INTERPRETAÇÃO DE CONTOS DIVERSOS

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CONTOS CADA QUAL COM SEU MACHADO (Coréia) Ele é um velho camponês, calejado e contente em seu dia-a-dia. Durante a primavera e o verão, cultiva a terra. No outono e no inverno, racha lenha para vender no mercado. Ganha sempre muito pouco, mas dá para se manter com uns apertos, e assim vai levando a vida, sem se queixar de sua sorte. Ei-lo na mata, certa vez, pelejando como pode, à beira de um grande lago, para derrubar uma árvore. A madeira é dura, resiste aos golpes. O homem sua, pára um instante, reflete, examina o corte feito e deduz que tem de bater mais forte. Seus músculos já se enrijecem para continuar tentando. Ele pega novamente o machado, depois de cuspir nas mãos, e com todo vigor retorna à luta. Logo, porém, se impacienta, vendo como avança tão pouco. Bate e rebate, mas fica com uma raiva danada. Insiste e xinga. De repente, a um golpe descontrolado, o cabo da ferramenta se quebra, o machado voa pelo ar e – tibum! – vai cair dentro do lago. O lenhador se desespera. Era um machado precioso, o único que ele tinha, a base de seu penoso sustento. Como recuperá-lo, se foi parar lá no fundo? Sentando à beira d’água, desanimado e já descrente de tudo, ele agora, pela primeira vez, se lastima: - Puxa, mas isso foi acontecer logo a mim! Seu desamparo é tão grande que ele começa a chorar. Sem mais nem menos, forma-se então um redemoinho no lago. Uma onda se eleva, por encanto, e em seu bojo vem à tona um velhote muito engraçado, de barba branca até os joelhos, que nestes termos se dirige ao camponês boquiaberto: - Calma, amigo! Não precisa chorar que isso tem jeito. Tudo que cai aqui eu encontro. De fato, mostra-lhe em cada mão um machado, um que era o perdido ainda há pouco, outro que era de ouro, e pergunta: - Qual dos dois é o seu? - O meu é o de ferro, este que tem marcas de uso e está com o cabo quebrado. - Pois então, pegue-o aí, diz o velhote, jogando-o logo para a terra e acrescentando, à guisa de adeus, antes de sumir lago adentro com uma expressão satisfeita. - Continue assim honesto, que isso é bom para todos. O lenhador, de tão contente, nem estranha o acontecido. Corta na mata um cabo novo, encava sua ferramenta e recomeça o trabalho. À primeira pancada, que ecoa longe, uma surpresa! Um monte de moedas de ouro cai da brecha do tronco que está sendo cortado. Dando pulos de alegria, ele as recolhe, põe na cesta e prossegue. A cada nova machadada, mais ouro brota em quantidade da árvore. E o pobre lenhador, ao voltar para casa, quando começa a escurecer, finalmente é um homem rico. A notícia se espalha. Um seu vizinho, ganancioso, vai sem demora perguntar-lhe o que houve. Mal recebe, em minúcias, um relato da história, ele segue para o lago nas pegadas do outro. Disposto a fazer o mesmo, começa a derrubar uma árvore e, de propósito, deixa o machado escapulir para a água. Depois, senta-se à beira e chora, ou melhor, tenta chorar, mas apenas se contorce em caretas, porque seus olhos, na verdade, nem se molham de lágrimas. Apesar disso, o velhote surge e o consola, mostra-lhe dois machados, o dele e o que era de ouro, e pergunta tal como antes:

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CONTOSCADA QUAL COM SEU MACHADO

(Coréia)

Ele é um velho camponês, calejado e contente em seu dia-a-dia. Durante a primavera e o verão, cultiva a terra. No outono e no inverno, racha lenha para vender no mercado. Ganha sempre muito pouco, mas dá para se manter com uns apertos, e assim vai levando a vida, sem se queixar de sua sorte.

Ei-lo na mata, certa vez, pelejando como pode, à beira de um grande lago, para derrubar uma árvore. A madeira é dura, resiste aos golpes. O homem sua, pára um instante, reflete, examina o corte feito e deduz que tem de bater mais forte. Seus músculos já se enrijecem para continuar tentando. Ele pega novamente o machado, depois de cuspir nas mãos, e com todo vigor retorna à luta. Logo, porém, se impacienta, vendo como avança tão pouco. Bate e rebate, mas fica com uma raiva danada. Insiste e xinga. De repente, a um golpe descontrolado, o cabo da ferramenta se quebra, o machado voa pelo ar e – tibum! – vai cair dentro do lago.

