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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 Vida, morte e pós-morte do GeoCities: memória em denegeração/regeneração e nostalgia como crítica no Projeto One Terabyte of Kilobyte Age. 1 Gustavo Daudt FISCHER 2 Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS. Resumo O artigo tem como objetivo voltar a discutir o que caracteriza os construtos de memória da web, entendidos como modelagens imageticamente arranjadas de coleções de dados referentes a produtos midiáticos. A partir do resgate de aspectos da trajetória do serviço GeoCities, plataforma para a criação de páginas pessoais (homepages) descontinuada em 2009, discutimos o projeto denominado “One Terabyte of the Kilobyte Age” de autoria de Olia Lialina e Dragan Espenschied e que recupera por diferentes formatos (blog, Tumblr, vídeo e exposição em galeria), as imagens das páginas pessoais então hospedadas no GeoCities. A forma como o projeto se coloca nos permite avançar sobre duas dimensões presentes em construtos de memória da web: a característica regenerativa/degenerativa do meio e a possibilidade de uma perspectiva de nostalgia como crítica e não apenas saudosismo. Palavras-chave: GeoCities; memória; nostalgia; web . Introdução Acreditamos que uma necessária preocupação com os estudos voltados para os produtos culturais ou midiáticos baseados na infraestrutura da internet é dar mais evidência a nossa crença que, ao ritmo de crescimento e inovação protagonizado por empresas que atuam pesadamente no investimento e lançamento de novos produtos, junta-se outro, menos divulgado, menos ruidoso, mas de igual intensidade, de descontinuidade de uma quantidade significativa de produções dessa ordem. Essa relação de criação-destruição é da própria ordem do sistema econômico que nos envolve e que se desdobra na obsolescência programada que permite que as lógicas de consumo e descarte se estabeleçam. Quando consideramos as propriedades da infraestrutura da internet extensivas à web em alguma medida (banco de dados, hipertextualidade), obviamente associadas ao processo de softwarização de nossa cultura (Manovich, 2013), as características do “desmanche” desses objetos ganha contornos particulares e aspectos como história, memória e nostalgia se tornam importantes inflexões de discussão no espaço da comunicação e, mais precisamente, nos estudos da chamada cibercultura. Nosso interesse, que tem sido arqueologicamente 1 Trabalho apresentado no GP Cibercultura, XVI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS [email protected]

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Vida, morte e pós-morte do GeoCities: memória em denegeração/regeneração e

nostalgia como crítica no Projeto One Terabyte of Kilobyte Age.1

Gustavo Daudt FISCHER2

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS.

Resumo

O artigo tem como objetivo voltar a discutir o que caracteriza os construtos de memória da

web, entendidos como modelagens imageticamente arranjadas de coleções de dados

referentes a produtos midiáticos. A partir do resgate de aspectos da trajetória do serviço

GeoCities, plataforma para a criação de páginas pessoais (homepages) descontinuada em

2009, discutimos o projeto denominado “One Terabyte of the Kilobyte Age” de autoria de

Olia Lialina e Dragan Espenschied e que recupera por diferentes formatos (blog, Tumblr,

vídeo e exposição em galeria), as imagens das páginas pessoais então hospedadas no

GeoCities. A forma como o projeto se coloca nos permite avançar sobre duas dimensões

presentes em construtos de memória da web: a característica regenerativa/degenerativa do

meio e a possibilidade de uma perspectiva de nostalgia como crítica e não apenas

saudosismo.

Palavras-chave: GeoCities; memória; nostalgia; web

.

