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Alice Maria Santos Oliveira INTERACÇÕES DO CLORODIAZEPÓXIDO EM MEIOS MICELARES Avaliação das propriedades ácido/base e de solubilidade Departamento de Química Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Outubro/1999

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Alice Maria Santos Oliveira

INTERACÇÕES DO CLORODIAZEPÓXIDO EM MEIOS MICELARES

Avaliação das propriedades ácido/base e de solubilidade

Departamento de Química Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

Outubro/1999

Alice Maria Santos Oliveira

INTERACÇÕES DO CLORODIAZEPÓXIDO EM MEIOS MICELARES

Avaliação das propriedades ácido/base e de solubilidade

Tese submetida à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

para a obtenção do grau de Mestre em Química

Departamento de Química Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

Outubro/1999

INTERACÇÕES DO CLORODIAZEPÓXIDO EM MEIOS MICELARES

Avaliação das propriedades ácido/base e de solubilidade

AGRADECIMENTOS

Ao Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto por me ter

aceite como aluna de Mestrado.

À Doutora Paula Gameiro, a orientação deste trabalho.

Ao Professor Doutor Baltazar de Castro, o ter-me aceite no seu grupo de investigação.

A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.

Aos colegas do laboratório, em particular ao Alex, à Ana e à Cris, a amizade e camaradagem.

Aos meus Pais, as oportunidades que me proporcionaram ao longo da minha vida.

A minha família, em particular aos meus irmãos, o incentivo e o apoio sempre demonstrados.

Aos amigos.

RESUMO

O trabalho descrito nesta dissertação teve como objectivo o estudo das propriedades

ácido-base e de solubilidade de uma substância com acção terapêutica, a benzodiazepina

clorodiazepóxido (CLDZ), em diferentes meios micelares sintéticos.

As soluções aquosas micelares são muitas vezes usadas como sistemas modelo

simplificados de membranas biológicas, por serem constituídas por moléculas com

propriedades anfipáticas que mimetizam certos aspectos das biomembranas. Desta forma,

avaliar o efeito dos sistemas micelares nas propriedades físico-químicas do CLDZ torna-se

importante para esclarecer alguns parâmetros farmacocinéticos deste fármaco.

Os estudos foram efectuados por espectrofotometria de ultravioleta-visível em solução

aquosa e em soluções micelares do surfactante aniónico dodecilsulfato de sódio (SDS), do

surfactante neutro polietilenoglicol p-t-octil-fenol (Triton X-100) e do surfactante catiónico

brometo de hexadeciltrimetilamónio (CTAB).

Foram determinadas as constantes de acidez aparente do CLDZ, em soluções aquosas

dos três surfactantes mencionados, a 25°C e a uma força iónica de 0,1M em NaCl. O

tratamento matemático dos valores das constantes de acidez, foi realizado pela aplicação de

dois modelos, designadamente o modelo de Berezin e o PIE, que contemplam ou não a

existência de permuta iónica entre as espécies iónicas em solução e o contra-ião do

surfactante, para verificar qual deles melhor expressa a interacção do CLDZ em meio micelar.

Efectuaram-se estudos de solubilidade do CLDZ nos diferentes meios mencionados a

25°C e com ajuste de pH, dada a solubilidade desta substância ser dependente do pH do meio.

Estes estudos permitiram obter as constantes de ligação da benzodiazepina às micelas.

Finalmente efectuou-se ainda o estudo por espectrofotometria de ultravioleta-visível

de outra benzodiazepina utilizada como hipnótico, o diazepam (DZP), em soluções do

surfactante aniónico SDS. Neste estudo utilizou-se concentrações de surfactante acima e

abaixo da cmc, tendo-se determinado as constantes de acidez aparente do DZP em SDS.

ABSTRACT

The aim of this work was the study of the acid-base properties and solubility of the

benzodiazepine chlorodiazepoxide (CLDZ) in different micellar solutions.

Aqueous micelle solutions are often used as models for the more complex biological

membranes because they are composed of amphiphilic molecules that imitate certain aspects

of biomembranes. In this way evaluating the effect of micellar systems in physical and

chemical properties of CLDZ is important to clarify some farmacocinetic parameters of this

drug.

The studies were performed by UV-VIS spectrophotometry in aqueous solution and in

micellar solutions of the anionic surfactant sodium dodecyl sulphate (SDS), of the nonionic

surfactant polyethyleneglycol p-t-octylphenol (Triton X-100) and of the cationic surfactant

hexadeceyltrimethylammonium bromide (CTAB).

The acidity constants of CLDZ in micellar solutions of the three surfactants mentioned

above were determined at 25°C and with ionic strength equal to 0,1M in NaCL. The results

were mathematically processed, and two models were used to quantify the micellar effects in

equilibrium constants- Berezin and the PIE models. Their difference lies mainly in an

assumption used by the PIE model that the counterions of the ionic surfactants exchange with

other ionic species in solution.

The study of the solubility was performed in the different systems mentioned, at 25°C,

at the same ionic strength and with pH fixed. This study gave the binding constants of CLDZ

to the micelles.

Finally, one determined the acidity constants of another benzodiazepine, used as

hypnotic, diazepam (DZP), in SDS solutions. In this study there were used concentrations in

SDS under and above the cmc.

INDICE

Agradecimentos 2

Resumo 3

Abstract 4

índice 5

índice de figuras 8

índice de tabelas 11

Lista de abreviaturas e símbolos 13

Prefácio 15

Capítulo 1-Introdução Teórica 17

1.1 Benzodiazepinas 18

Aspectos gerais 18

Clorodiazepóxido e Diazepam 18

Estrutura e nomenclatura 19

Propriedades físico-químicas 20

Espectrofotometria de ultravioleta/visível 21

1.2 Substâncias tensioactivas 23

Aspectos gerais 23

Formação de micelas 24

Estrutura de micelas 27

Aplicações das micelas 30

1.3 Distribuição de fármacos entre as fases aquosa e micelar 31

Considerações gerais 31

Determinação das constantes de ligação 32

Localização das moléculas solubilizadas numa micela 34

Factores que influenciam a solubilização 35

1.4 Equilíbrio ácido/base em soluções micelares 38

Considerações gerais 38

Tratamento teórico da acidez em meio micelar 38

Efeito dos sistemas micelares nas constantes de ionização 42

6

1.5 Métodos espectrofotométricos para determinação de constantes de equilíbrio 44

Considerações gerais 44

Aquisição de dados 45

Capítulo 2- Metodologia 48

2.1 Reagentes 49

2.2 Soluções 50

2.3 Instrumentação utilizada 51

Medições de pH 51

Medições espectrais 51

2.4 Sistema automático de titulação 52

Titulação ácido forte/base forte 52

Constituição do sistema 52

Programa de controlo e aquisição de dados 53

2.5 Calibração do sistema 55

Condições experimentais 55

Método de Gr an 57

Detecção de carbonato 5 o

2.6 Métodos de cálculo utilizados 62

Programa SQUAD 62

Erros 67

Capitulo 3- Resultados e Discussão 68

3.1 Espectros do CLDZ em soluções aquosas de surfactantes nas formas

monomérica e micelar

Execução experimental 69

Zona espectral abrangida '"

Resultados obtidos e sua discussão ™

A) CLDZ em SDS 7 2

B) CLDZ em Triton X-100 7 3

C) CLDZ em CTAB 7 5

77 Conclusões

7

78 3.2 Constantes de acidez e absortividades molares do clorodiazepóxido em

sistemas micelares

Execução experimental 78

Resultados obtidos e sua discussão 79

A) Surfactante aniónico (SDS) 79

B) Surfactante neutro (Triton X-100) 82

C) Surfactante catiónico (CTAB) 86

Conclusões " * 3.3 Tratamento matemático das constantes de acidez do CLDZ em meio micelar 93

Resultados obtidos e sua discussão 93

A) Surfactante aniónico (SDS) "3

B) Surfactante neutro (Triton X-100) 9 6

C) Surfactante catiónico (CTAB) 97

Conclusões 3.4 Solubilidade do CLDZ em soluções aquosas e soluções micelares 102

102 Execução experimental 103 Resultados obtidos e sua discussão

A) CLDZ em água 1 0 4

B) CLDZ em SDS 1 0 4

C) CLDZ em Triton X-100 1 ° 5

D) CLDZ em CTAB 1 0 7

Conclusões

Capítulo 4- Considerações finais

Capitulo 5- Bibliografia

Apêndices

Apêndice 1-Propriedades farmacocinéticasc do CLDZ e do DZP

Apêndice2- Requisitos da IUPAC para a publicação de constantes de equilíbrio

Apêndice3- Estudo espectrofotométrico das propriedades ácido-base do diazepam

109

110

114

121

122

124

126

INDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 Representação esquemática de 5-fenil-1,4-benzodiazepina-2-ona. 19

Figura 1.2 Representação das estruturas químicas das duas benzodiazepinas 20 utilizadas neste trabalho.

Figura 1.3 Estruturas dos surfactantes sintéticos SDS, Triton X-100 e CTAB. 23

Figura 1.4 Esquema da variação da tensão superficial (Y), da condutividade 24 molar (K) e da dispersão de luz (T) em função da concentração de surfactante. A linha a tracejado representa a cmc.

Figura 1.5 Alguns tipos de estruturas micelares: (a) esférica, (b) "disc-like", 29 (c) cilíndrica, (d) lamelar, (e) vesícula esférica. Os grupos hidrofílicos estão representados pelos círculos pretos.

Figura 1.6 Representação esquemática de uma micela iónica de SDS. 29

Figura 1.7 Esquema das possíveis localizações das moléculas solubilizadas. 34

Figura 1.8 Mecanismo de Winsor para aumentar a solubilidade de solutos 37

apoiares devido à adição de compostos polares.

Figura 2.1 Esquema do sistema automático de titulação. 53

Figura 2.2 Lista de opções de entrada do programa de controlo e aquisição 54 de dados.

Figura 2.3 Representação gráfica de A) E=f(V), B) dE/dV=f(V) e 60 C) d2E/dV2=f(V) de uma titulação de 20 ml de HC1 1,0 x 10"3M com NaOH isento de carbonato.

Figura 2.4 Representação gráfica de A) E=f(V), B) dE/dV=f(V) e 61 C) d2E/dV2=f(V) de uma titulação de 20 ml de HC1 1,0 x 10"3M com NaOH contendo carbonato.

Figura 2.5 _ Esquema geral do ficheiro de entrada do SQUAD. 64

Figura 2.6 Exemplo de um ficheiro de entrada utilizado neste trabalho. 65

Figura 2.7 Diagrama simplificado do SQUAD. 66

9

Figura 3.1.1 Espectros dos surfactantes sintéticos SDS, Triton X-100 e CTAB 71 0,01M.

Figura 3.1.2 Espectro do CLDZ em água (preto), em SDS acima da cmc 72 (vermelho) e em SDS abaixo da cmc (verde), a pH = 3.

Figura 3.1.3 Espectro do CLDZ em água (preto), em SDS acima da cmc 72 (vermelho) e em SDS abaixo da cmc (verde), a pH = 9.

Figura 3.1.4 Espectro do CLDZ em água (verde), em Triton X-100 abaixo da 74 cmc (vermelho) e em Triton X-100 acima da cmc (preto), a pH = 3.

Figura 3.1.5 Espectro do CLDZ em água (verde), em Triton x-100 abaixo da 74 cmc (vermelho) e em Triton X-100 (preto) acima da cmc, a pH = 9.

Figura 3.1.6 Espectro de CLDZ em solução aquosa e em soluções de CTAB 75 abaixo e acima da cmc, a pH=3.

Figura 3.1.7 Espectro de CLDZ em solução aquosa e em soluções de CTAB 76 abaixo e acima da cmc, a pH=9.

Figura 3.2.1 Espectro de várias soluções de CLDZ em SDS 3 x IO"3 M a 79 diferente pH.

Figura 3.2.2 Representação gráfica da variação de pKapp em função da 81 concentração de SDS.

Figura 3.2.3 Representação da absorvância em função do comprimento de 83 onda para soluções de CLDZ em Triton X-100 4 x 10~3M a diferente pH.

Figura 3.2.4 Representação da absorvância em função do comprimento de 83 onda para soluções de CLDZ em Triton X-100 7 x 10"3M a diferente pH.

Figura 3.2.5 Representação gráfica da relação linear obtida entre as 84 absorvâncias do CLDZ em Triton X-100 7 x 10"3M, para os comprimentos de onda 310 e 355 nm.

Figura 3.2.6 Curvas de titulação obtidas a 310 nm (A) e a 355 nm (B) para a 84 solução CLDZ em Triton X-100 1 x 10"3M.

Figura 3.2.7 Representação gráfica da variação de pKapp em função da 86 concentração de Triton X-100.

Figura 3.2.8 Representação da absorvância em função do comprimento de 87 onda para soluções de CLDZ em CTAB 0,01 M a diferente pH.

10

Figura 3.2.9 Representação da absorvância em função do comprimento de 87 onda para soluções de CLDZ em CTAB 0,04 M a diferente pH.

Figura 3.2.10 Representação gráfica da variação de pKapp em função da 89 concentração de CTAB.

Figura 3.2.11 Representação gráfica da relação linear obtida entre as 89 absorvâncias do CLDZ em CTAB 0,04 M, para os comprimentos de onda 245 e 310 nm.

Figura 3.2.12 Representação gráfica de A\=f (-log cH+) do clorodiazepóxido em 90

CTAB 4 x 10"3 M, para vários comprimentos de onda, mostrando uma inflexão perto do valor obtido para o pKapp.

Figura 3.3.1 Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em 95 SDS e o melhor ajuste obtido com o modelo de Berezin.

Figura 3.3.2 Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em 95 SDS e o melhor ajuste obtido com o modelo de PIE.

Figura 3.3.3 Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em 97 Triton X-100 e o melhor ajuste obtido pelo modelo de Berezin.

98

100

Figura 3.3.4 Representação gráfica de Kapp = f (CD) para o sistema CLDZ em CTAB e o melhor ajuste obtido pelo modelo de Berezin.

Figura 3.3.5 Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em CTAB e o melhor ajuste obtido pelo modelo de PEE.

Figura 3.4.1 Representação gráfica da variação da solubilidade do CLDZ em 105 função da concentração de SDS a pH=9.

Figura 3.4.2 Representação gráfica da variação da solubilidade do CLDZ em 106 função da concentração de Triton X-100 a pH=3 (quadrados) e a pH=9 (círculos).

Figura 3.4.3 Representação gráfica da variação da solubilidade do CLDZ em 108 função da concentração de CTAB a pH=3 (quadrados) e a pH=9 (círculos).

Figura C l DZP em água (preto), em SDS abaixo da cmc (vermelho) e em 127 SDS acima da cmc (verde), a pH=3.

Figura C.2 DZP em água (preto), em SDS abaixo da cmc (vermelho) e em 127 SDS acima da cmc (verde), a pH=9.

Figura C.3 Representação gráfica da variação do pKapp de DZP com a 129 concentração de SDS.

INDICE DE TABELAS

Tabela 1.1 Benzodiazepinas: Nomes genérico, comercial e químico.

Tabela 1.2 Valores de pKa em água para o CLDZ e DZP.

Tabela 1.3 Absortividades molares do CLDZ e DZP em água.

Tabela 1.4 Concentrações micelares críticas de SDS em soluções aquosas de NaCl, a 25°C.

Tabela 3.1.1 Valores das concentrações micelares críticas para os surfactantes sintéticos utilizados neste trabalho.

Tabela 3.1.2 Comprimentos de onda máximo (A,max) e absortividades molares (8) da espécie protonada do clorodiazepóxido (HCLDZ+) em CTAB.

Tabela 3.1.3 Comprimento de onda máximo (À,max) e absortividade molar (e) da espécie neutra do clorodiazepóxido (CLDZ) em CTAB.

Tabela 3.2.1 Constantes de acidez aparente do CLDZ em SDS; (I=0,lM;t=25°C).

Tabela 3.2.2 Valores dos comprimento de onda máximo e das absortividades molares do CLDZ em SDS.

Tabela 3.2.3 Constantes de acidez aparente do CLDZ em Triton X-100; (I=0,lM;t=25°C).

Tabela 3.2.4 Constantes de acidez aparente do CLDZ em CTAB; (I=0,lM;t = 25°C).

Tabela 3.2.5 Comprimentos de onda máximo (̂ max) e absortividades molares (8) da espécie protonada do clorodiazepóxido (HCLDZ+) em CTAB, determinados com o programa SQUAD.

Tabela 3.2.6 Comprimento de onda máximo (A,max) e absortividade molar (e) da espécie neutra do clorodiazepóxido (CLDZ) em CTAB, determinados com o programa SQUAD.

20

21

21

26

70

76

77

80

82

85

88

91

91

12

Tabela 3.3.1 Constantes de ligação da forma protonada e neutra do CLDZ 99 às micelas de SDS, Triton X-100 e CTAB, obtidos a partir das constantes de acidez aparente.

Tabela 3.4.1 Solubilidade do CLDZ em meio aquoso a pH = 3 e a pH = 9, 104 a 25°C.

Tabela 3.4.2 Efeito do sistema micelar SDS na solubilidade do CLDZ a 104 25°C.

Tabela 3.4.3 Efeito do sistema micelar Triton X-100 na solubilidade do 106 CLDZ a 25°C.

Tabela 3.4.4 Efeito do sistema micelar CTAB na solubilidade do CLDZ a 107 25°C.

Tabela 3.4.5 Constantes de ligação da forma protonada (KHB+) e 109 desprotonada (KB) do clorodiazepóxido às micelas determinadas a partir de estudos de solubilidade.

Tabela A. 1 Principais benzodiazepinas. 122

Tabela A. 2 Propriedades farmacocinéticas. 123

Tabela A. 3 Formas de administração e dosagens. 123

Tabela C l Valores dos comprimentos de onda máximo (A,max) de DZP 128 em água e em SDS, a pH=3.

Tabela C.2 Constantes de acidez aparente do DZP em SDS; 129 (1 = 0,1 M;t = 25°C).

Tabela C.3 Valores dos comprimentos de onda máximo (Xmax) e das 130 absortividades molares de DZP em SDS.

Tabela C.4 Valores dos comprimentos de onda máximo (A,max) e das 130 absortividades molares de DZP em meios mistos.

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

a grau de ionização da micela

£B absortividade molar da espécie neutra da benzodiazepina

£BH absortividade molar da espécie protonada da benzodiazepina

EI absortividade molar da espécie ionizada

£M absortividade molar da espécie molecular

'Wnax comprimento de onda máximo

A, absorvância da espécie ionizada

AM absorvância da espécie molecular

B forma neutra da benzodiazepina

CD concentração do surfactante acima da concentração micelar crítica

CLDZ clorodiazepóxido

cmc concentração micelar crítica

CTAB brometo de hexadeciltrimetilamónio

DZP diazepam

Fi fracção da forma ionizada

FM fracção da forma molecular

HB+ forma protonada da benzodiazepina

KB constante de ligação às micelas da forma neutra

KHB constante de ligação às micelas da forma protonada

Kx/y coeficiente de selectividade

P coeficiente de partiha

pKa constante de acidez

pKapp constante de acidez aparente

RMN ressonância magnética nuclear

RSE ressonância de spin electrónico

14

SDS dodecilsulfato de sódio

SM solubilidade na presença do surfactante

Sw solubilidade em água

Triton X-100 polietilenoglicol p-t-octil-fenol

V volume molar

Ixl b concentração da espécie X ligada às micelas

Ixl f concentração da espécie X livre na solução

PREFACIO

As 1,4- benzodiazepinas, grupo de substâncias farmacologicamente activas do qual

fazem parte o clorodiazepóxido (CLDZ) e o diazepam (DZP), são as drogas psicoterapêuticas

actualmente mais prescritas devido à sua elevada eficiência no tratamento da ansiedade. Não

obstante, pouco se sabe sobre o comportamento destas drogas quando em contacto com as

membranas biológicas.

Os sistemas micelares por serem constituídos por moléculas com propriedades

anfipáticas, isto é, por conterem grupos hidrofílicos e grupos hidrofóbicos à semelhança dos

sistemas biológicos, têm sido amplamente utilizados como modelos simplificados, uma vez

que mimetizam certos aspectos das biomembranas.

Desta forma, avaliar os efeitos dos sistemas micelares nas propriedades físicas e

químicas de substâncias com acção terapêutica, torna-se importante para compreender e

esclarecer a influência de meios organizados em certos parâmetros farmacocinéticos destas

substâncias.

Este trabalho consistiu, na sua grande parte, no estudo da influência de diferentes

meios micelares nas propriedades físico-químicas do CLDZ, de modo a tentar correlacioná-

las de uma maneira quantitativa com o tipo de interacções entre esta droga e as micelas.

O trabalho experimental efectuado para esta dissertação surge como seguimento do

trabalho realizado durante o seminário de licenciatura, no qual foi efectuado o estudo

espectral do CLDZ em SDS. Assim, iniciou-se a parte experimental deste trabalho por

finalizar estudo das propriedades ácido-base do CLDZ em SDS e obter os valores de

solubilidade da benzodiazepina neste meio, prosseguindo-se com estudos idênticos para

outros dois surfactantes (Triton X-100 e CTAB). De realçar ainda que os 3 surfactantes

usados pertencem a classes diferentes, de modo a permitir a verificação do efeito da carga das

micelas.

16

Esta dissertação está dividida em cinco capítulos e três apêndices: No primeiro

capítulo são definidos os conceitos básicos necessários para a compreensão e execução do

trabalho experimental; o capítulo dois destina-se à descrição das condições experimentais em

que o trabalho foi realizado, com especial ênfase no sistema de titulação utilizado e algumas

observações experimentais relevantes para a determinação de constantes de ionização; no

capítulo três apresentam-se os resultados obtidos no estudo espectrofotométrico das

propriedades ácido-base e solubilidade do CLDZ em solução aquosa e em soluções micelares

dos surfactantes SDS, Triton X-100 e CTAB; no capítulo quatro são apresentadas as

considerações finais acerca dos resultados experimentais obtidos ao longo de todo o trabalho

e conclusões alcançadas; no capítulo cinco apresentam-se as referências bibliográficas

referidas ao longo da dissertação e termina-se com três apêndices: o primeiro apresenta as

propriedades farmacocinéticas das duas benzodiazepinas utilizadas no trabalho, o segundo

apresenta as recomendações da IUPAC para a publicação de constantes de equilíbrio e o

terceiro apresenta os resultados obtidos no estudo do comportamento de outra

benzodiazepina, o diazepam (DZP) em soluções de SDS.

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo são definidos os conceitos necessários para a compreensão,

interpretação e execução do trabalho experimental.

Inicia-se pela descrição geral das propriedades físico-químicas das substâncias em

estudo: clorodiazepóxido, diazepam e surfactantes (secções 1.1 e 1.2), prosseguindo-se com a

descrição e análise dos estudos efectuados de solubilidade e de ácido-base em meios

micelares (secções 1.3 e 1.4).

Uma vez que o trabalho experimental incidiu especialmente na determinação

espectrofotométrica de constantes de acidez, a última secção (1.5) é destinada à descrição

sumária do método utilizado.

