INTERCORRÊNCIAS EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RENAL...

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ATUALIZA CURSOS PÓS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM EM NEFROLOGIA ENEIDA BACELAR DE MORAES INTERCORRÊNCIAS EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA DURANTE AS SESSÕES DE HEMODIÁLISE Salvador - BA 2011

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ATUALIZA CURSOS PÓS GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM EM NEFROLOGIA

ENEIDA BACELAR DE MORAES

INTERCORRÊNCIAS EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA

RENAL CRÔNICA DURANTE AS SESSÕES DE HEMODIÁLISE

Salvador - BA 2011

ENEIDA BACELAR DE MORAES

INTERCORRÊNCIAS EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA DURANTE AS SESSÕES DE

HEMODIÁLISE

Salvador - BA 2011

Monografia apresentada a atualiza Associação cultural, como requisito parcial para obtenção do titulo de especialista em enfermagem em nefrologia, sob orientação do prof. Fernando Reis do Espírito Santo.

Dedico aos meus filhos Leonardo de Moraes Bacelar e Felipe de Moraes Bacelar que contribuíram para a minha determinação e luta na finalização de mais uma importante etapa conquistada.

AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Jesus que nos momentos de grandes dificuldades me deu força para seguir nesta caminhada tão incessante.

Aos meus filhos Léo e Felipe por terem me encorajado nos momentos mais difíceis.

A minha mãe por estar sempre presente em minha vida, me incentivando e confiando na minha vitória.

A meu primo Rubenildo pela paciência e por sempre estar pronto a me ajudar.

Aos meus colegas de trabalho pela colaboração e motivação para conclusão deste trabalho.

A todos os professores do curso de Enfermagem da Atualiza, pelo ensinamento, crescimento pessoal e profissional no decorrer da pós-graduação.

“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar em um sonho que se tem, ou que seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser alguém. Quem acredita sempre alcança”.

(Renato Russo)

RESUMO

Este estudo trata sobre a Insuficiência Renal Crônica que é caracterizada pela perda irreversível do poder excretório renal que provoca elevações séricas de todos os catabólitos, principalmente uréia e creatinina, levando o paciente a um quadro de toxemia. A hemodiálise é um método que consiste na filtração das escórias sanguíneas por meio de uma depuração artificial extracorpórea, através de uma máquina dialisadora especial que usa uma membrana semipermeável. Teve como objetivo conhecer as principais intercorrências ocorridas em pacientes com insuficiência renal crônica durante as sessões de hemodiálise. Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, com base em dados secundários para identificação do percentual de intercorrências durante as sessões de hemodiálise em pacientes portadores de IRC. Os resultados demonstraram que as intercorrências mais comum encontrada entre os pacientes portadores de IRC durante as sessões de HD foi à cefaléia (19,10%) e em segundo lugar a hipotensão (17,97%) e que o maior percentual de intercorrências durante as sessões de HD ocorreu entre pacientes do sexo feminino (53,20%) e na faixa etária de 46 a 55 anos (34,04%) dos pacientes pesquisados. A principal doença de base ou co-morbidade associada à IRC encontrada entre os pacientes pesquisados foi a HAS encontrada em 82,97% dos casos. Palavras-chave: Insuficiência Renal Crônica, Hemodiálise, Intercorrências.

ABSTRACT

This study deals with chronic renal failure is characterized by the irreversible loss of renal excretory power which causes elevations of serum all catabolites, mainly urea and creatinine, leading the patient to a picture of toxemia. Hemodialysis is a method of filtration of blood through the slag an artificial extracorporeal clearance through a special dialysis machine that uses a semipermeable membrane. This study aimed at knowing the major complications occurred in patients with chronic renal failure during hemodialysis sessions. It is a quantitative, descriptive, based on secondary data to identify the percentage of complications during hemodialysis in patients with CRF. The results showed that the most common complications found in patients with CRF during the HD sessions was headaches (19.10%) and secondly hypotension (17.97%) and the highest percentage of complications during HD sessions occurred between female patients (53.20%) and aged 46 to 55 years (34.04%) of patients surveyed. The main underlying disease or co-morbidity associated with the IRC found among SAH patients studied was found in 82.97% of cases. Keywords: Chronic Renal Failure, Hemodialysis, Complications.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 08

2 REVISÃO DE LITERATURA 11

2.1 Anatomia e fisiologia renal 11

2.2 Insuficiência renal aguda 16

2.3 Insuficiência renal crônica 16

2.3.1 Estadiamento da doença renal 17

2.4 Hemodiálise 18

2.5 Intercorrências 24

3 METODOLOGIA 34

3.1 Tipo da pesquisa 34

3.2 Local da pesquisa 34

3.3 População/Amostra 34

3.4 Coleta de dados/Instrumento de coleta de dados 35

3.5 Apresentação e Discussão dos dados 35

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 46

REFERÊNCIAS 48

APÊNDICE A 50

1 INTRODUÇÃO

Apresentação do objeto de estudo

O paciente portador de Insuficiência Renal Crônica (IRC) apresenta uma

deterioração progressiva dos rins resultando em rins incapazes de filtrar e excretar

os produtos de degradação urêmicos do corpo. À medida que a função renal diminui,

os produtos finais do metabolismo protéico acumulam-se no sangue dando início a

um processo gradativo de desequilíbrio metabólico e hidroeletrolítico levando o

paciente à morte ou a dependência de uma máquina dialisadora e a fila de espera

de um transplante renal. (SMELTZER; BARE, 2002).

O número de pacientes com IRC está aumentando em todo o mundo. A magnitude

do problema é tão grande que tem levado autoridades médicas a considerá-lo como

um problema de saúde pública. Verificam-se ainda altas taxas de mortalidades,

apesar da maior disponibilidade e avanços tecnológicos na área da Terapia Renal

Substitutiva (TRS). A evolução desfavorável da IRC deve-se, principalmente à

associação freqüente das co-morbidades cardiovasculares e a ocorrência precoce

de complicações próprias da doença renal. (BATISTA et al., 2004).

Os pacientes portadores de IRC têm um prognóstico ruim, pois ficarão dependentes

o resto de suas vidas de métodos dialíticos ou terão que sofrer um transplante renal

se conseguirem um doador em tempo hábil, tarefa não muito fácil em um país como

o Brasil, onde a fila de transplante renal cresce a cada dia. No Brasil não há dados

fidedignos sobre a incidência e prevalência da IRC. Sabe-se que em 1996

aproximadamente 25.000 pacientes encontravam-se em tratamento dialítico no país.

(RIELLA, 1996).

A hemodiálise é um processo que consiste na remoção de líquidos dos produtos de

degradação urêmicos do corpo quando os rins são incapazes de fazê-los. Ela pode

ser usada para pacientes que estão agudamente doentes e que necessitam de

diálise por curto prazo, bem como para pacientes com doença renal em estágio

terminal que necessitam de terapia em longo prazo ou permanente. (SMELTZER;

BARE, 2002).

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Nas últimas décadas importantes avanços médicos no aprimoramento da

assistência dialítica oferecidas aos pacientes com IRC culminou em progressivo

aumento no número de pacientes submetidos a esses procedimentos,

principalmente a hemodiálise. Apesar dos diversos avanços tecnológicos, as

máquinas dialisadoras continuam expoliando muito o doente e muitas são as

intercorrências que podem acontecer durante o processo de hemodiálise, como:

cefaléia, hipotensão, arritmias, entre outros. (ANTONIAZZI et al., 2002; SMELTZER;

BARE, 2002).

O estudo apresenta a IRC como um problema de saúde pública mundial com alta

taxa de mortalidade e um número enorme de pacientes dependentes de uma

máquina dialisadora e suas possíveis complicações, das menos graves como uma

simples hipotensão a mais grave como uma parada cárdio-respiratória.

Justificativa

Pelo fato de já trabalhar em um serviço de hemodiálise, surgiu o interesse em

identificar e descrever as principais intercorrências apresentadas pelos pacientes

durante as sessões de HD em uma instituição privada hospitalar referência para

tratamento de pacientes portadores de insuficiência renal crônica que funciona na

cidade de Salvador Ba, visto que existem poucos estudos que abordem tema tão

importante e por se tratar de um assunto na área da nefrologia.

Problema

Quais as intercorrências ocorridas em pacientes com insuficiência renal crônica

durante as sessões de hemodiálise?

Objetivo

Teve como objetivo conhecer as principais intercorrências ocorridas em pacientes

com insuficiência renal crônica durante as sessões de hemodiálise.

8

9

Estrutura do Trabalho

Para atingir os objetivos descritos será desenvolvida inicialmente uma revisão de literatura, exposta na segunda sessão do trabalho, que será composta de seis momentos, buscando embasamento teórico para identificar quais as intercorrências em pacientes com insuficiência renal crônica durante as sessões de hemodiálise. No primeiro momento será feita uma abordagem sobre a anatomia e fisiologia renal. No segundo e terceiro momento será descrita as definições e causas da insuficiência renal aguda e crônica respectivamente. No quarto momento serão mostrados os estágios funcionais da doença renal e a gravidade dos sinais e sintomas. No quinto momento será apresentado um método de depuração extracorpórea do sangue chamado de hemodiálise. No sexto momento da fundamentação teórica serão exibidas as principais intercorrências e complicações que podem acontecer nas sessões de hemodiálise. Na terceira sessão deste trabalho, será exibida a metodologia utilizada para a pesquisa e a apresentação e discussão dos dados. O trabalho é encerrado com as considerações finais em relação aos achados.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Anatomia e fisiologia renal

Os rins em número de dois, são órgãos de coloração marrom avermelhada,

localizados no espaço retroperitoneal de cada lado da coluna vertebral. Em decúbito

dorsal o pólo superior fica no nível da décima segunda vértebra torácica, e o inferior

no nível da terceira lombar. (TORTORA; GRABOWSKI, 2002).

