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Revista Brasielira de Orientação Profissional, 2003, 4 (1/2), pp. 117-139 117 Instrução Superior e Profissionalização Feminina: as Mães dos Vestibulandos VUNESP e suas Influências sobre as Escolhas dos Filhos (Anos 80 x Anos 90) Elis Cristina Fiamengue UNIMEP, Piracicaba Dulce Consuelo Andreatta Whitaker 1 CNPq/UNESP, Araraquara 1 Endereço para correspondência: Av. Espanha 60, apto. 121, Araraquara, SP, CEP 14800-130, Fone (16) 222-5764, e-mail: [email protected]. RESUMO Apresentamos, neste artigo, dados referentes à instrução e ocupação da mãe analisados na pesquisa “10 anos depois: UNESP - Diferentes perfis de candidatos para diferentes cursos (Estudos de variáveis de capital cultural)”, visando contribuir para o debate acerca das conquistas femininas e ainda discutir as influências das mães sobre as escolhas dos vestibulandos. Nossa perspectiva é a análise sociológica e buscamos apreender e compreender as transformações da sociedade brasileira a partir do fenômeno VESTIBULAR no intuito de fornecer subsídios adicionais para a reflexão da orientação profissional. A análise de dados quantitativos quando realizada de forma qualitativa, buscando estabelecer relações, pode fornecer pistas importantes acerca dos processos sociais. Palavras-chave: vestibular VUNESP; influência materna; escolhas profissionais. ABSTRACT: Higher education and feminine professionalization: VUNESP University candidates’ mothers and their influence on their children’s choices (the eighties x the nineties) In this paper we present data about the education and occupation of candidates’ mothers, analyzed on the research entitled “10 years after: UNESP - Different candidates’ profiles for different courses (cultural capital variables studies)”, aiming at contributing to the debate about women’ conquests and at discussing the mother’s influence over university candidates’ choices. Our perspective is the sociological analysis, and we search to apprehend and understand changes in the Brazilian society, using for that the University Entrance Test phenomena, with the purpose of giving additional subsidies for the professional guidance issue. Quantitative data analysis, when done in a qualitative way, trying to establish connections, may lead to important clues about social processes. Keywords: VUNESP entrance test; mother’s influence; professional choices. RESUMEN: Instrucción superior y profesionalización femenina: las madres de los aspirantes a la UNESP y sus influencias sobre las opciones de los hijos (Años 80 / años 90) Presentamos, en este artículo, datos referentes a la instrucción y ocupación de la madre analizados en la encuesta “10 años después: UNESP - Diferentes perfiles de candidatos para diferentes cursos (Estudios de variables de capital cultural)” buscando contribuir en el debate acerca de las conquistas femeninas y también discutir las influencias de las madres sobre las opciones de los candidatos. Nuestra perspectiva es el análisis sociológico y buscamos aprender y comprender las transformaciones de la sociedad brasi- leña a partir del fenómeno Examen de Ingreso con la intención de proveer elementos adicionales para la reflexión de la orientación profesional. El análisis de datos cuantitativos, cuando se lo realiza de forma cualitativa, buscando establecer relaciones, puede suministrar pistas importantes acerca de los procesos sociales. Palabras claves: examen de ingreso UNESP; influencia materna; elecciones profesionales.

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Instrução Superior e Profissionalização Feminina:as Mães dos Vestibulandos VUNESP e suas Influências

sobre as Escolhas dos Filhos (Anos 80 x Anos 90)

Elis Cristina FiamengueUNIMEP, Piracicaba

Dulce Consuelo Andreatta Whitaker1

CNPq/UNESP, Araraquara

1 Endereço para correspondência: Av. Espanha 60, apto. 121, Araraquara, SP, CEP 14800-130, Fone (16) 222-5764, e-mail:[email protected].

RESUMOApresentamos, neste artigo, dados referentes à instrução e ocupação da mãe analisados na pesquisa “10anos depois: UNESP - Diferentes perfis de candidatos para diferentes cursos (Estudos de variáveis decapital cultural)”, visando contribuir para o debate acerca das conquistas femininas e ainda discutir asinfluências das mães sobre as escolhas dos vestibulandos. Nossa perspectiva é a análise sociológica ebuscamos apreender e compreender as transformações da sociedade brasileira a partir do fenômenoVESTIBULAR no intuito de fornecer subsídios adicionais para a reflexão da orientação profissional. Aanálise de dados quantitativos quando realizada de forma qualitativa, buscando estabelecer relações,pode fornecer pistas importantes acerca dos processos sociais.Palavras-chave: vestibular VUNESP; influência materna; escolhas profissionais.

ABSTRACT: Higher education and feminine professionalization: VUNESP University candidates’mothers and their influence on their children’s choices (the eighties x the nineties)In this paper we present data about the education and occupation of candidates’ mothers, analyzed on theresearch entitled “10 years after: UNESP - Different candidates’ profiles for different courses (culturalcapital variables studies)”, aiming at contributing to the debate about women’ conquests and at discussingthe mother’s influence over university candidates’ choices. Our perspective is the sociological analysis,and we search to apprehend and understand changes in the Brazilian society, using for that the UniversityEntrance Test phenomena, with the purpose of giving additional subsidies for the professional guidanceissue. Quantitative data analysis, when done in a qualitative way, trying to establish connections, maylead to important clues about social processes.Keywords: VUNESP entrance test; mother’s influence; professional choices.

RESUMEN: Instrucción superior y profesionalización femenina: las madres de los aspirantes a la UNESPy sus influencias sobre las opciones de los hijos (Años 80 / años 90)Presentamos, en este artículo, datos referentes a la instrucción y ocupación de la madre analizados en laencuesta “10 años después: UNESP - Diferentes perfiles de candidatos para diferentes cursos (Estudiosde variables de capital cultural)” buscando contribuir en el debate acerca de las conquistas femeninas ytambién discutir las influencias de las madres sobre las opciones de los candidatos. Nuestra perspectivaes el análisis sociológico y buscamos aprender y comprender las transformaciones de la sociedad brasi-leña a partir del fenómeno Examen de Ingreso con la intención de proveer elementos adicionales para lareflexión de la orientación profesional. El análisis de datos cuantitativos, cuando se lo realiza de formacualitativa, buscando establecer relaciones, puede suministrar pistas importantes acerca de los procesossociales.Palabras claves: examen de ingreso UNESP; influencia materna; elecciones profesionales.

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118 Elis Cristina Fiamengue & Dulce Consuelo Andreatta Whitaker

As conquistas femininas na sociedade demodo geral têm sido investigadas por especialis-tas de diferentes áreas. Alguns estudos celebramconquistas inegáveis, outros avaliam as contra-dições do processo e muitos deles chamam aten-ção para distorções e até perversidades de umsexismo que se traveste de modernidade, impe-dindo o avanço real da mulher em alguns setores– mercado de trabalho, por exemplo.

Para alimentar esse debate, trazemos aqui da-dos de uma pesquisa sobre o vestibular VUNESPque desvelam fenômenos surpreendentes1.

A pesquisa tomou os dados do questionáriosócio-econômico preenchido pelos candidatos aosistema VUNESP, o qual inclui instrução e ocu-pação da mãe. Destacaremos, aqui, portanto, aparte da pesquisa que analisa esses dados.

O ponto de partida da investigação é um tra-balho publicado pela VUNESP sobre o perfil dosvestibulandos e ingressantes de 1985/862 (Whi-taker, 1989). Tomamos estes dados e os compara-mos com o perfil apresentado por esses candidatosem 1995/96, tentando apreender as transformaçõesda sociedade brasileira na era pós - globalização esuas influências sobre a demanda pelo vestibular.

O estudo dos anos 80 tomava seis cursos daUNESP, sendo dois para cada uma das grandesáreas em que se divide o vestibular. O critériopara escolha desses cursos foi o maior e o menorgrau de prestígio medido pela relação candidato/vaga: a maior relação candidato/vaga indicou ocurso de maior prestígio da área, enquanto a me-nor relação candidato/vaga indicou o de menorprestígio, como mostra a Tabela 1.

1 Este artigo foi construído a partir dos dados e constatações do Relatório de Pesquisa “10 anos depois: UNESP - Diferentes perfis decandidatos para diferentes cursos (Estudo de variáveis de capital cultural)” publicado pela série Pesquisa VUNESP nº 11, 1999,VUNESP, São Paulo. Importante ressaltar aqui que a Fundação VUNESP é a instituição que organiza o vestibular da UNESP - aterceira Universidade Estadual de São Paulo, que tem suas faculdades e institutos espalhados por todo o interior desse Estado.

2 Optamos por não apresentar os dados de 1986 para não sobrecarregar o texto com tabelas. Apresentamos, no entanto, as análisesdesses dados no corpo do texto quando eles fornecem pistas significativas para a melhor compreensão das relações envolvidas.

Tabela 1Relação de áreas, cursos e campi analisados na década de 80

saerÁ sosruC supmaC

sacigóloiBanicideM utacutoB

aigoloiB oterPoiRodésoJoãS

sataxEacirtélEairahnegnE arietloSahlI

acifárgotraCairahnegnE etnedurPetnediserP

sanamuHrotudarT-sarteL oterPoiRodésoJoãS

siaicoSsaicnêiC ailíraM

Decorridos dez anos, temos uma UNESPampliada e intelectualmente enriquecida, Fomosobrigados então a acrescentar mais quatro cursosao conjunto, para torná-lo mais representativo.Como resultado, além dos seis cursos analisadospara 1985/86, tínhamos então mais duas Enge-nharias Elétricas (a de Guaratinguetá, criada em

1987, e a de Bauru, encampada em 1989) e maisdois cursos de prestígio na área de Humanida-des: Arquitetura e Direito (o primeiro do campusde Bauru, encampado em 1989, e o segundo docampus de Franca).

Além deste acréscimo de quatro cursos, tí-nhamos o de Direito com dois turnos - o matuti-

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no e o noturno – e os dados de Ciências Sociaistambém desagregados para dois turnos, o que nãonos fora oferecido dez anos antes. Resultado: umconjunto que se estruturava em seis cursos para1985/86 se encontrava hoje praticamente dobra-do. As tabelas dos anos 90 apresentam então da-dos para análise de doze cursos (são dez cursos,dois deles desdobrados em dois turnos).

Estamos considerando como comparaçõesverticais aquelas que se fazem entre os dois dife-rentes momentos do vestibular – anos 80 e 90, ecomo horizontais aquelas que emergem entre osdiferentes cursos, para um mesmo ano.

Cumpre lembrar ainda que as análises de da-dos quantitativos quando realizadas do ponto devista sociológico e com intensa vigilância episte-mológica oferecem possibilidades para infinitasrelações. Cabe ao sociólogo escolher aquelas quemelhor respondem às inquietações que impulsio-nam o seu trabalho.

Passemos aos dados para observarmos o queeles revelam, e teremos em primeiro lugar algu-mas pistas importantes para avaliar a influênciada mãe no momento da escolha pelo curso supe-rior pelos filhos.

A força do Capital Cultural: A instrução damãe influenciando os caminhos

A importância da instrução da mãe tem sido

observada em diferentes países, pelas pesquisasde Sociologia da Educação.

