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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 Fotografia Poética ou Estetização da Pobreza? 1 Roselita Lopes de Almeida Freitas ESPM - SP Resumo Filmes sobre a favela brasileira estão na moda, dão audiência. Para a quem nunca foi à uma favela, há uma certa curiosidade em ver como é a casa dessas pessoas. Como eles tomam banho, comem dormem e assistem televisão em barracos de madeira? O que acontece quando chove? Tem água encanada? E esgoto? Tem trabalhador? Tem bandido? Como são as relações interpessoais? Para o público estrangeiro ao Brasil, então - é certeza a curiosidade. Há um voyeurismo nem sempre saciado, quando a informação vem do cinema ou da TV. A favela dos filmes é fotograficamente bonita, as pessoas são bonitas e o bandido quase sempre morre no final. A justiça reina neste universo. O céu é azul, o esgoto não tem cheiro ruim; não tem gente com pele ou cabelo fora do padrão das revistas internacionais de beleza e, nenhum ou poucos - são desdentados. Cria-se uma favela filmicamente maquiada, apresentável. Este artigo busca organizar um panorama sobre os filmes brasileiros que têm como temática principal a favela e pretende ainda discutir a função social destes filmes. Palavras-chave Favela; Exclusão; Cinema Brasileiro; Cinematografia; Linguagem Introdução Este estudo pretende analisar o olhar transmitidos por cineastas que se inspiram nas comunidades brasileiras, ditas “favelas” – para a produção de suas obras e o resultado obtido. A questão que nos instiga é a realidade do dia a dia e o que é poeticamente mostrado pelas lentes hábeis de fotógrafos em seus filmes. Sabemos o quão dura é a realidade de quem mora nessas comunidades, no que diz respeito às condições mínimas de qualidade de vida e sobrevivência, como também nos rótulos e estereótipos aplicados aos “favelados”. Hoje, em 2016, o preconceitos com esses moradores de comunidades ainda existe e se mostra cada vez mais complexo, dadas as nuances que o mundo digital permite. Se por um lado, todos temos mais acesso às informações do mundo que nos cerca, paralelamente a esse processo, absorvemos também vários desejos, que às vezes, não são legitimamente nossos. Os apreendemos, quase que por osmose, sem filtro intelectual. 1 Trabalho apresentado no GP Cinema, XVI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

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Fotografia Poética ou Estetização da Pobreza?1

Roselita Lopes de Almeida Freitas

ESPM - SP Resumo Filmes sobre a favela brasileira estão na moda, dão audiência. Para a quem nunca foi à uma favela, há uma certa curiosidade em ver como é a casa dessas pessoas. Como eles tomam banho, comem dormem e assistem televisão em barracos de madeira? O que acontece quando chove? Tem água encanada? E esgoto? Tem trabalhador? Tem bandido? Como são as relações interpessoais? Para o público estrangeiro ao Brasil, então - é certeza a curiosidade. Há um voyeurismo nem sempre saciado, quando a informação vem do cinema ou da TV. A favela dos filmes é fotograficamente bonita, as pessoas são bonitas e o bandido quase sempre morre no final. A justiça reina neste universo. O céu é azul, o esgoto não tem cheiro ruim; não tem gente com pele ou cabelo fora do padrão das revistas internacionais de beleza e, nenhum ou poucos - são desdentados. Cria-se uma favela filmicamente maquiada, apresentável. Este artigo busca organizar um panorama sobre os filmes brasileiros que têm como temática principal a favela e pretende ainda discutir a função social destes filmes. Palavras-chave Favela; Exclusão; Cinema Brasileiro; Cinematografia; Linguagem

Introdução

Este estudo pretende analisar o olhar transmitidos por cineastas que se inspiram nas

comunidades brasileiras, ditas “favelas” – para a produção de suas obras e o resultado

obtido. A questão que nos instiga é a realidade do dia a dia e o que é poeticamente mostrado

pelas lentes hábeis de fotógrafos em seus filmes.

