Interseccionalidade (Feminismos Plurais)

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Copy right© 2018Todos os direitos reservados a Pólen Livros, e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998.É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.

Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográficoda Língua Portuguesa.

Direção EditorialLizandra Magon de Almeida

Revisão

Estela Rosa

Luana Balthazar

Projeto gráfico e diagramaçãoDaniel Mantovani

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Akotirene, CarlaInterseccionalidade / Carla Akotirene. -- São Paulo : Sueli Carneiro ; Pólen,2019.152p. (Feminismos Plurais / coordenação de Djamila Ribeiro)ISBN 978-85-98349-69-51. Feminismo 2. Negras 3. Mulheres 4. Discriminação 5. Identidade social 6.Identidade de gênero 7. Opressão (Psicologia) I. Título II. Ribeiro, Djamila III.Série

19-0634 CDD 305.42

Índices para catálogo sistemático:1. Feminismo : Discriminação

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AGRADECIMENTOSAo meu Ori pela firmeza da escrita.

À Djamila Ribeiro e à sua família ancestral pela confiança intelectual depositada.

À minha mãe pelas rezas de tranquilidade.

A Zelinda Barros, Gabriela Monteiro e Lorena Camilo pelos olhos atenciosos querevisaram estas linhas.

Agradeço pelas referências a Carla Ramos, Carol Lira, Wellington Pereira, ArianaSilva, Cristiano Rodrigues, Sayô Adinkra e Márcia Macedo.

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SUMÁRIO

Cruzando o Atlântico em memória da interseccionalidade

Vamos pensar direito: interseccionalidade e as mulheres negras

Atlântico e diferenças entre irmãs:críticas ao conceito de interseccionalidade

A crítica de Angela Davis

Cruzar o Atlântico nem sempre encerra a travessia

Notas e referências

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Das entranhas eu sou encruzilhadasBoca do mundo Marielle desbrava

Misericórdia em volta revolta.

A bala do racismo, do capitalismo,

Do sexismo não nos mata.

Meu sangue quando jorra,molha e nasce muitas de mim

Ori o tempo crava Kawô.Das entranhas eu sou encruzilhadas

Chibata de ferro meu corpo de água.De mulheres negras lésbicas faveladas

Das entranhas eu sou encruzilhadas

Da terra preta, do sagrado,

Do pé preto, mulher calcanhar rachado, mão traçada de calo.Das entranhas eu sou encruzilhadas

Chibata de ferro minha língua navalha,Ira de lágrimas Kawô

Fogo nas águas XangôMaré crespa preta Maré

Ira vira KawôFogo nas águas Xangô

Maré.

Deise Fatuma,Maré Kawô pela voz de Marielle Franco

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Djamila Ribeiro

O objetivo da coleção Feminismos Plurais é trazer para o grande público questõesimportantes referentes aos mais diversos feminismos de forma didática e acessível.Por essa razão, propus a organização – uma vez que sou mestre em Filosofia efeminista – de uma série de livros imprescindíveis quando pensamos em produçõesintelectuais de grupos historicamente marginalizados: esses grupos como sujeitospolíticos.

Escolhemos começar com o feminismo negro para explicitar os principaisconceitos e definitivamente romper com a ideia de que não se está discutindoprojetos. Ainda é muito comum se dizer que o feminismo negro traz cisões ouseparações, quando é justamente o contrário. Ao nomear as opressões de raça,classe e gênero, entende-se a necessidade de não hierarquizar opressões, de nãocriar, como diz Angela Davis, em Mulheres negras na construção de uma novautopia, “primazia de uma opressão em relação a outras”. Pensar em feminismonegro é justamente romper com a cisão criada numa sociedade desigual. Logo, épensar projetos, novos marcos civilizatórios, para que pensemos um novo modelo desociedade. Fora isso, é também divulgar a produção intelectual de mulheres negras,colocando-as na condição de sujeitos e seres ativos que, historicamente, vêm fazendoresistência e reexistências.

Entendendo a linguagem como mecanismo de manutenção de poder, um dosobjetivos da coleção é o compromisso com uma linguagem didática, atenta a umléxico que dê conta de pensar nossas produções e articulações políticas, de modo queseja acessível, como nos ensinam muitas feministas negras. Isso de forma alguma éser palatável, pois as produções de feministas negras unem uma preocupação quevincula a sofisticação intelectual com a prática política.

Neste volume, a autora Carla Akotirene discute o conceito de intersccionalidadecomo forma de abarcar as vivências e intersecções a que está submetida umapessoa, em especial, a mulher negra. O termo define um posicionamento dofeminismo negro frente às opressões da nossa sociedade cisheteropatriarcal branca ede base europeia, desfazendo a ideia de um feminismo global e hegemônico comovoz única.

Com vendas a um preço acessível, nosso objetivo é contribuir para a disseminaçãodessas produções. Para além desse título, abordamos também temas comoencarceramento, racismo estrutural, branquitude, lesbiandades, mulheres indígenas e

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caribenhas, transexualidade, afetividade, interseccionalidade, empoderamento,masculinidades. É importante pontuar que essa coleção é organizada e escrita pormulheres negras e indígenas, e homens negros de regiões diversas do país, mostrandoa importância de pautarmos como sujeitos as questões que são essenciais para orompimento da narrativa dominante e não sermos tão somente capítulos emcompêndios que ainda pensam a questão racial como recorte.

Grada Kilomba em Plantations Memories: Episodes of Everyday Racism, diz:

Esse livro pode ser concebido como um modo de “tornar-se um sujeito” porquenesses escritos eu procuro trazer à tona a realidade do racismo diário contadopor mulheres negras baseado em suas subjetividades e próprias percepções.(KILOMBA, 2012, p. 12)

Sem termos a audácia de nos compararmos com o empreendimento de Kilomba,é o que também pretendemos com essa coleção. Aqui estamos falando “em nossonome”.1

Djamila Ribeiro

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Este volume da Coleção Feminismos Plurais, coordenado pela filósofa DjamilaRibeiro, traz a raiz política, o fundamento e os contrapontos ao conceito deinterseccionalidade. Tal conceito é uma sensibilidade analítica,2 pensada porfeministas negras cujas experiências e reivindicações intelectuais eram inobservadastanto pelo feminismo branco quanto pelo movimento antirracista, a rigor, focado noshomens negros.

Surge da crítica feminista negra às leis antidiscriminação subscrita às vítimas doracismo patriarcal. Como conceito da teoria crítica de raça, foi cunhado pelaintelectual afro-estadunidense Kimberlé Crenshaw, mas, após a Conferência Mundialcontra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Conexas deIntolerância, em Durban, na África do Sul, em 2001, conquistou popularidadeacadêmica, passando do significado originalmente proposto aos perigos doesvaziamento. A interseccionalidade visa dar instrumentalidade teórico-metodológicaà inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo e cisheteropatriarcado3 –produtores de avenidas identitárias em que mulheres negras são repetidas vezesatingidas pelo cruzamento e sobreposição de gênero, raça e classe, modernosaparatos coloniais.

Segundo Kimberlé Crenshaw, a interseccionalidade permite-nos enxergar a colisãodas estruturas, a interação simultânea das avenidas identitárias, além do fracasso dofeminismo em contemplar mulheres negras, já que reproduz o racismo. Igualmente,o movimento negro falha pelo caráter machista, oferece ferramentas metodológicasreservadas às experiências apenas do homem negro.

Feitas considerações iniciais às/aos leitoras/es o desafio político é rejeitar quaisquerexpectativas literárias elitistas, jargões acadêmicos, escrita complexa na terceirapessoa e abstrações científicas paradoxais sob a sombra iluminista eurocêntrica,míope à gramática ancestral de África e diáspora. Do meu ponto de vista, éimperativo aos ativismos, incluindo o teórico, conceber a existência duma matrizcolonial moderna cujas relações de poder são imbricadas em múltiplas estruturasdinâmicas, sendo todas merecedoras de atenção política.

Combinadas, requererão dos grupos vitimados:4

1. instrumentalidade conceitual de raça, classe, nação e gênero;

2. sensibilidade interpretativa dos efeitos identitários;

3. atenção global para a matriz colonial moderna, evitando desvio analítico paraapenas um eixo de opressão.

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É oportuno descolonizar perspectivas hegemônicas sobre a teoria dainterseccionalidade e adotar o Atlântico como locus de opressões cruzadas, poisacredito que esse território de águas traduz, fundamentalmente, a história e migraçãoforçada de africanas e africanos. As águas, além disto, cicatrizam feridas coloniaiscausadas pela Europa, manifestas nas etnias traficadas como mercadorias, nasculturas afogadas, nos binarismos identitários, contrapostos humanos e não humanos.No mar Atlântico temos o saber duma memória salgada de escravismo, energiasancestrais protestam lágrimas sob o oceano.

Segundo profecia iorubá, a diáspora negra deve buscar caminhos discursivos comatenção aos acordos estabelecidos com antepassados. Aqui, ao consultar quem me édevido, Exu, divindade africana da comunicação, senhor da encruzilhada e, portanto,da interseccionalidade, que responde como a voz sabedora de quanto tempo a línguaescravizada esteve amordaçada politicamente, impedida de tocar seu idioma, beberda própria fonte epistêmica cruzada de mente-espírito.

Antes de se preparar o pensamento feminista negro e a interseccionalidade comometodologias, a encruzilhada engolia oferendas analíticas contra nós, razão dedepositar neste texto pontos de vistas produzidos pelas intelectuais negras, escreverpretoguês brasileiro,5 como Lélia Gonzalez, pensadora amefricana – já queneocolonizadores acadêmicos não podem abocanhar a interseccionalidade e nemsequer têm autoridade para dominar o ponto de vista feminista negro.

Indo ao encontro da reflexão epistemológica de Patricia Hill Collins, feministanegra estadunidense, considero a interseccionalidade como um “sistema de opressãointerligado”. Escrevo na primeira pessoa, alinhamento à esquerda, sem recuo daancestralidade africana, forasteira de dentro, na visão de Collins, desafiando asCiências Sociais por autodefinição e autoavaliação intelectual negra, avessa àsferramentas modernas de validação científica.

Venho às mulheres de cor,6 caribenhas, terceiro-mundistas, lésbicas e africanas,invocar a teoria no espírito, responder a Carta7 de Gloria Anzaldúa na fronteira doseu pensamento mestizo, “buscando impedir o sangue coagular na caneta”, repetindoo gesto da sua mão escura que segura a caneta sem o medo de escrever para outrasirmãs espalhadas pelo mundo.

Movida por escrevivências, como Conceição Evaristo,8 proponho cantigadecolonial por razões psíquicas, intelectuais, espirituais, em nome d’águas atlânticas.Mulheres negras infiltradas na Academia, engajadas em desfazerem rotashegemônicas da teoria feminista e maternarem a-feto, de si, em prol de quemsangra, porque o racismo estruturado pelo colonialismo moderno insiste em darcargas pesadas a mulheres negras e homens negros. Lavouras identitárias plantam

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negritudes onde não existem e impõem para nossos úteros significados ocos eocidentais do feminismo branco em detrimento da matripotência iorubana.

Já estabelecendo o diálogo teórico entre o pensamento interseccional de AudreLorde e Achille Mbembe, enquanto as mulheres brancas têm medo de que seusfilhos possam crescer e serem cooptados pelo patriarcado, as mulheres negrastemem enterrar seus filhos vitimados pelas necropolíticas,9 que confessional emilitarmente matam e deixam morrer, contrariando o discurso cristão elitista-brancode valorização da vida e contra o aborto – que é um direito reprodutivo. Nãohavemos de escapar desta encruzilhada teórica. Nela, como é sabido, muitos seconfundiram, seguiram a esmo metodológico o caminho do socorro epistêmico àsmulheres negras acidentadas, múltiplas vezes, em avenidas identitárias. Daí não tercabimento exigirem agência política para que se levantem sozinhas depois dosimpactos da colonização, nem as tratarem como a mãe preta, sobrenatural,matriarca, guerreira, que tudo aguenta e suporta.

Contrariando o que está posto, o projeto feminista negro, desde sua fundação,trabalha o marcador racial para superar estereótipos de gênero, privilégios de classee cisheteronormatividades articuladas em nível global. Indistintamente, seusmovimentos vão, desde onde estejam as populações de cor acidentadas pelamodernidade colonialista até a encruzilhada, buscar alimento analítico para a fomehistórica de justiça.

O feminismo negro dialoga concomitantemente entre/com as encruzilhadas, digo,avenidas identitárias do racismo, cisheteropatriarcado e capitalismo. O letramentoproduzido neste campo discursivo precisa ser aprendido por lésbicas, gays, bissexuaise transexuais, (LGBT), pessoas deficientes, indígenas, religiosos do candomblé etrabalhadoras. Visto isto, não podermos mais ignorar o padrão global basilar eadministrador de todas as opressões contra mulheres, construídas heterogeneamentenestes grupos, vítimas das colisões múltiplas do capacitismo, terrorismo religioso,cisheteropatriarcado e imperialismo. Tais mulheres depositam confiança na oferendaanalítica da interseccionalidade, preparada por suas intelectuais além de,sucessivamente, oferecerem no espaço público o alimento político para os Outros,10proporcionando o fluxo entre teoria, metodologia e prática aos acidentados durante acolisão, amparando-os intelectualmente na própria avenida do acidente. Apesar deabordagens eurocêntricas por vezes chegarem na contramão para dar socorroepistemológico, ignorando o contexto do acidente e causando, por consequência,mais fluxos no cruzamento de raça, gênero e classe… É o modismo acadêmico dainterseccionalidade!

A serventia contemporânea promove carreiras acadêmicas da Europa ebranquitudes brasileiras, já mal-acostumadas com a apropriação intelectual indevida,

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a ponto de órgãos consultivos de igualdade e de controle social das nações adotarempolíticas públicas cumulativas, transversais e pró-formas, de suposto caráterinterseccional, antidiscriminatório. Dentre estas práticas, costumam usar ainterseccionalidade como correspondente às minorias políticas ou à diversidade,chegando mesmo a questionar a agência da mulher negra, como se encruzilhadafosse tão somente o lugar da decisão da vítima: levantar-se ou continuar caída? Sentirou não as feridas da colonização? É da mulher negra o coração do conceito deinterseccionalidade.

Quem já viu algum socorro prestado olhar as características fenotípicas da pessoavitimada? Avaliar se é “mulher de verdade” – e neste caso, se tem vagina, ou qualsua língua, se nativa ou estrangeira? O feminismo negro está interessado em socorrerconsiderando os sentidos: se a pessoa está responsiva aos estímulos lésbicos, se sofreu“asfixia racial”, se foi tocada pela polícia, se está escutando articulações terceiro-mundistas. A única cosmovisão a usar apenas os olhos é a ocidental e esses olhos nosdizem que somos pessoas de cor, que somos Outros. A concepção de mundo queinteressa ao feminismo negro se utiliza de todos os sentidos. E repito, não socorre asvítimas do colonialismo moderno prestando atenção à cor da pele, ao gênero, àsexualidade, genitália ou língua nativa. Considera isto, sim, humanidades. Orixáilustra bem nossa base ética civilizacional: o corpo se relaciona com alteridade,baseado na memória, informação ancestral do espírito, e não pela marcaçãomorfofisiológica, anatômica, fenotípica.

Seria perda de tempo essa epistemologia acompanhada de expedientes ideológicosda cosmovisão ocidental, essa patologia histórica. O maior recurso colonial daeurocivilização consiste em priorizar o corpo, ignorar ferimentos que tendem acomplexificar rapidamente, enquanto diagnosticam, às pressas, o problema “negro,”das “lésbicas,” de “gênero,” dos “latino-americanos”.

O pensamento feminista se deu mediante a construção a ferro e águas atlânticas, ea interseccionalidade veio até nós como ferramenta ancestral. Não por acaso,Sojourner Truth, nascida acorrentada ao escravismo, vendida em leilão aos noveanos de idade, junto ao gado, tornou-se pioneira do feminismo negro. Em discurso deimproviso Eu não sou uma mulher?,11 proferido em 1851, durante a Convenção dosDireitos das Mulheres de Ohio, em Akron, ela denunciou que “ninguém nunca meajudou a subir nas carruagens, nem pular poças de lama […], eu tive treze filhos e via maioria ser vendida pra escravização”. Nestes fragmentos, a intelectualpioneiramente articula raça, classe e gênero, questionando a categoria mulheruniversal, mostrando que se a maternagem obrigatória revela um destino biológicopara todas as mulheres, seria apropriado ressaltar que os filhos e as filhas dasafricanas eram vendidos escravizados.

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Em 1867, no discurso “Keeping the Thing Going While Things Are Stirring”,Sojourner Truth aumentou a ênfase contra o machismo dos homens negros, queconquistaram o sufrágio omitindo qualquer referência às mulheres negras. Opensamento interseccional explicou a matriz de opressão cisheterossexista, etária,divisora sexual do trabalho, segundo a qual, na minha tradução: as mulheres negraseram trabalhadoras nas casas das “mulheres brancas instruídas,” chegavam em casae tinham o dinheiro tomado por “maridos ociosos”, bastante ofendidos porque nãohavia “comida pronta dentro de casa”. Então, a pensadora denuncia a infantilizaçãoda mulher negra: “Eu quero que você considere que sou uma criança de alguém e,eu tenho idade suficiente para ser mãe de todo mundo aqui”.

A despeito do feminismo hegemônico argumentar que na velhice as mulheresexperimentam discriminações geracionais impostas pelo mercado de trabalho, o qualas consideram velhas; e de classe, porque perdem o dinheiro da aposentadoria paranetos e adultos da família, é a marcação de raça que garantirá às mulheres brancasseguridade social, pois estas tiveram emprego formal, e a marcação de classe irámantê-las na condição de patroas. No pensamento de vanguarda de Sojourner Truth,raça impõe à mulher negra a experiência de burro de carga da patroa e do marido.Para a mulher negra inexiste o tempo de parar de trabalhar, vide o racismoestrutural,12 que as mantém fora do mercado formal, atravessando diversas idadesno não emprego, expropriadas; e de geração, infantil, porque deve fazer o que ambos– marido e patroa – querem, como se faltasse vontade própria e, o que é pior,capacidade crítica. Independentemente da idade, o racismo infantiliza as mulheresnegras. Velhice é como a raça é vivida; e classe-raça cruza gerações, envelhecendomulheres negras antes do tempo.

De tal modo, atravessamos séculos articulando raça, classe, gênero e nação. Emdias atuais, aguardamos a impressão da face feminista negra de Harriet Tubmam,generala, abolicionista sufragista, nas cédulas de vinte dólares nos Estados Unidos,circulando o valor interseccional. É a lembrança das rotas ancestrais partidas do RioCombahee à ferrovia subterrânea para libertar escravizados. Há mais de 150 anos,mulheres negras invocam a interseccionalidade e a solidariedade política entre osOutros. Simultâneo a isto, atestam que o machismo presente na comunidade negradeve receber a crítica dada ao racismo feminista, estando o Coletivo CombaheeRiver, organização negra lésbica nascida em 1974, em Boston, Massachusetts, em1977, a defender o pensamento interseccional, através das irmãs Barbara Smith eBeverly Smith, respectivamente, editora dos livros escritos por mulheres de cor,lésbicas e teóricas feministas. Manifestaram ao lado das mulheres de cor que:

Acreditamos que a política sexual sob o patriarcado é tão onipresente nas vidas

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das mulheres negras, quanto às políticas de classe e raça. Também achamos,muitas vezes, difícil separar opressões de raça, classe e sexo porque, nas nossasvidas, elas são quase sempre experimentadas simultaneamente. Nós sabemosque existe uma coisa que é uma opressão sexual-racial que nem é somenteracial nem somente sexual, por exemplo, a história do estupro das mulheresnegras por homens brancos como arma de repressão política. Mesmo sendofeministas e lésbicas, nos solidarizamos com os homens negros progressistas, enão defendemos o fracionamento que as mulheres brancas separatistasreivindicam.13

Por certo, produções e posicionamentos como esse, além de encontraremcaminhos de ressarcir vozes secularmente inaudíveis até a publicação, advertemequívocos analíticos da sociedade civil e Estado toda vez que a mulher é tomada demodo universal. Diga-se de passagem, iniquidades de gênero nunca atingirammulheres em intensidades e frequências análogas. Gênero inscreve o corporacializado. Entretanto, enfoques socialistas encurtados à cantilena de classe negaramhumanidades africanas, além do fato de negras serem mulheres e estupros coloniaisteremnas transformado em produtoras e reprodutoras de vidas expropriadas notrabalho de parto, e seus filhos em mercadorias as quais, elas, em tese, mães, nãotinham o direito à propriedade. É fetiche epistemicida omitirmos clivagens racistas,sexistas e cisheteronormativas estruturadas pelo Ocidente cristão.

