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Texto de Clifford Welch que trabalha a influência americana no sindicalismo brasileiro no pré-64;

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  • Internacionalismo trabalhIsta:

    o envolvimento dos estados Unidos

    nos sindicatos brasileiros, 1945-19641

    Clifford andrew Welch2

    Uma importante questo que confronta os estudiosos do

    trabalho na amrica latina diz respeito s relaes entre sin-

    dicatos, Estado e potncias estrangeiras. alguns cientistas so-

    ciais argumentam que a relativa autonomia dos sindicatos afeta

    a fora da democracia de um pas3. Eles tambm afirmam que

    a capacidade da amrica latina em controlar seu prprio des-

    tino, em parte, tem sido moldada pela influncia de potncias

    estrangeiras particularmente os Estados Unidos da amrica

    sobre instituies sociais tais como os sindicatos4. Um ramo

    em crescimento dos estudos do trabalho que oferece agora uma

    perspectiva unificadora para analisar este complexo de rela-

    es em torno do trabalho a perspectiva do internacionalis-

    mo trabalhista.

    O representante da aFl norte-americana, serafino romualdi (de p), e o presidente da CNtI, Deocleciano holanda Cavalcanti (sentado), em 1959. (Acervo ltima Hora-SP, Arquivo Pblico do Estado de So Paulo)

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    desde o final dos anos 1960, estudiosos voltaram suas atenes anlise do desenvolvimento da poltica trabalhista dos estados Unidos na regio5. a atual transformao da economia mundial tornou o estudo do trabalho nas relaes internacionais ainda mais pertinente. neste contexto, muitos estudos recentes sobre o envolvimento dos estados Unidos com sindicatos latino-ame-ricanos tm abordado a amrica central e o mxico, enquanto apenas alguns enfatizam a amrica do sul6. este artigo proporciona um estudo de caso inicial da histria do envolvimento dos estados Unidos com os sindicatos brasileiros.

    embora alguns contatos espordicos tenham acontecido antes e durante a segunda Guerra mundial, o envolvimento dos estados Unidos em assuntos sindicais brasileiros foi formalizado durante os anos do ps-guerra7. em meio crescente onda de greves no brasil, os primeiros anos da Guerra Fria se caracte-rizam pela preocupao com o avano comunista e pelo claro objetivo imperial de exportar os valores polticos e os estilos institucionais norte-americanos. os estrategistas norte-americanos decidiram, ento, ensinar aos brasileiros como gerir as relaes trabalhistas com o objetivo de manter a produtividade, promo-ver a estabilidade e afastar os agitadores comunistas. essas motivaes permane-ceram quase que inalteradas durante os anos da Guerra Fria, mas os objeti vos, bem como os meios utilizados para implant-los, mudaram ao longo do tempo. nos primeiros e estonteantes dias que anunciaram a derrota do fascismo, os estrategistas norte-americanos raramente questionaram a sua capacidade de moldar o mundo imagem idealizada dos estados Unidos. Uma vez garantida a colaborao da Federao americana do trabalho (aFl, na sigla em ingls) e silenciadas as vozes dissonantes no congresso das organizaes industriais (cio, na sigla em ingls), os estrategistas colocaram em prtica seu programa de treinamento e comunicao8. alguns episdios ocorridos no brasil mudaram as intenes dos norte-americanos e os obrigaram a modificar as tticas.

    neste artigo, os anos compreendidos entre 1945 e 1964 foram subdi-vididos em trs fases, cada uma indicando uma mudana na execuo da poltica trabalhista norte-americano. de 1945 a 1952, os estados Unidos cen-traram-se em fomentar uma mudana institucional no brasil; nos dez anos se-guintes, quando o presidente Joo Goulart comeou a ficar no centro da cena poltica brasileira, os representantes dos estados Unidos tentaram implantar um programa de treinamento e intercmbio. depois de 1962, os agentes nor-te-americanos aparentemente perderam a pacincia e comearam os trabalhos de colaborao com os militares que derrubaram Goulart em 1964.

    O ponto de vista norte-americano (1945 - 1952)

    no perodo que vai dos ltimos meses da segunda Guerra mundial at

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    o ano de 1952 lanaram-se as bases fundamentais da poltica trabalhista dos estados Unidos no brasil. estes fundamentos incluam a perspectiva de isola-mento dos sindicatos comunistas e nacionalistas e a elaborao de um projeto de implantao de uma verso idealizada do sindicalismo norte-americano entre os trabalhadores brasileiros. os primeiros passos na direo dessas me-tas envolviam criar uma federao nacional de trabalhadores no brasil nos moldes da aFl e assegurar sua filiao a organizaes internacionais patro-cinadas pelos estados Unidos. alm disso, as bases do projeto previam uma relao de colaborao entre a recm-fundida aFl-cio e o departamento de estado dos estados Unidos, que existiu at o final do sculo XX.

    cecil cross, o cnsul-geral dos estados Unidos em so Paulo, props, em agosto de 1945, que dirigentes sindicais brasileiros fossem enviados em excurso aos estados Unidos. muitos deles procuravam o cnsul para obter informaes sobre as condies de trabalho nos estados Unidos e cross estava convencido que os efeitos dessas visitas seriam tanto profundos quanto per-manentes no brasil. o aumento do nmero de greves no estado de so Paulo e a crescente militncia de muitos trabalhadores e dirigentes preocu pavam o cnsul intensamente: a situao do trabalho em so Paulo entrou num pe-rodo de movimento e de reorientao e o tempo um fator crucial9.

    o embaixador dos estados Unidos no brasil, adolph berle Junior, con-cordou que algo deveria ser feito. ele e sua equipe logo desenvolveram o pro-jeto intitulado Programa informativo ao trabalho brasileiro, que envolvia a utilizao de filmes, livros, boletins de notcias e exposies com o intuito de promover entre os trabalhadores brasileiros uma melhor compreenso das condies de trabalho nos estados Unidos. as ideias a serem propagadas deveriam ser seletivas. de acordo com berle: a nfase deveria ser em unir as pessoas em solues cooperativas e no na existncia de conflitos entre os trabalhadores ou outros grupos socioeconmicos. Para este fim, berle sugeriu que o programa de propaganda destacasse a presena das vilas operrias, em-bora os prprios trabalhadores norte-americanos as considerassem elemento de opresso10.

    cross foi atrado para o ambicioso plano proposto por seu chefe e inci-tou Washington a se voltar para a intensa propaganda e campanha de trei-namento: o momento particularmente favorvel para propagar o ponto de vista dos estados Unidos entre os dirigentes sindicais brasileiros11. o plano tambm conquistou o secretrio de estado adjunto para assuntos intera-mericanos, spruille braden, embora ele no estivesse disposto a endossar a urgncia do cnsul. Para a implementao imediata do plano havia dois obs-tculos. assim como aconteceu no brasil, a desmobilizao colocou um fim trgua entre capital e trabalho que ocorrera nos estados Unidos durante a

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    segunda Guerra. entre 1945 e 1946 eclodiram na indstria norte-americana algumas das maiores e mais longas greves da histria do pas. ao ir a campo, braden escreveu que os brasileiros deveriam aprender a organizar uma greve no estilo norte-americano. alm disso, ele estava preocupado com o fato de que o programa daria margem ideia de que os estados Unidos tinham a in-teno de promover uma forma indireta de interveno nos assuntos internos do brasil. em sua opinio, os frutos que o projeto traria no compensariam os riscos e o governo, portanto, no deveria permitir que tais acusaes ocor-ressem gratuitamente12.

    berle concordou com braden que a campanha pblica deveria ser mais eficaz (e menos provvel de ser criticada) se realizada por sindicatos norte-americanos13. Porm, a diviso do movimento operrio dos estados Unidos em duas tendncias distintas frustrou os planos do departamento de estado. diferenas fundamentais levaram o cio e a aFl a apoiar e adotar polticas contrrias na amrica latina. durante uma conferncia sobre guerra e paz que aconteceu na cidade do mxico em fevereiro de 1945, a aFl apoiou as medidas de carter liberal introduzidas pelos estados Unidos no pas, que preconizavam o livre-comrcio, a interveno mnima do estado nos assuntos econmicos e o desenvolvimento do setor privado. o cio, em contraparti-da, apoiou as recomendaes polticas da confederao de trabalhadores da amrica latina (ctal), uma organizao trabalhista com dez anos de exis-tncia sediada no mxico que apoiava medidas econmicas protecionistas e a responsabilidade no estado no setor industrial14. embora o departamento de estado preferisse claramente a aFl, seria inadequado o risco de favorecer uma entidade em detrimento da outra15.

    entretanto, como as condies econmicas no brasil pioraram, autori-dades norte-americanas ficaram cada vez mais preocupadas com um possvel aumento da atuao do Partido comunista do brasil (Pcb). o adido traba-lhista edward rowell assim informou: o consenso entre os trabalhadores que o Pcb vem crescendo com fora [...] e, a menos que haja uma mudana acentuada nas condies econmicas eles dominaro quaisquer eleies que disputarem, digamos, ainda por quatro ou seis anos16. dadas estas presses, em meados de 1946 o departamento de estado pediu ajuda da aFl. as em-baixadas na amrica latina foram orientadas a fornecer ajuda informal a serafino romualdi, representante interamericano indicado pela aFl, que foi escalado para visitar a regio no ms de junho daquele ano. em contrapar-tida, o secretrio de estado, James byrnes, tambm alertou os funcionrios para evitar qualquer colaborao do sr. romualdi em atividades que possam dar origem a acusaes de que o departamento de estado estivesse favorecen-do a aFl em detrimento do cio17.

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    italiano emigrado, romualdi era um fervoroso anticomunista e um for-te sindicalista que vinha lutando desde 1943 para convencer a aFl a ter um papel direto nos sindicatos latino-americanos. como agente do escritrio de servios estratgicos (agncia predecessora da cia-central intelligence agency) em 1944 e 1945, romualdi tinha desenvolvido contatos com sindica-listas italianos no brasil18. certo de que os estados Unidos definiam o ritmo de expanso industrial na amrica do sul, ele argumentava que dependia dos prprios sindicatos do hemisfrio assegurar que essa expanso tambm elevasse o padro de vida de todos os trabalhadores19. em resposta, a aFl concordou que seria importante elevar os padres do trabalho nos pases da amrica do sul, pois isso consolidaria uma base equiparvel de comrcio entre os dois continentes20. mais tarde, o vice-presidente da aFl, George meany, afirmou que

    dependia de a aFl ver se os trabalhadores da amrica latina compreendiam nossa filosofia, o nosso desejo de criar uma slida frente entre os trabalhado-res do hemisfrio sul e evitar que essas pessoas ouvissem o balbuciar daque-les que recebiam ordens de moscou.21

    a viagem de romualdi amrica latina lanou as bases da colabora-o entre os estrategistas norte-americanos e os agentes da aFl, aspecto que caracterizaria o envolvimento dos estados Unidos nas questes sindicais da regio. romualdi foi calorosamente recebido na embaixada norte-americana e, em so Paulo, cecil cross colocou-se disposio do enviado, com a orien-tao de colaborar com ele ao limite. como romualdi relataria mais tarde, sua misso no brasil no teria sido possvel sem o auxlio de membros da equipe do governo dos estados Unidos22. em 1947, na sequncia do anncio da famosa doutrina do presidente Harry truman de combate do comunismo, a parceria entre a aFl e o departamento do estado se solidificou ainda mais. ao se encontrar com braden, em abril, romualdi informou que a atitude do departamento de estado, em favor dos nossos esforos [da aFl] para com-bater comunistas e outras influncias totalitrias entre os trabalhadores lati-no-americanos ser, a partir de agora, no s simptica, mas tambm coope-rativa. romualdi afirmou que braden foi ainda mais longe ao prometer [...] todo apoio (compatvel com as bvias limitaes da no-interferncia direta do governo e do decoro diplomtico) que precisssemos em nosso trabalho [...]23. o apoio oficial aFl, de fato, se intensificou nos anos seguintes.

