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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão Região Sul 1 Interdisciplinaridade na constituição da pesquisa em alimentação no campo das ciências humanas Carla Pires Vieira da Rocha Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Luceni Hellebrandt Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Beatrice Corrêa de Oliveira Gonçalves Universidade Federal de Santa Cararina [email protected] Carmen Silvia Rial Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Resumo O presente artigo é uma reflexão acerca da Interdisciplinaridade nos estudos da alimentação no campo das ciências humanas. Na primeira parte do texto, exploramos o tema da alimentação apontando algumas evidências da necessidade de uma perspectiva interdisciplinar para a sua abordagem. A seguir, enfocamos no conceito de Interdisciplinaridade, visando compreender sua interlocução com os estudos alimentares. Por fim, apresentamos um breve panorama sobre os estudos da alimentação no campo das ciências humanas, no sentido de traçar não apenas as principais contribuições teóricas para a consolidação deste campo, mas como as mesmas podem se entrelaçar na constituição de um olhar interdisciplinar voltado a este fenômeno. Palavras-chave: Alimentação. Interdisciplinaridade. Ciências Humanas. 1. Introdução A alimentação tem merecido destaque em diferentes áreas do conhecimento. Tal panorama evidencia que a ingestão de um alimento, além do biológico, implica demais fatores como os de ordem cultural, social, econômica, política ou ecológica. Considerar a imbricação entre esses fatores vem se tornando crucial para se apreender a especificidade da alimentação humana, suas transformações e implicações, e também sua natureza complexa. Nas ciências humanas, a par de o que, onde, como e com quem comemos, emergem novas questões relativas ao local de onde provêm os alimentos, como são cultivados, produzidos ou comercializados, que modificações têm ocorrido em nossos hábitos relativos à comida, o que rejeitamos e o porquê, como nos definimos por meio das escolhas alimentares e ainda, à medida que proliferam discursos e imagens em torno do tema, quais representações sociais interferem em nosso consumo ou quais imaginários relativos aos alimentos vêm sendo constituídos, entre outros. Partindo de tais considerações, este artigo pretende refletir sobre a interdisciplinaridade na pesquisa sobre a alimentação no campo das ciências humanas, problematizando o tema a partir da seguinte questão: De que maneira se articula a relação entre alimentação e Interdisciplinaridade a partir deste campo?

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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

1

Interdisciplinaridade na constituição da pesquisa em alimentação no campo das

ciências humanas

Carla Pires Vieira da Rocha Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]

Luceni Hellebrandt Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]

Beatrice Corrêa de Oliveira Gonçalves Universidade Federal de Santa Cararina – [email protected]

Carmen Silvia Rial Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]

Resumo

O presente artigo é uma reflexão acerca da Interdisciplinaridade nos estudos da alimentação no campo das ciências humanas. Na

primeira parte do texto, exploramos o tema da alimentação apontando algumas evidências da necessidade de uma perspectiva

interdisciplinar para a sua abordagem. A seguir, enfocamos no conceito de Interdisciplinaridade, visando compreender sua

interlocução com os estudos alimentares. Por fim, apresentamos um breve panorama sobre os estudos da alimentação no campo

das ciências humanas, no sentido de traçar não apenas as principais contribuições teóricas para a consolidação deste campo, mas

como as mesmas podem se entrelaçar na constituição de um olhar interdisciplinar voltado a este fenômeno.

Palavras-chave: Alimentação. Interdisciplinaridade. Ciências Humanas.

1. Introdução

A alimentação tem merecido destaque em diferentes áreas do conhecimento. Tal panorama evidencia

que a ingestão de um alimento, além do biológico, implica demais fatores como os de ordem cultural, social,

econômica, política ou ecológica. Considerar a imbricação entre esses fatores vem se tornando crucial para

se apreender a especificidade da alimentação humana, suas transformações e implicações, e também sua

natureza complexa. Nas ciências humanas, a par de o que, onde, como e com quem comemos, emergem

novas questões relativas ao local de onde provêm os alimentos, como são cultivados, produzidos ou

comercializados, que modificações têm ocorrido em nossos hábitos relativos à comida, o que rejeitamos e o

porquê, como nos definimos por meio das escolhas alimentares e ainda, à medida que proliferam discursos e

imagens em torno do tema, quais representações sociais interferem em nosso consumo ou quais imaginários

relativos aos alimentos vêm sendo constituídos, entre outros. Partindo de tais considerações, este artigo

pretende refletir sobre a interdisciplinaridade na pesquisa sobre a alimentação no campo das ciências

humanas, problematizando o tema a partir da seguinte questão: De que maneira se articula a relação entre

alimentação e Interdisciplinaridade a partir deste campo?

