Novos Instrumentos de Planejamento Energético Regional visando o Desenvolvimento Sustentável
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INSTRUMENTOS PARA UM GERENCIAMENTO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA: A QUESTÃO DO ENQUADRAMENTO DE CORPOS D’ÁGUA
INTERMITENTES.
Jose Antonio Almeida de Lacerda
Dissertação de Mestrado
Brasília – D.F., Junho de 2003.
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I
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Instrumentos para um Gerenciamento Sustentável da Água: a Questão do Enquadramento de Corpos d’Água Intermitentes.
Jose Antonio Almeida de Lacerda
Orientador: Dr. Oscar de Moraes Cordeiro Netto
Dissertação de Mestrado
Brasília-DF: Junho/2003.
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II
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Instrumentos para um Gerenciamento Sustentável da Água: a Questão do Enquadramento de Corpos d’Água Intermitentes.
Jose Antonio Almeida de Lacerda
Dissertação de Mestrado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade
de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Mestre em
Desenvolvimento Sustentável, área de concentração em Política e Gestão Ambiental, opção
Profissionalizante.
Aprovado por: __________________________________________ Oscar de Moraes Cordeiro Netto, Doutor – UnB – DF. Orientador __________________________________________ José Aroudo Mota, Doutor, CDS/UnB – DF. Examinador Interno __________________________________________ Yvonildes Dantas Pinto Medeiros, Doutora – UFBA. Examinador Externo
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III
Brasília-DF, 18 de Junho de 2003. LACERDA, JOSE ANTONIO ALMEIDA DE.
Instrumentos para um Gerenciamento Sustentável da Água: a Questão do Enquadramento de Corpos d’Água Intermitentes, 112 p., 297 mm, (UnB-CDS, Mestre, Política e Gestão Ambiental , 2003).
Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável.
1. Gerenciamento de Recursos Hídricos. 2. Rios Intermitentes e Sustentabilidade.
3. Instrumento de Gestão Ambiental. 4. Enquadramento de Corpos d’Água Intermitentes.
I. UnB-CDS II. Título
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação e
emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor
reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser
reproduzida sem a autorização por escrito do autor.
______________________________ Jose Antonio Almeida de Lacerda.
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IV
DEDICATÓRIA
Ao meu pai Cícero Cavalcante de Lacerda (In Memoriam) e a minha mãe Teresinha Almeida
de Lacerda, que me engrandeceram com virtudes do ser humano.
A Carla Andrade de Lacerda, esposa, e minha filha Juliana Andrade de Lacerda por
acreditarem na minha pessoa, incentivarem na conclusão deste trabalho e compreenderem as
minhas ausências em muitos momentos importantes.
Aos meus irmãos Cícero Lacerda, Celso Lacerda e Washington Lacerda, que apoiaram e
incentivaram a realização deste sonho.
A Constantino Araújo (In Memoriam) pela paciência nos momentos mais difíceis.
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V
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, eterna fonte de energia e sabedoria.
Muitas pessoas fizeram parte dessa conquista, seja apoiando, acreditando, cobrando ou sorrindo.
Ao Dr. Fausto Azevedo, Ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais - CRA, pelo
incentivo e a realização do mestrado, proporcionando a capacitação do corpo técnico, para
soluções nas questões ambientais.
A Dra. Lucia Cardoso, Diretora Geral do Centro de Recursos Ambientais – CRA, pela
continuidade do curso e apoio para conclusão da dissertação.
Ao Dr. Ronaldo Martins, Diretor de Recursos Naturais do CRA, pelo apoio fundamental ao
desenvolvimento da conclusão dos trabalhos.
Ao Prof. Oscar Cordeiro, pela aceitação em participar como orientador, permitindo melhor
clareza para conclusão dessa dissertação.
Aos examinadores da banca de avaliação da dissertação, Prof. José Aroudo Mota e Profa.
Yvonildes Medeiros, por disporem de seu precioso tempo à leitura e avaliação deste trabalho.
Aos professores do CDS, principalmente aos Professores Antonio Brasil, Marcel Bursztyn,
João Nildo, Laura Duarte e Paulo Engler, pela dedicação de transmitir seus conhecimento e
orientação nas minhas dificuldades.
Ao colega Prof. Mauricio Fiúza pelo incentivo, orientação e discussão para o desenvolvimento
do trabalho.
Aos colegas da Coordenação de Avaliação do CRA, Química.Lilia Macedo, Geólogo Wilson
Rossi, Biólogo Ailton Junior e Bióloga Ana Cláudia, pelo apoio e paciência nas horas mais
difíceis das nossas tarefas.
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VI
A Coordenadora do curso Dra. Tereza Muricy e a todos os meus colegas do mestrado, pela
amizade e apoio durante o período que estudamos juntos.
Ao Grupo de Recursos Hídricos da Escola Politécnica da UFBA, pelo apoio prestado.
Ao Dr. Jorgen Leeuwestein, pela valiosa contribuição para conclusão da minha pesquisa.
A estagiária de Geografia Franciene Cruz, pela elaboração dos Mapas da Qualidade das Águas e
Localização da Bacia do Rio Salitre.
Aos especialistas pelas informações prestadas: Prof. Antonio Lanna, Prof. Jose Teodomiro,
Prof. Severino Agra, Prof. Fernando Esteves, Geólogo Carlos Pamponet, Engo Juan
Santiago, Frei Dom Luis Capprio, Engo Agrônomo Ilton Lorens e ao Geógrafo Eduardo
Grabiel.
Aos colegas Alex Santiago, Zulmira Lacerda, Lívia Felzemburg, Andréa Marchesini,
Aloísio Cardoso, Eduardo Dultra, Jorge Duque, Jurandy Souza, Ailton Gomes, Helmut
Zimmermann e Thiago Leal, pelo incentivo e apoio.
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VII
RESUMO
O presente trabalho estabeleceu como ponto de partida a revisão bibliográfica de estudos
desenvolvidos sobre enquadramento de corpos d’ água intermitentes, buscando entender a sua
importância no que concerne a sua ocupação e uso do solo, uso da água, a disponibilidade hídrica
e sua qualidade ambiental. O objetivo básico desta pesquisa foi estabelecer princípios para
formulação de um modelo para enquadramento de corpos d’ água intermitentes, que levem em
conta as suas especificidades e seus usos. Na última metade do século passado, com a introdução
de tecnologias que revolucionaram as formas de desenvolvimento do setor produtivo, vêm-se
agravando as relações do homem com uso dos recursos naturais, principalmente a água. Nesse
aspecto, o trabalho procura mostrar que tais desajustes vêm ocorrendo de forma intensa na
região do Semi-árido. De posse de todas essas informações e considerando-se a proposta ao
longo de todo o trabalho, estabeleceu-se uma abordagem interdisciplinar, sobre desenvolvimento
de estudo de enquadramento em corpos d’água intermitentes, uma vez que o estudo vem sendo
prejudicado e não dispõe de informações essenciais para a classificação das águas com base nos
seus usos preponderantes e sua disponibilidade, condições consideradas fundamentais para sua
gestão. Por fim, são apresentados os resultados sobre a questão ambiental da bacia do rio Salitre,
como um caso de estudo, e as principais proposições para apoiar o enquadramento de corpos
d’água intermitentes tais como: Revisão da Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente -
CONAMA 20/86, incluindo a questão dos corpos d’água intermites; Não permissão de
lançamento de efluentes líquidos ou sólidos, mesmo que tratados, em qualquer período, só
permitindo disposição de efluentes líquidos por infiltração no solo, na irrigação, e evaporação ou
quando o padrão de qualidade da água do lançamento seja igual ou superior ao trecho de
montante; Priorização dos usos destinados ao Abastecimento Humano de forma direta no
manancial e não a partir de bombeamento; Dessedentação de Animais; Preservação da
Comunidade aquática; Cultura de subsistência e Harmonia paisagística.
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VIII
ABSTRACT
This assignment established as a start point one bibliographic review of development studies
about framing of intermittent stream, to understand its importance about its occupation and its
soil and water uses, hydric availability and its environmental quality. The basic purpose of this
research was to establish principles to formulate one model to frame intermittent stream that
gives attention to its particularity and its uses. This latest middle century, with technology
introduction that revolutionized the development ways of the productive sector the human
relationship with the use of the natural resources has been getting worse, specially the water. In
this aspect, the assignment shows that these modifications have been happening intensely in the
Semi-arid zone. With this informations, and considering the purpose of this assignment, it was
established one interdisciplinary approach, about development of studies of framing of
intermittent and transitories stream, for most studies don’t have informations for the
classification of the water, based on its important uses, as it availability, conditions considered
essential to water management. In the end, the results about the River Salitre basin environmental
question are presented as a study and the mains propositions to support the framing, such as: the
review of Resolution National Counsel of Environment – CONAMA 20/86, including the
intermittent stream question, no allowance for the dumping of liquids or solids effluents, treated
or not, in any period, only permit the dumping of liquids effluents by ground infiltration, in the
irrigation and evaporation or that the standard of dumping water quality to be the same or
superior of the upstream; to priorize the human supply uses directly in the source and not by the
bombardment, animals water supply, aquatic community preservation, subsistence culture and
harmonic landscape.
