INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica...

131
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO COPPEAD MESTRADO INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO MERCOSUL : ESTUDO DE CASO LUIZ ANTÔNIO PINTO ORIENTADORA : PROFa. ANGELA DA ROCHA RIO DE JANEIRO 1998

Transcript of INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica...

Page 1: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃOCOPPEAD

MESTRADO

INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NOMERCOSUL : ESTUDO DE CASO

LUIZ ANTÔNIO PINTO

ORIENTADORA : PROFa. ANGELA DA ROCHA

RIO DE JANEIRO

1998

Page 2: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina
Page 3: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

iii

Pinto, Luiz Antônio.

Internacionalização de empresas brasileiras no

Mercosul: Estudo de caso/Luiz Antônio Pinto. Rio de

Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1998.

xiii, 118p. il.

Dissertação – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPEAD, 1998.

1.Internacionalização. 2.Empresas. 3.Mercado

Comum do Sul – Mercosul. 4.Estudo de Casos. I.Título.

II.Tese (Mestr. – UFRJ/COPPEAD).

Page 4: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina
Page 5: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina
Page 6: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

vi

RESUMO

PINTO, Luiz Antônio. Internacionalização de Empresas Brasileiras no Mercosul :

Estudo de Caso.

Orientadora : Profa. Angela da Rocha.

Rio de Janeiro : UFRJ / COPPEAD, 1998. Dissertação.

Este trabalho procura investigar o processo de internacionalização de empresas

brasileiras, especialmente no âmbito do Mercosul, enfocando os fatores de ordem

comportamental e econômica que podem influenciar a sua tomada de decisão de

internacionalização e a definição do modo de entrada em um determinado

mercado estrangeiro.

Uma análise de um caso de empresa brasileira do setor de serviços – a Amil

(Assistência Médica Internacional Ltda.) – que decidiu internacionalizar-se no

Mercosul é feita à luz de referenciais teóricos de natureza comportamental – o

Modelo do Processo de Internacionalização (também conhecido como Modelo de

Uppsala) e os modelos seqüenciais (ou relacionados à inovação) – e de natureza

microeconômica – o Paradigma Eclético e a Análise de Custos de Transação.

Page 7: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

vii

ABSTRACT

PINTO, Luiz Antônio. Internacionalização de Empresas Brasileiras no Mercosul :

Estudo de Caso.

Orientadora : Profa. Angela da Rocha.

Rio de Janeiro : UFRJ / COPPEAD, 1998. Dissertação.

This study aims at investigating the internationalization process of Brazilian

companies, specially in Mercosul, focusing on the behavioral and economic factors

which may influence their internationalization decision making and entry mode

definition in a specific foreign market.

An analysis of a case of a Brazilian service company – Amil (Assistência Médica

Internacional Ltda.) – that decided to internationalize its operations in Mercosul is

made in the light of behavioral theoretical models – like Internationalization

Process Model (also known as Uppsala Internationalization Model) and sequencial

models (also known as inovation related models) – and microeconomic models –

like the Eclectic Paradigm and the Transaction Cost Analysis.

Page 8: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

viii

LISTA DE QUADROS

Quadro Título Página

I.1 Fatores da Globalização ......................................................... 3

I.2 Características das Empresas Internacionais ......................... 6

I.3 Dados do Mercosul ................................................................. 12

I.4 PIB do Mercosul por Setores .................................................. 13

I.5 Empresas Brasileiras Instaladas na Argentina, e Vice-Versa,no Período de Julho de 1991 a Junho de 1997 ...................... 19

II.1 Quatro Modelos Relacionados à Inovação ............................. 27

II.2 Determinantes dos Estágios de Internacionalização, segundoCavusgil (1980) ....................................................................... 28

II.3 Tipos de comportamento pré-exportador ................................ 31

II.4 Modos de entrada classificados em ordem decrescente degrau de controle ...................................................................... 41

II.5 Fatores que influenciam a decisão da empresa entrante nomercado estrangeiro quanto à integração vertical .................. 46

II.6 Modos básicos de presença física de empresas brasileiras emmercados estrangeiros ............................................................ 52

III.1 Condições para Escolha de Estratégia de Pesquisa .............. 56

IV.1 Números do Sistema Médico Particular no Brasil ................... 67

Page 9: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura Título Página

I.1 Etapas de Integração Regional ............................................... 9

I.2 Efeitos da criação de bloco regional sobre as empresas ........ 9

II.1 Modelo do Processo de Internacionalização de Uppsala

(adaptado de Johanson e Vahlne, 1990) ................................ 23

LISTA DE ANEXOS

Anexo Título PáginaI Resultados de Bilkey e Tesar (1977) 115

II Roteiro Básico de Entrevista 116

III Principais Empresas do Grupo Amil (em 1998) 118

Page 10: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

x

SUMÁRIO

PáginaCAPÍTULO I INTRODUÇÃO .............................................................. 1

1.1. Objetivo do estudo ........................................................ 1

1.2. Importância do estudo .................................................. 1

1.3. Globalização e Internacionalização de Empresas ........ 2

1.4. Tipos de Empresa Internacional ................................... 5

1.5. Internacionalização de Empresas de Serviços ............. 7

1.6. Regionalização e Mercosul ........................................... 8

1.7 Internacionalização de empresas brasileiras noMercosul ....................................................................... 17

1.8 Organização do Estudo ................................................ 20

CAPÍTULO II REVISÃO DA LITERATURA ......................................... 22

2.1. O Modelo do Processo de internacionalização (Modelode Uppsala) ................................................................... 23

2.2. Os Modelos Relacionados à Inovação .......................... 25

2.3. A Atividade Pré-Exportação .......................................... 29

2.4. Críticas à Teoria de Estágios do Processo deInternacionalização ....................................................... 33

2.5. “Born Global Firms” ...................................................... 35

2.6. O Paradigma Eclético ................................................... 36

2.6.1. Vantagens Específicas de Propriedade ..................... 37

2.6.2. Vantagens de Internalização ...................................... 37

2.6.3. Vantagens de Localização ......................................... 38

2.7. Comparação entre o Paradigma Eclético e o Modelo doProcesso de Internacionalização .................................. 39

2.8. A Análise de Custos de Transação ............................... 40

2.8.1. Especificidade dos ativos ........................................... 42

2.8.2. Incerteza do ambiente ................................................ 42

2.8.3. Outros fatores de influência sobre o grau de controle 43

2.9. Internacionalização de Empresas de Serviços ............. 45

Page 11: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

xi

2.10. Estudos Anteriores Sobre Internacionalização deEmpresas Brasileiras .................................................... 48

2.10.1. Leite, Rocha e Figueiredo (1988) .............................. 48

2.10.2. Grael e Rocha (1988) ................................................ 50

2.10.3. Brasil et alli (1996) ..................................................... 52

CAPÍTULO III METODOLOGIA DO ESTUDO ..................................... 55

3.1. Problema e Perguntas de Pesquisa ............................. 55

3.2. Método de Pesquisa ..................................................... 56

3.2.1. Condições para Escolha do Método .......................... 56

3.2.2. O Método do Estudo de Caso ................................... 58

3.2.2.a. Definição do Método ............................................. 58

3.2.2.b. Classificação do Método ....................................... 58

3.2.2.c. Críticas ao Método ................................................ 59

3.3. Escolha do Caso ........................................................... 60

3.4. Fontes de Informação e Coleta de Dados .................... 61

3.5. Análise dos Dados ........................................................ 62

3.6. Limitações do Estudo .................................................... 63

3.6.1. Limitações do Método ................................................ 63

3.6.2. Dificuldade de Acesso aos Dados ............................. 63

3.6.3. Percepções dos entrevistados .................................. 63

CAPÍTULO IV ESTUDO DE CASO ...................................................... 64

4.1. Descrição do caso Amil ................................................ 64

4.1.1. O sistema de saúde pública no Brasil ....................... 64

4.1.2. A criação da Amil ....................................................... 67

4.1.3. A estratégia para o crescimento ................................ 69

4.1.3.a. Novos produtos ..................................................... 69

4.1.3.b. A comunicação com os clientes ............................ 70

4.1.4. A capacitação profissional ......................................... 71

4.1.5. A diversificação dos negócios ................................... 72

4.1.6. A internacionalização da Amil ................................... 73

4.1.6.a. A ida para os Estados Unidos ............................... 74

Page 12: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

xii

4.1.6.b. A ida para a Argentina ........................................... 75

4.1.7. A EAT na Argentina ................................................... 76

4.1.8. A Amil na Argentina ................................................... 76

4.1.9. O sistema de saúde pública argentino ...................... 77

4.1.10. O consumidor argentino ............................................ 78

4.1.11. A contratação de pessoal .......................................... 78

4.1.12. A estratégia de comunicação da Amil na Argentina .. 79

4.1.12.a. 1o canal : relacionamento com os médicos ........... 80

4.1.12.b. 2o canal : relacionamento com o sistema de saúdepública .................................................. 80

4.1.12.c. 3o canal : relacionamento com os meios decomunicação ........................................ 81

4.1.12.d. 4o canal : relacionamento com os meiosdiplomáticos ......................................... 82

4.1.12.e. 5o canal : relacionamento com os meiosempresariais ......................................... 82

4.1.12.f. 6o canal : relacionamento com os colaboradores .. 83

4.1.12.g. 7o canal : relacionamento com o meio acadêmico 83

4.1.12.h. 8o canal : os brokers .............................................. 84

4.1.13. A imagem da Amil na Argentina ................................ 84

4.1.14 A inovação em produtos e serviços ........................... 85

4.1.15. Acordos / associações com empresas locais ............ 87

4.1.16. O relacionamento entre Amil Argentina e Amil Brasil 88

4.1.17. A evolução da Amil Argentina .................................... 89

4.1.18. Barreiras, riscos e oportunidades da Amil naArgentina ................................................................... 90

4.1.19. Os planos para o futuro ............................................. 91

4.1.20 Recomendações para os entrantes no mercadoargentino .................................................................... 92

4.2 Análise do caso Amil ..................................................... 93

4.2.1. Pergunta 1 :Que fatores econômicos e comportamentaisinfluenciaram a tomada de decisão deinternacionalização da empresa ? ............................. 93

4.2.1.1. Características do tomador de decisão ................. 93

Page 13: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

xiii

4.2.1.2. Estímulos percebidos à internacionalização daempresa ................................................................

94

4.2.1.3. Barreiras percebidas à internacionalização ........... 96

4.2.2. Pergunta 2 :Qual o modo de entrada escolhido para o mercadoestrangeiro ? .............................................................. 98

4.2.2.1. Análise de Custos de Transação ........................... 98

4.2.2.1.a. Especificidade de ativos .................................... 99

4.2.2.1.b. Incerteza ........................................................... 99

4.2.2.1.c. Inovação e diferenciação ................................... 100

4.2.2.1.d. Inseparabilidade ................................................ 100

4.2.2.1.e. Alto valor da marca ........................................... 100

4.2.2.2. Paradigma Eclético ............................................... 101

4.2.2.a. Vantagens Específicas de Propriedade ............ 101

4.2.2.b. Vantagens de Internalização ............................. 102

4.2.2.c. Vantagens de Localização ................................ 102

CAPÍTULO V CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES DEPESQUISAS FUTURAS ............................................... 103

5.1. Sumário ......................................................................... 103

5.2. Conclusões ................................................................... 105

5.3. Limitações do Estudo ................................................... 106

5.4. Sugestões de Pesquisas Futuras ................................. 103

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 109

ANEXO I Resultados de Bilkey e Tesar (1977) ............................ 115

ANEXO II Roteiro Básico de Entrevista ......................................... 116

ANEXO III Principais Empresas do Grupo Amil (em 1998) ............ 118

Page 14: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1. Objetivo do estudo

Este estudo busca examinar os aspectos relacionados à tomada de decisão de

internacionalização por parte de empresas brasileiras, em especial no âmbito do

Mercosul. Dentre esses aspectos, destacam-se os fatores, de natureza

comportamental e econômica, que servem como estímulos e barreiras ao

processo de internacionalização e que influenciam a escolha do modo de entrada

em mercados estrangeiros.

1.2. Importância do estudo

Ao longo das três últimas décadas, o processo de internacionalização de

empresas tem sido objeto de pesquisa substancial na área de Marketing

Internacional, o que reflete a sua relevância como causa e conseqüência,

simultaneamente, do contexto corrente de globalização de mercados.

Este estudo - que integra a linha de pesquisa sobre Estratégia de

Internacionalização de Empresas Brasileiras, ligada ao Núcleo de Excelência de

Internacionalização de Empresas do COPPEAD/UFRJ - justifica-se pela

importância de se resgatarem as experiências de internacionalização de

empresas brasileiras, especialmente no Mercosul, e da análise dos determinantes

desse processo.

O destaque dado ao Mercosul neste trabalho deve-se à importância estratégica

desse bloco regional, principalmente em função da sua expressividade econômica

e das possibilidades que ele abre em termos de intercâmbio comercial e de

inserção competitiva das empresas brasileiras no cenário internacional.

Page 15: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

2

1.3. Globalização e Internacionalização de Empresas

A idéia de globalização está associada a uma série de fenômenos econômicos e

sociais observados neste final de século, como a explosão das telecomunicações,

o dinamismo do mercado financeiro internacional, o crescimento das empresas

multinacionais e a consciência internacional sobre questões ligadas aos direitos

humanos e à preservação do meio-ambiente.

Embora venha sendo exaustivamente empregado nos últimos anos dentro e fora

dos meios acadêmicos, o conceito de globalização é antigo, e tem estado

presente ao longo da história em momentos como a expansão de antigos

impérios, a difusão de idéias religiosas e a exploração comercial de mares e

oceanos. Já no século passado, ao debater o aumento de poder da classe

capitalista devido à expansão dos mercados mundiais, Karl Marx antecipava o

que hoje se entende por globalização:

“... as indústrias nacionais são desalojadas por novas indústrias... que não

mais empregam matérias primas nativas, mas extraídas das zonas mais

remotas; indústrias cujos produtos são consumidos não mais no mercado

doméstico, mas em qualquer parte do globo. No lugar de antigos desejos,

satisfeitos pela produção do país, encontramos novos desejos, que

requerem para sua satisfação produtos de terras e climas distantes. Em

lugar da antiga exclusão e auto-suficiência local e nacional, temos o

intercurso em todas as direções, a interdependência universal das nações. E

assim como no plano material, acontece na produção intelectual. A criação

intelectual torna-se propriedade comum... as diferenças nacionais e

antagonismos entre os povos estão a cada dia desaparecendo mais e mais,

devido ao desenvolvimento da burguesia, à liberdade do comércio, ao

mercado mundial, à uniformidade do modo de produção e das condições de

vida correspondentes a todos eles” (Marx, 1977, p.222-236)1.

1 Essa citação aparece originalmente no Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848 porMarx e Engels. O ano indicado de 1977 refere-se, na realidade, a uma coletânea de textos deMarx, que se encontra especificada nas Referências Bibliográficas ao final deste trabalho.

Page 16: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

3

O Quadro I.1, a seguir, mostra quatro fatores - Mercado, Economia, Governos e

Empresas - que, segundo Canals (1994), agiriam simultaneamente como forças

motrizes e “freios” ao processo corrente de globalização.

Quadro I.1 : Fatores da Globalização(adaptado de Canals, 1994)

Fator como Força Motriz como Freio

Mercado

• convergência dasnecessidades deconsumidores “internacionais”

• maior eficiência dos canais dedistribuição

• diferenças nacionais (culturais)• diferenças de estrutura de

mercado• diferenças dos canais de

distribuição

Economia

• economias de escala• novas tecnologias• transportes e infra-estrutura• universalização dos mercados

financeiros• interdependência entre os

países

• economias de escala pequenas• flexibilidade dos sistemas de

produção

Governos

• blocos regionais de comércio• coordenação internacional de

políticas econômicas• supressão de barreiras

tarifárias

• política cambial• protecionismo• incentivos a empresas

nacionais

Empresas• estratégias de

internacionalização• penetração em outros

mercados.

• escassez de executivos comorientação global

• processos e organização

Segundo Waters (1995), os meios pelos quais os relacionamentos globais têm

sido construídos são: o comércio internacional, a produção e os investimentos em

outros países, os mercados financeiros, a cooperação econômica internacional, a

migração da força de trabalho e a disseminação (“ecumenismo”) de práticas

organizacionais. Estes meios - articulados com o desenvolvimento de novas

tecnologias nas áreas de produção, comunicações e transportes, e com as novas

condições de mercado proporcionadas pelo maior grau de liberalização,

Page 17: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

4

integração e competição na economia mundial - têm despertado em empresas

dos mais diversos setores e países de origem o interesse em ampliarem suas

atividades de um âmbito doméstico (em termos, por exemplo, de marketing e

operações) para um âmbito global. Para manterem-se competitivas, as empresas

precisam, mais do que nunca, estar próximas de seus clientes em qualquer parte

do mundo, reforçando o antigo princípio de "o produto certo, no momento certo,

no lugar certo" e, cada vez mais, ao preço certo.

O termo "internacionalização de empresas" tem sido genericamente usado para

evocar, de modo um tanto incompleto, esse movimento de empresas em direção

a mercados estrangeiros. Reconhecendo a importância do movimento contrário,

isto é, da ação do mercado externo sobre a empresa, manifestada, por exemplo,

nas transferências de tecnologia e na prática de “countertrade", Welch e

Luostarinen (1988, p.36) definem internacionalização como "o processo de

envolvimento crescente com as operações internacionais".

Este “envolvimento” impõe desafios às empresas em relação aos riscos

econômicos, financeiros e políticos assumidos no ingresso em mercados

geográfica, estrutural e culturalmente distintos, e também, e principalmente,

quanto à capacidade de serem competitivas num ambiente de maior rivalidade e

concorrência mais acirrada em preço e qualidade de seus bens e serviços.

Rivalidade e concorrência essas verificadas não somente no mercado externo,

mas ainda primeiramente no mercado doméstico dessas empresas,

reciprocamente acessado por empresas estrangeiras que muitas vezes

apresentam uma série de vantagens em custos, qualidade e recursos para

investir em pesquisa de mercado, produção e redes de distribuição. Assim, pode-

se afirmar que a competitividade em nível doméstico é um pressuposto básico do

processo de internacionalização de uma empresa.

A globalização de mercados apresenta, na visão de Canals (1994), um conjunto

de oportunidades e desafios às empresas. A maior convergência de gostos e

necessidades dos consumidores em diferentes países, a contínua queda de

barreiras comerciais, as maiores facilidades de comunicação e os menores custos

de transporte aumentam rapidamente as possibilidades de expansão e

diversificação de mercados para empresas de variados setores.

Page 18: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

5

1.4. Tipos de Empresa Internacional

A abordagem econômica do processo de globalização privilegia o estudo da

existência e da forma das empresas internacionais e suas variações. Canals

(1994), valendo-se de alguns conceitos de Levitt (1983) e Porter (1986), distingue

quatro grandes tipos de empresa internacional, de acordo com suas atividades no

mercado estrangeiro. O primeiro tipo é a empresa exportadora, estágio

inicialmente experimentado pela maioria das empresas que se internacionalizam,

especialmente as de manufatura. Esta empresa caracteriza-se pela exportação

desde o seu país de origem (onde se concentram suas atividades) em direção

aos mercados estrangeiros.

O segundo tipo é a empresa multinacional, que explora internamente uma

vantagem competitiva, diversificando suas atividades em diferentes países. Este

tipo de empresa, correspondente tanto a empresas de manufatura como de

serviços, costuma buscar a adaptação local de seus produtos e a

descentralização de suas operações (compras, produção etc.), tentando, contudo,

reproduzir em cada país o mais fielmente possível a estrutura de sua matriz.

As mudanças no cenário econômico e social nas décadas de 70 e 80 - derivadas

principalmente dos avanços tecnológicos em comunicações e transportes, da

obtenção de importantes economias de escala em diversos processos produtivos

e de uma idéia até certo ponto generalizada de homogeneização das

necessidades dos consumidores em qualquer lugar do mundo - favoreceram o

surgimento de um terceiro tipo de empresa, a empresa global. Esta empresa

caracteriza-se pelo grande peso de suas operações no estrangeiro, sem no

entanto deixar de concentrar suas atividades críticas no país de origem, ou em

poucos países. A empresa global busca a padronização máxima de seus

produtos, fabricando-os e vendendo-os da mesma forma em todos lugares.

A partir da formação dos blocos regionais nos anos 80, as empresas se

depararam com um novo desafio: concentrar suas atividades críticas e, ao mesmo

tempo, ter a capacidade de adaptar-se a cada mercado local, mantendo a

eficiência econômica. Este novo tipo de empresa foi denominado por Bartlett e

Ghoshal (1989) empresa transnacional.

Page 19: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

6

O Quadro I.2 resume as características desses quatro tipos de empresa

internacional, com relação a três dimensões básicas: a concentração de

atividades, o grau de adaptação às necessidades locais e a difusão da

aprendizagem de experiências e inovações (ou seja, do conhecimento adquirido)

pelas unidades em diferentes países.

Quadro I.2 : Características das empresas internacionais (adaptado de Canals, 1994, p.110)

Dimensão

Empresa

Concentração deatividades

Adaptação local Transmissão deconhecimento

Exportadora• Atividades críticas

centralizadas• Distribuição

descentralizada

• Reprodução dascompetências damatriz

• Desenvolvimentode conhecimentona matriz etransferência aosoutros países

Multinacional

• Descentralização• Unidades

nacionaisindependentes

• Grandesensibilidade aoportunidadeslocais

• Desenvolvimentoe exploração localde conhecimento

Global• Centralização• Busca de escala

global

• Implantação deestratégiascorporativas damatriz

• Desenvolvimentoe exploração deconhecimento apartir da matriz

Transnacional

• Dispersão• Interdependência• Especialização de

tarefas

• Contribuiçõesdiferenciais dasunidadesnacionais para asoperações globais

• Desenvolvimentode conhecimentoem conjunto pelasunidadesnacionais eexploração global

Gilpin (1987) considera ultrapassado o conceito das antigas multinacionais, para

as quais “... o investimento direto no estrangeiro significava a propriedade e

controle de subsidiárias próprias” (p.256), e preconiza novos tipos de arranjos

organizacionais, como o licenciamento de tecnologia entre empresas de

diferentes nacionalidades, as joint ventures e a produção de componentes no

estrangeiro para posterior montagem local, entre outros. O autor ressalta ainda

Page 20: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

7

que as grandes corporações internacionais vêm encarando os países em

desenvolvimento não mais como simples exportadores de matérias-primas, mas

como “mercados locais em expansão e parceiros industriais, ou mesmo rivais em

potencial” (p.256).

1.5. Internacionalização de Empresas de Serviços

Um dos aspectos mais marcantes do fenômeno da globalização é a quantidade

cada vez maior de empresas de serviços que têm se internacionalizado, ou seja,

que têm procurado oferecer seus serviços em países estrangeiros, seja de modo

independente ou em associação com empresas locais. O destaque que o setor de

serviços vem ganhando no comércio internacional nos últimos anos tem levado

um número cada vez maior de pesquisadores a investigar a internacionalização

de empresas de serviços e como este processo se distingue daquele que ocorre

com o setor de manufatura.

Os serviços eram considerados, até há relativamente pouco tempo, atividades

com poucas possibilidades de exportação ou negociação à distância, em função

da idéia de que precisavam, em geral, ser produzidos e consumidos

simultaneamente, isto é, que exigiam alto grau de interação entre prestador e

cliente. O rápido avanço da tecnologia de informação, atuando em conjunto com a

redução dos custos de comunicação e transportes, tem, contudo, modificado essa

idéia e impulsionado a chamada “revolução dos serviços”. Braga (1996) destaca

as duas idéias-chave desta “revolução”: a rápida expansão dos serviços

intensivos em conhecimento (“knowledge-based services”) - como seguros,

educação e assistência médica - e a crescente possibilidade de prestação de

serviços a distância, graças ao desenvolvimento, por exemplo, de redes

eletrônicas de comunicação a distância de baixo custo, como a Internet.

Segundo Braga (1996), o investimento direto no estrangeiro tem sido o modo

preferido de presença internacional de várias empresas de serviços, muitas vezes

em função das estratégias de seus clientes. A presença de prestadores de

serviços eficientes no estrangeiro é um pressuposto da estratégia de grandes

exportadores, que dependem cada vez mais da redução dos ciclos de produção,

Page 21: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

8

de pronta entrega e de serviços de pós-venda, o que tem tornado o investimento

direto de empresas de serviços ligadas a infra-estrutura (como comunicações e

transportes) cada vez mais atraente. Finalmente, o autor afirma que

“o número crescente e a diversidade de serviços intensivos em informação, a

viabilidade técnica de novos serviços a longa distância e o dinamismo dos

investimentos diretos no exterior e da demanda global por softwares sugerem

que o mercado para serviços de longa distância continuará a crescer” (p.36).

1.6. Regionalização e Mercosul

Os anos 90 têm sido marcados pela formação ou consolidação de blocos

regionais (como a União Européia, o Nafta e o Mercosul, entre outros), cujos

objetivos principais são explorar a complementaridade das economias dos seus

países-membros e substituir suas negociações diretas com terceiros países por

negociações entre blocos, procurando assim fortalecer a posição e aumentar a

competitividade e a participação de todos esses países-membros no comércio

internacional. As etapas genéricas de desenvolvimento da integração regional

estão indicadas na Figura I.1

Canals (1994) aborda os efeitos que a formação de um bloco regional pode ter

sobre as empresas de seus países-membros. Com a eliminação das barreiras

comerciais, há uma redução de custos e de preços, que favorece o aumento da

demanda, que por sua vez leva ao aumento da produção e conseqüentemente à

obtenção de economias de escala, as quais reforçam esse mecanismo,

esquematicamente representado na Figura I.2. Outro importante efeito derivado

da formação do bloco regional é a necessidade de reestruturação das empresas,

como resposta ao aumento do mercado e da própria concorrência.

