Introdução

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“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”. Paulo Freire Introdução A atividade docente, para além da dedicação e da motivação necessárias, que, muitas vezes, parece ser uma tarefa das mais difíceis, levando-se em conta a atual conjuntura da educação brasileira, exige dos mesmos uma consciência e posicionamento políticos. Ensinar é muito mais do que transmitir o conhecimento que está dentro dos livros, mas é abrir as portas do mundo para os aprendizes, formando-os enquanto seres humanos e cidadãos. Assim sendo, a educação deve ser tratada como um meio para a construção de uma sociedade melhor e não como um produto em seu fim. Com o objetivo de podermos observar de perto o que vem acontecendo dentro das salas de aula das escolas publicas brasileiras, mais especificamente em Salvador, foi-nos proposto pela professora Emilia Helena Portella Monteiro de Souza, assistir a cinco aulas de língua portuguesa na escola de nossa preferencia. Eu, como já estava inserida no Colégio Estadual Luís Viana, devido ao estágio 2 de língua francesa, resolvi pedir permissão para tais observações. Ainda assim, não foi fácil conseguir. Em primeiro lugar, os professores já estavam entrando na quarta unidade do ano letivo, que terminara em dezembro. Em segundo lugar, a escola estava enfrentando problemas no cumprimento do conteúdo, por causa das diversas paralisações ocorridas e da greve das merendeiras. Muitas vezes, a escola optou por fazer o que chamam de “aula corrida”, que consiste em diminuir 10 minutos da aula, para que os alunos possam sair mais cedo e não precisem ficar na escola para o lanche. Enfim, a maioria dos professores de língua portuguesa se recusou a deixar um observador estagiário adentrar suas salas. O coordenador, a par dessa recusa, se limitou a me dizer que muitos dos professores, como o ano já estava acabando e, não estavam mais interessados em dar aula ou preparar aulas. No fim das contas, um dos professores aceitou o meu pedido e permitiu que eu assistisse suas aulas. Na primeira semana, no entanto, ele me disse que eu não poderia observar suas aulas, pois ele aplicaria as provas da 3ª unidade, que acabaram não acontecendo, porque a fotocopiadora da escola estava quebrada. Então, as provas aconteceram na segunda semana em que fui a escola. Na terceira semana, ele me informou que seria o fechamento da caderneta e não permitiu que eu observasse as aulas, mesmo eu já estando lá, esperando por ele.

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“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa.

Por isso aprendemos sempre”. Paulo Freire Introdução

A atividade docente, para além da dedicação e da motivação necessárias, que, muitas

vezes, parece ser uma tarefa das mais difíceis, levando-se em conta a atual conjuntura da

educação brasileira, exige dos mesmos uma consciência e posicionamento políticos. Ensinar é

muito mais do que transmitir o conhecimento que está dentro dos livros, mas é abrir as portas

do mundo para os aprendizes, formando-os enquanto seres humanos e cidadãos. Assim

sendo, a educação deve ser tratada como um meio para a construção de uma sociedade

melhor e não como um produto em seu fim.

Com o objetivo de podermos observar de perto o que vem acontecendo dentro das

salas de aula das escolas publicas brasileiras, mais especificamente em Salvador, foi-nos

proposto pela professora Emilia Helena Portella Monteiro de Souza, assistir a cinco aulas de

língua portuguesa na escola de nossa preferencia.

Eu, como já estava inserida no Colégio Estadual Luís Viana, devido ao estágio 2 de

língua francesa, resolvi pedir permissão para tais observações. Ainda assim, não foi fácil

conseguir. Em primeiro lugar, os professores já estavam entrando na quarta unidade do ano

letivo, que terminara em dezembro. Em segundo lugar, a escola estava enfrentando problemas

no cumprimento do conteúdo, por causa das diversas paralisações ocorridas e da greve das

merendeiras. Muitas vezes, a escola optou por fazer o que chamam de “aula corrida”, que

consiste em diminuir 10 minutos da aula, para que os alunos possam sair mais cedo e não

precisem ficar na escola para o lanche. Enfim, a maioria dos professores de língua portuguesa

se recusou a deixar um observador estagiário adentrar suas salas. O coordenador, a par dessa

recusa, se limitou a me dizer que muitos dos professores, como o ano já estava acabando e,

não estavam mais interessados em dar aula ou preparar aulas. No fim das contas, um dos

professores aceitou o meu pedido e permitiu que eu assistisse suas aulas.