Ademais, foi brilhante o pensamento feminista negro de Sojourner Truth, quearticulou discursivamente as estruturas de racismo, capitalismo, cisheteropatriarcadoe etarismo, marcando a sensibilidade analítica da interseccionalidade à compreensãodas experiências atribuídas às mulheres negras, dezesseis anos antes do Capital,publicado em 1867. O Dr. Carlos Moore, ao tratar da teoria de Marx e Engels,assinala que

O raciocínio de ambos era simples: a carnificina e pilhagem fora da Europaseriam a base para o desenvolvimento vertiginoso, no Ocidente, do Capitalismoindustrial e da classe de trabalhadores assalariados. Por sua vez, isso levaria àrevolução e, enfim, ao Socialismo. Eles pouco se importavam com asconsequências do imperialismo ocidental para suas vítimas não ocidentais. Naverdade, estavam convencidos de que a dominação ocidental era o agente da“civilização” e, assim, para o bem dos próprios povos colonizados. Engels seriabem explícito neste sentido: “Não há calamidade histórica que não sejacompensada pelo progresso. É apenas o modus operandi que se modifica”.14

Ao contrário do raciocínio ocidental, as mulheres negras evidenciaram destreza

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corpórea, insubmissão política em defesa do abolicionismo e sufrágio, preocupadasem superar toda e qualquer opressão, sem que, para isto, credenciais acadêmicasvalidassem este conhecimento. A teoria feminista argumentou haver discursosmasculinos produzidos pela ordem patriarcal, responsáveis por modelarsubjetividades femininas condicionadas a tornar a mulher uma categoria de Outro:obedientes filhas, boas esposas, mães compulsórias e cúmplices das violênciaspraticadas contra elas, conforme assinala Simone de Beavouir, no livro O segundosexo,15 publicado em 1949, e Marilena Chauí, em 1985, no artigo “Participando dodebate sobre mulher e violência”.16

Notemos que mulheres negras, na condição de Outro, propuseram ação,pensamento e sensibilidade interpretativa contra a ordem patriarcal racista,capitalista, sem nenhuma conivência subjetiva com a dominação masculina. Asmulheres negras escolheram lutar pelo sufrágio e pela abolição, defenderam oshomens negros e as companheiras brancas, reconhecendo que, quer seja descrito,quer seja analítico, isolado de outras categorias de análise, o marcador gêneroexplica as violências sofridas por mulheres brancas, bem como a categoria raçaexplica o racismo imposto aos homens negros.

A interseccionalidade nos mostra mulheres negras posicionadas em avenidas longeda cisgeneridade branca heteropatriarcal. São mulheres de cor, lésbicas, terceiro-mundistas, interceptadas pelos trânsitos das diferenciações, sempre dispostos aexcluir identidades e subjetividades complexificadas, desde a colonização até acolonialidade, conforme pensam Maria Lugones e Avtar Brah.

Sem dúvida, mulheres negras foram marinheiras das primeiras viagenstransatlânticas, trafegando identidades políticas reclamantes da diversidade, semdistinção entre naufrágio e sufrágio pela liberdade dos negros escravizados e contraopressões globais. Elas construíram o pensamento feminista negro e, por mais quelembranças ancestrais nos remetam às aguas do Rio Combahee, nuncaesqueceremos que, em 1969, o feminismo negro de Frances Beal publicou o “BlackWomen’s Manifesto; Double jeopardy : To be Black and Female”,17 argumentoteórico e politicamente contra a necropolítica colonialista moderna, cruzandocapitalismo, imperialismo ocidental e racismo estrutural, e tendo em vista que

Os Estados Unidos patrocinam clínicas de esterilização em países não brancos,especialmente na Índia, onde cerca de 3 milhões de jovens homens e meninosem Nova Déli e arredores foram esterilizados em salas de cirurgiaimprovisadas, montadas pelos trabalhadores americanos da força de paz. Nestascircunstâncias, é compreensível que certos países considerem o Corpo da Paznão como um projeto benevolente, não como evidência da preocupação da

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América com áreas subdesenvolvidas, mas como uma ameaça à sua própriaexistência.18

Com efeito, a interseccionalidade exige orientação geopolítica. Ori rege cabeçasnegras em diálogo com as epistemologias do Sul.19 Do ponto de vista feministanegro, intelectuais estadunidenses são consideradas como tais – saberes periféricosdo lado sul-nortista: norte porque, dos Estados Unidos, vivem sob a batutasupremacista-imperialista de publicação, difusão e tradução de conhecimento aoresto do mundo, e sul, pois sofrem racismo e sexismo epistêmicos impostos pelageografia do saber do Norte Global.

Antes de serem estadunidenses, as feministas são negras e refletem experiênciaspós-coloniais nas águas atlânticas como nós, suas irmãs de barco, noutra América.Uma vez que a água para as mulheres negras é fundamento epistemológico, nãosendo à toa, por identidade ancestral, sermos todas chamadas de ialodês – títuloconsagrado a Oxum, senhora das águas e mensageira política das reivindicações dasmulheres, na Nigéria – vale considerar, que distante do feminismo branco com“místicas femininas”20 em alusão representativa da prisão feminina no espaçoprivado – Oxum representa aquela que tem autoridade no espaço público-privadopara reivindicar em nome da comunidade, como marcam os pontos de vistas deJurema Werneck e Sueli Carneiro.

Em presença do paradigma afrocêntrico, valhome das intelectuais africanasOy èronké Oy èwúmi, Bibi Bakare, Sy lvia Tamale, Chimamanda Ngozi Adichie, semrejeitar a descolonização epistêmica, afrocentrada, das pensadoras bell hooks,Angela Davis, Patricia Hill Collins, Jasbir Puar, Audre Lorde, Alice Walker,conceituadas amefricanas por Lélia Gonzalez, pensadora brasileira que reposicionoua região colonizada, Améfrica Ladina, criticando o monoculturalismo epistêmico dosEstados Unidos.

A amefricanidade proposta por Lélia Gonzalez, na década de 1980 e, em seguida,a abordagem decolonial, consolidada nos anos 2000 de modo cabal, através de MariaLugones, pensadora argentina, criticam a postura missionária da civilização ocidental– metodologicamente interseccionam as estruturas de raça, gênero, sexualidade,nação e classe, estabelecendo coro latino-americano contra o colonialismo,imperialismo e monopólio epistêmico ocidental.

As duas concepções rompem ficções do discurso hegemônico estadunidense quevê a “América” como um capitão salvador do resto do mundo, e não calha de sê-lo,nem no item Norte Global, segundo Lélia Gonzalez, voz desobediente nas CiênciasSociais, expositora do sexismo e racismo na cultura brasileira.

Nesta direção, a biografia de Lélia Gonzalez,21 da Coleção Retratos do Brasil

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Negro, produzida por Alex Ratts e Flavia Rios, utiliza o tom feminista negro paraapresentar Oxum, orixá regente da pensadora, nacionalidade, gênero e classe,movimentando a textura intelectual não linear, não objetiva e não neutra dainterseccionalidade, revelando arranjos ancestrais do ponto de vista de LéliaGonzalez, sobretudo na década de 1980. Em seguida, publicam A perspectivainterseccional de Lélia Gonzalez,22 confirmando a antecipação conceitual deinterseccionalidade na pensadora “que, militante acadêmica, articulava o racismo, osexismo e a exploração capitalista”.23

Fazendo jus ao pensamento de Lélia Gonzalez, a tradição feminista negraestadunidense nos deu a matriz interseccional, publicando a obra Mulheres, raça eclasse,24 escrita pela filósofa Angela Davis, em 1981. Os efeitos do capitalismo,racismo e sexismo marcam o ponto de vista feminista negro, reconhecendo asmulheres brancas como trabalhadoras companheiras antiescravocratas, não obstante,próximas do racismo. A obra debate o trabalho doméstico, a exploração de classe, osabusos sexuais direcionados às mulheres exploradas – como negras, comotrabalhadoras, como mulheres – além do choro da mulher negra e suas denúnciasserem consideradas ilegítimas. Também considera que os homens negros sofreramconsequências de raça-sexo, mergulhadas de estereotipias, linchamentos eclassificação racial acusatórias de sê-los abusadores sexuais das mulheres brancas.

O livro Ain’t I a Woman, o primeiro de bell hooks, também publicado em 1981,ajusta a metodologia interseccional articulando o impacto sexista na experiência dasmulheres negras durante e após a escravatura, a desvalorização da subjetividade, omachismo dos homens negros, o racismo feminista e a vontade intelectual detrabalhar o paradigma afrocêntrico para defender um povo. Teoria, metodologia einstrumento prático, a interseccionalidade revela o ciclo lunar da militânciaencabeçada pelas intelectuais negras, numa diversidade de marés na história dofeminismo, rejeita a brancura das ondas feministas, que não passaram experiênciasda colonização e nem sequer compuseram o projeto intelectual emocionado,manifesto de força teórica negra, sem estar presa às correntes eurocêntricas esaberes narcísicos.

Contrária ao padrão de apagamento linguístico, inferiorização espiritual earquitetônica, dos quais partem os genocídios europeus, alargados pela exportação decorpos feminizados, pelo saqueamento, catequização e falsa descoberta da América,convalido a “desobediência epistêmica,” argumentada por Walter Mignolo,25 emdefesa da identidade política e não da política de identidade. Do meu ponto de vistadecolonial, é contraproducente empregar interseccionalidade para localizar apenasdiscriminações e violências institucionais contra indígenas, imigrantes, mulheres,

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negros, religiosos do candomblé, gordos e grupos identitários diversificados. O padrãoglobal moderno impôs estas alegorias humanas de Outros, diferenciadas naaparência, em que preconceitos de cor, geração e capacidade física, aperfeiçoamopressões antinegros e antimulheres – mercadorias humanas da matriz colonialmoderna heteropatriarcal do sistema mundo.

O problema não está necessariamente nas respostas identitárias dadas à matrizcolonial, mas quais metodologias usamos para formular tais respostas, que, não raro,enveredam para uma dependência epistemológica da Europa Ocidental e EstadosUnidos; a exemplo, feminismo da mulher universal e marxismo. Ademais, ascorrentes marxistas e o feminismo hegemônico podem ser resumidas nos seguintestópicos: somente nas relações do “sistema sexo-gênero” a fêmea da espécie humanaé transformada numa mulher domesticada, segundo o pensamento de Gay leRubin.26 Ou, ainda, somente nas relações capitalistas um negro é transformado emescravo, como no pensamento de Karl Marx. Duas formulações obcecadas a daremo norte salvacionista europeu às identidades políticas, respectivamente, de mulheres eclasses trabalhadoras, afastando-se os negros da condição de trabalhadores e negrasda identidade de mulher. Preferem ignorar que as ideologias, hoje conhecidas comoxenofobia, neoliberalismo, divisão internacional do trabalho, opressão patriarcal degênero e discriminação racial, vieram, com certeza, a partir do século XV, com os“descobrimentos” da Europa. Depois, o neocolonialismo, no final do século XIX,dividiu o continente africano e trouxe significados identitários multifacetados para adiáspora negra, lacunas discursivas propositalmente secundarizadas. Havemos deconcordar quando Audre Lorde diz: “as ferramentas do opressor não vão derrubar acasa grande”.27

De pronto, a interseccionalidade sugere que raça traga subsídios de classe-gêneroe esteja em um patamar de igualdade analítica. Ora, o androcentrismo da ciênciamoderna imputou às fêmeas o lugar social das mulheres, descritas como machoscastrados, estereotipadas de fracas, mães compulsórias, assim como os pretoscaracterizados de não humanos, macacos engaiolados pelo racismo epistêmico.

Pretas e pretos são pretas e pretos em qualquer lugar do mundo. Na profusão deidentidades viajantes, contingentes, fluidas, a cor da pele não se desarticula daidentidade preta, a qual, em tese, poderia ser vista como de brasileiro impedido deentrar nos Estados Unidos, da mesma forma os africanos pretos, comumente vistosafricanos e não pelas nacionalidades recém-chegadas no Brasil. Sabe por quê? Nãopodemos fugir da raça e das conexões entre categorias analíticas, quem bem sabedisso é o projeto intelectual negro. A Europa somente abre mão da identidade políticade padrão global colonialista quando epidemias apontam o problema da regiãoocidental, exigindo que diga a nação afetada pela presença de africanos e não o

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continente. Quando o inverso acontece, o problema particular de um país africano étransformado no problema da África, por isto Chimamanda Ngozi Adichie alertasobre o perigo da história única e Patricia Hill Collins diz que os eixos da sociabilidadehumana atuam e influenciam simultaneamente, dando às pessoas acesso àcomplexidade do mundo e de si mesmas.

A interseccionalidade permite às feministas criticidade política a fim decompreenderem a fluidez das identidades subalternas impostas a preconceitos,subordinações de gênero, de classe e raça e às opressões estruturantes da matrizcolonial moderna da qual saem. Eu não posso falar da perseguição do homemafricano aos homossexuais e às lésbicas no território sem utilizar aporteinterseccional na identificação dos norteamentos evangélicos, heterossexistas,propalados pela Europa, porque, “ideologicamente derrotado, ele não o fez porquegostasse de Jesus Cristo ou dos brancos”.28

Adiante, Dr. Carlos Moore, na obra Racismo & Sociedade: novas basesepistemológicas para entender o racismo,29 censura atuações neoidentitárias, quandoinobservam as estruturas do racismo e sexismo. Na perspectiva do autor, tentarmosequiparar racismo a opressões emergentes como gordofobia, preconceitos contrafeios ou bully ing, significa desconsiderar o racismo como uma estrutura dedominação documentada em pelo menos 4 mil anos de existência. Estou de acordoque “tanto os homossexuais brancos quanto os negros são estigmatizados pelahomofobia de negros, mulheres ou homens, a despeito de esses últimos serem o alvoprincipal do racismo”.30

Por outro lado, a epistemologia feminista negra, pensada por Patricia Hill Collins,recrimina argumentos de competição entre os mais excluídos, as hierarquias entreeixos de opressão e violações consideradas menos preponderantes. Juntos, racismo,capitalismo e heteropatriarcado devem ser tratados pela interseccionalidadeobservando os contornos identitários da luta antirracista diaspórica, a exemplo dosbrancos de candomblé, que argumentam opressões religiosas sofridas, ignorando queos ataques impostos ao candomblé são, precisamente, ataques contra a cultura dopovo negro. A indumentária afrorreligiosa para alguns brancos é situacional,individual e provisória, por vezes, até mesmo mais um capital cultural, simbólico epolítico. Basta lembrarmos como Pierre Verger, Antônio Carlos Magalhães e NinaRodrigues fizeram carreira intelectual e política valendo-se da autoridade religiosa nocandomblé e produziram racismos e sexismos com a licença poderosa de seuscargos religiosos.

O cisheteropatriarcado refaz, do mesmo modo, o confessionário das misoginiascontra as mulheres lésbicas, reestruturando as sistemáticas do colonialismo moderno.Para o pensador decolonial Grosfoguel, genocídio e epistemicídio são estruturas

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modernas inseparáveis, tais quais sexismo e racismo.31 Logo, a partir da suaconcepção, se as africanas e africanos nas Américas foram impedidos de pensar,orar ou praticar seus fundamentos, submetidos aos racismos epistêmicos religiosos edepois ao racismo de cor, o sexismo fez as mulheres serem queimadas como bruxasna inquisição, destruídas sob a forma de bibliotecas de oralidade, na Europa. Osindígenas, por serem seguidores da espiritualidade não-cristã do sistema do mundomoderno colonial, sofreram a matança que permanece aos não-brancos,implicações políticas esboçadas pelas intersecções coloniais dinamizadas por fluxosidentitários.

De lá para cá, esse padrão eurocêntrico restaurou prerrogativas cristãs,nacionalistas, racializadas da engrenagem do mundo moderno e respondeteoricamente às problemáticas criadas por ele mesmo. “Nenhum estudante sério eimparcial pode ser enganado pelo conto de fadas da bela Civilização de escravos doSul”.32 A matriz de opressão europeia tem procurado retirar os racismos ocidentaisdo foco usando a interseccionalidade para cruzar gênero-nação-sexualidade, demodo a expor quão desempoderadas são as mulheres terceiro-mundistas. Ascategorias gênero e sexualidade, racializadas, permitem nomear os africanos dehomófobos, cultos de orixás de amaldiçoados, de perversos os sacrifícios animais,homens negros de feminicidas, normativos e incivilizados, opostos à Europa e aosEstados Unidos.

Sem embargo, às feministas negras não resta alternativa intelectual senão a deabarcar o transatlântico e dar sentidos, além da cosmovisão colonial, às relações depoder reconfiguradas pela modernidade, imbricadas e postas à apreciação analíticada teoria interseccional; construindo uma canoa de resgate discursivo daquelas edaqueles outros, negados por critérios raciais e por separatismos identitários, a pontode raça, categoria analítica imprescindível na abordagem interseccional, sofrerinferiorização diante de sexualidade e gênero, pois o branco LGBT, a mulher ditaocidental, a classe trabalhadora e o brasileiro mestiço, jamais declaram que sãobrancos no Brasil, e deixam de analisar a branquitude auto-invisibilizante para setrasvestirem ora de esquerda, ora de não-binários, ora somente de humanos, tendoem vista, biologicamente, raça inexistir.

A articulação metodológica proposta pelas feministas negras, atualmente chamadade interseccionalidade, recupera as bagagens ancestrais perdidas, milhões delasespiritualmente, presentes nestas palavras do transatlântico, pois que nas palavras deFarani, Carrascosa, Augusto, Sousa, Campos e Reis “os projetos decolonial e negro-feminista farão a recalibragem deste instrumento náutico para corrigirnos dosperigos de invisibilização dos locais afrodiasporicamente potentes”.33

Com articulação teórica, podemos reassumir a discussão sobre colonialidade da

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natureza, conceituada pelo peruano Aníbal Quijano no giro decolonial do final dosanos 1990, pois, certamente, a diáspora negra sofreu apropriação privada do marAtlântico, território a cargo de Iemanjá – guardiã africana iorubá das cabeças-oris etambém da consciência de existirmos há pelos menos 3 milhões de anos, segundo asdescobertas arqueológicas. Quinhentos destes de escravização promovida pelobranco colonizador. “Nada é sagrado para a civilização ocidental branca e cristã”,34já nos disse Abdias Nascimento.