Introdução

Acreditamos que uma necessária preocupação com os estudos voltados para os

produtos culturais ou midiáticos baseados na infraestrutura da internet é dar mais evidência

a nossa crença que, ao ritmo de crescimento e inovação protagonizado por empresas que

atuam pesadamente no investimento e lançamento de novos produtos, junta-se outro, menos

divulgado, menos ruidoso, mas de igual intensidade, de descontinuidade de uma quantidade

significativa de produções dessa ordem. Essa relação de criação-destruição é da própria

ordem do sistema econômico que nos envolve e que se desdobra na obsolescência

programada que permite que as lógicas de consumo e descarte se estabeleçam. Quando

consideramos as propriedades da infraestrutura da internet extensivas à web em alguma

medida (banco de dados, hipertextualidade), obviamente associadas ao processo de

softwarização de nossa cultura (Manovich, 2013), as características do “desmanche” desses

objetos ganha contornos particulares e aspectos como história, memória e nostalgia se

tornam importantes inflexões de discussão no espaço da comunicação e, mais precisamente,

nos estudos da chamada cibercultura. Nosso interesse, que tem sido arqueologicamente

1 Trabalho apresentado no GP Cibercultura, XVI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente

do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS [email protected]

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encarado nos últimos tempos (ver Fischer 2015a e 2015b), é no sentido de identificar que

emergem no mesmo contexto do desmanche, iniciativas que se anunciam como

preservadoras, arquivadoras, mas que no nosso entendimento são propostas de construtos de

memória, entendidos como modelagens imageticamente arranjadas de coleções de dados

referentes a diferentes produtos midiáticos, até mesmo aqueles originários da própria web.

O objetivo do presente artigo é apresentar e problematizar uma dessas iniciativas, o Projeto

One Terabyte of Kilobyte Age, criado como forma de dar a ver as ruínas do serviço de

páginas pessoais da web GeoCities, uma das referências mais conhecidas na hospedagem

das chamadas páginas pessoais (homepages) até que o protagonismo das construções de

perfis pessoais na rede passarem para os sites de redes sociais e suas decorrências. Para

isso, iniciaremos convocando alguns elementos da vida, morte e pós-morte do GeoCities

para depois apresentarmos os modos do projeto One Terabyte trabalhar com os arquivos

salvos. Com isso, avançamos para alguns apontamentos sobre estes construtos, com

discussões específicas no que tange aos conceitos de memória na ambiência da web,

retomando as reflexões de Wendy Chun (2008) e da nostalgia como crítica, conforme

discutem Michael Pickering e Emily Keightley (2006).

GeoCities – da web dos colonizadores à expulsão da terra prometida.

Em meados dos anos 90, quando a chamada internet comercial (entendida como a

disponibilidade de conexão via serviços providos pelas empresas de telecomunicações em

rede nos lares e espaços de trabalho não acadêmicos) dava seus primeiros passos, inclusive

no Brasil3, uma das possibilidades ofertadas aos sujeitos que “surfavam na web” dizia

respeito à construção de uma homepage (página pessoal) para fins diversos (autobiografia,

diário, currículo, homenagem a terceiros, entre outros). Muito antes dos perfis construídos

pelas pessoas em sites de redes sociais como twitter e Facebook, hoje ubiquamente

onipresentes até mesmo em dispositivos móveis por meio de aplicativos, a existência de

páginas pessoais cumpria esse papel, com determinadas especificidades que ajudaram a

marcar esse período de consolidação da web como mídia. Um dos serviços que mais

fortemente consolidou-se naquela época como oferta um “lugar” para a hospedagem destas

homepages chamava-se GeoCities.

Criado em novembro de 1994 por David Bohnett e John Rezner em sua empresa

denominada Beverly Hills Internet (BHI), o serviço GeoCities organizava-se por uma

3 https://www.rnp.br/destaques/historia-por-tras-20-anos-internet-comercial-brasil (acesso julho 2016)

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metáfora urbana: o serviço solicitava que o usuário escolhesse um bairro para residir com

sua homepage (“Sunset Strip”, “Rodeo Drive”, “WallStreet” eram vizinhanças disponíveis,

entre outras). A esta opção era acrescida um número (tal qual um número residencial) que

por fim resultaria na URL da página pessoal do assinante, como

www.geocities.com/WallStreet/2344 por exemplo. Em notícia da revista Business Wire da

época, destacamos na fala de Bohnett, aspectos que, quando olhamos retrospectivamente,

parecem evidenciar ainda mais as marcas de um período em que a web era um ambiente

ainda inóspito a ser desbravado, um ambiente a ser “colonizado” (tal qual veríamos outra

vez anos depois com o fenômeno de povoamento/esvaziamento do Second Life e Orkut,

entre outros):