“A instrução da mãe é, teoricamente, um fatorde maior importância na formação do Capital Cul-tural do estudante dada a rigidez com que ainda seconfigura em nossa sociedade o papel da mulherno casamento, como o responsável pela educaçãodos filhos e conseqüentemente acompanhamentoda sua vida escolar.” (Whitaker, 1989, p.25)

Não é fácil comparar as tabelas de 1985 comas de 1995. Àquela época, as categorias de nívelde instrução eram completamente diferentes. Portrás dessas diferenças estão as mudanças na es-trutura de ensino impostas a partir da Lei 5.692/71. Assim é que os pais dos vestibulandos de en-tão haviam estudado numa estrutura de primário,ginásio e colegial, enquanto os vestibulandos dosanos 90, provavelmente, são filhos de geraçõesposteriores que já vivenciaram a estrutura de 1º e2º graus3. Nos anos 80, a variável instrução damãe se distribuía por oito categorias, enquantohoje temos apenas seis.

Optamos por comparar diretamente apenas ascategorias extremas e fazer algumas consideraçõesgerais sobre os graus intermediários. Mais do queisso, seria aprofundar relações ao infinito, o quetornaria o texto cansativo e bizantino. Observemas tabelas de 1985 (Tabela 2) e de 1995 (Tabela 3).

3 Manteremos a nomenclatura 1º e 2º graus, já ultrapassada, considerando que os dados são anteriores à Lei 9294/96 que alterou essasdenominações para ensino fundamental e médio, mas sem alterar a estrutura. Entendemos que 1º e 2º graus são expressões maisdinâmicas e auxiliam a fluidez de um texto já tão sobrecarregado de dados.

Tabela 2Distribuição dos candidatos inscritos e matriculados, conforme nível de instrução da mãe, novestibular UNESP 1985

osruC atebaflanAevercseeêLoirámirP+.lpmoc/.cni

oisániG.lpmoc/.cni

laigeloC.lpmoc/.cni

roirepuSotelpmocni

roirepuSotelpmoc

ebasoãN .pseroãN

.rcsnI .cirtaM .rcsnI .cirtaM .rcsnI .cirtaM .rcsnI .cirtaM .rcsnI .cirtaM .rcsnI .cirtaM .rcsnI .cirtaM .rcsnI .cirtaM

.deM 7,0 1,1 3,23 2,23 3,81 3,32 3,12 2,22 0,4 1,1 7,12 0,02 7,0 0,0 2,1 0,0

.loiB.C 7,0 0,0 2,05 0,44 5,9 0,21 3,51 0,21 7,4 0,8 6,91 0,42 0,0 0,0 0,0 0,0

.télE.E 1,1 0,0 2,44 2,55 3,61 2,71 1,91 2,71 7,1 4,3 1,61 9,6 0,1 0,0 5,0 0,0

traC.E 5,3 7,6 5,64 3,34 8,21 0,01 1,51 7,61 2,1 0,0 9,02 3,32 0,0 0,0 0,0 0,0

rT-.teL 9,0 3,3 4,44 3,34 3,01 7,6 3,81 0,02 0,2 3,3 5,32 3,32 0,0 0,0 6,0 0,0

.coS.C 3,7 3,8 9,56 3,85 1,8 0,01 8,9 3,31 8,0 7,1 5,6 3,8 6,1 0,0 0,0 0,0

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Antes disso, porém, há dados sobre mãesanalfabetas que merecem comparações. Em 1985,conforme se pode ver pela Tabela 2, as porcenta-gens de mães analfabetas eram muito baixas (en-tre 0,7% e 1,1%). No entanto, EngenhariaCartográfica e Ciências Sociais exibiam porcen-tagens bem mais elevadas (3,5% e 7,3%). Nossocomentário naquele momento era:

“Vagarosamente, o candidato a Ciências So-ciais (e menos claramente o de Engenharia Car-tográfica) vão se especificando por suas carências.Prestígio do curso e urbanização do municípiovão evidenciando seus efeitos.” (Whitaker, 1989,p.25)

E 10 anos depois? Se tomarmos apenas osseis cursos analisados em 1985/86, temos repeti-ção do fenômeno; as duas exceções são as mes-mas: Engenharia Cartográfica com 7,6% eCiências Sociais noturno com 8,6% de mães anal-fabetas (Tabela 3). O fenômeno ocorre ainda, aoque parece, para os candidatos do curso noturno.Direito apresenta 2,2% de candidatos nessa cate-goria. Nada muito novo, portanto ...

Naquele momento, as maiores porcentagenspara todos os cursos estavam na categoria lê, es-creve, primário completo e incompleto, o queevidenciava a baixa escolaridade da mulher nasociedade brasileira em passado recente. Afinal,porcentagem substancial para todos os cursos, atémesmo para os de prestígio, vinha de famíliascujas mães não haviam completado o antigo cur-so primário ou não haviam passado do quarto anode escolaridade. Nesse sentido, os dados de 1995e 1996 mostram o extraordinário avanço da mu-lher brasileira das camadas privilegiadas, emtermos de escolaridade. Hoje, as maiores porcen-tagens de mães concentram-se nas mais altas ca-tegorias de instrução, principalmente para oscursos de maior prestígio. As exceções são asde sempre, e serão comentadas no decorrer daanálise.

A Tabela 3 permite várias leituras: as maisaltas porcentagens das categorias referentes aosmais elevados níveis de instrução estão nos cur-sos mais tradicionalmente de prestígio: Medi-cina (46,1%) e Direito matutino (48,6%).Arquitetura acompanha a tendência. Em 1996,

Tabela 3Distribuição dos candidatos inscritos e matriculados segundo nível de instrução da mãe - Ano 1995

otebaflanAuarGº1otelpmocnI

uarGº1otelpmoC

uarGº2otelpmocnI

uarGº2otelpmoC

roirepuSuo.cnI.lpmoC

meSatsopseR

AERÁ OSRUC .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM

sacigóloiBanicideM utacutoB 5,0 0,0 1,11 9,8 9,11 9,8 9,6 2,2 9,22 4,42 1,64 4,45 5,0 1,1

aigoloiB.J.S.cneciL

oterPoiR8,0 0,0 9,81 0,61 6,42 0,63 6,6 0,61 0,32 0,21 2,62 0,02 0,0 0,0

sataxE

acirtélE.gnE arietloSahlI 7,1 0,0 6,91 5,71 6,31 0,01 8,6 0,5 0,12 5,23 7,63 0,53 6,0 0,0

acirtélE.gnE uruaB 4,0 0,0 1,41 7,6 6,41 0,01 8,7 3,8 9,32 0,52 8,83 0,05 4,0 0,0

acirtélE.gnE áteugnitarauG 2,1 5,2 8,81 5,22 8,31 5,21 3,7 5,21 9,12 5,72 6,63 5,22 4,0 0,0

.gnEacifárgotraC

.serPetnedurP

6,7 3,3 8,23 0,03 4,31 3,31 6,7 7,6 5,81 3,32 2,02 3,32 0,0 0,0

sanamuH

serotudarT odalerahcaB 4,0 0,0 0,02 6,51 0,31 5,21 7,7 4,9 4,91 6,51 5,83 8,34 8,0 1,3

otieriD onitutaM 6,0 0,0 9,11 8,11 5,11 9,3 5,6 0,0 6,02 6,12 6,84 7,26 3,0 0,0

otieriD onrutoN 2,2 0,0 2,92 4,92 5,71 6,71 2,7 0,2 9,71 7,31 1,52 3,53 0,1 0,2

earutetiuqrAomsinabrU

6,0 0,0 6,31 4,4 7,21 7,62 5,7 0,0 6,02 4,42 5,44 4,44 4,0 0,0

saicnêiCsiaicoS

onitutaM 9,1 5,6 3,32 3,23 5,61 1,61 8,6 5,6 5,51 5,6 9,53 3,23 0,0 0,0

saicnêiCsiaicoS

onrutoN 6,8 5,21 8,34 0,05 8,52 0,02 8,7 0,5 1,3 0,0 4,9 5,21 6,1 0,0

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Direito e Medicina vão atingir porcentagens ain-da mais altas, 51,1% e 48,3%, respectivamente.As Engenharias Elétricas não são assim tão eliti-zadas, já que suas porcentagens nessa categoriase aproximam daquela de Ciências Sociais diur-no. Quanto a Ciências Sociais noturno, exibe no-vamente as porcentagens mais baixas do conjunto(Tabelas 2 e 3).

Vejamos agora a influência dessa variável nosresultados do vestibular. Em 1985, constatáva-mos que o nível de instrução da mãe pesou ape-nas na escolha da carreira. Medicina apresentavauma das mais altas porcentagens de candidatoscujas mães tinham curso superior completo:21,7%. E, se somássemos a esta porcentagem os4% da categoria superior incompleto, tínhamos25,7%. No entanto, como se pode observar naTabela 2, o ingresso não estava fortemente asso-ciado a esta variável. Na transição inscritos/ma-triculados, as porcentagens se mantinham ou atécaíam ligeiramente nas categorias de maior ins-

trução das mães. Os dados de 1986 já anuncia-vam mudanças: a categoria “mães com curso su-perior completo” subiria de 22,7% de inscritospara 28,9% dos matriculados.4

E realmente as mudanças ocorreram. Hoje,as mães fazem valer seu capital cultural na esco-lha e na aprovação. A maioria absoluta dos in-gressantes na Medicina pertence a essa categoria– 54,4% dos matriculados. Eram 46,1% dos ins-critos. Os candidatos de Medicina estão, em prati-camente 70% dos casos, concentrados nas duascategorias de mais alto grau de instrução das mães.A categoria de mães analfabetas desaparece, e aqueda se dá evidentemente em todas as outrascategorias (Tabela 3).

Os dados de 1996 nada mais fazem do querepetir o fenômeno com ainda maior intensida-de, já que agora só ganha pontos a mais alta ca-tegoria de instrução da mãe, cujos inscritospassam de 48,3% para 58,9% dos matriculados(Tabela 4).

Tabela 4Distribuição dos candidatos inscritos e matriculados segundo nível de instrução da mãe - Ano 1996

otebaflanAuarGº1otelpmocnI

uarGº1otelpmoC

uarGº2otelpmocnI

uarGº2otelpmoC

roirepuSuo.cnI.lpmoC

meSatsopseR

AERÁ OSRUC .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM

sacigóloiBanicideM utacutoB 4,0 0,0 9,01 6,5 3,01 6,5 5,6 8,7 6,22 2,22 3,84 9,85 0,1 0,0

aigoloiB.J.S.cneciL

oterPoiR8,0 0,0 0,83 0,61 3,51 0,61 0,5 0,8 6,81 0,63 5,12 0,42 8,0 0,0

sataxE

acirtélE.gnE arietloSahlI 3,0 0,0 1,81 5,72 0,41 0,51 3,8 5,21 8,42 5,22 1,43 5,22 5,0 0,0

acirtélE.gnE uruaB 3,0 0,0 5,51 9,11 6,21 9,11 4,5 7,1 6,32 9,61 6,14 9,55 9,0 7,1

acirtélE.gnE áteugnitarauG 9,0 0,0 5,61 1,71 0,31 9,22 4,01 7,5 0,12 9,22 7,73 4,13 5,0 0,0

.gnEacifárgotraC

.serPetnedurP

8,1 0,5 8,62 0,03 3,41 5,7 6,3 0,5 2,32 0,52 4,03 5,72 0,0 0,0

sanamuH

serotudarT odalerahcaB 8,1 0,0 6,12 9,12 8,11 4,9 5,7 5,21 9,12 6,51 4,43 6,04 0,1 0,0

otieriD onitutaM 3,0 0,0 3,21 0,21 5,9 0,8 3,5 0,6 5,02 0,22 1,15 0,25 1,1 0,0

otieriD onrutoN 9,2 0,0 3,72 0,81 7,51 0,81 0,6 0,4 0,71 0,02 1,03 0,04 1,1 0,0

earutetiuqrAomsinabrU

4,0 2,2 1,31 7,6 5,21 1,11 1,7 6,51 9,02 6,51 1,54 7,64 9,0 2,2

saicnêiCsiaicoS

onitutaM 3,4 1,3 5,13 5,73 4,71 8,81 7,8 5,21 2,51 3,6 8,22 9,12 0,0 0,0

saicnêiCsiaicoS

onrutoN 0,11 7,6 7,94 3,35 6,61 2,22 1,4 0,0 2,6 4,4 0,11 3,31 4,1 0,0

4 Optamos por não colocar tabelas com dados de 1986 para não sobrecarregar o texto, já que os fenômenos se confirmam na maiorparte das relações observadas.