    ao fazer duas viagens para a amrica latina em 1946, romualdi se concentrou em desenvolver contatos com sindicatos de orientao pr-eUa e tentou persuadi-los a participar da criao de uma nova organizao do traba-

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    lho no hemisfrio que se dedicaria a opor ctal. romualdi concordava com o departamento de estado dos estados Unidos em rotular a ctal como uma organizao de carter comunista por causa da filiao da entidade Fede-rao sindical mundial (Fsm), que era uma organizao internacional com-posta por entidades to diversas quanto o conselho dos sindicatos ingleses (tUc, na sigla em ingls), o cio e muitas federaes soviticas24. em geral, as organizaes filiadas Fsm eram sindicatos oficiais que dependiam em grande medida do governo para manter sua legitimidade e eficcia em relao aos assim chamados sindicatos livres (autnomos do estado) e associaes profissionais afiliados aFl. neste sentido, os sindicatos brasileiros tambm foram bem mais oficiais do que livres.

    a moderna estrutura dos sindicatos brasileiros havia sido estabelecida em grande parte durante o estado novo, um sistema corporativo imposto entre os anos 1937 e 1945 sob o comando do presidente Getlio vargas. em 1943, as relaes de trabalho corporativas foram codificadas na consolidao das leis do trabalho (clt), a qual colocava a autoridade executiva nas mos do minis-trio do trabalho. sob esta estrutura, o estado pde desempenhar um enorme controle sobre os sindicatos, incluindo o poder de autorizar a criao de novas entidades, administrar a eleio de dirigentes, recolher e distribuir o imposto sindical e rearranjar sindicatos no filiados25. Para as vises liberais norte-ameri-canas sobre a relao entre estado e trabalho, este sistema era um pesadelo. ro-mualdi afirmou categoricamente que o controle do governo sobre os sindicatos era um dos aspectos que contribua para o caos poltico e o desastre econmico que flagelava o brasil e, por isso, incitou os lderes sindicais brasileiros a libertar suas organizaes de todas as formas de controle e dominao do governo26.

    sem refletir sobre as contradies intrnsecas, romualdi estava, a rigor, aconselhando seus pares a usar o governo para escapar do jugo do governo. ele tambm incentivou seus amigos sindicalistas a conquistar a aprovao do ministrio do trabalho para a criao de uma federao nacional nos moldes da aFl. a nova entidade brasileira deveria eleger delegados para participar da prxima conferncia da organizao internacional do trabalho (oit). eles tambm poderiam se juntar a outras organizaes nos planos para a estru-turao de um movimento interamericano de oposio ao totalitarismo. este organismo poderia servir como um brao regional da confederao interna-cional de organizaes sindicais livres (ciosl), uma entidade global que seria fundada pela aFl para competir com a Fsm. Finalmente, depois de vrias reunies com lderes sindicais, romualdi aconselhou os brasileiros a enviar alguns sindicalistas selecionados aos estados Unidos para aprender as regras elementares do sindicalismo autnomo e a convidar especialistas da aFl para visitar o brasil e ensinar suas regras27.

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    romualdi chegou ao brasil no momento decisivo da disputa nacional pela autonomia das organizaes de trabalhadores. desde o fim dos combates da segunda Guerra mundial na europa, as foras estavam mobilizadas para defender ou no a continuao de vargas no poder. Um desses fatores foi o tra-balhista; apesar de vargas ter sido forado a deixar o poder em outubro de 1945, o movimento operrio continuou a desempenhar um papel influente durante o perodo da democratizao. Um dos grupos mais ativos em 1945 e 1946 foi o movimento Unificador dos trabalhadores (mUt), liderado pelos comunistas. embora no fosse uma organizao oficial, o mUt apoiou o sistema corpora-tivista como um meio de defender a classe trabalhadora da classe burguesa e procurou reforar isso em colaborao com o governo. em janeiro de 1946, as lideranas do mUt promoveram um congresso sindical em so Paulo que in-centivou os trabalhadores a apoiar a formao de uma federao sindical nacio-nal28. trabalhadores organizados de vrias cidades responderam ao apelo, mas o governo colocou o mUt na ilegalidade em abril daquele ano e interveio para substituir os dirigentes dos sindicatos ligados ao mUt29.

    as autoridades norte-americanas no apoiaram homogeneamente a re-presso ao mUt. rowell, o adido trabalhista no rio de Janeiro, preocupado com o fato de que a atitude do governo pudesse simplesmente reforar o Pcb, enfatizou a necessidade de alternativas positivas. na viso de rowell, era pre-ciso que o governo e as classes produtivas encampassem um programa que resultasse em uma verdadeira melhoria da qualidade de vida das classes tra-balhadoras e eliminasse os elementos que ainda se sentissem explorados30.

    romualdi, por sua vez, ficou satisfeito com o fim do mUt. ele acredita-va que o poder institucional do ministrio do trabalho poderia ser utilizado para superar o vigoroso trabalho de organizao do Pcb. Por isso, ele props que o ministrio deveria se apropriar da estratgia do mUt e fomentar a criao de uma federao nacional do trabalho. romualdi estava certo de que o ministrio poderia excluir militantes e comunistas, a primeira de suas pre-ocupaes. demonstrando que acreditava que a autonomia sindical no brasil poderia esperar, dissimuladamente romualdi se reuniu com vrios funcion-rios graduados do ministrio, em junho de 1946. ele ficou satisfeito quando o ministro octaclio negro de lima anunciou a realizao de um congresso trabalhista em recife, a ser realizado no final de julho31. no entanto, os mi-litantes do mUt ainda tinham influncia nos sindicatos, e para ter tempo de garantir uma delegao mais indulgente, o ministrio adiou sua realizao para o final de setembro e transferiu sua sede para a cidade do rio de Janeiro, a capital do pas32.

    os esforos do ministrio para controlar os resultados do congresso provaram-se inteis. o que se revelou foi a independncia do movimento sin-

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    dical, o que comprometeu o governo quando ficou evidente o pequeno nme-ro de trabalhadores dispostos a praticar as ideias de romualdi. mais de 2 mil delegados, representando cerca de mil sindicatos, participaram da reunio. eles se dividiram em trs principais tendncias: os alinhados com o Pcb, os apoiadores do Partido trabalhista brasileiro (Ptb) e aqueles que defendiam as ideias do ministrio do trabalho. embora a maioria dos delegados do Pcb e do Ptb compactuasse com uma srie de resolues que incluam a constru o da autonomia sindical, a trplice diviso dos delegados se tornou muito con-troversa quando foi posta em discusso a criao de uma federao nacional de trabalhadores. delegados que apoiavam o ministrio do trabalho, incluin-do aqueles com quem romualdi mantinha contato, se defrontaram com os comunistas e abandonaram, em protesto, a conferncia. minoria que defende o ministrio do trabalho abandona congresso, assim noticiou The Economist, e o ministrio do trabalho dissolveu o congresso. Poucos dias depois, em 22 de setembro, mais de mil delegados dissidentes se reuniram e fundaram a confederao dos trabalhadores do brasil (ctb). em outro congresso, cerca de 240 delegados pr-governo fundaram a confederao nacional dos traba-lhadores (cnt). J que o congresso havia exposto a debilidade do respaldo do governo entre os trabalhadores organizados, o ministrio fez uso de suas prerrogativas para mascarar a derrota e reconheceu a legitimidade apenas da cnt33. a situao legal da ctb permaneceu duvidosa, embora seus membros fossem vistos mais como colaboradores do que como opositores do sistema de estado que centralizava as relaes de trabalho34.

    romualdi explorou os potenciais benefcios da ciso. o incidente divi-diu os sindicalistas entre os paus-mandados e os companheiros de viagem, bem como os comunistas, todos os quais poderiam ser isolados por sua filia-o ctb. entretanto, os aliados de romualdi na cnt poderiam se benefi-ciar com a preferncia do governo. suas tticas divisionistas tiveram sucesso quando o recm-escolhido representante da aFl em so Paulo, deocleciano Holanda cavalcanti (presidente da Federao Paulista dos trabalhadores em alimentao) foi nomeado como o primeiro presidente da cnt. Um novo incentivo veio quando o ministro do trabalho concordou em patrocinar o envio de um delegado da cnt, renato socci, da Federao dos trabalhadores martimos do rio de Janeiro, para a conveno da oit em montreal35.

    contudo, o sonho de romualdi de lidar apenas com a cnt foi frustra-do pela lei e pela poltica brasileiras. certo nmero de parlamentares federais queixou-se de que o governo havia extrapolado sua autoridade ao reconhecer a cnt, porque a constituio de 1946 no previa disposies para a criao de uma entidade nacional de trabalhadores. o congresso brasileiro teria de alterar a constituio, mas estava dividido sobre a questo. os conservadores

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    no viam vantagem em afrouxar o controle governamental sobre o movi-mento sindical, enquanto os representantes do Pcb e do Ptb preferiam ver a ctb reconhecida ao invs da cnt. aps muita discusso, a constituio permaneceu inalterada e o ministrio teve de retratar-se do reconhecimento da cnt, porque as leis trabalhistas s permitiam que os sindicatos se unifi-cassem nacionalmente por setores econmicos. consequentemente, em abril de 1947, a cnt se dividiu em duas: a cnti (confederao nacional dos trabalhadores na indstria) e a cntc (confederao nacional dos trabalha-dores no comrcio)36. essas mudanas no deixaram qualquer espao para a ctb e, por conseguinte, ela foi ilegalizada em maio daquele ano, quando o ministrio realizou intervenes e afastou os dirigentes de 400 dos 944 sin-dicatos reconhecidos legalmente37.

    J que seus esforos em encontrar aliados para estabelecer uma confe-derao nacional foram inviabilizados, romualdi passou a se dedicar a con-seguir a filiao brasileira a uma organizao regional chamada de confe-derao interamericana do trabalho (cit). em agosto, romualdi voltou ao brasil, mas ao invs de tentar conquistar apoio entre os lderes sindicais, ele se concentrou no governo, mesmo sabendo que a legislao brasileira proi-bia os sindicatos de aderir a qualquer organizao internacional. mudar a lei levaria muito tempo, ento ele pressionou o ministrio do trabalho para permitir que delegados participassem do congresso de fundao da cit que se realizaria em lima, em janeiro de 1948. ele argumentou que, uma vez que a cit fosse criada com a participao de brasileiros, as presses para a mudana da lei iriam avanar mais metodicamente. estranhamente despre-ocupado com seus contatos com o governo brasileiro, romualdi relatou em sua autobiografia que

    o ministro do trabalho e os funcionrios prximos do presidente quiseram saber muitas, muitas coisas antes de assumir qualquer compromisso. acima de tudo, eles queriam saber a posio da embaixada norte-americana e do governo dos estados Unidos, vis--vis a proposta de participar da reunio de lima. embora eu no pudesse falar em nome do departamento do estado, assegurei aos brasileiros que minha posio foi favorecida por Washington. em poucos dias, me prometeram que uma grande delegao assistiria con-ferncia de lima.38

    romualdi relatou que, aps o presidente eurico Gaspar dutra consul-t-lo, este tomou a deciso sozinho. Porm, como romualdi descobriria mais tarde, a inteno de dutra ao enviar delegados ao Peru no era a de provocar mudanas legais que permitissem os sindicatos brasileiros se filiarem cit.