18

1.1 BENZODIAZEPINAS

Aspectos gerais

As benzodiazepinas são um grupo de substâncias farmacologicamente activas,

utilizadas como tranquilizantes. Actuam em diferentes áreas do cérebro e do sistema nervoso

central, incluindo o sistema límbico que controla as emoções e o córtex cerebral que é

responsável pela análise de informação.

Actualmente as 1,4-benzodiazepinas são as drogas psicoterapêuticas mais prescritas

devido à sua elevada eficiência no tratamento da ansiedade, podendo ter outras indicações

terapêuticas, funcionando como sedativos ou hipnóticos. Todas as benzodiazepinas têm

propriedades farmacológicas similares diferindo no entanto na selectividade, o que pode

conduzir a uma utilização clínica diferente.

Clorodiazepóxido e Diazepam

O potencial das 1,4-benzodiazepinas como substâncias farmacologicamente activas foi

pela primeira vez explorado por Randal3 nos seus estudos com o clorodiazepóxido, que foi a

primeira benzodiazepina bem sucedida desenvolvida nos Laboratórios Roche nos fins dos

anos 50. Mais tarde, nos anos setenta apareceu uma nova benzodiazepina, o diazepam que

dadas as suas propriedades ansiolíticas, relaxantes musculares e anticonvulsivantes,

rapidamente destronou o clorodiazepóxido, sendo o fármaco mais vendido no mundo (só nos

Estados Unidos os médicos prescrevem 44 milhões de receitas deste ansiolítico).

Relativamente aos efeitos adversos mais comuns da utilização destas drogas, verifica-

-se que o diazepam e o clorodiazepóxido podem provocar sonolência, dificuldades de

coordenação, fadiga, tonturas e ataxia. De salientar ainda que apesar de inicialmente se ter

pensado que estas substâncias não fossem viciantes, está hoje demonstrado que as

benzodiazepinas provocam dependência. A dependência é detectada pelo aparecimento dos

seguintes sintomas aquando da sua não utilização: insónia, ansiedade, perda de apetite,

tremores, suores e distúrbios de percepção.2 Alguns destes sintomas são precisamente os

responsáveis pela prescrição das benzodiazepinas, o que resulta num ciclo vicioso de

dependência. De facto são drogas cuja habituação ocorre tão facilmente que a dependência

delas pode ocorrer ao fim de apenas algumas semanas apesar de tomadas em doses normais,

daí a sua prescrição ser restringida a quatro semanas no máximo.

19

As propriedades farmacocinéticas, as formas de administração e as dosagens utilizadas

do clorodiazepóxido e do diazepam encontram-se resumidas no apêndice A.

Estrutura e nomenclatura

As 1,4-benzodiazepinas têm a estrutura geral representada no esquema da figura 1.1

(5-fenil-l,4-benzodiazepina-2-ona).

As drogas com esta estrutura geral, fazem parte dos chamados agentes ansiolíticos e

devem a sua actividade biológica à presença do anel de sete lados e à presença de

substituintes nas posições 1, 2, 3 e 7. A existência de substituintes electronegativos tal como o

cloro nas posições 2 e 7 e a existência de um grupo metilo ligado ao átomo de azoto na

posição 1, aumentam fortemente esta actividade .

ri

Figura 1.1- Representação esquemática de 5-fenil-l,4-benzodiazepina-2-ona.

Existem três tipos diferentes de 1,4-benzodiazepinas, sendo esta classificação baseada

na natureza do átomo de carbono da posição 2. No primeiro tipo {diazepam) o carbono 2 é um

grupo carbonilo, o segundo tipo {clorodiazepóxido) tem um grupo metilamino ligado ao

carbono da posição 2 e o terceiro tipo possui um grupo metileno nesse mesmo carbono.

Existem excepções que apresentam algumas variações relativamente à estrutura geral e

uma delas é o clorodiazepóxido que tem a estrutura mais diversa, por conter um substituinte

no átomo de azoto da posição 4, como é demonstrado na figura 1.2.

Na tabela 1.1 encontram-se representadas as duas benzodiazepinas utilizadas e os seus

respectivos nomes genérico, comercial e químico.

20

NHCH3

Clorodiazepóxido

Figura 1.2- Representação das estruturas químicas das duas benzodiazepinas utilizadas neste trabalho.

Tabela 1.1- Benzodiazepinas: Nomes genérico, comercial e químico

Nome genérico

Clorodiazepóxido

Diazepam

Nomes comerciais

Librium, Disarim,

Paxium, outros...

Valium, Bialzepam,

Metamidol, outros...

Nome químico

7-cloro-2-metilamino-5-fenil-3H-1,4-

benzodiazepina-4-óxido

7-cloro-1,3-diidro-1 -metil-5-fenil-2H-1,4-

benzodiazepina-2-ona

Propriedades físico-químicas

As soluções de 1,4-benzodiazepinas (com a excepção do medazepam) em meios não

aquosos permanecem estáveis por várias semanas. Em solução aquosa têm tendência para

hidrolisar, especialmente em meios fortemente ácidos ou alcalinos, dando origem às

correspondentes benzofenonas. Na generalidade as benzodiazepinas são bases monopróticas muito pouco solúveis em

água mas solúveis em metanol, etanol e clorofórmio. A eficácia de qualquer substância com acção terapêutica, depende não só da sua via de

administração mas também do seu grau de ionização e este depende como é óbvio da(s)

constante(s) de acidez dessa substância. Estudos efectuados por espectrofotometria de

ultravioleta/visível,7 indicam a existência de apenas uma constante de acidez para estas duas

benzodiazepinas, em que a protonação do diazepam ocorre no azoto imínico N-4 do anel

21

benzodiazepínico e a protonação do clorodiazepóxido no átomo de oxigénio ligado também

ao azoto imínico N-4, ou seja ao grupo N-óxido.

Tabela 1.2- Valores de pKa em água para o CLDZ e DZP

Benzodiazepina pKa

Clorodiazepóxido 4,79

Diazepam 3,58

Espectrofotometría de ultravioleta/visível

De acordo com a literatura6, estas substâncias têm absortividades molares da ordem de

grandeza de IO4 mol^dmW 1 , o que implica que as soluções utilizadas tenham concentrações

da ordem dos 5 x IO"5 a 1 x IO"4 M, de maneira a que o espectro se mantenha inalterável.

Na tabela 1.3 apresentam-se os valores dos comprimentos de onda de absorvância

máxima (k max) e das absortividades molares, eBH+ a absortividade molar da espécie protonada

e £B a absortividade molar da espécie neutra, retirados da literatura.

Tabelal.3- Absortividades molares do CLDZ e DZP em água

BH+ B

Benzodiazepina X max (nm) e (xlC ' M 1 cm l) X max (nm) e(xlO i^M-W1)

CLDZ 245 3,1 262

e(xlO

3,2

310 0,9 355 0,3

DZP 241

285

360

2,3

1,1 0,3

229

250s

315

3,4

1,6

0,2

s = shoulder

Como já foi referido, tanto o clorodiazepóxido como o diazepam têm tendência a

sofrer hidrólise. O mecanismo de hidrólise destas benzodiazepinas não é, ainda, totalmente

conhecido mas há vários estudos efectuados por espectrofotometría de ultavioleta/visível6 que

referem que as benzofenonas associadas à hidrólise do clorodiazepóxido e do diazepam

22

absorvem em soluções ácidas com absortividades molares 20% superiores às dos compostos

que lhe dão origem. Assim, a possibilidade de ocorrência de hidrólise pode ser facilmente

verificada pelo controlo da absorvância das soluções.

Lafargue et ai.10 verificaram que em soluções 0,2M de HC1 a benzofenona associada

ao diazepam (2-metilamino-5-clorobenzofenona) absorve a 237 nm e que a benzofenona

associada ao clorodiazepóxido (2-amino-5-clorobenzofenona) absorve a 236 e 213 nm.

Clifford et ai,6 referem que estudos efectuados em soluções 4M de HC1, apontam valores de

comprimento de onda de absorvância máxima de 214 e 255 nm para o produto de hidrólise do

clorodiazepóxido e de 214 e 248 nm para o diazepam.

Relativamente a meios micelares, não se encontram na literatura muitas referências

relativamente a soluções de benzodiazepinas. Uma dessas referências descreve um estudo

efectuado por espectrofotometria de ultravioleta-vísivel da interacção de uma das

benzodiazepinas (DZP) com surfactantes, que revelou uma maior solubilidade desta em meio

micelar do que em água.11 As soluções de diazepam na presença de surfactante exibiam uma

maior absorvância devido ao facto de haver mais produto dissolvido, e quando se estudava a

interacção do surfactante em soluções onde o DZP se encontrava numa concentração

suficientemente pequena, de modo a já se encontrar totalmente dissolvido antes da adição de

surfactante, não se registava nenhum aumento de absorvância em relação ao meio aquoso.

23

1.2 SUBSTÂNCIAS TENSIOACTIVAS

Aspectos gerais

As substâncias tensioactivas também denominadas por surfactantes são constituídas

por moléculas com propriedades anfipáticas bem definidas, isto é, contêm grupos hidrofóbicos

e grupos hidrofílicos. A combinação destas propriedades opostas numa única molécula

confere a estas substâncias características únicas quando contactam com a água, tais como a

formação de agregados acima de uma certa concentração e a capacidade de solubilizar

substâncias pouco solúveis em água - propriedades que estão interligadas.

Normalmente têm a estrutura RX, onde R é uma cadeia de hidrocarboneto contendo 8

a 18 átomos de carbono (grupos alquilos, acilos ou aromáticos) e X é um grupo polar e/ou

ionizante com carácter hidrofílico. Dependendo da natureza de X as substâncias tensioactivas

podem ser divididas em quatro classes: aniónicas (gupo hidrofílico carregado negativamente),

catiónicas (grupo hidrofílico carregado positivamente), não iónicas (grupo hidrofílico não

possui carga, mas é polar) e iónicas dipolares (grupo com carga positiva e carga negativa). Os

surfactantes iónicos dipolares apesar de terem carga permanente, têm a particularidade de se

comportarem como catiónios ou aniónicos dependendo do pH da solução. No caso dos

surfactantes catiónicos o grupo hidrofílico é geralmente um grupo fosfónio, piridinico ou

amónio quaternário; se for aniónico é constituído por sulfato, sulfonate fosfato ou carboxilato 12

e se se tratar de um surfactante não iónico, X representa um resíduo polioxietileno .

Na figura 1.3 encontram-se representados o nome e a fórmula de estrutura dos três

surfactantes sintéticos utilizados neste trabalho.

C12H25OSO3" Na+ (SDS)

CH3 I

H 3 C - Ç - H 2 C - Ç CH3 CH3

(OCH2CH2)nOH (T r i t o n X " 1 0 0 )

C16H3iN+(CH3)3 Br" (CTAB)

Figura 1.3- Estruturas dos surfactantes sintéticos SDS, Triton X-100 e CTAB

24

Formação de micelas

As substâncias tensioactivas tendem a agrupar-se em contacto com a água para

minimizar a energia do sistema, dando origem a micelas - agregados coloidais formados

espontaneamente em água por compostos anfipáticos.

O termo "micela" é portanto utilizado para denominar a entidade de dimensão 13

coloidal, que está em equilíbrio dinâmico com os monómeros que lhe deu origem .

A formação de micelas ocorre devido à natureza dualista das moléculas de surfactante,

em que a parte hidrofóbica tende a afastar-se da água e a parte hidrofílica a interactuar

fortemente com ela. A água tem uma estrutura aberta que quando contacta com uma molécula

anfipática sofre uma distorção para permitir acomodar as moléculas do soluto, provocando um

aumento da energia livre do sistema. Como resultado desse aumento de energia, surge uma

tendência do soluto ser adsorvido na interface da solução ou então a formação de agregados

moleculares em que as regiões hidrofóbicas estão direccionadas para o interior da micela .

Por outras palavras, a formação de micelas é um mecanismo alternativo à adsorção para

reduzir a energia livre devido à minimização da distorção da estrutura da água.

A formação de micelas só acontece acima de uma certa concentração, a que se chama

concentração micelar crítica (cmc) e é acompanhada pela variação pronunciada de várias

propriedades físicas da solução, entre as quais a tensão superficial, a condutividade molar e a

dispersão da luz, que são as mais utilizadas experimentalmente para a determinação da cmc

(figurai.4)14.

c m c Concentração

Figural.4- Esquema da variação da tensão superficial (Y), da condutivadade molar (K) e da dispersão de luz (x) em função da concentração de surfactante. A linha a tracejado representa a cmc.

25

A variação pronunciada da propriedade física medida é indicativo da alteração

significativa da natureza da espécie responsável pela propriedade. No caso da medição da

condutividade molar, a alteração poderá estar associada ao aumento da massa por unidade de

carga da espécie condutora. A variação da dispersão da luz indica o aparecimento de espécies

significativamente maiores do que os monómeros do soluto. Estas evidências experimentais

sustentam a formação de agregados ou micelas em concentrações de surfactante bem

definidas15. O valor da cmc é tanto mais acentuado quanto maior for o número de monómeros por

micela14 (n° de agregação) e pode sofrer algumas variações dependendo da técnica física

utilizada para a determinar. Essas pequenas variações são devidas ao facto das diferentes

técnicas responderem diferentemente às espécies em solução na forma monomérica e

micelar . À medida que a concentração de surfactante aumenta acima da cmc, a adição de novos

monómeros resulta na formação de novas micelas, daí que a concentração de monómeros 13

permaneça aproximadamente constante e igual à cmc . Outro parâmetro é o ponto de Kraft- a temperatura acima da qual a formação de

micelas é possível - que pode ser determinado pela variação da solubilidade, uma vez que o

surfactante na forma não associada, a que vulgarmente se designa por monómeros, tem uma

solubilidade limitada enquanto que as micelas possuem uma grande solubilidade.

O valor da temperatura de Kraft depende da natureza do grupo hidrofóbico e do

carácter das interacções iónicas entre o surfactante e os contra-iões. Uma vez que o

mecanismo de solubilização dos surfactantes neutros é diferente, estes não exibem o ponto de

Kraft, no entanto têm uma relação temperatura/solubilidade em meio aquoso característica,

tornando-se mais solúveis com o aumento de temperatura .

Se considerarmos a concentração micelar crítica igual à solubilidade limite dos

monómeros de surfactante, então é o processo de formação de micelas que impede a

precipitação do surfactante16. A concentração micelar crítica é o parâmetro mais importante de

uma substância tensioactiva, uma vez que determina a concentração máxima de monómeros

que se pode obter (em algumas interacções o que é relevante é a actividade do surfactante

como monómero e não em forma de micela) .

A formação de micelas resulta do balanço de três forças: a força de repulsão

hidrofóbica entre as cadeias de hidrocarbonetos e a água, a força de repulsão entre as cargas

dos grupos hidrofílicos e a força de Van der Walls entre os grupos alquilo,17 e pode-se

considerar que a principal causa da associação das moléculas de surfactante é a interacção

26

hidrofóbica das cadeias de hidrocarbonetos. Sendo assim, o valor da cmc é determinado pelo

balanço do carácter hidrofóbico/hidrofílico da molécula uma vez que a tendência de formação

da micela aumenta com o aumento do carácter hidrofóbico e diminui com o aumento do

carácter hidrofílico, isto é moléculas que sejam constituidas maioritariamente por um grupo

hidrofóbico têm uma concentração micelar crítica menor14. A importância dada à interacção

hidrofóbica é consistente com a observação de que a adição de etanol num meio aquoso

impede gradualmente a formação de micelas .

Relativamente ao valor da concentração micelar crítica as seguintes generalizações

podem ser aplicadas :

- Quanto menor for a cadeia de hidrocarboneto, menor é a diminuição da energia

livre do sistema resultante da agregação e, assim, maior é a concentração para a

qual a superfície das moléculas de surfactante tem o mesmo potencial químico em

solução e na micela e consequentemente maior é a cmc.

Matematicamente a relação entre o tamanho da cadeia de hidrocarboneto e a cmc

foi expresso por Klevens18 como sendo

log cmc = A - Bn

Em que A e B são constantes específicas para uma série homóloga e n é o número

de átomos de carbono da cadeia.

- Todos os factores que diminuem a repulsão electrostática entre os grupos

hidrofílicos favorecem a formação de micelas.

Um exemplo é a adição de electrólitos inertes (aumentando assim a força iónica)

porque a repulsão entre os grupos hidrofílicos da micela é atenuada pela presença

de outros iões (tabela 1.4).

Tabelal.4- Concentrações micelares críticas de SDS em soluções aquosas de NaCl, a 25°C

C(NaCl)/M 0 0,1 0,2 0,4

Cmc(mM) 8,1 1,4 0,83 0,52

Um aumento de temperatura diminui a hidratação dos grupos hidrofílicos,

favorecendo a formação micelar dos compostos não iónicos.

27

- A presença de álcoois, com baixa solubilidade em água, diminui a densidade de

carga da superfície de uma micela iónica, diminuindo assim a correspondente

concentração micelar crítica.

- A presença de metanol e de outros compostos similares, como o dioxano por

exemplo, com uma significativa miscibilidade com a água, como não "penetram" na

micela na mesma extensão têm um efeito fraco no valor da cmc, aumentando-a para

grandes concentrações devido à diminuição da energia da interacção hidrofóbica

entre as cadeias de hidrocarbonetos e as moléculas de surfactante.

A formação de micelas assemelha-se à criação de uma nova fase, no entanto, as

micelas resultantes não se unem numa fase contínua, distribuindo-se apenas uniformemente

em meio aquoso, dando origem a uma «pseudo-fase» com propriedades características da

separação de fases tais como: aumento da solubilidade de certas substâncias em soluções de

surfactante acima da cmc, que é similar à dissolução dessas substâncias numa fase separada;

no ponto de Kraft, a primeira derivada da solubilidade do surfactante em função da

temperatura exibe uma descontinuidade que também é característica da transição de fases .

Estrutura das micelas

As micelas são estruturas dinâmicas com tempos de formação e destruição da ordem 19

dos milisegundos . O número de monómeros de surfactante por micela (número de agregação), para

surfactantes não iónicos atinge o valor de 1000 ou superior, enquanto que se for iónico esse

número variará entre 10 a 100, devendo-se esta diminuição às repulsões electrostáticas entre

os grupos hidrofílicos .

O formato de uma micela foi sempre uma questão controversa: Hartley propôs uma

micela esférica com dimensões coloidais em que os grupos hidrofílicos estão situados na

superficie e as cadeias hidrofóbicas no interior. McBain sugeriu a existência de micelas

lamelares que consistem em duplas camadas de moléculas de surfactante colocadas lado a

28

Exceptuando os casos de concentrações elevadas de surfactante, a maioria das

evidências experimentais favorece o modelo de Hartley. Algumas dessas evidências

encontram-se sumariadas de seguida :

- O valor da concentração micelar crítica depende mais do comprimento

da cadeia de hidrocarbonetodo do que dos grupos iónicos. Numa micela lamelar

seria de esperar uma maior sensibilidade para os grupos hidrofílicos que se

encontram próximos apesar de terem a mesma carga.

- As micelas lamelares expõem mais as cadeias hidrofóbicas à água.

- As micelas têm números de agregação constantes. Micelas lamelares

provavelmente não teriam um tamanho definido, pois estariam sempre dispostas a

aceitar mais moléculas.

O modelo de McBain foi apoiado por resultados de raios X21. Quando um feixe

monocromático de raios X atravessa uma fina camada de solução de surfactante observa-se

uma figura de difracção cuja interpretação segundo a equação de Bragg é consistente com o

esperado de uma micela lamelar. Os resultados de raios X obtidos quando se adiciona

benzeno a um surfactante também são coerentes com a solubilidade numa micela lamelar.

No entanto, este modelo não é satisfatório para explicar o tamanho limitado das

micelas. Termodinâmicamente seria de esperar que as micelas lamelares tivessem tendência a

aumentar para minimizarem a energia do sistema. Além disso verifica-se que alguns

resultados de raios X são ambíguos, uma vez que podem ser atribuídos a um certo

ordenamento das micelas esféricas imposto por forças electrostáticas repulsivas.

Actualmente é aceite que o formato de uma micela varia com a concentração do

surfactante. Embora geralmente sejam esféricas, algumas micelas para concentrações bem

acima da concentração micelar crítica e segundo condições apropriadas, podem adoptar outros 99

formatos, como é demonstrado na figura 1.5 .

As micelas lamelares por apresentarem semelhanças com as membranas biológicas são

muitas vezes utilizadas como modelos de investigação de estruturas biológicas .

29

(b)

%î#' 'îl (e)

332$* (d) («)

Figural.5- Alguns tipos de estruturas micelares: (a) esférica, (b) "disc-like", (c) cilíndrica, (d) lamelar, (e) vesícula esférica. Os grupos hidrofílicos estão representados pelos círculos pretos.

Na figura 1.6 está representada esquematicamente com mais pormenor uma micela

esférica. Considera-se que a micela tem um núcleo líquido formado por n cadeias carbonadas

com os grupos ionizados direccionados para a água. A camada que envolve o núcleo designa­

t e por camada de Stern que contém não só os grupos iónicos, mas também (1 - a)n contra-

iões, cujo grau de ionização a varia entre 0,6 e 0,9. Existe ainda uma camada mais difusa, a 23 24

camada Gouy-Chapman, contendo an contra-iões ' .

Camada de GouY-Chapman

Camada de Stern

Centro 10 A

Figura 1.6- Representação esquemática de uma micela iónica de SDS (adaptação da referência 12).

30

A superfície duma micela não é uniforme. Resultados de RMN (ressonância

magnética nuclear) indicam que algumas cadeias de hidrocarbonetos estão expostas ao

solvente, ou pelo menos contactam com ele periodicamente. De facto as micelas contêm uma

considerável quantidade de água (por exemplo: 33-46% no SDS). A água está provavelmente

localizada não só na superfície mas também no interior da micela, diminuindo a sua

quantidade com a distância aos grupos hidrofílicos12. Recentes estudos de fluorescência das

ligações hidrogénio nos agregados micelares indicam ainda que uma micela é uma estrutura

porosa na qual a água e a região hidrofóbica estão em permanente contacto .

A superficie de uma micela pode ser considerada como um "ambiente" polar com

características diferentes da água. O interior de carácter hidrofóbico tem propriedades

semelhantes às cadeias de hidrocarbonetos líquidas embora mais ordenadas. Em geral a

micela apesar de possuir alguma características de sólidos é semelhante ao estado líquido.

Esta última hipótese é consistente com os seguintes factos: a) a possibilidade de se formarem

micelas mistas com vários aditivos e b) a ocorrência de solubilização em sistema micelares. O

processo b) assemelha-se em muitos aspectos à extracção de substâncias orgânicas da fase

aquosa, com as micelas a "actuarem" como uma segunda fase .

Aplicações das micelas

Os sistemas micelares têm tido ampla aplicação nos últimos anos em diferentes áreas

da química analítica, sendo utilizados numa variedade de técnicas como a espectrofotometria

de ultravioleta/Visível (especialmente na detecção de metais),26,27 fluorimetria,

espectrometria de quimiluminescência,28"31 espectrometria de absorção atómica e 1 1 'IA

cromatografia ' . As micelas são as responsáveis pela maior parte das aplicações práticas dos

detergentes como: (i) o aumento da solubilidade de compostos orgânicos em água devido à

sua incorporação na micela; (ii) catálise de muitas reacções e (iii) alteração do equilíbrio e da

velocidade de reacções. Adicionalmente, os sistemas micelares têm a vantagem de serem práticos devido à sua

13 estabilidade, serem opticamente transparentes e relativamente não tóxicos .