"Você pode navegar na Internet através de utilitários de acesso ou serviços on-line,

mas você vai viver em GeoCities de BHI", disse ele. Ali, na rua ou na cidade de sua

escolha, você vai morar em uma casa que reflete o contexto de sua vida, tornar-se

parte da estrutura da comunidade e estabelecer a sua própria cultura da net. Nosso

objetivo ao fazer uma ponte entre o ciberespaço e a realidade é atrair usuários da net

que querem colonizar a web - criar raízes em uma GeoCity que se sinta confortável

e familiarizado para chamar em casa, onde eles podem expressar-se, criar seu

próprio conteúdo, construir seus próprios bairros 4"(BUSINESS WIRE, 1995,

online).5

O forte crescimento do GeoCities na segunda metade dos anos 90 levou a empresa,

assim como diversas outros empreendimentos daquele período a receber volumes

significativos de investimentos, principalmente depois que se tornou pública via a bolsa de

valores NASDAQ. Em 1999, o site Geocities.com era considerado a 3ª página web mais

acessada, ficando apenas atrás da AOL (American Online) e do Yahoo! em acessos6.

4 "You may surf the net via access utilities or online services but you'll live in BHI's GeoCities," he said. There, on the

street or in the city of your choice, you'll dwell in a home that reflects the context of your life, become part of the fabric of

the community and establish your own net culture." Our goal in bridging cyberspace and reality is to attract netters who

want to colonize the web -- to put down roots in a GeoCity they feel comfortable and familiar with to call home, where

they can express themselves, create their own content, build their own neighborhoods”. (Essa e demais traduções nossas). 5 http://www.thefreelibrary.com/Beverly+Hills+Internet,+builder+of+interactive+cyber+cities,+launches...-a017190114

(acesso julho/2016) 6 Fonte http://web.archive.org/web/20090426073628/http://www.vnunet.com/vnunet/news/2241092/yahoo-closing-

geocities (acesso em julho/2016)

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Figura 1 – excerto da página inicial do serviço GeoCities relativo ao dia 22/10/1996, recuperado pelo serviço Wayback

Machine pela URL https://web.archive.org/web/19961022173245/http://www.geocities.com/ (acesso julho/ 2016)

Também replicando o destino que diversas iniciativas que protagonizaram os

primeiros anos da internet comercial, o serviço GeoCities sucumbiu em meio a chamada

“bolha da internet” às expectativas de lucratividade desejadas pelo gigante Yahoo! - que por

sua vez ocupava um espaço altamente protagonista para os principais serviços que se

consolidavam na web (diretório de busca, e-mail, grupos de discussão, etc) - que veio a

adquirir o serviço em 1999 por 3,6 bilhões de dólares7. Dez anos depois da compra

bilionária e com tentativas frustradas de modificações no serviço GeoCities em meio a

emergência da nova geração de serviços surgidas no que ficou conhecido como web 2.0, o

Yahoo! comunicou, em abril de 2009, que não aceitaria a entrada de novos usuários no

GeoCities e ao mesmo tempo encorajava seus atuais membros a migrar para o seu serviço

pago de hospedagem8, conforme vemos na figura 2. Ainda em julho daquele ano, o Yahoo!

voltou a atualizar a informação, afirmando que, a partir de outubro, “seu site do GeoCities

não aparecerá mais na web e você não poderá mais acessar sua conta e arquivos do

GeoCities.”9

7 http://money.cnn.com/1999/01/28/technology/yahoo_a/ (acesso em julho/2016) 8 https://techcrunch.com/2009/04/23/yahoo-quietly-pulls-the-plug-on-geocities/ (acesso em julho/2016) 9 Your GeoCities site will no longer appear on the Web, and you will no longer be able to access your GeoCities account

and files. http://www.pcmag.com/article2/0,2817,2350024,00.asp (acesso em julho/2016)

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Figura 2 – excerto da página inicial do serviço GeoCities relativo ao dia 18/05/2009, recuperado pelo serviço Wayback

Machine pela URL https://web.archive.org/web/20090518115458/http://geocities.yahoo.com/ (acesso julho/ 2016)