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Lembrando novamente que o mundo das re-lações sociais é praticamente infinito, deixamosem aberto uma série de questões que podem serdesvendadas pelo raciocínio sociológico, desdeque o pesquisador tenha incorporado teorias emediações substanciais.

É possível, por exemplo, fazer análises e com-parações entre os cursos, tal como fizemos para acategoria mães analfabetas. É possível tambémcolocar uma grande questão. Esta variável atuamesmo, tanto na escolha como, agora, no desem-penho dos vestibulandos? Ou está associada aoutras que impedem a chegada dos filhos de mãescom baixa escolaridade aos cursos de prestígio,em relações recíprocas e constantes?

Assim é que, para quase todos os cursos, osfilhos de mães analfabetas são engolidos pelavoragem do vestibular. Exceções? EngenhariaCartográfica, Ciências Sociais e Engenharia Elé-trica de Guaratinguetá (Tabela 3). E há aspectossurpreendentes. Em Ciências Sociais, os candi-datos dessa categoria fazem crescer suas porcen-tagens na transição, o que se explicaria, talvez,por meio das listas de chamadas posteriores. Mas,o que explicaria o fenômeno em Guaratinguetácom seu curso de alto prestígio?

Um exercício do mesmo tipo pode ser feitoem relação às mães com 1º grau incompleto (4ºano primário do passado?). Elas comparecem emporcentagens que são mais altas quanto menorprestígio tenha o curso; comparecem, também emporcentagens altas, nos cursos noturnos. Assim éque, mesmo num curso de prestígio como o deDireito, os inscritos para o noturno são, em qua-se 30% dos casos, filhos de mães com 1º grauincompleto (Tabela 3).

Análise das relações por área: BiológicasVoltemos às análises horizontais, agora por

área, curso a curso. Em 1985, os candidatos aocurso de Ciências Biológicas ainda eram, em maisde 50% dos casos, filhos de mães “primárias”. E

os dados mostravam que, contrariamente a Me-dicina, havia certa influência da variável instru-ção da mãe, com maior sucesso para as duascategorias mais altas, nas quais 4,7% e 19,6% dosinscritos passavam para 8% e 24% dos matricu-lados, respectivamente (Tabela 2). O movimentodos dados seria o mesmo em 1986, com algumasnuanças.

Interessante observar que nos anos 90 essavariável não parece ter tanta influência no desem-penho dos candidatos de Biologia. A influênciase dá na escolha, já que apenas 26,2% das mãestêm superior completo (contra 46,1% na Medici-na). Além disso, há dispersão muito maior do quena Medicina, e a segunda porcentagem mais ex-pressiva está na categoria de inscritos cujas mãespossuem o 1º grau completo, que são 24,6% – amais alta porcentagem no conjunto de cursos paraesta categoria, com exceção de Ciências Sociaisnoturno. E esta é também a categoria que maiscresce na transição considerada. Os filhos de mãescom 1º grau completo serão 36% dos matricula-dos. Observem na Tabela 2 como caem as matrí-culas nas categorias de mais alto nível de instruçãoda mãe. E também nas de mais baixo. Se o cres-cimento se dá nos níveis médios, não houve in-fluência. O que nos dizem os dados de 1996?Que aqueles dados talvez tenham sido conjun-turais, já que há sim, agora, influência da variá-vel nos resultados. A porcentagem mais alta deinscritos se desloca para a categoria 1º grau in-completo (38%), confirmando a relação direta:menor instrução da mãe – escolhas de menorprestígio. Mas, na transição para os matricula-dos5, a categoria sofre desfalque, com crescimen-to para todas as categorias de maior instruçãoda mãe (Tabela 3).

Bem, os dados podem ser conjunturais para1996. Como saber? O fato é que essa dança meioincoerente dos números é reveladora, no entanto,do óbvio. Na área das biológicas, o curso de maiorprestígio é também mais elitizado no que se refe-

5 Do ponto de vista sociológico, a análise da transição inscritos-matriculados é crucial para medir sucesso ou insucesso de umacategoria no vestibular.

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re a esse indicador de capital cultural – a instru-ção da mãe.

Análise por área: As exatasO fenômeno se repete nas outras áreas? Tem

a mesma intensidade? Na área de Exatas, em1985, o curso de Engenharia Elétrica de Ilha Sol-teira tinha mais prestígio do que o de CiênciasBiológicas, mas era menos elitizado com relaçãoà instrução da mãe, tanto na procura como prin-cipalmente no resultado final. Observem os dadosna Tabela 2. Era a segunda menor porcentagemde inscritos cujas mães estavam na categoria cursosuperior completo (16,1%). E a porcentagem jáalta da categoria “mães primárias” passava de44,2% dos inscritos para 55,2% dos matricula-dos. Era um dado inesperado! Os filhos de mãesmais instruídas, que supostamente deveriam fa-zer crescer sua participação, caíam de 20,9% dosinscritos para 6,9% dos matriculados. Em 1986,tal quadro atípico não se repetiria. Os filhos demães com curso superior conseguiriam manter suaparticipação na matrícula, mas ainda assim o cres-cimento mais expressivo seria nas categoriasmédias e baixas de instrução da mãe, ginásio com-pleto e incompleto.

Observando para 1995 as Engenharias Elé-tricas em bloco, vemos que os dados concentramos inscritos nas mais altas categorias de instru-ção das mães. Tanto essas porcentagens, quantoa distribuição das outras, são muito semelhantesentre eles com diferenciação para o curso de Bau-ru, que empurra seus dados para cima, já que temmenores porcentagens de mães analfabetas e com1º grau incompleto (Tabela 3).

Na matrícula, porém, tais similitudes se dis-solvem. Em Bauru, o sucesso é maior para oscandidatos cujas mães têm curso superior – quevão de 38,8% dos inscritos para 50% dos matri-culados. Mas em Ilha Solteira, esta categoria malse mantém. Já o curso de Guaratinguetá apresen-ta discrepâncias em relação aos outros cursos deprestígio. Uma queda grande na porcentagem dacategoria mais alta, com ganhos para todas asoutras categorias, inclusive a das mães analfabe-tas (Tabela 3).

Realmente, a instrução da mãe, que era “bai-xa” para os vestibulandos dos anos 80, tornou-se

fator importantíssimo em Engenharia Elétrica,atuando na performance dos candidatos. É bemverdade que em Ilha Solteira esta influência nãoé tão marcante, sendo o maior crescimento per-centual na categoria mães com 2º grau completo(21% dos inscritos saltam para 32,5% dos matri-culados). E em Guaratinguetá, o efeito ainda sedá ao contrário, conforme já observado.

O que acontece em Guaratinguetá? Exercí-cio interessante é comparar a elitização da Enge-nharia Elétrica de Bauru com a “democratização”do mesmo curso nessa cidade do Vale do Paraíba– região fortemente urbanizada, cujo curso apre-senta idiossincrasias. Observem a Tabela 3: emBauru, as mães de 75% dos matriculados se con-centram nos dois mais altos graus da escolarida-de. Já em Guaratinguetá, essa concentração é alta,porém bem menor (50%), e a porcentagem dematriculados com mães universitárias é a mesmada categoria mães com 1º grau incompleto.

Um rápido olhar mostra para Ilha Solteirauma situação intermediária: quase 70% dos in-gressantes estão nas mais altas categorias. Noentanto, o crescimento maior na transição consi-derada foi na categoria mães com 2º grau com-pleto. Os dados de 1996 para Ilha Solteira revelamque o perfil da procura é o mesmo do ano ante-rior (com nuanças), mas os dados da matrícularevelam “deselitização” do curso, com quedassubstanciais nas duas mais altas categorias de ins-trução da mãe e crescimento surpreendente dacategoria mães com 1º grau incompleto, que pas-sa de 18,1% dos inscritos para 27,5% dos matri-culados (Tabela 4).

Engenharia Elétrica de Bauru mostra maisuma vez, em 1996, que as variáveis atuam me-lhor sobre a demanda, repetindo-se aí também asporcentagens de inscritos do ano anterior, comnuanças (Tabela 4). Na matrícula, as porcenta-gens variam muito mais do que no ano anterior.Mas, contrariamente a Ilha Solteira, com apro-fundamento da elitização. Exceção para os filhosde mães com 1º grau incompleto, que vieram emporcentagem ligeiramente maior do que em 1995(são agora 15,5%) e que caem muito pouco nomomento da matrícula.

Vejam nessa Tabela como esse ganho faz cairas porcentagens em categorias mais altas, sem

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afetar, porém, a de mães com curso superior(55,9%), que mantém a tônica elitizante destecurso.

Também Guaratinguetá repete, ainda commais semelhança, os dados da demanda do anoanterior, confirmando a influência do nível deinstrução das mães na escolha. Os dados da ma-trícula sugerem de início certa elitização, já que,comparando-se com 1995, desaparecem os filhosde mães analfabetas e há perdas na categoria 1ºgrau incompleto. No entanto, essas perdas sãocompensadas pelos ganhos na categoria, aindabaixa, mães com 1º grau completo, que sobe de13% dos inscritos para 22,9% dos matriculados(Tabela 4).

Coerente com o resto do conjunto, em 1985,esta variável não influenciava a performance nocurso de menor prestígio das Exatas, EngenhariaCartográfica. Mas, os dados revelavam algumassurpresas. Por exemplo: a porcentagem dos ins-critos cujas mães tinham curso superior era maiselevada do que para Engenharia Elétrica, o quese explicava, talvez, pelo maior grau de urbani-zação e relativa tradição universitária de Presi-dente Prudente, comparada a Ilha Solteira. A outrasurpresa seguia direção contrária: a categoria deinscritos com mães analfabetas não só não desa-parecia como crescia na transição, de 3,5% para6,7% dos matriculados (Tabela 2). Os dados de1986 confirmariam dramaticamente a não influên-cia desta variável nos resultados, já que em todasas categorias em que as mães tinham instruçãoginasial (ou inferior) havia ganhos na transiçãoconsiderada, enquanto nas de maior instrução asperdas aconteciam.

Hoje, observa-se que a variável instrução damãe começou a atuar neste curso de menor pres-tígio, mas não tão intensamente como nas Enge-nharias convencionais. Assim é que, em 1995,este curso concentra maior porcentagem de pro-cura na categoria mães com 1º grau incompleto,embora não seja desprezível a porcentagem dosinscritos cujas mães passaram pela universidade(20% que, no entanto, é das menores no conjun-to). Importante observar, por outro lado, o cresci-

mento das categorias superiores, que concentra-rão 46,6% dos ingressantes. Mas, a grande con-centração de matriculados com mães nas trêscategorias inferiores não deve ser desprezada, jáque atinge exatamente 46,6%.