31

1.3 DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS ENTRE AS FASES AQUOSA E MICELAR

Considerações gerais

De todas as aplicações das micelas, a de maior interesse analítico advém do papel

importante que desempenham em processos de solubilização. Substâncias pouco solúveis ou

mesmo insolúveis em água podem ser transportadas por esta depois de terem sido dissolvidas

nas micelas. Por esta razão os sistemas micelares são utilizados por exemplo como

detergentes ou como transportadores de fármacos19. Este facto é comprovado pelo aumento

pronunciado da solubilidade quando a concentração micelar crítica é atingida. Este aumento é

proporcional à concentração de surfactante, principalmente devido ao acréscimo do número

total de micelas por unidade de volume .

Os métodos de determinação da solubilidade em sistemas micelares são idênticos aos

da determinação da concentração de qualquer composto num dado solvente. Como a

solubilidade depende da temperatura é importante que estes métodos estejam sujeitos a uma

adequado controlo de temperatura. A solubilização é um processo dinâmico, em que as moléculas solubilizadas estão em

equilíbrio permanente entre as fases aquosa e micelar (tempos de residência na micela » 10" a

IO"5 segundos), quanto mais hidrofóbica é a molécula maior é o seu tempo de residência na

micela . A tendência de um molécula interactuar com micelas é expressa pela sua constante de

ligação, K. Para a reacção

S + C o SC (1.1)

em que S e C correspondem respectivamente ao substrato e ao agregado micelar, a

constante de ligação pode ser expressa por

K = ISCI/( ISI C) (1.2)

C é expresso pela concentração do surfactante em forma de micela, isto é, igual à

diferença entre a concentração analítica do surfactante e a concentração micelar crítica.

32

Determinação das constantes de ligação

O processo de solubilização é afectado por vários factores, que por sua vez

influenciam as propriedades das micelas (temperatura, concentração do contra-ião, presença

de electrólitos inertes), e é dificultado pelo efeito das próprias substâncias solubilizadas nas 12

micelas .

No entanto, os valores das solubilidades podem ser interpretados, com as devidas

precauções, com base num modelo simples, no qual as micelas são consideradas uma fase

distinta do resto da solução . Considera-se que a substância A é distribuída entre as fases micelar e aquosa de

acordo com a lei de distribuição simples:

IAI M / IAI W = PA ( ° )

em que IAIM e IAIW, correspondem às concentrações locais do soluto A em mol/dm nos

volumes das fases micelar e aquosa respectivamente.

Se ICAMI e ICAwl se referem, respectivamente, às concentrações analíticas do soluto na

fase micelar e na fase aquosa (relativamente ao volume total da solução), IAIM e IAIW são

dadas como:

IAIM = ICAMI / CV (1.4)

IAIW = I C A W I / ( 1 - C V ) (1.5)

•3

em que C é igual à diferença entre a concentração do surfactante (em moldm" ) e a

cmc, e V é o volume molar do surfactante. A concentração total de A em relação ao volume de todo o sistema, é dado por:

IAlo = IAIM CV + IAlw ( 1 -CV) (1.6)

Combinando (1.3) com (1.6), obtém-se

I A I 0 / I A I W = 1 + ( P A - 1 ) C V (1.7)

33

em que P A é o coeficiente de partilha e os factores CV e 1- CV são as fracções por

volume das fases micelar e aquosa respectivamente.

Atendendo a que a distribuição (1.3) é satisfeita para concentrações acima de Sw

(solubilidade de A em água), então a solubilidade SM na presença do surfactante está

relacionada com Sw pela equação (1.7), que pode ser escrita da seguinte forma:

S M /Sw=l+K A C (1.8)

Em que a constante KA corresponde a

KA = ( P A - 1 ) V (1-9)

r-h e tem, a dimensão de uma constante de ligação comum (M" ).

Para considerações gerais, a equação (1.3) será aplicada apenas para soluções diluídas,

pelo que a equação (1.8) é aplicada unicamente para substâncias pouco solúveis, cujas

soluções saturadas possam ser consideradas ainda "diluídas".

A equação (1.8) pode ser rescrita como:

S M / S w - 1 = K A C (1.10)

A representação gráfica de SM / Sw - 1 em função de C dá origem a uma recta cuja

intersecção na origem é igual a zero e o declive é igual a KA.

As constantes do tipo KA são indicadoras da eficiência da solubilização. Exemplos da

utilização de valores de solubilidade de várias substâncias para a determinação das constantes

de ligação com as micelas podem ser encontradas nas referências 36-40.

A constante de ligação de uma substância a uma micela pode ser facilmente obtida

quando existe variação numa propriedade molecular que possa ser detectada ao passar de um

meio aquoso para um meio micelar .

Neste trabalho a propriedade utilizada é a absorvância, obtida por espectroscopia de

ultravioleta-visível, mas também se poderia ter recorrido à espectroscopia de RMN

(ressonância magnética nuclear) ou à espectroscopia de RSE (ressonância de spin

electrónico). Uma vez que a alteração das absorvâncias ou absortividades molares está

relacionada com a mudança do microambiente da molécula, estes resultados poderão ser

utilizados para interpretar a localização das moléculas solubilizadas na micela.

34

Localização das moléculas solubilizadas numa micela

A localização e a orientação das moléculas solubilizadas numa micela estão

dependentes da natureza da espécie solubilizada e do surfactante.

Como já foi referido, as micelas são estruturas dinâmicas não permitindo assim

determinar com exactidão a localização do soluto, podendo-se no entanto determinar a sua

localização preferencial. De salientar, no entanto, que apesar de uma dada região da micela

poder ser um local preferencial de solubilização, não há nenhuma garantia de que todos os

fenómenos relacionados com o sistema estejam associados a essa região .

Os diferentes locais possíveis de solubilização numa micela encontram-se

esquematizados na figura 1.7, onde se torna evidente que as moléculas solubilizadas podem

estar localizadas em vários microambientes, desde a superfície da micela até ao interior mais

profundo do agregado .

Figura 1.7- Esquema das possíveis localizações das moléculas solubilizadas

Assim, as moléculas solubilizadas na micela podem ser encontradas nos seguintes

locais33:

1- Adsorvidas na superfície da micela, isto é, na interface água/micela, que é a

suposição mais provável para moléculas contendo grupos polares;

2- Entre os grupos hidrofílicos, no caso de surfactantes não iónicos;

3- Entre os grupos hidrofílicos, próximo da superfície micelar, orientados

radialmente na micela de forma a que a parte polar da molécula esteja situada na

superfície e a parte apolar no interior da micela; 4- Situadas mais profundamente entre os grupos hidrofóbicos;

5- No interior da micela de carácter hidrofóbico;

35

Para verificar a forma como as moléculas são solubilizadas numa micela é usual

comparar espectros de ultravioleta-visível, RMN e RSE, traçados na presença e na ausência

de surfactante. No entanto a interpretação dos espectros é dificultada pelo facto de os efeitos

observados dependerem de vários factores. Por essa razão os estudos publicados, utilizando

diferentes métodos e dando resultados consistentes acerca do rearranjo das moléculas

solubilizadas numa micela, são especialmente valiosos.

Em geral verifica-se que :

- as moléculas alifáticas estão imersas no interior hidrofóbico das micelas ;

- as moléculas aromáticas ou as partes aromáticas das moléculas estão

provavelmente na superfície das micelas catiónicas e no interior das micelas

neutras e aniónicas;

- as moléculas com substituantes polares (álcoois, fenóis, ácidos, aminas etc) estão

orientadas com os grupos polares para a superfície e as partes não polares imersas

no interior da micela; - os iões são adsorvidos na superfície das micelas.

A eficiência de uma interacção química entre as moléculas solubilizadas está

obviamente dependente da respectiva orientação. O rearranjo das moléculas solubilizadas na

micela é, por conseguinte, uma questão que importa ser examinada em mais detalhe.

Factores que influenciam a solubilização

O principal factor a influenciar a capacidade de um surfactante solubilizar uma

substância é a sua estrutura molecular, uma vez que é ela que determina as suas características

(cmc, número de agregação, forma da micela, etc). Consequentemente todos os factores que

afectam a estrutura molecular do surfactante também inferem no valor da solubilidade,

nomeadamente a adição de um terceiro componente na solução de surfactante .

A concentração micelar crítica e o número de agregação podem ser relacionados com

o tamanho e a natureza do grupo hidrofóbico da micela. Verifica-se que o aumento do

tamanho do grupo hidrofóbico para um dado grupo hidrofílico provoca a diminuição da cmc e

o aumento do número de agregação.

Como os hidrocarbonetos e os compostos orgânicos pouco solúveis em água

usualmente se solubilizam no interior e entre os grupos da micela, a quantidade de material

36

solubilizado será tanto maior quanto maior for o tamanho da micela. Então, qualquer factor

que provoque o aumento do tamanho da micela também contribui para um aumento da sua

capacidade de solubilização. O aumento do tamanho da cadeia de hidrocarboneto, por

exemplo, origina uma diminuição da cmc e um aumento do número de agregação de modo a

permitir que um maior número de substâncias se incorpore na micela.

Considerando o poder solubilizante dos diferentes tipos de surfactante para uma dada

cadeia hidrofóbica, geralmente verifica-se que os surfactantes neutros têm um poder

solubilizante superior ao dos surfactantes catiónicos, e o destes, por sua vez, é maior que dos

aniónicos.

A estrutura do composto a dissolver é também um dos factores que afecta a

solubilização. Harkin etalAl investigaram a solubilização de hidrocarbonetos e de compostos

aromáticos e concluíram existir uma relação inversa entre o volume molecular do soluto e a

sua quantidade solubilizada. Um factor ainda a ter em conta é a polaridade do composto a

solubilizar. No caso de surfactantes neutros, verifica-se que quanto mais polar é a molécula a

solubilizar, maior é a capacidade da micela para incorporá-la. Tal facto é, aliás, indicativo que

a solubilização ocorre entre os grupos hidrofílicos da micela.

Como a temperatura influencia as características de uma micela, consequentemente

também afectará a solubilidade dos solutos, devido à alteração da estrutura da micela. Além

disso uma variação da temperatura afecta as interacções intermoleculares entre soluto e

solvente (por exemplo as ligações de hidrogénio), o que pode significar uma alteração das

propriedades do surfactante e do soluto. Geralmente observa-se que um aumento de

temperatura é responsável pelo aumento da solubilização dos compostos polares e apoiares

em micelas de surfactantes iónicos, enquanto que para os surfactantes neutros o efeito da

temperatura depende da natureza do soluto. Compostos apoiares localizados no centro da

micela sofrem um aumento da solubilidade devido ao aumento do número de agregação.15

A adição de substâncias que não fazem parte do sistema inicial (solvente-surfactante-

soluto) pode provocar alterações significativas no poder solubilizante de um surfactante

devido ao seu efeito na concentração micelar crítica e no número de agregração. Verifica-se

que a adição de compostos polares aumenta a solubilidade do soluto apolar nas micelas

iónicas. Winsor sugeriu um mecanismo para tal acção baseado em interacções intra e

intermoleculares. Na essência, o mecanismo, como se pode observar na figura 1.8, envolve a

incorporação do composto polar entre os monómeros de surfactante. Como resultado, surge

uma diminuição das repulsões entre os grupos hidrofílicos, e um aumento do volume do

interior da micela, originando assim um maior espaço para incorporar o soluto.

37

Adição de composto polar

Figural.8- Mecanismo de Winsor para aumentar a solubilidade de solutos apoiares devido à adição de compostos polares (adaptação da referência 15).

A adição de electrólitos a surfactantes iónicos diminui a concentração micelar crítica e

aumenta o número de agregação, ou seja o tamanho da micela. Para concentrações de

surfactante perto da cmc, verifica-se geralmente um aumento da solubilidade como resultado

de um aumento do número de micelas, no entanto, para concentrações bem acima da cmc, é

difícil prever o efeito do electrólito. Esta dificuldade dever-se-á ao facto do efeito na

solubilidade resultante da adição de electrólitos, estar relacionada também com a natureza do

soluto e a sua potencial localização na micela. Os solutos apoiares como os hidrocarbonetos

sofrerão um aumento de solubilidade devido ao aumento do volume do centro da micela. Para

solutos polares, como alguns álcoois, que se localizam entre os grupos hidrofílicos, observa-

se uma diminuição de solubilidade, uma vez que a diminuição das repulsões dos grupos

hidrofílicos provoca a sua aproximação não permitindo assim a incorporação do soluto .

Outro factor que pode afectar a capacidade solubilizante de um surfactante é o pH.

Apesar deste efeito ainda não estar extensivamente documentado, como os factores anteriores,

é de se esperar que os surfactantes mais sensíveis ao pH, como os carboxilatos, sofram

variações significativas de solubilidade com a alteração do pH do meio. Além disso, uma

alteração de pH pode afectar a natureza do próprio soluto originando diferentes interacções

com as micela, incluindo o próprio local de solubilização .

38

1.4 EQUILÍBRIO ÁCIDO/BASE EM SOLUÇÕES MICELARES

Considerações gerais

O aumento da utilização de soluções micelares como solventes em química analítica,43

bem como noutras áreas como por exemplo na catálise micelar,43"45 tem contribuído para o

crescente interesse do conhecimento da influência das micelas nas propriedades ácido/base de

substâncias. Esta influência pode ser significativa e reflecte-se na variação das constantes de

ionização.

A amplitude da variação da constante de acidez depende de duas propriedades do

microambiente da substância na micela: a constante dieléctrica e o potencial de superfície.45"47

A contribuição destas duas propriedades na variação das constantes de acidez tem sido

quantificada com base em modelos electrostáticos e de troca iónica, que permitem prever os

efeitos da concentração do surfactante e da adição de contra-iões na variação das constantes

de acidez43. De seguida serão descritos os dois modelos utilizados neste trabalho, o modelo de

Berezin e o modelo PIE.

Tratamento teórico da acidez em meio micelar

A dissociação de um ácido catiónico, como os utilizados no presente trabalho, em

solução aquosa, pode ser representada pela seguinte equação química

HB+ o H++ B (1.11)

Para a qual se pode definir a constante de acidez pela equação

\H+\\B\ (1.12) K„ =•

\HB+\

Em soluções micelares, a constante de acidez aparente deste mesmo ácido é definida

pela expressão

jau/ri,

39

No entanto, em soluções de surfactantes com concentração superior à concentração

micelar crítica, as espécies B e H B + podem encontrarem-se ligadas às micelas, admitindo-se a

sua distribuição entre a fase aquosa e micelar, obtendo-se assim,

(151, +\B\f)\H+\f K a n . = » , / . . - . f (1-14) app (\HB\b + \HB\f)

em que os índices / e b se referem, respectivamente, às espécies livres e ligadas às

micelas. Quando

\B\b+\B\f=\HB+\h+\HB+\f (1.15)

O valor de pKapp é definido como o valor de pH intermicelar.

pKapp = pH = -loglH+l (1.16)

Nestas e nas expressões seguintes, H+ representa o protão, HB+ e B representam,

respectivamente a forma protonada e a forma neutra da benzodiazepina.

Berezin propôs um dos modelos mais simples para a dissociação de espécies

protonadas (HB+), considerando a distribuição das espécies entre as micelas e o meio

aquoso.45 Esta distribuição é descrita pelo seguinte conjunto de equilíbrio:

HBU >H+f+Bf K= f- f- (1.17)

f f f " \HB+\f

Bfi >Bh Kl = ' Blh d is) / b B \ B \ f C o (1-18)

B.+H.U >HBh+ K , JHB+1»CD (1.19)

b » b aj, \ B \ b \ H + \ b

UB)<—*HBl K;B.= ]HB+lb (1-20) HB \HB+\fCD

' / < >riBh

40

Utilizando as constantes de equilíbrio acima representadas e substituindo na equação

(1.15), é possível derivar a seguinte expressão para a constante de acidez,

K =\H+\f = KahK°CD\ (1.21)

onde CD é a concentração de surfactante acima da cmc (diferença entre a concentração

total de surfactante, Gr, e a concentração micelar crítica, cmc, isto é, CD= C T - cmc), KmHB+ e

Kme são respectivamente as constantes de ligação às micelas das espécies protonadas e das

espécies neutras e Ka é a constante de acidez da espécie protonada em meio aquoso.

O modelo PIE (Pseudophase Ion Exchange), considera a existência de duas fases, a

fase aquosa e a pseudofase micelar, e a troca iónica entre as espécies protonadas e o contra-

ião do surfactante.48

Considerando a pseudofase micelar iónica como uma fase distinta da fase aquosa, é

possível descrever a permuta iónica entre as duas fases por um equilíbrio do tipo:

Xf+Yh^-&-*Xh+Yf (1.22)

O coeficiente de selectividade correspondente, é dado pela seguinte expressão:

Kx/ =Mí- (1.23) x/y XfYb

O facto de as micelas não constituírem uma fase macroscópica contínua pode levar a

que se questione a aplicabilidade da equação (1.23) para meios micelares. No entanto,

verifica-se que o processo de troca iónica em soluções micelares pode efectivamente ser

tratado como se ocorresse entre as pseudofases aquosa e micelar48.

Neste modelo pressupõe-se que KX/Y, O grau de ionização da micela (a) e o valor da

cmc não são afectados pela variação da concentração total de surfactante.

A aplicação do modelo PIE assume ainda que a ligação de uma espécie às micelas

pode ser descrita por uma constante, Kma, cujo valor reflecte as propriedades das micelas no

meio, propriedades essas que são consideradas independentes da composição da solução.

41

Na aplicação do modelo PIE a um ácido fraco do tipo HB+ em solução micelar de um

surfactante aniónico, D~Y+, pode-se considerar que os seguintes equilíbrios, juntamente com

os mencionados para o modelo de Berezin, caracterizam a dissociação e a distribuição das

espécies neutras e protonadas entre as micelas e a solução aquosa,

HB+f+Yhi >HBb+Yf K

\HB+\h\Y\f HB7Y \HB+\f\Y\h

(1.24)

H+f+Yb< >H;+Yf

js-m H+\h\Y\f

"A \H+\f\Y\b

(1.25)

Utilizando as constantes de equilíbrio acima mencionadas e substituindo na equação

(1.15), obtém-se a expressão

(i+g;cD) Kapp~

lH \f=Ka

1 + *àv Yh

(1.26)

em que

Yh=(l-a)CD-{H+\h+\HB+\h) e Yf = CDa + cmc + (í H+ \b + I HB+ lè)t-1 BY l7

(1.27)

(1.28)

Na aplicação do modelo PIE a um ácido fraco do tipo HB+ em solução micelar de um

surfactante catiónico, D+Y", pode-se considerar que os seguintes equilíbrios, juntamente com

os mencionados para o modelo de Berezin, caracterizam a dissociação e a distribuição das

espécies neutras e protonadas entre as micelas e a solução aquosa,

Bf+Yh< >Bh+Yf

OHf+Yh< >OHb+Yf

Km ,=■

\B\b\Y\f

'Y \B\f\Y\h

K OH

_ I OH \b\ Y \f

/Y~\OH\f\Y\b

(1.29)

(1.30)

42

Utilizando as constantes de equilíbrio acima mencionadas e substituindo na equação (1.15), obtém-se a expressão

K =\H+\f=K app

I+K: ÍV / \

v \M a (^K;BXD) (1.31)

em que

Yh=(l-a)CD-(\OH\h+\B\b) e Yf =CDa + cmc + ($OH\h +\B\b)t\BY\

(1.32)

(1.33)

Efeito dos sistemas micelares nas constantes de ionização

Apesar de existirem vários estudos publicados sobre a influência de sistemas micelares

nas propriedades ácido/base de diversas substâncias, estes referem-se a ácidos neutros e não a

ácidos catiónicos como os analisados neste trabalho. Contudo, estes estudos permitem

comparar a variação das constantes de ionização dos ácidos neutros nos diferentes

surfactantes e prever o comportamento esperado para os ácidos catiónicos.

Para ácidos neutros verifica-se que o facto do surfactante utilizado como solvente ter

carga negativa, positiva ou não ter carga, provoca alterações diferentes nos valores das

constantes de acidez. Considerando ApKa= pKapp - pKa, e o equilíbrio HA <-> H+ + A", as

seguintes observações são feitas43:

- Os sistemas micelares aniónicos em alguns ácidos não provocam uma variação

significativa e noutros provoca uma diminuição da ionização (ApKa >0), devido à

repulsão electrostática entre a base conjugada (A") e as micelas, deslocando o

equilíbrio para a esquerda.

- Os sistemas micelares neutros diminuem a ionização devido ao facto de ser a

espécie ácida não dissociada a ligar-se à micela, logo ApKa é positivo.

Os sistemas micelares catiónicos provocam resultados opostos aos dos sistemas

aniónicos, apresentando um aumento da ionização, provavelmente devido à forte

43

atracção electrostática entre a carga negativa da base conjugada e o grupo

catiónico da micela, que desloca o equilíbrio para a direita. Portanto a ionização

aumenta quando KA>KHA-

Estas observações permitem extrapolar o comportamento dos ácidos catiónicos em

meio micelar:

- Em sistemas micelares aniónicos, devido à atracção electrostática entre o ácido e o

grupo aniónico das micelas, é de esperar que o equilíbrio (1.11) seja deslocado

para a esquerda, provocando uma diminuição da ionização, ou seja o aumenta dos

valores de pKapp.

- Nos sistemas micelares neutros, se considerarmos que é a espécie sem carga (B) a

responsável pela associação às micelas, tal como sucedia com os ácido neutros,

então o equilíbrio (1.11) será deslocado para a direita, aumentando a ionização

(ApKa<0).

- Os sistemas micelares catiónicos por norma provocam resultados opostos aos dos

sistemas micelares aniónicos, apresentando então neste caso um aumento da

ionização, provavelmente devido à repulsão entre o ácido catiónico e as micelas

catiónicas.

44

1.5 MÉTODOS ESPECTROFOTOMÉTRICOS PARA DETERMINAÇÃO DE CONSTANTES DE EQUILÍBRIO

Considerações gerais

A determinação de constantes de equilíbrio em solução é uma área da química que tem

sido largamente estudada dado o seu interesse não só sob um ponto de vista meramente

químico, isto é, do conhecimento da possível interacção de substâncias em solução e do seu

comportamento como ácidos, bases ou complexos moleculares, mas também pelo interesse

que estas constantes podem ter na resolução de problemas de outras áreas da Ciência como

por exemplo a biologia e a farmacologia.

A determinação experimental de constantes de equilíbrio só pode ser efectuada a partir

de uma determinada propriedade mensurável que possa ser relacionada com as concentrações

em solução de alguma ou de algumas espécies do sistema em estudo.

Os métodos experimentais utilizados para obter constantes de equilíbrio podem ser

divididos em dois grandes grupos:

i) métodos em que a propriedade medida é proporcional à concentração de uma

determinada espécie (todos os métodos espectroscópicos);

ii) métodos em que a propriedade medida é proporcional à actividade das

moléculas de uma determinada espécie (maioria dos métodos electroquímicos

e de distribuição).