Ao marcar de forma expressiva um período inicial de acesso e uso mais expressivo

da internet (falava-se em 7 milhões de páginas criadas e quase 180 milhões de acessos ao

GeoCities em 2008), o encerramento do serviço repercute na imprensa americana à época10

em matérias que anunciavam:

“Atrocidade na Internet! Extinção do GeoCities apaga história da web! (site da Revista

Time, novembro de 2009)11

“Yahoo! escreve o obituário do GeoCities” (Business Standard, abril de 2009)12

“Yahoo! abandonando GeoCities” (Calgary Herald, abril de 2009)13

Morte e pós-morte: One Terabyte of Kilobyte Age

Extinção, apagamento, abandono. Se por um lado, há o lamento que ressoa nas

notícias da época sobre o encerramento do serviço, por outro, este fato é que nos alavanca a

convocar outros movimentos que parecem caracterizar fortemente um modo menos

enfatizado, mas muito instigante da web agir, quase como um vetor de oposição ao seu

10 Por motivos que não discutiremos neste trabalho, a plataforma Geocities – ao menos com esse nome, ainda está presente

no Japão, em http://geocities.yahoo.co.jp/ (acesso em julho/2016)

11 Internet Atrocity! GeoCities' Demise Erases Web History

http://content.time.com/time/business/article/0,8599,1936645,00.html (acesso em julho/2016) 12 Yahoo! writes Geocities' obituary http://www.business-standard.com/article/technology/yahoo-writes-geocities-

obituary-109042500035_1.html (acesso em julho/2016) 13 Yahoo! abandoning GeoCities

http://web.archive.org/web/20090427153850/http://www.calgaryherald.com/Technology/Yahoo+abandoning+GeoCities/1

530841/story.html (acesso em julho/2016)

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fluxo permanente de atualização e substituição, este por sua vez altamente relacionado as

características de uma tecnocultura de obsolescência programada e interfaces líquidas. Estes

modos são tanto da ordem das iniciativas de preservação de diferentes materiais midiáticos

(nativos ou não da web), mas também de outros movimentos que se apropriaram daquilo

que foi preservado para produzir deslocamentos em relação a uma ideia (por si só já

equivocada) de arquivamento objetivo de produtos midiáticos do passado em ambientes

online. No primeiro caso, na situação relativa ao episódio GeoCities, algumas iniciativas de

preservação foram desenvolvidas, desde as produzidas pelo reconhecido Internet Archive14,

passando por outros sites como ReoCities e Ooocities15. Porém, a iniciativa de

preservação/salvamento que nos interessa mais neste estudo teve início através de um grupo

de voluntários chamado Archive Team16 que se define como um “coletivo de arquivistas,

programadores, escritores e falastrões dedicados a salvar nossa herança digital”. O próprio

Archive Team chegou a construir a sua proposta memorialística para disponibilizar os

arquivos do GeoCities, hoje apenas recuperável, ironicamente, via Wayback Machine.17

Manovich (2000) já apontava que na década de 90, com o papel do computador

destacando-se como (nos termos do autor) “Máquina de Mídia Universal”, houve a

instalação de uma “mania digitalizadora” na sociedade, na qual “livros e fitas de vídeo,

fotografias e gravações de áudio começaram a ser alimentados para dentro de computadores

em um ritmo cada vez maior (Manovich, 2000, p.5). ” Esta reflexão do autor está inserida

em um importante debate sobre o banco de dados como uma característica durante do

ambiente híbrido software-mídia do qual, historicamente, vem emergindo diferentes

produtos midiáticos, como as próprias páginas pessoais da era Geocities. O banco de dados

é uma forma cultural para Manovich e, portanto, ganha contornos específicos na

tecnocultura em que estamos. Esta faceta da web (conforme propomos em combinação com

outras duas – mídia e ambiente de relacionamento, ver Fischer, 2012) como um todo, ganha

contornos específicos quando passamos então a identificar, construtos de memória da/na

web que ofertam modos de produzir imagens “novas” a partir de iniciativas outrora

contemporâneas. Nossa pesquisa (Fischer, 2015a) vem percorrendo diferentes observáveis

que vão, desde o mais difundido, complexo e reconhecido Internet Archive (archive.org) e

suas pretensões catalogadoras de diversas mídias, até iniciativas mais pontuais (com uma

aparente intencionalidade experimental) como a proposta de convidar o usuário a revisitar