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2. A alimentação como um tema interdisciplinar

A alimentação é vital; necessitamos de substâncias essenciais para nossa sobrevivência e

manutenção. Porém, o ato de comer é um fenômeno que envolve outras esferas: não nos restringimos aos

elementos ofertados pela natureza; a par de transformarmos de distintas maneiras o que esta oferece,

escolhemos o que vamos ingerir, onde e como, seguindo critérios de ordem econômica, ecológica e cultural,

em geral, condicionados à sociedade da qual somos parte.

Nessa mesma perspectiva, os alimentos ainda são impregnados de significados. Como chama a

atenção Garcia (2005), os mesmos são digeridos por processos orgânicos e também por representações

geradas pelo entorno cultural. Termos como estética, prazer, partilha, aversão, culpa, abundância, saciedade,

fome, nutrição, local, global, tóxico, saboroso, insípido, artesanal, natural, artificial, contaminado, ético,

seguro, saudável, calórico, industrializado, constituem uma parcela das incontáveis referências

sucessivamente incorporadas ao nosso vocabulário cotidiano; além de refletirem fatores de ordem mais

ampla relacionados ao fenômeno alimentar - seus processos históricos e sociais, suas dimensões biológicas,

psicológicas e culturais -, têm dado razão a uma infinidade de discursos em torno do que ingerimos,

repercutindo igualmente em nossas decisões alimentares. Como lembra o sociólogo Claude Fischler (1995:

14), “O homem biológico e o homem social, a fisiologia e o imaginário estão estreita e misteriosamente

mesclados no ato alimentar”.

Enquanto muitos desses discursos promovem as dimensões social, estética ou hedonista da

alimentação, outros atribuem às escolhas alimentares um papel determinante no que se refere aos seus

impactos na saúde e no meio ambiente. Nessa medida, colocam em cena questões emergentes que fornecem

outras matizes à urdidura na qual a alimentação vem sendo tecida ao longo da trajetória humana,

evidenciando, da mesma forma, a sua natureza interdisciplinar. Dentre tais questões, é de se exaltar as

correntes modificações no campo alimentar em nível global e que afetam de diferentes formas não só o

comportamento relacionado aos alimentos, mas também as práticas concernentes ao seu consumo.

Sobretudo nas últimas décadas do século XX, a indústria centralizou a maior parte do que consumimos.

Desse período para cá, os produtos da agricultura foram intensivamente transformados pelos processos

industriais. Paralelamente, a generalização dos artigos alimentares, produzidos então em maior quantidade e

a um custo relativamente mais baixo, favoreceu um aumento deste consumo. Na mesma conjuntura, a

mundialização dos mercados e a ampliação das redes distribuidoras e de transportes contribuíram para

intensificar as mencionadas modificações, uma vez que passaram a disponibilizar uma maior variedade de

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itens em diferentes locais e em zonas distantes geograficamente (FISCHLER, 1998: 846). Embora o

desenvolvimento dessa indústria apresente aspectos positivos - intensificação de procedimentos voltados à

higienização dos alimentos e maior oferta, entre outros -, ela vem dando causa a frequentes questionamentos

em torno do que comemos. A utilização indiscriminada de produtos químicos sintéticos no cultivo e no

processamento dos alimentos (fertilizantes, pesticidas, conservantes, colorizantes, aromatizantes, etc.), o

incremento da transgenia, são alguns dos fatores a motivarem problemáticas, principalmente no que

concerne à qualidade dos alimentos e aos seus impactos na saúde.

Este panorama, além de revelar a interconexão entre diversos aspectos da alimentação, aponta para a

complexidade envolvida nesse fenômeno. De acordo com Morin (2001: 38-39), a complexidade é expressa

quando elementos diferentes são inseparavelmente constitutivos do todo, abrangendo o econômico, o

político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico. Nas palavras do autor, é quando “[...] há um

tecido interdependente, interativo e retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o

todo, o todo e as partes, as partes entre si”.

