehend a unique set of physiognomic variations on edaphic components with low

contents of mineral nutrients and, in some cases, subjected to water saturation. To understand

the physiognomic variation of the “campinas” to the “campinaranas” is necessary to evaluate

the functional attributes that respond to environmental changes, being they either

morphological (eg., specific wood density, specific leaf area, DBH – diameter at breast

height, height) as physiological (eg., concentration of micronutrients in the leaves). This

present study had the following objectives: (i) understand the role the edaphic factors in the

distribution of values of the individual functional attributes of the tree flora and shrubs at

different physiognomies of “campinas” and campinaranas in Central Amazonia, (ii) determine

whether there is a functional pattern between the “campinas” and “campinaranas” from two

different localities, regardless of their geographical location and floral composition. Two sites

were selected for this study, the Jaú National Park (PARNA Jaú) and the Sustainable

Development Reserve Uatumã (RDS Uatumã), both located in the Central Amazon. Principal

Component Analysis (PCA) was applied and through it was possible to observe the formation

of two distinct groups, separating the distribution of functional attributes of the individuals

from the “campinas” from those of the “campinarana” in both study areas, for most of the

evaluated attributes. However, the physiognomic variation was not explained by edaphic

components of vegetation, since they did not vary between the different phyto-

physiognomies. Therefore, the factor water saturation of the sandy soils, which is different in

the “campinas” when compared to “campinaranas”, corresponds to the possible explanation of

the vegetational structural variation between these two phyto-physiognomies.

viii

Sumário

1. Introdução Geral ..................................................................................................................... 9

2. Objetivos ............................................................................................................................... 13

Capítulo 1

Atributos funcionais de flora arbórea e arbustiva de campina e campinarana na Amazônia

Central. ................................................................................................................................... 155

3. Conclusões ............................................................................................................................ 50

4. ANEXOS .............................................................................................................................. 51

5. Referências bibliográficas .................................................................................................... 52

9

1. Introdução Geral

1.1. Campinas e Campinaranas

As classes de vegetação que ocorrem ao longo de um gradiente edáfico sobre

areia branca (podzol), nomeadas de campina e campinarana, ocupam a depressão central

da região interfluvial Amazônica (Nascimento et al. 1997) de forma fragmentada, em

padrão insular, cercadas por uma matriz de floresta de terra-firme e totalizando mais de

480.000 km2

(Junk et al. 2011). Estas formações são divididas em três subgrupos cujas

estruturas variam e recebem as seguintes denominações: florestada, arborizada e

gramíneo-lenhosa, esta última também conhecida como campina (Veloso et al. 1991).

A variação fisionômica da vegetação em questão está diretamente relacionada à

variação sazonal na altura do lençol freático e ao tempo de alagamento anual (Daly &

Mitchell 2000), assim como à seca fisiológica (diminuição da altura do lençol freático

no período de seca), tais fatores ambientais favorecem ou limitam a dominância de

espécies, bem como seu porte e densidade de indivíduos (Daly & Mitchell 2000;

Silveira 2003; Vicentini 2004). A inundação é um fator limitante sobre crescimento,

sobrevivência e reprodução de ecossistemas inundáveis (Parolin & Wittmann 2010),

assim indivíduos localizados nas áreas sujeitas a longos períodos de inundação tem seu

crescimento limitado, quando comparado com indivíduos sujeitos a menores períodos

de inundação (Wittmann et al. 2002). Segundo Ferreira (1997), o lençol freático nos

habitats de campina está mais próximo da superfície do solo do que nos habitats de

campinarana, onde a água subjacente não é capaz de atingir a rizosfera, nem mesmo nos

períodos de maior nível de água.

A natureza oligotrófica do solo arenoso sob a vegetação deve-se principalmente

à sua origem, que inclui diversas causas, como o intemperismo local do material de

origem pobre, como arenitos, quartzitos e granitos; deposição aluvial de areia

proveniente dos escudos da Guiana ou da porção central do Brasil; e a podzolização,

devido à flutuação do lençol freático, que carrega a matéria orgânica e partículas

argilosas dos perfis superiores do solo (Anderson 1981). A principal diferença entre o

solo de campina e de campinarana é a presença de uma camada espessa de serrapilheira

e uma fina rede de raízes de 15 a 20 cm de espessura, presente nas campinaranas

(Nascimento et al. 1997; Worbes 1997; Silveira 2003). De modo geral o solo é

10

quimicamente ácido (pH 4.5 a 5.6), empobrecido nutricionalmente e com baixa soma de

bases (inferior a 0.5 cmolcdm-3

) (Mendonça et al. 2014).

Dentro dos subgrupos de variação estrutural da vegetação, classificam-se as

fisionomias abertas como campinas, com presença de herbáceas e arbustos isolados

variando entre 1 a 5 metros de altura, com alguns indivíduos atingindo 9 metros

(Ferreira 2009). Durante o período seco, quando as campinas estão sujeitas à escassez

hídrica, devido a rápida percolação da água pela areia branca, a presença de biomassa

seca e de herbáceas altamente inflamáveis torna esse habitat fortemente suscetível a

incêndios (Prance & Shubart 1978). Assim, muitas espécies que constituem esta

comunidade apresentam adaptações ao fogo, como folhas coriáceas, lenho duro,

cutículas espessas, tricomas bem desenvolvidos, estômatos crípticos (Mendonça 2011) e

colmo coberto por folhas velhas que protegem os meristemas (Vicentini 2004). As

campinaranas correspondem às fisionomias florestais, caracterizadas por apresentarem

sub-bosque relativamente aberto e escassez de cipós e lianas, com indivíduos arbóreos

podendo atingir altura de até 30 metros (Anderson 1981).

Campinas e campinaranas possuem espécies com alto potencial de dispersão a

longas distâncias e uma diversidade de tipos de mecanismos dispersores (vento, água),

característica de biotas isoladas sobre áreas empobrecidas em nutrientes minerais

(Macedo & Prance 1978), também como taxas lentas de crescimento e eficientes

mecanismos de defesa, divergindo em atributos que conferem defesa contra aqueles que

conferem crescimento (Fine et al. 2006). Muitas espécies possuem características que

permitem a sobrevivência sobre o solo arenoso oligotrófico, como por exemplo folhas

coriáceas, lenho duro, cutículas espessas, tricomas bem desenvolvidos, estômatos

crípticos, porém poucas possuem atributos que promovam seu estabelecimento em

níveis altos sobre uma área, tornando-as dominantes (Fine et al. 2004, 2006).

Dessa forma, verificamos que nas campinas há uma baixa diversidade florística

com predominância de espécies generalistas de áreas abertas, geralmente de ampla

distribuição como Landenbergia amazonensis, Ouratea spruceana, Clusia nemorosa,

Clusia insignis, Chanouchiton loranthoides e Platycarpum englei, espécies descritas

com endêmicas (Ducke & Black 1954), porém encontradas em demais trabalhos na

Amazônia Central (e.g. Anderson et al. 1975; Ferreira 1997; Silveira 2003; Vicentini

2004).

Formando um conjunto único de fisionomias adaptadas a recursos de pobreza

nutricional e ao regime de sazonalidade hídrico do solo, as campinas e campinaranas

11

representam um dos ambientes mais frágeis e vulneráveis ás atividades antrópicas

(Silveira 2003). Atividades extrativistas e agrícolas são contraproducentes

economicamente nas campinas e campinaranas, uma vez que a retirada da vegetação

local provoca a rápida lixiviação do solo arenoso, degradando sua fertilidade e o

reestabelecimento da flora culmina em gastos de recursos não recuperáveis pelas

atividades em questão (Fine et al. 2010).