-
IX
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 01 2. OBJETIVO DA PESQUISA 04 3. METODOLOGIA ADOTADA 06 4. MARCO CONCEITUAL E TEÓRICO 08 4.1 PADRÕES DE QUALIDADE AMBIENTAL 08 4.2 USOS, FUNÇÕES, QUANTIDADE E QUALIDADE DA ÁGUA 10 4.3 CONSULTAS A ESPECILISTAS E A DECISORES 16 5. O INSTRUMENTO DE ENQUADRAMENTO 25 5.1 DEFINIÇÕES 25 5.2 A LEGISLAÇÃO E A PRÁTICA REFERENTE AO INSTRUMENTO 26 5.3 ASPECTOS TÉCNICOS REFERENTES AO ENQUADRAMENTO 28 5.4 O ENQUADRAMENTO: EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS E ESTRANGEIRAS 32 6. RIOS INTERMITENTES E SUSTENTABILIDADE 36 6.1 ASPECTOS TÉCNICOS E ESPECIFICIDADES DE RIOS INTERMITENTES 36 6.2 A QUESTÃO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO 41 6.3 A GESTÃO DA ÁGUA: ENFOQUE SEMI-ÁRIDO 44 6.4 RECURSOS HÍDRICOS E SUSTENTABILIDADE 52 7. A BACIA DO RIO SALITRE 54 7.1 DESCRIÇÃO E DADOS GERAIS DA BACIA 54 8. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO 71 8.1 QUALIDADE DA ÁGUA 71 8.1.1 PONTOS DE AMOSTRAGEM 72 8.1.2 PARÂMETROS 76 8.1.3 AVALIAÇÃO 76 8.1.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS 81 8.2 PROPOSIÇÕES PARA ENQUADRAMENTO DE CORPOS D’ÁGUA
INTERMITENTES 82 9. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 88 REFERÊNCIA. 91
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X
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 – Esquema de abordagem metodológica da dissertação 07 Figura 6.1 - Rio efêmero “riachão” no povoado de Delfino, localizado nas coordenadas:
Lat. 10º 21’ 25,1” S e Long. 41º 07’ 05,0” W., município de Umburanas, BA. Outubro 2002.
37
Figura 6.2 - Rio intermitente “riacho do Rodrigo”, próximo ao povoado de Delfino,
localizado nas coordenadas: Lat. 10º 17’ 51,3” S e Long. 41º 02’ 40,9” W., município de
Umburanas, BA. Outubro 2002.
37
Figura 6.3 – Trecho intermitente rio Salitre. Coordenadas: Lat. 10º 56’ 52,0 “S e Long. 41º
04’ 23,0” W., município de Ourolandia, BA. Outubro 2002.
38
Figura 7.1 – Localização da Bacia do Rio Salitre no Estado da Bahia. 55
Figura 7.2 – Mapa da divisão municipal 56
Figura 7.3 - Ponto de nascente do rio Salitre no município de Morro do Chapéu, BA.
Outubro 2002. (Aloisio Cardoso).
57
Figura 7.4 - Diagrama Unifilar da Bacia 58
Figura 7.5 - Exemplar de Pau de Jacaré (Vochysia sp), comum na transição do
cerrado/caatinga, área da nascente do rio Salitre, município de Morro do Chapéu, BA.
Outubro 2002.
62
Figura 7.6 - Aspecto geral da Caatinga Arbustiva Arbórea densa na área do povoado de
Delfino, município de Campo Formoso, BA. Setembro 2002.
62
Figura 7.7 - barragem “Sabiá I”, com destaque para as plantas aquáticas em primeiro plano
a (1) vitorinha (Nympha sp) e a (2) taboa (Typha domingeusis) nas áreas assoreadas,
município de Juazeiro, BA. Setembro 2002.
63
Figura 7.8 - barragem “Sabiá I”, recebendo água bombeada do rio São Francisco,
município de Juazeiro, BA. Setembro 2002.
64
Figura 7.9 - barragem “Arame”, operação paralisada por falta de energia, município de
Juazeiro, BA. Setembro2002.
64
Figura 7.10 - barragem “Angico”, a única barragem alimentada pelo rio Salitre, município
de Juazeiro, BA. Setembro 2002.
65
Figura 7.11 - barragem “Pedro Nilson”, a montante da barragem “Cachoeira”, no povoado
de Tamboril, município de Morro do Chapéu, BA. Setembro 2002.
65
Figura 7.12– Barragem de Ourolândia, município de Ourolândia, BA. Setembro 2002. 66
Figura 7.13- Placa informativa, quanto à preservação ambiental da barragem “Cachoeira”,
no povoado de Tamboril, município de Morro do Chapéu, BA. Setembro 2002.
66
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XI
Figura 7.14- Esgotamento sanitário a céu aberto no povoado Catinga do Moura, BA,
(GRH/UFBA, 2002).
68
Figura 7.15 - Resíduos Sólidos (lixo domestico a céu aberto), município de Ourolândia,
BA,. (GRH/UFBA, 2002).
68
Figura 7.16 - Aplicação de praguicidas no plantio – Barragem Galgavel “Horto”, município
de Juazeiro, BA.Setembro 2002.
69
Figura 7.17 - Lavagem de animal na barragem Sabiá, município de Juazeiro, BA. (UFBA,
2002).
69
Figura 7.18 - Dessendetação de animal e Lavagem de roupa no rio Salitre, povoado de
Curral Velho, município de Campo Formoso, BA. Setembro 2002.
70
Figura 7.19 - Ocupação urbana, povoado de Curral Velho, município de Campo Formoso,
BA.Setembro 2002.
70
Figura 8.1 - Ponto de coleta (RS 0 050), Lat. 11º 12’ 49,4” S e Long 41º 06’ 07,6” W,
barragem “Cachoeira”, povoado de Cachoeira, município de Morro do Chapéu, BA.
Setembro 2002.
73
Figura 8.2 - Ponto de coleta (RS 0 150), Lat. 10º 56’ 52,0” S e Long. 41º 04’ 23,0” W, rio
Salitre, sob ponte BA 368, município de Ourolândia, Ba. Setembro 2002.
73
Figura 8.3 - Ponto de coleta (RS 0 200), Lat. 10º 01’ 14,3” S e Long. 40º 41’ 56,7” W, rio
Salitre, a montante da confluência com o rio Pacui, povoado de Abreu, município de
Campo Formoso, BA. Setembro 2002.
74
Figura 8.4 - Ponto de coleta (RS 0 300), Lat. 09º 54’ 52,8” S e Long 40º 39’ 06,5” W, rio
Salitre, sob ponte, povoado Curral Velho, município de Campo Formoso, BA. Setembro
2002.
74
Figura 8.5 - Ponto de coleta (PC 0 900) Lat. 10º 01’ 06,9” S e Long. 40º 41’ 59,0” W, rio
Pacui, confluência com o rio salitre, povoado de Abreu, município de Campo Formoso,
BA. Setembro 2002.
75
Figura 8.6 - Ponto de coleta (RS 0 400), Lat. 9º 40’ 44,0” S e Long. 40º 36’ 22,1” W, rio
Salitre, povoado de Junco, município de Juazeiro, BA. Setembro 2002.
75
Figura 8.7 - Ponto de coleta (RS 0 600), Lat. 9º 26’ 23,0” S e Long. 40º 49’ 54.6” W, rio
Salitre, sobre ponte, povoado Campo dos Cavalos, município Juazeiro. BA. Setembro 2002.
76
Figuras 8.8 - Mapa de Qualidade das Águas. 80
Figura 8.9 – Diagrama para enquadramento de corpos d’água intermitentes. 87
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XII
LISTA DE QUADRO
Quadro 5.1 – Comparativo dos sistemas de enquadramento. 35 Quadro 7.1 - Fatores de pressão na qualidade das águas, indicadores e ações de controle
para a bacia hidrográfica do rio Salitre.
67 Quadro 8.1 - Rede de Amostragem da Bacia do Rio Salitre. 72 Quadro 8.2 - Resultados das Análises Físico-Químicas e Bacteriológicas da Bacia do Rio
Salitre.
78 Quadro 8.3 – Qualidade das Águas da Bacia do Rio Salitre. 79 Quadro 8.4 - Razão de Absorção de Sódio (RAS) da Bacia do Rio Salitre. 81
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XIII
LISTA DE ABREVIAÇÕES
ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária
ANA - Agência Nacional de Água
BA – Estado da Bahia
CEEIBH - Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas
CETIND – Centro Tecnológico Industrial Pedro Ribeiro
CEPED – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
CERH - Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do São Paulo
CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais
CRA – Centro de Recursos Ambientais
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
DBO5 - Demanda Bioquímica de Oxigênio, de 5 dias.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Agropecuária
FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais
FEPAM - Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul
IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis
IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IMA – Instituto Manoel Novais
IQA - Índice de Qualidade de Água
MG – Estado de Minas Gerais
MINTER - Ministério do Interior; extinto pela Lei 8.028, de 12 de abril de 1990.
MMA Ministério de Meio Ambiente
OCDE – Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico
OD oxigênio dissolvido
PDRH – Plano Estadual de Recursos Hídricos
PGRH – Programa de Gerenciamento de Recursos Hídricos
PQA – Programa de Qualidade das Águas
PROINE – Programa de Irrigação do Nordeste
PROAGUA – Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Recursos Hídricos
Q7, 10 - Vazão mínima média de sete dias consecutivos, com dez anos de recorrência.
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XIV
RAS - Razão de Absorção de Sódio
SEMA - Secretaria do Meio Ambiente do São Paulo
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SRH - Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UFBA – Universidade Federal da Bahia.
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1
1 - INTRODUÇÃO
O Estado da Bahia, possuidor de grandes dimensões territoriais, apresenta heterogeneidade de
paisagens geográficas, reflexos de interação de diferentes elementos naturais.
O manejo adequado dos ecossistemas hídricos é considerado uma prioridade nas políticas de
gestão e controle ambiental, devido ao fato da a água ser, individualmente, o fator mais
importante para o desenvolvimento de atividades produtivas e para a qualidade de vida.
Com a aceleração de mudanças sociais e econômicas em regiões menos desenvolvidas, muitos
rios se tornam alvo de inúmeras agressões, resultando diversos problemas para a gestão ambiental
na Bacia Hidrográfica.