Page 22: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

9

Figura I.1 : Etapas de Integração Regional

Progressão

Supressão

de barreiras

tarifárias e

Controle de

fronteiras

Tarifa

externa

comum para

terceiros

países

Livre

circulação de

fatores de

produção

Harmonização

de políticas

econômicas

Unificação

política e

institucional

Zona de Livre

Comércio x

União

Aduaneira x x

Mercado

Comum x x x

União

Econômica x x x x

União

Política x x x x x

Fonte : Simonsen Associados (1998, p.14)

Figura I.2: Efeitos da criação de bloco regional sobre as empresas(adaptado de Canals, 1994)

Eliminaçãode

barreiras

Reduçãode

custos

Reduçãode

preços

Aumentoda

demanda

Economiasde

escala

Aumentoda

produção

Page 23: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

10

O impulso de integração dos países do Cone Sul do continente americano

acompanha uma tendência mundial de abertura econômica, ao eliminar barreiras

nacionais e protecionistas e buscar ajustes estruturais que permitam o ingresso

harmonioso dos países da região na comunidade internacional. Nas últimas

décadas, uma série de acordos - como a Associação Latino-Americana de Livre

Comércio (ALALC), criada em 1960, e a Associação Latino-Americana de

Integração (ALADI), criada em 1980 - tentaram promover uma maior integração

política e econômica e um maior incentivo ao comércio intra-regional na América

Latina. Contudo, fatores diversos, como a dificuldade em cumprirem-se os prazos

estabelecidos, a insistência na manutenção de barreiras protecionistas e o

isolamento político, econômico e cultural mútuo fomentado pelos regimes

autoritários vigentes por vários anos em quase toda a região, levaram a maior

parte dessas iniciativas a um relativo insucesso.

Os primeiros passos para uma integração mais efetiva dos países do Cone Sul,

concomitantes com o processo de redemocratização da região, foram

formalizados com a assinatura, em julho de 1986, em Buenos Aires, do Programa

de Integração e Cooperação Econômica (PICE) entre Argentina e Brasil, num total

de vinte e quatro protocolos e uma série de anexos que abrangiam matérias como

bens de capital, comércio, cooperação industrial, cultural e tecnológica,

comunicações, transportes, administração pública, planejamento econômico e

social etc. Algum tempo depois, em novembro de 1988, foi assinado pelos dois

países o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, que previa a

criação de um mercado comum, com a remoção de todos os obstáculos tarifários

e não-tarifários ao comércio de bens e serviços, em um prazo máximo de dez

anos. Este prazo viria a ser encurtado quando, em 1991, decidiu-se antecipar

para 31 de dezembro de 1994 o estabelecimento do mercado comum bilateral.

O impacto do processo de integração bilateral entre as duas maiores economias

do continente sul-americano foi tão grande que despertou o interesse de Paraguai

e Uruguai, receosos de um isolamento geográfico, econômico e comercial, em

unirem-se a esse novo contexto de regionalização. Assim, em 26 de março de

1991, foi assinado o Tratado de Assunção, pelo qual Argentina, Brasil, Paraguai e

Uruguai criavam oficialmente o Mercado Comum do Sul - o Mercosul. Em 1996,

Page 24: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

11

Bolívia e Chile viriam a se unir ao bloco, na condição de sócios.

Na forma de mercado comum, o Mercosul prevê a eliminação de barreiras

alfandegárias (tarifárias e não-tarifárias) entre seus países-membros, a adoção de

tarifas externas comuns em relação a terceiros países e blocos e a livre circulação

de fatores de produção (trabalho e capital). Na realidade, contudo, as diferenças

nas estruturas produtivas e nas práticas comerciais dos quatro países-membros

levaram à necessidade de estabelecimento de uma lista de exceções ao livre

comércio e de um período de transição mais dilatado para a adoção da tarifa

externa comum para alguns setores2. Outro obstáculo a ser vencido é a

burocracia que dificulta a movimentação de pessoas entre os países, em razão,

por exemplo, da exigência de vistos de trabalho praticamente nos mesmos

moldes do que ocorria antes da criação do Mercosul. Finalmente, permanece

ainda a necessidade de aperfeiçoamento e harmonização das legislações

nacionais (por exemplo, trabalhistas, fiscais e de marcas e patentes) e das regras

para investimento estrangeiro nos países-membros, para que o Mercosul possa

funcionar efetivamente como um mercado comum3.

Entre os principais resultados do Mercosul – como o aproveitamento mais eficaz

dos recursos produtivos, a aceleração do desenvolvimento tecnológico e uma

maior coordenação das políticas macroeconômicas dos seus países-membros –

destaca-se a consolidação de um grande mercado, cujos números podem ser

vistos nos Quadros I.3 e I.4. De fato, o comércio intra-Mercosul cresceu cerca de

400% entre 1990 e 1997, passando de US$ 4,1 bilhões para US$ 20,2 bilhões; no

que se refere apenas ao comércio entre Brasil e Argentina, o crescimento foi

ainda mais expressivo, com um salto de US$ 2,1 bilhões para cerca de US$ 15

bilhões no mesmo período4.

2 Atualmente, a zona de livre comércio entre os quatro países atinge cerca de 85% dos produtos, ecada país tem sua lista de exceções. O setor automobilístico deverá ter um regime aduaneirocomum no ano 2000, enquanto os bens de capital terão uma tarifa comum de 14% no ano 2001 eos bens de informática de 16% no ano 2006.3 Ver matéria sobre esse assunto na Revista Veja, de 25/02/98, p.64-67.4 Gazeta Mercantil Latino-Americana, ano 3, n.104, 13 a 19/04/98, p.9-10

Page 25: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

12

Quadro I.3 : Dados do Mercosul

País Argentina Brasil Paraguai Uruguai Mercosul

Superfície (km2) 2.780.092 8.511.965 406.752 177.508 11.876.317

População em 1996(milhões de habs.)

35,2 161,4 5,0 3,2 204,8

Índices macroeconômicos (1996)

PIB (US$ bilhões) 294,7 748,9 9,7 18,2 1.071,5

Renda per capita(US$/hab) 8.372 4.640 1.940 5.688 5.232

Exportações de bens eserviços(US$ bilhões)

27,1 49,4 2,0 3,3 -

Importações de bens eserviços(US$ bilhões)

28,0 59,2 2,5 3,6 -

Estrutura da Economia (1996)Setor Primário (%) 6,0 14,0 23,7 8,9 -

Setor Secundário (%) 30,7 35,9 22,1 26,4 -

Setor Terciário (%) 63,3 50,0 54,2 64,7 -

Qualidade de Vida (1996)População urbana (%) 88,4 78,9 53,1 90,5 -

Analfabetismo (%>15 anos) 4 17 8 3 -

Expectativa de vida (anos) 73 67 71 74 -

Setor de SaúdeGastos com saúde (1995)

(% do PIB) 10,6 7,4 4,3 8,5 -

Hab./ médico (1994) 370 714 1.231 313 -

Hab./ leito hospitalar (1994) 217 333 762 222 -

Fonte : World Development Indicators CD-ROM, World Bank, 1998

Page 26: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

13

Quadro I.4 : PIB do Mercosul por setores

Setor % PIB

Indústria manufatureira 22

Serviços pessoais e sociais 18

Estabelecimentos financeiros e seguros 14

Agricultura, caça, silvicultura e pesca 11

Comércio (atacado e varejo) 10

Construção 10

Transporte e comunicações 7

Eletricidade, gás e água 5

Exploração mineral 3

Total 100

Fonte : Gazeta Mercantil Latino-Americana, ano 2, n.74, 08 a 14/09/97, p.14

A seguir, são descritas as principais características e perspectivas dos países-

membros do Mercosul.

ArgentinaNos anos 90, a Argentina vem conseguindo reverter um longo processo de

declínio econômico que a rebaixou, entre as décadas de 30 e 80, da sétima para

a septuagésima posição no mundo em termos de PIB, e que fez a renda per

capita do país cair pela metade e sua produção industrial regredir ao nível dos

anos 405.

5 Euromoney Supplement, p.1, February 1992.

Page 27: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

14

Em 1989, a Argentina se encontrava na iminência de um colapso fiscal e de uma

hiperinflação; o funcionalismo público estava tremendamente inchado, herança de

décadas de governos populistas; as empresas estatais se mostravam deficitárias

e a previdência social insolvente. Para combater esta situação crítica, o então

recém-empossado governo Menem implantou um programa abrangente de

reformas estruturais, cujo pilar principal foi o Plano de Conversibilidade, que

controlava com rigor a emissão de moeda e fixava a taxa de câmbio na base de

um peso para um dólar norte-americano. Os resultados desse programa não

tardaram a aparecer, com a estabilização monetária, a retomada do crescimento

econômico e a reabertura do país (após décadas de isolamento político e

protecionismo) ao comércio e aos investimentos internacionais, através da

desregulamentação de diferentes setores e da privatização de várias empresas

estatais.

Apesar dos importantes desafios ainda por enfrentar, como diminuir a alta taxa de

desemprego, combater o déficit público e completar a reforma dos sistemas fiscal

e previdenciário, a Argentina apresenta uma série de vantagens comparativas a

explorar num cenário de integração econômica e comercial com seus vizinhos.

Por exemplo, o país é praticamente auto-suficiente em alimentos e energia, suas

terras estão entre as mais produtivas do mundo e sua mão de obra é uma das

mais qualificadas dentre todos os países da América Latina.

Brasil

A implantação da indústria brasileira, entre as décadas de 1930 e 1970, deu-se

através do “modelo de substituição de importações”, caracterizado por um

ambiente de proteção ao mercado interno, e pela utilização de barreiras tarifárias

e não-tarifárias que, ao onerar as importações, serviam de estímulo à produção

local.

Nos anos 70, a economia brasileira cresceu a taxas que chegaram a 10% ao

ano6, impulsionada por vultosos empréstimos internacionais. O aumento do preço

internacional do petróleo, a elevação das taxas de juros internacionais e a

6 Período que ficou conhecido como o “milagre brasileiro”

Page 28: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

15

dificuldade de obterem-se novos empréstimos decretaram, contudo, o fim desse

período de crescimento, e levaram o país a um profundo isolamento em relação

ao cenário comercial internacional. Na tentativa de reverter essa situação, o

governo brasileiro criou na década de 80 programas de incentivo às exportações7,

que, no entanto, não alcançaram maior sucesso devido à manutenção das

barreiras às importações e às altas taxas de inflação, as quais desestimulavam os

investimentos em qualidade e produtividade da indústria.

A partir de 1990, com a redução das alíquotas de importação, a indústria

brasileira vem sendo obrigada a buscar competitividade para poder enfrentar de

fato a concorrência internacional. Outros fatores que ainda nesta década

mudaram a face da economia brasileira foram a retomada dos investimentos

internacionais, em boa parte sob a forma de investimento direto de empresas

multinacionais, e a estabilidade monetária mantida desde a implantação do Plano

Real, em 1994.

O Brasil, há pouco tempo uma das mais fechadas economias do mundo, tem hoje

pela frente as oportunidades oferecidas pela globalização de mercados para

retomar o seu crescimento econômico. Para tanto, é necessário que o país

desenvolva políticas macroeconômicas que criem condições favoráveis aos

investimentos estrangeiros e facilitem o acesso da produção nacional ao mercado

externo, especialmente nos setores em que existam vantagens comparativas para

as empresas brasileiras.

Paraguai

O Paraguai tem a menor e mais aberta economia dentre todos os países-

membros do Mercosul. Um modelo econômico que durante décadas promoveu a

triangulação de mercadorias provenientes de grandes centros industriais

contribuiu para o desenvolvimento de um forte setor comercial de varejo e

atacado, e também de turismo, especialmente na fronteira com a Argentina e o

Brasil. As exportações paraguaias concentram-se em poucos produtos oriundos

do setor primário, como a soja e o algodão, e carnes e couros, tendo como

7 Programas conhecidos pelo slogan “exportar é o que importa”.

Page 29: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

16

principal destino os próprios vizinhos do Mercosul, com destaque para o Brasil

(cerca de 50 % das exportações registradas). As importações, do mesmo modo,

têm sua origem concentrada nos países do Mercosul, sendo o Brasil o maior

fornecedor de produtos para o Paraguai.

Dentre os obstáculos históricos ao crescimento da economia paraguaia,

destacam-se a falta de proteção da indústria nacional frente aos produtos

importados; a obsolescência do parque industrial (ineficiente e freqüentemente

danoso ao meio-ambiente); o pequeno tamanho do mercado consumidor interno;

e os altos custos de transporte derivados da posição geográfica do país, sem

acesso a portos marítimos. Outros graves problemas do Paraguai têm sido a

precariedade de sua infra-estrutura e a falta de reciprocidade dos países vizinhos

com relação à abertura do mercado local.

Apesar desses problemas, o Paraguai tem apresentado, especialmente a partir do

estabelecimento do Mercosul, importantes vantagens e oportunidades de

negócios aos investidores nacionais e estrangeiros. Graças às usinas hidrelétricas

de Itaipú e Yacyretá, o país dispõe de energia abundante e barata, fator

fundamental para o desenvolvimento de indústrias e atividades eletrointensivas.

Uma série de vantagens tributárias têm sido oferecidas visando a importação de

bens de capital e a instalação de empresas voltadas para a produção de bens e

serviços. Por fim, a posição geográfica, tradicionalmente encarada como um

problema, permite a conexão entre Assunção e os principais centros do Mercosul

– Buenos Aires, Montevidéu, São Paulo, Rio de Janeiro e, em um futuro próximo,

Santiago – em tempos de vôo praticamente iguais.

Uruguai

Na primeira metade do século XX, o Uruguai viveu um período de grande

estabilidade, com uma economia fortemente baseada na exportação de produtos

agropecuários. Contudo, o fracasso do modelo de substituição de importações

implantado na década de cinqüenta e a dificuldade em aumentar a produção

agropecuária - em razão da pequena extensão territorial e da falta de

investimentos em tecnologia - acabaram por levar o país à estagnação econômica

nos anos oitenta.

Page 30: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

17

Nos últimos anos, contudo, o Uruguai tem-se empenhado em tornar-se uma porta

privilegiada de acesso ao Mercosul para os investidores estrangeiros, somando

novas vantagens competitivas às tradicionais estabilidade e segurança do país.

Neste sentido, o Uruguai vem tentando dinamizar cada vez mais sua economia,

através de investimentos em infra-estrutura - como o melhoramento e a ampliação

da rede viária, com destaque para a construção da Ponte Colônia-Buenos Aires -

e do desenvolvimento do mercado de capitais, num ambiente de estabilidade

jurídica e fiscal, com condições de igualdade e isenção tributária a

empreendedores nacionais e estrangeiros.

Por fim, a indústria uruguaia tem investido nos últimos anos na importação de

bens de capital, dentro de um processo de reconversão produtiva, especialmente

nos setores de alimentos, vestuário, calçados, tabaco, papéis, couros e peles.

1.7. Internacionalização de empresas brasileiras no Mercosul

O sucesso do Mercosul tem estimulado as atividades e os investimentos de

empresas “transnacionais” na região, o que tem acelerado ainda mais o processo

de integração e a chegada de novos investidores internacionais, inclusive em

razão de um efeito multiplicador de mobilização de fornecedores que trabalham

como global suppliers dessas empresas.

Segundo dados da ADEBIM (Associação de Empresas Brasileiras para a

Integração do Mercosul), só no período de julho de 1991 a junho de 1997,

trezentas e cinqüenta e nove empresas brasileiras estabeleceram negócios na

Argentina (de diversos modos, como investimento direto, joint ventures, franquias

etc.), enquanto duzentas e oitenta e três empresas argentinas fizeram o caminho

inverso 8.

8 Revista da Indústria, 17 de novembro de 1997, p.11

Page 31: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

18

O Quadro I.5 mostra um panorama dos investimentos de empresas brasileiras e

argentinas respectivamente na Argentina e no Brasil9.

De um modo geral, as empresas que têm firmado presença no país vizinho - em

especial Brasil e Argentina, donos de parques produtivos e mercados

consumidores mais expressivos do que Paraguai e Uruguai - têm buscado

vantagens comparativas inerentes à complementaridade de seus recursos (como

capital, mão-de-obra e sistemas logísticos), a otimização de seus processos e a

redução de seus custos, através de uma composição mais favorável de tributos.

Todavia, uma das razões mais fortes para o estabelecimento de empresas

brasileiras nos países do Mercosul (assim como das empresas desses países no

Brasil) tem sido o lançamento das bases para a internacionalização num âmbito

global. Nesta era de globalização, em que os limites de mercado tendem a ser

cada vez menos significativos, o Mercosul representa, sem dúvida, uma excelente

oportunidade para o fortalecimento da posição de seus países-membros na

economia mundial, fato reforçado pelo estreitamento de laços com outros blocos

(como a União Européia e o Pacto Andino) e pela perspectiva da formação, até o

ano 2005, da Área de Livre Comércio das Américas - a ALCA.

9 Pelo seu pioneirismo e pela força de suas marcas, volume de investimentos e posição nomercado vizinho, poder-se-iam citar como exemplos de empresas brasileiras com operações naArgentina, e que têm sido objeto de diversas publicações e matérias na imprensa, a Arisco, aSadia, a Ceval, a Garoto e a Brahma (alimentos e bebidas), a Amil (assistência médica), o bancoItaú, o Playcenter (entretenimento), a Tigre (materiais de construção), a Odebrecht (construçãocivil), a Hering (têxtil), a GM e a Fiat (montadoras de automóveis), a Cofap e a Freios Varga(autopeças) etc.

Page 32: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

19

Quadro I.5 : Empresas brasileiras instaladas na Argentina, e vice-versa, noperíodo de julho de 1991 a junho de 1997

SetorEmpresasbrasileiras

na Argentina

Empresasargentinasno Brasil

Alimentos e bebidas 36 24

Automóveis 12 5

Autopeças 43 8

Bancos e inst. financeiras 23 18

Calçados 2 2

Comércio varejista 1 1

Construção civil 13 8

Consultoria 10 5

Courier - 1

Diversões 1 -

Eletrodomésticos 4 2

Eletrônicos 5 -

Energia e combustíveis 7 6

Fertilizantes 1 -

Franchising 77 123

Imprensa e telecomunicações 14 13

Informática 14 8

Máquinas agrícolas 6 4

Máquinas e equipamentos 10 7

Material de construção 5 2

Material elétrico 5 -

Page 33: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

20

Metalurgia 3 4

Móveis 2 1

Papel / Embalagens 2 -

Petroquímica 8 4

Plásticos 5 2

Publicidade 11 1

Química 14 6

Seguros 7 2

Têxtil 11 3

Transportes 5 -

Vidros 1 -

Outros 1 23

Total 359 283

Adaptado de ADEBIM - Revista da Indústria, 17/11/97, p.11

1.8. Organização do Estudo

Este estudo está dividido em cinco capítulos. Neste primeiro capítulo,

apresentam-se os objetivos e justificativas para a realização do trabalho, e

procura-se situar o processo de internacionalização de empresas brasileiras

dentro do contexto corrente de globalização.

No segundo capítulo, realiza-se uma revisão da literatura sobre a

internacionalização de empresas, e apresentam-se as principais abordagens e

contribuições teóricas a esse tema. Já o terceiro capítulo apresenta e justifica a

escolha da metodologia utilizada no trabalho, o Estudo de Caso, apontando suas

principais limitações.

Page 34: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

21

O quarto capítulo apresenta a descrição do caso selecionado para pesquisa – o

da Amil Assistência Médica Internacional Ltda., uma das maiores empresas

privadas de planos de saúde no Brasil – e realiza a sua análise dentro dos

critérios definidos no capítulo anterior. Finalmente, o quinto capítulo relaciona as

principais conclusões a que o estudo chega, assim como reconhece suas

limitações e apresenta sugestões de campos de pesquisa futura.

Page 35: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

22

CAPÍTULO II

REVISÃO DA LITERATURA

O estudo do processo de internacionalização de empresas tem recebido, ao longo

do tempo, duas grandes abordagens gerais: uma com ênfase em aspectos

psicológicos (ou comportamentais) e outra que privilegia aspectos econômicos.

A primeira abordagem, de ordem comportamental, procura determinar como as

percepções do tomador de decisão a respeito de uma série de fatores - como

risco, incerteza, distância cultural etc. - influenciam a direção e o ritmo do

envolvimento da empresa com os mercados estrangeiros. A esta abordagem -

rica em contribuições teóricas e estudos empíricos, mas questionada nos últimos

anos em razão de uma série de transformações no ambiente internacional de

negócios - correspondem o Modelo do Processo de Internacionalização, também

conhecido como Modelo de Uppsala, e os modelos seqüenciais de estágios de

internacionalização, chamados por Andersen (1993) de “modelos relacionados à

inovação”, por considerarem que o processo ocorre de forma semelhante à

adoção de uma inovação pela empresa. Um claro desafio a esses modelos vem

sendo apresentado pela emergência das Born Global Firms (“empresas nascidas

globais”), verdadeiros emblemas do desenvolvimento tecnológico e das

tendências de globalização dos últimos anos.

A segunda abordagem à internacionalização de empresas estuda, sob uma ótica

microeconômica, a combinação de fatores de produção e de custos de transação

no mercado internacional, levando em consideração variáveis como a relação

risco-retorno dos diferentes modos de entrada naquele mercado, o grau de

controle sobre os canais etc. A esta segunda abordagem correspondem o

Paradigma Eclético - que procura explicar “a extensão, forma e padrão da

produção internacional” (Dunning, 1988, p.2), em função de diferentes tipos de

vantagens competitivas percebidas pela empresa - e a Análise de Custos de

Transação, que estuda a relação risco-retorno e o controle sobre as atividades da

empresa ensejados pelo grau de integração dos canais no mercado estrangeiro.

Page 36: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

23

2.1. O Modelo do Processo de Internacionalização (Modelo de Uppsala)

Este referencial teórico, que se baseia na Teoria Comportamental da Empresa

(Cyert e March, 1963; Aharoni, 1966) e na Teoria do Crescimento da Empresa

(Penrose, 1959), firmou-se a partir de meados da década de 70, com os trabalhos

de Johanson e Wiederscheim-Paul (1975) e Johanson e Vahlne (1977), os quais

foram mais tarde revitalizados por outro trabalho de Johanson e Vahlne (1990).

O Modelo de Uppsala descreve o processo de internacionalização como um ciclo

de relações entre aspectos de estado - comprometimento com o mercado

estrangeiro e conhecimento desse mercado - e aspectos de mudança - atividades

correntes (operações) no mercado estrangeiro e decisões de comprometimento

(investimentos) nesse mercado -, conforme pode ser visto na Figura II.1.

Figura II.1 : Modelo do Processo de Internacionalização de Uppsala (adaptado de Johanson e Vahlne, 1990, p.12)

Atividades correntes

Experiência Conhecimento do Mercado

Recursos

Redução de

Incerteza

Comprometimento com o Mercado Investimento

Decisões de Comprometimento

Para Johanson e Vahlne (1977), o comprometimento com o mercado compõe-se

de dois fatores: o montante de recursos empregados no mercado estrangeiro

(investimentos em marketing, organização, pessoal etc.) e o próprio grau de

comprometimento com o mercado (entendido como a dificuldade em transferir os

recursos para usos alternativos). Já o conhecimento de mercado é adquirido

através da experiência acumulada com as atividades correntes (operações); esta

Page 37: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

24

experiência, que pode ser considerada específica para cada país, e portanto

dificilmente transferível, possibilita a redução de incertezas e facilita a percepção

de barreiras e oportunidades no mercado estrangeiro.

Segundo Johanson e Vahlne (1990, p.13),

“o modelo do processo de internacionalização pode explicar dois padrões na

internacionalização da empresa (Johanson e Wiederscheim-Paul, 1975). O

primeiro é que o envolvimento da empresa em um mercado estrangeiro

específico acontece de acordo com uma cadeia de estabelecimento... Em

termos do modelo do processo, essa seqüência de estágios indica o

comprometimento crescente de recursos com o mercado. Ela também indica

atividades correntes (operações) que se diferenciam em razão da experiência

acumulada”.

Johanson e Wiederscheim-Paul (1975) definem quatro estágios de envolvimento

de uma empresa com o mercado internacional, baseados na “sua aquisição,

integração e uso graduais de conhecimento sobre os mercados externos e

operações, e no seu comprometimento crescente com os mercados externos”

(Johanson e Vahlne, 1977, p.23). Estes estágios seriam :

• Estágio 1 : não há atividades regulares de exportação;

• Estágio 2 : exportação via representantes (agentes) independentes;

• Estágio 3 : estabelecimento de uma subsidiária de vendas no exterior;

• Estágio 4 : unidades de operações (por exemplo, produção) no exterior

(estágio pós-exportação).

Já de acordo com o segundo padrão, a empresa entraria em novos mercados

segundo uma percepção de “distância psíquica” cada vez maior. A distância

psíquica é definida em termos de fatores como diferenças de língua, cultura,

sistemas políticos, legislação, práticas comerciais, nível de educação, nível de

desenvolvimento industrial etc., que perturbam, ou mesmo impedem, o fluxo de

informações entre o mercado e a empresa10. Assim, as empresas começariam

10 O termo “distância cultural” é muitas vezes usado na literatura como um sinônimo para adistância psíquica, embora, a rigor, se refira a apenas uma (talvez a principal) de suas dimensões.

Page 38: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

25

seu processo de internacionalização em mercados culturalmente mais próximos

(muitas vezes em países vizinhos), nos quais elas podem mais facilmente

identificar barreiras e oportunidades, para entrar depois em mercados

psiquicamente cada vez mais distantes.

Johanson e Vahlne (1990, p.13) observam que

“esses padrões são manifestações do processo na internacionalização da

empresa... Os padrões podem ser vistos como operacionalizações do modelo

do processo, com os estágios e a distância psíquica como possíveis

indicadores. Outros indicadores são também possíveis. O comprometimento

com o mercado pode ser indicado pelo tamanho do investimento no mercado

ou... pelo grau de integração vertical”.

2.2. Os Modelos Relacionados à Inovação

Diversos autores, inspirados nos conceitos de seqüência de estágios e distância

psíquica estabelecidos pela Escola de Uppsala, e na Teoria de Difusão da

Inovação de Rogers (1962), abordam a decisão de internacionalização da

empresa como um processo de adoção de uma inovação.

A idéia fundamental defendida nesses trabalhos é a de que o processo de

internacionalização de empresas se dá de modo semelhante ao movimento de

“anéis de ondas na água” (Madsen e Servais, 1996), numa seqüência

determinada de estágios, e em direção a novos mercados que apresentem

“distância psíquica” cada vez maior. Na verdade, os modelos relacionados à

inovação têm várias características em comum, diferindo entre si, em geral, pelo

número de estágios do processo e por algumas variáveis explanatórias e

determinantes da progressão da empresa de um estágio para outro. O Quadro II.1

mostra um resumo de quatro modelos representativos desta corrente, com a

correspondência entre seus respectivos estágios.

Bilkey e Tesar (1977) procuraram estabelecer um suporte estatístico ao modelo

de seqüência de estágios do comportamento de exportação, através da

classificação de 423 pequenas e médias empresas do estado norte-americano de

Page 39: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

26

Wisconsin em seis estágios e da realização de uma análise para os estágios 3, 4

e 5, os quais foram tratados como variáveis dependentes de suas respectivas

equações de regressão múltipla. As mesmas variáveis independentes foram

testadas para cada estágio na tentativa de se melhorar o coeficiente (não viciado)

de correlação múltipla. A partir dos resultados obtidos, os autores concluíram que

o comportamento de exportação tendia de fato a seguir uma seqüência de

estágios, e que os fatores que influenciavam a progressão das empresas de um

estágio para outro tendiam a diferir, com considerável influência da “qualidade e

dinamismo da gerência” (p.95). O Anexo I mostra uma síntese dos resultados

desse trabalho.