Nesse sentido, pode-se considerar que a análise e problematização do tema da alimentação não

cabem na unilateralidade, exigindo, portanto, um olhar multifacetado e interdisciplinar. Como chama a

atenção Pombo (2007), a interdisciplinaridade é um conceito que invocamos sempre que nos defrontamos

com um daqueles problemas cujo princípio de solução sabemos exigir o concurso de múltiplas e diferentes

perspectivas. Reportando ao pensamento de

Claude Fischler, Garcia (2005: 276) nota que, para a compreensão da alimentação humana:

[…] é necessário reunir „imagens fragmentadas‟ do homem biológico e do homem social, do arcaico e

do contemporâneo […] é preciso considerar cada vez mais a natureza e a cultura de modo conjunto,

sem dissociá-las artificialmente, mas integrando-as num processo co-evolutivo biossociocultural.

Situada entre essas instâncias – natureza e cultura –, a alimentação tem, por um lado, as propriedades

nutritivas atendendo às necessidades biológicas do homem, e por outro o comportamento alimentar de

grupos sociais intimamente entranhado no sistema sociocultural.

Em sua análise da alimentação humana, Fischler (2005) considera a problemática acerca do tema um

sucessivo desenrolar de perguntas muitas vezes sem resposta, especialmente se levado em conta o estado

atual do conhecimento. Na abordagem das questões relativas à alimentação, defende a necessidade de se

fazer um balanço das coisas que se sabem e da que se desconhecem. Para tanto, aponta a necessidade de se

transpassar as barreiras disciplinares, fazendo incursões na história, na antropologia, na sociologia e na

psicologia, a economia e a nutrição, etc. Seguindo a mesma

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linha de pensamento, Garcia (2005: 276) elenca algumas das muitas indagações referentes à alimentação que

reportariam ao seu caráter interdisciplinar:

a) a constituição da diversidade de sistemas alimentares, isto é, como se estabeleceram a utilização, a

combinação de ingredientes e as formas de preparação de alimentos nas diversas sociedades; b) que

pressões operam sobre as escolhas alimentares; c) como as mediações socioculturais de

procedimentos e práticas relacionados à alimentação são constituídas e reconstituídas; d) como um certo repertório de alimentos é considerado comestível por algumas sociedades e não comestível por

outras; e) qual o impacto sobre a saúde das diferentes composições alimentares derivadas de

combinações estabelecidas por diferentes culinárias; f) como as tecnologias podem transformar a

cadeia alimentar.

Compartilhando do mesmo princípio, Wilk (2012) sustenta que nenhuma disciplina pode acomodar a

alimentação como um todo. Em sua tese, este seria um momento particularmente importante para a

construção de pontes entre as diversas disciplinas preocupadas com o tema, justamente por estarmos

enfrentando desafios sem precedentes, como os relativos às políticas de produção dos alimentos e seu

vínculo com as questões ambientais e a segurança alimentar.

Ao criticar a fragmentação dos estudos alimentares, o mesmo autor defende que haveria muitas

razões pelas quais uma abordagem empírica, iniciada com fenômenos observáveis - como as refeições ou o

ato de cozinhar, ao invés de uma abstração como a cultura ou a sociedade -, deveria se tornar a base para um

campo interdisciplinar. No entanto, isto deveria implicar não apenas a superação das divisões disciplinares

incorporados na estrutura de universidades, mas a tendência da academia de desvalorizar temas em geral

percebidos como mundanos ou prosaicos. A partir

dessas primeiras considerações, pode-se constatar que, se de um lado, a alimentação não deve ser tratada

como algo estanque, mas como um tema que convoca a interdisciplinaridade, por outro lado, fica evidente

que tal tratamento não ocorre de maneira dada: há que se reivindicá-lo. Do mesmo modo, é necessário levar

em conta que a interdisciplinaridade não se resume à aproximação de disciplinas; trata-se de um conceito

bem mais amplo, como veremos a seguir.

