Instrumentos de Avaliacao e Relatorios Psicologicos

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Instrumentos de Avaliao e Relatrios Psicolgicos O Principezinho: Processo de Avaliao Psicolgica de um caso de SobredotaoM. J. Almeida & M. Vilar (baseado num caso acompanhado no mbito do Estgio em Avaliao Psicolgica, Aconselhamento e Reabilitao)

MoteO essencial invisvel aos olhos....Mas no aos testes... Mas no Avaliao Psicolgica...

Introduo

O estudo da sobredotao no pode ser separado do contexto social em que se insere (Miranda & Almeida, 2003)

Introduo (cont.)Desde a ligao ao sobrenatural (divino ou das foras malficas), psicopatologia (a doena mental considerada condio necessria para a genialidade), passando pelo foco no potencial intelectual elevado, enquanto trao imutvel e fixo, at redefinio da importncia e do significado do QI (deixando de sublinhar apenas as aptides e valorizando as estratgias e os processos, reconhecendo variveis associadas aos estilos cognitivos),...

Introduo (cont.)...bem como valorizao de outras variveis psicolgicas e sociais, que no estritamente as cognitivas (desempenho acadmico, criatividade, motivao, personalidade, contextos sociais de vida e contextos educacionais), o conceito de Sobredotao modificou-se, ao longo dos tempos (Pereira, 1998).

Introduo (cont.)

No entanto, muitos dos pressupostos dos modelos antigos continuam a manter-se e a expressar-se nos receios e representaes de pais e professores... e nas prticas de Avaliaoe de Interveno...

DefiniesDefinio de Marland (ref.legislao federal dos EUA, 1972, reformulada na dcada de 90): uma criana sobredotada quando apresenta um elevado potencial, que lhe vai permitir atingir um excelente desempenho/ performance. A aptido poder ser: intelectual geral, acadmica especfica, pensamento criativo ou produtivo, liderana, artes, psicomotricidade (categoria posteriormente retirada).

Definies (cont.)Renzulli (1979/1981/1986)- Modelo dos Trs Anis A sobredotao consiste na interaco de 3 grupos de caractersticas/ anis: -Aptido acima da mdia, mas no necess. excepcional. As aptides podem ser gerais (raciocnio numrico, fluncia verbal, memria) ou especficas (matemtica, qumica, pintura, dana), representando um conjunto de caractersticas relativamente estveis e constantes - Criatividade elevada (fluncia, flexibilidade, originalidade e elaborao) - Motivao elevada ou envolvimento/empenho na tarefa (motivao intrnseca) e que inclui traos como a persistncia, a dedicao, o esforo e a auto-confiana.

IdentificaoIdentificao da criana sobredotada atravs do modelo de Renzulli (Resolving Door Identification Model RDIM/ Modelo da Porta Giratria) 2 momentos: 1) Os alunos so identificados atravs de testes psicomtricos formais e so sinalizados todo os que alcancem uma performance superior a 80-85 (percentil), num teste de aptido geral ou especfica. Nesta fase, as aptides so medidas por testes estandardizados, Escalas de nomeao, informao de profs., pares e pais (talent pool).

Identificao (cont.)2) Depois da sinalizao, as crianas so observadas em actividades de enriquecimento. recolhida informao (em funo do que realizam) passam realizao de diferentes actividades: enriquecimento tipo Iactividades exploratrias gerais, assuntos de interesse da criana, no contemplados nos currculos regulares (atravs de conferncias, visitas...)

Identificao (cont.)Tipo II: treino de competncias em grupo (modelos de investigao, processos de pensamento de nvel superior e mtodos de desenvolvimento pessoal e social) Tipo III- investigao individual ou em pequenos grupos (problemas concretos, cujo objectivo fornecer experincias de enriquecimento de nvel avanado, estimulando a aprendizagem auto-dirigida, a capacidade de auto-monitorizar o comportamento e de desenvolver projectos)

Avaliao(Pereira, 1998) Anlise funcional e diferencial, tendo em conta 7 variveis e a conjugao de informao nos diversos domnios ( diferentes tipos de sobredotao diferentes estratgias educativas )

Avaliao (cont.)Variveis a considerar: rea de expresso (pode tratar-se de uma aptido especfica ou de uma aptido geral) Grau (QI ligeiro 130-144; moderado 145-160; profundo >160) Idade (para distinguir entre sobredotao e precocidade, saber o que estrutural e o que depende de outras condies, como a hiper-estimulao, por exemplo)

Avaliao (cont.) Motivao (factor catalisador, transforma a sobredotao em talento, no sentido da realizao; pode ser baixa ou elevada) Tratamento da informao (estilo assimilador, estilo criativo) Relevncia social (ser ou no relevante) Contexto (pode manifestar-se somente em contexto escolar, ou num outro contexto)