Cursos da área de HumanasOs dados do curso de Letras-Tradutor mos-

tram claramente a diferença entre prestígio (me-dido pela procura) e elitização (medida por fatoresde capital cultural e outras formas de capital).Assim, a procura pelas Engenharias pode sermaior do que a de um curso de Letras, mas osfatores de elitização nem sempre dependem daprocura. Assim, já em 1985, o curso de Traduto-res apresentava indicadores de elitização muitoevidentes. Por exemplo: a mais alta porcentagemde inscritos filhos de mães com instrução superior.E, o mais importante: a influência dessa variáveljá se fazia sentir, embora de forma incipiente.

Os dados de 1986 confirmariam com um pou-co mais de intensidade esta observação. Naqueleano, o curso de Letras-Tradutor apresentaria 30%de matriculados na categoria mães com cursosuperior completo e grande expressividade nasmudanças de porcentagens das duas categoriasextremas no espectro desta variável, aprofundan-do a elitização.

O fenômeno, que já se anunciava, confirma-se para 1995. Candidatos cujas mães passarampela universidade pularam de 38,5% para 43,8%dos matriculados. Quem perdeu? Todas as outrascategorias. Mas o curso de Tradutores não apre-senta o fenômeno com mais intensidade do queos outros, já que os ganhos femininos na educa-ção são amplos e atingem todos os cursos, prin-cipalmente os de prestígio.

Observem que 20% são filhos de mães com1º grau incompleto. Esses jovens que ousarambuscar curso tão elitizante não sofreram tão granderevés. Conseguiram 15,6% das vagas. As perdasnão foram tão grandes e, na categoria 2º grau in-completo, houve ligeiro ganho, diferente de 1985/86. Tal como nesses anos, a instrução da mãe in-flui nos resultados. Mães com curso superior tam-

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bém parecem orientar seus filhos para cursos demaior prestígio, e preferivelmente para cursosdiurnos, se de prestígio.6

Por exemplo, se tomarmos os dados dos can-didatos ao curso de Direito, as porcentagens dosinscritos para o noturno são maiores do que aspara o diurno, desde a categoria mãe analfabetaaté mãe com 2º grau incompleto. Nas duas cate-gorias superiores inverte-se a relação: 48,6% doscandidatos ao matutino são filhos de mães comcurso superior contra apenas 25,1% dos candida-tos ao noturno. Observem que 29,2% dos candi-datos ao noturno (maior porcentagem doconjunto) têm mães com 1º grau incompleto (Ta-bela 3).

Interessante ainda observar que a instruçãoda mãe influencia o ingresso em ambas as situa-ções, porém com mais intensidade nos candida-tos ao diurno. Vale a pena ajustar o foco sobreesses dados. Observem como os inscritos para omatutino caem ou mal conservam suas porcenta-gens nas categorias inferiores, até 2º grau incom-pleto (inclusive nesta eles desaparecem). Elescrescem ligeiramente quando suas mães têm o 2ºgrau completo. E observem o salto de inscritospara matriculados na categoria mães com cursosuperior completo/incompleto, passando de48,6% para 62,7% (Tabela 3).

Observem agora os dados para os candidatosao curso noturno. A instrução superior da mãeatua ainda, porém com menor intensidade. Osinscritos cujas mães passaram pela universidadeainda crescem percentualmente mais de 10 pon-tos, mas a influência parece não ocorrer clara-mente nos graus médios de instrução. Porexemplo, há quase 30% de inscritos cujas mãesnão completaram o 1º grau. E eles conseguemmanter sua participação no momento da matrícu-la (Tabela 3).

Os dados de 1996 repetem o modelo de in-gresso do ano anterior para o matutino, emboranão tão mecanicamente (o movimento dos dadosé mais suave, sem saltos). Paradoxalmente, é no

curso noturno que a instrução da mãe vai atuarcom mais expressividade. Assim, 30,1% dos ins-critos filhos de mães que passaram pela universi-dade serão 40% dos matriculados. Cresce acategoria 2º grau completo e caem quase todasas outras, com uma nuança na 1º grau completo.E 2,9% dos candidatos filhos de mães analfabe-tas desaparecem (Tabela 4).

Em suma, para o curso de Direito, o grau deinstrução da mãe está fortemente associado àopção pelo matutino e influencia a performancedo candidato, muito claramente no matutino ecom certas nuanças no noturno.

Quanto ao curso de Arquitetura e Urbanis-mo, oferece uma distribuição dos candidatosmuito parecida com a de Direito em 1995. Mas,na transição inscritos/matriculados, os dados secomportam de forma diferente. A instrução damãe altera menos as porcentagens no topo da pi-râmide e a categoria que mais cresce é a dos fi-lhos de mães com 1º grau completo, que salta de12,7% para 26,7% dos matriculados. Em 1996,os dados de Arquitetura se comportarão de for-ma ainda mais democrática. Matriculam-se atéfilhos de mães analfabetas. Embora haja quedana transição para as duas categorias relativas ao1º grau, ela não é tão acentuada para os inscritoscom mães com 1º grau completo. A queda é bemmenor para a categoria 2º grau completo, enquan-to os inscritos cujas mães nem completaram o 2ºgrau sobem de 7,1% para 15,6% dos matricula-dos. Como conseqüência, os inscritos com mãesque chegaram ao topo da pirâmide sobem apenas1,5 pontos percentuais na transição considerada.

Os dados parecem sugerir que esta variávelse associa mais fortemente à escolha do que aosucesso, mesmo para cursos tradicionais.

Em 1985, o curso com maior porcentagemde inscritos filhos de mães analfabetas era o deCiências Sociais. Este curso exibia ainda o maiorcontingente de “mães primárias” e a menor por-centagem de mães com curso superior (6,5% –porcentagem discrepante em relação a um con-

6 Podem estar orientando ou fazem parte de uma totalidade na qual os jovens naturalmente se encaminham nessas direções.

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junto que oscilava entre 16,1% e 23,5%). Obser-vem na Tabela 2 a influência incipiente da variá-vel aqui considerada. Cresciam as porcentagensdos filhos de mães universitárias no momento damatrícula. Mas cresciam também as dos filhosde mães analfabetas e nos graus médios da esco-laridade. Estes dados seriam dramaticamente con-firmados em 1986, quando a porcentagem dacategoria superior incompleto foi zerada, e a ca-tegoria superior completo teve apenas 2,7% dosinscritos, caindo para 1,7% dos matriculados. Emnúmeros absolutos, a matrícula no primeiro anode Ciências Sociais teve apenas um aluno filhode mãe com curso superior. Havia três alunos fi-lhos de mães analfabetas, enquanto quarenta ma-triculados (66,7%) concentravam-se nascategorias que não alcançam o quarto ano primá-rio (apenas lê, escreve ou tem menos de quatroanos de escolaridade).

O que mudou em 10 anos? Os dados de 1995desagregados em matutino e noturno, mostramque essas carências se situam no noturno (o tra-balhador que estuda). De modo geral, pode-seapontar que os que procuraram o noturno em 1995exibem a menor porcentagem de mães universi-tárias e quase a mesma porcentagem de mães anal-fabetas (9,4% versus 8,6%). Quase 50% dosinscritos para o noturno são filhos de mães quenão completaram o 1º grau. Enquanto isso, os can-didatos ao matutino exibem um percentual demães universitárias semelhante ao das Engenha-rias. Mas, atenção! As semelhanças param poraí. A porcentagem de 2º grau completo é a maisbaixa do conjunto, e a segunda mais alta porcen-tagem está na categoria mãe com 1º grau incom-pleto, que, aliás, é altíssima para o noturno (23,3%versus 43,8%, respectivamente, matutino versusnoturno).

Resumo da transição inscritos/matriculados.Ela é típica desse curso: variáveis negativas afe-tam positivamente os resultados. E graus maiselevados da escolaridade da mãe afetam negati-vamente a transição. Observem os dados do ma-tutino: 35,9% dos filhos de mães universitáriascaem para 32,3% dos matriculados, enquanto1,9% dos inscritos com mães analfabetas serão

6,5% dos matriculados e aqueles 23,3% cujasmães não completaram o 1º grau serão 32,3% dosmatriculados. Ou seja, mesmo no curso diurnode Ciências Sociais, quase 40% dos matricula-dos serão filhos de mães que não completaram o1º grau. E no noturno eles serão 62,5%, com12,5% de mães analfabetas.

Embora os candidatos ao noturno tenhamcrescido de 9,4% dos inscritos para 12,5% na ca-tegoria “mães universitárias”, o fato é que houvequeda nas categorias médias e crescimento ex-pressivo nas faixas mais baixas de escolaridadeda mãe. Os dados de 1996 dispensam análise, jáque confirmam, com nuanças, os de 1995, exce-ção para a queda na categoria mãe analfabeta nodiurno).

Parece que a eleição de 1995, com um Soció-logo como vencedor, não foi suficiente para con-vencer as mães mais instruídas de que o curso deCiências Sociais apresentava caráter promissorpara o futuro.

Mais importante, no entanto, do que analisaro efeito da instrução da mãe sobre as escolhas e osucesso dos filhos no momento do vestibular ébuscar as relações dadas pela profissionalizaçãodas mães na região modernizada do país. Vere-mos aqui, não só alguns dados que revelam essasinfluências, como teremos agora evidências so-bre as dificuldades históricas enfrentadas pelasmulheres no momento da profissionalização mes-mo quando conseguem chegar ao final de umcurso superior.

A ocupação da mãe: Um grande susto!Para análise dos dados de ocupação da mãe

faremos uma rápida e panorâmica reavaliação dosdados dos anos 80. Esta análise será muito rápidauma vez que em 1985/86 as mulheres não apare-ciam em porcentagens expressivas nos mais al-tos níveis das categorias profissionais, o que nãosurpreendia para quem conhecia a face patriarcalda sociedade brasileira tradicional. Também eramraros, obviamente, inscritos cujas mães freqüen-tassem as categorias profissionais “masculinas”do espectro ocupacional de então. Vimos a as-censão da mulher em termos de escolarização,

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claramente exibida pelos dados das “mães VU-NESP” em 10 anos. Nossa hipótese era de queesta ascensão se refletiria nos dados de ocupaçãodas mães dos vestibulandos. Mães com maiorescolaridade teriam conquistado maior participa-ção profissional num mercado cujo contingentede mão-de-obra feminina cresceu muito nestasduas décadas. Mas os dados de 1995/96 nos cau-saram um “grande susto!” As porcentagens maisaltas de ocupação das mães estão exatamente na-quela categoria número 6 (“não exerce atividaderemunerada”), o que significa que são donas decasa ou trabalham na economia informal. A ex-ceção é apenas para Direito matutino – curso eli-tizado por excelência. Mas se na maioria dos

casos, mais de 40% (e até 64,1%), as mães destesjovens privilegiados não se profissionalizaram,temos que repensar as conquistas femininas ce-lebradas por alguns estudos de gênero no Brasil.

Mas observemos primeiramente o quadrogeral da ocupação das mães nos dois momentosconsiderados, o que ajudará a compreender a cor-relação entre as mães profissionalizadas e as es-colhas de prestígio dos seus filhos, fenômeno degrande interesse para quem trabalha com orien-tação profissional. Para tanto, vejamos as duastabelas dos anos 80 sobre as ocupações das mãesde então, que nos permitem visualizar a baixa in-serção da mulher no mercado de trabalho naque-le momento.