A avaliação de cenários voltados para a sustentabilidade engloba uma série de ações que
estabelecem a preservação e a conservação ambiental, dentro dos espaços regionais, exigindo uma
forte intervenção em áreas onde o processo de desenvolvimento econômico possa vir a
comprometer a qualidade ambiental.
O enquadramento dos corpos de água não se baseia, necessariamente, no estado atual da
qualidade dos cursos d’água, mas nos níveis de qualidade que estes deveriam possuir para atender
às necessidades definidas pela sociedade. Trata-se de um instrumento de proteção dos níveis de
qualidade dos corpos de água, que considera que saúde e bem-estar humano, bem como o
equilíbrio ecológico aquático, não devem ser afetados pela deterioração da qualidade das águas.
Também considera que os custos do controle de poluição podem ser mais adequados quando os
níveis de qualidade exigidos para um determinado corpo de água ou seus diferentes trechos
estiverem de acordo com os usos que se pretende estabelecer.
Discuti-se, neste trabalho, a questão do enquadramento dos cursos d’água intermitentes. O texto
é constituído desta introdução como Capítulo primeiro, de oito capítulos e das correspondentes
referências bibliográficas.
No Capítulo Segundo, são apresentados o objetivo geral e os específicos da presente
dissertação, visando a estabelecer princípios, selecionar indicadores de qualidade ambiental e
propor a adoção de novas classes de usos das águas a serem considerados para o enquadramento
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2
de corpos d’água intermitentes, de acordo com o disposto nas Resoluções nº 20/86 do Conselho
Nacional de Meio Ambiente - CONAMA e nº 12/00 do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos - CNRH. Além dos objetivos, foram também abordados neste capitulo a hipótese e a
justificativa do trabalho:
No Capítulo Terceiro, é apresentada a metodologia utilizada na pesquisa, com discussão dos
métodos e técnicas adotadas para obtenção dos dados, desenvolvimento de atividades e avaliação
dos resultados.
O conteúdo do Capítulo Quarto contempla o marco conceitual e teórico, apresentando
basicamente informações coletadas a partir de uma pesquisa realizada a partir de uma revisão
bibliográfica, considerando os padrões de qualidade ambiental e usos, funções, quantidade e
qualidade da água, propiciando informações básicas sobre os aspectos inter-relacionados ao
instrumento de enquadramento.
O Capítulo Quinto cobre o instrumento de enquadramento de água, quanto aos aspectos da
definição, legislação e prática, técnica e experiências nacionais e exemplos de experiências
internacionais.
O Capítulo Sexto contempla o tema “rio intermitente e sua sustentabilidade”, apresentando
uma abordagem quanto aos aspectos técnicos relativos à intermitência de rios. Outro tema
enfocado neste capítulo foi à questão do Semi-Árido Brasileiro, no que se refere à gestão e à
sustentabilidade dos recursos hídricos, principalmente dos cursos de água intermitentes.
O Capítulo Sétimo apresenta as descrições e dados gerais da bacia do rio Salitre, considerando
como caso de estudo, envolvendo os aspectos do meio físico, biótico e antrópico.
No Capítulo Oitavo, é apresentado o desenvolvimento do trabalho quanto a:
• Qualidade da Água - Teve-se como objetivo avaliar a qualidade das águas do rio Salitre,
visando a conhecer seu estágio atual, com vistas a subsidiar uma avaliação sobre as
condicionantes de enquadramento de corpos d’água intermitentes, de um modo geral, e
do rio Salitre, em particular.
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3
• Proposições para Enquadramento de Corpos d’Água Intermitentes - Neste item do
trabalho, sugerem-se alguns princípios básicos para que se venha fundamentar melhor a
questão do enquadramento de corpos d’água intermitentes.
No Capítulo Nono, são apresentadas as conclusões e recomendações a que se chegou durante o
desenvolvimento do trabalho.
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4
2 - OBJETIVO DA PESQUISA
O objetivo geral desta pesquisa é avaliar elementos para formulação de um modelo para
enquadramento de corpos d’água intermitentes, que leve em conta as especificidades desses
cursos d’água e os usos que deles se fazem, analisando-se o disposto nas Resoluções nº 20/86 do
Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA e nº 12/00 do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos - CNRH.
Ao se proceder a essa avaliação, pretende-se também:
• Sugerir indicadores de qualidade ambiental para corpos d’água intermitentes, que
possibilitem o enquadramento de acordo com suas características (regime hídrico) e os
usos preponderantes a que se destinam.
• Estudar a adoção de novas classes de usos das águas a serem consideradas para o
enquadramento de corpos d’água intermitentes.
Na conjuntura atual, diante dos conflitos oriundos do uso inadequado dos corpos hídricos, como
corpo receptor de efluentes industriais, domésticos, o uso intensivo da agricultura irrigada, e
fundamentado no fato de que esses recursos hídricos devem ser utilizados, levando-se em conta
suas capacidades, limitações e dinâmica própria, garantindo seu uso continuado com o máximo
de aproveitamento de suas potencialidades e o mínimo impacto na qualidade de suas águas,
permitindo também estabelecer um sistema de vigilância sobre os níveis de qualidade das águas
dos mananciais, é oportuna e necessária a realização de estudo em corpos d’água no semi-árido,
por apresentar particularidades tais como: uso intensivo de agricultura irrigada; mineração,
conflito no uso das águas, e principalmente, pelo seu regime hídrico, por se apresentar
intermitentemente durante boa parte do ano.
Os atuais modelos de enquadramento de bacias hidrográficas não levam em conta as
especificidades dos rios intermitentes, principalmente o fato de que, durante boa parte do ano
não há água nesses cursos.
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5
Com o objetivo de superar essa deficiência e para uma melhoria da gestão ambiental nas bacias,
onde a classe é “intermitente”, impõe-se, como uma prioridade para os gestores dos recursos
hídricos, o estabelecimento de novos princípios para o enquadramento desses corpos.
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6
3 - METODOLOGIA ADOTADA.
A execução dos trabalhos seguiu uma orientação fundamentada nos objetivos propostos, visando
levantar os diversos segmentos ambientais, procurando adequar às especificidades da área. Foi
adotada a metodologia a seguir apresentada, representada, esquematicamente, na Figura 3.1.
Observou-se a seguinte seqüência de atividades: levantamento e pesquisa bibliográfica e a
especialistas, envolvendo a experiência em gestão da água e a aplicação dos instrumentos de
gestão, em geral e dos instrumentos de enquadramento em particular; aspectos de
monitoramento da qualidade das águas; levantamento de campo; avaliação de condicionante de
natureza técnica e outros e formulação de proposições para enquadramento.
O levantamento e a análise bibliográfica envolveram pesquisa em relatórios, documentos e
publicações de estudos de caso e na internet. Foram consideradas as bibliografias obtidas durante
a evolução do trabalho, a referência bibliográfica de cada pesquisa e aquelas indicadas pelos
profissionais consultados nas áreas afins aos temas do estudo.
Além das publicações pesquisadas, recorreu-se a especialistas nas diferentes questões envolvidas
com o enquadramento. Essas consultas se deram a partir de participações de eventos, reuniões
técnicas, congressos, seminários que ocorreram durante o período de preparação da dissertação,
consultas por fax, internet e e-mail a institutos, universidades e profissionais da área.
Foram, também, pesquisadas as experiências brasileiras no desenvolvimento de estudos de
enquadramento de corpos d’ água, objetivando conhecer a existência da prática desse
instrumento, principalmente em corpos d’água intermitentes, bem como subsidiar uma reflexão
dos atuais modelos de enquadramento de curso de água.
As considerações dos elementos obtidos na pesquisa bibliográfica, na consulta aos especialistas e
na avaliação do caso de estudo, permitiram formular conjunto de condicionantes de natureza
técnica, institucional e legal associadas a um processo de enquadramento de rios intermitentes.
Esse conjunto de condicionantes aliados à reflexão sobre a questão permitiu formular o grupo
de elementos que definem uma proposição de enquadramento de rios intermitentes.
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7
Figura 3.1 – Esquema de abordagem metodológica da dissertação.
Condicionantes técnicas, institucionais elegais (enquadramento rio intermitente)
Proposições para enquadramento de riosintermitentes
Avaliação da proposição
Levantamentobibliográfico
Caso de EstudoEspecificidades de riosintermitentes.
Marco Conceitual eTeórico
INÍCIO
FIM
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4 - MARCO CONCEITUAL E TEÓRICO A importância de estudar os corpos d’ água intermitentes reside, principalmente, em uma nova
concepção no tratamento das questões inerentes á gestão ambiental dos recursos hídricos,
especificamente na sua unidade de planejamento, á bacia hidrográfica.
O objetivo básico deste capítulo é discutir conceitos, por meio de revisão bibliográfica,
considerando os padrões de qualidade ambiental e usos, funções, quantidade e qualidade da água
e consultas dirigida a profissionais, propiciando informações básicas sobre os aspectos inter-
relacionados ao instrumento de enquadramento.
4.1 - PADRÕES DE QUALIDADE AMBIENTAL.
Para cada uso da água, são definidos limites máximos de impurezas que a mesma pode conter.
Esses limites, quando estabelecidos por organismos oficiais, são chamados de padrões de
qualidade.
A qualidade é representada por características intrínsecas, geralmente mensuráveis, de natureza
física, química e biológica. Essas características, se mantidas dentro de certos limites, viabilizam
determinado uso. Esses limites constituem os critérios (recomendações), ou padrões (legais) da
qualidade da água (Derisio, 1992).
O Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, do Ministério do Meio Ambiente,
instituiu como instrumento de regulamentação a Resolução CONAMA n.o 20, de 1986, que
estabelece o sistema de classificação de águas. Em 1997, foi promulgada a Lei nº 9.433 a Política
Nacional de Recursos Hídricos, que define como um dos instrumentos o enquadramento de
corpos de água.