Cada rim é envolvido por três camadas de tecidos. A mais interna cobre a superfície

do rim que é a cápsula fibrosa do rim, sendo envolvida por uma massa de gordura

perirrenal denominada cápsula adiposa. A terceira camada é uma faixa de paredes

duplas, a faixa renal, que envolve o rim e a cápsula adiposa e ancora o rim na

parede posterior do abdome. Existe ainda, externamente à faixa renal, um acúmulo

adicional de gordura conhecido como corpo adiposo pararrenal. (SPENCE, 1991).

Segundo Guyton; Hall (2002) quando o rim é seccionado em duas partes do alto

para baixo, as principais regiões que podem ser observadas são o córtex externo e a

região interna, denominada medula. A medula é dividida em múltiplas massas de

tecido em forma de cones denominadas pirâmides renais. As pirâmides estão

orientadas de maneira que suas bases amplas se encontram revestidas pelo córtex

e termina na papila que se projeta no espaço da pelve renal, que é a continuação

em forma de funil, da extremidade superior do ureter.

O córtex contém os glomérulos, os túbulos proximais e distais, e os dutos coletores

corticais e seus capilares peritubulares adjacentes. A medula assemelha-se a uma

pirâmide por causa de suas longas alças de Henle e dos dutos coletores medulares

e seus capilares correspondentes denominados vasa reta. (SPENCE, 1991).

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Os vasos sanguíneos destinados ao córtex se projetam para o interior de uma

câmara em forma de funil denominada de cálice renal menor que vão se unir para

formar os cálices renais maiores que também se unem formando a pelve renal.

(SPENCE, 1991).

Guyton; Hall (2002) afirmam que a borda medial de cada rim contém uma região

escavada, denominada hilo renal, através da qual passam a artéria renal e a veia

renal, os vasos linfáticos, o suprimento nervoso e o ureter, este último transporta a

urina final do rim para a bexiga, onde é armazenada até ser eliminada.

Logo após penetrar no hilo renal, a artéria renal se divide em vasos cada vez

menores formando eventualmente as arteríolas aferentes, cada uma delas irrigando

um corpúsculo renal e formando uma rede capilar responsável pela filtração

glomerular. O sangue deixa o glomérulo através da arteríola eferente e flui de volta

para a veia cava inferior por meio de uma rede de capilares e veias. (SMELTZER;

BARE, 2002).

Cada rim é composto por cerca de 1 milhão de néfrons, que corresponde à unidade

funcional do rim. O néfron consiste em um glomérulo, que contém arteríolas

aferentes e eferentes, cápsula de Bowman, túbulo proximal, alça de Henle, túbulo

distal e dutos coletores. Os dutos coletores convergem para dentro das papilas, que

se esvaziam para dentro dos cálices secundários, estes drenam para dentro de três

cálices secundários, os quais se abrem diretamente para dentro da pelve renal.

(SMELTZER; BARE, 2002).

Segundo Tortora; Grabowski (2002) cada néfron é formado pelo corpúsculo renal,

onde o plasma é filtrado, e o túbulo renal, pelo qual passa o líquido filtrado. Cada

corpúsculo renal tem dois componentes: o glomérulo e a cápsula de Bowman, uma

escavação epitelial de parede dupla que circunda o glomérulo. Da cápsula de

Bowman, o líquido filtrado do plasma passa para o túbulo renal que consiste em um

túbulo contorcido proximal, alças de Henle e túbulo contorcido distal. Os túbulos

contorcidos distais de diversos néfrons desembocam em um mesmo duto coletor

que se unem e convergem até que existam várias centenas de grandes dutos

papilares, que drenam para os cálices menores.

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Cerca de 80 a 85% dos néfrons são denominados de néfrons corticais; seus

corpúsculos renais situam-se na parte externa do córtex renal e têm alças de Henle

curtas, que ficam, principalmente, no córtex e penetram apenas na região superficial

da medula renal. As alças de Henle curtas recebem seu suprimento sangüíneo dos

capilares peritubulares que se originam das arteríolas eferentes. E 15 – 20% dos

outros néfrons são chamados néfrons justamedulares; seus corpúsculos renais

estão situados profundamente no córtex, próximos da medula e tem alça de Henle

longa, que se estende até a região mais profunda da medula. As alças de Henle

longas recebem seu suprimento sangüíneo dos capilares peritubulares e vasos

retos, que se originam das arteríolas eferentes. (TORTORA; GRABOWSKI, 2002).

Para Smeltzer; Bare (2002), Guyton; Hall (2002) os rins e o sistema urinário realizam

várias funções excretoras, reguladoras e secretoras. Essas funções incluem a

formação de urina, excreção de produtos de degradação, regulação da excreção de

eletrólitos, regulação da excreção de ácidos, regulação da excreção de água e ante-

regulação da pressão arterial.

O néfron é a unidade funcional do rim, cada rim possui aproximadamente 1 milhão

de néfrons, cada um com capacidade de formar urina. O néfron é constituído por

tufo de capilares glomerulares, denominado glomérulo, através do qual grande

quantidade de líquidos são filtrados do sangue e por um túbulo longo, no qual o

líquido filtrado é convertido, durante o seu trajeto até a pelve renal, em urina.

(GUYTON; HALL, 2002).

A primeira fase da produção da urina ocorre na filtração glomerular, onde a água e a

maioria dos solutos, no plasma, passaram do sangue, através da parede dos

capilares glomerulares, para a cápsula glomerular, que desemboca no túbulo renal.

Durante a reabsorção tubular o líquido filtrado flui ao longo do túbulo renal e pelo

ducto coletor, a maior parte da água filtrada e muitos solutos úteis são reabsorvidos

e levados de volta ao sangue. Á medida que o líquido flui ao longo do túbulo e pelo

ducto coletor, o túbulo e as células do ducto secretam substâncias adicionais.

(TORTORA; GRABOWSKI 2002).

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A filtração glomerular eficiente depende de um fluxo sangüíneo adequado. O fluxo

sangüíneo normal através dos rins é de cerca de 1.200 ml/min. À medida que o

sangue flui para dentro do glomérulo a partir de uma arteríola aferente, ocorre à

filtração. O líquido filtrado é chamado de “filtrado ou ultrafiltrado”. (SMELTZER;

BARE, 2002).

Quando os rins estão funcionando normalmente desempenha o papel de principal

órgão excretor do corpo, eliminando os produtos de degradação metabólica do

organismo. O principal produto de degradação do metabolismo protéico é a uréia.

Os outros produtos que devem ser excretados são a creatinina, os fosfatos e os

sulfatos. A filtração glomerular é determinada pelo equilíbrio entre as forças

hidrostáticas e coloidosmática que atuam através da membrana capilar, e pelo

coeficiente de filtração glomerular. (SMELTZER; BARE, 2002; GUYTON; HALL,

2002)

Guyton; Hall (2002) afirmam que o processo de filtração glomerular permite a

formação de cerca de 180 litros de filtrado glomerular a cada dia, mas menos de 1%

dessa quantidade, cerca de 1,5 litros por dia é eliminado na urina. Apesar disso,

esse pequeno volume ainda contém a maior parte dos produtos finais do

metabolismo, altamente concentrados.

Smeltzer; Bare (2002), Guyton; Hall (2002) afirmam que os rins tem importante

participação na regulação da excreção de eletrólitos, o volume de eletrólitos

excretados por dia é exatamente igual à quantidade ingerida. O rim regula a

quantidade de água, sódio e potássio. A água do filtrado segue e sódio reabsorvido

para manter o equilíbrio osmótico.

A regulação da quantidade de sódio, eletrólitos mais abundante no meio extra

celular, excretado depende da aldosterona, um hormônio sintetizado e liberado a

partir da córtex da supra renal. A aldosterona provoca a excreção de potássio pelo

rim. O potássio é o íon intracelular mais abundante, com cerca de 98% do potássio

corporal total e o equilíbrio normal de potássio no corpo é mantido pela excreção de

mais de 90% da ingestão diária pelos rins. (Ibid.).

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O processo de filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular, está

relacionado principalmente à pressão do sangue no interior do glomérulo, não é

muito seletivo, e alguns dos componentes do plasma podem penetrar nos túbulos

renais. (SPENCE, 1991).

A urina é cerca de 1000 vezes mais ácida do que o sangue, isto porque os rins são

capazes de excretar parte dos ácidos produzidos diariamente a partir do

metabolismo de proteínas. Sendo assim, os rins participam da regulação da

excreção de ácido através de tampões químicos ligados aos ácidos eliminados na

urina. (SMELTZER; BARE, 2002).

A urina consiste de água e substâncias que foram filtradas ou secretadas para os

túbulos renais, mas não foram reabsorvidas. Como resultado da filtração,

reabsorção e secreção, os túbulos renais mantêm a composição, volume e pH do

plasma sangüíneo em limites estreitos. Através de seus efeitos no plasma, os

túbulos renais também regulam a composição, volume e pH dos líquidos teciduais.

(SPENCE, 1991).

Para Smeltzer; Bare (2002) a regulação da excreção de água também é uma

importante função dos rins, onde o volume de urina produzido diariamente é

diretamente proporcional à quantidade de água ingerida. A regulação da excreção

da água e da concentração da urina é realizada no túbulo ao variar a quantidade de

água que é reabsorvida e a quantidade de água reabsorvida é controlada pelo ADH

– Hormônio Antidiurético ou Vasopressina.

O acúmulo de substâncias ácidas no organismo altera o pH sangüíneo,

desenvolvendo acidose metabólica. Enquanto que a creatinina, produto do

metabolismo muscular, deve ser totalmente excretada, já que é um produto

exclusivamente endógeno, sendo utilizada como referência para avaliar a função

renal. Essa regulação é entendida como uma função homeostática, onde uma

parada súbita da função renal coloca o indivíduo em perigo de vida, pois logo as

funções de outros órgãos e sistemas (cardíaco, nervoso, respiratório, etc) tem seu

funcionamento prejudicado. (Ibid.).

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Os rins também tem uma importante função no controle da presssão arterial através

da renina, um hormônio secretado por células justaglomerulares especializadas,

situadas próximos à arteríola aferente, túbulo distal e arteríola eferente. Uma enzima

converte a renina em angiotensina I, que é convertida em angiotensina II, o mais

potente vasoconstrictor conhecido. A vasoconstricção faz com que a pressão arterial

aumente. (SMELTZER; BARE, 2002).

