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ALESSANDRA ARRIADA | RS

Internacional

Se você escala ou pratica esportes ao ar livre éporque preza estar em ambientes livres, boni-tos, amplos, que tragam paz e tranqüilidade.Você com certeza se inspira e se motiva ao verum pôr do sol, uma montanha belíssima, umavegetação exuberante, e se enche de vida aorespirar ar fresco e puro. Possivelmente na suainfância você subiu em várias árvores, andou eacampou em leito de rio, correu a cavalo, comeumanga do pé e mais um monte de coisas maravi-lhosas. E mais ainda, você teve pais ou padri-nhos ou até mesmo amigos, que fizeram vocêvivenciar essas experiências, passando aapreciá-las e até mesmo incorporando-as comohábito ou como estilo de vida.Hoje tudo parece mais difícil. A cidade aumentoue o verde encolheu. Você tenta andar de bicicle-ta e comer orgânico, mas respirar ar puro pare-ce até mesmo utópico. A correria do dia a dia e abusca por trabalho obrigam mesmo quem nãogosta, a morar na cidade, e muitas dessasvivências simples e belas se perdem. Se paranós é difícil, que ainda pegamos o carro e fugi-mos no final de semana, para as crianças pare-ce impossível.Os pequenos de agora não sabem de onde vemo leite, nunca ralaram o joelho, e não precisanem a mãe dizer pra não voltar pra casa depoisde escurecer porque elas nem saem de casaaté escurecer jogando seus videogames. Pare-ce não haver um equilíbrio entre tecnologia e osantigos valores do bem viver: pegar sol, correr,conhecer outros lugares e culturas, viver a na-tureza, sorrir, conversar, aprender com a terra,com o mar, com o sol.

Mas felizmente essa também é a preocupa-ção de algumas entidades, empresas e atle-tas. Não no Brasil, ainda, claro. Mas iniciativascomo essas com certeza são multiplicadoras.Uma empresa conhecida por ser líder mundialno segmento outdoor há mais de 40 anos, alémde implementar uma série de medidas susten-táveis na produção de seus produtos, comomitigações e compensações nas emissões decarbono, lançou um programa de incentivo asatividades outdoor principalmente direcionadaas crianças. O Programa chamado “ExploreFund – Helping kids discovering naturesplayground (algo como Exploração divertida –ajudando crianças a descobrir o playgroundnatureza)” tem o apoio de diversosescaladores e tem o objetivo de inspirar e aju-dar a próxima geração a explorar e vivenciara natureza oferecendo para isso financiamento

a organizações sem fins lucrativos (ONG’s) arealizarem projetos com este mesmo fim. Elesalegam que incentivando os jovens a uma vidaao ar livre, estão formando pessoas maisesclarecidas intelectualmente e favorecidasemocionalmente, aptas a um convívio socialmelhor e ainda, principalmente, motivadas a pre-servação das áreas naturais do planeta. Ouseja, paralelamente aos programas de recupe-ração e de preservação em áreas degradadasou quase isso, é importante formar pessoascapazes de gerir e de viver em um ambientemelhor.A empresa exige que a instituição candidata eos projetos apresentados preencham algunsrequisitos. Eles têm que ser voltados à comuni-dade, possuir objetivos específicos e detalha-dos além de valorizar aqueles de ampliação delocais com áreas verdes e abertas. Nada deprojetos de pesquisa, campanhas políticas, pa-lestras e congressos. O jovem ou criança teráque vivenciar o que a instituição propõe a ensi-nar. O fundo não cobre salário de ninguém,mas se propõe a construir um parque, um muro

de escalada, a‘derrubar osmuros’ comodito no progra-ma.A Big CityMountaineers éuma instituiçãoparte dissodesde o anopassado. Foicontempladacom o recursoe focou justa-mente na recu-peração de jo-

vens e crianças através das atividades e es-portes ao ar livre como a escalada. Ela ajudamais de10.000 crianças por ano, que, de outraforma poderiam nunca ter tido a oportunidadede ter tal diversão e atividade inspiradora parti-cipando de expedições e clínicas de escalada.O lema da campanha parece simples: ‘If I canmake it up that mountain, I can do anything’ , oconhecido se eu posso subir essa montanha,posso fazer qualquer coisa, mas que faz umagrande diferença para aqueles que nunca ti-nham parado pra pensar nisso.Essa mesma empresa conta com o apoio deconhecidos escaladores para o projeto ‘Summitfor Someone’ ou seja, escalar por alguém. Oescalador atinge não apenas o cume como tam-bém arrecada fundos de apoio a jovens e cri-anças. Bennet Barthelemy e Cedar Wright es-calaram enormes paredes de granito na Ásia euma das maiores formações vulcânicas naMalásia (Tioman Island) conhecida como DragonHorns em busca de diversão e filantropia. Qual-quer escalador pode participar, basta se ins-crever no programa, escolher o destino entreos oferecidos, pagar pelo serviço, que incluiguia e alguma estrutura. Ou ainda você podeentrar no site e apoiar os escaladores inscri-tos. Para 2012 são dezoito previstos, com dife-rentes destinos que variam desde as monta-nhas da América do Norte até o Himalaia.Com certeza, os dias que passamos nas mon-tanhas são aqueles em que fortalecemos nos-so caráter, nossa humildade diante do maior,nossa confiança em nós mesmos e em nossoscompanheiros, nossa claridade de idéias e ide-ais e nosso respeito, tanto a natureza, quantoaos nossos limites e ao dos outros. E isso deveser passado a diante, seja como for.

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ANDRÉ BEREZOSKI| SP

Parece até clichê dizer que a união fez a base.Não, a união não fez só a base. A união fez aforça. Força que moveu, durante quase 2 me-ses, várias alavancas pela comunidade climberde São Bento do Sapucaí. Moveu toneladas depedras e galhos, trouxe o despertar de uma novavisão sobre o que é se doar para a escalada,sobre motivação conjunta para acordar muitocedo sabendo do árduo trabalho pelo dia queseguia, tocando linhas maravilhosas de boulders.Trabalhando na base e retoques de alguns blo-cos e unindo toda uma comunidade num só ob-jetivo: a paixão pela escalada e pela vontademútua de fazer o esporte se desenvolver naregião. Assim começou o Sumba Boulder. De umpoint incrível e inédito descoberto pelos olhoscaçadores de pedra, eu diria até que biônicosde Arjuna Sundara, aliado à necessidade de SBSsediar mais um grande evento de escalada e,acima de tudo, reunir de uma vez por todas todaa comunidade climber, seja ela local, estadual ounacional num só evento.Tudo começou pela ideia de se realizar um fes-tival de escalada após tanto tempo (o último BLOXfoi em 2003), e com um novo point nas mãos, osplanos se concentraram em oferecer uma com-petição nos moldes das competições em muro,só que na rocha, aliado a uma enorme quantida-de de linhas a serem exploradas para todos osníveis de escaladores. Como este trabalho era omais fácil, o árduo mesmo foi ajeitar todas asbases, pois, caso houvesse quedas não dese-jadas, a base estaria nos mais altos padrõespara uma aterrisagem segura (a INFRAERO apro-vou). Todos os domínios foram limpos e algumasespécies de plantas foram retiradas cuidadosa-mente e replantadas em outro local; todo o mate-

