Intertextualidade

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INTERTEXTUALIDADE Prof. Renato R. de Oliveira

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INTERTEXTUALIDADE

Prof. Renato R. de Oliveira

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A intertextualidade pode ser entendida como um

diálogo entre textos. Segundo Julia Kristeva, “todo texto se constrói como mosaico de

citações, todo texto é absorção e

transformação de um outro texto”

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A intertextualidade pode acontecer emqualquer gênero de texto, com intençõesvariadas.

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Os provérbios, os ditos populares sempre são inseridos nos textos, numa forma elementar de intertextualidade. Em um mesmo dia, em seções diferentes da Folha de S. Paulo, encontramos quatro provérbios diferentes. Ei-los:

Há uma expressão de que não gosto, mas que é de uso banal e cotidiano: “O mar não está para peixe.” É a constatação de um tempo adverso.

(Coluna de José Sarney, 11/05/2001)

Zé Cabala, furioso e com o dedo em riste, vociferou:- Recolha o filhote de equino da perturbação pluviométrica!

Desesperado, o cliente olhou para Gulliver, que traduziu:- Pode tirar o cavalinho da chuva!(Coluna de José Roberto Torero, 11/05/2001)

E que nós, jornalistas, comecemos a definir critérios para separar o joio do trigo e impedir a disseminação dessa praga ( serviço precário da assessoria de imprensa).

(Coluna de Luís Nassif, 11/05/2001)

Como diz a sabedoria popular: aqui se faz, aqui se paga!(Coluna de Luiz Carlos Mendonça de Barros, 11/05/2001)

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O procedimento intertextual a partir do provérbio é amplamente usado pelo autor mineiro Luís Giffoni, em seu romance A árvore dos ossos, como se vê no monólogo interior de um personagem:

A esperança é a última que morre. Se demorar muito, a esperançaacaba enterrada pelo desassossego. Entramos num mato semcachorro. Cova aberta, chuva incerta. Chuva atrasada, colheitaquebrada. Se fugir o bicho pega; se ficar, o bicho come. O melhoré cavucar sem parar. Quem pára, pensa. Quem pensa, sofre.Quem gosta de sofrer?

(GIFFONI, Luís. A árvore dos ossos. Belo Horizonte: Pulsar, 1999.)

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Intertextualidade – Música e Poesia

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favorNos corações humanos amizade,se tão contrário a si é o mesmo Amor?

1 Coríntios 13 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e

não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sinoque tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todosos mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, demaneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor,nada seria.

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MONTE CASTELO –LEGIÃO URBANA

Legião Urbana Composição: Renato Russo (recortes do

Apóstolo Paulo e de Camões).

Ainda que eu falasseA língua dos homensE falasse a língua dos anjos,Sem amor eu nada seria.

É só o amor! É só o amorQue conhece o que é verdade.O amor é bom, não quer o mal,Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasseA língua dos homensE falasse a língua dos anjosSem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É um não contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É um ter com quem nos mata a lealdade.Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem.Todos dormem. Todos dormem.Agora vejo em parte,Mas então veremos face a face.

É só o amor! É só o amorQue conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasseA língua dos homensE falasse a língua dos anjos,Sem amor eu nada seria.

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Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite–Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

De Primeiros cantos (1847)

TIRINHA

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Canção do Exílio às Avessas ( Jô Soares )

Minha Dinda tem cascatasOnde canta o curióNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem coqueirosDa Ilha de MarajóAs aves, aqui, gorjeiamNão fazem cocoricó.

O meu céu tem mais estrelasMinha várzea tem mais cores.Este bosque reduzidodeve ter custado horrores.E depois de tanta planta,Orquídea, fruta e cipó,Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.

Minha Dinda tem piscina,Heliporto e tem jardimfeito pela Brasil's Garden:Não foram pagos por mim.Em cismar sozinho à noitesem gravata e paletóOlho aquelas cachoeirasOnde canta o curió.

No meio daquelas plantasEu jamais me sinto só.Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Pois no meu jardim tem lagosOnde canta o curióE as aves que lá gorjeiamSão tão pobres que dão dó.