Tabela 5Distribuição dos candidatos inscritos segundo ocupação da mãe ou responsável * - 1985

* Códigos das ocupações:1. Proprietários e administradores de grandes empresas (mais

de 100 empregados)2. Profissionais liberais e técnicos de nível superior3. Proprietários de médias empresas (de 10 a 100 empregados)4. Administradores5. Profissionais e técnicos de nível médio6. Professores secundários7. Técnicos e administradores do setor primário8. Proprietários de pequenas empresas (menos de 10 ou

nenhum empregado)9. Técnicos e auxiliares10. Professores primários e afins11. Ocupações de escritório12. Mestres e contramestres13. Militares oficiais

14. Militares não-oficiais e atletas profissionais15. Ocupações da indústria mecânica e metalúrgica16. Outras ocupações qualificadas ou semi-qualificadas do setor

industrial17. Ocupações de transporte e comunicações18. Trabalhadores na indústria de construção19. Trabalhadores na indústria de madeira e móveis20. Outras ocupações qualificadas e semi-qualificadas não-

industriais21. Trabalhadores na indústria têxtil do couro e do vestuário e

na indústria de alimentação22. Trabalhadores diversos não-qualificados do setor de

indústria, artesanato, comércio ou serviço23. Trabalhadores do setor primário24. Outras25. Não sabe / Não respondeu

aerÁ osruC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 01 11 21 31 41 51 61 71 81 91 02 12 22 32 42 52

sacigóloiB deM 2,0 1,6 8,1 9,1 2,1 5,5 1,0 1,5 8,1 4,11 4,1 1,0 0,0 0,0 1,0 2,0 2,0 1,0 0,0 7,0 4,1 6,1 3,0 3,75 6,1

sacigóloiB loiB 0,0 3,3 5,1 4,0 0,0 8,5 0,0 0,4 9,2 7,51 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,0 0,0 0,0 0,0 5,1 8,1 9,2 1,1 8,85 0,0

sataxE télE.E 0,0 6,2 9,0 6,1 0,1 1,5 1,0 6,6 5,1 7,11 0,1 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 4,0 0,0 1,0 7,0 0,2 2,2 9,0 9,06 6,0

sataxE traC.E 0,0 5,3 2,1 2,1 0,0 8,5 0,0 3,9 2,1 6,11 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 3,2 5,,3 2,1 8,55 2,1

sanamuH darT 0,0 6,2 9,0 6,2 0,0 2,5 0,0 2,5 6,2 2,12 3,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 6,0 0,0 0,0 7,1 3,2 4,3 3,0 1,05 1,1

sanamuH coS.C 0,0 4,2 9,4 0,0 8,0 0,0 0,0 9,4 8,0 3,7 4,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,0 8,0 0,0 6,1 6,1 8,9 8,0 0,16 0,0

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Em primeiro lugar vamos à rápida visão pa-norâmica desta variável para 1985. Naquele mo-mento obviamente as porcentagens de inscritoscom mães sem atividade remunerada eram bemmaiores. Iam de 50,1% (caso dos inscritos paraTradutores) a 61% (caso de Ciências Sociais).Hoje elas caíram para todos os cursos, menos paraCiências Sociais (se comparamos dados de 1985com 1995/96).

Como se apresentavam as mães dos inscritosem 1985? Não havia mães grandes proprietáriasou executivas, a não ser para Medicina (0,2%).Elas apareciam em porcentagens modestas nonível 02 (profissionais liberais e técnicas de ní-

vel superior). Interessante observar que os paisnesta categoria já eram porcentagens expressivas,enquanto as mães ficavam entre 2,4% para Ciên-cias Sociais e 6,1% para Medicina. Diferençascoerentes com o maior patriarcalismo da épocaem que nasceram estes pais e mães.7 A variaçãodas porcentagens também era coerente com avariação do prestígio do curso, o que já indicavainfluência positiva das mães mais instruídas naescolha da carreira. Mas não nos resultados, jáque essas porcentagens caíam no momento damatrícula para quase todos os cursos (Tabelas 5 e6). Em 1986 os dados seriam ainda menos ex-pressivos para esta categoria.

Tabela 6Distribuição dos candidatos matriculados segundo ocupação da mãe ou responsável* - 1985

* Códigos das ocupações:1. Proprietários e administradores de grandes empresas (mais

de 100 empregados)2. Profissionais liberais e técnicos de nível superior3. Proprietários de médias empresas (de 10 a 100 empregados)4. Administradores5. Profissionais e técnicos de nível médio6. Professores secundários7. Técnicos e administradores do setor primário8. Proprietários de pequenas empresas (menos de 10 ou

nenhum empregado)9. Técnicos e auxiliares10. Professores primários e afins11. Ocupações de escritório12. Mestres e contramestres13. Militares oficiais

14. Militares não-oficiais e atletas profissionais15. Ocupações da indústria mecânica e metalúrgica16. Outras ocupações qualificadas ou semi-qualificadas do setor

industrial17. Ocupações de transporte e comunicações18. Trabalhadores na indústria de construção19. Trabalhadores na indústria de madeira e móveis20. Outras ocupações qualificadas e semi-qualificadas não-

industriais21. Trabalhadores na indústria têxtil do couro e do vestuário e

na indústria de alimentação22. Trabalhadores diversos não-qualificados do setor de

indústria, artesanato, comércio ou serviço23. Trabalhadores do setor primário24. Outras25. Não sabe / Não respondeu

aerÁ osruC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 01 11 21 31 41 51 61 71 81 91 02 12 22 32 42 52

sacigóloiB deM 0,0 3,3 4,4 1,1 2,2 1,1 0,0 7,6 0,0 2,21 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,1 3,3 2,2 1,1 1,16 0,0

sacigóloiB loiB 0,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 0,6 0,2 0,22 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,2 0,0 0,2 0,45 0,0

sataxE télE.E 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,6 4,3 8,31 4,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,3 4,3 0,0 5,56 0,0

sataxE traC.E 0,0 3,3 0,0 0,0 0,0 3,3 0,0 3,31 0,0 7,61 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,36 0,0

sanamuH darT 0,0 0,0 3,3 3,3 0,0 0,01 0,0 7,6 0,0 3,32 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,3 0,0 0,0 0,05 0,0

sanamuH coS.C 0,0 7,1 3,3 0,0 7,1 0,0 0,0 0,5 7,1 3,31 3,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7,1 0,0 0,0 7,1 0,0 7,6 0,0 0,06 0,0

7 Um dado interessante: 1985 as mães dos candidatos a Ciências Sociais eram o único caso de mães mais instruídas do que os pais2,4% x 1,8% de pais. Mas na matrícula havia empate.

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Instrução Superior e Profissionalização Feminina: as Mães dos Vestibulandos... 129

Tabela 7Distribuição dos candidatos inscritos e matriculados segundo ocupação da mãe - Ano 1.995

Tabela 8Distribuição dos candidatos inscritos e matriculados segundo ocupação da mãe - Ano 1.995

esairáteirporPsarodartsinimdAesednarGed

saidéMsaserpmE

sairáteirporP-imdAesarodartsin

edsoneuqePsoicógeN

sianoisiforP,siarebiLsarosseforPsacincéTelevíNedroirepuS

edsacincéToidéMlevíN

sairárepOacuoPmocoãçacifilauQ

ecrexEoãNedadivitAadarenumeR

meSatsopseR

AERÁ OSRUC .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaMsacigóloiB anicideM utacutoB 4,2 6,5 9,11 6,5 1,93 7,65 8,4 1,1 5,2 0,0 0,83 0,03 3,1 1,1

aigoloiB.J.S.cneciL

oterPoiR8,0 0,0 9,9 0,61 7,22 0,23 8,5 0,4 3,01 0,0 2,94 0,84 2,1 0,0

sataxE acirtélE.gnE arietloSahlI 6,1 0,0 7,5 5,7 4,43 5,73 2,6 5,2 4,4 5,2 5,64 0,05 3,1 0,0acirtélE.gnE uruaB 0,2 4,3 9,01 8,6 8,63 9,55 6,5 4,3 2,4 4,3 3,93 4,52 2,1 7,1acirtélE.gnE áteugnitarauG 2,1 0,0 3,8 6,8 8,23 3,43 2,4 0,0 2,5 7,5 9,74 4,15 5,0 0,0

.gnEacifárgotraC

.serPetnedurP

8,1 0,0 1,7 5,7 5,92 0,53 4,5 5,7 0,8 0,01 3,74 0,04 9,0 0,0

sanamuH serotudarT odalerahcaB 3,1 0,0 5,8 6,51 4,33 4,43 3,6 1,3 0,7 3,6 2,24 6,04 3,1 0,0otieriD onitutaM 5,2 0,2 3,11 0,21 1,44 0,44 5,4 0,8 8,2 0,2 3,33 0,03 4,1 0,2otieriD onrutoN 3,1 0,0 9,9 0,41 1,82 0,24 7,6 0,2 2,9 0,8 6,34 0,43 2,1 0,0

earutetiuqrAomsinabrU

4,1 0,0 2,11 4,4 7,63 8,73 1,4 9,8 7,4 0,0 9,04 7,64 9,0 2,2

saicnêiCsiaicoS

onitutaM 1,1 0,0 4,5 1,3 8,22 0,52 4,5 3,6 0,21 4,9 3,35 3,65 0,0 0,0

saicnêiCsiaicoS

onrutoN 7,0 0,0 8,4 2,2 3,01 9,8 5,5 0,0 0,02 4,42 2,75 2,26 4,1 2,2

esairáteirporPsarodartsinimdAesednarGed

saidéMsaserpmE

sairáteirporP-imdAesarodartsin

edsoneuqePsoicógeN

sianoisiforP,siarebiLsarosseforPsacincéTelevíNedroirepuS

edsacincéToidéMlevíN

sairárepOacuoPmocoãçacifilauQ

ecrexEoãNedadivitAadarenumeR

meSatsopseR

AERÁ OSRUC .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM .rcsnI .rtaM

sacigóloiBanicideM utacutoB 2,2 1,1 2,11 1,11 9,83 4,44 4,4 3,3 4,2 1,1 2,04 8,73 6,0 1,1

aigoloiB.J.S.cneciL

oterPoiR8,0 0,0 4,7 0,0 7,73 0,82 1,4 0,8 2,8 0,21 0,14 0,25 8,0 0,0

sataxE

acirtélE.gnE arietloSahlI 4,1 0,0 0,6 5,21 1,63 5,73 7,4 0,01 1,4 5,2 2,74 5,73 6,0 0,0acirtélE.gnE uruaB 2,1 0,0 7,9 3,31 5,33 3,34 9,2 0,0 8,3 3,3 1,84 0,04 8,0 0,0acirtélE.gnE áteugnitarauG 0,1 0,0 7,6 0,01 8,23 0,03 3,6 0,01 6,3 0,5 2,94 0,54 4,0 0,0

.gnEacifárgotraC

.serPetnedurP

0,0 0,0 7,6 3,3 5,32 3,33 4,8 0,01 9,01 7,6 4,05 7,64 0,0 0,0

sanamuH

serotudarT odalerahcaB 0,2 1,3 8,01 3,6 3,33 4,43 7,5 5,21 6,4 1,3 0,34 6,04 7,0 0,0otieriD onitutaM 7,2 0,0 3,01 7,51 7,34 9,25 0,4 9,5 5,2 0,2 3,63 5,32 5,0 0,0otieriD onrutoN 2,1 0,0 8,9 8,7 2,62 3,33 2,5 9,3 1,8 9,3 5,84 0,15 2,1 0,0

earutetiuqrAomsinabrU

7,1 0,0 9,21 6,51 9,53 6,53 7,4 2,2 3,3 0,0 2,14 7,64 2,0 0,0

saicnêiCsiaicoS

onitutaM 9,1 0,0 9,4 5,6 8,83 0,92 9,1 2,3 7,01 1,61 7,14 2,54 0,0 0,0

saicnêiCsiaicoS

onrutoN 0,0 0,0 9,3 0,5 7,11 5,71 3,2 0,0 4,61 0,51 1,46 5,26 6,1 0,0

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Nas categorias 03 e 04 as porcentagens deinscritos eram tão baixas que não oferecem sig-nificado. Os dados mostram que em 1985 as mu-lheres não atingiam o mundo dos negócios nemcomo proprietárias nem como administradoras,pelo menos dentro dos grupos interessados emmandar seus filhos para a Universidade Públicano interior do Estado. Os dados de 1986 confir-mariam esta análise com exceções (como tendên-cia talvez) para Engenharia Cartográfica, cursode pouco prestígio que teve 5,5% de inscritossubindo para 6,9% dos matriculados no nível 04(Administradores, mas não exatamente do mundodos negócios). Mas 6,9% não é porcentagem sig-nificativa, principalmente quando traduzida paraos números absolutos.