Sumba Boulder 2011 A união fez a baserial utilizado para contenções e barreiras parabases foi disponível do solo após as podas deinverno feitas pelos proprietários das terrasde toda a região. E assim foram 4 meses detrabalhos incessantes toda semana no point, eentre uma enxadada e outra, rolava mesmo(apesar de muito cansados) testar algumasdas maravilhosas linhas lá existentes.Paralelo ao trabalho árduo, toda uma rede deinformações foi criada para atender a web,com blog, Facebook, vídeo teaser, cartazes,etc. Correr atrás de apoios só foi possível,mesmo com pouco tempo disponível, graçasaos eternos parceiros do climb, escaladoresde raízes que depositam parte de suas empre-sas para apoiar todo e qualquer evento deescalada. Comerciantes de SBS se atraírampela causa, além dos escaladores locais quepossuem algum tipo de comércio e se doaramem prol do evento. E no fim, ou começo, oSumba Boulder contou com um montante deprêmios que superou as expectativas da or-ganização, que até os últimos dias não sabiacomo seria o retorno, mas que, após um traba-lho exemplar de divulgação, o evento passoua ser muito esperado até a data, tomou gran-des proporções além das metas até entãoestabelecidas.No sábado ensolarado do dia 1 de outubro,todos se reuniram na Montanhismus para aretirada de camisetas, mapas e um briefingsobre a competição, que começou no pointÁreas com o desafio masculino e, após algu-mas horas, graças ao Route Setter responsá-vel, Mr. God, que proporcionou linhas lindas eum toque especial com os 3 bouldersencadenados por Felipe Camargo, no femini-

no Mr. God também deu uma pincelada nosboulders e intensidade, com Thaís Makino reali-zando as 3 linhas do desafio.O sol apareceu forte, mas antes ele do que achuva. A galera se divertiu demais nos 2 diasevento, nas mais de 70 linhas abertas.A festa de premiação na Montanhismus à noite,regada de uma vibe fenomenal, reuniu todas astribos da escalada. Prêmios foram sorteados eos elogios se estenderam noite adentro refe-rente a um evento marcante, onde todos os pre-sentes estavam extremamente satisfeitos, in-dependentemente de resultados, cadenas oudesafios.O que fica mais marcante para nós foi a satisfa-ção geral. Em 20 anos de escalada, muitas ho-ras participando de eventos, e ultimamente portraz deles, não me recordo de um onde não hou-vesse algum tipo de incidente ou reclamação. Obombardeio de elogios superou em muito todosos níveis de expectativas da organização, mar-cando uma nova fase dentro da escalada, ondetudo isso só foi possível graças a uma fórmula

que não é secreta, mas sim difícil de ser exe-cutada: a união por um ideal, que conciliou osmelhores pontos de vista e experiência de vá-rios nomes, um evento feito por escaladores epara os escaladores. Com esta receita o re-sultado foi mais que disfrutado, entrou para ahistória da escalada não só para SBS, maspara a escalada nacional.Agradecimentos a toda equipe Sumba Boulder(Sundara, Carlera, Paulinha, Nívea, Cláudio,Yuri, Gibara, Cacá Nisi, Lello, Aranha, Cassinho,Moisés, Alan, Francisco e Rogerinho). Aos nos-sos apoios: Conquista Montanhismo, MundoVertical, SOS Sapatilhas, Belê Pad, Curtlo, Casade Pedra, Evolv, 4Climb, Montanhismus, AltoPosto Barracão, Casarão, Chalé Cláudio e Yuri,Chalé do Arjuna Sundara, Abrigo do Aranha,Arca Móveis, Pousada Canto da Lua, Restau-rante Sabor e Arte, Vita Pharma e Prefeitura deSão Bento do Sapucaí. Não esquecendo ja-mais os escaladores e público que compare-ceu em peso. Obrigado!Boas escaladas e até o Sumba Boulder 2012.

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�Topo do Monte Khuiten�Caminhada de aproximação

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on theavalanche

Os guias Lisete Florenzano e ManoelMorgado, juntamente com Eduardo San-tos Filho e José Roberto Resende foramos primeiros a levar a bandeira verde-ama-rela para esse cume. Sueli Mantay, que fezparte da expedição, chegou ao campo altoa 3600 metros. O Khuiten fica na região das montanhasAltai, na fronteira entre a Sibéria, China eMongólia. Esta região ainda é muito pou-co visitada por turistas e escaladores, sen-do inclusive difícil conseguir informaçõessobre a escalada. Após 6 dias de caminhada pelo AltaiMongol, região lindíssima e habitada pelaetnia cazaque, chegamos ao campo base. Nosso plano era escalar o Monte Malchin(4.100m de altitude) para aclimatação. Nodia seguinte seguiríamos para o campoalto do Khuiten e no outro tentaríamos ocume, voltando ao campo alto. Mas as condições climáticas, no campobase, não estavam favoráveis. Chegamosem meio a uma forte nevasca, com dificul-

dade para montar as barracas e muito frio.Fomos dormir torcendo para que o tempomelhorasse... E assim, os deuses das montanhas nosbrindaram com um lindo céu azul, semvento e com a paisagem toda branca, co-berta pela neve. Seguimos ao nosso pri-meiro objetivo, o Monte Malchin. Commuitas pedras soltas e neve, a ascensãofoi um pouco complicada. Todos nós pen-sávamos na descida, sempre mais deli-cada que a subida. Chegamos ao últimocolo, antes do cume, sem saber exata-mente quantos metros faltavam (nossoguia local não sabia informar com certe-za) e como estavam as condições da nevena aresta depois desse colo. Apesar dobom tempo, Resende e Sueli decidiramdescer, pois acreditávamos que o cumeainda estava a 300m verticais deste colo.Resolvi acompanhá-los na descida en-quanto o Manoel e o Eduardo seguiramao cume que para surpresa de todos, es-tava a apenas 150m verticais do colo... Mas

a decisão foi acertada, pois a neve já es-tava derretendo, complicando ainda maisa descida. Mas chegamos todos bem, devolta ao campo base. No dia seguinte, seguimos ao campo altodo Khuiten. Depois de uma hora de cami-nhada pela morena lateral ao glaciar, pa-ramos para colocar botas duplas,crampons e nos encordarmos. Estáva-mos com nosso guia de montanha local,Bold, já que tínhamos a informação deque a travessia desse glaciar, o maior dopaís, era um pouco delicada. Fizemosduas cordadas: Bold, eu, Eduardo e Águan(guia assistente) em uma, Sueli,Resende e Manoel em outra. Foram qua-tro horas andando pelo glaciar, com mui-tas gretas pelo caminho, até chegarmosao campo alto. Durante a subida, perce-bemos que nuvens pesadas estavamaparecendo por trás das montanhas.Chegando ao campo alto, rapidamentecomeçamos a cavar plataformas na nevepara as barracas, já que o tempo estava

realmente virando. Montamos a últimadas 3 barracas já em meio a nevasca.Bold, que estava com o fogareiro, derre-teu a neve para o nosso jantar: um paco-te de comida liofilizada por pessoa. De-pois disso, fomos dormir torcendo maisuma vez para que a montanha nos des-se uma trégua no dia seguinte. Acordamos com o vento soprando mui-to forte em nossa barraca. A nevascahavia parado, mas ao sairmos da barra-ca percebemos que o vento no cumeestava realmente muito forte. Uma nu-vem de neve levantava do topo da mon-tanha, resultado dos ventos fortíssimos.Paciência é uma das grandes virtudesdo escalador... Entramos e saímos dasnossas barracas várias vezes, esperan-do e observando. O céu ainda estavabastante escuro, com nuvens pesadase o vento não dava trégua. Começamosa pensar em um plano B. Mas, às 7h damanhã, o céu começou a clarear. Aindaventava, mas o céu azul nos deu ânimo.