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    embora um delegado brasileiro tenha sido eleito como um dos dez vice-presidentes da cit o presidente da Federao dos trabalhadores do comr-cio do rio de Janeiro, cid cabral de mello , a afiliao seria outra nos prxi-mos quatro anos. os brasileiros logo perceberam que a cit estava apoiando a poltica e os valores dos estados Unidos e no as crenas e os desejos latino-americanos, e assim eles adiaram a adeso. ideologicamente, a plataforma da cit era inconsistente com a poltica e com o sistema trabalhista brasileiros; todas as suas principais ideias a unidade trabalhista nacional, a negociao coletiva, o irrestrito direito de greve e o sufrgio universal masculino con-flitavam com a ideologia corporativista que orientava a participao poltica e econmica que dominou o estado brasileiro.

    de acordo com a clt, trabalhadores e empregadores estavam organi-zados em sindicatos autorizados pelo estado e que no eram sindicatos li-vres nem associaes espontneas de profissionais. suas negociaes eram intencionalmente reguladas pelo estado e no pelas foras de mercado. os interesses de cada grupo no eram disputados nas ruas, mas por meio dos canais administrativos e judiciais do ministrio do trabalho, uma instituio que pretendia representar o interesse de ambos, capital e trabalho, tal como um pai reconhece os interesses de seus filhos. alm disso, os brasileiros con-quistavam o direito ao voto no s ao completarem 21 anos de idade, mas ao comprovar sua escolaridade ou ao fazer parte de um sindicato, demons-trando que estavam aptos para contribuir para o progresso da Ptria39. esses valores estavam profundamente arraigados na sociedade brasileira, a ponto de um trabalhador que foi delegado na conferncia de lima, antnio soares campos, da Federao dos trabalhadores martimos do rio de Janeiro, fazer oposio veemente filiao, afirmando que a cit apoiava princpios da luta de classes incompatveis com o sistema social brasileiro40.

    as objees da administrao dutra filiao foram menos filosficas e mais pragmticas que as do martimo. Para grande insatisfao do governo brasileiro, a cit acentuou os objetivos dos estados Unidos na regio e no os da amrica latina. antes de dutra aprovar a ida da delegao a lima, ele per-guntou a romualdi se era possvel contar com o apoio da cit numa confern-cia econmica interamericana prevista para maro de 1948. tal como outras naes latino-americanas, o brasil pretendia conseguir o apoio dos estados Unidos para os seus planos de desenvolvimento para o ps-guerra. como se sabe, a administrao de truman se recusou a apoiar tais ambies por que argumentava que a reconstruo da europa tinha prioridade em relao in-dustrializao da amrica latina41. a resposta de romualdi a dutra foi vaga, mas seu papel na conferncia de lima no deixou dvidas de que a cit co-locaria os objetivos dos estados Unidos frente das ambies brasileiras. Por

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    exemplo, romualdi ajudou a derrubar moes de apoio posio de dutra que favoreciam o planejamento econmico e criticavam o imperialismo norte-americano e tambm conseguiu eliminar quaisquer palavras que pudessem contrariar a viso econmica do movimento sindical dos estados Unidos42.

    dutra provocou polmica na cit ao adotar uma postura descomprome-tida. embora o governo brasileiro no tenha impedido seus delegados sindi-cais de assistir s reunies, ele se recusou a financiar a viagem com recursos pblicos e congelou o debate acerca da filiao internacional. apenas quando foi pressionado pelo embaixador dos estados Unidos, Herschel Johnson, que pessoalmente discutiu o assunto com os ministros de relaes exteriores e do trabalho, foi que, em outubro de 1950, o presidente enviou ao congresso uma mensagem recomendando alteraes legislativas. a esta altura, dutra j estava espera da posse de Getlio vargas, que o substituiria na Presidncia da repblica. com a transio poltica, nenhuma atitude foi tomada sobre a questo durante os prximos dois anos43.

    vargas ganhou as eleies presidenciais em outubro de 1950 apelando para o apoio da classe trabalhadora44. a questo da filiao internacional per-maneceu central para os agentes trabalhistas dos estados Unidos, mas no era to importante para vargas e sua nova administrao. embora o presidente estivesse desconfiado e temeroso da fora do Pcb no movimento sindical, ele queria recompensar os trabalhadores pelo apoio recebido durante as eleies, garantindo que se realizassem novas eleies nos sindicatos com o objetivo de retirar os interventores nomeados por seu antecessor. mais confiante na lealdade do Ptb, vargas estava pronto a considerar a questo da filiao em 1952, quando nomeou Jos de segadas vianna como ministro do trabalho.

    deputado do Ptb e um dos principais criadores da legislao trabalhis-ta brasileira, vianna tinha ambies de representar o brasil na organizao internacional do trabalho. Porm, essa prestigiosa posio no poderia ser conquistada se o brasil continuasse a repreender os norte-americanos e os seus organismos trabalhistas internacionais, como a organizao regional intera-mericana de trabalhadores (orit), que substitura a cit em janeiro de 1951. assim, em antecipao a um congresso da oit em Genebra, vianna e vargas pressionaram o congresso nacional a permitir a filiao em junho45. vargas foi logo recompensado quando a orit realizou seu segundo congres so no rio de Janeiro para honrar e fortalecer suas novas alianas brasileiras46.

    em 1952, as bases do envolvimento norte-americano com sindicatos brasileiros j estavam estabelecidas. a aFl e o cio se unificaram e a ctal foi encoberta pela orit, dominada pelos estados Unidos47. comunistas e lderes nacionalistas foram isolados, as alianas foram feitas com lderes anticomu-nistas e uma estrutura institucional compatvel com os interesses norte-ame-

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    ricanos tinha sido estabelecida. nenhum desses resultados tinha sido ainda alcanado de acordo com qualquer dos planos, nem tinham sido tomadas pro-vidncias sobre a propaganda e o programa educativo propostos anteriormen-te, em 1945. consequentemente, nada sara do lugar. lderes nacionalistas de esquerda podem ter sido impelidos para a ilegalidade, mas ainda tinham uma substancial popularidade. os aliados s perspectivas dos estados Unidos, em contrapartida, eram os lderes menos populares. John Fishburn, um especia-lista de carreira no tema do trabalho dentro do departamento de estado entre 1943 e 1966, assim observou: a orit arregimentou todos os lderes sindicais decadentes48. entretanto, a estrutura sindical brasileira permaneceu estatiza-da e politizada, uma situao qual os agentes norte-americanos se opunham, mas, de fato, a ela se acomodaram e at a alimentaram. talvez, o mais impres-sionante sobre este fundamento fosse a sua instabilidade, pois tanto o governo como o movimento sindical brasileiro atendiam mais s suas consideraes locais que aos desejos dos estados Unidos.

    A ORIT e o Ponto IV (1952-1962)

    depois que a confederao nacional dos trabalhadores na indstria aderiu orit em 1952, a organizao internacional planejou uma viagem e um programa de formao muito parecido com aquele proposto por cross e berle, logo aps a segunda Guerra mundial. Financiados no mbito do Ponto iv exposto pelo presidente truman em sua mensagem inaugural ao con-gresso nacional em 1949, quando anunciou as quatro liberdades49, o novo programa contou com uma estreita cooperao entre o servio de relaes exteriores dos estados Unidos e os diretores da orit, assim como a aFl de romualdi. como Fishburn explicara, a orit foi comprada e paga pelo tio sam. romualdi, Fishburn e seus aliados inicialmente identificaram lderes que fossem confiveis para serem enviados aos estados Unidos para o pro-grama de formao, o que significava invariavelmente lderes anticomunistas. o objetivo final do Ponto iv foi o de torn-los pr-estados Unidos. dessa forma, comprometeu-se a ajudar em todas as importantes lutas contra comu-nistas e dirigentes independentes (ou seja, uma vasta categoria que inclua os nacionalistas, peronistas, socialistas ou aqueles que no cooperavam)50. romualdi, Fishburn e outros funcionrios esperavam grandes resultados de seus esforos ao longo da dcada51.

    o propsito do Ponto iv era combater o comunismo com a prosperi-dade, tal como sugerido pelo prprio ttulo da legislao existente, a lei de segurana mtua. as sees 516 e 528 do documento previam que os estados Unidos deveriam incentivar nos pases participantes normas justas e boas

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    condies de trabalho e o desenvolvimento do movimento sindical aut-nomo, bem como as iniciativas coletivas de negociao da mo-de-obra. de acordo com as diretrizes, as metas do Ponto iv queriam aumentar a produti-vidade e promover o desenvolvimento econmico e social equilibrado, so-mado a um forte movimento sindical autnomo que contribuiria com todos estes objetivos e seria a melhor garantia contra a invaso das organizaes dos trabalhadores por comunistas profissionais e outros revolucionrios52. estes eram precisamente os mesmos objetivos que norteavam a orit. no contexto dos anos 1950, tanto os estados Unidos como a aFl viam o treinamento tc-nico e a assistncia como centrais para cumprir essa misso.

    o primeiro programa de formao no mbito do Ponto iv para o brasil ocorreu em janeiro de 1953, quando um grupo de dez estudantes chegou american University em Washington, d.c. estes primeiros estudantes no eram lderes sindicais, mas tcnicos do ministrio do trabalho brasileiro e instrutores de um programa de gesto e assistncia ao trabalhador apoiado pelo governo, chamado sesi (servio social da indstria)53. durante a estadia de seis meses, eles estudaram economia, estatstica e histria do trabalho nos eUa. depois de trs semanas de estudos de ingls intensivo, se dedicaram a entender os fatores humanos que influenciam a produtividade, o tema geral do programa54. mais tarde, o grupo esteve no Pennsylvania state college para um programa de seis semanas de estudos acerca da histria do sindicalismo dos estados Unidos, sua estrutura e funcionamento55. na ltima semana, os brasileiros visitaram fbricas e sindicatos para observar seu funcionamento.

    os estrategistas norte-americanos podem ter planejado influenciar o ministrio do trabalho e os profissionais do sesi (bem como seus estudan-tes) ao priorizarem essa turma para a primeira investida do programa. estes funcionrios foram escolhas naturais porque a formao deles atingia o duplo objetivo de combater o comunismo e incentivar a produtividade da fora de trabalho, o que era tambm partilhado pelas instituies brasileiras. como o industrial e cofundador do sesi, roberto simonsen explicou:

    o sesi [...] permitir que as massas trabalhadoras no brasil atravessem o mar vermelho da opresso e do desumano totalitarismo sem molhar os ps e, sem dvida, aps a rdua jornada, [os trabalhadores] respiraro o ar puro do brasil, purificado pelo nosso esprito cvico e pela nossa vocao para a democracia.56

    embora os propsitos norte-americanos e brasileiros fossem semelhan-tes, os dois pases divergiam muitas vezes, gerando tenso entre os funcion-rios. Por exemplo, os funcionrios estadunidenses estavam convencidos de