Interessa recordar o nível 06 – mães profes-soras do secundário. As porcentagens eram maisaltas para mães do que foram para os pais nestenível (observem as Tabelas 5 e 6). Ser professorsecundário nem sempre tem o mesmo significa-do para homens e para mulheres. Assim espera-va-se sucesso maior agora para os filhos de mãesprofessoras secundárias. Mas não aconteceu. To-das as porcentagens caíram na transição para osmatriculados, com exceção dos inscritos para Tra-dutores, o que fazia pensar em mães professorasde línguas. Assim, o fato de ter mãe professorasecundária não “favorecia” o sucesso no vestibu-lar a não ser para o curso de Letras na modalida-de tradutores.

Quanto às mães professoras primárias, valea pena repetir a análise dos anos 80.

“E quanto às mães professoras primárias (ní-vel 10), aqui as porcentagens de inscritos são sig-nificativas (também não surpreendentemente). Evão de 7,3% para Ciências Sociais, a 21,2% paraTradutores, girando as outras entre 11,0% e 15%.E aqui a grande surpresa: esta variável parece terpesado favoravelmente. Todas as porcentagenssobem na transição, 11,4% de inscritos em Me-dicina serão 12,2% de matriculados, 15,7% deBiologia serão 22,0% de matriculados, etc. Inex-plicável influência ou apenas coincidência? Outais mães eram bem casadas como queria paratodas as professoras um governador de triste me-mória?” (Whitaker, 1989, p.40)

Voltemos agora ao nível dos pequenos pro-prietários (nível 08 de 1985/86). As mães conse-guiam ser pequenas proprietárias em porcentagensmais significativas, embora bem menores que asdos pais. Elas íam de 4,9% a 9,3%. E a pequenapropriedade ainda favorecia o desempenho. Ocrescimento dos inscritos para matriculados nes-se nível do espectro ocupacional de então acon-tecia para todas as carreiras e era substancial paraalgumas delas (ver dados nas Tabelas 5 e 6).

Bem, não havia mães mestres ou contrames-tres e nem militares, mecânicas ou metalúrgicas.Hoje haveria? Como saber se o espectro da Vu-nesp mudou tanto? Também não havia mães nosníveis 17, 18, 19 e 20 e por motivos óbvios. Sãosetores de transporte, construção, madeira, etc.,espaços masculinos por excelência. Mães traba-lhadoras reapareciam para os inscritos nos níveis21 e 22 (indústrias têxteis, de couro, artesanais eserviços) mas sempre em porcentagens baixas.Havia uma única porcentagem mais expressivaem Ciências Sociais (9,8%). Não é surpresa queseja para este curso.

As mães trabalhadoras não tiveram sorte dever seus filhos matriculados na Unesp em 1985.É bem verdade que os inscritos para Medicinafizeram crescer um pouco suas porcentagens nosníveis 21 e 22 (1,4% e 1,6% respectivamente para3,3% e 2,2%). Também os de Engenharia Elétri-ca cresciam na matrícula o que causava espantopor acontecer em duas carreiras de elite. A super-seleção traz alguns poucos campeões das classespopulares. Mas são poucos, como se sabe. O pa-drão é queda violenta na transição, inclusive para0%. Os filhos de mães trabalhadoras ruraiscompareciam em porcentagens mínimas e a esco-la continua implacável para com eles, que desapa-reciam inexoravelmente na voragem do vestibular.

Os dados de 1986 não apresentavam novida-des em relação aos do ano anterior. As nuançasencontradas acentuavam aspectos característicosdo feminino: cresciam as porcentagens de mãesdonas de casa, confirmava-se a ausência de “mãesmulheres de negócio”, etc.

Mas havia nuanças. Por exemplo, os níveis03, 04, 05 que haviam sido até ignorados, apre-sentavam um pequeno crescimento nas porcen-

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tagens de inscrição e até cresciam na matrícula anun-ciando tendências. Naquele momento observava-se:

“Os dados sugerem que a profissão “moder-na” da mãe influenciou positivamente a transi-ção. Sugerem apenas. Devemos ser cuidadosos,dadas as baixas porcentagens em jogo e que setraduzem, principalmente para cursos de poucaprocura, em números absolutos muito pequenos.”(Whitaker, 1989, p.78)

Todas as outras análises se confirmaram, comtalvez um pouco mais de alegria para as mãestrabalhadoras, cujos filhos conseguiram algumaspoucas vagas em quase todos os cursos, com ex-ceção do curso de Tradutores, no qual o manejoda norma culta é fundamental na concorrência.

A ruralidade da mãe continuava o grandeobstáculo. Interessante observar que nessa cate-goria de nível 23, a ruralidade do pai não foi umtão inexorável obstáculo. Mas a mãe é fator maisimportante na definição do Capital Cultural e ocaso acima ilustra bem o fenômeno.

Bem, vejamos agora os dados de 1995 e ascomparações possíveis. Tal como em 1985, con-tinuam baixas as porcentagens de candidatos fi-lhos de mães empresárias e administradoras. Massão hoje mais significativas? Para compreenderisso devemos fazer a comparação, somando ascategorias 01 e 03 dos anos 80 que separavam osgrandes dos médios empresários hoje unificadosno nível 018. O caso merece uma tabela específi-ca (Tabela 9).

8 Em 1993 a VUNESP reduziu as categorias ocupacionais com as quais trabalhara até então para estratificar pais e mães dos vestibulandose os próprios vestibulandos quando trabalhadores. Dos 24 níveis utilizados anteriormente passou-se para 6 categorias bastantegeneralizantes, como seguem:- Proprietárias e Administradoras de grandes e médias empresas- Proprietárias e Administradoras de pequenos negócios- Profissionais Liberais, Professoras e Técnicas de nível superior- Técnicas de nível médio- Operárias com pouca qualificação- Não exerce atividade remunerada

Tabela 9Inscrições dos filhos de mães empresárias grandes e médias.Quadro comparativo: 1985/86, 1995/96

osruC 5891 6891 5991 6991

anicideM 0,2=8,1+2,0 3,2 2,2 4,2

aigoloiB 5,1=5,1+0,0 5,2 8,0 8,0

acirtélE.E 9,0=9,0+0,0 4,1 4,1 6,1

acifárgotraC.E 2,1=2,1+0,0 4,1 0,0 8,1

serotudarT 9,0=9,0+0,0 2,4 0,2 3,1

siaicoS.C 9,4=9,4+0,0 7,2 9,1 1,1

Os dados acima mostram que a mulher nãoatingiu o mundo dos altos empreendimentos. Enem dos médios. Assim o crescimento das por-centagens do nível 01 entre 1985 e 1995 seria maissignificativo se não tivéssemos somado os doisníveis de 1985/86 que foram compactados no es-pectro profissional posterior.

Mas estas porcentagens merecem análisemesmo sendo tão baixas, já que a mãe é um ele-mento forte de definição do Capital Cultural, con-forme as teorizações mais aceitas. Não háporcentagens altas de mães grandes proprietáriasou executivas. Mas começando com uma análisevertical da Tabela 7 observa-se que há maior pro-

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babilidade de ter esse tipo de mãe para candida-tos a Direito (diurno), Medicina e Tradutores –os cursos realmente mais elitizados. Nem os fu-turos engenheiros elétricos e arquitetos alcança-rão 2% de mães grandes negociantes. Já osinscritos para cursos de menor prestígio ou no-turnos, a porcentagem é abaixo de 1% ou é zero.

Mesmo as mães do nível “pequenos negó-cios” comparecem em porcentagens de inscritosum pouco maiores para cursos de prestígio e quenão sejam Engenharias.9

Análise dos dados para a área BiológicaMas voltemos às análises horizontais. Qual

o perfil das mães para os estudantes que se ins-crevem para o curso de Medicina? Como era dese esperar não são muitas as mulheres de negóci-os já que mesmo no nível 02 há só 11,2%. Umaboa porcentagem está no nível 03, o que era de seesperar já que devem estar ali médicas e princi-palmente professoras. Finalmente são baixas asporcentagens de mães Técnicas e Operárias. Onível 06 nos reservou aquela surpresa que vai serepetir para todos os cursos. Mais de 40% dasmães não exercem atividade remunerada. Se cru-zarmos essa tabela com a da instrução da mãeveremos que nesta categoria muitas mulheres es-tudaram mas não entraram no mercado de traba-lho, uma vez que não têm profissão. Isto relativizamuito nosso entusiasmo com a instrução femini-na dos anos 90 conforme já observamos. Daí ametáfora do “Grande Susto”. Na verdade se cres-ceu a escolarização feminina e as maiores por-centagens de mães em quase todas as categoriaschegou ao curso superior, temos aí uma intersec-ção nos dados: um grande contingente de mulhe-res escolarizadas que não se profissionalizou eno limiar da passagem do milênio permanecia emcasa (ou no mercado informal?)

Vejamos agora se a instrução da mãe ajudaou atrapalha a aprovação. No nível 01 houve que-da de 2,2% para 1,1% (em números absolutos 267inscritos x 1 matriculado). O mundo dos negóciosnão ajuda muito mesmo o candidato a Medicina.

Mesmo no nível 02, a porcentagem mal se man-tém. Os maiores ganhos estão realmente no nível03, há queda nas outras duas categorias e os fi-lhos de mães que não exercem atividade caemapenas 3 pontos percentuais na transição.

Já os candidatos à Biologia crescem justa-mente nos 3 níveis mais baixos do espectro pro-fissional das mães. É fantástico! No nível dosnegócios ninguém foi aprovado? A queda per-centual é brutal para o nível 03. Aguardemos osdados de 1996.

Dados de 1995 para a área de exatasPassemos às Exatas. Conforme já assinala-

do, é de pouco mais de 1% a porcentagem de fi-lhos de mães grandes negociantes inscritos paraas três Engenharias Elétricas. Porcentagens umpouco maiores envolvem filhos de mães “peque-nos negócios”. Mais de 30% estarão no nível 03.Não há novidade nas porcentagens baixas dosníveis 04 e 05 e a constante alta do nível 06. Aquisão mais de 45% as mães que não exercem ativi-dade remunerada. Quase 50% para Guaratingue-tá. Transição – os filhos de mães grandesnegociantes desaparecem. Mas crescem as por-centagens no nível 02, quase dobrando para IlhaSolteira. Quanto ao nível 03, só em Bauru cres-cem muito as porcentagens de filhos de profissi-onais liberais e professoras. E crescem quase 10pontos percentuais. Em Guaratinguetá há perdase em Ilha Solteira pequena alteração. Outra sur-presa! Quando a mãe é técnica de nível médio ainfluência parece ser positiva. De 4,7% vão para10% os aprovados em Ilha Solteira. De 6,3% para10% em Guaratinguetá. Em Bauru já era baixa edesaparece essa porcentagem numa exceção di-fícil de explicar (ou coerente com o maior graude elitização desse curso?).