Depois de outros 40 minutos, Bold nos dis-se que a escalada era possível de ser fei-ta. Rapidamente começamos a nos orga-nizar, comendo algo e nos equipando paraa subida. Sueli, que no dia anterior haviase cansado muito, decidiu que iria voltar.Águan desceu com ela rumo ao campobase. Finalmente às 9:30h estávamosprontos para a escalada. O caminho começou com uma leve incli-nação e com neve bastante fofa. Bold foiabrindo a trilha, e Eduardo e eu estávamosem sua corda. Manoel seguia atrás comResende. Pouco depois a inclinação au-mentou bastante, dificultando o trabalho dolíder. Percebemos, também, que Bold nãoestava em sua melhor forma física e para-va a cada 5 passos. Começamos a ficarpreocupados, pois rapidez na montanha éimportante. E não sabíamos como o tem-po iria se comportar. Se virasse novamen-te, teríamos que sair de lá o mais rápidopossível. Assim, Manoel tomou a liderança e come-çou a abrir a trilha na neve. Melhoramosum pouco nossa velocidade, mas aindaíamos lentos. Por outro lado, a montanhase mostrou lindíssima, com neve intocadae rodeada por muitos outros picos bastan-te próximos. Seguimos contornando 4 afloramentos ro-chosos. Em dois trechos a inclinação ficoumuito mais forte, chegando a 45 graus, nosobrigando a usar muita energia e técnicanas partes de gelo puro. As montanhas Altaiiam se mostrando lentamente, para nos-so deslumbre. Enxergávamos cada vezmais longe e o visual era mais e mais fan-tástico.Finalmente chegamos à aresta final, quenos levava ao cume. O dia estava perfeito,com o céu azul e sem vento nenhum! Nossentíamos fortes e ao saber da proximida-de do topo nos fez ainda mais ansiosos. Eassim, depois de 6 horas de escalada, aochegar no topo do Khuiten com todos oscompanheiros da escalada, nos sentimosrealizados, felizes e deslumbrados pela be-leza do lugar. Vista da Sibéria, com milha-res de picos brancos de um lado; um vastoplatô semi-árido do lado chinês e os ver-

Pela primeira vez, uma equipe de escaladores brasileiros chega ao cume da mais alta montanhana Mongólia, o Monte Khuiten (4.374m de altitude), em uma das regiões mais remotas do mundo.

des vales do lado da Mongólia completa-vam o cenário. Muitos abraços, declara-ções e fotos depois, nos deixamos ficarum pouco naquela que é uma das cincomontanhas sagradas para os mongóis. Depois de 40 minutos no cume, iniciamosa descida pela mesma rota que usamospara subir. Mais uma vez, Bold seguia de-vagar e quebrava nosso ritmo. NaMongólia os dias são longos, tem-se luzaté 21 horas. Mas mesmo assim, estáva-mos preocupados com nossa velocidadede descida. Ficar na montanha por muitotempo é cansativo, queríamos chegar logonas barracas para comer, hidratar e des-cansar. Mas tudo correu bem, e às 19:30horas chegamos de volta ao campo alto.Eu, Manoel e Bold começamos a derreterneve e após nosso jantar de comidaliofilizada, dormimos.No dia seguinte, seguimos para o campobase, atravessando novamente o glaciar.Devido ao calor dos últimos dias, as gre-tas estavam cobertas com pouca neve evolta e meia alguém acabava com a pernatoda dentro desses buracos invisíveis.Fomos com muito cuidado. Ao chegarmosno campo base, fomos recebidos pelaSueli e por nosso staff com muitos abra-ços e congratulações pela escalada... Quecoisa boa rever nossa companheira e todoo pessoal. De presente, tivemos um ótimoalmoço e o luxo de um banho de canecacom água quente! Dois dias depois, estávamos no nossovôo indo de volta à Ulaan Baatar. Pensavaem tudo o que havíamos vivido nessesdias de trekking e de escalada. Me lem-brava da vista do cume, dos inúmeros pi-cos nevados que iam até onde os olhospodiam ver. Observava também meuscompanheiros de expedição, felizes e rea-lizados, assim como eu. E tudo isso mereforçava e idéia de que sonhar é precisoe os sonhos podem ser realizados. Comonas escaladas, é necessário uma dosede energia e disposição para os desafiosque inevitavelmente irão aparecer. Não im-porta qual é o sonho... ele será a “monta-nha” e ser conquistada.

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Juliano em um dos platôs

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O famoso trem da ̈ Morte¨ como muitos o chamam,percorre cerca de 650 Km até a cidade de SantaCruz, perto da metade do trajeto após passar peloPueblo de Roboré, começa a Serrania Chiquitana ebem na base desta serrania esta o minúsculo po-voado de Chochis, que na língua Chiquitana signi-fica ̈ Furia del Viento¨.Estava à janela do trem, no dia 3 de julho de 2001por volta das 23h00 com uma imensa lua cheia,quando apareceu uma linda formação de um cerrotestemunho que tentei fotografar sem êxito. Aimponência daquelaa montanha me chamou muitoa atenção.Chegando em Santa Cruz me informei sobre a mon-tanha que era chamada por eles de A Torre de

Chochis ou a Muela del Diablo. Falaram que nun-ca ninguém havia chegado no seu cume e juntocom as informações um monte de lendas locais,como um lago no cume com ouro, OVNIS, vir-gens etc...Acabada minha viagem voltei para São Paulo eentrei na internet a procura de alguma informa-ção, mas na época não havia nada, e isso mechamou mais atenção. Montei um projeto de abrira primeira via desta montanha. Voltei à Bolíviaapós anos, mas sempre com destino as monta-nhas geladas de La Paz, e sempre que ia porterra ficava namorando a Torre de Chochis epensando no projeto que estava na gaveta.No final de 2010 decidimos, eu e minha esposaboliviana Cruceña, ir morar em Santa Cruz de la

Sierra e fazer o montanhismo e a escalada cres-cerem na região. Em principio de 2011 jáestavamos na Bolívia e junto comigo, meu antigoprojeto que ja estava por cumpletar 10 anos.Assim que cheguei, entrei em contato com ospouquíssimos e novos escaladores de SantaCruz. Coloquei o projeto para andar, fui a Chochispela primeira vez, passei pela base da imensatorre e peguei uma amostra de rocha para com-prar ancoragem química, pois a rocha é um arenitobem ruim.Voltei uma segunda vez a Chochis para pedirautorização na prefeitura pois a rocha esta den-tro de um santuário Mariano, além de que, é tam-bém uma área protegida.Estando tudo certo, marcamos a data de saádapara o principio da conquista.Saimos de Santa Cruz eu (Leonardo JulianoMangano) brasileiro, de São Paulo, FedericoBueno Aloisio de Mendoza Argentina, EduardoDiaz de Tarija Bolivia e Jose Luiz Belmont ̈ Lucho¨de La Paz Bolivia.Chegamos a base da montanha bem pesadospelos equipamentos e água. Começamos a pro-teger a via, e a rocha que parecia firme, seesfarelava ao toque, e grandes pedaços esta-vam soltos e se precipitam montanha abaixo.Armamos a primeira parada a uns 15 metros dabase. Esperamos secar a colados grampos e mandamos paracima. Batemos mais uma chapabem a base da fenda que nesteponto era negativa e entramosna fenda que a princiípio se podeproteger com 2 camalot grandes,mas uns 2 metros e meio acima,já não entrava nada. A fenda sealargou e ficou 90º e já não ca-bia nenhuma peça. Podia-semeter o braço todo e fazer pres-são contra o cotovelo e ir man-dando pra cima, a progressãoera lenta e totalmentedesprotegida a mais ou menosuns 12m da última proteção, háuma pedra entalada na fendacomo um grande nut, e é issoque me deu um alívio assim quea laçei com um cordilete e cos-turei. Assim pude respirar. Aproveito para olhar a via decima para baixo, vejo que esteesticão foi super arriscado, emcaso de uma queda seria uns25 metros se chocando compequenos platos e pontas de ro-cha, neste ponto a fenda come-ça a se alargar e já se pode co-loca o ombro dentro, depois umaperna até que se trasforma