Avaliao (cont.)Exemplo: Sobredotao Intelectual - inteligncia superior mdia, no geral 130 - frequentemente, acompanhada de um bom desempenho acadmico - muitas vezes, resolvem problemas de modo divergente e de diferentes maneiras

Avaliao (cont.)- demonstram entusiasmo, persistncia e rapidez na aprendizagem - revelam curiosidade, apresentam boa memria e bom raciocnio lgico-matemtico - revelam superioridade nas capacidades meta-cognitivas - tm interesses bem definidos (podem ser temporalmente circunscritos) - de um modo geral, revelam precocidade na aquisio de determinadas competncias, nomeadamente no domnio lingustico - a criatividade e a motivao podem estar presentes em diversos graus

Avaliao (cont.)Protocolo de Avaliao: Entrevista com os pais e histria do desenvolvimento ver:precocidade na linguagem; curiosidade exacerbada; interesses pouco habituais, muito circunscritos e delimitados no tempo; sensibilidade esttica/pr- social; persistncia e motivao para o que apreciam e com fraca tolerncia frustrao e comportamento de evitamento relativamente a tarefas que no apreciam;

Avaliao (cont.)memria excepcional; perodos de sono (desde bebs, perodos de viglia alargados e sono irregular); medos e fobias (ex. da morte); precocidade na linguagem escrita; aprendizagem auto-dirigida; dores de cabea (frontal e pr- frontal); outros dados de ordem mdica/clnica; transgeracionalidade e posicionamento na fratria (ser primognito).

Avaliao (cont.)

Inventrios de comportamento para pais e professores ex: CBCL/ICCP, TRF/ICCPR, EACCAS (Escala de Avaliao das Caractersticas Comportamentais do Aluno Sobredotado)

Avaliao (cont.)Domnio Cognitivo . Escalas de Inteligncia (ex. WISC- III) MPCR Provas operatrias (permitem diferenciar comportamentos precoces por estimulao de outros com especificidade estrutural) Criatividade (ex: Testes de Pensamento Criativo, de Torrance)

Avaliao (cont.)Domnio Socio- Afectivo . Questionrio de Auto- Conceito (ex: Piers-Harris) . Questionrios de Sintomas (ex: Ansiedade, Depresso, Medos) . Tcnicas Projectivas (ex: RATC, CAT, TAT, Desenho da Famlia...) Domnio Pedaggico/Desempenho Escolar

Interveno e Preveno de Factores de RiscoVer: esteretipos a combater Ver: factores de risco - Estabelecer relao de causalidade sobredotaoproblemas de comportamento (>psicopatologia; risco para o desenvolvm. socio-afectivo) - Funcionamento dentro de esquema cognitivo diferente (>falhar em aspectos simples; fazer saltos que no consegue explicar; pensamento vector de simultaneidade; preferir o complexo e no investir noutras tarefas; preguia aprendida; aborrecimento)

Interveno e Preveno de Factores de Risco (Cont.)- Ignorar que inteligncia pode ser ansigena (>comportamentos obsessivos, compulsivos; colocar metas inatingveis) - Risco de depresso (hipersensibilidade, isolamento social, falso self por tentativa de ajustamento realidade dos pares) - Adultomorfizao, parentificao (> oposio, inverso de papis)- No sincronia domnios cognitivo-psicomotor

Apresentao do Caso1.Identificao:Nome: Principezinho Data(s) de Avaliao:2005/12/13... Data de Nascimento: 1995/05/18 I.C.: 10A; 06M;25D Ano de Escolaridade: 5 ano Residncia: Zona Urbana Agregado Familiar: pai (47A,Tcnico); me (44A, Empr. Limpeza,);irmo (5A, Jardim-de-Infncia).

Caso (cont.)2.Motivo de Consulta: O Principezinho veio pela primeira vez Consulta por suspeita de Sobredotao. O pedido de consulta foi efectuado pela pediatra, que o segue no Hospital da zona de residncia, que solicitou uma avaliao do desenvolvimento cognitivo da criana.

Caso (cont.)3. Informao ContextualAntecedentes pessoais e histria de desenvolvimento Nascido num pas estrangeiro, onde viveu at aos 5 anos, o Principezinho fruto de um segundo casamento do pai e primeiro casamento da me. o primeiro filho do casal. A gravidez foi planeada, tendo decorrido sem problemas. O parto foi normal (38 semanas de gestao). Nasceu com 3.300Kg e 47 cm, indicadores de adequado perfil estato-ponderal.