Minha Dinda tem primoresDe floresta tropical.Tudo ali foi transplantado,Nem parece natural.Olho a jabuticabeirados tempos da minha avó.Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Até os lagos das carpasSão de água mineral.Da janela do meu quartoRedescubro o Pantanal.Também adoro as palmeirasOnde canta o curió.Nào permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Finalmente, aqui na Dinda,Sou tartado a pão-de-ló.Só faltava envolver tudoNuma nuvem de ouro em pó.E depoies de ser cuidadoPelo PC, com xodó,Não permita Deus que eu tenhaDe acabar no xilindró.

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INTERTEXTUALIDADE E PROPAGANDA

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Mito da caverna

O Mito da CavernaExtraído de "A República" de Platão

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância,geração após geração, seres humanos estão aprisionados.Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modoque são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e aolhar apenas a frente, não podendo girar a cabaça nem paratrás nem para os lados. A entrada da caverna permite quealguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, nasemi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.A luz que ali entra provém de uma imensa a alta fogueiraexterna.

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Exercício 1:

O provérbio não aparece como base intertextual em que alternativa?

A) O velho caindo morto/ Aladim correu ligeiro/ Tirou-lhe do bolso a lâmpada/ E disse mui prazenteiro:/Hoje o feitiço virou/ Por cima do feiticeiro.(Patativa do Assaré)B) As pessoas valem o que vale a afeição da gente, e é daí que mestre Povo tirou aquele adágio que quem o feio ama bonito lhe parece. (Machado de Assis)C) O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. (Euclides da Cunha)D) Daí, sendo a noite, aos pardos gatos. Outra nossa noite, na rebaixa do engenho, deitados em couros e esteiras –nem se tinha o espaço de lugar onde rede armar. (Guimarães Rosa)

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Citação

Em sua forma simples, a citação ocorre ao se inserir o título da obra e seu autor no novo texto:

Os grandes livros contribuíram para formar omundo. A Divina Comédia, de Dante, porexemplo, foi fundamental para a criação dalíngua e da nação italianas. Certos personagense situações literárias oferecem liberdade nainterpretação dos textos, outros se mostramimutáveis e nos ensinam a aceitar o destino.(ECO, Umberto. In: Folha de S. Paulo, Caderno“Mais”, 18/02/2001)

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Verifica-se também que há citação, quando um determinadoautor retoma um trecho de obra alheia, incorporando-oexplicitamente ao seu. Esse expediente evidencia-se, no textoescrito, pelo uso de marcadores como as aspas: é umatranscrição parcial e literal de um outro texto, como se podeverificar na seguinte passagem do Hino Nacional Brasileiro:

Do que a terra mais garridaTeus risonhos lindos campos têm flores“Nossos bosques têm mais vida”Nossa vida em teu seio mais amores.

Observe que o verso “Nossos bosques têm mais vida” estáentre aspas. Isso porque o autor de nosso hino o apropriou dopoema “Canção do exílio”, do poeta romântico Gonçalves Dias.

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Alusão

A alusão é uma forma indireta, incompleta ou subentendida decitação: a referência ao autor ou texto alheio é feitasutilmente.

Veja, por exemplo, ao longo do romance de Cyro dos Anjos, Oamanuense Belmiro, as alusões à obra Don Quixote, de Miguel deCervantes:

Amigo Quixote, todos os cavaleiros andantes já se recolheram enão há mais dulcinéias. (p.38)

É, afinal, um excelente moço e nenhuma culpa tem de não me tersido útil na aventura em que muito me aproximei do heróimanchego. (p.66)

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Paráfrase

A paráfrase é uma espécie de interpretação de um texto compalavras próprias,mantido o pensamento original; ou, ainda, umaintertextualidade que assinala uma semelhança entre o textooriginal e o derivado, levando em conta que a diferença, sehouver, não é substancial, mas constitui uma "adaptação" dooriginal.Veja um exemplo de Cyro dos Anjos, em seu citado romance,onde faz a seguinte paráfrase de Shakespeare:

“Algum político importante deve estar a chegar. Ah! É verdade, ochefe da Seção pediu-me que comparecesse ao desembarque doMinistro. Ir, ou não ir, eis a questão”. (p.105)

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ParódiaTradicionalmente, a paródia é definida como um escrito que imita uma obra literária, deforma crítica. É um texto que subverte a mensagem do texto que o inspirou.

