Intertextualidade na poesia de Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado
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Prof.ª Joyce Mara de Oliveira
Quando nasci, um anjo tortodesses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homensque correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,não houvesse tantos desejos.
[...] O homem atrás do bigodeé sério, simples e forte.Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigoso homem atrás dos óculos e do bigode,
[...] Mundo mundo vasto mundo,se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu-lírico masculino vai revelando seu jeito de ser e como sente o mundo.
Sete faces = sete estrofes com perfil auto biográfico (está em 1ª pessoa) utiliza seu próprio nome. “Vai, Carlos.”
Visão negativa do mundo Grandes conflitos internos Por meio de metáforas o eu-lírico revela sua
visão amargurada diante da vida e do mundo. “
- Anjo torto que vive nas sombras, naobscuridade. Esse anjo determina o destino dopoeta.
- “Ser gauche na vida “ – desajeitado,desajustado, inadaptado ao mundo, estranho,torto, “eu retorcido”, canhestro. “Gauche”palavra de origem francesa.
- “vasto mundo” “mais vasto é o meu coração” –para o eu-lírico o mundo só não é mais vasto doque a solidão que ele sente.
- Relação difícil e conflituosa entre o indivíduo e omundo.
- como o eu-lírico não compreende o mundo, ele ficadistante e assume o papel de observador, numaposição individualista e irônica.
“se eu me chamasse Raimundo seria uma rima não seria a solução.”
- Falta de respostas para certos conflitos humanos.- Raimundo significa protetor, poderoso, sábio, mas
para o eu-lírico, só serviria para rimar com a palavra mundo, pela sua incapacidade de solucionar problemas.
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
- eu-lírico feminino – visão positivista da vida – não encara a dor como amargura.
- “licença poética” – pede autorização para Drummond para dialogar com seu poema.
- O anjo é esbelto e não torto.- Se define como desdobrável, flexível, pois consegue
se adaptar ao mundo, consegue se reinventar, não aceitando o destino marginal que lhe foi dado. Mulher poeta e forte.
- “ainda é uma espécie envergonhada” – precisa lutar muito pelos seus direitos. Precisa se libertar.
Quando eu nasci veio um anjo safadoO chato "dum" querubim
E decretou que eu estava predestinadoA ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortouMas vou até o fim
"Inda" garoto deixei de ir à escolacaçaram meu boletim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bolaNem posso ouvir clarim
Um bom futuro é o que jamais me esperouMas vou até o fim
Eu bem que tenho ensaiado um progressoVirei cantor de festim
Mamãe contou que eu faço um bruto sucessoEm Quixeramobim
Não sei como o maracatu começouMas vou até o fim
Por conta de umas questões paralelasQuebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir as minhas mazelasE a minha voz chinfrim
Criei barriga, a minha mula empacouMas vou até o fim
Não tem cigarro acabou minha rendaDeu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da vendaO que será de mim ?
Eu já nem lembro "pronde" mesmo que vouMas vou até o fim
Como já disse é um anjo safadoO chato "dum" Querubim
Que decretou que eu estava predestinadoA ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortouMas vou até o fim
- IntertextualidadeAssistir ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=DJYbje-UGto