Os padrões de qualidade ambiental são critérios normativos de limites admissíveis para garantir a
qualidade de um componente do meio ambiente ou a proteção da saúde e do bem-estar da
população. Os padrões de qualidade deverão basear-se em estudos científicos dos efeitos
produzidos por poluentes específicos e são estabelecidos em níveis que possam propiciar uma
margem de segurança adequada.
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No Brasil, os padrões de qualidade de água são estabelecidos na Resolução n. º 20, de 18 de
junho de 1986, que define que o enquadramento dos corpos de água como o estabelecimento do
nível de qualidade (classe) a ser alcançado ou mantido em um segmento do corpo de água ao
longo do tempo. São classificadas em nove as águas doces, salobras e salinas do território
nacional. Para cada classe, são definidos limites ou condições de qualidade a serem respeitados de
modo a assegurar seus usos preponderantes, sendo mais restritivo quanto mais nobre for o uso
pretendido.
Considerando esses aspectos, a Resolução CONAMA 20/86 estabeleceu limites de lançamento
de resíduos. Esses limites podem ser absolutos, como no caso da Classe Especial, em que “não
serão tolerados lançamentos de águas residuárias, domésticas e industrias, lixo e outros resíduos
sólidos, substâncias potencialmente tóxicas, defensivos agrícolas, fertilizantes químicos e outros
poluentes, mesmo tratados” (art. 18). Nos outros casos, são tolerados lançamentos desde que,
além de atenderem uma serie de restrições no que tange à qualidade do efluente, “não venham a
fazer com que os limites estabelecidos para as respectivas classes sejam ultrapassados” (Art.19),
(Lanna, 1995).
O enquadramento é um instrumento de gestão ambiental que estabelece metas de qualidade de
água para garantir usos preponderantes atuais e futuros. Cada tipo de uso de água requer
características físico-químicas e biológicas específicas. Por isso, deverão ser avaliadas as
qualidades, atual e futura, exigidas para atender o conjunto de usos por trecho. Em sendo
quantidade e qualidade de água intrinsecamente inter-relacionadas, o balanço entre
disponibilidade e demanda pelo uso de água deverá ser avaliado no processo de enquadramento.
Várias são as tipologias para definir usos e funções da água. Adota-se, aqui, uma tipologia na qual
os usos de água podem ser agrupados em três funções: sobrevivência, bem-estar e produção.
Considerando-se que um uso pode impossibilitar o outro, deverão ser identificados os impactos
ambientais causados. Limites ou condições para dez tipos de uso de água e efluentes, ou seja,
padrões de qualidade de água, são estabelecidos na Resolução CONAMA nº 20/86.
(Leeuwestein, 2000).
Pode-se entender por poluição da água qualquer alteração de suas características física, química e
biológica, de modo a torná-la prejudicial às formas de vida. A poluição das águas basicamente
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origina-se de quatro tipos de fontes: poluição natural, poluição industrial, poluição urbana e
poluição agropastoril (CETESB, 1993).
• Poluição natural – associada à atividade humana, causada por chuva e escoamento
superficial, salinização e decomposição de vegetais mortos;
• Poluição industrial – constitui-se de resíduos líquidos e sólidos gerados nos processos
industriais de uma maneira geral, apresentando-se como fator mais significativo em
termos de poluição;
• Poluição urbana – proveniente de aglomerados urbanos, que geram efluentes
domésticos, lançando direta e indiretamente “in natura” nos cursos de água;
• Poluição agropastoril – decorrente das atividades ligadas à agricultura e à pecuária, por
meio do uso de defensivos agrícolas e de fertilizantes e por meio de excrementos de
animais, além de erosão.
4.2 - USOS, FUNÇÕES, QUANTIDADE E QUALIDADE DA ÁGUA.
A quantidade e a qualidade da água são intrinsecamente inter-relacionadas. Além da quantidade, a
qualidade da água assegura determinado uso ou conjunto de usos. A qualidade condiciona a
quantidade de água existente em um corpo de água para consumo final ou insumo de processo
produtivo. Quanto à natureza de utilização, existem três possibilidades (Lanna, 1997):
• Consuntivo: refere-se aos usos que retiram a água de sua fonte natural, diminuindo
espacial e temporalmente as disponibilidades quantitativas;
• Não-consuntivo: refere-se aos usos que retornam à fonte de suprimento praticamente a
totalidade da água utilizada, podendo haver modificação no seu padrão temporal de
disponibilidade quantitativa;
• Local: refere-se aos usos que aproveitam a disponibilidade de água em sua fonte sem
modificação relevante, temporal ou espacial, de disponibilidade.
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Em nossa vida social e econômica, a água pode ser utilizada para usos múltiplos, tais como:
abastecimento humano, abastecimento industrial, irrigação, dessedentação de animal,
proteção das comunidades aquáticas, recreação e lazer, geração de energia elétrica,
navegação, diluição e afastamento de despejos, harmonia paisagística, pesca e
aqüicultura.
• Abastecimento humano - Trata-se do uso mais nobre da água, não só a água para
beber, essencial à manutenção da vida, mas a água de beber que é utilizada também para
higiene pessoal, preparação de alimentos, limpeza de área, lavagem de roupas e utensílios,
rega de jardins, entre outros usos.
• Abastecimento industrial - Utilizada como matéria-prima ou em processos de
resfriamento, lavagem, caldeiras, produção de vapor e outros.
• Irrigação - Devem ser considerados os tipos de culturas a serem irrigadas, se
alimentícias, se produtoras de frutas e verduras ingeridas cruas. Em função do tipo de
cultura, pode ser exigido um maior ou menor rigor quanto às impurezas presentes na
água. Outro aspecto a considerar nesse uso é quanto à salinização ou à impermeabilização
do solo, que podem ocorrer devido à presença de alguns compostos químicos na água.
• Dessedentação de animal - Uso que requer algumas exigências quanto à qualidade da
água, sem maior preocupação quanto aos aspectos estéticos.
• Proteção das comunidades aquáticas - Uso muito discutível, em termos de qualidade.
Esse uso visa à manutenção do equilíbrio ecológico do meio aquático, bem como, no
cultivo (piscicultura) de espécies destinadas à alimentação humana. Alguns requisitos de
qualidade são exigidos para a água, principalmente quanto à sobrevivência das espécies ou
aos padrões sanitários, quando são destinados ao consumo humano.
• Recreação e lazer - Atividade que apresenta significado social e econômico cada vez
maior, em decorrência do processo de urbanização. Em relação à recreação, predominam
dois tipos: aquelas em que o homem entra em contato direto com a água (contato
primário, a exemplo da natação, esqui aquático e do surfe) e aquelas em que não há
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contato direto com a água (contato secundário, a exemplo de esportes náuticos com uso
de barco a remo, ou vela ou motor e pesca esportiva);
• Geração de energia elétrica - o aproveitamento da energia hidráulica e sua
transformação em elétrica tornou-se um dos mais intensos usos da água. Outras
tecnologias de geração de energia elétrica, como a utilização de combustível fóssil, ou
nuclear, em usinas termoelétricas utilizam água em grande quantidade para produção de
vapor e controle térmico das instalações. Quanto à qualidade da água, os maiores
cuidados são com relação às impurezas que possam provocar incrustações, corrosão nas
tubulações e turbinas, bem como em outros equipamentos.
• Navegação - utilizada em grande escala para os transportes principalmente de cargas e
passageiros, possibilitando uma integração com os outros meios de transportes;
• Diluição e afastamento de despejos - apesar de não ser um dos usos nobres, é preciso
não esquecer que se trata de um das mais antiga e indispensável utilização da água. A
atividade humana e industrial gera, cada vez mais, uma serie de resíduos que, de uma
maneira ou de outra, tem de ser disposto no ambiente, após tratamento adequado;
• Harmonia paisagística – á água é um elemento da maior importância para a harmonia
paisagística dos recursos hídrica. Este uso apresenta associado aos interesses turísticos e a
pratica de esportes aquáticos;
• Pesca e aqüicultura – a pesca é o ato de se retirar organismo aquáticos de um corpo
hídrico, enquanto que a aqüicultura pode ser definida como cultura de organismos que
necessitam dos ambientes aquáticos para o desenvolvimento de parte ou de sua totalidade
de seu ciclo vital. Este uso requer exigências na qualidade da água para alimentação e
proteção.
Como foi abordado no item 4.1, os usos podem ser divididos em três funções principais:
sobrevivência, bem-estar e produção:
• A função de sobrevivência está ligada à necessidade dos organismos de se hidratarem e
de se reproduzirem em ambientes salubres;
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• A função de bem-estar se relaciona à qualidade de vida do homem;
• A função de produção está ligada às atividades econômicas.
Na função de sobrevivência, enquadram-se os usos de abastecimento humano e de proteção
das comunidades aquáticas. São usos mais nobres, que necessitam de padrões mais restritivos de
qualidade da água. A qualidade das águas potáveis pode ser afetada por vários contaminantes que
impossibilitam seu consumo, a exemplo dos defensivos agrícolas e metais pesados introduzidos
no ambiente. Os defensivos agrícolas são sintetizados artificialmente, fazendo com que a
biodegradabilidade desses componentes seja baixa. Quanto aos metais pesados, esses são
lançados nas águas, principalmente, pelos despejos de origem industrial, mineração e uso de
fertilizantes e praguicidas.
A água para esse fim deve ser de boa qualidade, inclusive quanto aos aspectos estéticos, isenta de
substâncias tóxicas e livres de microrganismos patogênicos, que podem causar uma série de
doenças.
A diminuição do nível de água nos corpos de água tem conseqüências sobre os ecossistemas
aquáticos. Para garantir a vida aquática, necessita-se de uma quantidade mínima de água. A vazão
máxima explorável de água para os demais usos é, portanto, limitada por uma vazão mínima
ecológica.