O impacto do colonialismo à natureza fez milhares de pretos serem atirados aoOceano e lançou a dicotomia entre natureza e humanidade do padrão capitalistaglobal. As feminilidades e masculinidades construídas pelo cisheteropatriarcado eracismo, juntos, saíram dessa experiência; no Atlântico, africanas choraramfeminilidades e africanos seguraram o choro das masculinidades. Mulheres negrasdesde então são castigadas mais vezes, segundo bell hooks,35 por chorarem muitodiante dos colonos, somente para incomodá-los em seus sonos injustos, de acordocom Conceição Evaristo.36

A diáspora negra deu suor, lágrimas e sangue ao gosto do Mar. O apagamentoepistêmico ainda é o “sal-ário” da experiência salgada de modo que me ancorocompletamente à teoria do ponto de vista feminista negro. Metodologicamente, adotoatitude decolonial,37 transdisciplinar ensinando a teoria transgredir como bell hooks,cartografando o pensamento de mulheres negras e terceiro-mundistas.

Banco esta gramática ancestral para sentidos analíticos sobre interseccionalidade,em respeito à “ori-entação” analítica, ação consciente do Ori – cabeça – em direçãoao Sul Global e às memórias naufragadas pelo colonialismo, suficientementeabordado por Fanon,38 Maria Lugones39 e Curiel40.

De nada adianta intelectuais defenderem a descolonização do feminismo semlegitimar negrura perspectivista em nível psíquico, cognitivo e espiritual dasepistemes. Sem afastar modelos ocidentais do tipo materialismo histórico, junto coma “consubstancialidade” recomendada por Daniele Kergoart, socióloga francesa, querecusa o pioneirismo feminista negro que propôs interseccionalidade. Ela,inadvertidamente, escolhe ler tripla dimensão da realidade histórica: divisão sexualdo trabalho, controle sexual reprodutivo das mulheres e racismo.

Por antipatia, disputa política e contestação à consubstancialidade, defendo a teoriainterseccional, confiando na densidade do pensamento das feministas negras aodeclarar através de Audre Lorde que

Qualquer ataque contra pessoas negras é uma questão lésbica e gay, porque eu emilhares de outras mulheres negras somos parte da comunidade lésbica.

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Qualquer ataque contra lésbicas e gay s é uma questão de negros, porquemilhares de lésbicas e gay s são negros. Não existe hierarquia de opressão. Eunão posso me dar ao luxo de lutar contra uma forma de opressão apenas. Nãoposso me permitir acreditar que ser livre de intolerância é um direito de umgrupo particular.41

Mulher + negra + nordestina + trabalhadora + travesti + gorda, segundo ametodologia de Patricia Hill Colllins, trata-se de visão interseccional inválida aoprojeto feminista negro. A interseccionalidade impede aforismos matemáticoshierarquizantes ou comparativos. Em vez de somar identidades, analisase quaiscondições estruturais atravessam corpos, quais posicionalidades reorientamsignificados subjetivos desses corpos, por serem experiências modeladas por edurante a interação das estruturas, repetidas vezes colonialistas, estabilizadas pelamatriz de opressão, sob a forma de identidade. Por sua vez, a identidade não pode seabster de nenhuma das suas marcações, mesmo que nem todas, contextualmente,estejam explicitadas.

Notemos, analiticamente, o medo sentido por mulheres brancas ao passarem pelasperiferias em certos horários. Para a interseccionalidade, importa saber, além disso,a aflição imposta ao negro visto como perigoso, na medida em que a vulnerabilidadede um, surge mediante a presença desconfiada do outro. Errôneo argumentarmos afavor da centralidade do sexismo ou do racismo, já que ambos, adoecedores etipificados, são cruzados por pontos de vistas em que se interceptam as avenidasidentitárias.

A rigor, qualquer misógino teria condições de violentar uma mulher, branca ounegra, rica ou pobre, que cruzasse o espaço. A interseccionalidade nosinstrumentaliza a enxergar a matriz colonial moderna contra os grupos tratados comooprimidos, porém não significa dizer que mulheres negras, vítimas do racismo defeministas brancas e do machismo praticado por homens negros, não exerçamtécnicas adultistas, cisheterossexistas e de privilégio acadêmico.

Ao lado de homens negros da sua geração, as mulheres negras mais velhas podemnem perceber a imposição política que exercem em relação às mais jovens,aconselhando-as a pauta da juventude, onde disputam com jovens negros adescentralidade do debate sobre violência policial, uma vez que a violência sexista eo aborto são muitas vezes temas secundarizados, apesar de gênero e geração seremarticulados racialmente. Em tempo, para a pesquisadora Fabiana Leonel, “aencruzilhada das várias categorias nas dinâmicas sociais forma uma complexa redede desigualdade que se perpetua e se reestrutura”.42

O pensamento interseccional nos leva reconhecer a possibilidade de sermos

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oprimidas e de corroborarmos com as violências. Nem toda mulher é branca, nemtodo negro é homem, nem todas as mulheres são adultos heterossexuais, nem todoadulto heterossexual tem locomoção política, visto as geografias do colonialismolimitarem as capacidades humanas. Segundo o professor Cristiano Rodrigues, alémdisso, a interseccionalidade estimula o pensamento complexo, a criatividade e evita aprodução de novos essencialismos.43

Recomenda-se, pela interseccionalidade, a articulação das clivagens identitárias,repetidas vezes reposicionadas pelos negros, mulheres, deficientes, para finalmentedefender a identidade política contra a matriz de opressão colonialista, que sobrevivegraças às engrenagens do racismo cisheteropatriarcal capitalista. Sendo assim, nãoapenas o racismo precisa ser encarado como um problema das feministas brancas,mas também o capacitismo como problema das feministas negras cada vez queignoramos as mulheres negras que vivem a condição de marca física ou geradapelos trânsitos das opressões modernas coloniais: sofrendo o racismo por seremnegras, discriminadas por serem deficientes. Portanto, na heterogeneidade deopressões conectadas pela modernidade, afasta-se a perspectiva de hierarquizarsofrimento, visto como todo sofrimento está interceptado pelas estruturas.

Não existe hierarquia de opressão, já aprendemos. Identidades sobressaltam aosolhos ocidentais, mas a interseccionalidade se refere ao que faremos politicamentecom a matriz de opressão responsável por produzir diferenças, depois de enxergá-lascomo identidades. Uma vez no fluxo das estruturas, o dinamismo identitário produznovas formas de viver, pensar e sentir, podendo ficar subsumidas a certas identidadesinsurgentes, ressignificadas pelas opressões.

O “pardo dilema”, discutido pela professora Joyce Lopes, auxilia entendermos ainterseccionalidade de raça junto aos demais marcadores sociais. A autoclassificaçãodo sujeito que se declara negro sendo ele branco, destoa a aplicação dainterseccionalidade, porque o racismo não alcança esta experiência, por mais que seapresente de turbante, significados religiosos de candomblé, seja de classetrabalhadora, a sistemática racista não alcança esta identidade na matriz de opressão,ali, na avenida em que estruturas se articulam, simplesmente, porque o racismo estáaí, como dito, há mais de 4 mil anos, há quinhentos anos mostrando a suamodernidade. Acessórios estéticos de negro são resolvidos quando as identidadestiram as aparências e mantêm suas peles brancas.

Quando se fala branco se está falando para além da cor da pele, até devido afluidez e contingência da experiência de “brancura” – a mesma pessoa é identificadade modo diferenciado em regiões diferentes, pois para a Europa, entretanto, só ébranco o branco europeu. Vejamos o branco como sistema político, em que raça,classe e gênero proporcionam uma experiência imbricada de privilégios, não

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podendo a raça negra sobrepujar a inscrição identitária, sob risco de mau uso daferramenta interseccionalidade.

Bastante evidente no caso Rachel Dolezal,44 ativista estadunidense negra que, emsuma, é branca. Reservando anotações de saúde mental, sua transracialidade foifrustrada pelo “pacto narcísico”, conforme explica Dra. Maria Aparecida Bento.45 Aidentidade branca desmascara quem se passa por negro sem sê-lo, dando as chancespolíticas de ser branco de verdade.

A interseccionalidade nos permite partir da avenida estruturada pelo racismo,capitalismo e cisheteropatriarcado, em seus múltiplos trânsitos, para revelar quais sãoas pessoas realmente acidentadas pela matriz de opressões. A interseccionalidadedispensa individualmente quaisquer reivindicações identitárias ausentes dacoletivamente constituída, por melhores que sejam as intenções de quem deseja sefiliar à marca fenotípica da negritude, neste caso, as estruturas não atravessam taisidentidades fora da categoria de Outros.

Logicamente, para a Europa, branquitude é um sistema de poder muito além dabrancura da pele, distinto do caso brasileiro, da mestiçagem, como quer ademocracia racial defendida pelas elites brancas e trânsitos regionais com seusdeslocamentos de privilégios.46 Daí interseccionalidade ser útil para perceber ondecomeça o racismo e termina a discriminação regional, a xenofobia e as opressõesressignificadas contextualmente.

A interseccionalidade é sobre a identidade da qual participa o racismo interceptadopor outras estruturas. Trata-se de experiência racializada, de modo a requerersairmos das caixinhas particulares que obstaculizam as lutas de modo global e vãoservir às diretrizes heterogêneas do Ocidente, dando lugar à solidão política damulher negra, pois que são grupos marcados pela sobreposição dinâmica identitária.É imprescindível, insisto, utilizar analiticamente todos os sentidos paracompreendermos as mulheres negras e “mulheres de cor” na diversidade de gênero,sexualidade, classe, geografias corporificadas e marcações subjetivas.

É fácil discursivamente desautorizarmos usos hegemônicos de interseccionalidade,resgatando somente Du Bois ao considerar branquitude um privilégio, pois istoimplica no valor político de ter mais um salário, o “salário público e psicológico”.47Esse salário amortiza os prejuízos de ser pobre numa nação capitalista, e dificulta aunião de classe trabalhadora, pois o trabalhador branco tem um salário a mais erecebe os benefícios da branquitude, ao mesmo tempo que a brancura geraoportunidades de trabalho, aspirante à classe média, garantindo dignidades no acessoa bens e serviços, boas escolas para estudar, sem sofrer depredação ambiental oufalta de saneamento.

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Distanciando do contexto dos direitos civis estadunidenses e trazendo para perto,mulheres negras pobres pariram filhos com microcefalia,48 não por causa dapobreza. Todavia, porque são negras, vítimas do racismo, gerador de pauperização,atendimento público precário, ausência de saneamento, impedindo os mosquitos depicarem trabalhadoras brancas com mesma frequência. Epidemias como zika emicrocefalia são, antes de tudo, dimensões do racismo institucionalizado, conformeexplica a epidemiologista e pesquisadora de interseccionalidade, Emanuele Góes.49Mesmo a branquitude crítica, definida categoricamente por Lourenço Cardoso comoaquela reflexiva sobre a respectiva condição antirracista e privilegiada por serbranca, não deveria empregar interseccionalidade em benefício analítico próprio,quiçá, usar da gramática racial para reconhecer esse lugar, quando contextos foremneutralizados raça por classe, geração, escolaridade, religião, território, profissãodentre outros marcadores sociais, erroneamente agregados no lugar de raça.50 Cabeà identidade branca usar interseccionalidade para desconstruir a falsa vulnerabilidadeuniformizada, demonstrar o contexto das branquitudes, não incorrer de oportunismosfraudulentos no sistema de cotas raciais – chegando a “desenterrar a avó negra oucolocarem o pé na senzala”,51 conforme menciona Joy ce Lopes.Interseccionalidade revela o que classe pode dizer de raça, da mesma forma queraça informa sobre classe. “Raça é a maneira como a classe é vivida”, conformeensina Angela Davis.52

Em função da popularidade acadêmica da interseccionalidade, vale dizer que sejapara refletir patriarcado na Alemanha – e dizer isto não é desmerecer a pauta,legítima – a proposta metodológica da interseccionalidade funciona como localizadorda experiência do racismo, comungado às outras estruturas presentes, discursiva epoliticamente, na vida de trabalhadoras domésticas na Europa, por exemplo, quasesempre levadas a escravizações sexuais. As feministas alemãs devem utilizar-se doconceito para perceber a experiência diferenciada das mulheres negras naquele país,cruzada por marcações sociais múltiplas em investigação analítica das suas.

A interseccionalidade não é narrativa teórica de excluídos. Os letramentosancestrais evitam pensarmos em termos como “problema negro”, “problema damulher” e “questão das travestis”. Aprendamos com a pensadora Grada Kilombaque as diferenças são sempre relacionais, todas e todos são diferentes uns em relaçãoaos outros. Raciocínio exato sobre a interseccionalidade, desinteressada nasdiferenças identitárias, mas nas desigualdades impostas pela matriz de opressão.53

O conceito interseccionalidade está em disputa acadêmica, há saqueamento dariqueza conceitual e apropriação do território discursivo feminista negro quandotrocamos a semântica feminismo negro para feminismo interseccional, retirando o

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paradigma afrocêntrico. A proposta de conceber a inseparabilidade docisheteropatriarcado, racismo e capitalismo está localizada no arcabouço teóricofeminista negro, e quem o nega comete epistemícidio e racismo epistêmico. “E,assim como o blues, lamento dos escravos negros, é apresentado à admiração dosopressores. É um pouco de opressão estilizada que agrada ao explorador e aoracista”.54

Necessitamos compreender cisheteropatriarcado, capitalismo e racismo,coexistindo, como modeladores de experiências e subjetividades da colonização atéos dias da colonialidade. Para nós, mantermos o feminismo negro é dizer que ainterseccionalidade denota riqueza epistêmica, que desta vez não será tirada dadiáspora africana. O feminismo negro substituído por feminismo interseccionalequivale explorar a riqueza intelectual de África e chamar isso de modernidade.

Acredito, por identidade política, que devamos mencionar a interseccionalidadecomo sugestão das feministas negras55 e não dizer feminismo interseccional, umavez que este escamoteia o termo negro, bem como o fato de terem sido as feministasnegras proponentes da interseccionalidade enquanto metodologia, visando combatermultideterminadas discriminações, pautadas inicialmente no binômio raça-gênero.

Estou certa do neoliberalismo usufruir do conceito de interseccionalidade, emvirtude de ele ter sido cunhado no campo do Direito e este campo ser manuseadopelo brancocentrismo, punitivismo e criminalização de pessoas negras. Então prefereo feminismo interseccional, querendo usar a seletividade racial do Direito, disposta afazer uso do conceito, porém não do conteúdo, anterior ao período em que o conceitofoi cunhado por Kimberlé Crenshaw, em 1989. A prerrogativa do Direito podecriminalizar homens negros, africanos, defender encarceramentos, sem dizer queestes institutos discordam das bases epistemológicas do feminismo negro. Odespautério metodológico é tanto que usam até interseccionalidade no campopunitivo particular reportando ao pensamento feminista negro de Angela Davis, umaabolicionista penal.

Contrariamente, a interseccionalidade aplica a criação de mais conflitos às leisbinárias do Direito e defesa das lutas antirracistas, tendo em vista imporemcisgeneridades heteropatriarcais, que ignoram lésbicas e trans negros como vítimasdo racismo, mulheres negras como duplamente discriminadas. Comparáveis,comunidades negras parecem usar a cisgeneridade referenciada pelos olhos, ondemachos normativos são vistos verdadeiramente como negros. Desta maneira, aepistemologia sapatão sugerida pela Dra. Tany a Saunders, menciona os legados dacolonização em nível psíquico, erótico e político nos quais as mulheres negrassomente “cabem serem Evas do movimento – extensão da coluna masculinaheterossexual, nunca subversivas Liliths, lésbicas não podem existir sem serem

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esquecidas das narrativas cristãs contemporâneas.” Saunders relata:

Eu estive no Brasil quando Luana Barbosa foi assassinada. Foi horrível. Após suamorte, os debates começaram a emergir online. As pessoas discutiam sobre elaser trans ou lésbica, surgiram debates que destacavam as dificuldades que asmães lésbicas negras sofrem e ser uma mãe lésbica negra foi algo questionado.Enquanto eu assistia esses debates em torno de políticas identitárias, eu não pudedeixar de pensar que mesmo quando levantaram sua blusa e mostraram os seusseios isso não foi suficiente para escrevê-la enquanto “humana” aos olhos dapolícia.56

Na mesma fundamentação, Luiza Bairros, intelectual brasileira, denunciou aarticulação de racismo-sexismo presente nos recursos masculinistas da comunidadenegra, pois, na percepção de Bairros, sofremos discriminação por parte dosmilitantes homens, que não aprofundam a questão da mulher e ainda desenvolvemboicote da militância feminista dentro do Movimento Negro.57

Pesquisadoras negras, inversamente, mostram parceria política desenvolvendotrabalhos acadêmicos emersos de articulação de raça, masculinidade e classe, a citarAna Flauzina,58 Juliana Borges59 e Vilma Reis60. Elas denunciam e condenampoliticamente a violência policial praticada contra os homens negros, o etiquetamentoe a seletividade racial. Fora do Brasil, a extensiva literatura feminista negra de bellhooks agencia o amor, com vistas a desenvolver empatia e engajamentos teóricospara com os homens negros, não tratando como sentimento romântico, lembrandocertamente de Rosa Parks, costureira negra que infringiu as leis segregacionistasestadunidenses, recusando-se a dar o assento no ônibus para o branco. Dr. LutherKing, reverendo ativista negro, ajudou a mobilizar idas e vindas a pé de mulheresnegras e homens negros em boicote aos transportes públicos, articulando classe, raçae gênero na irmandade amorosa.

Se o machismo fez Luther King mais conhecido que Rosa Parks, sonegando omérito das mulheres negras terem espalhado cartazes pelas ruas, realizarem ostrabalhos domésticos em suas próprias casas e nas das patroas e frequentarem aigreja durante a noite sem usar o transporte público por quase um ano, a literaturafeminista branca, segundo bell hooks, prefere revelar “o retrato da masculinidadenegra que constrói homens negros como fracassados, psicologicamente fodidos,perigosos, violentos, maníacos sexuais cuja insanidade é informada por suaincapacidade de cumprir seu destino masculino falocêntrico em um contextoracista”.61

A ausência de articulação entre raça, classe e gênero, tanto na teoria feminista

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quanto na produção afrocêntrica,62 por certo criou inobservâncias interseccionaisprodutoras do alarmante cenário de violência contra as mulheres negras, pois, aindana década de 1980, logo após surgirem as primeiras delegacias da mulher, aspublicações feministas trabalhavam a mulher universal. O Estado, por sua vez, sealimentava destas concepções para formulação e avaliação de políticas públicas.

Por outro lado, a morte da feminista negra brasileira Beatriz Nascimento63, “aatlântica”, é bastante emblemática neste sentido. Setores do movimento negroargumentaram que o racismo motivou o crime, ocorrido em 1995, quandosupostamente o homicida não aceitou a intromissão duma mulher negra norelacionamento violento. Segundo a Folha de S.Paulo, no julgamento, a namorada doassassino, Áurea Gurgel da Silveira, também foi condenada por tentar desqualificar avítima. Áurea disse que Beatriz Nascimento fazia orgias e aliciava menores, tentandomanchar a memória da companheira morta e defender a do réu confesso, seuagressor doméstico. Por estas razões políticas, a interseccionalidade, na tradição dofeminismo negro interessa à sua proponente, Kimberlé Crenshaw. Na compreensãode Luiza Bairros, aponta possibilidades de pensar os aspectos raciais da discriminaçãode gênero, sem perder de vista os aspectos de gênero da discriminação racial.64

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Criticar o mau uso ou a despolitização do conceito não invalida a sua capacidadeexplicativa da experiência, quer dizer, a crítica deve ser feita aos sujeitos que,imbuídos de uma perspectiva interseccional, deixam de falar das desigualdadesraciais e de contribuir na luta antirracista.