3. O conceito de Interdisciplinaridade

Como acima referido, a interconexão entre os diversos aspectos da alimentação revela a

complexidade envolvida neste fenômeno. De acordo com Morin (2001: 38-39), a complexidade é expressa

quando elementos diferentes são inseparavelmente constitutivos do todo, abrangendo o econômico, o

político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico. Nas palavras do autor, é quando “[...] há um

tecido interdependente, interativo e retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o

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todo, o todo e as partes, as partes entre si”.

Nesta perspectiva, tratar este tema de maneira fragmentada é reduzir as possibilidades voltadas à sua

compreensão. Podemos entender a alimentação como um dos objetos, com os quais Raynaut (2011)

relaciona a interdisciplinaridade: “nasce de uma relação com o mundo que não é a mesma que a ciência

estabelece, não podendo, portanto, se satisfazer com o trabalho de um segmento da realidade isolado por

razões apenas conceituais e metodológicas.” (RAYNAUT, 2011: 88).

Explorando um ponto de vista semelhante, Benevenuto (1994), ao abordar a mesma questão e

atenta ao viés nutricional, alerta que:

A maioria das pesquisas ligadas à nutrição humana e à análise de alimentos refere-se a problemas

que, mais facilmente, prestam-se à experimentação científica. Na literatura especializada são poucos

trabalhos que correlacionam regime alimentar com os determinantes extranutricionais e incluem os

aspectos socioeconômicos e culturais condicionantes da vida dos indivíduos. Forma-se, então, um

hiato entre o comer para suprir as necessidades bioenergéticas e o comer como expressão de

identidade cultural (BENEVENUTO, 1994:164).

A fim de ampliar o olhar sobre esta prática, Benevenuto (1994) ainda aponta a necessidade de se

estabelecer uma ponte entre um antes e um depois do ato de se alimentar. Para tanto, prevê uma nova

abordagem para estes estudos:

Embora inegável o predomínio biológico na nossa problemática, a evidência de que a mudança das

condições alimentares não se resume apenas aos aspectos meramente nutricionais, mas também aos da

cultura e da sociabilidade, indica que uma percepção renovadora já está se formando, impulsionando a

extensão da interdisciplinaridade, esta em franco processo de consolidação nas ciências naturais e

mais recentemente já penetrando nas ciências sociais (BENEVENUTO, 1994:164).

Além disso, a autora também reforça a evidência de uma lacuna no exercício de uma ótica disciplinar

voltada à alimentação humana:

A tendência a considerar a interação dos alimentos com o organismo, numa dimensão física, reflete a

separação cartesiana entre corpo e mente, afastando o estudo das manifestações psíquicas, sociais e

culturais. O ato de alimentar é visto a partir de uma interpretação desvinculada de qualquer significado que não o de base nutricional (BENEVENUTO, 1994:163).

Ou seja, quando se trata da alimentação humana, há uma complexidade intrínseca a este objeto

convocando a uma abordagem interdisciplinar. Mas para isso, há que se buscar um outro compasso, distinto

da cadência estabelecida pela ciência disciplinar hegemônica, que Wilk (2012), Raynaut (2011) e

Benevenuto (1994) mencionam.

A noção de interdisciplinaridade vai além da simples justaposição de disciplinas. Ela implica uma

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compreensão dialogada (KLEIN, 1990). De acordo com Minayo (2010: 436- 437), a interdisciplinaridade

“não configura uma teoria ou método novo: ela é uma estratégia para compreensão, interpretação e

explicação de temas complexos.”, ou ainda, “interdisciplinaridade constitui uma articulação de várias

disciplinas em que o foco é o objeto, o problema ou o tema complexo, para o qual não basta a resposta de

uma área só.” . Minayo corrobora o entendimento

de Pombo (2007), quando destaca que a interdisciplinaridade “[..] é um conceito que invocamos sempre que

nos confrontamos com os limites do nosso território de conhecimento” (POMBO, 2007: 07). As autoras

concordam com a necessidade de uma abordagem diferenciada em razão da demanda do objeto.

Ainda citando Pombo, podemos pensar que é justamente pela possibilidade da interdisciplinaridade

que podemos dar conta de alguns objetos, pois "só existem como objetos de investigação porque,

justamente, é possível pôr em comum várias perspectivas interdisciplinares.” (POMBO, 2007: 14).