14 http://archive.org/web/geocities (acesso em julho/2016) 15 http://reocities.com/ e http://www.oocities.org/ respectivamente (acesso julho/2016) 16 http://www.archiveteam.org/ (acesso em julho/2016) 17 http://web.archive.org/web/20101201062511/http://geociti.es/history.html (acesso em julho/2016)

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sistemas operacionais vintage em The Restart Page (Fischer, 2015c). Nesse movimento

cartográfico, apresenta-se vinculado ao evento do desaparecimento/apagamento do serviço

GeoCities o projeto One Terabyte of Kilobyte Age (Um terabyte da era do kilobyte)

desenvolvida pelos pesquisadores e artistas digitais Olia Lialina e Dragan Espenschied,

iniciado em 2010, a partir de outra iniciativa de caráter preservacionista promovida pelo

chamado Archive Team, conforme explicado por Lialina e Espenschied:

No 26 de outubro de 2009 GeoCities deixou de existir. Em entre o anúncio e a data

oficial da morte, um grupo de pessoas que se autodenominam Archive Team

conseguiu resgatar quase um terabyte [TB] de páginas GeoCities. No dia 26 de

outubro de 2010, o primeiro aniversário deste Holocausto Digital, o Archive Team

começou a alimentar o geocities.archiveteam.torrent. No dia 1º de novembro de

2010, Olia e Dragan compraram um disco de 2 TB e começaram a baixar o maior

torrent18 de todos os tempos (LIALINA e ESPENSCHIED, 2011, online) .19

Diferente de outros construtos de memória que se materializam em um site

específico (exemplos de nossa pesquisa atual são The Restart Page20, The GUIdebook

Gallery21), o projeto de Lialina e Espenschied se apresenta em mais de um formato, tendo

como premissa produzir apropriações a partir do processo de resgate das páginas então

pertencentes ao serviço GeoCities. Portanto, foi necessário cartografar mais de uma

ocorrência, a saber:

1) Blog One Terabyte of Kilobyte Age22

18 Torrent é a extensão de arquivos utilizados por um protocolo de transferência do tipo P2P (Peer to Peer). Essa

transferência acontece da seguinte maneira: os arquivos transferidos são divididos em partes e cada pessoa que tem tal

arquivo ajuda a fazer o upload a outros usuários. Isso reduz significantemente o consumo de banda do distribuidor original

do arquivo, não sendo necessário que o mesmo fique armazenado em um servidor. Fonte

http://www.tecmundhttp://guidebookgallery.org/o.com.br/torrent/166-o-que-e-torrent-.htm 19 On the 26th of October 2009 Geocities seized to exist. In between the announcement and the official date of death a

group of people calling themselves Archive Team managed to rescue almost a terabyte of Geocities pages. On the 26th of

October 2010, the first anniversary of this Digital Holocaust, the Archive Team started to seed

geocities.archiveteam.torrent.

On the 1st of November 2010 Olia and Dragan bought a 2 TB disk and started downloading the biggest torrent of all

times. http://blog.geocities.institute/about (acesso julho/2016) 20 http://www.therestartpage.com/ (acesso julho/2016) 21 http://guidebookgallery.org/ (acesso julho/2016) 22 http://blog.geocities.institute/ (acesso julho/2016)

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Figura 3 – excerto de post do blog One Terabyte of Kilobyte Age. Fonte: http://blog.geocities.institute/archives/5538

(acesso julho/2016).

O título do blog vem acompanhado da definição/slogan “Escavando através do

Torrent do GeoCities”23 e está no ar desde 20 de janeiro de 2011 com um número de posts

razoável (são cerca de 24 páginas com cerca de 8 postagens em cada) e parece servir para

regulares reflexões críticas dos autores do projeto sobre aspectos do processo de escavação

através de comentários sobre grafismos, títulos de páginas, layouts, imagens e outros

elementos presentes nas páginas que vão sendo recuperadas via torrent.