Angela Figueiredo, Apresentação e comentários à entrevista de Ochy Curiel.65

Em 1989, Kimberlé Crenshaw publicou em inglês o artigo “Demarginalizing theIntersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of AntidiscriminationDoctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics”,66 inaugurando o termointerseccionalidade. Posteriormente, em 1991, reaplicou na publicação “Mapeandoas margens: interseccionalidade, políticas de identidade e violência contra mulheresde cor”67 para descrever a localização interseccional das mulheres negras e suamarginalização estrutural, aportada à teoria crítica da raça e conceito provisório deinterseccionalidade.

Desde então, o termo demarca o paradigma teórico e metodológico da tradiçãofeminista negra, promovendo intervenções políticas e letramentos jurídicos sobrequais condições estruturais o racismo, sexismo e violências correlatas se sobrepõem,discriminam e criam encargos singulares às mulheres negras. Conforme dissemos, éo padrão colonial moderno o responsável pela promoção dos racismos e sexismosinstitucionais contra identidades produzidas durante a interação das estruturas, queseguem atravessando os expedientes do Direito moderno, discriminadas à dignidadehumana e às leis antidiscriminação.

A inalterabilidade do feminismo branco, movimento antirracista e instâncias dedireitos humanos, se deve ao fato destes, absolutamente, encontrarem dificuldadesmetodológicas práticas na condução das identidades interseccionais. Sensibilidadeanalítica – a interseccionalidade impede reducionismos da política de identidade –elucida as articulações das estruturas modernas coloniais que tornam a identidadevulnerável, investigando contextos de colisões e fluxos entre estruturas, frequência etipos de discriminações interseccionais.

No campo jurídico, podemos identificar a exclusão racial por critério de gêneropromovida pelo universalismo das políticas públicas relacionadas, o fato de mulherese meninas negras estarem situadas em pelo menos dois grupos subordinados que,frequentemente, perseguem agendas contraditórias, dando impressão de que todas asviolências policiais dilatadas para o sistema penal são contra homens negros. Todas asviolências domésticas dilatadas para o encarceramento feminino ou feminicídios são

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impostas às mulheres brancas.Destarte, as mulheres negras sucumbem aos ativismos comunitários voltados

menos para si, enovelados pelo padrão moderno no qual suas identidades sãorevertidas às de mães solteiras, chefas de família desestruturadas, “mulheres da paz”efetivas no resgate de jovens criminosos. Através desta articulação de raça, gênero,classe e território, em que os fracassos das políticas públicas são revertidos emfracassos individuais, ausências paternas na trajetória dos adolescentes e jovens sãoinevitavelmente sentenças raciais de mortes deflagradas pela suposta guerra àsdrogas.

Além disso, o padrão colonial ora elege as mulheres negras como dirigentes dotráfico de drogas, ora homicidas de companheiros violentos, quando não, pactuamcom as coações impostas por filhos e maridos encarcerados para que transportemdrogas até o sistema prisional, numa faceta hedionda punitivista das mulheres negras.

O cenário mencionado traz para os feminismos e movimentos antirracistaschances metodológicas de preencherem lacunas acadêmicas sobre oencarceramento negro e violências contra as mulheres, usando aportes dasubordinação interseccional. Traz insumos gendrificados em direção ao EstadoPenal, demonstrando como os expedientes racializados da revista vexatória –inspeção do ânus em busca de entorpecentes para visitas institucionais – desfazemlaços familiares das masculinidades avessas a negociação do corpo patriarcal.

Some-se o fato de o colonialismo cristão embarcar votos de silenciamento dasreligiões de matriz africana, evitar o acesso de sacerdotes de candomblé e umbandaao cumprimento da assistência religiosa às internas – direito previsto na Lei deExecução Penal, que violado, traz solidão e complexidades à saúde da populaçãonegra.

Ademais, celas são ambientes domésticos.68 Mulheres sentenciadas convivemalheias à Lei Maria da Penha, por sua vez, incapaz de perceber as identidades peloprisma da violência interseccional, independentemente de qual seja o espaço deafetividade. Ora, os agressores não-cisgêneros, hegemônicos, quando encarceradoscomo se fossem meramente mulheres, abusam impunemente das cis ladys sabendoque, fundamentalmente, a lei parte do corpo biológico e visão colonial. Contornosinterseccionais da Lei de Execução Penal, de costas para a Lei Maria da Penha, têmlevado vítimas a silenciarem suas queixas para não perderem benefícios de remissãoda pena, havendo de ser descartada, caso o mau comportamento e indisciplinaconfirmem agressores e agredidas já privados de liberdade.

A despeito dos direitos humanos permitirem acesso irrestrito, independentementede raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição, asmulheres negras se veem diante dos expedientes racistas e sexistas das instituições

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públicas e privadas por lhes negarem primeiro trabalho e, depois, o direito humanode serem reclamantes das discriminações sofridas. A interseccionalidadeinstrumentaliza os movimentos antirracistas, feministas e instâncias protetivas dosdireitos humanos a lidarem com as pautas das mulheres negras. Compreenderem,por exemplo, que nos Estados Unidos a General Motors, até a década de 1960, nãocontratava mulheres negras e, quando passou a fazê-lo na década seguinte, mantevea discriminação de raça e gênero prescrita às demissões compulsórias e restriçõespara admissão baseadas na altura e no peso corporal de seus funcionários.

Em 1976, a trabalhadora Emma DeGraffenreid e várias mulheres negrasprocessaram a General Motors por discriminação, sob o argumento de que aempresa segregava a força de trabalho por raça e gênero, pois os homens negrostrabalhavam na linha de montagem e as mulheres brancas nos serviços desecretariado. Para a Corte, tradicionalmente masculina e branca, é muito difícilcompreender a identidade interseccional e criminalizar o racismo e o sexismoinstitucionalizados contra as mulheres negras sem enveredar pelos mesmosexpedientes que as levaram recorrer às leis antidiscriminação, senão desmarginalizarraça e gênero. Adotando nisto o ponto de vista de Crenshaw, frequentemente e porengano, pensamos que a interseccionalidade é apenas sobre múltiplas identidades, noentanto, a interseccionalidade é, antes de tudo, uma lente analítica sobre a interaçãoestrutural em seus efeitos políticos e legais. A interseccionalidade nos mostra como equando mulheres negras são discriminadas e estão mais vezes posicionadas emavenidas identitárias, que farão delas vulneráveis à colisão das estruturas e fluxosmodernos.

Por serem mulheres e negras, há limite de a jurisdição compreender a entrada dasmulheres e dos negros no mercado de trabalho se, a bem da verdade, as mulherestrabalhavam na parte administrativa da General Motors e os negros nas funções queexigiam força física, linha de montagem. Nenhum dos homens pretos reclamantesnos tribunais precisaria combinar duas causas numa ação para serem entendidos pelojuiz, enfim, eram negros; as mulheres brancas também não precisavam combinarduas marcações identitárias numa ação por serem apenas mulheres – a classetrabalhadora dirige-se a nós por não sermos capitalistas, o cruzamento do racismo esexismo geram vulnerabilidades e ausência de seguridade social para mulheresnegras.

Com efeito, o pensamento interseccional de Kimberlé Crenshaw explica estacolisão entre avenidas identitárias promotoras de barreiras raciais e sexistas paramulheres negras que, em tese, não se encaixavam nos tipos de trabalhos oferecidosàs mulheres e nem elegíveis pela multinacional aos homens negros. Explicitamente,trata-se de “discriminação interseccional”, combinada racialmente para contrataçãode pessoas negras por política de gênero. A complexidade da prática discriminatória

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não se encerra em si mesma, e revela a ocorrência de mulheres negras sofrerem ainterpelação dos tribunais e serem discriminadas por estes, que consideramimprocedentes suas queixas, já que não conseguiriam combinar duas causas namesma ação processual de racismo e sexismo.

A interseccionalidade baseada no feminismo negro conta os porquês de mulheresbrancas poderem representar judicialmente as mulheres de cor, bem como oshomens negros poderem representar toda comunidade negra na Corte, enquanto asmulheres negras, segundo Kimberlé Crenshaw, não estarem elegíveis para demarcara própria experiência particular da discriminação sem que suas causas fossemindeferidas.

Crenshaw se propõe a dessencializar a identidade, sem deixar de explicar asestruturas modeladas nesta identidade, produtoras de contextos aprimorados, adiante,pela exclusão política, silenciamento e discriminação. Quer investigar o fracasso dalei, considerando os equívocos retóricos dos movimentos negros e dos feminismoscoparticipantes desta discriminação, porque insistem em produzir insumos teóricospara o Estado e sociedade civil sem, antes, analiticamente conceberem identidadesinterseccionais, sendo improvável enfrentarem o racismo desconsiderando tamanhaobviedade.

Se, de um lado, nem todas as mulheres foram excluídas das indústrias e nem todosos negros foram excluídos do mercado de trabalho, somente a análise interseccionaldestacou a forma com que as mulheres negras sofrem a discriminação de gênero,dando múltiplas chances de interseccionar esta experiência. Quando ausentes osletramentos interseccionais para as abordagens feministas e antirracistas, ambosreforçam a opressão combatida pelo outro, prejudicando a cobertura dos direitoshumanos.

Em 2004, o Estado brasileiro também recebeu condenação pela inobservância dadiscriminação racial sofrida por Simone André Diniz, pois, em 1997, ao pleitear umavaga de empregada doméstica, ela encontrou no anúncio da Folha o requisito de“preferência branca”, presencialmente sua inelegibilidade do pleito por ser umamulher negra. Após essa vítima apresentar a queixa na Delegacia Policial deInvestigação de Crimes Raciais, o Estado brasileiro, sobretudo através do MinistérioPúblico, esvaziou a investigação policial, solicitando o arquivamento, por considerarque a criminosa, senhora Aparecida Gisele Mota da Silva, nem sequer praticou atosque pudessem constituir o racismo previsto na Lei 7.716/89, havendo o deferimentodo juiz competente sem a desmarginalização de classe, raça e gênero sugerida pelainterseccionalidade.

Todavia, as leis antirracistas, assim como as pautas do movimento negro, tambémignoram o marcador de gênero informante da opressão, o mesmo se dá nosmovimentos feministas com a insistência do marcador de gênero que não enxerga

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raça, acentuando as experiências de opressões feminizadas. O Artigo 5º daConstituição Brasileira assegura o direito fundamental de todas e todos serem tratadosiguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza. Em tese, caso osinstrumentos protetivos do nosso país queiram, de fato, combater as discriminaçõesque impedem o exercício das liberdades fundamentais, precisam averiguar asperformances sexistas e racistas de seus expedientes usando a abordageminterseccional.

Com efeito, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deve compreender quenem todo menor de idade é visto pela justiça como adolescente, já que asexperiências geracionais são diferenciadas pelo racismo, transformando negros emmenores e brancos em adolescentes durante as sentenças das medidassocioeducativas pelos juizados, quando raça e gênero se cruzam. Socialmente, aexperiência de gênero racializada leva adolescentes a serem tratados como homensnegros, com responsabilidades precoces de classe, que deram margens aos atosinfracionais, às sentenças definidas e às discriminações que fluem em atenção àsidentidades interseccionais.

Urge enfoque interseccional de feministas brancas, capaz de compreender ainimputabilidade imposta aos homens brancos após cometerem crimes contra aadministração pública. Brancos lesam a nação inteira, agridem mulheres e, noentanto, têm penas suavizadas. A interseccionalidade leva em conta a classe,promotora das negociatas com as polícias e sistemas penais, diferentemente doshomens negros pobres, aos quais foram imputados os estereótipos de perigosos,agressores de mulheres e maníacos sexuais.

Assim, vejamos a Lei Maria da Penha, resultante duma articulação internacionalde feministas majoritariamente brancas, de classe média e acadêmicas, querepresentam o direito das mulheres viverem sem violência e homenageia afarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de duas tentativas dehomicídios, e a posterior impunidade do marido, professor universitário MarcoAntonio Heredia Viveros, que a deixou paraplégica e, após ser julgado em 1996,cumpriu apenas dois anos de reclusão.

Ao contrário de homens brancos, universitários e de classe média, os homensnegros se deparam com o discurso feminista de encarceramento em massa, pois

Infelizmente, encarceramento sempre significou mais do que privação deliberdade. No caso das mulheres enquanto que visibilizamos a violênciadoméstica no debate público, não trazemos para o centro do debate ainvisibilidade e situação de extrema violência no cárcere. As prisões dependemda violência para funcionarem.69

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Convergente à pesquisadora Juliana Borges, sendo informada também pelacentralidade desta pauta na “interseccionalidade política”, formulada por KimberléCrenshaw, podemos exemplificar inúmeros expedientes continuativos dessa violênciade gênero atravessada por raça – supostamente resolvida pelo Estado através doencarceramento – que se manifesta na inoperância das delegacias de atendimento àmulher aos sábados, domingos e feriados, nos horários noturnos e madrugadas,períodos de maior ocorrência de violências contra as mulheres negras moradoras debairros periféricos; redes de atendimento e centros de referência geralmenteinstalados longe dos territórios vulnerabilizados, em prejuízo às rotas feitas pelasvítimas em busca de apoio jurídico e suporte psicossocial. Tudo isto somado o fato deo sistema de notificação ser denso e exaustivo, além de conduzido por profissionaisque não conhecem a política de atenção à saúde da população negra, encarando oproblema de saúde como sendo de segurança pública. A cor da vítima para serautodeclarada durante a notificação da violência sofrida atesta um dado malcoletado, em prejuízo da consistência dos relatórios elaborados pelas governançasacerca das assimetrias de raça e gênero e, metodologicamente, tornam defasadaspolíticas públicas de promoção da igualdade, saúde, assistência, mulheres, pordesconhecerem identidades interseccionais passíveis da transversalidadeorçamentária e de gestão.

Além da violência atravessar as raças, classes e gerações, as queixas das mulheresnegras sofrem estigmatização pelos aparelhos do Estado, devido às mulheres negrasserem moradoras de espaços considerados perigosos, identificados como pontos detráfico de drogas pelas mídias televisivas. O machismo, além disto, propicia aosagressores de mulheres, delegados, juízes e ativistas de direitos humanos, o encontrode iguais, porque a polícia que mata os homens no espaço público é a mesma quedeixa as mulheres morrerem dentro de suas casas70 – o desprestígio das lágrimas demulheres negras invalida o pedido de socorro político, epistemológico e policial.

Outra consideração a se fazer é sobre o fato de mulheres negras quererem mediaro fim da violência sem, necessariamente, demandarem a prisão dos seuscompanheiros, levando em conta a marca colonial conter a privação de liberdade.Dizer isto não significa defender o pagamento de cesta básica à punição alternativapor danos físicos, patrimoniais, psicológicos e morais contra a mulher, mas reafirmara necessidade de identificar o elitismo e racismos da Lei Maria da Penha e seus apriori raciais infantilizantes da mulher negra, querendo “ela dar e retirar a queixasem a presença do juiz”. Conforme pensam os autores de Discursos negros:legislação penal, política criminal e racismo

Pelo que se pode constatar a demanda pela proteção das mulheres tem abranquitude como parâmetro, fraturando a experiência daquelas que têm no

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terror racial um ingrediente patente que autoriza e potencializa toda a sorte devilipêndios que as assaltam.71

Pouco mencionam o caráter analítico das produções teóricas sobre violências degênero, o caráter universalizante produzido por feministas brancas. Ora, as primeirasdelegacias especializadas de atendimento à mulher, durante a década de 1980, noBrasil, estiveram ausentes dos conteúdos interseccionais, sobremaneira os estudossobre violências de gênero discorreram sobre dominação masculina, dominaçãopatriarcal e negociação da violência. Sabemos que as intelectuais Angela Davis, bellhooks, Audre Lorde, Patricia Hill Collins e vozes feministas de Tina Turner nosEstados Unidos e Elza Soares no Brasil, já tinham gritado a violência à mulher negraneste período, mas até as abordagens progressistas e antirracistas escolheram nãobeber da fonte feminista negra. “Se não se nomeia uma realidade, sequer serãopensadas melhorias para uma realidade que se é invisível”.72

O epistemícidio da teoria feminista produziu os altos índices de violência contra amulher negra. Houve falta de metodologias73 adequadas às realidades das mulheresnegras e a preocupação central com a categoria gênero, adiando a marcaçãoracializada do fenômeno, discutida por Heliete Saffioti sobre simbiose do racismo,capitalismo e patriarcado. Ou bastasse visitar as contribuições da pesquisadoraCecilia Sardenberg na marca interseccional dos seus trabalhos,74 neles há omonitoramento e avaliação das políticas para as mulheres, amiúde na visão deKimberlé Crenshaw

O problema não é simplesmente que as mulheres que dominam o movimentode antiviolência são diferentes das mulheres de cor, mas que frequentementetêm poder para determinar seja através de recursos materiais ou retóricos, se asdiferenças interseccionais de mulheres não-brancas serão incorporadas naformulação básica de políticas. Assim, a luta pela incorporação dessasdiferenças não é um conflito insignificante ou superficial sobre quem se sente àfrente da mesa.75

O Direito tem sua dinâmica interseccional, misoginias e racismos institucionais edá conta dos mesmos recursos administrativos responsáveis por obstruir às mulheresnegras o direito de registrarem queixas, levando em conta discursos prévios sobremulheres fáceis, raivosas, perigosas, sexualmente disponíveis. O descrédito dasreivindicações das mulheres negras é consequência da intersecção complexa dosistema moderno, atravessado por discriminações de raça e de gênero, no qual oletramento interseccional de Kimberlé Crenshaw conclui que

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A interseccionalidade pode fornecer os meios para lidar com outrasmarginalizações também. Por exemplo, a raça também pode ser uma coalizãode pessoas heterossexuais e homossexuais e assim servir como base para acrítica das igrejas e outras instituições culturais que reproduzem oheterossexismo.76

Por último, a interseccionalidade conceituada por Kimberlé Crenshaw, após aConferência Mundial de Durban, buscou instrumentalizar especialistas em torno doscompromissos estabelecidos pelas Nações Unidas, desestabilizar o padrão de podermoderno, cruzar as diretrizes da Declaração Universal dos Direitos Humanos(DUDH) e Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de DiscriminaçãoContra Mulheres (CEDAW).

Os Estados-Nações precisam reconhecer, monitorar e apresentar soluções para adiscriminação interseccional sob o risco de infringirem os acordos mundialmenteestabelecidos na Conferência de Durban, em 2001. Enfrentar odesempoderamento77 imposto ao Sul Global, prestando atenção à subordinaçãointerseccional e as estratégias partidas da periferia para o centro.

Sem êxito, tentam resolver as problemáticas das nações através do que Crenshawchamou de “superinclusão”, na medida em que um problema interseccional éabsorvido pela estrutura de gênero, sem investigar outras estruturas como o racismoou heterossexismo. Podemos mencionar adolescentes mortas após abortos inseguros.Superincluído, gênero aponta para a criminalização do direito reprodutivo,78 quandoa interseccionalidade exporia classe e geração na experiência de gênero, explicandoo acesso das mulheres adultas e brancas às clínicas particulares, em condição segurade abortamento.

Crenshaw menciona a subinclusão da discriminação, segundo o argumento da“diferença” tornar invisível um conjunto de problemas emersos de forçaseconômicas, culturais e sociais silenciadas. A violência racial contra a mulher atingeum nível de complexidade subinclusivo, por isto, após Durban, Kimberlé Crenshawdefiniu interseccionalidade como

A conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais edinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trataespecificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressões declasse e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas queestruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras.Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticasespecíficas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo

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aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento.79

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Entender como o apagamento da categoria raça ocorre pode ser feito traçandoas formas como a interseccionalidade viajou, primeiramente a partir da históriadas mulheres negras e do feminismo negro para o feminismo em geral, e dofeminismo do Sul para o Norte Globais.