numa chaminá bem apertada e nada de prote-ção. Há ainda uma passagem por um pequenonegativo, e por fim um platô, ótimo para umas 4pessoas. Deste ponto podemos subir o equipo efazer uma parada ótima, ea fenda continuavapara cima.Colocamos uma corda fixa ancorada em três pe-dras boas e descemos, enquando a ancoragemquímica da parada secava para o próximo dia.Logo pela manhã, estamos na segunda parada,que já secaram, e faríamos neste dia, um bomuso para elas. A fenda continuava ainda negati-va e sem agarras e de um tamanho grande paraentrar as peças que tínhamos. Consigo protegerfora da fenda no negativo com duas nuts peque-nos e um camalot #1. Sigo progredindo lento eescorregando no pó da pedra instável. A uns 3metros e meio, a inevitável queda que sacou as 3peças antes que eu aterrisasse de costas meta-de no plato e metade no vazio. Batia a cabeçaforte na pedra e o capaçete compriu sua função,os olhos quase saltam da cara. A parada funcio-nou bem, com a respiração ofegante me concen-tro. Respiro fundo e volto a parede.Para evitar outra queda no mesmo lugar faço usode um piton e estribo para superar o lançe, saio

do negativo, passo pela barriga da fenda e en-tro na parte positiva, que é puro musgo amarelo.O pé não para de jeito nenhum, e ali fico um bomtempo tentando e pensando até que os braçoscomeçam a tijolar. Saco outro piton e o meto-onuma rachadura na horizontal as peças antesque tome outro vôo.Cheguei numa parte bem tranquila que nos le-vou até um grande platô, onde foi feito uma pa-rada . Carregamos tudo para cima e nosso ami-go Lucho teve que voltar a Santa Cruz, pois seufilhote iria nascer.No 4º dia seguimos eu, Federico e Eduardo.Avançamos até o Nido de Sucha ̈ ninho do uru-bu¨ onde foi feita uma parada, uma química eoutra num buraco na rocha.No 5º dia trabalhamos duro, já com pouquíssimaágua e um calor medonho. Abrimos caminho nomeio de caquitos e outros tipos de espinhos atéchegarmos numa canaleta, onde podemos es-calar mais seguros e com um pouco de sombra.Chegamos de noite no local da 5ª parada, bati osgrampos a noite mesmo para no outro dia elaesta bem seca. Bivacamos esta noite num lugarhorrível cheio de ̈ vinchuca¨ parecido com o bi-cho barbeiro. As horas passavam e era impos-sível dormir de sede e pelos bichos. Fomos dor-mir bem na beirada do precipicio com um ventofortíssimo, mas pelomenos sem bicho. Nesta ma-drugada só restava 1 litro de água para nós trêse esse era meu medo.Assim que começou a amanhecer nos reunimospara pensar o que fazer, seguir sem água até ocume, ou voltar 120 metros abaixo até o acam-pamento base.Decidimos seguir. Um gole de água e parti rumoa uma floresta de espinhos que tive que abrir nofacão uma pequena trilha para poder passar-mos. Deste ponto para cima, não paramos parafazer furo para proteções, usamos tudo quehavia arbustos, pedras, árvores etc... Estiqueios 60 metros de corda protegendo onde dava e

seco de sede e com um calor cada vez pior. As9h30 da manhã, no final da corda estava subin-do e olhando para cima até que a última paredeestava abaixo dos meus pés e já não havianada mais a cima. Em uma hora os 3 estavamreunidos no cume da Torre de Chochis pelaprimeira vez. Um lugar nunca antes pisado, umaescalada dura que a princípio eu pensei queseria tranqüila. Não dei a devida importancia amontanha. Uma incrável paisagem de parte dooriente boliviano. Deixamos uma caixa no cumepara registro de futuros escaladores e umabandeira de Robore a pedido do Prefeito.

A descida foi brava e com um sol de uns 30 epoucos graus, já sem água desde antes docume, e racionando água a dois dias, estavamosdesidratados e sem comer nada para não sen-tirmos mais sede e isso pesou muito. A descidafoi árdua e confusa, queriamos nos apressarmas o risco iria ser grande, com o desesperoda sede. Não conseguíamos pensar direito, aboca e a garganta estavam secas e já não su-ávamos. Lembrei que deixara meu martelo nocume, e não pude recuperar dois pitons queestavam no caminho. Por volta das 15h00 che-gamos na base exaustos pelo calor, fome esede, mas bem e seguros. Bebemos e come-mos como gente grande este dia todo.No outro dia, a prefeitura de Robore e a subprefeitura de Chochis nos parabenizaram napraça principal pela conquista, e por ajudar noturismo local com um novo ponto turístico paraescaladores de todo mundo que passarem porlá rumo á La Paz e ao Peru.Um sonho, um projeto realizado

Agradecimentos à:Rocódromo Montanha Escalada e Resgate,Roupas de Escalada RURP, água Roboré e aosoutros membros da equipe de conquista queaceitaram participar deste projeto.

Torre de

ChochisEm 2001 estava indo ao Peru para uma tra-vessia e tive que cruzar o oriente bolivia-no em trem. Esta viagem começa na fronteiraBrasil – Bolívia e termina na cidade deSanta Cruz de la Sierra – Bolívia.

LEONARDO JULIANO | SP

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A Agulha do diabo fica situada na uni-

dade de conservação do Nacional da

Serra dos Órgãos, seu acesso se dá

por árduos 16 km de caminhada, os pri-

meiros 10 km são feitos pela famosa

trilha da Pedra do Sino, uma caminha-

da semi-pesada, todavia bem extensa,

chegando ao local conhecido como cota

2.000, deve-se pegar a bifurcação à es-

querda, e dar inicio a trilha Caminho das

orquídeas, trilha conquistada pelo len-

dário Salomith, com intuito de acessar

o abrigo 4 quando o mal tempo surpre-

endia os montanhistas que pretendiam

escalar a agulha. Após este trecho nada

fica fácil, pois a trilha fica sobre pedras

escorregadias quase sempre muito mo-

lhadas, o famoso Vale da geladeira, que

é o último trecho pra se chegar à base

da via.