Sabemos o quão dura é a realidade de quem mora nessas comunidades, no que diz respeito

às condições mínimas de qualidade de vida e sobrevivência, como também nos rótulos e

estereótipos aplicados aos “favelados”. Hoje, em 2016, o preconceitos com esses moradores

de comunidades ainda existe e se mostra cada vez mais complexo, dadas as nuances que o

mundo digital permite.

Se por um lado, todos temos mais acesso às informações do mundo que nos cerca,

paralelamente a esse processo, absorvemos também vários desejos, que às vezes, não são

legitimamente nossos. Os apreendemos, quase que por osmose, sem filtro intelectual.

1 Trabalho apresentado no GP Cinema, XVI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

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Fruto da globalização com o apoio da internet, iniciamos uma busca infinita pelo consumo

desenfreado, a cultura rasa e inútil de conteúdos e eventos que pouco ou nada agregam à

produção, seleção e construção de sentido.

O cinema de favela mostra então ao mundo, uma caricatura de pessoas faveladas. Há o

nivelamento estético que só o cinema consegue. Agradável aos olhos, doido ao coração,

porém muitas vezes distante da realidade. O sujeito da favela nos filmes está à parte da

própria cidade onde vive, como se este vivesse numa ilha metropolitana, estigmatizado e

estereotipado.

A favela que se mostra é de certa forma um reforço à imagem da pessoa decadente, sem

estudo, usuária de drogas lícitas e ilícitas, e, muitas vezes – mal caráter. Ocorre, que para

quem não conhece a realidade de uma comunidade brasileira, dita "Favela" - há uma

linearização desses sujeitos, que nem sempre se reconhecem no que vêem.

Há nestes gêneros de filmes, quase que uma estetização da pobreza, como em Estamira de

Marcos Prado e produzido por José Padilha em 2005. O crítico Alexandre Werneck aponta

a dureza do contexto que se torna sedutor do ponto de vista de um fotógrafo:

A vontade de poesia visual de seu diretor - um fotógrafo de origem - impõe ao filme uma forte enciclopédia de clichês imagéticos, o que, por vezes, acaba por desviar a obra de suas mais fortes potencialidades. O desejo de fazer um documentário sociologizante - um dos elementos de origem do projeto, que nasceu de um ensaio fotográfico do diretor no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho - por vezes se sobrepõe à mecânica de construção do próprio filme e acaba por recair em um sistema de glamourização do sofrimento e de estetização da pobreza que se tornaram standards (veja-se, por exemplo, o uso dos planos em preto-e-branco do final de Diário de motocicleta, de Walter Salles). Isso faz com se tenha que se deparar com trocas de bitola e formato, ângulos “desafiadores” e imagens de conteúdo “expressivo” (como o plano que faz dialogarem no céu sacos plástico ao vento e urubus ou as imagens do lixo sendo deitado fora de um caminhão, aguardado pelos catadores). E tudo isso é acompanhado por música grandiloqüente, por vezes com uma inclinação new age, por outras com exageros sinfônicos.(WERNECK, 2013, p. 03)

Este trabalho se utilizará da leitura de linguagem e em parte, da análise do discurso como

metodologia, no sentido de estudar as materialidades dos roteiros dos filmes e suas

implicações visuais e sonoras na formação dos sentido.

O Objeto

Favela Movie é o termo utilizado por críticos de cinema e jornalistas para designar filmes

em que a favela é o cenário principal, quer seja no sentido geográfico ou conceitual.

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Normalmente nestes filmes os temas abordados são drogas, violência e desigualdade social.

Há também casos em que o foco principal permeia o samba, o carnaval ou um amor, mas o

fato da reincidência do cenário, acabou por criar a atribuição do vocábulo definindo um

gênero cinematográfico genuinamente brasileiro.

Antes de iniciarmos sobre o nome composto: Favela Movies - tentemos entender a origem

do adjetivo.

Segundo o dicionário Michaelis, a palavra favela significa: "…1 Aglomeração de casebres ou

choupanas toscamente construídas e desprovidas de condições higiênicas. 2 Bot Planta das

caatingas nordestinas (Jatropaphyllacantha). F.-branca: planta leguminosa-mimosácea

(Enterolobiumellipticum); brinco-de-sagui, orelha-de-negro."