Organismos aquáticos são suscetíveis a mudanças de qualidade no seu meio ambiente. Mudanças
de pH e estresse térmico podem afetar crescimento, fertilidade, migração, desova e morte dos
peixes. Sólidos podem afetar os órgãos respiratórios de animais aquáticos e arrastar certos
organismos em suspensão para o fundo ou soterrar organismos pedônicos ou bentônicos
(IBAMA, 1995) citado por Leeuwestein, (2000).
Defensivos agrícolas podem ser altamente tóxicos em baixa concentração sobre o ecossistema
aquático, são nocivos à saúde e bioacumulam-se na cadeia alimentar (EMBRAPA, 1993). Podem
causar efeitos crônicos e agudos e alguns são associados aos efeitos carcinogênicos, teratogênicos
e mutagênicos sobre os organismos aquáticos. Também podem causar alterações dos padrões de
diversidade, produtividade e processos sucessionais do ecossistema. Metais pesados são
diretamente absorvidos pelo plâncton, enquanto a fauna aquática tem três formas de incorporar
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esses metais: por meio da alimentação, da respiração e por adsorção à superfície do tegumento
(Ferreiro 1985). Intoxicação pode ocorrer de maneira direta, com o estresse fisiológico,
modificações do metabolismo e morte das espécies ou pode ocorrer de maneira crônica pela
bioacumulação dos metais (IBAMA, 1995).
A função de bem-estar da água está ligada aos usos de harmonia paisagística, recreação e lazer.
O uso para harmonia paisagística depende, principalmente, do aspecto estético dos corpos
hídricos, determinando que os parâmetros para enquadramento sejam essencialmente físicos. É
necessária a ausência de odor, cor, materiais flutuantes e óleos e graxas na água, não havendo
grandes exigências com relação aos parâmetros biológicos e químicos.
Para os usos de recreação e lazer de contato primário, as exigências de qualidade de água são mais
restritivas. Como a água para abastecimento, esses usos necessitam de água livre de organismos
patogênicos e componentes tóxicos. Além disso, a estética da água é fator limitante. A qualidade
de água para recreação de contato secundário só requer água sem substâncias que produzam cor,
odor e turbidez. A quantidade necessária depende do tipo de atividade exercida, como pesca
recreativa, iatismo, remo e mergulho. Os impactos ambientais são, principalmente, voltados à má
utilização do uso da área de lazer, resultando na acumulação de lixo, erosão, poluição e
contaminação dos corpos hídricos. (Leeuwestein, 2000).
Na função de produção de água, classificam-se os usos de abastecimento industrial, irrigação,
dessedentação de animais, geração de energia elétrica, navegação e diluição/afastamento.de
despejos
A demanda industrial de água decorre, em grande parte, do seu aproveitamento para arrefecer
processos com geração de calor. Pode ser fonte de energia hidráulica ou de geração de vapor com
altas pressões, objetivando gerar energia elétrica. Pode ser elemento de desagregação ou diluição
de partículas minerais, podendo ser utilizado como insumo do processo industrial e como meio
fluido para transporte (Lanna, 1997).
A qualidade de água necessária depende do tipo de processamento industrial. Há restrições
qualitativas na produção de alimentos (livres de constituintes prejudiciais à saúde) e em caso de
geração de vapor (baixo pH e dureza). Usinas hidrelétricas necessitam de uma água de baixa
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agressividade e usinas nucleares ou termoelétricas necessitam de baixa dureza. As atividades
industriais comprometem a qualidade de água durante o processo, seja por poluição térmica ou
por geração de efluentes. É uma fonte de poluição pontual, cujos impactos sobre os recursos
hídricos são amplos devido à sua diversidade de acordo com Guazzeli (1998), apud Leeuwestein
(2000).
A irrigação exige grandes volumes de água. Cerca de 98% do volume retirado pelas plantas são
transferidos diretamente para a atmosfera por meio da evapotranspiração das culturas. A
qualidade da água utilizada para irrigação é importante, especialmente para zonas onde
temperaturas altas e umidades baixas resultam em taxa alta de evaporação/transpiração do solo.
Os sais minerais originados da água utilizada para a irrigação podem-se acumular na superfície do
solo, o que afeta a germinação, densidade e desenvolvimento vegetativo da cultura, reduz sua
produtividade e, nos casos mais sérios, pode levar à morte generalizada das plantas, como explica
Bernardo (1997), apud Leeuwestein (2000).
A quantificação da demanda de água na pecuária pode ser feita multiplicando-se o consumo do
animal pela quantidade de animais por área. A qualidade da água para dessedentar animais é
menos exigente do que para consumo humano. No entanto, exige-se água de baixa agressividade
e livre de microrganismos patogênicos, defensivos agrícolas e metais pesados. A pecuária é uma
fonte de poluição difusa, provocando cargas orgânicas e poluição de nutrientes.
Segundo Borghetti et al. (1999), a aqüicultura pode ser definida como o cultivo de organismos que
necessitam dos ambientes aquáticos para o desenvolvimento de parte ou da totalidade do seu
ciclo vital. Quanto à pesca, esta é o ato de retirar organismos aquáticos de um corpo hídrico.
Esses dois usos necessitam de água em quantidade e qualidade adequadas, para preservar
condições ao desenvolvimento de espécies com valor economicamente comercial. É necessário
garantir uma vazão mínima ecológica e condições físico-químicas e bacteriológicas específicas
para cada tipo de espécie.
No Brasil, a rede hidroviária interior atual é constituída por rios navegados em corrente livre e
por hidrovias geradas pela canalização de trechos de rios, além de extensos lagos isolados criados
pela construção de barragens para fins exclusivos de geração hidroelétrica (Godoy et al. 1999).
Esses usos dependem, basicamente, de disponibilidade de água com qualidade adequada.
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A água pode ser usada como meio de diluição e depuração. Os efluentes gerados pelo
esgotamento sanitário e pelas atividades industriais são lançados nos corpos hídricos. Os
poluentes das atividades rurais podem entrar em rios e córregos por meio do escoamento
superficial e subsuperficial ou chegar por percolação profunda aos depósitos. Muitos desses
efluentes não recebem tratamento prévio algum.
Considera-se que o uso de diluição não exige água de boa qualidade, mas a alta concentração de
oxigênio dissolvido aumenta a capacidade de autodepuração de água e a capacidade de absorver
despejos. A quantidade de água exigida para diluição depende das vazões e concentrações de
poluentes nos efluentes e da capacidade de autodepuração do corpo hídrico.
4.3 - CONSULTA A ESPECIALISTAS E A DECISORES.
A fim de obter mais dados e informações a respeito das especificidades dos cursos de água
intermitentes, foram consultados:
Antônio Lanna, Antonio (2002) - Uma grande porção do Nordeste tem sua rede hidrográfica
formada por rios intermitentes. Por exemplo, o rio Jaguaribe em território do Estado do Ceará,
que drena uma área de 25.000 km2, aproximadamente metade do Estado, já passou cerca de 18
meses completamente seco. Nessa região, assente sobre solo cristalino, os reservatórios
superficiais constituem-se nas principais fontes de água para abastecimento das populações e para
a irrigação. Essa particularidade do regime hidrológico da região pode levar à seguinte questão:
será necessário um enquadramento específico para os corpos de água da região? Será necessária
uma resolução específica?
Para responder à questão acima é interessante analisar a questão considerando-se o local em que
se ocorre o uso, se dentro ou fora do corpo de água. No caso de usos no corpo de água, como
natação, não há motivo para enquadramentos diferentes, visto que os objetivos do
enquadramento visam proteger a saúde das pessoas do contato com a água. Então a classe do
corpo de água é definida pelo nível de tolerância do corpo humano e não pelo regime hidrológico
da região.
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Mauricio Fiúza (2000), Prof. da Escola Politécnica, UFBA - A legislação relativa à classificação e
usos das águas nacionais vem sendo aprimorada desde a primeira lei, ainda do período da SEMA
- Secretaria Especial do Meio Ambiente até a atual CONAMA 20.
Se, de inicio, eram até ignoradas as classes relativas às águas salobras e salgadas, ainda hoje, ainda
que acrescidas das novas classes que contemplam essas características, existem algumas definições
concernentes, por exemplo, às águas de sub-superficie e aos rios intermitentes.
Com relação aos rios intermitentes, bastante comuns na região semi-árida do Brasil, o referido
pesquisador fala da expectativa de proposições, com base em um estudo de caso do rio Salitre, de
uma classificação e respectivos usos.
Segundo o pesquisador, pretende-se disciplinar o uso potencial com relação a esses rios que,
embora secos em determinada época do ano, em tempos mais chuvosos, há, por vezes, água em
abundância e, é evidente, que os usos na época de seca podem muito bem se refletir na qualidade
da água na época de cheia.
Algumas atividades, por exemplo, são realizadas no leito do próprio rio seco, mais ainda úmido
relativa à absoluta necessidade de sobrevivência das populações ribeirinhas, como, por exemplo,
o cultivo de alimentos de subsistência.
Luis Capprio (2002), Frei da Arquidiocese do município de Barra, afirma serem muitos os na
bacia do São Francisco, principalmente na região do semi-árido nordestino, que compreende as
regiões do sub-médio e baixo São Francisco.
Alguns são intermitentes pela própria natureza, correm nas cheias e secam na seca, deixando seus
leitos como estradas pedregosas ou arenosas. Outros tornam-se intermitentes pelos tratos
recebidos pelos usuários, tais como: Desmatamento de suas nascentes, Desmatamento e morte
de seus afluentes, Excesso de uso para irrigação, Desvio do leito natural para outros usos e
Contaminação por poluição química ou esgotamento sanitário.
Esses rios intermitentes merecem um cuidado e atenção especial pela fragilidade de sua realidade.