Na época desta empreitada os

protagonistas formados pelo Centro Ex-

cursionista Brasileiro foram Giuseppe

Toselli, Almy Ulissea, Roberto Menezes

de Oliveira, o italiano Raul Fioratti e o

alemão Günther Bucheister, foi o fecha-

mento de um período de grandes con-

quistas no Brasil, principalmente na re-

gião do Rio de Janeiro, que se denomi-

nava como “era do desbravamento”, an-

tes desta conquista, que só iniciou-se

No mesmo ano em que era criado o Parque Naci-onal da Serra dos Órgãos,pelo Decreto-Leinº1822 em 1939, no governo do então presiden-te Getúlio Vargas, cinco aventureiros davaminicio a uma grande conquista, e nem imagina-vam o quanto repercutiria em todo mundo, aconquista da grandiosa e imponente Agulha dodiabo de 2.050m de altitude que só teve tér-mino em 1941.

em 1939 e terminou em 1941 grandes

vias haviam sido alcançadas como

exemplo do próprio Dedo de Deus em

1912, Nariz do Frade em 1933, o ca-

sal Wilfred e Sylvia Bendy chegaram

pela primeira vez ao topo do Dedo de

Nossa Senhora em 1934, Escalavrado

e o Cabeça de Peixe em 1931, tam-

bém em 1931, após várias tentativas,

foi realizada, 19 anos depois, a primei-

ra repetição do Dedo de Deus, por

Richard Brackmann, Otto Hartmann e

Karl Siegel.

Um ano após este lendário pe-

ríodo foi aberta a Travessia Petrópolis-

Teresópolis 1942, o que cooperou de

forma muito enriquecedora para o su-

cesso desta unidade que obtêm cada

vez mais um número expressivo de vi-

sitantes, não só na parte alta denomi-

nada uso de área extensiva, mas tam-

bém na parte baixa com atrativos

como camping, piscina natural cacho-

eiras impressionantes e uma ótima

infra-estrutura para receber escolas e

várias universidades de todo Brasil,

sendo a mais de 10 anos a Unidade

de Conservação mais pesquisada do

Brasil. Recentemente, a comunidade

escaladora do Brasil teve mais um mo-

tivo pra se orgulhar dessa imponente montanha, A Agulha do Diabo, no Parque

Nacional da Serra dos Órgãos, foi esco-

lhida por escaladores de todo o mundo

como uma das 15 escaladas em rocha

mais desejadas de todo o planeta. A pes-

quisa foi divulgada pelo conceituado site

Hottnez, especializado em viagens e aven-

tura. A nossa querida rocha teve a honra

de estar entre picos e parques famosos,

como o El Captain no Parque de

Yosemite, na Califórina e as Torres Del

Paine, no Chile. Outro monumento brasi-

leiro, o Monte Roraima, também está na

lista.

Aos amantes da montanha, e que

também estão ansiosos para fazer está

maravilhosa escalada vai algumas dicas

muito importantes: Atualmente os locais

de camping permitidos no PARNASO se

restringem as áreas que possuem os

abrigos 4 e abrigo do Açu, outras áreas

somente são permitidas em casos de

emergência. Todavia para os que forem

realizar a escalada da agulha do diabo

o uso do camping paquequer é permiti-

do, bem próximo ao local chamado Mi-

rante do inferno no Caminho das orquí-

deas. O camping paquequer abriga no

máximo 6 pessoas tem água potável

bem do lado e sua distância para a base

da via é de cerca de 1h de caminhada.

Lembrando que não somente essa mon-

tanha mais para acessar qualquer mon-

tanha no interior do PARNASO deve pre-

ceder a assinatura do Termo de Ciência

de Riscos. Para maiores informações

quanto às regras de uso público do

PARNASO acesso o site: http://

www4.icmbio.gov.br/parnaso/

�Michel Abdelnur na via Normal da agulha�Frederico assinando o livro de cume

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Hillo Santana na Pedra do Sino

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on the rocks

No dia 6 de junho de 2011, quarta-feirapartimos do Humaitá, zona sul do Rio deJaneiro, eu Hillo Santana (Brasil), PabloToranzo (Argentino), uma equipe de carre-gadores, outra equipe da SporTV. Saímosdo Rio e fomos para o Parque Nacional daSerra dos Orgãos emTeresópolis, lá or-ganizamos os equipamentos e começa-mos a caminhada até o Abrigo 4 as 9h00.Cada mochila pesava aproximadamente60kg. Alguns dormiram na trilha, outros vol-taram pro Rio e o restante prosseguiu co-migo até o Abrigo 4.Devido ao excesso depeso chegamos ao abrigo por volta de1h00, ou seja, levamos, mas de 15 horasde caminhada. No dia seguinte prosse-guimos a nossa caminhada até a entradado vale, que acessa a base das vias daface sudeste da Pedra do Sino.Porém aequipe que deveria descer o vale até abase conosco, desistiu após 50 metros.Eu e o Pablo tivemos que descer todo osequipamentos o que nos consumiu 8 ho-ras, descendo a vale até a base da via aser conquistada.Dia seguinte, pela manhã, iniciamos aconquista da primeira enfiada. Tive muita

dificuldade porque a primeira enfiada davia estava molhada e com limo.As 05h00 do dia seguinte coletamos 100litros d’água em 50 garrafas de 2 litros eorganizamos em três haulbags juntocom equipamentos. Finalizei a primeiraenfiada,reboquei dois haulbags atéa primeira parada.Ao entardecer, uma nuvem cobriu todo ovale ,rapelei até a base e montamos oportaledge em uma árvore bem segura efui dormir as 18h00. Uma hora depoiscomeçou a chover no vale, e depois de20min de chuva tivemos que sair doportaledge, pois o volume de água co-meçou a aumentar assustadoramente.Tentamos guardar alguns equipos queestavam fora dos haulbags. A chuva fica-va cada vez mais forte, molhando tudo,roupas sleeping bags, calçados, casa-cos... tudo ficou molhado .Passamos das21h00 a 01h00 tentando deslocar oportaledge para um local a uma distan-cia de 3 metros, onde não passava tantaágua.Preocupado com a hipótese dehipotermia, retornamos ao abrigo 4, le-

vando todas as roupas molhadas parasecar.Tivemos que descer até a cidade deTeresópolis para recarregar as baterias etrazer o restante dos mantimentos queestavam guardados na administração doParque e escondidos nas trilhas.Dormimos no abrigo Serra dos Órgãosdo escalador Ivo Júnior.As 13h00 iniciamos a caminhada de 12km até o Abrigo 4. Antes do sol nascer,descemos o vale e quando estávamos a50 metros para alcançarmos a base,Pablo caiu e bateu forte com o joelho napedra e ficou impossibilitado de escalar.Os próximos 3 dias, me dediquei à con-quista em solitário e abri uma nova via(variante) até o platô do Escorpião, parapodermos nos abrigar da chuva, desta for-ma eu deixaria uma corda fixa do platô até a base, caso precisássemos bivacar,teríamos uma rota de fuga nos livrandode uma chuva.Reboquei uma parte dos equipamentose mantimentos até o platô do Escorpião erapelei no final da tarde até a base onde

tivemos que bivacar, pois o Pablo estava impossibilitado de andar.Ao amanhecer organizamos 2 haulbags edeixamos fixos no alto de uma árvore, su-bimos até o vale com nossas mochilas edepois das 09h00 chegamos ao abrigo 4.Descemos a trilha até o parque e volta-mos para o Rio de Janeiro. Segundo osmédicos, Pablo estava com uma fissurade 2mm no joelho o que obrigou a voltarpara Buenos Aires.Ia voltar para terminar a conquista em so-litário, mas lembrei do grande amigo ecompanheiro de conquista, JúlioCampanela. Não o encontrei. RosaneCamargo escaladora do RJ procurou porele e soube que estava fazendo um traba-lho industrial e não poderia ir e me comu-nicou imediatamente.Pedro Aires que iria me ajudar na equipede base também não pode ir porque o avôdele acabara de falecer . Arrumei a mochi-la e quando ia partir pra Teresópolis,Lucas “Jha” Marques, falesista, me telefo-nou dizendo que gostaria de participar daconquista, mas estava em viagem e quechegaria ao Rio de Janeiro em 4 dias.