Do mesmo modo, como observa Raynaut (2001: 84), “o desafio fundamental ao se adotar um

enfoque interdisciplinar consiste em tentar restituir, ainda que de maneira parcial, o caráter de totalidade, de

complexidade e de hibridação do mundo real, dentro do qual e sobre o qual todos pretendemos atuar.” .

Assim, é possível afirmar que, parte do desafio de se tentar restituir o caráter de totalidade de um

tema complexo como a alimentação, envolve sobretudo o enfrentamento e superação de abordagens

unilaterais. Entendemos que este é o exercício necessário e principal estratégia para os estudos sobre

alimentação.

4. Alimentação e Interdisciplinaridade no campo das ciências humanas

A alimentação sempre esteve no debate das ciências humanas, embora, muitas vezes, não fosse

considerado o tema principal de estudo. Poulain (2004) observa que o fato alimentar, por muito tempo, não

foi considerado um objeto sociológico em si, mas submetido a outros objetos sociológicos mais amplos,

servindo como um lugar de indexação. Visto como um aspecto secundário, muitos pesquisadores utilizaram-

se da observação dos hábitos alimentares para entender aspectos sociais, econômicos, políticos e religiosos

de uma determinada sociedade.

Durkheim (2009), por exemplo, não considerava a alimentação como um fato social1; para o autor, o

ato de se alimentar estava associado a questões biológicas e, por mais aspectos sociais que abarcasse, não

poderia se constituir enquanto objeto da sociologia. É interessante destacar que, neste período, a sociologia

1 Fato social para Durkheim está associado a maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e que são

dotados de poder de coerção.

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buscava se consolidar como ciência, o que exigia, portanto, objetos próprios de estudo, ou seja, objetos

sociais. Segundo Poulain e Proença (2003), a concepção de Durkheim é uma proposta de justificar a

sociologia nos moldes de uma ciência moderna. Para tanto, era preciso construir um território autônomo de

conhecimento, baseado na lógica da divisão e da especialização dos conhecimentos.

Apesar de Durkheim não entender a alimentação como um fato social, Paul-Lévy (1997) observa que

o autor defendia algumas dimensões do alimentar (as maneiras à mesa, as proibições e as obrigações

alimentares) como diretamente associadas aos fatos sociais. Paul-Lévy avalia que a perspectiva de Durkheim

relativa aos atos de beber e comer foi inclusive um dos pontos de desacordo teórico entre o autor e Marcel

Mauss. Enquanto Durkheim considerava que a alimentação não deveria ser pensada como fato social, Mauss

(2003) via no estudo da alimentação uma importante oportunidade de se buscar a articulação de diversos

campos do saber.

Segundo Paul-Lévy (1997), na perspectiva de Durkheim, a alimentação é um processo de

transformação físico-química que exclui reflexões sobre o corpo ou mesmo sobre o gosto. Dessa forma, o

sistema alimentar só é visto como um processo normativo, resultante da interiorização de regras. Como nota

Poulain (2004:172): “A primeira tradição se inscreve na lógica da exclusão e concentra seu interesse sobre o

que aparece como o menos corporal, o menos biológico e o menos psicológico da alimentação”.

Poulain (2004) lembra que Durkheim fez uma breve incursão no estudo sobre as práticas alimentares

para estudar a incorporação mágica e as relações entre a alimentação e a construção de identidades sociais.

Entretanto, o estudo ficou restrito ao aspecto religioso e às associações entre a alimentação e o poder mágico

dos considerados povos “primitivos”. Conforme o autor, a perspectiva da alimentação funcionalista de

Durkheim, posteriormente, influenciou autores como Halbwachs e a proposta de uma sociologia das

necessidades.

Ainda de acordo com Poulain (2004), é a partir dos estudos de Marcel Mauss sobre as técnicas do

corpo que as ciências sociais principiaram a conceber a alimentação em articulação com o biológico, o

social e o psicológico: “O que ressalta mais claramente destas técnicas do corpo é que nós nos encontramos

em toda parte na presença de uma reunião fisiopsicossociológica de uma série de atos” (MAUSS apud

POULAIN, 2004:173).