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    que sindicatos livres do controle do governo eram ideais e, portanto, queriam eliminar o carter intervencionista do ministrio do trabalho. em janeiro de 1956, romualdi divulgou um plano de quatro pontos elaborado em conjunto com o novo embaixador dos estados Unidos no brasil, James dunn. os dois primeiros pontos pediam liberao do asfixiante controle governamental sobre os dissdios salariais e o fim da prtica de interveno do governo sobre os sindicatos57. esta proposta era rechaada pelos burocratas brasilei-ros, que acreditavam que o movimento sindical se desmantelaria ou cairia nas mos dos comunistas na ausncia do controle do ministrio do trabalho. os estados Unidos reconheciam o potencial de ruptura, mas afirmavam que preferiam se arriscar, confiantes de que tais esforos acabariam por conquis-tar os brasileiros58.

    neste ponto, como se poderia esperar, certas nuanas separavam as opinies do governo norte-americano e as da aFl. os agentes da aFl mostra-ram mais interesse em enfraquecer o estado brasileiro do que os estrategistas norte-americanos, porque, para estes ltimos, o carter e a ideologia daqueles que seguravam as rdeas do poder importavam mais. se os funcionrios nor-te-americanos eram mais simpticos ao ento ministro do trabalho brasileiro, era porque o controle do governo brasileiro sobre o movimento sindical os incomodava menos do que a possibilidade de o ministro do trabalho ser um nome no qual eles no confiassem.

    enquanto o treinamento de lderes sindicais brasileiros estava em cur-so em 1953, trs deles foram enviados para a escola de formao da orit, na Universidade de Porto rico. os escolhidos foram enoch Gresenberg, do sindicato dos eletricitrios de so Paulo, alberto bettamio, presidente do sin-dicato dos trabalhadores em empresas de comrcio de minrios e derivados de Petrleo do rio de Janeiro, e luiz Jos baptista Guimares, presidente do sindicato dos empregados no comrcio do rio de Janeiro. o cnsul geral dos estados Unidos em so Paulo escolheu Gresenberg, enquanto irving salert, o novo adido trabalhista na embaixada do rio de Janeiro, escolheu os outros dois. salert parecia impressionado com o empenho de seus indicados ao tra-balho sindical, descrevendo o sindicato ao qual bettamio pertencia como um dos poucos [...] que organizou completamente a indstria no rio de Janeiro. o sindicato tambm havia criado uma escola primria para os filhos dos s-cios. Guimares provocou a simpatia de salert por causa de seu conhecimento da legislao trabalhista brasileira e da sua colaborao para estabelecer os programas educacionais do adido trabalhista no rio de Janeiro59. importan-te igualmente notar que Gresenberg e bettamio trabalhavam em indstrias estratgicas (eletricidade e petrleo), para as quais investimento estrangeiro, propriedades e controle eram questes fundamentais naquela poca60.

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    no que diz respeito ao programa da orit, o coordenador do governo norte-americano do Ponto iv, maximilian Wallach, ficou quase que diaria-mente em contato com serafino romualdi. Wallach afirmou que a maior parte dos acordos feitos para o projeto da orit [foram] feitos pelo meu escri-trio, ou seja, o Programa para as repblicas americanas do departamento do trabalho dos estados Unidos61. em 1954, salert selecionou oito sindica-listas brasileiros para envi-los a uma nova escola da orit em montevidu, no Uruguai. em maio, o prprio salert recebeu permisso do departamento de estado para suspender suas atividades na embaixada por duas semanas para que ele pudesse dar palestras na escola62. em outubro de 1955, salert preparou o itinerrio de romualdi em sua visita ao brasil, a qual inclua uma reunio com o embaixador dunn. conforme relatado por salert, o agente da aFl exortou o embaixador a apoiar o projeto de romualdi de criar uma universidade brasileira com subvenes do Ponto iv. agradeceu tambm o apoio de dunn ao programa de intercmbio de lderes sindicais e explicou que a aFl operava em estreita colaborao com as agncias governamentais dos estados Unidos para se certificar de que os brasileiros que visitassem os estados Unidos compreendessem a necessidade de combater o comunismo de uma forma positiva63.

    na verdade, o oramento norte-americano para o intercmbio de diri-gentes trabalhistas brasileiros era muito pequeno menos de 4 mil dlares em 1954 e cerca de 5 mil no ano seguinte. estes nmeros representam cerca de 1% do total do oramento anual dedicado propaganda norte-americana no brasil64. Frustrado com este baixo nvel de apoio, salert defendeu a ideia de que o programa deveria ser expandido de forma significativa para o ano de 1957. ele recomendou o financiamento da viagem de 150 lderes sindicais brasileiros para estadias de trs meses nos estados Unidos a cada ano at que, pelo menos, 10% das lideranas trabalhistas nacionais, estaduais e de sindi-catos municipais tivessem obtido a oportunidade de ir at o norte do hemisf-rio para ver sindicatos estadunidenses em ao. salert afirmou que recebera centenas de pedidos de bolsas de estudo. em sua opinio, o programa j tinha se tornado a mais importante ferramenta auxiliar do movimento sin-dical brasileiro e um instrumento essencial de formao de sindicalistas em campees da defesa da democracia e do anticomunismo65.

    difcil medir a eficcia do programa. Promovedores como salert e romualdi exaltavam suas conquistas sem desperdiar a oportunidade de ce-lebrar seus sucessos e apresentar relatrios a Washington contendo coment-rios de impressionados brasileiros recm-chegados da viagem aos estados Unidos. Por exemplo, em 1957, em um informe salert cita extensamente Hi lrio Jos buselatto, vereador e membro de um sindicato em caxias do

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    sul, no estado do rio Grande do sul: agora eu sei por que os trabalhadores norte-americanos so anticomunistas. eles vivem e trabalham com dignidade [...] agora eu mesmo vi as condies de vida. [...] temos que libertar nossos sindicatos dos comunistas e eu vou assumir essa luta66.

    outro participante do programa chamado domingos saviano, presi-dente do sindicato dos trabalhadores na indstria de Farinhas, relatou ao consulado em so Paulo um episdio em que ele alegou ter contestado vrias vezes o lder do Pcb, lus carlos Prestes, numa discusso sobre o imperia-lismo econmico dos estados Unidos67. em novembro de 1958, um grupo de formados pelo programa fundou o clube eloy chaves em so Paulo68. Para satisfao dos funcionrios norte-americanos, os membros do clube viajavam pelo estado relatando a experincia que tiveram nos estados Unidos e expli-cando a natureza do sindicalismo autnomo69.

    de qualquer modo, uma estreita aliana com os estados Unidos no garantia sucesso s lideranas sindicais no brasil. a carreira de dois dos pri-meiros participantes do programa da orit, Gresenberg e bettamio, de fato desmoronaram depois do treinamento, em 1953. adversrios de Gresenberg no sindicato dos eletricitrios usaram a visita aos estados Unidos para desa-credit-lo aos olhos dos demais membros da entidade. Pouco tempo depois do retorno ao brasil, ele perdeu a eleio para a presidncia do sindicato e deci-diu abandonar a entidade70. em 1957, bettamio tambm perdeu a eleio para a federao nacional de sua categoria, os petroleiros. de acordo com salert, perdeu por 250 votos (em 2.550) para a chapa liderada por domenico srgio. alegando fraude, bettamio pediu ao ministro do trabalho que anulasse os re-sultados e convocasse novas eleies. na segunda vez, entretanto, a direo, e no os comunistas, foram acusados de pressionar os trabalhadores a votarem em srgio. os relatrios trimestrais de salert no mais mencionaram a eleio de bettamio71.

    o caso do destinatrio de recursos do Ponto iv em 1956, Jos sanches duran, que era presidente da Federao dos metalrgicos do estado de so Paulo, deu uma interessante oportunidade de refletir sobre os problemas con-frontados pela poltica trabalhista dos estados Unidos no fim dos anos 1950. durante sua formao nos estados Unidos, duran teve contato com George meany, serafino romualdi e outros lderes trabalhistas estadunidenses. du-ran e outros sindicalistas brasileiros convidaram meany para uma visita ofi-cial ao brasil, e quando duran voltou a so Paulo, em outubro, ele comeou a capacitar um grupo de 25 presidentes de sindicatos metalrgicos do estado de so Paulo nos mtodos norte-americanos de negociao. era uma respos-ta entusiasmada ao programa, que satisfez tanto a aFl como os funcionrios do governo dos estados Unidos72.

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    contudo, depois da visita de meany no final do ano, a lua-de-mel com duran comeou a azedar e o fraco domnio dos estados Unidos sobre os metalrgicos brasileiros comeou a degringolar, at que as relaes com este estratgico movimento terminaram de vez. duran parou de aparecer em reu-nies promovidas pelo adido trabalhista salert e se recusou a responder s presses dos colegas de capacitao, que desejavam que ele participasse dos encontros. Pior ainda, informantes, como o metalrgico Jos maria ribei-ro, relataram que duran passou a ajudar os comunistas, alertando-os que um dos lderes do sindicato era, na verdade, um policial infiltrado. salert ponderou as razes que explicassem a nova postura distanciada de duran, especulando que o presidente da federao estava com medo de dar munio aos seus inimigos por fazer visvel sua amizade com os estados Unidos73. em agosto de 1957, segundo alguns sindicalistas autnomos, duran j estava se aproximando demais os comunistas, um desvio para a esquerda que se revelou muito oportunista, pois ele precisava garantir sua reeleio como pre-sidente. at a grande greve geral de outubro, seu nome j havia desaparecido dos informes da embaixada74.

    Um ms mais tarde, em novembro, os metalrgicos realizaram seu pri-meiro congresso nacional, em Porto alegre, provocando mais frustraes para o projeto poltico trabalhista dos estados Unidos no brasil. com a queda de duran e o sucesso da greve liderada pelos comunistas, a influncia dos estados Unidos sobre o movimento sindical entrou em declnio. contudo, os funcionrios norte-americanos continuaram a tentar estabelecer relaes com os metalrgicos por meio de um dos seus ltimos colaboradores, antnio Fer-nandes de lima, presidente do sindicato dos metalrgicos de niteri. lima foi interpelado sobre o congresso pelo assistente do adido trabalhista James shea e foi designado para uma bolsa Ponto iv. a delegao de so Paulo que esteve no congresso, pelo contrrio, era dominada por lderes independentes, como Jos busto, secretrio-geral dos metalrgicos de so Paulo, e Waldimir Jorge schnor, sucessor de duran na federao estadual. no congresso de Porto alegre, de acordo com alguns relatos, busto defendeu a filiao Fsm (de orientao comunista) e denunciou a orit como um instrumento do departamento de estado dos estados Unidos. lideranas do congresso pre-veniram-se contra essa campanha nomeando uma comisso para estudar a questo. este resultado propiciou grande preocupao aos estrategistas norte-americanos e para os que operavam as questes relativas ao trabalho.

    com 120 mil membros, o sindicato de busto, o de so Paulo, era de lon ge a maior unidade nacional, as estimativas do servio de relaes interna-cionais dos estados Unidos indicavam um total de 200 mil metalrgicos sin-dicalizados no brasil75. assim, por ocasio do segundo congresso da categoria,

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    realizado em so Paulo, em abril de 1959, os funcionrios do departamen-to de estado estavam especialmente preocupados com a questo da filiao internacional. oficialmente, o congresso convidou representantes dos dois grupos. Federao internacional dos metalrgicos (Fim), ligada a oit, em Genebra, solicitaram ajuda para custear o congresso, assim como o envio de representantes. a comisso nomeada para estudar a questo foi ambgua ao recomendar a manuteno de relaes amistosas com as duas organizaes internacionais. mas isso era inaceitvel para a aFl-cio e, em maro, Geor-ge meany advertiu as organizaes da orit que a ciosl e a Fim deveriam boicotar o congresso. apenas com a presena da Fsm, a Federao dos meta-lrgicos aprovou a formalizao das relaes de cooperao com o organismo internacional76.