De salientar, no entanto, que quando as determinações experimentais são efectuadas

mantendo a composição do meio constante (na prática, mantendo a força iónica constante

com o recurso à utilização de um electrólito inerte), esta divisão deixa de ter significado e as

constantes de equilíbrio passam a ser constantes estequiométricas, embora neste caso seja

necessário definir de forma explícita as condições experimentais utilizadas.

De seguida aborda-se a espectrofotometria de ultravioleta/visível, o método utilizado

neste trabalho, que é aliás, uma das técnicas mais utilizadas na determinação de constantes de

equilíbrio devido ao facto da instrumentação utilizada ser corrente na maioria dos laboratórios

e também por fornecer valores que geralmente são muito precisos, conjuntamente com

alguma informação estrutural sobre as espécies em solução.

45

Aquisição de dados

A determinação de constantes de equilíbrio a partir de resultados espectrofotométricos

é realizada com base na lei de Lambert-Beer (A= 8 bc), que mostra que, para uma dada

substância e a um dado comprimento de onda, a absorvância (A) é directamente proporcional

à concentração (c) da espécie absorvente, para a mesma espessura (b). Trata-se duma lei

fundamental para todos os tipos de absorção electromagnética, aplicando-se não só a soluções

mas também a gases e a sólidos49.

O termo e chama-se absortividade molar, quando a concentração se exprime em moles

por litro, ou somente absortividade, dando-se o símbolo a quando se usam outras unidades

para a concentração. Note-se que a absortividade é directamente proporcional à área de

captura associada a uma dada partícula, pelo que depende assim, do tipo de substância e da

energia do feixe incidente, ou seja, do seu comprimento de onda.

A lei de Beer é aditiva, isto é, pode aplicar-se a uma solução contendo mais do que

uma espécie absorvente, desde que não haja interacção entre elas. Assim, para um sistema de

vários componentes temos

A = At + A2 +...+ An = EibCi + e2bC2 +...+ enbCn (1.34)

onde os índices se referem às espécies absorventes 1,2, ...,n.

A qualidade dos dados espectrofotométricos obtidos está directamente relacionada

com o cuidado com que se fazem as determinações experimentais. É importante ter presente

as características fundamentais do espectrofotómetro utilizado e garantir que as medições de

absorvância sejam efectuadas na zona de máxima precisão do instrumento9. Um parâmetro a

ter em consideração é a temperatura, devendo usar-se células termostatizadas na determinação

de constantes de equilíbrio, pois estas variam com a temperatura (ÀG = -RTlnK).

A base para a obtenção de constantes de acidez por espectrofotometria de

ultravioleta/visível é a determinação directa da razão entre moléculas não dissociadas e

moléculas dissociadas numa série de soluções com solvente não absorvente a pH ajustado50.

Na prática mede-se a absorvância de uma série de soluções a vários comprimentos de

onda, contra uma solução de referência (branco). Deve ser então obtido o espectro das

espécies não dissociadas, numa solução a pH fixo, de modo que toda a substância a analisar se

encontre nessa forma. O espectro é depois comparado com outro obtido só com moléculas

46

dissociadas, a um outro valor fixo de pH . Deve ser escolhido o comprimento de onda ou a

zona de comprimentos de onda para qual a diferença existente entre as absortividades molares

nestas espécies seja maior. Quando não há uma variação significativa, deve usar-se vários

comprimentos de onda interpolados em intervalos iguais51.

Utilizando várias soluções com valores de pH intermédios, pode-se calcular a razão

entre as duas espécies, uma vez que ela depende unicamente do pH da solução que é medida

espectrofotometricamente. Se for assumido que ambas as espécies se encontram dentro dos

requisitos da lei de Lambert-Beer, a absorvância (A) no comprimento de onda analítico será

devida à soma das absorvâncias das espécies moleculares (AM) e das espécies ionizadas (Ai),

istoe

Aobs. = AM + Ai (1.35)

Embora possa ser apenas necessário usar determinadas zonas espectrais para a

obtenção de constantes de equilíbrio de um determinado sistema em estudo, a obtenção do seu

espectro total pode muitas vezes permitir obter informação sobre o número de componentes

desse mesmo sistema .

Como observado na equação 1.34 a absorvância de cada componente está relacionada

com a sua concentração molar. A concentração das espécies ionizadas na mistura é FiC e das

espécies moleculares é FMC. Assim, a equação 1.35 toma a forma

Aobs = £MFMCb + e^Cb (1.36)

Em que 8M e £i são as absortividades molares das espécies ionizadas e moleculares,

respectivamente, Fi é a fracção ionizada e FMé a fracção da forma molecular.

As fracções ionizada e molecular da espécie absorvente, são dadas pelas expressões

matemáticas seguintes no caso de se tratarem de ácidos

47

Como as células utilizadas nas determinações experimentais têm o mesmo percurso

óptico e 8 = A/C, a equação 1.36 toma a forma

Ka \H+\ £ = £, -—— + elA — (1.39)

'' I H+ I +K„ M\H+\ +K..

Desde que a concentração total seja igual em todas as determinações, é possível

substituir o valor das absortividades molares pelo das absorvâncias. A equação pode ser

rearranjada em duas formas de modo a poder ser aplicada em diferentes situações:

Se Ai é maior que AM

PK. = pH+log±Z± (1-40) A-A, LM

Se AM é maior que Ai

PKa = pH+ log- •- (1.41) AM-A

Após a definição do modelo que poderá descrever o sistema em estudo, os resultados

experimentais serão tratados de modo a permitirem a obtenção de constantes de equilíbrio.

Para o método espectrofotometria de UV/VIS os métodos matemáticos simplificados são

frequentemente usados, no entanto, dada a existência de alguns programas de regressão não

linear para o cálculo de constantes de equilíbrio por espectrofotometria de UV/VIS, estes

resultados experimentais são por vezes apenas utilizados para a obtenção de estimativas das

constantes de equilíbrio e informação sobre o número de componentes do sistema9.

A obtenção de valores de constantes de equilíbrio utilizando resultados

espectrofotométricos depende do conhecimento das absortividades molares das espécies do

sistema em estudo e se não for possível a sua determinação experimental, serão mais um

parâmetro a determinar conjuntamente com as constantes de equilíbrio, o que pode fornecer

valores menos fiáveis para ambos os parâmetros, dada a intercorrelação entre eles51,52. No

entanto, a possibilidade de os obter permite considerar a espectrofotometria como um método

que fornece mais informação sobre a plausibilidade do modelo proposto para o sistema em

estudo.53'54

CAPITULO 2

METODOLOGIA

Neste capítulo descrevem-se as condições experimentais utilizadas neste trabalho, que

consistiu em grande parte na determinação de constantes de acidez. Por esta razão e pelo facto

de uma análise de resultados publicados sobre constantes de equilíbrio realizada pela IUPAC

mostrar que em muitos casos a falta de especificação das condições experimentais utilizadas

na obtenção das constantes não permite tirar conclusões sobre a sua fiabilidade nem tão pouco

reproduzi-las, houve uma especial atenção na descrição das condições experimentais tendo-se

revelado todas as informações específicas exigidas pela IUPAC55 para a publicação de

constantes de equilíbrio (ver apêndice B).

Assim sendo, encontra-se descrito neste capítulo a instrumentação utilizada, os

reagentes, a composição das soluções (indicando claramente a força iónica), a indicação da

temperatura a que as determinações foram realizadas, o método de calibração e ainda os

métodos de cálculo utilizados.

2.1 REAGENTES

49

Todos os reagentes utilizados eram de qualidade pro analysi ou semelhante e não

foram submetidos a qualquer purificação adicional. As soluções foram todas preparadas com

água desionizada (condutividade inferior a 0,1 mScm"1).

As benzodiazepinas estudadas foram o clorodiazepóxido (CLDZ) e o diazepam (DZP).

O CLDZ foi gentilmente cedido pelos laboratórios da indústria farmacêutica Hoffman La

Roche (Basle, Switzerland) e o DZP pelos laboratórios Bial.

Os surfactantes utilizados foram o dodecilsulfato de sódio (SDS), o polietilenoglicol p-

t-octil-fenol (Triton X-100), ambos da marca Sigma e o brometo de hexadeciltrimetilamónio

(CTAB) da marca Aldrich.

O pirogalhol era da marca Merck; o cloreto de sódio da marca Merck; o hidróxido de

sódio da marca Riedel-de Haën e as soluções padrão de ácido clorídrico da marca Merck

(Titrisol, ref. 9973).

50

2.2 SOLUÇÕES

As soluções utilizadas nos ensaios, todas com força iónica ajustada a 0,1 M em NaCl,

foram obtidas por diluição rigorosa de soluções mais concentradas de CLDZ, SDS, Triton X-

100, CTAB e NaCl em água, preparadas por pesagem numa balança analítica (10"5g) da marca

Metier, modelo AT201.

As soluções de clorodiazepóxido e de diazepam foram sempre que possível, mantidas

ao abrigo da luz para minimizar a sua decomposição.

As soluções de cada um dos surfactantes em água (0,05M-0,10M) permaneceram

estáveis durante várias semanas.

Devido à formação de cristais nas soluções de CTAB a temperaturas inferiores a 20°C,

foi necessário submetê-las a um aquecimento até à temperatura de 25°C para posterior

utilização.

As soluções de hidróxido de sódio usadas nas titulações foram sempre preparadas de

modo a serem isentas de carbonato para manter a concentração de iões hidróxido. Para esse

efeito foram sempre preparadas a partir de uma solução saturada de hidróxido de sódio (50 %

m/m), usando água desionizada previamente fervida e arrefecida em atmosfera de árgon. A

solução saturada de hidróxido de sódio foi filtrada antes de adicionada à solução, removendo

assim o precipitado de carbonato de sódio. Para evitar o contacto da solução com o dióxido de

carbono (e a consequente formação de carbonato) fez-se passar continuamente pela solução

uma corrente de árgon. A força iónica foi mantida com NaCl a 0,1 M.

O árgon usado, de qualidade P48, foi conduzido em canalização de aço inoxidável,

directamente da garrafa e purificado antes de ser introduzido na solução de hidróxido de

sódio. A purificação prévia do árgon foi feita pela sua passagem por dois frascos lavadores, o

primeiro contendo uma solução alcalina de pirogalhol (350 g/dm3 de hidróxido de sódio e 30 ■a

g/dm de pirogalhol) para remover o dióxido da carbono, e o segundo contendo água para

humidificar o árgon e evitar o arrastamento do pirogalhol.

51

2.3 INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADA

Medições de pH

Todas as medições foram efectuadas sob atmosfera inerte de árgon num vaso de vidro

termostatizado de parede dupla, tendo a temperatura sido mantida constante a 25 ± 0,1 °C por

recirculação de água com um circulador Clifton. A homogeneização das soluções foi realizada

com um agitador magnético da marca Crison, modelo 2038.

Utilizou-se um eléctrodo de vidro sensível ao catião hidrogénio da marca Russel

modelo SWL ref 49935/24 e um eléctrodo de referência de prata /cloreto de prata de dupla

junção da marca Russel modelo 900200, ref. 51898/5 (solução interna: solução Orion saturada

com Ag; solução externa: NaCl 0,1 M)

Os parâmetros de calibração do eléctrodo de vidro foram obtidos por titulação de

soluções ácido forte com base forte, utilizando um sistema de titulação automático cuja

descrição pormenorizada encontra-se na secção seguinte devido à sua importância para os

valores determinados das constantes de acidez.

O ajuste de -log CH+ das várias soluções foi efectuado por adição de quantidades

vestigiais de ácido forte ou base forte às soluções amostra de modo a que a quantidade de

volume adicionado fosse desprezável. As medições de -log CH+ e a calibração do sistema

foram sempre realizadas como se descreve na secção seguinte.

Medições espectrais

Todas as determinações espectrofotométricas de ultravioleta-visível foram efectuadas

a 25 ± 0,1°C utilizando um espectrofotómetro de duplo feixe da marca Unicam, modelo

UV2-100452, equipado com um acessório de controlo de temperatura por circulação de água

termostatizada. A largura da fenda utilizada foi de 2 nm e usaram-se cubas de quartzo com

um percurso óptico de 1 cm .

52

2.4 SISTEMA AUTOMÁTICO DE TITULAÇÃO

Titulação ácido forte/base forte

Para a calibração do eléctrodo de vidro, o método mais vulgar é o uso de soluções

tampão com valores de pH fixados em função da actividade das espécies. Todavia, a eficácia

deste método não é satisfatória para a determinação de constantes de equilíbrio, na medida em

que mesmo que se assuma uma expressão matemática que permita relacionar o pH definido e

a actividade do catião hidrogénio num tampão, será sempre difícil relacioná-los correctamente

com a concentração de catião hidrogénio de uma solução amostra, como a que é utilizada na

determinação de constantes de acidez. A utilização de soluções tampão de concentração com

força iónica ajustada, pode ser uma alternativa mas tem o inconveniente de necessitar de

valores de coeficientes de actividade do catião hidrogénio, o que obrigaria à sua determinação

em cada caso específico.

Assim, neste trabalho optou-se por utilizar uma titulação ácido forte/base forte que

permite a obtenção dos parâmetros de calibração do eléctrodo de vidro na mesma matriz que

as soluções em estudo, evitando os erros provenientes da diferença da composição iónica das

soluções.

Constituição do sistema

O sistema automático de titulação utilizado foi constituído por uma bureta automática

de pistão da marca Crison 2031 e por um decimilivoltímetro Crison 2002, ambos controlados

por um micro-computador ao qual estão ligados através de interfaces RS-232. A seringa de

vidro aplicada à bureta foi da marca Hamilton (êmbolo de 2,5 ml). Todas as medições

realizadas no sistema foram efectuadas sob atmosfera inerte e a temperatura constante como

descrito anteriormente.

O programa de controlo e aquisição de dados deste sistema (elaborado no Laboratório

de Química-Física da Faculdade de Farmácia do Porto) permite o domínio de 14 variáveis

tornando assim possível a utilização do sistema não só em tarefas de rotina mas também na

obtenção de constantes de equilíbrio, podendo o sistema ser utilizado em qualquer titulação

potenciométrica, desde que se utilizem titillantes e eléctrodos adequados.

53

Figura 2.1- Esquema do sistema automático de titulação

Programa de controlo e aquisição de dados

O programa de controlo e aquisição de dados permite a escolha de dois tipos de

titulação (dinâmica ou monotónica) e de outros parâmetros como se ilustra na figura 2.2.

Numa titulação dinâmica a adição de volumes é controlada automaticamente (após a

adição inicial ter sido fixada), sendo essa adição inversamente proporcional ao declive da

curva de titulação. Numa titulação monotónica a primeira adição também é fixada, no entanto

as restantes são sempre constantes (iguais à primeira).

Em todas as titulações é introduzido um tempo de espera constante após a adição de

titulante e antes da leitura do potencial. Cada leitura do potencial só é aceite se a diferença

entre as várias leituras de um dado ponto experimental for inferior ao critério de estabilidade

do eléctrodo (outro parâmetro previamente fixo) e só depois de uma medição ter sido aceite é

que é adicionado uma nova quantidade de titulante.

A medida que ocorre o ensaio experimental, visualiza-se no monitor os parâmetros

previamente fixados e a curva de titulação, o que permite a detecção imediata de qualquer

anomalia (como por exemplo, a presença de carbonato).

O fim da titulação pode ser controlado quer fixando o volume máximo de titulante

quer fixando um determinado valor máximo ou mínimo de potencial admitido.

Quando a titulação termina, os resultados obtidos são automaticamente armazenados e

o tratamento dos resultados experimentais é efectuado com um programa de regressão linear,

escrito em linguagem BASIC, que permite a obtenção dos parâmetros de calibração do

54

sistema pelo método de Gran e pela equação de Nernst. O volume equivalente é determinado

pelo método de Gran e pelo método da segunda derivada.

A qualidade das leituras da diferença de potencial é condicionada pelo tempo de

espera entre uma adição de volume e a leitura da diferença de potencial, e ainda pelo número

de leituras feitas com um critério de estabilidade fixado previamente (foi admitida uma

diferença de 0,1 mV entre as duas leituras). Estes parâmetros minimizam os problemas

relacionados com a estabilidade do eléctrodo e com a homogeneização do meio e permitem

também ajustar as condições ao tipo de eléctrodos utilizados e soluções em estudo.

Neste trabalho tornou-se necessário ajustar os referidos parâmetros, uma vez que se

verificou que eram diferentes em meio micelar relativamente ao meio aquoso. Para permitir a

estabilização do eléctrodo de vidro, nas soluções aquosas a espera após adição foi de 5

segundos e nas soluções de surfactante foi de 15 segundos.

Para o ajuste de pH das várias soluções em estudo utilizaram-se sempre os parâmetros

de calibração do eléctrodo obtidos pelo ramo ácido do método de Gran.

Lista de opções de entrada

1-Volume de amostra (cm3)

2-Conc. de titulante (M)

3-Volume da bureta (cm3)

4-Comutador (S/N)

5-Número de ESI

6-Adições fixas ou variáveis (F/V)

7-Incremento de adições

8-Volume total de titulante

9-Potencial final

10-Número de leituras

11-Critério de estabilidade (mV)

12-Espera após adição (s)

13-Adição inicial (cm )

14-Filtro (%)

Figura 2.2- Lista de opções de entrada do programa de controlo e aquisição de dados

55

2.5 CALIBRAÇÃO DO SISTEMA

Condições experimentais

A calibração do sistema foi sempre efectuada em função da concentração de catião

hidrogénio, por titulação de soluções de ácido forte (IHC1I= 0,001 M ) com base forte (0,01 M

< INaOHI < 0,03 M), tendo sido sempre realizadas duas titulações, uma em água para detectar

possíveis impurezas como a de carbonato e a outra em solução aquosa de surfactante com a

concentração em estudo e a uma força iónica de 0,1M em NaCl, para obter os parâmetros de

calibração do eléctrodo de vidro.

Todas as titulações foram realizadas à temperatura de 25 ± 0,1°C e em atmosfera

inerte de árgon, numa célula do tipo

Ag | AgCl, KCl(sat.) || NaCl (0,1 M ) || NaCl (0,1 M), H+ | Eléctrodo de vidro

Para a qual o potencial é dado pela expressão

E = K, + K2log cH+ + K2log YH+

Em que Ki inclui o potencial normal e o potencial da junção líquida e K2 = 2,303RT/F. R é a

constante dos gases reais, T a temperatura e F a constante de Faraday. Uma vez que a força

iónica é mantida constante, K2log yH+ também é constante pelo que

E = Ki + K2log cH+

Os parâmetros de calibração do eléctrodo de vidro (Kj e K2) foram obtidos pelo

método de Gran e pela linearização da equação de Nernst.

56

Para a obtenção de resultados mais precisos teve-se em consideração alguns aspectos:

A capacidade de um eléctrodo de vidro sensível ao catião hidrogénio detectar

variações de concentração deste ião depende da hidratação da membrana de vidro,

que permite a ocorrência do processo de troca iónica.

Para soluções não aquosas, o equilíbrio de troca iónica entre os iões em solução e

os iões da membrana de vidro pode estabelecer-se lentamente provocando uma

resposta lenta do eléctrodo.

Assim, todas as medições efectuadas em meio micelar foram intercaladas com

lavagens do eléctrodo com água desionizada, para evitar "secar" o eléctrodo por

desidratação e permitir a continuação da detecção por parte deste da variação da

concentração de catião hidrogénio58.

O eléctrodo de vidro sensível ao catião hidrogénio tem a particularidade de não

poder ser utilizado para valores de pH muito ácidos ou muito alcalinos devido ao

aparecimento de interferências, como por exemplo a surgida numa solução de

NaOH a pH 13 em que a concentração de catião hidrogénio é tão pequena que o

eléctrodo também responde ao catião sódio apesar do coeficiente de selectividade 49

para este ser pequeno .

Para evitar um valor elevado de potencial de junção, cujo aparecimento é normal

quando soluções aquosas de referência são colocadas em meios não aquosos, o que

iria originar leituras instáveis e obrigaria a um maior tempo de estabilização,

utilizou-se uma dupla junção contendo NaCl 0,1M, ou seja uma matriz idêntica à

da amostra para minimizar a difusão da solução59.

Todas as soluções utilizadas tinham uma força iónica ajustada a 0,1 M em NaCl,

uma vez que a Interunion Commission on Biothermodynamics sugere que as

determinações de constantes de equilíbrio sejam efectuadas a uma força iónica

constante, porque a maior parte das reacções de equilíbrio com interesse prático,

seja na área de saúde ou noutra, ocorrem sempre na presença de uma determinada

quantidade de electrólito(s) inerte(s).

57

Método de Gran

O método de Gran é muito utilizado na determinação do ponto de equivalência nos

vários tipos de titulações potenciométricas, especialmente no caso de ácidos e bases.

Este método lineariza a curva de titulação e consiste na representação gráfica de duas

funções (2.1) e (2.2), que dependem do potencial medido, em função do volume de titulante

adicionado.

Da representação gráfica resultam duas semi-rectas que se intersectam no eixo das

abcissas no ponto V = Ve, em que Ve significa o volume de titulante no ponto de

equivalência.

Numa titulação ácido forte/base forte, para qualquer valor de volume adicionado antes

do ponto de equivalência, isto é, para a zona ácida, se o potencial for medido directamente

pode ser definida a função,

Fac = (Vo + V) ioEF/2 '303RT = Cb (Ve - V) ioKF/2<303RT (2.1)

em que,

Vo- representa o volume inicial de solução

V- representa o volume adicionado em cada ponto de titulação

Ve- representa o volume equivalente

E- representa a f.e.m em cada ponto

F- representa a constante de Faraday

R- representa a constante do gases perfeitos

T- representa a temperatura

K- representa o potencial normal

A representação gráfica de Fac = f(V) permite determinar o declive da recta B= Cb

10 ' e a ordenada na origem A = -Ve 10 . O volume equivalente pode ser

calculado através da expressão Ve = -A/B e a concentração da base por Cb = Ca Vo/Ve,

independentemente do valor do declive de Nernst e do potencial normal K, sendo Ca a

concentração de ácido forte (titulado).

Depois do ponto de equivalência, na zona alcalina ou básica, a função definida é a seguinte,

58

Fba = (Vo + V) ioEF/2'303RT = (Cb/Kag) (V - Ve) l o ^ 2 ' 3 0 3 ^ (2.2)

em que Ve = -A/B, sendo A a ordenada de origem e B o declive na zona alcalina.

Como B = Cb/Kag io("K1/QF), então pode-se calcular o valor operacional do produto

iónico da água (Kag = Cb 10(K1/QF)/B) assumindo que o valor de Kl na zona alcalina é igual

ao da zona ácida.

Este método tem muitas vantagens. É mais preciso que o método da segunda derivada,

especialmente quando a curva de titulação não é simétrica. As medições efectuadas são mais

rápidas e simples uma vez que não requer volumes de titulante (V) perto do ponto de

equivalência, não existindo tão pouco a necessidade de alcançar esse ponto de forma a ser

obtida uma boa estimativa para o valor de volume equivalente. Assim, pode-se minimizar o

tempo de execução experimental, por utilização de titulações monotónicas em detrimento das

dinâmicas muito morosas. Permite avaliar o comportamento do eléctrodo de vidro utilizado

através dos parâmetros de calibração e da diferença de volumes equivalentes calculados para a

zona ácida e para zona alcalina, controlando-se deste modo a sua «degradação» ao longo do

tempo. Tem ainda a vantagem de permitir detectar a presença de várias impurezas como a de

carbonato nas soluções alcalinas.8'62

Detecção de C032'

A verificação da ausência de carbonato nas soluções de hidróxido de sódio usadas foi

sempre efectuada pela utilização conjunta do método de Gran, método tradicionalmente

usado, e pela representação gráfica da primeira derivada obtida com o programa de controlo

do sistema de titulação.