Caso (cont. ponto 3)Segundo a me, o Principezinho teve um desenvolvimento psicomotor precoce (aos 6 meses j se sentava e deu os primeiros passos aos 8 meses). Em termos de linguagem, disse as primeiras palavras aos 12 meses e aos 18 meses construa frases elaboradas, sem qualquer dificuldade de articulao. Adquiriu o controlo esfincteriano aos 16 meses (deixou de usar fralda por vontade prpria, passando a utilizar a casa-de-banho, como os adultos). Todos estes aspectos so reveladores de precocidade, em termos de desenvolvimento.

Caso (cont. ponto 3)

A me assinala algumas particularidades em termos de comportamento alimentar (no gosta de ver gordura na comida, por exemplo, na carne, na sopa), mas nunca revelou outros problemas, a este nvel. Tendo, inicialmente, um sono agitado (problema que se prolongou at aos 3 anos de idade), esta no , actualmente, uma rea de preocupao.

Caso (cont. ponto 3)Em termos socio-afectivos, o Principezinho sempre preferiu a companhia de adultos ou de crianas mais velhas. Esta , actualmente, uma rea problemtica do seu desenvolvimento. Segundo os pais, no tem amigos da sua idade (na escola, foi nomeado tutor de uma criana com deficincia que, segundo o Principezinho, o seu nico amigo).

Caso (cont. ponto 3)Os colegas, na escola, implicam com ele, quer por ser uma criana com gostos e interesses diferentes dos do seu grupo de pares (gosta de pera e jazz, em vez de rock, por exemplo), quer pelas suas caractersticas personalsticas (cumprimento obsessivo de normas, comportamento exemplar, responsabilidade extrema). O Principezinho chora frequentemente, por no ter amigos. Pergunta aos pais se eles, na sua idade, tinham amigos. Os aspectos socio-afectivos constituem-se, assim, como principal rea de preocupao, para os pais e para a criana.

Caso (cont. ponto 3)Segundo os pais e a professora, o Principezinho anda frequentemente preocupado, tem medo de falhar e fica extremamente ansioso quando as coisas no correm como deseja. Por vezes, tem alteraes sbitas de humor, fica magoado e triste, quando sente que o criticam, e parece estar constantemente infeliz, sobretudo nos ltimos meses, por sentir que no gostam dele. O Principezinho apercebe-se que no igual s outras crianas da sua idade.

Caso (cont. ponto 3)Fez tentativas de se aproximar do grupo de pares (por ex. interessando-se pelas mesmas actividades), mas considera que fracassou: tentei interessar-me por futebol, mas ainda foi pior.... Os professores referem que uma criana que exige muita ateno e que se prende demasiadamente aos adultos. Por vezes, refere que no gosta e que no quer ir escola. Diz que tem saudades do seu pas e que gostava de voltar antiga escola.

Caso (cont. ponto 3)O Principezinho apresentou, desde cedo, uma curiosidade intelectual invulgar para a sua idade, revelando interesses incomuns e diversificados. Aos 6 anos, pediu ao pai que o levasse a uma livraria, para comprar um Atlas de Anatomia. Desde os 7 anos, ambiciona ser obstetra ou trabalhar em Eng Gentica (gosto do que tem a ver com genes e DNA). Tambm se interessa por outras cincias, msica e arte. Na televiso, prefere ver programas de Cincia ou documentrios cientficos (por ex. do canal Discovery).

Caso (cont. ponto 3)Os seus dolos so Einstein e Darwin. Costuma ir Biblioteca Municipal para ler livros, que ele prprio selecciona, de acordo com os seus interesses. Alm das reas referidas, tambm aprecia mitologia (grega e egpcia) e textos sobre pr- histria. Consulta, ainda, com frequncia, esses assuntos via internet. muito independente relativamente aprendizagem, gerindo sozinho as pesquisas e o estudo. Neste momento, est a ler os Lusadas. Na consulta, declamou um soneto de Cames que, segundo o Principezinho, foi escrito para a amada do poeta.

Caso (cont. ponto 3)Segundo a me, em termos escolares, no pas estrangeiro, o Principezinho adaptou-se ao Jardim-de-Infncia e relacionava-se bem com os colegas. Foi nessa altura (quando a criana tinha cerca de 3 anos), que a educadora constatou uma capacidade intelectual invulgar para a idade, sendo que o Principezinho j conseguia ler palavras, sem que lhe tivessem sido ensinados procedimentos de leitura.

Caso (cont. ponto 3)Comunicou o facto aos pais , mas estes (sobretudo o pai), desvalorizaram e negaram a evidncia. J na escola primria, o desempenho excelente imediato levou a professora a sugerir aos pais um procedimento de acelerao (de um ano escolar), que o pai no aceitou. Actualmente, frequenta o 5 ano, com bom aproveitamento (nveis 4 e 5). um aluno empenhado e interessado. As disciplinas preferidas so Cincias da Natureza e EVT. No gosta de Educao Fsica.