    Frustrados com estes episdios, os agentes trabalhistas norte-america-nos convergiram suas atenes para restabelecer o programa de formao nos estados Unidos nos moldes do que fez duran para a direo da Federao dos metalrgicos de so Paulo. nesse esforo, no entanto, eles encontraram difi-culdades com o ministrio do trabalho brasileiro. os dirigentes da federao foram eleitos em 5 de dezembro de 1959 e uma chapa com dois bolsistas do Ponto iv, venceu com apertada margem, uma outra chapa liderada pelo ento presidente Waldimir schnor, abertamente um membro do Pcb. de acordo com a legislao trabalhista brasileira, cada sindicato local de uma categoria tinha direito a um voto para a escolha dos dirigentes da federao, indepen-dente do seu nmero de filiados. assim, nos 19 sindicatos que formavam a federao no estado, os delegados de pequenos sindicatos, de cidades como santos, ribeiro Preto e Piracicaba, acabaram votando na chapa apoiada pe-los norte-americanos77. irritados com o resultado, schnor e busto, do grande sindicato da capital de so Paulo, acusaram a chapa vencedora de fraude e pe-diram ao ministrio do trabalho para anular as eleies e fiscalizar uma nova eleio. o ministro do trabalho, Gilberto crockett de s, atendeu ao pedido e invalidou a eleio, marcando novo processo para maro de 196078.

    os funcionrios trabalhistas norte-americanos ficaram surpresos, mas os problemas com o ministrio estavam apenas comeando. a prxima dis-puta envolveria o desejo do ministrio de exercer seu poder de veto na es-colha de lderes sindicais a serem indicados para receber as subvenes do Ponto iv. a essa altura, a seleo de participantes do programa de formao dependia apenas da recomendao do adido trabalhista dos estados Unidos e da aprovao de romualdi (ou de outro funcionrio da orit) e do dr. Joo Guilherme arago, o representante do governo brasileiro no Ponto iv. dessa vez, o ministrio pretendia elaborar novas regras que exigissem sua aprova-o aos candidatos potenciais. a disputa terminou apenas quando se tornou

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    claro que nenhum dos novos fundos era adequado para bolsas de viagem em 196079. este incidente, bem como a interveno do ministrio na eleio dos metalrgicos, apontou a crescente tenso entre os funcionrios trabalhistas norte-americanos e os brasileiros.

    durante quase toda a dcada de 1950, o ministrio havia sido influen-ciado por Joo Goulart, um lder do Ptb do rio Grande do sul que foi mi-nistro do trabalho em 1953 e foi eleito vice-presidente do brasil em 1955 e novamente em 1960. em setembro de 1961 ele se tornou presidente quando, de repente, o presidente Jnio Quadros renunciou ao cargo. embora nunca tenham acusado Goulart de ser um comunista, os estrategistas trabalhistas norte-americanos sempre o viram com desconfiana. aos olhos desses fun-cionrios, Goulart foi a pior espcie de companheiro de viagem, um aliado dos comunistas quando eles se adequaram s suas necessidades polticas. ao intervir, por exemplo, nas eleies dos metalrgicos, Goulart sem dvida esperava apaziguar o poderoso sindicato de so Paulo, com suas lideranas comunistas e sua grande base. as simpatias de Goulart (como as da popula-o brasileira em geral) eram nacionalistas. como as foras dos nacionalistas de esquerda aumentaram durante a crise econmica de fins dos anos 1950 e do incio dos 1960, Goulart e o ministrio do trabalho tiveram dificuldades nas disputas com os comunistas no movimento sindical80.

    em uma complexa e confusa srie de acontecimentos ocorridos entre meados de 1960 e meados de 1962, os estados Unidos perderam seus vn-culos com o movimento operrio brasileiro, bem como houve um dramtico aumento da influncia da esquerda nacionalista (com quem mais ou menos Goulart era alinhado)81. o primeiro sinal do fracasso norte-americano ocor-reu em agosto de 1960, no terceiro congresso nacional dos trabalhadores, realizado na cidade do rio de Janeiro. Uma grave ciso abriu-se a respeito da criao de uma central sindical nica no brasil. os esquerdistas eram favor-veis ideia, mas influentes dirigentes sindicais, como o primeiro aliado dos estados Unidos, o presidente da cnti, deocleciano Holanda cavalcanti, se opuseram ideia. (ironicamente, romualdi, 14 anos antes, em 1946, tinha pressionado lderes sindicais brasileiros, inclusive cavalcanti, para fundar uma entidade central como a aFl.) Frustrado com sua posio minoritria, cavalcanti liderou um dramtico protesto e conseguiu fazer com que 45 dos 2.500 delegados abandonassem o congresso com ele82.

    como se verificou mais tarde, esta manobra serviu apenas para isolar o grupo de cavalcanti. em julho de 1961 cavalcanti perdeu a presidncia da cnti para clodesmidt riani, um dirigente sindical de esquerda independen-te de minas Gerais e um dos organizadores do terceiro congresso. aquele congresso concordou em apresentar a ideia da criao de uma central, mas s

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    no Quarto congresso, realizado em agosto de 1962, 3.500 delegados de quase 600 sindicatos fundaram o comando Geral dos trabalhadores (cGt), sem oposio83. riani se tornou presidente do cGt, enquanto dirigentes sindicais comunistas como Hercules corra e luis tenrio de lima foram eleitos para sua direo. o resultado causou poltica trabalhista dos estados Unidos um srio revs. alm disso, o ministro do trabalho brasileiro, embora muito lon-ge de se satisfazer com a crescente autonomia do movimento sindical, decidiu tolerar o cGt ao invs de reprimir esta organizao supralegal.

    assim, depois de mais de uma dcada de funcionamento, o programa de formao da orit/Ponto iv para sindicalistas brasileiros chegou a uma decepcionante paralisao no comeo dos anos 1960. muitos participantes do programa tinham sido afastados de seus sindicatos e, por outro lado, lderes que tinham sido rejeitados pelos norte-americanos foram elevados a posies de liderana. ironicamente, o cGt permaneceu, em grande medida, livre do controle do governo e incluiu demandas por autonomia sindical e negociao coletiva como pontos da sua pauta de reivindicaes; objetivos estes que com-punham a poltica trabalhista norte-americana de sindicalismo autnomo. no entanto, a postura nacionalista e antiimperialista do cGt tornou-se mais sim-blica do fracasso norte-americano que de seu sucesso. em 1962, propagar o ponto de vista norte-americano era, de fato, uma tarefa difcil.

    AIFLD: Interveno e controle (1962-1965)

    embora seja tentador afirmar que a poltica trabalhista norte-americana se alterou radicalmente depois de 1962, tal interpretao conflitante com a documentao disponvel. comeando em 1946, os funcionrios trabalhistas americanos voluntariamente serviram e ajudaram a moldar a poltica externa dos estados Unidos no brasil, formando uma parceria com o governo que continuou nos anos 1960. o que mudou de alguma forma foi a prpria poltica externa. a administrao do presidente John F. Kennedy passou a pressionar o servio de relaes internacionais norte-americano para que se tornasse mais agressivo e comprometido em suas investidas estrangeiras, e a poltica trabalhista refletiu essa tendncia geral. em 1964, as tticas da poltica traba-lhista foram conduzidas, a partir da poltica geral, posio extrema de ajudar a derrubar o governo legalmente constitudo de Joo Goulart. na sequncia do golpe de estado de abril de 1964, o aparato trabalhista dos estados Unidos novamente colaborou com funcionrios norte-americanos na construo de um slido ponto de apoio para o que se evidenciou ser um governo autoritrio e repressivo. o novo governo rapidamente provou ser a anttese da democracia vital fundamentada pela ideologia do sindicalismo autnomo84.

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    o envolvimento dos estados Unidos no movimento operrio tinha sido h muito tempo um meio de influenciar dissimuladamente a poltica brasileira. em 1962, este projeto poltico tomou uma forma mais refinada e concentrada quando o instituto americano para o desenvolvimento de sindicatos aut-nomos (na sigla em ingls, aiFld american institute for Free labor deve-lopment) foi instalado em recife e em so Paulo. embora administrado pelo pessoal da aFl-cio, a aiFld era um produto da reavaliao das atividades internacionais do trabalho desempenhado pela administrao do presidente dwight d. eisenhower. Um estudo dedicado ao final do seu segundo mandato revelou que os departamentos de estado, trabalho e defesa esto profunda-mente envolvidos em questes trabalhistas internacionais, assim como esto a ica [instituto para assuntos culturais, na sigla em ingls], a Usia [agncia de informao dos estados Unidos, na sigla em ingls] e a cia. Porm, de acordo com este estudo, as divises de atribuies na atuao dessas agncias eram obscuras e necessitavam melhorar a direo e a coordenao. o de-partamento do trabalho norte-americano recomendava que se institusse um conselho consultivo interagncias para coordenar as operaes85. em maio de 1961, o sucessor de eisenhower seguiu as recomendaes. Kennedy tambm pediu ao secretrio de trabalho, arthur Goldberg, que fizesse acordos espe-cficos para a amrica latina no mbito do recm-criado programa aliana para o Progresso. em resposta, um comit consultivo especial foi criado para a regio, e em agosto de 1962 a aiFld foi designada como parte deste esforo de colaborao86.

    o comit consultivo de trabalho para a aliana para o Progresso reu-niu-se pela segunda vez em 12 de maro de 1962. o presidente da aFl-cio, George meany, fora nomeado presidente e seus membros incluam o diretor executivo da aiFld, William doherty Jr., romualdi, o tesoureiro da aiFld, Joseph beirne, o diretor da cia, thomas mccone, o diretor da agncia para o desenvolvimento internacional (aid, na sigla em ingls), Fowler Hamilton, o secretrio de estado, dean rusk, e o prprio secretrio do trabalho, Gold-berg. todos compareceram reunio, exceto rusk, que enviou um emissrio. a reunio decidiu que a aiFld poderia tratar diretamente com a agncia para o desenvolvimento internacional para realizar [o comit consultivo] projetos na amrica latina. tomada esta deciso, como mais tarde alegou beirne, em razo do carter privado e no-governamental do instituto, ela permitiria aiFld desenvolver programas os quais, como resultado de con-dies polticas e diplomticas, no poderiam ser realizadas diretamente pelo governo norte-americano87. em outras palavras, a aiFld seria um instru-mento dissimulado da poltica externa norte-americana, em parte orientada pela cia. Goldberg ressaltou ainda mais este ponto, em uma carta a beirne,

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    reiterando que todos os projetos da aiFld, financiados ou no pelo governo, estavam sujeitos a serem inspecionados pelo comit trabalhista88.

    a aiFld criou institutos de formao e propaganda no brasil no final de 1962, incluindo o instituto cultural do trabalho (ict), em so Paulo. mais do que selecionar candidatos para viajar para os cursos de formao da aiFld em Washington, d.c., o ict patrocinou uma srie de estudos sobre movimento sindical brasileiro, lideranas e estrutura sob a direo de J. v. Freitas marcondes, um socilogo brasileiro formado na Universidade da Fl-rida. a ateno dos estados Unidos estava tambm voltada para continuar o programa de formao de lderes sindicais, e em janeiro de 1963 a primeira turma de brasileiros chegou a Washington para uma estadia de seis meses sob a orientao do aiFld. tal como os projetos anteriores no mbito do programa orit/Ponto iv, os 33 alunos do curso estudavam Histria do tra-balho dos estados Unidos, economia, estruturas e tcnicas para identificar e defender-se contra os comunistas e fascistas89.