2.2 Insuficiência Renal Aguda

A insuficiência renal aguda (IRA) define-se como a rápida deterioração da função

renal com acúmulo de resíduos nitrogenados, acompanhados por inúmeras

anormalidades metabólicas que se mantém por períodos variáveis, impossibilitando

os rins de exercerem suas funções básicas de excreção e manutenção do meio

interno. (THOMÉ et al., 1999).

As causas da IRA podem ser de origem renal, pré-renal ou pós-renal . A IRA pré-

renal resulta principalmente de uma redução da perfusão renal e é rapidamente

reversível quando corrigido sua causa. A IRA renal é causada por fatores intrínsecos

ao rim, como o dano tubular de origem isquêmica ou tóxica, é classificada de acordo

com o local afetado: túbulos, interstício, vasos ou glomérulo e a IRA pós-renal ocorre

por obstrução do fluxo das vias urinárias, pode ser conseqüência de hipertrofia

prostática câncer de próstata ou cervical, entre outros distúrbios.(BOIM; SANTOS;

SCHOR, 2005).

2.3 Insuficiência Renal Crônica

A insuficiência renal crônica (IRC) é conceituada como uma síndrome complexa

conseqüente à perda, geralmente lenta, progressiva e irreversível da capacidade

excretória renal, caracterizada pela redução da filtração glomerular e acúmulo de

solutos tóxicos gerados pelo organismo, que provocam elevações das

concentrações séricas ou plasmáticas de todos os catabólitos, principalmente a

uréia e creatinina. (DRAIBI; AJZEN, 2005).

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2.3.1 Estadiamento da Doença Renal

Segundo Romão Júnior. (2004), a doença renal crônica (DRC) é dividida em

estágios funcionais, de acordo com o grau da função renal do paciente, estes

estágios são: 0- Fase de função renal normal sem lesão renal - inclui pessoas

integrantes dos chamados grupos de risco para o desenvolvimento da IRC

(hipertensos, diabéticos e parentes de portadores de DRC), que ainda não

desenvolveram lesão; 1- Fase de lesão com função renal normal - corresponde ao

inicio da lesão renal com filtração glomerular preservada; 2- Fase de insuficiência

renal funcional ou leve - os níveis de uréia e creatinina plasmáticos ainda são

normais e não há sinais e sintomas clínicos importantes da doença; 3- Fase da

insuficiência renal laboratorial ou moderada - a avaliação laboratorial já mostra

níveis elevados de uréia e creatinina, o paciente pode apresentar sinais e sintomas

discretos da uremia, mas mantém-se clinicamente bem; 4- Fase da insuficiência

renal clínica ou grave - o paciente apresenta sinais e sintomas marcados da uremia,

como hipertensão arterial, anemia, edema e fraqueza; 5-fase terminal de

insuficiência renal crônica- os rins perdem o controle do meio interno e o paciente

encontra-se intensamente sintomático, necessitando de um dos métodos de terapia

renal substitutiva.

Para Smeltzer; Bare (2002), a gravidade dos sinais e sintomas depende, em parte,

do grau de comprometimento renal, distúrbios subjacentes e da idade do paciente.

Os principais sinais e sintomas são hipertensão arterial, edema, noctúria, poliúria,

oligúria, fraqueza, fadiga, adinamia, cãibras musculares, perda da força muscular,

prurido, palidez cutânea, anorexia, náuseas, vômito, hálito urêmico, amenorréia,

diminuição da libido, déficit de atenção, déficit cognitivo, desorientação, arterixe,

obnulação e coma.

Entre as diversas causas que levam a IRC, as mais comuns são a hipertensão

arterial (HAS), diabetes mellitus (DM) e as glomerulopatias. Os rins são os principais

responsáveis pelo controle da pressão arterial, quando estes não estão com

funcionamento adequado, há elevação da PA, se houver uma constância no

aumento dos níveis pressóricos ocorrerá a piora da disfunção renal, fechando assim

um ciclo de agressão ao rim. O diabetes é uma das mais importantes causas da

17

falência renal, após cerca de 15 anos de diabete, um número relevante de pacientes

apresentam nefropatia diabética como complicação da doença. As glomerulopatias

são distúrbios que afetam a integridade funcional e morfológica dos glomérulos, são

síndromes limitadas ao rim. (ROMÃO JÚNIOR, 2004).

Soares (1998 apud WETZEL; SILVEIRA, 2005), conceitua a hipertensão arterial

como uma síndrome de origem multifatorial, caracterizada pelo aumento dos níveis

pressóricos arteriais, possibilitando anormalidades cardiovasculares e metabólicas

que podem levar a alterações funcionais e/ou estruturais de vários órgãos,

especialmente os rins. Entre os fatores de riscos primordiais encontram-se o

aumento do peso corporal, o excesso de ingestão de bebida alcoólica e o consumo

excessivo de sal. A doença hipertensiva não controlada causa lesão renal e a IRC

ocorre por agravamento de suas complicações. A falta de adesão ao tratamento

anti-hipertensivo é um dos maiores problemas da área, como a hipertensão é uma

doença multifatorial, seu tratamento requer a participação da equipe multiprofissional

de saúde no atendimento ao hipertenso, com o objetivo de reduzir a morbidade e

mortalidade das doenças associadas à hipertensão.

2.4 Hemodiálise

Segundo Smeltzer; Bare (2002) a hemodiálise é um processo que consiste na

remoção de líquidos e dos produtos de degradação urêmicos do corpo quando os

rins são incapazes de fazê-lo. Os objetivos da hemodiálise são extrair as

substâncias nitrogenadas tóxicas do sangue e restaurar o volume e a composição

dos líquidos corporais aos seus valores normais. O sangue, carregado de toxinas e

resíduos nitrogenados, é desviado do paciente para uma máquina no qual é limpo e

devolvido ao paciente.

A hemodiálise é um método de depuração extracorpórea pelo qual o sangue obtido

por um acesso vascular (cateteres, shunts ou fístulas) é colocado em contato com

uma solução de diálise em um filtro especial que usa uma membrana semi-

permeável artificial. (VERONESE; MANFRO; THOMÉ, 1999).

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O sangue pode ser retirado, limpo e devolvido ao corpo em velocidades entre 200 e

800 ml/min. O acesso à circulação do paciente deve ser estabelecido, já que existem

diversos tipos de acessos disponíveis. O acesso imediato à circulação do paciente

para hemodiálise aguda é feito ao se inserir um cateter de luz dupla ou de múltiplas

luzes na veia subclávia, jugular interna ou femoral. Esse acesso vascular pode ser

utilizado por várias semanas apesar de não estar isento de riscos como: hematoma,

infecção, fluxo inadequado, etc. Os cateteres de luz dupla com balão também

podem ser inseridos por meios cirúrgicos na veia subclávia dos pacientes que

necessitam de um cateter venoso central para a diálise durante um período mais

prolongado. Um outro acesso mais permanente, denominado fístula, é criado por

meios cirúrgicos, geralmente no antebraço, ao se unir uma artéria em uma veia,

tanto látero-lateral quanto término-lateral. O segmento arterial da fístula é

empregado para o fluxo arterial e o segmento venoso para a reinfusão do sangue

dialisado. (SMELTZER; BARE, 2002).

A hemodiálise consiste em uma técnica de filtração do sangue utilizando dois

processos físicos: difusão e ultrafiltração. O transporte por difusão é o mecanismo

primário para remoção de toxinas pela hemodiálise que ocorre quando um gradiente

de concentração de um soluto é estabelecido através de uma membrana

semipermeável; então, o soluto se difunde pela membrana do lado mais concentrado

para o lado menos concentrado. O outro processo é a ultrafiltração no qual a

remoção de fluídos é feita por meio da aplicação de um gradiente de pressão

hidrostática ou osmótica através da membrana; dessa forma, o fluído atravessa a

membrana do local de maior pressão para o de menor. (KESHAVIAH, 1991; VAN

STONE, 1996 apud SOARES; OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

Guyton; Hall (2002) afirma que na operação normal do rim artificial, o sangue flui

contínua ou intermitentemente de volta à veia. A quantidade total do sangue no rim

artificial a qualquer momento é inferior a 500 mililitros, a intensidade do fluxo pode

ser várias centenas de mililitros por minuto e a área de superfície total de difusão é

entre 0,6 a 2,5 metros quadrados. Para evitar a coagulação do sangue no rim

artificial uma pequena quantidade de heparina é infundida no sangue à medida que

ela penetra no rim artificial.

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O circuito extracorpóreo tem um equipamento de complexidade variável, que

prepara, aquece, avalia e fornece a solução de diálise; impulsiona o sangue com

uma bomba e monitora uma série de parâmetros do processo (pressão do sangue,

pressão do dialisato, fluxo do sangue, fluxo do dialisato, concentração do dialisato,

temperatura, presença de ar no compartimento sangüíneo, presença de sangue no

dialisato e volume de ultrafiltração). Uma série de alarmes ligados ao sistema de

monitorização evita acidentes, tornando o processo mais seguro. (VERONESE;

MANFRO; THOMÉ, 1999).

Segundo Thomé et al. (1999) o filtro dialisador é constituído por uma carcaça rígida

que engloba dois compartimentos, um por onde circula o sangue e outro por onde

circula o dialisato e a comunicação entre esses dois compartimentos ocorrem por

uma membrana semipermeável que amplia ao máximo a área de contato entre os

dois líquidos. Cada compartimento tem um ponto de entrada e outro de saída, e a

circulação faz-se no sentido de contracorrente. A membrana dialisadora pode estar

disposta em paralelo ou então constituir finos tubos capilares dispostos em feixe. O

sangue entra por uma ponta, distribuindo-se por dentro desses inúmeros capilares

até sair na outra extremidade. Externamente a essas fibras, circula o dialisato.