2) Tumblr: One Terabyte of Kilobyte Age Photo Op24

23 Digging through the Geocities Torrent 24 http://oneterabyteofkilobyteage.tumblr.com/ (acesso julho/2016)

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Figura 4 – excerto do Tumblr One Terabyte of Kilobyte Age Photo Op. Fonte: http://oneterabyteofkilobyteage.tumblr.com/ (acesso julho/2016)

O título parece fazer uma alusão irônica a expressão “Photo Op” que é um

encurtamento para Photo Opportunity que em inglês é uma expressão conhecida como uma

oportunidade arranjada para que um político ou celebridade esteja em uma fotografia para

uso como propaganda disfarçada de notícia. O formato Tumblr foi apropriado pelos Lialina

e Espenschied como um modo de gerar resultados imediatos e regulares do processo de

escavação. A descrição tanto esclarece sua função como a do blog:

Este Tumblr acompanha One Terabyte of Kilobyte Age, o blog de pesquisa

GeoCities por Olia Lialina e Dragan Espenschied. Imagens são geradas

automaticamente a partir de um estoque de antigas home pages do GeoCities,

resgatado pela equipe Archive em 2009. Os arquivos são processados do mais

antigo para o mais novo.

Se o número de postagens do “blog de pesquisa” é razoável, o Tumblr do projeto

está quando de nossa observação em 8119 páginas, com 10 postagens (portanto, imagens de

homepages de usuários do GeoCities) em cada25.

3) Instalação de vídeo (versão online)

25 A exceção é a página nº 8119 com apenas 1 postagem.

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Figura 5 – excerto da página denominada “Video Installation: One Terabyte for Kilobyte Age”. Fonte: http://1x-

upon.com/1tb/ (acesso julho/2016).

Ao clicarmos sobre o link “more videos” (figura 5) somos remetidos a uma nova

página que passa a disponibilizar uma sequência de imagens em intervalos de 20 segundos

de homepages do Geocities, cuja passagem de uma para a outra pode ser dada pelo clicar do

usuário sobre a imagem-homepage. Curiosamente, é nessa terceira produção que temos um

texto logo abaixo da imagem que pode ser vista na figura 6 apresentando mais informações

sobre o projeto. Passamos a saber que seriam 350 mil páginas do GeoCities presentes no

projeto, o que ainda seria uma porção incompleta do que haveria no serviço. Ainda há uma

importante afirmação que não apenas retoma imaginário “urbanístico” declarado pelos

fundadores do GeoCities conforme vimos anteriormente, mas esclarece a postura crítica que

se afirma junto com o construto de memória.

Olia Lialina e Dragan Espenschied estão apresentando um fluxo ininterrupto de

captura de vídeo desta cidade perdida e suas ruínas de arquivamento, documentando

a cultura visual da web e a criatividade de seus usuários. O projeto oferece uma

breve visão sobre publicação na web quando design e narrativa estavam a cargo dos

usuários em contraste com os modelos automatizados de Facebook, YouTube e

Flickr. (ESPENSCHIED, S/D, online.)26

4) Instalação em vídeo (exposição em galeria fotográfica britânica)

Entre abril e julho de 2013, de acordo com o site da galeria “The Photographs

Gallery”, foram exibidas em vídeo (figura 6) cerca de 16 mil capturas desta “cidade perdida

e suas ruínas de arquivamento, documentando a cultura visual da web e a criatividade de

26 http://1x-upon.com/1tb/ (acesso julho/2016)

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seus usuários, mostrando uma nova página a cada 5 minutos. ”27 Nossa hipótese é que esta

instalação é baseada no construto em vídeo anterior feito para a web.