Diferentemente de Durkheim, que buscava distanciar a sociologia de outras ciências, Mauss via na

articulação entre diferentes campos do saber a possibilidade de progressos científicos:

Quando uma ciência natural progride, ela não o faz jamais no sentido do concreto, e sempre no sentido

do desconhecido. Ora, o desconhecido encontra-se nas fronteiras das ciências, lá onde os professores

“se comem entre eles” como diz Goethe. É geralmente nestes domínios mal divididos que residem os problemas urgentes”. (MAUSS apud POULAIN, 2004: 173)

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Os estudos sobre alimentação passaram a ganhar destaque na antropologia a partir da década de

1960, quando, segundo Poulain (2004), a alimentação deixa de ser uma possibilidade de leitura para se

constituir em objeto de estudo. Para o autor, nesse período, destacam-se as pesquisas de Lévi-Strauss,

Fischler e Grignon, que situaram o ato alimentar no âmbito de um fato social total e buscaram uma interface

entre os seus aspectos culturais, biológicos e psicológicos.

Em Antropologia Estrutural (2008), Lévi-Strauss se propõe estudar a alimentação como uma

linguagem universal “na qual cada sociedade codifica as mensagens que lhe permitem significar ao menos

uma parte do que essa sociedade é” (LÉVI-STRAUSS apud RIAL, 2010:109). Assim como no caso do

estudo do sistema de parentesco, Lévi-Strauss buscava na alimentação a combinação lógica de estruturas e

suas invariantes.

Para Lévi-Strauss (2008), a cozinha tem uma função mediadora que marca a passagem da natureza

para cultura. Segundo o autor, o fogo é um processo cultural que transforma o alimento cru em cozido. Já

Barthes, que também parte da perspectiva estruturalista, afirma que a comida é um signo. Em Mitologias

(2003), o autor relaciona determinados pratos a culturas específicas. O bife e batatas fritas, por exemplo, um

dos pratos mais consumidos pelos franceses na época, conotaria, segundo Barthes, a noção de

“francicidade”.

Apesar da importância dos estudos estruturalistas sobre a alimentação na década de 1960, Rial

(2010) observa que esses trabalhos pouco levaram em consideração o contexto econômico e social dos

lugares pesquisados. Tampouco questionaram as relações de poder no comércio de alimentos e as mudanças

no comportamento alimentar.

Harris (1978) foi um dos pesquisadores que questionou o viés simbólico dado à alimentação pelos

estruturalistas. Para o autor, as escolhas alimentares são conscientes e feitas levando em consideração o que

é melhor do ponto de vista nutricional. O autor avalia inclusive que as diferenças entre os hábitos

alimentares estariam baseadas em uma vantagem adaptativa. Do mesmo modo, os tabus e proibições

alimentares seriam justificáveis em termos de vantagens ecológicas.

Poulain (2004) pontua que Harris, Goody e Mennel se orientam por meio de uma perspectiva

desenvolvimentista da alimentação. Influenciados por Elias, os autores buscaram pensar as mudanças sociais

e as relações entre o social, o psicológico e o corporal através do processo de civilização. Segundo Elias, o

mesmo aparece como um processo de interiorização da esfera social pelo sujeito. Mennel (1992), por

exemplo, ao estudar as sociedades inglesas e francesas, observa as mudanças que modificaram os

comportamentos e promoveram a interiorização do controle das pulsões.

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Diferentemente dessa perspectiva, Sahlins (1979) retoma as pesquisas culturalistas sobre a

alimentação e critica Harris (1979:187): “os homens não sobrevivem simplesmente, eles sobrevivem de uma

maneira específica, reproduzem-se como certos tipos de homens e mulheres, classes sociais e grupos, não

como organismos biológicos”. Nesse sentido, o autor avalia que a produção de bens e, no caso dos

alimentos, vai além de uma lógica de eficiência material, uma vez que haveria uma intenção cultural nesse

processo:

O significado social de um objeto, o que o faz útil a uma certa categoria de pessoas, é menos visível por

suas propriedades físicas que pelo valor que pode ter na troca. O valor de uso não é menos simbólico ou

menos arbitrário que o valor-mercadoria. Porque a “utilidade” não é uma qualidade do objeto, mas uma

significação das qualidades objetivas (SAHLINS, 1979:189)