São rios importantes porque, geralmente, cortam regiões muito secas.
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É comum se encontrar a população ribeirinha cavando buraco para extrair um pouco de água no
sub-solo do leito seco.
Existem experiências bem sucedidas de perenizar rios intermitentes. Esse esforço é muito bem
vindo e seria uma das soluções para revitalizar o rio São Francisco, que, se não for bem cuidado,
poderá também, num futuro médio, tornar-se um rio intermitente (Que Deus nos livre desta
catástrofe...).
Agra Filho (2000), Prof Escola Politécnica, UFBA, em relação a enquadramento de rios no Brasil
manifestou as seguintes considerações:
A abrangência regional e predominância de rios intermitentes no Nordeste já seriam um fator de
importância para desenvolver estudos nessa temática. Além disso, julga fundamental essa
preocupação e um real compromisso com a realidade nordestina. Pesquisas que venham a
promover o aprofundamento de reflexões da realidade regional tornam-se prioritárias e de
relevante contribuição para o conhecimento de nossa realidade e certamente para a área de
conhecimento em questão;
A questão dos rios intermitentes emerge, ainda, como área de conhecimento instigante, porque
permite um aprofundamento de significado e efetividade dos critérios de classificação vigente e,
sobretudo, da pertinência ou suficiência dos usos múltiplos considerados (acredito ser esta uma
questão crucial da investigação).
José Theodomiro (2002), Presidente da CEEIVASF e Secretario Executivo do Instituto Manoel
Novais – IMAN. A Lei 9433 prevê o gerenciamento das águas no que se refere à quantidade e à
qualidade. O enquadramento das águas de uma bacia tem suas dificuldades inerentes a volume de
informações, coleta de dados por amostragem e análise. A coleta de dados pode-se iniciar pelos
pontos mais atingidos, por substâncias orgânicas, minerais e químicas, que deterioram a qualidade
água, bem como iniciar-se a análise pelos volumes, vazões e pela capacidade de diluição ou
transporte.
Nos rios intermitentes, sem dúvida, métodos e modelos devem ainda ser estudados, para
avaliação dos efeitos das acumulações nefastas em período seco e das repercussões desse
processo nos períodos úmidos.
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É fundamental que se inicie o estudo de modelos de enquadramento que, indubitavelmente, serão
diferenciados daqueles utilizados para rios permanentes, embora se entenda a possibilidade de
utilização de mesmos parâmetros em períodos em que rios intermitentes assemelham a águas
permanentes.
O entrevistado considera ser de maior importância a proposta de buscar, pela pesquisa e estudo,
um modelo de enquadramento dos rios intermitentes, já que, para essa característica, constituem-
se em rios que talvez sofram muito mais drasticamente os efeitos da utilização como despejo de
substâncias indesejáveis.
Mesmo que um estudo dessa ordem não chegue a um resultado satisfatório, é de suma
importância que seja iniciado, uma vez que na região nordeste, com 60% de embasamento
cristalino, apresenta-se a intermitência na esmagadora maioria dos seus rios, que apesar disso não
deixam de ser utilizados como despejo, principalmente de esgotos, quer industrial ou doméstico.
É de se supor que, como não sofrem essas substâncias transporte imediato permanecendo
paradas ou com lenta distribuição e baixa vazão, uma analise e um estudo de contaminação
subterrânea sejam indispensáveis, devendo constar do elenco de estudos a serem efetuados.
O referido entrevistado vê o enquadramento de rios intermitentes como de complexidade muito
maior do que enquadrar águas permanentes, mas de proporcional importância para a visão de
qualidade que deve ensejar o gerenciamento das águas nacionais.
Fernando Esteves, Engo Florestal (2002), afirma ser incontestável a importância da vegetação
ciliar na manutenção do equilíbrio hidrológico dos cursos de água do semi-árido nordestino.
As caatingas aluvionares assumem uma feição própria na paisagem da caatinga, sendo comum a
presença da craibeira (Tabebuia aurea (Manso) Benth & Hook. f. ex Moore), salgueiro (Vitex sp) e
catingueira (Caesalpinea pyramidalis Tul.) para os cursos de água doce e a carnaúba (Copernicea
prunifera (Miller) H. E. Moore) para os cursos de água salobra.
A existência de formações ciliares ao longo dos cursos d’água a despeito de outras regiões,
desempenha funções vitais no equilíbrio do sistema hídrico, principalmente em que diz respeito à
interceptação da precipitação, liberação gradual da água e manutenção dos níveis de lençol
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20
freático dentre outros. Essa condição para o ecossistema da caatinga é bem mais relevante, uma
vez que o fator água é limitante e vital no equilíbrio do ecossistema.
A predominância de águas salinizadas ao longo dos cursos de água intermitentes e efêmeros do
rio Salitre propicia a formação de belas paisagens, em que predominam as folhas palmadas das
carnaúbas.
Nos locais onde é maior o nível de degradação é comum a ocorrência de taboa (Typha
dominguensis (Pers.) Kunth), algaroba (Prosopis juliflora (Sw) DC.), vitorinha (Nympha sp).
O atual estágio de conservação em que se apresentam as caatingas aluvionares tem elevado o
nível de comprometimento ambiental dos cursos de água que formam a bacia hidrográfica do rio
Salitre, fazendo-se necessária a adoção em caráter de urgência, de medidas que venham a
assegurar a recuperação de um bem tão fundamental para as comunidades e todo meio ambiente
que as cercam.
Juan Santiago (2002), Engo. Civil, especialista em Recursos Hídricos, descreveu a intermitência
dos cursos d'água e a qualidade das suas águas.
Segundo o entrevistado, a variação sazonal dos indicadores de qualidade d'água é regida pelo ciclo
anual do regime fluvial. Portanto, a caracterização adequada da qualidade d'água requer a
associação entre os indicadores de qualidade e os parâmetros hidrológicos, para caracterizar a
variabilidade do regime.
Discutiu o entrevistado sobre escolha de parâmetros hidrológicos para a descrição quantitativa,
nos quais apóiam-se os indicadores de qualidade. Da variabilidade do regime interessa,
principalmente, a definição do período de estiagem. A estiagem é descrita por meio de
parâmetros que reflitam a intensidade e a persistência do período seco.
A persistência é definida como a duração (em tempo) em que a vazão permanece igual ou inferior
a um dado valor de referência.
Em rios perenes, é possível fixar uma persistência crítica em função do habitat que nele se
desenvolve, ou para as populações que dele se servem. Fixada a persistência, avalia-se a
intensidade como um dos parâmetros relacionados a seguir:
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21
Desvio entre o valor normal e o valor observado, como é o caso do coeficiente de variação;
Valor associado a uma dada freqüência de ocorrência, como é o caso da vazão Q90;
Valor associado a um dado período de recorrência.
Os empregos de parâmetros associados à recorrência são sempre preferidos, pois fornecem
resultados independentes do período de observação.
Por questões metodológicas, a persistência é normalmente padronizada, por exemplo, em 7 dias.
Fixado o intervalo crítico, adota-se um critério de risco associado, por exemplo, que o fenômeno
aconteça no máximo uma vez a cada 10 anos. Chega-se, assim à definição da vazão mínima de 7
dias e 10 anos de recorrência.
A intensidade da estiagem em rios intermitentes é predefinida como nula. Portanto, os
parâmetros hidrológicos normalmente empregados na caracterização de rios perenes são
inadequados à realidade dos rios intermitentes. Nesses casos, só cabe a caracterização da
persistência, seja associada à vazão nula, seja associada a uma intensidade padronizada.
A definição da persistência associada a uma dada intensidade não nula (vazão mínima) apresenta
uma vantagem de ordem prática; pode-se definir o valor de uma “vazão sanitária” mínima, como
aquela que estabelece a condição limite do índice de qualidade e, a partir desta, calcular a duração
(ou persistência) em que o curso d'água encontra-se por baixo do referido limite.
A variável que define esse parâmetro é medida em unidade de tempo. A duração assim
determinada é uma variável que pode ser ajustada a uma função de distribuição estatística. Dessa
forma, o parâmetro hidrológico para rios intermitentes seria, por exemplo, a duração média em
dias em que o curso d'água apresenta um índice de qualidade por baixo de um dado limiar de
qualidade, associado a um período de recorrência de 10 anos.
A definição de limiares de qualidade facilita a compreensão da evolução temporal da condição
ambiental de um dado manancial.
Ainda, deve-se observar que o enfoque da duração por limiares de qualidade é genérico e, como
tal, também poderia aplicar-se ao caso de rios perenes.
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22
Carlos Pomponet (2003), Geólogo/ CRA, o entendimento a respeito de rios intermitentes ou
temporários passa pela própria definição clássica de rios superficiais: correntes de água doce que
se formam a partir de precipitação - chuvas, ou a partir de fontes de águas surgentes - olhos
d'água. Daí conclui-se: em regiões - bacias, quando não existem chuvas suficientes ou presença de
olhos d'água, para manter um fluxo caudal permanente no canal do vale, esses rios são
denominados de rios intermitentes ou temporários. Normalmente, não há fluxo durante o
período de seca.
Os rios denominados de efêmeros ou torrentes: são aqueles que somente existem quando em
período de fortes chuvas. Pouco tempo depois de cessadas as chuvas, deixa de existir o fluxo e,
conseqüentemente, o rio.
É a região confinada pelo perímetro do Semi-Árido do Nordeste Brasileiro, que, também
corresponde à região do Polígono das Secas, que retrata melhor a denominação de rio
intermitente. A probabilidade de existência de rios regionais perenes nessa área é quase que nula,
motivadas não só pela falta dos requisitos necessários - chuvas suficientes ou presença de olhos
d'água, consubstanciadas pela geologia da região, ora em ambiente cársticos, ora em ambiente
pedregoso. Em ambos os casos seus substratos rochosos são caracterizados por alta porosidade,
fissuramento e traturamento, que permitem rápida infiltração dessas águas, conduzindo-as a
níveis mais profundos, que se acumulam em fendas e fraturas, ou em cavernas. É comum a
presença, em trecho desses rios, de fluxo de águas.