Figura 6 – fotografia da exposição Olia Lialina & Dragan Espenscheid: One Terabyte of Kilobyte Age. Fonte: http://1x-upon.com/1tb/TheWall2_KateElliott.jpg (acesso julho/2016)

Tendo percorrido as principais circunstâncias relativas ao surgimento e fechamento

do GeoCities e convocando alguns elementos relacionados a um dos projetos de sua pós-

morte como One Terabyte, queremos avançar de um lado, na problematização que nos

acompanha neste e outros trabalhos, percebendo nas características deste projeto pistas

importantes para pensarmos do que se tratam os construtos de memória na web assim como

reivindicando, de outro, nesta análise especificamente, questões concernentes a uma

nostalgia crítica inscrita nos modos com os quais as imagens escavadas são remontadas.

Memória em estado de degeneração/regeneração na web.

Em uma tecnocultura de imagens que operam por convergência e dispersão (Kilpp,

2012), tempos cronologicamente rotulados entram em curto-circuito na ambiência efêmera

da web que, paradoxalmente, se apresenta como camada midiática sobre uma infraestrutura

de hardwares e softwares cujas características (continuamente enunciadas por metáforas

como da nuvem) nos leva a associarmos apressadamente memória como sinônimo de

armazenamento, conforme nos alerta Wendy Chun (2008). Essa ambiência efêmera compõe

intrinsicamente a rede, para a autora “mídias digitais são degenerativas, esquecíveis,

apagáveis” (Chun, 2008, p. 160). O caso “GeoCities” aqui convocado, nos ajuda a

identificar essa perspectiva, justamente na relação morte/pós-morte quando fica clara a

complexidade tecnocultural que se instala nestes construtos de memória como One

Terabyte quando, ainda conforme Chun (2008), ao mesmo tempo em que sempre pode

27 http://thephotographersgallery.org.uk/one-terabyte-of-kilobyte-age

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“constantemente transmitir e regenerar textos e imagens” a “idade de um dispositivo de

memória computacional raramente acompanha a memória que ele guarda” (p.160). Com

isso, o projeto de Olia e Dragan não caminha na direção de uma reconstituição idealizada

das comunidades do Geocities ou uma catalogação que permita buscas como se

estivéssemos em uma biblioteca de obras (páginas) raras. Na pluralidade das soluções

produzidas (blog, Tumblr, vídeo, instalações) emergem e se a reafirmam a transitoriedade

da qual o próprio GeoCities padeceu, visibilizam-se os links quebrados, as imagens não

carregadas e, acima de tudo, não se navega outra vez diretamente nas páginas dos usuários

GeoCities, pelo contrário, audiovisualizando telas, produzindo coleções inusitadas como

Memoirs28, One Terabyte simultaneamente recoloca um passado datado em curto-circuito

com plataformas contemporâneas, experimentando um processo de recordação ativo, uma

outra forma de refletir sobre a nostalgia aí presente.

Nostalgia como crítica nos construtos de memória.

Enquanto verbete, a palavra “nostalgia” remete a definições como “tristeza causada

pela saudade de sua terra ou de sua pátria; melancolia” ou “saudade de alguma coisa, de

uma circunstância já passada ou de uma condição que (uma pessoa) deixou de possuir. ”29

No entanto, conforme queremos propor a partir das escavações e remontagens do projeto

One Terabyte, há um devir nostálgico (que já poderia ser caracterizado na nossa discussão

anterior sobre The Restart Page, ver Fischer 2015c) a ser revisitado enquanto possibilidade

crítica. Para tecer algumas formulações iniciais nesse sentido, entendemos pertinentes as

reflexões de Michael Pickering e Emily Keightley (2006) quando propõem que a nostalgia

possui múltiplos sentidos e significações e “deveria ser vista como abrigando impulsos

progressistas, até mesmo utópicos, assim como posturas regressivas e atitudes melancólicas

(p. 919). ” Nesta perspectiva, a noção de nostalgia para os autores deve movimentar-se para

além de um fardo de tristeza por um passado idealizado.

Na tentativa de perceber o que está faltando em um presente modificado, a nostalgia

por um tempo perdido claramente envolve desejar o que agora não é alcançável,

simplesmente por causa da irreversibilidade do tempo; mas condenar nostalgia

somente a essa posição deixa a descoberto não apenas sentimentos mais gerais de

arrependimento sobre o que tempo trouxe, mas também mais questões gerais para

como o passado pode se engajar ativamente com o presente e o futuro.