Na primeira semana, no entanto, ele me disse que eu não poderia observar suas aulas,

pois ele aplicaria as provas da 3ª unidade, que acabaram não acontecendo, porque a

fotocopiadora da escola estava quebrada. Então, as provas aconteceram na segunda semana

em que fui a escola. Na terceira semana, ele me informou que seria o fechamento da caderneta

e não permitiu que eu observasse as aulas, mesmo eu já estando lá, esperando por ele.

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Argumentei que poderia assistir alguma aula, mas ele não cedeu. Voltei para minha casa,

deixando marcado que eu assistia as aulas na quarta-feira, dia 27/11.

Dia 27 de novembro de 2013

Chego à escola um pouco antes das 7h20, horário em que as aulas começam. Fui até à

sala dos professores em buscar do professor de português, mas ele não estava. Então, fui até a

sala onde as cadernetas ficam, para perguntar se o professor já tinha chegado. Me disseram

para esperar. Enquanto isso, os outros poucos professores que ali estavam, se encaminhavam

para suas aulas, pois já passava das 7h30. O professor chega por volta das 7h40 e vai para a

sala pegar seu material e a caderneta, mas antes de ir para a sala de aula, passa na sala da

fotocopiadora para encomendar as copias do dia.

Sigo ele até a primeira turma, o 3º A.

3º A

Boa parte dos alunos já estava esperando a chegada do professor do lado de fora da

sala. Hoje, eles têm aulas geminadas.

Assim que chega, o professor organiza a sala em um semicírculo antes de começar.

Feito isso, escreve no quadro o assunto do dia: Modernismo. A partir do tema, faz uma

pequena periodização dos outros movimentos literários, colocando as datas no quadro de cada

um deles no quadro e relembrando o que os alunos já haviam visto no 1º e 2º ano. Durante

essa revisão, diversas vezes ele pede a participação dos alunos, pedindo que eles respondam

as perguntas, mas são poucos o que participam e falam em voz alta. Geralmente, o que dizem

fica apenas entre eles.

Dando seguimento a aula, o professor contextualiza os movimentos, fala de

acontecimentos políticos e da situação brasileira em cada época antes de chegar o movimento

modernista. Chegando ao tema da aula, ele apresenta do titulo do livro de Joao Cabral de

Melo Neto: “Morte e vida Severina”, interpretando-o e contanto um pouco da historia do

livro, que eles devem ler durante a unidade, deixando claro que eles só devem ler uma parte

do livro, pois sabem que eles não vão ler o livro inteiro.

Em seguida, distribui uma copia do texto “3º momento modernista/morte e vida

Severina” e enquanto isso, escreve no quadro: modernismo: reacionário e revolucionário”,

pedindo para que os alunos expliquem a diferença entre as duas palavras, o que causa certa

agitação na sala e os alunos começam a se expressar. Ao fim desse momento, é pedido que os

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alunos leiam o texto em voz alta, cada estaria responsável por um paragrafo. Entre as leituras,

o professor tece comentários sobre o texto, sempre dando exemplos.

Entre um desses parágrafos, uma aluna pede para ser liberada com seu grupo, para que

possam terminar o projeto de geografia. O professor se nega a conceder isso e explica que o

cronograma está apertado e que eles não terão tempo de estudar sequer metade do conteúdo

da terceira unidade.

Terminada a leitura, um novo texto é distribuído para ser trabalhado na próxima aula.

A sirene toca.

3ºE

Novamente, o professor pede que organizem um semicírculo para que a aula possa

começar. Alguns alunos se recusam e o professor pede para que eles obedeçam e sentem

dentro do semicírculo. Prossegue escrevendo no quadro o assunto do dia: o Modernismo. E,

novamente, fazendo a periodização dos movimentos literários.