Cavusgil (1980), em um exame da literatura existente até então sobre o ingresso

de empresas no mercado internacional, apresenta um modelo de

internacionalização em cinco estágios discriminados por suas atividades críticas.

No Quadro II.2 estão listados os determinantes da passagem de um estágio para

outro, segundo o autor.

Rao e Naidu (1992) propõem um modelo de quatro estágios, e procuram

identificar uma série de fatores que estimulam a estagnação ou a progressão da

empresa em direção a tornar-se um exportador regular. Por exemplo, a falta de

interesse em adaptar a linha de produtos às exigências dos mercados

estrangeiros, ou mesmo de capacidade produtiva, estaria associada às empresas

não exportadoras. Já a percepção de alta competitividade em tecnologia no

mercado doméstico, ou de um grande número de concorrentes domésticos já

exportando, estaria relacionada às empresas que exportam regularmente.

Canals (1994) propõe um modelo de três etapas da internacionalização de uma

empresa, na forma de uma curva do grau de compromisso da empresa com os

mercados estrangeiros. O autor ressalta que a trajetória de cada empresa

depende dos seus recursos e das condições do setor em que opera.

Page 40: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

27

Quadro II.1 : Quatro modelos relacionados à inovação Bilkey e Tesar

(1977) Cavusgil (1980)

Rao e Naidu (1992)

Canals (1994)

Estágio 1 Empresa nãointeressada emexportar, podendo atémesmo recusarpedidos de exportação

Estágio 1 Marketing Doméstico

Falta de interesse emexportar; preocupaçãocom as atividades domercado doméstico

Estágio 1 Não-exportador

Não há atividades deexportação, neminteresse emdesenvolvê-las nofuturo.

Estágio 2 Empresa atendepedidos não esperadosde exportação, masnão se esforça paraexplorar a viabilidadeda exportação

Estágio 3 Empresa exploraativamente aspossibilidades deexportação

Estágio 2 Pré-exportação

Busca de informaçõese avaliação daviabilidade de exportar

Estágio 2 Pretendente

Não há exportação,mas há interesse emexplorar oportunidades

Estágio 4 Empresa exporta emcaráter experimentalpara paísespsicologicamentepróximos

Estágio 3 EnvolvimentoExperimental

Exportaçãointermitente parapaísespsicologicamentepróximos

Estágio 3 Exportador esporádico

Exportação esporádica

Estágio 1 Início

Exportação passiva,isto é, não buscada de

forma explícita

Estágio 5 Empresa é umexportador experientepara paísespsicologicamentepróximos

Estágio 4 Envolvimento Ativo

Exploração sistemáticade oportunidades nomercado estrangeiro

Estágio 4 Exportador regular

Exportação regular

Estágio 2 Desenvolvimento

Exportação ativa, compossíveis alianças comempresas estrangeiras

Estágio 6 Empresa explora aviabilidade de exportarpara paísespsicologicamente maisdistantes

Estágio 5 Comprometimento

Tomada contínua dedecisão sobre alocarrecursos entre osmercados doméstico eestrangeiro

Estágio 3 Consolidação

Exportação estável,com possibilidades dealianças, aquisições einvestimento direto noestrangeiro

Page 41: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

28

Quadro II.2 : Determinantes dos estágios de internacionalização, segundo Cavusgil (1980)

Estágio Determinantes I - Mercado Doméstico

• simples falta de interesse em exportar• falta de conhecimento de oportunidades no mercado

estrangeiro.

II - Pré-Exportação

Estímulos externos• pedidos não esperados de compradores ou distribuidores

estrangeiros ou agentes domésticos de exportação Estímulos internos

• vantagens competitivas (diferenciação) : produtos,processos, recursos

• necessidade de superar dificuldades no mercadodoméstico : saturação de mercado, pressões competitivas,capacidade ociosa

• tomadores de decisão audaciosos, dotados de “perspectivasupra-nacional”

• tomada de decisão baseada nas impressões quanto àatratividade da atividade exportadora, uma vez que faltaminformações quanto a custos, riscos etc.

III - Envolvimento Experimental

• impressões favoráveis quanto às possibilidades deexportação

• objetivos de curto prazo (lucro)• concentração em países com menor distância cultural

IV - Envolvimento Ativo

• expansão do volume de exportação• maior necessidade de informação• expectativas baseadas na experiência• disponibilidade de recursos-chave• disposição em alocar os recursos-chave (estrutura

organizacional apropriada, destacando a função demarketing internacional, viagens freqüentes de executivosaos mercados estrangeiros etc.)

V - Comprometimento

• competência em gerenciar o marketing mix• comprometimento com objetivos de longo prazo• superação de barreiras :

◊ restrições às exportações/importações◊ disponibilidade e custos de transporte◊ flutuações da taxa de câmbio◊ adequação da rede de distribuição

• elementos críticos nas operações internacionais :◊ qualidade e projeto de produtos e embalagens◊ desenvolvimento de canais de distribuição◊ preços competitivos◊ limite de crédito

Page 42: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

29

O nome genérico de “Teoria dos Estágios de Internacionalização” costuma

provocar alguma confusão por aparentemente tratar o Modelo de Uppsala e os

modelos relacionados à inovação como se pertencessem a um só referencial

teórico. Johanson e Vahlne (1990) procuram desfazer esta confusão, afirmando

que, no caso do Modelo de Uppsala, a seqüência de estágios e a distância

psíquica cada vez maior são, na verdade, indicadores dos dois padrões (ou

manifestações) do processo - descritos no item 2.1. -, e não seus fundamentos,

como parece ocorrer no caso dos modelos relacionados à inovação.

2.3. A Atividade Pré-Exportação

Wiederscheim-Paul, Olson e Welch (1978) abordam os estímulos (“fatores

evocadores de atenção”) que influenciam o tomador de decisão da empresa com

relação ao início da atividade de exportação, e de como suas características

pessoais e as características do meio ambiente e da empresa condicionam a sua

percepção. Os autores fazem ainda uma classificação das empresas com relação

às suas atividades pré-exportadoras, com ênfase nas atividades de informação.

Dentre as características pessoais do tomador de decisão mais relevantes para a

pré-exportação, os autores destacam a orientação internacional - percepção e

interesse por eventos ocorridos em outros países, comum em pessoas com

vivência no exterior - e a tolerância à incerteza associada ao começo da atividade

exportadora.

As características do meio ambiente apontadas por Wiederscheim-Paul, Olson e

Welch (1978) relacionam-se principalmente à localização da empresa no mercado

doméstico, a qual influiria não só nos custos de transporte dos bens produzidos,

mas também nos fluxos de informação. Devido ao alto grau de incerteza

normalmente associado ao início da atividade de exportação, os contatos

informais, do tipo face-a-face, teriam grande importância neste estágio, podendo

significar desvantagem para as empresas localizadas longe dos “centros de

informação” (como as grandes cidades), que freqüentemente recebem visitas de

executivos desses países.

Page 43: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

30

Os autores relacionam três principais características da empresa que influem nas

decisões do estágio pré-exportação :

• os objetivos da empresa, que seriam, em geral, evitar instabilidade das vendas

que possa ameaçar sua segurança e sobrevivência, e garantir seu crescimento;

• a linha de produtos, com relação ao grau de padronização e complexidade, e

especialmente à relação entre bens físicos e serviços complementares (chamada

“hardware / software”); produtos mais padronizados e menos complexos, que

demandam menos serviços de suporte e menor fluxo de informações entre o

vendedor e o comprador, podem servir como estímulo à exportação;

• e a história da empresa e sua “expansão extra-regional”, que se trata de uma

espécie de processo de internacionalização ocorrido dentro do mercado

doméstico e anterior à exportação para mercados externos; na expansão extra-

regional podem se desenvolver competências em marketing e ampliar a rede de

comunicações, aumentando as possibilidades de exposição da empresa aos

“fatores evocadores de atenção”;

Estes “fatores evocadores de atenção” são “as influências que levam a empresa a

considerar a exportação como uma possível estratégia; são os sinais que

detonam as decisões com relação ao comportamento pré-exportador” (p.51).

Estes fatores, sejam internos ou externos, podem permanecer latentes (não

reconhecíveis) por algum tempo, sendo ativados por outras influências, como, por

exemplo, a experiência de expansão extra-regional.

⇒ fatores evocadores de atenção internos:

• competência exclusiva (única), na forma de um produto diferenciado ou da

solução exclusiva para um determinado problema;

• excesso de capacidade, que leva a empresa a examinar alternativas - como

a exportação - para uso de recursos disponíveis, não só em termos de

produção, mas também de marketing, finanças etc.

Page 44: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

31

⇒ fatores evocadores de atenção externos:

• pedidos não esperados de clientes estrangeiros11;

• oportunidades de mercado;

• atuação dos concorrentes, os quais podem tornar mais acirrada a

competição no mercado doméstico; neste caso, a empresa pode adotar a

política de “seguir o líder” do seu setor;

• medidas do governo de estímulo à exportação, tais como incentivos

financeiros e informações sobre oportunidades no mercado estrangeiro.

Os autores tratam ainda dos tipos de comportamento pré-exportador,

classificando as empresas em três grupos - domésticas, passivas e ativas, de

acordo com três dimensões das atividades de informação, conforme pode ser

visto no Quadro II.3.

Quadro II.3 : Tipos de comportamento pré-exportador

Dimensões

Empresas

intenção decomeçar aexportar

coletade informações

transmissãode informações

Domésticas nenhuma a baixa nenhuma a baixa nenhuma a baixa

Passivas baixa a média baixa a média baixa

Ativas média a alta média a alta baixa a alta

Fonte : Wiederscheim-Paul, Olson e Welch, 1978, p.53.

Em outro importante trabalho, Bilkey (1978) aborda a questão da iniciação à

exportação relacionando “agentes de mudança”, equivalentes aos “fatores

evocadores de atenção” de Wiederscheim-Paul, Olson e Welch, e, como aqueles,

classificados em externos e internos:

11 determinantes da passagem do Estágio 3 para o Estágio 4 do modelo de Bilkey e Tesar (1977),e do Estágio 1 para o Estágio 2 do modelo de Cavusgil (1980)

Page 45: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

32

⇒ agentes de mudança externos :

câmaras de comércio, bancos, agências governamentais e outras empresas

(importadores estrangeiros e agentes domésticos de exportação);

⇒ agentes de mudança internos :

• tomador de decisão da empresa, através da sua impressão (muitas vezes

difusa) sobre a atratividade da exportação e da sua confiança nas vantagens

competitivas da empresa (função das suas percepções quanto à diferenciação

do produto, marketing, patentes, rede de distribuição etc.);

• grau de orientação internacional da empresa (seu histórico e perfil da sua alta

gerência, em termos de idade, vivência no exterior e domínio de línguas

estrangeiras);

• e as condições do mercado doméstico, que podem levar a empresa a

considerar a exportação como uma oportunidade para sua própria

sobrevivência.

O autor distingue ainda três tipos de empresa quanto à motivação para iniciar a

atividade de exportação :

• as que iniciam por influência de agentes externos de mudança;

• as que aproveitam oportunidades que surgem, sem objetivos estratégicos

claramente definidos;

• e as que começam a exportar deliberadamente; neste último caso, o autor

ressalta que, em geral, a motivação não é por resultados a curto prazo, mas

por lucratividade a longo prazo, assegurada pelo crescimento da empresa e

pela diversificação de mercado, e por evitar perdas num mercado doméstico

saturado, com o conseqüente declínio das vendas.

Page 46: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

33

2.4. Críticas à Teoria de Estágios do Processo de Internacionalização

Apesar do reconhecimento de suas qualidades e da sua popularidade nos meios

acadêmicos, o “paradigma” dos estágios de internacionalização tem sofrido, ao

longo dos anos, uma série de críticas. A primeira (e mais veemente) refere-se ao

caráter determinístico dos modelos. As seqüências de estágios (que, na verdade,

teriam entre si diferenças mais semânticas do que conceituais) refletem um

padrão linear e ordenado que muitas vezes pode não ocorrer no mundo real, em

função da variabilidade de recursos disponíveis, de diferenças de capacidade

gerencial e de contingências específicas de cada mercado, como oportunidades e

barreiras, fase do ciclo de vida do produto etc. Cabe aqui lembrar a distinção que

Johanson e Vahlne (1990) fazem entre o Modelo de Uppsala e os demais

modelos seqüenciais, ao afirmar que para o primeiro a seqüência de estágios é

apenas o indicador de um dos padrões (ou manifestações) do processo de

internacionalização, e não um de seus fundamentos.

Outro problema com a maioria dos modelos é a dificuldade, na prática, em

delimitar seus estágios. Em geral, não é dada muita ênfase à dinâmica do

processo (com a dimensão tempo sendo relegada a um segundo plano) e a como

a empresa passa efetivamente de um estágio para outro. A possibilidade de a

empresa “saltar” estágios é pouco comentada, assim como uma eventual

“desinternacionalização”. A queima de etapas, na realidade, tem-se tornado cada

vez mais freqüente, graças ao fácil acesso à informação sobre os meios de

exportação e à experiência adquirida através de “expansões extra-regionais” e de

relacionamentos de longo prazo com parceiros estrangeiros.

Uma crítica comum aos modelos de internacionalização é a de que seu suporte

empírico é proveniente de estudos que, na maioria dos casos, enfocam apenas os

primeiros estágios, quando a empresa se acha restringida pela falta de recursos e

de conhecimento do mercado estrangeiro; conforme a empresa vai estabelecendo

atividades em vários países, a incerteza tende a se reduzir, e podem surgir outras

possibilidades de alocação dos recursos.

A maioria dos modelos parece não se aplicar muito bem ao caso de empresas de

serviços, os quais em muitos casos precisam ser executados in loco (ou seja,

Page 47: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

34

mediante a interação entre prestador e cliente), não admitindo, portanto, uma

simples exportação. Também as empresas produtoras de bens altamente

perecíveis podem ter suas exportações inviabilizadas por razões técnicas (por

exemplo, de armazenamento) ou de custos de transporte.

O conceito de distância psíquica vem perdendo seu valor explanatório, num

mundo cada vez mais homogêneo em termos de gostos e necessidades, e no

qual a internacionalização de indústrias e mercados vem se mostrando

irreversível. Também contribuem para este fato a crescente sofisticação dos

meios de transmissão de informações, a tendência à globalização de mercados e

à padronização de produtos de massa, e mesmo as transformações geopolíticas

pelas quais o mundo tem passado nos últimos anos, com a queda de antigos

regimes, a formação de novos blocos econômicos etc. Aqui se aplica, mais uma

vez, a ressalva de Johanson e Vahlne (1990) sobre o papel da distância psíquica

no Modelo de Uppsala, como indicador de uma das manifestações do processo

de internacionalização, e não como seu fundamento.

Outra crítica ao conceito de distância psíquica é feita por O’Grady e Lane (1996),

ao abordar o “paradoxo da distância psíquica”. Segundo estes autores, “as

operações em países psiquicamente próximos não são necessariamente fáceis

de gerenciar, porque as suposições de similaridade podem impedir os executivos

de perceber diferenças críticas” (p.309). Estas diferenças podem estar “ocultas”,

por exemplo, nas práticas comerciais, na legislação e no comportamento dos

consumidores e dos executivos de cada país.

Finalmente, uma das principais críticas que se pode fazer aos modelos é que eles

subestimam as interações da empresa com o ambiente externo e as alternativas

estratégicas com que se defronta o tomador da decisão de internacionalização.

Os modelos enfocam, em sua maioria, apenas o estabelecimento e o

desenvolvimento das operações de exportação, deixando de lado outras

atividades importantes da empresa, como o desenvolvimento de novos produtos,

a diversificação dos negócios, os arranjos contratuais com fornecedores e

distribuidores, e o estabelecimento de outros modos de internacionalização, como

aquisições, licenciamentos, joint-ventures etc.

Page 48: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

35

2.5. “Born Global Firms”

Diversos trabalhos publicados nos anos 90 têm enfocado um novo tipo de

empresa que constitui um desafio à teoria tradicional de estágios de

internacionalização : as Born Global Firms (“empresas nascidas globais”), que

vêm surgindo como um resultado das mudanças no ambiente de negócios, cada

vez mais afetado pela competição e pela globalização de mercados.

Knight e Cavusgil (1996), revendo trabalhos anteriores de diversos autores,

referentes a empresas australianas, européias e norte-americanas, relacionam as

principais características distintivas das Born Global Firms, a saber:

• são pequenas em número de funcionários (menos de quinhentos) e em vendas

anuais (inferiores a US$ 100 milhões);

• utilizam tecnologia avançada na inovação e desenvolvimento de produtos

diferenciados, na maioria dos casos com uso industrial;

• são dirigidas por empresários visionários, que enxergam um mercado sem

fronteiras nacionais desde o início das operações da empresa;

• exportam pelo menos 25% da sua produção, em geral num prazo de até dois

anos a partir da sua fundação.

Knight e Cavusgil (1996) explicam ainda o surgimento das Born Global Firms

através dos seguintes fatores :

• o papel crescente dos nichos de mercado, especialmente nos países mais

desenvolvidos, que surgem da demanda crescente por produtos especializados

ou personalizados, e são o resultado da maior competitividade e globalização

dos mercados;

• a alternativa representada pelos mercados estrangeiros para as empresas

pequenas, em vista de um mercado doméstico saturado ou insuficiente para

sustentar os lucros;

• os avanços tecnológicos que permitem que a produção seja econômica mesmo

sem escala;

Page 49: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

36

• os avanços da tecnologia de comunicações (por exemplo, fax, e-mail, EDI etc.)

que facilitam o gerenciamento de operações a distância e com baixo custo;

• as vantagens inerentes às pequenas empresas, como a flexibilidade e a

adaptabilidade aos gostos e padrões internacionais de consumo;

• a facilidade de acesso a instituições que promovem cursos internacionais

avançados nas áreas de administração e tecnologia;

• a integração dos mercados financeiros em todo o mundo, que tem servido

como propulsora da economia mundial;

• a globalização e o desenvolvimento de zonas de livre comércio e blocos

econômicos, que expõem os gerentes à dinâmica do mercado internacional e a

instrumentos como transferências de tecnologia, countertrade etc.;

• a formação de global networks, através de parcerias e alianças de longo

prazo com agentes estrangeiros, como fornecedores, clientes, distribuidores,

trading companies etc.

Por serem relativamente recentes, as Born Global Firms foram alvo de pouca

pesquisa até este momento. Knight e Cavusgil (1996) sugerem que os estudos

futuros sobre o tema procurem desenvolver modelos explanatórios que

identifiquem os fatores internos e externos que tornam possível o

desenvolvimento desse tipo de empresa e que contribuem para o seu

desempenho. Em uma etapa seguinte, deveriam ser realizados estudos

empíricos, se possível em cenários nacionais e culturais variados, que verifiquem

a correspondência entre a teoria e a prática das Born Globals, para que, uma vez

devidamente compreendidas, elas possam ser alvo de políticas públicas

específicas de incentivo.

2.6. O Paradigma Eclético

Dunning (1988) entende o paradigma eclético como “uma estrutura de trabalho

holística pela qual é possível identificar e avaliar a importância dos fatores que

influenciam tanto o início da produção no exterior pelas empresas, como o

Page 50: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

37

crescimento de tal produção” (p.1). Este paradigma é batizado “eclético” de modo

a transmitir a idéia de que são explorados vários aspectos da teoria econômica, e

de que o envolvimento econômico internacional pode se dar através de uma série

de diferentes canais. O paradigma eclético baseia-se, enfim, na disposição

internacional dos fatores de produção e nos custos das modalidades alternativas

das transação de produtos entre fronteiras nacionais.

Segundo o autor, a extensão, a forma e o padrão da produção internacional são

determinadas por três conjuntos de vantagens percebidas pela empresa:

vantagens específicas de propriedade, vantagens de internalização e vantagens

de localização.

2.6.1. Vantagens Específicas de Propriedade

Uma empresa deve possuir certas vantagens específicas à sua natureza e/ou

nacionalidade para que possa competir no estrangeiro com empresas que atuam

no seu próprio país; estas vantagens competitivas devem ser suficientes para

compensar os custos extras de estabelecimento e operação num país

estrangeiro, além, naturalmente, dos custos já enfrentados pelos produtores

locais.

Estas vantagens específicas de propriedade podem ser de dois tipos : vantagens

estruturais (ou de ativos) e vantagens de transação. As vantagens estruturais

referem-se a ativos possuídos pela empresa multinacional com exclusividade

frente aos produtores locais, como, por exemplo, o domínio de tecnologia superior

que possibilite a diferenciação do seu produto. As vantagens de transação estão

ligadas aos benefícios, ou à redução de custos, obtidos pela empresa

multinacional em suas transações, e que resultam da gestão conjunta dos seus

ativos distribuídos por diferentes países.

2.6.2. Vantagens de Internalização

As vantagens de internalização referem-se à capacidade da empresa

multinacional de transferir suas vantagens específicas de propriedade através das

fronteiras nacionais de modo interno à sua própria organização, ao invés de

Page 51: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

38

vendê-las ou permitir seu uso pelas empresas locais (através, por exemplo, de

licenciamento). Os motivos que normalmente levam as empresas a buscar

internalizar mercados são: garantir o fornecimento de recursos essenciais,

assegurar a qualidade de seus produtos, proteger direitos de propriedade (marcas

e patentes), controlar seus preços e diluir custos fixos. As vantagens de

internalização são, enfim, exploradas em busca da redução de riscos e incertezas

e do ganho de economias de escala na produção.

2.6.3. Vantagens de Localização

Uma série de barreiras protecionistas impostas pelos governos nacionais, bem

como os custos de transporte e outras imposições legais, tem levado, ao longo do

tempo, as empresas a investir em produção em países estrangeiros. As

vantagens de localização são, então, oriundas da utilização combinada dos

fatores de produção disponíveis em outros países. Estas vantagens também

podem ser divididas em estruturais e de transação. As vantagens estruturais são

relativas às diferenças nos custos dos fatores de um país para outro, enquanto as

vantagens de transação referem-se ao aproveitamento de oportunidades no

mercado (inclusive financeiro), à redução de riscos (inclusive em relação ao

câmbio) e às condições de contrato com clientes e fornecedores.

Nas palavras de Dunning (1988) :

“É, então, a justaposição de vantagens específicas de propriedade das

empresas face à produção no estrangeiro (ou o aumento desta produção), a

propensão a internalizar os mercados estrangeiros e os fatores de atração

para locação da produção no estrangeiro que constituem a essência do

paradigma eclético da produção internacional” (p.5).

Page 52: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

39

2.7. Comparação entre o Paradigma Eclético e o Modelo do Processo deInternacionalização

Johanson e Vahlne (1990) fazem algumas comparações entre o Modelo do

Processo de Internacionalização e o Paradigma Eclético, procurando mostrar que

algumas das críticas dirigidas ao primeiro, supostamente à luz do último, perdem

o propósito na medida em que as premissas, naturezas e objetivos dos dois

referenciais são substancialmente diferentes. Assim, enquanto o Paradigma

Eclético procura explicar a existência da empresa multinacional, e não o processo

de internacionalização em si, baseando-se na teoria econômica da firma e da

organização do mercado, o Modelo do Processo de Internacionalização procura

explicar o padrão e o modo de estabelecimento de ações orientadas para o

mercado internacional, com base em teorias comportamentais.

O Paradigma Eclético postula que as operações se estabelecem onde se obtêm

vantagens (de propriedade, de internalização e de localização), e a partir de

decisões tipicamente racionais, baseadas em informações, ao passo que o

Modelo do Processo de Internacionalização sugere um padrão pelo qual as

operações se estabelecem inicialmente em mercados com menor distância

psíquica, partindo para mercados mais distantes conforme se acumulam

conhecimento e experiência e se reduzem as percepções de incerteza e risco.

Daí vem a idéia bastante difundida de que o Paradigma Eclético teria maior valor

explanatório para empresas globais, já estabelecidas no mercado internacional,

enquanto que o Modelo do Processo de Internacionalização teria maior valor

explanatório para as empresas situadas nos primeiros estágios de

internacionalização, e ainda carentes de informação.

Enquanto o Paradigma Eclético tem diversas variáveis explanatórias - por

exemplo, os custos de transação - o Modelo do Processo de Internacionalização

tem apenas uma, o conhecimento do mercado. Finalmente, os autores ressaltam

que o Paradigma Eclético tem natureza estática, enquanto o Modelo do Processo

de Internacionalização apresenta natureza dinâmica, e concluem que

“claramente, as duas estruturas de trabalho em seu formato atual são

inconsistentes, uma vez que suas premissas básicas são tão diferentes” (p.18).

Page 53: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

40

2.8. A Análise de Custos de Transação

Uma empresa que decide internacionalizar suas ações (por exemplo, distribuição

ou produção) vê-se diante de várias opções de modo de entrada no mercado

estrangeiro. A Análise de Custos de Transação, proposta primeiramente por

Williamson (1975, 1985) procura determinar qual dessas opções revela-se, a

longo prazo, a mais eficiente em termos de retorno do investimento, levando-se

em consideração o risco incorrido e o grau de controle desejado sobre as

atividades.

Anderson e Gatignon (1986) destacam o papel do controle - entendido como “a

capacidade de influenciar sistemas, métodos e decisões” (p.3) - na coordenação

das ações, na execução e revisão de estratégias e, principalmente, na obtenção

da maior parcela do lucro gerado pela empresa no mercado estrangeiro. O preço

do controle, no entanto, é a responsabilidade pela tomada de decisão, em

ambientes muitas vezes de incerteza, e o comprometimento de recursos, com a

conseqüente tomada de risco. Assim, o controle está associado à clássica

perspectiva de risco-retorno : modos de entrada no mercado estrangeiro com alto

controle (como o estabelecimento de uma subsidiária) podem significar alto

retorno, porém com alto risco; modos de entrada de baixo controle (como

licenciamentos ou participações minoritárias) minimizam os riscos, a custo de

retornos menores. O Quadro II.4 relaciona dezessete modos de entrada

identificados pelos autores, em ordem decrescente de controle.