O recurso aos dois métodos deve-se ao facto de se verificar que o controlo da

percentagem de carbonato nas soluções a analisar usando apenas o método de Gran não

permite verificar a ausência ou presença de carbonato, uma vez que as diferenças de volume

equivalente obtidas pelo método de Gran para a zona ácida e para a zona alcalina podem não

ser provocadas pela presença de carbonato mas sim devidas aos eléctrodos usados.

Gameiro et ai. ~ verificaram que o método da primeira derivada e o método de Gran

conduziam aos mesmos resultados quando a concentração de ácido forte estava compreendida

entre 5,0 x IO"3 M e 1,0 x IO"2 M em HC1; no entanto, quando a concentração de ácido

59

clorídrico era 1,0 x 10" M, como a utilizada neste trabalho, os dois métodos nem sempre

eram concordantes. Observaram ainda que mesmo para soluções de hidróxido preparadas

recentemente, e para as quais o método da primeira derivada mostrava a inexistência de

carbonato, os volumes equivalentes obtidos pelo ramo básico do método de Gran variavam

com o eléctrodo usado.

Assim, quando se pretende detectar a presença de carbonato numa solução alcalina

deve-se recorrer aos dois métodos, uma vez que permite de uma forma mais conclusiva

detectar ou não a sua presença, desde que os ensaios sejam realizados em condições

experimentais adequadas. Para esse efeito é necessário obter experimentalmente muitos

valores de potencial junto ao ponto de equivalência, o que é facilmente alcançado se for

realizada uma titulação com adição de volumes de titulante variáveis. Testar a presença de

carbonato numa solução alcalina a partir de uma titulação com incrementos constantes de

volume de titulante pode não permitir detectar a existência dos dois pontos de inflexão,

característico das soluções carbonatadas, como se irá verificar mais adiante.

O recurso à Ia derivada e não à curva de titulação deve-se ao facto de nesta a

identificação directa do ponto final ser susceptível de grande erro, já que, na zona do ponto de

equivalência a curva é quase rectilínea, e o volume identificado pode, por isso, afastar-se

muito do volume equivalente.

Na Ia derivada da curva de titulação, o ponto de equivalência é o mínimo da curva

(devido ao potencial decrescer com o volume de titulante). A curva apresenta praticamente

uma assimptota vertical passando pelo ponto de equivalência (fig. 2.3.b).

Por seu lado, a 2a derivada da curva de titulação passa no ponto de equivalência de um

valor negativo muito baixo a um valor positivo muito elevado (fig. 2.3.c).

A presença de carbonato traduz-se por dois pontos de inflexão (máximos ou mínimos)

quando se usa o método da Ia e 2a derivadas no cálculo de volume equivalente.

Na figura 2.3 encontra-se representada a curva de titulação (A) e as respectivas Ia

derivada (B) e 2a derivada (C) para uma titulação de 20 ml de HC1 1,0 x IO"3 M com NaOH

isento de carbonato.

Na figura 2.4 são apresentadas, respectivamente as representações gráficas da função

E=f(V) (A), de dE/dV= f(V) (B) e de d2E/dV2=f(V) (C) de uma titulação de 20 ml de HC1

1,0 x 10"3 M com NaOH contendo carbonato.

60

> G W -100

5000-

0 -

-5000•

-10000-

> -15000-

3 "O

IH -20000-

-25000 -

-30000 -

-35000

10000000-

8000000 -

6000000 -

4000000 -

-g 2000000•

0-

-2000000■

-4000000■

-6000000■

-8000000

> •c u

es ri

0.5 1.0 1.5 2.0

Volume de NaOH (ml)

Volume de NaOH (ml)

3.0

B

Volume de NaOH (ml)

Figura 2.3- Representação gráfica de A) E=f(V), B) dE/dV=f(V) e C) d2E/dV2=f(V) de uma titulação de 20 ml de HC11,0 x 10"3M com NaOH isento de carbonato

61

-a

-o

-2000 -

-4000 -

-6000

-8000

-10000

-12000

Volume de NaOH (ml)

7500000 Volume de NaOH (ml)

2000000 - c 1500000-

1000000-d "S 500000 -> u T3 0- \ v

"S 500000 -> u T3 0-

V

-500000 -

-1000000-

-1500000-1 1 1 '

Volume de NaOH (ml)

Figura 2.4- Representação gráfica de A) E=f(V), B) dE/dV=f(V) e C) d2E/dV2=f(V) de uma titulação de 20 ml de HC11,0 x 10"3M com NaOH contendo carbonato

2.6 MÉTODOS DE CÁLCULO UTILIZADOS

62

Nesta secção será feita uma descrição do programa computacional utilizado para a

obtenção das constantes de acidez e o método de cálculo dos erros associados aos valores das

constantes de acidez.

Programa SQUAD

Os resultados obtidos para a determinação de constantes de acidez por

espectrofotometria de ultravioleta/visível foram tratados com o programa SQUAD.64

Este programa, cujas iniciais significam Stability Quotients from Absorvance Data,

está escrito em linguagem FORTRAN IV e foi concebido para procurar simultaneamente ou

individualmente, a partir dos resultados experimentais, o melhor conjunto de constantes de

estabilidade para qualquer espécie formada em solução, desde que a sua formação seja

dependente do pH, podendo ao mesmo tempo calcular as absortividades molares e as

concentrações das espécies em solução.

O SQUAD, pode a partir de resultados experimentais apropriados, calcular constantes

de estabilidade para complexos de fórmula geral MmMeHjLJLq, onde m, e, n, q > 0 e j é

positivo (para protões), negativo (para iões hidróxido) ou nulo. É, portanto, capaz de calcular

constantes de acidez, constantes de hidrólise, constantes de estabilidade de complexos simples

( ML, ML2 ,etc.) e de complexos polinucleares (M2L3, M2L2H, M3L4(OH)2,etc...).

O programa consegue lidar com: a) 50 comprimentos de onda; b) 25 espectros; c) 6

constantes de estabilidade desconhecidas, variadas simultaneamente; d) Um total de 20

constantes de estabilidade; e ) O cálculo de absortividades molares por comprimento de onda

para 10 espécies; f) Um máximo de 2 metais; g) Um máximo de 2 ligandos.

Para o cálculo das constantes de equilíbrio das espécies em solução e das respectivas

absortividades molares é utilizado o método não linear de mínimos quadrados de Gauss-

Newton que minimiza a função U,

NS NW 2

63

em que, NS é o número de soluções em que é medida a absorvância Ai>k, NW é o

número de comprimentos de onda seleccionados e Ai,kcalc é a absorvância teórica obtida

a partir da lei de Beer.

Para dar início ao programa é necessário introduzir os seguintes dados: os

valores de absorvâncias, Ai>k, para cada espectro; as concentrações totais das espécies

reagentes, CM)i, CL,i, CHi e o percurso óptico para cada espectro; as absortividades

molares, £y, conhecidas ou previamente determinadas; os coeficientes estequiométricos

e as constantes de equilíbrio, fy para as j espécies, com a indicação das constantes que

são para refinar.

Na figura 2.5 apresenta-se um esquema geral do ficheiro de entrada deste

programa, que é constituído por diferentes blocos (alguns opcionais) que se iniciam

sempre com uma Keyword e finalizam na maior parte das vezes com End.

Seguidamente irão ser descritos os parâmetros que foram utilizados para a obtenção

das constantes de acidez uma benzodiazepina em meio micelar:

• Secção 1: Dictionary é utilizado para nomear de forma apropriado as

espécies MTL1 (o primeiro metal do complexo), MTL2 (o segundo metal

do complexo), LIG1 (o primeiro ligando do complexo), LIG2 (o segundo

ligando do complexo), PROT (o protão como ligando) e HYDR (o ião

hidróxido como ligando).

• Secção 2: Introduzem-se os coeficientes estequiométricos de cada

complexo; as estimativas iniciais dos valores das constantes; a indicação

que permite saber se as constantes são para refinar (=VB) ou se mantêm

constantes (=FB), e se as absortividades molares são para ser calculadas

(=VE) ou se são introduzidas como dado experimental (=FE).

• Secção 3: Esta secção é opcional e permite que o programa calcule a

absortividade molar de qualquer espécie não complexada. Se for esta a

opção introduz-se o nome da espécie e VE.

• Secção 4: Esta secção contém um total de 10 itens, incluindo DATA, que

permitem indicar, entre outras coisas, os comprimentos de onda inicial, final

e os seus incrementos ; o número de iterações e o refinamento de logS ou de

B.

64

• Secção 7: Nesta secção indicam-se as concentrações totais das espécies em

solução, o pH, o percurso óptico e os valores de absorvâncias a todos

comprimentos de onda.

• Secção 8: Assinala o fim dos espectros que vão ser utilizados para cálculo

da constante. Os resultados experimentais colocados depois de -1.0 não

serão levados em conta no cálculo.

Título

Subtítulo

DICTIONARY:

Secção 1

END:

SPECIES:

Secção 2

END:

OTHER:

Secção 3

END:

DATA:

Secção 4

MOL. ABS.:

Secção 5

END:

BASELINE:

Secção 6

SPECTRA:

Secção 7

-1.0 Secção 8

Figura2.5- Esquema geral do ficheiro de entrada do SQUAD

Como exemplo, apresentam-se na figura 2.6 as primeiras quatro secções do

ficheiro de entrada utilizado neste trabalho para a obtenção da constante de acidez de

uma benzodiazepina (CLDZ).em meio micelar (Triton X-100).

65

Título

Subtítulo

DICTIONARY:

LIGl=cldz; PROT = H:

END:

SPECIES:

Cldz(l)H(l);4.19; VB; VE:

END:

OTHER:

Cldz; VE:

END:

DATA:

300.0 500.0 5.00

LOGB

PRIN

NOCD

MR

NOPL

PAGE

20

1.0

Figura 2.6- Exemplo de um ficheiro de entrada utilizado neste trabalho

Na figura 2.7 encontra-se representado um diagrama simplificado do SQUAD que

mostra as várias etapas do programa, indicando a sua interrelação, seguindo-se uma descrição

breve do modus operandi do SQUAD, não com o objectivo de apresentar a teoria matemática

por detrás de cada subrotina mas sim indicar a sua utilidade para o programa. Uma descrição

mais pormenorizada é fornecida por Leggett et ai.65

66

H Cá < H C/3

PREPRO

Verifica a coerência dos dados

INOUT

Lê os dados e dá início ao refinamento

REFINE

Controla o refinamento de U, pelo mét. de Gauss-Newton

Passo

1

DIFF

Resolve equações do sistema

Passo RESID

Verifica o novo conjunto de B's

ECOEF

etc.

Passo 2

SEARCH

Calcula a variação de P

RESID

Calcula U, C, etc

COGSNR

Resolve o balanço material

ccscc Dá início a cogsnr

SOLVE

Resolve A=ec por RM

NNLS

Resolve A=8 C por MNNMQ

COGSNR

Resolve o balanço material

ccscc Dá início a cogsnr

ECOEF

Resolve A=£C

SOLVE

Resolve A=ec por RM

NNLS

Resolve A=8 C por MNNMQ

COGSNR

Resolve o balanço material

ccscc Dá início a cogsnr

ECOEF

Resolve A=£C

SOLVE

Resolve A=ec por RM

NNLS

Resolve A=8 C por MNNMQ

RM- Regressão múltipla MNNMQ- Método não negativo de mínimos quadrados

Figura 2.7- Diagrama simplificado do SQUAD.

67

A subrotina PREPRO verifica a coerência dos dados introduzidos, e caso existam

erros, surgem mensagens que os identificam.

A subrotina INOUT lê os dados, dá início ao refinamento e controla a saída dos

resultados.

A subrotina REFINE controla a minimização da função U em três passos: DIFF,

SEARCH e RESED.

A subrotina DIFF constrói as equações não lineares com base na resolução de U

efectuada em REFINE e consiste na resolução das equações dos balanços materiais com base

nos valores introduzidos para CM,Í> CL,Í, CH,Í, e bj, fornecendo a concentração das espécies

(efectuada pelas subrotinas CCSCC e COGSNR),seguida pela resolução do conjunto de

equações lineares Ay = [espéciesJijQj bj derivadas da Lei de Beer (efectuada pela subrotina

SOLVE, caso a opção seja o método de regressão múltipla ou pela subrotina NNLS caso a

opção seja o método não negativo de mínimos quadrados).

A subrotina SEARCH resolve as equações de mínimos quadrados e fornece o conjunto

de valores de que as constantes de equilíbrio a determinar devem ser variadas, A(3, de modo

que U seja minimizado.

A subrotina RESID verifica o novo conjunto de constantes de equilíbrio, efectuando a

mesma sequência de passos a partir de ECOEF.

Quando A(3 < 0,01 o processo de minimização é finalizado. A qualidade dos resultados

obtidos pode ser avaliada pelos erros que o programa calcula, CDATA, ^CONST e ASPECT, que são,

respectivamente, o desvio padrão dos dados de absorvância, que mede a qualidade do ajuste

do modelo proposto aos dados experimentais, o desvio padrão associado a cada constante

refinada e o desvio padrão associado a cada espectro.

Erros Os valores médios e os erros associados às constantes de acidez foram determinados

utilizando o método de Adrien Albert e E.P.Serjeant50: o valor médio é calculado encontrando

o antilogaritmo de cada pKapp e aplicando o logaritmo à média destes; para o valor do erro

associado à constante é considerada a diferença máxima entre o pKapp médio e um valor de

pKapp determinado experimentalmente.

CAPITULO 3

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo apresentam-se os resultados obtidos no estudo do comportamento da

benzodiazepina clorodiazepóxido em soluções micelares de SDS, Triton X-100 e CTAB.

A sequência seguida na apresentação dos resultados coincide com a seguida

experimentalmente, isto é, inicia-se pela apresentação dos espectros da benzodiazepina em

solução aquosa e em soluções micelares dos três surfactantes, utilizando concentrações abaixo

e acima da cmc (3.1), segue-se a apresentação dos resultados obtidos no estudo das

propriedades ácido/base em soluções micelares acima da cmc, nomeadamente na

determinação dos valores de pKapp (3.2) e o respectivo tratamento matemático (3.3). Termina-

se com a apresentação do estudo efectuado da solubilidade do CLDZ nos diferentes meios

mencionados (3.4).

69

3.1 ESPECTROS DO CLDZ EM SOLUÇÕES AQUOSAS DE SURFACTANTES NAS FORMAS MONOMÉRICA E MICELAR

A alteração do espectro ultravioleta/visível ocorrida ao passar de um meio aquoso para

um meio micelar está relacionada com a mudança do microambiente da espécie absorvente.

Nessa medida, a espectrofotometria de ultravioleta/visível é uma técnica que pode ser

utilizada para detectar possíveis interacções do clorodiazepóxido em meio micelar, tendo sido

com esse objectivo que se iniciou o trabalho experimental desta dissertação por esta etapa.

Execução experimental

Foram traçados os espectros das soluções de CLDZ (« 5,0 x IO"5 M) em solução

aquosa e em soluções dos surfactantes SDS, Triton X-100 e CTAB. Todas as soluções tinham

força iónica ajustada a 0,1 M em NaCl e pH fixo (pH=3 ou pH=9).

O ajuste de pH das várias soluções em estudo foi efectuado por adição de quantidades

vestigiais de ácido forte ou base forte às soluções amostra de modo a que a quantidade de

volume adicionado fosse desprezável.

Os parâmetros de calibração do eléctrodo de vidro, necessários para o ajuste de pH,

foram obtidos por titulação de ácido forte/base forte. A calibração do sistema de titulação, foi

realizada como descrito no capítulo 2. O procedimento seguido para as determinações

espectrofotométricas de ultravioleta/visível encontra-se igualmente descrito no capítulo da

metodologia.

Utilizaram-se concentrações de SDS (4,0 x IO"4, 8,0 x IO"4, 4,0 x 10"3, 1,0 x 10"2M),

Triton X-100 (5,0 x 10"5, 1,0 x IO"4, 7,0 x 10"3, 1,0 x 10"2M) e CTAB (4,0 x IO"4, 7,0 x IO"4,

4,0 x 10"3, 7,0 x 10"3 M) acima e abaixo da concentração micelar crítica (cmc).

Os valores das cmc dos três surfactantes foram retirados da bibliografia e encontram-

-se apresentados na tabela 3.1.1.

70

Tabela 3.1.1- Valores das concentrações micelares críticas para os surfactantes sintéticos utilizados neste trabalho

Concentração micelar Surfactante Referência

crítica (mol dm )

SDS 1,4 x IO"3 Ï4

Triton X-100 2,0 x IO"4 14

CTAB 0,9 x IO"3 16

Zona espectral abrangida

Ao escolher-se um solvente deve ter-se em consideração a sua transparência na zona

de comprimentos de onda em estudo. Nessa medida foi feito um estudo prévio do

comportamento espectrofotométrico dos três surfactantes a analisar, com o objectivo de

seleccionar a zona espectral onde não há absorção de radiação, de modo a não interferir com o

espectro do CLDZ.

Como se pode verificar na figura 3.1.1, os três surfactantes apresentam espectros

diferentes o que implicou que a zona espectral escolhida para o estudo espectrofotométrico do

clorodiazepóxido variasse consoante o surfactante em estudo.

Assim, as absorvâncias foram registadas de 1 em 1 nm, nos seguintes intervalos de

comprimentos de onda: em SDS de 200 a 500 nm, em Triton X-100 de 300 a 500 nm e em

CTAB de 225 a 500 nm.

Resultados Obtidos e sua Discussão

Como já foi referido no prefácio, o trabalho experimental desta dissertação surge

como seguimento do trabalho realizado durante o seminário de licenciatura, no qual foi

efectuado o estudo espectral do CLDZ em SDS. No entanto, apesar destes resultados já se

encontrarem publicados, optou-se por apresentar os espectros, devido ao interesse em

comparar estes resultados com os obtidos com os restantes sufactantes.

71

250 300

o S >

3

500

350 400 A. (nm)

450 500

500

Figura 3.1.1- Espectros dos surfactantes sintéticos SDS, Triton X-100 e CTAB 0,01M .

72

A) CLDZ em SDS

Os espectros do clorodiazepóxido no meio micelar aniónico SDS, obtidos a pH

controlado, encontram-se representados nas figuras 3.1.2 e 3.1.3.

1.8

200

0M 0.01M

4 x 1 0 ^

250 300 350

X(nm) 400 450 500

Figura 3.1.2- Espectro do CLDZ em água (preto), em SDS acima da cmc (vermelho) e em SDS abaixo da cmc, (verde) a pH = 3.

200 250 300 350

A.(nm) 400 450 500

Figura 3.1.3- Espectro do CLDZ em água (preto), em SDS acima da cmc (vermelho) e em SDS abaixo da cmc (verde), a pH = 9.

73

Verificou-se que o CLDZ em soluções de SDS de concentração superior à cmc

apresenta uma absorvância semelhante à da solução aquosa. Contudo, em soluções de SDS de

concentração inferior à cmc a absorvância devida ao CLDZ diminui significativamente o que

é devido provavelmente ao aparecimento de uma nova espécie clorodiazepóxido-monómero

de SDS.

De forma a estudar qual a interacção possível, obteve-se os espectros do CLDZ em

soluções de SDS de concentração inferior à cmc e de pH ajustado a dois valores distintos

designadamente pH=3 e pH=9, correspondendo à existência em solução de clorodiazepóxido

respectivamente na forma protonada e na forma neutra.

Nestes estudos observou-se que para soluções de SDS com concentração inferior à

cmc a pH=3, existe uma diminuição significativa das absorvâncias relativamente às obtidas

em solução aquosa, enquanto que para soluções alcalinas apenas se observa uma ligeira

diminuição. Em relação às soluções de SDS com concentração superior à cmc, as

absorvâncias são semelhantes às obtidas em solução aquosa com o mesmo pH.

Assim, conclui-se que existe uma interacção que ocorre entre a forma protonada do

CLDZ e os monómeros de SDS.

B) CLDZ em Triton X-100

Os espectros obtidos a pH controlado do clorodiazepóxido no meio micelar neutro

Triton X-100, encontram-se representados nas figuras 3.1.4 e 3.1.5.

Analisando os espectros verifica-se que quer a pH ácido quer a pH básico, a

absortividade molar das soluções de CLDZ em Triton X-100 é sempre superior à da solução

aquosa de CLDZ. De salientar ainda, que devido à gama limitada de comprimentos de onda

com que é possível obter espectros com este surfactante, há apenas um comprimento de onda

máximo (308 nm) a registar para a espécie protonada do CLDZ (HCLDZ+) e o valor da

respectiva absortividade molar é 9,5 x 10" mol" dm cm" .

74

o

1 _32

o S3 3

10000-

8000-

6000-

4000-

2000-

300 500 X (nm)

Figura 3.1.4- Espectro do CLDZ em água (verde), em Triton X-100 abaixo da cmc (vermelho) e em Triton X-100 acima da cmc (preto), a pH = 3.

10000-

8 8000

1 ta

o

6000

4000

2000-

0-

300 500

Figura 3.1.5- Espectro do CLDZ em água (verde), em Triton X-100 abaixo da cmc (vermelho) e em Triton X-100 acima da cmc (preto), a pH = 9.

75

C) CLDZ em CTAB

Foram obtidos os espectros a pH ácido e a pH básico do CLDZ em CTAB a

concentrações abaixo (4,0 x IO"4, 7,0 x 10"4M) e acima (4,0 x IO"3, 7,0 x IO"3 M) da cmc. Os

resultados podem ser observados nas figuras 3.1.6 e 3.1.7, respectivamente.

250

7x10 M 4x10"3M 7x1 O^M -4x10^ 0M

300 — I — 350 400

— I — 450 500

).(mn)

Figura 3.1.6- Espectro de CLDZ em solução aquosa e em soluções de CTAB abaixo e acima da cmc, a pH=3.

Verifica-se que para soluções ácidas o valor da absortividade molar do CLDZ aumenta

com o aumento da quantidade de CTAB e que o comprimento de onda de absortividade molar

máxima é deslocado ao passar da solução aquosa para as soluções de CTAB abaixo e acima

da cmc. Os valores de comprimento de onda máximo e absortividade molar da forma

protonada de CLDZ em função da concentração de CTAB, encontram-se registados na tabela

3.1.2.