Aguardei a chegada dele e do cinegrafistaJúlio Blander que não se planejou bempara as filmagens ou talvez não tivesseuma idéia do era e escalada no Sino.Subimos a trilha do Sino na chuva, estavamuito frio e forte neblina, pois segundo aprevisão climáticas o tempo iria abrir nospróximos dias. Pernoitamos no Abrigo 4 eno dia seguinte fomos no cume doGarrafão onde é possível ver o headwallda Pedra do Sino e a linha onde pretendí-amos conquistar e fazer uma boa leituranos possíveis diedro que o paredão ofe-rece. Em seguida fomos para o vale daPedra do Sino e descemos pra base davia. Ao chegarmos na base, expliquei aoLucas o lugar por onde passaria a linhada via e subimos até ao platô do Escor-pião pela via que havia conquistado emsolitário e bivacamos no platô. As 06h00 rapelamos até o início da linhaoriginal da via e começamos a conquistaem uma fenda em S.Os primeiros 20metros consumiram o dia todo e a gradu-ação sugerida é um 9c.Depois fiz uma horizontal em cliff até umdiedro a direita sendo uma alternativa aolance exposto da via original, faltando 15mpara o fim da terceira enfiada, fixei umachapeleta e voltei ao platô, pois já anoite-cia e uma forte neblina dominava todo ovale. No dia seguinte, Jha finalizou a con-quista da terceira enfiada em um peque-no platô e iniciou a quarta enfiada comcerca de 35m em livre até o início de umdiedro, onde infelizmente foram batidos 2

grampos, pois a parada poderia ser emproteção móvel.Guiei um diedro de 35 ou 40m com mui-tas agarras podres (A3), Jha fez com cor-da de cima com 5 quedas e estimou um9c.Conquistamos a próxima enfiada de 40m,um 8a, quandoJ ulio, o cinegrafista come-çou a jumarear pelas cordas fixas na baseaté o platô do Escorpião enquanto,rapelávamos até o mesmo. Julio teve sé-rios problemas na jumareada pois nãoconseguia passar o teto onde ficou pen-durado e perdeu os sentidos. Desci e fiz oresgate imediatamente .Jha estava quase desistindo de tudo poiso lugar além se ser majestoso , impres-siona e tem muita energia .Quatro dias depois, Diogo Marassi que tra-balha no abrigo 4, chegou no vale, na baseda via, pois ele sabia que não tinhamosapoio de base e subiu a parede nas cor-das fixa e nos deu uma grande ajuda quese assim não fosse, ficariamos mais umdia da parede. A idéia inicial era eu conquistar o primeiroA5 brasileiro e também o teto do Gigan-tes onde teriamos um opção do segui-mento da via original mas não foi possívelporque estávamos com apenas 8 litrosd’água e o tempo estava desfavorável.Três dias depois, finalizamos a via. O tem-po fechou, muita neblina e fortegaroa. Chegamos ao pé da pedra as18h00, mas só fomos chegar no abrigo 4as 22h00 por causa da neblina que nosimpedia de ver um metro a nossa frente .

No dia seguinte voltamos no final da via elevamos o dia inteiro para rebocar 3 haulbags.Tive que voltar só no dia seguinte pra pe-gar 2 haul bags pesados , pois o Julio e oJha preferiram voltar pro Rio e me deixa-ram sozinho nesta empreitada. Organizeie arrumei todos os haul bags e guardei noAbrigo 4 onde o Cláudio, Diogo e Oliveiraresponsável pelo Abrigo nos receberam muito bem desde o início e nos deram todoo apoio possível. Aguardei mas 2 dias naesperança de alguém vir ajudar a desceros haubags pois, havia enviado mensa-gens para todos. Decidi descer e ir para oRio e voltar com uma equipe, mas feliz-mente, depois do Véu da noiva encontrei 3amigos que estavam subindo para ajudara descer alguns equipos. Tive que voltar 6dias depois pois os 3 amigos não foram osuficiente pra descer tudo.Nomeei a via de Nova Era porque esta surgindo no horizonte da vida humanaassim como profetizou Jesus há dois milanos ! É chegado o momento da grandetransição e os trabalhadores do Cristo pre-cisam estar preparados para melhorvivenciar este momento da história da hu-manidade. .Agradeço desde já a equipe, que nos deutodo o apoio direta e indiretamente .Aos patrocinadores:Camp, Cassin, Lá Sportiva, MartinoSingenberger Verticale www.verticale.com.brDeuter www.deuter.com.brPinceton Tec www.princetontec.com.brSea to Summit, Kiko Marcos Araújo Safra Wine Store Carlos SanmiguelCrux Ecoaventura MarceloParque Nacional da Serra dos Orgãos.

Nova rota escalada inteiramente em livre é aberta na imponente Pedra do Sino.

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ecos

Havia aceitado o convite do argentino:- Venha comer um legítimo cordeiro patagônicomañana, amigo. Soltando um longo sorriso aofinal.A festa reunia muitos gauchos, com alguma ex-ceção (eu). Eram pessoas ligadas diariamente àcriação de ovelhas e à extração de lã. Pergunta-va-me como poderiam estes animais viver em umlugar assim, sem saírem voando, literalmente, comos temperamentos do vento?As cuias com yerba mate e água quente esta-vam sempre presentes. Assim como os ventosbrotavam sem cessar na Patagônia, as palavrasdavam vida às estórias que alegravam a rodaformada ao redor da cuia.Falavam do início da povoação desse lugar; daescassez dos pastos em determinadas épocasde estiagem; dos predadores que, ao pequenodescuido, matavam as ovelhas; dos ventos quezangados enlouqueciam até o mais são dos ho-mens; dos duelos com as lâminas afiadas; doscavalos... Fantasmas de um tempo quando estelugar ainda era o fim da Terra.Atentamente eu procurava entender as palavras,as gírias campeiras dificultavam a compreensão.A reunião recordava um quadro antigo: homenscom suas bombachas, seus laços de couro, seuschapéus e principalmente suas facas ostenta-das ao cinto, com orgulho.Dom José, o asador, era muito respeitado, nãoera um título para qualquer um. Ele cuidava doscordeiros esticados nos espetos em forma decruz, com o cuidado como se ainda estivessemvivos. Não cansava de dizer aos companheiros:- Um bom assado exige paciência, muita paciên-cia.Enquanto o cordeiro não ficava pronto, as estó-rias apaziguavam as barrigas vazias.Anônimo, eu ficava encostado nos cantos ob-servando, tentando encontrar uma oportunidadepara compartilhar o chimarrão e as estórias.O argentino deu um grito:-Venha sentar-se conosco hermano.Recebi olhares desconfiados, de estranhamento,sabiam que eu não pertencia aquele mundo, eraum estrangeiro pedindo passagem... As estórias continuaram:Sou nascido e criado aqui, minha vida é sobre umcavalo, não tenho temperamento para a lavoura.Meu irmão é o vento, nos entendemos bem ape-sar de nossos entreveros constantes. Nuncapensei em deixar este lugar, aqui abri meus olhospela primeira vez e é aqui que eu quero fechá-los. Nem mesmo agora que o trabalho com asovelhas é tão escasso e os estancieros já ven-deram quase todas as terras para os gringos,não sei para quê... Hoje aparecem muitos gringos para conheceros cerros. Antigamente era diferente, as habita-ções eram poucas assim como os visitantes.Em um ano e dia que não me recordo, conheci umgringo, era um tipo esquisito, cabelos longosdespenteados, creio que seu nome era Marco.