A paródia da oração “Pai Nosso” foi utilizada num anúncio veiculado na imprensa:

SÓ O ROCK'N'ROLL SALVA

Elvis Presley que estais no Céu,Muito escutado seja Bill Haley,Venha a nós o Chuck Berry,Seja feito barulho á vontade,Assim como Hendrix, Sex Pistols e Rolling Stones.Rock and roll que a cada dia nos melhora,Escutai sempre Clapton e Neil Young,Assim como Pink Floyd e David Bowie,Muddy Waters e The Monkees.E não deixeis cair o volume do som102,1 de estação.Mas livrai-nos do AxéAmém!(fanáticos, uni-vos! KISS, 102,1 FM)

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PasticheApresentando elementos próximos e ao mesmo tempodistantes da paródia, encontra-se o pastiche, que muitos,equivocadamente, vêem como seu sinônimo. É certo que tantoparódia quanto pastiche envolvem imitação. Entretanto, opastiche associa-se à imitação de um estilo, ou à apropriaçãode um gênero sem, com isso, necessariamente, querer criticá-lo.

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Observe como uma crônica publicada no jornal Folha de S. Paulo,Carlos Heitor Cony faz pastiche de Guimarães Rosa, particularmentedo estilo da narrativa de Grande sertão: veredas:

Pois é. Tenho dito. Tudo aleivosia que abunda nesses cercados.Mais que nada. Foi assim mesmo, eu juro, Cumpadre Quemnheném nãome deixa mentir e mesmo que deixasse, eu mentia. Lorotas! Porralouca no juízo dos povos além das Gerais! Menina Mágua Loura deu?Não deu.(...)Compadre Quemnheném é que sabia, sabença geral e nuncaconferida, por quem? Desculpe o arroto, mas tou de arofagia, que odoutor não cuidou no devido. Mágua Loura era a virge mais pulcra dasGerais. Como a Santa Mãe de Deus, Senhora dos Rosários, rogai pornós! (...)(Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 11-09- 1998)

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Exercício 3:Que tipo de procedimento intertextual foi utilizado no seguinte texto:COMO SERIA A HISTÓRIA DE CHAPEUZINHO VERMELHO NA MÍDIA ATUAL?JORNAL NACIONAL(William Bonner): Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem.(Fátima Bernardes): mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia.FANTÁSTICO(Glória Maria): Que gracinha, gente! Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo. Não é mesmo querida?CIDADE ALERTA (Datena): Onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! E foi devorada viva. Põe na tela! Tem um "link" para a floresta, diretor?CLÁUDIAComo chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.O ESTADO DE S. PAULOFontes confirmam que Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.VEJAEXCLUSIVO! Ações do Lobo eram patrocinadas pelo governo LULA e o PT.Páginas Amarelas VEJA:"Está claro que houve tentativas de quebra de sigilo bancário da Chapéu por parte de Dilma e Tasso Genro. Eles têm que cair. " Arthur VirgílioESTADO DE MINASChapeuzinho come o lobo enquanto o lenhador vai pra floresta com a vovó.

ZERO HORAAvó de Chapeuzinho nasceu no RS.AGORASangue e tragédia na casa da vovó.CARASChapeuzinho fala a CARAS: - “Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida.Hoje sou outra pessoa”.ISTOÉGravações revelam que lobo foi assessor de influente político de Brasília.O FUXICOA toca do Lobo era na mata atrás da casa do Marcos Valério.EXAMEPor que o atual modelo estatal favorece os negócios com lobos.ÉPOCAExclusivo: Caixa do PT financiou atividades do lobo.(Fonte: www.midianarede.com.br)A estrutura desse texto é construída, basicamente, pela apropriação dos estilos de linguagem

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A estrutura desse texto é construída, basicamente, pela apropriação dos estilos de linguagem de vários veículos midiáticos. Desse modo, observa-se a utilização do pastiche.