    Porm, no importa o quanto mais eficientes tenham se tornado os pro-gramas, eles apenas tiveram um impacto limitado sobre o movimento sindical. como uma das pesquisas do prprio ict mostrou pouco antes do golpe de 1964, muitos lderes sindicais no se comoveram com a promessa da ideologia sindical dos estados Unidos, mantiveram-se impassivelmente despreocupados com o comunismo e apoiados no cGt. Perguntou-se a cerca de 80 presidentes de sindicatos se achavam uma central sindical como o cGt necessria: 44 responderam sim, 22 disseram no e 12 no responderam. apenas cinco consideraram como necessria a rival Unio sindical dos trabalhadores (re-centemente criada por cavalcanti com o apoio dos estados Unidos). Quando se perguntou quais foras mais impediam o desenvolvimento econmico do brasil, 18 dirigentes criticaram o capitalismo retrgrado, 14 a ignorncia e preguia de trabalhadores, 12 queixaram-se dos polticos e 11 jogaram a responsabilidade sobre o comunismo90. claramente, em 1964, o ponto de vista dos estados Unidos ainda no tinha sido propagado com sucesso.

    a ideia de derrubar o presidente Joo Goulart no nasceu entre os es-trategistas trabalhistas dos estados Unidos, mas sua impacincia com o pro-grama de formao e a frustrao com a administrao de Goulart obrigou-os a gastar um pouco de tempo ponderando sobre a tica e a moral em tomar parte na derrubada de um governo legtimo. Fishburn observou, por exem-plo, que era absolutamente impossvel tratar com o ministrio do trabalho na poca de Joo Goulart e que os esforos norte-americanos tiveram de ser colocados em modo de retirada. at que Fishburn deixasse o brasil, em 1963, um dirigente da cia no identificado na embaixada e o enviado espe-cial coronel vernon Walters pressionaram o embaixador dos estados Unidos,

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    lincoln Gordon, para apoiar o iminente golpe91. de acordo com o diretor da aiFld, doherty, os participantes do curso do instituto estavam intimamente envolvidos na conspirao militar e civil contra o presidente Joo Goulart. o que fizeram exatamente ainda no est claro, mas parece pouco provvel que o papel deles tenha sido to central como reivindicou doherty92. ao que se falava, os participantes do curso da aiFld ajudaram os conspiradores a manter canais de comunicao abertos com os militares e fech-los para os defensores de Goulart. este pode ter sido o caso em so Paulo e no recife, onde a aiFld tinha uma presena institucional, mas no rio de Janeiro as foras de apoio de Goulart e seu governo afirmavam ter tomado o controle de maior parte dos canais de televiso e das estaes de rdio93. Qualquer que te-nha sido o papel da aiFld, a jactncia de doherty certamente projetava uma imagem contraditria do cerne democrtico do sindicalismo autnomo.

    depois do golpe, os participantes dos cursos da aiFld ajudaram a assu-mir o controle de sindicatos brasileiros dos quais supostos lderes de esquerda tinham sido removidos, contribuindo assim para que o novo governo tivesse uma maior influncia sobre os trabalhadores organizados94. essas contradies entre teoria e prtica deixaram tensas as relaes entre os estrategistas norte-americanos. em maio de 1964, victor reuther, diretor do departamento de assuntos internacionais do sindicato dos trabalhadores do setor automotivo, levantou questes sobre o papel da tica do trabalho no brasil na primeira reunio da comisso consultiva do trabalho realizada aps o golpe. a ttulo oficioso, reuther ouviu relatos sobre a duplicidade das atividades da aiFld no brasil e sobre as frequentes reunies entre os agentes, o embaixador Gordon, o ministro do trabalho, arnaldo sussekind, e o adido trabalhista baker. o representante interamericano da aFl-cio, andrew mclellan, defendeu a pr-tica do governo brasileiro de intervir nos sindicatos como necessria para dar continuidade no aconselhamento jurdico e aos servios de assistncia social, prestados pelos sindicatos. o ministrio do trabalho tinha marcado um sim-psio sindical para o dia 8 de junho, o qual, nas palavras de mclellan, prome-tia resultar no estabelecimento de um novo associativismo democraticamente orientado no movimento sindical. ao longo desse ano, a estrutura institucio-nal do sistema trabalhista norte-americano estava chegando ao brasil95.

    reuther pareceu menos interessado no curso dos acontecimentos que o resto da comisso. ele questionou se uma conferncia organizada pelo governo era realmente um sinal de democracia. era direito do governo brasi-leiro, indagou, determinar a elegibilidade dos candidatos a cargos nos sindi-catos no simpsio de 8 de junho?. os outros presentes discutiram a questo, mas ponderaram que o governo brasileiro sempre interferiu e controlou os sindicatos. ento, estabeleceu-se a que os estados Unidos nada deveriam

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    fazer para pr em perigo as perspectivas de aparecimento de um movimen-to sindical autnomo e democrtico no brasil. sob este ngulo, a comisso no pode e no deve aprovar os procedimentos ora aplicados aos sindicatos no brasil. reuther perguntou tambm sobre a priso do presidente do cGt, clodesmidt riani, sugerindo que uma controvrsia sobre seu encarceramen-to poderia aparecer na prxima reunio da oit. sobre este assunto, a comis-so decidiu preparar os governos dos estados Unidos e da amrica latina e os delegados trabalhadores para desviar o debate sobre a priso de riani, alegando que se tratava de um criminoso e no de um problema trabalhista, pois riani havia sido acusado pelo cdigo Penal96.

    assim, em 1965, a atitude laissez-faire dos estrategistas norte-america-nos sobre o papel dos militares no brasil permitiu-lhes justificar o vnculo do futuro dos sindicatos autnomos ao aumento do autoritarismo. mas, como as questes levantadas por reuther sugeriam, alguns indivduos do movimen-to sindical dos estados Unidos estavam cada vez mais desconfortveis com as contradies de tal poltica. Graves divergncias desenvolveram-se dentro do movimento sindical como resultado destas contradies e daquelas gera-das por atividades semelhantes em outros pases da amrica latina, frica e sia97. no brasil, porm, duas dcadas de poltica trabalhista norte-americana haviam estabelecido um padro de relaes que continuaria ainda na dcada de 1990, com os estados Unidos tentando implantar as estruturas do sindica-lismo autnomo e os brasileiros desde funcionrios do governo aos lderes sindicais conduzindo seus assuntos por vias que frequentemente desafia-vam os planos definidos pelos estados Unidos.

    Concluso

    como j foi demonstrado nesta breve anlise das duas primeiras dca-das de envolvimento dos estados Unidos no movimento sindical brasileiro, as instituies brasileiras demonstraram considervel autonomia vis--vis os es-foros norte-americanos. o que ficou evidente foi a resistncia do movimento operrio no brasil, em face da presso do estado brasileiro, bem como a dos agentes americanos. minha pesquisa sugere que os sindicatos brasileiros per-maneceram substancialmente dependentes do estado durante a maior parte deste perodo, corroborando a opinio de pesquisadores que explicaram a falta de autonomia sindical no brasil sob o populismo98. Porm, parece mais preciso fazer coro com maria Helena moreira alves na concluso de que, at o golpe de 1964, os sindicatos brasileiros organizaram-se em um clima de liberdade tolerada, algo que no deve ser confundido com autonomia estru-tural99. na verdade, a maioria das evidncias mostra que os membros dos

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    sindicatos exerceram considervel liberdade na rejeio aos dirigentes a man-do dos estados Unidos e ao eleger chapas que no tinham apoio do governo brasileiro. alm disso, o governo nem sempre tolerou os desejos norte-ameri-canos. mais frequentemente do que parece, os acontecimentos no brasil foram determinados de baixo para cima.

    o caso brasileiro tambm oferece elementos para modificar a tradicio-nal imagem da poltica trabalhista dos estados Unidos na amrica latina. a literatura tem salientado que o anticomunismo foi o corao e a alma da po-ltica durante a maior parte do perodo da Guerra Fria100. somente na dcada de 1980, sustentam estudiosos, vozes alternativas se tornaram mais efetivas no movimento operrio norte-americano101. em um grande pas como o bra-sil, no entanto, a classe dirigente precisava de pouca ajuda para reprimir aqueles que ameaavam o status quo. embora os agentes trabalhistas norte-americanos tenham geralmente colaborado nestes esforos, muita energia tambm foi dedicada aos sinceros, mas ineficazes, esforos de americanizar a cultura sindical do brasil. lutar contra o comunismo foi justificado no como um fim em si mesmo, mas como um meio de lanar as bases para im-plantar o sindicalismo autnomo e a democracia do livre-mercado. aqueles que se preocupam com o internacionalismo trabalhista hoje fariam bem em reconhecer historicamente as duas faces desta natureza poltica, bem como as distores que ocorreram quando seus defensores no conseguiram dar muita ateno s devidas necessidades locais.

    (Traduo de Glucia Fraccaro e Dainis Karepovs)

    RESUMOo artigo trata da influncia dos eUa na poltica desenvolvida no interior dos sindicatos brasileiros e no ministrio do trabalho entre os anos 1945 e 1965. analisa o crescente envolvimento estadunidense nesse perodo, como decor-rncia dos interesses associados preocupao com o comunismo na regio, no contexto ad Guerra Fria, somado perspectiva imperial de ver a regio como sua esfera de influncia e de querer afirmar isso com a exportao dos valores norte-americanos ao restante do mundo, a chamada american way of life, algo que ironicamente se tornou mais fcil depois do golpe de 1964.

    PALAVRAS-CHAVEsindicalismo; brasil; estados Unidos.

    ABSTRACTthis article discusses United states influence inside the brazilian trade uni ons and in the labor ministry between 1945 and 1965. it analyzes

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    the growth of U. s. involvement during these years as a result of interests associated with early cold War worries about communist advances in latin america and the imperial objectives of controlling the hemisphere, partially through the exportation of U.s. political values and institutional styles, the so called american way of life, that ironically became easier to implant once the military took power in 1964.