76

Tabela 3.1.2- Comprimentos de onda máximo (A,max) e absortividades molares (s) da espécie protonada do clorodiazepóxido (HCLDZ

+) em CTAB

Concentração

de CTAB (M) l ° U « ( n m ) s (xlO

4M Vm *) 2

o Àmax(nm) S Í X I C M W1

)

0

4,0 x 10

7,0 x 10

4,0 x 10

7,0 x 10

-4

-4

-3

-3

242 2,8 306 0,8 245 2,9 307 0,8 245 2,9 307 0,8 245 3,2 308 0,9 245 3,3 308 0,9

30000 -

— I — 250

— I — 300

■7x10"3M

4x10"3M

7 x 1 0 ^

-4x10""M 0M

350 — I — 400 450

X (nm) 500

Figura 3.1.7- Espectro de CLDZ em solução aquosa e em soluções de CTAB abaixo e acima da cmc, a pH=9.

Nas soluções alcalinas a absortividade molar de CLDZ em água é semelhante às de

CLDZ em CTAB abaixo da cmc, aumentando contudo com o aumento da concentração de

CTAB acima da cmc.

Comparando os espectros a pH=9, verifica-se ainda um desvio batocrómico do

comprimento de onda de absortividade molar máxima com o aumento da quantidade de

CTAB em solução (resultados registados na tabela 3.1.3).

77

Tabela 3.1.3- Comprimento de onda máximo (A,max) e absortividade molar (s) da espécie neutra do clorodiazepóxido (CLDZ) em CTAB Concentração de CTAB (M) ^max(nm) s (x lO^MW 1 )

0 260 2/7

4,0 x IO"4 262 2,7

7,0 x IO'4 262 2,7

4,0 x IO"3 265 2,8

7,0 x IO"3 265 2,9

Conclusões

O estudo por espectrofotometria de ultravioleta-visível do comportamento do CLDZ

em soluções aquosas de SDS, Triton X-100 e CTAB, revelou que a benzodiazepina interactua

com os três surfactantes, interacção que se processa no entanto de forma distinta.

Analisando os resultados obtidos abaixo da cmc, verifica-se que no meio micelar

aniónico SDS, o facto dos espectros obtidos abaixo da cmc a pH ácido exibirem uma

diminuição significativa das absorvâncias relativamente às obtidas nas restantes soluções

indica que existe uma interacção entre o CLDZ e os monómeros de SDS e ainda que essa

interacção ocorre preferencialmente com a forma protonada da benzodiazepina (HCLDZ+).

Relativamente aos restantes surfactantes, os espectros obtidos a pH ácido no caso do

CTAB e os espectros obtidos a pH básico no caso do Triton X-100 mostram que poderá haver

alguma interacção entre os monómeros destes surfactantes e o CLDZ.

Acima da cmc, observa-se um desvio batocrómico do comprimento de onda de

absortividade molar máxima nos espectros obtidos em CTAB, que poderá significar uma

interacção entre o CLDZ e as micelas deste surfactante.

78

3 . 2 C O N S T A N T E S D E A C I D E Z E A B S O R T I V I D A D E S M O L A R E S D O

CLORODIAZEPÓXIDO EM SISTEMAS MICELARES

A composição das diversas membranas biológicas é muito variável e como tal a

biodisponibilidade de um fármaco depende de vários factores, como por exemplo do seu pKa.

Assim sendo, o conhecimento prévio deste factor e o modo como ele pode influenciar as

propriedades físico-químicas de uma benzodiazepina é essencial na determinação da sua

eficácia.

O objectivo deste estudo é verificar a influência de soluções micelares aniónicas

(SDS), neutras (Triton X-100) e catiónicas (CTAB) nas propriedades ácido-base do

clorodiazepóxido, para obter informação sobre a sua localização nesses meios.

Execução experimental

Para a determinação dos valores das constantes de acidez e das absortividades

molares, foram traçados os espectros do clorodiazepóxido (~ 5,0 x IO"5 M) em soluções

aquosas de NaCl 0,1 M na presença dos três surfactantes sintéticos, a diferentes

concentrações, utilizando-se várias soluções para cada uma das concentrações com valores de

pH distintos.

Os parâmetros de calibração do eléctrodo de vidro, necessários para o ajuste de pH,

foram obtidos por titulação de ácido forte/base forte. A calibração do sistema de titulação, foi

realizada como descrito no capítulo 2. O ajuste de pH das várias soluções em estudo foi

efectuado tal como no estudo anterior.

As determinações espectrofotométricas de ultravioleta/ visível foram efectuadas como

descrito no capítulo 2. As absorvâncias foram registadas de 1 em 1 nm e num intervalo de

comprimentos de onda que variou conforme o surfactante em estudo (ver secção 3.1).

O cálculo das absortividades molares e das constantes de acidez do clorodiazepóxido

em SDS (1,5 x IO"3, 2,0 x IO"3, 3,0 x IO"3, 4,0 x 10"3, 1,0 x IO"2, 2,0 x IO"2, 3,0 x IO"2,

5,0 x IO"2 M), em Triton X-100 (1,0 x 10"3, 4,0 x 10"3, 7,0 x 10"3, 1,0 x IO"2, 2,0 x IO"2,

3,0 x IO"2, 4,0 x 10"2, 5,0 x IO"2, 6,0 x IO"2 M) e em CTAB (1,0 x 10"3, 4,0 x 10"3, 7,0 x 10"3,

79

1,0 x IO"2, 2,0 x IO"2, 3,0 x IO"2, 4,0 x IO"2, 5,0 x 10"2M) foi efectuado computacionalmente

por intermédio do programa SQUAD.

Os valores obtidos para as constantes de acidez tiveram em conta pelo menos 2

ensaios independentes com mais de seis soluções com concentrações de catião hidrogénio

diferentes. Os valores médios e os erros associados às constantes de acidez foram

determinados utilizando o método de Adrien Albert e E. P. Serjeant, como descrito no

capítulo 2.

Resultados obtidos e sua Discussão

A) Surfactante aniónico (SDS)

De seguida apresentam-se os resultados obtidos com o SDS, apesar de já se

encontrarem publicados, devido ao interesse em compara-los com os obtidos com os restantes

sufactantes.

Para a determinação dos valores das constantes de acidez foram obtidos os espectros

do CLDZ em SDS na concentração em estudo, utilizando várias soluções com valores de pH

distintos. O tipo de espectro de ultravioleta-visível que se obtém para o clorodiazepóxido em

SDS quando se varia -logltTl encontra-se representado na figura 3.2.1.

500

X(nm)

Figura 3.2.1- Espectro de várias soluções de CLDZ em SDS 3 x IO"3 M a diferente pH.

80

A lei de Lambert-Beer foi verificada para as condições experimentais utilizadas.

Verificou-se a ocorrência de uma relação linear entre as absorvâncias a dois comprimentos de

onda diferentes para toda a gama de comprimentos de onda utilizada. As curvas de titulação

de absorvância em função do pH, para um determinado comprimento de onda, permitiram

verificar a existência de uma inflexão perto do valor obtido para os pKapp do CLDZ em SDS,

como se pode verificar na referência [66].

Os valores das constantes de acidez aparente do CLDZ em SDS calculados pelo

programa SQUAD a partir das medições espectrofotométricas de ultravioleta-visível

encontram-se registados na tabela 3.2.1.

Tabela 3.2.1- Constantes de acidez aparente do CLDZ em SDS; (I = 0,1M; t = 25°C)

Concentração de SDS (mol/dm3)* pKapp

0 4,79 ± 0,03

1,5 X IO"3 5,37 ± 0,08

2,0 X IO"3 5,59 ±0,01

3,0 X IO"3 5,88 ±0,02

4,0 X IO"3 6,01 ±0,01

1,0 X IO"2 6,02 ±0,01

2,0 X IO"2 6,06 ±0,01

5,0 X IO"2 6,14 ±0,03

* Neste trabalho foi obtida a constante relativa ao valor de concentração de SDS 3,0 x 10"- M, tendo-se verificado de novo o da concentração 2,0 x 10"' M.

Analisando a tabela verifica-se que há um aumento dos valores de pKapp para o

clorodiazepóxido em soluções de SDS de concentração superior à cmc, isto é, ocorre uma

diminuição da ionização. Estes resultados indicam portanto que a presença de sistemas

micelares aniónicos como o SDS favorecem a forma protonada do CLDZ (deslocam o

equilíbrio HCLDZ+ O CLDZ + H+ para a esquerda), o que pode advir da existência de uma

interacção entre a forma protonada do CLDZ e o grupo aniónico das micelas de SDS.

Este comportamento é semelhante ao verificado para muitos compostos que

interactuam com micelas de surfactantes aniónicos,67 mas só em certa parte, uma vez que ao

81

analisar a variação das constantes de acidez a diferentes concentrações verifica-se que o

CLDZ tem um comportamento distinto dos ácidos neutros. Esperava-se um aumento das

constantes de acidez com o aumento das concentrações, e assim de facto acontece, mas só até

determinada concentração, ou seja, embora as constantes aumentem todas, os últimos valores

não variam significativamente, como se pode verificar pela figura 3.2.2.

0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05

Concentração de SDS (mol/ dm )

Figura 3.2.2- Representação gráfica da variação de pKapp em função da concentração de SDS

Para além das constantes de acidez aparente, o programa SQUAD pode calcular as

abortividades molares das espécies em solução. Na tabela 3.2.2 apresentam-se os valores dos

comprimentos de onda de absorvância máxima (A,max) e das absortividades molares da espécie

protonada (£BH+) e da espécie neutra (eB) do clorodiazepóxido.

As absortividades molares obtidas para o CLDZ em SDS são da ordem de grandeza

das descritas em literatura para meios aquosos e semelhantes às verificadas em meios

mistos 6,9

82

Tabela 3.2.2- Valores dos comprimento de onda máximo e das absortividades molares do CLDZ em SDS

HCLDZ+ CLDZ

^max (nm) EBH^xlO-Vcm"1) ^max (nm) eB(xlO"4M"W) 245

310

2,7

0,8 260

355

2,5

0,2

B) Surfactante neutro (Triton X-100)

No estudo do comportamento ácido/base do CLDZ em meio micelar neutro, traçaram-

-se os espectros desta benzodiazepina em Triton X-100 numa gama mais limitada de

comprimentos de onda, o que implicou uma atenção especial no ajuste de pH das soluções

utilizadas, de modo a que o espectro apresentasse uma variação significativa com o pH e

permitisse assim ao programa SQUAD calcular os valores das constantes de acidez.

Nas figuras 3.2.3 e 3.2.4 encontram-se representados os espectros obtidos em dois

ensaios independentes realizados para as concentrações de 4 x IO"3 M e 7 x IO"3 M,

respectivamente.

Devido ao intervalo mais restrito de comprimentos de onda só se regista um

comprimento de onda máximo. Assim, para a espécie protonada do CLDZ, tal como acontecia

no surfactante anteriormente estudado, o comprimento de onda em que se verifica um

máximo de absorvância é 310 nm e o valor da respectiva absortividade molar é 0,9 xlO4

mol"'dm3 cm"1.

O valor da absortividade molar calculado pelo programa SQUAD é concordante com o

calculado directamente a partir do espectro (ver secção 3.1).

83

500

Figura 3.2.3- Representação da absorvância em função do comprimento de onda para soluções de CLDZ em Triton X-100 4 x ÍO^M a diferente pH.

500

Figura 3.2.4- Representação da absorvância em função do comprimento de onda para soluções de CLDZ em Triton X-100 7 x 10JM a diferente pH.

84

A lei de Lambert-Beer foi verificada para as condições experimentais utilizadas.

Observou-se a ocorrência de uma relação linear entre as absorvâncias a dois comprimentos de

onda diferentes para toda a gama de comprimentos de onda utilizada, o que indica a existência

de 2 espécies absorventes em solução (a forma protonada e a forma neutra do CLDZ). Na

figura 3.2.5 encontra-se representada uma relação linear obtida para a concentração de

Triton X-100 7 x IO"3 M.

As curvas de titulação de absorvância em função do pH, para um determinado

comprimento de onda, permitiram verificar a existência de uma inflexão perto do valor obtido

para os pKapp do CLDZ em Triton X-100 (figura 3.2.6).

0.20

0.05

0.00 - i — ' — i — > — r 0.46 0.48 0.50 0.52 0.54 0.56 0.58 0.60 0.62

Abs.(310nm)

Figura 3.2.5- Representação gráfica da relação linear obtida entre as absorvâncias do CLDZ em Triton X-100 7 x 10

3M, para os comprimentos de onda 310 e 355 nm.

0.95- ■ ■

0.90- ■

■ 0.85-

u ■

A

§ 0.30-C o <g 0.75-

0.70- ■

0.65- ■

1 1 1 ■ ■

pH

Figura 3.2.6- Curvas de titulaçãos obtidas a 310 nm (A) e a 355 nm (B) para a solução de CLDZ em Triton X-100 1 x 10

3M.

85

Na tabela 3.2.3 encontram-se os valores das constantes de acidez aparente do CLDZ

em Triton X-100, calculados pelo SQUAD a partir das determinações espectrofotométricas.

Analisando a tabela verifica-se que há uma diminuição dos valores de pKapp para o

clorodiazepóxido em soluções de Triton X-100 de concentração superior à cmc, ou seja

ocorre um aumento da ionização. Estes resultados indicam portanto que a presença de

sistemas micelares neutros como o Triton X-100 favorecem a forma neutra do CLDZ

(deslocam o equilíbrio HCLDZ+ <-> CLDZ + H+ para a direita), devido ao facto de ser a

espécie dissociada a ligar-se à micela.

Tabela 3.2.3- Constantes de acidez aparente do CLDZ em Triton X-100; (I = 0,1M; t = 25°C)

Concentração deTriton X-100 (M) pKapp

0 4,79 ± 0,03

1,0 x IO"3 4,73 ± 0,02

4,0 x IO"3 4,55 ± 0,02

7,0 x ío-3 4,42 ± 0,02

1,0 x IO"2 4,28 ± 0,02

2,0 x io-2 4,03 + 0,01

3,0 x 10"2 3,84 ±0,01

4,0 x IO"2 3,74 ±0,01

5,0 x IO"2 3,57 ± 0,02

6,0 x IO"2 3,55 ± 0,03

Verifica-se ainda que a diminuição das constantes de acidez com o aumento da

concentração de surfactante ocorre apenas até determinada concentração, ou seja, embora as

constantes diminuam todas, os últimos valores não variam significativamente, como se pode

verificar pela figura 3.2.7.

86

5.0 -y

4.8-11

4.6-

4 .4 -

| 4 . 2 -

Cu

4.0-

3.8-

3 .6-

0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 3

Concentração de Triton x-100 (mol/ dm )

Figura 3.2.7- Representação gráfica da variação de pKapp em função da concentração de Triton X-100.

C) Surfactante catiónico (CTAB)

Para a determinação dos valores das constantes de acidez e das absortividades molares

do clorodiazepóxido em meio micelar catiónico, foram obtidos os espectros do

clorodiazepóxido em CTAB na concentração em estudo, utilizando várias soluções com

valores de pH distintos.

Nas figuras 3.2.8 e 3.2.9 encontram-se representados os espectros de

ultravioleta/visível do clorodiazepóxido em CTAB, obtidos em dois ensaios independentes

realizados para as concentrações de CTAB 0,01 M e 0,04 M respectivamente.

Observando com atenção as duas figuras verifica-se uma maior variabilidade do

espectro das soluções com valor de pH mais próximo do valor da constante de acidez

respectiva.

87

'5 s 3

0.0 -

500

Figura 3.2.8- Representação da absorvância em função do comprimento de onda para soluções de CLDZ em CTAB 0,01 M a diferente pH.

0.0 -

500

Figura 3.2.9- Representação da absorvância em função do comprimento de onda para soluções de CLDZ em CTAB 0,04 M a diferente pH.

88

Os valores das constantes de acidez aparente do CLDZ em CTAB calculados pelo

programa SQUAD a partir das determinações espectrofotométricas de ultravioleta/visível

encontram-se registados na tabela 3.2.4

Tabela 3.2.4- Constantes de acidez aparente do CLDZ em CTAB; (I = 0,1M; t = 25°C)

o de CTAB (mol/dm3) pKapp

0 4,79 ± 0,03

1,0 x IO"3 4,57 ±0,01

4,0 x io-3 4,28 ± 0,02

7,0 x IO'3 4,06 ±0,01

1,0 x IO'2 3,95 ±0,01

2,0 x IO"2 3,75 ± 0,03

3,0 x IO"2 3,71 ±0,01

4,0 x IO"2 3,55 ±0,01

5,0 x IO"2 3,54 ± 0,02

Analisando a tabela verifica-se que há uma diminuição dos valores de pKapp para o

clorodiazepóxido em soluções de CTAB de concentração superior à cmc, ou seja ocorre um

aumento da ionização. Estes resultados indicam portanto que a presença de sistemas micelares

catiónicos como o CTAB favorecem a forma neutra do CLDZ (deslocam o equilíbrio

HCLDZ+ <-> CLDZ + H+ para a direita), devido à repulsão electrostática entre o grupo

catiónico da micela e a forma protonada da benzodiazepina.

Este comportamento é semelhante ao verificado em micelas neutras embora de uma

forma mais acentuada, isto é, comparando os valores das constantes de acidez aparente do

CLDZ nos dois surfactantes à mesma concentração, verifica-se que o pKapp em CTAB é

sempre menor.

Verifica-se ainda que tal como já tinha sido observado para o Triton X-100 a

diminuição das constantes de acidez com o aumento da concentração de surfactante ocorre

apenas até determinada concentração, ou seja embora as constantes diminuam todas, os

últimos valores não variam significativamente, como se pode verificar pela figura 3.2.10.

89

0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05

Concentração de CTAB (mol/dm )

Figura 3.2.10- Representação gráfica da variação de pKappem função da concentração de CTAB.

A lei de Lambert-Beer foi verificada para as condições experimentais utilizadas,

verificando-se, tal como nos surfactante anteriores, a ocorrência de uma relação linear entre as

absorvâncias a dois comprimentos de onda diferentes para toda a gama de comprimentos de

onda utilizada. Na figura 3.2.11 encontra-se representada uma relação linear obtida para a

concentração de CTAB 0,04 M.

Leo­

's 1.40 <

1.30-

-> r 0.32 0.34 0.36 0.38 0.40 0.42

Abs. (310 nm)

Figura 3.2.11- Representação gráfica da relação linear obtida entre as absorvâncias do CLDZ em CTAB 0,04 M, para os comprimentos de onda 245 e 310 nm.

90

As curvas de titulação de absorvância em função do pH, para um determinado

comprimento de onda, permitiram verificar a existência de uma inflexão perto do valor obtido

para os pKapp do clorodiazepóxido em CTAB (figura 3.2.12), embora as curvas obtidas para

comprimentos de onda afastados do comprimento de onda máximo do clorodiazepóxido

mostrem uma menor inflexão.

c3 O a > o c/3

<

1 -

T -

9- ;Dz

4~ +—- -4r—*djfc; -+-+—

--+ —h_ -+

0 _ $ *—*- * *"* *" -*- -* - -X

T 3

i 4 7

Legenda

—■--245 nm —•- -260 nm

A. 270 nm —T--230 nm

♦ 290 nm —+--310 nm

355 nm — * - -380 nm

-log cH.

Figura 3.2.12- Representação gráfica de A>=f (-log cH+) do clorodiazepóxido em CTAB

4 x IO'3 M, para vários comprimentos de onda, mostrando uma inflexão perto do valor obtido

para o pKapp.

Para além das constantes de acidez aparente, o programa SQUAD determinou as

absortividades molares das espécies em solução. Nas tabelas 3.2.5 e 3.2.6, apresentam-se os

valores dos comprimentos de onda de absorvância máxima (kmax) e das absortividades

molares da espécie protonada (£BH+) e da espécie neutra (8B) do clorodiazepóxido,

respectivamente.

91

Verificou-se que os valores das absortividades molares calculados pelo programa

SQUAD eram concordantes, a menos do erro experimental, com os valores determinados

directamente a partir dos espectros (ver secção 3.1).

Tabela 3.2.5- Comprimentos de onda máximo (A,max) e absortividades molares (e) da espécie protonada do dorodiazepóxido (HCLDZ+) em CTAB, determinados com o programa SQUAD Concentração de CTAB (M) 1° A,max (nm) e(xl( )"4M-J cm"1) 2 o À,max(nm) e(xl( r'M'W1)

1,0 x IO"3 245 3,1 310 0,9 4,0 X IO"3 245 3,2 310 0,9 7,0 x IO"3 245 3,2 310 0,9 3,0 x IO-2 245 3,3 310 0,9 4,0 x IO"2 245 3,4 310 0,9 5,0 X IO"2 245 3,4 310 0,9

Tabela 3.2.6- Comprimento de onda máximo (À,max) e absortividade molar (e) da espécie neutra do clorodiazepóxido (CLDZ) em CTAB, determinados com o programa SQUAD Concentração de CTAB (M) ?w(nm) e ( x l O 4 M W 1 )

1,0 x 10"3 265 2̂ 8

4,0 x 10"3 265 2,8

7,0 X10"3 265 2,9

1,0 X IO"2 262 2,9

4,0 X10"2 265 3,0

Conclusões

Analisando os resultados, verifica-se que a variação do valor da constante de acidez

aparente do clorodiazepóxido em meio micelar está condicionada às características polares do

surfactante.

92

Assim, observa-se um aumento dos valores de pKapp para o CLDZ em soluções de

SDS e uma diminuição dos mesmos valores para soluções de CLDZ em Triton X-100 e em

CTAB.

A dimuição da ionização ocorrida no meio micelar aniónico SDS, indicam que este

meio favorece a forma protonada do CLDZ (deslocam o equilíbrio HCLDZ+ <-» CLDZ + H+

para a esquerda), o que pode advir da existência de uma interacção entre a forma protonada do

CLDZ e o grupo aniónico das micelas de SDS. Este comportamento é aliás semelhante ao

verificado para muitos compostos que interactuam com micelas de surfactantes aniónicos.67

O aumento da ionização ocorrida no meio micelar neutro Triton X-100 e no meio

micelar catiónico, será devido respectivamente à associação da espécie neutra do CLDZ à

micela e à repulsão electrostática entre o grupo catiónico da micela e a forma protonada da

benzodiazepina.

De salientar ainda que a variação dos valores de pKapp é semelhante para os três

surfactantes: +1,3 para o SDS e -1,2 para o Triton X-100 e CTAB. Estes desvios estão de

acordo com os já verificados para outras benzodiazepinas.

93

3.3 TRATAMENTO MATEMÁTICO DAS CONSTANTES DE ACIDEZ DO CLORODIAZEPÓXIDO EM MEIO MICELAR

É do conhecimento geral que estruturas organizadas alteram o equilíbrio e as

propriedades ácido / base de processos químicos.43"45 Nesse sentido foram desenvolvidos

modelos matemáticos para quantificar o efeito dos meios micelares nas constantes de

equilíbrio de várias substâncias.12'45'48'68"75

No presente trabalho a aplicação de dois destes modelos tem como objectivo dar uma

interpretação quantitativa da variação das constantes de acidez aparente do CLDZ em meios

micelares aniónicos, neutros e catiónicos.

Resultados Obtidos e sua Discussão

Foi realizado o tratamento matemático dos valores das constantes de acidez descritas

na secção 3.2, pela aplicação de dois modelos, designadamente o modelo de Berezin45 e o

modelo PIE.48

O modelo de Berezin assume a distribuição das várias substâncias entre a fase micelar

e a aquosa e o modelo de PIE contempla a existência de permuta iónica entre as espécies

iónicas em solução e o contra-ião do surfactante. Segundo este modelo a superfície da micela

funciona como uma resina de troca iónica, onde as espécies iónicas em solução serão

adsorbidas por troca com os contra-iões do surfactante.