Estas ilhas edaficamente secas são de extrema importância como refúgios

periódicos de organismos terrestres, contribuindo decisivamente para a manutenção dos

ciclos de biodiversidade, sendo assim consideradas como parte indispensável dos

grandes sistemas de áreas úmidas na região Amazônica (Junk 2013).

1.2. Diversidade Funcional

Para melhor compreender a variação fisionômica das campinas para as

campinaranas, é preciso avaliar atributos funcionais que respondam as variações

ambientais. Os atributos funcionais são quaisquer características que alterem a aptidão

do indivíduo em relação às condições ambientais e mostram como os indivíduos

utilizam os recursos disponíveis (Wright et al. 2004), exemplos de atributos funcionais

seriam a densidade específica da madeira, área foliar específica (AFE) e concentração

de micronutrientes nas folhas. Em geral, o investimento em densidade específica da

madeira é refletido nas taxas de crescimento, sendo uma importante adaptação em

ambientes de pobreza nutricional, onde há pouca energia disponível para eventual

rebrota ou substituição de tecido danificado (Worbes et al. 1992). As espécies

permanentemente ou temporariamente situadas em ambientes ricos em nutrientes

tendem a possuir uma maior área foliar específica, atributo relacionado positivamente a

taxa de crescimento relativo das espécies, quando comparada com espécies que ocupam

ambientes com recursos limitados (Perez-Hanguindeguy 2013). Já a concentração de

micronutrientes nas folhas, necessários em quantidades vestigiais, respondem de forma

abrupta quando não estão disponíveis em quantidades adequadas para a planta, afetando

sua fisiologia e refletindo no seu rendimento celular (Taiwo et al. 2001; Adediran et al.

2004).

Valores compartilhados de atributos funcionais em um determinado local

refletem em tolerâncias ecológicas compartilhadas, diminuindo a capacidade de

propagação de um atributo ao longo do gradiente estrutural da vegetação (Cornwell et

al. 2006). Pode ser pensado como a redução da gama de estratégias bem sucedidas entre

12

as espécies que coexistem (van der Valk 1981; Keddy 1992; Weiher et al. 1998; Weiher

& Keddy 1999), limitando o intervalo que um atributo pode ocupar no ambiente (van

der Valk 1981; Keddy 1992).

Distribuídos ao longo do gradiente estrutural da vegetação, que reflete um

gradiente subjacente de produtividade, fundamentado na mudança da fisionomia

florestal para arbustiva, ocorre uma forte troca evolutiva entre a necessidade de tolerar

ambientes improdutivos e a necessidade de crescer rapidamente em ambientes

produtivos (Grime 2006). Essa capacidade de dominar instalações produtivas ou alocar

recursos de alta qualidade contradiz-se com a capacidade de persistir com recursos de

baixa qualidade ou de tolerar condições adversas (McGill 2006). Isso corresponde a

uma moeda de adequação, que é quando uma mudança benéfica de uma característica

está associada a uma mudança prejudicial em outra (trade-offs) (Stearns 1989). A

diversidade funcional dos atributos e a convergência dos filtros ambientais podem

operar simultaneamente no recrutamento de um conjunto de espécies, impondo efeitos

sobre a similaridade de valores de atributos, exibidos pelas espécies coexistentes (Grime

2006).

O funcionamento do ecossistema é o resultado final da operação de vários filtros

ambientais em uma escala hierárquica. Esses filtros selecionam indivíduos com

respostas adequadas, resultando em assembleias com composições diversas de

características e limitando sucessivamente quais as espécies e as características que

persistem em um dado local (Keddy 1992; Díaz et al. 1999). Mudanças na composição

de espécies, resultante de mudanças ambientais, resultam em modificações no

funcionamento do ecossistema, através de mudanças na representação dos atributos das

espécies (Lavorel & Garnier 2002).

Medir diversidade funcional corresponde a medir a diversidade dos atributos

funcionais, componentes fenotípicos que influenciam nos processos ecossistêmicos da

vegetação e que podem inferir sobre predições das estratégias que os indivíduos tem

dentro de uma comunidade e ecossistema (Grime 2006). Com o intuito de descrever um

padrão de similaridade funcional entre os indivíduos que ocupam uma determinada

fisionomia, o presente trabalho teve os seguintes questionamentos:

(1) Os fatores edáficos são responsáveis pela variação fisionômica entre as

campinas e campinaranas? (2) Como é dada a distribuição dos valores dos atributos

funcionais de densidade específica da madeira, área foliar específica e concentração de

micronutrientes nas folhas, ao longo das campinas a campinaranas?

13

2. Objetivos

2.1. Objetivo geral

O trabalho tem como objetivo compreender o papel dos fatores edáficos na

distribuição dos valores dos atributos funcionais de indivíduos de flora arbórea e arbustiva nas

diferentes fisionomias de campina e campinarana na Amazônia Centra, para determinar se há

um padrão funcional em duas áreas distintas, Parque Nacional do Jaú (PARNA Jaú) e Reserva

de Desenvolvimento Sustentável Uatumã (RDS Uatumã).

2.2. Objetivos específicos

(1) Determinar se há similaridade funcional entre os indivíduos dentro da campina e

da campinarana, independente da localização geográfica e das diferenças na composição

florística em cada área de estudo.

(2) Determinar se diferenças nos valores dos atributos funcionais entre os indivíduos

na campina e campinarana, nas duas áreas de estudo, é refletida nos fatores edáficos,

restringindo a capacidade de propagação de um atributo funcional a um habitat específico.

(3) Determinar se ocorre uma variação abrupta entre os valores dos atributos

funcionais de densidade específica da madeira, área foliar específica e concentração de

micronutrientes nas folhas em cada fisionomia, nas duas áreas de estudo, justificando a

variação fisionômica da vegetação.

14

Capítulo 1

Lima, L.; Wittmann, F.; Householder, J.E.

Atributos funcionais da flora arbórea e arbustiva

de campina e campinarana na Amazônia Central.

Manuscrito formatado para Acta Amazonica.

15

Atributos funcionais da flora arbórea e arbustiva de campina e campinarana na

Amazônia Central.

Liane Lima1

Florian Wittmann2

John Ethan Householder1

1. INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Avenida André Araújo, 2936, Bairro Aleixo,

69067-375, Manaus - AM, Brasil.

2. Instituto Max-Planck de Química, Departamento de Bioquímica, Hahn-Meitner Weg 1, 55128, Mainz -

Alemanha.

16

Resumo

As fito-fisionomias alagáveis na Amazônia Central, nomeadas campinas e

campinaranas, ocupam de forma fragmentada em padrão insular uma área de

aproximadamente 480.000 km². Constituída sobre um solo de areia branca, ácido, com

elevado oligotrofismo e em alguns casos, sujeita a flutuações periódicas do lençol

freático, a variação fisionômica da vegetação é dada pelos distintos atributos funcionais,

que determinam como um indivíduo utiliza os recursos disponíveis no ambiente, e de

qual forma é dada a sua propagação em um local. Respondendo sobre a aptidão do

indivíduo em relação ao meio, densidade específica da madeira, área foliar específica e

concentração de micronutrientes nas folhas foram medidas em indivíduos da campina e

campinarana, no Parque Nacional do Jaú e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável

do Uatumã. O trabalho tem como intuito avaliar se ocorre similaridade funcional entre

indivíduos que ocupam uma determinada fisionomia, e se ela é refletida nos

componentes edáficos, restringindo a capacidade de propagação de um atributo a um

habitat específico, independente da localização geográfica e da composição florística da

vegetação. Pela Análise de Componentes Principais foi possível observar a formação de

dois grupos distintos, separando a distribuição dos atributos funcionais dos indivíduos

da campina dos indivíduos da campinarana, em ambas as áreas de estudo. Porém a

variação fisionômica não foi explicada pelos componentes edáficos da vegetação, que

não variaram de acordo com as fisionomias. Sendo assim, a saturação hídrico do solo

arenoso, diferenciada pelas camadas de solo arejada acima do lençol freático, tendo a

água subjacente ascendo nas campinas e uma espessa camada de serrapilheira nas

campinaranas, corresponde a provável explicação da variação estrutural da vegetação.