    KEYWORDStrade unionism; brazil; United states.

    nOTAS1 a pesquisa que deu origem a este artigo foi financiada pela Universidade de ma-ryland e pela Universidade estadual Grand valley (GvsU), no estado de michigan, estados Unidos. agradeo tambm a Winthrop Wright, ira berlin e richard Price pela orientao e apoio, a vilma Welch por sua colaborao na pesquisa e a anthony Pereira, Holbart spalding, stanley Gacek e os pareceristas da Latin American Research Review pelos comentrios construtivos.2 Professor-colaborador no departamento de Geografia e Programa de Ps-Gradua-o em Geografia da Universidade estadual Paulista (Unesp) Presidente Pruden-te. Foi bolsista no programa Professor visitante estrangeiro (Pve) da capes em programas de ps-graduao na Pontifcia Universidade catlica de so Paulo, na Unesp/Presidente Prudente, e na Universidade de so Paulo, entre julho de 2003 a junho de 2005. professor de Histria da GvsU. Gentilmente foi concedido pela University of new mexico Press o direito de publicar o artigo pela primeira vez em portugus a verso original foi publicada pela Unm Press com o ttulo labor in-ternationalism: U.s. involvement in brazilian Unions, 1945-1965 no Latin American Research Review, albuquerque, n.m., 30 (2), p. 61-88, Primavera/1995. contato do autor: [email protected] WeFFort, Francisco. O populismo na poltica brasileira. rio de Janeiro: Paz e ter-ra, 1978; Hall, michael e Garcia, marco aurlio. Urban labour. In conniF, michael e mccann, Frank. (orgs.). Modern Brazil. lincoln: University of nebraska Press, 1989; ePstein, edward c. (org.). Labour autonomy and the State in Latin America. boston: Unwin Hyman, 1989; coHen, Yousef. The manipulation of consent: The state and working-class consciousness in Brazil. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1989; collier, ruth berins e collier, david. Shaping the political arena: critical junctures, the labour movement, and regime dynamics in Latin America. Princ-eton: Princeton University Press, 1991.4 berGQUist, charles. Labor in Latin America. stanford: stanford University Press, 1986. bUcHanan, Paul G. the impact of labor. In loWentHal, abraham F. (org.). Exporting Democracy: The United States and Latin America, Case Studies. balti-more: Johns Hopkins University Press, 1:174-206. sPaldinG JUnior, Hobart a. the two latin american Foreign Policies of the U.s. labor movement: the aFl-

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    cio top brass vs. rank-and-File. Science and Society 56, n 4, 1992-1993 (inverno): 421-439.5 sPaldinG JUnior, H. a. solidarity Forever? latin american Unions and the international labor network. Latin American Research Review, 24, n 2, 1989: 253-265.6 sPaldinG JUnior, H. a. Unions look south e aiFld amok. NACLA Report on the Americas 22, n 3, 1988 (maio-jun.), 14-27; FrUndt, Henry J. Refreshing pauses: Coca Cola and human rights in Guatemala. new York: Praeger, 1987; cantor, daniel e scHor, Juliet. Tunnel vision, labor, the world economy, and Central America. boston. south end, 1987; WelcH, cliff. e Pereira, anthony W. (orgs). labor and the free market in the americas. Latin American Perspectives, 22, n 1 (inverno), 1995.7 WelcH, cliff. United states labor policy and the politics of ordem e Progresso in brazil, 1945-1950. m. a. thesis, University of maryland. 1987.8 berGer, Henry W. Union diplomacy: american labors foreign policy in latin america, 1932-1955. Ph.d. diss., University of Wisconsin, 1966.9 de cecil cross ao secretrio de estado, 22 de agosto de 1945, Grupo de registro [record Group] 59, arquivo decimal [decimal File] 832.5043, departamento de estado, Us national archives. daqui em diante, os documentos do departamento de estado sero citados de forma abreviada em ingls: rG, dF e ds/Usna.10 de berle ao secretrio de estado, informational Program, 19 de setembro de 1945, rG 59, dF 832, 504, departamento de estado, Usna, com documentos ane-xos: adido trabalhista [labour attach] edward J. rowell, american Propaganda to brazilian Workers; convey egan, do escritrio do coordenador de assuntos interamericanos no brasil, informational activities aimed at brazilian Work-class audiences. 11 aerograma de cecil cross ao departamento de estado, 20 de setembro de 1945, aerograma n 144, rG 59, dF 832.5043, ds/Usna.12 de braden ao dr. inman, 6 de fevereiro de 1946, e de braden a Frank Kellogg, 6 de maro de 1946, em serafino romualdi Papers, caixa 9, arquivo 1, centro de documentao de Gerenciamento do trabalho [labor-management documentation center], biblioteca martin P. catherwood, cornell University, ithaca, nY. daqui por diante, esses documentos sero citados como romualdi Papers, com os respectivos nmeros de caixas e arquivos.13 de berle ao secretrio de estado, informational Program, 19 de setembro de 1945, rG 59, dF 832.504, ds/Usna.14 mosK, sanford. Industrial revolution in Mexico. berkeley e los angeles: University of california Press, 1950, p. 17-25. levenstein, Henry. Labor organizations in the United States and Mexico. Westport, conn.: Greenwood, 1971, p. 206-242; QUinta-nilla obreGon, lourdes. Lombardismo y sindicatos en America Latina. cidade do mxico: distribuciones Fontamara, 1982, p. 13-58.

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    15 ver berGer, H., op. cit., p. 235-266 e James byrnes, secretaria de estado, 11 de junho de 1946, rG 59, dF 810.504, ds/Usna.16 rowell, memorandum to Paul daniels, 14 de maro de 1946, anexo em despacho de clarence c. brooks ao secretrio de estado, 18 de maro de 1946, despacho n 4526, rG 59, dF 832.5045, ds/Usna.17 de James byrnes s embaixadas e consulados de caracas, rio de Janeiro, so Paulo, montevidu, buenos aires, la Paz, lima, Quito, bogot, cidade do Panam e cidade do mxico, 11 de junho de 1946, rG 59, dF 810.504, ds/Usna.18 berGer, Henry. american foreign policy, U.s. labor unions, and the cold War in latin america, 1945-1950. Paper apresentado no internationale tagung der Historiker der arbeiterbewegung (itH), 26 linzer conference, 11 a 15 de setembro de 1990, p. 5.19 de romualdi a matthew Woll, 18 de dezembro de 1943, romualdi Papers, caixa 1, arquivo 1. ver tambm: romUaldi, serafino. labor and democracy in latin america. Foreign Affairs Quarterly, n 24 (abr.) 1947: 477-89; romUaldi, serafino. Presidents and peons: recollections of a labor Ambassador. new York: Funk and Wag-nals, 1967; berGer, H., op. cit., 1990.20 minutas da reunio do comit de relaes internacionais do trabalho, american Federation of labor, 2 de agosto de 1946 apud berGer, H., op. cit., 1966, p. 264.21 meanY, G. Pan-american address, 11 de outubro de 1946 apud romUaldi, s., op. cit.,1967, p. 47.22 romUaldi, s., op .cit., 1967, p. 47.23 de romualdi para Florence thorne (secretrio do presidente da aFl, William Green), 15 de abril de 1947, romualdi Papers, caixa 9, arquivo 2.24 KoFas, John v.. The struggle for legitimacy: Latin American labor and the United States, 1930-1960. tempe: arizona state University Press, 1992; e Weiler, Peter. the Us, international labor, and the cold War: the break-up of the World Federa-tion of trade Unions. Diplomatic History 5, n 1 1981 (inverno): l-22.25 brasil. ministrio do trabalho, indstria e comrcio. Consolidao das Leis do Trabalho. rio de Janeiro: imprensa nacional, 1943; FrencH, John d. The brazilian workers ABC: class conflict and alliances in modern So Paulo. chapel Hill: University of north carolina Press, 1992.26 meeting with trade-union leaders, em de romualdi para Woll, romualdi Papers, caixa 2, arquivo 6.27 de romualdi para Woll, 5 de julho de 1946, romualdi Papers, caixa 2, arquivo 6.28 carone, edgard. (org.). Movimento operrio no Brasil. vol. 2 (1945-1964). so Paulo: difel, 1981, p. 186-188.29 vianna, luiz Werneck. Liberalismo e sindicato no Brasil. rio de Janeiro: Paz e terra, 1976, p. 254-256.

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    30 de rowell ao secretrio de estado, 26 de julho de 1946, rG 59, dF 832.5043; de Parsloe ao embaixador dos estados Unidos no rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1946, rG 59, dF 832.5043, ambos em ds/Usna. num sentido geral, rowell era mais independente que muitos dos novos estrategistas da poltica externa dos es-tados Unidos, a tal ponto que alguns criticaram suas posies. ver FrencH, J., op. cit., p. 342, nota 47.31 de romualdi a Woll, 5 de julho de 1946, romualdi Papers, caixa 2, arquivo 6. a rapidez com que romualdi adotou o pequeno segmento trabalhista ligado ao gover-no parece contradizer seu declarado desejo de libertar o sindicalismo brasileiro do controle ministerial. retrospectivamente, tais contradies aparentemente tambm o incomodaram. nas memrias que ele escreveu 20 anos depois, romualdi enfatizou o quanto fora cuidadoso em evitar o contato com funcionrios do governo porque ele se recusava a ser parte do controle do governo sobre o mundo do trabalho. enquanto esteve no brasil, entretanto, romualdi se reuniu com funcionrios do mi-nistrio do trabalho e gabava-se da durao das reunies que teve com os chief of cabinet de cada ministro. (ver romualdi., op. cit., 1967 p. 273). 32 do adido clarence brooks ao secretrio de estado, 2 de agosto de 1946, rG 59, dF 832.5043, ds/Usna. o adido afirmou que seus critrios foram elaborados a partir de conversas com dirigentes responsveis do ministrio do trabalho. no h relatos conclusivos desse importante congresso. informaes conflitantes podem ser encontradas nas fontes aqui utilizadas e em: rodriGUes, lencio martins. sindicalismo e classe operria (1930-1964). In FaUsto, b. (org.). Histria geral da civilizao brasileira. vol. 3. 3 ed. so Paulo: difel, 1986, p. 538; FrencH, J., op. cit., p. 189-195 e vianna, l. W., op. cit., p. 257-260.33 The Economist, 19 de outubro de 1946, citado em Goldman a Hussey, 20 de novem-bro de 1946. ver tambm o despacho de rowell ao estado, despacho n 594, 17 de setembro de 1946, e em de John edgard Hoover a Jack neal, 1 de outubro de 1946, todos em rG 59, dF 832.504/3. ds/Usna. ver tambm telles, Jover. O movimento sindical no Brasil. so Paulo: cincias Humanas, 1981, p. 253-259.34 vianna, l. W., op. cit. 1976, p. 259.35 ver romUaldi, s., op. cit., 1967, p. 45-48, e em de romualdi para o comit de relaes internacionais da aFl, 10 de setembro de 1946, romualdi Papers, caixa 9, arquivo 1.36 telles, J., op. cit., p. 179-193.37 carone, edgard (org.). O PCB (1943-1964). so Paulo: difel, 1982, p. 281-283.38 romUaldi, s., op. cit., p. 71-72.39 Gomes, ngela de castro. A inveno do trabalhismo. rio de Janeiro: vrtice/iU-PerJ, 1988.40 do encarregado de negcios no rio de Janeiro ao secretrio do estado, 5 de maro de 1948, rG 59, dF 832.5043, ds/Usna.