Segundo Smeltzer; Bare (2002) muitos rins artificiais são dialisadores de placas

planas ou de fibras ocas, contendo milhares de diminutos túbulos de celofane que

atuam como membranas semipermeáveis. O sangue de uma artéria é bombeado

para dentro de um dialisador, onde flui através de tubos de celofane e o dialisato que

apresenta a mesma composição química do sangue, exceto pela uréia e produtos de

degradação do sangue para o dialisato acontece por meio da membrana

semipermeável dos túbulos.

O celofane é poroso o suficiente para permitir a difusão dos componentes do

plasma, exceto as proteínas plasmáticas tanto do plasma para o líquido de diálise

quanto do líquido de diálise de volta ao plasma. A velocidade de movimento do

soluto através da membrana de diálise depende do gradiente de concentração do

soluto entre as duas soluções, da permeabilidade da membrana ao soluto, da área

de superfície da membrana e do tempo durante o qual o sangue e o líquido

permanecem em contato com a membrana. Então, a intensidade máxima de

20

transferência de solutos ocorre inicialmente quando o gradiente de concentração e

maior, quando a diálise é iniciada, e torna-se lenta à medida que o gradiente de

concentração é dissipado. (GUYTON; HALL, 2002).

O material usado para confecção das membranas semipermeáveis dos túbulos pode

provocar reações no paciente, com ativação do complemento e liberação de

substâncias mediadoras da inflamação. Essas reações variam conforme a

biocompatibilidade do material da membrana. Em geral, membranas derivadas da

celulose são menos biocompatíveis do que membranas sintéticas. (VERONESE;

MANFRO; THOMÉ, 1999).

Alguns dialisadores removem as moléculas de peso médio com uma velocidade

mais rápida e ultrafiltragem em velocidades mais elevadas. Outros dializadores

possuem um alto fluxo, que emprega membranas mais modernas, altamente

permeáveis, capazes de aumentar a depuração de moléculas de baixo e médio

pesos moleculares. Essas membranas especiais são empregadas com velocidades

de fluxo mais elevadas que as tradicionais, para que o sangue entre no dialisador e

dele saia. A diálise de alto fluxo exige o uso de sistemas exatos de controle

volumétrico de ultrafiltração, e nem todas as unidades de diálise possuem a

capacidade de realizar esse tipo de diálise. Por conseguinte, esse processo de

diálise aumenta a eficiência dos tratamentos, enquanto encurta-lhes a duração e

reduz a necessidade de heparina. (SMELTZER; BARE, 2002).

O fornecimento do líquido de diálise pressupõe a mistura de uma solução

concentrada de eletrólitos e uma quantidade de água purificada que a dilui. Essa

mistura pode ser feita manualmente (sistema de “banho de diálise”) ou

automaticamente por máquinas proporcionadoras que é aquecida e deaerada.

(THOMÉ et al., 1999).

As concentrações de íons e de outras substâncias no líquido da diálise diferem das

do plasma normal, ou do plasma urêmico. Por conseguinte, elas são ajustadas para

os níveis necessários para produzir o deslocamento apropriado de água e de solutos

através da membrana durante a diálise. Não existe fosfato, uréia, urato, sulfato ou

creatinina no líquido de diálise, mas estes estão presentes, em altas concentrações,

21

no sangue urêmico. Então, quando o paciente urêmico é submetido à diálise, estas

substâncias são perdidas, em grande quantidade, para o líquido de diálise.

(GUYTON; HALL, 2002).

A maioria dos rins artificiais pode depurar a uréia do plasma com intensidade de 100

a 225ml/min, o que mostra que, pelo menos para excreção da uréia, o rim artificial

pode funcionar quase duas vezes mais rapidamente do que os dois rins normais em

conjunto, cuja intensidade de depuração da uréia é de apenas 70ml/min. Ainda

assim, o rim artificial é utilizado apenas 4 a 6 horas por dia, três vezes por semana.

Mas a depuração global do plasma é ainda limitada quando o rim artificial substitui

os rins normais. Além disso, é importante ter em mente que o rim artificial não pode

substituir algumas outras funções dos rins, como a secreção de eritropoietina, que é

necessária para a produção de eritrócitos. (Ibid.).

Para dar início à sessão de hemodiálise é necessário ter preparado o ambiente, o

sistema de tratamento da água, os equipamentos e o material a ser utilizado, assim

como certificar-se do seu bom funcionamento, individualizando o preparo para cada

paciente. É importante também ao admitir o paciente na unidade realizar breve

anamnese e exame físico, com o intuito de adequar a prescrição da diálise do

paciente às condições do mesmo. (SANTOS et al., 1999).

As sessões de hemodiálise devem ser prescritas para que se possa suprir as

necessidades individuais de cada paciente no que se refere à manutenção do

equilíbrio hidroeletrolítico, ácido-básico e metabólico. Devem ser considerados

alguns aspectos importantes para a prescrição da hemodiálise como: a presença de

co-morbidades (diabete, hipertensão, insuficiência cardíaca, idade), o reuso dos

dializadores, o estado nutricional do paciente e sua reabilitação. A duração e a

freqüência das sessões de hemodiálise serão estabelecidas de acordo com a

quantidade de diálise necessária para que o paciente obtenha a maior depuração

possível de soluto, a manutenção do equilíbrio hidroeletrrolítico e ácido-básico, o

controle da pressão arterial e um estado nutricional adequado com o mínimo de

efeitos adversos e inconvenientes. A monitoração clínica do paciente deve ser

sempre verificada para que a diálise possa ser considerada adequada e essa

verificação periódica inclui alguns parâmetros como peso, pressão arterial, alguns

22

testes laboratoriais e a mensuração da quantidade de solutos depurada durante o

processo dialítico. (THOMÉ et al., 1999).

Um dos mais importantes avanços médicos observados nas décadas passadas diz

respeito ao aprimoramento da assistência dialítica oferecida a pacientes com IRC,

que culminou em progressivamente crescente número de pacientes submetidos a

esses procedimentos. Dados de 1997 revelaram que para uma população de 167,05

milhões, 25.468 pacientes com IRC estavam sendo submetidos a procedimentos

dialíticos, em especial hemodiálise. (CEAN, 2000 apud ANTONIAZZI et al., 2002).

A prevalência no Brasil, em 1996, era de 166 pacientes em tratamento dialítico por

milhão de pessoas. A incidência é de 70 novos pacientes por ano em tratamento por

milhão de habitantes. Nos Estados Unidos a incidência em 1992 foi de 214

pacientes por milhão e a prevalência de 791 pacientes por milhão. As principais

causas nos Estados Unidos que levam à insuficiência renal crônica e conseqüente

tratamento hemodialítico é o diabetes mellitus (36,2%) seguida de hipertensão

arterial (30,1%) e glomerulonefrites (12,9%). No Brasil é indicado como principal

causa a glomerulonefrite crônica (23%), seguida de nefroesclerose hipertensiva

(22%) e diabetes mellitus (17%). (RIELLA, 1996 apud SOARES; OCHIRO;

SANNOMIYA, 2001).

A hemodiálise é responsável, diretamente, pela manutenção da vida de mais de

100.000 pessoas nos EUA. Vários anos foram adicionados à vida dessas pessoas

que, sem esta importante intervenção médica, teriam morrido pela IRC. A

hemodiálise é uma terapia segura, com risco estimado de uma morte para cada

75.000 tratamentos nos EUA. Além da discussão sobre as complicações dessa

modalidade terapêutica, deve-se considerar para a morbidade e mortalidade desses

indivíduos em tratamento hemodialítico as condições clínicas básicas do paciente,

como idade, diabetes mellitus, insuficiência coronariana, insuficiência cardíaca,

doença hepática, desnutrição, entre outros. (SCHULMAN, 1991 apud SOARES;

OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

Submeter-se a um tratamento como hemodiálise e permanecer durante horas preso

a uma máquina é sem dúvida, penoso. Qualquer possibilidade de reduzir este tempo

23

será bem recebida por pacientes. Economicamente, também é vantajoso para quem

opera equipamento de alto custo ocupá-lo com mais pacientes por unidade de

tempo. O progresso de desenvolvimento de novos materiais para composição de

membranas levou a introdução de dialisadores, de um lado, mais biocompatíveis e,

de outro, com características de permeabilidade à água e a moléculas pequenas e

médias extremamente altas. Com o advento de máquinas automáticas, com controle

de ultrafiltração, é possível determinar precisamente, limites de perdas de volume, e

com a reintrodução de bicarbonato como alcalinizante não existe o risco de rápido

acúmulo de acetato ou perda de bicarbonato pelo paciente. (D’ÁVILA;

FIGUEIREDO, 1996).

Para Guyton; Hall (2002) a perda da função renal, seja ela aguda ou crônica,

representa ameaça à vida. Em certos tipos de insuficiência renal aguda, pode se

utilizar o rim artificial para que o paciente possa vencer essas dificuldades até que

os rins reassumam sua função. Se a perda da função renal for irreversível, é

necessário submeter o paciente a diálise crônica, para manter a vida. Milhares de

pessoas com insuficiência renal ou, até mesmo, com remoção total dos rins estão

sendo mantidas há 15 a 20 anos pela diálise com rins artificiais. Como a diálise é

incapaz de manter a composição totalmente normal dos líquidos corporais e não

pode substituir todas as múltiplas funções desempenhadas pelo rim, a saúde dos

pacientes mantidos com rins artificiais geralmente permanece significativamente

prejudicada num tratamento melhor para a perda permanente da função renal

consiste em restaurar o tecido renal funcionante pelo transplante renal.

2.5 Intercorrências

Apesar da hemodiálise fornecer uma dramática reversão da toxidade urêmica

prolongando indefinidamente a vida, ela não altera a evolução natural da doença

renal subjacente nem substitui por completo a função renal. Então o paciente fica

sujeito a inúmeras intercorrências e complicações. (SMELTZER; BARE, 2002).

A susbstituição da função renal por uma máquina é imperfeita e sujeita a problemas

agudos, decorrentes do uso de circuito extracorpóreo, e também ao aparecimento

24

de sinais e sintomas por alterações metabólicas não corrigidas no processo.

(D’ÁVILA; FIGUEIREDO, 1996).