Filhos de operárias com pouca qualificaçãonão costumam ter sucesso no vestibular para cur-sos de prestígio. A exceção – mais uma vez –Engenharia Elétrica de Guaratinguetá, onde oscandidatos desse nível passam para 5% (18 ins-critos para 2 matriculados). E os do nível 06? Nos

9 Começa a chamar a atenção o caráter menos elitizante das Engenharias Elétricas, principalmente Guaratinguetá e Ilha Solteira.

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três cursos de Engenharia Elétrica os inscritosperdem pontos na transição. Ter mãe em tempo-integral só ajudou até agora os inscritos para Bio-logia. Questões de gênero estão envolvidas.

Se há poucos filhos de grandes empresáriasnas Engenharias Elétricas que têm mais prestí-gio, imaginem na Engenharia Cartográfica. Elesnem se inscrevem. No nível 02 a procura é per-centualmente semelhante à de Guaratinguetá. Aconcentração percentual do nível 03 não acom-panha a tendência geral. É bem mais baixa (23,5%),já que vão aparecer porcentagens mais substan-ciais nos níveis mais baixos (04 e 05) e 50% nonível das mães sem atividade remunerada – umperfil mais democrático do que o de Biologia.

Transição: cai pela metade o percentual nonível 02. Os filhos de professoras e profissionaisliberais sobem quase 10 pontos percentuais. Ga-nham ligeiramente os técnicos de nível médio,enquanto os filhos das operárias caem mais de 3pontos percentuais. Na categoria 06 a presençada mãe dona de casa continua não ajudando oscandidatos na transição inscritos-matriculados.

Os dados da área de HumanasVejamos agora o curso de Tradutores. Filhos

de mães empresárias associam-se bem com estaprocura. Nos dois níveis temos porcentagens al-tas quando comparadas com o conjunto na verti-cal. A concentração maior, porém, é no nível 03(com exceção da categoria 06 que é a constanteaqui). Não são tão baixas as porcentagens nosníveis 04 e 05 – quando se pensa no caráter eliti-zante do curso (detectado em 1985/86). A por-centagem de mães sem atividade remuneradaacompanha o modelo.

Transição? Opa! O mundo dos grandes ne-gócios ajuda o sucesso para Tradutores (já obser-vado para 1985/86). É um dos poucos casos emque esta categoria não desapareceu. O outro éMedicina. Mas aqui o percentual cresce (de 2%para 3,1%).

Cai o percentual no nível 02 e pasmem! –sobe muito pouco no nível 03, nível no qual su-postamente esta profissão deveria ser valorizada(ou não?). E cresce de 5,7% para 12,5% entre os

técnicos de nível médio (!). Com os dados de 1996ver-se-á se esta profissão deselitizou. Filhos deoperárias sem qualificação e de mulheres sematividade remunerada também perdem terreno.Mas a porcentagem de filhos de dona-de-casacontinua alta como em todos os outros cursos.Direito matutino (aleluia!) vai ser a exceção. Ve-jamos o conjunto.

Mães grandes empresárias se correlacionammelhor com cursos diurnos para os filhos (moti-vos óbvios). Assim, as porcentagens da procurapelo matutino são maiores do que pelo noturnoaté o nível 03. A partir do nível 4 a relação seinverte. Tomemos apenas os dados das duas con-centrações: no nível 3 são 43,7% dos candidatosao período matutino enquanto para o noturno sãoapenas 26,2%. Já para mães que não trabalham aporcentagem é bem maior no noturno (48,5%contra 36,3% no diurno). Mas os filhos de gran-des empresárias são eliminados na transição(!).

Crescem, no entanto, no nível 02 para o ma-tutino (5 pontos percentuais), perdendo apenas 2pontos no noturno. O nível 03 vê crescerem asporcentagens como no padrão vigente. Técnicasde nível médio fazem crescer sua porcentagempara o matutino e filhos de operárias perdem sem-pre (observar noturno). Na categoria 06 há per-das substanciais para os candidatos do diurno,enquanto cresce a participação dos inscritos nonoturno. Mães donas de casa parecem favorecero sucesso nos cursos de menor prestígio e no no-turno, mas vai acontecer para Arquitetura tam-bém. Mães dona de casa estariam então associadasa outras categorias que encaminham para o su-cesso nestes cursos. Questão a ser pesquisada. Naverdade estas porcentagens de inscritos com mãesem atividade remunerada é sempre maior nocurso de menor prestígio de cada área em relaçãoao de maior prestígio. Exemplo: Engenharia Car-tográfica 50,4% x Engenharia Elétrica 47,2%,48,1% e 49,2% em cada um dos três cursos daUNESP.

O mundo dos altos negócios femininos não étão incompatível com Arquitetura – 1,7% é umpouco mais do que as escolhas por EngenhariaElétrica. Mas é no mundo dos pequenos negócios

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que a escolha por Arquitetura suplanta os outroscursos (pensar nas questões estéticas ligadas adecoração, design, programações etc.). De restosem novidade – a mesma concentração no nível03, baixas porcentagens nos níveis 04 e 05 e muitamãe em casa (41,2%), mas não tanto quanto nasEngenharias Elétricas.

Aprovação? Desaparece a já pequena porcen-tagem do nível 01. Sucesso relativo dos filhos de“mães pequenos negócios” (de 12,9% para15,6%). A categoria de maior sucesso – nível 03– aqui mal se mantém (!). Perdas nas duas outras(operárias desaparecem). Quem ganhou? O nível06. Aguardemos os dados de 1996 para ver seArquitetura é mesmo tão diferenciado em termosdos efeitos provocados pela ocupação das mães.

Vejamos agora a performance desta variávelno curso de Ciências Sociais. Bem, até aqui asmães empresárias não impediram inscrição dosfilhos no matutino.

Mas 1,9% são apenas 2 candidatos. São pou-cos também os candidatos filhos de mães do ní-vel 02 – tanto para o matutino quanto para ovespertino. A grande concentração no nível 03segue o modelo no diurno. Mas não acontece nonoturno. Aqui é baixíssima, para o conjunto, aporcentagem de inscritos no nível 03. Poucoscandidatos são filhos de técnicas de nível médio,tanto no matutino (1,9%) quanto no noturno(2,3%). Mas é significativa no conjunto a por-centagem de filhos de operárias. Não é para sedesprezar os 16,4% desse nível (05). Mães donas

de casa, estas sim comparecem de forma expres-siva. No diurno acompanham o modelo, e no no-turno são 64,1% – maioria esmagadora. Como secorrelaciona a profissão da mãe com a aprovaçãoneste reduto de inscrições populares?

Os candidatos do nível 01 foram reprovadosou desistiram?

Pequeno sucesso no nível 02 e pasmem! – aboa profissão da mãe nada ajudou na matrículapara os candidatos do matutino que perderamquase 10 pontos percentuais na transição mas aju-dou os candidatos do noturno – de 11,7% forampara 17,5% dos matriculados.

Filhos de técnicas de nível médio cresceramum pouco no diurno e perderam todos os inscri-tos para o noturno. Filhos de operárias tiveramboas performances, paradoxalmente melhor nodiurno. Quanto ao nível 06 ganhou no diurno eperdeu no noturno.

Antes de buscar os dados de 1996 para con-firmar estas análises vejamos duas questões pou-co claras no texto. Quais são essas questões?

A primeira delas é: a profissão da mãe influina escolha? Dados muito concentrados dificul-tam a busca das relações. Mas essas relações apa-recem de forma interessante no caso das mãesque não exercem atividade remunerada. As por-centagens desta categoria guardam alguma rela-ção com cursos de menor procura, com cursosnoturnos e com a área de Exatas. A organizaçãodos dados da inscrição em porcentagens decres-centes denuncia.

Tabela 10Inscritos e matriculados do nível 06 nos diferentes cursos – 1995

sosruC sotircsnI sodalucirtaM1 onrutonsiaicoSsaicnêiC 1,46 5,262 acifárgotraCairahnegnE 4,05 7,643 áteugnitarauG-acirtélEairahnegnE 2,94 0,544 onrutonotieriD 5,84 0,155 uruaB-acirtélEairahnegnE 1,84 0,046 arietloSahlI-acirtélEairahnegnE 2,74 5,737 serotudarT 0,34 6,048 onruidsiaicoSsaicnêiC 7,14 2,549 omsinabrUearutetiuqrA 2,14 7,6401 aigoloiB 0,14 0,2511 anicideM 2,04 8,7321 onitutamotieriD 3,63 5,32

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O primeiro dado: se traçarmos uma separa-ção 6 por 6, veremos que todos os curso de Exa-tas estão na parte superior (porcentagens maisaltas de mães donas de casa).

Segundo dado: “distância” entre o curso diur-no e o noturno nessa classificação decrescente.

Inferências possíveis: candidatos com esco-lhas menos ambiciosas serão mais provavelmen-te filhos de mães donas de casa. Ou, quando amãe exerce trabalho remunerado, seus filhos as-pirarão tendencialmente profissões de mais pres-tígio. Mas a relação não é mecânica.

Será mediada por dois fatores: área de prestí-gio (e por isso Biologia está no segundo bloco databela) e caráter diurno do curso (e por isso o diur-no de Direito é o mais elitizado desta categoria e ode Ciências Sociais noturno ocupa o topo da lista).

E mais um sintoma de que a área de Exatasnão é assim tão prestigiosa.

É claro que na transição a ordenação se emba-ralha e muito. Em que medida a mãe dona de casafavorece-desfavorece a aprovação? É fascinante verque de alguma forma os resultados restabelecem ahierarquia dos cursos. Observem a Tabela 11:

Tabela 11Matriculados da categoria nível 06 nos diferentes cursos - ordemdecrescente

sodavorpaed%)etnecsercedmedrome( osruC

5,26 onrutonsiaicoSsaicnêiC

0,25 aigoloiB

0,15 onrutonotieriD

7,64 acifárgotraCairahnegnE

7,64 omsinabrUearutetiuqrA

0,54 áteugnitarauG-acirtélEairahnegnE

0,54 onruidsiaicoSsaicnêiC

6,04 serotudarT

0,04 uruaB-acirtélEairahnegnE

8,73 anicideM

5,73 arietloSahlI-acirtélEairahnegnE

5,32 onitutamotieriD

1) São filhos de mães predominantementeprofissionais: aprovados para Direito, Engenha-ria Elétrica de Ilha Solteira, Medicina, Engenha-ria Elétrica de Bauru;

2) São filhos de mães medianamente profis-sionais: Tradutores, Ciências Sociais diurno, En-genharia Elétrica de Guaratinguetá, Arquitetura,Engenharia Cartográfica;

3) São filhos de mães predominantementesem atividade remunerada: Direito noturno, Bio-logia e Ciências Sociais noturno.

Realmente, para 1995 a correlação entre pres-tígio do curso e esta variável não pode ser des-prezada.

Há três cursos elitizadíssimos em relação in-versa com os aprovados cujas mães são predomi-

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nantemente donas de casa. E os dois cursos no-turnos guardam relação positiva com as maioresporcentagens de matrículas de filhos de mães sematividade remunerada.