Sara Salem, O mal-estar na Teoria Interseccional: interseccionalidade nasteorias viajantes.80

Na diáspora africana, “irmã” pode ser considerada aquela intelectual cujaexperiência atlântica fez viagens teóricas pelo feminismo decolonial proposto porMaria Lugones, precursora do enfoque moderno colonial de gênero. Irmã tambémpode ser a mulherista, a mais nova do barco das ialodês a publicar pontos de vistas demulheres subalternizadas.

Independentemente das incursões teóricas, temos provas da multidimensionalidadedo pensamento de mulheres negras no Atlântico. Somos informadas das dimensõeseconômicas, políticas, ideológicas e das diferenças entre nós, conforme Audre Lorderevela em “Irmã intrusa, idade, raça, classe e sexo: mulheres redefinindodiferenças”.81 Universalizante e deliberada, a sororidade dá a falsa impressão deexistir empatia e homogeneidade de posicionamento terceiro-mundista, africano eestadunidense contra o colonialismo moderno.

Em nome da irmã universal, parcelas significativas de nós negam a existência doracismo estrutural nas plataformas feministas, que desconhecem privilégiosacadêmicos que nos separam e os impasses por estarmos decididas a lutar ao ladodos homens negros, mesmo sabendo do teor hegemônico das suas masculinidades.“As mulheres negras têm umbigos diferentes e seus cordões foram cortados emcontextos diferentes”.82 Para Audre Lorde, após a colonização, aprendemos a tirarlucro das diferenças, eliminar o excedente humano através de desumanizaçõesetnicorraciais constando lesbofobia e etarismo militantes. “Na América, essa normaé geralmente definida pelo branco, magro, masculino, jovem, heterossexual, cristãoe financeiramente seguro”.83

De todo modo, o traço civilizacional de África nos posicionamentos da diáspora, afronteira mestiza entre México e Estados Unidos, a experiência indígena massacradanas Américas são massa ancestral do pensamento feminista negro, decolonial e afro-latino-americano. Emoção exata para cruzarmos pontos de vistas, confrontarmos asirmãs mulheristas e historicizarmos a polissemia das mulheres de cor, atravessadaspela interseccionalidade atlântica.

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Ora, até o termo diáspora vem do contexto grego, expressa separação geográfica.A diáspora africana84 traz memória e água do Atlântico às Américas e à Europa.Podemos entender, já no comércio de escravizados pelo mar Mediterrâneo, naAntiguidade; e do oceano Índico e do mar Vermelho, na Idade Média, estasdispersões de africanas e africanos,

Consequentemente à desorganização social e política dos diferentes povosatingidos pelo holocausto africano – num modelo de globalização econômica,cultural e política que precede o atual, numa perspectiva predatória que emergeda Europa e se espalha pelos demais continentes – novas alternativas tiveramque ser gestadas e aplicadas, no sentido de se buscar patamares de existência eresistência cultural.85

A matriarcalidade negra, criticada por bell hooks, faz parte das reificaçõesculturais elaboradas pelas ciências sociais, validadas equivocadamente por setoresantirracistas, por discursos modernos, em certa medida, a fim de tirar proveito dosestereótipos produzidos para mulheres negras consideradas bestiais, masculinizadas,sub-humanas, incapazes de produzir conhecimento.86 Vistas pelas lentes de raça, asmulheres negras aguentam dor física; por classe são vistas como protótipos dafeminização da pobreza e atravessam gerações sendo chefas de famílias, vitoriosasdas dificuldades impostas pelo imperialismo colonial. A saber, estes estereótiposrecaem nas autoridades religiosas do candomblé, constrangidas a sustentar arquétiposmatriarcais, presas nas imagens de controle. Elas estão impedidas de gritar asviolências fora do escopo familiar tradicional.

Com certeza, devemos ao colonialismo moderno desafios intelectuais dentro dasepistemologias feministas, além daqueles vigorosamente feitos contra oandrocentrismo e linearidades científicas, real motivo de pensar como Bernadino-Costa e Grosfoguel87 que, de fato, alguém situado socialmente no lado oprimido dasrelações de poder não significa que vai pensar epistemicamente a partir do lugarepistêmico subalterno. O prejuízo da ferramenta interseccionalidade ocorremediante maus usos acadêmicos por pessoas negras fora do lugar epistêmico, namedida em que as genealogias de masculino/feminino agregam superinclusõesanalíticas de pesquisadoras negras, silenciando significados inscritos nos corpos dasfêmeas posicionadas no mundo. Não é de agora as críticas às metanarrativasocidentais sobre maternidade e gênero elaboradas pela branquidade científica e pelosfeminismos negros. A teoria feminista, quase na íntegra, foi produzida pela EuropaOcidental e Estados Unidos – parece óbvio, é preciso dizer, que ela não podefotografar a África com suas lentes, visto que a imagem trazida à luz traz efeitos de

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subinclusão epistêmica, revela epistemícidios causados pela centralidade dacategoria gênero ou categoria interseccionalidade que seja, prestigiada e financiadapelo Norte Global. O discurso político de sororidade às mulheres terceiro-mundistaspreenche a carreira acadêmica de quem desenvolve pesquisas feministasinstrumentalizadas pela visão ocidental, incabíveis até se forem feminismos negros.

O desafio imposto às epistemologias africanas é desaprovar, publicamente, teoriasdiásporicas negras, onde os conceitos feministas e os estudos de gênero estejampautados em categorias ocidentais, confeccionadas de forma simplista, binária e defamília nuclear, em que o macho é sempre superior, como pontua os trabalhos deOy èrónké Oyěwùmí.88

Os povos colonizados herdaram traumas psíquicos, perderam significadosespirituais, linguísticos e cosmológicos como parte da subjugação da Europa aoconhecimento de africanas e africanos, daí a marginalização das epistemes locais,segundo pensa a pesquisadora nigeriana, requerer um feminismo que aborde aprodução de conhecimento a partir das categorias africanas e de como atualmente aantiguidade modela interconexões das relações sociais. O feminismo negro não podemanusear exclusivamente o mítico aludido ao povo perdedor, levantar hipótesesapressadas sobre genitálias mutiladas, papéis sociais atribuídos às mulheres, cânticossagrados, caso considere o saber das sociedades pré-coloniais antes do transeAtlântico. A interseccionalidade nasce no contexto estadunidense, não há dúvida arespeito disto; seria válido global e analiticamente, a partir da nigeriana, prestarmosatenção às formas em que a antiguidade como privilégio entrelaça atualmentegênero, marcador analítico criado para explicar privilégios dos homens eminstituições que, pelo menos no contexto africano, no passado não revelavamsuperioridade masculina, de acordo com Oy ěwùmí.89

Pela crítica africana, as epistemologias feministas difundiram conceitos, ideias eemoções de maneira hegemônica, transpondo significados mal traduzidos.Autoridades femininas reais, como Oba,90 foram desfeitas, traduzidas somente paramajestade ancestral masculina. Sistemas de conhecimento foram ignorados, comvistas, por exemplo, à negação de experiências marcadas pela maternidade,casamento e família, desenraizadas do modelo nuclear ocidental, razão dapesquisadora Oy èrónké Oy ěwùmí mencionar gênero como categoria historicamenterecente para o povo iorubá, com aplicação particular da colonização europeia e valorepistêmico colonial. Longe de desconsiderar a aplicação de gênero racializado porKimberlé Crenshaw, Avtar Brah e Patricia Hill Collins, apenas de acordo comOy èrónké, dizer que conteúdos biologizantes submetidos à cultura não criaram adominação masculina e dominação patriarcal fora do Ocidente. Mesmo a biologia éposterior ao conhecimento iorubá, de modo que demonstrarmos anacronismos

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históricos sobre mulheres africanas, após colonização, é maior prova do respeito àirmandade, às diferenças entre irmãs.

Feministas brancas e negras usam a abordagem da interseccionalidade paraevidenciar hierarquias impostas pelos machos, desconhecendo o fato dessassubordinações funcionarem no sistema de antiguidade adquirida, não pelas relaçõesde poder propagadas por gênero. De acordo com Oy èrónké Oy ěwùmí,91 a iyá, ou amaternidade, explana a categoria mais estruturante e fluida em dinâmicas sociais,políticas e de organização espiritual, mas

O fato de que as categorias de gênero ocidentais são apresentadas comoinerentes à natureza (dos corpos), e operam numa dualidade dicotômica,binariamente oposta entre masculino/feminino, homem/mulher, em que omacho é presumido como superior e, portanto, categoria definidora, éparticularmente alienígena a muitas culturas africanas. Quando realidadesafricanas são interpretadas com base nessas alegações ocidentais, o queencontramos são distorções, mistificações linguísticas e muitas vezes uma totalfalta de compreensão, devido à incomensurabilidade das categorias einstituições sociais.92

Na obra The Invention of Women: Making an African Sense of Western GenderDiscourses,93 Oy èrónké Oy ěwùmí demonstra que gênero analiticamente nãointerpreta como a fêmea se torna mulher e mãe, então, as diferenças biológicas,centrais para validação da teoria feminista não determinam gendramentosinvariáveis. A “matripotência” – supremacia da maternidade, ausente abordageminterseccional contextualizada, gera pressas analíticas sobre a realidade iorubá quesegue sendo teoricamente considerada primitiva e oposta à tecnologia ocidental, negaa construção da maternidade aplicada às ialodês dissociada de contratos sexuais docasamento, aplicada à noção errônea de mães solteiras ou de mulheres dependenteslinguisticamente dos homens, a exemplo da woman – mulher que contém homem –demonstrando a variação epistêmica na diáspora causada pela colonização. EmÁfrica, na localização demarcada pela categoria antiguidade, a hierarquiasocialmente construída é vista como recurso transponível, pois que no territóriovariam os contextos de idade e geração. O sistema dissocia anatomia do corpo esistemas de gênero, refazendo privilégios de antiguidade construída formal econtextualmente, pouco interessa se é jovem ou velho o corpo, definitivamente, oponto de vista biológico não produz poder cultural. Embora a africana de Uganda,Sy lvia Tamale discorde refletindo que

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Mulheres solteiras e sem filhos carregam um estigma permanente, como umímã em seus pescoços. Elas são vistas pela sociedade como imaturas, atémesmo como um ser humano pela metade. Assim, os papéis domésticos demãe, esposa e dona de casa tornam-se as construções fundamentais daidentidade das mulheres em África.94

Na diáspora africana brasileira, o prestígio político das grandes mães funcionaestritamente nos terreiros de candomblé, espaço de resistência negra restaurada porlaços de afeto, família e hierarquia, no qual uma ialorixá carrega os valoresancestrais e culturais torneados de África. A mulher torna-se mãe dentro da relaçãocom a ancestralidade, não-nuclear, podendo ser matrilinear, em que filhosindependem dos laços sanguíneos e do estado civil. Significa então dizer que nãosomente homens adultos podem gozar de prestígios oportunizados pela antiguidade epostos na família não-nuclear e não-heterossexual. Sem dúvida, a dedicação àpesquisa interseccional sobre como a dominação masculina se reconfigura,posicionada neste arranjo pulverizado de poderes, pode revelar se homens comcargos religiosos transpõem masculinidades hegemônicas para dentro dascomunidades, ou, se pensadoras acadêmicas usam a classe para subordinar irmãsnão-letradas para funções domésticas.

Para amefricanas e para epistemologias africanas, o macho não é a norma. Dasiabás, aprendemos com Oxum a transpor poderes patriarcais e nos impor sem perdera doçura, a maternidade e voz pública. As feministas Sueli Carneiro e Cristiane Curycostumam lembrar que,

[…] embora Oxalá só possa usar a cor branca, ele põe nos cabelos a penavermelha, o ekodide, em homenagem ao sangue menstrual, símbolo dafertilidade e da concepção. Então, percebem que a dominação masculina não seexplica pela natureza inferior da mulher, mas pelo reconhecimento de suaspotencialidades e pelo temor que isso inspira.95

Podemos dizer que a interseccionalidade produz deslocamentos epistêmicos deÁfrica para a diáspora em decorrência de nem sempre nós, pesquisadoras negras,dedicarmos o trabalho intelectual amplo e aprofundado de reflexão acadêmica. Épreciso entender a maternidade guardada pelas ialodês, a igualdade de poderproposta por Oy á, a autoridade cor roxa de Nanã e suas irmandades religiosas maisvelhas. Compreendermos quando a feminista africana Bibi Bakare-Yusuf recomendaaos feminismos

Aceitar que a maternidade é uma experiência potencialmente aberta a todas as

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mulheres e não se liga ou reduz as mulheres para a experiência ou identidade.No entanto, os proponentes da teoria do sexo dual não reconhecem que amaternidade ocorre dentro de contextos moldados por papéis e identidadessocialmente desiguais para homens e mulheres. Somente uma teoria que éprofundamente cúmplice do poder patriarcal, portanto, pode reduzir a identidadefeminina ao aspecto materno.96

A interseccionalidade, conforme vimos, nos coloca na encruzilhada do pensamentofeminista negro. É possível, embora ilegítimo, identidades políticas se alimentaremda interseccionalidade na ausência do feminismo negro, é possível evitar ainterseccionalidade de Kimberlé Crenshaw para não legitimar usos brancocêntricos.Falo isto sabendo que, na crítica das feministas à ciência, defendemos a validade dasexperiências como conhecimentos situados constituintes do projeto intelectualemancipatório, que a boa ciência está ancorada na parcialidade, na provisoriedade,na instrumentalidade teórica, sem finitude característica do homem modernoheteropatriarcal.

Cartografo aqui os registros teóricos das minhas irmãs por conhecê-las bastante.Procuro colocá-las para conversar numa língua moura esperando ipsis litterisexercer a objetividade forte latina, chamada a prestar contas nas sete encruzilhadasdiscursivas.

O lesbofeminismo de Ochy Curiel critica a interseccionalidade de KimberléCrenshaw por ser liberal, normativa e fraturada em termos identitários, segundo suaconcepção. A interseccionalidade desconsidera o sistema mundo colonial de gênerocomo o articulador das experiências intercruzadas, as quais o racismo compõe, semcentralidade, o problema estrutural. Em segundo, a descolonização feministaproposta nesta abordagem valoriza mais a América Latina e Caribe, não somente porconta de o Terceiro Mundo ser visto pelo feminismo europeu e estadunidense comomero ativismo improdutivo, além disso, o Norte Global ignora a potênciametodológica das epistemes latino-afro-caribenhas no projeto feminista negro.

Grosso modo, La nacion heterossexual,97 um clássico da pensadora dominicana,contém instrumentalidade interseccional, ainda que, usando referências lésbicas doNorte para expor similitude entre família nuclear heterossexual e nação. A intelectualdemonstra equivalência entre os membros nacionais e familiares, ambos têmhistórias corporificadas; nação e família servem às leis naturalizadas por laçosnacionais. A Constituição, nesta abordagem, é a lei paternalista da família nuclear,com respectivos entes nacionalistas cruzados obrigatoriamente, de laçosheterossexuais compulsórios e direitos civis pontuais, legalizados aos membros dafamília. Todavia, lésbicas caberiam naturalmente nestas nações caso fossem

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normativas, heterossexuais construídas em oposição binária aos homens, casocompusessem discursos jurídico-legais do regime político heterossexual. Sendoassim, o posicionamento interseccional de Crenshaw deveria reconhecer adiversidade de experiências corporificadas pelo sistema colonial moderno, irrestritasà centralidade de raça, até porque a pensadora entende que lesbofobia é tãodesumanizante quanto o racismo escravocrata de outrora. Metodologias reduzidas àsviolências raciais contra mulheres de cor secundarizam as demais opressõescombatidas pelo projeto político lesbofeminista antirracista decolonial, nos moldessatisfatórios, se acaso fincar o pensamento feminista negro de Patricia Hill Collins,nos Estados Unidos, e terceiro-mundistas como Lélia Gonzalez, Jurema Werneck,Sueli Carneiro e Luiza Bairros por conseguinte, fazendo jus ao conceito de “matriz deopressão” esboçado por Collins, inalcançado, por sua vez, em Kimberlé Crenshaw. Aautora se questiona sobre

[…] o que a proposta da interseccionalidade faz? Como seu nome indica,intersecciona. Então, o problema da interseccionalidade é que, por meio dela,primeiro se assume que as identidades se constroem de maneira autônoma, querdizer, que minha condição de mulher está separada da minha condição de negrae que minha condição de negra também está separada da minha condição delésbica. E de classe. Esse é o primeiro problema. E que há um momento emque, como as autopistas, isso se intersecciona.98

É preciso dizer que a pensadora, assim como Crenshaw, está trabalhando com oâmbito jurídico numa proposta decolonial. Discorre sobre leis criadas pelo padrãoliberal, tendo ressalvas em relação à marca heterossexista no argumento deCrenshaw. Anterior à discussão, o pensamento feminista negro de Patricia Hill Collinsnominalmente valida a interseccionalidade cunhada por Kimberlé Crenshaw, usandoo mesmo campo discursivo sobre família heterossexual e nação, neste caso, doregime supremacista branco formalizado nos Estados Unidos, que foi capaz decontrolar a sexualidade das mulheres brancas através de normas sociais defensorasda virgindade pré-marital, objetivando a pureza racial das famílias brancas.Igualmente, segundo Collins, os negros desenvolveram o afrocentrismo da famílianegra, miniatura de África. Negros e negras, mesmo estranhos, se cumprimentamna rua como irmãos e irmãs de sangue dessa nação heterossexual, por meio dehierarquias naturalizadas no ideal da família tradicional, articuladas, graças àinterseccionalidade de raça, nação e classe.

Por exemplo, espera-se que as mulheres realizem muito o trabalho domésticoque mantém a família funcionando, enquanto os deveres dos homens fornecem

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apoio financeiro. De uma maneira similar, nos EUA, cidadãos por nascimentoou naturalizados adquirem direitos e responsabilidades decorrentes daassociação nacional. Os cidadãos são prometidos direitos, tais como a igualdadede proteção, abrigo da lei, o acesso ao seguro, pensões de velhice, educaçãopública gratuita e outros serviços de assistência social. Os cidadãos tambémdevem cumprir certas obrigações entre si. Espera-se que os cidadãos paguemimpostos, observem a lei e se envolvam em serviço quando necessário.99

Jasbir Puar critica a interseccionalidade de Kimberlé Crenshaw devido àreificação da diferença de gênero esvaziar os agenciamentos das mulheres de cor. Aobjeção importante é a perspectiva jurídica secundarizar o “homonacionalismo”,categoria da identidade moderna nacionalista tolerante aos gay s, lésbicas e transhegemônicos em relação aos outros segmentos humanos racializados e discutidospela intelectual. A interseccionalidade não dá conta de configurações identitáriasrecentes e sem fixação de gênero na abordagem, o fato de termos não-ocidentaisheterossexuais, sem privilégio algum de gênero ou sexualidade, impedidos demigrarem nacionalmente. Na verdade, em decorrência disto, estão impedidos deentrar nos países desenvolvidos por serem vistos como racializados, terceiro-mundistas.

Geopoliticamente, a interseccionalidade de Crenshaw fez dos Estados Unidos osmais avançados campos de estudos sobre diferença; a Europa, no bloco imperialista,já construiu legitimidade, manipulando o léxico sem, necessariamente, possuir amarca do movimento de mulheres de cor, precedente nos Estados Unidos, anterior àterminologia cunhada.