O contato de sangue heparinizado com membranas sintéticas pode ativar,

adequadamente, rotas metabólicas e induzir modificações hemodinâmicas

significativas. A inadequada retirada de metabólitos, ou a introdução de substâncias

potencialmente tóxicas, pode induzir profundas alterações funcionais, traduzidas por

manifestações clínicas graves e por vezes irreversíveis, do paciente. (D’ÁVILA;

FIGUEIREDO, 1996).

Embora os benefícios da hemodiálise sejam inquestionáveis, muitas intercorrências

podem ocorrer durante o processo de hemodiálise. As intercorrências mais comuns

são febre e calafrios, prurido, dor lombar, dor torácica, cefaléia, náuseas e vômitos,

cãibras e a hipotensão arterial. Entre as intercorrências menos comuns, porém mais

sérias, estão à síndrome do desequilíbrio, reações de hipersensibilidade, arritmia

cardíaca, tamponamento cardíaco, hemorragia intracraniana, convulsão, hemólise e

embolia gasosa. (BREGMAN, 1996 apud SOARES; OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

A retirada de solutos e água, com queda de osmolaridade plasmática, se associa a

instabilidade vascular, hipotensão arterial, cefaléia, náusea e vômito cãibras e em

pacientes adequadamente urêmios, crises convulsivas. Estes sintomas parecem

ocorrer mais freqüentemente no primeiro uso de dialisadores. (D’ÁVILA;

FIGUEIREDO, 1996).

Existe quadro clínico tipicamente associado ao primeiro uso de dialisadores,

caracterizado por surgimento, no início da hemodiálise, de dor precordial e lombar.

Quadros mais graves, acompanhados por sintomas e sinais cardiopulmonares,

mucocutâneos e gastrointestinais, sugerem alguma forma de anafilaxia. Os sintomas

são grandemente atenuados ou desaparecem, pela lavagem prévia do dialisador.

(Ibid.).

Dialisadores novos podem provocar dor lombar intensa (Síndrome do primeiro uso).

As reações ao dialisador são classificadas em dois tipos. A do tipo A é uma reação

anafilática, mais rara, que ocorre nos primeiros minutos da hemodiálise, provocando

25

dispnéia intensa, hipotensão, dores abdominais, sensação de calor, edema, prurido

e outras manifestações. É atribuída a uma reação alérgica a algum elemento do

sistema, como óxido de etileno, contaminação bacteriana e heparina. A do tipo B é

mais comum, menos grave, ocorre na primeira hora de diálise e provoca dor

torácica, dor abdominal e desconforto. Pode ser causada por ativação do

complemento. (THOMÉ et al., 1999).

A cefaléia é o sintoma doloroso mais comum, com prevalência anual da ordem de

53% e prevalência mensal de cerca de 63%. (EDMEADS, 1998 apud ANTONIAZZI

et al., 2002).

A cefaléia é sintoma freqüente em pacientes com IRC em regime de hemodiálise. A

identificação dos fatores possivelmente relacionados com a etiogênese de cefaléia

nesses pacientes, bem como o tratamento oferecido são tópicos de grande

interesse. Analisar fatores etiológicos envolvidos no desencadeamento de cefaléia

relacionada à hemodiálise certamente envolve dificuldades e baseia-se em grande

parte em inferências. Diversas variáveis estão envolvidas no procedimento dialítico e

a gênese da cefaléia provavelmente é multifatorial em muitos casos. (ANTONIAZZI

et al., 2002).

As causas da cefaléia são múltiplas desde hipovolemia, ansiedade, abstinência à

cafeína, até crise hipertensiva e síndrome do desequilíbrio. Geralmente requer

apenas tratamento sintomático. (THOMÉ et al., 1999).

No que concerne à terapia utilizada nos casos da cefaléia, a dipirona é o

medicamento parenteral mais freqüentemente prescrito para o tratamento da

cefaléia no Brasil. Mas esse tratamento medicamentoso em pacientes com IRC, seja

profilático ou de uso agudo, torna-se um dilema para o médico, não somente pelas

alterações metabólicas e excretórias dos pacientes, mas também pela ausência de

estudos controlados sobre a eficácia das drogas utilizadas em pacientes com ambas

as patologias. (FRAGOSO, 1998; BIGAL, 1999 apud ANTONIAZZI et al., 2002).

A despeito de ser a cefaléia muito comum em pacientes com IRC é pobremente

estudada. Existem dificuldades em sua classificação, caracterização clínica,

26

entendimento de seus mecanismos fisiopatológicos e poucas evidências suportando

as condutas atualmente realizadas. Torna-se necessário fundamentais estudos que

aprofundem o tema e que possam redundar em alívio para pessoas que, além de

conviverem praticamente em dias alternados com procedimentos dolorosos,

entediante e que implica riscos, porém estritamente necessário para sua

sobrevivência, tem que suportar o impacto e desconforto causado pela cefaléia.

(ANTONIAZZI et al., 2002).

Geralmente a hemodiálise é um método de tratamento sem complicações, mas às

vezes, observa-se ocorrências agudas negativas principalmente na área cárdio-

respiratória durante os primeiros trinta minutos de hemodiálise. Entre elas, pode-se

citar hipoxemia e leucopenia. (CANAVARROS et al., 1985).

A hipoxemia arterial ocorre cerca de 15 minutos após o início da hemodiálise, às

vezes causando sintomas respiratórios ou cardíacos em pacientes com doença

pulmonar subjacente. A ativação do complemento por componente da membrana

causa sequestração de leucócitos na vasculatura pulmonar, com leucopenia,

aumento do gradiente alvéolo capilar e diminuição da capacidade de difusão

pulmonar. (THOMÉ et al., 1999).

A observação da hipoxemia em pacientes com função cardiopulmonar pode não

trazer conseqüências de maior importância. Entretanto, naqueles com outras

condições clínicas associadas, como doença coronariana, insuficiência cardíaca

importante, podemos observar o desenvolvimento ou agravamento de dispnéia,

confusão, arritmias cardíacas, dor precordial. (GARELLA, 1984 apud CANAVARROS

et al., 1995).

A hipoxemia depende da biocompatibilidade da membrana utilizada; membranas

sintéticas, como as de poliacrilonitrila, são melhores toleradas. A hipoventilação

alveolar também é descrita e resulta da formação de bicarbonato em pacientes

dialisados com acetato ou de alcalose metabólica intradialítica em pacientes

dialisados com doses altas de bicarbonato. (THOMÉ et al., 1999).

27

A hemodiálise se acompanha por algum grau de hipoxemia, independente do uso de

acetato ou bicarbonato, como alcalinizante. Provavelmente, este é um fenômeno de

causa múltipla. De um lado, parece haver redução significativa do número de

polimorfonucleares, após o início da hemodiálise. O fato pode dever-se a leucostase

intrapulmonar, por ativação da rota alternativa do complemento, gerando radicais

vasoativos e bronco-constritores. De outro lado, há hipoventilação alveolar,

subseqüente à perda de CO2 para o líquido de diálise. O tipo de membrana em uso

também é importante. Os efeitos são mais intensos se são usadas membranas de

cuprofane e acetato. Há menor alteração com o uso de membranas biocompatíveis

(polissulfona ou poliacrilonitrila) e bicarbonato. (D’ÁVILA; FIGUEIREDO, 1996).

Segundo Canavarros et al. (1996) a possibilidade de formação de microagregados,

durante a HD favoreceu pesquisas procurando observar métodos de filtração do

sangue. Assim, Bischel et al. observaram que restos celulares do sangue estocado

ou heparinizados durante a diálise seriam formadores em potencial de

microêmbolos, os quais poderiam ser introduzidos na circulação dos pacientes caso

não fossem mantidos métodos adequados de filtração e desviados ao nível

pulmonar. Observam também anormalidades na função pulmonar com alteração da

relação ventilação / perfusão, sendo atribuídas a microembolização dos pequenos

vasos pulmonares. Entretanto, Aurigemma et al. após utilização de diversos

microfiltros, não observam hipoxemia atribuindo a esta a "perda" de CO2 para o

banho de diálise à hipoventilação.

O fenômeno da leucopenia foi inicialmente descrito por Kaplow et al., em 1968,

quando observaram profunda neutropenia ocorrendo entre o segundo e o décimo

quinto minutos após o início da sessão de hemodiálise. A leucopenia inicialmente

não foi atribuída à remoção física por parte da membrana dos dialisadores, embora

se saiba hoje que existe importante participação da mesma nesse fenômeno. Em

1970, Toren e cols. Também descreveram a neutropenia nos primeiros minutos da

sessão de hemodiálise e postularam a existência de um fator femoral que seria

formado no dialisador e produziria acentuada leucopenia, tão logo fosse introduzido

nos pacientes. A neutropenia inicial seria conseqüente ao seqüestro celular por

determinados órgãos, principalmente os pulmões. (Ibid.).

28

Avaliando a dinâmica dos leucócitos durante a hemodiálise, Gral e cols. supõe que

existiria uma substância liberada pelo dialisador e designada fator leucocinético

devido a sua possível ação enzimática, que ativaria ou seria ativada por um

constituinte do sangue e agiria ao nível dos neutrófilos circulantes, produzindo

neutropenia através do seqüestro celular. Entretanto, o dano à célula

temporariamente seqüestrada é mínimo ou nenhum, e que, logo após o período de

leucopenia inicial por seqüestro pulmonar celular, há retorno do número de células

seqüestradas acrescidas por células provenientes da medula óssea, provavelmente

como resposta a neutropenia. (CANAVARROS et al., 1996).

De acordo com as informações atuais, parece que a leucopenia observada nos

primeiros minutos de uma sessão de hemodiálise depende do contato do sangue

com a membrana do dialisador no seu primeiro uso. Diferentes tipos de membranas

produzem diferentes alterações na contagem dos leucócitos. A partir do contato

inicial poderia haver ativação dos componentes do complemento com seqüestro

leucocitário passageiro em diversos órgãos, principalmente os pulmões. Quanto à

hipoxemia, que igualmente se constata no início da hemodiálise, vários fatores

parecem estar em causa. Entretanto os mais importantes seriam: a hipoventilação

devido à "perda" de CO2 pela membrana do dialisador para o banho de diálise e

possível alteração na relação ventilação/perfusão pela leucotaxia pulmonar. (Ibid.).