(PICKERING e KEIGHTLEY, 2006, p.920)30

28 http://art.teleportacia.org/exhibition/AGM/#memoirs (acesso julho/2016) 29 http://www.dicio.com.br/nostalgia/ (acesso julho/2016) 30 In longing for what is lacking in a changed present, nostalgia for a lost time clearly involves yearning for what is now

not attainable, simply because of the irreversibility of time; but to condemn nostalgia solely to this position leaves

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Soma-se a essas reflexões, também considerações dos autores ao problematizaram a

presença da mídia nesta relação, o que nos parece caro em relação a nossa discussão em

andamento sobre os construtos de memória da/na web. De acordo com Pickering e

Keightley (2006), devemos apreender pelas representações midiáticas sobre o passado, um

entendimento mais complexo entre “os vestígios do tempo e as reconstruções históricas,

incluindo as possibilidades de ironia e jogo ao repensar a história e nossas diversas relações

com ela. ” (Pickering e Keightley, 2006, p. 924).

É, explicitamente nessa perspectiva, que enxergamos os construtos do projeto One

Terabyte. Ao deslocarem/desmontarem a noção de arquivamento e preservação eles

produzem, ao nosso ver, um movimento que coloca a dimensão nostálgica criticamente,

construindo uma espécie de “dispositivo de confronto”31 em relação a um determinado

modo de exaltação novidadeira típica do campo dos produtos e serviços relacionados à

internet. Há, nesta perspectiva, uma reflexão preciosa por parte de Olia Lialina (2012), que

parece esclarecer tanto a postura nostálgico-crítica quanto o reconhecimento da ambiência

temporal dialética (passado e presente em curto-circuito) nos quais o projeto se apresenta.

Lidar com um meio eternamente jovem significa que nós sempre teremos de lidar

com algo novo - tanto tecnicamente como ideológica e esteticamente. Isso significa

que a morte de páginas da web, usuários ou serviços é vista como um processo

natural. E não faz sentido falar de um projeto que alcança a meia-idade, pois idade

não tem valor aqui. Não se fica velho na rede. O Arquivo do Geocities nos

proporciona a experiência de envelhecer. Entrar em contato com as páginas

envelhecidas é uma lição importante que desafia a impressão de que na rede, tudo

sempre acontece no presente. (LIALINA, 2012, online)32

Considerações Finais

Através de um movimento, aqui sintetizado, de recontar alguns aspectos da vida,

morte e pós-morte do GeoCities, procuramos, na ação do texto, não só dar a ver um agir

arqueológico como inspiração metodológica, nos termos Parikka e Huhtamo (2011), no

sentido de contribuir para iluminar histórias de mídias negligenciadas, mas, principalmente,

problematizar dois aspectos que se inscrevem fortemente como características dos

unattended not only more general feelings of regret for what time has brought, but also more general questions for how the

past may actively engage with the present and future. 31 Expressão emprestada e livremente apropriada a partir das reflexões de Silveira (2014) sobre o show de Rock 32 Dealing with an eternally young medium means that we always have to deal with something new – technically as well

as ideologically and aesthetically. It means that the dying of web pages, users or services is seen as a natural process. And

it makes no sense to speak of a project reaching middle age, because age has no value here. Getting old is something that

you don’t do on the net.The Geocities archive provides us with the experience of getting old. Coming into contact with

aged pages is an important lesson that defies the impression that on the net, everything always happens in the present.

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construtos de memória que comparecem sob diferentes arranjos na web. O primeiro está

associado ao permanente estado de degeneração/regeneração deste meio. Esta característica

é ao mesmo tempo, característica formal e ambiência não só dos construtos de One

Terabyte, mas do próprio “caso” GeoCities. A diferença nos parece reside no fato de que o

projeto de Lialina e Espenschied assume esta dialética e, para tanto, faz do jogo e da ironia,

conforme propõem Pickering e Keightley, modos de produzir as imagens que compõem

seus construtos, recolocando a nostalgia como operação crítica que nos faz pensar no que a

rede nos torna e no que tornamos a rede.

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