Outrossim, para o enquadramento dos corpos de água em classes, quanto ao uso preponderante,
desses rios temporários, faz-se necessário que se insira a coleta de sedimentos no fundo do canal,
quando do período seco, bem como a coleta de água dos níveis freáticos, não aflorantes, com
vistas à verificação de contaminantes.
Ilton Lorens (2003), Engo Agrônomo, no que se refere à região semi-árida da Bahia e Nordeste,
em que são comuns longos períodos sem chuvas, lembra que as populações utilizam todos os
recursos possíveis para conseguir água, a fim de atender as suas necessidades básicas.
A ausência de rios perenes ou mananciais subterrâneas de boa qualidade faz com que o agricultor
da caatinga utilize os rios intermitentes como fonte de abastecimento.
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Os rios intermitentes ou temporários oferecem água apenas na época das águas e algumas vezes
esses cursos continuam a correr por algum tempo após o fim das águas. O regime de chuva
torrencial faz com que as águas nesses rios se avolumem com grande rapidez nos leitos dos rios,
provocando grandes correntezas.
Qualquer que seja o uso da água exige-se uma condição mais ou menos uniforme de
fornecimento, não podendo adaptar-se, na maioria dos casos, às condições de vazões variáveis
que ocorrem na natureza, que permitem grande fornecimento na época das chuvas e extrema
escassez no período de estiagem. Esse fato passa a originar a necessidade de regularização por
meio de mecanismos como barragens, desvios ou cacimbas.
A água constitui-se em um elemento vital para o homem sobre diversos aspectos, principalmente
nas regiões do semi-árido, em que as populações utilizam barramentos para acumulação e
armazenamento de água ou, até mesmo, de cacimbas no leito do rio.Geralmente, essa água,
acumulada em reservatórios e ou cacimbas em rios intermitentes, serve para atender os processos
biológicos mais imediatos dos homens, isto é, higiene pessoal, alimentação humana e
dessendentação de animais.
A degradação ambiental, principalmente ligada à atividade agropecuária, vem contribuindo de
maneira direta e efetiva para redução do volume de água e a conseqüente utilização dos
mananciais intermitentes e temporários. Assim sendo, a proteção dos recursos hídricos em geral
depende, fundamentalmente, de medidas disciplinadoras do uso do solo ao longo de toda bacia
hidrográfica.
Eduardo Gabriel (2003), Geógrafo, afirma que, dentre as regiões semi-áridas, o semi-árido
brasileiro é um dos mais úmidos do mundo. Embora, ao se comparar esse espaço com outras
regiões brasileiras, fatalmente a característica mais evidente será a ausência de água. Entretanto, o
semi-árido não é um espaço homogêneo do ponto de vista ambiental. Existem diversos sub-
espaços que compõem um mosaico paisagístico bastante diversificado. Ao se observarem às áreas
serranas presentes, pode-se perceber que aí existe um grau de umidade mais elevado, em
comparação ao restante do semi-árido, devido à altitude. Essa variável topográfica resulta em
áreas com uma vegetação diferenciada das demais encontradas.
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São nessas áreas mais altas e mais úmidas do semi-árido que surgem os rios da região. A rede
hidrográfica semi-árida é bastante diferenciadas das demais regiões do país, haja vista uma série
de fatores distintos. Quando associados a esses fatores, as paisagens resultam em um mosaico
que caracteriza a região. Temperatura média, topografia, vegetação remanescente, pluviosidade,
geologia, além das atividades antrópicas, formam, no Semi-Árido, um importante espaço para a
pesquisa. Nesse sentido, analisar um componente ambiental, como a hidrografia, requer uma
análise dos outros fatores que compõem a paisagem a ser pesquisada.
Os rios permanentes possuem suas nascentes nas áreas mais úmidas ou de topografia mais
elevada da região. Entretanto, ocorre uma variação no seu regime devido à irregularidade da
pluviosidade. Os rios intermitentes são mais comuns na região. Geralmente, são canais tributários
de um rio maior, com suas nascentes localizadas em pequenas elevações. Devido à irregularidade
pluviométrica e à evaporação elevada, o escoamento ocorre em épocas distintas, ou mesmo, em
um único e curto período (quando ocorre a chuva concentrada na região). Nesse período,
relativamente curto, os canais passam a ter um escoamento concentrado, arrastando material
inconsolidado dos leitos para outros lugares.
Como o período de chuvas no semi-árido é muito curto, as alterações na paisagem são sutis, já
que a quantidade de chuvas não é suficiente para permitir uma erosão significativa. Assim, a
competência hídrica é menor, ao se compararem esses rios das outras regiões, resultando em
leitos rasos, estreitos e pouco erodidos em suas margens. Essa morfologia fluvial permite o
pesquisador caracterizar a região no que ela possui de mais significativo: a sua paisagem.
Além da morfologia, outro aspecto interessante deve ser levado em consideração. Mesmo nas
épocas secas, quando não ocorre o escoamento, as áreas mais próximas do leito desses rios são
geralmente mais úmidas, podendo, por vezes, abrigar espécies vegetais e animais mais resistentes
à deficiência hídrica. Algumas espécies de peixes, por exemplo, levados pelo escoamento sazonal,
acabam morrendo na ausência da água, e seus cadáveres alimentam outros animais ou mesmo
contribuem na formação de horizontes superficiais dos solos nos leitos posteriormente secos.
Em suma, os rios intermitentes, assim como todos os elementos encontrados na paisagem semi-
árida contribuem para a formação de um ecossistema dinâmico, com suas características
ambientais específicas e seu papel na elaboração da paisagem.
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5 - O INSTRUMENTO DE ENQUADRAMENTO.
5.1 - DEFINIÇÕES.
O Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, por meio da Resolução 20/86, considera
que enquadramento de corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes, é um
instrumento de planejamento que estabelece metas para garantir à água um nível de qualidade que
possa assegurar seus usos preponderantes.
O CONAMA (1986) define:
• Enquadramento: estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser alcançado e/ou
mantido em um segmento de corpo d’água ao longo do tempo;
• Classificação: qualificação das águas doces, salobras e salinas com base nos usos
preponderantes (sistema de classes de qualidade);
• Efetivação do Enquadramento: conjunto de medidas necessárias para colocar e/ou
manter a condição de um segmento de corpo d’água em correspondência com a sua
classe.
Segundo a Secretaria de Recursos Hídricos - SRH (2000), o enquadramento é um instrumento de
proteção que não deve considerar somente o uso e a qualidade atuais, mas, também, o uso e a
qualidade futuros.
O enquadramento de corpos d'água segundo usos preponderantes é um instrumento muitas
vezes polêmico, tanto pela sua instituição como pelo seu modo de aplicação.
Para Cánepa et al. (1998), a lei 9.433/97 considera, equivocadamente, enquadramento como
instrumento e não como meta.
Segundo Barth (1999), há equívocos na aplicação do enquadramento. Ele afirma que estão
considerando o corpo d'água como se ele estivesse na condição de classe em que já foi
enquadrado e que essa classe deva ser mantida. Cita exemplo do Estado de São Paulo, em que
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uma estação de tratamento de esgotos urbanos não pode ser licenciada porque seus efluentes não
se enquadram nas características do corpo receptor, a despeito de melhorarem os corpos d'água.
Argumenta, ainda, que os efeitos dessa situação se agravam quando se observa que o
enquadramento dos corpos d’ água do Estado de São Paulo foi feito há mais de 20 anos e que
nunca foram efetuadas atualizações.
5.2 - A LEGISLAÇÃO E A PRÁTICA REFERENTE AO INSTRUMENTO
Segundo Newman et al. (1994), apud Leeuwestein (2000), o primeiro tipo de sistema de
classificação das águas superficiais foi desenvolvido na Europa em, aproximadamente, 1850, e
baseou-se nos parâmetros biológicos, considerando os diferentes tipos de organismos presentes
na água poluída e na água limpa. Desde então, uma grande variação de sistemas de classificação,
com base em parâmetros biológicos ou químicos, foram introduzidos pelos países europeus e por
outros países como os Estados Unidos e o Canadá.
A primeira classificação das águas, no Brasil, foi estabelecida a partir da Portaria GM nº 0013/76,
do Ministério do Interior, por meio da qual foram definidas quatro classes para águas interiores
do Pais. Para cada classe, além da especificação dos usos, foram fixados também, teores
máximos de substâncias e as condições a serem atendidas.
O Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, por meio da Resolução nº 20/86,
estabeleceu nova classificação para as águas doces, salobras e salinas do Território Nacional, a
partir da definição de 9 (nove) classes, segundo seus usos preponderantes. A resolução considera
como águas doces às águas com salinidade igual ou inferior a 0,5%; águas salobras com salinidade
variando entre 0,5% e 30% e as águas salinas com salinidade igual ou superior a 30%.
A Lei nº 9.433/97 estabeleceu 5 (cinco) princípios básicos que vêm sendo praticados em alguns
paises que avançaram na gestão de seus recursos hídricos. Um deles é o dos usos múltiplos. No
Brasil, desde os anos 50, o setor elétrico vinha comandando o processo de gestão dos recursos
hídricos superficiais, criando uma assimetria de tratamento, com prejuízos para outros setores
usuários. De acordo com a Lei, todos os setores usuários têm igual acesso ao uso da água. Outro
aspecto relevante da Lei é quanto ao instrumento de Enquadramento dos corpos d’ água em
classes de uso, extremamente importante para estabelecer um sistema de vigilância sobre os níveis
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de qualidade das águas dos mananciais e permitindo fazer a ligação entre a gestão da quantidade e
a gestão da qualidade da água.