Palavras-chaves: Campina, campinarana, atributos funcionais, composição florística.

17

Introdução

As fito-fisionomias adaptadas a recursos de pobreza nutricional, que ocorrem ao

longo do gradiente edáfico sobre areia branca (podzol), são nomeadas de campinas e

campinaranas. Ocupam a depressão central da região interfluvial Amazônica

(Nascimento et al. 1997) e totalizam uma área de 480.000 km2

(Junk et al. 2011). Tais

fisionomias ocorrem de forma fragmentada em grandes áreas ao longo do alto Rio

Negro, e também na Amazônia Central (Junk et al. 2011), e estão dispostas em um

padrão insular, cercada por uma matriz de floresta de terra-firme.

A vegetação, em geral, é caracterizada por elevada esclerofilia, baixa

diversidade, em relação às florestas de terra-firme (Fine et al. 2010; Stropp et al. 2011),

e alto grau de endemismo de espécies, gêneros e famílias (Silveira 2003; Vicentini

2004). O solo é ácido com elevado oligotrofismo (Luizão et al. 2007; Mendonça 2011)

e, em alguns casos, a vegetação pode ser superficialmente inundada, ou pela elevação

das águas subterrâneas, ou pela saturação do solo em períodos chuvosos (Bleackley &

Khan 1963; Franco & Dezzeo 1994; Adeney 2009). Esses fatores ambientais estão

relacionados com a variação fisionômica da vegetação (Daly & Mitchell 2000), podem

favorecer ou limitar a dominância de espécies, bem como seu porte e densidade nessas

áreas úmidas (Daly & Mitchell 2000; Silveira 2003; Vicentini 2004).

Diante da complexidade da variação gradual dessa vegetação, para melhor

compreender essa variação fisionômica, é importante avaliar atributos que respondam as

variações ambientais. Os atributos funcionais são quaisquer características que alterem a

aptidão do indivíduo em relação às condições ambientais e mostram como os indivíduos

utilizam os recursos disponíveis (Wright et al. 2004). Valores compartilhados de

atributos funcionais em um determinado local refletem em tolerâncias ecológicas

compartilhadas, reduzindo a sua propagação ao longo do gradiente estrutural da

vegetação (Cornwell et al. 2006).

Atributos funcionais morfológicos, como densidade específica da madeira e área

foliar específica, e atributos funcionais fisiológicos, como concentração de

micronutrientes nas folhas, respondem a aspectos ambientais através da variação dos

seus valores de forma abrupta ou gradual, diferenciando aspectos morfológicos e

fisiológicos dos indivíduos, diante da variação entre as fisionomias, reduzindo a gama

de estratégias bem sucedidas entre indivíduos que coexistem (van der Valk 1981, Keddy

18

1992, Weiher et al. 1998, Weiher & Keddy 1999), limitando o intervalo que um atributo

pode ocupar no habitat (van der Valk 1981; Keddy 1992).

Formando um conjunto único de fito-fisionomias adaptadas à pobreza

nutricional e em alguns casos, ao regime de sazonalidade hídrico nos solos, as campinas

e campinaranas representam um dos ambientes mais frágeis e vulneráveis às atividades

antrópicas (Silveira 2003; Ferreira 2009). O trabalho tem como objetivo determinar se

há similaridade funcional entre as fisionomias de campina e campinarana no Parque

Nacional do Jaú (PARNA Jaú) e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã

(RDS Uatumã) e avaliar se as variações dos valores dos atributos são refletidas nos

componentes edáficos, podendo assim, restringir a capacidade de propagação de um

atributo a um habitat específico, independente da sua localização geográfica e

composição florística.

Material e Métodos

Área de estudo

As duas áreas de estudo foram o Parque Nacional do Jaú (PARNA Jaú) e a

Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDS Uatumã), ambas banhadas

por tributários do rio Negro: rio Jaú e o rio Uatumã, ocupando uma área de 22.720 km²

e 4.244 km², respectivamente (Figura 1). O clima nas regiões é tropical úmido (Af –

classificação Köpper-Geiger) com temperatura média anual de 26.7° C e 28° C e

precipitação média anual de 2400 mm e 2376 mm, em cada área, respectivamente. No

PARNA Jaú o período de seca ocorre nos meses de junho a outubro, e o período de

chuva nos meses de dezembro a maio. Na RDS Uatumã o período de seca ocorre nos

meses se julho a outubro, e o período de chuva nos meses de fevereiro a abril.

Desenho amostral

O levantamento florístico para cada área de estudo, no PARNA Jaú nos meses

de outubro e novembro de 2013, e na RDS Uatumã nos meses de julho e agosto de

2014, foi feito através de dez transectos de 2 x 50 metros (0.01 ha) na campina e dez na

campinarana.

Variáveis ambientais

Foram coletadas três amostras de solo nas campinas e três amostras nas

campinaranas, nas duas áreas de estudo, ao longo dos transectos (0.01ha). As doze

amostras de solo foram coletadas entre 0 a 30 cm de profundidade, 200 metros entre si e

19

posteriormente, encaminhadas para o Laboratório de Análises de Solos e Plantas

(LASP) da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) - Amazônia

Ocidental, para análise física (Areia Total, Silte, Argila, Classificação Textural) e

químicas (pH, P, K+, Na

+, Ca

2+, Mg

2+, Al

3+, soma de bases trocáveis (SB), capacidade

de troca catiônica (T), índice de saturação de bases (V), índice de saturação de alumínio

(m), Fe, Zn+, Mn

2+, Cu).

As campinas e campinaranas não tiveram a profundidade do lençol freático

medida, mas foi observado acúmulo de água com alguns centímetros de altura acima do

solo nas áreas do PARNA Jaú (fevereiro 2014) e na RDS Uatumã (abril 2014)

(observação pessoal).

Levantamento florístico

Todos os indivíduos com DAP > 0.5 cm (diâmetro na altura do peito) foram

inventariados nas campina e campinaranas, e cada indivíduo foi classificado segundo

DAP e altura: quando DAP < 10 cm e/ou não atingindo a altura do dossel, caracteriza-se

o indivíduo como arbustivo, quando DAP > 10 cm e/ou atingindo a altura do dossel,

caracteriza-se o indivíduo como arbóreo. Das espécies mais abundantes do

levantamento foram escolhidos um indivíduo de cada espécie, aleatoriamente dentro dos

transectos, e coletados dados de atributos funcionais morfológicos (densidade específica

da madeira e área foliar específica) e atributos funcionais fisiológicos (concentração de

micronutrientes nas folhas – Cu, Fe, Mn2+

, Zn+), altura e DAP. Os indivíduos do

levantamento foram identificados ou morfotipados em campo, com o auxílio de um

parataxônomo, e confirmados posteriormente, nível de espécie ou família, no Herbário

do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Manaus – AM, Brasil) e os

espécimes férteis do levantamento florístico foram depositadas no Herbário do INPA.