O vocábulo “Favela” surgiu ligado a um grande clássico da literatura brasileira: “ O Sertão”

de Euclides da Cunha2.

Publicado em 1902, o texto trata da guerra de Canudos, que se deu entre 1896 / 97.

Euclides descreve em sua obra, a região do sertão da Bahia - o assentamento dos fiéis de

Antonio Conselheiro, o beato - indicando “…um morro, o da Favela, em torno de larga

planura ondeante onde se erigia o arraial de Canudos...”. O autor esclarece que o nome do

morro deve-se a uma planta muito comum na região – as “favelas”- , “...anônimas ainda na

ciência – ignoradas dos sábios, conhecidas demais pelos tabaréus…”.

A tal planta seria a Jatrophaphyllacantha, um tipo de arbusto, que possui flores brancas.

Seu fruto é no formato de uma cápsula, que contém sementes oleaginosas semelhantes à

fava; muito provavelmente venha daí os nomes: "favela", "faveleiro" e "faveleira", ou

“mandioca brava”3

Segundo Valladares apud Luna e Ribeiro

O Morro da Favela era uma localidade encontrada no arraial baiano e foi assim nomeado devido a abundância das plantas. Ao retornarem do conflito os soldados se instalam, na região central da cidade e associam o tipo de vegetação, ao território carioca e passam a adjetivar igualmente o local como "favela”.( VALLADARES apud LUNA e RIBEIRO, 2015, p. 10)

2 Euclides da Cunha nasceu no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1866 e morreu neste mesmo estado, em 1909, aos 43 anos de idade. Era engenheiro, porém seu talento literário não passava despercebido, e, logo recebeu um convite para ser correspondente do jornal “O Estado de S.Paulo”, este fato ocorreu durante o período da Guerra de Canudos. Posteriormente, escreveu sobre esta revolta no livro: Os Sertões, obra que atingiu um grande sucesso. Nesta obra ele faz uma análise brilhante da psicologia do sertanejo e de seus costumes. (Fonte: http://www.suapesquisa.com/pesquisa/euclidesdacunha.htm. Acesso em 20.03.2016) 3 INGLEZ, Júlio Seabra; PEIXOTO, Aristeu Mendes; TOLEDO, Francisco Ferraz. Enciclopédia agrícola brasileira: E-H.EdUSP, 1995

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Ainda segundo as autoras,

...isso se dá, devido à concomitância entre as demolições dos primeiros cortiços e a ocupação do Morro da Providência. Segundo ela, “[...] só após essa ferrenha campanha contra o cortiço foi despertado o interesse pela favela, um novo espaço geográfico e social que despontava pouco a pouco como o mais recente território de pobreza". Desta forma, o morro também passa a ser denominado “Morro da Favella”, com a grafia utilizada na época. Assim, devido à utilização constante e supressão das palavras, a favela torna-se substantivo e com o passar do tempo, como aponta Valladares, será uma categoria para designar locais de ocupação irregular, pobres e que desafiam a lei estabelecida. ”.( VALLADARES apud LUNA e RIBEIRO, 2015, p. 10)

Por questões de expressão, condições e suporte, as representações deste universo se dão

inicialmente pelo meio literário, migrando para o mundo cinematográfico logo que o

cinema brasileiro começa a ter sua estrutura e personalidade construída.

São muitos os títulos de filmes brasileiros e até alguns internacionais, que se enquadram

nesta categoria, dentre os mais conhecidos, citaremos o pioneiro – “Favela dos Meus

Amores” , 1935, com direção de Humberto Mauro.

4 5 4 Favela Dos Meus Amores (1935) - Direção: Humberto Mauro - SINOPSE - Dois rapazes recém chegados de Paris, voltam sem dinheiro e resolvem iniciar um cabaré na favela. No morro, um dos rapazes encontra o amor de sua vida. 5 Rio, 40 Graus (1955) - Direção: Nelson Pereira dos Santos - SINOPSE - O filme é um semi documentário sobre pessoas do Rio de Janeiro e acompanha um dia na vida de cinco garotos de uma favela que, num domingo tipicamente carioca e de sol escaldante, vendem amendoim em Copacabana, no Pão de Açúcar e no Maracanã.