O lenhador se desespera. Era um machado precioso, o único que ele tinha, a base de seu penoso sustento. Como recuperá-lo, se foi parar lá no fundo? Sentando à beira d’água, desanimado e já descrente de tudo, ele agora, pela primeira vez, se lastima: - Puxa, mas isso foi acontecer logo a mim! Seu desamparo é tão grande que ele começa a chorar.

Sem mais nem menos, forma-se então um redemoinho no lago. Uma onda se eleva, por encanto, e em seu bojo vem à tona um velhote muito engraçado, de barba branca até os joelhos, que nestes termos se dirige ao camponês boquiaberto:

- Calma, amigo! Não precisa chorar que isso tem jeito. Tudo que cai aqui eu encontro.

De fato, mostra-lhe em cada mão um machado, um que era o perdido ainda há pouco, outro que era de ouro, e pergunta:

- Qual dos dois é o seu?- O meu é o de ferro, este que tem marcas de uso e

está com o cabo quebrado.- Pois então, pegue-o aí, diz o velhote, jogando-

o logo para a terra e acrescentando, à guisa de adeus, antes de sumir lago adentro com uma expressão satisfeita. - Continue assim honesto, que isso é bom para todos.

O lenhador, de tão contente, nem estranha o acontecido. Corta na mata um cabo novo, encava sua ferramenta e recomeça o trabalho. À primeira pancada, que ecoa longe, uma surpresa! Um monte de moedas de ouro cai da brecha do tronco que está sendo cortado. Dando pulos de alegria, ele as recolhe, põe na cesta e prossegue. A cada nova machadada, mais ouro brota em quantidade da árvore. E o pobre lenhador, ao voltar para casa, quando começa a escurecer, finalmente é um homem rico.

A notícia se espalha. Um seu vizinho, ganancioso, vai sem demora perguntar-lhe o que houve. Mal recebe, em minúcias, um relato da história, ele segue para o lago nas pegadas do outro. Disposto a fazer o mesmo, começa a derrubar uma árvore e, de propósito, deixa o machado escapulir para a água. Depois, senta-se à beira e chora, ou melhor, tenta chorar, mas apenas se contorce em caretas, porque seus olhos, na verdade, nem se molham de lágrimas. Apesar disso, o velhote surge e o consola, mostra-lhe dois machados, o dele e o que era de ouro, e pergunta tal como antes:

- Qual é o seu?O homem diz que é o de ouro, que o velhote então

lhe atira, sumindo sem comentários.Ferramenta em punho, o lenhador ganancioso

volta ligeiro para a árvore e, cheio de entusiasmo e esperança, põe toda sua força nos braços para lhe desferir novos golpes. Mas que surpresa! Dessa vez não são moedas, e sim cobras venenosas, que saem pela brecha do tronco numa sucessão infinita, forçando-o a correr de pavor pelo mundo afora.

OS DISCÍPULOS DE ELISEU CONSTROEM UMA NOVA CASA

(Israel)

Disseram os filhos dos profetas a Eliseu: - Eis que o lugar em que habitamos diante da

tua face nos é estreito. - Vamos, pois, até ao Jordão, e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamos ali um lugar para habitarmos.

E disse-lhes ele: -Ide.E disse um: - Serve-te de ires com os teus servos.

E ele disse: - Eu irei.Então, o profeta e os filhos dos profetas foram e,

chegando ao Jordão, cortaram madeira.E sucedeu que, derribando um deles uma viga, o

ferro caiu na água; e clamou e disse: - Ai! Meu senhor! Porque era emprestado.

E disse o homem de Deus: - Onde caiu? E, mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez nadar o ferro.

E disse: - Levanta-o. Então, ele estendeu a sua mão e o tomou.

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QUESTÕES PARA 6ÈME

I) (responda em seu caderno)1) Quais os pontos em comum entre os dois textos?2) Quais as diferenças entre eles?3) Crie uma moral para o texto 14) Crie uma moral para o texto 25) Quanto ao texto 2, como você resolveria a situação estando no lugar de Eliseu? 6) Qual é a marca que indica as falas dos personagens?7) Os textos estão construídos em prosa ou em poesia? Justifique.