Atributos funcionais

Com o auxílio de um scanner e do software Image J foi medida a área foliar de

10 folhas adultas, novas, expostas ao sol e totalmente estendidas, para cada indivíduo

escolhido de forma aleatória. As folhas foram armazenadas em sacos de papel e

secadas a 70°C por 72 horas, no laboratório de Ecofisiologia de Plantas do projeto

INPA/Max Planck, (Manaus - AM, Brasil), e pesadas após esse período para

determinação do peso seco. A razão área e peso seco determinaram a área foliar

específica (AFE) de cada indivíduo (Perez-Harguindeguy 2013). As amostras de

20

madeira (diâmetro interno de 5.15 mm, Haglöf Inc., Suécia) de 5 cm de comprimento

foram retiradas de diferentes secções da madeira, nas posições correspondentes ao DAP,

para cálculo da densidade específica da madeira. As amostras foram mantidas em

condições de umidade constante e medidas através do método de deslocamento de água,

permitindo uma medição confiável para amostras de forma irregular. No caso de

indivíduos arbustivos que não possuíam DAP suficiente para serem brocados, as

amostras retiradas correspondem a um corte transversal no caule central do indivíduo,

tendo a casca retirada. Com o auxílio de uma agulha fina e uma balança eletrônica de

precisão 0.01g, a amostra foi completamente submersa em um recipiente com água e o

peso da água deslocada corresponde ao volume da amostra (Chave et al. 2005). A

densidade da cada amostra foi calculada, após 72 horas de secagem em estufa (Heraeus

e Memmert) a temperatura de 105°C, como a razão entre o peso seco e o volume úmido

(Fearnside 1997; Nogueira et al. 2005). Também foram coletadas folhas para análise da

concentração de micronutrientes (Cu, Fe, Mn2+

, Zn+), realizados no Laboratório de

Análises de Solos e Plantas (LASP) da Embrapa Amazônia Ocidental.

Análise dos dados

As doze amostras de solo foram ordenadas segundo as 17 variáveis físico-

químicas analisadas pela EMBRAPA, pela Análise de Componentes Principais (ACP)

para caracterização máxima da variação do conjunto de dados, com o intuito de

descrever as duas áreas de estudo segundo suas fisionomias (campina e campinarana).

As distâncias florísticas entre os transectos foram analisados através do índice de

similaridade Bray-Curtis, indicando a probabilidade de amostrar ao acaso um táxon em

comum entre as duas áreas, na campina e na campinarana, comparando a fisionomia das

duas áreas com base na mínima abundância de cada espécie (Legendre & Legendre

1998). O índice varia de 0, quando não há coincidência entre as espécies / morfotipos, a

1, quando há total coincidência (Magurran 2004). Para os dados de atributos funcionais

morfológicos (DAP, altura, AFE, densidade específica da madeira) foi realizada uma

ACP para ordenação das quatro variáveis analisadas, posteriormente ANOVA (Análise

de Variância) em cada uma das variáveis para indicar diferenças significativas entre os

habitats de campina e campinarana (arbustivo e arbóreo). Para os dados de atributos

funcionais fisiológicos (concentração de micronutrientes nas folhas: Cu, Fe, Mn2+

, Zn+),

foi feita ANOVA para cada uma das quatro variáveis analisadas. Posteriormente esses

21

dados amostrados foram plotados em gráficos de dispersão para visualização das

diferenças entre as campinas e campinaranas (arbustivo e arbóreo). Os dados foram

analisados no programa R (The R Project for Statistical Computing).

Resultados

Composição do solo

A Análise de Componentes Principais (ACP) em seus dois primeiros eixos

sumarizaram as 17 variáveis físico-químicas do solo nas duas fisionomias, do PARNA

Jaú e da RDS Uatumã, e explicam, respectivamente, 63% e 31% da variação relativa

aos componentes nas duas áreas. As variáveis químicas e físicas do solo das duas áreas

são descritas nas Tabelas 6 e 7, onde é possível observar maiores valores de K

(potássio) e Na (sódio) na campina no PARNA Jaú, e Fe (ferro) e argila na campinarana

na RDS Uatumã, sendo esses valores os responsáveis pelos pontos com valores atípicos

na ACP (Figura 2). É possível observar na Figura 2 a formação de dois grupos distintos,

separando os pontos de coleta do PARNA Jaú da RDS Uatumã, porém não é obervado a

formação de grupos distintos segundo as fisionomias de campina e campinarana, nas

duas áreas.

Composição florística

Um total de 2358 indivíduos, com DAP > 0.5 cm, foram levantados nos 20

transectos de 50 x 2 metros, na campina e campinarana no PARNA Jaú. A campina

apresentou 836 indivíduos e a campinarana 1522 indivíduos. No levantamento

obtivemos 63 espécies ou morfotipos de 33 famílias botânicas. As dez famílias mais

abundantes correspondem a 60.09% dos indivíduos levantados (Tabela 1). As dez

espécies mais abundantes da área correspondem a 55.79% dos indivíduos do

levantamento (Tabela 2). Já na RDS Uatumã o total de indivíduos foi de 3016 (DAP >

0.5 cm), nas duas fisionomias, sendo 1779 indivíduos da campina e 1237 indivíduos da

campinarana. No levantamento obtivemos 73 espécies ou morfotipos de 31 famílias

botânicas. As dez famílias mais abundantes na área correspondem a 79.52% dos

indivíduos do levantamento (Tabela 1). As dez espécies mais abundantes correspondem

a 60.48% dos indivíduos do levantamento (Tabela 2).

A similaridade florística entre a campina e entre a campinarana, das duas áreas,

pode ser observada na Tabela 3. Das 10 famílias mais abundantes no PARNA Jaú,

somente 4 se encontram entre as 10 famílias mais abundantes na RDS Uatumã. As sete

22

espécies ou gêneros semelhantes no levantamento na campina correspondem a 38.04%

dos indivíduos no PARNA Jaú e a 49.52% dos indivíduos na RDS Uatumã (Tabela 4).

As dez espécies ou gêneros semelhantes no levantamento na campinarana correspondem

a 30.65% dos indivíduos no PARNA Jaú e a 11.48% dos indivíduos na RDS Uatumã

(Tabela 5).

Diversidade funcional

Um total de 118 indivíduos foram escolhidos ao acaso para coleta de atributos

funcionais dominantes, sendo esses indivíduos representados no PARNA Jaú por 43

espécies ou morfotipos de 30 famílias botânicas, essas espécies correspondendo a

86.05% dos indivíduos no levantamento da área, e na RDS Uatumã por 26 espécies ou

morfotipos de 15 famílias botânicas, essas espécies correspondendo a 80.24% dos

indivíduos levantados na área. Os indivíduos selecionados para coleta de atributos

funcionais na campina, do PARNA Jaú e da RDS Uatumã, são representados por 31

espécies ou morfotipos de 22 famílias botânicas, e na campinarana, também em ambas

as áreas, são representados por 43 espécies ou morfotipos de 24 famílias botânicas,

diferenciados entre indivíduos arbóreos e arbustivos (Tabela 8).

Os atributos funcionais, medidos em 118 indivíduos, segundo os parâmetros

morfológicos da vegetação (DAP, altura, AFE, densidade específica da madeira), pela

ANOVA apresentaram diferenças significativas nos seus valores de DAP, altura e AFE,

podendo assim agrupar os indivíduos segundo a sua distribuição entre as fisionomias de

campina e campinarana (arbórea e arbustiva), em ambas as áreas de estudo. Somente os

valores de densidade específica da madeira não apresentaram diferenças significativas

entre as fisionomias, não podendo agrupar os indivíduos das duas áreas (Tabela 9). O

agrupamento pode ser visualizado pela ACP em seus dois primeiros eixos, e sumarizam

as quatro variáveis morfológicas, explicando, respectivamente, 47% e 27% da variação

(Figura 3).