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O segundo filme braslieiro com esta temática, foi Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira

dos Santos.

É considerada a obra inspiradora do cinema novo, movimento estético e cultural que

pretendia mostrar a realidade brasileira. O filme foi censurado pelos militares, que o

consideraram uma grande mentira. Ironicamente, segundo o censor e chefe de polícia da

época, "a média da temperatura do Rio nunca passou dos 39,6°C".

Como se pode perceber, desde o início do gênero no Brasil, a controvérsia é a palavra chave

regente.

Da estréia dos primeiros filmes de favela, até aqui (abril de 2016), segue uma lista de mais

de oitenta películas, algumas com reconhecimento internacional de público e crítica.

Esta categoria tem em sua história, interessantes casos que se reinventam e refilmam,

sempre nos trazendo outros olhares, sugerindo discussões. É o caso por exemplo de “Cinco

Vezes Favela”, produzido em 1961, por cinco jovens cineastas de classe média, oriundos do

movimento estudantil universitário. Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon

Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges foram os jovens criativos e empreendedores que

tornaram o filme um marco do cinema moderno brasileiro e como estilo - também

fundadores do Cinema Novo. Os filmes são cinco curtas-metragens onde cada um apontava

sua visão sobre as favelas e seus habitantes.

6 6 Cinco Vezes Favela (1962) - SINOPSE - filme composto de cinco segmentos mostrando problemas sociais nas favelas do Rio de Janeiro. Cada seqüência foi dirigida por um diretor diferente: Marcos Farias, Miguel Borges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirzman.

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Seguiram-se a este exemplo muitos outros; apenas para citar aqui os mais conhecidos:

- Cidade de Deus (2002) – Direção: Fernando Meirelles, Kátia Lund

- Redentor (2004) – Direção: Cláudio Torres

- Quase Dois Irmãos (2004) – Direção: Lúcia Murat

- Tropa de Elite (2007) – Direção: José Padilha

- Cidade dos Homens (2007) – Direção: Paulo Morelli

- Era Uma Vez… (2008) – Direção: Breno Silveira

- Última Parada 174 (2008) – Direção: Bruno Barreto

- Linha de Passe (2008) – Direção: Daniela Thomas, Walter Salles

- Verônica (2009) – Direção: Maurício Farias

- 5x Favela – Agora por Nós Mesmos (2010) – Direção: Cacau Amaral, Cadu Barcelos,

Luciana Bezerra, Luciano Vidigal, Manaira Carneiro, Rodrigo Felha, Wagner Novais.

- 5x Pacificação (2012) - Direção: Cadu Barcellos, Luciano Vidigal, Rodrigo Felha,

Wagner Novais.

- Alemão (2014) - Direção: José Eduardo Belmonte.

Quanto aos filmes estrangeiros que tiveram como motivo de inspiração ou simplesmente

cenário a favela brasileira, temos como exemplo o americano The Incredible Hulk, rodado

na favela Tavares Bastos, no Rio de Janeiro e também Fast Five, batizado no Brasil de “

Velozes e Furiosos 5: Operação Rio".

BENTES pontua :

...esta tendência estilística de “cosmética da fome”, uma vez que, as imagens violentas possuem como finalidade a espetacularização e o entretenimento. A câmera que, no Cinema Novo, captava as agruras de um povo sofredor e fazia o espectador pensar, agora, nos filmes contemporâneos sobre a favela, mostra uma violência lúdica que nos diverte e nos choca ao mesmo tempo. (BENTES apud LUNA e RIBEIRO, 2015, p.13)

O fato é que as favelas cariocas - antes cenário de desigualdades sociais e infinitos e

insolúveis problemas, virou concorrido cenário de filmes e até local para “experimentação”

de turistas, sobre o que deve ser viver em uma comunidade pobre brasileira.

Autores como Nagib (2006), consideram o marco inicial da atribuição do título Favela

Movies após o sucesso mundial do filme Cidade de Deus (2002).

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O cinema de favela atual possui a realidade da comunidade em seus roteiros, cenários e

personagens e, evoluiu ao ponto de ser produzido pelo próprio jovem da comunidade.