Caso (cont. ponto 3)Na escola, est envolvido em vrias actividades extra-curriculares: Clubes de Jornalismo, de Matemtica, de Informtica, Piscina. Segundo os pais, tem sempre vontade de participar em vrias actividades, diversificadas, sendo comum ter dificuldades em escolher umas, em detrimento de outras.

Caso (cont. ponto 3)

reas actuais de preocupao A principal preocupao da me relaciona-se com os problemas a nvel das interaces sociais e da integrao no grupo de pares, pelo impacto que as dificuldades esto a ter na vida do Principezinho.

Caso (cont.)4.Processo/resultados de AvaliaoProcesso/ Procedimentos de avaliaoData da Consulta ... Instrumentos utilizados Entrevista semi- estrut. (pais/criana) MPCR WISC-III CBCL TRF Teste de Pensamento Criativo, de Torrance RATC Entrevista semi- estrut. (pais/criana) Objectivo da avaliao/domnio avaliado Anlise geral/ especfica da situao problemtica Caracterizao do domnio cognitivo Caracterizao do domnio cognitivo Caractz. do domnio comportamental Caractz. do domnio comportamental Caractz. do domn. cognitivo/criatividade Caractz. do domnio scio- afectivo Devoluo de informao e sugestes de interveno

...

...

...

Caso (cont. ponto 4)Observao do comportamento O Principezinho teve, durante as tarefas de avaliao, uma atitude de colaborao. Inicialmente mais tmido e retrado, evitando, por vezes, o contacto visual com o avaliador, foi progressivamente ganhando confiana, aderindo s diversas tarefas propostas. No entanto, demonstrou alguma ansiedade, sobretudo quando no compreendia imediatamente o que lhe era solicitado (ex. WISC- III/Aritmtica) e revelou, ainda, comportamento impulsivo (ex. MPCR).

Caso (cont. ponto 4)

No Teste de Pensamento Criativo de Torrance, o Principezinho demonstrou elevada motivao e concentrao na tarefa (no sendo, sequer, perturbado pela entrada/sada de pessoas, na sala de consulta, durante a execuo da prova). No RATC, revelou algum retraimento.

Caso (cont. ponto 4)Logo na primeira consulta, os pais do Principezinho verbalizaram a sua preocupao com a possibilidade de diagnstico de Sobredotao, referindo que consideravam que tal s poderia ter consequncias negativas para o futuro do filho. Apesar desta representao, demostraram estar preocupados com o desenvolvimento scio-afectivo da criana, mostrando -se disponveis para fornecer informaes e aceitar indicaes para a resoluo das dificuldades.

Caso (cont. ponto 4)Domnio cognitivo-Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) Nas MPCR, a criana obteve um resultado total de 32 pontos que, considerando os dados normativos para a populao portuguesa (idade cronolgica/aplicao individual), corresponde a um valor que se situa entre os Percentis 75 e 90. Qualitativamente, este resultado corresponde classe II, Nitidamente acima da capacidade intelectual mdia. Quanto composio da distribuio dos resultados para as trs sries (A=11,Ab=10, B=11), os valores obtidos seguem, aproxmd.,

Caso (cont. ponto 4)a distribuio esperada (respectivamente, 11, 11 e 10 pontos), no tendo, por isso, significado clnico. Considerando os resultados normativos das MPCR para a populao de sobredotados, verificamos que a maioria das crianas (54,8%) obtm um resultado global que corresponde ao percentil 99, o que significa que o Principezinho obteve um resultado pouco frequente para este grupo. No entanto, durante a aplicao do teste, o Principezinho revelou alguma impulsividade nas respostas, o que poder ter afectado o seu desempenho.

Caso (cont. ponto 4)-Escala de Inteligncia de Wechsler para crianas Verso III (WISC-III) Na WISC-III (confira anexo), o Principezinho obtm um QIec de 136 (Muito Superior), um QIv de 127 (Superior) e um QIr de 133 (Muito Superior). Analisando a diferena entre QI verbal e QI de realizao (6 pontos), verificamos que esta diferena no estatisticamente significativa (para o nvel de significncia de 0.05). Procedendo anlise dos ndices Factoriais, verificamos que a criana obteve um resultado de 138 no ndice de Organizao Perceptiva

Caso (cont. ponto 4)(perc. 99.4), 132 no ndice de Compreenso Verbal (perc.98) e de 109 no ndice de Velocidade de Processamento (perc. 72). Analisando as diferenas entre estes resultados, obtemos uma diferena estatisticamente significativa (para o nvel 0.05), entre o ndice de Organizao Perceptiva e o de Velocidade de Processamento e o ndice de Compreenso Verbal e o ndice de Velocidade de Processamento.