Vinha de longe para subir as monta-nhas, falava um espanhol enrolado,com alguma dificuldade conseguiacompreendê-lo.Dizia que estava aqui para subir LaTorre, o cerro tímido que prefere a com-panhia das nuvens aos olhares huma-nos. Dizia que iria escalar a montanhasozinho sem nenhum companheiro, du-videi que conseguisse...O sujeito contratou-nos para levar suabagagem e de alguns amigos para alaguna Torre, onde montariam suasbarracas. Seus amigos traziam muitoequipamento, câmeras para filmar aescalada, um tipo mais esquisito que ooutro, vocês acreditam?A estória daquele homem ficou em mi-nha cabeça e como um amigo traba-lhava no acampamento da laguna, es-cutava alguns comentários.Nos poucos momentos que as nuvenssaíam, olhava para a montanha e ten-tava enxergar algo, é claro que nãoconseguia. Eu não entendia nada desubir montanhas, mas pelas estóriase comentários sabia que era um traba-lho difícil. Será que o gringo consegui-ria escalá-la?Nunca em minha vida imaginei subiralguma dessas montanhas, são assun-tos que ignoro. Nessa labuta diária nãosobra tempo para miudezas. Mas gos-to delas do meu jeito não importa a épo-ca, se no verão com suas pedras emtons alaranjados ou no inverno todasvestidas de branco.Passou um tempo e quase esqueci doassunto, o trabalho era demasiado...Meses depois escutei sobre um ho-mem que havia escalado La Torre so-zinho, lembrei do gringo. Falavam queo tipo subia a montanha de camisetanaquele frio. Eu não acreditei, só ven-do... E ainda dizem que subiu mais al-gumas vezes com os companheirospara filmar... Queria ter visto na TV...Quando sobrava algum tempo, vinhamà cabeça umas interrogações sobreos motivos que faziam os homens so-frerem tanto para subir uma montanha,quem sabe podiam até morrer naquelegelo todo, dizem que muitos já morre-ram. E falam que dinheiro os sujeitosquase não ganham, gastam é mais...Por que então seria?Eu também sofro aqui nesse lugar, mas o meumotivo é outro, agarrar a vida, ter o que vestir eo que comer.Não sei, mas um bom motivo deve existir? Seráque não?Encontrei outros homens que iam as montanhas,tinha até alguns argentinos. Depois que subiamas montanhas eles voltavam com um olhar es-tranho, cheio de contentamento, mistérios...E o tal de Marco, dizem que algum tempo depois

morreu em um cerro distante, sozinho. Na vida ena morte, companheiro de si mesmo.Já me convidaram para ir ao pé dos cerros, masnão vou não. Prefiro vê-los daqui, têm mais se-gredos. É no distante que se percebe a suaimponência quebrando a planura dessas terras.Uma coisa tenho certeza, esses gringos vêm,sobem as montanhas e vão embora. Eu pensodiferente, fico aqui o ano inteiro, não importa ocalor, o frio, o vento. Sempre estou aqui parasaudá-las quando não resta quase ninguém a

“E encontrei tanta liberdade como seguran-ça em minha loucura,a liberdade da soli-dão e a segurança de não ser compreendido,pois aquele que nos compreende escravizaalguma coisa em nós.” Khalil Gibran – Olouco

Pensamentos ao vento

ALESSANDRO HAIDUKE| PR

lhes fazer companhia e elas ficam quase queesquecidas.

-O asado está pronto!Os gauchos largaram as cuias e as estórias eforam comer o cordeiro. Lá eu fiquei, com meuspensamentos ao vento.

“A Patagônia sempre foi mais uma idéia que umlugar”. Pablo “Polly” Walker

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montanhismo

Na edição passada escrevi sobre a Ilha Grande.Foram algumas viagens até Angra dos Reis, látomando um barco para a ilha. Sempre que pas-sava pela rodovia que desce de Rio Claro paraAngra, ficava admirando o desenho imponenteda Pedra do Bispo, à direita da estrada. Muitasvezes imaginei quando poderia tentar o seucume. Tanto a trilha como o visual da Pedra doBispo superaram as minhas expectativas, comovocê descobrirá a seguir.

A HistóriaÉ bem fácil chegar a Rio Claro, pois a cidade écortada pelo asfalto que desce para Angra dosReis, partindo de Barra Mansa na Via Dutra. São200 km do Rio e 350 km de São Paulo, atraves-sando as colinas do Vale do Paraíba. Note quenão é a cidade de Rio Claro em São Paulo, e sima do Rio de Janeiro.Como ocorre com as cidades nas encostas doVale, Rio Claro foi fundada no século XVII, comoresultado do tráfego gerado pela mineração - oouro descendo para o litoral e os mantimentossubindo para o interior. No século seguinte, teveseu apogeu com o ciclo do café, quando asterras do Vale eram as mais produtivas e cobi-çadas do país.Mas a história desta região começou na realida-de com São João Marcos, que foi a primeira dasvilas, anterior a Rio Claro e Lídice. Foi lá que seestabeleceu o maior cafeicultor da época, o

Comendador Breves. Era dono da Fazenda daGrama e suas propriedades iam de Mangaratibaa Piraí. Mesmo com a migração do café, SãoJoão Marcos continuou como uma vila de portemédio, até seu fim catastrófico.Nos inícios do século XX, a cidade do Rio sofriade um mau abastecimento de água. Para saná-lo, foi projetado o represamento do Ribeirão dasLajes, cujas águas eram mais limpas que as doParaíba. Elas haveriam de subir 4 metros, mas oGoverno decidiu ser preferível um nível 12metros acima.Com este novo nível, São João viria a ser inun-dada, pois ficava num vale fundo e próximo(você pode enxergá-lo à sua esquerda, a meiocaminho entre Rio Claro e Mangaratiba). A po-pulação começou a abandonar a cidade e ascasas, a serem demolidas. Porém, quando olago se formou, as águas chegaram apenas ametros da cidade: ela foi destruída inutilmente,por um estúpido erro de cálculo.São João Marcos era uma cidade linda, umaParati rural, pequena e graciosa no seu formatoradial, como pode ser verificado pelas fotosantigas e pelas atuais escavações. Ao longodos anos, cresceu no seu solo um surpreen-dente bosque de suenãs. Suas altas copas deflores vermelhas hoje sombreiam de forma má-gica as ruínas dessa cidade inutilmente desa-parecida.