Quase cinqüenta anos depois da estréia do gênero, em 2010 temos 5 x Favela, Agora Por

nós Mesmos, com envolvimento e produção de Cacá Diegues novamente - agora tendo

cinco novos diretores nativos da comunidade e estudantes das oficinas de audiovisual

oferecidas na favela. É o primeiro longa-metragem brasileiro totalmente concebido, escrito

e realizado por jovens moradores das comunidades.

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Com a instalação das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) nas comunidades,

aparentemente mudam-se os aspectos de alguns filmes, com alguns diretores tentando

examinar essa nova situação, a partir da ótica e fala dos moradores de favelas.

A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) é um projeto da Secretaria Estadual de Segurança

do Rio de Janeiro (Brasil) que pretende instituir polícias comunitárias nas favelas, como

7 Cidade De Deus (2002) – Direção: Fernando Meirelles, Kátia Lund. - SINOPSE - Buscapé é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce em um universo de muita violência, que vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta ser infinita. 8 5x Favela, Agora Por nós Mesmos (2010) – Direção: Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcelos, Rodrigo Felha, Wagner Novais, Mainara Carneiro, Luciana Bezerra - SINOPSE - São cinco episódios independentes entre si, aparentando uma comédia dramática de costumes, que expõem a visão dos cineastas sobre a cara do povo brasileiro.

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forma de desarticular quadrilhas que, antes, controlavam estes territórios como verdadeiros

estados paralelos. Antes do projeto, inaugurado em 2008, apenas a favela Tavares Bastos,

entre as mais de 500 existentes na cidade, não possuía crime organizado, tráfico de drogas

ou milícia.

Como construção coletiva, os filmes confirmam os conceitos de produção de memória

social.

Há uma tendência de evolução de linguagem narrativa dos Favela Movies. Nos parece que

o momento atual (abril 2016) tende a ser mais realista, estendendo e aprofundando o olhar

documental e colocando voz na boca dos moradores das comunidades. Isso ocorre

pontualmente em dois filmes: Alemão e 5x Pacificação.

5x Pacificação (2012) foi produzido pelo diretor Cacá Diegues e traz mais uma vez, quatro

dos diretores do filme anterior 5X favela – agora por nos mesmos (2010).

Neste momento, a intenção é mostrar um panorama atual dos resultados da ocupação das

UPPs nas comunidades, pelas lentes dos moradores / cineastas, agora mais experientes.

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9 5x Pacificação (2012) - Direção: Cadu Barcellos, Luciano Vidigal, Rodrigo Felha, Wagner Novais - SINOPSE - O documentário é um raio X do processo de implantação das UPPs (Unidades de Policia Pacificadora) visto através dos moradores das comunidades, já que três dos diretores vivem em locais onde já existe a UPP. O longa-metragem é dividido em 5 temas e em cada um deles vemos relatos de como aconteceu e está acontecendo essa pacificação no Rio de Janeiro.

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O filme documental mostra controvérsias vindas das bocas dos próprios moradores -

apresentando memórias do passado próximo, nos buracos de balas em suas casas, que

poeticamente afirmam que escondiam seus medos dos traficantes; ora indicando que a

polícia das UPPs é diferente da que antes invadia a favela para realizar ações; ou por fim

indicando que não gostaram das limitações impostas ao serviço das mototáxis e muito

menos das restrições de horários dos bailes funks.

Na análise de LUNA e RIBEIRO neste filme, "... a dicotomia trabalhador/criminoso está

constantemente presente."

As autoras apontam:

A temática da bandidagem é controversa. No capítulo “Bandidos” é apresentado o projeto do grupo Afroreggae de inclusão de ex-traficantes no mercado de trabalho. Um deles apelidado de Fofo, conta como deixou o crime para trabalhar no projeto. Muitos seguiram o mesmo destino e ressaltam “no crime não tem amigo, tem parceiro de crime. (LUNA e RIBEIRO 2015, p.08)

5x Pacificação nos conduz a uma certa valorização das ações das UPPs, mas fica

relativamente claro que este é o olhar dos jovens cineastas oriundos dessa mesma

comunidade que tiveram oportunidade de estudar, criar e realizar seus projetos com a nova

realidade. Novamente aqui, levantamos a questão da maquiagem ou melhor, adequação da

realidade para que um assunto se torne produto de roteiro cinematográfico, sob o aspecto

poético.