Tem sido observado quadro neurológico grave em pacientes que estejam com níveis

sanguíneos de uréia muito elevados, vigorosamente dialisados pela primeira vez,

denominado de síndrome de desequilíbrio. Esta síndrome é causada por uma

demora na transferência de uréia do cérebro para o sangue, causando um gradiente

de concentração e levando ao edema cerebral. As manifestações incluem cefaléia,

náuseas, vômitos, hipertensão, astenia e até convulsões e coma. Pode ocorrer

durante e após a hemodiálise. (D’ÁVILA; FIGUEIREDO, 1996; THOMÉ et al., 1999).

Segundo Thomé et al. (1999) existem algumas intercorrências relacionadas ao

acesso vascular. A instalação de cateteres em qualquer sítio pode provocar reação

alérgica ao óxido de etileno usado na esterilização ou embolia aérea no

procedimento. Os cateteres podem ficar obstruídos por coágulos ou apresentar

dificuldades para fluxo venoso (mais freqüente na jugular ou na subclávia). Para

29

evitar obstrução do cateter, deve-se heparinizá-lo quando não esta sendo usado.

Pode ocorrer também desconexão acidental com sangramento e saída espontânea

do cateter sendo estas intercorrências mais raras.

As fístulas arteriovenosas (F A V) é o acesso mais seguro e com maior duração,

mas também pode apresentar fluxo ruim que geralmente é causado por obstrução

parcial. O mau fluxo ocasiona pressão negativa excessiva no lado arterial do circuito

extracorpóreo e aumenta a probabilidade de recirculação e má diálise. A obstrução

parcial da F A V também acarreta resistência venosa excessiva, o que pode

provocar recirculação e diálise inadequada. Em ambas as situações, é necessário

investigar-se a fistula para que uma correção seja tentada, já que a história natural

dessas obstruções é de evoluir para obstrução total por trombose. (THOMÉ et al.,

1999).

Cãibras acontecem quando há perda rápida, intensa ou hipoosmolar de líquidos.

Episódios de hipertensão provocados por liberação de renina ocorrem e respondem

à infusão de volume. Outros sintomas inespecíficos são náuseas, vômitos, cefaléia,

dor torácica, dor lombar ou dorsal, prurido, inquietude e diarréia. Reações

pirogênicas podem ocorrer por contaminação bacteriana no filtro, das linhas ou do

líquido de diálise. Se a contaminação atinge o compartimento sangüíneo do sistema,

haverá bacteremia, que é bem menos freqüente. Episódios febris menos intensos

são comuns durante e logo após a hemodiálise, especialmente se há foco infeccioso

no paciente. Distúrbios metabólicos, tais como hipocalemia, hipernatremia,

hipercalcemia e hipoglicemia, também podem ocorrer na hemodiálise. (Ibid.).

Há alta prevalência de eosinofilia em hemodiálise. Como eosinófilos parecem

modular a reação local de hipersenbilidade, a eosinofilia poderia ser interpretada

como resposta alérgica a antígeno específico da diálise. Entre várias substâncias

implicadas, a principal parece ser a membrana de cuprofane. (D’ÁVILA;

FIGUEIREDO, 1996).

A hipotensão arterial sintomática observada durante a hemodiálise é a causa mais

freqüente de morbidade em pacientes com IRC, nessa forma de tratamento. Esta

intercorrência ocorre em cerca de 20 a 30% dos procedimentos realizados e mais

30

comum em mulheres e em idosos. A hipotensão arterial sintomática é definida como

pressão arterial sistólica abaixo de 90 mmHg ou queda em 25% desse valor quando

o paciente apresentar uma pressão sistólica basal de 90-100 mmHg e associados a

sintomas como zumbido, bocejos, fraqueza muscular, náuseas e vômitos, cãibras,

sudorese, taquicardia, dor precordial e confusão mental. (MARCÉN, 1988;

ZOCCALI, 1997 apud SOARES; OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

Durante a hemodiálise há redução de peso, de osmolaridade e volume plasmático e

de potássio. Estas alterações, mais o uso crônico de drogas vaso ativas e os

possíveis efeitos negativos da membrana e do alcalinizante em uso, sobre o sistema

circulatório, produzem instabilidade cardiovascular manifesta por hipotensão, em

cerca de 30% a 50% dos pacientes. (D’ÁVILA; FIGUEIREDO, 1996).

Existem dois tipos de hipotensão arterial relacionada à diálise; um tipo episódico que

ocorre tipicamente ao final do tratamento e um segundo, que é uma forma crônica e

persistente, que ocorre em um grupo de pacientes que tem pressão sangüínea

sistólica pré-diálise menor que 90-100 mmHg e que freqüentemente diminui mais

durante a diálise. As causas desse segundo tipo de hipotensão têm sido

relacionadas a uma disfunção autonômica ou a uma diminuição da reatividade de

vasos constritores. O primeiro tipo de hipotensão, que surge após transcorrido

metade do tempo da diálise, pode estar relacionado à decréscimos excessivos e

rápidos no volume sangüíneo resultando em uma diminuição do débito cardíaco. O

ideal para evitar a hipotensão relacionada a esta causa seria a utilização de

máquinas com dispositivo de ultrafiltração. (LIN, 1996 apud SOARES; OCHIRO;

SANNOMIYA, 2001).

Algumas intercorrências da hemodiálise podem ocorrer devido a erro humano ou

defeito do equipamento. Contaminação do sistema, ruptura das linhas venosas do

dialisador, coagulação do sistema, erros na formulação ou na diluição do líquido de

diálise são exemplos infelizmente comuns. A entrada de ar nas linhas a ponto de

ultrapassar o cata-bolhas venoso e chegar ao paciente pode ocorrer

desclampeamento espontâneo de pinças, ruptura das linhas e infusão inadvertida

em lugar da solução provocando dispnéia, dor torácica, convulsões e coma. O

tratamento consiste em posição de Trendelemburg e ventilação mecânica. O uso de

31

detectores de bolha acoplados à bomba de sangue previne esses episódios, mas é

importante não mantê-los desativados, o que, apesar de incorreto, é muito comum.

A formação de microbolhas de ar no compartimento sanguíneo do dialisador ou de

bolhas no compartimento do dialisato pode prejudicar a difusão e a eficácia do

procedimento. (THOMÉ et al., 1999).

Vários insultos podem provocar hemólise durante a hemodiálise: agentes oxidantes

(metemoglobinemia), agentes redutores como o formaldeido, trauma mecânico

(cateteres, pinças de resistência, obstruções no sistema, bombas de sangue muito

apertadas), hipoosmolaridade do dialisato e temperatura do dialisato superior a

470C. (Ibid.).

A tecnologia moderna fornece aos profissionais da unidade de hemodiálise

instrumentos que analisam com precisão, a composição do dialisato, a taxa de

ultrafiltração, permitindo ajustes de acordo com as necessidades individuais de cada

paciente; a temperatura do dialisato, no entanto, é regra geral aceitar que seja igual

a do interior do organismo, entre 37°C e 38°C. É sabido que variações térmicas

provocam grandes efeitos sobre a função cardiovascular; assim, indivíduos normais

expostos a um ambiente com temperatura de 40°C reagem com aumento do débito

cardíaco chegando a 15 litros/minuto, sendo que o normal é de 3 a 7 litros/minuto, e

aumentam em sete vezes o fluxo sangüíneo cutâneo, que é o instrumento para

dissipar calor do organismo. (MAGGIORE, 1995 apud SOARES; OCHIRO;

SANNOMIYA, 2001).

Embora as modificações ocorridas durante a hemodiálise sejam muito complexas e

com vários fatores atenuantes, as condições térmicas em que o tratamento é

executado podem melhorar o equilíbrio hemodinâmico do organismo e assim tornar

o tratamento mais tolerável para o paciente. (SCHNEDITZ, 1997; MAGGIORE, 1995

apud SOARES; OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

Atualmente, é possível reduzir a ocorrência de sintomas durante a hemodiálise com

máquinas que permitem modular a concentração de sódio no líquido e controlar o

volume de ultrafiltração, com membranas biocompatíveis e usando bicarbonato com

alcalinizante. Erros de formulação (concentrações inadequadas de sódio ou

32

potássio) ou temperatura errada do líquido podem ser evitados com estes

equipamentos. Cuidado com contaminação bacteriana da água e da solução de

bicarbonato, bem como adequado reprocessamento de dialisadores, evitarão

incidente desagradável durante hemodiálise. (D’ÁVILA; FIGUEIREDO, 1996).

33

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo da pesquisa

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, com base em dados secundários para

identificação do percentual de intercorrências durante as sessões de hemodiálise em

pacientes portadores de IRC. Segundo Chizotti,1998 o estudo quantitativo “prevê a

mensuração de variáveis preestabelecidas, procurando verificar e explicar sua

influência sob outras variáveis, mediante análise da freqüência e incidência e da

correlação estatística. O pesquisador descreve, explica e prediz”.

3.2 Local da pesquisa

O estudo insere-se na área da nefrologia. A pesquisa foi realizada em uma unidade

privada de saúde referência para tratamento de pacientes portadores de

insuficiência renal crônica que funciona na cidade de Salvador.

3.3 População / amostra

A população de estudo foi composta pelos prontuários dos pacientes portadores de

IRC que realizaram hemodiálise ou que estavam em terapia renal substitutiva na

unidade na data da realização da pesquisa e que tenham apresentado alguma

intercorrências durante a sessão de hemodiálise. Foram excluídos da pesquisa

prontuários de pacientes que não possuíam diagnóstico de IRC.

34

3.4 Coleta de dados/Instrumento de coleta de dados

O instrumento de pesquisa utilizado foi um formulário estruturado, onde constaram

as seguintes variáveis: idade, sexo, tipos de intercorrências, tempo de tratamento,

causas, condutas adotadas, doença predisponente e tipo de acesso vascular.