Caso (cont. ponto 4)O Principezinho obtm, assim, melhores resultados no IOP (relacionado com o pensamento no-verbal/ capacidade de processar visualmente a informao e antecipao de consequncias) e ICV (remetendo para a facilidade de aprendizagem, a curiosidade intelectual, capacidade de reteno e recuperao de informao). Obtm resultados mais fracos no IVP, que podem ser explicados considerando o estilo cognitivo reflexivo da criana e o facto de poder ser, assim, penalizada pelo limite de tempo que as provas impem (testes cronometrados).

Caso (cont. ponto 4)Analisando os resultados dos testes que compem a escala verbal (mdia=14), encontramos uma diferena estatisticamente significativa (ao nvel 0.05) para Informao, Semelhanas e Aritmtica. Estas diferenas tm, no entanto, interpretaes diferentes. Os resultados nos testes Informao e Semelhanas (19 e 18, respectivamente) apontam para que estas sejam reas fortes da criana, enquanto que o resultado no teste Aritmtica (10) constitui uma rea fraca da criana. Assim, as reas fortes do Principezinho, em

Caso (cont. ponto 4)termos de aptides verbais, parecem incidir sobre os conhecimentos factuais adquiridos, o conhecimento cultural, a curiosidade intelectual (avaliados no teste Informao), a formao de conceitos verbais ou de categorias, a compreenso de relaes lgicas, o raciocnio verbal, o pensamento lgico abstracto (avaliados no teste Semelhanas). Por outro lado, as reas fracas esto relacionadas com o clculo mental, o processamento sequencial e raciocnio quantitativo (Aritmtica). No entanto, revelou alguma ansiedade na realizao deste teste, o que pode ter afectado o desempenho.

Caso (cont. ponto 4)Quanto anlise dos resultados dos 6 testes da Escala de Realizao (mdia=14.17), as diferenas so estatisticamente significativas para o Cdigo e Disposio de Gravuras. O resultado DG (19 pontos) indica que, em termos de aptido no verbal, as reas fortes da criana esto relacionadas com o juzo social, a antecipao de consequncias, o processamento visual e rapidez de processamento mental. O resultado obtido no Cdigo (10), indica que as reas fracas se relacionam com a produo convergente, a coordenao visuomotora e a rapidez psicomotora.

Caso (cont. ponto 4)Considerando as idades-teste, o Principezinho tem um valor abaixo da sua idade cronolgica no teste Aritmtica (91/2 anos), ajustado sua idade cronolgica no Cdigo (101/2 anos) e, nos restantes, valores situados acima da sua idade cronolgica, alguns dos quais correspondentes a 16 anos, nomeadamente Informao, Semelhanas, D. Gravuras, Cubos e C. Objectos.

Caso (cont. ponto 4)-Teste de Pensamento Criativo de Torrance (cf. anexo)Teste Teste 1 Dimenso avaliada Originalidade Elaborao Teste 2 Fluncia Flexibilidade Resultado 0 17 10 7 m. e d.p. (para crianas sobrd.) (m=2.8; dp=1.9) (m=14.4; dp=8.6) (m=7.4; dp=2.4) (m=6.5; dp=2.4)

OriginalidadeElaborao

875

(m=8.7; dp=3.7)(m=26.7; dp=14.0)

Caso (cont. ponto 4)-Teste de Pensamento Criativo de Torrance (cont.)Teste 3 Fluncia Flexibilidade 18 13 (m=10.7; dp=4.6) (m=8.1; dp=3.3)

OriginalidadeElaborao Total Fluncia Flexibilidade Originalidade Elaborao

3674 28 20 44 166

(m=16.8; dp=8.5)(m=21.6; dp=9.7) (m=18.1; dp=6.3) (m=14.6; dp=4.8) (m=28.4; dp=10.9) (m=62.4; dp=28.0)

Caso (cont. ponto 4)Tendo em conta os resultados totais, constatamos que o desempenho na Fluncia, na Flexibilidade e na Originalidade superior a 1 dp acima da mdia (considerando os valores para a populao de crianas sobredotadas). Na Elaborao, o desempenho est situado acima dos 3dp. Analisando cada um dos testes, verificamos que o Principezinho, no teste 1, no pontua na dimenso Originalidade.