De seguida serão apresentados os resultados obtidos para cada um dos surfactantes

analisados, tendo o tratamento matemático sido efectuado com o programa Microcal™

Origin™ versão 5.0 (1991-1997, Microcal Software Inc, Northampton, MA, EUA), utilizando

a sua subrotina de minimização não linear.

A) Surfactante aniónico (SDS)

Aplicou-se inicialmente o modelo de Berezin aos resultados obtidos na determinação

das constantes de acidez aparente do clorodiazepóxido em SDS.

Para verificar se este modelo pode descrever o efeito dum meio organizado nas

propriedades ácido/base, optou-se por utilizar em primeiro lugar a forma linearizada da

94

equação deduzida por Berezin, para obter uma estimativa do valor das constantes de ligação

do CLDZ às micelas. Os valores obtidos foram posteriormente utilizados como parâmetros da

minimização não linear da referida equação (eq. 1.21), que possibilitou a determinação do

valor final das constantes de ligação.

A equação deduzida por Berezin, pode portanto ser rescrita como:

i _ "PP

K.. C-^-Í; (3-D BH* CD °H K„

onde CD é a concentração de surfactante acima da cmc (a diferença entre a concentração total

de surfactante, Gr, e a concentração micelar crítica, cmc), KmHB+ e KmB são as constantes de

ligação às micelas das espécies protonadas e das espécies neutras, respectivamente, e Ka é a

constante de acidez da espécie protonada em meio aquoso.

Representando graficamente ( 1-Kapp/Ka)/CD em função de Kapp/Ka, obtém-se uma

relação linear cujo declive e ordenada de origem correspondem aos valores das constantes de

ligação da forma protonada e da forma neutra do CLDZ à micela respectivamente.

Na representação gráfica da equação 3.1, obtida utilizando os valores das constantes

de acidez do clorodiazepóxido em SDS, os valores obtidos para as constantes de ligação e

erros associados da forma neutra e da forma protonada da benzodiazepina foram,

respectivamente, 517 ± 97,8 e 1,23 xlO4 ±1,14 xlO3.

Na figura 3.3.1 encontra-se a representação gráfica de Kapp em função de CD, dos

valores tabelados na secção 3.2 (tabela 3.2.1) e o ajuste aos pontos experimentais, obtido a

partir do modelo matemático de minimização não linear da equação de Berezin. Os valores

calculados desta forma para as constantes de ligação encontram-se na tabela 3.3.1.

Na aplicação do modelo de PIE (equação 1.26) utilizou-se para o grau de ionização

das micelas aniónicas de SDS o valor a = 0,7548, e para a cmc do SDS o valor 1,4 x 10"3M14.

O tratamento matemático foi igualmente realizado com o programa Microcal Origin

versão 5.0 e os resultados e erros associados obtidos pela aplicação do modelo PIE

encontram-se registados na tabela 3.3.1.

95

0.0000025

0.0000020

i4 0.0000015

0.0000010-

0.0000005 0.00 0.01

1 ■ r 0.02 0.03

T ' r 0.04 0.05

Figura 3.3.1- Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em SDS e o melhor ajuste obtido com o modelo de Berezin.

W

0.0000045 -

0.0000040 -1

0.0000035 -

0.0000030 -

ã0.0000025 -ca

0.0000020 -

0.0000015- \

0.0000010- ■ \ j _ ■ 0.0000005 -

1 1 1 ' 1 ' 1 ' 1 ■ 1 0.00 0.01 0.02 0.03

c. 0.04 0.05

Figura 3.3.2- Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em SDS e o melhor ajuste obtido com o modelo de PIE.

96

Analisando a tabela 3.3.1 verifica-se que o valor obtido para a quantidade de Na+

permutado (W) com as outras espécies de carga positiva em solução é negativo, o que implica

a invalidade da suposição da existência de troca iónica entre as espécies catiónicas em

solução, como por exemplo a forma protonada do CLDZ, e o contra-ião do SDS.

De facto, apesar de em termos matemáticos o modelo de PIE permitir um bom ajuste

aos pontos experimentais, em termos químicos o valor obtido para a soma das concentrações

de H+ e HB+ ligadas às micelas, não tem significado.

Assim, o modelo que melhor fornece uma interpretação quantitativa da variação das

constantes de acidez aparente do CLDZ num meio micelar aniónico, é o modelo de Berezin.

B) Surfactante neutro (Triton X-100)

Para quantificar o efeito do meio micelar neutro Triton X-100 nas constantes de acidez

aparente de CLDZ foi apenas aplicado o modelo de Berezin, uma vez que a ausência de carga

das micelas de Triton X-100 impossibilita a ocorrência de permuta iónica, tornando o modelo

de PIE à partida inválido.

Aplicando a equação 3.1 aos valores tabelados na secção 3.2 (tabela 3.2.3), foi

possível obter uma estimativa dos parâmetros da equação de Berezin. Os valores das

constantes de ligação e erros associados da forma neutra e da forma protonada da

benzodiazepina calculados desta forma foram, respectivamente, 192 ± 9,43 e - 6,24 ± 0,978.

Na figura 3.3.3 encontra-se a representação gráfica de Kapp em função de CD, para o

sistema CLDZ em Triton X-100 e o ajuste obtido com o modelo matemático de minimização

não linear da equação de Berezin. Os valores determinados das constantes de ligação e erros

associados da forma neutra e da forma protonada da benzodiazepina foram respectivamente

241,13 ± 28,77 e - 2,57 ±1,89.

Em termos químicos os valores obtidos para as constantes de ligação da forma

protonada e neutra do CLDZ, significam que a interacção do CLDZ com as micelas de Triton

X-100 é preferencialmente realizada pela forma neutra da benzodiazepina, podendo desta

forma o valor da constante de ligação da forma protonada do CLDZ ser considerado

aproximadamente nulo, ou seja desprezável.

Assim, com este pressuposto é possível simplificar a equação de Berezin, que toma a forma:

97

K,,

K app =l + Km

BCD (3.2)

O valor da constante de ligação da forma neutra do CLDZ as micelas de Triton X-100

e o respectivo erro associado calculados a partir da equação 3.2 encontram-se registados na

tabela 3.3.1.

Os resultados obtidos no tratamento matemático das constantes de acidez aparente do

CLDZ em Triton X-100, indicam portanto, que a variação observada dos valores de pKapp é

devido apenas à partição da forma neutra do clorodiazepóxido entre a fase micelar e o meio

aquoso.

0.00030 -

0.00025

0.00020 -

Î-0.00015-i4

0.00010-

0.00005

0.00000 -

Figura 3.3.3- Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em Triton X-100 e o melhor ajuste obtido pelo modelo de Berezin.

C) Surfactante catiónico (CTAB)

Iniciou-se o tratamento matemático das constantes de acidez aparente do CLDZ em

CTAB pela aplicação do modelo de Berezin.

98

Aplicando a equação 3.1 aos valores tabelados na secção 3.2 (tabela 3.2.4), foi

possível obter uma estimativa dos parâmetros da equação de Berezin. Os valores das

constantes de ligação e erros associados da forma neutra e da forma protonada da

benzodiazepina calculados desta forma foram, respectivamente, 818 ± 53,9 e 26,7 ±4,58.

Na figura 3.3.4 encontra-se a representação gráfica de Kapp em função de CD, para o

sistema CLDZ em CTAB e o melhor ajuste aos pontos experimentais do modelo de Berezin.

Os valores das constantes de ligação e erros associados da forma neutra e da forma

protonada da benzodiazepina determinados por um modelo matemático de minimização não

linear da equação de Berezin encontram-se registados na tabela 3.3.1.

0.00030 -

0.00025 - ^ - ^

0.00020- yS m

a, /

^"0.00015- /

0.00010- /

0.00005 - ¥

0.00000 -I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 , 1 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05

Figura 3.3.4- Representação gráfica de Kapp = f (CD) para o sistema CLDZ em CTAB e o melhor ajuste obtido pelo modelo de Berezin.

Na aplicação do modelo de PIE (equação 1.31) utilizou-se para o grau de ionização

das micelas catiónicas de CTAB o valor a = 0,7524, e para a cmc do CTAB o valor

9,0 x 10"4M16.

Na figura 3.3.5 encontra-se representado Kapp em função de CD e o melhor ajuste do

modelo de PIE. Os resultados obtidos encontram-se resumidos na tabela 3.3.1.

CS T5

i -

a a in O

3 '-3 X! O

< H U

<u o o

>< fi o 11

H c/T Q GO aj

TS

JS

N Q U o « I H

* J S tu fi 4> CS

CS fi O

■M O U

a es

-a o

tes CS 6X1

41 fi TJ 41

S-

41 « ■ ^

Cl a es es IS t/j C

41

O O U es

■ 4> i—i T3 !■<■} en

41 rn + J

CS fi es 41

CS

H C O a

+

w WH CH 4)

O

-a o

+

k " 5

N 4> U 41

4) T3 O

+

k°5

4> ■M fi C3

■ii

a

3

X O CN

+1

X

CN

m +1 O

ON

en ON +1 00 r-<N

X

CN

+1 o

00 CN

en o i—i

+1 ON un un

CO

Q CO

b x

en +1

X en

en

>n +1 O *ki-CN

O

un +! oo vq

NO

oo" +1 00 r-CN

o o

c o

un o" +1 t - ; en es

NO

+1 ON NO

< u

QH CL a j

M o O S-H

> > - O

CQ CQ 5 + + . C

- D EC + g u u

^ £

100

0.00030 -

0.00025 -

0.00020 -

O.

^"0.00015-

0.00010-

0.00005 -

0.00000 -I 1 1 1 . 1 1 1 . 1 . 1 1 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05

Figura 3.3.5- Representação gráfica de Kapp = f(CD) para o sistema CLDZ em CTAB e o melhor ajuste obtido pelo modelo de PIE.

Ambos os modelos ajustam-se bem aos pontos experimentais (ver figuras 3.3.4 e

3.3.5) e os valores obtidos para as diferentes constantes não permitem concluir qual deles

representa com mais rigor o que se passa com o CLDZ no meio micelar CTAB.

O valor muito baixo obtido para W, que neste caso representa a soma das

concentrações de OH" e B ligadas à micela, é explicado pelo facto das micelas de CTAB se

ligarem mais fortemente aos seus contra-iões que a OH" ou B, tornando válida a suposição

que a concentração de OH" e de B na superfície micelar á aproximadamente nula.24

Conclusões

O tratamento matemático efectuado às constantes de acidez aparente de CLDZ em

diferentes meios micelares, permitiu verificar que a variação dos valores das constantes com a

concentração de surfactante depende da classe do surfactante utilizado (aniónico, neutro ou

catiónico).

101

Assim, quer no meio micelar aniónico (SDS) quer no meio micelar neutro (Triton X-

100), o modelo que melhor fornece uma interpretação quantitativa da variação das constantes

de acidez aparente do CLDZ é o modelo de Berezin, que assume a partição das espécie entre

as fases aquosa e micelar.

De salientar que no caso do surfactante SDS obteve-se um melhor ajuste aos pontos

experimentais com modelo de permuta iónica (PIE). No entanto, a determinação das

constantes de ligação, não se deve limitar à resolução de um problema matemático, devendo

os valores obtidos serem analisados sob um ponto de vista químico. Deve-se portanto evitar

escolher o modelo que fornece os melhores parâmetros - até porque a introdução de mais

parâmetros pode levar a uma melhor convergência - mas sim, escolher o modelo cujos

parâmetros tenham significado químico e que fornece valores que por análise das

propriedades químicas da substância permitem concluir, neste caso, que é o modelo que

melhor descreve o que se passa com o CLDZ em meio micelar.

Comparando a magnitude dos valores das constantes de ligação da forma protonada e

neutra do clorodiazepóxido, é possível inferir que a associação da benzodiazepina às micelas

aniónicas de SDS é efectuada preferencialmente pela forma protonada do CLDZ (HCLDZ+),

enquanto que em Triton X-100 esta associação é apenas devida à forma neutra (CLDZ).

A interpretação dos resultados obtidos em CTAB é dificultada pelo facto dos dois

modelos matemáticos obterem bons ajustes aos pontos experimentais, como se pode verificar

pelos gráficos Kapp=f(Co). Para uma melhor interpretação dos valores determinados será

necessário efectuar outros estudos, que permitam afirmar qual dos modelos expressa com

mais rigor o efeito de um meio micelar catiónico nas propriedades ácido/base do CLDZ.

102

3.4 SOLUBILIDADE DO CLDZ EM SOLUÇÕES AQUOSAS E MICELARES

Numa tentativa de entender a relação propriedades químicas/actividade farmacológica

de uma droga, têm sido deduzidas várias equações matemáticas que incluem parâmetros que

traduzem as propriedades físico-químicas dessas drogas.

Os parâmetros de solubilidade medem a interacção entre as drogas e as regiões

hidrofóbicas de macromoléculas e permitem interpretar, por um lado, o transporte das drogas

desde a sua administração até ao local de acção, por outro, a possibilidade de existirem

interacções entre as drogas e as regiões hidrofóbicas dos meios onde se encontram.

Execução Experimental

Os ensaios realizados para a determinação da solubilidade, foram efectuados

dispersando um excesso de CLDZ em 25 ml de solução aquosa e em soluções dos

surfactantes SDS (4,0 x IO'4, 8,0 x IO"4, 4,0 x IO"3, 1,0 x 10"2M), Triton X-100 (1,0 x 10"3,

4,0 x 10"3, 7,0 x 10"3, 1,0 x 10"2M) e CTAB (4,0 x 10"3, 7,0 x 10"3, 1,0 x 10"2 M). Todas as

soluções tinham força iónica ajustada a 0,1 M em NaCl e pH fixo (pH = 3 ou pH = 9).

Para assegurar a dissolução do CLDZ, mantiveram-se todas as soluções em

observação durante 48h, à temperatura de 25°C. Durante este período de tempo o valor de pH

foi controlado, pela adição de quantidades vestigiais de ácido clorídrico concentrado até

pH = 3 nas soluções acidificadas e de quantidades vestigiais de hidróxido de sódio

concentrado até pH = 9 nas soluções alcalinas.

Obtiveram-se soluções saturadas límpidas por filtração, utilizando filtros de marca

Macherey- Nagel referência 72900, de 25 mm, com 0,45 um de poro. Estas soluções foram

posteriormente diluídas de forma apropriada no solvente contendo a mesma concentração de

surfactante em estudo e força iónica ajustada com NaCl 0,1M.

103

O ajuste final de -loglH+l das soluções amostra e das soluções padrão com

concentração conhecida de clorodiazepóxido para a construção da recta de calibração foi

efectuado como mencionado atrás por adição de quantidades vestigiais de ácido forte ou base

forte, utilizando os parâmetros de calibração do eléctrodo de vidro obtidos pelo método de

Gran a partir de uma titulação de ácido forte/base forte. A calibração do sistema de titulação

utilizado foi efectuada como descrito no capítulo 2.

A concentração máxima de CLDZ dissolvido nas soluções saturadas em estudo

(solubilidade) foi determinada por espectrofotometria de ultravioleta/visível, ao comprimento

de onda de absorvância máxima. As determinações espectrofotométricas foram efectuadas

como descrito no capítulo 2.

Foi realizada uma recta de calibração em cada dia em que se determinaram

concentrações de clorodiazepóxido.

O efeito da solubilização da forma protonada e da forma não protonada do CLDZ em

soluções micelares foi avaliado pela representação gráfica da equação 1.8 ou da equação 1.10

descritas na secção 1.3 do capítulo 1. A partir da relação linear obtida foi possível determinar

as constantes de ligação do CLDZ às micelas.

Resultados Obtidos e sua Discussão

O aumento de solubilidade de compostos em meios micelares é normalmente atribuído

à distribuição de espécies não iónicas na pseudofase micelar e ao aparente aumento da

ionização destes compostos. Com o objectivo de diferenciar as duas contribuições foram

determinadas as solubilidades do CLDZ em solução aquosa e em soluções micelares a pH

ácido e a pH básico.

Os valores da solubilidade do clorodiazepóxido obtidos a pH=3 e a pH=9, permitiram

calcular a constante de ligação da forma protonada (KHB+) e da forma desprotonada (KB) do

CLDZ às micelas, respectivamente.

104

A) CLDZ em água

Para a aplicação da equação matemática que permite obter as constantes de ligação é

necessário utilizar o valor da solubilidade do clorodiazepóxido em meio aquoso (Sw), que foi

necessariamente obtido ao mesmo valor de pH.

Na tabela 3.4.1 encontram-se os valores obtidos no estudo da solubilidade do CLDZ

em meio aquoso a pH=3 e a pH=9.

Tabela 3.4.1- Solubilidade do CLDZ em meio aquoso a pH=3 e a pH= 9, a 25°C.

pH Solubilidade de CLDZ em água (M)

3 1,14 x IO"3

9 3,16 x IO"4

B) CLDZ em SDS

Os resultados obtidos no estudo da solubilidade do clorodiazepóxido no meio micelar

aniónico SDS encontram-se na tabela 3.4.2. Como se pode verificar, este estudo foi apenas

efectuado a pH=9, uma vez que a pH ácido ocorria a formação de um precipitado branco,

devido à interacção detectada aquando do estudo espectrofotométrico do CLDZ em SDS (ver

secção 3.1).

Tabela 3.4.2- Efeito do sistema micelar SDS na solubilidade do CLDZ, a 25°C

Concentração de SDS (M) Solubilidade de CLDZ a pH=9 (M) 4,0 x IO"4 3,21 x IO"4

8,0 x IO"4 4,76 x IO"4

4,0 x IO"3 9,68 x IO"4

1,0 x IO"2 2,04 x 10"3

Na figura 3.4.1 está representado o gráfico dos valores obtidos em função da

concentração de SDS, a partir do qual facilmente se confirma que o valor da solubilidade do

CLDZ em soluções micelares com concentração abaixo da cmc é idêntico ao valor da

solubilidade do CLDZ em água, aumentando depois com o aumento da concentração de SDS.

105

cmc ■

1 1 ; 1 1 1 1 1 1 1 1 1 D00 0.002 0.004 0.006 0.008 0.010

Concentração de SDS (M)

Figura 3.4.1- Representação gráfica da variação da solubilidade do CLDZ em função da concentração de SDS a pH=9.

De modo a avaliar a interacção entre o CLDZ e as micelas de SDS, efectuou-se o

tratamento matemático, relacionando Sm/Sw com CD, segundo a equação 1.8, em que se obtém

uma relação linear, com a ordenada na origem igual a l e cujo declive é a constante de

ligação.

No estudo da solubilidade do clorodiazepóxido em SDS, a recta obtida por regressão

linear apresenta a equação y = 1,6 + 565x e tem um coeficiente de correlação igual a 0,9988.

O valor da constante de ligação da forma neutra do CLDZ às micelas aniónicas de

SDS determinado a partir do estudo de solubilidade (KB.= 565) é concordante com o obtido

pelo método de Berezin na secção 3.3.

C) CLDZ em Triton X-100

Os resultados obtidos no estudo da solubilidade do clorodiazepóxido no meio micelar

neutro Triton X-100, quer a pH ácido quer a pH básico encontram-se registados na tabela

3.4.3.

0.0022 -Ç 0.0020 -N 0.0018-

Q t-j 0.0016-

•O 0.0014-

S 0.0012-

'£ v^ 0.0010-i° 0.0008 -o* ê 0.0006 -c | 0.0004 -o O 0.0002 -

106

Tabela 3.4.3- Efeito do sistema micelar Triton X-100 na solubilidade do CLDZ, a 25°C

Concentração de

Triton X-100 (M)

Solubilidade de CLDZ a

pH=3 (M)

Solubilidade de CLDZ a

pH=9 (M)

1,0x10"

4,0 x 10"

7,0 x 10"

1,0 x 10":

1,58x10"

1,59x10"

1,61 x 10

1,62x10"

.-3

5,32 x 10"4

7,87 x IO"4

1,05 x 10"3

1,35 x 10"3

Na figura 3.4.2, encontra-se a representação gráfica dos valores obtidos com as

soluções ácidas (espécie protonada) e com as soluções alcalinas (espécie desprotonada) em

função da concentração de Triton X-100.

Como se pode verificar, apesar do CLDZ ser mais solúvel em meios ácidos, a variação

da solubilidade a pH=3 é insignificante, enquanto que para pH alcalino o valor da

solubilidade aumenta visivelmente com a concentração de surfactante.

0.0017 0.0016-

_ 0.0015-&. 0.0014 H ^ 0.0013 H 0.0012 «3 0.0011 H s 0.001 o-Í E •§ 0.0009 g 0.0008-1° 0.0007-2 0.0006-§ 0.0005 o g 0.0004-U 0.0003 -

0.0002 0.000 0.002 0.004 0.006 0.008

Concentração de Triton X-100 (M) 0.010

Figura 3.4.2- Representação gráfica da variação da solubilidade do CLDZ em função da concentração de Triton X-100 a pH=3 (quadrados) e a pH=9 (círculos).

107

Na aplicação da equação 1.8 ao estudo do efeito do sistema micelar Triton X-100 na

solubilidade do CLDZ a pH ácido e a pH alcalino, obtiveram-se relações lineares com as

seguintes equações de recta:

A relação linear obtida para a forma protonada do CLDZ apresenta a equação da

recta y = 1,3 + 4,0 lx e tem um coeficiente de correlação igual a 0,9975.

A forma neutra ou desprotonada do CLDZ apresenta uma relação linear com uma

equação de recta y= 1,4 + 284x e com um coeficiente de correlação igual a 0,9993.

Os valores da constante de ligação da forma protonada (KHB+ = 4,01) e da forma

neutra (KB = 284) do CLDZ às micelas, determinados a partir deste estudo, são concordantes

com os obtidos pelo método de Berezin a partir da variação das constantes de acidez.

D) CLDZ em CTAB

Os resultados obtidos no estudo da solubilidade do clorodiazepóxido no meio micelar

catiónico CTAB, quer a pH ácido quer a pH básico encontram-se registados na tabela 3.4.4.

Tabela 3.4.4- Efeito do sistema micelar CTAB na solubilidade do CLDZ, a 25°C

Solubilidade de CLDZ a Solubilidade de CLDZ a Concentração de CTAB (M)

pH=3(M) pH=9(M)

4,0 x IO-3 1,34 x 10"̂ 3,68 x IO-4

7,0 x 10"3 1,35 x IO"3 7,14 x IO"4

1,0 x IO"2 1,36 x 10"3 1,03 x 10"3

Na figura 3.4.3 encontra-se a representação gráfica dos valores de solubilidade obtidos

com as soluções ácidas (espécie protonada) e com as soluções alcalinas (espécie

desprotonada) em função da concentração de CTAB.

108

—a ^ m ■

Ç 0.0012-n^^

N Q H 0.0010-

-O ^.9

es S 0.0008-

e J*

,8 0.0006-o CS ^ * c y 0.0004-

^ * —m— PH=3

c o U •"-""'^ —•— PH=9 c o U •"-""'^

i ■ 1 i ■ i i ' i 0.000 0.002 0.004 0.006 0.008

Concentração de CTAB (M) 0.010

Figura 3.4.3- Representação gráfica da variação da solubilidade do CLDZ em função da concentração de CTAB a pH=3 (quadrados) e a pH=9 (círculos).