Os Estados Unidos divulgam a modernidade de pautas identitárias, passamcredibilidade nacionalista para demais nações, mas são eles próprios os primeiros ausarem discursos homogêneos para estabelecer guerra contra o terrorismo,eliminando populações indesejáveis, fazendo referência anacrônica aos atentados àsTorres Gêmeas, em 2001, coordenados pela organização Al-Qaeda.

É sabido, desde a Conferência Mundial de Durban, que os Estados Nações diantedo atentado têm motivos políticos contra os diferentes, racializados, embora tenhamassumido o combate ao racismo e à discriminação racial e a promoção da igualdadeusando letramentos da interseccionalidade política e representacional, de Crenshaw,visando prevenir iniquidades globais. O atentado terrorista promoveu giro conceitualà interseccionalidade, sobretudo naquela oportunidade em que signatários assumiramdiretrizes focadas no Sul Global contra o racismo institucional, assumiramresponsabilidades de cooperação internacional em favor às populações de cor, a citarnegros ausentes nas universidades públicas, a pauperização das mulheres negras,

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dentre ações focadas no binômio raça-gênero entrelaçados pelas dinâmicas globais.Ora, critérios das diferenças servem à união nacionalista, desiguala muçulmanos,

latinos e outros perigosos de fora, representantes das identidades nocivas, inelegíveisao regime jurídico da homonacionalidade, mobilizada contra o terrorismo, sendo osheteros, os que vêm de fora. O corpo nacional aceita homossexuais e marca adiferença externa de raça, produz insumos aos montes de movimentos liberais gay s ede lésbicas, sem conflito identitário, atravessando publicidades da Coca-Cola,despontando a modernidade estadunidense contra o Terceiro Mundo.

As conquistas legais para homoafetivos servem ao controle protocolar dassexualidades homonacionais e plausibilidade das teorias pós-modernas com suasinfinitas identidades e diferenças interseccionais; servem para cumprir racismostransnacionais e pós-colonialistas, manter as clivagens identitárias da conduçãofeminista branca, apta a entrecortar toda e qualquer identidade dizendo-se ocidental,LGBT. Em suma, apagando a interseccionalidade das mulheres de cor, das epistemesoriginais e radicalidade feministas.

Em maior diálogo, cito Jin Haritaworn sobre enunciados legais do Norte à puniçãodos migrantes homófobos na nação alemã.100 Tratam-se de humanidades vetadasde cidadania em consequência dos preconceitos contra muçulmanos e outrosindesejáveis, à luz da interseccionalidade estrutural, consequente subordinaçãomúltipla, apontadas conceitualmente por Kimberlé Crenshaw. Supremacistas brancasimpuseram o discurso identitário nacionalista de controle populacional contra os defora, assim, os LGBT precisam viver em paz e os grupos humanos de corindesejados vão morrer ou serão condenados por crimes de ódio às sexualidadesnão-hegemônicas.

Sistematicamente, os terceiro-mundistas, principalmente africanos, são acusadosde cometerem crimes de ódio, são estigmatizados por serem moradores de bairrosperigosos, segregados racialmente, povoados de famílias desestruturadas de gênero,lares marcados pela ausência do macho, conforme acrescenta Jasbir Puar, que,

De fato, muitas das estimadas categorias do mantra interseccionalista –originalmente voltado para a raça, classe e gênero e agora incluindosexualidade, nação, religião, idade e deficiência – são o produto de agendascolonialistas modernistas e regimes de violência epistêmica, operantes medianteuma formação epistemológica ocidental/euro-americana através da qual toda anoção de identidade discreta tem emergido, por exemplo, em termos desexualidade e império.101

Houria Bouteldja, na crítica descolonial indigène, acolhe a interseccionalidade nos

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moldes ideológicos da tradição feminista negra estadunidense de Angela Davis, jáque a filósofa expôs a história, os elitismos e racismo estrutural do movimentofeminista na sua produção teórica interseccional sobre as categorias mulheres, classee raça articuladamente.

É por estar afastada da complexidade analítica do projeto descolonial que ainterseccionalidade serve às tentativas salvacionistas do feminismo ocidental, portavoz moderno das mulheres oprimidas. Por contradição, junto ao movimento, ausentaos pontos de vistas contra a negrofobia, islamofobia, ciganofobia, a violência policialreiterando a mesma crítica feita por Chandra Mohanty, frente o feminismo brancoocidental pautado em categorias binárias, em busca de explicação teórica para odesempoderamento universal das mulheres, conforme quer a teoria feministabranca, tomada pela divisão sexual do trabalho.102 O ocidente secundariza classe eraça, faz das mulheres terceiro-mundistas vistas pelos “olhos ocidentais” comoOutras, eternamente trabalhadoras exploradas, chefas de famílias. De novo, ainterseccionalidade assegura interesses e lutas comuns entre irmãs inexistentes.

Sua crítica indigène à interseccionalidade se volta, além disso, à esquerda brancapronta a atribuir mérito às muçulmanas e muçulmanos caso demonstrem seremdignos de apoio, façam a linha liberal das pesquisadoras acadêmicas do islã filiadas àmoda da interseccionalidade. Uma das razões da interseccionalidade ser tãopreocupada com opressão é o colonialismo moderno do feminismo ocidentaljustificar solidariedade às mulheres que usam o véu, omitindo razões neoliberais,imperialistas do racismo midiático que divulga o véu descontextualizado. E mais, osEstados Unidos não criaram a interseccionalidade. Bouteldja acredita que oscolonizadores e racistas foram os primeiros na História a usarem a sobreposição deestruturas para esquemas hierárquicos étnicos, raciais e de gênero. Sendo assim,articular raça, classe e gênero nem sempre revela preocupação com parcelasoprimidas, existem setores ágeis em tirar lucro político e simbólico das engrenagensidentitárias, são mulheres cúmplices que estão querendo a fama do heroísmo.

Para a intelectual, de nada adianta a indigène denunciar o patriarcado indigène emanter protegido o patriarcado branco; ignorar a opressão de gênero ao masculino,se a matriz colonial moderna faz indigènes sofrerem juntos. Discursos feministasinterseccionais à parte, precisamos assumir junto à pensadora que inexiste estamulher que não faça concessão ao patriarcado, seja adepta ou não do véu, indigèneou branca. Por estratégia política e afinidade, todas nós já fizemos vistas grossas aopatriarcado. “E o véu tradicional, que cobre a maior parte do rosto da mulher, éusado apenas por uma pequena maioria”.103

Vejamos que somente o pensamento articulado da proposta descolonial propõe araça produzir densidade política às clivagens do gênero, classe, nação, sexualidade

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com vistas acabar o eurocentrismo e modernidade representadas nele. Ainterseccionalidade está na moda acadêmica, portanto, sem a radicalidade feministanegra descolonial, ela apoia contradições históricas marcadas pelas diferenças esilenciamento de pontos de vistas.

As mulheres indigènes têm consciência de tudo isso. Elas conhecem muito bema opressão de seus homens e sabem também o preço que elas têm que pagar.Nesse quadro, a primeira alavanca que elas vão usar é menos o feminismo queo antirracismo e não é por azar que depois de trinta anos encontramos mulheresimigrantes engajadas nas lutas contra o meio carcerário, contra os crimespoliciais. Acrescento a tudo isso a dialética da violência patriarcal, que redobrasua força à medida que a virilidade masculina é prejudicada pelo colonialismo epelo racismo.104

A crítica Mulherista Africana de Gilza Marques transforma o argumento feministade “sistemas discriminatórios” equivalentes em falácia, aqui a experiência diaspóricaadmite haver, sim, hierarquia de opressão, na qual o racismo é a tecnologiaprincipal.105 O mulherismo africano não é o mesmo indicado por Alice Walker nosensaios “In Search of Our Mothers’ Gardens”,106 em 1983, tendo como referênciaintelectual a estadunidense Cleonora Hudson. Acredita-se na irmandade entre asmulheres de ascendência africana, respeitando e opondo-se ao feminismo negro,considerado pelas mulheristas uma reatualização intelectual do feminismo branco.

Rejeitando o rótulo “feminista” e contrapondo ao pensamento feminista negro,matriz da interseccionalidade, o pensamento mulherista não equipara estruturasinterdependentes cruzadas por eixos do racismo, patriarcalismo, sexismo paraexplicar a vulnerabilidade das mulheres negras, nem articula estruturas eposicionalidades interacionais para enxergar outros setores, o trânsito é único, nestecaso, promovido pelo padrão branco judaico-cristão, mentor do colonialismo eimperialismo, um bloco monolítico na sua concepção. Neste ponto de vista, ainterseccionalidade de Kimberlé Crenshaw se torna inconveniente ao igualaropressões. O racismo do negro não é igual a gordofobia da mulher branca, menosainda, homens negros não são menos oprimidos que mulheres negras. Precisaríamosprestar atenção à matriz da colonização antes de impormos às mulheres negras acondição de mais oprimidas na diáspora, pois homens negros não são algozes dasmulheres negras, nem protegidos pela concepção mulherista, existe sim, acompreensão do racismo ser a ideologia central na subalternidade humana, sendo ocredor de práticas coloniais que nem cabem ser chamadas de “discriminação”.

Dialogando com a crítica, a interseccionalidade descarta análises aritméticas ou

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competitivas sobre quem sofreu primeiro; não aposta a vulnerabilidade maior para osnegros ou quer apreciar de longe as opressões alheias, conforme nos ensina PatriciaHill Collins. O projeto feminista negro adota coalização e solidariedade políticas emprol dos oprimidos por classe, sexualidades ou território, dentre diferentesmarcações. A interseccionalidade pode ajudar a enxergarmos as opressões,combatê-las, reconhecendo que algumas opressões são mais dolorosas. Às vezesoprimimos, mas às vezes somos opressores. Concordo que racismo, por ser estruturade poder, é intransferível de negro contra o branco, por isso que o negro, paradiscriminar, precisa de poder racial assegurado exclusivamente quando ele estáfardado, representando a instituição, não a si próprio. Contudo, a branquitude continuadirigente.

De todo modo o mulherismo africana manifesto na pensadora Anin Urassecontesta o feminismo negro e a interseccionalidade.

É como eu querer falar de marxismo negro. Neoliberalismo negro. Psicanálisenegra. Gente: é tudo teoria branca! é branca em sua essência! desde a sua basede análise! eu respeito as irmãs que se dizem feministas pretas, mas eu discordoveementemente de pressupostos como a interseccionalidade e a forma deanalisar a sociedade como numa pirâmide. O feminismo é uma teoria brancanascida no século XIX.107

A meu ver, o feminismo negro e o mulherismo partilham da mesma vontadeintelectual de desarticulação das estruturas colonialismo, eurocentrismo eimperialismo inesperadamente, acredito na disputa teórica capaz de reconhecer, porexemplo, que a pensadora comum das abordagens, Lélia Gonzalez, conseguiaaportar o pan-africanismo ao feminismo negro, ensinando nossas gerações o valorancestral da pluralidade teórica manifesta de interdisciplinaridade, ética do cuidado eresponsabilidade discursiva. De acordo com Patricia Hill Collins,

Mulherismo e feminismo negro se beneficiariam por examinar o crescentedescompasso entre o que as mulheres negras privilegiadas, especialmenteaquelas na academia, identificam como temas importantes e o que o grandenúmero de mulheres afroamericanas que estão fora do ensino superiorconsiderariam digno de atenção.108

Para Patricia Hill Collins, a interseccionalidade sofre críticas por causa da políticade tradução. Apesar de filiar-se à interseccionalidade desde a década de 1990, serconteudista do termo propriamente dito, ela acredita que a interseccionalidade criadapor Kimberlé Crenshaw tem uma história maior que o tamanho do individualismo a

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quem se destina o mérito de cunhar. Saber usar o léxico no mercado midiáticoindividual por ser sofisticada, dialogar teoricamente, é apenas um componente doprojeto feminista, na sua concepção. Na atual conjuntura, a interseccionalidade estálonge de dar conta em espessura e coletividade, por sua popularidade ser fincada depós-modernismo e pós-estruturalismo fundamentalmente. No seu entendimento ainterseccionalidade nasceu radicalmente engajada na “liberdade, equidade, justiçasocial e democracia participativa”, sofrendo mudança militante intelectual, em razãoda problemática política de tradução – imperfeita nos contextos materiais, sociais eintelectuais ditados pelo neoliberalismo.

A interseccionalidade propunha enfrentar casos de violência contra as mulheres decor, lidar com a interconexão das estruturas em direção às mulheres, verificar aidentidade produzida pelo racismo, exploração de classe, patriarcado e homofobia,atravessada pela experiência coletiva da mulher negra, não presa às geografias dosaber estadunidenses. Importante dizer que mulheres negras precisavam de umaresposta metodológica que abarcasse múltiplos sistemas de opressão numa propostateórica engajada. A concepção política de Crenshaw, segundo Collins, se baseou nasideias do Coletivo Combahee River para cumprir este quesito, procurandoestabelecer “relações entre identidade individual e identidade coletiva”, manter ofoco nas estruturas sociais e teorizar as experiências focadas nas mulheres de corjunto às conexões estruturais, políticas e representativas. Chega a ser inapropriadoapagar vozes, segundo Patricia Hill Collins

Histórias da emergência da interseccionalidade costumam clamar que aintelectual feminista afro-americana Kimberlé Crenshaw “cunhou” o termointerseccionalidade no artigo Mapping the Margins: Intersectionality, IdentityPolitics, and Violence against Women of Color, publicado na Stanford LawReview (Crenshaw, 1991). Como uma teórica crítica da temática racial eadvogada, Crenshaw não foi uma militante nos movimentos sociais, mas estavaintimamente familiarizada com o trabalho por justiça social dosmovimentos.109

A crítica de Sueli Carneiro perpassa o não-uso do termo interseccionalidadedurante suas empreitadas analíticas. Ressalvada a inovação conceitual, nenhuma dizrespeito à geração de feministas negras que aderiu à interseccionalidade. A geraçãoda filósofa brasileira guarda consigo a nota epistêmica do feminismo negro, érepetida sua intenção escrita de defender outro marco civilizatório de humanidadepara as pessoas negras viverem nesta nação.

A recusa da interseccionalidade, acredito eu, não descredencia a premissa dotermo existente há quase trinta anos, aliás, faz coro à proposta da pensadora de

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enegrecer o feminismo, considerando o empenho acadêmico e de articulaçãoativista das mulheres negras não-acadêmicas, anterior à sistematização do conceito.Segundo levantamento bibliográfico de seus escritos, as mulheres negras foram asque mais lutaram para redemocratizar o país e se levantaram contra a hegemoniapensada na sociedade civil, e na academia dedicaram a vida ao combate dosestereótipos nacionais, racializados, reduzidos à mulher mulata, empregadadoméstica, atleta sexual. A tese de doutorado de Carneiro, “A construção do outrocomo não-ser como fundamento do ser”,110 demonstra como a categoria naçãofunda o contrato biopolítico de exclusão racial neste país, onde a conexão de raça,classe, gênero e dinâmicas de epistemícidios se valem do biopoder – racismoinstitucionalizado à matança do patrimônio ancestral vivo neste país, atravessado emtodas as esferas da sociabilidade negra e, literalmente, às balas do corpo negro.Então, a interseccionalidade é recurso metodológico descartado da semântica e nãodo conteúdo da filósofa, pois as feministas negras já imbricam raça, gênero e classe,aqui demonstrado pela intelectual. Exemplos desta articulação estão na críticarecorrente da autora ao machismo atrelado à ascensão social de homens negros,dispostos a transformar mulheres negras e brancas em mercadorias, com ênfase àsuperioridade da mulher branca. Está na denúncia do estupro colonial da mulhernegra, a opressão racial e de gênero fundadora da nação brasileira, estupro esseescondido pela historiografia hegemônica, bem como a mentirosa sororidade dasfeministas brancas, tão opressoras quanto seus patriarcas na sociedade escravocrata.

O feminismo negro da geração de Sueli Carneiro, mesmo sem aportar ainterseccionalidade, sugere pautas antirracistas, não confessionais, antissexistas,validadas intelectualmente em atenção à abordagem feminista de Patricia HillCollins, às conquistas de governanças antirracistas feitas pela pensadora brasileiraLuiza Bairros, ex-ministra da igualdade racial, que seguiam esta linha, até empregara metodologia da interseccionalidade após Conferência Mundial de Durban, tambémem razão da promoção da igualdade racial das nações. Por isto, Sueli Carneiro diz

Quando Crenshaw chegou com esse debate da interseccionalidade, eu já estavacom essa concepção consolidada de feminismo negro. Mas essa geração estáagregando conceitos. Eu sou filhote da Lélia Gonzalez. Eu sou uma feministanegra antirracista que em determinado momento, na estruturação doinstrumento político de luta que eu, com outras mulheres, concebi, o GELEDES,pensava o que era ser mulher negra no contexto do feminismo brancohegemônico da época.111

Em concordância, a Dra. Claudia Pons Cardoso acredita já termos as respostas

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políticas e perspectivas metodológicas amefricanas de Lélia Gonzalez, pois afirmaque

Muitas de suas considerações, ainda hoje, integram os debates de mulhereslatinoamericanas e caribenhas que têm como proposta pensar o feminismodesde o Sul, um feminismo descolonizado que atenda e inclua as mulheres queestão atuando nas margens do “sistema capitalista moderno colonial”, com ointuito de construir modelos alternativos de sociedade. Incluo-me entre estasfeministas.112

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Se a interseccionalidade de Kimberlé Crenshaw verifica múltiplas retóricas que,estruturalmente pelo Estado e particulamente pelos movimentos feministas e negros,esboçam hegemonia branca masculina – e discriminação da comunidade negra,principalmente às mulheres negras, o pensamento da filósofa estadunidense denunciao paradoxo dessa interseccionalidade, por sugerir paz e justiça social através daletigimidade do Direito moderno, condenado politicamente pela seletividade racial eestereotipos pós-coloniais. Do Direito, a violência letal e o encarceramento de negrosexercem seus principais recursos racistas. Além de lesbofobias e machismos serempeças da estrutura carcerária idêntica à sociedade ampla em qualquer lugar domundo.

Então, a interserccionalidade de Crenshaw está servindo para garantir êxitos doschamados por ela de “feminismos carcerários”, engajados na punição dos homensnegros agressores de mulheres. Já sabemos em que medida a colonização produziu oagressor, acredito já ter passado da hora de o homem negro se descolonizar. Atravésda punição da lei é impossível a ressocialização de alguém que a sociedade brancanunca quis, do mesmo modo, no âmbito das diretrizes mundiais contra o racismo,podemos dizer que práticas de combate ao racismo institucional não servem para aprisão, afinal, ela nasceu por demanda do racismo. Neste sentido, o tom neoliberal dapunição proposta pela interseccionalidade nos leva, segundo a pensadora, a nosconcentrarmos nos indivíduos, em nós, vítimas individuais, retirar a atenção doEstado, apontando agressores negros ou policiais individuais, para quem fica asentença pesada do racismo, sendo o feminismo carcerário conivente do padrãomoderno colonial. Angela Davis coloca em cheque leis como a Lei Antibaixaria,113pensada pelas feministas brancas acadêmicas na Bahia para criminalizar produçõesmusicais dos homens negros, sem levar em conta a pauperização e os estereótiposracistas imputados, sobretudo se consideramos as produções artísticas brancas,machistas, que endeusam a beleza da mulher branca ou jogam pedras nassubversivas, usando notas musicais de classe hegemônica. Para Davis, além disto, ainterseccionalidade repete o conteúdo do feminismo negro sem citar todas asmulheres e organizações anteriores ao termo.