Caso (cont. ponto 4)Na Elaborao, o resultado considerado mdio, tendo como referncia a populao de crianas sobredotadas. No teste 2, Flexibilidade e Originalidade apresentam resultados dentro da mdia, para a Fluncia ligeiramente superior mdia e na Elaborao o resultado muito superior. No teste 3, tendo cada uma das dimenses um resultado superior aos valores mdios, destacam-se a Originalidade e a Elaborao. Assim, conclui-se que o Principezinho tem uma capacidade criativa superior da maioria das crianas

Caso (cont. ponto 4)sobredotadas, nas diversas dimenses que o teste permite avaliar. O elevado resultado na Elaborao permite supor que estamos perante uma criana com elevada motivao intrnseca. O Principezinho apresenta um estilo mais elaborador que original, tendo forte capacidade para elaborar as ideias com pormenor e imaginao. Em cada teste, os resultados obtidos na Originalidade parecem indicar que a criana conseguiu ser progressivamente mais original. Podemos depreender que talvez tenham interferido na execuo factores de

Caso (cont. ponto 4)ordem emocional (ex. ansiedade), que inicialmente afectaram a capacidade de produzir ideias diferentes do comum, mas que deixou de interferir medida que decorria o teste. A criana demonstra, portanto, aptido para produzir ideias diversificadas, pertencentes a diferentes domnios e que se afastam das ideias mais comuns (apesar de predominar o estilo elaborador, mais do que o original).

Caso (cont. ponto 4)Domnio comportamental- CBCL/ICCP Considerando o resultado total obtido (31), comparativamente aos valores normativos, por variveis idade e gnero (m= 37.3; dp=20.4), podemos considerar que se trata de um valor mdio, significando que, em termos globais e de acordo com o que percepcionado pelos pais, a criana no apresenta problemas de comportamento. No entanto, efectuando uma anlise por factores, o factor Problema Sociais surge como problemtico (7 pontos; m=3.9; dp=2.8), apontando para

Caso (cont. ponto 4)a possibilidade de existncia de problemas a nvel da interaco social, nomeadamente com o grupo de pares (e podendo alicerar, tambm, em caractersticas particulares da criana). Os itens assinalados neste factor mostram que o Principezinho prefere andar com crianas mais novas, gosta mais de estar sozinho do que acompanhado, sente que tem de ser perfeito e preocupa-se demasiado com a limpeza e o asseio.

Caso (cont. ponto 4)No factor Agressividade o resultado obtido de 0 pontos. Este baixo nvel de manifestao de agressividade poder relacionar-se com uma dificuldade em enfrentar exigncias, nomeadamente relacionais (indicando alguma labilidade emocional, no sentido de a criana estar parada/sem energia).

Caso (cont. ponto 4)-TRF/ICCPR Considerando o resultado total obtido (28), comparativamente aos valores normativos, por variveis idade e gnero (m= 26.1; dp=22.4), podemos considerar que se trata de um valor mdio, significando que, em termos globais e de acordo com o que percepcionado pelas professoras (directora de turma, de C. Natureza e de EVT), a criana no apresenta problemas de comportamento. No entanto, efectuando uma anlise por factores, os factores Obsessivo (6 pontos; m=2.4; dp=2.4), Problemas Sociais (4 pont; m=1.4; dp=2.3)

Caso (cont. ponto 4)e Ansiedade (5 pont; m=2.1; dp=2.6) surgem como problemticos, apontando para possveis problemas nestes domnios comportamentais. Assim, parecem existir determinadas caractersticas obsessivas, manifestadas no comportamento de ter de ser perfeito (item 32), no receio de cometer erros (item 108), na preocupao em agradar (item 106) e no respeito pelas normas, de um modo excessivo (item 48). Tambm parecem existir problemas na interaco social com os pares (fazem pouco dele; no gostam dele).

Caso (cont. ponto 4)Os itens pontuados no factor Ansiedade, mostram que, s vezes, o Principezinho no consegue livrar-se de certos pensamentos ou obsesses (item 9), parece confuso ou desorientado (13), nervoso ou agitado (15) e anda sempre preocupado (112). As professoras indicam, ainda, estarem preocupadas com alguns comportamentos da criana, nomeadamente o estar constantemente triste, mais fechado, sobretudo nos ltimos tempos. , tambm, menos participativo nas aulas, tendo baixado, inclusive, o rendimento escolar.

Caso (cont. ponto 4)Domnio socio- afectivo-RATC (cf. anexo)

A Anlise dos Indicadores Clnicos mostra a presena de uma resposta mal- adaptada (MAL) e de uma resposta atpica (ATY). Estes valores no ultrapassam os respectivos pontos de corte para a faixa etria (1 ponto). No entanto, devem ser considerados sinais clnicos de possibilidade de agravamento da situao emocional/afectiva que a criana expressa.