Analisando o gráfico, verifica-se que a solubilidade do CLDZ em meios ácidos é

nitidamente superior em solução micelar do que em solução aquosa. No entanto, o valor da

solubilidade não é influenciado pela quantidade de micelas, uma vez que o aumento de

concentração de surfactante não se traduziu no aumento do valor da concentração máxima de

clorodiazepóxido dissolvido.

Comparando os resultados obtidos a pH ácido com os obtidos a pH alcalino, observa-

se que, à semelhança do ocorrido em meio micelar neutro, apesar do clorodiazepóxido ser

mais solúvel em meios ácidos, é para pH alcalino que o valor da solubilidade aumenta

significativamente com o aumento da concentração de surfactante.

De modo a avaliar a interacção entre a droga e as micelas catiónicas de CTAB,

efectuou-se o tratamento matemático, relacionando Sm/Sw com CD-

A recta obtida por regressão linear para a forma protonada do CLDZ apresenta a

equação da recta y = 1,1 + 2,95x e tem um coeficiente de correlação igual a 0,99999.

A forma neutra ou desprotonada do CLDZ apresenta uma relação linear com uma

equação de recta y= 0,9 + 219x e com um coeficiente de correlação igual a 1.

109

Os valores da constante de ligação da forma protonada e da forma neutra do CLDZ às

micelas determinados a partir deste estudo são portanto, KHB+ = 2,95 e KB = 219,

respectivamente. Estes resultados são concordantes com os obtidos no tratamento matemático

da variação das constantes de acidez aparente, utilizando o modelo de PIE que assume a troca

iónica entre as micelas de CTAB e outras espécies iónicas em solução.

Conclusões

Os resultados obtidos neste estudo da solubilidade do clorodiazepóxido, encontram-se

resumidos na tabela 3.4.5, a partir da qual facilmente se verifica que os valores encontrados

para as constantes de ligação são todos concordantes com os obtidos no estudo das constantes

de acidez.

Tabela 3.4.5- Constantes de ligação da forma protonada (KHB+) e desprotonada (KB) do clorodiazepóxido às micelas determinadas a partir de estudos de solubilidade

Surfactante KHB KB

SDS 565 ± 20

Triton X-100 4,01 ±0,20 284 ± 7

CTAB 2,95 + 0,10 219 ± 1

Assim, o estudo da solubilidade vem corroborar os estudos anteriores e comprovar que

a interacção entre o CLDZ e as micelas ocorre preferencialmente pela forma protonada do

CLDZ no caso do surfactante SDS e pela forma neutra do CLDZ nos meios micelares Triton

X-100 eCTAB.

CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

I l l

A avaliação das propriedades ácido/base conjuntamente com a solubilidade do CLDZ

em diferentes meios micelares, permitiu verificar o tipo de interacções (hidrofóbicas ou

electrostáticas) deste fármaco em meios organizados.

Do trabalho realizado há que realçar o facto de que os estudos efectuados interpretados

individualmente apenas mostram a possibilidade de ocorrência de uma interacção, havendo

necessidade de os comparar entre si para se poder afirmar de uma forma conclusiva a natureza

dessa interacção.

A obtenção dos espectros do CLDZ nos diferentes meios a pH controlado, apenas

permitiu verificar a probabilidade de ocorrer uma interacção entre a benzodiazepina e os

surfactantes, e que essa interacção seria de natureza diferente.

Assim, em soluções de SDS abaixo da cmc, o facto dos espectros obtidos a pH ácido

exibirem uma diminuição significativa das absorvâncias relativamente às obtidas nas restantes

soluções indica que existe uma interacção entre o CLDZ e os monómeros de SDS que ocorre

preferencialmente com a forma protonada da benzodiazepina (HCLDZ+). Observou-se ainda a

possibilidade de haver uma interacção com os monómeros de CTAB a pH ácido e com os

monómeros de Triton X-100 a pH básico. Relativamente à possibilidade de uma interacção do

CLDZ com as micelas dos surfactantes (concentrações de surfactante acima da cmc),

observou-se um desvio batocrómico do comprimento de onda de absortividade molar máxima

nos espectros obtidos em CTAB, que comprova essa possibilidade.

Como o CLDZ tem características ácido/base, optou-se por determinar as constantes

de acidez nos diferentes meios micelares, com vista a analisar a variação dos valores obtidos

ao passar de um meio aquoso para um meio micelar.

Nesta análise das propriedades ácido-base do CLDZ em meios micelares, verificou-se

uma variação dos valores das constantes de acidez concordante com o previsto (ver secção

1.4) para ácidos catiónicos, isto é, uma diminuição das características ácidas em meios

aniónicos e uma aumento das características ácidas em meios neutros e catiónicos.

Esta observação significa que meios micelares aniónicos favorecem a forma protonada

do CLDZ (deslocam o equilíbrio para a esquerda), o que pode advir da existências de uma

interacção entre a forma protonada e o grupo aniónico das micelas. Em meios neutros e

catiónicos o aumento da ionização (deslocamento do equilíbrio para a direita) será devida

respectivamente à associação da espécie neutra do CLDZ às micelas e à repulsão

electrostática entre o grupo catiónico das micelas e a forma protonada do CLDZ.

112

De salientar ainda que a variação dos valores das constantes de acidez ao passar de um

meio aquoso para um meio micelar (=1) foi semelhante para os três surfactantes o que está de

acordo com o já verificado para outras benzodiazepinas.67

A análise dos resultados obtidos neste estudo, por aplicação de modelos matemáticos,

permitiu calcular as diferentes constantes de associação entre o CLDZ e as micelas dos

diferentes surfactantes.

Neste tratamento optou-se pela utilização de dois dos modelos mais usados, modelo de

Berezin e o modelo PIE, que assumem respectivamente, como já foi referido, a distribuição

das várias substâncias entre a fase micelar e aquosa e a existência de permuta iónica entre as

espécies iónicas em solução e o contra-ião do surfactante.

De salientar, que encontram-se publicados outros tratamentos matemáticos, todos eles

baseados na formação da pseudofase micelar, como por exemplo o modelo de Fernandez e

Fromherz73. Este modelo assume que a polaridade da interface micelar é idêntica para todos

os surfactantes e o surfactante neutro é usado como "avaliador" dos efeitos da superfície polar

dos surfactantes iónicos nas constantes de acidez. Este tipo de modelo não é aplicável aos

resultados obtidos nesta dissertação, uma vez que o valor determinado das constantes de

acidez nos meios Triton X-100 e CTAB são semelhantes.

Comparando a magnitude dos valores das constantes de ligação da forma protonada e

neutra do clorodiazepóxido, é possível inferir que a associação da benzodiazepina às micelas

aniónicas de SDS é efectuada preferencialmente pela forma protonada do CLDZ (HCLDZ+),

enquanto que em Triton X-100 esta associação é apenas devida à forma neutra (CLDZ).

A interpretação dos resultados obtidos em CTAB é dificultada pelo facto dos dois

modelos matemáticos obterem bons ajustes aos pontos experimentais, como se pode verificar

pelos gráficos Kapp=f(CD). Para uma melhor interpretação dos valores determinados foi

necessário recorrer a outros estudos.

Relativamente ao tratamento matemático realizado, é de salientar que a determinação

de constantes de ligação através destes modelos não se deve limitar à resolução de um

problema matemático, devendo os valores obtidos serem analisados sob um ponto de vista

químico. Deve-se portanto evitar escolher o modelo que fornece os melhores parâmetros

estatísticos, até porque desta forma o modelo escolhido seria invariavelmente o modelo PIE,

uma vez que quanto maior for o número de parâmetros introduzidos mais convergente é o

método, mas sim escolher o modelo cujos parâmetros tenham significado químico e que

forneça valores que por análise das propriedades químicas da substância permitam concluir

que é o modelo que melhor descreve o que se passa com o CLDZ em meio micelar. Desta

113

forma, por vezes é necessário efectuar outros estudos para confirmar qual o modelo mais

fiável, tal como aconteceu no caso do CTAB, em que os dois modelos aplicados eram

considerados válidos, mesmo com o valor muito baixo obtido para a soma das concentrações

de OH" e B ligadas às micelas, uma vez que este valor pode ser considerado aproximadamente

nulo pelo facto das micelas de CTAB se ligarem mais fortemente aos seus contra-iões que a

OH'eB.

O último estudo realizado foi o estudo de solubilidade do CLDZ nos diferentes meios

e teve como objectivo determinar por outro método as constantes de ligação e o tipo de

interacções da benzodiazepina às micelas.

Os resultados obtidos permitiram verificar o aumento da solubilidade do CLDZ em

meios micelares relativamente ao meio aquoso, como esperado e que os valores das

constantes de ligação determinados por este estudo são concordantes, a menos do erro

experimental, com os obtido no estudo das propriedades ácido-base.

Assim, após a análise de todos os estudos efectuados. Verifica-se que:

O fármaco CLDZ- um ácido catiónico- na presença de micelas aniónicas diminui

as sua características ácidas devido à interacção electrostática com a forma

protonada do CLDZ

Em meios micelares neutros a interacção é apenas devida à forma neutra do CLDZ

que se distribui pelas fases aquosa e micelar

Na presença de micelas catiónicas o CLDZ aumenta as suas características ácidas.

Os valores determinados das constantes de acidez aparente do CLDZ em

Triton X-100 e em CTAB são semelhantes, o que indica um tipo de interacção

com o CLDZ também semelhante, neste caso uma interacção preferencialmente

hidrofóbica.

CAPITULO 5

BIBLIOGRAFIA

115

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APÊNDICES

i

122

APÊNDICE A

PROPRIEDADES FARMACOCINÉTICAS E FORMAS DE

ADMINISTRAÇÃO DO CLDZ E DO DZP

As benzodiazepinas são tranquilizantes típicos que exercem os efeitos ansiolítico,

frenador da agressividade, sedativo e corrector da tensão emocional.

Basta reparar na tabela A.l, para se verificar que a indústria tem sido extremamente activa

na produção de pequenas alterações da estrutura (referida no capítulo 1), conduzindo a uma série

de medicamentos.

Apesar de alguns compostos apresentarem pouco mais do que repetições do fármaco

padrão, existem algumas indicações selectivas fora do campo do tratamento da ansiedade (1),

nomeadamente na insónia (2), na epilepsia (3) e no período que antecede a anestesia geral (4).

TABELA A.l: PRINCIPAIS BENZODIAZEPINAS

1- Usadas sobretudo como tranquilizantes

alprazolam; bromazepam; clobazam; clorazepat o; clorodesmetildiazepam; clorodiazepóxido ;

desmetildiazepam; diazepam; lorazepam; medazepam; oxazepam; prazepam

2- Usadas sobretudo como hipnóticos estazolam; flunitrazepam; flurazepam; lormetazepam; nitrazepam, quazepam; temazepam; triazolam

3- Usadas como antiepilépticos

clonazepam; diazepam; nitrazepam

4- Usadas como pré-anestésicos

diazepam; flunitrazepam; midazolam

123

Tal como acontece para quase todas as séries homólogas, as diferenças entre os diversos

tranquilizantes dizem respeito a rapidez de absorção, a duração de acção, metabolização e

intensidade de efeitos. O clorodiazepóxido e o diazepam são os que mais tempo permanecem no

organismo porque são extensamente metabolizados.

Nas tabelas A.2 e A.3 encontram-se respectivamente as propriedades farmacocinéticas e

as formas de administração e dosagem das duas benzodiazepinas utilizadas neste trabalho

Tabela A.2: Propriedades farmacocinéticas

Diazepam Clorodiazepóxido

Biodisponibilidade oral (%) 100 ±14 100

Excreção urinária (%) — <1

Ligação ao plasma (%) 98,7 + 0,2 96,5 ±1,8

Clearance (ml.min' .Kg' ) 0,38 ±0,06 0,54 ± 0,49

Volume de distribuição (l/Kg) 1,1 ±0,3 0,30 ±0,03

Tempo de semi-vida (h) 43 ±13 10 ±3.4

Concentração efectiva 300-400 ng/ml > 0,7 ug/ml

Tabela A.3: Formas de administração e dosagens

Forma de administração

Dose diária usual (mg)11

Dose máxima diária (mg)

Diazepam CAR; I; L

4-40

(2-20)

2-40

Clorodiazepóxido C;I

15-40 (25-100) 10-100

(25-300)

$ Formas de administração: C = capsula; CAR = capsulas de acção retardada; I = injecção;

L = líquido * O valor das doses diárias é o administrado na totalidade considerando 2 ou 4 porções

por dia. Entre parêntesis é a dosagem para uma única toma diária. Todas as dosagens referidas

são para adultos ou adolescentes. Par a crianças dos 6 aos 12 anos o clorodiazepóxido pode ser

administrado por via oral em doses repartidas entre 10 a 30 mg. O diazepam pode ser

administrado em doses repartidas de 3 a 10 mg a crianças acima de 6 meses de idade.

124

APÊNDICE B

REQUISITOS DA IUPAC PARA A PUBLICAÇÃO DE

CONSTANTES DE EQUILÍBRIO

Uma análise dos resultados publicados sobre constantes de equilíbrio realizada pela

IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) mostrou uma enorme divergência

no modo como estes forem obtidos e posteriormente publicados. Em muitos casos a falta da

especificação das condições experimentais utilizadas não permite tirar conclusões sobre a

fiabilidade dos resultados, o que impede a sua reprodução e utilização em estudos posteriores.

Assim sendo, a IUPAC propôs oito condições que devem ser seguidas para a

determinação de constantes de equilíbrio válidas, de que se salienta a descrição da

instrumentação usada, o método de calibração, a composição das soluções e a indicação da

temperatura a que as determinações foram realizadas.

De seguida apresentam-se os itens considerados importantes pela IUPAC e que deverão

portanto constar em qualquer publicação que contenha resultados de constantes de equilíbrio:55

1. A pureza dos reagentes e solventes, e o procedimento seguido para a sua purificação.

2. A composição das soluções, especialmente a força iónica, e outros factores relevantes,

incluindo a gama de concentrações dos metais e ligandos investigados. Para sistemas

de solventes mistos deve ser definida a composição do solvente.

3. Quando se adequar, a zona de pH utilizada nas medições, o titulante utilizado e o

valor assumido para Kw.

125

4. A instrumentação utilizada no estudo experimental (por exemplo: decimilivoltímetro,

eléctrodos, espectrofotómetro, etc.) e uma descrição explícita do método de

calibração.

5. A temperatura e o intervalo de temperaturas abrangidas.

6. O número de pontos experimentais registados numa titulação e o número de ensaios

independentes efectuados.

7. O programa computacional ou qualquer outro método de cálculo utilizado para obter

os resultados finais a partir dos dados experimentais e a respectiva referência da

literatura.

8. O desvio padrão do resultado final e o método utilizado para estabelecer este

parâmetro.

126

APÊNDICE C

ESTUDO ESPECTROFOTOMÉTRICO DAS PROPRIEDADES

ÁCIDO-BASE DO DIAZEPAM

Efectuou-se o estudo de outra benzodiazepina utilizada como ansíolitico, o diazepam

(DZP), em soluções do surfactante aniónico SDS.

Neste estudo utilizou-se concentrações de surfactante acima e abaixo da cmc, com o

intuito de verificar a existência de uma interacção dos monómeros de SDS e o diazepam,

tendo-se determinado também as constantes de acidez aparente do DZP em SDS.

C l . ESPECTROS DO DZP EM SOLUÇÕES AQUOSAS DE SDS ABAIXO E ACIMA DA

CMC

O estudo foi efectuado por espectrofotometria de ultravioleta-visível, utilizando-se

para o traçado dos espectros soluções de DZP («5x IO"5 M) com força iónica ajustada a 0,1M

em NaCl, na ausência e na presença do surfactante aniónico SDS, a concentrações abaixo e

acima da cmc (ISDSI= 4,0 x IO"4; 8,0 x IO"4; 0,01; 0,05 M).

A execução experimental foi realizada como no estudo anterior com uma única

excepção, a zona espectral abrangida foi neste caso de 210 a 450 nm.

Os resultados obtidos neste estudo encontram-se representados nas figuras c. 1 e c.2.

127

J

30000 -»

25000

20000-

g 15000-

^3 4 10000

5000

450 x.(nm)

Figura Cl - DZP em água (preto), em SDS abaixo da cmc (vermelho) e em SDS acima da cmc (verde), a pH=3.

o 1 5 0 0 0

T3 (0

:> 10000 o <fí < 5000

450 X(nm)

Figura C.2- DZP em água (preto), em SDS abaixo da cmc (vermelho) e em SDS acima da cmc (verde), a pH=9.

128

Analisando os espectros, verifica-se que quer a pH ácido quer a básico a absortividade

molar das soluções em SDS são sempre superiores à da solução de DZP em água (com

I=0,lMemNaCl).

Este estudo revelou ainda que para as soluções a pH ácido se verifica um ligeiro

deslocamento da banda correspondente à transição electrónica de maior energia (tabela C l ) ,

o que indica a possibilidade de haver uma interacção entre as micelas e o DZP, uma vez que o

comprimento de onda de absortividade molar máxima é deslocado com o aumento da

quantidade de SDS em solução.

Tabela C l - Valores dos comprimentos de onda máximo (À,max) de DZP em água e em

SDS, a pH=3

Meio A-max (nm)

H20

SDS

236

240

282

285

357

360

C.2 C O N S T A N T E S D E A C I D E Z A P A R E N T E D O DIAZEPAM E M S O L U Ç Õ E S D E SDS

Para uma melhor interpretação dos resultados obtidos anteriormente, determinaram-se

as constantes de acidez do DZP em SDS. O procedimento experimental é idêntico ao estudo

anterior.

Na tabela C2 encontram-se registados os valores médios das constantes de acidez

aparente do diazepam em dodecilsulfato de sódio 4,0 x IO"4, 8,0 x IO"4, 9,0 x IO"4, 1,0 x 10"3,

2,0 x 10"3, 4,0 x 10"3 e 0,01 M.

Na figura C.3 encontra-se ilustrado a forma como o pKapp do diazepam varia com a

concentração de SDS, verificando-se assim que a constante de acidez não varia

significativamente até SDS 8,0 x IO"4 M, voltando a ser aproximadamente constante para

valores mais elevados de concentração de SDS (a partir de 1,0 x 10"3 M).

129

Tabela C.2- Constantes de acidez aparente do DZP em SDS; ( I = 0,1 M; t = 25°C) Cone. de SDS (mol MmJ) pK app

0

4,0 x 10"'

8,0 x 10

9,0 x 10"'

1,0 x 10"

2,0 x 10*

4,0 x 10

0,01

-4

-3

3,57 ±0,06

3,53 ± 0,02

3,57 ±0,04

3,72 ± 0,03

3,93 ± 0,04

3,96 ± 0,03

3,98 ± 0,04

4,01 ±0,01

"< r 0.000 0.002 0.004

, ! 1 ! , 1-

0.006 0.008 0.010

Concentração de SDS (mol/ dm )

Figura C.3-Representação gráfica da variação do pKapp de DZP com a concentração de

SDS.

O espectro de ultravioleta/visível obtido para o diazepam em SDS encontra-se na

figura C.4, e mostra o tipo de espectro que se obtém para o DZP quando se varia -logl H+l

130

"5 ã o

250

À.(nm) 450

Figura C.4- Representação da absorvância em função do comprimento de onda para soluções de DZP em SDS a diferente pH.

Na tabela C.3 apresentam-se os valores dos comprimentos de onda máximo (Xmax) e

das absortividades molares médias do DZP em SDS obtidos neste trabalho, em que BBH+ é a

absortividade molar da espécie protonada e 6B a absortividade molar da espécie neutra.

Tabela C.3- Valores dos comprimentos de onda máximo (km™) e das absortividades

molares de DZP em SDS

HDZP+ DZP

Xmax (nm) eBH+(xl(r4]vrcnr) -4-K/rl -K Jimax (nm) sB(xlO M* cm" )

240

285

360

2,2

1,1 0,3

230

250(s)

315

3,2

1,5

0,2

131

As absortividades molares do DZP, obtidas neste trabalho são da ordem de grandeza

das descritas na bibliografia para meio mistos água/etanol ou água/ metanol,9 como se pode

verificar na tabela C.4.

Tabela C.4- Valores dos comprimentos de onda máximo (kmax) e das absortividades

molares de DZP em meios mistos

HDZP+ DZP

^max (nm) £BH+(X 10"4M" cm" l) À,max (nm) £B(X lO^M-'cm"1)

241 2,8 231 3,3

286 1,3 253(s) 1,7

360 0,4 310 0,2

C.3 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos para as constantes de acidez do diazepam em SDS sugerem que

a concentração micelar crítica do SDS na presença do DZP é diferente da cmc do SDS em

NaCl 0,1 M cujo valor é 1,4 x 10"3 M, uma vez que a constante de acidez do DZP em água,

descrita na bibliografia (pKa=3,57 ± 0,06) é semelhante às constantes de acidez em SDS

obtidas para as concentrações de surfactante mais baixas (4,0 x 10" e 8,0 x 10" M), mas

diferente da obtida para SDS 9,0 x IO"4 M.

Assim, verifica-se que abaixo da cmc o pKapp tem um valor único e idêntico, a menos

do erro experimental, ao pKa da água e acima da cmc o pKapp é também aproximadamente

independente do valor da concentração de SDS e apresenta um valor maior.

Numa primeira análise, estes resultados sugerem a existência de uma interacção entre

a forma protonada do diazepam (HDZP+) e o SDS, que faz diminuir as repulsões

electrostáticas entre os grupos polares do SDS, o que por sua vez provoca a diminuição da

concentração micelar crítica.

O aumento do pKapp dever-se-á à estabilização da forma protonada do DZP, por

formação de um par iónico ou de uma ligação de hidrogénio com o grupo sulfato do SDS.

Este tipo de interacções provoca normalmente um desvio batocrómico do Àmax , e aumento das

absortividades molares, o que se verifica para estes resultados experimentais.

ERRATA

ágina linha onde se lê deve ler-se 8 1 5-fenil-1,4-benzodiazepina-2-ona 5-fenil-1.4-benzodiazepina

19 5 e legenda da

figura n° 1.1 5-fenil-1,4-benzodiazepina-2-ona 5-fenil-1,4-benzodiazepina

39 eq. 1.14 IHBIb + IHBIf !HB+Ib + IHB+If

45 22 AG=-RTlnK AG°=-RTlnK 51 2. 18 25 ±0,1 25,0 ±0,1 55 13 gases reais gases ideais 57 23 A= -Ve l o ^ ' 3 0 3 ^ A- -CbVe l O ^ 3 0 3 ^ 94 16 517 ±97,8 517 ±98 96 18 192 ± 9,43 e-6 ,24 ±0,978 192 ± 9 e - 6,24 ±0,98 98 4 818 ± 53,9 e 26,7 ±4,58 818 ± 54 e 26,7 ±4,6 99 5 278 ±93,9.... I,33xl04±652 278 ±94... . I,33xl04±6,52xl02

99 6 278 ± 8,46 278 ±8 99 7 23,7 ±7,57 ...240 ±51,3 23,7 ±7,6 ...240 ±51