Os atributos funcionais, medidos em 64 indivíduos, segundo os parâmetros

fisiológicos da vegetação (concentração de micronutrientes nas folhas: Cu, Fe, Mn2+

,

Zn+), pela ANOVA também apresentaram diferenças significativas nos valores de

concentração de Cu, Fe e Mn2+

, permitindo o agrupamento dos indivíduos segundo a

sua distribuição entre as fisionomias, nas duas áreas de estudo. Somente os valores de

concentração de Zn+ não apresentaram diferenças significativas entre as fisionomias,

23

não podendo agrupar os indivíduos nas duas áreas (Tabela 9 e Figura 4). A ACP em

seus dois primeiros eixos sumarizaram as quatro variáveis fisiológicas, explicando,

respectivamente, 38% e 28% da variação.

Discussão

Composição do solo

Nas análises químicas do solo é possível caracterizá-lo como pobre

nutricionalmente e ácido, em ambas as áreas, pois a concentração hidrogeniônica das

fisionomias determina sua nutrição e distribuição, e também por apresentarem soma de

bases inferior a 1 cmol c /kg, pobreza na concentração de micronutrientes e capacidade

de reter cátions restrita à matéria orgânica pois são solos essencialmente arenosos

(Bravard & Righi 1990; Zech et al. 1997; Oliveira 2011).

O solo é descrito como importante na estruturação fisionômica de vegetação

inundável sobre areia branca (Damasco et al. 2013) , é um dos fatores determinantes dos

contrastes entre a vegetação de campinarana e as floretas de terra-firme circundantes

(Silveira 2003). Porém a variação das espécies ao longo do gradiente entre as

fisionomias se deu de acordo com as adaptações morfológicas e fisiológicas dos

indivíduos, permitindo que elas se desenvolvam e obtenham vantagens competitivas

sobre determinados fatores ambientais (Kubitzki 1987; Daly & Mitchell 2000; Silveira

2003).

As diferenças entre campina e campinarana já foram atribuídas aos teores de P e

K no solo (Vale 2011), porém nesse estudo a variação de K e P não se deu ao longo do

gradiente edáfico, mas sim entre os ambientes do PARNA Jaú e RDS Uatumã (Tabela

6).

Composição florística

Segundo Ferreira (2009), estudando campinaranas na Amazônia Central, as

famílias com maior dominância relativa são Humiriaceae, Rubiaceae, Myrtaceae,

Malpighiaceae e Clusiaceae, respectivamente, e no presente trabalho foram encontrada

com maior dominância relativa as famílias Malvaceae, Moraceae, Malpighiaceae,

Chrysobalanaceae e Myrtaceae no PARNA Jaú e Melastomataceae, Sapotaceae,

Chrysobalanaceae, Rubiaceae e Asteraceae na RDS Uatumã (Tabela 1) . Dentro do

levantamento ao longo da vegetação sobre areia branca, ocorre uma sobreposição de

espécies e esse padrão pode ser observado em áreas adjacentes ao longo do habitat (Fine

24

et al. 2010). Essa predominância de espécies é possivelmente o fator determinante da

baixa diversidade de espécies dentro dos levantamentos das duas áreas (Tabela 2). A

areia branca oferece um ambiente menos favorável para plantas não adaptadas à

escassez de nutrientes minerais e variação sazonal entre inundação e drenagem

excessiva do solo (Schubart 1975), e o número de espécies capazes de suportar os

fatores limitantes nestes substratos, é consideravelmente menor do que nos outros tipos

de solos Amazônicos, podendo ser muitas delas endêmicas à este tipo de solo (Vicentini

2004). Essas pequenas ilhas de areia branca dependem das espécies com potencial de

dispersão para longas distâncias, como pelo vento ou por pássaros, devida a sua

natureza isolada (Macedo 1975).

Devido às condições ambientais restritas nas campinas, há um pequeno número

de famílias registradas no levantamento, permitindo que cada família ganhe maior

dominância. O mesmo padrão é observado na campinarana nas duas áreas, porém ocorre

uma maior abundância de espécies nessas fisionomias (Tabela 10). Nas campinas, a

menor abundância de espécies pode ser dada por estarem sujeitas à maior período de

alagamento, devido a influencia da flutuação do lençol freático sobre o solo arenoso,

sem a presença de uma espessa camada de serrapilheira (Nascimento et al. 1997), o que

permite a rápida percolação da água subjacente. Essas poucas espécies que são

tolerantes aos longos períodos de alagamento se tornam dominantes, pois possuem

maior capacidade competitiva, obtendo maior sucesso na colonização dessas áreas

(Targhetta 2012).

Diversidade funcional

Dos atributos funcionais morfológicos (DAP, altura, AFE e densidade específica

da madeira), a elevada densidade específica da madeira (valor médio 0.68) apresentada

pelos indivíduos amostrados, parece indicar uma importante adaptação em ambientes de

pobreza nutricional, onde há pouca energia disponível para eventual rebrota ou

substituição de tecido danificado. O investimento em densidade específica da madeira,

assim como as baixas taxas fotossintéticas nos máximos dos períodos de seca e

alagamento, implicam em baixas taxas de crescimento (Worbes et al. 1992).

Os valores de densidade da madeira não diferiram nas fisionomias de campina e

campinarana. Isso demonstra que eventos extremos, no caso das campinas sujeitas a

maior penetração de luz no sub-bosque denso de arbustos (Anderson 1981) e saturação

25

hídrico do solo arenoso, pela flutuação do lençol freático, não interferem na forma de

alocação de recursos para esse atributo na vegetação, independente do seu habito de

vida (arbórea ou arbusto), como no caso da transição gradativa, ou às vezes abrupta,

entre fisionomias florestada para arbustiva.

A área foliar específica (AFE) é frequentemente usada em análises de

crescimento, por estar muitas vezes relacionada positivamente a taxa de crescimento

relativo das espécies (Perez-Hanguindeguy 2013). Em geral, as espécies

permanentemente ou temporariamente situadas em ambientes ricos em nutrientes,

tendem a possuir uma maior área foliar específica, quando comparada com espécies que

ocupam ambientes com recursos limitados (Perez-Hanguindeguy 2013). Os indivíduos

da campinarana apresentaram maior AFE, constituindo um investimento em folhas

“baratas” (Petchey & Gaston 2006) com curta duração e que cresçam rapidamente, pré-

condicionando recursos e competindo com outros indivíduos no ambiente. Já os

indivíduos da campina apresentaram uma baixa AFE, trocam crescimento rápido por

persistência, investindo em um rápido retorno, mas com segurança nos investimentos.

Essas espécies investem em folhas duras e bem protegidas, de maior penetração de luz

através do dossel, com baixos teores de nutrientes que podem diminuir herbivoria

(Coley 1983) e riscos físicos, levando a uma maior longevidade foliar e maior

persistência da planta (Poorter & Borgers 2006).