Segundo o Art. 9º da Lei 9.433/97, o enquadramento de corpos d’ água em classes, segundo os
usos preponderantes, visa a assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a
que forem destinadas e diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações
preventivas permanentes.
Tomando-se por base as diretrizes da Lei 9.433/97, seria de se supor que a administração da
água, ao invés de ser marcada pela execução de planos e ações concernentes à gestão de recursos
hídricos de forma isolada, passasse a ser integrada, envolvida em parcerias, favorecendo
sobremaneira a mediação dos conflitos e os usos desses recursos. Aliás, esse é outro caráter
inovador e desafiador para as políticas públicas, a “gestão integrada”.
Os recursos a serem utilizados para se trilharem os caminhos balizados pelas diretrizes, ou seja,
os cinco instrumentos essenciais para a gestão integrada, segundo Rebouças (2000), podem ser
classificados como instrumentos de planejamento, econômicos e administrativos.
Os instrumentos de planejamento são:
• Plano Nacional de Recursos Hídricos – que tem por objetivo atualizar e consolidar os
chamados Planos Diretores de Recursos Hídricos, que são elaborados por bacias (ou
conjunto de bacias) hidrográficas;
• Enquadramento dos corpos de água em classes, de acordo com os seus usos, visando
estabelecer a vigilância sobre os níveis de qualidade dos mananciais e, conseqüentemente,
diminuir os custos do combate à poluição, bem como fortalecer a ligação entre a gestão
da qualidade e a gestão da quantidade.
O Art. 10 prevê que as classes dos corpos d’água serão estabelecidas pela legislação ambiental e o
Art 44 institui que compete à Agência da Água - propor ao Comitê o enquadramento dos corpos
d’água para posterior encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselho Estadual
de Recursos Hídricos, de acordo com o seu domínio do curso d’água.
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Há, na questão do enquadramento, um conflito institucional, pois o enquadramento é um
instrumento tanto da gestão de recursos hídricos como da gestão ambiental.
Nesse caso, percebe-se claramente que, apesar de incorporar alguns princípios e diretrizes que
favorecem o entendimento de uma visão sistêmica, a Lei das Águas não é completamente
conclusiva quando estabelece esses instrumentos de gestão. A definição dos padrões de qualidade
de um rio, bem como os planos de recuperação ou adequação dessa qualidade, certamente terão
pesos significativos para determinação da outorga do uso da água. Esses elementos determinarão
que a outorga não propicie uma degradação da quantidade/qualidade da água, causando, assim,
alteração no seu enquadramento. É imprescindível que esses dois instrumentos sejam trabalhados
em conjunto, numa interação constante entre a gestão ambiental e a gestão de recursos hídricos,
o que certamente balizará a aplicação dos instrumentos econômicos preconizados na lei. Essa
discussão sobre integração entre elementos da Política de Recursos Hídricos e da Política
Ambiental será abordada mais adiante.
Depois da instituição da Lei n.º 9.433/97, a competência de enquadramento passou a ser de
responsabilidade dos Comitês de Bacia Hidrográfica que integram o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. A partir daí, foram desenvolvidas algumas ações pelos
órgãos federais responsáveis pela implementação do instrumento de enquadramento, haja vista
tanto a demais havido por definição da Resolução no 12/00 do CNRH, quanto o atual processo
de reformulação da Resolução no 20/86 do CONAMA.
5.3 - ASPECTOS TÉCNICOS REFERENTES AO ENQUADRAMENTO.
Como já foi abordado no item 5.1 deste capítulo, o Conselho Nacional de Meio Ambiente –
CONAMA, por meio da Resolução nº 20/86, estabeleceu 9 (nove) classes, segundo seus usos
preponderantes, considerando como águas doces as águas com salinidade igual ou inferior a
0,5%; águas salobras com salinidade variando entre 0,5% e 30% e as águas salinas com salinidade
igual ou superior a 30%. A citada resolução enquadrou as águas segundo seus usos, sendo classe
especial e classe de 1 a 4 referentes à águas doces; 5 e 6 referente às águas salobras e 7 e 8
referentes às águas salinas.
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Classe especial, águas destinadas:
• Abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção;
• Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.
Classe 1, águas destinadas:
• Abastecimento doméstico após tratamento simplificado;
• Preservação das comunidades aquáticas;
• Recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho);
• Irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes
ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de películas;
• Criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécies destinadas à alimentação humana.
Classe 2 – águas destinadas:
• Abastecimento doméstico, após tratamento convencional;
• Preservação das comunidades aquáticas;
• Recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho);
• Irrigação de hortaliças e plantas frutíferas;
• Criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécies destinadas à alimentação humana.
Classe 3 – águas destinadas:
• Abastecimento doméstico, após tratamento convencional;
• Irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
• Dessedentação de animais.
Classe 4 – águas destinadas:
• Navegação;
• Harmonia paisagística;
• Usos menos exigentes.
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Classe 5 – águas destinadas:
• Recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho);
• Proteção das comunidades aquáticas;
• Criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécies destinadas à alimentação humana.
Classe 6 – águas destinadas:
• Navegação comercial;
• Harmonia paisagística;
• Recreação de contato secundário.
Classe 7 – águas destinadas:
• Recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho);
• Proteção das comunidades aquáticas;
• Criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécies destinadas à alimentação humana.
Classe 8 – águas destinadas:
• Navegação comercial;
• Harmonia paisagística;
• Recreação de contato secundário.
O plano de enquadramento de Bacia Hidrográfica, ao ser realizado para uma região ou grande
bacia hidrográfica, traz dificuldades devido à necessidade de diagnósticos e prognósticos em áreas
geograficamente muito amplas.
Com base na Resolução 12 do CNRH, a SRH (2000), elaborou um documento preliminar
intitulado: "Procedimentos Técnicos para Enquadramento de Corpos d’ Água" para águas
superficiais, mas não enfoca diretamente para águas subterrâneas e os cursos de águas
intermitentes.
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Entretanto, uma discussão que atualmente ocorre é sobre o enquadramento ou não das águas
subterrâneas em classes de usos preponderantes. Existe a corrente de profissionais que defende a
idéia de que essas águas devem ser enquadradas e a corrente daqueles que acham o
enquadramento desnecessário.
Os argumentos da corrente contrária ao enquadramento são de que o enquadramento daria
permissão para poluir águas subterrâneas, que não seria complicado fazer o zoneamento
qualitativo dos aqüíferos. Por outro lado, a corrente que acredita ser o enquadramento necessário
rebate argumentado que a utilização das águas subterrâneas vem crescendo sistematicamente e
não só para abastecimento da águas o que já estaria exigindo algum tipo de enquadramento para
se preservar dos conflitos de usos.
O uso desregrado, baseado só em outorga de uso (aspecto quantidade) e a falta de controle
efetivo do uso e ocupação do solo e do licenciamento ambiental para deposição de resíduos
sólidos e/ou infiltração de efluentes, contribuem para poluir, de forma progressiva as águas
subterrâneas. O que ocorre é que, muitas vezes, não se leva em consideração esse tipo de risco
para a água subterrânea. Por outro lado, também argumentam que, se não está poluída, não tendo
uso múltiplo, nem sendo degradada, teoricamente, por exemplo, seria classe 1. Se for classe 1,
não é permitido procedimento algum que possa pôr em risco sua qualidade e, portanto, não seria
uma licença para poluir. Pelo contrário, estaria estabelecendo uma proteção negligenciada pelos
órgãos ambientais licenciadores.
Mesmo em sendo o processo de enquadramento das águas subterrâneas complexo e trabalhoso
isto não se constituiria em argumento para que ele não seja realizado. Hoje, está-se passando por
um período de transição e regulamentação do setor de recursos hídricos. Se, para as águas
subterrâneas, não for dado tratamento adequado, pensando-se nas condições futuras, pode-se
correr o risco de ser a água subterrânea alijada do processo integrado de gestão correndo riscos
de degradação, muito mais do que ocorre atualmente.
Cabe, também, ressaltar que o enquadramento das águas subterrâneas não se resume a adaptá-las
às classes de águas superficiais estabelecidas pela Resolução CONAMA Nº 20, em 1986. Para as
águas subterrâneas, teriam de ser criadas novas classes que incorporassem as características
próprias do recurso hídrico subterrâneo (Leeuwestein, 2000).
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Segundo Lanna et al. (2002), várias são as diferenças entre os processos hidrológicos entre os
corpos de água subterrânea e superficial. A análise pode ser feita segundo duas óticas distintas:
primeiramente, no que diz respeito à vulnerabilidade à poluição; em segundo lugar, relativamente
à capacidade, ou facilidade, de recuperação do corpo hídrico, uma vez que o mesmo esteja
poluído.
5.4 - O ENQUADRAMENTO: EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS E
INTERNACIONAIS.
Para elaboração deste item, foram utilizadas poucas referências bibliográficas, em função do
pouco desenvolvimento teórico sobre o tema, principalmente no que diz respeito aos rios
intermitentes. De acordo com as pesquisas bibliográficas, são limitados os trabalhos referentes a
enquadramento de cursos de água. Quanto aos cursos de água intermitente no âmbito estadual,
federal e internacional, não foi identificado estudo algum de enquadramento desse recurso
natural.
De um modo geral, a implementação e a aplicação do instrumento (enquadramento) tornam-se
difíceis pelas limitações técnicas e instrumentais ligadas à falta de recursos financeiros e às poucas
experiências na gestão de recursos hídricos. Também, existem incertezas sobre como aplicar o
instrumento por falta de diretrizes e metodologia, principalmente nos cursos de água
intermitentes.
Segue um breve relato sobre e