Para não ser injusta, consta no trabalho Kimberlé Crenshaw sobre a intersecçãorepresentacional das mulheres de cor, no clássico “Mapeando as margens:interseccionalidade, políticas de identidade e violência contra mulheres de cor”,114análise seminal das subordinações raciais e sexuais mutuamente reforçadas. Apesquisadora reconhece que qualquer mulher negra ouvindo o grupo de hip hopestadunidense 2 Live Crew,115 punido com pena de prisão por cantar Nasty As They

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Wanna Be – identifica a misoginia tão grave quanto o racismo. Por isto, precisamosidentificar o racismo e sexismo interseccionados, antes violentos, visto a composiçãocultural condenada, submetida à análise interseccional bem feita, considerará aprévia condenação moral e legalizada dos homens negros pelo racismo, daídevermos analiticamente perguntar o porquê desse foco exclusivo no marcador degênero ou de raça.

Com efeito, Angela Davis, por ser abolicionista penal e crítica dainterseccionalidade, pontua que

Menciono essa genealogia que leva a sério as produções epistemológicas depessoas cujo trabalho principal é organizar movimentos radicais porqueconsidero importante evitar que o termo “interseccionalidade” apague históriascruciais de ativismo. Havia entre nós aquelas pessoas que, não tanto em virtudedas análises acadêmicas, mas por causa de nossa experiência, reconheceramque tínhamos de descobrir uma forma de reunir tais questões. Elas não estavamseparadas em nosso corpo e também não estão separadas em termos de luta.116

A crítica de Angela Davis atravessa a geopolítica da interseccionalidade a fim dedescredenciar cooperaçãoes internacionais disfarçadas que, na verdade, sãointeresses de controle populacional dos Estados Unidos para com países africanos

Como resultado direto da aliança dos Estados Unidos com a África do Sul, sob odisfarce de um “compromisso construtivo” – que merece ser chamado, de maisapropriada, de “compromisso destrutivo” –, mais de quatrocentas pessoas sul-africanas foram assassinadas pela polícia e pelas Forças Armadas desde o iníciodo ano.117

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A coragem de Kimberlé Crenshaw de cunhar a interseccionalidade no âmbito doDireito, setor branco e elitista, reserva o caráter ético da mulher negra iletrada queleva o celular escondido na vagina para atender o filho preso. São “forasteiras dedentro”, racializadas, a ponto de não conseguirem escapar da condenação intelectualdo sistema mundo, onde apenas Karl Marx e Emma Goldman seguem inimputáveis.Mas as intelectuais negras desafiam a estrutura do racismo e assumem asconsequências disto.

Certamente, o Atlântico gera maresia feminista durante a travessia interseccional.Longe de ser fragmentada, liberal e cisheterossexista, a interseccionalidade édimensão prática, precisamos do horizonte enquanto os navios estão atravessando,mas a fome de justiça depende da vida garantida agora. Diante do EstadoDemocrático de Direito, o regulador oficial das relações sociais, temos pleitospolíticos, propomos secretarias de igualdade racial, reivindicamos direitos humanos,aceitamos ser cotas de partidos políticos brancos, nos tornamos ativistas da sociedadecivil organizada, votamos políticas públicas nas conferências. Logo, a proposta deCrenshaw nos instrumentaliza neste campo de justiças mediadas. Na diásporaafricana, nós, ialodês, desenvolvemos condutas molhadas e enfrentamos o padrãocolonial dando movimento à força da maré, igual Marielle Franco, morta numaquarta-feira, dia de domínio de Xangô ancestral da justiça, e de Oyá, energiaguerreira que luta sem o medo da morte, e que está viva no rio Níger por nove vezes.A presença ancestral de Marielle Franco contorna leis para enfrentar os regimesjurídicos do colonialismo brasileiro.

Sigo Kimberlé Crenshaw junto com o método diaspórico feminista atravessadonesta discussão, visando aumentar os diálogos com as epistemes dos povoscolonizados, abranger as travessias teóricas de corpos navegantes, balançados pelaságuas étnicas, memórias índicas, culturas polissêmicas e posicionalidadestransatlânticas. Afinal, o conhecimento deve ir além das demarcações fixadas porlinhas imaginárias do horizonte e, finalmente, valer-se de raça, classe, território egênero, mas enlanguescendo-se.

Acompanho Kimberlé Crenshaw, pois uma vez protegidos do racismo, podemosnos proteger de toda e qualquer violência e lutar por mais tempo contra asnecropolíticas. Por mais que argumentem que a interseccionalidade reitera odiscurso da punição, no campo prático, nenhuma de nós gostaria de ver o assassinoda feminista negra lésbica vereadora Marielle Franco em liberdade, aquela mulhernegra atingida na encruzilhada do racismo, sexismo e lesbofobia, atirada ao trânsitocolonial voltado contra mulheres negras. A interseccionalidade é a autoridadeintelectual de todas as mulheres que um dia foram interrompidas. A

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interseccionalidade é sofisticada fonte de água, metodológica, proposta por umaintelectual negra, por isto é tão difícil engolir os seus fluxos feitos mundo afora.

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1. No original “(…) in our name”. HALL, Stuart. Cultural Identity and Diaspora.In: RUTHERFORD, Jonathan (ed.). Identity, Community, Culture Difference.London: Lawrence and Whishart Limited, 1990, p. 222.

2. De acordo com Kimberlé Crenshaw, a interseccionalidade é,simultaneamente, a maneira sensível de pensar a identidade e sua relação como poder, não sendo exclusiva para mulheres negras, mesmo porque as mulheresnão-negras devem pensar de modo articulado suas experiências identitárias.Ademais, transexuais, travestis e queers estão incorporados a perspectiva daautora. Este volume contém contribuições oriundas da segunda edição da EscolaInternacional do Pensamento Feminista Negro Decolonial ministrado pelaDoutora Kimberlé Crenshaw, na University of Wisconsin law Scholl, para oColetivo Angela Davis, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, noperíodo de 5 a 11 de agosto de 2018.

3. O patriarcado é um sistema político modelador da cultura e dominaçãomasculina, especialmente contra as mulheres. É reforçado pela religião efamília nuclear que impõem papéis de gênero desde a infância baseados emidentidades binárias, informadas pela noção de homem e mulher biológicos,sendo as pessoas cisgêneras aquelas não cabíveis, necessariamente, nasmasculinidades e feminilidades duais hegemônicas. A despeito do gêneroatribuído socialmente, pessoas não-cis estão fora da identificação estética,corpórea e morfo-anatômicas instituídas. Para melhor compreensão, consultaras “Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos”, um guiatécnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros formuladopela pesquisadora Jaqueline Gomes de Jesus.

4. As feministas negras, como bell hooks, reconhecem os impactossupremacistas brancos na trajetória individual e coletiva, mas rejeitam o lugarpolítico de vítimas passíveis da compaixão branca. Neste sentido, a noção de“vitimado” resguarda o caráter político de afetação e alcance das injustiçassociais aos grupos identitários – já as noções de agência política e autodefiniçãonegras correspondem ao lugar histórico dos que foram escravizados e nãoescravos, portanto são vítimas no sentido de vitimados.

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5. O pretoguês resulta da interação entre língua do colonizador e resistêncialinguística dos africanos. Como as mulheres brancas não maternaram seusfilhos, impuseram a educação dos pequenos às mulheres negras, estas últimastransmitiram por gerações os signos linguísticos de África para o sistemalinguístico colonial, segundo Lélia Gonzalez, autora do termo. As mães pretasatuaram como intelectuais da sociedade brasileira e não foram meras serviçais.Se consciência é tudo aquilo que a memória não pode apagar, segundoargumentava, é preciso compreender que mães pretas transmitiram aintelectualidade africana para a sociedade brasileira, a prova do golpe linguísticoestá simbolizado na paixão patriarcal pela bunda da brasileira, na verdadememória quimbundu.

6. Na epistemologia feminista negra adotamos uma política de tradução querespeita os significados políticos originais, neste caso “mulheres de cor” contémmais representatividade que “mulheres não-brancas”. Para maior compreensãover: NASCIMENTO, Tatiana. Quem nomeou essas mulheres “de cor”? Políticasfeministas de tradução que mal dão conta das sujeitas negras traduzidas.Translation, 13, p. 127-142, jun. 2017. Disponível em:http://seer.ufrgs.br/index.php/translatio/article/view/71586. Acesso em: 21 ago.2018.

7. ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheresescritoras do Terceiro Mundo. Tradução de Édina de Marco. Revista EstudosFeministas, v. 8, n. 1, p. 232, 2000. Disponível em:https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/9880/9106. Acesso em: 21ago. 2018.

8. EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. 1996. Dissertação (Mestrado em Letras). Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro, PUC-Rio.

9. Segundo a concepção do sociólogo camaronês Achille Mbembe, o conceitode Foucault, biopoder, não alcança a permanência do terror colonial promovidopelas milícias urbanas, exércitos privados e aparelhos do Estado autorizados aviolentar e matar populações racializadas. Por isto, articulo o termonecropolítica proposto pelo autor ao feminismo negro da pensadora caribenhaestadunidense Audre Lorde, visando demarcar as diferenças de pontos de vistas

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e de opressões raciais entre as mulheres no tocante as trajetórias de seus filhos.

10. Uso a categoria Outros intercambiando o pensamento de Sueli Carneiro eGrada Kilomba. Os Outros, neste caso, são aqueles vistos pela identidade do Seruniversal, autoinvisilizante, branca, cis, heteropatriarcal como os diferentes doshumanos normativos.

11. Originalmente o discurso é Ain’t I A Woman?, traduzido pelo DoutorOsmundo Pinho da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Cachoeira). Atradução foi publicada no Portal Geledés, em 8 de janeiro de 2014. Cf.:SOJOUNER, Truth. E não sou uma mulher? – Sojourner Truth. Tradução deOsmundo Pinho, Geledés, 8 jan. 2014. Disponível em:https://www.geledes.org.br/e-nao-sou-uma-mulher-sojourner-truth/. Acesso em:27 ago. 2018.

12. Cf.: ALMEIDA, Silvio de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte:Letramento, 2018. (Col. Feminismos Plurais).

13. Cf.: AS NOVIDADES DE SEMPRE. Declaração do Coletivo CombaheeRiver. 11 nov. 2013. Disponível em:http://rodrigosilvadoo.blogspot.com/2013/11/declaracao-do-coletivo-combahee-river.html. Acesso em: 27 ago. 2018.

14. MOORE, Carlos. O Marxismo e a questão racial: Karl Marx e FriedrichEngels frente ao racismo e à escravidão. Belo Horizonte: Nandy ala, 2010. p. 79.

15. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. 2ª ed.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

16. MARILENA, Chauí. Participando do debate sobre mulher e violência. IN:FRANCHETTO, Bruna; CAVALCANTI, V. C., Maria Laura; HEILBORN, MariaLuiza (ed.) Perspectivas antropológicas da mulher. São Paulo: Zahar Editores,1985. p. 25-47.

17. Cf.: BEAL, Frances. Black Women’s Manifesto; Double jeopardy: To be

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Black and Female. Nova York: Third World Women’s Alliance, 1969. Disponívelem: http://www.hartford-hwp.com/archives/45a/196.html. Acesso em: 27 ago.2018.

18. No original: “The United States hastbeen sponsoring sterilization clinics innon-white countries, especially in India where already some 3 million y oungmen and boys in and around New Delhi have been sterilized in make-shiftoperating rooms set up by the american peace corps workers. Under thesecircumstances, it is understandable why certain countries view the Peace Corpsnot as a benevolent project, not as evidence of america’s concern forunderdeveloped areas, but rather as a threat to their very existence”. Cf.: BEAL,Frances. Black Women’s Manifesto; Double jeopardy: To be Black and Female.Nova York: Third World Women’s Alliance, 1969. Disponível em:http://www.hartford-hwp.com/archives/45a/196.html. Acesso em: 27 ago. 2018.(Tradução da autora).

19. Boaventura de Sousa Santos discute cultura, subjetividade e relações defronteiras esmagadas pela colonização, de modo a nos sugerir a subversãoepistêmica que é “aprender que existe o Sul; aprender a ir para o Sul; aprender apartir do Sul e com o Sul”.

20. A mística feminina, publicada em 1963, por Betty Friedman, feministaestadunidense da segunda onda feminista, recebe crítica negra, principalmentede bell hooks, segundo a qual não foi o sexismo que impediu as mulheresbrancas de irem para o espaço público, mas o fato delas recusarem o trabalhofeito por mulheres negras.

21. RATTS, Alex; RIOS, Flavia. Lélia Gonzalez. São Paulo: Selo Negro, 2010.(Coleção Retratos do Brasil Negro)

22. Idem. A perspectiva interseccional de Lélia Gonzalez. In: CHALHOUB,Sidney ; PINTO, Ana Flávia Magalhães. (org.) Pensadores negros – pensadorasnegras: Brasil séculos XIX e XX. Cruz das Almas: EDUFRB; Belo Horizonte: FinoTraço, 2016. p. 447 v. 11. (Coleção UNIAFRO)

23. Ibidem. p. 393.

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24. DAVIS, Ângela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

25. MIGNOLO, Walter D. “Desobediência epistêmica: a opção descolonial e osignificado de identidade em política”. Cadernos de Letras da UFF: Dossiê:Literatura, língua e identidade, n. 34, p. 287-324, 2008. Disponível em:http://www.cadernosdeletras.uff.br/index.php/cadernosdeletras. Acesso em: 21ago. 2018.

26. Ver o ensaio The Traffic in Women: Notes of the “Political Economy’ of Sex”,de Gay le Rubin, publicado em 1975, traduzido pelo SOS Corpo, no qual aantropóloga critica a insuficiência marxista de explicar a subordinação eopressão das mulheres, e faz o mesmo com Freud, Lacan e Levi Strauss. Cf.:RUBIN, Gay le. O tráfico de mulheres: notas obre a economia política do sexo.Recife: SOS Corpo, 1993.

27. Este fragmento consta da Conferência do New York University Institute forthe Humanities, 1979. Cf.: LORDE, Audre. “Mulheres negras: As ferramentasdo mestre nunca irão desmantelar a casa do mestre”. Tradução de Renata.Geledés, 10 jul. 2013. Disponível em: https://www.geledes.org.br/mulheres-negras-as-ferramentas-do-mestre-nunca-irao-desmantelar-a-casa-do-mestre/.Acesso em: 27 ago. 2018.

28. CARMICHAEL, Stokely. O poder negro. 2ª ed. Belo Horizonte: Nandyala,2018. p. 23.

29. MOORE, Carlos. Racismo & Sociedade: novas bases epistemológicas paraentender o racismo. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.

30. Ibidem, p. 282.

31. GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidadesocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatrogenocídios/epistemícidios do longo século XVI. Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p.25-49, 2016.

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32. DU BOIS, W. E. B. As almas da gente negra. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999.p. 715.

33. CARRASCOSA, Denise (org.) Traduzindo no atlântico negro: cartas náuticasafrodiásporicas para Travessias Literárias. Salvador: Editora Oguns Toques, 2017.p. 22.

34. NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de umracismo mascarado. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1978. p. 119. v. 30. (ColeçãoEstudos brasileiros)

35. HOOKS, bell. Não sou eu uma mulher: mulheres negras e feminismo.Tradução livre da Plataforma Gueto. Disponível em:https://plataformagueto.files.wordpress.com/2014/12/nc3a3o-sou-eu-uma-mulher_traduzido.pdf. Acesso em: 21 ago. 2018.

36. EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. 1996. Dissertação (Mestrado em Letras). Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro, PUC-Rio.

37. Embora esteja assimilado o conteúdo analítico do grupo Decolonialidade,localizo em particular este conceito em Maldonato Torres na discussão sobreracismo epistêmico nas diásporas e vejo convergência transdisciplinarirretocável aos escritos fanoninanos do Doutor Deivison Mendes Faustino sobrecolonialismo, racismo e luta de classes. Entretanto, optei por não trabalhardentro do campo teórico absolutamente masculino, visando aumentar apublicidade dos trabalhos intelectuais de mulheres negras.

38. FANON, Frantz. Em defesa da revolução africana: Terceiro Mundo. Lisboa:Sá da Costa Editora, 1980.

39. LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas,Florianópolis, v. 22, n. 3, set./dez. 2014. Disponível em:https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755. Acesso em: 21 ago.2018.

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40. CURIEL, Ochy. La nacion heterosexual: análisis del discurso jurídico y elrégimen heterosexual desde la antropología de la dominación. Colombia: BrechaLésbica y en la frontera, 2013.

41. DIFUSÃO HERETICA EDIÇÕES FEMINISTAS & LESBICASINDEPENDENTES. Textos escolhidos de Audre Lorde. Disponível em:https://www.mpba.mp.br/sites/default/files/biblioteca/direitos-humanos/direitos-da-populacao-lgbt/obras_digitalizadas/audre_lorde_-_textos_escolhidos_portu.pdf. Acesso em: 21 ago. 2018.

42. CASTRO, Fabiana Leonel. Negras, jovens, feministas: sexualidade, imagense vivências. 2010. Dissertação (Mestrado em Estudos Interdisciplinares sobreMulheres, Gênero e Feminismo) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,Universidade Federal da Bahia, Salvador. p. 34.

43. RODRIGUES, Cristiano. Atualidade do conceito de interseccionalidade paraa pesquisa e prática feminista no Brasil. Seminário Internacional FazendoGênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. p. 10. Disponível em:https://poligen.polignu.org/sites/poligen.polignu.org/files/feminismo%20negro2.pdfAcesso em: 21 ago. 2018.

44. Conforme documentário The Rachel Divide, dirigido por Laura Brownson,em 2018.

45. BENTO, Maria Aparecida Silva. Pactos narcísicos no racismo: branquitude epoder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. Tese (PsicologiaSocial) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Departamento dePsicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, SãoPaulo.

46. Privilégio é vantagem estável, estrutural e branca, conforme aparece em DuBois, na obra Reconstrução negra na América. Heterossexualidade negra, a meuver, não pode ser considerada privilégio, porque o racismo interdita aespontaneidade da sexoafetividade negra. Está evidente na Campanha do MNU,em 1991, “Reaja à violência racial, beije a sua preta em praça pública”.

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47. DU BOIS, W. E. B. Black Reconstruction in America. Oxford: OxfordUniversity Press, 2014.

48. Em 2016, o Ministério da Saúde demonstrou que a cada dez mulheresafetadas, oito eram pretas e pardas (negras). A Dra. Jurema Werneck elaborou oBoletim Epidemia de Zika e Mulheres Negras.

49. GÓES, Emanuele. A nossa dor não sai no jornal: Mulheres Negras e aepidemia do Zika vírus, um ano depois. Disponível em:https://cientistasfeministas.wordpress.com/2016/10/26/a-nossa-dor-nao-sai-no-jornal-mulheres-negras-e-zika-virus-um-ano-depois/. Acesso em: 27 ago. 2018.

50. CARDOSO, Lourenço; MÜLLER, Tânia M. P. Branquitude: estudos sobre aidentidade branca no Brasil. Curitiba: Appris, 2017.

51. LOPES, Joy ce Souza; CARDOSO, L. ; MÜLLER, T. M. P. “Quase negratanto quanto quase branca”: Autoetnografia de uma posicionalidade racial nosentremeios. In: MÜLLER, T. M. P.; CARDOSO, Lourenço (org.). Branquitude:estudos sobre a identidade branca no Brasil. Curitiba: Appris, 2017, p. 155. v. 1.

52. Conferência realizada no dia 13 de dezembro de 1997, em São Luís (MA),na I Jornada Cultural Lélia Gonzalez, promovida pelo Centro de Cultura Negrado Maranhão e pelo Grupo de Mulheres Negras Mãe Andreza.