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    41 o contedo da conversa entre dutra e romualdi est em clarence brooks ao de-partamento de estado, 5 de novembro de 1947, ds/Usna.42 romUaldi, s., op. cit., 1967, p. 82-83.43 em um memorando de janeiro de 1952, o adido trabalhista Henry s. Hammond conjecturou por que a filiao ainda no havia acontecido: um crculo do poder do governo era quem poderia resistir ao projeto; o congresso brasileiro realmente tinha problemas mais importantes; ou a administrao de vargas no simpatizava com a ento liderana sindical e desejava sua mudana antes que a permisso para a filiao fosse uma realidade. ver de Hammond ao cnsul no rio de Janeiro, sheldon t. mills, 10 de janeiro de 1952. o substituto de Hammond, irving salert, sugeriu ainda uma quarta razo: cavalcanti (o principal aliado de romualdi no brasil) nutria alguma animosidade com o presidente da cit, bernardo ibez, e, por isso, estava indisposto para pressionar a administrao em favor da filiao. despacho de salert ao secretrio de estado, 5 de maro de 1952, despacho n 1460, rG 84, dF 832.06; despacho de salert ao secretrio de estado, 25 de julho de 1952, despacho n 131, rG 84, arquivos 310, ambos em ds/Usna.44 French, J., op. cit., p. 247-267.45 despacho de salert ao estado, 19 de maio de 1952, despacho n 1941, rG 59, dF 832.06; despacho de salert ao secretrio de estado, 25 de julho de 1952, despacho n 131, rG 84, arquivo 310, ambos em ds/Usna.46 despacho do adido trabalhista irving salert ao departamento de estado, despa-cho n 917 e despacho da embaixada dos estados Unidos em montevidu ao depar-tamento de estado, despacho n 492, ambos em rG 84, arquivos 310, ds/Usna.47 este acontecimento era importante para os estados Unidos porque significava que os sindicatos da amrica latina, ao no apoiar a aFl, poderiam no ter outra alter-nativa para buscar seno os irmos dos ricos sindicatos nos estados Unidos. numa circular confidencial aos funcionrios de consulados na amrica latina, o departa-mento de estado dos estados Unidos enfatizou essa implicao: a participao do cio tambm torna impossvel para a comunista ctal utilizar o suposto apoio ou simpatia de qualquer organizao trabalhista importante dos estados Unidos. J que a orit compartilhava alguns dos objetivos do governo dos estados Unidos, incluindo a oposio ao agressivo totalitarismo, a circular alertou os dirigentes dos servios de relaes internacionais para cooperar com a organizao. ver a circular regional do departamento de assuntos interamericanos. circular regional n 4, 8 de maio de 1951, rG 84, arquivos 560, ds/Usna.48 entrevista com John t. Fishburn, ex-adido ao departamento do trabalho dos es-tados Unidos, Woodstock, 27 de abril de 1985.49 em sua segunda mensagem inaugural, em 20/1/1947, o presidente norte-ameri-cano Harry s. truman delineou um programa de apoio paz e liberdade, que inclua quatro pontos principais: 1 - Firme apoio s naes Unidas; 2 - a continui-

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    dade de programas, especialmente o Plano marshall, que propiciariam a recupera-o econmica mundial; 3 - a criao de um regime de defesa coletiva e, sobretudo, um para a regio do atlntico norte (que se tornaria a organizao do tratado do atlntico norte - otan); e 4 - Um programa de assistncia tcnica para regies subdesenvolvidas (que passaria a ser o programa Ponto iv). elaborado na primeira fase da Guerra Fria, o Ponto iv foi concebido como uma oferta de recursos para os pases emergentes se decidirem contra o comunismo, tornando-os neutros ou no-alinhados. (nota dos tradutores.)50 tHorP, Williard l. the objectives of Point Four. Annals of the American Academy, n 268 (mar.), 1950, p. 22-26; Hanson, simon G. latin america and the Point Four Program. Annals of the American Academy, n 268, 1950, p. 66-74; GriFFitH, robert. dwight d. eisenhower and the corporate commonwealth. American His-torical Review 87, n 1, 1982, p. 87-122.51 entrevista com John t. Fishburn, Woodstock, 27 de abril de 1985.52 Policy Guidance regarding labor and manpower aspects of technical coopera-tion Program, uma declarao poltica confidencial do administrador interino para o diretor tcnico de campo de cooperao, todas as misses, 5 de maro de 1952, rG 84, arquivos 560, ds/Usna.53 de maximilian Wallach, chefe do Programa de operaes das repblicas ameri-canas, ao adido trabalhista irving salert, brazilian labor department Group, 28 de janeiro de 1953, rG 84, arquivos rio de Janeiro, ds/Usna.54 departamento do trabalho dos estados Unidos, escritrio de assuntos traba-lhistas estrangeiros, tentative Point-Four training Program for brazilian labor department Group 1, January 26-July 25, 1953. rG 84, arquivos rio de Janeiro, ds/Usna.55 alguns dos instrutores no Pennsylvania state college foram os professores Jose-ph raybeck, edward abramson, eugen a. myers, ronaldo donovan, Fred Hoehler Junior e a. H. reeds. ver relatrio de eugene a. myers ao comit Poltico, relatrio semanal n 3, 2 de maro de 1953, rG 84, arquivos rio de Janeiro, ds/Usna.56 roberto simonsen apud Weinstein, barbara. the industrialists, the state and the issues of worker training and social services in brazil. Hispanic American Histo-rical Review, 70, n 3, 1990, p. 379-404; ver tambm Gomes, a., op. cit.57 de romualdi a George meany, background information on brazilian president-elect Kubitschek, 4 de janeiro de 1956, romualdi Papers, caixa 2, arquivo 5. ao usar o termo interveno no segundo ponto, romualdi se referiu capacidade do ministrio do trabalho de depor diretorias eleitas dos sindicatos, de designar inter-ventores e de organizar novas eleies.58 em 1953 e 1956, o estudioso acadmico do trabalho robert J. alexander viajou em misses exploratrias para a amrica latina a servio da aFl. em ambas as oca-sies fez observaes a respeito do controle do governo sobre o movimento sindical

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    no brasil. ele tambm destacou que a autonomia poderia beneficiar inicialmente os comunistas, mas concluiu que no havia alternativa seno continuar a incentivar a converso dos remanescentes do sistema corporativo fascista ao sindicalismo real. ver o relatrio de alexander, report from robert alexander, Uruguai, 13 de maio de 1956, romualdi Papers, caixa 2, arquivo 6.59 de salert a romualdi, 16 de Janeiro de 1953, rG 84, arquivos rio de Janeiro, ds/Usna.60 sKidmore, thomas. Politics in Brazil (1930-1964): An Experiment in Democracy. new York: oxford University Press, 1967.61 de Wallach a salert, 28 de janeiro de 1953, p. 2, rG 84, arquivos rio de Janeiro 560, ds/Usna.62 de salert a Wallach, 18 de agosto de 1953, rG 84, arquivos trabalhistas rio de Janeiro 310, ambos em ds/Usna.63 despacho de salert ao departamento de estado, despacho n 573, 28 de outubro de 1955, rG 84, arquivos rio de Janeiro 560, ds/Usna.64 do adido William c. trimble, do servio de informao dos estados Unidos, ao embaixador, Usis operations, 28 de setembro de 1954, rG 84, arquivos brasil-estados Unidos 320, ds/Usna.65 despacho de salert ao departamento do estado, labor Participation Project to Fiscal Year 1957, 5 de setembro de 1956, despacho n 270, rG 59, dF 832.062/9-556, ds/Usna. neste mesmo despacho, salert afirmou que aproximadamente mil agentes comunistas bem treinados estavam atuando dentro dos sindicatos brasi-leiros. a proposta dele para a construo de uma liderana sindical estenderia o programa por dez anos.66 despacho de salert ao departamento de estado, despacho n 939, 20 de fevereiro de 1957, rG 59, dF 832.062/2-2057, ds/Usna.67 despacho do cnsul geral em so Paulo, richard P. butrick, ao departamento de es-tado, despacho n 163, 10 de outubro de 1958, rG 59, dF 832.062/10-1058, ds/Usna.68 esta organizao foi criada com o nome do secretrio de Justia e segurana P-blica do estado de so Paulo que convencera industriais a negociar um acordo com os trabalhadores durante a greve geral de 1917, ao invs de simplesmente reprimir o movimento.69 vrios relatrios, incluindo os despachos de butrick ao departamento de estado, despacho n 62, 13 de agosto de 1958, rG 59, dF 832.062/8-1358 e o do cnsul ralph J. burton ao departamento de estado, despacho n 341, 20 de janeiro de 1959, dF 8322.062/1-2059, ambos em ds/Usna.70 despacho de Philip raine, cnsul dos estados Unidos em so Paulo, ao departa-mento de estado, labor organization of the light and Power company. despacho n 54, 5 de outubro de 1956, dF 832.062/10-556, ds/Usna.

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    71 despachos de salert ao departamento de estado, First Quarterly labor report, despacho n 1117, 5 de abril de 1957, e de salert ao departamento de estado, se-cond Quaterly labor 1957, despacho n 1424, 28 de junho de 1957, ambos em rG, dF 832.06, ds/Usna.72 ver de romualdi a salert, 26 de junho de 1956, romualdi Papers, caixa 2, arquivo 5, e despacho de butrick ao departamento de estado, ceremony of Presentation of certificates to Point iv labor trainees, despacho n 76, 29 de outubro de 1956, rG 59, dF 832.062, ds/Usna.73 despacho de butrick ao departamento de estado, despacho n 187, 1 de maro de 1957, rG 59, dF 832.062, ds/Usna.74 de James F. shea ao departamento de estado, memorandum of conversation with antonio Fernandes lima, despacho n 1025, 9 de maro de 1959, rG 59, rio de Janeiro, dF 832.062/3-959, ds/Usna.75 aerograma de Wallner ao secretrio de estado, aerograma n 1049, rG 59, dF 832.062, ds/Usna.76 ver o despacho do consultor do departamento de estado nas questes trabalhistas americanas, benjamin s. stephansky, embaixada do rio de Janeiro, despacho n 1025, 17 de maro de 1959; despacho de Genebra ao secretrio de estado, despacho n 1189, 24 de maro de 1959; telegramas de stephansky embaixada do rio de Janeiro, telegrama n 870, 9 de abril de 1959, e de Herter embaixada, telegrama, 10 de abril de 1959. todos os documentos esto em rG 59, dF 832.062, ds/Usna.77 despacho de shea ao departamento de estado, communist setback in metalworkers elections, despacho n 198, 7 de dezembro de 1959, rG 59, dF 832.062, ds/Usna. os participantes do Programa Ponto iv eram argeu egdio dos santos, presidente do sindicato de ribeiro Preto, e Jaime cunha caldeira, presidente do sindicato de Pira-cicaba. ambos foram eleitos para o novo quadro executivo da federao.78 despacho de sh