Caso (cont. ponto 4)Da anlise dos resultados obtidos nas Escalas Clnicas, verificamos que as escalas Depresso (DEP- 4 pont.) e No- Resoluo (UNR- 7 pont.) apresentam valores elevados, podendo indiciar a existncia de problemas emocionais (possvel desajustamento), na criana. O resultado DEP expressa que estamos perante uma criana que manifesta sentimentos de tristeza e infelicidade (estes sentimentos alargam-se famlia e, especificamente, figura materna - cf. Matriz Interpessoal). A pontuao UNR parece indicar que a criana tem dificuldades na resoluo de situaes problemticas, podendo ser devidas a uma certa imaturidade emocional.

Caso (cont. ponto 4)A escala Rejeio (REJ- 2 pont.) tem pontuao situada no limite superior dos valores normativos, o que pode revelar a existncia de sentimentos de rejeio, (grupo de pares; o seu papel na famlia- atendendo aos dados da matriz interpessoal). A escala Agresso (AGG) no apresenta um resultado quantitativo com significado clnico. Contudo, o contedo de algumas respostas (lminas 8, 9, 11, 13B, 14B) sugere que a agresso uma forma de expresso que a criana no concretiza, mas que racionaliza, ou seja, a agresso est presente, embora no seja expressa de forma aberta e, de certa forma, funciona com defesa, proporcionando um

Caso (cont. ponto 4)equilbrio e protegendo emocionalmente o Principezinho. Apesar do resultado dentro dos valores normativos da escala Ansiedade (ANX), o contedo das respostas e a observao do comportamento mostram que esta uma rea a considerar, revelando que a criana tem dificuldades a este nvel. Tenta conter e controlar a emoo mas nem sempre bem sucedido, bloqueando, sobretudo quando se confronta com situaes problemticas que no consegue resolver.

Caso (cont. ponto 4)Nas escalas adaptativas, obtm resultados mdios em Pedido de Ajuda (REL), Soporte-Outro (SUP-O), Limite de Comportamento (LIM) e Resoluo- 1 (RES-1). Estes valores revelam que, possivelmente, esta criana tem um bom sistema se suporte, quer em termos de confiana demonstrada no circundante, quer em termos de suporte efectivamente providenciado. Reconhece os pais como figuras de autoridade, que impem, de um modo geral, limites adequados ao seu comportamento. O resultado elevado em Suporte- Criana (SUP-C) demonstra elevada auto- confiana e auto- suficincia.

Caso (cont. ponto 4)O resultado elevado em Identificao de Problemas (PROB), mostra que o Principezinho tem capacidade de identificao de situaes problemticas. No entanto, este potencial nem sempre se traduz num desfecho ajustado, uma vez que, na maioria das situaes, no consegue encontrar uma soluo adequada para o problema (UNR elevado; RES-2 abaixo dos valores normativos). As resolues tipo 1 (RES-1) podem indiciar imaturidade emocional. As resolues mgicas que apresenta (lminas 5B, 6B, 8 e 14B) parecem expressar

Caso (cont. ponto 4)um desejo intrnseco de felicidade, que ser mais ao nvel ideal/desejado do que de referncia real. Assim, a ausncia de solues adequadas para os problemas sugere um nvel baixo de maturidade e dificuldades em lidar, principalmente, com aspectos comportamentais e emocionais exigentes. Atendendo ao contedo das respostas, verificamos que as dinmicas familiares parecem ser um foco relevante para a criana.

Caso (cont. ponto 4)A figura paterna parece exercer uma influncia muito grande na criana, parecendo, mesmo, existir um certo encantamento pelo pai, quer em relao sua posio na dinmica familiar, enquanto figura de autoridade (que toma decises, que tem razo, que suporta economicamente a famlia, cumprindo as suas necessidades bsicas), quer como figura de identificao, enquanto modelo masculino de referncia. No entanto, parece haver um certo distanciamento emocional, quer na relao pai- filho, quer na relao de casal (falha no suporte emocional).

Caso (cont. ponto 4)A me surge como figura importante para o Principezinho, mas que tem um papel passivo dentro da famlia, isto , no impe limites de comportamento de forma evidente, no toma decises, sendo at um pouco desvalorizada dentro do sistema familiar. A famlia pode no ser disfuncional e nem sequer funcionar de forma inadequada, mas parecem existir falhas a nvel da comunicao entre os membros do sistema familiar. Parece, ainda, existir uma preocupao constante com a imagem da famlia, no sentido de mostrar ser o prottipo da famlia feliz, para o Exterior das fronteiras do sistema.