II) GRAMÁTICA

a) Dê a classe gramatical das palavras em destaque:a.1) Ele é um velho camponês, calejado e contente em seu dia-a-dia.a.2) Durante a primavera e o verão, cultiva a terra.a.3) Seus músculos já se enrijecem para continuar tentandoa.4) Qual dos dois é o seu?a.5) O meu é o de ferro, este que tem marcas de uso e está com o cabo quebrado.

b) Classifique os substantivos destacados:b.1) Um monte de moedas de ouro cai da brecha do tronco que está sendo cortado.b.2) ...forçando-o a correr de pavor pelo mundo afora.

c) Identifique e classifique os adjetivos:c.1) E o pobre lenhador, ao voltar para casa...finalmente é um homem rico.c.2) De repente, a um golpe descontrolado, o cabo da ferramenta se quebra...c.3) ... antes de sumir lago adentro com uma expressão satisfeita.

d) Identifique e classifique os artigos:d.1) - Eis que o lugar em que habitamos...d.2) Corta na mata um cabo novo...d.3) ...e assim vai levando a vida...d.4) ... barba branca até os joelhos...

e) Classifique os verbos quanto a modo e tempo:e.1) ...o ferro caiu na água; e clamou e disse: - Ai! Meu senhor! Porque era emprestado.e.2) ...ele as recolhe, põe na cesta e prossegue.

f) Classifique o numeral:f.1) - Qual dos dois é o seu?

simples/composto; comum/próprio; primitivo/derivado; concreto/abstrato;

coletivo;uniforme/biforme; masculino/feminino; epiceno, sobrecomum, comum de dois

simples/composto; primitivo/derivado; uniforme/biforme; masculino/feminino;

Modos: indicativoTempos: presente, pretérito imperfeito, pretérito perfeito, pretérito mais que perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito(condicional)

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QUESTÕES PARA 5ÈME (responder no caderno)

I) 1) Quais os pontos em comum entre os dois textos?2) Quais as diferenças entre eles?3) Crie uma moral para o texto 14) Crie uma moral para o texto 25) Quanto ao texto 2, como você resolveria a situação estando no lugar de Eliseu? 6) Qual é a marca que indica as falas dos enunciadores?7) Os textos estão construídos em prosa ou em poesia? Justifique.8) Qual é o tempo verbal predominante nos dois textos? Em que a escolha do tempo interferiu na construção do sentido?

II) GRAMÁTICA

a) Dê a classe gramatical das palavras em destaque:a.1) Ele é um velho camponês, calejado e contente em seu dia-a-dia.a.2) Durante a primavera e o verão, cultiva a terra.a.3) Seus músculos já se enrijecem para continuar tentandoa.4) Qual dos dois é o seu?a.5) O meu é o de ferro, este que tem marcas de uso e está com o cabo quebrado.a.6) Pois então, pegue-o aí, diz o velhote, jogando-o logo para a terra...a.7) - Ai! Meu senhor! Porque era emprestado.

b) Explique o sentido que as preposições estabelecem entre as palavras:b.1) Ei-lo na (em + a)mata, certa vez, pelejando como pode, à (a+a) beira de um grande lago, para derrubar uma árvore.

c) Explique o sentido que os advérbios estabelecem e indique a que palavra estão associados:c.1) Ele pega novamente o machado...c.2) Ganha sempre muito pouco (dinheiro)...c.3) ...o ferro caiu na água;

d) Separe o sujeito do predicado das orações abaixo:d.1) Disseram os filhos dos profetas a Eliseu...d.2) Ferramenta em punho, o lenhador ganancioso volta ligeiro para a árvore...d.3) Apesar disso, o velhote surge e o consola...

e) Identifique (quando possível) e classifique o sujeito de cada verbo das orações abaixo:e.1) Eis que o lugar em que habitamos diante da tua face nos é estreito...e.2) Então, o profeta e os filhos dos profetas foram e, chegando ao Jordão, cortaram madeira.e.3) Havia cinco questões impossíveis de serem entendidas!e.4) Canta-se muito durante o carnaval.

f) Quanto à predicação, classifique os verbos:f.1) Bate e rebate, mas fica com uma raiva danada.f.2) - Vamos, pois, até ao Jordão, e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamos ali um lugar para habitarmos.f.3) ... isso é bom para todos.f.4) E, mostrando-lhe ele o lugar...

g) Quanto à predicação, identifique e classifique os complementos dos verbos (quando houver):g.1) Ele é um velho camponês...g.2) ...cortou um pau, e o lançou ali, e fez nadar o ferro.g.3) Como recuperá-lo, se foi parar lá no fundo?g.4) E disse-lhes ele: -Ide.g.5) A madeira é dura, resiste aos golpes.g.6) ...nestes termos se dirige ao camponês...