BENJAMIM afirma:

No interior de toda estrutura lingüística reina o conflito entre o exprimido e o expressável por um lado, o inexprimido e o inexpressável por outro. Quando se visualiza este conflito, é na perspectiva do inexprimível que se percebe logo a essência última espiritual. (...) Pois a linguagem é, efetivamente, não apenas comunicação do comunicável mas simultaneamente, símbolo do não comunicável. (BENJAMIM apud RENAUX, 2013, p.12)

Já apontamos acima, sobre esta distorção de realidade, identificada desde o início dos

Favela Movies - onde antes tudo era pobreza e desgraça; depois carnaval, mulatas e samba;

depois crime e tráfico de drogas e agora - poesia, filosofia e realização.

Neste filme, friamente falando - o "final", num sentido conceitual - ficou feliz: o bandido se

arrependeu, o traficante morreu, a polícia mantém a ordem e a arte pode nascer de um chão

problemático.

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A película aponta ainda uma interessante situação de metalinguagem quando o ex-traficante

Davi Moraes é entrevistado: ele expõe suas funções como "auxiliar" dos

traficantes - que tinha o título de "fiel" e também como "segurança" - na escolta dos chefes.

No curta metragem, Moraes afirma que a sensação de perigo era sua motivação para a

"profissão" e que só deixou o crime por ver o sofrimento de sua mãe.

Num paralelismo, o entrevistado afirma que agora, longe do crime, seu sonho é ser figurante

de projetos audiovisuais.

Pontualmente em seu artigo, LUNA e RIBEIRO apontam a situação:

Ele participa de uma produção fazendo figuração no papel de segurança e com a presença de atores mais famosos como, por exemplo, José Wilker. Ouvimos a voz em off de uma Antropóloga, comentando a estereotipação do bandido, com base em determinada característica, tom de pele e forma de falar específica. Enquanto isso, numa breve cena, Davi é mostrado lendo o que poderia ser o script do filme, com uma descrição de seu personagem: “pediu cem mil emprestado (sic) para sair do xadrez. Porra, o cara não tem cem mil guardado pruma (sic) situação dessas, é melhor largar de ser bandido e virar trabalhador!” - em 5X PACIFICAÇÃO, 2012. .(LUNA e RIBEIRO, 2015, p.6)

As autoras ainda indicam,

...um contraponto na abordagem do documentário, pois, apesar de no capítulo “Asfalto”, tratar a necessidade de a sociedade modificar seu olhar em relação à favela, mostra que esse processo ainda enfrenta a barreira do clichê e do pré-conceito. A construção imaginária criada por anos de difusão de imagens, não será transformada tão facilmente, tanto que, está presente numa próxima produção cinematográfica.(LUNA e RIBEIRO, 2015, p.6)

Como ambas concluem muito acertadamente o ex-traficante foi escolhido para o papel no

filme, por ser elemento vivo daquela situação e dinâmica, o que emprestará valor à película.

Seu estigma permanece, apesar da tentativa de mudança de vida.

Um aspecto interessante do filme, são os vários olhares expostos:

No primeiro capítulo, vemos como é viver no morro depois da UPPs e o que seria

necessário fazer para melhorar essa implantação. Em seguida, temos o depoimento da

Policia, mostrando a sua visão sobre o processo. Depois mostra-se a voz dos bandidos,

explicando seu olhar sobre as ocupações.

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O depoimento de ex bandidos mostra como é ruim estar no meio dos marginais e como

é possível ter uma vida digna fora do crime. O próximo capitulo é denominado Asfalto,

onde os cineastas mostram a visão do povo que vive distante dos morros, como eles

vêem as UPPs e se acreditam na melhora, enfim é o momento que existe a interação

pouco comum entre o morro e o cidadão “comuns”. Ao final, temos o “Complexo”

capitulo que surgiu durante o processo de filmagem e tem como função mostrar que só

implantar as UPPs dentro do morro não resolve a problemática. O interessante desse

filme é que vemos visões diferentes, deixando que cada um tire suas próprias

conclusões.