A diferença da altura dos indivíduos entre as fisionomias de campina e

campinarana, nas duas áreas de estudo, provavelmente se deve à predominância do

hábito de vida arbustivo na campina, principalmente devido às condições de radiação

extrema e flutuação do lençol freático no qual se desenvolve, fazendo com que haja

maior investimento em folhas em comparação ao caule, resultando em indivíduos de

baixa estatura (Foto 1) (Coomes & Grubb 1996). Isto se deve, em grande parte, ao fato

de espécies que habitam solos oligotróficos alocarem elevado conteúdo de seus recursos

na defesa contra herbivoria, em detrimento de seu crescimento (Fine et al. 2004; Fine et

al. 2006). Também pode ser dada pela diferença na profundidade da camada de solo

arejada acima do lençol freático (Bongers et al. 1985) caracterizado por uma camada de

15 a 20 cm de espessura formada por uma fina rede de raízes (Worbes 1997; Silveira

2003) e pela presença de uma espessa camada de serrapilheira na campinarana (Foto 2)

(Nascimento et al. 1997).

26

Dos atributos funcionais fisiológicos (concentração de micronutrientes nas

folhas: Cu, Fe, Mn2+

, Zn+), os elementos Fe, Mn

2+ e Zn

+ apresentam valores dentro dos

limites necessários dentro da planta e somente o elemento Cu apresenta valores abaixo

dos limites necessários na planta, caracterizando seu estado nutricional como deficiente

(Larcher 2000). Não há diferenciação do elemento Zn entre as campinas e campinaranas

(Tabela 5), isso pode se dever ao fato do elemento constituir um co-fator funcional,

estrutural e regulador de enzimas (Baker et al. 1982;. Clarkson & Hanson, 1980;

Marschner 1995; Tripathy & Mohanty 1980), podendo atuar e diversas funções

fisiológicos nos indivíduos. Já os elementos Cu, Mn+2

e Fe diferem nas campinas e

campinaranas (Tabela 5). Solos caracterizados como ácidos liberam íons Fe e Mn+2

em

excesso (Larcher 2000). Cu desempenha um papel na biossíntese de clorofila,

respiração, metabolismo de proteínas e carboidratos, lignificação das paredes celulares e

balanço hídrico (Clarkson & Hanson 1980; Droppa & Horvath 1990). Mn+2

atua

diretamente na fotossíntese e indiretamente na formação de carboidratos, os cloroplastos

são as organelas mais sensíveis ao micronutriente (Kirkby & Römheld 2007). A

interação de Zn-Fe é antagônica, porque o excesso de Zn ou Fe pode causar redução na

absorção de Fe ou Zn, respectivamente. Este efeito mútuo de Zn e Fe aumenta a

possibilidade da sua deficiência no crescimento das plantas (Kausar et al. 1976). Não

foi encontrada uma relação antagônica entre os micronutrientes, uma vez que o Zn não

apresentou variação significativa entre os habitats.

É comum ocorrer uma transição gradativa, ou às vezes abrupta, entre as

fisionomias de campina, campinarana e floresta de terra firme (Silveira 2003). Estas

transições são caracterizadas pela mudança na composição e estrutura da vegetação e

comumente são determinadas por variações edáficas, como alterações de textura e

fertilidade no solo (Worbes 1997; Silveira 2003; Mendonça 2011; Vale 2011). Porém

no presente trabalho, provavelmente o nível do lençol freático e tempo de alagamento

ocasionado pela elevação do lençol freático influenciando as mudanças nos padrões

florísticos e estruturais da vegetação (e.g. Coomes 1997; Daly & Mitchell 2000; Silveira

2003; Vicentini 2004; Junk et al. 2011).

Conclusão

Através dessa combinação de eventos abióticos é possível observar que uma

diversidade multivariada de atributos difere entre as fisionomias de campina e

27

campinarana, e é reduzida em habitats mais extremos, como a campina, potencialmente

porque a gama de estratégias ecológicas bem sucedidas é reduzido em habitats em

condições severas (maior penetração de luz no sub-bosque, saturação hídrica do solo).

Assim, apesar da estrutura fisionômica da vegetação ser obvia, mesmo retirando as

variações autoexplicativas dos atributos funcionais visualmente aparentes (DAP, altura),

ainda se encontra um padrão estrutural na vegetação (área foliar específica,

concentração de micronutriente nas folhas). Podendo ser devido ao nível do lençol

freático e pelo tempo de alagamento, que poderiam corresponder às mudanças nos

padrões florísticos e estruturais da vegetação, uma vez que as variáveis físico-químicas

do solo, nas duas áreas de estudo, não responderam as variações fisionômicas na

vegetação.

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34

Legenda de figuras e tabelas

Figura 1: Mapa do Estado do Amazonas, em destque as aréas de estudo, o Parque

Nacional do Jaú (PARNA Jaú) e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS

Uatumã).

Figura 2: ACP com os principais eixos das variáveis físico-químicas do solo no PARNA

Jaú e na RDS Uatumã.

Figura 3: ACP com os principais eixos dos atributos funcionais morfológicos (DAP.

Altura, AFE, densidade específica da madeira) entre a campina e campinarana

(arbustivo e arbóreo), em ambas as áreas.

Figura 4: Grágico de dispersão dos atributos funcionais fisiológicos (concentração de

micronutrientes nas folhas: Cu, Fe, Mn+2

, Zn+) entre a campina e campinarana

(arbustivo e arbóreo), em ambas as áreas.

Tabela 1: As dez famílias mais abundantes dentro do levantamento florístico na

campina e campinarana no PARNA Jaú e na RDS Uatumã.

Tabela 2: As dez espécies mais abundantes dentro do levantamento florístico na

campina e campinarana no PARNA Jaú e na RDS Uatumã.

Tabela 3: Índice de Similaridade Bray-Curtis para a composição florística entre as

campinas e campinaranas no PARNA Jaú e na RDS Uatumã.

Tabela 4: As sete espécies ou gêneros semelhantes na campina no PARNA Jaú e na

RDS Uatumã e a sua porcentagem de ocorrência no levantamento florístico.

Tabela 5: As dez espécies ou gêneros semelhantes na campinarana no PARNA Jaú e na

RDS Uatumã e a sua porcentagem de ocorrência no levantamento florístico.

Tabela 6: Variáveis químicas do solo no PARNA Jaú e RDS Uatumã.

Tabela 7: Variáveis físicas do solo no PARNA Jaú e RDS Uatumã.

Tabela 8: Espécies ou morfotipos selecionados para coleta de atributos funcionais na

campina e campinarana (arbórea e arbustiva), no PARNA Jaú e RDS Uatumã.

Tabela 9: Atributos funcionais medidos na campina e campinarana (arbórea e

arbustiva), no PARNA Jaú e RDS Uatumã.

Tabela 10: Famílias e espécies mais abundantes nos levantamentos na campina e

campinarana, no PARNA Jaú e na RDS Uatumã.

*a,b,c,d

: mesma letra representa similaridade significativa entre os valores.

*não foram excluídas as famílias/espécies/gêneros raros: < 0.10% de indivíduos nos levantamentos.

35

Figuras

Figura 1

36

Figura 2

37

Figura 3

38

Figura 4

39

Tabela 1

RDS Uatumã PARNA Jaú

Famílias % Famílias %

Melastomataceae 15.48 Malvaceae 12.64

Sapotaceae 13.79 Moraceae 7.76

Chrysobalanaceae 13.03 Malpighiaceae 7.12

Rubiaceae 10.94 Chrysobalanaceae 5.81

Asteraceae 8.42 Myrtaceae 5.30

Fabaceae 4.24 Asteraceae 4.71

Theaceae 4.14 Myrsinaceae 4.66

Ochnaceae 3.28 Burseraceae 4.50

Clusiaceae 3,18 Fabaceae 4.20

Rhabdodendraceae 3.02 Clusiaceae 3.39

40

Tabela 2 PARNA Jaú RDS Uatumã

Famílias Espécies % Famílias Espécies %

Malvaceae Pachira sordida (R.E.Schult.) W.S.Alverson

10.73 Melastomataceae Macairea theresiae Cogn.

11.31

Malphiguiaceae Byrsonimia eugeniifolia Sandwith.