Utilizou-se como fonte de dados os prontuários dos pacientes que realizaram

hemodiálise na data da realização da pesquisa e que se encontravam em tratamento

no período da pesquisa. Os dados foram coletados no período de outubro e

novembro de 2010 após a autorização e assinatura do termo de consentimento livre

e esclarecido pela instituição. Coletaram-se dados de 47 prontuários.

3.5 Apresentação e discussão dos dados

Os resultados serão analisados, sistematizados e apresentados em forma de tabelas

destacando-se as variáveis definidas para a pesquisa. As variáveis serão

agrupadas, analisadas à luz do referencial teórico, a partir dos cálculos em

percentual simples, apresentados em forma de tabelas trabalhadas no Excel.

Os resultados foram analisados, sistematizados e apresentados sob a forma

descritiva, destacando-se as variáveis definidas para a pesquisa. As variáveis foram

agrupadas, analisadas à luz do referencial teórico, a partir dos cálculos em

percentual simples, apresentados em forma de gráficos e tabelas trabalhadas no

Word e Excel.

A análise a seguir teve como fonte de dados as informações obtidas através da

pesquisa em 47 prontuários de pacientes portadores de IRC.

Os dados analisados serão apresentados sob a forma de tabelas, calculados em

percentual simples como se segue.

35

Figura 1 – Faixa etária dos pacientes que mais apresentaram intercorrências

durante as sessões de HD. Salvador-Ba, 2010

A figura 1 mostra que o maior percentual de intercorrências durante as sessões de

hemodiálise ocorreu entre os pacientes com idade entre 46 e 55 anos (34,04%) e,

que o menor percentual delas ocorreu entre pacientes na faixa etária de 76 a 85

anos (2,12%) dos pacientes pesquisados. A análise da figura 2 revela que as

principais intercorrências durante as sessões de HD em portadores de IRC

ocorreram em pacientes do sexo feminino (53,20%).

A hipotensão arterial sintomática observada durante a hemodiálise e a cefaléia, são

as causas mais freqüente de morbidade em pacientes com IRC, nessa forma de

tratamento. Esta intercorrência ocorre em cerca de 20 a 30% dos procedimentos

realizados e mais comuns em mulheres e em idosos. (MARCÉN, 1988; ZOCCALI,

1997 apud SOARES; OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

As principais intercorrências observadas durante as sessões de HD entre os

pesquisados ocorreram em pacientes do sexo feminino, o que também foi

evidenciado no estudo de Soares (2001).

0

5

10

15

20

25

30

35

15 a 25 anos 26 a 35 anos 36 a 45 anos 46 a 55 anos 56 a 65 anos 66 a 75 anos

36

Já a faixa etária dos pacientes que apresentaram intercorrencias se apresentou

diferente neste estudo, onde a idade variou de 46 a 55 anos e não predominou entre

os idosos como no estudo citado.

Figura 2 - Sexo dos pacientes que mais apresentaram intercorrências durante as sessões de HD. Salvador Ba, 2010

46,80%53,20%

masculino - 22 feminino - 25

.

8,51%

6,38% 21,28%

63,83%

FAV

J

F

SC

37

Figura – 3 Distribuição dos principais tipos de acessos venosos utilizados pelos pacientes durante as sessões de HD. Salvador-Ba,2010

A análise da figura 3 evidencia que o principal o principal tipo de acesso venoso

utilizado para realização de HD entre os portadores de IRC pesquisados, foi o

acesso venoso central (AVC) em veia Jugular (63,83%) e, o tipo menos utilizado foi

a FAV (6,38%).

A hemodiálise é um método de depuração extracorpórea pelo qual o sangue obtido

por um acesso vascular (cateteres, shunts ou fístulas) é colocado em contato com

uma solução de diálise em um filtro especial que usa uma membrana semi-

permeável artificial. (VERONESE; MANFRO; THOMÉ, 1999).

O sangue pode ser retirado, limpo e devolvido ao corpo em velocidades entre 200 e

800 ml/min. O acesso à circulação do paciente deve ser estabelecido, já que existem

diversos tipos de acessos disponíveis. O acesso imediato à circulação do paciente

para hemodiálise aguda é feito ao se inserir um cateter de luz dupla ou de múltiplas

luzes na veia subclávia, jugular interna ou femoral. (SMELTZER; BARE, 2002).

As fístulas arteriovenosas (F A V) é o acesso mais seguro e com maior duração,

mas também pode apresentar fluxo ruim que geralmente é causado por obstrução

parcial. O mau fluxo ocasiona pressão negativa excessiva no lado arterial do circuito

extracorpóreo e aumenta a probabilidade de recirculação e má diálise. A obstrução

parcial da F A V também acarreta resistência venosa excessiva, o que pode

provocar recirculação e diálise inadequada. Em ambas as situações, é necessário

investigar-se a fistula para que uma correção seja tentada, já que a história natural

dessas obstruções é de evoluir para obstrução total por trombose. (THOMÉ et al.,

1999).

O principal acesso venoso utilizado para realização da HD entre os pacientes

pesquisados foi o Acesso Venoso central (AVC) com cateter duplo lúmen (CDL) em

Veia Jugular, que é recomendado para sessões de hemodiálise segundo Smeltzer

(2002).

38

A FAV é o acesso mais seguro e com maior duração, mas segundo abordagem dos

autores citados acima pode apresentar obstruções freqüentes, talvez por isso tenha

sido pouco observado entre os pacientes pesquisados.

Figura – 4 Distribuição do percentual de intercorrências havidas durante as sessões

de HD entre pacientes portadores de IRC. Salvador-Ba, 2010

Ao se observar a figura 4, percebe-se que 78,73% dos pacientes portadores de IRC

apresentaram algum tipo de intercorrência durante as sessões de HD.

Tabela 1 – Distribuição do percentual das principais intercorrências apresentadas pelos pacientes portadores de IRC durante as sessões de HD. Salvador, Ba, 2010.

Variáveis n = 89 % = 100

n %

Cefaléia 17 19,10%

Náusea 03 3,70%

Vomito 10 11,23%

Hipotensão 16 17,97%

Febre 07 7,86%

Calafrio 12 13,48%

Prurido 0 0%

Variáveis n = 89 % = 100

21,27%

78,73%

não - 10

sim - 37

39

Dor lombar 0 0%

Dor torácica 03 3,70%

Câimbra 05 5,61%

Parada Cardiorespiratória 0 0%

Dor abdominal 03 3,70%

Crise convulsiva 0 0%

Síndrome do desequilíbrio 0 0%

Outros 13 14,61%

Total 89 100%

A cefaléia e a hipotensão são apontadas através da análise da tabela 1 como as

intercorrências mais comuns, 19,10 e 17,97% respectivamente, entre os pacientes

analisados durante as sessões de HD e, as intercorrências menos evidenciadas

foram náuseas e dor torácica (3,70%).

Apesar de a hemodiálise fornecer uma dramática reversão da toxidade urêmica

prolongando indefinidamente a vida, ela não altera a evolução natural da doença

renal subjacente nem substitui por completo a função renal. Então o paciente fica

sujeito a inúmeras intercorrências e complicações. (SMELTZER; BARE, 2002).

Embora os benefícios da hemodiálise sejam inquestionáveis, muitas intercorrências

podem ocorrer durante o processo de hemodiálise. As intercorrências mais comuns

são febre e calafrios, prurido, dor lombar, dor torácica, cefaléia, náuseas e vômitos,

cãibras e a hipotensão arterial. Entre as intercorrências menos comuns, porém mais

sérias, estão à síndrome do desequilíbrio, reações de hipersensibilidade, arritmia

cardíaca, tamponamento cardíaco, hemorragia intracraniana, convulsão, hemólise e

embolia gasosa. (BREGMAN, 1996 apud SOARES; OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

As reações ao dialisador são classificadas em dois tipos. A do tipo A é uma reação

anafilática, mais rara, que ocorre nos primeiros minutos da hemodiálise, provocando

dispnéia intensa, hipotensão, dores abdominais, sensação de calor, edema, prurido

e outras manifestações. É atribuída a uma reação alérgica a algum elemento do

sistema, como óxido de etileno, contaminação bacteriana e heparina. A do tipo B é

mais comum, menos grave, ocorre na primeira hora de diálise e provoca dor

9

9

40

torácica, dor abdominal e desconforto. Pode ser causada por ativação do

complemento. (THOMÉ et al., 1999).

A cefaléia é o sintoma doloroso mais comum, com prevalência anual da ordem de

53% e prevalência mensal de cerca de 63%. (EDMEADS, 1998 apud ANTONIAZZI

et al., 2002).

A despeito de ser a cefaléia muito comum em pacientes com IRC é pobremente

estudada. Existem dificuldades em sua classificação, caracterização clínica,

entendimento de seus mecanismos fisiopatológicos e poucas evidências suportando

as condutas atualmente realizadas. Torna-se necessário fundamentais estudos que

aprofundem o tema e que possam redundar em alívio para pessoas que, além de

conviverem praticamente em dias alternados com procedimentos dolorosos,

entediante e que implica riscos, porém estritamente necessário para sua

sobrevivência, tem que suportar o impacto e desconforto causado pela cefaléia.

(ANTONIAZZI et al., 2002).

O primeiro tipo de hipotensão, que surge após transcorrido metade do tempo da

diálise, pode estar relacionado à decréscimos excessivos e rápidos no volume

sangüíneo resultando em uma diminuição do débito cardíaco. O ideal para evitar a

hipotensão relacionada a esta causa seria a utilização de máquinas com dispositivo

de ultrafiltração. (LIN, 1996 apud SOARES; OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

As principais intercorrências apresentadas pelos pacientes portadores de IRC

durante as sessões de HD evidenciadas nesse estudo também foram a cefaléia em

primeiro lugar, e em segundo a hipotensão, como foram relatados nos trabalhos dos

autores abordados anteriormente.

Tomando-se como base o referencial teórico deste estudo, pode-se afirmar que a

cefaléia é um sintoma comum em pacientes durante as sessões de HD.

Como afirma Smeltizer (2002), as causas da cefaléia podem ser diversas,

normalmente associadas a hipovolemia, ansiedade do paciente, abstinência à

cafeína, crise hipertensiva e síndrome do desequilíbrio.