Outro caso ocorre em Alemão, onde o roteiro é ficção, ainda que seja calcado em fatos reais

e utiliza trechos documentais.

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Segundo o diretor José Eduardo Belmonte, o filme surgiu como um questionamento quanto

à questão do momento da instalação das UPPs nas favelas cariocas. A pergunta que o

diretor se fez, foi sobre como teria sido esse momento de transição.

10 Alemão (2014) - Direção: José Eduardo Belmonte - SINOPSE - O filme conta a história de cinco policiais que se infiltram na favela do Complexo do Alemão para completar uma missão, no entanto, traficantes descobrem tudo sobre a operação secreta e começam uma busca incessante para eliminar os policiais infiltrados, que tem apenas 48 horas para conseguir sair da favela

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O nome do filme - Alemão, se deu em parte pelo homônimo do Complexo de favelas e

também por ser a expressão coloquial usada por traficantes para definir inimigos de outras

facções.

Nesta circunstância, vê-se um discurso onde posiciona-se a favela claramente como um

ilha, separada mesmo da cidade onde está inserida, mostrando-se como isolada em suas

fronteiras psicológicas, culturais e, em alguns pontos - até física.

O filme se passa em um dos maiores complexos de favela do Rio de Janeiro, cenário de

uma megaocupação policial-militar em novembro de 2010, para implantação de uma

Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Apoiado em fatos reais, o roteiro ficcional mostra a

situação onde policiais infiltrados na favela, tem sua identidade descoberta por traficantes,

num momento em que a ação das forças de segurança pública ainda não tinha sido

autorizada pelo governo. A produção contém trechos documentais, além dos produzidos.

Durante a narrativa de Alemão, não é mostrado em nenhum momento a fala de algum

morador comum da comunidade desejando a intervenção policial, fica claro que a ação é

unilateral e teoricamente somente ao governo interessa extirpar o crime da favela.

O filme se inicia com uma tela preta, com o seguinte texto: “2007 – Começa a retomada

territorial das favelas cariocas através da ação militar do Estado. Segundo o Governo do Rio

de Janeiro, o objetivo da missão é a pacificação das comunidades dominadas pelo tráfico, e

a implementação da política de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras)”. Em seguida,

também na tela preta surge o texto: “Devido à extensão do território e superpopulação, o

Complexo do Alemão é considerado o lugar mais difícil de ser ocupado. O serviço de

inteligência do Estado decide então colocar policiais infiltrados espalhados pelo complexo".

As primeiras imagens cinematográficas são num plano de câmera alta, mostrando centenas

ou milhares de barracos se construídos de forma irregular, denunciando a ausência de

organização, do Pode Público e nenhuma infraestrutura. Em seguida, começam a aparecer

imagens dos moradores em sua vida cotidiana e em nada indicando desconforto. O que em

meu ver aponta é uma ruptura, um isolamento do resto da grande metrópole que é o Rio de

Janeiro. Teoricamente, não parece que os moradores estão pedindo a presença das UPPs.

Nas seqüências seguintes vemos um grupo de jovens armados acompanhando um líder,

também jovem e bonito que acena feliz para a comunidade.

Segundo BARROS (2015) este início indica o domínio do tráfico e o silêncio da

comunidade isolada, uma vez que

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...mobiliza sentidos instaurados pela formação discursiva e, como conseqüência,

também marca o silenciamento das vozes dos moradores da favela que, entre as

leituras permitidas, mostra que é o Estado que decide o que é bom para os

habitantes.(BARROS, 2015, p.12)

Em seguida, o filme mostra cenas de um telejornal com um ônibus em chamas, com um off

de um repórter na rua:

Tem outro ônibus pegando fogo em outro ponto da cidade. A gente tá aqui na Avenida

Brasil agora, exatamente na entrada pra Penha e a gente vê agora toda a equipe: o carro

do choque, toda a equipe do Bope, muitos homens, inclusive um tanque de guerra,

entrando na favela, entrando na Penha. - em Alemão, 2015.(BARROS, 2015, p.14)

No DVD original do filme, durante as entrevistas de making of, Alê Ramos - diretor de

fotografia do longa-metragem, afirma que a "direção optou por usar e abusar de uma

linguagem, às vezes quase jornalística, com certas imperfeições típicas do jornalismo, a fim

de obter um resultado documental."