Ao estudar o consumo de carne, Sahlins (1979) observa que há uma divisão categórica entre as partes

internas e externas do boi. Segundo o autor, em alguns casos, a natureza orgânica da carne costuma ser

disfarçada ao se reconceitualizar partes da carne do boi, como o mignon, filé ou alcatra. Já as partes internas

(língua, coração, etc.), seriam carnes menos valorizadas por estarem associadas ao corpo humano: “Ao

ingerir as partes mais internas do boi o homem se aproximaria do consumo de carne humana, ou seja, do

canibalismo. Dessa forma, o valor social entre as partes do animal é o que produziria a diferença em seu

valor econômico” (SAHLINS, 1979:195).

Seguindo a mesma linha de pensamento, Bourdieu (2003), também concebe que as escolhas

alimentares se inscrevem para além de um processo biológico. De acordo com o autor, o gosto alimentar

está diretamente associado à classe social2. Dessa forma, não é algo natural, mas construído através do

capital escolar3 e do capital cultural

4. Nas suas palavras:

O gosto classifica aquele que procede à classificação: os sujeitos sociais distinguem-se pelas distinções

que eles operam entre o belo e o feio, o distinto e o vulgar, por seu intermédio, exprime-se ou traduz-se

a posição desses sujeitos nas classificações objetivas. (BOURDIEU, 2003: 13)

O autor nota que essas distinções feitas na alimentação também levam em conta a quantidade e a

qualidade dos produtos. Haveria, portanto, o gosto de necessidade, relacionado à procura por alimentos mais

2 Para Bourdieu, a classe é definida não só por sua posição nas relações de produção, ela é uma estrutura que

depende também de um conjunto de características auxiliares que funcionam como princípios reais de seleção ou exclusão como o

sexo, a idade, a origem social e a origem étnica.

3 Capital escolar é entendido por Bourdieu como aquele conhecimento adquirido através da educação e que é

capaz de promover distinções.

4 Capital cultural é, segundo Bourdieu, o que pode ser adquirido culturalmente mediante uma espécie de retirada

para fora da necessidade econômica. Assim como o capital escolar, também promove distinções.

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nutritivos e econômicos, e o gosto de liberdade ou de luxo, vinculado antes à valorização da maneira de

apresentar, servir e comer do que aos alimentos em si.

Bourdieu (2003) avalia que esses diferentes estilos de vida estão associados à capacidade de produzir

práticas e obras classificáveis e, a partir das mesmas, promover distinções. Nesse sentido, sua tese defende

que há uma estrutura estruturada e estruturante que organiza as práticas e sua percepção correlata, definida

pelo autor como habitus. Tal noção operaria no dia a dia a partir dos sistemas de classificação internalizados

pelo indivíduo, por meio da incorporação da estrutura do espaço social em que ele vive.

De acordo com Poulain (2004), é sob a influência do trabalho de Morin que ganha destaque uma

sociologia do comedor, assentada em estudar os vínculos entre a psicologia, a fisiologia e a sociologia.

Influenciado por Morin, Fischler foi um dos primeiros a buscar trabalhar nas interfaces disciplinares:

[…] olhares especializados não revelarão a verdade, justapondo-se, encaixando-se como as peças de um

quebra-cabeça; cada um deles é portador não de uma parte da verdade, mas de uma verdade completa.

Verdades aliás complementares e não concorrentes pois interativas e irredutíveis umas às outras. Isso

quer dizer que a transdiciplinaridade, mesmo que aventureir, deveria prevalecer sobre a simples

pluridisciplinaridade”. (FISCHLER apud POULAIN, 200:67).

Poulain (2004) observa que Fischler, em seu artigo “Gastronomia, gastro-anomia”, centra seus

estudos no “comedor”, mostrando que os consumos alimentares são incorporados a ponto de se tornarem o

próprio comedor. Nesse sentido, o alimento se diferencia dos outros consumos porque é incorporado e

contribui para o processo de construção da identidade. No mesmo artigo, Fischler também propõe uma

abordagem pluridisciplinar da alimentação e uma interpretação sobre a modernidade alimentar. Segundo o

autor, vivemos em um momento de superabundância alimentar, diminuição dos controles sociais e de

multiplicação dos discursos sobre a alimentação. Ainda, segundo Fischler, os alimentos são ambivalentes

porque ao mesmo tempo em que causam prazer promovem o desprazer e evocam saúde e doença.