Os dados de 1996 - nuanças inesperadasQuanto aos dados de 1996, já vimos que con-

firmam os de 1995 no caso do nível 01. Confir-mam também as porcentagens um pouco maisexpressivas da categoria “mãe pequenos negó-cios” que aparecem em 1995 (ou oposição a 1985/86 quando eram baixíssimas). No entanto, o mo-vimento dos dados na transição inscritos-matri-culados não oferece qualquer lógica. Quando osnúmeros dançam demais o pesquisador tem queenfrentar o imponderável. Como explicar que em1995 os candidatos a Biologia filhos de peque-nas empresárias fracassam tão redondamente ca-indo para 0% e em 1996 alcancem sucessoretumbante quase dobrando sua porcentagem.Com efeito, não há correlação entre o fato da mãeser pequena empresária e o sucesso no vestibu-lar. A concentração de inscritos no nível 03 serepete para todas as categorias, porém a alta con-centração se dá mesmo na de nível 06, com amesma exceção de 1995 para o matutino de Di-reito que exibe orgulhosamente 44,1% de inscri-tos com mães profissionais do nível 03 contra33,3% com mães donas de casa (novamente amenor porcentagem na vertical), ilustrando bemnossa hipótese de que mães profissionalizadaspressionam os filhos tendencialmente para car-reiras de mais prestígio.

Mas vejamos as confirmações (e nuanças) nahorizontal. A distribuição percentual dos inscri-tos para Medicina repete a de 1995 com impres-sionante similitude nos dados, mas com resultadosmuito diferentes. Agora a grande propriedade damãe não atrapalhou os resultados no nível 01, massim no nível 02. Observem como a porcentagemde inscritos-matriculados passa de 2,4% para5,6% (mais do que o dobro) no nível 01, caindopela metade no nível dos filhos de mãe pequenosnegócios – aonde teoricamente deveria subir. Osganhos dos candidatos do nível 03 são ainda maio-res do que em 1995 e as quedas nos outros níveis

repetem o ano anterior. O movimento dos dadospara Medicina repete o do ano anterior, com exce-ção das categorias “empresariais” que são menossignificativas no caso da ocupação das mães.

Para Biologia, conforme já assinalado, pre-dominam os imponderáveis. O caso merece aná-lise comparativa que possa sugerir explicações.

Os dados de 1996 contrariam em quase tudoo movimento dos dados de 1995, confirmandoapenas a inexistência de candidatos com mãesgrandes ou médias empresárias. Mas até as pro-fissionais liberais “afastaram” seus filhos destecurso, que vai ter agora porcentagem de inscritosbem mais substanciais nos níveis mais baixos doespectro considerado – um ano realmente atípicopara curso de Biologia (São José do Rio Preto).

Engenharia Elétrica de Ilha Solteira confir-ma o perfil de distribuição dos inscritos do anoanterior. Quanto aos dados da matrícula há umaconcentração de aprovados no nível 06 (são 50%de aprovados filhos de donas de casa, fenômenojá assinalado), o que faz cair, na transição consi-derada as categorias mais baixas sem prejudicaras mais altas.

Na Engenharia Elétrica de Bauru repetem-seas altas porcentagens no nível 03, que em 1996irão se acentuar ainda mais. Ocorre queda sur-preendente no nível 06, tanto na inscrição comono momento da matrícula. Assim, os númerosdançam para as outras categorias. Agora os fi-lhos de “mães grandes empresárias” fazem cres-cer seu percentual no momento da matrícula. Eesse sucesso faz com que os filhos de “mães pro-prietárias de pequenos negócios” percam 4,1 pon-tos percentuais na transição.

Já a Engenharia Elétrica de Guaratinguetárepete 1995, com algumas nuanças no perfil dainscrição. No momento da matrícula os númerosdançam e os filhos de técnicas de nível médiodesaparecem na transição. Perdas também paraos filhos de mães “pequenos negócios”, nível 02,em relação à 1995 (10% contra 8,6% em 1996).Ganhos surpreendentes para o nível 06 (mais de6 pontos percentuais - 45,0% em 1995 contra51,4% em 1996). Guaratinguetá e suas especifi-cidades!

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As variáveis afetam mais a inscrição do queos resultados (na transição interferem os impon-deráveis). Repete-se o fenômeno com Engenha-ria Cartográfica, que reproduz a distribuição doano anterior com mudanças nas duas categoriasque apresentam as concentrações característicasdesta variável. Cresce a porcentagem de inscri-tos com mães profissionais liberais (são agora29,5% contra 23,5% do ano anterior). Conseqüen-temente cai a porcentagem de inscritos com “mãesdonas de casa” (que são agora 47,3% contra50,4% do ano anterior).

No entanto, a distribuição das porcentagensna matrícula não é assim tão diferente daquela doano anterior. Lá está o mesmo vazio no primeironível, porcentagens muito semelhantes no nível03 e concentração um pouco menor apenas nonível dos matriculados filhos de “mães donas decasa”. A variável influiu nessa distribuição? Oquadro é tão ambíguo como o de 1995 e repete amá performance da categoria 06.

O curso de Tradutores repete ainda com maisnitidez os dados de inscrição do ano anterior. Namatrícula repetem-se as porcentagens das cate-gorias de nível 03 e 06 (exatamente as de maisalta concentrações), variando todas as outras.Desta vez o mundo dos grandes negócios não aju-dou o sucesso para o curso de Tradutores. Mas odos pequenos negócios ajudou bastante (contra-riamente a 1995). Confirmando 1995, as mães donível 03 não fazem subir consideravelmente asporcentagens dos filhos na transição considera-da. Cai agora a participação dos filhos dos técni-cos de nível médio e de operários mostrando quea carreira não se deselitizou (sugestão que ficarados dados do ano anterior).

Novamente a correlação entre ocupação damãe e escolha se expressa. O curso de Direitorepete os dados do ano anterior para os inscritosde 1996 com mais impressionante clareza aindado que Tradutores. A transição inscritos-matri-culados sofre, como sempre, nuanças e perturba-ções, principalmente no noturno. O curso noturnode Direito vai então sofrer um processo de eliti-zação no momento da matrícula aproximando seuperfil do diurno com relação a esta variável.

Arquitetura e Urbanismo sem novidades nasinscrições com dados semelhantes aos de 1995.A transição considerada repete os dados de desa-parecimento dos candidatos com “mães grandesempresárias” mas não repete o sucesso dos ins-critos com mães pequenas empresárias que aquicaiu para 4,4% dos matriculados. Os filhos deprofissionais liberais sobem muito pouco enquan-to os filhos de mães técnicas de nível médio maisdo que dobram sua participação. Repete-se o de-saparecimento da categoria profissional mais bai-xa que já ocorrera em 1995 e repete-se também osucesso dos filhos de mães donas de casa, confir-mando o caráter diferenciado de Arquitetura, su-gerido pelos dados do ano anterior. O curso deCiências Sociais repete os dados inexpressivosde 1995 para inscritos da mais alta categoria ocu-pacional que tornam a desaparecer (diurno e no-turno). Caem aqui as porcentagens dos filhos depequenas empresárias que subiam na transição em1995. Mães do nível 03 são agora em porcenta-gens ainda mais baixas, tanto para inscritos quantopara matriculados e tanto inscritos quanto matri-culados concentram-se mais ainda nas categoriasprofissionais mais baixas, confirmando boas per-formances do ano anterior e o desastre dos filhosde técnicas de nível médio na transição conside-rada.

A análise dos dados sobre o efeito da ocupa-ção das mães é bastante reveladora da ambigüi-dade das relações de gênero na sociedade dita“modernizada”. Afinal estamos lidando com asuposta modernidade do pais neoliberal, no seuEstado mais industrializado e desenvolvido emespaços de camadas médias que aspiram a Uni-versidade.

No entanto, as grandes constantes dos dadosde ocupação estão sempre, tanto para 1995 comopara 1996, em categorias profissionais tradicio-nalmente femininas - o nível 06 (no qual estãoclaramente as donas de casa) e o nível 03 (no qualestão professoras).

Nas outras categorias profissionais as porcen-tagens são sempre muito baixas. Os dados mos-tram correlação positiva entre ocupação deprestígio da mãe e profissões de mais prestígio

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no momento da escolha (inscrição). Na transiçãoa dispersão atrapalha a busca das relações. Noentanto elas estão claramente explicitadas no textoporque entendemos que devemos explorar cadarelação possível tentando extrair dela o máximode informações e deixando ainda em aberto assugestões que enriquecem e estimulam a pesqui-sa em diferentes direções.

O exercício que fizemos para 1995 correla-cionando os inscritos da categoria 06 (mães do-nas de casa) com o prestígio do curso escolhido ealcançado pode ser repetido infinitamente: para1996, para a categoria 03, ou para todas as cate-gorias. Mas isso estenderia esse texto monotona-mente ao infinito.

O notável daquele exercício é o seu caráterquase sinfônico, apontando para resoluções dascontradições e dissonâncias num modelo quaseperfeito de reprodução do real. Não cremos queos dados de 1996 repitam a proeza e por isso nãonos esforçamos em reproduzi-los. Mas deixamoso convite para que outros o façam.

Mas vejam como as porcentagens para Me-dicina, e Direito noturno repetem as tendênciasapontadas. E vejam como Ciências Sociais tam-bém reproduz a compatibilidade entre mãe donade casa e curso de menor prestígio. A novidadeaqui é que Direito noturno e Ciências Sociaisevoluem agora para posições mais próximas dosseus epônimos. É como se o prestígio do cursodiurno acabasse contaminando o noturno. E vice-versa.

CONCLUSÕES PRELIMINARES

Ao encerrar este artigo devemos agradecer apaciência do leitor que nos acompanhou até aqui.

Conforme temos reiterado, dados quantitativosquando analisados guardam relações qualitativas.E como tais relações são infinitas, devemos in-sistir em análises exaustivas (embora não se es-gotem as relações infinitas). O leitor pode sedebruçar mais sobre aquelas que mais o interes-sarem, e pode também buscar os dados nas tabe-las e estabelecer outras relações.

No entanto devemos agora ao leitor, uma sín-tese tranquilizadora a respeito das correlações quemais interessam ao profissional da OrientaçãoProfissional. E esta síntese pode ser expressacomo segue:

1) Não dá para desprezar o papel da mãe nomomento crucial em que o adolescente pensa emescolha profissional;

2) Esse papel, no entanto é cheio de nuançase contradições. Pela lei dos grandes números po-rém ficou clara a correlação entre a profissionali-zação da mãe e escolhas de mais prestígio nomomento do vestibular;

3) A influência das mães parece mais fortenos anos 90 do que nos anos 80 e se dá muitomais através da profissionalização do que da ins-trução;

4) Mães de vestibulandos no interior do Es-tado mais urbanizado, industrializado e suposta-mente modernizado do país ainda enfrentavam,ao final do milênio, obstáculos para se profissio-nalizarem, mesmo após terem invadido quase to-dos os cursos superiores existentes.

A conclusão final é de que relações de gênerodevem ser levadas em conta com muita atençãopelos profissionais da Orientação Profissional,para evitar que os resquícios do patriarcalismoperturbem ainda mais um processo já por si tãocomplexo como a escolha da carreira.

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REFERÊNCIAS

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Recebido: 11/06/2003Revisão: 01/07/2003

Aceite final: 10/07/2003

Sobre os autoresElis Cristina Fiamengue, é socióloga, com Mestrado e Doutorado em Sociologia pela UNESP -Campus de Araraquara – SP de Araraquara, docente da UNIMEP, Piracicaba.

Dulce Consuelo Andreatta Whitaker, Professora (aposentada) do Departamento de Sociologia daUNESP - Campus de Araraquara – SP. Especializada em Sociologia da Educação. É pesquisadora doCNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e professora vinculada aoPrograma de Pós-Graduação em Educação da Unesp (Araraquara). Autora de diversos livros.