7.12 Sapotaceae Pradosia schomburgkiana (A. DC.) Cronquist

9.15

Sapotaceae Elaeoluma schomburgkiana (Miq.) Baill.

6.28 Asteraceae Gongylolepis martiana (Baker) Steyrm. &

Cuatrec.

8.42

Moraceae Brosimum acutifolium Huber

6.15 Chrysobalanaceae Licania hypoleuca Benth.

8.09

Chrysobalanaceae Licania hypoleuca Benth.

5.81 Rubiaceae Alibertia rigida K.Schum.

6.20

Asteraceae Gongylolepis martiana (Baker) Steyrm. &

Cuatrec.

4.71 Theaceae Ternstroemia verticillata Klotzsch ex Wawra

4.14

Myrsinaceae Cybianthus fulvopulverulentus magnoliifolius

(Mez) Pipoly.

4.66 Sapotaceae Elaeoluma schomburgkiana (Miq.) Baill.

3.55

Myrtaceae Eugenea paniculiflora Steud.

4.58 Ochnaceae Ouratea spruceana Engl.

3.28

Theaceae Ternstroemia dentata (Aubl.) Sw.

2.88 Rubiaceae Pagamea coriacea (Spruce) Benth.

3.18

Ochnaceae Ouratea spruceana Engl. 2.84 Chrysobalanaceae Hirtella ulei Pilg.

3.15

41

Tabela 3 PARNA Jaú RDS Uatumã PARNA Jaú

Campinarana Campinarana Campina

RDS Uatumã Campinarana 0.0927 - -

PARNA Jaú Campina 0.2502 0.0376 -

RDS Uatumã Campina 0.2053 0.0988 0.1208

Tabela 4

Famílias Espécies

PARNA Jaú RDS Uatumã

Asteraceae Gongylolepis martiana (Baker) Steyrm.

& Cuatrec.

14.18 1.20

Chrysobalanecae

Licania hypoleuca Benth.

12.76 1.44

Humiraceae

Humiria balsamifera (Aubl.) J.St.-Hil.

0.22 3.55

Lauraceae

Ocotea Aubl.

0.11 2.87

Myrsinaceae

Cybianthus fulvopulverulentus

magnoliifolius (Mez) Pipoly.

0.84 13.16

Sapotaceae

Elaeoluma schomburgkiana (Miq.)

Baill.

5.96 14.95

Sapotaceae

Pradosia schomburgkiana (A. DC.)

Cronquist

15.35 1.08

42

Tabela 5

Famílias Espécies PARNA Jaú RDS Uatumã

Annonaceae

Xylopia spruceana Benth. Ex Spruce

0.16 1.91

Apocynaceae

Aspidosperma Mart 0.73 0.46

Bursenaceae

Protium sprucianum (Benth.) Engl.

1.37 3.48

Chrysobalanecae

Licania hypoleuca Benth.

1.37 8.21

Clusiaceae

Clusia grandifolia Engl.

0.24 3.39

Clusiaceae

Tovomita Aubl.

0.16 2.43

Myristicaceae

Iryanthera obovata Ducke

2.51 1.71

Ochnaceae

Ouratea spruceana Engl.

4.61 4.40

Sapotaceae

Elaeoluma schomburgkiana (Miq.) Baill.

0.08 1.51

Sapotaceae

Pradosia schomburgkiana (A. DC.)

Cronquist

0.24 3.15

43

Tabela 6

pH

P

K

Na Ca Mg Al H +Al

SB

t T V

m

Fe Zn Mn Cu

H20 mg/

dm3

mg/

dm3

mg/

dm3

cmolc/

dm3

cmolc/

dm3

cmolc/

dm3

cmolc/

dm3

cmolc/

dm3

cmolc/

dm3

cmolc/

dm3

% % mg/

dm3

mg/

dm3

mg/

dm3

mg/

dm3

PARNA Jaú

Campina 4.43

3.67 38.00 36.33 0.12 0.18 1.69 8.09 0.55 2.25 2.25 6.21 76.16 11.67 1.12 0.23 0.08

Campinarana 4.58 5.33 30.33 29.00 0.06 0.14 1.50 5.41 0.40 1.19 1.90 6.91 78.45 12.00 0.99 0.30 0.10

RDS Uatumã

Campina 4.19 2.67 10.33 2.67 0.03 0.07 0.97 2.72 0.14 1.10 1.10 7.19 87.09 8.00 0.50 0.59 0.18

Campinarana 4.45 2.33 11.33 6.67 0.03 0.08 1.19 3.75 0.17 1.35 1.35 4.34 87.56 25.67 0.54 0.44 0.15

44

Tabela 7

Areia Total

(g/kg)

Silte

(g/kg)

Argila

(g/kg)

Classificação

textural do solo

PARNA Jaú

Campina 877.71 105.79 16.50 Areia

Campinarana 884.08 103.09 12.83 Areia

RDS Uatumã

Campina 925.37 65.92 8.83 Areia

Campinarana 898.47 49.36 52.17 Areia

45

Tabela 8

PARNA Jaú

Campina – arbustivos

Família Espécies

Annonaceae Guateria maguirei R.E.Fr.

Aquifoliaceae Ilex L.

Asteraceae Gongylolepis martiana (Baker) Steyrm. & Cuatrec.

Chrysobalanaceae Licania hypoleuca Benth.

Clusiaceae Clusia grandifolia Engl.

Dilleniaceae Doliocrapus Rol.

Fabaceae Dimorphandra vernicosa Spreng. ex Benth.

Macrolobium campestre Huber.

Humiriaceae Humiria balsamifera (Aubl.) J.St.-Hil.

Lauraceae Ocotea Aubl.

Malphiguiaceae Byrsonimia eugeniifolia Sandwith.

Malvaceae Pachira sordida (R.E.Schult.) W.S.Alverson

Myrsinaceae Cybianthus fulvopulverulentus magnoliifolius (Mez) Pipoly.

Myrtaceae Myrcia clusifolia (Kunth) DC.

Ochnaceae Ouratea acuminata (A. DC.) Engl.

Olacaceae Chaunochiton angustifolium Sleumer

Phyllanthaceae Amanoa Aubl.

Rubiaceae Retiniphyllum schomburgkii (Benth.) Müll.Arg.

Sapotaceae Pradosia schomburgkiana (A. DC.) Cronquist

Elaeoluma schomburgkiana (Miq.) Baill.

Theaceae Ternstroemia dentata (Aubl.)Sw.

RDS Uatumã Campina – arbustivos Aquifoliaceae Ilex divaricata Mart. ex Reissek

Asteraceae Gongylolepis martiana (Baker) Steyrm. & Cuatrec.

Chrysobalanaceae Hirtella ulei Pilg.

Licania hypoleuca Benth.

Dilleniaceae Doliocarspus spatulifolius Kubitzki

Icacinaceae Emmotum acuminatum (Benth.) Miers

Lauraceae Ocotea boissieriana (Meisn.) Mez

Melastomataceae Macairea theresiae Cogn.

Ochnaceae Ouratea spruceana Engl.

Rubiaceae Alibertia rigida K.Schum.

Pagamea coriacea (Spruce) Benth.

46

Retiniphyllum schomburgkii (Benth.) Müll.Arg.

Sapotaceae Elaeoluma schomburgkiana (Miq.) Baill.