A Análise de Custos de Transação enfoca a relação produção-distribuição como

um continuum, que vai da integração vertical à utilização de canais independentes

de distribuição, procurando estabelecer a forma de controle que torne aquela

relação o mais eficiente, levando-se em consideração o retorno do investimento,

os riscos assumidos com o comprometimento de recursos, a flexibilidade

necessária para adaptar-se a ambientes de incerteza, a capacidade de

monitoramento das atividades e a troca de informações entre as partes

envolvidas. A premissa básica da Análise de Custos de Transação é a de que a

empresa buscará internalizar as atividades que ela pode executar a menores

Page 54: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

41

custos de transação12, deixando as demais atividades a cargo do mercado de

fornecedores ou parceiros.

Quadro II.4 : Modos de entrada classificados em ordem decrescente degrau de controle

Modos de Alto Controle : Participação Acionária Majoritária

Subsidiária própriaParticipação majoritária absoluta (>50%) entre muitos acionistasParticipação majoritária absoluta (>50%) entre poucos acionistasParticipação majoritária absoluta (>50%) com apenas um único outro acionista

Modos de Médio Controle : Equilíbrio entre os acionistas

Participação majoritária simples (<50%) entre muitos acionistasParticipação majoritária simples (<50%) entre poucos acionistasParticipação igual (50%/50%) com um único outro acionistaJoint-VentureGerenciamento de ContratoContratos exclusivos limitadosFranchiseContratos não exclusivos limitadosContratos exclusivos ilimitados

Modos de Baixo Controle : Interesses difusos

Contratos não exclusivos ilimitadosParticipação minoritária entre muitos acionistasParticipação minoritária entre poucos acionistasParticipação minoritária com apenas um único outro acionista

Fonte : Anderson e Gatignon (1986, p.5)

12 Custos de transação são aqueles que ocorrem em razão das falhas de mercado, ou seja, são oscustos incorridos pela necessidade de monitorizar o comportamento dos fornecedores ouparceiros para que eles cumpram os padrões de desempenho deles esperados.

Page 55: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

42

Anderson e Gatignon (1986) consideram na Análise de Custos de Transação

duas dimensões principais dos mecanismos de controle que influenciam a

eficiência de um modo de entrada: a especificidade dos ativos e a incerteza do

ambiente.

2.8.1. Especificidade dos ativos

Ativos específicos são investimentos válidos apenas para um pequeno número de

usos e usuários, com poucos usos alternativos e difícil substituição. Por exemplo,

o investimento em treinamento de uma equipe de vendas ou em adaptação de

instalações e equipamentos de um intermediário estrangeiro tem valor somente

se pretende que o relacionamento com este intermediário seja de longo prazo. A

existência de ativos específicos é uma razão para uma empresa procurar modos

de entrada de alto controle no mercado estrangeiro, evitando assim a

possibilidade de comportamento oportunístico dos intermediários, conhecedores

da limitação de uso dos ativos específicos.

2.8.2. Incerteza do ambiente

A dimensão de incerteza refere-se à dificuldade de antecipar e avaliar eventos

num ambiente desconhecido.

Em nível externo, a incerteza do ambiente pode se dar em razão de instabilidade

política ou econômica, que representam o assim chamado “risco do país”, ou da

distância sócio-cultural em relação ao país de origem da empresa entrante. Num

ambiente volátil, isto é, sujeito a rápidas mudanças, a empresa deveria evitar

modos de entrada de alto controle, que levassem a um maior comprometimento

de seus recursos e à perda de flexibilidade. No entanto, se a empresa já conta

com volume significativo de ativos específicos, a flexibilidade já estará mesmo

perdida, e a mudança de intermediários, além de difícil, poderá dar margem a

comportamento oportunístico dos novos parceiros; neste caso, o melhor para o

entrante pode ser o exercício de um alto grau de controle das atividades.

Segundo, então, a proposição de Anderson e Gatignon (1986, p.15), “quanto

maior a combinação de “risco do país” e de especificidade dos ativos, maior é o

Page 56: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

43

grau apropriado de controle”.

A distância sócio-cultural (ou cultural, ou psíquica) está normalmente associada a

modos de entrada de baixo controle. A empresa que entra no mercado

estrangeiro tende a evitar maior comprometimento enquanto não dominar os

valores e métodos do novo ambiente; também neste caso os custos de obtenção

de informação podem ser altos, e os executivos podem ter dificuldades em

perceber e avaliar oportunidades. Em função da diferença de ambiente, a

empresa poderá vir a investir em treinamento e adequação de seus

intermediários, o que acabará gerando ativos específicos, agravando ainda mais o

problema da incerteza. Para evitar estes problemas, a empresa deveria procurar

modos de entrada de baixo controle, os quais transfeririam os riscos para os seus

intermediários. Portanto, “quando a distância sócio-cultural é grande, modos de

entrada de alto controle são mais eficientes somente quando há vantagem

substancial em operar segundo os métodos da empresa” (Anderson e Gatignon,

1986, p.18).

A incerteza interna está relacionada à dificuldade em medir-se objetivamente o

desempenho dos intermediários, o que pode ocorrer por falta de medidas precisas

dos seus resultados, ou por um não entendimento da relação entre suas ações e

seus resultados. A incerteza interna faz com que a empresa procure modos de

entrada de alto controle, independentemente da especificidade de ativos, de

modo a impor seus critérios de avaliação e monitorar seus canais.

2.8.3. Outros fatores de influência sobre o grau de controle

Outros fatores podem também influir no grau de controle exercido pela empresa

entrante no mercado estrangeiro sobre os seus intermediários. Por exemplo,

modos de entrada de alto controle são mais comuns quando a empresa lança no

estrangeiro produtos inovadores (nos primeiros estágios de seu ciclo de vida) ou

de tecnologia mais sofisticada, que, em geral, exigem alta disponibilidade de

assistência técnica especializada. O mesmo acontece com produtospersonalizados, que demandam interação estreita entre fornecedor e cliente em

suas fases de projeto, implantação, utilização e manutenção. Por outro lado,

menor grau de controle é necessário quando o produto está na fase de

Page 57: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

44

maturidade, com sua tecnologia conhecida e intermediários mais facilmente

disponíveis para contratação; além disso, as empresas podem preferir direcionar

investimentos para seus produtos mais novos (mais promissores) do que para

aqueles já maduros.

A Análise de Custos de Transação prevê que, quando o mercado defornecedores e intermediários é altamente competitivo, o entrante deve evitar

a integração vertical, na busca de alto retorno com baixo risco, pois, nesse caso,

os custos fixos podem ser minimizados e a eficiência dos parceiros estimulada, na

medida em que eles podem ser trocados sem maiores dificuldades. Por outro

lado, quando não há maiores pressões competitivas, a integração vertical se

justifica, para evitar comportamento oportunístico por parte de fornecedores e

intermediários.

Klein, Frazier e Roth (1990) propõem que quanto maior o volume do canal da

linha de produto no mercado estrangeiro, maior deverá ser o grau de integração

(controle) do canal, o que se justifica pelas economias de escala obtidas na

utilização dos recursos da empresa.

A estratégia de diferenciação do produto também pode influenciar a decisão

sobre o grau de integração do canal. Produtos não diferenciados (com muitos

concorrentes similares) tendem a provocar guerra de preços entre seus

produtores, o que leva à diminuição de suas margens de lucro. Por outro lado,

produtos diferenciados (não substituíveis) permitem margens maiores de lucro, o

que favorece o investimento nos custos fixos da integração do canal. Além disso,

empresas que seguem uma estratégia global de diferenciação procuram uma

maior coordenação das atividades de suas unidades em diferentes países, o que

pode ser conseguido mais facilmente e a menor custo se houver maior integração

dos canais (Aulakh e Kotabe, 1997). Em resumo, produtos diferenciados devem

favorecer o maior controle sobre os intermediários.

Etgar (1978), Keegan (1984) e Terpstra (1983) sugerem que altos níveisexigidos de serviço (como é o caso de produtos sofisticados ou personalizados,

anteriormente comentados) são favorecidos pela integração dos canais, uma vez

que a empresa entrante pode monitorar mais de perto seus intermediários e a

satisfação de seus clientes com os serviços prestados.

Page 58: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

45

Anderson e Gatignon (1986, p.20) propõem ainda que “modos de entrada de alto

grau de controle são mais eficientes quanto maior for o valor da marca em

questão. As empresas detentoras de marcas valiosas buscam manter o controle

para garantir a qualidade dos seus produtos e para protegê-las da deterioração de

imagem causada por imitações ou por utilização local inconsistente com o

posicionamento global. Os autores sugerem ainda que modos de alto controle são

especialmente apropriados no caso de marcas fortes, de veiculação intensa.

O Quadro II.5 apresenta um resumo da influência exercida pelos diversos fatores

mencionados na decisão sobre o grau de controle exercido pela empresa entrante

no mercado estrangeiro sobre sua cadeia de valor .

As duas principais limitações da Análise de Custos de Transação são apontadas

por Anderson e Gatignon (1986): primeiro, não levar em consideração as

restrições de governos locais e do próprio mercado, que podem reduzir

consideravelmente o número de opções de modo de entrada; e segundo, que

questões de estratégia global da empresa podem afetar sua decisão a nível local

em termos de controle exercido.

2.9. Internacionalização de Empresas de Serviços

Baseado em um estudo de Weinstein (1977), Erramilli (1990) classifica as

empresas de serviço entrantes em mercados estrangeiros em “Client Followers”

(“Seguidores de Clientes”) e “Market Seekers” (“Investigadores de Mercado”).

“Client Followers” são empresas que partem para o mercado estrangeiro

“primariamente para servir as filiais em outros países dos seus clientes

domésticos” (p.53), ou seja, que buscam acompanhar seus clientes em suas

operações globais e que, por conhecê-los previamente, percebem menor

incerteza nos novos mercados e tendem a uma maior integração das suas

atividades, em busca de um maior grau controle e customização de seus serviços.

Page 59: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

46

Quadro II.5 : Fatores que influenciam a decisão da empresa entrante nomercado estrangeiro quanto à integração vertical

Favorecem aintegração vertical

Não favorecem aintegração vertical

Especificidade dos ativos Volatilidade do ambiente

Incerteza interna Distância sócio-cultural

Produtos novos Produtos maduros

Mercado muito competitivo Mercado pouco competitivo

Canal de alto volume (vendas) Canal de baixo volume (vendas)

Competição por diferenciação Competição por preço

Produtos personalizados

Produtos de alta sofisticação

Alto nível de exigência de serviço

Alto valor de marca

“Market Seekers”, por sua vez, são empresas que vão para países estrangeiros

com a finalidade primeira de servir os clientes locais e que, portanto, tendem a

escolher modos de entrada de menor controle, por terem uma maior percepção

de incerteza e risco.

Erramilli (1990) propõe ainda a classificação dos serviços em hard services e soft

services. Hard services são serviços que, à semelhança de grande parte dos bens

e produtos manufaturados, podem ter sua produção e consumo separados, o que

permite que sejam exportados. Exemplos de hard services são projetos de

arquitetura e engenharia, que podem se tornar tangíveis e ser facilmente enviados

a longa distância, através de desenhos, relatórios e disquetes. Já os soft services

não admitem a separação entre sua produção e seu consumo, exigindo a

proximidade física e a interação entre o prestador do serviço e o cliente, o que

Page 60: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

47

inviabiliza sua exportação. As empresas de soft services, como, por exemplo,

assistência médica, fast-food, aluguel de automóveis e hotelaria, tendem a

procurar modos de entrada no mercado estrangeiro de baixo a médio a alto

controle, chegando eventualmente ao investimento direto.

Erramilli e Rao (1993) estudam a internacionalização de empresas de serviços à

luz da Análise de Custos de Transação. Segundo os autores, as conseqüências

do comprometimento de recursos por parte das empresas de serviços, ao

escolherem modos de entrada de alto controle, não são tão graves como no caso

das manufaturas, em razão de os custos fixos das primeiras serem, em geral,

menores (em alguns casos, apenas o estabelecimento de um escritório). O

principal ativo das empresas de serviços são, muitas vezes, pessoas, as quais

costumam ter uma mobilidade maior do que outros tipos de ativos. Os autores

também observam que, com exceção de alguns negócios que exigem

investimentos de larga escala em instalações e equipamentos (como hospitais,

hotéis e companhias aéreas), as empresas de serviço podem, em geral exercer

controle sobre suas atividades a custo relativamente baixo. Assim, poder-se-ia

considerar que as empresas de serviços, salvo exceções, têm baixa

especificidade de ativos e tendem a escolher modos de entrada de “controle

partilhado”, isto é, modos de baixo a médio controle.

Erramilli e Rao (1993) indicam motivos não relacionados à Análise de Custos de

Transação que podem, contudo, levar as empresas de serviço a buscar uma

maior integração das suas atividades no estrangeiro : um maior grau de controle

pode facilitar, por exemplo, a integração global e a coordenação de estratégias de

corporações multinacionais e evitar eventuais conflitos de interesses com

parceiros ou fornecedores. Os autores relacionam ainda fatores “moderadores”,

que podem afetar a relação inversa entre especificidade de ativos e a procura por

modos de menor controle. São eles :

• a intensidade de capital, que, segundo os resultados obtidos no estudo, em

menor grau reforça a relação, mas em maior grau a enfraquece;

• a inseparabilidade entre produção e consumo dos serviços, que favorece a

integração das atividades pela necessidade de monitoramento da performance

do pessoal envolvido no atendimento aos clientes;

Page 61: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

48

• o “risco do país”, que favorece os modos de entrada de menor integração pela

flexibilidade que eles proporcionam em caso de mudanças no ambiente de

negócios;

• o tamanho da empresa, em razão de aquelas de maior porte poderem, em

geral, absorver mais riscos que as pequenas, e assim aproveitar melhor as

vantagens decorrentes de um maior grau de controle.

Erramilli e Rao (1993, p.33) resumem assim os resultados do seu estudo :

“Empresas de serviço geralmente tendem a favorecer modos de controle

partilhado mais intensamente quando têm baixa especificidade de ativos (do

que quando tem alta especificidade). Esta tendência é reforçada ...

1) quando a produção e o consumo dos serviços são inseparáveis;

2) quanto maior for o “risco do país”;

3) quanto menores forem as empresas”.

2.10. Estudos Anteriores Sobre Internacionalização de Empresas Brasileiras

Uma série de estudos sobre a internacionalização de empresas brasileiras tem

sido produzida desde a década de 70; para efeito de resumo, e por sua relação

com o escopo deste trabalho, foram selecionados os três a seguir.

2.10.1. Leite, Rocha e Figueiredo (1988)

Uma abordagem à questão da distância psíquica foi realizada por Leite, Rocha e

Figueiredo (1988), em seu estudo “A Percepção cultural e a decisão de exportar”.

Nesse trabalho, os autores investigam “até que ponto a percepção de diferenças

e semelhanças culturais entre países, por parte dos executivos de topo de

exportação, afeta a decisão de mercados de exportação nas empresas nacionais

privadas, produtoras de manufaturados” (p.61).

A partir de entrevistas realizadas com 171 executivos de 153 empresas

selecionadas do Anuário CACEX de 1976, os autores procuraram testar a

Page 62: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

49

existência de correlação positiva entre a percepção de diferenças e semelhanças

culturais entre países e as decisões de mercados para exportação. Para tanto,

consideraram-se como variável dependente “o país para o qual a empresa

exporta” (em um total de 35 países) e como variáveis independentes a percepção

global da imagem do país em questão, o idioma, os costumes e raças do mesmo,

e ainda o domínio do idioma e o tempo de permanência do executivo no país. A

análise dos dados indicou, entre outros resultados que ...

a) os dez principais países para os quais um maior número de empresas da

amostra exportavam eram, em ordem decrescente, Bolívia, Paraguai, Estados

Unidos, Uruguai, Venezuela, Chile, Alemanha Ocidental, Argentina, México e

França;

b) os principais países conhecidos (já visitados) por um maior número de

empresários eram, também em ordem decrescente, Argentina, Estados Unidos,

Uruguai, França, Paraguai e Alemanha Ocidental;

c) Portugal, Uruguai e Argentina foram considerados como países “semelhantes”

ao Brasil, em termos de percepção global, enquanto Venezuela, Colômbia,

Espanha, México, Paraguai, Bolívia, Peru e Chile foram considerados “um pouco

semelhantes”. Observou-se ainda que França e Alemanha Ocidental,

anteriormente citadas, foram consideradas respectivamente “um pouco diferente”

e “diferente” do Brasil.

Para os autores, os resultados obtidos indicam que “existe forte correlação

positiva entre a afinidade cultural que os executivos de topo de exportação

sentem para com determinado país e as decisões empresariais que escolhem

esse mesmo país como mercado para exportação” (p.69). Os autores observaram

ainda que o fato de alguns países considerados como afins não representarem

mercados significativos de exportação parecia ser explicado pela visão, por parte

dos executivos entrevistados, do mercado externo como uma simples extensão

do mercado interno e pela atitude passiva com relação à atividade de exportação,

encarada em muitos casos apenas como um aproveitamento ocasional de

oportunidades ou incentivos.

Page 63: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

50

Leite, Rocha e Figueiredo (1988) concluem que

“É bem verdade que a decisão de exportar está sujeita, também, a outros

fatores que não os culturais; potencial de mercado, produto nacional bruto,

barreiras alfandegárias, frete e situação política do país importador são

apenas alguns dos fatores que limitariam ou impediriam uma empresa de

exportar para um país.

Não é menos verdade, porém, que a decisão de exportar deve ser vista muito

mais como o resultado de inclinações, preferências e intuições do executivo-

chefe do que como resultado de um processo mental estruturado, informado

por fatores aparentemente racionais” (p.71).

Cabe aqui uma observação final a respeito do trabalho de Leite, Rocha e

Figueiredo (1988) : seus dados de pesquisa podem ser considerados um tanto

defasados e carentes de atualização, em função das mudanças nos cenários

sócio-econômico, comercial e geopolítico internacionais que ocorreram desde a

época da sua realização, em parte como conseqüências do fenômeno da

globalização. Um outro fator, específico e dos mais relevantes, de modificação da

situação então levantada foi a criação do Mercosul, já na década de 90, que

tornou Argentina, Paraguai e Uruguai (além de Bolívia e Chile, por ora sócios do

bloco) países diferenciados como mercados de exportação para um número

certamente maior de empresas brasileiras, não só do setor de manufatura, como

também de serviços. Parecem, contudo, permanecer válidas muitas das

conclusões dos autores a respeito dos fatores “racionais” e de ordem

comportamental que afetam a escolha pelos executivos de empresas brasileiras

de mercados para ingresso e internacionalização de suas atividades.

2.10.2. Grael e Rocha (1988)

Em seu estudo “O Processo de internacionalização de uma empresa”, Grael e

Rocha (1988, p.128-156) analisam o caso de internacionalização da Rede Globo

de Televisão, caracterizando-o como “clássico exemplo de como uma empresa,

tendo obtido o domínio de vasto mercado interno, ingressa no mercado

internacional através das exportações, chegando finalmente ao investimento

Page 64: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

51

direto” (p.151).

Os autores descrevem a trajetória da Rede Globo desde a sua fundação, em

1964, até a época da realização do estudo, em 1987. Partindo de um raio de

atuação local, a empresa se expandiu para um raio regional, depois nacional e,

finalmente, internacional. A decisão da empresa de exportar seus produtos deu-se

como “um imperativo estratégico para a continuidade do crescimento e expansão

da empresa” (p.152), uma vez que sua participação no mercado nacional era

considerada como tendo atingido um nível de saturação. Segundo os autores,

outros fatores de motivação à exportação foram o reforço de imagem da rede e de

sua posição competitiva no mercado nacional, sem que, no entanto, houvesse

maiores expectativas quanto à lucratividade da atividade exportadora.

O primeiro mercado estrangeiro escolhido pela Rede Globo foi Portugal, em

função da similaridade cultural e lingüística com o Brasil (o que demandava

menores investimentos, por exemplo, em dublagem dos programas).

Posteriormente, a empresa expandiu a exportação de seus programas -

primeiramente telenovelas e depois outros gêneros - para a América Latina,

Europa (a partir da Itália) e Estados Unidos (basicamente para a parcela de

telespectadores de língua espanhola).

Em seu primeiro momento de internacinalização, a Rede Globo valeu-se de redes

estrangeiras para a adaptação e distribuição de seus produtos13, num segundo

momento, com sua posição já fortalecida nos mercados estrangeiros, a empresa

partiu para a adaptação e distribuição próprias e passou a oferecer outros

serviços, como assistência técnica e treinamento para emissoras estrangeiras.

Em 1985, a empresa consolidou sua estratégia de penetração no mercado

internacional com a compra da TV Montecarlo, sediada no Principado de Mônaco,

e cujo sinal abrangia parte da França e da Itália.

O histórico de internacionalização da Rede Globo parece estar em conformidade

com o padrão de comprometimento seqüencial previsto pela Teoria de Estágios :

a empresa claramente progrediu no mercado internacional desde países de

menor “distância psíquica” em direção a países culturalmente mais distantes,

13 a Rádio e Televisão Portuguesa (RTP), para Portugal , e a Televisa (rede mexicana), para omercado latino-americano.

Page 65: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

52

dosando progressivamente o grau de comprometimento, risco e controle de suas

atividades.

2.10.3. Brasil et alli (1996)

Em sua “Pesquisa de Campo sobre a Internacionalização de Empresas

Brasileiras”, Brasil et alli (1996, p.57-65) realizam um estudo sobre empresas

brasileiras com operações no exterior14, classificando cinco modos básicos de

presença física destas empresas em mercados estrangeiros (não exclusivamente

no Mercosul), conforme pode ser visto no Quadro II.6.

Quadro II.6 : Modos básicos de presença física de empresas brasileiras emmercados estrangeiros

(Adaptado de Brasil et alli, 1996, p.58-59)

Modo de presença Alguns exemplos

Escritório de vendas ou

assistência técnica, ou agência

Natura, Cemig, Sadia, Weg, Caio, Usiminas,

Eliane, Bamerindus, Itaú, Aços Villares

Depósito Freios Varga, Caio, Tigre, Grendene

Unidade de produção(própria ou em associação)

Metal Leve, Freios Varga, Usiminas, Tigre,

Biobrás, Andrade Gutierrez, Localiza, Caio,

Oxford Cerâmica, Edel, Gazola, Renner ,

Brahma, Odebrecht

Centros de pesquisa Metal Leve, Biobrás, Forja Taurus

Escritório de compras Andrade Gutierrez, Usiminas, Mangels,

Duratex, Inepar

14 relacionadas a partir de uma amostra de 160 empresas de variados setores, das quais 57

enviaram resposta a um questionário padrão.

Page 66: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

53

Brasil et alli (1996) identificam também nove fatores determinantes da expansão

internacional de empresas brasileiras, os quais são freqüentemente reforçados

pela iniciativa e orientação internacional de seus líderes; são eles (em ordem

decrescente de importância) :

1) Necessidade de estar próximo do cliente

2) Conquista de novos mercados

3) Acesso à tecnologia

4) Estar presente em blocos regionais

5) Fontes internacionais de financiamento

6) Ultrapassar barreiras protecionistas

7) Ajustar-se às regulamentações do mercado local

8) Acesso à rede de fornecedores

9) Reação ao comportamento da concorrência.

No mesmo trabalho, os autores relacionam ainda os principais obstáculos à

internacionalização apontados pelas empresas pesquisadas (em ordem

decrescente de importância) :

1) Aspectos burocráticos e de legislação do Brasil

2) Aspectos financeiros (dificuldade de acesso às fontes internacionais de

financiamento)

3) Aspectos legais do país receptor (complexidade dos contratos)

4) Diferenças culturais; e

5) Relações e legislação sindicais.

Page 67: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

54

Finalmente, os autores listam as maiores dificuldades que as empresas brasileiras

pesquisadas encontram na gestão de negócios internacionais :

1) Acesso à informação

2) Identificação de parceiros

3) Carência de recursos financeiros

4) Diferenças culturais

5) Falta de pessoal capacitado

6) Desconhecimento da prática de negócios em outros países

7) Diferenças nas práticas de relações sindicais e trabalhistas.

Page 68: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

55

CAPÍTULO III

METODOLOGIA DO ESTUDO

3.1. Problema e Perguntas de Pesquisa

Este trabalho propõe-se a investigar o processo de internacionalização de uma

empresa brasileira, com ênfase no âmbito do Mercosul. Dois aspectos

relacionados ao início deste processo representam o foco do estudo : a tomada

de decisão de internacionalização e a definição do modo de entrada em um

determinado mercado estrangeiro.

As principais perguntas suscitadas pelo problema de pesquisa descrito acima

são:

a) Como se deu a tomada de decisão de internacionalização da empresa?

a.1) quais as características pessoais do tomador de decisão? Ele tem

orientação internacional? É tolerante a riscos e incerteza?

a.2) que fatores econômicos e comportamentais influenciaram a tomada de

decisão?

a.3) quais foram as percepções da empresa com relação aos estímulos,

barreiras, oportunidades e riscos do processo de internacionalização?

b) Como se deu, efetivamente, o ingresso no mercado estrangeiro?

b.1) qual o modo de entrada escolhido no mercado em questão?

b.2) qual foi a percepção da relação entre risco e retorno e do controle das

atividades referentes ao modo de entrada escolhido?

Page 69: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

56

3.2. Método de Pesquisa

3.2.1. Condições para a Escolha do Método

Os trabalhos de pesquisa em Ciências Sociais podem se valer de métodos

quantitativos ou qualitativos. Enquanto os métodos quantitativos têm por objetivo

encontrar medidas em determinadas populações, diretamente ou através de

inferência estatística em amostras, os métodos qualitativos não procuram

propriamente medidas, mas sim realizar análises em profundidade, buscando

descrever e entender o relacionamento entre os fatores envolvidos no problema

em estudo.

Yin (1989) classifica em cinco as estratégias ou métodos básicos de pesquisa

social: experimentos, surveys, análises de arquivos (por exemplo, estudos

econômicos), histórias e estudos de casos. Segundo o autor, três são as

condições que determinam qual o melhor método a ser empregado em um

determinado trabalho:

a) o tipo de pergunta de pesquisa;

b) o grau de controle que o pesquisador tem sobre o evento em estudo;

c) o evento em foco ser contemporâneo ou histórico.

O Quadro III.1 relaciona essas três condições a cada uma das estratégias de

pesquisa, indicando assim qual a mais indicada para cada tipo de estudo.

Segundo Yin (1989), a primeira indicação de qual estratégia de pesquisa deve ser

seguida vem da forma da pergunta de pesquisa. Perguntas do tipo “o que”,

“quem”, “onde”, e “quanto” sugerem a utilização de surveys ou análises de

arquivos, por se prenderem mais à determinação da incidência ou freqüência de

eventos. Por sua vez, perguntas do tipo “como” e “por que” apontam para a

utilização de experimentos, histórias e estudos de casos, por explorarem o

contexto e a dimensão temporal nos quais o fenômeno se desenvolve, sem maior

preocupação com medidas de freqüência.