Existem também os vestígios da antiga estradaimperial, que escoava a produção desta vila atra-vés do porto de Mangaratiba e dele trazia a mãode obra dos escravos. Foi uma das primeirasestradas de rodagem do Brasil. Nas proximida-des, está a Ponte Bela, que sobreviveu á açãodo tempo, apesar de parcialmente submersa.

A TrilhaNão conheço uma explicação satisfatória parao nome dado à Pedra do Bispo. Dizem que lá foium dia rezada uma missa, mas desconfio quenão haveria um padre tão jovem e atlético, nemmuitos fiéis dispostos a tão árdua subida. A mimparece que, como na realidade são duas aspedras, uma ao lado da outra e ambas pontiagu-das, seu aspecto conjunto lembra o de uma mitra,ou seja, o chapéu usado pelos bispos.Apesar de seu aspecto impressionante, é rela-tivamente fácil subi-la. Sua parede está muitopróxima da cidade, desta forma criando umaimpressão de ser inacessível devido à sua acen-tuada verticalidade. Para chegar lá, você devesair do centro de Rio Claro, seguindo 5 km poruma precária estrada de terra, que vai piorandoà medida que sobe. O seu trecho final é umarampa à direita que exigirá um veículo com tra-ção. Mas ela logo termina numa porteira, onde atrilha começa.O caminho é bem definido, seguindo sem bifur-

A viagem estava sendo planejada há algum tem-po. Escolhemos a Bolívia devido ao custo aces-sível e as facilidades de se escalar em alta mon-tanha, a Cordilheira Real possui um grande nú-mero de montanhas com mais de 5000m. Até acompra das passagens foi cuidadosamentepesquisada. Hoje se pode ir a Bolívia, escalar efazer turismo a preços inferiores que o nortedo Brasil!Nosso primeiro dia em La Paz foi de muita pro-cura por uma empresa para nos dar o apoioque necessitávamos. E optamos em contratar aempresa Albert Bolívia Tours, que fica na CalleIllampu,742 ( [email protected] ).Esta empresa foi a que nos ofereceu mais van-tagens e um ótimo atendimento. Nesta mesmarua se localizam inúmeras agências, lojas deequipamentos e hotéis com diárias variadas etodos muito baratos. Depois de resolvido essedetalhe, partimos na pressa, empolgados de-mais e na pilha para uma escalada deaclimatação no Cerro Charkini. Uma montanhade 5392m. Com um nível médio de dificuldade,mas, que nos ajudaria a aclimatar e praticar astécnicas de escalada em gelo e neve. Esta mon-tanha fica a uns 25km de La Paz e tem umacaminhada de aproximação na beira de um pre-cipício impressionante, até um glaciar. Depois,de volta a cidade ficamos mais dois dias fazen-do turismo e descansando para melhorar aaclimatação e depois irmos ao foco principal : oHuayna Potosi com 6088m.Quando se contrata uma empresa, ela fornecetoda logística: transporte, alimentação, equipa-mentos e guias. Quanto a isso já estávamostranqüilos. A facilidade de fazer uma trip des-sas é bem grande. Se estiver sozinho, é só seentrosar num grupo da própria empresa e irpara a montanha.No sábado preparamos todo equipamento:grampons, piqueta, polainas, luvas, etc.... e devolta num minibus entupido de gente e mochi-las, rumamos ao refugio baixo do Potosi. Logoque chegamos ao refugio nos equipamos e fo-mos praticar escalada em gelo na Velha Gelei-ra. Nesta noite o Valedeci foi pego por uma gri-pe incoveniente e decidiu voltar a La Paz nooutro dia. Então, eu o João Batista Babu subi-mos para o refúgio alto. Foram algumas horas

numa trilha forte e muito íngreme que no finalmisturava gelo e muita pedra solta. Lá no refúgioficamos aguardando a hora do ataque ao cume enesse meio tempo nos alimentamos e ouvimosmuito rock and roll junto a outros escaladores.Por volta da meia noite, depois de um bom sono,estávamos lá preparando os equipos e focadosna subida. Iniciamos a subida1h00 da madruga-da. Só se via os focos das headlamps em meioaquele mundo de neve. Subimos por horas se-guidas e depois de 4h30 eu não agüentei mais, aaltitude começou me minar, eu não conseguia res-pirar direito, minhas pernas começaram a falhare foi aí que eu pensei: é melhor descer agora doque ́ bater os pinos´ mais acima e dar trabalhoprá descer. Na descida é que eu vi quanto haviasubido, cheguei a 5700m. O Babu chegou ao cumee por um descuido o celular dele congelou e nãotemos nenhuma foto do cume.A Bolívia é um lugar de muitos contrastes, umpaís muito interessante e bem acessível aos bra-sileiros, nossa moeda lá é bem valorizada e ali é

No dia 18 de julho de 2011, partimos para nossa primeira viagem internacionalpara escalar, eu, o Valdeci de São Thomé das Letras-MG e o João Batista Babude Três Corações-MG. Tudo que nos esperava era diferente: o país, o povo, oidioma, o terreno. A expectativa era grande. Teríamos apenas oito dias paratudo isso e dois dias de viagem.

tudo muito barato. O lugar também é propíciopara escalada esportiva em rocha de fácilacesso, ao sul de La Paz, o Valle de Aranjuez,um point com 80 vias de graus variados e numconglomerado interessante.Como em toda viagem temos que ter cuidadoscom a higiêne, por isso, é bom evitar alimentoscrus, como saladas e comidas de origem ani-mal, pelo menos antes das escaladas. Umavirose não é nada agradável e pode por a per-der toda viagem.Vale muito a pena se organizar e ir à Bolívia,suas montanhas são maravilhosas e de deixarmuitas lembranças boas.Infos:www.umesmontanhismo.blospot.com

Para esta trip tivemos o apoio de nossas espo-sas com a condição de trazermos alguns pre-sentes para elas.

cações no rumo oeste. Tem cerca de 3.5 km, oque deverá lhe tomar até 1½ horas. Ele é umarampa em geral aberta, com uma ampla visãodos vales abaixo e uma interessante mudan-ça de vegetação. No início, você atravessaráum pasto, passando inclusive por um curral, eem seguida percorrerá uma mata curta. A par-tir de um colo na serra logo após uma segundaporteira, chegará por fim a um campo elevado,onde você subirà à esquerda.Existe um cruzeiro no cume, a 1.300m de alti-tude – pelo menos, esta foi a indicação denosso GPS. Entretanto, você encontrará comfreqüência a menção a 1.400m. É uma trilhaíngreme, com uma ascensão de 550m e umaclive acima de 15%, quase sempre com apoderosa visão da pedra bem acima de você.Mas não é uma subida árdua – a maior dificul-dade vem depois, quando você contar as mor-didas de carrapato. Elas ainda existem enquan-to escrevo este artigo, um mês depois!O panorama do cume é muito interessante,com os amplos campos montanhosos à suafrente, fechados pela distante Serra do Piloto.O Sertão do Sinfrônio estará à sua direita e,logo a seguir, a imensidão da Serra da Bocaina,com o peculiar desenho da Pedra do Frade aosul. Na direção oposta, existe a parede daoutra pedra ao lado, que forma com a do Bispoeste belo conjunto.

BELAS PEDRAS XLVI

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122Capa: Frederico Pimentel na primeirachaminé da Normal da Agulha do Diabo,PNSO, RJFoto: Eliseu Frechou

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Cauí Vieira na Couro de cobra