Pradosia schomburgkiana (A. DC.) Cronquist

Theaceae Ternstroemia verticillata Klotzsch ex Wawra

PARNA Jaú

Campinarana – arbóreos Annonaceae Xylopia spruceana Benth. Ex Spruce

Araliaceae Schefflera spruceana (Seem.) Maguire, Steyerm. & Frodin. Det:

Fiaschi, P.

Burseraceae Protium Burm.f.

Clusiaceae Tovomita Aubl.

Icacinaceae Emmotum nitens (Benth.) Miers

Malpighiaceae Byrsonimia eugeniifolia Sandwith.

Malvaceae Eritheca Schott & Endl.

Myrtaceae Eugenea paniculiflora Steud.

Ochnaceae Ouratea spruceana Engl.

Theaceae Ternstroemia dentata (Aubl.)Sw.

RDS Uatumã

Campinarana – arbóreos

Chrysobalanaceae Licania lata J.F.Macbr.

Licania gracilipes Taub.

Ochnaceae Ouratea spruceana Engl.

Rhabdodendraceae Rhabdodendron amazonicum (Spruce ex Benth.) Huber

Sapindaceae Matayba opaca Radlk.

Sapotaceae Chrysophyllum sanguinolentum (Pierre) Baehni

PARNA Jaú

Campinarana – arbustivos

Annonaceae

Xylopia spruceana Benth. Ex Spruce

Guateria maguirei R.E.Fr.

Apocynaceae Macoubea sprucei (Müll.Arg.) Markgr.

Asteraceae Gongylolepis martiana (Baker) Steyrm. & Cuatrec.

Burseraceae Protium Burm.f. (1)

Chrysobalanaceae Licania hypoleuca Benth.

47

Clusiaceae Clusia grandifolia Engl.

Tovomita Aubl.

Elaeocarpaceae Sloanea L.

Fabaceae Swartzia renticulata Ducke

Ormosia Jacks.

Linaceae Roucheria columbiana Hallier.

Melastomataceae Tococa Aubl.

Moraceae Brosimum acutifolium Huber

Brosimum guianense (Aubl.) Huber

Myristicaceae Iryanthera obovata Ducke

Myrtaceae Eugenea paniculiflora Steud.

Ochnaceae Ouratea spruceana Engl.

Primulaceae Stylogyne A.DC.

Sapindaceae Sapindacea sp.

Sapotaceae Pradosia schomburgkiana (A. DC.) Cronquist

Sapotaceae sp.

Theaceae Ternstroemia dentata (Aubl.)Sw.

RDS Uatumã

Campinarana – arbustivos

Apocynaceae Aspidosperma Mart.

Apocynaceae Lacmellea gracilis (Müll.Arg.) Markgr.

Chrysobalanaceae Licania lata J.F.Macbr.

Fabaceae Ormosia grossa Rudd.

Icacinaceae Emmotum acuminatum (Benth.) Miers

Melastomataceae Miconia argyrophylla DC.

Mouriri nervosa Pilg.

Ochnaceae Ouratea spruceana Engl.

Rhabdodendraceae Rhabdodendron amazonicum (Spruce ex Benth.) Huber

Rubiaceae Alibertia rigida K.Schum.

Duroia saccifera (Schult. & Schult.f.) K.Schum.

Sapindaceae Matayba opaca Radlk.

Sapotaceae Chrysophyllum sanguinolentum (Pierre) Baehni

48

Tabela 8 DAP

(cm)

Altura

(m)

AFE

(mm²/g)

Densidade

(g/cm³)

Cu

(mg/kg)

Fe

(mg/kg)

Mn

(mg/kg)

Zn

(mg/kg)

PARNA Jaú

Campina 0.5 – 5.3ª 1 – 3.5ª 35.390 – 105.160ª 0.44 – 0.86ª 0.84 – 2.84ª 14.47 – 109.67ª 2.9 – 93.49ª 2.49 – 23.53ª

Campinarana arbórea 9.5 – 19.7b 9 – 15

b 36.850 – 100.290

b 0.57 – 0.89ª 2.14 – 3.32

b 38.78 – 80.99

b 27.12 – 416.35

b 8.87 – 16.05ª

Campinarana arbustiva 0.5 – 4.5c 1.2 – 6

c 57.930 – 205.350

c 0.57 – 0.81ª 1.57 – 4.95

b 24.76 – 98.87ª

b 11.77 – 115.86ª

b 6.03 – 49.25ª

RDS Uatumã

Campina 0.5 – 4ª 1.1 – 5ª 42.495 – 90.885ª 0.63 – 0.89ª 1.37 – 6.35ª 45.84 – 90.71ª 5.97 – 96.32ª 3.72 – 13.68ª

Campinarana arbórea 6 – 11.4b 6 – 12

b 61.587 – 107.370

b 0.53 – 0.75ª 1.64 – 3.24

b 54.02 – 249.61

b 10.11 – 278.00

b 6.91 – 14.59ª

Campinarana arbustiva 1 – 6.1c 2.9 – 7.4

c 55.198 – 194.456

c 0.44 – 0.90ª 1.86 – 4.52

b 60.72 – 114.57ª

b 10.98 – 214.64ª

b 6.99 – 13.08ª

49

Tabela 9

PARNA Jaú % RDS Uatumã %

Campina Malvaceae 22.73 Sapotaceae 21.30

Sapotaceae 16.03 Asteraceae 14.28

Malpighiaceae 11.06 Rubiaceae 12.82

22 famílias botânicas,

28 espécies

18 famílias botânicas,

28 espécies

Campinarana Moraceae 12.02 Melastomataceae 37.75

Chrysobalanaceae 8.21 Rhabdodendraceae 7.36

Myrtaceae 7.36 Rubiaceae 8.25

24 famílias botânicas,

41 espécies

26 famílias botânicas,

59 espécies

50

3. Conclusões

A variação na composição de espécies entre as fisionomias pode estar

relacionada a fatores ambientais (Tuomisto & Ruokolainen 1994, Tuomisto et al. 1995).

Fatores edáficos têm sido descritos como importantes no papel da composição e

distribuição das espécies em vegetação inundável sobre areia branca (Ferreira 1991;

Worbes 1997; Damasco et al. 2013), porém a variação das espécies ao longo do

gradiente fisionômica pode ser dada também de acordo com as adaptações morfológicas

e fisiológicas dos indivíduos.

Tantos os atributos funcionais morfológicos (densidade da madeira e área foliar

específica), quanto os atributos funcionais fisiológicos (micronutrientes da folha: Cu,

Fe, Mn+2

, Zn+) apresentam um padrão de distribuição dos seus valores ao longo da

variação fisionômica da vegetação de campina a campinarana, nas duas áreas de estudo

(PARNA Jaú e RDS Uatumã). A diversidade multivariada de atributos difere entre as

fisionomias, provavelmente pelo fato das campinas atuarem como filtros ambientais,

reduzindo a gama de estratégias ecológicas que um atributo funcional ocupa em um

dado ambiente (Grime 2006).

Assim, apesar da estrutura fisionômica da vegetação ser obvia, mesmo retirando

as variações autoexplicativas dos atributos funcionais visualmente aparentes (atributos

morfológicos), ainda se encontra um padrão estrutural na vegetação que pode ser

explicado pelo nível do lençol freático e pelo tempo de alagamento, podendo ele

corresponder às mudanças nos padrões florísticos e estruturais da vegetação, uma vez

que as variáveis físico-químicas do solo, nas duas áreas de estudo, não se diferenciaram

segundo as variações fisionômicas na vegetação.

51

4. ANEXOS

Foto 1: Vegetação arbustiva da campina na RDS Uatumã.

Foto 2: Presença de serrapilheira na campinarana do PARNA Jaú.

52

5. Referências bibliográficas

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