Page 70: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

57

Quadro III.1 : Condições para Escolha de Estratégia de Pesquisa

Estratégia Forma da Perguntade Pesquisa

Controle sobre oevento em foco ?

Foco em eventocontemporâneo ?

Experimento “como”, “por que“ sim sim

Survey “o que”, “quem”,

“onde”, “quanto”não sim

Análise de Arquivo “o que”, “quem”,

“onde”, “quanto”não sim ou não

História “como”, “por que“ não não

Estudo de Caso como”, “por que” não sim

Fonte : Yin (1989, p.17)

Uma vez definida a pergunta de pesquisa, ainda de acordo com Yin (1989), deve-

se observar se o pesquisador tem controle sobre o evento, e se este é

contemporâneo ou passado. Por exemplo, para perguntas do tipo “como” e “por

que“, a história deve ser a estratégia preferida se não houver controle sobre o

evento, pelo fato de este estar absolutamente situado no passado, não havendo

testemunhas vivas para descrevê-lo, o que força o pesquisador a valer-se de

fontes documentais de evidência. No caso de um evento contemporâneo, o

estudo de caso apresenta vantagens sobre a história, por permitir ao

pesquisador, além da consulta a documentos, a observação direta e a realização

de entrevistas.

Com base no exposto no Quadro III.1, pode-se afirmar que o estudo de caso é a

estratégia de pesquisa que apresenta mais vantagens quando uma pergunta do

tipo “como” ou “por que” está sendo associada a um conjunto de eventos

contemporâneos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle. Este

parece ser exatamente o caso do trabalho ora apresentado.

3.2.2. O Método do Estudo de Caso

Page 71: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

58

3.2.2.a. Definição do Método

O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa freqüentemente empregada em

Ciências Sociais, como, por exemplo, a Sociologia, a Antropologia e a

Administração. Yin (1989, p.23) propõe uma definição mais “técnica” para o

estudo de caso, como uma “pesquisa empírica ...

a) que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto na vida

real;

b) cujas fronteiras entre o fenômeno e seu contexto não são bastante claras;

c) e que usa múltiplas fontes de evidência”.

Goode e Hatt (1975, p.432-433), por sua vez, definem o estudo de caso como

“um modo de organizar os dados em termos de uma determinada unidade

escolhida, como a história de um indivíduo ou de um grupo, ou de um

processo social delimitado”, utilizando-se técnicas como entrevistas,

questionários, consultas a documentos etc. Para estes autores, “a

manutenção do caráter unitário do caso é auxiliada pela amplidão e níveis

acrescentados aos dados obtidos, o uso de índices e tipologias, e a ênfase

na interação em uma dimensão de tempo” (p.433).

Yin (1989) afirma ainda que “a essência de um estudo de caso, sua tendência

central, é que ele tenta iluminar uma decisão ou um conjunto de decisões, por

que elas foram tomadas, como elas foram implementadas e com que resultado”

(p.22-23). Nesta definição, segundo o autor, a palavra “decisões” poderia ser

substituída, por exemplo, por “organizações”, “programas” ou “processos”.

3.2.2.b. Classificação do Método

Um estudo de caso pode basear-se em um único caso ou em múltiplos casos,

além de poder ser exploratório, descritivo ou explanatório. Yin (1993) resume as

diferentes combinações destas possibilidades através de uma matriz 2x3, em um

total de seis possíveis classificações para um estudo de caso. Assim, um estudo

de caso pode ser :

Page 72: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

59

• simples e exploratório • simples e descritivo • simples e explanatório

• múltiplo e exploratório • múltiplo e descritivo • múltiplo e explanatório

Um estudo de caso é dito exploratório quando busca definir as questões e

hipóteses para um estudo subseqüente (não necessariamente em forma de caso)

ou determinar a exeqüibilidade de um procedimento de pesquisa. Um estudo de

caso descritivo é aquele que apresenta a descrição abrangente de um evento

dentro do seu contexto. E, finalmente, um estudo de caso explanatório apresenta

dados que dão suporte a uma relação de causa e efeito verificada em um evento

(Yin,1993).

Este trabalho pode então ser classificado como um estudo de caso simples e

exploratório: simples porque aborda um único caso, e exploratório porque aborda

um assunto pouco estudado até o momento, o da tomada de decisão de

internacionalização de uma empresa brasileira no Mercosul e da escolha do

modo de entrada no mercado estrangeiro, levantando questões a serem

respondidas por ele próprio e por trabalhos a serem futuramente realizados.

3.2.2.c. Críticas ao Método

A utilização do estudo de caso como método de pesquisa social empírica tem

sido ao longo do tempo alvo de algum preconceito no meio acadêmico. Algumas

pessoas afirmam que o estudo de caso sofre de uma certa falta de rigor,

adjetivando-o de “fácil” ou “pouco estruturado”; outras alertam que o método pode

levar a conclusões equivocadas por influência de vieses ou de falsas evidências.

A estas alegações Yin (1989) responde que os problemas citados não são

exclusivos do estudo de caso, mas comuns a outros métodos. Vieses podem

também ocorrer, por exemplo, na formulação de questionários de surveys. Aos

que consideram os métodos quantitativos mais fidedignos, Campomar (1991,

p.96) lembra da necessidade de precisão não apenas no tratamento estatístico

dos dados, mas também na fase de coleta dos mesmos; segundo o autor, “o que

se vê, muitas vezes, são tratamentos estatísticos com técnicas sofisticadas sobre

dados mal coletados, nos quais aparecem amostras mal feitas (não aleatórias),

Page 73: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

60

além de mau uso de testes paramétricos de inferência”.

Outro tipo comum de crítica ao método do estudo de caso é referente à sua

dificuldade de generalização a partir de um estudo individual. Yin (1989, p.21)

rebate esta crítica afirmando que

“os estudos de caso, assim como os experimentos, são generalizáveis para

proposições teóricas, e não para populações ou universos. O estudo de caso

não representa uma amostra, e o objetivo do pesquisador é expandir e

generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências

(generalização estatística)”.

Portanto, os problemas mais comumente apontados no estudo de caso podem

ser também considerados inerentes a outros métodos mais aceitos de pesquisa.

O preconceito reinante quanto ao estudo de caso pode ser talvez atribuído à sua

introdução relativamente recente na pesquisa social; a pouca literatura existente a

seu respeito e a pouca experiência na sua aplicação contribuíram para que

alguns trabalhos pioneiros apresentassem falhas e dessem ensejo às críticas de

parte do meio acadêmico. Campomar (1991, p.97) sugere que

“o estudante que esteja trabalhando em sua dissertação de mestrado ou tese

de doutoramento em Administração deve ter a coragem de usar o método de

estudo de caso em suas pesquisas, quando indicado, sem intimidar-se por

possíveis preconceitos e sem se deixar seduzir por técnicas quantitativas

tornadas acessíveis pela moderna tecnologia de processamento de dados”.

3.3. Escolha do Caso

O caso a ser estudado - o da Amil (Assistência Médica Internacional) - foi

selecionado a partir de um conjunto de experiências notórias de

internacionalização de empresas brasileiras, divulgadas nos meios acadêmicos e

na imprensa, através de periódicos especializados em negócios (Marketing,

Management, Economia, Comércio internacional etc.) ou de interesse e

circulação gerais.

Page 74: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

61

A relevância do caso selecionado está relacionada ao fato de a Amil ser uma das

principais empresas do seu setor (o de assistência médica privada) no Brasil, e

ter sido pioneira no investimento direto em outro país do Mercosul, no caso a

Argentina.

Contribuiu também para a escolha da Amil como objeto deste estudo a facilidade

de contato e a receptividade dos seus dirigentes à realização do mesmo.

3.4. Fontes de Informação e Coleta de Dados

Na primeira etapa da pesquisa, ao mesmo tempo em que se procedeu à revisão

da literatura sobre a tomada de decisão de internacionalização de empresas,

procurou-se coletar a maior quantidade possível de informações publicadas em

jornais e revistas sobre o assunto em estudo, com ênfase no material disponível a

partir da época da constituição do Mercosul (1991) e relacionado a empresas

brasileiras de diversos setores e indústrias.

Em um segundo momento, a partir da definição da Amil como objeto do estudo

de caso, procurou-se coletar as informações disponíveis especificamente sobre

essa empresa, em livros, revistas e jornais, nacionais e estrangeiros, e também

através de consultas à homepage da empresa na Internet (no Brasil e na

Argentina) e de contatos informais com pessoas com conhecimento sobre a

organização. Este levantamento procurou retroceder no tempo até o início da

década de setenta, época da fundação da Amil.

Dentre as fontes consultadas, tiveram especial destaque as revistas Exame, Veja

e Istoé, com um bom número de matérias publicadas ao longo dos anos a

respeito da Amil e do seu setor como um todo; os jornais O Globo, Jornal do

Brasil e, principalmente, Gazeta Mercantil, que contribuiu com rico material

publicado no seu caderno “C”, especializado em empresas e negócios, e na

“Gazeta Mercantil Latino-Americana – Semanário do Mercosul”. Em termos de

meios eletrônicos de informação, obtiveram-se preciosas informações nas

homepages da Amil no Brasil (http://www.amil.com.br/) e na Argentina

(http://www.amil.com.ar/), e também nos CD-ROM’s da Revista Exame, da

Page 75: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

62

Gazeta Mercantil e do Banco Mundial, este especialmente com relação a

informações macroeconômicas incluídas na introdução do trabalho.

Finalmente, a partir dos conceitos apreendidos da revisão bibliográfica, e de

posse de informações relevantes sobre o histórico e a situação atual da Amil,

estruturou-se um questionário básico, que procurou abranger e investigar em

profundidade as questões de pesquisa.

O questionário foi aplicado em entrevistas realizadas em fevereiro de 1998 na

sede da empresa em Buenos Aires, Argentina, junto ao seu principal executivo

naquele país, o Dr. Paulo Marcos Senra Souza (Presidente da Amil Argentina) e à

sua Gerente de Marketing, Sra. Maria Eugenia Nájera. Para evitar a perda de

informações e facilitar a posterior transcrição dos dados, as entrevistas foram

gravadas em fitas K7, em um total aproximado de duas horas. Por ocasião da

entrevista, coletou-se também interessante material promocional da empresa na

Argentina e notas e matérias publicadas a seu respeito na imprensa daquele país.

Todo esse material integra o arquivo de dados sobre internacionalização de

empresas do COPPEAD/UFRJ, tendo sido colhido através de financiamento do

PRONEX - Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (FINEP/CNPq/CAPES).

O Anexo II apresenta o roteiro básico utilizado para a entrevista.

3.5. Análise dos Dados

A análise do caso em estudo está organizada em torno das perguntas de

pesquisa anteriormente definidas, que se referem aos dois problemas básicos

enfocados pelo estudo, ou seja, a tomada de decisão de internacionalização e a

escolha do modo de entrada no mercado estrangeiro. Assim, procuraram-se

resgatar informações na descrição do caso que esclarecessem cada uma dessas

perguntas e buscou-se verificar se as observações feitas encontravam ou não

suporte, em termos de previsão ou explicação, nos conceitos levantados na

revisão da literatura.

Page 76: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

63

3.6. Limitações do Estudo

As limitações deste trabalho são basicamente de três naturezas: as decorrentes

do próprio método do estudo de caso, as decorrentes da dificuldade de acesso

aos dados e as decorrentes das percepções dos entrevistados.

3.6.1. Limitações do Método

O estudo de caso não permite generalizações para o universo em questão, neste

caso o de empresas brasileiras em processo de internacionalização no Mercosul.

No entanto, determinados aspectos desse processo podem ocorrer em

circunstâncias semelhantes às enfocadas neste estudo.

3.6.2. Dificuldade de Acesso aos Dados

Alguns dados não puderam ser coletados, o que ocorreu por simplesmente não

existirem, ou por serem confidenciais ou ainda por não terem sido

disponibilizados pela empresa.

3.6.3. Percepções dos entrevistados

É comum na realização de entrevistas para a realização de estudos de casos

ocorrerem vieses cognitivos ou seletividade de memória por parte dos

entrevistados.

Page 77: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

64

CAPÍTULO IV

ESTUDO DE CASO

4.1. Descrição do caso Amil

4.1.1. O sistema de saúde pública no Brasil

Até a década de sessenta, os serviços de saúde eram, em geral, prestados à

população brasileira por grandes hospitais públicos (como, no caso do Rio de

Janeiro, o Miguel Couto, o Souza Aguiar e o Getúlio Vargas), que funcionavam

como pronto-socorros. Os demais tipos de atendimento (ambulatorial, clínico e

cirúrgico) eram realizados em grandes institutos de aposentadoria e pensão,

criados na era Vargas para atendimento por categoria profissional. No Rio de

Janeiro, institutos como o IAPI (Hospital de Ipanema, destinado aos industriários),

IAPB (Hospital da Lagoa, para os bancários) e o IAPM (Hospital do Andaraí, para

os marítimos), entre outros, eram considerados modelos de referência.

Com a criação do INPS, em 1966, o atendimento médico ao trabalhador foi

centralizado, e a qualidade dos serviços prestados por aqueles institutos caiu

sensivelmente. Contribuíram para esta perda de qualidade do sistema público de

saúde ao longo dos anos fatores como :

• o aumento dos custos médicos, motivado pela crescente sofisticação

tecnológica dos tratamentos, pela maior participação de idosos na população e

pelo surgimento ou recrudescimento de doenças de tratamento prolongado (e

por vezes incuráveis), como câncer, AIDS e tuberculose;

• as restrições orçamentárias aos serviços públicos de saúde, que provocam um

desequilíbrio entre a oferta e a demanda dos mesmos, causa das longas filas

de espera por um atendimento muitas vezes insatisfatório;

Page 78: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

65

• e a burocracia característica dos sistemas públicos, que tornam as despesas

administrativas muitas vezes tão ou mais pesadas do que as despesas

médicas propriamente ditas.

Já nos anos sessenta surgiram as primeiras iniciativas isoladas de medicina de

grupo, representadas por convênios privados entre médicos e determinadas

empresas e comunidades. Na década de setenta, em função da demanda por

serviços de saúde de melhor qualidade, expandiu-se o número de empresas de

medicina de grupo, ao mesmo tempo em que companhias seguradoras passaram

a ampliar os seus serviços para a área de saúde. O crescimento do sistema

médico particular desde aquela época foi estimulado ainda por outros fatores,

como a perda de poder aquisitivo da população – um plano para toda a família

poderia custar, muitas vezes, o valor de uma única ida a um consultório particular

- e a multiplicação das faculdades de medicina, que geraram um excesso de

oferta de profissionais sem outra opção de trabalho além das empresas de

medicina de grupo.

Atualmente, as empresas prestadoras de serviços particulares de saúde podem

ser divididas em cinco grandes grupos : os seguros saúde, as empresas de

medicina de grupo, as administradoras de planos de saúde, os convênios diretos

(ou de auto-gestão) e as cooperativas médicas (também conhecidas como

Unimed’s).

• Os seguros-saúde cobrem despesas com internações, cirurgias e honorários

médicos (e eventualmente consultas e exames) de acordo com os limites e

regras estabelecidos em uma apólice do segurado. Em geral, o segurado paga

suas despesas na ocasião do atendimento e é reembolsado posteriormente

pela companhia seguradora; ele tem ainda a liberdade para escolher médicos

e hospitais da sua preferência. Os seguros saúde têm legislação específica e

são fiscalizados pela Superintendência de Seguros Privados, a SUSEP.

• As empresas de medicina de grupo têm serviços próprios, ou seja, possuem

seus próprios hospitais e os médicos são seus funcionários (embora

eventualmente possam ser apenas conveniados). O associado não precisa

pagar nada por ocasião do atendimento, e ainda conta, em alguns casos, com

reembolso em caso de utilização de serviços não credenciados. Apesar de ser

Page 79: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

66

mais barata que o seguro saúde, a opção por uma empresa de medicina de

grupo implica na perda da liberdade de escolha de médicos e hospitais.

• Os planos de saúde funcionam de modo semelhante à medicina de grupo,

sendo a principal diferença a não existência, no caso dos planos de saúde, de

serviços próprios : todos os médicos, laboratórios e hospitais são apenas

prestadores de serviços (terceirizados). Os planos de saúde permitem uma

maior liberdade de escolha dos médicos e hospitais, sendo, no entanto, um

pouco mais caros que a medicina de grupo. Nenhum destes dois sistemas

dispõe ainda de legislação específica (que tem sido objeto de debates no

Congresso Nacional), sendo controlados até o momento apenas por um código

de ética e um conselho de auto-regulamentação.

• Os convênios diretos (ou de auto-gestão) são constituídos por empresas que

contratam diretamente os serviços de determinados médicos e hospitais, para

atendimento exclusivo aos seus funcionários e respectivos dependentes; em

alguns casos, essas empresas chegam a montar seus próprios ambulatórios. A

principal vantagem da auto-gestão é a inexistência de intermediários, com a

possibilidade de um melhor atendimento, uma vez que a própria empresa

administra e fiscaliza o convênio.

• Por fim, as cooperativas médicas, também conhecidas como Unimed’s, são

formadas e dirigidas por médicos, que são os próprios donos do negócio.

Hospitais, laboratórios e serviços auxiliares são, em geral, contratados.

O Quadro IV.1 apresenta um quadro geral da participação das empresas dos

diferentes tipos no mercado de medicina particular no Brasil.

Page 80: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

67

Quadro IV.1: Números do Sistema Médico Particular no Brasil (em milhares de usuários)

Empresa Seguros-Saúde

Med. grupoPlanos de saúde

Coop. médicas Auto-gestão Total Participação

%

Golden Cross 560 1.440 2.000 4,9

Sul América 1.700 1.700 4,2

Bradesco 1.600 1.600 3,9

Amil (RJ) 800 800 2,0

Amico (SP) 500 500 1,2

Intermédica (SP) 400 400 1,0

Outras 840 14.100 14.940 36,5

Unimed's (320 coop.) 10.000 10.000 24,4

Auto-gestão 9.000 9.000 22,0

Total 4.700 17.240 10.000 9.000 40.940 100,0

% Participação 11,5 42,1 24,4 22,0 100,0

Fonte : Jornal do Brasil, 24 de agosto de 1997, p. 28

4.1.2. A criação da Amil

As origens da Amil remontam ao ano de 1971, quando o médico então recém-

formado Edson de Godoy Bueno comprou uma casa de saúde em Duque de

Caxias (RJ), com trinta e cinco leitos dedicados principalmente a obstetrícia, e

que se achava à beira da falência. Ao adquirir o negócio, Bueno estava certo de

que o problema do hospital era má administração e de que qualquer melhoria no

atendimento às pacientes poderia tornar-se um grande diferencial numa das

regiões mais pobres e carentes de serviços de saúde no Estado do Rio de

Janeiro. Assim, graças a medidas simples e de custo relativamente baixo, como a

oferta de um refrigerante e de transporte grátis às gestantes que iam fazer

exames pré-natais, além de sorteios de fraldas, berços e outros produtos do seu

interesse, as pacientes passaram a se sentir tratadas com atenção e carinho, e

em pouco tempo o número de usuárias do hospital dobraria.

Page 81: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

68

Decorrido um ano da nova administração, o número de partos no hospital havia

saltado de setenta para cento e quarenta por mês, os salários estavam em dia, e

o serviço incluía um inédito plantão de pediatria. Em 1973, Bueno contrataria

outros três médicos que viriam a formar com ele uma equipe gerencial

responsável pelo contínuo crescimento do negócio – os doutores Jorge Ferreira

da Rocha, Paulo Marcos Senra Souza e Carlos Oswald Monteiro. Em 1978,

quando os seiscentos e quarenta partos por mês já faziam daquela casa de

saúde a maior maternidade do Estado do Rio de Janeiro, decidiu-se adquirir um

hospital geral da região e transformá-lo num hospital para crianças, que viria em

pouco tempo a ser reconhecido nos meios médicos como tendo uma das

melhores UTI’s pediátricas do país. Em seguida, mais dois hospitais, desta vez

voltados para adultos, seriam adquiridos e também transformados em modelos

de tecnologia avançada e inovação. Este conjunto de hospitais passaria a ser

administrado por uma empresa criada com este fim, a Empresa de Serviços

Hospitalares, a ESHO.

Em 1978, aquele grupo de quatro médicos percebeu uma oportunidade no setor

de medicina de grupo, cujos líderes vinham apresentando crescimento

vertiginoso. Ciente de que o atendimento médico era, de modo geral, abaixo das

expectativas dos clientes, e de que serviços com mais qualidade poderiam ser

oferecidos, a equipe resolveu criar seu próprio plano de saúde e ampliar para

todo Brasil a experiência bem-sucedida na Baixada Fluminense. Em 1979 era

fundada a Amil, Assistência Médica Internacional, com a missão de “garantir a

uma parcela importante da população acesso ao que a medicina tem de melhor”.

A favor da nova empresa contava o fato de seus dirigentes serem médicos,

donos de uma história de sucesso na administração de hospitais, e inspirar-se no

que havia de mais moderno no mundo em administração de sistemas de saúde.

Page 82: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

69

4.1.3. A estratégia para o crescimento

No início dos anos oitenta, a empresa líder do mercado de planos de saúde – a

Golden Cross - tinha uma participação de mercado mais de cem vezes superior à

da Amil. Mas a Amil tinha o ambicioso plano de tornar-se a líder, e para tanto

resolveu apostar na qualidade percebida de seus serviços. A estratégia adotada a

partir de então foi a de diferenciação em relação à líder, identificando inicialmente

seus pontos fracos, e buscando sempre a inovação em aspectos como produtos,

propaganda, posicionamento, vendas e relacionamento com fornecedores e

clientes.

4.1.3.a. Novos produtos

Um passo decisivo para a Amil em seus primeiros anos foi a oferta nos seus

planos de consultas e exames sem limites, numa época em que os concorrentes

permitiam poucas consultas por ano aos seus clientes. Esta oferta tornou-se

tangível através do lançamento do Cheque-Consulta e do Cheque-Exame.

Em 1984, a Amil inovaria mais uma vez com o lançamento do Plano Amil Dental,

o primeiro plano odontológico particular do país, que garantia aos clientes

(individuais e, principalmente, de empresas) um atendimento de qualidade em

uma rede de dentistas credenciados.

No ano de 1992 seria lançado o Clube do Amilzinho, uma promoção que

realizava uma ampla pesquisa junto a pais e mães de família (clientes ou não da

Amil), e distribuía brindes e revistas educativas a seus filhos. Os objetivos básicos

do Clube do Amilzinho eram três: primeiro, reforçar o relacionamento com os

clientes da empresa e estabelecer contato com não clientes, pela oferta de um

plano de saúde voltado para as necessidades específicas das crianças; segundo,

formar uma nova geração de clientes, as crianças então atendidas que iriam, no

futuro, formar suas próprias famílias e adquirir seus próprios planos de saúde; e,

por fim, formar um banco de dados específicos sobre a saúde das crianças,

permitindo assim o estabelecimento das condições e preços mais adequados nos

planos destinados a este nicho de mercado.

Page 83: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

70

Em 1993, a Amil lançava outra novidade no mercado: o Plano Amil Resgate

Saúde, que proporcionava o atendimento rápido em localidades de difícil acesso,

com a remoção – em ambulância ou helicóptero – do cliente para o hospital

credenciado mais próximo. A garantia da cobertura de todo o tratamento

(inclusive a internação) até que o paciente recebesse alta era inédita no Brasil e

no mundo. O Resgate Saúde era, assim como o Clube do Amilzinho, destinado a

reforçar o relacionamento com os clientes da Amil, que pagariam pelo novo plano

uma pequena taxa adicional em suas mensalidades, e a captar novos clientes.

No ano de 1995, a Amil dava novas provas da sua capacidade de inovação ao

lançar o Programa Amil de Medicamentos e a “carência zero” nos seus planos. O

programa de medicamentos concedia aos associados da empresa no eixo Rio-

São Paulo descontos na compra de um grande número de remédios (na sua

maioria de uso contínuo) nas lojas da rede Farmalife, pertencente ao grupo; já a

“carência zero” era uma condição de plano de saúde pela qual o associado, uma

vez aprovado em uma investigação a respeito da sua saúde, ficava dispensado

de cumprir prazos de carência para uma série de tratamentos, inclusive cirurgias.

4.1.3.b. A comunicação com os clientes

Outro importante elemento na estratégia de crescimento da Amil foi a

comunicação direta com seus clientes. As campanhas publicitárias da empresa,

nas quais foi investida boa parte da receita dos seus primeiros anos, procuravam

reforçar sua imagem e sua marca, ao mesmo tempo em que divulgavam um

número de telefone de fácil memorização, com a terminação 1000, que rimava

com o nome da empresa. O telefone da Amil ficou tão conhecido do grande

público, que freqüentemente ligavam para a empresa pessoas que, na verdade,

pensavam estar falando com algum concorrente ou com a própria Polícia ou

Corpo de Bombeiros.

Ao longo do tempo, os comerciais da Amil sempre tiveram a preocupação de

denotar a excelência dos seus serviços. Em alguns momentos, as campanhas da

empresa chegaram a ter um tom mais agressivo, partindo para um confronto

direto com a concorrência. Em 1989, por exemplo, a Amil divulgou em seus

Page 84: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

71

comerciais duas pesquisas que indicavam a preferência dos médicos pela Amil

em comparação com a Golden Cross. Se por um lado a polêmica despertada

colaborou para a maior retenção da sua marca, por outro causou à empresa

problemas na Justiça com os concorrentes e alguns órgãos da imprensa. Nos

anos seguintes, a Amil partiu para campanhas mais leves, que visavam a

construção da sua imagem através de sofisticados recursos de computação

gráfica, músicas de impacto e muita originalidade.

Outro fator relevante de diferenciação da Amil, de acordo com a idéia de

comunicação direta, foi a montagem de uma equipe própria de vendas, que

permitiu à empresa, ao contrário da concorrência (que se utilizava de

concessionárias), controlar de perto a qualidade e o impacto das vendas junto

aos clientes. Com o tempo, viriam a ser criadas também agências de

atendimento, voltadas para um contato personalizado, rápido e desburocratizado

entre cliente e empresa.

Criado em 1988, com a finalidade de servir como canal de acesso do cliente à

empresa, o sistema de Telemarketing da Amil se destina a resolver os problemas

dos clientes por telefone, desde o esclarecimento de dúvidas contratuais até o

fornecimento de orientações básicas por parte de um médico de plantão em

casos de emergência.