Caso (cont. ponto 4)A forma pouco elaborada e emocionalmente contida como conta as histrias, denuncia alguma imaturidade emocional, mas tambm mostra a existncia de mecanismos de defesa, que utiliza para se refugiar e proteger, sempre que alguma situao lhe foge ao controlo. Em termos estruturais, as histrias so concisas, organizadas, bem articuladas, com um nvel de linguagem ajustado e boa construo gramatical, revelando adequado funcionamento cognitivo.

Caso (cont.)5.Formulao do Caso[exerccio prtico]

Caso (cont.)6.Interveno e Concluses[Neste caso, a interveno passou por uma devoluo de informao, aos pais, tendo em conta os resultados da Avaliao elaborada. Alm da comunicao do diagnstico, procedeu-se ao seu esclarecimento, no sentido de ajudar os pais a compreender o que a sobredotao, suas caractersticas e implicaes. Seguindo a linha de preocupao dos pais (aspectos de desenvolvimento scio- afectivo do seu filho), enquadrou-se o aconselhamento tendo por base as

Caso (cont. ponto 6)particularidades das crianas sobredotadas, a esse nvel. A questo das representaes acerca da sobredotao Foi, assim, discutida, bem como os principais esteretipos e factores de risco associados a este quadro (cf. fundamentao terica). Adicionalmente, foi elaborado um relatrio para a pediatra e para a escola, comunicando as principais concluses da Avaliao Psicolgica.

Caso (cont. ponto 6)Os pais foram informados da existncia da ANEIS, seu modo de funcionamento e de interveno com crianas sobredotadas. O Principezinho foi encaminhado para a consulta de sobredotao da ANEIS. Considerando informaes recentes, acerca dos desenvolvimentos deste caso, os pais esto a aprender a (re)encontrar o seu filho e o Principezinho, agora, j no tem tantas saudades do pas de onde veio]

ConclusoAvaliar...deixar-se cativar, cativando... Perguntar, pedir para explicar... E recorrer aos nmeros...mas...

Concluso... nunca confundir com um chapu, uma jibia que engoliu um elefante!

BibliografiaFonseca, A. C., Simes, A., Rebelo, J. A., Ferreira, J. A. A., & Cardoso, F. (1995). O inventrio de comportamento da criana para professores. Teachers Report Form (TRF). Revista Portuguesa de Pedagogia, 29(2), 81-102. Fonseca, A. C., Simes, A., Rebelo, J. A., Ferreira, J. A. A., & Cardoso, F. (1994). Um inventrio de competncias sociais e de problemas de comportamento em crianas e adolescentes. O Child Behaviour Checklist de Achenbach (CBCL). Psychologica, 12 55-78. Gonalves, M., Morais, A. P., Pinto, H., & Machado, C. (1999). Teste Aperceptivo de Roberts para Crianas. In M. R. Simes, M. Gonalves, & L. S. Almeida (Eds.), Testes e provas psicolgicas em Portugal (vol. 2, pp.185- 198). Braga: APPORT/ SHO. McArthur, D. S., & Roberts, G. E. (1992). Roberts Apperception Test for Children. Manual. L. A., California: Western Psychological Services. Miranda, L., & Almeida, L. (2003). Sinalizao de alunos sobredotados e talentosos por professores e psiclogos: Dificuldades na sua convergncia. Sobredotao, 4(2), 91105. Oliveira, E. M. (2002). Desenvolvimento scio-emocional de alunos sobredotados. Risco e resilincia. Sobredotao, 3(1), 151-165. Pereira, M. (2001). Inteligncia e criatividade: Duas trajectrias alternativas para as crianas sobredotadas?. Psicologia: Teoria, Investigao e Prtica, 1, 171-188.

Bibliografia (cont.)Pereira. M. A. M. (1998). Crianas sobredotadas: Estudos de caracterizao. Tese de Doutoramento no publicada, Coimbra, FPCE/UC. Pereira, M., Gaspar, M. F., Simes, M. R., & Lopes, A. F. (2006). Funes executivas: Uma nova metodologia de avaliao do comportamento inteligente. Sobredotao, 7, 177-185. Renzulli, J. S. (1986). The three-ring conception of giftedness: A developmental model for creative productivity. In R. J. Sternberg, & J. E. Davidson (Eds.), Conception of giftedness (pp. 53-92). Cambridge: C. University Press. Roberts, G. E. (1990). Interpretative handbook for the Roberts Apperception Test for Children. L. A., California: Western Psychological Services. Simes, M. M. R. (2000). Investigao no mbito da aferio nacional do teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR). Lisboa: F.C. Gulbenkian/F.C.T.. Torrance, E. P. (1976). Tests de pense crative. Manual. Paris: Centre de Psychologie Applique. Wechsler, D. (2003). Escalas de inteligncia de Wechsler para crianas. Terceira Edio. Manual. Lisboa: CEGOC.