Mas, como vimos desde o começo deste nosso estudo: qual o compromisso do cinema com a

realidade?

Esse "final feliz" se fragiliza quando o documentário tenta linearizar a problemática da

favela, uma vez que cada uma delas, cariocas, paulistas ou de qualquer outra região

brasileira - metropolitana ou ribeirinha - mostra-se com questões geográficas, estruturais e

culturais muito diferentes. Existem muitas e diferentes favelas; muitos e diferentes

"Brasis". Não há um modelo ideal, nem um filme ideal, nem uma realidade completa.

Considerações Finais

Sim, o cinema de favela virou gênero brasileiro, assim como os westerns americanos o

fizeram no início do século passado. Da estréia de Humberto Mauro até o presente (abril

2016) foram registrados mais de oitenta filmes que acontecem nesse universo, por algum

aspecto inerente a esse contexto. Em seus cenários, temáticas e narrativas é possível

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identificar o que se chama favela - no conceito de moradia da comunidade pobre de muitas

cidades brasileiras. No cinema de favela, talvez mais do que em qualquer outro gênero, a

situação tem um recorte realista. Claro que vemos situações romanceadas, maquiadas, mas

nos parece, que se um espectador assistir mais de um filme deste segmento, ele terá a

possibilidade como um voyer, de se aproximar do que chamamos de verdade. Na maior

parte dos casos, os personagens e cenários podem não ser reais - mas, são totalmente

possíveis.

O caso de Davi Moraes (5x Pacificação, 2012), ex traficante que sonha em ser figurante de

cinema, nos aponta como o estigma do favelado pobre, negro e/ou sem estudo se perpetua.

O preconceito se sobrepõe a qualquer tentativa de mudança que esta comunidade possa

tentar. Citando WERNECK (2013):

...há uma narração cujo único narrador é uma figura sem credibilidade para narrar. O testemunho da personagem é a fonte dos dados, das informações - são comprovadas apenas por testemunhos de indução. (WERNECK 2013, p.02)

Conhecendo a cultura brasileira, sendo eu da mesma nacionalidade, esta situação nos

remete a similaridade da escravatura brasileira, onde somente a instauração da lei do ventre-

livre11 conseguiu desvincular os filhos dos escravos daquela situação de servidão. A

similaridade se dá pela teoria da lei e a contradição da aplicação da mesma. No cinema,

como na vida - o povo das favelas carregará sempre o estigma, até que este consiga se

desvincular e apagar de sua memória e vida - sua história e passado.

Para o espectador desavisado do contexto, o que fica é a alegoria.

Alegoria essa que se desfaz esvaziada por si mesma, despida de verdades. Agora a indústria

dos Favela Movies se reinventa e mostra-se como máquina estética produtora de estilos e

de emoções, de ficções e desejos, tendo como foco os cinéfilos voyeurs.

__________________ Referências Bibliográficas

11 A Lei do Ventre Livre, também conhecida como “Lei Rio Branco” foi uma lei abolicionista, promulgada em 28 de setembro de 1871 (assinada pela Princesa Isabel). Esta lei considerava livre todos os filhos de mulher escravas nascidos a partir da data da lei. omo seus pais continuariam escravos (a abolição total da escravidão só ocorreu em 1888 com a Lei Áurea), a lei estabelecia duas possibilidades para as crianças que nasciam livres. Poderiam ficar aos cuidados dos senhores até os 21 anos de idade ou entregues ao governo. O primeiro caso foi o mais comum e beneficiaria os senhores que poderiam usar a mão-de-obra destes “livres” até os 21 anos de idade. A Lei do Ventre Livre tinha por objetivo principal possibilitar a transição, lenta e gradual, no Brasil do sistema de escravidão para o de mão-de-obra livre. Vale lembrar que o Brasil, desde meados do século XIX, vinha sofrendo fortes pressões da Inglaterra para abolir a escravidão.

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