4.1.4. A capacitação profissional

A Amil investe uma média histórica de 3% do seu faturamento em treinamento,

destinado não somente aos seus funcionários, mas também a fornecedores e

clientes. Criada em 1993, a Escola Amil de Administração oferece programas

organizados em forma de palestras, cursos e seminários que contam com a

participação de autores e empresários de renome internacional. Entre esses

programas, destacam-se o Amil Business Administration, que visa atualizar o

pessoal a nível de chefia em relação aos mais avançados conceitos técnico-

administrativos, e o Amil Selling Administration, voltado para o desenvolvimento

dos profissionais da área comercial.

Page 85: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

72

Paralelamente aos programas na área comercial, a Amil disponibiliza aos seus

médicos credenciados uma biblioteca com um vasto acervo de livros, fitas de

vídeo e revistas especializadas, e o Programa de Apoio Científico (P.A.C.), que

fornece subsídios para pesquisas científicas e aperfeiçoamento profissional.

4.1.5. A diversificação dos negócios

Na década de oitenta, a Amil cresceu continuamente e firmou-se como uma das

maiores empresas do setor de serviços de saúde no Brasil. Paralelamente a este

crescimento, a Amil buscou diversificar seus negócios, realizando naqueles anos

uma série de aquisições e reestruturações, e transformando-se num grupo de

empresas, com atuação no Brasil e no exterior.

A diversificação do grupo Amil começou pela aquisição, em 1985, em conjunto

com a Golden Cross, dos Laboratórios Médicos Dr. Sérgio Franco. Já em 1986

era criada a Promarket, agência de propaganda e marketing responsável pelo

lançamento e acompanhamento de novos produtos e pelo planejamento e

execução das campanhas publicitárias do grupo Amil.

O primeiro grande empreendimento da Amil fora do setor de saúde foi a criação,

em 1987, da EAT (Empresa de Alimentação do Trabalhador). O mercado de

vales-alimentação, na época em franca expansão, era interessante para a Amil

na medida em que apresentava sinergia com o seu setor original, do ponto de

vista do público-alvo comum - as empresas-clientes - e permitia ao grupo valer-se

de vantagens competitivas desenvolvidas ao longo de anos no setor de planos de

saúde, tais como o poder de comunicação com o público (através da Promarket e

do Telemarketing), a força de vendas já existente e o conhecimento dos principais

canais de distribuição para os novos produtos, representados pelos

departamentos de Recursos Humanos das empresas já associadas. Também

fora do setor de saúde, viriam a ser criadas a Hangar 116 - uma agência de

viagens e turismo - e a Sociedade Agropecuária Imaculada Conceição, formada

por fazendas nos estados de Goiás e Pará.

Em 1994, seria lançada a rede Farmalife de drogarias (“farmashops”), atuante no

Page 86: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

73

Rio de Janeiro e em São Paulo, e na qual os associados dos planos de saúde

Amil poderiam dispor de descontos de até 50% em uma série de medicamentos.

Ao mesmo tempo em que se diversificava, o Grupo Amil passou a crescer para

fora do Estado do Rio de Janeiro. Em 1983, o grupo abriria filial em São Paulo;

em 1988, em Brasília; e, em 1989, em Curitiba. Através de um sistema de

franquias, a Amil está ainda presente no Maranhão, Piauí, Pará, Ceará, Goiás e

Rio Grande do Sul.

No final de 1997, o Grupo Amil, àquela altura atingindo um faturamento anual de

US$ 1,2 bilhão15, resolveu partir para uma reestruturação, com o objetivo de

novamente concentrar-se no seu negócio principal, o de saúde. Com isso, os

demais negócios passariam a ser vendidos ou terceirizados. Um exemplo deste

novo direcionamento foi a passagem do controle da EAT, em fevereiro de 1998,

para uma de suas maiores concorrentes, a Ticket.

À época da realização deste estudo, o Grupo Amil era constituído por cerca de

vinte empresas, estando as principais, em termos estratégicos ou de faturamento,

listadas no Anexo III.

4.1.6. A internacionalização da Amil

A globalização característica da década de 90 trouxe um cenário bem mais

competitivo ao mercado de medicina privada no Brasil, com a entrada de grandes

bancos nacionais (como o Bradesco e o Itaú) e a abertura a poderosos

competidores estrangeiros, os quais compraram ou se associaram a diversas

empresas já atuantes no país.

Em vez de vender ou associar a Amil a um desses grandes grupos internacionais,

Edson de Godoy Bueno decidiu enfrentá-los, partindo para a internacionalização

da empresa. Ao aceitar o desafio da globalização, duas eram as suas intenções:

diminuir a dependência em relação ao mercado brasileiro (“não colocar todos os

ovos no mesmo cesto”) e antecipar os movimentos dos novos concorrentes,

15 Gazeta Mercantil, 17/03/98, p. C-8

Page 87: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

74

aprendendo como eles atuavam em seu próprio território. O sonho de Edson

passava a ser transformar a Amil numa empresa global de saúde, com uma rede

de estabelecimentos e serviços médicos de alta qualidade destinados a atender

clientes que moram e viajam por todo o mundo.

A Amil partia, então, quase simultaneamente, para as suas duas primeiras

experiências de internacionalização: em 1994, os Estados Unidos; e, em 1995, a

Argentina.

4.1.6.a. A ida para os Estados Unidos

O ingresso da Amil nos Estados Unidos, origem de várias das grandes empresas

estrangeiras entrantes no mercado brasileiro de medicina privada, deu-se,

curiosamente, através de um negócio diferente da sua atividade principal. Em

1994, Edson de Godoy Bueno formou sociedade com um amigo norte-americano,

ex-colega de um curso em Harvard, proprietário de uma pequena rede de fast-

food, a Crocodile, com sede em Pasadena, na Califórnia. A Crocodile, que em

1998 pertencia ainda à Amil e contava com dez lojas, serviu como um meio de

conhecer a burocracia e o ambiente de negócios nos Estados Unidos, enquanto a

Amil tentava obter das autoridades a licença para operar no mercado norte-

americano de health care.

Já naquela época, a Amil passou a ser citada em revistas e livros especializados

em management como um caso de referência de inovação em marketing, e,

ainda em 1994, rompeu as barreiras da burocracia e da desconfiança americana,

conseguindo fundar no Estado de Nevada a Health Visions, primeira empresa de

origem estrangeira com licença para atuar em health care nos Estados Unidos.

Em 1998, além da unidade em Las Vegas (Nevada), a Amil International Health

Corporation mantinha uma sede em Austin (Texas) e um escritório central em

Miami (Flórida), cidade que recebe boa parte dos turistas brasileiros e argentinos

que visitam os Estados Unidos.

4.1.6.b. A ida para a Argentina

Page 88: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

75

A outra grande investida da Amil no estrangeiro deu-se na Argentina, em 1995.

Esse país representava um mercado atraente para a empresa por uma série de

razões :

• as facilidades promovidas pela consolidação do Mercosul, em termos de

abertura econômica e de movimentação de pessoas e capitais;

• a possibilidade de acompanhar o movimento de empresas brasileiras em

direção ao país vizinho, muitas delas clientes corporativos da Amil no Brasil.

• a Argentina era o maior mercado da América do Sul, depois do Brasil, e com

um grande potencial de crescimento, uma vez que apenas 7% dos argentinos

possuíam planos particulares de saúde (contra uma taxa de 30% no Brasil);

• o ambiente de estabilidade econômica existente no país desde o início dos

anos 90, após a implantação do Plano Cavallo;

• o nível sócio-econômico da população argentina era tradicionalmente mais

elevado que o brasileiro;

• o mercado local era pulverizado e não apresentava concorrentes poderosos;

• a proximidade geográfica, que permitia um vôo entre Buenos Aires e o eixo

Rio-São Paulo em menos de três horas;

• e a visibilidade que a empresa ganharia estando presente nos três maiores

centros urbanos do continente (São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires).

Page 89: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

76

4.1.7. A EAT na Argentina

A primeira experiência do grupo Amil na Argentina foi através da EAT (Empresa

de Alimentação do Trabalhador), dedicada à comercialização de refeições-

convênio. A EAT foi escolhida dentre as empresas do grupo para servir como

ponta-de-lança no país vizinho por ter uma estrutura relativamente simples e por

estar buscando uma alternativa às dificuldades enfrentadas por seu negócio no

mercado brasileiro, em função das altas taxas de inflação em vigor na ocasião.

As operações da EAT na Argentina começaram em 1993 e foram em um primeiro

momento muito bem sucedidas, graças a uma estratégia de diferenciação de

seus produtos e serviços com relação às duas empresas que até então

praticamente dividiam o mercado entre si (a Ticket e a Luncheon), e de foco

voltado a micro e pequenas empresas situadas na periferia de Buenos Aires.

Contudo, as reformas trabalhistas promovidas pelo governo argentino a partir de

1995, que estimulavam as empresas a reduzir os benefícios concedidos aos seus

empregados como uma forma de aumentar sua competitividade e combater o

desemprego no país, tornaram os negócios da EAT cada vez menos

interessantes. Uma vez tendo a empresa cumprido o seu papel de

“reconhecimento do terreno”, o grupo Amil resolveu vendê-la a um concorrente. O

presidente da Amil Argentina, Paulo Marcos Senra Souza, se referiu a este

episódio como um “golpe de sorte”, pois, apenas dois meses depois desta venda,

o governo argentino restringiu ainda mais a concessão de benefícios por parte

das empresas a seus funcionários, o que praticamente inviabilizou o mercado de

refeições-convênio.

4.1.8. A Amil na Argentina

No final de 1994, a Amil começou a atuar no seu negócio principal na Argentina,

realizando pesquisas de marketing e iniciando a contratação de pessoal e de

serviços médicos e hospitalares. Uma importante contratação foi a de Maria

Eugenia Nájera, professora universitária que coordenou as pesquisas e que viria

Page 90: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

77

a se tornar a gerente de marketing da Amil Argentina; foram também contratados

uma empresa local de relações públicas e assessoria de imprensa e um

advogado especializado na condução dos aspectos jurídicos e legais envolvidos

no estabelecimento da nova empresa.

4.1.9. O sistema de saúde pública argentino

A saúde pública na Argentina representa um mercado de US$ 20 bilhões anuais,

equivalentes a 7% do PIB e a um gasto de US$ 600 por habitante, taxas das mais

altas na América Latina16. Este sistema é basicamente administrado pela obras

sociales, instituições controladas por sindicatos de trabalhadores, num total de

duzentos e oitenta. Através das obras sociales, instituídas há mais de cinqüenta

anos, durante o governo Perón, os trabalhadores e seus familiares são assistidos

somente nos hospitais e postos de saúde mantidos pelos sindicatos de suas

respectivas categorias, para quem descontam parte (7% em média) de seus

salários.

Em uma tentativa de reduzir os custos das obras sociales, o governo argentino

vem nos anos 90 abrindo o mercado de saúde pública, através do incentivo à

maior participação das empresas privadas do setor. Apesar da resistência dos

sindicatos, a reforma tem avançado, e a idéia é de que os trabalhadores deixem

gradualmente de ser descontados em seus salários e passem a gastar o valor

equivalente no pagamento das mensalidades de planos de medicina privada.

No início de 1998, sete por cento da população argentina (cerca de dois milhões

de pessoas) dispunham de planos particulares de saúde. Este mercado, que

correspondia a US$ 2,3 bilhões anuais, estava pulverizado em cerca de duzentas

companhias, das quais a quase totalidade tinha origem nacional17. A líder em

faturamento era a Medicus, com US$ 200 milhões anuais, enquanto a empresa

que contava com o maior número de clientes era a Amsa, com 240.000 filiados,

16 Para efeito de comparação, o gasto anual por habitante com saúde no Brasil gira em torno deUS$ 240. 17 Atualmente alguns grupos estrangeiros, por exemplo americanos e suíços, já atuam no mercadoargentino através de aquisição de empresas locais.

Page 91: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

78

entre titulares e dependentes18.

4.1.10. O consumidor argentino

As pesquisas de marketing levantaram informações valiosas com relação ao

mercado de medicina privada na Argentina e ao comportamento de seus

consumidores. O argentino costuma ser, por natureza própria e em função dos

traumas adquiridos ao longo de uma série de planos econômicos mal sucedidos,

bastante cauteloso em seus relacionamentos comerciais e bancários; estima-se

que apenas 20% da população argentina tem contas em bancos, preferindo

guardar seu dinheiro “no colchão”. É um consumidor tremendamente exigente,

especialmente com relação a planos de saúde, pois busca manter a qualidade e

a abrangência dos serviços que lhe eram oferecidos pelo sistema público de

saúde; o argentino não briga tanto por preço, mas por cobertura : como não há

ainda coberturas mínimas claramente regulamentadas, ganham a preferência do

consumidor as empresas que oferecem os serviços mais abrangentes.

4.1.11. A contratação de pessoal

Ao mesmo tempo em que se realizavam as pesquisas de marketing, começavam

a realizar-se as primeiras contratações de pessoal, tarefa que apresentou

naquele primeiro momento alguma dificuldade. A idéia de absorver profissionais

do mercado local (evitando a importação de brasileiros), na tentativa de facilitar a

solução de problemas de comunicação, diferenças culturais e legislação,

esbarrou na dificuldade de selecionar pessoas que se adaptassem à mentalidade

inovadora da Amil com relação a serviços e que não tivessem os vícios de

comportamento herdados de um sistema fechado e sem estímulo à concorrência.

A esses problemas somava-se a inexistência de uma força de vendas de planos

de saúde profissionalizada, com conhecimentos sobre técnicas de vendas e

18 Gazeta Mercantil, 13/03/97, p.C-8

Page 92: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

79

sobre os produtos e serviços em si.

De modo geral, as primeiras contratações foram de pessoas com nível superior

atingidas pelo desemprego estrutural existente na Argentina, as quais receberam

treinamento para suas novas funções.

4.1.12. A estratégia de comunicação da Amil na Argentina

Para conquistar seu espaço no mercado argentino, caracterizado pela

estagnação e falta de competição, a Amil decidiu investir em um forte esquema

promocional baseado em uma linguagem diferenciada, buscando romper o

paradigma de comunicação de saúde então vigente no país. A idéia era adaptar a

estratégia de comunicação da Amil vitoriosa no Brasil - baseada em

informalidade, jingles contagiantes e uma imagem futurista - aos valores

argentinos. Na opinião de Maria Eugenia Nájera, “ enquanto os brasileiros vêem

as coisas em cores e em ritmo de samba, os argentinos as vêem em preto e

branco e em ritmo de tango”.

O posicionamento da empresa não se deu a nível de ação de vendas, com

distribuição de panfletos ou malas diretas com mensagens do tipo “reconsidere

seu orçamento de saúde”, mas a partir de um trabalho de imagem corporativa,

que mostrava clientes satisfeitos, médicos e funcionários entusiasmados, e

procurava reforçar o seu diferencial tecnológico sem deixar de lado uma forte

dimensão afetiva. Maria Eugênia declarou que eram “anúncios feitos na medida

dos clientes argentinos”.

Esta estratégia de comunicação, chamada de “promoção de impacto”, valeu-se

basicamente de oito canais de projeção.

4.1.12.a. Primeiro canal : vinculação aos médicos

Antes mesmo de partir para a internacionalização, os executivos da Amil já

trocavam informações com médicos argentinos, durante congressos e eventos

promovidos por entidades latino-americanas de saúde. Ao instalar-se na

Argentina, a Amil enviou a um grande número de médicos uma correspondência

Page 93: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

80

na qual apresentava o P.A.C. - Programa de Apoio Científico, que possibilitava o

acesso virtual gratuito às bibliotecas dos centros médicos mais avançados do

mundo, sem necessidade de filiação à empresa. Conseguiu-se assim o

cadastramento de mais de três mil médicos, que formaram uma base de dados

consultada quando há necessidade de contratar um profissional de determinada

especialidade.

A Amil considera o P.A.C. - que contava no início de 1998 com cerca de três mil e

quinhentos títulos, sessenta periódicos e acesso a mais de quinhentas bibliotecas

- um excelente meio de divulgar sua filosofia e identificar e atrair os médicos que

procuram aperfeiçoar-se e crescer continuamente. Outra medida que colaborou

num primeiro momento para o ganho de credibilidade da Amil junto à classe

médica foi a contratação do vice-decano da faculdade de medicina de maior

prestígio local como primeiro diretor-médico da empresa no país.

A área de comunicação da Amil reunia-se uma vez por mês com os médicos

filiados, para troca de informações sobre as atividades da empresa e seus

projetos, e também para avaliar a sua percepção quanto à imagem da empresa,

além de tomar conhecimento das suas experiências e necessidades.

4.1.12.b. Segundo canal : vinculação com o sistema de saúde pública

Toda a promoção realizada em torno do Amil Resgate Saúde procurou, desde o

seu lançamento, mostrá-lo como um serviço de utilidade pública, que funcionava

de forma auxiliar (e não concorrente) ao trabalho de órgãos públicos, como a

Polícia e o Corpo de Bombeiros, prestando atendimento a vítimas de desastres e

acidentes ainda que elas não fossem clientes da Amil.

Uma vez que o serviço de resgate por helicóptero era praticamente inédito na

Argentina, a estratégia de promoção do Amil Resgate Saúde foi planejada para

torná-lo tangível ao público através da sua participação em eventos esportivos,

especialmente naquelas modalidades consideradas de maior risco, como o pólo,

o rugby e o automobilismo. Essas competições passaram a ser patrocinadas pela

Amil e transmitidas pelos canais de TV dedicados a esportes; quando havia a

necessidade de resgate em virtude de algum acidente, a notícia acabava se

Page 94: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

81

transformando num comercial da empresa.

4.1.12.c. Terceiro canal : relacionamento com os meios de comunicação

A Amil tornou-se uma das poucas empresas na Argentina a negociar seu espaço

publicitário diretamente com os meios de comunicação, sem valer-se de agências

de publicidade. Na realidade, praticamente todo o material promocional da

empresa era produzido in house, ou seja, por seu próprio pessoal, dentro do

princípio de que “ninguém conhece a Amil melhor do que nós mesmos”.

A Amil selecionou criteriosamente os meios de comunicação através dos quais

veicularia suas campanhas, decidindo trabalhar apenas com aqueles que

tivessem um perfil consistente (em termos, por exemplo, de público – classes A e

B – e linguagem) com sua imagem e filosofia. Um dos meios mais utilizados era a

TV a cabo, que tinha muita força na Argentina, por estar instalada no país há

bastante tempo (desde 1992) e com um custo relativamente baixo para o

consumidor. Estima-se que 70% dos argentinos das classes média e alta são

assinantes de um total de mais de setenta opções de canais de TV a cabo. Outra

razão da preferência da empresa por este veículo é que o seu tempo

comercializado é bem mais barato que o da TV de sinal aberto.

A Amil se converteu, desde a sua chegada à Argentina, em um dos maiores

anunciantes de TV a cabo do país. Foi produzida uma campanha inicial, batizada

de “pauta esquizofrênica”, que consistia na exibição simultânea em cinco canais

diferentes de um comercial de três minutos de duração, no qual apresentava-se a

empresa e, principalmente, os seus diferenciais competitivos em qualidade e

serviços. Os espectadores tinham uma sensação de onipresença da empresa, o

que causou um forte impacto e colaborou para a retenção da sua marca.

O bom relacionamento com a imprensa em geral também ajudou a Amil a ganhar

credibilidade. Desde a sua chegada, foi realizado um trabalho junto aos principais

editores e jornalistas argentinos das áreas de Economia e Saúde, que são

mantidos permanentemente informados pelo próprio Paulo Marcos Senra Souza

sobre tudo o que se refere à empresa, além de serem convidados a participar de

eventos promovidos pela Amil, tanto na Argentina como no Brasil. Outro fator que

Page 95: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

82

contribuiu para o ganho de credibilidade foi o fato de a empresa nunca ter

trabalhado com matérias pagas.

Paulo Marcos observou ainda que ...

“Na Argentina, ao contrário do que acontece no Brasil19, a imprensa é, em

geral, favorável à Amil ... Edson de Godoy Bueno é mais conhecido na

Argentina do que no Brasil; cada vez que ele vem aqui, recebe vários

jornalistas e é objeto de notas na imprensa”.

4.1.12.d. Quarto canal : relacionamento com os meios diplomáticos

A Amil prestava assistência aos funcionários da representação diplomática

brasileira na Argentina (Embaixada e Consulados) e, eventualmente, também a

brasileiros em território argentino, mesmo que não fossem clientes seus.

4.1.12.e. Quinto canal : relacionamento com os meios empresariais

Outro canal de projeção da Amil junto ao público argentino foram suas alianças

estratégicas com empresas locais de peso, com a intenção de “somar marcas” e

formar um banco de dados de clientes potenciais. Dentre essas associações,

destacaram-se as realizadas com a companhia petrolífera YPF e com o Banco

Rio (um dos maiores bancos privados do país), através do seu cartão de crédito

Visa/ YPF-Banco Rio e com a companhia de telefonia celular Movicom.

Paulo Marcos destacou também a participação da Amil em associações de

empresas e em programas de formação de jovens empresários.

4.1.12.f Sexto canal : relacionamento com os colaboradores

Paulo Marcos ressaltou que “a Amil não quer crescer sozinha, mas que seus

colaboradores cresçam junto com ela”. Para tanto, a Amil montou na Argentina a

Escuela Amil, nos mesmos moldes da Escola Amil de Administração existente no

Brasil. Cada funcionário ou colaborador da Amil na Argentina participava, em uma 19 Certamente em função da polêmica entre consumidores, políticos e empresas a respeito da

Page 96: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

83

média de dezoito dias por ano, de programas de treinamento e capacitação

profissional que incluem temas como marketing, negociação, vendas, informática

e idiomas. Muitas das aulas e palestras eram ministradas pelos próprios Paulo

Marcos e Edson de Godoy Bueno, este em suas freqüentes visitas à empresa.

A idéia da Amil com relação a seus colaboradores era a de promover o seu

desenvolvimento, valorizando o trabalho em equipe e criando um clima de

confiança no crescimento da empresa, além de prepará-los como “capacitadores”

de novos colaboradores. A qualificação e o entusiasmo dos funcionários e

colaboradores refletia-se na qualidade dos serviços prestados aos clientes, o que

facilitava a geração de uma preciosa cadeia de referência boca-a-boca.

A área de comunicação da empresa reunia-se uma vez por mês com

representantes das demais áreas para debater as diversas atividades em

andamento, os novos planos e avaliar a imagem que colaboradores formavam da

própria empresa.

4.1.12.g. Sétimo canal : relacionamento com o meio acadêmico

Uma importante forma de divulgação do nome da Amil e da sua busca de

excelência em qualidade e serviços eram os seus laços com as mais importantes

universidades e instituições de capacitação gerencial argentinas. Por exemplo, a

Universidade San Andrés, um dos mais conceituados (e elitizados) centros

acadêmicos do país, convidou a Amil em 1997 a fazer uma apresentação como

um caso de management, além da empresa ter sido objeto de trabalho

acadêmico de um grupo de seus alunos. A Amil mantinha ainda ligações com a

Universidade El Salvador e com a Universidade de Buenos Aires, além de

patrocinar eventos da HSM, importante organização voltada para a capacitação

de executivos. A HSM promove regularmente na Argentina (assim como no

Brasil) seminários com a presença de renomados conferencistas internacionais, o

que permitiu à Amil formar uma base de dados com milhares de prospects

freqüentadores desses eventos.

A Amil publicava ainda as Lecturas Recomendadas (Leituras Recomendadas),

regulamentação do setor de medicina privada.

Page 97: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

84

uma série de artigos com temas científicos e de management distribuídos a seus

colaboradores e clientes, com o propósito de mantê-los atualizados com o que há

de mais moderno nessas áreas e divulgar a filosofia da empresa e seus conceitos

de administração.

4.1.12.h. Oitavo canal : os brokers

Com o tempo, a Amil passou a valer-se de brokers (corretores) para a

comercialização de seus planos, o que amplificou a sua comunicação com o

mercado. Um trabalho de integração foi realizado com esses profissionais para

que eles passassem a se sentir também como parte da empresa, representando

com orgulho a sua marca.

4.1.13. A imagem da Amil na Argentina

Os argentinos viam a Amil como uma empresa estrangeira, o que, num setor

onde as pessoas estavam há muitos anos habituadas com os serviços prestados

pelas obras sociales e pelas empresas locais, chamava muito a sua atenção.

Curiosamente, segundo Paulo Marcos, os argentinos “não reconhecem a Amil

como uma empresa brasileira, mas algo vagamente americana”, provavelmente

em função da ênfase dada à tecnologia e à marca “Amil International Health

Corporation” na estratégia de comunicação, além da freqüente divulgação nas

peças promocionais dos telefones e endereços da empresa nos Estados Unidos

e no Brasil. Considerava-se também possível a existência de algum preconceito

dos argentinos (fruto do desconhecimento mútuo entre as duas nações), que, em

geral, não imaginavam existir no Brasil uma empresa tão forte e contando com

tecnologia tão avançada.

Paulo Marcos informou também que ...

“a Amil não conta aqui (na Argentina) que é uma empresa brasileira; se nos

perguntam, não negamos, mas jamais anunciamos que somos uma empresa

brasileira a serviço dos argentinos. Há clientes que sabem a verdade, mas

Page 98: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

85

muitos não acreditam que a Amil é brasileira, mesmo que nós o digamos. Na

verdade, quando é necessário, procuramos nos promover como uma

empresa de capital brasileiro e tecnologia americana”.

Em termos de imagem, Paulo Marcos afirmou que o objetivo da Amil era

posicionar-se como “top of mind” na Argentina : “a Amil não busca market share,

mas imagem; hoje, quando os argentinos das classes A e B pensam em comprar

um plano de saúde, a Amil já está nas suas mentes”.

4.1.14 a inovação em produtos e serviços

No mercado argentino de medicina privada, segundo Paulo Marcos,

“até há pouco tempo, pensava-se que tudo já estava criado e estabelecido:

quem tivesse um plano de determinada empresa tinha direito a determinados

serviços em determinados hospitais ou clínicas; para ter outros tipos de

atendimento ou utilizar outros estabelecimentos, teria que adquirir um plano

de outra empresa. Não havia liberdade de escolha. A Amil chegou e

revolucionou tudo”.

Page 99: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

86

Através da oferta de “planos inteligentes”, que funcionavam por módulos, a Amil

ofereceu aos seus clientes a possibilidade de escolher os serviços que

desejassem, de acordo com seus orçamentos e necessidades. Por exemplo, os

clientes masculinos poderiam a partir de então dispensar os serviços

relacionados a maternidade, e os clientes em geral poderiam escolher clínicas e

hospitais mais próximos a suas residências.

Com relação às duas maiores inovações introduzidas pela empresa no país

vizinho, Paulo Marcos disse que “a Amil tornou-se “dona” dos conceitos de

Resgate Saúde e Telerelationship na Argentina”.