53. Ver a entrevista de Grada Kilomba, realizada pela filósofa Djamila Ribeiro,para a Carta Capital, em 30 de março de 2016, na qual a pesquisadora aborda oracismo como problemática branca. Cf.: RIBEIRO, Djamila. “O racismo é umaproblemática branca”, diz Grada Kilomba. Disponível em:https://www.cartacapital.com.br/politica/201co-racismo-e-uma-problematica-branca201d-uma-conversa-com-grada-kilomba. Acesso em: 21 ago. 2018.

54. FANON, Frantz. Em defesa da revolução africana: Terceiro Mundo. Lisboa:Sá da Costa Editora, 1980. p. 41.

55. Refiro-me aos feminismos negros na diáspora, o afro-latino, caribenho,

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ialodê, terceiro mundistas, amefricanos, todos conexos.

56. SAUNDERS, Tany a. Epistemologia negra sapatão como vetor de uma práxishumana libertária. Periódicus, Salvador, n. 7, v. 1, p. 114, maio/out. 2017.Disponível em:https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/22275. Acessoem: 27 ago. 2018.

57. BAIRROS, Luiza, A mulher negra e o feminismo. COSTA, Ana AliceAlcântra; SARDENBER, Cecília Maria B. (org.) O Feminismo do Brasil:reflexões teóricas e perspectivas. Salvador: UFBA/Núcleo de EstudosInterdisciplinares sobre a Mulher, 2008. p. 140. Disponível em:http://www.neim.ufba.br/site/arquivos/file/feminismovinteanos.pdf. Acesso em:27 ago. 2018.

58. FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão: o sistemapenal e o projeto genocida do Estado brasileiro. Rio de Janeiro: Contraponto,2008.

59. BORGES, Juliana. O que é encarceramento em massa? Belo Horizonte:Grupo Editorial Letramento, 2018. (Coleção Feminismos Plurais)

60. REIS, Vilma. Atucaiados pelo Estado: as políticas de segurança públicaimplementadas nos bairros populares de Salvador e as representações dosgestores sobre jovens homens negros (1991-2001). 2005. Dissertação (Mestradoem Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais,Universidade Federal da Bahia, Salvador. Disponível em:https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/13695?mode=full. Acesso em: 27 ago.2018.

61. No original: “The portrait of black masculinity that emerges in this workperpetually constructs black men as “failures” who are psy chologically “fuckedup,” dangerous, Violent, sex maniacs whose insanity is informed by theirinability to fulfill their phallocentric masculine destiny in a racist context”. Cf.:HOOKS, bell. Black Looks: Race and Representation. Nova York: Routledge,1992. p. 82. (Tradução da autora).

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62. Não confundir com a Afrocentricidade do Doutor Molefi K. Asante.

63. Apesar desta nota estar ausente na primeira tiragem, é indispensávelconhecermos a trajetória intelectual de Beatriz Nascimento. Historiadora,intelectual engajada dentro do movimento negro e movimento de mulheresnegras, além de teórica do projeto afrocentrado de nação, no qual a resistênciaterritorial dos quilombos possa ser alicerce político, cultural e econômico.Recomendo as obras “Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de BeatrizNascimento, escrita por Alex Ratts,” publicada em 2007 pela Coleção ImprensaSocial. E o autoral “Beatriz Nascimento: intelectual e quilombola. Possibilidadenos dias de destruição,” lançado pela União dos Coletivos Pan-Africanistas deSão Paulo, em 2018.

64. BARROS, Luiza. III Conferência Mundial contra o Racismo. Revista EstudosFeministas, v. 10, n. 1, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2002000100010. Acesso em: 21 ago. 2018.

65. FIGUEIREDO, Ângela. Apresentação e comentários à entrevista de OchyCuriel. Cadernos de Gênero e Diversidade, v. 3, n. 4, p. 102-105, 2017.Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/cadgendiv/article/view/25199.Acesso em: 21 ago. 2018.

66. CRENSHAW, Kimberle. “Demarginalizing the Intersection of Race and Sex:A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory andAntiracist Politics”. University of Chicago Legal Forum, n. 1, p. 139-167, 1989.Disponível em: https://chicagounbound.uchicago.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1052&context=uclf. Acesso em: 28 ago. 2018.

67. Idem. “Mapeando as margens: interseccionalidade, políticas de identidade eviolência contra mulheres não-brancas.” Tradução de Carol Correia. Disponívelem: https://www.geledes.org.br/mapeando-as-margens-interseccionalidade-politicas-de-identidade-e-violencia-contra-mulheres-nao-brancas-de-kimberle-crenshaw%E2%80%8A-%E2%80%8Aparte-1-4/. Acesso em: 21 ago. 2018.

68. SANTOS, Carla Adriana da Silva. Ó paí, prezada!: racismo e sexismoinstitucionais tomando bonde no Conjunto Penal Feminino de Salvador. 2012.

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Dissertação (Estudos Interdisciplinares sobre de Gênero, Mulheres eFeminismo) – Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares emMulheres, Gênero e Feminismo, Universidade Federal da Bahia, Salvador.Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/18987. Acesso em: 23 ago.2018.

69. BORGES, Juliana. O que é encarceramento em massa? Belo Horizonte:Grupo Editorial Letramento, 2018. p. 96. (Coleção Feminismos Plurais)

70. O Bem-Viver está incorporado como categoria política das Mulheres NegrasBrasileiras que marcharam em 2015 contra o racismo e por novas basescivilizatórias, de acordo o Instituto Odara, organização lésbica feminista negrado Brasil.

71. FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. “Lei Maria da Penha: entre os anseios daresistência e as posturas da militância”. In: FLAUZINA, Ana Luiza; FREITAS,Felipe; VIEIRA, Hector; PIRES, Thula. Discursos negros: legislação penal,política criminal e racismo. Brasília: Brado Negro, 2015. p. 121-145.

72. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Grupo EditorialLetramento, 2017. p. 41. (Coleção Feminismos Plurais)

73. O Estado Brasileiro deveria consultar publicações focadas nas mulheresnegras, a saber: Bruna Cristina Jaquetto Pereira – Tramas e dramas de gênero ede cor: A violência doméstica contra mulheres negras, pela Brado Negro, 2016,e Suelaine Carneiro – Mulheres Negras e Violência Doméstica: decodificando osnúmeros – Geledés Instituto da Mulher Negra, 2017.

74. SARDENBERG, Cecília Maria Bacellar. Da Crítica Feminista à Ciência.Uma Ciência Feminista? In: COSTA, Ana Alice Alcântara; SARDENBERG,Cecília Maria Bacellar (org.) Feminismo, Ciência e Tecnologia. Salvador:REDOR/NEIMFFCH/UFBA, 2002. (Coleção Bahianas)

75. CRENSHAW, Kimberlé. Mapeando as margens: interseccionalidade,políticas de identidade e violência contra mulheres não-brancas. Tradução de

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Carol Correia. Disponível em: https://www.geledes.org.br/mapeando-as-margens-interseccionalidade-politicas-de-identidade-e-violencia-contra-mulheres-nao-brancas-de-kimberle-crenshaw%E2%80%8A-%E2%80%8Aparte-1-4/. Acesso em: 21 ago. 2018.

76. Idem.

77. Ver o conceito de empoderamento segundo a pensadora Joice Berth (2018),tomado sob premissas da coletividade, transformação estrutural e basesepistêmicas do feminismo negro. Cf.: BERTH, Joice. O que é empoderamento?Belo Horizonte: Grupo Editorial Letramento, 2018. (Coleção FeminismosPlurais)

78. De acordo com a Dra. Isis Conceição, durante aula sobreinterseccionalidade no Direito brasileiro para a Segunda Edição da EscolaInternacional do Pensamento Feminista Negro Decolonial, da UniversidadeFederal do Recôncavo Baiano (UFRB), as denúncias sobre os direitos sexuais ereprodutivos costumam ser apresentados às esferas internacionais semmencionar a dimensão racial, uma subinclusão evidente está no caso de Alyneda Silva Pimentel Teixeira, jovem, negra, pobre e grávida que foi à Casa deSaúde Nossa Senhora da Gloria, clínica de saúde privada em Belford Roxo, noestado do Rio de Janeiro, em 2002. O médico realizou o atendimento, depois amandou de volta para casa, a jovem morreu deixando uma filha de 5 anos deidade. O Brasil foi condenado em 2011, por obstruir a saúde das mulheres e porsuas ações e omissões em relação aos direitos reprodutivos consoantes aConvenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra aMulher (CEDAW), mas, os aspectos raciais do problema não foram tomados demaneira interseccional, nem o fato de o racismo e sexismo institucionais seremestruturantes da morte materna.

79. CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas emaspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas,v. 10, n. 1, p 175, 2002. Disponível em:https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2002000100011/0. Acesso em: 21 ago. 2018.

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80. SALEM, Sara. O mal-estar na Teoria Interseccional: interseccionalidade nasteorias viajantes. Disponível em:http://www.contramare.net/site/pt/intersectionality -and-its-discontents-intersectionality -as-traveling-theory / Acesso em: 1 mai. 2018.

81. LORDE, Audre. Irmã intrusa, idade, raça, classe e sexo: mulheresredefinindo diferenças. Tradução de Virgínia Vasconcelos Leal. Disponível em:http://www.pretaenerd.com.br/2015/11/traducao-idade-raca-classe-e-sexo.html.Acesso em: 27 ago. 2018.

82. SILVA, Eliane Borges da. Tecendo o fio, aparando as arestas: o movimentode mulheres negras e a construção do pensamento negro feminista. Disponívelem: www.ppcor.org, 2005. Acesso em: 25 ago. 2018.

83. No original: “In america, this norm is usually defined as white, thin, male,y oung, heterosexual, christian, and financially secure”. Cf.: LORDE, Audre.Age, Race, Class and Sex: Women Redefining Difference. California: SisterOutsider Crossing Press, 1984. p. 116.

84. Conforme pensa Stuart Hall, a diáspora envolve uma dimensão culturalparticular e comunitária maior que a relação binária entre colonizador e oOutro; ela não é a fronteira excludente fixa, dividida entre os de dentro e os defora, abrange reconfigurações étnicas e nacionais emersas de tradições,cruzamentos e travessias identitárias. Este conteúdo também pode ser acessadona Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, da autoria do Doutor NeiLopes, do selo Negro Edições, São Paulo.

85. No original: “Ante la desorganización social y política de los diferentespueblos afectados por el holocausto africano, en un modelo de globalizacióneconómica, cultural y política que precede la actual y en una perspectivapredatoria que emerge de Europa y se expande por los demás continentes;nuevas alternativas tuvieron que ser gestadas y aplicadas em el sentido debuscar existencia y resistencia cultural”. WERNECK, Jurema. De Ialodês yFeministas: reflexiones sobre la accion política de las mujeres negras enAmerica Latina y El Caribe. Nouvelles Questions Féministes, v. 24, p. 6, 2005.Disponível em: https://glefas.org/download/biblioteca/feminismo-

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antirracismo/Jurema-Wernerk.-De-Ialodes-y -feministas.pdf. Acesso em: 21ago. 2018. (Tradução da autora).

86. HOOKS, bell. Não sou eu uma mulher: mulheres negras e feminismo.Tradução livre da Plataforma Gueto. Disponível em:https://plataformagueto.files.wordpress.com/2014/12/nc3a3o-sou-eu-uma-mulher_traduzido.pdf. Acesso em: 21 ago. 2018.

87. BERNARDINO-COSTA, Joaze; GROSFOGUEL, Ramón. Decolonialidade eperspectiva negra. Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, 2016. Disponível em:https://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922016000100002. Acesso em: 27 ago. 2018.

88. OYÈRÓNKË, Oy èwùmí. Conceituando o gênero: os fundamentoseurocêntricos dos conceitos feministas e o desafio das epistemologias africanas.Tradução de Juliana Araújo Lopes. Disponível em: https://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/oy %C3%A8r%C3%B3nk%C3%A9_oy %C4%9Bw%C3%B9m%C3%AD_-_conceitualizando_o_g%C3%AAnero._os_fundamentos_euroc%C3%AAntrico_dos_conceitos_feministas_e_o_desafio_das_epistemologias_africanas.pdfAcesso em: 21 ago. 2018.

89. OYÈWÚMI, Oy èronké. Jornada pela academia. Tradução de Aline Matosda Rocha, revisão de Wanderson Flor do Nascimento. Disponível em:https://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/oy %C3%A8r%C3%B3nk%E1%BA%B9%CC%81_oy %C4%9Bw%C3%B9m%C3%AD_-_jornada_pela_academia.pdf. Acesso em: 21 ago. 2018.

90. No Brasil, Oba é título do orixá Xangô, o Rei. Usamos agudo na última vogalpara fazer referência a terceira esposa de Xangô, mas Oyèwùmí atesta oprejuízo da tradução. Cf.: OYÈWÚMI, Oy èronké. The Invention of Women:Making an African Sense of Western Gender Discourses. Minneapolis: Universityof Minnesota Press, 1997.

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93. Idem. The Invention of Women: Making an African Sense of Western GenderDiscourses. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997.

94. No original: “Single, childless women carry a permanent stigma like alodestone about their necks. They are viewed by society as halfbaked, even half-human. Thus, the domestic roles of mother, wife and homemaker become thekey constructions of women’ s identity in Africa”. TAMALE, Sy lvia. Gendertrauma in Africa: enhancing women’s links to resources. Dakar; Nairobi; Oxford:Pambazuka Press, 2011. p. 3. Traduzido por Florita Telo.

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99. No original: “For example, women are expected to perform much of thedomestic labor that keeps the family going, whereas men’s duties lie in providingfinancial support. In a similar fashion, US. citizens by birth or naturalizationacquire certain rights and responsibilities that accrue from membership. Citizensare promised entitlements such as equal protection under the law, access tounemploy ment insurance, old age pensions, free public education, and othersocial welfare benefits. Citizens are also expected to fulfill certain obligations toone another. US. citizens are expected to pay taxes, observe the law, and engagein military service when required”. Cf.: COLLINS, Patricia Hill. It’s All in theFamily : Intersections of Gender, Race, and Nation. Hypatia, v. 13, n. 3, p. 71,1998. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/j .1527-2001.1998.tb01370.x. Acesso em: 28 ago. 2018. (Tradução da autora).

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105. Foram lidos os artigos do tópico de 2016 a julho de 2018 da pesquisadora naplataforma Pensamentos Mulheristas. Cf.: PENSAMENTOS MULHERISTAS.Disponível em: https://pensamentosmulheristas.wordpress.com/. Acesso em: 24ago. 2018.

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111. JACOEL, Aparecida Sueli Carneiro. Entrevista “Raça estrutura classe noBrasil”. Revista Cult, ano 20, n. 223, p. 18, maio 2017.

112. CARDOSO, Claudia Pons. Outras falas: feminismos na perspectiva demulheres negras brasileiras. 2012. 383 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Estudos de Gênero, Mulher e Feminismo, Universidade Federalda Bahia, Salvador. p. 134.

113. De autoria da Deputada Estadual Luiza Maia, da Bahia, dispõe sobre a nãocontratação, com verbas públicas, de artistas que incitem violências contra asmulheres. O projeto tramita nacionalmente e já tem aprovação em Goiânia.Entretanto, segundo o Doutor Osmundo Pinho em “análise interseccional”,existe perseguição ao pagode, certa criminalização que faz parte do aspectoneocolonial, onde a masculinidade negra é vista, de novo, como bárbara, alémde agir contra rapazes pobres, conforme atesta seu artigo, publicado no PortalGeledés, em 3 de dezembro de 2011.

114. CRENSHAW, Kimberlé. Mapeando as margens: interseccionalidade,políticas de identidade e violência contra mulheres não-branca. Tradução deCarol Correia. Disponível em: https://www.geledes.org.br/mapeando-as-margens-interseccionalidade-politicas-de-identidade-e-violencia-contra-mulheres-nao-brancas-de-kimberle-crenshaw%E2%80%8A-%E2%80%8Aparte-1-4/. Acesso em: 21 ago. 2018.

115. O grupo de hip-hop 2 Live Crew foi condenado em 1990, proibido, presopor cantar obscenidades, após vender 1 milhão de cópias. Nos álbuns, asmulheres negras eram expostas apenas como corpos nus e geralmente semrostos.

116. DAVIS, Ângela. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo,2018. p. 33.

117. Idem. Mulheres, cultura e política. São Paulo: Boitempo 2017. p. 154.

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Racismo Recreativo

Moreira, Adilson

9788598349886

224 páginas

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Neste volume da coleção Feminismos Plurais, pela primeira vez, a relação entreracismo e humor é aprofundada. Por um ponto de vista jurídico, o advogado, doutorem Direito, Adilson Moreira esmiúça os conceitos de racismo e injúria racial,explicitando o viés racista da Justiça brasileira quando sentencia que produçõesculturais, como programas humorísticos, que reproduzem estereótipos raciais não sãodiscriminatórias por promoverem a descontração das pessoas. (Edição revista emparceria com a Pólen Livros)

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Lugar de Fala

Ribeiro, Djamila

9788598349855

128 páginas

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A intenção da coleção Feminismos Plurais é trazer para o grande público questõesimportantes referentes aos mais diversos feminismos de forma didática e acessível.Com o objetivo de desmistificar o conceito de lugar de fala, Djamila Ribeirocontextualiza o indivíduo tido como universal numa sociedade cisheteropatriarcaleurocentrada, para que seja possível identificarmos as diversas vivências específicase, assim, diferenciar os discursos de acordo com a posição social de onde se fala.(edição revista em parceria com a Pólen Livros)

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Racismo Estrutural

Almeida, Silvio

9788598349916

256 páginas

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Nos anos 1970, Kwame Turu e Charles Hamilton, no livro "Black Power",apresentaram pela primeira vez o conceito de racismo institucional: muito mais doque a ação de indivíduos com motivações pessoais, o racismo está infiltrado nasinstituições e na cultura, gerando condições deficitárias a priori para boa parte dapopulação. É a partir desse conceito que o autor Silvio Almeida apresenta dadosestatísticos e discute como o racismo está na estrutura social, política e econômica dasociedade brasileira.

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Empoderamento

Berth, Joice

9788598349862

184 páginas

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Uma discussão sobre a Teoria do Empoderamento, a partir de diversas matrizesteóricas que hoje se dedicam ao tema. São pensadores que entendemempoderamento como aliança entre conscientizar-se criticamente e transformar naprática, algo contestador e revolucionário na sua essência. Muito mais do que atradução literal de um termo estrangeiro, é uma prática cotidiana para a igualdade.

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Encarceramento em Massa

Borges, Juliana

9788598349879

144 páginas

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Por que fazer um livro sobre encarceramento, sistema de Justiça Criminal punitivo efeminismo negro? Qual é o ponto de conexão entre estas pautas? Por que prisão,punição, superencarceramento interessa às mulheres, prioritariamente às mulheresnegras? Pode parecer fora de lugar falar em racismo, machismo, capitalismo eestruturas de poder em um país que tem em seu imaginário a mestiçagem e a defesacomo povo amistoso celebrada internacionalmente. Contudo, parece absolutamentepertinente refletir, escrever, falar e lutar nestas pautas quando os dados estatísticosnacionais provam o contrário do discurso comemorado e largamente difundido.

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Table of ContentsFolha de rostoCréditosAgradecimentosSumárioCitaçãoApresentaçãoCruzando o atlântico em memória da interseccionalidadeVamos pensar direito: interseccionalidade e as mulheres negrasAtlântico e diferenças entre irmãs: críticas ao conceito de interseccionalidadeA crítica de angela davisCruzar o atlântico nem sempre encerra a travessiaNotas e referências

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