41

Tabela 2 – Distribuição do percentual das principais condutas adotadas frente às

intercorrências durante as sessões de HD. Salvador-Ba,2010

Variáveis n = 51 % = 100

n %

Administração de medicação 35 68,62%

Suspensão da HD 04 7,84%

Suspensão da medicação 01 1,96%

Diminuição do fluxo da HD 01 1,96%

Não houve intercorrência 10 19,60%

Total 51 100%

A análise da tabela 2 mostra que as principais condutas adotadas frente às

intercorrências (cefaléia, náuseas, vômito, câimbra e calafrio) é a administração de

medicações (68,62%) e, as condutas menos utilizadas foram a suspensão da

medicação e a diminuição do fluxo da HD (1,96%)

No que concerne à terapia utilizada nos casos da cefaléia, a dipirona é o

medicamento parenteral mais freqüentemente prescrito para o tratamento da

cefaléia no Brasil. Mas esse tratamento medicamentoso em pacientes com IRC, seja

profilático ou de uso agudo, torna-se um dilema para o médico, não somente pelas

alterações metabólicas e excretórias dos pacientes, mas também pela ausência de

estudos controlados sobre a eficácia das drogas utilizadas em pacientes com ambas

as patologias. (FRAGOSO, 1998; BIGAL, 1999 apud ANTONIAZZI et al., 2002).

A administração de medicações para controlar intercorrências como a cefaléia é

amplamente utilizada nos centros de HD assim como no tratamento de outras

complicações que podem ser sanadas com o uso de alguma droga.

Tabela 3 – Percentual das principais co-morbidades associadas à IRC identificadas entre os pacientes pesquisados. Salvador, Ba, 2010.

42

Variáveis n = 62 % = 100

n %

HAS 39 62,90%

DM 15 24,19%

ICC 04 6,45%

ITU 01 1,61%

Bexiga neurogênica 01 1,61%

Uropatias 01 1,61%

Sem doença 01 1,61%

Total 62 100%

A tabela 3 evidencia que a principal doença de base associada à IRC identificada

nos pacientes pesquisados em uso de HD é a HAS (62,90%). As comorbidades

menos identificadas entre os pesquisados foram ITU, Bexiga neurogênica e

uropatias (2,12%).

As principais causas nos Estados Unidos que levam à insuficiência renal crônica e

conseqüente tratamento hemodialítico é o diabetes mellitus (36,2%) seguida de

hipertensão arterial (30,1%) e glomerulonefrites (12,9%). No Brasil é indicado como

principal causa a glomerulonefrite crônica (23%), seguida de nefroesclerose

hipertensiva (22%) e diabetes mellitus (17%). (RIELLA, 1996 apud SOARES;

OCHIRO; SANNOMIYA, 2001).

Soares (1998 apud WETZEL; SILVEIRA, 2005), conceitua a hipertensão arterial

como uma síndrome de origem multifatorial, caracterizada pelo aumento dos níveis

pressóricos arteriais, possibilitando anormalidades cardiovasculares e metabólicas

que podem levar a alterações funcionais e/ou estruturais de vários órgãos,

especialmente os rins.

Entre as diversas causas que levam a IRC, as mais comuns são a hipertensão

arterial (HAS), diabete mellitus (DM) e as glomerulopatias. Os rins são os principais

responsáveis pelo controle da pressão arterial, quando estes não estão com

funcionamento adequado, há elevação da PA, se houver uma constância no

9 43

aumento dos níveis pressóricos ocorrerá a piora da disfunção renal, fechando assim

um ciclo de agressão ao rim. O diabetes é uma das mais importantes causas da

falência renal, após cerca de 15 anos de diabete, um número relevante de pacientes

apresentam nefropatia diabética como complicação da doença. As glomerulopatias

são distúrbios que afetam a integridade funcional e morfológica dos glomérulos, são

síndromes limitadas ao rim. (ROMÃO JÚNIOR, 2004).

Levando se em consideração as observações dos autores descritos acima, foi

evidenciado neste estudo um percentual bastante elevado (62,90%) de pacientes

portadores de HAS em tratamento hemodialítico.

Isso reflete a necessidade de um trabalho multidisciplinar da equipe de saúde para

aumentar a adesão dos pacientes ao tratamento anti-hipertensivo, reduzindo dessa

forma a morbimortalidade por doenças associadas à hipertensão.

Tabela 4 – Distribuição do tempo de tratamento hemodialítico dos pacientes portadores de IRC pesquisados. Salvador, Ba, 2010.

Variáveis n = 47 % = 100

n %

1º sessão de HD 03 6,38%

01 a 03 semanas 09 19,15%

01 a 03 meses 18 38,30%

04 a 06 meses 8 17,21%

07 a 09 meses 04 8,51%

10 a 12 meses 01 2,12%

Mais de 01 ano 04 8,51%

Total 47 100%

A tabela 4 mostra que 38,30% dos pacientes portadores de IRC pesquisados

estavam realizando HD entre 01 e 03 meses e que 2,12% estavam em tratamento

há mais de 10 meses.

44

Para Guyton; Hall (2002) a perda da função renal, seja ela aguda ou crônica,

representa ameaça à vida. Em certos tipos de insuficiência renal aguda, pode-se

utilizar o rim artificial para que o paciente possa vencer essas dificuldades até que

os rins reassumam sua função. Se a perda da função renal for irreversível, é

necessário submeter o paciente a diálise crônica, para manter a vida. Milhares de

pessoas com insuficiência renal ou, até mesmo, com remoção total dos rins estão

sendo mantidas há 15 a 20 anos pela diálise com rins artificiais.

Os pacientes portadores de IRC, em sua grande maioria, ficam dependentes de uma

máquina dialisadora durante meses, ou muitas vezes, até durante anos, enquanto

esperam na fila por um transplante renal. Pode-se perceber, neste estudo, que

muitos dos pacientes portadores de IRC, que fizeram parte desta pesquisa, realizam

HD há muitos meses ou mais de um ano.

Esse resultado retrata a triste realidade dos portadores de uma doença crônica,

lenta e progressiva que são submetidos a sessões de HD periódicas para se

manterem vivos.

45

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo constata que a partir das analises dos dados a intercorrência mais

comum encontrada entre os pacientes portadores de IRC durante as sessões de HD

foi a cefaléia (19,10%) e em segundo lugar a hipotensão (17,97%).

O maior percentual de intercorrências durante as sessões de HD ocorreu entre

pacientes do sexo feminino (53,20%) e na faixa etária de 46 a 55 anos (34,04%) dos

pacientes pesquisados.

A principal doença de base ou comorbidade associada à IRC encontrada entre os

pacientes pesquisados foi a HAS encontrada em 82,97% dos casos.

Não foi possível fazer uma análise das possíveis causas das principais

intercorrências apresentadas pelos pacientes pesquisados por falta de registro nos

prontuários dos doentes.

É possível afirmar que com base no referencial teórico, a realização dessa pesquisa

permitiu identificar as principais intercorrências ocorridas durante as sessões de HD,

suas causas e as principais formas de evitá-las ou minimiza-las. Contudo, torna-se

necessário a realização de novos estudos que aprofundem sobre o tema, visto que

foram encontrados poucos trabalhos na literatura pesquisada.

Através deste estudo foi possível identificar e descrever o quanto é difícil e doloroso

para os pacientes se submeterem as sessões de HD. As pessoas que, além de

conviverem praticamente, em dias alternados, ligados a uma máquina, passam por

momentos conflitantes, entediantes e que implicam riscos, porém estritamente

necessário para sua sobrevivência, tendo que suportar o impacto e desconforto

causado por certas intercorrências.

É possível constatar também que o número de doentes portadores de IRC é

alarmante e está em crescimento acelerado, principalmente entre os portadores de

46

HAS, o que torna o percentual de pacientes dependentes de uma máquina

dialisadora ainda maior elevando dessa forma, a morbimortalidade entre doentes

renais.

Este estudo conclui que se faz necessário um esforço conjunto para uma maior

atenção nas políticas de saúde que contemplem os programas de controle de

Diabetes e Hipertensão para elevar a adesão dos pacientes ao tratamento anti-

hipertensivo, à profilaxia da hipertensão, ao controle e tratamento do diabetes que

estão entre as principais causas de IRC.

Diante do que foi exposto nesta pesquisa percebe-se que o treinamento e a

capacitação dos profissionais de saúde envolvidos na área da nefrologia também

são importantes para aumentar o número de profissionais qualificados

proporcionando um melhor atendimento e tratamento à população atingida pela IRC.

47

REFERÊNCIAS

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49

APÊNDICE A - PLANILHA

Pacientes Idade Sexo

Doença Tempo Tipo Intercorrências

M F FAV cateter sim não quantas causa tipos condutas

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

17

18

Doença predisponente da IRC: DM = diabete mellitus, HS = hipertensão arterial sistólica, G = Glomerolupatias, O = outras

Tempo de tratamento = Tempo

Tipo de acesso venoso (Tipo)

Cateter: sc = subclávia, j = jugular, f = femoral

Que causa levou a intercorrências durante o processo dialítico: 1- tipo de membrana do dialisador, 2- compenentes do dialisato, 3- falha do equipamento, 4-

falha na técnica da hemodiálise, 5- bolhas de ar no sistema, 6- variações térmicas do dialisato, 7- ganho de peso interdialítico, 8- ingestão de alimento durante a

hemodiálise, 9- “perda” de CO2 pela membrana do dialisador, 10- uso excessivo de anti-hipertensivos, 11- outro.

Quais os tipos de intercorrências ocorreram: 1- náuseas e vômitos, 2- cefaléia, 3- hipotensão arterial, 4- febre e calafrios, 5- prurido, 6- dor lombar, 7- dor

torácica, 8- cãibras, 9- parada cardio respiratória, 10- crises convulsivas, 11- síndrome do desequilíbrio, 12- outras.

Quais as condutas adotadas frente às intercorrências: 1- administração de medicamentos, 2- suspensão da hemodiálise, 3- pausa da hemodiálise, 4- outras.

50