Logo na sua chegada à Argentina, em 1994, a Amil investiu no desenvolvimento

do serviço “Amil Rescate Salud”, pioneiro na Argentina e similar ao Amil Resgate

Saúde implantado pouco antes no Brasil. Uma equipe argentina, formada por

médicos, auxiliares de enfermagem, pilotos e motoristas, foi treinada em conjunto

com uma equipe brasileira, e foram adquiridos o único helicóptero modelo MBB

BO 105 CB54 (da fábrica Eurocopter) existente na Argentina - uma verdadeira

“clínica aérea” - e uma ambulância Wild Coach, também exclusiva no país. Com

esta estrutura, o “Amil Rescate Salud” habilitava-se a prestar atendimento de

urgência em um raio de 250 km a partir do centro de Buenos Aires, inclusive em

zonas de difícil acesso, principalmente nos casos de catástrofes ou acidentes

com veículos ou durante a prática de algum esporte de risco.

O “Amil Rescate Salud”, igualmente ao que ocorrera no Brasil, foi comercializado

de modo independente da aquisição de outro plano de cobertura mais abrangente

da Amil, e podia ser utilizado à parte por clientes de outras empresas.

Não existia concorrência direta ao “Amil Rescate Salud” na Argentina, pois havia

pouquíssimos profissionais especializados no país em resgates e atendimentos

de urgência, e, além disso, a legislação argentina não permitia o sobrevôo de

Buenos Aires por helicópteros que não fossem biturbinados, como o que a Amil

possuía.

Além do serviço de Resgate Saúde, a Amil foi também pioneira na Argentina em

Telerelationship. A empresa preferiu utilizar este termo, ao invés de

Telemarketing, porque, segundo Paulo Marcos,

Page 100: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

87

“não existe propriamente Telemarketing na Argentina; esta é uma atividade

que somente agora está começando a se desenvolver, principalmente nas

empresas de maior porte. A explicação deste fato é que até 1991, quando foi

privatizado o sistema telefônico argentino, as linhas eram muito caras e os

telefones funcionavam muito mal; a falta de infraestrutura inviabilizava a

montagem de um serviço de Telemarketing”.

De acordo com a mesmo princípio de comunicação direta com os clientes,

implantada com sucesso no Brasil, o Telerelationship revolucionou o atendimento

aos clientes na Argentina, buscando eliminar a papelada e a burocracia com que

as empresas locais estavam habituadas a trabalhar. Através de uma simples

ligação para o número 345-1000 (mnemônico, assim como no Brasil), durante 24

horas por dia e 365 dias por ano, os clientes podiam resolver todos os trâmites da

utilização dos serviços da Amil, como a marcação de consultas e exames, obter

informações variadas, acionar o serviço de Resgate Saúde e até mesmo fazer

consultas de urgência on line com médicos de plantão na central.

Paulo Marcos declarou que “o Telerelationship está estruturado para funcionar da

maneira mais cômoda e segura para os clientes, e não para a Amil. Não é um

serviço voltado para vendas, mas para a satisfação dos clientes”. Segundo o

dirigente, os operadores do Telerelationship não têm um tempo predeterminado

para o atendimento telefônico, ficando à disposição do cliente até que este se

sinta satisfeito.

No final de 1997, segundo informação da empresa, o Telerelationship já recebia

cerca de mil e quinhentas ligações por dia.

4.1.15. Acordos e associações com empresas locais

A Amil optou por entrar no mercado argentino valendo-se exclusivamente de

recursos próprios, sem fazer qualquer tipo de acordo ou associação com

empresas já atuantes no mercado local. Três razões orientaram esta decisão :

• o desejo da empresa de “testar o mercado”, sem receio de “aprender

Page 101: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

88

quebrando a cara”;

• a percepção de que o mercado estava estagnado, com todos os seus agentes

muito voltados para o passado. A Amil queria apostar no futuro; se houvesse

uma associação com alguma marca local, esta teria a princípio mais peso que

a marca Amil, e se gastaria muito mais energia no ajuste da marca existente à

filosofia da Amil do que na construção de uma marca própria;

• sobre a terceira (e talvez principal) razão, Paulo Marcos afirmou que ...

“a Amil não tem intenção de ter sócios locais porque não há necessidade de

investimento por parte deles, nem podem eles acrescentar know-how à Amil

na área de assistência médica. Este não é um negócio capital-dependente,

mas sim know-how-dependente, e ninguém na Argentina tem mais know-how

do que nós”.

De fato, a necessidade de investimentos naquele momento era relativamente

pequena e facilmente coberta pela Amil Brasil. Paulo Marcos informou que

“enquanto no Brasil a Amil tem uma receita de US$ 75 milhões por mês, o

investimento previsto na Argentina para o ano de 1998 é de US$ 2 milhões”.

4.1.16. O relacionamento entre Amil Argentina e Amil Brasil

A dependência da Amil Argentina em relação à Amil Brasil se dá em termos de

capital, da necessidade de investimentos. Com relação ao dia a dia da empresa,

as atividades são, em geral, planejadas e implementadas pelos profissionais

locais, sempre de acordo com a filosofia do grupo, mas adaptadas à realidade

argentina. Não há praticamente interferência de executivos brasileiros, nem do

próprio Paulo Marcos, que acredita que esta estratégia bottom-up (de baixo para

cima) compromete mais as pessoas: “não utilizamos cartão de ponto, nem

pagamos horas-extra, mas é comum as pessoas trabalharem mais de doze horas

por dia, às vezes até nos fins de semana”.

Paulo Marcos comentou que “a Amil Argentina não deseja a independência com

relação à Amil Brasil, o que nos acrescentaria custos; ela quer a

Page 102: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

89

interdependência, aproveitando o que for possível da infraestrutura e do know-

how existentes no Brasil”.

O grupo Amil não dispõe de uma estrutura internacional formal, com sistemas de

informação e controle sobre o mercado internacional. Periodicamente, Edson de

Godoy Bueno visita a Amil Argentina, ou Paulo Marcos comparece a reuniões

realizadas no Brasil entre os principais executivos do grupo, e são tomadas as

decisões de investimento, tudo de maneira um tanto informal.

Paulo Marcos afirmou que

“a Amil não tem uma cultura de cuidar de aspectos internacionais, ninguém

sabe de detalhes sobre como transferir pessoas ou enviar dinheiro para o

exterior. Tudo acaba acontecendo por voluntariedade do Edson. A empresa

em si não comprou a idéia da internacionalização; as pessoas consideram

que este processo está “sangrando” recursos da empresa, que se investe

dinheiro no exterior sem que se obtenham vantagens com isso. É uma visão

míope de muitas pessoas que não vêem a oportunidade de aprender e

projetar a marca Amil no exterior”.

4.1.17. A evolução da Amil Argentina

Desde a sua chegada à Argentina, a Amil procurou diversificar e ampliar a oferta

de planos de saúde de acordo com as oportunidades identificadas no mercado e

com a estratégia projetada para o seu crescimento. A empresa começou

trabalhando com planos individuais relativamente caros, voltados para as classes

alta e média-alta, que compreendiam pessoas com condições de pagar o

diferencial dos seus serviços com relação às obras sociales e às demais

empresas privadas. Em um segundo momento, a empresa passou a atacar o

segmento corporate, através da oferta de planos coletivos, voltados

principalmente a empresas de pequeno e médio porte. Para um futuro próximo, a

empresa tinha planos de oferecer planos populares, mais baratos e voltados para

a classe C.

Paulo Marcos justificou esta estratégia de segmentação:

Page 103: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

90

“a compra de um plano de saúde por um indivíduo é basicamente emocional,

enquanto uma empresa o faz racionalmente, avaliando mais a fundo os riscos

do que está oferecendo a seus empregados. A principal razão de porque a

Amil começou na Argentina comercializando planos individuais foi ela não ter

uma história, um lastro, uma referência que pudesse persuadir e dar

garantias às empresas para que comprassem os seus planos”.

Ainda segundo Paulo Marcos, a Amil não se preocupou ainda em conquistar

grandes empresas como clientes porque ...

“a empresa não tem infraestrutura de serviços (médicos, operadores etc.)

para comportar a entrada repentina e simultânea de um grande número de

clientes na sua carteira. Se nós falharmos com uma empresa de dois mil

funcionários, estaremos falhando diretamente com dois mil clientes”.

E Paulo Marcos completou :

“A Amil não quer crescer rápido, mas cresce 10% ao mês! Este crescimento é

intenso, mas ordenado: entra um pouco de gente aqui, outro pouco ali; a

entrada brusca de um grande número de pessoas poderia gerar um

desequilíbrio”.

4.1.18. Barreiras, riscos e oportunidades da Amil na Argentina

Paulo Marcos declarou que as maiores dificuldades encontradas pela Amil no

início das suas atividades na Argentina relacionaram-se à “ignorância das regras

do jogo”, isto é, do desconhecimento da cultura e do ambiente de negócios locais.

Esta ignorância teria tido, segundo ele, um lado positivo, por permitir à empresa

algumas ousadias que não eram sequer imaginadas pelos empresários locais.

Para o dirigente, o grande gargalo ao crescimento da empresa era a dificuldade

em selecionar e desenvolver pessoal com o perfil adequado ao espírito inovador

da Amil.

Os dois maiores riscos que a Amil via no mercado argentino, mas que naquele

momento não chegavam a preocupá-la mais seriamente, eram a possibilidade de

Page 104: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

91

uma regulamentação mal feita do setor de medicina privada, que tivesse alguma

tendência nacionalista ou protecionista, no que não se acreditava; e a

possibilidade de entrada na Argentina de grandes competidores internacionais.

Esta última hipótese não parecia provável por estarem aquelas empresas ainda

se estabelecendo no Brasil, naquele momento um mercado ainda mais atraente

que o argentino. Paulo Marcos disse que eles precisariam primeiro “ganhar a

guerra” no Brasil, para depois se interessarem pela Argentina. Quanto aos

competidores brasileiros que também poderiam estar interessados no mercado

argentino, não havia maiores preocupações naquele momento: a Golden Cross

estava atravessando uma grave crise, e tinha as energias concentradas na sua

reestruturação; a Sul América tinha acabado de encerrar suas atividades na

Argentina, depois de anos de prejuízo; o Bradesco tinha ficado em uma situação

muito difícil no mercado argentino depois que o seu sócio local (o banco Roberts)

foi vendido ao HSBC, obrigando-o a desfazer o negócio e ter que pensar em

começar tudo novamente; e a Unimed, formada por cooperativas e com um perfil

muito peculiar e regional, dificilmente teria condições de investir na Argentina.

4.1.19. Os planos para o futuro

A Amil pretendia continuar investindo na Argentina por duas razões principais: por

haver ainda um grande potencial de crescimento daquele mercado, e por não

haver nele competidores de grande porte. Paulo Marcos lembrou que “um salto

de sete para trinta por cento da população argentina utilizando planos de saúde

(taxa equivalente à verificada no Brasil), representaria passar de dois para dez

milhões de usuários” e, ironicamente, disse que “na Argentina não há

concorrentes, mas sobreviventes”.

Com relação às oportunidades no mercado internacional, Paulo Marcos disse que

Edson de Godoy Bueno costuma afirmar que “a Amil no exterior vai ser mais

poderosa, mais rentável e maior do que no Brasil, porque lá fora tem muito mais

gente, e gente com mais poder aquisitivo do que aqui”.

Page 105: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

92

4.1.20 Recomendações para os entrantes no mercado argentino

Às empresas que tenham intenção de entrar na Argentina, Paulo Marcos deu

duas recomendações básicas. Primeiro, que não tenham medo de investir no país

vizinho, que, em função da quantidade de consumidores e do seu poder

aquisitivo, representa o mercado mais atraente fora do eixo Rio-São Paulo para a

maioria das empresas brasileiras. Paulo Marcos chegou a afirmar que, em termos

de negócios, “a Argentina transformou-se em mais um estado brasileiro”, e

lembrou que já havia quatorze vôos diários entre Rio de Janeiro, São Paulo e

Buenos Aires, o que constituía a segunda maior ponte aérea do Brasil.

A segunda recomendação de Paulo Marcos foi de que os empresários brasileiros

deveriam estudar de verdade o espanhol (não se limitando ao “portunhol” com

que muitos pensam se fazer entender) e se convencer de que o Brasil faz parte,

de fato, da América Latina, passando a encarar os demais países latino-

americanos como verdadeiros parceiros de negócios, ao invés de se voltarem

apenas para os Estados Unidos e a Europa.

Page 106: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

93

4.2. Análise do caso Amil

A análise do caso em estudo está organizada de acordo com as perguntas de

pesquisa definidas no Capítulo III - Metodologia do Estudo. Assim, os dois

problemas basicamente enfocados no estudo - a tomada de decisão de

internacionalização e o modo de entrada no mercado estrangeiro - são analisados

em função daquelas perguntas.

4.2.1. Pergunta 1 :

Que fatores econômicos e comportamentais influenciaram a tomada dedecisão de internacionalização da empresa ?

4.2.1.1. Características do tomador de decisão

A decisão de internacionalização da Amil foi tomada basicamente pelo seu

presidente e fundador, o médico Edson de Godoy Bueno. Ao longo da história da

empresa, Edson mostrou-se um empreendedor visionário, criativo e ousado,

capaz de construir, a partir de um hospital quase falido na Baixada Fluminense,

uma das maiores empresas de planos de saúde do Brasil. O seu papel como

principal responsável pelo processo de internacionalização da empresa ficou

claro pela própria declaração de Paulo Marcos Senra Souza, presidente da Amil

Argentina, durante a entrevista: “a Amil não tem uma cultura de cuidar de

aspectos internacionais... tudo acaba acontecendo por voluntariedade do Edson”.

Edson de Godoy Bueno pareceu apresentar as duas características pessoais

mais relevantes para o tomador de decisão de internacionalização, segundo

Wiederscheim-Paul, Olson e Welch (1978): a orientação internacional -

semelhante à “perspectiva supra-nacional” indicada por Cavusgil (1980) - e a

tolerância à incerteza. Ambas as características ficaram retratadas pela sua

sociedade com um amigo norte-americano (um ex-colega de um curso de pós-

graduação em uma universidade norte-americana) numa rede de fast-food nos

Estados Unidos, na verdade um negócio diferente do seu, em um país com

Page 107: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

94

distância cultural relativamente grande.

Outra demonstração da orientação internacional de Edson, que o configuraria

como um agente de mudança interno à empresa (Bilkey, 1978), em função da

sua confiança nas vantagens competitivas da empresa, era a sua convicção de

que “a Amil no exterior vai ser mais poderosa, mais rentável e maior do que no

Brasil ...”.

4.2.1.2. Estímulos percebidos à internacionalização da empresa

A motivação principal da Amil para o primeiro passo do seu processo de

internacionalização, nos Estados Unidos, foi assegurar o crescimento e a própria

sobrevivência da empresa, face à ameaça representada pela entrada de grandes

competidores internacionais no mercado brasileiro. Edson de Godoy Bueno,

presidente do grupo Amil, considerou que a melhor maneira de conseguir

competir com esses novos e poderosos entrantes seria diversificar seus

mercados e aprender como eles atuavam em seu próprio território. Este tipo de

motivação, relacionado a pressões competitivas no mercado doméstico, é citado

por Cavusgil (1980) como um dos determinantes do segundo estágio do seu

modelo de internacionalização da empresa.

Já a entrada da Amil na Argentina teve como principal motivação a percepção de

uma oportunidade de mercado, representada pelas facilidades promovidas pelo

Mercosul e pela inexistência de concorrentes poderosos em um mercado com

grande potencial de crescimento. Estes fatores, além da confiança da empresa

na diferenciação de seus produtos e serviços, estariam de acordo com os “fatores

evocadores de atenção”, apontados por Wiederscheim-Paul, Olson e Welch

(1978), que atuariam na fase de “pré-exportação” (termo aqui entendido como

“pré-internacionalização”) da empresa.

Também contribuiu para a ida da Amil para a Argentina a presença naquele país

de outras empresas brasileiras atuando no país desde a criação do Mercosul,

algumas das quais eram seus clientes corporativos no Brasil. A contabilização de

clientes já conhecidos provavelmente contribuiu para a redução da percepção de

incerteza e também de distância psíquica em relação ao novo mercado, mesmo

Page 108: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

95

que estrangeiro. Estes dois tipos de motivação - percepção de oportunidade de

mercado e presença de clientes domésticos no estrangeiro - permitem afirmar

que a estratégia de internacionalização da Amil na Argentina foi um misto de

Market Seeker e Client Follower (Erramilli, 1990).

Outro fator que naturalmente contribuiu para o interesse da Amil no mercado

argentino foi a sua relativa proximidade geográfica, inclusive em comparação com

algumas localidades mais distantes (como a Região Norte) do território brasileiro.

Paulo Marcos chegou mesmo a afirmar que o roteiro Rio de Janeiro - São Paulo -

Buenos Aires (de cerca de três horas de vôo) se tornou a “segunda maior ponte

aérea do Brasil”, e que a Argentina poderia, em termos de negócios, ser

considerada “mais um estado brasileiro”.

Dentre os fatores citados por Brasil et alli (1996) como determinantes da

expansão internacional de empresas brasileiras, os que parecem estar mais

diretamente relacionados ao caso Amil são: a necessidade de estar próximo do

cliente (no caso clientes corporativos da Amil que haviam partido para a

internacionalização), a conquista de novos mercados (no caso da Argentina, um

mercado a princípio bastante promissor) e o fato de estar presente em blocos

regionais (no caso, o Mercosul).

Tendo por base as idéias de Wiederscheim-Paul, Olson e Welch (1978), pode-se

considerar a Amil apresentava as três características típicas da pré-

internacionalização (estágio chamado pelos autores de “pré-exportação”): o

objetivo de assegurar seu crescimento e sua sobrevivência; um serviço

personalizado, de difícil separação entre produção e consumo20, e que, portanto,

não permitia uma simples exportação; e uma “expansão extra-regional”, anterior

ao seu processo de internacionalização propriamente dito, na qual ela diversificou

seus negócios no Brasil, inclusive em termos geográficos, através de um sistema

de franquias implementado ainda na década de 80.

4.2.1.3. Barreiras percebidas à internacionalização

Uma das maiores dificuldades relatadas pelo entrevistado no ingresso da Amil no

20 Esta idéia está, na verdade, colocada de maneira inversa à proposta pelos autores, segundo osquais produtos padronizados, que exigissem menor interação entre vendedor e cliente,estimulariam a exportação.

Page 109: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

96

mercado argentino foi a “ignorância das regras do jogo”, entendida, de acordo

com as barreiras à exportação citadas por Bilkey e Tesar (1977), como a falta de

informações sobre o mercado estrangeiro e as diferenças no comportamento do

consumidor e nas práticas comerciais do país em que a empresa está

ingressando.

A questão da distância psíquica como fator de influência no processo de

internacionalização não pareceu totalmente esclarecida no caso Amil.

Contrariando o padrão dos modelos de natureza comportamental, segundo a qual

a empresa tenderia a ingressar em novos mercados de acordo com uma função

crescente de distância psíquica, o primeiro país estrangeiro para o qual a Amil

estendeu suas atividades no negócio de planos de saúde foram os Estados

Unidos, um país anglo-saxão e desenvolvido, com diferenças culturais em relação

ao Brasil à primeira vista mais acentuadas do que a Argentina, segundo país-alvo

da internacionalização da empresa. Possíveis explicações para esta inversão

seriam o fato de que quando empresa se estabeleceu nos Estados Unidos, o

Mercosul não tinha ainda entrado em pleno funcionamento, o que não tornava a

Argentina um mercado tão atraente; a maior importância dada então ao aspecto

de aprendizagem no mercado norte-americano - que poderia garantir a

sobrevivência da empresa no seu mercado doméstico - do que ao aproveitamento

de uma oportunidade no Mercosul; e um viés pessoal de Edson de Godoy Bueno

– o tomador da decisão de internacionalização –, que provavelmente percebia

uma afinidade maior em relação aos Estados Unidos, onde tinha estudado e

mantinha relações pessoais, do que em relação à Argentina.

A idéia de distância cultural parece um tanto controversa com relação à

Argentina. Há flagrantes diferenças entre argentinos e brasileiros, apesar de

ambos os povos serem latino-americanos e compartilharem uma colonização

ibérica. Por exemplo, os argentinos em geral são consumidores mais

conservadores e mais exigentes do que os brasileiros, além de terem um nível

médio de instrução mais elevado. Maria Eugenia Nájera, gerente de marketing da

Amil Argentina, lembrou a diferença genérica de temperamento e de visão do

mundo que existe entre brasileiros e argentinos21. Além das diferenças culturais,

21 Ver declaração no item 4.1.12, p.79.

Page 110: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

97

há um desconhecimento mútuo entre brasileiros e argentinos, fomentado por

séculos de rivalidade política e militar. Ao longo da entrevista percebeu-se a

dificuldade do argentino em geral em aceitar que uma empresa forte e capacitada

tecnologicamente pudesse ter origem brasileira; Paulo Marcos afirmou que

“muitos não acreditam que a Amil é brasileira, mesmo que nós o digamos”, e que

“quando é necessário, procuramos nos promover como uma empresa de capital

brasileiro e tecnologia americana”. É possível que este posicionamento tenha

servido como uma forma de contornar uma barreira cultural ao crescimento da

empresa no mercado argentino, representada por desconhecimento e

preconceito. De todo modo, estes fatos parecem vir ao encontro do “paradoxo da

distância psíquica” proposto por O’Grady e Lane (1996), segundo o qual

diferenças críticas entre países supostamente próximos do ponto de vista cultural

poderiam ficar ocultas sob algumas similaridades ou estereótipos.

Um fato interessante mencionado pelo entrevistado é que se por um lado as

diferenças culturais, comerciais e legais criaram algumas dificuldades à empresa,

por outro elas contribuíram para o sucesso na introdução de inovações, ao

promover uma verdadeira quebra de paradigma no setor de medicina privada na

Argentina.

Outra grande dificuldade identificada pela Amil ao estabelecimento de suas

atividades na Argentina foi a de selecionar e desenvolver profissionais com

conhecimentos técnicos e perfil adequado ao espírito inovador da empresa.

Page 111: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

98

4.2.2. Pergunta 2 :

Qual o modo de entrada escolhido para o mercado estrangeiro ?

Por ser uma empresa de soft service, segundo a classificação de Erramilli (1990),

a Amil não poderia simplesmente exportar seus serviços, e viu-se obrigada a

escolher um modo de entrada de maior grau de controle - e também de risco – no

mercado estrangeiro. A empresa decidiu entrar nos Estados Unidos através de

uma sociedade com uma rede já estabelecida de fast-food, a Crocodile,

pertencente a um amigo de Edson de Godoy Bueno, o que certamente ajudou a

reduzir a percepção de incerteza quanto ao novo mercado. Considerando-se que

havia uma participação igual com um único outro acionista, poder-se-ia classificar

este modo de entrada, de acordo com o Quadro II.4, como de médio controle.

Esta decisão indica uma percepção média de risco, que se justifica pelo

desconhecimento da Amil em relação ao negócio de fast-food, no qual ela não

possuía experiência anterior, e ao país em si. Por outro lado, este modo de médio

controle contribuiu para que a empresa se ambientasse no novo país e

conhecesse mais de perto suas leis e práticas comerciais, o que permitiu a

escolha de modos de maior grau de controle em sua subseqüente entrada no

setor norte-americano de assistência médica.

4.2.2.1. Análise de Custos de Transação

Na Argentina, a Amil já contava com algum conhecimento do ambiente de

negócios, proporcionado pela sua experiência com a EAT no país, e optou pela

entrada no setor de medicina privada através de investimento direto. Esta decisão

ensejou, de acordo com o Quadro II.4, o mais alto grau de controle da empresa

sobre suas atividades, e pareceu de acordo com o enfoque da relação entre risco

e retorno promovido pela Análise de Custos de Transação, abordada neste

estudo à luz do trabalho de Anderson e Gatignon (1986).

De acordo com o Quadro II.5, os seguintes fatores justificariam a escolha do

Page 112: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

99

investimento direto como modo de entrada no mercado argentino, além da

própria disponibilidade de recursos para tal (e, portanto, independência de

recursos de parceiros locais, inclusive em termos de know how do serviço em si)

a partir da Amil Brasil :

4.2.2.1.a. Especificidade de ativos

A formação e o treinamento da equipe de vendas e dos serviços de

Telerelationship e de Rescate Salud são exemplos de desenvolvimento de ativos

específicos, de difícil substituição em razão do tempo necessário para sua

preparação e, mais ainda, pela dificuldade de se encontrarem pessoas com o

perfil adequado às necessidades da empresa. De acordo com o Quadro II.6, a

alta especificidade de ativos favoreceu a escolha de um modo de entrada de alto

grau de controle.

4.2.2.1.b. Incerteza

A percepção de incerteza, tanto a nível externo como interno, também parece ter

contribuído para a decisão de integração das atividades da Amil na Argentina. No

momento da chegada da empresa, em 1994, o país atravessava uma fase de

estabilidade política e econômica e promovia reformas estruturais que

minimizavam a percepção de “risco do país” e o tornavam atraente aos

investimentos internacionais. A maior efetividade que o Mercosul ganhou a partir

do início de 1995 certamente contribuiu também para a diminuição da incerteza

em relação ao mercado argentino, em razão das facilidades criadas para a

circulação de pessoas e capitais e até pelo fato de um maior número de

empresas brasileiras terem estabelecido operações naquele mercado, o que

incentivou a Amil a adotar uma estratégia de Client Follower, de acordo com a

classificação de Erramilli (1990).

Com relação à percepção de incerteza interna, a integração de atividades parece

também ter sido favorecida pela ênfase na qualidade do serviço e do atendimento

aos clientes que a Amil procura praticar, a qual exige um rígido controle para que

se possam acompanhar o desempenho dos funcionários e a satisfação dos

Page 113: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

100

clientes nas diversas etapas da prestação dos serviços.

4.2.2.1.c. Inovação e diferenciação

A Amil optou claramente por competir no mercado argentino pela inovação e

diferenciação dos serviços. A este respeito, o presidente da Amil Argentina, Paulo

Marcos Senra Souza, afirmou que “até poucos anos atrás, pensava-se que tudo

já estava criado e estabelecido (no mercado argentino) ... a Amil chegou e

revolucionou tudo”. Dois exemplos claros dessa estratégia foram a implantação

do “Amil Rescate Salud” e do Telerelationship. A competição por inovação e

diferenciação favorece, conforme o Quadro II.6, a procura por integração das

atividades, na medida em que exige o acompanhamento estreito das etapas do

processo e do desempenho do pessoal envolvido e evita que intermediários ajam

oportunisticamente ou mesmo venham a se tornar futuros concorrentes.