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Gênero: ContoA CRIANÇA VENDIDA PARA O DIABO

(França)

Um homem e sua mulher eram pais de muitos filhos e iam ter mais um. Para poder sustentá-lo, prometeram-no ao diabo. Quando a criança nasceu, o diabo foi ver pai e mãe e prometeu que nunca haveria de lhes faltar dinheiro; mas disse que levaria a criança quando ela completasse sete anos.

Sempre que estava cortando pão para os filhos, a mãe começava a chorar ao chegar a vez daquele que fora prometido ao diabo. Ela agora sentia que cometera um grande pecado e que não tinha mais como remediá-lo O menino percebia as lágrimas nos olhos da mãe e um dia lhe perguntou o motivo. Durante muito tempo ela se recusou a explicar, mas pro fim lhe confiou que ele fora prometido ao diabo e que este o iria buscar quando ele completasse sete anos de idade. O menino então disse à mãe:

- Dê-me um pequeno saco e eu deixarei esta região, de modo que o diabo não conseguirá me achar. Vou viver como mendigo.

A mãe deu ao filho um pequeno saco, abraçou-o muitas vezes e lhe disse para sempre amar a Deus, para que assim não fosse carregado pelo diabo. O menino disse que seguiria seus conselhos e partiu.

Ele viveu como um mendigo. Depois de muito viajar, encontrou o diabo e começaram a conversar.- Eu acredito – disse o menino – que você é capaz de se tornar muito pequeno, do tamanho de um camundongo.- Com a maior facilidade – gabou-se o diabo.- Quero ver você fazer isso.O diabo tomou a forma de um camundongo. O menino abriu o saco à frente do diabo e o enfiou dentro. O menino

apertou os cordões que fechavam a boca do saco e saiu à procura de dois ferreiros. Pôs o saco sobre a bigorna e disse aos ferreiros que malhassem o saco com seus pesados martelos. O diabo clamou por piedade e por fim o menino lhe disse:

- Posso libertá-lo, se você prometer que desiste de qualquer direito sobre mim e meus descendentes, até a sétima geração.

- Concordo com tudo, se você me soltar.E o menino então libertou o diabo.

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Gênero: ContoO REI MIDAS

(Grécia)

O bebê dormia no berço. Uma fileira de formigas se aproximou. Elas carregavam grãos de trigo nas costas, e com eles marcharam até os lábios do bebê.

Era um velho presságio grego: as pequenas formigas indicavam que o bebê seria um homem rico.O bebê cresceu e se tornou o rei Midas.Enquanto isso... Dionísio, o deus do vinho e das vinhas, tinha um filho chamado Sileno. Sileno, que muito

raramente estava sóbrio, costumava se esquecer de onde estava, quando se embriagava. Eleera a grande preocupação do pai Dionísio.

Ao viajar pelo reino de Midas, como de costume, Sileno ficou bêbado. Não caminhava: cambaleava pela região. E para variar, não sabia onde estava. E assim ele se aproximou de uma região onde havia um rio com um terrível rodamoinho. Um rodamoinho que já matara muitos homens – aliás, sóbrios.

Sileno caiu nas águas. Não conseguia nadar, nem se debater direito. Teria morrido não fosse a intervenção de Midas.

Dionísio ficou muito agradecido. Ofereceu ao rei qualquer coisa que ele quisesse. Midas então pediu que o toque de suas mãos transformasse tudo em ouro.

- Tem certeza do teu pedido? Perguntou Dionísio.Midas insistiu, e a partir daí tudo o que o rei tocava se transformava em ouro.No princípio, Midas achou tudo aquilo maravilhoso. Conseguia transformar pedras, flores, árvores e outros

objetos quaisquer em ouro, ouro sólido.Mas ficou com fome. E resolveu sentar-se para a primeira refeição depois do seu encontro com Dionísio.

Foi servido, mas ao tocar a refeição, ela transformou-se em ouro.Sua filha veio abraçá-lo.Ela também se transformou em ouro.Midas ficou arrasado, e com muito medo de morrer de fome. (Ora, Dionísio sabia que isso ia acontecer)O rei Midas suplicou a Dionísio.O deus ouviu suas súplicas desesperadas, esperando que o rei aprendesse de vez a lição, que a cobiça não

era tudo na vida: era muito perigosa.E retirou o toque de ouro.E foi assim que o rei Midas sobreviveu.