Rial (2010) observa que a interdisciplinaridade é um dos marcos de Fischler, em que ele procura

relacionar pesquisas de nutricionistas e psicólogos ao que vinha sendo estudado pela antropologia. Segundo

Rial, esse alargamento do campo da antropologia remete ao começo da disciplina em que os estudos

antropológicos procuravam contemplar aspectos culturais, linguísticos, arqueológicos e físicos:

Se Flandrin é fundamental à compreensão da alimentação contemporânea pela perspectiva também

histórica que aporta, com Fischler aprendemos a abordar a alimentação como um fato social total, à la

Marcel Mauss, nas suas dimensões simbólicas mas também fisiológicas, psicológicas, nutricionais. (RIAL, 2010:121)

Poulain (2003), assim como Fischler, também parte da concepção de fato social total de Mauss, para

argumentar que a alimentação é um objeto sociológico total porque coloca em movimento a totalidade da

sociedade e das suas instituições. O autor usa o conceito de espaço social de Condominas (1980) para falar

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de um espaço social alimentar, entendido como um espaço de liberdade do comedor, porém, ao mesmo

tempo, condicionado por aspectos biológicos e culturais:

Ele corresponde assim à zona de liberdade dada aos “comedores” humanos por uma dupla série de

condicionantes materiais. De um lado, pelas condicionantes biológicas, relativas ao seu estatuto de

onívoro, que se impõem a ele de maneira relativamente flexível e, de outro lado, pelas condicionantes

ecológicas do biótopo no qual está instalado, que se transformam em condicionantes econômicas nas

sociedades industrializadas e que tendem a se reduzir conforme se controla tecnologicamente a natureza

(POULAIN,1999:202).

Poulain e Proença (2003) chamam atenção para o fato da alimentação se configurar como um objeto

de estudo ambíguo, que ao mesmo tempo é social e biológico. Para os autores, é através da

pluridisciplinaridade e da interdisciplinaridade que se deve buscar pesquisar a alimentação, o que requer do

pesquisador a habilidade de dominar não só os conhecimentos da área em que ele está inserido, mas também

de territórios vizinhos.

Como argumentam Poulain e Proença (2003), enquanto objeto complexo e ambíguo de estudo, a

alimentação não se restringe ao social - o que Durkheim tanto procurou delimitar – ou ao biológico. Nesse

sentido, a noção de fato social total de Mauss foi o que permitiu à alimentação ser transformada em um

objeto de estudo das ciências humanas, tornando igualmente possível pensar na articulação do social, com o

biológico e psicológico:

A autonomia social apresenta uma série de inconvenientes para os objetos situados à margem, aqueles

que extrapolam esta territorialização de conhecimentos, aqueles que se desdobram no no man‟s land do

recorte do saber, e a alimentação é um deles. Novamente, para trabalhar esses objetos, os

inconvenientes são teóricos, operacionais e estratégicos (POULAIN e PROENÇA, 2003:247).

Considerações finais

A alimentação vem ganhando relevo em diferentes campos do conhecimento e motivando diversas

investigações. Na área das ciências humanas, a alimentação sempre esteve presente no debate, mesmo antes

de ser protagonista. Hoje, em virtude das progressivas transformações relacionadas ao que ingerimos,

mapear a origem de determinados alimentos, identificar os processos culturais que permeiam as suas

escolhas e consumo, o teor de suas modificações ou então determinadas representações acerca do que

ingerimos, são algumas das muitas questões a darem razão a crescentes pesquisas direcionadas ao tema. A

sua análise e problematização, no entanto, vem refletindo cada vez mais a complexidade envolvida neste

fenômeno.

Se as referidas questões mostram que a alimentação não se restringe aos seus aspectos biológicos,

elas também evidenciam que abordagens unilaterais devem ceder lugar a um olhar multifacetado,

principalmente, se considerado contexto atual. Nesta medida, a interdisciplinaridade é um conceito-chave,

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pois permite compreender não apenas como atuam os encaixes de um determinado objeto, como a

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