4.2.2.1.d. Inseparabilidade

O negócio principal da Amil, de assistência médica, é tipicamente um “soft

service”, segundo a classificação de Erramilli (1990). Em geral, a produção e o

consumo desse tipo de serviço são inseparáveis (embora os avanços

tecnológicos venham tornando cada vez mais viáveis alguns tipos de atendimento

e até mesmo procedimentos cirúrgicos à distância), o que torna praticamente

impossível a sua exportação e certamente favoreceu a escolha de um modo de

entrada de maior grau de controle no mercado estrangeiro.

4.2.2.1.e. Alto valor da marca

A importância que a Amil dá à construção da sua marca também se refletiu na

decisão de investimento direto na Argentina. A Amil promoveu uma intensa

veiculação da sua marca desde a sua chegada ao mercado argentino, através

dos oito canais de comunicação relacionados na descrição do caso, e através da

integração das suas atividades procurou garantir o cumprimento dos altos níveis

exigidos dos seus serviços e evitar inconsistências em relação ao seu

Page 114: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

101

posicionamento.

De acordo com Erramilli (1990), o comportamento da Amil no mercado argentino,

assim como já havia sido nos Estados Unidos, foi predominantemente o de um

“Market Seeker”, embora com uma certa dose de “Client Follower”. Em ambos os

casos, a intenção primária foi a de explorar mercados com grande potencial de

negócios e assim garantir o crescimento e a sobrevivência da empresa. Contudo,

tanto nos Estados Unidos quanto na Argentina, a empresa seguiu movimentos de

seus clientes domésticos, como ficou comprovado pela abertura do escritório

central da Amil Health Corporation na Flórida, região que recebe milhares de

brasileiros a cada ano, muitos deles clientes da Amil, e pela motivação declarada

de prestar serviços a clientes corporativos que começaram a operar na Argentina

a partir do estabelecimento do Mercosul.

4.2.2.2. Paradigma Eclético

A entrada da Amil na Argentina através de investimento direto também se justifica

à luz do Paradigma Eclético. A empresa parecia apresentar os três tipos de

vantagens que, segundo Dunning (1988), podem levar a empresa a buscar a

integração de suas atividades no estrangeiro, a saber:

4.2.2.2.a. Vantagens Específicas de Propriedade

Este tipo de vantagem era representada pela disponibilidade de recursos para

investimento a partir da Amil Brasil e pela posse de know-how de serviços

diferenciados em relação aos dos seus concorrentes, como, por exemplo, o

Telerelationship e o Rescate Salud. Estas vantagens estimularam a Amil

Argentina a integrar suas atividades e assim exercer maior controle sobre elas.

4.2.2.2.b. Vantagens de Internalização

Page 115: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

102

Essas vantagens se referiam à redução dos custos de transação alcançados pela

empresa em função da integração vertical de suas atividades e do maior controle

das mesmas (inclusive em termos de qualidade), desejáveis, pelas razões

anteriormente expostas, em razão do desenvolvimento de ativos específicos, da

adoção de uma estratégia de inovação e diferenciação, da condição de

inseparabilidade dos seus serviços e do alto valor da marca.

4.2.2.2.c. Vantagens de Localização

Essas vantagens eram representadas pelas facilidades de negócios oferecidas

pelo estabelecimento do Mercosul e pela perspectiva de aproveitamento de

oportunidades no promissor mercado argentino, com uma percepção reduzida de

incerteza e “risco do país”, que estimulava a empresa a procurar modos de

entrada de maior integração e controle das atividades.

Page 116: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

103

CAPÍTULO V

CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

5.1. Sumário

Este trabalho procurou investigar o processo de internacionalização de uma

empresa brasileira, especialmente no âmbito do Mercosul, enfocando os fatores

de ordem comportamental e econômica que podem influenciar a tomada de

decisão de internacionalização e a definição do modo de entrada da empresa em

um determinado mercado estrangeiro.

No Capítulo I foi realizada a introdução ao estudo, contextualizando-o no

fenômeno da globalização e em seus desdobramentos em termos da formação

de blocos regionais e do impacto na organização e nas atividades das empresas,

e apresentaram-se seu objetivo e suas justificativas, relacionados à compreensão

dos determinantes da decisão de internacionalização de um número crescente de

empresas brasileiras no Mercosul.

No Capítulo II realizou-se uma revisão da literatura existente sobre a

internacionalização de empresas. apresentaram-se alguns modelos

representativos de uma abordagem comportamental ao tema, assim como uma

série de críticas que têm sido dirigidas a esses modelos, as quais se refletem, em

parte, no surgimento das “Born Global Firms”. Como representantes de uma

abordagem microeconômica do processo de internacionalização, foram

apresentados o Paradigma Eclético e a Análise de Custos de Transação.

Em razão do caso especificamente estudado neste trabalho, foi dado destaque

ao tema da internacionalização das empresas de serviço, que apresenta

singularidades em função da natureza dos serviços, principalmente no que se

refere à possibilidade (ou não) de separação entre sua produção e consumo.

Finalmente, resgataram-se alguns estudos anteriores de autores brasileiros sobre

a internacionalização de empresas.

Page 117: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

104

No Capítulo III foram definidos o problema e as perguntas de pesquisa,

relacionados à tomada de decisão de internacionalização e à escolha do modo de

entrada de uma empresa no mercado estrangeiro. A seguir, justificaram-se as

escolhas do caso Amil e do Método do Estudo de Caso como objeto e estratégia

de pesquisa, e relacionaram-se as fontes de informação utilizadas. Finalmente,

explicaram-se os critérios de análise do caso e apresentaram-se as limitações do

estudo, referentes ao método escolhido, à dificuldade de acesso aos dados e às

percepções próprias dos entrevistados.

O Capítulo IV foi dividido em duas partes. Na primeira, foi feita a descrição do

caso Amil, contando-se a história da empresa desde a sua fundação até os dias

atuais, com ênfase nos aspectos relacionados ao seu crescimento, à

diversificação dos seus negócios e ao seu processo de internacionalização.

Como o foco do trabalho é a internacionalização da Amil no âmbito do Mercosul,

a ida da empresa para os Estados Unidos foi apenas superficialmente abordada,

privilegiando-se a atuação da empresa na Argentina.

Na segunda parte do capítulo foi realizada a análise do caso, em torno das

perguntas básicas de pesquisa. Assim, com relação aos fatores econômicos e

comportamentais que influenciaram a tomada de decisão de internacionalização

da Amil, abordaram-se as características pessoais do seu fundador e principal

executivo e as percepções da empresa quanto a oportunidades, riscos, estímulos

e barreiras ao processo de internacionalização; já com relação à escolha do

modo de entrada no mercado estrangeiro, estabeleceram-se considerações

pertinentes ao Paradigma Eclético e à Análise de Custos de Transação,

respectivamente quanto às vantagens percebidas pela empresa para

internacionalizar-se e quanto à integração e ao grau de controle das atividades.

No Capítulo V são apresentadas as conclusões a que chegou este estudo, assim

como suas limitações e algumas recomendações, especialmente quanto a

campos de pesquisa futura .

5.2. Conclusões

Page 118: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

105

O caso enfocado neste trabalho, por se tratar de uma empresa de serviço, não

pareceu bastante propício para uma análise à luz dos dois principais padrões (ou

manifestações) do Modelo do Processo de Internacionalização, e também dos

fundamentos dos modelos relacionados à inovação, referentes ao percurso de

uma seqüência de estágios e ao aumento progressivo da distância psíquica dos

novos mercados em que a empresa ingressa. Por ser uma empresa de soft

service (isto é, de difícil separação entre a produção e o consumo do seu

serviço), a Amil não dispôs da possibilidade de simplesmente exportar seus

serviços, nem de percorrer passo a passo alguma das seqüências de estágios

propostas na literatura, as quais parecem mais adequadas a empresas de

manufatura. Como a Amil decidiu entrar no mercado argentino através de

investimento direto, considerado o estágio final da maioria das seqüências, não

foi possível identificar um modelo que refletisse mais fidedignamente a evolução

do seu envolvimento naquele mercado.

Um aspecto controverso, e que não pareceu suficientemente esclarecido na

análise do caso, foi o de como a Amil encarou a questão da distância psíquica.

Contrariando o que seria mais provável, segundo os modelos de natureza

comportamental, a empresa entrou primeiramente nos Estados Unidos e depois

na Argentina, o que sugere que considerações estratégicas - no caso, de garantir

a sobrevivência no mercado brasileiro através do aprendizado de como seus

concorrentes atuavam no mercado norte-americano -, ou ainda as percepções

pessoais do tomador de decisão, podem ter tido mais peso na direção seguida no

processo de internacionalização do que a percepção genérica de distância

psíquica.

Outra observação interessante a respeito da distância psíquica foi sobre como a

Amil soube explorá-la a seu favor na Argentina : o fato de não reconhecer e não

se sentir limitada pelo paradigma vigente no mercado local, certamente colaborou

para o sucesso da sua estratégia de inovação e diferenciação.

Algumas outras idéias da abordagem comportamental, contudo, pareceram mais

claramente confirmadas no estudo do caso Amil. Com relação ao estágio de pré-

internacionalização da empresa, por exemplo, ficou clara a importância de fatores

como a orientação internacional do seu tomador de decisão e sua tolerância à

Page 119: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

106

incerteza e ao risco, e também a “expansão extra-regional” experimentada antes

da internacionalização propriamente dita. Algumas outras idéias quanto a

estímulos e barreiras à internacionalização também se confirmaram, como a

percepção de oportunidades de negócio, a disponibilidade de recursos e a

dificuldade de se encontrarem profissionais especializados no estrangeiro.

Já o Paradigma Eclético e a Análise de Custos de Transação, mais relacionados

aos aspectos microeconômicos do processo de internacionalização, pareceram

proporcionar uma análise mais consistente do caso Amil. Ficou clara a existência

de vantagens específicas de propriedade, de internalização e de localização,

ligadas ao Paradigma Eclético, e de fatores como especificidade de ativos,

incerteza interna e externa, inseparabilidade da produção e consumo dos

serviços, importância dada ao valor da marca, entre outros, ligados à Análise de

Custos de Transação, que justificaram a escolha do investimento direto como

modo de entrada da empresa no Mercosul, em especial no mercado argentino.

5.3. Limitações do Estudo

Este trabalho, por se basear no Método do Estudo de Caso, não permite

generalizações para o universo das empresas brasileiras em processo de

internacionalização no Mercosul. Primeiramente, esta é uma das limitações do

próprio método, que se somam à dificuldade de acesso aos dados e aos vieses

dos entrevistados. Além disso, o estudo enfocou uma empresa de serviço, cujo

processo de internacionalização apresenta algumas características diferenciadas

em relação ao que ocorre com empresas de manufatura, principalmente em

função da condição (ou não) de inseparabilidade da produção e consumo dos

serviços e dos seus reflexos na seqüência de estágios de internacionalização.

5.4. Sugestões de Pesquisas Futuras

As particularidades do caso estudado impediram a investigação mais profunda de

algumas questões que podem representar interessantes campos de pesquisas

futuras. A primeira (e mais óbvia) destas particularidades é o fato de este estudo

Page 120: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

107

se referir a uma empresa de serviço, que, conforme foi visto, não se adequa

muito bem à análise à luz do Modelo do Processo de Internacionalização e dos

modelos relacionados à inovação. Um estudo de caso de empresas brasileiras do

setor de manufatura que tenham estabelecido atividades no Mercosul poderia

esclarecer melhor a dinâmica (principalmente com relação à dimensão tempo) e

os determinantes da evolução ao longo de uma seqüência de estágios, tomando

por partida a etapa de pré-internacionalização. Também seria recomendável o

estudo de casos de empresas brasileiras de hard service, ou seja, de um tipo de

serviço que, pela possibilidade de separação de sua produção e seu consumo,

pode ser exportado e tem um comportamento mais próximo ao de uma

manufatura. Do mesmo modo, seria interessante um estudo de outras empresas

de soft service, como, por exemplo bancos e instituições financeiras, os quais, por

sinal, têm sido um dos setores mais dinâmicos em termos de investimentos

recíprocos entre o Brasil e seus parceiros regionais. Em todos esses casos,

poderiam ser levantadas informações importantes para a otimização da ação das

empresas e do próprio governo em favor da competitividade e do acesso de

produtos e serviços brasileiros ao mercado internacional.

Outra questão a ser explorada é a da distância psíquica entre o Brasil e seus

parceiros do Mercosul, ou ainda, face à perspectiva de consolidação da ALCA

(Área de Livre Comércio das Américas) nos próximos anos, em relação aos seus

demais vizinhos das Américas do Sul, Central e do Norte. Poderiam ser feitas

análises do conceito de distância psíquica em suas diferentes dimensões e uma

verificação empírica da ocorrência (e em que grau) do chamado “paradoxo da

distância psíquica”, isto é, de o quanto as suposições de similaridade (em termos

culturais, históricos, sócio-econômicos etc.) entre o Brasil e esses países podem

ocultar diferenças críticas para o gerenciamento das atividades das empresas

brasileiras no estrangeiro.

Finalmente, um outro estudo que também poderia ser realizado, inclusive para

validar a idéia de internacionalização de empresas brasileiras no Mercosul, seria

sobre empresas brasileiras que estabeleceram negócios no Paraguai e no

Uruguai (além de Bolívia e Chile, por ora sócios do bloco). Do mesmo modo, uma

pesquisa interessante seria sobre a internacionalização de empresas dos demais

Page 121: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

108

países-membros do Mercosul no Brasil, de modo a estabelecer comparações

com o estudo ora apresentado.

Page 122: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AHARONI, Y. The Foreign Investment Decision Process. Boston, Division of

Research, Harvard University, 1966.

ANDERSEN, O. "On the Internationalization Process of Firms : a Critical

Analysis". Journal of International Business Studies, 24(2): 209-231, 2nd

Quarter 1993.

ANDERSON, E.; GATIGNON, H. "Modes of Foreign Entry : a Transaction Cost

Analysis and Propositions". Journal of International Business Studies, 17(3):

1-26, Fall 1986.

AULAKH, P.S.; KOTABE, M. “Antecedents and Performance Implications of

Channel Integration in Foreign Markets”. Journal of International Business

Studies, 28(1) : 145-175, 1st Quarter 1997.

BARTLETT, C.A.; GHOSHAL, S. Managing Across Borders. Boston : Harvard

Business School Press, 1989.

BILKEY, W.J.; TESAR, G. "The Export Behaviour of Smaller Sized Winsconsin

Manufacturing Firms". Journal of International Business Studies, 8(1): 93-98,

Spring-Summer 1977.

BILKEY, W.J. "An Attempted Integration of the Literature on the Export Behavior

of Firms". Journal of International Business Studies, 9(1): 33-46, Spring-

Summer 1978.

BRAGA, C.A.P. “The Impact of the Internationalization of Services on Developing

Countries”. Finance & Development, March 1996, p.34-37.

BRASIL, H.V. et al. “Pesquisa de Campo sobre a Internacionalização de

Page 123: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

110

Empresas Brasileiras”. In : BRASIL, H.V.; ARRUDA, C. (eds.).

Internacionalização de Empresas Brasileiras. Rio de Janeiro : Qualitymark,

1996.

CAMPOMAR, M.C. “Do Uso de “Estudo de Caso” em Pesquisas para

Dissertações e Teses em Administração”. Revista de Administração, 26(3):

95-97, julho/setembro 1991.

CANALS, J. La Internacionalizacion de la Empresa. Madrid : McGraw-Hill, 1994.

CAVUSGIL, S.T. "On the Internationalization of Firms". European Research, 8(6):

273-281, November 1980.

__________ "Some Observations on the Relevance of Critical Variables for

Internationalization Stages". In: CZINKOTA, M.R. & TESAR, G. (eds.), Export

Management : an International Context. New York, Praeger, 1982.

CYERT, R.; MARCH, J.G. A Behavioral Theory of the Firm. Englewood Cliffs, NJ,

Prentice Hall, 1963.

DUNNING, J.H. "The Eclectic Paradigm of International Production : A

Restatement and Some Possible Extensions". Journal of International

Business Studies, 19(1): 1-31, Spring 1988.

ERRAMILLI, M.K. “Entry Mode Choice in Service Industries”. International

Marketing Review, 7(5): 50-62, 1990.

__________ ; RAO, C.P. “Service Firms International Entry Mode Choice : A

Modified Transaction Cost Analysis Approach”. Journal of Marketing, 57: 19-

38, July 1993.

ETGAR, M. “The Effects of Forward Vertical Integration on Service Performance

of a Distributive Industry”. Journal of Industrial Economics, 26: 249-255, March

Page 124: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

111

1978.

GILPIN, R. The Political Economy of International Relations. Princeton : Princeton

University Press, 1987.

GOODE, W.J.; HATT, P. Métodos em Pesquisa Social. São Paulo : Companhia

Editora Nacional, 1975.

GRAEL, I.; ROCHA, A. “O Processo de Internacionalização de uma Empresa”. In :

ROCHA, A. Gerência de Exportação no Brasil. São Paulo : Atlas; Rio de

Janeiro : UFRJ, 1988.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J.-E. "The Internationalization Process of the Firm - a

Model of Knowledge Development and Increasing Foreign Commitments".

Journal of International Business Studies, 8(1): 23-32, Spring-Summer 1977.

__________ ; __________ "The Mechanism of Internationalization". International

Marketing Review, 7(4): 11-24, 1990.

JOHANSON, J.; WIEDERSCHEIM-PAUL, F. "The Internationalization of the Firm :

Four Swedish Case Studies". The Journal of Management Studies, 12: 305-

322, October 1975.

KEEGAN, W.J. Multinational Marketing Management. Englewood Cliffs, NJ,

Prentice Hall, 1984.

KLEIN, S.; FRAZIER, G.L.; ROTH, V.J. “A Transaction Cost Analysis Model of

Channel Integration in International Markets”. Journal of Marketing Research,

Vol. XXIII, p.196-208, May 1990.

KNIGHT, G.A.; CAVUSGIL, S.T. “The Born Global Firm : a Challenge to

Traditional Internationalization Theory”. Advances in International Marketing,

8: 11-26, 1996.

Page 125: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

112

LEITE, H.B.; ROCHA, A.; FIGUEIREDO, K.F. “A Percepção Cultural e a Decisão

de Exportar”. In: ROCHA, A. Gerência de Exportação no Brasil. São Paulo:

Atlas; Rio de Janeiro: UFRJ, 1988.

LEVITT, T. “The Globalization of Markets”. Harvard Business Review, 61(3): 92-

102, May-June 1983.

MADSEN, T.K.; SERVAIS, P. “The Internationalization of “Born Globals” – An

Evolutionary Process?”. Proceedings of the Fourth Symposium of the

Consortium for International Marketing Research. San Diego, California, 1996.

MARX, K. Selected Writings. Oxford : Oxford University Press, 1977.

O’GRADY, S.; LANE, H.W. "The Psychic Distance Paradox". Journal of

International Business Studies, 27(2): 309-333, 2nd Quarter 1996.

PENROSE, E. The Theory of the Growth of the Firm. London, Basil Blackwell,

1959.

PORTER, M.E. (ed.). Competition in Global Industries. Boston : Harvard Business

School Press, 1986.

RAO, T.R.; NAIDU, G.M. “Are the Stages of Internationalization Empirically

Supportable ?”. Journal of Global Marketing, 6(1/2): 147-170, 1992.

ROGERS, E.M. Diffusion of Inovations. New York, The Free Press, 1962.

SIMONSEN ASSOCIADOS. Mercosul de Fato !. Fatores de Competitividade para

o Sucesso Empresarial em um Novo e Forte Mercado Emergente. São Paulo:

Makron Books, 1998.

Page 126: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

113

TERPSTRA, V. International Marketing, 3rd ed. New York: The Dryden Press,

1983.

WATERS, M. Globalization. London: Routledge, 1995.

WEINSTEIN, A.K. “Foreign Investments by Service Firms: The Case of

Multinational Advertising Agencies”. MSU Business Topics, 22: 29-35,

Summer 1977.

WELCH, L.S.; LUOSTARINEN, R. “Internationalization : Evolution of a Concept”.

Journal of General Management, 14(2): 34-55, Winter 1988.

WIEDERSCHEIM-PAUL, F.; OLSON, H.C.; WELCH, L.S. "Pre-Export Activity:

The First Step in Internationalization". Journal of International Business

Studies, 9(1): 47-58, Spring-Summer 1978.

WILLIAMSON, O.E. Markets and Hierarchies : Analysis and Antitrust Implications.

New York: The Free Press, 1975.

__________ The Economic Institutions of Capitalism. New York: The Free Press,

1985.

YIN, R. K. Case Study Research : Design and Methods. Newbury Park, Calif.:

Sage Publications, 1989.

YIN, R. K. Applications of Case Study Research. Newbury Park, Calif.: Sage

Publications, 1993.

Page 127: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

114

ANEXOS

Page 128: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

115

ANEXO I

Resultados de Bilkey e Tesar (1977) Estágio Equação Variáveis R2 r

(correl. parcial)

3 X = 0.020 +0.465L+0.032C

X : se a empresa explorou ou não a viabilidade de exportar (s=1, n=0) L : se a empresa planejou ou não a exportação (s=1, n=0) C : percepção da gerência qto às vantagens competitivas da empresa [-2, 4]1

0.241

L : +0.447 C : +0.154

4

A = -0.1393 + 0.0002E + 0.105M +

+0.692U + 0.046S

A : se a empresa exporta experimentalmente ou não (s=1, n=0)2

E : expectativa da gerência de o quanto a exportação contribui para odesempenho da empresa [-1000, +1000]3 M : qualidade e dinamismo da gerência [-5, +4.5]4 U : se a empresa recebeu seu primeiro pedido de exportação de formainesperada (s=1, n=0) S : tamanho da empresa medido pelo número de empregados [1, 6]5

0.690

E : +0.241

M : +0.396 U : +0.735

S : +0.183

5

D = 0.3151 + 0.0004E - 0.048B -

0.041M

D : porcentagem das vendas destinadas à exportação [10%, 45%] E : expectativa da gerência de o quanto a exportação contribui para o

desempenho da empresa [-1000, +1000]6 B : número de barreiras percebidas à exportação [0, 9]7 M : qualidade e dinamismo da gerência [-5, +4.5]8

0.698

E : +0.775

B : -0.531 M : -0.325

1 por exemplo, tecnologia, processos, diferenciação dos produtos, marketing, proximidade dos mercados-alvo, etc. 2 entende-se como exportadora experimental a empresa que exporta há dois anos ou menos, e cujo volume de exportação não ultrapassa 10% do seu

total de vendas; exportadora experiente é a empresa que exporta há seis anos ou mais, e cujo volume de exportação é superior a 10% das vendastotais.

3 medida a partir de um composto de valores e atitudes relacionados ao crescimento da empresa e à percepção de lucro e riscos da exportação 4 medidos a partir de um composto de cinco elementos : opiniões dos gerentes, existência ou não de um departamento em separado para tratar da

exportação, existência ou não de uma política permanente de exportação, existência ou não de planejamento para exportação, e exploração ou não daviabilidade da atividade de exportação.

5 categorizado do seguinte modo : 1 : < 25; 2 : 25 a 99; 3 : 100 a 249; 4 : 250 a 499; 5 : 500 a 1000; 6 : > 1000. 6 idem nota 3. 7 por exemplo, falta de informação sobre o mercado, diferenças no comportamento do consumidor e nas práticas comerciais de outros países, problemas

relativos à taxa de câmbio, etc. 8 idem nota 4.

Page 129: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

116

ANEXO II

ROTEIRO BÁSICO DE ENTREVISTA

1. Caracterização do entrevistadoNome, cargo, responsabilidades

2. Caracterização da empresaBreve histórico, áreas de atuação, organograma

3. Atividades pré-internacionalizaçãoHouve uma “expansão extra-regional” ? em caso afirmativo, descrevê-la

Como se desenvolveu a competência em marketing internacional ?

4. Características do tomador da decisão de internacionalizaçãoQuem tomou a decisão ?

Quais as suas características pessoais ?

Qual a sua vivência internacional ?

5. Entrada no mercado internacionalComo foi despertado o interesse pelo mercado internacional ?

Onde e quando a empresa iniciou suas atividades no mercado estrangeiro ?

Qual foi a percepção de “distância psíquica” em relação a esses países ?

Quais os estímulos percebidos ao ingresso no mercado estrangeiro ?

Quais as barreiras percebidas ?

Qual a percepção com relação às vantagens competitivas da empresa ?

6. Quais os objetivos estratégicos da internacionalização da empresa ?

7. Qual o modo de entrada escolhido no mercado estrangeiro ?Quais eram as opções disponíveis ?

Quais foram os critérios de escolha ?

Qual a percepção com relação a risco e retorno do modo escolhido ?

Houve interesse na formação de associações ou parcerias ?

Qual o grau de controle e integração vertical das atividades no estrangeiro ?

8. Como têm evoluído as atividades da empresa no mercado estrangeiro ?

Page 130: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

117

Qual a estratégia competitiva adotada ?

Como a empresa segmentou o mercado estrangeiro ?

Como tem sido gerenciado o marketing mix (produto, preço, distribuição e

comunicação) nesse mercado ?

Quais os planos para o futuro ?

9. Há sistemas de planejamento e controle das atividades no estrangeiro ?Em caso afirmativo, como esses sistemas estão estruturados ?

Existe uma estrutura em separado para tratar das atividades internacionais ?

Qual o relacionamento entre a matriz da empresa no Brasil e as unidades nos

demais países ?

Page 131: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NO … · ... a Amil (Assistência Médica Internacional Ltda.) ... O Método do Estudo de Caso ... O relacionamento entre Amil Argentina

118

ANEXO III

PRINCIPAIS EMPRESAS DO GRUPO AMIL (em 1998)

EMPRESA SETOR

Amil Brasil Assistência médica

ESHO Administração hospitalar

Promarket Agência de publicidade “in house”

Aeromil Transportes aéreos

Farmalife Farmácias e lojas de conveniência

Quorum Corretora de seguros

Amil Seguradora Seguros de vida e saúde, previdência privada

Supri M Fornecimento de material hospitalar

Amil Dental Planos odontológicos

Amil Franchising Concessionária de franquias

Laboratório Dr. Sérgio Franco Análises laboratoriais

Dix Planos de saúde

Crocodile Fast-food (EUA)

Amil Health Corporation (Miami) Assistência médica (EUA)

Amil Nevada Assistência médica (EUA)

Amil Texas Assistência médica (EUA)

Amil Argentina Assistência médica (Argentina)

Fonte : Grupo Amil