A turma está agitada. Alguns alunos chegam atrasados, outros estão no celular e outros

estão focados no projeto de geografia, que acontecera no dia seguinte. O professor, então,

chama atenção desses alunos. Ao chegar ao titulo do livro, “morte e vida Severina”, e explica-

lo, um assunto paralelo se inicia e desperta a curiosidade dos alunos. Ao falar que o retirante

so tem direito a terra quando morre, os alunos começam a fazer perguntas sobre o valor da

terra, de uma cova, como ter dinheiro para morrer etc. Os alunos e o professor ficam alguns

minutos trocando informações sobre o tema e dando depoimentos pessoais.

Em seguida, como a sirene já tinha tocado nesse momento, o professor explica o

cronograma ate o fim da unidade, dando as datas dos trabalhos e avaliações.

3ºA

Voltamos ao 3ºA. Dessa vez, eles têm aula de redação técnica, com o mesmo

professor.

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Como a sala já esta organizada, o professor se senta de faz a chamada. Assim que

termina, não permite que mais ninguém entre na sala e bloqueia a porta com uma das

carteiras.

Na sequencia, ele explica as coordenadas para um trabalho que deve ser entregue antes

do final da unidade, sobre as figuras de linguagem, construção e pensamento, quem foram

trabalhadas na sala de aula.

Ele vai ditando o que quer e escreve poucas coisas no quadro, pois os alunos que não

estavam presentes, não devem ter acesso a tais instruções. O professor deixa claro todos os

itens do trabalho e diz que pode ser copiado da internet ou do colega, mas que o importante é

que eles façam.

Perto do fim da aula, alguns alunos conseguem empurrar a porta e entram na sala,

explicando que o “baba” atrasou e, por isso, eles não conseguiram chegar à aula. O professor,

então, convida os alunos a entrarem e os coloca em pé, em frente ao quadro, falando sobre o

mal comportamento deles.

A aula termina.

3ºB

chegamos à sala e entramos, mas os alunos parecem nem perceber a chegada do

professor, pois estão montando cartazes e maquetes para o projeto de geografia.

O professor, então, escreve no quadro sobre o modernismo, mas desiste de continuar.

Ele distribui a fotocopia do texto, fala sobre o cronograma e deixa o restante da aula para os

alunos terminarem o trabalho.

Conclusão

Frequentando o ambiente escolar, o que pude perceber foi um alto grau de desinteresse

dos alunos, causado por fatores diversos e agravados pelas greves e paralisações que vêm

ocorrendo ao longo do ano. Além, claro, da falta de comprometimento dos profissionais de

ensino. O desinteresse dos alunos é apenas um dos sintomas do nosso sistema escolar capenga

e que precisa de urgente socorro. O que temos é um governo que não motiva o professor, e

este, por sua vez, não motiva os alunos, que não motivam o professor, que aparentemente não

interessa ao governo. É um ciclo vicioso.

No entanto, entre tantos problemas, ainda há interesse e comprometimento por parte

de alguns. Não se deve esperar um milagre por parte destes, mas é possível construir um

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futuro melhor, fazendo das dificuldades um aprendizado e procurando sempre fazer um bom

trabalho. Para isto, o professor deve estar aberto a novos conhecimentos e disposto a sair da

sua zona de conforto, pois é muito se pode aprender com o contato com o próximo, seus os

alunos, e com a reflexão sobre a sua própria pratica de ensino. O professor não é o detentor do

saber e o aluno não é uma tabula rasa. Trabalhando juntos, é possível fazer do Brasil um

lugar melhor.

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Referências: CASTILHO, Ataliba T. De. Políticas linguísticas no Brasil. O caso do português brasileiro.

São Paulo, 2001.

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa. Secretaria da Educação

Fundamental: Brasília, 1997.

                                                                               

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                                                             UNIVERSIDADE  FEDERAL  DA  BAHIA                                FACULDADE  DE  EDUCAÇÃO  

     

             

Relatório  das  observações  de  aula    no  Colégio  Estadual  Luis  Viana  

   

         

                                                                                                                           

                         Salvador    

                 2013

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Monique  Cavalcante  de  Souza                  

                             Relatório  das  observações  de  aula                                  no  Colégio  Estadual  Luis  Viana  

                     

Trabalho  apresentado  no  curso  de  Estágio  supervisionado  I  de  língua  portuguesa,  na  Universidade  Federal  da  Bahia  –  UFBA.  

    Docente:  Emilia Helena Portella Monteiro de Souza  

                           

Salvador                      2013